A educação dos sentidos

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JANUS A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS 2010

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A educação de aleph nas práticas BDSM

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JANUS

A EDUCAÇÃO

DOS

SENTIDOS

2010

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Prefácio de Janus

Educação dos Sentidos é o resultado de observações que fiz no meio BDSM para compor os

personagens que muito têm do que penso e como acredito que deve ser a ação de alguém que

vive nesse meio de expressão sexual.

Não é doutrinário, não pretende ser a “tradução” na ficção de práticas longamente

aprendidas mas, na verdade, apenas pretende entreter e, se possível fazer pensar.

Gostaria de agradecer à minha menina astharoth, companheira não apenas de BDSM mas

de vida.

A todos os amigos e amigas do meio que acompanharam e opinaram na primeira publicação

desses textos no Mundo de Janus (http://janussw.blogspot.com)

À você que está lendo, agradeço esses momentos no mundo de aleph

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Parte 1

A casa: mencionada assim, sem qualquer pretensão, pode parecer um local comum, uma

residência como qualquer outra e seria se não lhe atribuíssem valor diverso. Erauma casa

afastada, em um bairro que parecia saído de um cartão postal qualquer.

Ali seria levado para a sua "educação" como costumava ser chamado o processo que sua

Dona desenvolvia desde que o encoleirara. Sensibilização? Quando insinuavam ser isso que

fazia com sua peça, Ela ria abertamente, um olhar que denunciava um, porque não dizer,

desprezo por aquela opinião sem sentido.

Olhos quase orientais emoldurados por uma pele clara, cabelos pretos que desciam em

ondas até o meio das costas e invariavelmente saltos altos que castigavam as carnes da Sua

propriedade. A primeira tarefa já fora cumprida ao longo de diversas semanas nas quais

progressivamente quebrou o orgulho, os resquícios de arrogância e uma superioridade que

ainda carregava da sua ilusão de poder.

Mais do que convencê-lo da supremacia de sua pessoa e de seu gênero, fez com que essa

certeza lhe penetrasse o coração de forma indiscutível. Agora sim, o macho estéril liberar sua

essência de servidor, daquele que faria de tudo não apenas para satisfazer os desejos mas

tam bém para protegê-la,honrá-la ritualisticamente e também, sim, oferecer seu corpo para

que nele se realizasse o prazer Dela, exclusivamente.

Para isso, indispensável era que soubesse sentir, não apenas o resultado das provas e das

tarefas mas cada elemento que compunha a rica cena que construiam, sob o comando da

Senhora mas com a participação indispensável dele.

Assim ela exercitava a plena convicção que se houvesse domínio e só ali ele tinha a condição

de existência, isso ocorria porque submetera aquele que se prostrava ante si. Redundante

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dizer que sentia-se como uma Deusa em um altar porque assim era e assim já foi dito mas

reafirmar essa verdade era quase que um gesto de esclarecimento.

No entanto, convém perguntar: o que deliciava aquela Deusa que fazia do que se chama

profano, uma verdadeira religião? O que podem pensar é um lugar comum que Ela sabia e

praticava mas algo mais a seduzia de forma indiscutível, o sentimento de que além de Deusa,

poderia ser o único instrumento pelo qual sua peça conheceria o mundo e o interpretaria.

aleph (assim chamava sua peça) era um homem inteligente e era por isso que o tomara para

si. Não suportaria alguém que demonstrasse um falta completa de aptidão para pensar por

si, para não precisar ser mandado em cem por cento das coisas mas que pudesse, à partir do

conhecimento da Dona, saber o que fazer, como se portar, como dirigir-se aos outros, como

fazer-se compreender em suas demandas eventuais, como honrar a sua Dona...

Tarefas simples? Talvez para os mais experientes e para as mais versadas peças mas esta,

sim, aleph, demandaria a educação dos sentidos para autonomizá-lo no serviço.

Contraditório? Autonomia na submissão? Não! - respondia a Dona - Melhor serve quem

sabe como servir e bem servir .

Aqueles 7 dias em um mês de verão não pertenceriam á ele, aliás, nenhum dia mais

pertenceria. Todos eram dedicados e seriam de serviço à sua Senhora. Começava, pois, a

despojar-se da velha "vestimenta" de sua vida para trajar outra, a da sua condição submissa.

Fora-lhe ordenado apresentar-se com o indispensável ao mundo para passar sete dias fora

de sua habitação. Quantos não admiravam aquela figura de formas belas e atraentes que

apresentava-se ao lado dele invejando , talvez, os momentos imaginados de luxúria e de

posse que havia sempre dele sobre ela? Quantos desses, na verdade, imaginavam que a

equação era a inversa e que Dominação Feminina não era apenas um texto perdido nos

arquivos da internet mas era algo que acontecia cotidianamente na vida de ambos? Poucos

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poderiam sequer imaginar, poucos poderiam prever que essa era a forma superior de

relacionamento à que se dedicavam.

Naquela manhã, apresentara-se rigorosamente na hora acordada e bom que assim fosse já

que a Dona não admitia atrasos de qualquer ordem. No entanto, o que lhe esperava, não

podia prever.

- Desça! - ordenou secamente quando chegou ao local onde ela o esperava.

Não vacilou e imediatamente desceu da posição de motorista e cumpriu imediatamente a

ordem de passar ao banco do passageiro.

- Feche os olhos! - ordem seca que demandava imediato comprimento e assim foi. Aplicou-

lhe dois tampões nos olhos de forma a não permitir que nenhuma luz lhes chegasse e vestiu-

o de óculos escuros, como a um cego.

Pensara em vendar-lhe mas isso , nos dias atuais, poderia lhe causar problemas, tomado que

fosse seu gesto por um ato de violência como um sequestro.

- Senhora, para onde vamos? - ousou dirigir-lhe a palavra.

Um tapa vindo do nada, ao menos para ele, marcou-lhe a face esquerda. Sabia que havia

transgredido, sabia que não haveria perdão e sabia que isso não seria esquecido mas não

percebera que a sua reeducação começara.

Os seus sentidos eram continuamente impressionados pelos barulhos da rua, pelo cheiro da

fumaça dos carros, pelo perfume da Dona, por seu silêncio, pelo ruído do motor e assim foi

por longos cinquenta minutos nos quais rodaram pelos caminhos que os ligavam até a

"Casa".

Muitos minutos depois, quantos não sabia, chegaram:

- aleph, chegamos.

Chegaram onde? Não tardaria para que tivesse suas respostas.

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Parte 2

A "Casa" era, na verdade, uma habitação antiga de pé direito alto e um número considerável

de quartos e outras instalações. Fora mobiliado por Ela de maneira a fornecer conforto

quando necessário e um lugar onde sua peça pudesse ser testada convenientemente.

A "Masmorra" localizava-se em um lugar onde, por um capricho construtivo, as paredes

eram mais espessas do que no restante da casa. Quando visitou o local, esse detalhe não

escapou ao olhar atento da Senhora, ao contrário, logo planejou tudo para espanto dos

pedreiros que não entenderam o porquê de se instalar um gancho em um lugar tão alto

como aquele. Estranharam mais não questionaram já que estavam acostumados com o olhar

tão rigoroso e atento que era capaz de localizar pequenos defeitos em quaisquer das coisas

que faziam e demandava pronto reparo.

Era naquele lugar que aleph passaria durante o tempo de treinamento. Todo o aparato

necessário fora trazido com antecedência e rigorosamente disposto na ordem necessária

para prover pleno acesso no menor tempo possível.

O carro foi estacionado em uma garagem especialmente construída para não alterar as

características básicas do imóvel mas também de forma a prover uma adequada privacidade

a ambos.

Abriu a porta do passageiro e mandou com que aleph decesse da mesma forma que estivera

durante toda a viagem, com os tampões e os óculos escuros. Não o ajudou a descer e ordenou

que trouxesse todos as malas e demais apetrechos para dentro.

Isso demandava duas coisas: primeiro, mais de uma viagem entre o carro e o primeiro

cômodo e também um conhecimento do local a percorrer que esperava que aleph houvesse

adquirido das vezes que vieram verificar o andamento das obras de adaptação.

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No entanto, isso seria esperado se também fosse esperado as provas pelas quais passaria.

Inconsciente de seu futuro, aleph não tivera o cuidado de perceber cada detalhe, a escada

que se projetava de onde estava construída a caragem até o imóvel propriamente dito,

quantos degraus tinha e outros detalhes que teriam lhe facilitado as tarefas.

A primeira coisa que não notara, especificamente no momento, era onde localizava-se a

porta do passageiro que fora batida com a clara intenção de lhe fornecer uma pista de onde

se dirigir para tomar as bagagens.

Simulando entrar na casa, observava o tatear de aleph em busca do porta-malas. Perceberia

que as chaves estavam na fechadura ou esperaria encontrar a porta aberta? Logo percebeu

que sua peça compreendera que pouco facilitaria a vida dele e foi à busca da chave que

estava pendurada no local devido.

Cuidadosamente abriu a porta e retirou, por mais tolo que possa eventualmente parecer, um

sorriso do rosto da Senhora. Agora o segundo desafio: arrumara as malas de uma forma que

se não fosse corretamente explorado o arranjo, uma tentativa de retirada seria um

verdadeiro desastre, fazendo que parte das malas ao menos balançasse em direção à aleph.

- Rápido, aleph! Quer que sua Senhora espere o dia todo?

- Não , Senhora. Já estou indo!

Chave para o desastre: na ânsia de atender a reclamação e aplacar a ira da Senhora, puxa a

primeira mala ao alcance fazendo com que o equilíbrio precário se desfizesse e as malas

caíssem em direção a aleph que precariamente as aparou.

- aleph! Não consegue fazer nem uma tarefa simples dessa? Como acha que pode servir-me

seu inútil???Trate logo de trazer as malas sem deixar cair. Se derrubar um dos meus

perfumes você verá o que é apanhar da Dona!

- Desculpe, Senhora, não.... - a frase foi interrompida com um sonoro tapa no rosto.

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- Cale-se! Não peça desculpas! Ao invés disso, evite erros. Não tenho escravos para ser mal

servida. Você não vê, como pode tentar tirar coisas sem explorar o que está tirando. Vamos!

Leve tudo para cima!

Dessa vez, com mais cuidado, retirou valise por valise, mala por mala até que tudo tivesse

sido feito. Colocadas as malas no vestíbulo, não lhe foi permitido ir além. De cabeça baixa,

conforme convém à um submisso, aleph ouviu a doutrinação de sua Senhora.

- Usar os sentidos em plenitude significa nunca se acostumar com as coisas como elas

podem ser ou foram mas sempre encarar cada momento como novo. No que se está

acostumado, assegure-se que nada tenha mudado e no novo, explore por mais que haja

pouco tempo para isso.

- Sim, Senhora. Obrigado pela lição, minha Dona.

- É apenas a primeira, aleph. Agora dispa-se.

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Parte 3

Fora deixado sozinho na ante-sala para que ficasse nu, tendo um desafio básico: a Senhora

não admitia em espaços como aquele, dedicado ao seu culto enquanto Dominadora,

qualquer desordem era considerado não apenas uma afronta mas um desrespeito com sua

figura enquanto tal.

Não tivera tempo e nem coragem de perguntar onde deveria deixar suas roupas mas logo

percebera, aliás tocando com a panturrilha, umm biombo no canto direito de onde estava.

Alguma coisa dizia que era ali onde deveria deixar suas coisas, rigorosamente dobradas de

forma a não poder suscitar qualquer reparo da Senhora.

Sem poder ver, teve de usar as sensações que lhe provocavam o toque em cada elemento de

sua roupa, casas dos botões, as dobras possíveis, o senso de colocar as coisas em seus lugares

de forma ordenada e que não comprometesse o significado de tudo aquilo, de fazer as coisas

da forma que a Senhora quisesse.

Terminando sua tarefa, alinhou-se no local onde havia sido colocado , com os braços ao

longo do corpo, a palma das mãos colocadas nas coxas, a cabeça ainda alta porque a Dona

não havia adentrado a sala. Como saberia que isso estava para acontecer? Bastava apurar os

ouvidos mas o tempo que passa poderia dar-lhe a sensação de acalmar o seu mundo interior

para ouvir os sons e demais elementos do entorno.

No entanto, há de se perguntar se isso era possível e a resposta claramente era não. A

ansiedade de reabilitar-se enquanto submisso era absolutamente necessário já que por

muitas vezes transgredira as regras básicas do que se propunha a fazer, ou seja, bem servir a

Senhora.

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Não que o fizesse por algum defeito ou por fraqueza moral mas por não entender que havia

regras estritas a serem cumpridas, uma liturgia que não apenas deveria ser uma obrigação

mas a essência de tudo o que se chamava não apenas BDSM mas serviço.

Passos ao longo do corredor de madeira, botas que faziam que o som reverberasse ao longo

da habitação. Jã sabia como estava sua Senhora: botas até a altura das coxas, uma

vestimenta que cobria-lhe de forma a ressaltar os seios e uma capa ao estilo de um manto de

realeza, tudo branco, imaculado.

O som estava mais próximo, mais próximo, sabia que ela chegava e sem que fosse necessária

qualquer ordem, colocou-se de joelhos, cabeça baixa, em reverente postura.

A Senhora nada disse, apenas verificou se tudo estava da forma que imaginara que aleph

fosse capaz de fazer e ficou satisfeita em ver que tudo estava conforme o melhor que pudesse

esperar.

- Muito bem, aleph... Sua Senhora ficou satisfeita com sua iniciativa e com os resultados.

Como sentiu a solidão? Como sabia que eu chegava?

Relatou todo o ocorrido, suas sensações, a necessidade do silêncio, as suas percepções.

Pudesse ver o rosto dde sua Senhora veria que ele se iluminava com um sorrisso terno e

acolhedor.

Sabia que não era vã a percepção que aleph poderia dar-lhe muito e , superado esse ponto,

seguiriam nas novas lições que os aguardavam, uma como Mestra, outro não apenas com

servo mas como discípulo.

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Parte 4

- Quantas horas faz que chegamos, aleph?

Ainda com os tampões e a venda, aleph experimentava a desorientação e a experiência da

privação dos seus sentidos à ponto de fazer perder o referencial do tempo, esse bem tido

como um bem absoluto, como um indicativo de produtividade ou de criação de um valor

próprio do serviço que fora prestado.

Essa privação, portanto, impedia que respondesse a pergunta feita pela Senhora. Poderia

arriscar-se a expor sua ignorância?

- Senhora, não posso dizer a quanto tempo chegamos. A cegueira me deixa incapaz de

perceber o tempo...

A Senhora nada comentou, apenas fez com que aleph ficasse ajoelhado frente a Ela e retirou-

lhe primeiramente os óculos e depois, com bastante cuidado, os tampões dos olhos.

- Não abra seus olhos ainda, a luz não lhe fará bem. Lembre-se, aleph: assim como a luz que

lhe permite ver, em excesso o cega e assim é com muita coisa na vida. Discipline suas

emoções, a coloque a Meu serviço e a seu próprio, experimente, sinta com intensidade, viva

com dedicação. É isso para que a Sua vida vale, para o serviço e para o aprendizado. Agora

abra seus olhos, devagar.

aleph foi acostumando-se com a luminosidade e ajustou o seu olhar até distinguir a face

serena de sua Senhora. Colocou-se com a cabeça na posição correta, baixa, devotada e

esperou a próxima ordem.

- Banhe-se e vista a roupa que está em suas acomodações, no final do corredor à esquerda.

- Sim, Senhora. Com sua permissão.

- Pode ir, aleph.

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Enquanto ele dedicava-se à higiêne e aos cuidados indispensáveis, a Senhora fazia uma

ligação:

- Sim, caríssima, está correndo tudo bem, ele está se portando completamente de acordo.

Agora, você bem sabe que a grande prova ainda está por vir.

- Olha... - disse a interlocutora, rindo - Você chega a ser cruel nessa sua forma de agir. Tem

certeza que é isso mesmo que você quer?

- A quantos anos você me conhece, querida? Alguma vez tomei alguma decisão de

afogadilho, sem pensar?

- Raramente, isso é verdade. Ok, está bem. Quando devo estar aí?

- Chegue às nove e meia e não se esqueça como deve proceder.

- Sim, claro. Obrigada pelo convite. Nove e meia da noite estarei aí.

- Ok, obrigada. Beijos!

Terminada a ligação, tomou em Suas mãos um estojo de madeira onde guardava pequenos

frascos contendo amostras de perfume, inclusive aquele que usava, um amadeirado de fundo

cítrico cuja apreciação requeria um cuidadoso processo de sensibilização e outro, de mesma

base mas com notas diferenciadas que requeriam sofisticada apreciação para se distinguir

do primeiro.

Deixou os pequenos frascos ao alcance e, pouco depois, aleph reaparecia na sala vestido com

uma camisa e uma calça feitas de algodão, cor creme e descalço como convinha à um escravo.

Ao contemplar sua Senhora, colocou-se de joelhos e fora orientado a ficar de costas para Ela

que abriu o frasco do perfume que usava e disse a aleph que o apreciasse e disesse a

constituição e o que sentia.

A resposta não A satisfez e fez saber isso com uma forte chicotada nas costas ainda cobertas.

Advertiu-o mais uma vez:

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- aleph, aleph... Não retroceda em seu trabalho e em suas conquistas. As provas que você

enfrentará são as piores de sua vida de submisso e esteja pronto. A dignidade da coleira que

portará será posta a público em breve e você não deverá me decepcionar, de forma alguma.

Aprecie esse perfume, agora e descreva-me.

- É um amadeirado, Senhora.

- Apenas isso? Quais são as notas?

A Senhora sabia que aleph não desconhecia esse linguajar. Apreciador apurado de vinhos,

aleph sabia o que eram as notas e que apenas são percebidas pela continuidade da

apreciação. Afastou ligeiramente o frasco do nariz do submisso e recebeu a resposta que

desejava:

- Notas cítricas, Senhora, provavelmente laranja e mais uma que não reconheço.

- Muito bem, aleph, muito bem...

Por algumas horas aleph dedicou-se a preparar a refeição de sua Senhora da maneira que

mais a agradava, ou seja, com poucas carnes, uma profussão colorida de vegetais e legumes,

frutas, sucos e alguns doces selecionados especialmente para a ocasião e preparados

antecipadamente.

A guarnição deveria ser atrativa e todos os pratos seriam preparados de forma a agradar aos

olhos, ao paladar e principalmente, gerasse a sensação de satisfação sem que muito se

consumisse para que não ocorressem problemas digestivos de qualquer ordem.

Essa preparação consumiu praticamente 2 horas e aleph banhou-se novamente antes de

servir sua Senhora que sentou-se à mesa da cabeceira e ordenou que todos os pratos fossem

simultaneamente trazidos para sua apreciação e degustação.

Como bebida, um vinho que a Senhora deixara a escolha por conta de aleph que mais uma

vez distiguira-se na tarefa. Tudo foi apreciado com especial carinho e só depois aleph teve

permissão para alimentar-se e retiraram-se, cada um para seus aposentos para o descanso.

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No meio da tarde, aleph começou a preparar a casa sendo finalmente informado que

receberiam visitas durante a noite. O trabalho foi por várias vezes interrompido para que a

Senhora submetesse o perfume ao olfato de aleph que não consegueria perceber o que estava

para acontecer.

Finalmente, no final do dia, mais um banho, perfumes e o recebimento da nova coleira

social, em aço polido e com um "S" gótico o qual considerou de rara beleza. Porém, não veria

a Domme que chegaria dali alguns minutos.

A Senhora apanha um tecido negro e envolve seus olhos e devolve-lhe antecipadamente as

trevas da noite que chegaria. aleph agora sofria de uma ansiedade indizível. O que viria a

seguir?

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Parte 5

Segundos, minutos, horas... Quantos e quantos livros foram escritos para tentar estatuir o

que seja o passar do tempo na mente humana e quais seus efeitos. No caso de aleph, essa

soma, tão pensada e tão discursada, representou apenas um tipo de tortura a que sua

Senhora o submetia para que, entre outros motivos, domasse a impaciência que o dominava.

Foram exatas duas horas, onde fora ordenado que permanecesse em suas acomodações até

que o momento chegasse, não apenas de poder estar na presença de sua Senhora como

também na de outra Domme a quem sua Dona mentorava.

Houve um tempo em que lhe repugnava pensar que pudesse ser "emprestado" por sua Dona

para quem quer que fosse mas logo percebera que , ao acolher a coleira da Senhora, abdicara

de sua vontade e que depositava imensa crença que Ela pudesse fazer tudo aquilo que não o

ferisse mais do que o necessário para promover o prazer daquela que o tinha.

Podia sentir pela temperatura que a noite caia, saindo do calor que sentia até à pouco para

um frio que começava a dominar. Sutilmente a porta abriu e pressentiu a figura de sua

Senhora:

- Não deixe que o frio o atinja que temos uma longa noite pela frente. Banhe-se

adequadamente e vista a roupa que eu lhe indiquei para dias frios. Será chamado quando

for conveniente.

- Sim, Senhora...

Ela retirou a venda e , por um breve segundo, os olhares se chocaram e causaram um

sentimento que dava conta da real posição de ambos no mundo e do laço que os unia. O que

é um segundo senão todo o tempo, aquele mesmo no qual ansiara tanto? Exatamente, a sua

conjunção e também tempo suficiente para tornar real um sentimento tão intenso.

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Banhou-se com os sabonetes adequados, com os perfumes prescritos e vestiu as roupas

cerimoniais que guardavam do frio e apenas aguardava apresentar-se para portar sua

coleira, colocada pela própria Dona.

Cai a noite, avança, a campanhia, a Mentorada de sua Senhora chegara. De onde estava não

conseguia ouvir o diálogo que se seguiu.

- Fico honrada que tenha decidido me instruir dessa forma, cara amiga. Fico sinceramente

lisongeada!

- Não há de que, caríssima. Você bem sabe que tenho apenas uma a quem mentoro e não é

por motivo outro senão reconhecer nela as qualidades e a intenção para bem seguir nessa

senda.

- E quais são essas qualidades?

- Comportamento, carisma e aforça que legitiimam a dominação e trazem para a luz a

submissão.

- Assim como aconteceu com vc e aleph?

- aleph está sendo educado, caríssima... Não é um sub acabado e espero que sempre tenha a

aprender mas agora percebe que o mundo que rege todo nosso modo de vida não são apenas

chicotadas e palavras duras mas é a submissão que se concede e domínio que se legitima.

Tudo espero, tudo posso, tudo quero mas sei que um homem , assim como um submisso e

uma mulher, assim como uma Domme , não se constróem senão na vida. aleph vive, eu vivo

com sua Senhora e vc viverá com sua peça. Nada mais, nada menos, nem ansiedade e muito

menos dor. Viver, cada dia e apenas isso.

Os olhos da Senhora brilharam e sua orientanda logo percebeu a intensidade do vínculo que

A unia à aleph. Almejava também conquistar tal nível de intensidade de sentimentos e de

possibilidades de domínio que sua grande amiga encontrava com aquele que tanto a fazia

sentir-se bem, em plenitude e ter realmente prazer.

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Sentia que a Senhora era feliz com aleph e seria mais ainda, tendo em vista a profunda

reeducação , incialmente de seus sentidos, depois de todo o mais.

- Por falar em aleph, é hora dele apresentar-se á nós!

A Senhora tocou uma sineta que aleph, atento, ouviu imediatamente. Colocou-se em pé,

ajustou a túnica que era a última peça a vestir e que jamais deveria parecer amassada ou

rota, e dirigiu-se à sala. Ao chegar quase á soleira da porta da sala, postou-se de cabeça baixa

e aguardando:

- Peço-lhe permissão, Senhora minha, para adentar ao recinto dedicado ao Seu culto.

- Tem permissão , aleph!

Entrou na sala e encontrou tanto a Senhora como Sua amiga, sentadas em uma cadeira de

espaldar alto com as armas de sua Senhora entalhadas nele. Colocou-se de joelhos frente a

sua Dona e beijou-lhe os pés envoltos pelas botas altas.

- aleph, saúde aquela que conhecerá como Domme e que deverá merecer de você o mesmo

respeito e consideração que dedica a mim.

- Sim, minha Senhora. Saúdo a Senhora Domme e espero que possa proporcionar , dentro do

que me cabe, tudo o que a Senhora queira e que lhe dê satisfação sendo que , assim, também

concederei honra e glória à Dona minha, Senhora do meu destino.

- Grata, aleph.

- Agora, aleph, nos prepare o que havíamos combinado, exatamente da mesma forma que

lhe recomendei. Quando tudo estiver pronto, basta anunciar da forma que você sabe que

deve fazer.

- Sim, Senhora. Com sua permissão....

- Vá!

Retirou-se sem jamais dar as costas para as Tops presentes. Se isso não foi nada excepcional

para a Senhora, fora para a Domme.

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- Esse é o submisso que a Senhora diz ter de ser treinado?

A Senhora riu e respondeu afirmativamente com a cabeça. Domme aidn

a também deveria saber mais sobre o que significava dominar. No fundo, saberia que aquela

noite, ao menos no básico, poderia aprender muito.

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Parte 6

O recinto para o qual entraram ao anúncio de aleph que tudo estava pronto, era uma sala

muito grande, destinada originalmente como o lugar da reunião da família de seu primeiro

habitante. História registra que todas as noites, a família fazia suas refeições, discutiam os

problemas familiares e registraram uma imagem que , estranhamente, foi resgatada de um

nicho na parede quando da reforma da habitação.

Nessa foto havia uma grande mesa de madeira maciça a qual foi reconstruída, na medida do

possível, infelizmente, não respeitando o material original, indisponível. No entanto, naquela

bela disposição que conservou a originalidade da habitação, faziam as refeições, recebiam os

amigos, estavam na casa que envolvia o templo da Senhora.

- Querida Domme, o que aleph nos servirá será um exemplo de refeição em tempos de

sessão, principalmente para o sub. Muitas frutas frescas e secas, nada que pese no estômago

ou possa causar mal estar.

Nesse extamo momento, aleph adentra à sala em posição respeitosa para servir às Nobres

Senhoras.

- Sente-se conosco, aleph. A Domme tem algumas perguntas a fazer à vc.

- Apenas um minuto, Sra. , para que eu leve essas garrafas à cozinha.

- Vá, aleph.

Quando aleph saiu, a Domme perguntou sobre o que poderia ou não perguntar. Para a

Senhora, nada era um limite ou uma interdição, podendo estar a colega livre para quaisquer

curiosidades que eventualmente pudesse ter.

Voltando, aleph sentou-se em uma cadeira reservada à ele, fora da mesa mas o suficiente

próximo para ouvir e ser ouvido.

Page 21: A educação dos sentidos

- aleph, gostaria de saber sobre o que te limita? O que você não faria?

- Sra., não há nada absolutamente fora da vontade de minha Dona que eu fizesse e nada que

fosse da vontade Dela que pudesse deixar de fazer. Minha vontade, prazer e saúde, tudo

depositei aos pés de minha Senhora, a ponto de não haver mais dois mas apenas um sob o

mando Dela.

- Isso todos dizem, aleph.

- Bem sei, Domme. Eu mesmo transgredi mas entendo hoje que a verdadeira felicidade se faz

com verdadeira entrega, nada mais, nada menos do que isso.

- Então você faria qualquer coisa para a sua Senhora?

- Qualquer coisa.

- Mesmo? - perguntou a Domm eincrédula.

- Sim.. Basta a Ela mandar e eu farei.

Doomme olhou para a Senhora como que propusesse testar as palavras de duvidosa

obediência de aleph. Sorriram uma para outra, de forma discreta, como a dissimular o que

os olhos atentos de aleph jamais desconheceriam. Tramavam, as trilhas imensas de prazer

qye se sucederiam.

- aleph!

- Ao seu dispor, Senhora.

- Deverá obedecer à Domme como obdece à mim, compreende? Não admitirei falhas no

serviço de minha irmã de dominação. Está claro?

- Sim, Senhora. Servirei a Domme com sirvo à Sra.

Na verdade, aleph pensava que alguns de seus temores estavam se justificando, sendo que

sua Dona e Senhora, o emprestaria a Domme. Seus olhos traduziram , com a clareza que lhe

era peculiar, toda dor que sentia ao se sentir apenas alguém a mais, um detalhe na biografia

de sua Senhora.

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Como poderia passar despercebida à Senhora tal sentimento já que Ela o conhecia melhor do

que a ele a si mesmo? Aproximou-se de sua peça.

- Decepciona-me, aleph, que sinta alguma dúvida sobre que o possui de verdade. Não tente

negar, sei de seus medos e está apavorado. Disse agora mesmo á Domme que acredita em

mim irrestritamente e que faria tudo o que eu comandasse e agora é chegada a hora de

provar que é nisso mesmo que acredita. Será o veículo que eu escolhi para ensinar a fina arte

que praticamos e esse é meu comando para você, entendeu? Não me faça sentir

decepcionada novamente, aleph...

Sentiu-se consumado em chamas da profunda penetração que sua Senhora fazia na alma

dele, desnudando-o por completo. Quando a ordem de despir o corpo foi dita era a última

instância de si que ainda precisava ser desnudada. Novamente as roupas foram deixadas

dobradas em lugar apropriado e aleph, comandado pela Dona, adiantou-se à masmorra

para incensá-la e torná-la imaculada para uso Dela.

Nesse tempo necessário para a preparação, orientou a Domme na postura que deveria

adotar e, conforme havia pedido, uma roupa negra cobriu o corpo da jovem dominadora

para que fizesse um contraste absoluto com a alvura doa roupa da Senhora.

aleph que de início ficara em pé em lugar designado para tal, ajoelhou-se ao ver a

aproximação das duas dominadoras que tomaram seus lugares mais elevados.

A um simples gesto de sua Senhora que portava, agora, seu chicote, levantou-se com a cabeça

baixa e imediatamente recebeu sua coleira, negra, adornada com a letra "S" em gótico além

do receptáculo para a guia.

Outro comando e aleph posicionou-se para a inspeção de costume. Orientando a Domme a

Senhora esclareceu ser importante inspecionar se todas as determinações eventualmente

dadas em relação ao submisso e a seu corpo, foram atendidas. No caso de aleph, apenas a

inspeção costumeira se fazia necessária.

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Meticulosamente inspecionado, servindo de um "quadro negro vivo" para a nova Domme,

sentia-se com emoções contraditórias, as de servir a Dona de si e não intimidar-se com a

presença da convidada de sua Senhora.

Também sabia o que havia de acontecer depois: normalmente colocaria-se de joelho frente ao

local onde sua Senhora permanecia e reverencialmente beijava-lhe as botas, lambia-as, em

um tributo de reconhecimento à superioridade inquestionável da Top que lhe dirigia.

Hoje, no entanto, esperou o comando que não demorou a vir:

- Prossigamos, segundo o costume. Como sabe, aleph, esse momento servirá para culto de

sua Senhora e para reverência à Domme que nos visita e está sedenta em aprender a arte do

BDSM. Portanto, deverá reverenciá-La da forma que Ela comandar, logo após me honrar

conforme fazemos sempre.

- Sim, minha Senhora. Não há outra razão para qual eu viva senão para serví-La e propiciar

o que a Senhora precisa, mais ainda, serviço, lealdade, serviço e devoção! Por isso, digna Sra.

esse humilde escravo beija-lhe as botas, única coisa digna que pode fazer por tão grande

Mulher.

A Senhora coloca os pés sobre um apoio localizado no degrau mais baixo próximo a aleph.

Ele, por sua vez, prostra-se reverencialmente e beija o bico da bota de sua Senhora

lambendo-a em seguida, prosseguindo assim pelo cano sendo que a cada necessidade de

recolocar-se, não lhe é permitido usar o corpo, tendo de rastejar para alcançar o cano longo

que alteia-se até os joelhos.

O esforço para subir como se os braços lhe tivesse sido cortados é indiscritível dado o grau de

força mental que exige. No entanto, segue, não pode falhar, jamais o faria e sabia que sua

Senhora olhava seus esforços de uma forma que não lhe restava dúvidas que apreciava o

serviço.

Page 24: A educação dos sentidos

A Domme observava admirada a cena com aquele homem totalmente à serviço daquela

Mulher que retia todo o poder e toda a graça, ao menos nos olhos servis dele. Admirava-lhe

os olhos, a boca ao tocar o couro branco da bota da Senhora e depois, os mesmos lábios ,

praticamente irem repousar no chão e para que a cabeça de aleph servisse de repouso para

os pés da alva Senhora.

Desejava intensamente compartilhar a mesma sensação e, como advinhando o que sentia, a

Senhora deu a ordem para que ele iniciasse a honraria dedicada à sua discípula e com muito

cuidado e afeição, assim foi feito. Apenas não lhe fora concedido colocar seus pés sobre a

cabeça de aleph, símbolo maior do domínio, reservado apenas à Senhora.

- Levante-se , aleph! - ordenou a Dona do escravo que postou-se humildemente em pé, a

cabeça baixa e as mãos coladas ao longo do corpo.

- Cara, Domme, devolvamos ao aleph as sombras.

Isso foi a senha para que a Domme colocasse a venda nos olhos de aleph e , de fato,

restituindo-lhe a noite definitiva, tão escura como lá fora, o que nada lhe permitia ver,

apenas ouvir os movimentos à sua volta. A grande possibilidade de advinhar o que havia por

vir, fora-lhe tirada à medida que os sons dos saltos das botas de ambas as dominadoras

eram exatamente os mesmos e, com certeza, esmeravam em dar a mesma cadência no andar

pois já não os distinguia.

- Nos retiraremos aleph e , ao voltarmos , deverá dizer quem aproxima-se de você baseado

apenas naquilo que puder perceber, sem utilizar suas mãos que jamais devem tocar o corpo

de qualquer de nós por não ter a dignidade para tal.

- Sim, Senhora.

Retiraram-se e aleph tentava distinguir o ritmo que sua Senhora aplicava ao andar mas não

foi possível. Os momentos se sucederam e apenas aumentava a angústia do submisso.

Parecia-lhe voltar o tempo que, criança, era deixado só no quarto escuro e chorava, sentia-se

Page 25: A educação dos sentidos

abandonado para sempre. Como precisar , naquele estado, o tempo que levou para que

ouvisse, novamente, os passos das duas? Impossível dizer.

Sabia que alguém aproximava-se pelo seu lado direito e tentou perceber quem era mas não

foi o suficientemente perspicaz para entender que isso demandava tempo, uma observação

que deveria ser feita com calma, tentando sentir o que lhe cercava.

Sentia um perfume, sim, o perfume! No entanto, não lembrava-se por mais que tentasse,

qual era a nota daquele que lhe fora apresentado tempos atrás.

- Senhora? - arriscou-se.

Do lado esquerdo, sem qualquer som que o antecipasse, um tapa vibrou-lhe no rosto,

arrancando-lhe um gemido sufocado. Errara! Quem estava ao seu lado era a Domme. Sim,

havia uma nota diferente no perfume mas não notara.

- Como ousa confundir-me, inútil? - agora sim, a voz de sua Senhora fazia ouvir-se do lado

esquerdo e era secundado por um riso abafado da Domme que deliciava-se ao ver aquele

incompetente sendo punido.

Os tapas se sucediam até que o rosto de aleph apresentasse um rubror típico de tanto

espancamento. A Senhora e Domme se entreolharam e disse-lhe a Dona de aleph:

- Nenhuma ofensa deve ser perdoada, jamais! Ensinei a esse inútil qual era o meu perfume e

esse estúpido não espera, arrisca, tenta como um imbecil. Como posso aguentar isso, essa

peça inútil, totalmente sem capacidade de sentir. Não sei porque mantenho essa coleira nesse

pescoço imundo.

aleph sentia-se mal, sendo que o seu mundo de serviço encontrava-se prestes a desmoronar,

ao menos era o que sentia. Desagradara a sua Senhora e ainda na frente de outra

dominadora.

- Não perde por esperar, aleph! Decepcionou-me em meu lugar de culto e reverência. Será

castigado. Agora de quatro no chão, cão imundo.

Page 26: A educação dos sentidos

Colocou-se como lhe fora ordenado e não tardou para que a guia fosse colocada em sua

coleira. Estava sendo arrastado como um cão, sem saber para onde ia e sua Senhora,

enfurecida, pouco esforço fazia para que não permitir que ele esbarrasse em algum lugar.

- Cuidado para não me provocar mais danos, inútil - repetia.

A Domme aprendera a mais preciosa lição, a de jamais perdoar. Todo erro, correspondia um

arrependimento e uma penitência sendo que o primeiro era dispensável de ser enunciado já

que ele deveria mover o coração rumo à nenhum erro mas a penitência, essa sim, era

indispensável.

aleph percorreu todo o corredor tangido como um cão rumo à masmorra da casa da Senhora

onde chegou com os joelhos em chamas e as mãos fustigadas pela "caminhada".

- Levante-se, inútil. - comandou a Dona de si.

O submisso levantou-se e foi dada à Domme a honra de psicioná-lo para o castigo. As máos

foram atadas em lugar específico, acima da cabeça, deixando os braços esticados e, as pernas

separadas, foram atadas em semelhante dispositivo.

- Hora do castigo, ser inferior! - falou a Senhora.

O castigo iria começar.

Page 27: A educação dos sentidos

Parte 7

Talvez existam castigos que firam a carne e deixem marcas indeléveis no corpo. Quem se

submete sabe, no entanto, que as verdadeiras marcas são aquelas que ficam por dentro,

exatamente como agora que aleph experimenta duas sensações distintas e de dimensões

diferentes.

A primeira , conhecida, a de ser castigado em si. Não podia esquecer a frase falada por sua

Senhor antes de retirar-se , juntamente com a Domme, da masmorra onde encontrava-se

atado:

- Quando aprenderá, aleph, que eu odeio ter de castigá-lo??

Vergonha, a maior das punições, principalmente frente à outra Dominadora a quem, com

certeza, a Senhora desejava demonstrar a qualidade do treinamento que aplicava à si. Como

pudera colocar tudo isso em dúvida por uma simples precipitação?

A segunda era ser abandonado daquela forma por ambas deixando-o na consciência de sua

falta e da impossibilidade de perdão ou de reparar a ofensa. Tudo isso somava-se a ponto de

fazê-lo desejar que sua carne fosse marcada mil vezes, com todas as suas consequências mas

também com suas lições mais rápidas e marcantes.

Sentia o cheiro do cigarro que sua Senhora consumia e ansiava por Ela. Gostaria de gritar

por sua presença mas cabia-lhe, dentro do que era, apenas esperar a vontade de sua Senhora

e os minutos se sucederam até que ambas voltassem.

Coube a Domme (e reconhecera pela forma de venda-lo) retirar-lhe a luz do dia. Sons quase

inexistentes senão o calma bater dos saltos das botas no piso da masmorra.

- Nunca bata sem antes aquecer, Domme. Faça conforme eu lhe disse.

- Sim....

Page 28: A educação dos sentidos

O açoite de cordas veio de encontro à nádega de aleph em ritmo descompassado mas que

logo foi sendo regular e preciso.

- Jogue com o pulso, isso... Muito bem, menina, muito bem!

Crescentemente o açoite provocava uma sensação de aquecimento, com o sangue fluindo

para a superfície de suas nádegas, fazendo que, lenta e constantemente, a sensibilidde no

lugar preferido para aplicação de castigos não fosse diminuída mas propiciasse um castigo

mais intenso para o Dominante e mais proveitoso para o bottom.

- Olhe... Quando tiver experiência poderá fazer isso...

aleph sabia o que significava isso já que normalmente , a Senhora usava dois açoites no início

de suas sessões de spanking. Habilmente, apenas com o concurso dos pulsos, girava-os em

evoluções esteticamente belas, admirada com encanto pela Domme.

Nesse caso, não apenas suas nádegas eram atingidas mas as costas que também receberiam

chicotadas pelo que percebia.

- Sinta, como está quente...

Sentiu a mão pequena e macia da Domme a verificar a temperatura de sua pele que já era

ideal para o começo da sessão.

- aleph! Diga-me qual é a sensação. Descreva os cheiros e notas.

Colocava ao alcance do olfato de aleph a mesma fragrância que mostrara a ele quando da

educação do seu sentido mas que ele esquecera ou que não tomara cuidado de sentir quando

fora testado o que lhe causara essa punição.

- Amadeirado... com notas cítricas.

Mal acabara de falar o chicote estalou em suas nádegas de forma intensa a ponto de fazê-lo

contorcer-se de dor e do inesperado já que estava vendado.

- Doce ilusão sua que compensará sua falta! Sabe disso, não é?

Page 29: A educação dos sentidos

Acenou afirmativamente com a cabeça. Mais uma vez foi esbofeteado e logo a Senhora

explicou que quando perguntava, a resposta deveria soar clara, ser pronunciada.

- Sim, Senhora! Sei disso...

Ela caminhou em direção a Domme e entregou o chicote de montaria. Aquele chicote lhe

agradava porque uma dose adequada de dor e era fácil de manejar. Indicou-lhe as áreas

mais adequadas para serem chicoteadas e tornou claro que não apenas o bater era o ideal

mas sim provocar sensações adequadas, ou seja, lentas ao sentir, intensa ao produzir

resultados, inesquecíveis.

Domme logo mostrou entender perfeitamente a lição que tivera: mesmo percebendo o

perfeito aquecimentos das nádegas de aleph, dedicou largos minutos a percorrer as costas,

dar-lhe a lingueta do chicote para lamber, uma brevíssima batida nas bochecas e a volta

para o pescoço.

Ao atingir o flanco do lado direito, apercebida que encontrava um lugar adequado, vibrou-

lhe a primeira chicotada de fato.Mesmo sentindo que a lingueta deslizava naquela direção e ,

recordando das lições da Senhora, surpreendeu-se com a batida inesperada e quase gritou o

que teria sido desastroso para ele mesmo.

Chegando às nádegas, aí sim dedicou sua primeira e mais doída chicotada. Pudesse ver,

notaria que aplicara uma força um tanto mais acentuada e nisso difereia-se um tanto de sua

Senhora que adorava provacar dores de menor intensidade mas repetidamente e em diversos

lugares do corpo o que, ao final da sessáo, parecia a aleph ter sido chicoteado mais do que

efetivamente fora.

O chicote vibrava em suas carnes cuja coloração já aproximava-se de um arroxeado em

algumas áreas. Deleitavam-se tanto a Domme como aleph que, desde a consciência da

Page 30: A educação dos sentidos

possibilidade de ter sua submissão acolhida, não dispensava o estalar do chicote mas , do

fundo do coração, jamais daquela forma.

- aleph!

- Sim, minha Senhora.

- Eu quero ouvir a sua contagem e um agradecimento à Domme. Ela está colaborando

comigo para sua reeducação e merece o reconhecimento por isso com o direito de castigá-lo e

usá-lo sempre com minha autorização.

aleph concentrou-se e conseguiu, claramente, ouvir os movimentos do chcote, o seu sibilar no

ar e o encontro com suas carnes. Refreou o grito, suspirou alto e disse conforme lhe fora

ordenado:

- Um! Obrigado Sra. Domme

Se pudesse olhar para os olhos de Domme, veria uma mulher que finalmente dera vazão

para seus mais íntimos desejos, sentia-se plena, renovada, com um mundo cheio de

diiculdades, sim mas com grandes fatos e feitos.

- Dois! Obrigado Sra. Domme.

A Senhora apontava para Domme que subisse um pouco com o chicote e batesse na região

dos omoplatas, em ambos os lados.

- Três! Obrigado, Sra. Domme.

Assim foi a Domme contornando o corpo de aleph, batida após batida, deixando marcado

seu corpo, vermelhor em algumas partes, roxa em outras, em especial as nádegas. A

contagem subia, dezoito, dezenove e finalmente vinte, isso quando a Senhora deu o sinal

para que parasse o espancamento.

Sucedeu-se uma pequena masagem com óleo aromãtico para que fossem aliviadas as dores à

partir de uma mistura de óleo mineral e cânfora. Nas áreas que assim requeriam, um pouco

de gelo foi aplicado para aliviar as dores maiores.

Page 31: A educação dos sentidos

No entanto, ainda não estava acabada a sessão. As mãos de aleph foram atatadas de forma a

ficarem no meio das costas com as cordas passando por um elo na coleira e virando-o de

frente para si, passou um cordão de maneira que tanto o escroto quanto o pênis fosse

firmemente atados juntos. Sem excessos, isso provocava uma situação onde qualquer

acréscimo de excitação provocava um misto de prazer e de dor que são incomparáveis.

- Sabe, cara Domme, esse menino safado jamais sofreu algo que tenho certeza que gostará de

proporcionar à ele.

- Poderia saber o que é, Senhora?

- Claro que sim e ele também saberá. Melhor tirar a venda dos olhos dele.

- Permite, Senhora?

- Fique à vontade, cara Domme...

aleph sabia como deveria proceder nesses casos, abrindo os olhos progressivamente para que

os olhos não doessem.

- Vire-se de costas, aleph.

O escravo pode ouvir que ao passar algo para Domme,a Senhora provocara algumas

expressões de surpresa e de descrença se era aquela mesma a sua vontade. Reafirmada,

ouviu a preparação da Domme, instruída pela sua Senhora.

- Vire-se, aleph!

Quando olhou para Domme, tremeu de sensações mistas de medo, vontade de afastar-se e

desaparecer dos olhos de ambas mas a certeza que não tinha alternativa senão obedecer as

vontades de sua Senhora. Temia pelo que iria acontecer e sentiu, pela primeira vez, uma

vontade imensa de chorar mas conteve-se, afinal,a entrega absoluta tem esse nome

exatamente por não ter limites.

Page 32: A educação dos sentidos

Parte 8

Os olhares de aleph e sua Senhora comunicaram-se quase que imediatamente e o que ele

pode sentir foi uma mensagem que era conflitante com castigo, com a dor que

inevitavelmente sentiria. Ela apenas aproximou-se e começou a acariciá-lo sutilmente, com

uma mensagem subliminar de que confiasse.

- Não encare isso como punição, aleph. A punição já se foi com o spanking já que a punição

deve ser proporcional à ofensa. Agora permita-se ser dominado de uma forma a qual jamais

foi submetico.

No entanto, a Senhora percebeu que a dúvida e a angústia não desaparecera dos olhos de

aleph e logo entendeu o porquê.

- Pensava que você não estivesse submetido à esse pensamento linear, aleph. Será que me

enganei quando pensei que um espírito livre estava portando minha coleira?

- Não, Senhora. A Senhora não se enganou. Apenas temo pela imagem que ficará de mim

para a Senhora.

- aleph, aleph.... - disse a Senhora com doçura – O que é ilícito acontecer entre um homem e

uma mulher livres? O que é ilícito à um servidor fazer para atender os desejos de sua

Senhora? Aleph... quando decidiu servir-me nasceu um novo homem, obediente mas liberto

e liberto exatamente por ter disciplina e por ter espírito de servir. E também sabe que está

livre para ir quando quiser, bastando devolver a coleira que lhe foi confiada para honrar. ?

isso o que quer aleph?

- Não, Senhora. Serví-la da forma que a Senhora desejar é a única coisa que desejo para

minha vida, agora, amanhã e enquanto a Senhora desejar ter-me sobre Seu domínio. Não

Page 33: A educação dos sentidos

poderia aprender mais senão em Sua presença e eu agradeço as lições que tem dado a mim,

Senhora.

Domme assistia aquela cena com atenção e aprendendo a lição mais importante de alguém

que pretendia dominar: o respeito,a responsabilidade e consideração com o servidor que

colocava sob seu domínio.

Desde que a Senhora lhe propusera, para sua educação e a de aleph, que fizessem o forte ato

da inversão, questionara-se qual seria o impacto para si mesma e para aleph. Duas questões

se colocavam ali: primeiramente que sendo a experiência inicial, todo o valor que se daria a

tal prática dependia da qualidade de primeira vez. Aprendera isso consigo mesma e da

primeira vez que um homem tocara-lhe o corpo com vistas ao sexo: a experiência com um

homem valoroso a libertou de todos seus medos e tornou-a livre para abraçar , no futuro, sua

condição de dominadora.

Depois, pensara em como aleph encararia a própria questão da prática confrontada com o

conceito de sua masculinidade que era muito comumente colocada em questão em práticas

como essa. Ecantara-se com a breve lição que a Senhora dera, afinal, sempre crera que tudo o

que era feito entre um homem e uma mulher era desprovido de tais preocupações e mesmo

porque masculinidade é um conceito que deveria extrapolar a esfera sexual e instilar-se pela

vida de um homem como um todo.

Conseguia visualizar a tensão no corpo de aleph e como essa tensão aliviara-se quando das

palavras da Senhora. Agora , relaxado, estava ajoelhado ante a Domme que não ousava

movimentar um músculo dada a intensidade da cena e do momento que se desenrolava.

- aleph, entenda isso – disse-lhe a Senhora. - Domme porta dois símbolos de poder que

sempre foram associados a vocês homens, o falo e as botas, a materialização do poder e da

Page 34: A educação dos sentidos

força. Nesse momento, ela é dominante de fato e simbolicamente. Tribute-lhe suas

reverências.

Bem sabendo o que isso significava, abaixou-se e beijou as botas da Domme e sob o comando

de sua Senhora, lambeu-as assim como as solas que foram oferecidas, subindo pelo cano até

uma determinada altura onde foi comandado a parar.

Logo que terminou com o ritual na bota esquerda (começara pela direita) foi tomado pelos

cabelos pela Senhora e teve sua boca dirigida para aquele falo que esperava rígido, em

permanente estado de prontidão.

Abra a boca, aleph!

Imediatamente atendeu à ordem, abrindo a boca o máximo que podia sendo dirigido para o

consolo que foi enfiado em sua boca lenta mas incessantemente até que batesse no fundo de

sua garganta e provocasse um espasmo que molhou de saliva o instrumento.

Chupe! - comandou a Senhora.

Dedicou-se lentamente á sucção do falo o que provocou um suspiro de satisfação na Domme

ao ver aquele homem, másculo e belo, subjugado e tributando reverência ao seu símbolo de

poder. Era sutilmente amparado pela sua Senhora que o afagava e reduzia com esse simples

gesto toda a tensão que tomava o corpo e a mente de aleph.

- Deite-se, aleph! - ordenou Domme para a surpresa da Senhora que não esperava que sua

pupila estivesse tão excitada com a situação a ponto de perder o ritmo respiratório que

mantinha mesmo nos momentos mais tensos ou mais excitantes das etapas que

atravessaram.

Aleph dirigiu um olhar inquiridor à sua Senhora como que confirmando a ordem recebida.

Ante o olhar de aprovação de sua Senhora, deitou-se, barriga para baixo e Domme colocou

suas botas pretas sobre a cabeça de aleph.

Page 35: A educação dos sentidos

- Senhora, permita-me dizer que pela concessão do domínio de aleph me ensinou muito mais

do que aprendi com muitos que tentaram me ensinar a arte do BDSM. Em respeito á isso,

Senhora, pergunto-lhe se convém ir além nesse momento e consumar a posse de aleph. Sou

grata a ambos pelo que fizeram e não desejo que nada abale o casal que formam.

A Senhora emocionou-se com a atitude respeitosa e que demonstrava tanto cuidado com

uma peça que lhe era cedida para o prazer mútuo e , principalmente, para a educação dos

sentidos de aleph e sua qualificação como o sub que a Senhora desejava.

- Cara Dome, amiga de tanto tempo, sinceramente, apesar de eu esperar grandes gestos de

sua parte, esse mostrou-me que com o tempo terá totais condições de ser uma excelente

dominadora. Se lhe falta técnica, não lhe falta o sentido de cuidado que todos os Tops

deveriam ter. Não se trata de bom senso, essa coisa que não tem rosto mas sim uma

indiscutível preocupação com a concretude do bem estar e da segurança de quem a serve

mesmo que temporariamente. Não se preocupe, caríssima, prossiga. Aleph aprenderá o que

precisa aprender.

Domme, com a cabeça, reverenciou a Senhora em gratidão. Ato contínuo, sem tirar o pé da

cabeça de aleph, disse em voz baixa e tranquila:

- Não tenha preocupação com nada, aleph. Estarei cuidando de você como cuido das pessoas

que mais amo. Tranquilize-se e tudo ficará muito mais fácil.

Dito isso, liberou-o de sua bota e puxando pela coleira o colocou de quatro na cama. Um

tubo de óleo estava estrategicamente guardado sobre o criado mudo de forma que tomando-

o, começou a praticamente regar as nádegas, o ânus e também o saco escrotal de aleph o

qual massageou levemente como que para provocar um certo relaxamento.

Colocou uma luva de procedimento na mão direita e começou a massagear o ânus e

lubrificá-lo mais profundamente com óleo. Aleph gemia baixinho, proporcionalmente á dor

que lhe infligia a Domme ao disvirginar , inicialmente com o dedo, aquele ânus intocado até

Page 36: A educação dos sentidos

então. Sentia a pressão em seus dedos que deslizavam lentamente e assim deslizou o

segundo, provocando uma tensão que apenas fazia aumentar a dor.

- Relaxe, aleph... - pediu mais do que comandou a Senhora – Com isso reduzirá e muito a

dor. Confie em sua Dona.

- Sim, Senhora.

Domme lubrificou o consolo que trazia na cintura e muito sutilmente empurrou o quadril de

forma a provocar o início da penetração. Imediatamente aleph contraiu-se, fechou o rosto e

foi acariciado pela Senhora para que readquirisse a confiança e novamente destensionasse

sua musculatura.

Orientada pela Senhora que estava ajoelhada na frente de aleph com a cabeça dele em seu

colo, orientou progressivamente a penetração e também, sempre que possível intensificava a

lubrificação para que doesse o menos possível.

Seguiram-se mais alguns centímetros e aleph sentia suas carnes abrindo-se ao contato

daquele material úmido de óleo e rígido o suficiente para provocar-lhe sensações tão intensas

de invasão, de violação na verdade, como se tudo o que era enquanto homem fosse oferecido

naquele momento.

Tentava em vão conter ao dor, fazer-se forte mas não era possível e não foi até que sentisse

que aquele instrumento havia invadido até ser contido por um gesto de sua Senhora e que

disse para Domme movimentar os quadris de forma que provocasse o mesmo movimento de

uma penetração feita por um homem.

- Meu belo escravo, meu grande homem... - repetia a Senhora no ouvido de aleph que foi

deixando-se levar por todas as sensações que consistiam dar aquilo que era tido como a

essência da masculinidade nas mãos daquela que, ao menos naquele instante, tornava-se

posse de Domme por concessão de sua Senhora.

Page 37: A educação dos sentidos

De onde estava, por sua vez, a Dona de aleph observava o instrumento a entrar e sair

lentamente do ânus de seu menino e foi com o incentivo constante que observava não apenas

o relaxamento mas um certo grau de prazer de seu submisso.. Segurou-lhe pelos cabelos ,

dirigiu o olhar de aleph ao seu e conseguia notar que, envolto em névoa de sentimentos e

sensações, delirava. O que mais lhe despertava o desejo? Aquele instrumento? A respiração

da Senhora? O tesão que Domme mal conseguia esconder em ser uma mulher poderosa na

essência do simbolismo? Não ousava querer saber, não lhe interessava e na verdade, tudo o

que queria era ter seu submisso e sua pupila educados em suas respectivas esferas e papéis.

Os minutos seguiam-se e Domme já alternava penetrações e retiradas mais rápidas e mais

lentas do consolo o que fez aleph delirar em prazer indescritível.

- Isso, aleph! Mostre para Domme quanto prazer eu sinto que tem. Vamos, mostre!

Aleph liberou os gemidos retidos em sua garganta e em seu espírito e perdia o controle de

todas as sensações que exprimentava, afinal, era um novo homem submetido às duas

mulheres poderosas e dominantes que o cercavam.

Jã não deseja mais o fim, ao contrário, deseja ser verdadeiramente estuprado com uma certa

violência mas com cuidado por aquela mulher. Não, não lhe cabia exigir nada, não cabia

pedir nada, apenas receber o que lhe quisessem dar e na medida que fosse.

Com esses pensamentos na cabeça, o desejo que fluía em suas veias, não pode evitar uma

ereção que não passara desapercebida à Senhora que ordenou praticamente que a Domme o

penetrasse ainda mais, devolvendo-lhe a dor da nova porção explorada juntamente com o

desejo que não lhe abandonava mais.

Domme estava suada e cada vez mais envolvida com aqueles movimentos de quadril e com a

tensão e tesão daquilo que fazia. Como a Senhora pode pensar em algum momento

abandonar aquele homem que se submetia de forma tão esplêndida? Arrependeu-se de seus

Page 38: A educação dos sentidos

pensamentos indevidos e fazia movimentos alternados de penetração e de retirada do falo de

vigor inesgotável.

Tendo o ânus massageado assim como seu escroto que a Senhora voltara a lubrificar e

acariciar, anunciou aos gritos o seu gozo que foi recolhido pela Senhora em suas mãos.

Sentia os jatos de esperma que não paravam e , confessaria mais tarde, sentia um ciúme por

seu menino ter um prazer tão grande com outra mulher.

Não deixou escapar quase nada do esperma que mal cabia em suas mãos.

- Pode tirar o cacete de dentro dele, Domme, lentamente.

Reparou a saída lenta do consolo e o alargamento do ânus de aleph depois dessa saída. Se

tivesse feito um enema, mandaria aleph chupar aquele consolo mas fez com que Domme o

amarrasse novamente, sem oportunidade de dar-lhe descanso.

- Puxe a cabeça dele para trás, Domme! - pediu.

Sem pronunciar uma palavra Domme fez exatamente o que lhe era pedido, puxando a

cabeça de aleph para trás.

- Abra a boca, cachorro!

Aleph surpreendeu-se pelo tom de voz da Senhora e a acreditou enraivecida consigo, sem

qualquer coisa que aparentemente pudesse motivar tal reprimenda. De fato, não era

responsável pelas sensações de ciúme que a sua Dona sentia.

Ela , por sua vez, derramou todo o esperma que guardava na mão na boca de aleph e

recomendou que não engolisse antes de limpar o restante que ficara em suas mãos. Depois

disso, sorveu todo o líquido alcalino que lhe desceu pela garganta.

Foi desamarrado pela Senhora, amparado, antes que a Domme, já sem o acessório

reaparecesse na masmorra.

- Agradeça à Domme por tudo o que aconteceu na noite de hoje. Beije-lhe os pés.

Page 39: A educação dos sentidos

Aleph ajoelhou-se frente à Domme e beijou-lhe as botas negras. Agradeceu pelas lições, pelo

cuidado e pelo prazer que provocara em si e em sua Dona.

- Muito bem , aleph, você sempre honra a coleira que porta. Domme ficará conosco hoje e

tomaremos um vinho e conversaremos. Tome banho, apronte-se e providencie tudo o que

combinamos para nos satisfazermos. Nesta noite será concedido juntar-se á nós.

- Grato e com a licença das Senhoras.

- Vá , aleph.

Saiu movimentando-se lentamente, talvez tentando recuperar o corpo e a mente da

experiência vivida e deixou para trás uma Senhora que não imaginava ficar tão movida com

uma cena. Isso não passou desapercebido da Domme que pensava no que haveria à seguir.

Se até aquele momento, em apenas uma noite, experimentara coisas tão diversas em

intensidade, o que haveria depois? Isso nem podia imaginar.

Page 40: A educação dos sentidos

Parte 9

A sessão terminara e convinha a todos discutirem o que havia acontecido e, ao menos na

cabeça de alguns, não era pouco: a nova experiência de aleph, o prazer do seu submisso em

outras mãos para a Senhora e, em contraparte, a sensação de proporcionar prazer pela

primeira vez durante seu treinamento que tão gentilmente a Senhora lhe permitira fazer

com aleph.

Enunciado assim, tudo poderia parecer fácil mas não era, ao contrário, fazia daquelas três

mentes e emoções um desvairado conjunto de sensações, variando entre o prazer, a

meditação e até certo ponto um arrependimento, cada um em seu papel e realidade.

Enquanto banhava-se, Domme experimentava a sensação de poder ser uma poderosa

Dominadora como a Senhora era e essa sensação provocava arrepios na pele, uma diferença

perceptível na respiração e um sentimento que a fazia respirar fundo e apreciar o ar.

Por sua vez, a Senhora experimentara um sentimento que desconhecia em sua história

dentro do BDSM e isso chamava-se sentimento de posse que não imaginaria ser ferido pela

experiência do empréstimo de aleph. Sentia que o gozo de seu submisso não lhe parecesse

possível mas a sua concretude lhe alertou de aspectos que todos rejeitam mas que é

realidade: o sentimento de posse dirige, inevitavelmente ao aprofundamento dos laços, mais

do que o "amor" que se enunciava no mundo baunilha mas continha, inquestionavelmente,

todos os elementos daquele.

Aqueles pensamentos fervilhavam na cabeça da Senhora quando ela se dirigia à sala imensa

onde faziam suas refeições e as celebrações e que estava impecavelmente preparada por Sua

peça que A aguardava ali, sentado e que se pusera em pé quando entrara.

Page 41: A educação dos sentidos

No cruzar dos olhos, alepnh arrepiou-se: sentiu que dali algo do brilho que sempre

experimentara nos olhos de sua Senhora mudara de intensidade e o levara a temer tal fato.

Perguntava-se qual motivo para aquela perda de brilho e antevia um momento de tensão

enunciado de antemão.

Domme por sua vez chega com a feição daquela que estava fascinada pelo mundo que se

estendia à sua volta. Começava a perceber com clareza que se não havia o "mar de rosas"

havia um universo a explorar que lhe parecia promissor.

Tomaram parte da refeição em relativo silêncio sem, todavia, tocar no assunto da sessão

acontecida. A Senhora e Domme retomaram um diálogo sobre generalidades e fizeram com

que aleph se sentisse à vontade para intervir quando solicitado.

- A refeição está ótima, aleph, parabéns.

- Obrigado minha Senhora. Fico feliz que tenha agradado.

A Senhora sorriu para seu submisso e aleph permitiu-se sentir menos tenso e mais à vontade

do que antes. Domme, por sua vez, percebera que os olhos da amiga perderam um tanto do

brilho.

- Senhora... Parece querer dizer-nos algo - disse Domme - O que seria?

A Senhora respirou profundamente, pensou nas palavras, tentou selecionar, ainda que

rapidamente, aquelas que parecia querer falar e as quais não desejava sequer pronunciar.

- Querida Domme e meu aleph... Bem sabem vocês que sou uma pessoa que raramente

recusa-se a algo que seja novo, ofereça algum risco e mesmo alguma prova para mim mesma

mas hoje, sinceramente, acredito ter atingido um limite o qual não deveria ser ultrapassado

por ninguém, nem ao menos os Dominadores.

- Qual seria minha Senhora? - perguntou aleph.

- Aquele no qual parece que se perde o controle , aquele no qual tudo o que se sente de mais

inquestionável e mais necesário possível seja apenas uma figura de ficção , que o que parece

Page 42: A educação dos sentidos

raro é comum e todas essas enormidades às quais não damos o devido valor e acabam por

ser imensas.

- Poderia nos dizer o que é, amiga?

A Senhora olhou nos olhos de Domme como se preferisse que a pergunta não tivesse sido

feita ou que a resposta não fosse assemelhada a alguém que, enciumado, expõe os demais a

uma verdadeira cena de novela.

- Não vou negar, caríssima, que o prazer de aleph quando da inversão torturou-me e me fez

sentir, de alguma forma, mais uma no mundo, sem nada que me conectasse de modo

especial à aleph. Parece-me insuportável a idéia do prazer que não é exclusivamente consigo,

apesar de ter sido uma livre escolha de minha parte.

aleph não esboçou uma palavra que seja apesar de sentir-se de alguma forma atingido com o

mal estar de sua Dona. No entanto, saiba-se bem (e a Senhora não constituia exceção) que

algo na expressão de aleph denotava um certo sentimento de abandono e , porque não dizer,

traição.

- A dimensão do prazer é uma dimensão poderosa, revolucionária, capaz de movimentar

todo o mundo e a do prazer no sexo uma das que é capaz de destruir ou construir afetos,

desejos e realizações as mais diferentes. Hoje senti-me apenas mais uma com minha peça, tão

barro ainda não cozido que ocorreu-me o risco de perdê-la.

aleph, humildemente, pediu a palavra e ela lhe foi concedida.

- Minha Senhora, já que assim me permite chamá-La. Digo-Lhe apenas que dentro de meu

coração e de minha devoção, não há lugar para ninguém senão a Senhora e por uma razão

que pode parecer simplória mas não é, a de ter-me feito, moldado, soprado em minhas

narinas. Sem a Senhora, não sou e jamais serei e não me sujeitaria o que quisesse e a quem

quer que fosse, senão pela vontade da Senhora.

Page 43: A educação dos sentidos

A Dona de aleph sorriu com gratidão mas com uma ponta de melancolia e antes de falar,

deixou suas mãos ao alcance dos lábios de aleph cujo gesto era assemelhado aos dos gentis

homens e cavalheiros que saudavam suas Damas sem beijar-lhes a mão propriamente.

- Não diga isso, caro aleph. Bem sabe que por muitas vezes, você perdeu sua coleira por

gestos e atitudes impensadas. No entanto, bem reconhecia em você a nobreza de caráter

demandada por qualquer um que queria dominar por isso insisti em você. No entanto, meu

querido, nada é para sempre por mais que nos iludamos com o futuro. Cumpre-nos fazer

cada dia de nossa convivência, um dia particularmente favorável e cheio de cores para que

não nos arrependamos do que pudemos ter feito e não fizemos assim como tirar as lições que

nos são dadas aprender.

- Como a de não se emprestar escravos, cara Senhora?

A Senhora riu com um pouco mais de desenvoltura e explicou à Domme que absolutamente

tinha alguma restrição incial ao empréstimo. No entanto, o que a surpreendeu foi o fato de

que não imaginava estar tão pouco preparada para sentir os jatos de esperma em suas mãos

e o prazer estampado no rosto do seu submisso.

- E também pouco imaginaria que aleph sentiria tanto prazer assim! - disse com um sorriso

nos lábios, ainda que discreto.

aleph sorriu mais timidamente ainda e disse que nem ela ao menos pensava que pudesse ser

assim mas todo o clima que se instalara fizera inevitável o prazer ao ter as entranhas

percorridas pelo instrumento, tocando partes as quais quase (ou efetivamente) feriam e

outras que provocaram o êxtase como a massagem que a Senhora aplicava em seus testículos

e pênis.

Sentia (e isso era fundamental) um prazer moleuqe na cara de sua Dona, na provocação

explícita de sentimentos de prazer os quais ele considerava maior do que os próprios.

Page 44: A educação dos sentidos

Evocava o serviço em sua mente e o prazer único a quem unicamente estava reservado e a

quem servia de corpo e alma , para todo o tempo que fosse permitido.

- Jamais transgridirei uma vontade sua Senhora e sei que , se o fizer involuntariamente, a

Senhora conseguirá me guiar para o caminho certo porque não tenho opção senão serví-La.

Mais uma vez a Senhora emocionara-se e concluia , finalmente, que a vida de aleph de fato

Lhe pertencia. Relativizando os dramaticos momentos de prazer em outras mãos, tomou a

firme decisão de que, apesar de ter amplo mando, restringiria algumas práticas mais

sensíveis de aleph com outras Domiandores e outros Tops até o momento que estivesse

rigorosamente pronta para tal.

Sabia que , quando determinava-se a criar essa "tolerância", atingir esse patamar elevado,

não hesitava em fazê-lo e assim o faria, constituindo aqueles dias aprendizado para todos,

inclusive a dupla Senhora e aleph que perceberam a intensidade do que sentiam um pelo

outro.

Seguiram o resto da noite tomando vinhos, petiscando, conversando e deixaram as supostas

nuvens de tempestade para trás. Ao despedirem-se, disse a Senhora à aleph.

- Descansa, aleph, não é necessário acordar tão cedo amanhã. Apenas lembre-se que deverá

estar pronto porque nosso segundo dia exigirá muito mais do seu corpo e da sua alma do

que hoje foi exigido.

- Perfeito, Senhora, descansarei. Uma boa noite às Senhoras. Com sua permissão.

- Tem permissão! Boa noite.

Enquanto aleph se afastou, observado por ambas as Dominadoras, a Senhora disse a

Domme:

- Caríssima, apronte-se também. Amanhã terá a sua maior prova como Dominadora.

Domme olhou para os olhos da amiga mas dali não conseguiu tirar sequer uma indicação do

que a aguardava. Segura, no entanto, de que a Senhora era consciente de suas limitações,

Page 45: A educação dos sentidos

ansiava para que a noite pasasse e a tarde viesse para que pudessem exercitar mais uma vez

as nuances novas desse mundo.

- Tenha uma boa noite , Senhora.

- Boa noite, cara Domme.

Fecharam-se em seus quartos e as luzes apagaram, causando a plena harmonia com os

momentos finais do dia.

Page 46: A educação dos sentidos

Parte 10

Noite quente na cidade e em cada quarto uma história diferente: Domme não teve o menor

trabalho em adormecer, parte pelo vinho que ingerira e também pela placidez que

experimentara depois da experiência única que tivera em companhia da Senhora e de aleph.

Essa, por sua vez, com alguma dificuldade conciliava o sono, imersa nas sensações que não

conseguira ainda dissipar as sensações que experimentara e que a conversa que tiveram não

conseguiram dissipar.

A insônia, inicialmente atribuída ao calor, foi entendida nos termos que realmente era e

pelos motivos corretos. Vestindo um roupão já que costumava dormir nua, a Senhora

escreveu um bilhete e colocou-o por baixo da porta de aleph. Não temia que a nota fosse

achada antes do tempo devido já que conseguia sentir o ressonar da respiração do submisso

e quando isso acontecia, o sono estendia-se até a manhã seguinte.

Dormiam na ala nova que a Senhora construira no terreno que comprara anexa ao Templo.

Todos os quartos eram suítes permitindo aos seus "habitantes" manterem a privacidade

necessária com autonomia para acordarem a hora que desejassem com exceção de aleph que

deveria acordar na hora estabelecida pela Senhora e como sabemos , ele fora liberado

daquela obrigação naquele dia.

Horas depois, o sol rompia a janela da Senhora ainda insone. Aproveitou do momento para

banhar-se e vestir-se de forma descontraída sem dispensar, todavia, as botas que faziam

parte quase cotidiana de sua indumentária , com exceção dos dias de trabalho onde usava

saltos altos mas evitava as botas como que para consagrá-las à função que tinham de marcar

a sua posição de dominadora.

Page 47: A educação dos sentidos

Domme acordara logo depois e também banhara-se e vestiu-se de uma forma que traduzia

bem a imagem que se fazia dela, alguém jovem, sem formalidades e que aos poucos ia

adotando as formalidades de sua nova posição mas apenas no contexto das sessões.

Cumprimentaram-se com beijos no rosto e a Senhora disse-lhe ter sido conveniente que

tenha acordado cedo.

- Temos alguma coisas para fazer na cidade, minha amiga. Venha comigo.

- E aleph? - perguntou sentindo a falta dele.

A Senhora não respondeu e disse apenas um "vamos" margeando as mensagens cifradas

quando se diz muito sem nada se falar. Pegou as chaves do carro, desceu pela escada e

dirigiu-se ao carro, abrindo a porta para sua amiga.

Ligou o automóvel e acelerou profundamente como que para mandar uma mensagem a

aleph que ainda dormia e sim, foi nesse momento que aleph levantou-se e, demorando para

acordar de fato, percebeu que o carro que partia era de sua Senhora, conseguia reconhecê-lo

pelo som do motor.

Porque fora deixado ali? Não entendia o porquê e também não ousaria perguntar mesmo

que tivesse alguém para fazê-lo. Ao levantar, achou a nota da Senhora que estava afastada

da porta mas só poderia ter sido colocada pelo vão:

"aleph.

Deverá ficar em seu lugar até que seja ordenado a sair. Tome seu banho, vista-se conforme o

costume e aguarde sentado em sua escrivaninha. Você está proibido de fazer uso de qualquer

aparelho sonoro ou livro permanecendo sentado até que sua Senhora determine

diferentemente".

Page 48: A educação dos sentidos

O primeiro pensamento que atravessou a cabeça de aleph foi o de não estarem bem

resolvidas as questões do dia anterior e aquela ordem parecia, de fato, uma punição. Seria a

emoção que vira no rosto da Senhora um engodo para fazê-lo falar mais e cair em uma

armadilha de falsos sinais? Por um momento sentiu um profundo sentimento de raiva de si

mesmo por permitir-se cair em tal armadilha mas também a tristeza de ver que para um

erro aparentemente desculpável jamais haveria perdão, apenas penitência e arrependimento.

Como submisso pouco haveria a fazer senão cumprir todas as ordens que ainda restavam

serem cumpridas e esperar o tempo que fosse.

Temia abrir as janelas mesmo para que entrasse ar e luz de um dia quente que estava lá fora.

Após tomar banho, a única fonte de iluminação e de ar fora a basculante que estava aberta e

deixava entrar quantidades limitadas de tão necessários elementos da natureza.

No mais, o quarto estava em uma penumbra e assim foi deixado. A cama fora arrumada, os

lençóis trocados conforme o costume e deixados dobrados em um canto do quarto até que

pudessem ser colocados na lavanderia.

Enquanto isso, Domme e a Senhora tomavam seu café da manhã em uma padaria não muito

distante do local de onde iriam fazer algumas compras necessárias para as atividades do dia.

Havia uma pergunta que de certa forma angustiava Domme mas também não ousava

pronunciá-la até porque percebera que não havia como discutir as decisões de sua amiga.

- Eu sei o que está pensando, Domme... - disse a Senhora em voz baixa - Quer saber o porquê

de aleph ter sido deixado para trás.

Domme riu da perspicácia de sua amiga, da capacidade que tinha de praticamente advinhar

seus pensamentos.

- Como você consegue advinhar o que eu estou pensando?

Page 49: A educação dos sentidos

- Meu pai era leitor de ficção científica e me dizia uma frase de Isaac Asimov que eu

simplesmente gravei para sempre: "Quem vê o óbvio, prediz o inevitável". E quer saber o que

aleph está pensando nesse exato momento?

aleph pensava que fora abandonado e essa quase certeza o angustiava de forma absoluta

como seria facilmente perceptível. Esse era o tipo de punição que começava a detestar, a de

sentir-se sozinho na certeza da culpa que tinha em algo que não via culpa alguma, não era

claro que pudesse controlar ou negar que fora estimulado.

Qual é o limite do auto-controle? Haveria de negar o prazer que sabia que sua Dona sentiria

com sua entrega? Como advinhar que aquela experiência seria tão chocante para Ela a

ponto de provocar uma reação como aquela que não conseguira antecipar?

Das muitas vezes que cometera erros evidentes, a punição fora clara e direta, inclusive com a

retirada da coleira que seria devolvida depois sob a condição de um período probatório,

exatamente esse pelo qual passava e não desejava falhar.

- ... e aleph pensará que é uma punição pelo prazer que teve contigo o que não é sequer o

caso. Terá que testar algumas de suas qualidades, aquelas que eu sei que ele tem mas que

não parecem evidentes nem à ele mesmo.

- Quais seriam essas qualidades?

- Lealdade, temor, obediência, vontade de aprender, aplicação... Ele já cometeu muitos

enganos mas hoje caminha na direção certa.

- E para que prová-lo dessa forma tão forte, Senhora?

- Porque não, Domme? Será que nossas peças não precisam da perpétua educação do

sentido da submissão e que a propriedade é um estágio que pode ser tomado ou dado

conforme aquilo que se possa oferecer ao seu ou sua Dominante?

- Não há o limite o do bom senso, Senhora?

Page 50: A educação dos sentidos

- O que é bom senso, Domme? Como medí-lo? Não se iluda com essa história da carochinha.

Existem percepções absolutamente objetivas de bem ou mal estar e decidir até onde ir ou

além de onde ir é uma questão que apenas a nós diz respeito. Já disse que isso é nossa

responsabilidade e cada vez mais sei o que aleph pode e não poderá fazer ou suportar.

- Não tenho dúvidas disso, Senhora... Nenhuma aliás e bem sei o valor do que deseja fazer

aleph experimentar e aprendo cada vez mais com isso.

- Que bom que é útil para você Domme, como está sendo útil para aleph. Espero que ambos

aproveitem e bem o que está sendo ensinado. A quanto tempo estamos fora de casa?

Domme consultou o seu relógio e informou que já fazia uma hora e quinze minutos que

estavam ausentes e a Senhora disse ser momento de fazerem o que mais era necessário e

retornar para retirar aleph de seu isolamento.

Ele, por sua vez, adormecera sentado na cadeira e tivera um sonho intrigante com sua Dona.

Senhora e Domme apreciam com vestes trocadas, ou seja, a primeira de negro e a segunda de

branco.

- E agora, aleph... Consegue resolver a confusão em sua mente? Diga: com quem quer e gosta

de ter prazer?

- Com.... - hesitou como tomado de paralisia - A....

Olhou novamente nas duas e agora cada uma vestia a roupa costumeira, invertendo os

papéis.

- Com quem aleph?

- Com...

- Com quem aleph???

- Com a ... Senhora....

aleph teve vontade de gritar mas controlou-se, acordando assustado e ainda sentado na

cadeira onde estava.

Page 51: A educação dos sentidos

- Bem , cara Domme, é hora de voltar. Temos tudo o que precisamos e não precisaremos mais

sair do Templo.

- Vamos, então.

O caminho não era longo mas algo parecia estar despertando na cabeça da Senhora. Qual é

o limite? Para onde direcionar o aprendizado de aleph de forma que não ficasse de alguma

forma um resquício de sentimento de inadequação que sempre ocorre nos momentos de

punição? Principalmente, já antevendo o que poderia estar acontecendo, como fazer que um

sentimento de vingança não se generalizasse quando o que de fato ocorria era apenas mais

uma etapa no ensino e no aprendizado?

aleph ouviu o carro parar na garagem e tentou, o máximo que pode, ocultar o sentimento

imenso de inadequação que tinha em seu coração. Queria , e muito, ouvir a voz de sua

Senhora mas tudo que conseguiu ouvir foram os passos, a caminhada em silêncio, primeiro

na parte externa, após dentro do Templo e agora no hall.

A chave girou na porta que se abriu e aleph não pode resistir ao fato de se dirigir correndo à

sua Dona e jogando-se no chão, beijar Seus pés implorando o perdão pela sua grande falha.

- Levante-se aleph! - ordenou docemente.

Pela primeira vez em muito tempo, viu lágrimas de dor nos olhos de seu servidor e apressou-

se em esclarecer que não se tratara de uma punição mas apenas de mais uma etapa do

aprendizado mas pareceu que isso não acalmava aleph que continuava a suplicar-Lhe o

perdão do qual se achava merecedor.

A Senhora acolheu-o em seus braços, enxugou suas lágrimas e confortou-o com a aprovação

que era a base de todo relacionamento e sentiu ternura, muita ternura por sua peça. O

conforto que poderia dar era escasso mas importante para aleph que, trazido para a sala,

teve licença para tomar seu café de manhã com as dominantes.

Page 52: A educação dos sentidos

Como prosseguir agora nesse aprendizado? - pergunto a si mesmo a Senhora - Como será

daqui para a frente?

As respostas viriam, inevitavelmente, assim como as lições que não podiam deixar de ser

aprendidas.

Page 53: A educação dos sentidos

Parte 11

aleph ficou estranhamente calado como se tudo o que vivera lhe transpasasse o espírito com

a capacidade que desconhecia em devastar com a ilusão que pudesse ter quanto à submissão.

Por mais que entendesse que negar seu pólo submisso seria trair a própria essência que

tinha, acostumara-se a pensar no poder da culpa enquanto um ente de maior impacto em

seu ser do que poderia inicialmente imaginar.Não se tratava de uma afirmação padrão de

todo e qualquer de todo e qualquer "bottom" mas uma experiência real, vivida, fora de

qualquer hipótese, repleta de concretude.

Queria poder comparar a dor sofrida em sua dimensão meramente carnal com essa dor

provocada pela solidão revestida de culpa para chegar à conclusão que coubesse na sua visão

individual, no seu sentimento particular. Sabia muito bem que, colocada e manifestada

nessas bases, a Senhora provavelmente não consentiria em aplicar-lhe o castigo demandado

pela sua necessidade de experiência, ao contrário, a rejeitaria como excessiva e danosa à ele.

Portanto, para experimentar graus maiores de sofrimento deveria demonstrar que o

"montante" anterior não fora excessivo e isso apenas estaria evidenciado por uma contínua

percepção do seu próprio bem estar por parte da Senhora cujos olhos sempre estavam

pousados nele, demonstração da preocupação que Ela tinha.

- Mortifique minha carne, Senhora! Faça-me provar do seu chicote, eu suplico, no limite do

que se possa aguentar e além! Eu Lhe suplico! - pensava aleph como querendo transmitir

pelos misteriosos mecanismos de uma percepção que ultrapassava os sentidos, era evidente

pelo olhar.

Depois da refeição e da lavagem dos pratos, aleph fora convidado ao quarto de sua Dona,

perfumado com madeiras queimadas e incenso.

Page 54: A educação dos sentidos

- Deite-se aqui, aleph, ao lado da cama - falou a Senhora apontando a área contígua à

cabeceira da cama. Antes que deitasse, substituiu a coleira de passeio pela de sessão o que

aguçava o prazer de aleph ao perceber uma convergência entre os seus desejos e de sua

Dona.

Adormeceu e talvez em seus pensamentos não lhe ocorrera um fato que já lhe fora narrado

mas do qual se esquecera por completo e que revelaria à Dona a extensão do seu

inconsciente.

- Dor... Preciso de dor... - murmurou à princípio em tom muito baixo mas não a ponto de

passar despercebido à sua Senhora que não tinha sono pesado.

- Senhora!.... Eu peço.... Torture-me... - balbuciava aleph - Mate-me se quiser... Torture-me!

A Senhora ouvia e custava a acreditar no que ouvia. Mesmo quando aleph silenciara e

dormia placidamente, a mulher que não mais conseguia dormir, temeu pelas consequências

do abandono sofrido horas antes. Seria esse grau de masoquismo intenso, essa atração pela

dor, uma fonte de prazer ou apenas uma forma de "auto-punição" se assim pudesse dizer?

Esperou que aleph acordar por si e ordenou-lhe banhar-se novamente e apresentar-se,

despido, na sala dos suplícios, uma instalação no que poderia ser chamado de "lado sul" do

Templo que fora escolhida como tal por um acidental e providencial isolamento acústico

tornando qualquer som ali produzido praticamente inaudível ao público externo.

Preparado, aleph dirigia-se à sala quando foi mandado parar e esperar.

- Domme colocará a sua guia e trará até aqui. Não se aproxime antes disso!!!

Domme dirigiu-se a um sinal da Senhora em direção à aleph e colocou-lhe a quia.

Mencionou trazê-lo andando.

-Oras, aleph, para quem pretende sofrer os rigores de uma Dona, não seria suficiente vir

andando... Venha como um cão! - disse com um sorriso sarcástico nos lábios, do tipo

Page 55: A educação dos sentidos

"cuidado com o que deseja" já que não há um plano "B" para os desejos que uma Dona

resolve satisfazer.

A confissão sussurrada durante o sono e da qual o submisso não tinha conhecimento,

munira a Dominante de todos os recursos e estratégias para "satisfazer" aleph de uma forma

planejada.

Foi exatamente onde a Senhora estava e onde aleph foi conduzido pela Domme que o

"séquito" fez uma pausa e onde pode-se ver as mãos e os joelhos rubros com o esforço.

- Em pé, cão! Meu querido e amado cãozinho que vai finalmente sentir a dor que deseja

tanto a ponto de falar durante o sono! Que bonitinho esse cãozinho! - disse, desferindo um

bofetada na cara de aleph. - Vamos ver se suporta a primeira estação da realização dos seus

desejos. Calce imediatamente essas sandálias.

aleph não entendeu de imediato a ordem mas nem precisaria. Mesmo sem saber literalmente

o que havia dito, com certeza toda a sua energia contida desde a experiência da solidão no

quarto deveria ter transbordado durante os momentos onde sua vigilância desaparecera.

Calçar aquelas sandálias seria a primeira etapa? Um riso interiorizado achava que sua

Senhora havia se enganado mas , acreditem-me, era aleph deveria ter observado melhor

onde colocaria os pés. Aguentaria o que mais estivesse por vir?

Page 56: A educação dos sentidos

Parte 12

"- Estás contente - pergunta Eduardo - por ele querer escrever, trabalhar, por ele estar

exaltado em vez de destruído?

- Estou.

- O verdadeiro teste virá quando começares a querer usar o teu poder sobre os homens

destrutivamente e com crueldade.

Chegará esse dia?"

(Anaïs Nin, Henry & June, Editorial Presença, página 71)

O contato se fez da ponta dos pés, logo abaixo os dedos, até o calcanhar. Metal, chapas de

refrigerante, bordas dentadas, marcas de intensidade variável dependentemente da pele em

cada região. Suspiros e um pequeno gemido que deveria se fazer imperceptível para quem

não deixa passar detalhe.

- Caminhe , querido aleph... - Caminhe para sua Senhora! Caminhe... Venha para mim,

aleph...

Cada passo representava uma dor que apenas era amplificada pela aceleração do passo

exigido pela Dominadora. Nesse contexto, tornava-se inacreditável saber que a Senhora não

pretendia utilizar aquele instrumento que considerava excessivo, principalmente no caso de

aleph. Vira esse apetrecho em um documentário sobre BDSM e decidira construir um apenas

para ver como ficaria e logo aprendeu que nada é ao acaso e , uma vez disponível, fatalmente

seria utilizado.

Page 57: A educação dos sentidos

- aleph, aleph... Acha que sua dor permanece desapercebida de sua Senhora? Que

pretensão... Gema, aleph, gema...

- Não , Senhora, desculpe-me! Eu suporto essa dor que Me impõe e eu a mereço, cada porção

dela, ilimitadamente.

- Porque merece, aleph?

- Porque essa é Sua vontade e sempre será a Sua vontade que prevalecerá.

- Minha vontade, aleph? O que sabe você sobre minha vontade? Eu o contemplo com seus

desejos e você me diz que isso é da minha vontade? Aprenda, Domme, todos os submissos

tentarão iludi-La que estão cumprindo a Sua vontade mas na verdade impõe as suas.

Pretensão, a maior de todas!

O último passo o colocou de frente à Senhora.Foi mandado descer das sandálias e mostrar as

solas dos pés. As marcas nas solas dos pés são visíveis e sangrantes e para "aliviar" foi

mandado colocar os pés em uma solução de água com sal bastante carregado e pela primeira

vez expressou profunda dor.

- Era isso que queria sentir, aleph? - falou com mais ênfase a Senhora.

aleph por sua vez, calava. Se de fato houvera dito o que a Senhora alegava que ele dissera,

sim, era exatamente aquilo que queria mas se não, qual seria a próxima armadilha na qual

ele inevitavelmente cairia?

- Responda aleph, eu lhe fiz uma pergunta!

- Sim... Senhora... - era exatamente isso o que eu disse.

Ela simplesmente caminhou para o fundo da sala , fora do alcance do olhar do submisso.

Ordenou-lhe ficar de joelhos, cabeça baixa, à mercê dela. Tomou o açoite e marcou-lhe as

costas, mandou que ficasse em pé e seguiu açoitando-o até que uma vermelhidão que

aquecia a pele ao contato se fizesse presente.

Page 58: A educação dos sentidos

Domme acompanhava tudo com os olhos sem entender tão bem o quanto seria possível tudo

o que estava acontecendo. Não sabia pensar se aquilo era enfim a punição que aleph merecia,

se é que o merecia, ou apenas mais uma sessão que começara a pouco.

- Gostaria de amarrá-lo, querida Domme? No pelourinho, com as costas voltadas para mim.

- Como quiser, Senhora. Grata pela oportunidade.

Havia um pelourinho na Sala de Suplícios, copiado de uma gravura do tempo da escravidão,

uma peça construída sobre medida e com destreza Domme prendeu aleph e o colocou a

disposição da Senhora.

Um chicote de três línguas, um metro e meio de extensão, com golpes planejados nas áreas

aquecidas. O deslizar das línguas deveriam ser sentidas não apenas com uma extensão

aleatória mas com a destreza inigualável da Senhora.

- Esse é o segredo, Domme querida... Deixe com que as linguetas deslizem sobre as costas

como se cada uma tivesse uma vida única, jogue os pulsos, amplifique a força aos poucos

mas não seguidamente.

- Como assim, Senhora?

- A dor espalha-se como uma onda gerada pela pedra no lago, caríssima. Se você bater

seguidamente, a dor não se irradia e sua peça não sente como deve, não tem ciência de toda

extensão de seu poder. Esse cãozinho, não satisfeito, ainda quer mais dor, cara Domme e eu

juro que ele terá!

Notava-se que por traz daquele discurso havia algo oculto , ao menos para a Domme mas

claro no sentido de que não cabia a aleph desejar. E o que é dor? Uma sensação física que

desaparece em poucos dias e carece de ser renovada constantemente? Ou a dor de um olhar

e de palavras que reverberam eternamente pela mente do infrator como aleph teve a

oportunidade de experimentar na prisão de sua própria mente? Ou ambos?

Page 59: A educação dos sentidos

A Senhora agora toma um açoite cujo uso era restritíssimo, feito de fios de aço finos e em

quantidade. Apenas áreas muito específicas deveriam ser batidas com esse acessório tão

digno dos grandes espancadores como era a Senhora.

- Poderia vendá-lo, Domme?

Domme vendou-o e a Senhora começou o ritual de passar os fios de aço sobre as costas, peito,

pescoço de aleph, obviamente não para açoitá-lo ali o que poderia causar dano irreversível

mas para fazê-lo sentir a textura e a temperatura do material.

Acostumado com os couros, aleph sentiu-se arrepiar quando a temperatura e a textura não

correspondiam ao que conhecia. Sutilmente moveu-se como a testar a forma que estava preso

mas não havia como escapar.

A primeira e única batida do açoite provocou um grito que ainda não era conhecido de

Domme, assim como um sangramento onde os fios atingiram a pele bela e acetinada de

aleph. O submisso começou a chorar de dor e foi imediatamente acomodado pela sua

Senhora que o acariciou, confortando-o.

- Ainda deseja dor, aleph? Ou deixará que sua Senhora escreva no seu corpo as marcas que

julga necessárias e adequadas para você?

aleph soluçava ante a dor sofrida e entendia, ainda sobre o efeito da dor lascinante, que a si

não cabia qualquer direito em querer nada mas depositar, fielmente, sua vida nas mãos da

Senhora, essa mesma que tratava de suas feridas, aplicava unguento para aliviá-las e

considerava sua peça parte de si mesma, integralidade no domínio e na necessária

subordinação.

- aleph...

- Sim, minha Senhora.

- Entenda que primeiramente puniu a si mesmo de forma desnecessária já que não foi

deixado só por conta do que aconteceu mas para aprender a entender o vazio. Em seguida,

Page 60: A educação dos sentidos

desejou a dor e agora a tem em sua dimensão mais completa e ficará atado ao pelourinho até

que eu decida tirá-lo, novamente em solidão para que pense bem em seu pouco ou nenhum

direito em desejar. Será cuidado desse ferimento mas será açoitado a cada meia hora

durante o tempo que estiver aqui, seja por mim, seja por Domme. Entendido?

- Sim, minha Senhora.

- E pense, reflita porque dessa reflexão poderá decorrer muitas coisas, algumas que se não

são desejadas, serão inevitáveis frente aos fatos.

aleph não respondeu e a Senhora sabia que ele havia entendido. Tanto ela como a Domme

saem dos aposentos e deixam o submisso sozinho, atado entregue aos seus próprios

pensamentos. O que decorreria daqueles momentos? Para sabermos, devemos deixá-los

passar.

Page 61: A educação dos sentidos

Parte 13

Uma hora amarrado no pelourinho fizeram aleph sentir-se agustiado depois de ter sido

açoitado por duas vezes como a Senhora havia dito que faria. Tanto ela quanto Domme

revezaram-se em manter viva na cabeça do submisso a intensidade da busca que ainda

estava por ser feita e que deveria produzir algum fruto de imediato.

Sentia que a dor do corpo, aquela que inconscientemente enunciara equanto dormia aos pés

de sua Dona, tornava-se progressivamente inferior àquela gerada pela reprovação de sua

conduta por uma lição que ainda tentava extrair de tudo o que acontecer naquela e nas

outras noites e que lhe era constantemente cobrada pela Senhora.

Pouco antes, na primeira sessão de açoitamento, vinte e cinco vezes as tiras de couro

cuidadosamente finalizadas em um pequeno nó e queimadas lhe vibraram pela carne,

manejada com destreza pela Senhora que lhe poupara de maiores flagelos depois dos fios de

aço que lhe lasceraram a carne anteriormente.

- Tem algo a me dizer, aleph?

Mesmo voltado de costas à Senhora e ainda trazendo nas costas o calor do açoite, podia ver,

de forma claríssima, a expressão de sua Dona. A Senhora não perguntava sem doçura mas

não sem uma agudeza que pressionava, deixava sem alternativa, impunha.

- Senhora... - murmurou

- Diga aleph...

- Temo falar o que não devo e não posso.

A Senhora sorriu contidamente mas sem deixar de ser percebida. Deslizou o açoite pelas

costas de aleph e disse que esperava que em breve estivesse pronto para dizer aquilo que

estava pronto para dizer e não o que esperava que Ela quisesse ouvir.

Page 62: A educação dos sentidos

Cuidadosamente, a Top deu de beber à aleph sem mudar sua posição no pelourinho.

- Daqui meia hora, aleph... Daqui meia hora. - marcou o próximo momento, retirando-se.

A meia hora de silêncio e pouca luz serviram de uma tortura inimaginável. Onde residia , de

verdade, a capacidade de sentir dor e fazê-la instrumento de gozo? Na tortura imposta pelo

dominante ou na disponibilidade do dominado em fazer acontecer o verdadeiro prazer

comum, orgiástico, incrivelmente libertador? Quem libertava-se e porque o fazia?

Como em um caldeirão lhe sucediam as questões que desdobravam-se em várias e dirigiam-

se a um ponto comum, a vitória da vontade superior, de quem se colocava por direito no

papel de exigir e na pouca atribuição que a vontade do submisso poderia ao menos ser

pensada pelo dominante.

A Senhora o domina, sem dúvida e aí extrai seu prazer cujo efetivo gozo extrapola a

imaginação dos pobres mortais que a vivenciam como a iniciante Domme. O poder não está

apenas em mandar, o que qualquer um ligeiramente preparado conseguiria dar conta mas

está no fato de subjugar o corpo e a mente de quem se coloca de joelhos.

De nada valerá palavras gritadas e posturas excessivamente ríspidas já que a doçura que

reprime é maior do que o grito que comanda. Esse último estimula a rebeldia , mesmo a que

se esconde e se deixa velada sob palavras e gestos vazios de uma vazia submissão.

Ao vassalo não resta nada senão prestar homenagens ao que é maior do que ele por ser

efetivamente maior em tudo , necessidade que se impõe por não restar quaisquer outras

possibilidades viáveis e tal é o tomar para si.

Essa elaboração custou-lhe mais meia hora e , ao fim dessa, entraram na câmara e pode

sentir, observador que era que Domme tomara o lugar da Senhora na sessão de açoitamento,

essa vezes 30 vezes e aleph conseguia perceber um incremento de habilidade na manipulação

desse valoroso instrumento, o açoite.

- A Senhora pergunta se há algo a falar...

Page 63: A educação dos sentidos

- Não digna Domme, ainda não - disse, expressão de dor presa entre os dentes.

Domme afastou-se e aleph voltou aos seus pensamentos e , finalmente, chega a conclusão de

que sua vontade de pouco lhe valia em qualquer aspecto da "relação" com a Senhora.

A vida o fizera sub e deveria servir e para tal, confiante que a Senhora sabia de seus limites

físicos, morais e psicológicos, deveria entregar absoluta posse de sua vida, cumprindo

fielmente aquilo disposto pela sua Senhora.

Vontade? O que siginficava vontade se alguém maior em vontade e em poder não apenas

exigia mas como tinha totais condições de dirigir aquilo que era depositado em suas mãos,

ou seja, sua própria vida?

Seria isso tão contrário ao que sempre vivera que, por alguns momentos, temeu a amplitude

de tudo o que isso pudesse significar para si, em sua vida, mesmo tendo a certeza já

pronunciada por sua Dona da preservação de diversos setores de sua vida, entendidas como

fundamentais e frequentadas por pessoas cujo entendimento da profundidade do

sentimento e da entrega do BDSM não eram sequer entendidas quanto mais aceitas.

Viver o todo envolto em pessoas pela metade, ver a luz entre a escuridão coletiva dos prazeres

que corriam a mente e eram meticulosamente reprimidos. Não havia alternativa senão viver

desse modo, totalidade por dentro, parcialidade para o mundo.

Afinal, o que importava? Decidir-se pelo viver ou não viver seria tão estúpido como ter

consciência de matar parte de si e não fazer coisa alguma para evitar. Portanto, nessa hora e

meia que permanecera atado no pelourinho entendera, finalmente, que a vontade era algo

que não lhe pertencia exceto pela razão que a voluntariedade era condição fundamental

para que houvesse a entrega.

Esperou que a Senhora voltasse e lhe aplicasse a pena, na verdade a forma pela qual lhe fora

estimulada não pela dor mas pelo exercício do poder.

- Tem alguma coisa a me dizer, aleph?

Page 64: A educação dos sentidos

- Sim, Dona, tenho.

A Senhora impressionou-se com a resposta. Chamou a Domme e desataram aleph do

pelourinho.

- Então chegou a hora do passo seguinte, aleph. Venha comigo.

Page 65: A educação dos sentidos

Parte 14

Descendo do pelourinho e acompanhado da Senhora, aleph foi cuidado de seus pequenos e

grandes ferimentos originados do que sofrera à partir da "confissão" involuntária durante o

torpor do sono que, na visão de sua Dona, evidenciava a realidade profunda da mente de

aleph. - Você foi retirado do pelourinho por ter algo a dizer, não é verdade?

- Sim, Senhora.

- Então me dirá o que desejo ouvir, de forma clara e sem volteios. Vontade, aleph. qual é a

sua vontade?

- Nenhuma, Senhora. Ela andou para trás de aleph, ordenando-lhe que não se voltasse para

tentar vê-la. - De joelhos, aleph! Prontamente aleph coloca-se na posição exigida pela sua

Dona e manteve-se pelo tempo que sua Senhora desejou, chicote nas mãos, levemente

tocando os flancos de aleph, fazendo um leve spanking enquanto ele ficava de joelhos

conforme ordenado. Durou alguns minutos em perfeita imobilidade, joelhos começando a

doer em contato com o chão frio.

- Levante-se aleph! - disse, severamente. aleph levantou-se e colocou em posição de inspeção

conforme as novas ordens que lhe foram dadas. Observou-os, novamente tocou novamente

os flancos com o chicote, sem contudo aplicar força. - De quem é sua vontade, aleph? - Da

Senhora, minha Dona. Ela olhava com atenção a cada expressão do submisso e já

desenvolvera com aleph o conhecimento suficiente para diferenciar uma expressão autêntica

de uma que pudesse ser usada para um comportamento que poderíamos dizer "padrão" , o

que não lhe convinha de forma alguma, nem naquela semana, nem em dia algum.

Conseguia perceber que aleph entendera perfeitamente a mensagem que desejava passar.

Page 66: A educação dos sentidos

- Muito bem aleph, estamos prontos para o momento que esperei desde que começamos esse

treinamento que acabou sendo uma lição para você e para mim. Sente-se e espere por um

minuto.

- Sim , Senhora.

Sentou-se e esperou pacientemente o retorno de sua Dona com um rolo em suas mãos que foi

aberto sobre a mesa e no topo estava escrito:

"Eu, aleph, desejando submeter-me integralmente à Senhora, formalmente concordo com as

seguintes disposições tomadas de comum acordo:"

- Muito bem, aleph, está pronto para tomar esse passo?

- Sim, Senhora...

- Pois então escreverá de seu próprio punho todas as disposições e assinaremos no próximo

dia 25, aniversário de Domme. Será a oportunidade onde ela homenageada e onde

assinaremos o contrato que finalmente temos condições de assinar. Espero que esse período

tenha mostrado à você no que consiste submissão apesar de ser tão pouco e a submissão ser

tão grande. Não iluda-se aleph, que submeter-se seja apenas um jogo mas seja uma forma de

mostrar-se um laço, uma união que se pretende indissolúvel e que será baseado no que você

aprendeu, respeito mas autoridade forte e que será aplicado sem hesitação.

- Entendo perfeitamente, Senhora.

- Pois então, sigamos em nossa tarefa.

Escreveram durante muito tempo e em cada artigo , aleph fora instruído de quais eram os

limites que estavam sendo assumidos, em qual direção caminhariam, qual seriam as

consequências de tudo.

Os termos? Seriam revelados em momento oportuno, ous eja, no aniversário da Domme,

uma situação festiva na qual cabia a celebração de um compromisso, o fim de uma trajetória

de aprendizado e o começo de outra que não conhecia fronteiras.

Page 67: A educação dos sentidos

Parte 15

Pouco ali fazia lembrar que muitos dias antes, por obra da Senhora, iniciara-se ali um

processo que alguns poderiam inclusive conotarem de cruel de educação de alguém que

pretendia-se submisso mesmo com suas falhas anteriores e seus enganos posteriores ao

início da empreitada.

Olhando em retrospecto, não seria possível dizer que aleph estava suficientemente "treinado"

enquanto submisso e a obra estivesse acabada, principalmente pelo fato de que nunca, agora

a Senhora sabia, estaria pronto para uma vida linear e sem reparos.

Erros e acertos sempre fariam parte da equação e seria suficiente a um aprender como

conduzir-se e ao outro como fazer sua vontade, a única que valia em todo o processo,

prevalecer. Isso não seria conseguido pela razão mas por uma conjunção dessa com o

sentimento, com aquilo que percorria o mais profundo da alma de cada um.

Ter chegado até esse momento, elaborado o contrato e poder comemorar o aniversário de

Domme enquanto já em uma relação verdadeiramente D/s, era uma conquista de uma

importância e intensidade inquestionáveis, sob a qual abrigavam-se tanto a Senhora como

aleph.

Nesse momento de despedida provisória do Templo e de Domme, o início de um novo

momento, cabia festejar e muito tal conquista de todos e para isso a Senhora empenhou-se

pessoalmente em prover as melhores coisas para todos: comidas, bebidas, locais para as

cenas da play que estava prevista e cujo isolamento do Templo contribuia sobremaneira,

enfim, nada absolutamente foi deixado para trás.

Sob o comando da Senhora, aleph preparara alguns dos pratos baseado em sua habilidade e

bom gosto na cozinha, assim como estando sob sua responsabilidade coordenar todos os

preparativos da casa para que tudo estivesse em conformidade com os padrões de sua Dona.

Page 68: A educação dos sentidos

Cada vez era mais perceptível que a Senhora fazia bem em confiar ao submisso aquela tarefa

dado o esmero com que tudo fora feito e , inclusive, com a preparação do principal aposento

daquela sala destinados aos rituais íntimos da Senhora e que seria o local onde aconteceria o

encoleiramento de aleph, um dos pontos mais altos da celebração.

Já era o cair do dia quando os preparativos acabaram e foram examinados com cuidado

sendo que não cabia qualquer reparo ao que houvera sido feito.

- Parabéns, aleph! Tudo está perfeito, como me agrada. Agora terá um tempo para descanso

e para recompor-se. As ervas para seu banho estão no lugar de costume e a vestimenta sobre

sua cama. Descanse pois a noite será longa.

- Sim, Senhora. Com sua permissão.

- Pode ir, aleph.

Mais uma vez a Senhora observava aquele homem que se afastava e passava a sentir um

prazer imenso em tê-lo treinado e comandá-lo. Sentou-se na bela varanda que dava para um

agradável bosque de árvores e acendeu um cigarro para tentar relaxar o máximo que fosse

possível.

- Posso compartilhar esse momento contigo? - disse Domme que aproximara-se quase sem

ser notada.

- Claro minha cara! Por favor, sente-se aqui. - disse, indicando uma confortável cadeira ao

lado.

- Nossa! Nem acredito que estão fazendo tudo isso por mim e é claro, por vocês mas é tudo

tão maravilhoso!

- É por você, especialmente, Domme. Espero que tenha podido aprender ao menos um pouco

do que significa ser Dominadora nesse mundo onde vivemos. Tudo torna-se confuso para os

menos preparados: poder, excessos, faltas, silêncios e falares demasiados, todos em

Page 69: A educação dos sentidos

desiquilíbrio. BDSM é algo que nos absorve além do que podemos imaginar, ao menos

àqueles que não se divertem com eles mas o levam a sério.

- Bem vi, Senhora. No entanto, não me parece que aleph seja um mal submisso ou relapso.

-De forma alguma, tanto que o encolerarei. Sabe, Domme, é bobagem acharmos que todos os

subs estão prontos para as tarefas que se propõe. Via de regra, substimam o que venha a ser

submissão até que estejam forjados e sejam firmes o suficiente para entender que ajoelhar-se

è a coisa mais fácil de tudo mas que prenuncia coisas muito mais exigentes deles mesmos do

que ousam imaginar.

- Sem dúvida, Senhora, bem entendo agora. Foi muito útil esses dias que passei com vocês.

Sei que há muito mais do que foi dito e feito mas já considero-me ciente do tamanho de

minha tarefa.

- Quem bom, cara amiga! Fico feliz que assim seja e creia-me, você tem todas as condições

para ser uma excelente dominadora. Apenas abstenha-se de ansiar e tenha muita confiança

em você mesma. Confie antes em si do que na opinião dos outros e nem veja aquilo que a faz

fora do padrão mas veja o que a faz melhor do que todos. Você tem estima pelas pessoas, as

respeita e as considera, mesmo aqueles que a servem, pude observar no seu comportamento

com aleph, e isso o que importa, o seu valor pessoal, dado por você mesma, isso é o que

importa.

- Mas aprendi muito contigo e se adotasse a postura que me oferece, talvez eu tenha perdido

a oportunidade que me foi dada.

- Talvez você me superestime, Domme. O que desejo falar, no entanto, é que tudo deve ser

filtrado por seu coração e por sua razão, antes de virar lei ou verdade para você .Ouça quem

deve ser ouvido, ignore quem te faz mal e viva com confiança e alegria. Só assim há a

possibilidade de sermos felizes.

Page 70: A educação dos sentidos

Domme emocionou-se: por quantas vezes ouvira mais as vozes exteriores do que as

interiores, sem se aperceber que na interioridade é que se constróem as verdades supremas,

os grandes diferenciais. Ouvir a si antes de qualquer um , eis a chave da felicidade.

Abraçou a amiga com carinho e deu-lhe um sutil selinho nos lábios. Ambas voltaram aos

seus cigarros, olhos à frente, ansiosas, cada uma a seu modo, pelas atividades da noite. Para

Domme, com certeza , aquela celebração de seu aniversário haveria de abrir novas e

importantes portas para o futuro.

Page 71: A educação dos sentidos

Parte 16

Archotes direcionavam os convidados à festa de aniversário de Domme e ao encoleiramento

de aleph no Templo. Aquele clima era mais adequado ao cerimonialismo que se esperava e

que com certeza seria aplicado pelo rigor que a Senhora sempre aplicava e pelo qual era

conhecida. Poderia se dizer que, sem sombra alguma de dúvida, que as pessoas mais

conhecidas e as melhor reputadas encontravam-se naquela localidade.

Desde o circunspecto Senhor C. e sua serva até a irriquieta e sempre animada Senhora M.

com seus dois escravos. Ao dirigir-se à Domme e presenteá-la com invejável chicote de sua

própria confecção, disse-lhe , sorrindo mas sem qualquer sombra de dúvida que não mentia:

- Jamais permitirei que você passe seu aniversário sem usar esse chicote que fiz especialmente

para você sem usá-lo. Meu escravo j. se submeterá ao seu spanking tão logo queira.

Domme não sabia se agradecia ou se apenas calaria com um pequeno movimento de cabeça

e foi isso que acabou acontecendo. Cuidou em recepcionar cada um dos convidados seus e da

Senhora que tinha consciência que aquela noite pertencia à sua amiga apesar de que fosse

especial também para ela.

aleph estava recolhido ao seu quarto esperando que um acólito de sua Dona viesse lhe

chamar para a cerimônia. Por sua vez, vestindo uma roupa negra que compunha-se de uma

capa em modelo medieval com uma roupa que cobria uma bota até a altura de seus joelhos.

Na mão, uma jóia feita por um joalheiro que também era do meio que era um "S" montado

sobre uma plataforma e contendo cinco rubis pequenos. Era um anel ritualístico que apenas

usava quando em sessão, um sinete de seu poder.

Os convidados chegavam sucessivamente até que a Senhora considerara a hora adequada

para a cerimônia que antecederia a uma "play" previamente programada e que obedeceria

uma rígida proibição de bebidas àqueles que pretendiam fazer cenas e essa vedação estava

Page 72: A educação dos sentidos

prevista até que as cenas acabassem podendo , em seguida, serem consumidas à

vontade,entre as mais finas disponíveis.

- Atenção todos , Senhores, Senhoras e submissos.

A voz da Senhora, distinta entre os ruídos de conversa e celebrações, fez com que essas

últimas cessassem e a atenção fosse toda destinada à ela.

- Fico muito feliz em tê-los aqui nesse nosso Templo, em uma noite tão especial por

celebrarmos a vida de Domme e o encoleiramento de aleph. Fico feliz não apenas pela

ocasião mas por seu significado, o de estarmos todos celebrando o nosso modo de vida,

aquilo que nos faz mais pessoas dados os princípios que norteiam a nossa prática.

Passaremos agora ao encoleiramento de aleph.

Cerimoniosamente, os acólitos derigiram-se à habitação de aleph de lá o trouxeram ,

precendo-no na entrada. Podia se ver que o futuro escravo de Senhora estava vetido em uma

túnica púrpura com o símbolo de sua Senhora distintamente visível em dourado.

Caminhava lentamente em direção à sua Senhora que assentou-se no trono que lhe era de

direito. C., que registrara o contrato, leu-o para testemunho de todos os presentes que

atestavam o acontecido.

Lido o contrato, aleph colocou-se de joelhos frente à sua Senhora e beijou-lhe o anel

cerimonial. Feito isso, foi trazido primeiramente à Senhora o contrato, o qual assinou e em

seguida a aleph que também colocou sua assinatura.

A coleira de sessão feita em couro especialmente trazido para tal, foi entregue à Senhora por

M. , o artesão de todos os apetrechos que pertencial à Dominadora. aleph colocou-se em

posição para recebê-la e foi saudado por todos em volta.

Ao mesmo tempo, recebeu a sua coleira de passeio, aquela que portaria em todo e qualquer

momento, uma peça marcante porém discreta , em prata, como o pingente da letra S, de sua

Dona.

Page 73: A educação dos sentidos

Não foi necessário muito mais para que lágrimas discretas lhe tomassem os olhos em

símbolo de gratidão por aquele favor que alcançara, superando todos os problemas que

enfrentara e com os quais soubera aprender que a dominação exercida pela Senhora não

baseava-se no jogo bruto de bater e apanhar mas, de forma evidente, perceber que aquela

mulher que se alteava à ele não apenas tinha o direito de impor-lhe castigos mas também de

fazer-se maior pela simples existência.

À seguir ocorreu uma cerimônia da mais bela submissão: aleph , descalçando a bota de sua

Senhora, lavou-a em água de rosas, cuidadosamente, como gesto de serviço e de submissão.

Derramou levemente a água de rosas e fazer pequenas massagens nos pés da Senhora de

forma a não apenas perfumá-lo mas de prover um relaxamento bem vindo ante a cerimônia

formal e que imprimia a todos um sentimento de sobriedade beirando a tensão.

Depois de bem perfumado e relaxado, os pés da Senhora foram enxutos em uma toalha de

linho egípcio alvíssimo e foram calçados novamente por aleph, secundado pelos acólitos que

assistiram ao submisso em sua tarefa.

Senhora também encontrava-se emocionada por ter talhado o seu submisso através das

provas e por ter chegado á conclusão que não errara ao escolhê-lo entre vários que foram

submetidos à sua apreciação.

Entendia também que as missões e os ensinamentos que já dera à aleph não eram nada

mais, nada menos, do que o início do processo que se estenderia por toda a vida já que, como

nada é estático na existência, também não era o aprendizado.

aleph tinha consciência, por sua vez , que inciava-se uma nova fase em sua vida, a de servir,

um adicionamento à vida que levava e que dava um sentido e uma cor especiais à sua

existência.

- Quero tornar público que aleph hoje tem, além da minha coleira, mais uma tarefa, a de

fazer crônica detalhada de todos os acontecidos em sua vida de submisso e assim criar a

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crônica de meu reino. Que sua narrativa seja forjada com competência de escritor

competente que é e com mais esse gesto, me honre hoje e sempre.

aleph apenas inclinou sua cabeça em assentimento e compromisso e foi convidado à sentar-

se um degrau abaixo de sua Dona.

Domme, por sua vez, no transcorrer da noite, teve a experiência e o entendimento em saber

que colocar alguém sob seus domínios era cuidar e respeitar aquela vida que se colocava aos

seus pés.

Tendo participado de uma sessão de spanking com sua amiga que lhe emprestara o escravo,

sabia, no íntimo que aquele gesto apenas era um prenúncio de uma necessidade de

aprendizado, também dela, que parecia não ter fim.

A noite foi bela, as cenas arrebatadoras e todos, recolhidos aos seus leitos, refletiam cada um

sobre as lições que todos aprenderam.

Uns, como a Senhora, reavivaram as lembranças de ensinamentos que receberam dos mais

experientes e que agora tornavam-se evidentes por si. Outros, como aleph, tinham seus

sentidos educados para ouvir, para ver, sentir e saborear cada um das elevadas práticas que

lhe eram ensinadas e a Domme, por sua vez, aprendeu o valor da perseverança, do não

acomodar-se e sequer desistir de quaisquer de suas intenções.

Cada um, por seu turno, buscando a realização do que lhes parecia e no que consistia ser o

BDSM. Muito mais do que apenas um jogo erótico-afetivo, um meio de construção dos mais

perfeitos caminhos da vida. Que assim fosse.

(Fim)

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