061 Suspense

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  • De repente um professor japons faz uma estranha proposta

    ao governo dos EUA: entregar uma bomba atmica para

    experimentar os efeitos de uma certa Drgea Anti-A

    1968/Agosto Lou Carrigan Publicado No Brasil Pela Editora Monterrey

    Ilustrao De Capa: Bencio JVS - 400611 400725

  • MEMRIA

    No primeiro volume desta novela, vimos Brigitte

    Baby Montfort, a espi da CIA, vivendo uma aventura sensacional e indita de espionagem atmica.

    Quem deseja uma bomba-A norte-americana, aps ter

    possivelmente obtido outra da Rssia e outras, qui, dos

    demais pases possuidores dessa arma terrvel?

    De que plano diablico trata-se aqui e qual o seu

    misterioso idealizador?

    Iniciando suas investigaes em Miami, na Flrida,

    onde entra em contato com o japons Masao Yoshimura,

    que veio aos EUA pedir uma bomba, Baby , demonstrando sua mais do que nunca magistral eficincia, comea por

    eliminar trs agentes da MVD sovitica, que Investigavam

    Yoshimura, para logo aps, agora em Los Angeles, na

    Califrnia, penetrar furtivamente num estdio

    cinematogrfico onde est em processo de filmagem uma

    produo intitulada A Caminho da Lua. Ali consegue vencer numa luta de jud um agressor faixa preta... Mas, subitamente, as luzes de muitas lanternas revelam aos

    inimigos a presena de um intruso nos estdios da Jap-

    American Pictures.

  • PARTE II

    CAPTULO PRIMEIRO Tudo como num filme

    Captura do chins

    No h perdo para os traidores

    O velho japons da barbicha deu outra ordem e os

    demais nipnicos precipitaram-se para o homem que, perto

    dos foguetes espaciais e estendido na areia como se quisesse

    enterrar-se nela, tinha sido descoberto pelos fachos das

    lanternas.

    Brigitte apertou-se mais ainda contra a palmeira,

    agachada ao mximo, felizmente ainda invisvel nas

    sombras do bosque prximo praia. Por um instante, teve a

    insensata idia de ajudar aquele homem, que no era outro

    seno o do sinal no queixo, ao qual ela tinha seguido

    enquanto ele, por sua vez, seguia Masao Yoshimura.

    Foi uma idia que durou pouqussimo, j que sua mente

    de espi, como sempre, soube adaptar-se imediatamente s

    circunstncias. O certo era que o do sinal devia ter visto a

    luta entre ela e o faixa preta e no tinha feito o menor gesto para auxili-la. Muito lgico, alis. E por isso, sem

    rancor, atendendo apenas prpria convenincia e da

    CIA, a agente Baby permaneceu imvel, enquanto meia dzia de japoneses lanaram-se contra o homem do sinal no

    queixo.

    Este ps-se de p ao compreender que tinha sido

    descoberto. E como! Estava banhado de luz, piscando,

    ofuscado pelo resplendor das lanternas.

    Sacou um revlver, mas logo se convenceu de que no ia

    conseguir nada com ele. No devia absolutamente estar

    enxergando, ofuscado como se encontrava... E optou pelo

  • que lhe pareceu o mais conveniente naquelas circunstncias.

    Deu meia volta e comeou a correr para a praia.

    Ouviu-se outra ordem, sempre em japons, do velho da

    barbicha. Os seis japoneses correram atrs do homem do

    sinal. No se gritava, no se fazia escndalo. Era a tentativa

    de fuga de um agente secreto surpreendido, o qual

    compreendia que todas as suas possibilidades de conservar

    a vida estavam na velocidade com que pudesse correr.

    Sempre enfocado pelas luzes, Brigitte viu-o chegar

    praia. Era evidente que tencionava lanar-se ao mar,

    submergir, tentar evadir-se nadando, para onde quer que

    fosse.

    Estava a ponto de consegui-lo quando um fulgor cruzou

    por entre os fachos das lanternas. O homem lanou um grito

    e curvou-se para trs, levando as mos s costas. Mas

    voltou-se quase imediatamente, apontando o revlver que

    empunhava com a mo direita.

    Ento, Brigitte viu outro fulgor no meio das luzes. O

    homem largou o revlver e crispou as mos no cabo da faca

    que sobressaia em seu peito...

    O homem do sinal no queixo tornou a girar, mostrando a

    faca que se tinha cravado pouco antes em suas costas. Um

    novo giro, j com gua pelos joelhos, e viu-se a que tinha

    no peito. Sbito, caiu, mergulhando na espuma de uma

    diminuta onda que chegava mansamente praia privativa

    dos estdios da Jap-american Pictures. Dois japoneses

    meteram-se na gua, seguraram-no cada um por um brao e

    arrastaram-no para a praia, na qual esperavam Masao

    Yoshimura e o velho da barbicha. Masao dizia qualquer

    coisa, mas o da barbicha movia negativamente a cabea,

  • sorrindo com amabilidade, como se perdoando as tolices de

    uma criana.

    Os dois japoneses chegaram arrastando o desacordado

    Minoro, que deixaram aos ps do velho. Este no lhe fez o

    menor caso. Tinha estendido uma das mos e nela recebeu o

    que os outros retiraram do cadver do homem do sinal no

    queixo.

    Por entre as palavras japonesas, quatro francesas,

    chegaram aos ouvidos de Brigitte: Melchior Bondieu,

    Deuxime Bureau.

    O revlver de Johnny surgiu novamente em sua mo, mas a cabea de Brigitte apareceu na janela do carro.

    Tudo vai bem, Johnny. Afastemo-nos daqui. Ser melhor que voc me siga.

    O txi passou junto do imponente carro negro de

    Johnny. Baby ia ao volante e, no assento traseiro, ele viu fugazmente um homem, estendido numa posio no l

    muito cmoda.

    J longe da Jap-american Pictures, Brigitte estacionou o

    txi diante de um bar e passou ao carro em que ia Johnny. Acendeu dois cigarros, colocou um nos lbios de seu

    companheiro e comentou:

    s vezes, at mesmo para convencer uma pessoa de que lhe estamos salvando a vida precisamos aplicar-lhe

    alguns golpes.

    Que se passou com o chofer? Nada. Mas se teria passado se ficasse mala tempo

    esperando Melchior Bondieu. Acho que lhe salvei a vida...

    Nosso querido Johnny II disse alguma coisa? No.

  • Ainda no teve tempo, claro... Voltemos ao motel, Johnny. Perdemos Yoshimura, de modo que s o poderemos reencontrar voltando ao motel, parece-me. Ou se

    Johnny II conseguir saber de tudo a respeito da Jap-american Pictures ou algo relacionado com o tal Noburo

    Tanaka.

    Que aconteceu l dentro? Esto a caminho da Lua. Como? Explicarei depois... riu Brigitte. Enquanto isto,

    voltemos ao motel. Ocorre-me que enquanto esperamos

    Masao Yoshimura, talvez o nosso chins esteja fazendo o

    mesmo. o lgico, no?

    Parece, O motel a nica pista que resta ao filho do Ex-Celeste Imprio. Naturalmente, ele nos ver...

    Oh, sim! Mas quando j for demasiado tarde. * * *

    A pistola apareceu de repente, como se se materializasse

    no ar, junto da janela. O homem que estava ao volante,

    fumando, olhou-a atnito, aps um ligeiro estremecimento.

    O rosto maravilhoso da jovem que tinha travado contato

    com Masao Yoshimura em Miami apareceu atrs da pistola,

    sorridente, amvel. Mas o homem no cometeu nenhum

    engano.

    No banco de trs, o chins tinha levado a mo direita

    axila esquerda, mas um revlver apareceu na outra janela,

    quase tocando a orelha do outro homem, do que estava

    sentado junto ao do volante.

    As mos quietas, china disse o tipo que o empunhava.

  • Aposto qualquer coisa como ele tem um nome, Johnny: no seja descorts.

    Como queira... Johnny moveu o revlver. Podem fazer a honorvel gentileza de apear?

    Somos de boa paz assegurou Brigitte. E estou convencida de que ser de vantagem para todos uma

    conversa amistosa senhor... senhor Chang? Saiam do carro,

    com as mos colocadas na nuca desde agora.

    Os trs homens obedeceram. Os que estavam no assento

    dianteiro eram brancos, norte-americanos, com toda a

    certeza. A sombra das rvores, ao lado do parding do motel, de onde se viam as cabanas 10 e 12, os trs ficaram

    com as mios na nuca, enquanto Johnny lhes tirava as armas.

    Pronto disse. A conferncia ter lugar na cabana 10 decidiu

    Baby. Creio que no lhes custar muito encontr-la. Caminhem. E se lhes interessa saber, direi que no me

    importar nada elimin-los.

    Chegaram cabana 10. Brigitte abriu a porta, entrou e

    acendeu a luz, adiantando-se at o centro do living.

    J, Johnny. Primeiro entraram o chins e os dois americanos.

    Depois, Johnny, sempre os cobrindo com o seu revlver e levando os trs outros pendurados pela ala do gatilho no

    dedo index de sua mo esquerda. Fechou a porta, colocou

    na vertical as barras das venezianas e indicou o sof aos trs

    homens.

    Ali. Sentaram-se os trs, em silncio. Os dois americanos

    tinham uma expresso logicamente torva, mas o chins

  • permanecia impassvel. Brigitte olhou-o durante alguns

    segundos, atentamente, com um sorriso enganador nos

    lbios.

    Suponho que no se chama Chang alvitrou. No. Como se chama? No creio que isso tenha importncia. Nenhuma, certamente. Mas se vamos conversar,

    preferia cham-lo por seu verdadeiro nome.

    Que classe de conversa lhe interessa? Bem, parece-me uma tolice perguntar-lhe se pertence

    ao Servio Secreto chins.

    O oriental olhou-a fixamente, sem responder, Brigitte

    esperou uns segundos. Por fim, suspirando, sentou-se numa

    das pequenas poltronas e cruzou as magnficas pernas... que

    no impressionaram ningum, dadas as circunstncias.

    Senhor. Chang, at o momento, que eu saiba, morreram quatro homens. Trs deles eram russos, da MVD,

    e at o momento s conhecemos o nome de um: Piotr

    Stalinov. O outro era francs, do Deuxime Bureau,

    naturalmente, e chamava-se Melchior Bondieu. O senhor,

    sem dvida, conhecia a ambos... Esteve em Miami,

    vigiando Masao Yoshimura?

    Sim. No o vi. Felicito-o. Bem... Os homens que

    mencionei por seus nomes eram da espessa barba vermelha

    e o esbelto e moreno que tinha um sinal no queixo...

    Lembra-se deles?

    Sim. Estou convencida de que ambos tinham a pretenso

    de conseguir, por intermdio de Masao Yoshimura e fosse

  • como fosse, a devoluo de uma bomba atmica. Que sabe

    a este respeito?

    Nada. Assim no nos entenderemos. E asseguro-lhe que

    minha pacincia no durar muito, apesar de que minha

    inteno provisoriamente amistosa. Diga-me: roubaram

    uma bomba atmica chinesa, senhor Chang?

    O oriental tornou a olh-la com aquela rigidez

    inexpressiva durante uns segundos. Por fim, perguntou:

    Para quem trabalha? CIA. Tudo isto do roubo de uma bomba atmica coisa da

    CIA?

    No. Como posso ter certeza do que diz? Porque o digo sorriu Brigitte. E voc quem ? Uma espi. Mas como tenho a inteno de permitir-

    lhe continuar vivendo, desculpe se no lhe digo qual o nome

    que utilizo para meus trabalhos. No lhe interessa.

    Ento, tampouco lhe interessa o meu. Oh, sim! Quanto mais que tenho uma pistola e voc

    no... Compreende?

    Baby sorriu e o chins captou perfeitamente a frieza daquele sorriso.

    Po Mao Ting sussurrou. Muito bem. E eles? perguntou ela, indicando os

    outros dois.

    Lewis Wilson e Comei Tully. Americanos, claro. Claro.

  • E esto trabalhando para o Servio Secreto chins? Exato. Brigitte olhou para os dois homens, o rosto to

    inexpressivo como poderia estar o do mais chins de todos

    os chineses.

    Voc poder talvez ir embora, Po Mao Ting. Mas temo que seus... empregados no merecem o mesmo

    respeito, de modo que ficaro. Sempre disponho de tempo

    para mostrar aos traidores como feio trabalhar contra sua

    ptria. No est de acordo?

    Sem dvida. Comeamos a nos entendei. Portanto, continuemos

    com uma conversa mais substancial. Voc trabalha para a

    espionagem chinesa e est seguindo Masao Yoshimura...

    Devido ao roubo de uma bomba atmica?

    Masao Yoshimura no roubou nada da China. Bem. Digamos, ento, que a China entregou a

    Yoshimura uma bomba, a fim de que...

    No foi Yoshimura. No? A quem? A outro. Entendo... Yoshimura foi localizado posteriormente,

    talvez no momento em que saiu do Japo, ou sua chegada

    aos Estados Unidos... mais exatamente, a Los Angeles.

    No?

    Sim. Por que suspeitaram dele? Vigiamos um homem, tambm japons, que esteve

    presente quando da entrega da bomba. Esse japons foi a

    Tquio ver Masao Yoshimura e desapareceu. Ento,

    vigiamos Yoshimura. Quando ele chegou aos Estados

  • Unidos, perdemos sua pista. Passamos a vigiar o aeroporto e

    o vimos partir para Miami. Um de meus... empregados,

    como diz, conseguiu tomar o mesmo avio. Depois,

    chamou-nos a Miami.

    Entendo. E agora esto na expectativa. Diga-me que...

    Ns explicaremos melhor.

    CAPTULO SEGUNDO Execues em srie

    Demonstrao de jud

    Dois chamados sem resposta

    A voz soou na porta, uma frao de segundo aps ser

    esta aberta rapidamente. Brigitte voltou-se para l com

    natural sobressalto e surpresa.

    Johnny fez algo mais... isto , quis saber. Quis atirar contra os trs japoneses que tinham aparecido to

    Inesperadamente na cabana. O que vinha na frente se

    adiantou.

    Plop. Plop.

    O agente da CIA lanou um gemido e soltou seu

    revlver ao receber o balao no ombro direito; um balao

    que o obrigou a girar violentamente para trs. O segundo

    alcanou-o precisamente quando iniciara o giro e a bala

    cravou-se em suas costas, derrubando-o de bruos. Os trs

    revlveres resvalaram pelo cho, para os ps de Brigitte,

    que tinha empalidecido bruscamente e parecia petrificada,

    olhando para seu companheiro.

    Johnny no se moveu. Po Mao Ting e os dois americanos, tampouco. Nem se moveram os trs japoneses.

  • Um deles tinha fechado a porta e apressara-se em colocar-se

    ao lado do que disparara, tal como o outro. E os trs ficaram

    atentos a Baby, que desviou seus olhos azuis de Johnny para contemplar os intrusos nipnicos.

    Os trs usavam calas e camisas de malha pretas, e

    sapatilhas da mesma cor. Os dos lados eram de estatura

    comum, isto , um tanto baixos. Mas o do centro, o que

    atirara, media mais de um metro e oitenta, tinha olhos

    menores que os dos outros dois e a cabea completamente

    raspada. Seus olhos oblquos fixaram-se malignamente nas

    pernas de Baby e um sorriso cortante apareceu em seus finos lbios.

    Deixe cair a pistola, miss Montfort. Brigitte obedeceu, sem deixar de fixar os malignos olhos

    do japons. Era uma tensa troca de olhares em que cada um

    se esforava por ocultar seus pensamentos.

    Aps deixar cair a pistola, Baby desviou seus olhos do japons para olhar Johnny. Ps-se de p.

    Torne a sentar-se ordenou o japons. Brigitte no lhe fez o menor caso. Aproximou-se de

    Johnny, ajoelhou-se junto a ele e pousou a mo em seu pescoo. Um vivido claro de alegria brilhou em suas

    pupilas azuis, que um segundo antes pareciam congeladas.

    Olhou o japons.

    H uma caixa de primeiros socorros no banheiro. Gostaria...

    Deixe estar. No faa nada. Vai esvair-se em sangue... E dai? Tanto faz morrer de um modo ou de outro.

  • Fez sinal aos dois homens que o acompanhavam, sem

    olh-los. E ambos apertaram o gatilho de suas armas

    silenciosas.

    O primeiro a morrer foi Po Mao Ting, que recebeu os

    dois balaos no corao. Tinha iniciado um movimento para

    incorporar-se, para tentar o salto que o colocaria fora da

    trajetria dos projteis. Mas os dois impactos empurraram-

    no novamente contra as costas do sof, sacudindo duas

    vezes a cabea, bruscamente, uma a cada balao. Ficou

    sentado, simplesmente, com a cabea cada sobre o peito, os

    olhos abertos, como se olhassem para a mancha de sangue

    que crescia em seu peito.

    Lewis Wilson e Comei Tully tinham conseguido pr-se

    de p mim salto nervoso. E Wilson foi lanado para trs,

    por cima das costas do sof, impelido pela bala que o

    atingiu em cheio na testa. Tully Conseguiu dar meio passo.

    Apenas. Recebeu o balao no estmago, caiu de joelhos e

    depois de bruos, com fora.

    Depois, um dos japoneses aproximou-se dele e disparou

    o tiro de misericrdia. Fez o mesmo com Po Mao Ting e

    com Lewis Wilson, apesar de nenhum deles precisar de

    mais chumbo para empreender sua viagem ao Alm.

    E por fim, ficou olhando para Brigitte, que, ainda

    ajoelhada, o belo rosto inexpressivo, tinha-se interposto

    entre ele e o malferido Johnny. O japons moveu o revlver, indicando claramente que se afastasse, mas

    Brigitte nem sequer pestanejou. E, muito menos, obedeceu

    silenciosa ordem.

    O gigante da cabea raspada disse qualquer coisa em sua

    lngua e o rematador tornou a colocar-se a seu lado, em

    silncio. O gigante deu unia volta pela cabana. A ltima

  • coisa que fez foi apanhar a bagagem de Brigitte, que deixou

    a um lado da porta. Depois viu a maleta vermelha, apanhou-

    a, abriu-a e nela guardou os revlveres de Johnny, Po Mao Ting, dos americanos e finalmente, aps um olhar de

    curiosidade, a pequena pistola de Baby. Ento, olhou para esta e disse:

    Temos que ir. J deve ter visto que no queremos mat-lo... no momento.

    No irei sem atender meu companheiro. O da cabea raspada indicou o japons que dera o tiro de

    misericrdia nos americanos e no chins.

    Semba podia t-lo atendido devidamente. Como voc no quis isso, ele que morra sozinho.

    Brigitte esteve tentada a desafiar novamente a ira dos

    nipnicos indo ao banheiro buscar a caixa de primeiros

    socorros, mas compreendeu que seria absurdo; se no

    queriam que Johnny vivesse, teriam apenas que acabar de mat-lo, pois que ela no o poderia evitar. E no queria

    provocar isso. Era melhor deixar Johnny moribundo, com a esperana de que Johnny II aparecesse por ali a tempo de tentar alguma coisa por ele.

    Ps-se de p, lentamente.

    Foi Masao quem os enviou? Masao Yoshimura? sorriu o da cabea raspada.

    No, no... Mas voc esteve na Jap-american e lutou com

    Minoru. Sabamos que Yoshimura tinha com ele uma moa

    e j estvamos fazendo planos a respeito dela... quer dizer, a

    respeito de voc. Deve saber que matamos um homem na

    praia dos estdios.

    Eu vi.

  • Ah... Voc tem bons nervos, Brigitte. o seu nome verdadeiro?

    Verificaremos isso, naturalmente. E seu nome, na hiptese de possuir um? Direi o mesmo que o chins: no lhe interessa. Sempre me interessa saber como se chama um

    homem que mais tarde ou mais cedo matarei.

    Discutiremos isso em outro lugar sorriu o japons. Mas no ter oportunidade de matar-me, jamais.

    Tentarei. Voc poder fazer o que quiser, esconder-se nos confins do mundo... mas de nada lhe valer.

    As sobrancelhas do japons se arquearam..

    Isso parece um desafio formal. Que voc tem medo de aceitar. Mmmm... J lhe disse que jamais ter oportunidade

    de tentar nada contra mim. Quanto aos meus companheiros,

    chamam-se Semba e Toshiro.

    Seus companheiros no me interessam. Foi voc quem atirou em Johnny.

    O japons olhou para o espio, que continuava

    sangrando. Depois, muito sorridente, para Brigitte, cujos

    olhos azuis pareciam querer hipnotiz-lo.

    Meu nome Katsumi. E estava dizendo que voc no uma mulher comum. Nem foi casual seu encontro com

    Yoshimura, claro. Quando matamos aquele homem na

    praia, pensvamos que fora ele quem lutara com Mizioru.

    Mas este recuperou os sentidos pouco depois e admitiu,

    para sua vergonha, que tinha sido uma mulher que o

    vencera. Na escurido, no a pde ver muito bem, mas

    bastaram alguns detalhes para convencer-nos de que a

    mulher em questo s podia ser a tal Brigitte Montfort, que

  • chegara a Los Angeles com Yoshimura. De modo que

    viemos busc-la. Um pouco surpresos, verdade.

    Esperamos que nos explique o que faz perto de Yoshimura,

    qual o seu objetivo e para quem trabalha... Muitas coisas,

    Oh, e... Bem, isto j pura curiosidade pessoal: venceu

    realmente sozinha, sem armas, a Monoru Orita?

    Sozinha. Assombroso. Como pde conseguir isso? Lutando, simplesmente. Mmmm... Conhece O jud, ento? Entre outras coisas. Que coisas? Vrias. Bem. Voc parece muito confiante em si mesma.

    Gostaria de saber se pensa que pode vencer-me, tal como

    venceu Monoru.

    No tenho nenhuma dvida a este respeito. Voc ver quando chegar a ocasio.

    Quando chegar a ocasio? E por que no agora? sorriu o nipnico.

    Boa pergunta: por que no agora? sorriu tambm Baby.

    Katsumi olhou-a atento, sempre com um sorriso entre

    divertido e expectante, cheio de curiosidade, de

    perplexidade. Guardou a pistola no bolso, aproximou-se de

    Brigitte e fez uma inclinao de cabea, mostrando o crnio

    redondo.

    Podemos comear disse. Adiantou as mos, lentamente. E, claro est, o que

    menos esperava era a rapidssima, fulminante reao da

    linda jovem que estava diante dele. No houve estudo

  • prvio, nem fintas, nem regras, nem consideraes. Brigitte

    agarrou velozmente com suas munhecas as poderosas

    manoplas do nipnico, tentou atingir-lhe o queixo com a

    cabea e, quando o surpreendido adversrio estirou os

    braos para mant-la afastada, recebeu um tremendo

    pontap no baixo ventre que o fez encolher-se bruscamente

    e cair de joelhos, as feies alteradas.

    O segundo pontap de Brigitte acertou-lhe em cheio a

    boca, partindo-lhe os lbios, obrigando-o a oscilar para trs

    e cair sobre as prprias pernas dobradas. Mas

    indubitavelmente, Katsumi era muito duro. Ps-se

    rapidamente de p, ao mesmo tempo em que Semba e

    Toshiro agarravam Baby pelos braos, imobilizando-a. Katsumi olhou-a com uma expresso perplexa, piscando.

    Passou a mo pela boca, olhou o sangue no dorso da

    mesma, tornou a olhar para Baby. Assombroso na verdade murmurou. Tanto que,

    em minha opinio, nosso encontro merece um cenrio

    adequado e um momento mais oportuno. Assim, por

    enquanto, vamos resolver nosso caso de outro modo.

    O japons lanou-lhe subitamente um golpe sobre o seio

    esquerdo. Brigitte fez-se lvida. Semba e Toshiro soltaram-

    na ento, e Katsumi tornou a golpe-la, agora no ventre,

    friamente utilizando o canto da mo. Ela caiu de joelhos

    diante do nipnico, que a ergueu com um brao e golpeou-a

    com o outro, agora sobre o seio direito; depois nas costas,

    novamente no ventre, e quando ela ia cair outra vez de

    joelhos, um novo golpe, no rosto, manteve-a de p, o nariz

    escorrendo sangue. Permaneceu de p trs ou quatro

    segundos, depois pareceu dobrar-se sobre si mesma at o

    cho.

  • Foi um prazer lutar com voc ciciou o japons. Sempre se aprende alguma coisa.

    Estendida de lado no cho, Brigitte ergueu a cabea,

    lanando um olhar ao nipnico, que a contemplava

    sorridente. Sentia o sangue escorrer de seu nariz,

    manchando-lhe a boca e o queixo, pingando em seus

    doloridos seios. Katsumi notou aquele olhar sereno,

    impvido, e tornou a arregaar os lbios num amplo sorriso.

    Devo admitir que voc tem uma resistncia notvel, querida. Um homem muito forte estaria ainda sem sentidos

    com os golpes que lhe apliquei.

    Brigitte no respondeu. Continuou olhando para

    Katsumi, o qual teve a desagradvel sensao de que

    aqueles formosos olhos azuis congelavam seu nimo,

    enchendo-lhe a alma de um frio mortal.

    Bem... Vamos embora. Como levamos suas maletas, poder trocar de roupa... se chegar a ser necessrio.

    Acrescentou qualquer coisa em japons, e Semba e

    Toshiro puseram-se a revistar o trs mortos e Johnny, tirando-lhes tudo quanto levavam nos bolsos. Toshiro

    estava olhando com curiosidade a carteira de cigarros que

    tirara de Johnny, justamente quando dela brotou um suave zumbido. Chamou Katsumi, que se apressou a apoderar-se

    da surpreendente carteira, da qual, cada trs segundos,

    brotava um zumbido apenas audvel.

    O japons careca aproximou-se de Brigitte e agachou-se

    junto a ela.

    Parece que esto chamando seu companheiro, meu bem. O que significa que vocs dois no esto trabalhando

    sozinhos. Chegaram com algum mais, contam com mais

    gente... Muito bem: responda ao chamado e diga a quem

  • seja que a espere na milha 12 do caminho de Malibu.

    Vamos.

    Brigitte olhou fixamente para Katsumi, com um leve

    sorriso nos lbios ensangentados.

    No quer responder? Posso obrig-la agora mesmo. O sorriso de Baby acentuou-se. Os lbios baixaram

    um pouco, com uma expresso desdenhosa que fez o

    nipnico de cabea raspada compreender a verdade.

    to valente assim? perguntou ele. Est bem, falaremos disso mais tarde. Vamos, agora. Levaremos o

    rdio. Ver como se decide a responder de um momento

    para outro... Mmmm?

    Toshiro se tinha aproximado com a maleta vermelha

    aberta. De seu interior brotavam agora zumbidos idntico

    aos da carteira de cigarros de Johnny, que havia silenciado.

    Agora chamam precisamente voc. No vai responder? Muito bem: responder do lugar para onde

    vamos lev-la, quando tornarem a chamar.

    Baby Montfort continuava sorrindo. E Katsumi compreendeu: no haveria mais chamados. Tocava a vez a

    ela e a Johnny. Quem chamara estaria esperando, no tornaria a chamar.

    Brigitte ainda sorria, quando Katsumi falou:

    Levem-na para o carro. E vendem-lhe os olhos. Vamos!

  • CAPTULO TERCEIRO Junto ao tanque das carpas

    Um vingativo fantasma do passado

    Adversrio atmico

    Percebeu que saam da cidade, que viajavam por uma

    estrada e no teve a menor dvida de que, a despeito de

    pretenderem mat-la, faziam uma volta a fim de desorient-

    la, prevenindo qualquer atividade posterior de sua parte.

    Finalmente, ouviu ranger o saibro sob os pneus do carro.

    J no ouvia o zumbido de outros carros cruzando o seu,

    nem o continuo crepitar da estrada. Quando o carro se

    deteve, fez-se o silncio mais absoluto. O carro moveu-se.

    J no sentiu a seu lado a presena de Katsumi. Ouviu seus

    passos, afastando-se.

    S isso... e o vago rumor do mar. Estava certa de que

    ouvia o mar, no muito distante.

    Katsumi tardou apenas cinco minutos em voltar.

    Saia do carro. Esto sua espera, mas antes precisa tornar-se mais apresentvel.

    Saiu do veiculo, seguraram-na por um brao e

    conduziram-na, ainda com os olhos vendados. Notou que

    entravam numa casa, num recinto fechado. Cheiro de

    diversas flores, numa mistura suave, agradvel.

    Por fim tiraram-lhe a venda. Piscou quando a luz deu em

    seus olhos e s aps alguns segundos pde olhar com

    normalidade ao seu redor. Estava num quarto de banho,

    grande, com piso de mrmore negro, paredes cor-de-rosa,

    banheira azul com plantas na borda rente parede. Um

    colorido ofuscante. Tudo novo, caro, esplendente.

  • Quando se voltou, viu Katsumi atrs dela, apoiando um

    ombro contra a porta, olhando-a com interesse. A seus ps

    estavam as maletas de Brigitte, e tambm a vermelha.

    Lave-se bem, penteie-se e troque de vestido disse o japons. A pessoa que vai ver detesta sangue... em pequenas quantidades. Que vestido prefere?

    Um de noite, naturalmente. O azul. Os sapatos pretos, abertos... Vocs e seus amigos roubaram minhas jias?

    Ainda no sorriu Katsumi. Ento, o colar de prolas. Brincos, anis...? Nunca uso brincos nem anis... a menos que seja

    necessrio.

    O enorme japons assentiu com a cabea. Inclinou-se,

    abriu as maletas e revolveu-as, procura do que tinha sido

    pedido e que fora posto ali por ele mesmo, de modo no

    muito ordenado. Quando ergueu a cabea, o olhar de

    Brigitte estava fixo no revlver que ele trazia cintura,

    agora por cima da camisa de malha, de modo que podia

    empunh-lo rapidamente.

    Esquea isso: no ter oportunidade. Vamos, prepare-se.

    No vai sair? Quero tomar um chuveiro. Katsumi sorriu, evidentemente satisfeito. No se deu o

    trabalho de responder, e Brigitte compreendeu, encolhendo

    os ombros.

    Pouco depois, estava debaixo do chuveiro, sempre

    vigiada pelo olhar atento de Katsumi. Terminou seu banho,

    enxugou-se, depois se vestiu. Por fim, olhou, contrastando

    seu olhar irnico com o olhar torvo do japons.

  • Sei no que est pensando, Katsumi sussurrou. uma lstima que eu tenha de morrer... No mesmo?

    Se j est pronta, vamos disse ele, roucamente. Tem pressa? Vamos. Talvez seu chefe pudesse esperar mais alguns

    minutos... Sou de opinio que s vezes convm uma...

    aliana com o inimigo. No pensa do mesmo modo,

    Katsumi?

    Um truque muito feminino crisparam-se as mandbulas do nipnico. Mas intil desta vez. Volte-se... Ainda previno-a que Semba e Toshiro esto esperando a

    fora.

    Voc bobo murmurou docemente Baby. Volte-se. Muito bem. No sou eu quem perde... Voltou-se. Katsumi tomou a vendar-lhe os olhos. A

    advertncia a respeito de Toshiro e Semba tinha base: se ela

    tentasse algo, ainda que vencesse Katsumi, no poderia

    escapar do quarto de banho.

    Vamos. Abriu a porta. Ouviu umas palavras sussurradas em

    japons e deteve-se. Mas empurraram na pelas costas.

    Caminhou novamente pelo interior de uma casa. Depois, ao

    sair desta, sentiu novamente o perfume de multas espcies

    de flores. Devia ser um esplndido jardim.

    J no teve que, caminhar muito. Novamente ouviu falar

    em japons depois, passos que se afastavam.

    E sbito, a voz:

  • Tire a venda, por favor. Na verdade, j no era necessria desde que chegou aqui, pois no sair... com vida

    de minha humilde casa.

    Brigitte tirou a venda. Estava, efetivamente, num

    formoso jardim, com palmeiras ans, flores, um diminuto

    tanque com ltus aquticos. A luz da lua dava a tudo um

    tom prateado, romntico.

    Sentado na borda do tanque, sobre uma esteira de palha,

    estava o velho japons da barbicha branca, o que tinha visto

    antes na Jap-american Pictures com Masao Yoshimura.

    Trajava um quimono preto, ou vermelho escuro. Tinha a

    mo esquerda no regao, com a palma para cima; com a

    direita, apenas com as longas unhas, apanhava algo que

    havia na esquerda e atirava gua do tanque, onde

    imediatamente se formavam crculos concntricos.

    So carpas. No quer sentar-se, miss Montfort? Baby sentou-se na outra esteira, com as pernas

    cruzadas, tal como o velho japons, que parecia no se

    importar com ela.

    Carpas douradas... insistiu ele. Supe-se que procedem da China, mas o certo que estas me chegaram

    diretamente do Japo. Claro que, sendo do Japo, so

    melhores... Tudo melhor no Japo.

    Menos a bomba atmica. O velho japons voltou vivamente a cabea para ela.

    Olhou-a durante uns segundos, por fim assentiu com a

    cabea.

    Acho-a muito bela e inteligente elogiou com legitima sinceridade.

    Nesse caso, merecia ser japonesa... No lhe parece?

  • Oh, no... Sua beleza de outro tipo. Ao dizer que formosa, considerei o ponto de vista dos homens de sua

    raa, no de minha. Na realidade, para mim, sua beleza

    um tanto inspida.

    Oh. Talvez seja demasiado alta. Seus ps parecem-me

    muito grandes, e tambm as mos. Tem os quadris

    excessivamente largos e os seios volumosos...

    Em suma riu Brigitte: pareo-lhe um mostrengo.

    No, no... J lhe disse que o ponto de vista de um japons.

    O seu, somente... No posso ver Masao? O senhor Yoshimura no est aqui. Uma mentira inocente: vi os dois juntos. Vi tambm

    outras coisas, e penso que ambos vieram para c na lancha

    tripulada por Monoru Orita.

    Sim, sim, verdade. Mas Yoshimura j se foi. Tem algo que fazer em San Francisco. No creio que demore

    muito a chegar l. Mas falemos a seu respeito, miss

    Montfort. Disse Katsumi que esse parece ser o seu

    verdadeiro nome, mas tenho minhas dvidas. Tambm

    tenho dvidas quanto a suas intenes ao relacionar-se com

    Yoshimura. Claro que ele me contou como as coisas

    aconteceram, mas como demasiado ingnuo... No acha?

    No sei. O senhor o conhece melhor do que eu, suponho.

    No muito bem. Pelo menos no que se refere sua maneira de ser. Sei que um grande mdico, muito

    bondoso, srio, honesto... E um grande idealista. Quer dizer,

  • o homem necessrio... O quinto homem de que necessitei

    para isto.

    E os outros quatro homens? Todos japoneses, todos idealistas, honestos... Onde esto? De viagem... Matou-os? Os americanos so demasiado rudes, O branco

    branco, o preto preto. Rogo-lhe que procure ser delicada

    durante nossa conversa.

    Conte com isso. Mandou-os empreender a grande viagem, da qual no h retrno. Est bem assim?

    O japons da barbicha olhou-a amavelmente.

    Diga-me quem , na realidade, miss Montfort. No creio que isso tenha importncia, senhor... Noburo Tanaka. Por que no tem importncia? Brigitte sorriu friamente. J suspeitara, claro, que

    estava em presena de Noburo Tanaka. Mas, se tivesse

    desejado demonstrar quanto era esperta, Tanaka teria

    compreendido que, assim como ela sabia seu nome, outras

    pessoas tambm poderiam sab-lo. Em cujo caso era bem

    possvel que levantasse vo, dificultando assim o trabalho

    da CIA para localiz-lo.

    Porque vou empreender uma longa viagem, mergulhada num profundo sono do qual despertarei quando

    soarem as trombetas.

    Noburo Tanaka assentiu com a cabea. Depois, antes de

    tornar a prestar ateno a Brigitte, esteve alimentando suas

    carpas, pensativo. Sbito, disse:

    Masao Yoshimura um homem... dbil. Devia ter mais firmeza de carter, no deixar-se vencei por seu

  • encanto. Mas no lhe resistiu e contou-lhe algumas coisas.

    Qual a sua opinio sobre a Drgea Anti-A? Sou uma moa americana comum, senhor Tanaka. A

    mim me parece uma blague.

    Ficaria surpresa se lhe dissesse que os governantes de alguns pases no a julgaram assim?

    No me surpreenderia. Sei que pelo menos a China, a Rssia e a Frana o acreditaram. A Inglaterra no?

    Repito que a julgo muito inteligente. A Inglaterra tambm, com efeito... Sabia que o MI.5 possui alguns

    agentes excelentes? At o momento, tm sido os mais

    espertos.

    Por qu? Porque souberam chegar a mim. Bem, no

    exatamente a mim, mas at um ponto muito perigoso do

    caminho que traz minha humilde casa. Certamente lhe

    agrada meu ryokan?

    No o vi muito bem. Mas parece-me uma morada muito extica e agradvel.

    Tudo em estilo japons, naturalmente. Exceto algumas pequenas concesses ao conforto americano.

    Quanto ao resto, dado o isolamento deste lugar, vivo como

    num pequeno pedao do Japo.

    Perto de Malibu? Mais ou menos perto sorriu Tanaka. Trabalha

    para a CIA, est claro.

    Minha boa educao me probe discutir com o senhor.

    Tanaka acariciou a barbicha.

    Os americanos tornaram-se muito desconfiados. Recordo-me que h alguns anos possuam um servio

  • secreto, naturalmente, mas muito ineficaz. Uma prova disso

    foi o que aconteceu em Pearl Harbour.

    Isso foi h muito tempo. Agora, suponho que os espies meus compatriotas aprenderam a desconfiar de todo

    o mundo ao seu redor.

    E noto que est olhando demasiado ao nosso redor... Asseguro-lhe que no poder escapar.

    Brigitte deixou de olhar ao seu redor para fitar Tanaka,

    sorrindo friamente.

    Mas talvez possa matar o senhor. Noburo Tanata lanou ao tanque o resto do alimento

    para as carpas que tinha na mo. Depois, ergueu as duas e

    examinou detidamente suas unhas, longas de quase urna

    polegada.

    Duvido, miss Montfort. Sou muito mais perigoso do que pareo. J ter notado, certamente, que tenho uma idade

    avanada.

    Oitenta? Noventa e dois. Impossvel! Por que haveria de mentir-lhe? verdade que tenho

    noventa e dois anos. Uma idade, como dizia, muito

    avanada, mas... perigosa.

    Tambm o senhor, como Katsumi, quer lutar jud comigo?

    Poderia faz-lo, sem dvida. Mas prefiro reservar minhas energias... De qualquer modo, o tigre velho sempre

    tem seus recursos. Por que entrou em contato com Masao

    Yoshimura?

    Simpatia. Alis, foi ele quem...

  • Por favor! Yoshimura muito ingnuo, mas eu no. No quer admitir que pertence CIA? No me quer dizer

    qual exatamente sua misso junto a Yoshimura? natural

    que os Estados Unidos o mantenham sob vigilncia, tal

    como outros pases mantiveram sob vigilncia meus

    enviados anteriores. Mas, por seu intermdio, a CIA chegou

    mais longe.

    Chegou ao senhor, exatamente. Essas foram as ordens que recebeu? Alm da sua

    pessoa, somente o homem chamado Johnny e o outro que tentou comunicar-se com ambos pelo rdio esto minha

    procura? Ou j notificaram a CIA a respeito da Jap-

    american Pictures e outros detalhes?

    Katsumi no me deu tempo para nada, o senhor bem sabe.

    Quisera ter certeza disso... Pode ter, por infelicidade minha. E antes de morrer,

    senhor Tanaka, gostaria de fazer-lhe uma s pergunta: que

    est tramando com essas bombas atmica?

    Yoshimura no lhe disse? Insiste nessa tolice da Drgea Anti-A? Tolice? Claro que sim. Alm disso, para a prova, lhe bastada

    uma bomba, e creio que j tem trs ou quatro. Para que

    tantas? Que est tramando?

    Uma comemorao. Comemorao? A comemorao de um aniversrio. Que aniversrio?

  • Falou numa pergunta, miss Montfort, j a fez. Eu lhe faria umas quantas mais. Penso, porm, que se recusar a

    respond-las, pelo que deixaremos para amanh.

    Devo retirar-me? Por favor. Agrada-me estar s, meditar... O grande

    dia do aniversrio est prximo. Falta apenas que os

    Estados Unidos dem sua contribuio para a festa, e estar

    tudo pronto.

    O senhor se engana acreditando que os Estados Unidos vo-lhe entregar uma bomba atmica.

    Talvez no a entreguem. Mas talvez sim. Masao Yoshimura logo chegar a San Francisco. L, como j deve

    saber, ele se por em contato com o Departamento de

    Guerra em Washington. Esta vez no concordar com

    prazos de espera: se os Estados Unidos querem a Drgea Anti-A, devero entregar a bomba amanh ao anoitecer.

    O senhor est louco... riu nervosamente Brigitte. Jamais lhe entregaro uma bomba atmica. E mais ainda: lhe tiraro as que possui, Tanaka.

    Bem... Quer dizer: as que encontrem, no? Coisa que me parece pouco provvel. No, miss Montfort, no!

    Ningum poder impedir a comemorao do aniversrio

    atmico.

    Como pensa fazer essa... comemorao? Sabe que dia hoje? Claro... Trs de agosto de mil novecentos e sessenta e

    sete, no?

    Exato. Suponhamos que consiga viver trs dias mais... Qual seria a data?

    Seis de agosto. E...?

  • No compreendo... Que aconteceu no dia seis de agosto, vinte e dois

    anos atrs? No aconteceu algo que abalou o mundo?

    BabY, aps um segundo de concentrao, empalideceu bruscamente. To bruscamente e com tanta

    intensidade, que seu rosto perdeu toda a cor, ficando como

    uma mancha lvida, azul-prateada, sob a luz do luar. Seus

    olhos dilataram-se, sua boca abriu-se numa expresso de

    angstia, suas mos cruzaram-se no peito, como se ela

    acabasse de receber a mais cruel das feridas. Sentiu um

    zumbido nas tmporas, quase um desmaio...

    No... gemeu. No, meu Deus! No! NO! Noburo Tanaka moveu uma de suas mos enrugadas, cor

    de pergaminho velho.

    A entrevista terminou. Ser conduzida ao seu aposento.

    No! No pode ser... O senhor um criminoso! Mais que os Estados Unidos? Mas... est louco... Agora tenho certeza de que est

    louco!

    No estou louco, nem sou um criminoso. Acontece apenas que, para mim, a guerra no terminou.

    H vinte e dois anos que terminou! O Japo um pas livre e prspero, tem amigos... comeando pelos Estados

    Unidos! H noventa milhes de japoneses que esqueceram a

    guerra, alguns nem sequer a conheceram...!

    Eu a conheci. E meus filhos. E meus netos. E os filhos de meus netos... Uns, do Pacfico. Outros, em

    Hiroshima. Sabe por que ainda estou vivo, miss Montfort?

    Porque quando aquilo aconteceu, achava-me casualmente

    longe de Hiroshima. Mas toda a minha famlia estava l,

  • exceto alguns de meus netos, que lutavam contra vocs, os

    americanos. De toda a minha famlia, ningum ficou vivo...

    Ningum! H vinte e dois anos que estou ao...

    Tanaka, eu lhe suplico... Faa comigo o que quiser. Aceito morrer... Oua, Tanaka sou uma agente da CIA,

    conhecida profissionalmente pelo nome de Baby. Por esse nome, sou conhecida em todos os meios de espionagem do

    mundo. Tenho amigos em toda parte. Amigos espies de

    todas as nacionalidades: alemes, srios, ingleses, egpcios,

    chineses, russos, franceses, judeus... Na CIA minha voz

    ouvida com muita ateno. Tenho amigos em Washington.

    O prprio Presidente j me distinguiu em algumas

    ocasies... Tenho fora, Tanaka: a um chamado meu,

    milhares de agentes da CIA e uma centena de vrias

    nacionalidades se poriam em movimento. Tenho amigos no

    FBI, no Governo, na polcia... Esquea esse projeto, Noburo

    Tanaka, e eu conseguirei que todos os meus amigos lhe

    dem apoio. Tudo ser perdoado. Juro-lhe que o

    conseguirei. O senhor j tem noventa e dois anos, resta-lhe

    pouco tempo de vida... Passe esses poucos anos aqui, nesta

    maravilhosa casa japonesa, com suas carpas, suas flores, seu

    mar azul que lhe recorda o do Japo. Apanhe sol junto s

    suas cerejeiras, passeie por seus jardins... Desista desse

    plano e eu lhe garanto o completo esquecimento de tudo

    quanto fez at agora.

    No. Matei trs espies russos, o senhor matou pelo menos

    um francs. Lamento agora ter eliminado Piotr Stalinov e

    seus companheiros. Se tivesse sabido o que estavam

    buscando, se tivesse conhecimento do trabalho que

    realizavam, estaria agora lutando junto com eles. E sei que

  • apesar de t-los eliminado, se impedir isso que est

    projetando, ningum me guardar rancor. Nem o senhor.

    Esquea tudo... e todos esqueceremos. Devolva as bombas

    atmicas.

    No. Peo-lhe por Deus! Qual deus? Deus... No h nenhum deus. Noburo Tanaka no cr em

    nada. V, j lhe disse que a entrevista terminou. E no me

    agradea por conserv-la viva: morrer como outros muitos

    milhes de americanos. Retire-se. Katsumi a conduzir ao

    seu aposento.

    Brigitte, ainda plida, olhou fixamente para Noburo

    Tanaka. A idia veio-lhe de chofre. Sabia, que Katsumi e

    talvez outros japoneses a vigiavam de perto, apesar de no

    ver ningum. Mas isso no importava. Naquele momento,

    como em outras ocasies, morrer no tinha a menor

    importncia, de acordo com seus pontos de vista, graas aos

    quais tinha-se transformado na mais eficiente espi do

    mundo: manter o mximo possvel de ordem neste planeta

    cheio de sol e de pessoas que desejavam apenas viver em

    paz. Por essas pessoas, a agente Baby tinha arriscado a vida dezenas de vezes. Ela no era nada, no era ningum...

    Mas em sua pequenez, em sua insignificncia, dedicava

    todo seu esforo, toda sua vida, a esse empenho. Sua

    contribuio poderia, ser pequena ou grande, mas

    importante.

    Receber uns quantos balaos para evitar aquilo, no

    tinha importncia. Se no a matassem instantaneamente,

    sabia-se capaz de quebrar o pescoo de Noburo Tanaka. Em

  • menos de trs segundos, podia quebrar aquele pescoo seco

    e enrugado... E ento, nada aconteceria, certamente.

    Apenas sua morte.

    Lanou-se de sbito contra Tanaka, as mos estendidas

    para seu pescoo. Era s comprimir o polegar contra

    determinada vrtebra...

    Mas Noburo Tanaka no tinha mentido. E bem certo

    que a idade no significa nada para um judoca. Com

    surpreendente agilidade, afastou-se, rodando, de modo que

    Baby falhou em sua primeira tentativa de agarrar-lhe o pescoo. Ao mesmo tempo, a mo direita do velho golpeava

    com extrema delicadeza o brao de Brigitte, justamente

    acima do cotovelo. Isto no s a desviou como ela sentiu

    uma dor imensa no brao, a ponto de no poder mov-lo.

    Tanaka incorporava-se agilmente. Ela, porm, foi ainda

    mais gil, muito mais veloz. Prescindindo do jud, lanou a

    mo esquerda ao rosto do japons, o qual o que menos

    esperava de uma mulher que tinha vencido Minoru e feito

    Katsumi passar mal numa demonstrao tcnica de jud era

    uma bofetada daquela violncia. Uma bofetada simples,

    sem estilo nem tcnica, mas terrvel, que o atirou para trs,

    flutuando no ar em seu folgado quimono.

    Ainda no tinha parado de rolar pelo cho e j Baby estava em suas costas, tentando rodear-lhe o pescoo com o

    brao esquerdo, j que o direito quase no podia mover.

    Tanaka conseguiu escapar chave antes que ela a

    completasse, derrubou-a para um lado e novamente ps-se

    em p.

    Outra bofetada o derrubou, com a cara voltada para

    cima. E Brigitte montou sobre ele, rasgando completamente

    de cima abaixo seu modelo Courreges, ao abrir as pernas

  • para coloc-las de ambos os lados do esguio torso do

    nipnico.

    E ento, sua mo esquerda cravou-se no seco pescoo

    apergaminhado.

    Vai morrer... criminoso... Um violentssimo golpe num lado da cabea arrancou-a

    de cima do velho japons, fazendo-a rolar at a borda do

    tanque das carpas. Semba e Toshiro apareceram junto dela e

    puseram-na de p, sujeitando-a com fora irresistvel pelos

    braos. Katsumi surgiu sua frente e golpeou-a primeiro no

    estmago, depois nos ombros, com o canto da mo.

    Baby ficou pendente das mos dos japoneses, paralisada pela dor, inerte, a cabea cheia de zumbidos.

    Katsumi agarrou-a pelos cabelos, levantando-lhe

    brutalmente a cabea.

    Noburo Tanaka estava diante dela, ainda agitado, os

    olhos oblquos apertados numa expresso de clera infinita.

    No... No vai morrer, miss Montfort arquejou. No assim, de um modo vulgar. Tal como o outro espio

    que conseguiu chegar a mim, merece ser morta de forma

    sensacional, juntamente com uns quantos milhes de

    americanos. Como compreendeu muito bem, no dia seis de

    agosto completam-se vinte e dois anos da grande hecatombe

    de Hiroshima. Dentro de trs dias, vinte e dois anos aps,

    vou bombardear, no uma, porm cinco cidades americanas.

    J tenho quatro bombas atmicas. Quando receber a quinta,

    no esperarei mais. Tenho tudo preparado: um submarino,

    cinco avies, pessoal com a necessria qualificao,

    material, tcnicos atmicos... Vinte e dois anos lutando por

    isto, miss Montfort. Ficaria estarrecida se soubesse como foi

    duro o meu caminho, quanto tive que lutar para aumentar

  • meus recursos. Foi-me preciso, inclusive, associar-me a

    norte-americanos! A Jap-american Pictures uma prova

    disso. Mas no teve importncia. Fui conseguindo o que

    queria medida que ganhava o dinheiro. E agora tudo est

    pronto, tudo est preparado: dentro de trs dias, cinco

    bombas atmicas sero lanadas simultaneamente em cinco

    cidades americanas. Direi-lhe quais so: Washington,

    Miami, Chicago, Los Angeles e Nova Iorque. Vinte e dois

    milhes de americanos vo morrer. Um milho por ano de

    espera... Claro que sabia que ningum ia acreditar na

    Drgea Anti-A Mas sempre permaneceria a dvida. Essa dvida sutil, que os obrigaria a pensar na possibilidade de

    que fosse certo. E se fosse? Neste caso, todos os paises

    atmicos gostariam de dispor dessa drgea. Sua inteligncia

    lhes diria que era mentira, que no podia ser, mas... e se

    fosse verdade, ainda que s em parte, como uma derivao

    de outra descoberta relacionada com o tomo? E assim,

    aceitaram minhas condies de entrega, foram mistificados.

    E hoje tenho quatro bombas atmicas. Amanh noite, terei

    cinco. E no dia seis de agosto celebraremos o aniversrio

    atmico. Levem-na.

    Katsumi puxou-a pelos cabelos, mas Tanaka parecia ter

    ainda algo a dizer. Colocou suas mos ante os olhos de

    Brigitte.

    Veja estas unhas. Esto impregnadas de um veneno fulminante, mortal em poucos segundos. Atua em contato

    com o sangue, de modo que me bastaria t-la arranhado

    para que j estivesse morta. Mas quero que morra como

    morreram todos os meus em Hiroshima. O veneno est

    reservado para mim, caso o meu projeto falhasse... Nunca

    me apanharo vivo, garanto-lhe. Mas no falharei, est

  • claro. Tive vinte e dois anos para elaborar meus planos. No

    posso falhar!

    CAPTULO QUARTO Recurso ao Morse

    Contratao de honra

    Entrega de bomba atmica norte-americana

    Katsumi tinha tornado a golpe-la, deixando-a sem

    sentidos. Quando reabriu os olhos, encontrou-se num quarto

    de paredes midas, feitas de tijolos sem revestimento. No

    teto, a um canto, uma pequena lmpada vermelha, que

    apenas produzia alguma luminosidade. Era tudo.

    Tambm o cho estava mido. Cheirava a mar. A sal...

    Ps-se de p, lentamente, sentindo dores em todo o

    corpo. Havia algo que a conservava alerta. Sabia que devia

    fazer alguma coisa, mas no lograva coordenar as idias...

    Sbito, percebeu que estava ouvindo umas pancadas na

    parede, na da direita. E no eram batidas fortuitas, sem

    significado. Era morse.

    Deixou-se cair no cho, junto daquela parede, prestando

    ateno s pequenas batidas, de modo que foi captando a

    mensagem:

    ... at, ai? Responda se est bem. Brigitte bateu com os ns dos dedos na parede,

    respondendo tambm em morse:

    Estou bem. Diga-me quem voc. Primeiro diga voc estabeleceram as pancadas. Sou uma espi. Pois eu sou um espio. Estimo. Diga sua nacionalidade. Primeiro voc.

  • Eu perguntei primeiro. Certo. Sou ingls. Suponho que est aqui por causa das bombas

    atmicas e a Drgea Anti-A. No confio em voc. Se na verdade um espio ingls, ter ouvido meu

    nome: Baby, da CIA. Esta boa... Amo-a, Brigitte Montfort. John... Voc John Pearson, vulgo Fantasma, do

    MI5. Meu querido Fantasma... Outra vez juntos, querida. Estou sorrindo. Eu tambm. E mando-lhe um beijo atravs da parede. Reserve-o para quando sairmos daqui. De acordo. Diga se foi voc quem mandou a taa de

    champanha, no avio.

    No. Espero que tenha sido Perignon 55, de qualquer modo.

    Foi. E bem gelada. Suponho que esteja trabalhando sozinho, John.

    Mataram meus companheiros. A mim, um... Tive que deix-lo moribundo. Diga-me

    o que souber do assunto das bombas.

    Nada. Fui apanhado quando cheguei aos estdios da Jap-american. Diga voc o que sabe.

    Um japons chamado Noburo Tanaka j tem quatro bombas atmicas, entregues pela Rssia, Frana, Inglaterra

    e China. Est esperando a dos Estados Unidos. Quando a

    tiver, diz que lanar as cinco: Los Angeles, Miami,

    Chicago, Nova Iorque e Washington. Simultaneamente.

    Voc est brincando, amada espi. No.

  • Temos que sair daqui. Veja se tem alguma possibilidade.

    Brigitte levantou-se e examinou as paredes, a porta.

    Voltou para o ponto de comunicao.

    No. Mas temos que fazer alguma coisa. Esperaremos. Tenho um amigo que no deve estar

    longe daqui.

    Diga-me se um bom espio. Melhor que voc. Antiptica. Diga-me se era voc quem se escondia atrs de uma

    palmeira-an, no terrao do Sandpiper Motel. No. Voc est precisando de uns culos. Acontece que aquele homem era melhor que ns

    dois. Mas um amigo e tudo ir bem. Alm disso, meus

    companheiros da CIA j tm o nome de Noburo Tanaka e o

    da Jap-american Pictures.

    timo. Espero que nos tirem logo daqui. Certo. Agora vou dormir, John. Estou cansada,

    surrada e h duas noites que quase no durmo. At logo.

    At logo, amor. Sonhe comigo. Prefiro v-lo, do outro lado de uma taa de

    champanha, num balnerio da moda.

    Boa idia. Ficamos combinados para dentro de uma semana no McVays, em Flamingo, Flrida, USA. Certo?

    Certo. Se acontecer novidade, chame. No se esquea: sonhe comigo. Brigitte sorriu, estendeu-se ali mesmo, junto parede, e

    fechou os olhos. Um minuta depois, dormia profundamente.

    * * *

  • Abriu os olhos e voltou a cabea para a luzinha

    vermelha. Piscou, recordando imediatamente qual era sua

    situao. Sentou-se, encostando as costas parede. Levou a

    mo atrs e deu uma,s batidas, utilizando novamente o

    morse:

    John. Ol. Acabo de acordar. Diga-me quanto tempo dormi. Incrvel para uma espi em situao crtica: cinco

    horas, calculo.

    timo. Estou muito melhor. Espero novidades. Nenhuma, querida. Tudo normal, dentro do possvel.

    Estou com fome.

    Eu tambm. Sero umas oito horas da manh. Dentro de doze horas, os Estados Unidos devem entregar uma

    bomba atmica a Tanaka.

    Isso demonstra que os americanos so to bobos como os ingleses. Menos mal. Se estou bem lembrado, voc

    disse que seus companheiros da CIA sabiam o nome de

    Tanaka, o da Jap-american, etc. Pergunto-me que esto

    esperando para vir salv-la, meu amor.

    No sei. Mas tenho uma ligeira idia. longo de explicar, mas diria que, com efeito, os Estados Unidos vo

    entregar sua bomba atmica.

    Lstima. Poderia salvar-se Nova Iorque: a cidade que mais me agrada.

    A mim, Miami. Sempre faz sol. Menos quando acontece um desses tufes espetaculares.

  • J vi um. Espetacular, sem dvida. Tentei fazer um orifcio na parede, mas impossvel. Muito dura. E cheira a

    umidade, a sai, a mar. Isto um poro, Brigitte.

    Bem me parecia. E suponho que voc tampouco tenha janela ou algo parecido.

    Nada. Uma luzinha vermelha, apenas. Gentileza do senhor Tanaka. Quando o encontrar, quebro-lhe o pescoo.

    Cuidado com suas unhas. Esto envenenadas. Esse sujeito louco. Estive pensando no tal

    bombardeio e acho que no poder faz-lo.

    Acho que sim. Dispe de tudo: homens, material, avies, tcnicos... E as bombas.

    Estou com inveja de voc, que no tem barba. A minha comea a incomodar-me que um inferno.

    Coce-se. E se lhe ocorrer alguma idia, comunique-me.

    Estou h trs dias querendo ter uma. E nada. Humor britnico. Revistemos novamente nossas

    celas.

    Dedicou-se a, isto, com efeito. Mas uma investigao

    mais detida que a de cinco horas antes no a ajudou em

    nada. Para escapar dali, s um desses seres de fico

    cientfica que se filtram pelas paredes.

    E nem sequer tinha um cigarro. Sentou-se no cho

    mido e disps-se a esperar.

    * * *

    Segundo seus clculos, tinham-se passado dez ou doze

    horas quando ouviu rudo do outro lado da porta. Ps-se de

    p, deslizando imediatamente para um lado da mesma.

  • Qualquer coisa que tentasse podia dar resultado. Ficou

    imvel, com as mos rgidas, prontas para o ataque.

    Miss Montfort ouviu a voz de Katsumi sei que est atrs da porta. Por favor, coloque-se no centro do

    quarto, ou tornaremos a fechar.

    Fora se acendeu uma lanterna e Brigitte compreendeu

    que, se no se colocasse no centro do circulo de luz, a porta

    tornaria a fechar-se. Bem... Pelo menos naquela ocasio no

    podia queixar-se da qualidade de seus inimigos, que

    pareciam prever tudo.

    Afastou-se da porta e colocou-se no centro do crculo de

    luz. E Katsumi tornou a falar:

    Saia. Saiu daquela espcie de cela. Encontrou-se no que

    parecia uma adega. Havia tonis, caixotes com garrafas,

    uma mesa com copos de cores formas distintas.

    Semba, Toshiro e Katsumi estavam l, cada um com um

    revlver na mo. Uma bala era, sem dvida, uma morte

    muito mais suave que a produzida pela exploso de uma

    bomba atmica. Mas Baby era de opinio que enquanto havia vida, era obrigatrio conservar a esperana. E uma

    coisa era morrer matando Noburo Tanaka, outra era morrer

    tentando fugir, sem possibilidade.

    Havia um lano de degraus de pedra. Subiram-no e

    encontraram-se numa garagem. Katsumi baixou o alapo e

    apontou para o exterior.

    Tanaka est sua espera. Voc sua convidada de honra, por ser americana.

    Uma honra muito perigosa, no verdade? Katsumi encolheu os ombros.

    Ningum lhe pediu que nascesse nos Estados Unidos.

  • Excelente argumento. Se eu no tivesse nascido nos Estados Unidos, perdoariam minha vida?

    Todo o seu mal est em pensar como uma cidad americana. Alm disso, uma agente da CIA para ns uma

    inimiga.

    Bom... Posso tambm ser uma boa amiga, Katsumi. Eu no sou Yoshimura. Vamos. No me venda os olhos? So olhos de cega. Logo esquecero o que viram.

    Ande. Vai assistir ao espetculo.

    Brigitte voltou-se. Era quase noite. Sentia-se cansada,

    deprimida, mas tinha que continuar, tinha que se esforar

    por conservar-se alerta, disposta a aproveitar a menor

    ocasio para tentar deter o japons que queria comemorar o

    aniversrio atmico... sua maneira.

    Com efeito, a casa de Noburo Tanaka parecia um ryokan

    japons, quer dizer, uma dessas casas de madeira, com

    janelas de papel pintado, esteiras de palha, assoalho

    cintilante. Era como um desenho japons de um artista dos

    velhos tempos. Ocorreu-lhe a Idia de que, se olhasse para o

    norte, veria a Inconfundvel silhueta do Fujiyama, com suas

    neves perptuas.

    Mas s via Katsumi, sempre perto dela, sempre

    vigilante. Ao entrarem na casa, ele indicou seus ps.

    Tire os sapatos. Brigitte lanou-os para um lado, utilizando o simples

    processo de sacudir graciosamente os ps. Katsumi

    apontou-lhe o interior. Atravessaram aposentos decorados

    segundo o mais clssico estilo japons, com flores,

    mesinhas baixas, cortinas de bambu. As portas eram largas,

    de correr, com painis de papel. Pelas janelas via-se o

  • jardim, cheio de rvores em miniatura e no um, mas vrios

    tanques em cujas guas flutuavam ltus e lrios... e nos

    quais, sem dvida, nadavam carpas japonesas.

    Subiu e desceu escadas. Era uma casa de forma

    irregular, sem simetria aparente. Em dado momento, passou

    por um enorme living, atravs de cuja vasta janela viu o mar, azul e avermelhado ao final do crepsculo.

    Aquela tinha sido a pea mais elevada. Encontrou-se

    depois em outra, que parecia de nvel mais baixo com

    relao ao mar. Katsumi fez um sinal a Semba e Toshiro, os

    quais afastaram um tatami e levantaram um retngulo do assoalho de madeira.

    Desa. Havia uma escada de madeira, de amplos degraus.

    Baby desceu por eles. O ltimo a segui-la foi Toshiro, que fechou o alapo sobre sua cabea. Havia um corredor.

    Via-se uma luz ao fundo e Katsumi fez um sinal naquela

    direo.

    Segundos depois, ela se detinha entrada daquela pea

    subterrnea. No tinha porta: simplesmente uma entrada.

    Dentro, sentado comodamente numa poltrona vermelha e

    branca, em cujo espaldar via-se a bandeira japonesa, estava

    Noburo Tanaka, que apenas voltou a cabea, olhou-a e

    sorriu amavelmente, como se no recordasse o mau bocado

    que ela o fizera passar na noite anterior.

    Entre, por favor. E sente-se. Sente fome, ou sede? Ambas as coisas. Mas temo que seja muito exigente,

    Tanaka.

    No compreendo... Comeria ostras galegas e tomaria champanha francs.

    Pode oferecer-me isso?

  • Temo que no. Assim sendo, no se incomode. Sentou-se na poltrona que o ancio lhe indicava. Ele

    considerou-a com uma centelha de interesse em seus

    oblquos olhos negros.

    Devo entender que prefere passar fome e sede a aceitar o que eu lhe possa oferecer?

    Se eu no fosse uma moa educada, Tanaka cuspiria agora mesmo. Pode guardar seus alimentos e bebidas.

    Noburo Tanaka olhou suas unhas envenenadas,

    carinhosamente.

    Se tem esperana de morrer de inanio antes que eu lance as cinco bombas atmicas, miss Montfort, quero

    desengan-la definitivamente. Sei que uma pessoa

    saudvel: resistir perfeitamente alguns dias sem comer

    nem beber. No obstante, renovo meu convite: Deseja

    alguma coisa?

    Sim, claro. Bem! O qu? Crave uma dessas unhas num olho, Tanaka. No posso satisfaz-la... Ainda no. Aceitaria um

    cigarro, pelo menos?

    Brigitte quase adiantou a mo para a carteira que Tanaka

    lhe estendia. Mas deixou-a imvel sobre seu regao. No

    respondeu, mas tampouco era necessrio.

    Sua personalidade chega a ser irritante, de to integra e firme, miss Montfort. De qualquer modo, no a admiro

    muito: para quem vai morrer to logo, privar-se de um

    cigarro e um pouco de comida no grande coisa. Gosta de

    televiso?

  • Os filmes de espionagem e os desenhos animados. Tambm as modas de Cana Vanchetti. Sou uma admiradora

    de seu estilo.

    A sesso de televiso que lhe ofereo no trata de nada disso, mas de um... jogo de astcia. Sendo uma agente

    secreta, vai apreciar o programa, suponho. Ligue, Katsumi.

    Diante das poltronas ocupadas por Tanaka e Baby havia um bonito mvel, com quatro telas de televiso, nada

    menos. Katsumi apertou um boto e vinte segundos depois,

    em cores, aparecia uma estupenda vista do mar; ao fundo,

    algumas gaivotas. Tanaka indicou-as.

    Aproximam-se da costa. Devem ter-se cansado de seguir algum barco, onde sabem que sempre existem seres

    humanos que jogam alimento ao mar. Gosta de gaivotas?

    Muitssimo. Pois j temos um pouco em comum. Para mim no h

    nada mais belo que um pssaro.

    Os abutres inclusive? So mais feios, certamente. Mas um adgio japons

    diz que o homem pode fechar os olhos sempre que queira...

    Compreende?

    Querer dizer que quando algo no nos agrada devemos desviar a vista.

    Algo assim. Acha que est certo? No. Quando algo no agrada, o melhor destru-lo. Perfeito. o que penso dos Estados Unidos. o que penso do senhor. Compreendo. E tolero, porque sempre compreendo as

    pessoas cuja atitude razovel e lgica. perfeitamente

    lgico e razovel que me odeie. Do mesmo modo que

  • perfeitamente lgico e razovel que eu odeie os Estados

    Unidos. No aceita sequer uma xcara de ch?

    No. S me agrada o usque. o que sempre pede um americano quando entra num bar.

    Tambm pedem coca-cola. Os americanos so um povo desigual, no esto de acordo uns com os outros. s

    vezes, claro, isso cria uma srie de confuses e discusses

    que podem lev-los catstrofe. Como por exemplo, agora.

    Veja: estou-lhe oferecendo um programa em primeira mo.

    E garanto-lhe que somente ns, com exclusividade, estamos

    desfrutando do mesmo. Com toda a beleza da cor do mar,

    dos ltimos fulgores do crepsculo e os primeiros lampejos

    da lua. No quer olhar? Tive a delicadeza de cham-la como

    minha convidada de honra... No recuse isto, ao menos.

    Brigitte olhou para o mvel onde se viam as quatro telas

    de televiso.

    Numa delas aparecia, em primeiro plano, uma barcaa

    de desembarque do Corpo de Fuzileiros Navais. E nesta

    barcaa, com capacidade para sessenta homens, s havia

    meia dzia. Ocupando-a quase toda, um objeto longo, que

    quase sobressaia por ambos os extremos da embarcao,

    proa e popa; estava coberto por uma lona na qual

    destacava-se a estria americana e liam-se as palavras

    United States of Amrica. O objeto longo e cilndrico devia

    medir no menos de dez metros e sua forma era

    inconfundvel para um agente secreto que participava duas

    vezes por ano das sesses de treinamento e atualizao da

    Academia Central da CIA.

    A segunda tela mostrava o mesmo lancho de

    desembarque, mas a maior distncia.

  • A terceira enquadrava um velho pesqueiro de nome

    americano, Black Fish, e a barcaa do Corpo de Fuzileiros. Na quarta via-se todo o mar que circundava

    ambas as embarcaes. Era evidente que a cmara efetuava

    um movimento de rotao contnua, vigiando as guas onde

    ia ter lugar o encontro entre o lancho de desembarque e o

    velho navio pesqueiro.

    Tanaka olhou de relance para Brigitte.

    Veja que a cmara nmero quatro est vigiando essas guas, miss Montfort. Nas quatro ocasies anteriores

    seguiu-se o mesmo sistema.

    Isso nos preserva de uma surpresa por parte dos

    generosos doadores da bomba. Oh, claro que todas estas

    imagens esto sendo tomadas por quatro cmaras de

    televiso instaladas num submarino. Circuito fechado,

    lgico. E, obviamente, o submarino est equipado com

    radar e sonar. J lhe disse que todo o projeto me custou

    muitos milhes de dlares. Mas ganhei-os com a Jap-

    american Pictures... Observe um detalhe interessante: o

    submarino... Oh, mas no pode v-lo, claro...

    Brigitte olhou para Tanaka e passou a lngua pelos

    lbios.

    Os EStados Unidos esto... entregando a bomba atmica?

    Assim parece assentiu amavelmente Tanaka. Disse-lhe ontem que seu pas aprendeu muito nos ltimos

    vinte anos, mas temo que no o suficiente. Ou talvez seja

    essa dvida, essa ccega produzida pela pergunta-chave: e

    se for um fato verdadeiro a Drgea Anti-A? O certo que, neste momento, os Estados Unidos esto dispostos a

    entregar sua bomba atmica, nas condies exigidas: um

  • lancho de desembarque, com o menor nmero possvel de

    homens, e a bomba nesse lancho. E, segundo as cmaras

    de televiso, o radar e o sonar, esto fazendo jogo limpo:

    no h nenhum navio nas vizinhanas do lugar de entrega.

    Seu submarino levar a bomba, Tanaka? Certamente. Ah, como lhe dizia a respeito do

    submarino... um barco que os Estados Unidos venderam

    como sucata, h uns oito anos. Foi comprado e, para todos

    os efeitos legais, desmontado. Entretanto, a o tem: pintado,

    remoado, com as mquinas em perfeitas condies,

    equipado com uma emissora de televiso. E vrios detalhes

    mais, muito interessantes. Para qualquer possvel espectador

    de tudo isto, o submarino seria um dos pertencentes frota

    dos Estados Unidos. Suas letras, sua sigla de identificao,

    o uniforme dos homens que logo vo aparecer na coberta...

    Tudo.

    Utilizou o mesmo truque com os outros pases? Bem... Digamos que quando a China, a Inglaterra, a

    Rssia e a Frana compareceram ao local da entrega,

    nenhum suspeitou o perigo... at ser demasiado tarde.

    Mmmm... A China foi muito desconfiada. Compreende-se,

    sabendo que seu poderio atmico o menos importante.

    Mas, precisamente por isso, tinha grande interesse em

    conseguir a Drgea Anti-A. Em seu primeiro envio, cometeu a tolice de mobilizar nada menos que meia dzia

    de submarinos atrs do transporte que levava a bomba.

    Tudo o que ocorreu foi que nosso submarino recolheu os

    tripulantes do junco utilizado naquela ocasio e ps-se em

    fuga. Trs dias mais tarde, a China recebia uma ltima

    oferta: jogo limpo ou nada feito... Tivemos a bomba.

    Como? Que aconteceu?

  • O mesmo que com os demais pases. S que nenhum deles, tal como eu esperava, teve coragem para confessar ao

    mundo seu erro, seu fracasso... Assim, foram caindo a

    China, a Rssia, a Frana e a Inglaterra. E tudo no maior

    silncio. Nenhum desses pases vai admitir publicamente

    que algum lhe roubou uma bomba atmica, enganando-o.

    Compreendo... Onde est sendo realizada a entrega, agora?

    Em certo lugar do Pacfico sorriu sarcasticamente Tanaka. Apenas um ponto no imenso mar...

    Perto ou longe daqui? No mar. Parece que Masao Yoshimura recebeu resposta

    favorvel de Washington, com plena aceitao de suas

    condies.

    Por assombroso que parea, foi o que aconteceu. No tem mais que olhar para convencer-se.

    No me parece assombroso sorriu Brigitte. Noburo Tanaka olhou-a durante uns segundos. Depois,

    voltou sua ateno para as telas de televiso.

    Seu sorriso encerra esperana murmurou. Que classe de esperana, miss Montfort?

    Masao Yoshimura ser seguido e cercado. Ser obrigado a trazer aqui, a esta casa, algumas dezenas de

    agentes da CIA e de outros servios norte-americanos de

    contra-espionagem. No poder lanar essas bombas,

    Tanaka.

    Logo se desenganar. Quanto a Masao Yoshimura... Preste ateno a isto.

    Brigitte voltou rapidamente a cabea para as telas de

    televiso. O pesqueiro Black Fish estava j muito perto

  • do lancho de desembarque. Do pesqueiro estava-se

    afastando um pequeno bote, no qual viam-se apenas quatro

    homens, todos eles japoneses. Por um instante, Baby teve a impresso de que estava vendo um filme em tecnicolor

    sobre operaes americanas em guas do Pacifico vinte e

    tantos anos antes. S que naquela ocasio tudo era real, no

    uma criao de Hollywood.

    Os quatro japoneses remavam para o lancho, tranqilos.

    Uma das cmaras do submarino fez uma aproximao e, por

    um instante, os quatro rostos nipnicos ficaram em primeiro

    plano, grandes, facilmente identificveis. Katsumi disse

    alguma coisa, e Semba e Toshiro riram mansamente.

    Tanaka limitou-se a sorrir. E Brigitte, que no tinha

    entendido as palavras japonesas, ficou olhando com ateno

    a qudrupla imagem da entrega da bomba atmica norte-

    americana.

    O bote aproximava-se lentamente do lancho; neste,

    viam-se seis marines, um deles j grisalho, com insgnias de

    comandante. Havia tambm um tenente, um sargento, um

    cabo e dois marines de primeira. Uma das cmaras

    apanhava-os de muito perto e seus rostos tensos, seus olhos

    fixos num ponto distante, naturalmente no submarino que

    tinham visto emergir. Estavam algo perplexos e assustados.

    O tenente dizia alguma coisa, apontando para o submarino,

    O comandante assestou um binculo. Via-se perfeitamente

    na tela seu sorriso de alivio.

    Agora, o comandante est pensando que o submarino americano explicou Katsumi, desnecessariamente rindo.

    Semba disse algo em japons e todos riram, inclusive

    Tanaka, que lanou um olhar de relance a Brigitte. Um

  • olhar divertido, maligno, que revelava sua satisfao em

    assistir ao espetculo para o qual ela era convidada de

    honra, por ser americana.

    Esperemos que os americanos sejam mais espertos que os outros e no pretendam opor-se ultima hora,

    quando descobrirem que esse submarino no realmente

    deles, miss Montfort augurou Tanaka. Observe que o comandante tem um binculo. Olhar com mais ateno

    para o submarino, ver uniformes americanos, mas logo se

    dar conta de que os homens que os vestem no so

    americanos. Os traos caractersticos de nossa raa so uma

    das desvantagens que temos para determinadas operaes.

    Mmmm... Temo que esteja percebendo agora.

    Efetivamente, o comandante do lancho americano

    estava enfocando com o binculo o submarino e, muito

    excitado, dizia alguma Coisa, apontando para as cmaras,

    isto , para, o submarino. O tenente quase lhe arrebatou o

    binculo e olhou por sua vez. Depois, baixou o binculo

    lentamente. Viu-se seu rosto alterado, perplexo.

    J se deram conta! riu agudamente, Tanaka. No podia ser de outro modo, est claro. Mas no importa.

    Quer dizer... no importa segundo o que esses homens

    decidam fazer.

    Brigitte olhava para as telas como hipnotizada. Por um

    momento, teve esperanas de que os seis marines

    oferecessem combate, inclusive perdessem a vida, contanto

    que aquela bomba fosse afundada ali mesmo, naquele

    momento, a fim de que s pudesse ser recuperada por

    grandes meios, dos que s dispunha a Marinha dos Estados

    Unidos.

    Mas no.

  • O pequeno bote que fora lanado do pesqueiro chegou

    junto ao lancho, e, ante a passividade dos marines, os

    japoneses subiram a bordo, armados.

    No os mataro explicou Noburo Tanaka. Sempre que possvel, recolhemos a bomba de um

    modo pacifico, a fim de dar a impresso, at o ltimo

    momento, de que nossas intenes so boas. Se os

    americanos no fizerem nada, salvaro suas vidas... por

    enquanto. Tudo depende do lugar para onde forem levados

    depois disto. Seria engraado que morressem sob a exploso

    da bomba que eles mesmos entregaram!

    Brigitte passou a lngua pelos lbios, tensa, angustiada.

    Mas os marines comportaram-se sensatamente; sempre

    obedecendo s ordens dos japoneses, saltaram para o bote

    em que estes tinham chegado e comearam a remar,

    afastando-se. Enquanto isto, o pesqueiro Black Fish estava virando, disposto a afastar-se tambm.

    E o submarino, a julgar pela paulatina amplificao de

    todas as imagens, aproximava-se do lancho, que por sua

    vez era conduzido ao seu encontro pelos japoneses que

    tinham chegado no bote.

    Numa tela apareceu agora o costado do submarino, e

    fixou-se l. Menos de um minuto mais tarde, o lancho

    aparecia junto do submarino, por aquele lado. Uns quantos

    japoneses com uniformes da U.S. Navy estavam-se

    pendurando ao costado do submarino, presos por cordas

    passadas por baixo de seus braos, e levando rolos de cabo

    muito fino. No costado do submarino haviam sido

    colocados grandes ganchos, aos quais, pelos japoneses que

    agora ocupavam o lancho e os que pendiam pelo costado

  • do submarino, foi atada a enorme bomba, que ficou a

    descoberto ao ser retirada a lona.

    A operao demorou quase dez minutos e, durante todo

    este tempo, a cmara permaneceu fixa, enfocando-a,

    levando a imagem at o ryokan de Noburo Tanaka,

    enquanto as demais iam mostrando o mar que circundava o

    submarino, e o cu, vigiando a possvel chegada de barcos

    ou avies norte-americanos.

    Do bote em que tinham partido os seis marines j no se

    tornaram a ocupar de um modo especifico. Vez por outra,

    ao percorrer a objetiva aquela parte do mar, via-se o bote

    sobre as guas e as diminutas figuras dos marines, remando

    energicamente.

    Terminada a fixao da imponente bomba atmica ao

    costado do submarino, todos os japoneses passaram a este e

    o lancho americano de desembarque foi afundado, com um

    s canhonao disparado de uma centena de metros, com o

    submarino j em marcha.

    Finalmente, este desapareceu sob as guas.

    J no houve mais imagens sobre as quatro telas.

    Tanaka fez um sinal e Katsumi apanhou-as. Tudo ficou

    em silncio, at o velho japons voltou-se para Baby, comentando:

    Foi uma entrega perfeita, digna dos Estados Unidos. No est de acordo, miss Montfort?

    Brigitte olhou-o. Depois, o revlver que Katsumi tinha

    na cintura. Passou a lngua pelos lbios e permaneceu

    calada, plida como um cadver.

    Quanto a Yoshimura... gostaria de v-lo?. Est aqui? exclamou ela.

  • Sem duvida. Esperando para saber se seu trabalho foi coroado de xito.

    Posso... poderia v-lo? Noburo Tanaka levantou-se, sorrindo enigmaticamente.

    Claro que sim. Acompanho-a. Assim poderei comunicar-lhe que tudo terminou da melhor forma possvel.

    Observaremos sua reao quando lhe dissermos que j teve

    lugar a entrega da bomba norte-americana. Siga-me, por

    favor.

    CAPTULO QUINTO Hara-kiri

    Antecipao de uma catstrofe

    ltima luta

    Detiveram-se diante de um aposento cuja porta era de

    madeira fina, com desenhos

    que pareciam de laca. Katsumi abriu-a e Tanaka cedeu o

    passo a Brigitte, com um sorriso ironicamente corts em seu

    enrugado rosto amarelento, os midos olhos brilhando entre

    as mil rugas que os circundavam, fazendo soar suavemente

    suas longas unhas envenenadas, que pareciam as garras de

    uma ave de rapina.

    Baby entrou sem preocupao alguma. O que no conseguiriam fazer-lhe aqueles homens, ainda que se

    opusesse? Se queriam que entrasse, entraria de qualquer

    forma.

    Ficou como cravada no cho to logo deu dois passos.

    Masao Yoshimura l estava, sentado sobre um tatami, com as pernas cruzadas, as costas para uma larga janela

    aberta. Era uma pea lisa, vazia, com assoalho de madeira

  • brilhante. Yoshimura ergueu os olhos, olhou-a com

    indiferena e depois olhou para Tanaka, expectante.

    Atrs dela, ouviu a voz de Noburo Tanaka:

    Conseguimos. Temos a bomba. Masao Yoshimura fez uma ligeira inclinao de cabea.

    Depois, olhou de relance para Brigitte.

    Posso despedir-me dela? Pode. Tem cinco minutos. A porta fechou-se s costas de Brigitte, que se

    aproximou de Yoshimura, olhando-o fixamente, sem saber

    o que pensar.

    No quer sentar-se? ofereceu o japons. Vai dar-me uma explicao? perguntou ela. Sim. Baby aproximou-se da janela e olhou para o exterior,

    passeando no jardim, viu trs japoneses, em pontos

    distintos, olhando para o mar e para a casa,

    alternativamente.

    No poder escapar pela janela advertiu Yoshimura. Nem por nenhum outro lugar. Sente-se, Brigitte, quero despedir-me de voc.

    Olhou-o fixamente. Por fim, sentou-se diante dele, sobre

    o mesmo tatami. Despedir-se? murmurou. Vou partir para muito longe... Para o Japo? Muito mais longe... sorriu Yoshimura. At onde podem chegar os mortos. No entendo... Vo mat-lo? Agora, ao v-lo,

    pareceu-me que voc o culpado direto de tudo isto, o que

    planejou tudo...

  • Pensou isso de mim? perguntou tristemente Yoshimura.

    No certo? No... Eu, como outros quatro japoneses de idias

    nobres, fui apenas utilizado por Noburo Tanaka. Diga-me:

    verdade que trabalha para a CIA?

    verdade. Ento, voc me esteve enganando... enquanto eu fui

    sincero durante todo o tempo.

    Eu tambm fui sincera com voc em certos momentos, Masao. Tinha que obter todas as informaes

    que pudesse, recorrendo a qualquer meio. Mas entre tudo

    isso, houve uma boa parte de sinceridade em mim.

    O que me consola... Porque creio em voc, Brigitte. certo o que disse de seus olhos. Agora esto frios, duros...

    Mas talvez possam tornar a encher-se daquela luz que eu

    vi...

    No viverei para isso. Sinto Yoshimura inclinou a cabea. Sinto por

    voc, por mim, por quase trinta milhes de americanos. E

    sinto pelo Japo e todos os japoneses. Quero... quero que

    saiba que no somos como Noburo Tanaka. O Japo no

    guarda rancor, nem deseja a morte no mundo, nem faria

    jamais o que quer fazer Tanaka...

    Sei o que devo pensar a respeito do Japo. E sei que isto no obra de seu pas. a obra de um criminoso que

    nem sequer tem a desculpa de estar louco. uma vingana

    atroz, Masao. Uma vingana pessoal, com uma espera de

    vinte e dois anos. O fato de Noburo Tanaka ser japons no

    significa nada para mim. O mesmo poderia hav-lo tentado

    outro homem, de outra nacionalidade. O mesmo, se as

  • coisas tivessem acontecido ao contrrio, poderia estar sendo

    tentado por um americano, que estaria agora planejando

    lanar bombas atmicas sobre o Japo. Mas isso, Masao, j

    est fora de nosso domnio. Fale-me, se que tem algo me

    dizer.

    Somente pedir-lhe perdo e despedir-me. Voc perdoou-me uma vez sorriu docemente

    Baby , de modo que s me cabe retribuir. Quanto despedida, suponho que dever ser mutua.

    Eu partirei antes... Dentro de poucos minutos. E partirei com a alegria de ter podido v-la mais uma vez.

    Quando voc sair daqui, Brigitte, praticarei o hara-kiri.

    Brigitte olhou estupefata para Masao Yoshimura.

    No... murmurou. No! Sei o que est pensando. Acha que sou um brbaro,

    recorrendo a antigos mtodos de castigo... de autopunio.

    Talvez seja certo, mas espero que o compreenda. Tanaka

    me explicou o que fizeram comigo, como com os outros

    quatro. Nas cinco ocasies, procuraram homens respeitados

    no Japo, homens cujo interesse pelo bem do prximo era

    conhecido. A todos enganaram, dizendo-lhes que tinham a

    Drgea Anti-A, que precisavam do auxlio atmico dos Estados Unidos, ou do pas em questo, para a ltima prova,

    mas que as coisas deviam ser feitas discretamente, a salvo

    de toda publicidade, da espionagem, de ambies pessoais.

    Era uma distino escolher-nos. E os cinco aceitamos. No

    sei quem foram os outros quatro, mas sei que, como eu a

    noite passada, chegaram ao ponto final, ao contato com

    enviados do pas de onde se esperava conseguir a bomba

    atmica. Depois disso, foram retirados pelos homens de

    Tanaka e assassinados. Era o que queriam fazer comigo

  • tambm, hoje, para cortar o caminho dos americanos at

    minha pessoa, tal como antes cortaram o caminho dos

    russos, chineses, franceses e ingleses, at os outros quatro

    meus conterrneos de boa-f.

    E no o mataram porque voc reclamou o direito de matar-se a si mesmo?

    Sim. Pelo menos isso devo agradecer a Tanaka. Masao... Por favor, Masao! Estamos em mil

    novecentos e sessenta e sete, O Japo e os japoneses

    mudaram muito em tudo, voc o sabe melhor que eu. No

    pode fazer Isso a esta altura!

    Compreendo voc, Brigitte. E tem razo. Mas creio que mereo morrer assim. Sei que um retrocesso em tudo

    quanto at agora conheci e vivi. um recuo no tempo e na

    cultura. Mas tenho a necessidade ntima de faz-lo. Mais

    ainda: o desejo. Quero castigar-me a mim mesmo pela ajuda

    que prestei a esse horrvel plano de Noburo Tanaka.

    Compreende?

    Sim, mas no estou de acordo com voc, Masao. Ainda podemos ter um golpe de sorte, escapar daqui,

    viver... No quero engan-lo agora: no viveria com voc

    em Tquio. No porque lhe tenha mentido em nossos

    momentos importantes, mas porque eu no posso amar a um

    s homem: amo a todos os homens, todas as crianas, todas

    as mulheres... H uma vida nossa frente. No renuncie a

    ela.

    Masao Yoshimura sorriu com suavidade.

    Sempre soube que seu corao demasiado grande, Brigitte. Compreendo-a, admiro-a, amo-a por isso... Agora,

    quero despedir-me de voc com o desejo de que consiga

    escapar. E se o conseguir, tome cuidado com seu corao

  • porque, de to grande, poder acarretar-lhe muito

    sofrimento.

    Voc me aconselha, se consigo escapar, a deixar de ser uma boa menina? sorriu ela.

    Ser a nica maneira de voc viver muitos anos. E agora, adeus, Brigitte Montfort, vulgo Baby.

    Era evidente que Yoshimura dava por terminada a

    ltima entrevista. Mas Brigitte no se moveu.

    Masao, possvel que logo nos tirem daqui. Quero fazer-lhe uma proposta.

    Qual? Escute... Continue com seu projeto. Pea a arma

    branca, simulando que vai praticar o hara-kiri, ou que o

    pratica... Faa como preferir para ganhar tempo, mas

    permanea vivo. E quanto eu puder...

    A porta do aposento se abriu. Brigitte intensamente para

    Yoshimura, que sorriu ela e inclinou a cabea.

    Pondo-se de p, Baby voltou-se. Noburo Tanaka estava no limiar. Atrs dele, Semba, tendo nas mos uma

    grande almofada sobre a qual via-se um sabre. A um Sinal

    do velho japons, ela saiu, dirigindo um ltimo olhar a

    Yoshimura. Semba cruzou com ela. Deixou a almofada

    sobre o tatami, diante de Masao Yoshimura, saindo em seguida.

    A porta foi fechada e Brigitte novamente conduzida ao

    recinto onde estava o aparelho com quatro telas de

    televiso. Tanaka sentou-se e olhou-a friamente.

    No lhe parece que Masao Yoshimura digno de admirao e respeito? Isso no faria nenhum americano.

    Claro que no, Tanaka. Um americano lutaria at a ltima gota de sangue em seu intento de continuar vivendo.

  • Mas, conforme sabe, os americanos so uma raa inferior,

    sem grandeza espiritual.

    Percebo muito bem o sentido irnico de Suas palavras, miss Montfort. Mas no vamos discutir isso.

    Trouxe-a novamente aqui porque tenho algo importante a

    dizer-lhe.

    Vai cravar-me uma unha? Vou antecipar um pouco a data do aniversrio

    atmico.

    O espanto levou toda a ironia de Baby, que uma vez mais empalideceu ante os projetos de Noburo Tanaka.

    Por qu? perguntou simplesmente. Vou dizer-lhe. Explicarei qual foi a jogada dos

    Estados Unidos neste assunto da bomba atmica. Claro que

    agiram tal como eu esperava e suspeitava... Sabe quando

    suspeitei?

    Quando e o que suspeitou? No estou compreendendo nada.

    Estou certo de que, no fundo, sabe as coisas to bem como eu, mas explicarei de qualquer modo. Dizia que, tal

    como esperava, os Estados Unidos realizaram uma jogada

    especial: a carga atmica da bomba que entregaram h um

    quarto de hora ou pouco mais falsa.

    Falsa? Um engenhoso mecanismo completamente intil.

    Mas j lhe disse que disponho de tcnicos atmicos, que

    estavam esperando a bomba no submarino. A utilizao de

    certos aparelhos conexionados bomba por alguns homens-

    rs revelou que esse artefato jamais produzir uma exploso

    atmica.

    Bravo! exclamou Brigitte.

  • Magnfico sorriu Tanaka, enchendo ainda mais seu rosto de finssimas rugas. Na verdade, magnfico, miss Montfort, j que era isso exatamente o que estvamos

    esperando.

    Como? simples. Sei muito bem que atualmente a Jap-

    american Pictures e esta casa esto vigiadas pela CIA e sei

    j quantos outros servios de contra-espionagem. lgico,

    naturalmente.

    Se o tivessem localizado, j teriam... Deixe-me prosseguir. Olhe, eu compreendo muito

    bem que a CIA, por exemplo, no pode ser um organismo

    que deixe de funcionar s por lhe matarem um agente e

    raptarem outro. No, no... Sei muito bem que estou sendo

    atentamente vigiado. Sei que dispunha de um rdio, que

    seus companheiros tambm, que Masao Yoshimura j lhe

    dera meu nome... Depois, outro detalhe: se a CIA estivesse

    jogando limpo, teriam retido Yoshimura, como tentaram a

    Rssia, Inglaterra, Frana e China com os quatro outros

    enviados, pelo que foi-nos necessrio mat-los. No entanto;

    coisa surpreendente, Masao Yoshimura conseguiu burlar a

    vigilncia da CIA, do G-2, possivelmente do FBI, do

    Servio de Contra-Espionagem do Departamento de

    Guerra.. No lhe parece absurdo?

    De fato. Portanto, h que se render evidncia; tanto nesta

    casa como na Jap-american, Noburo Tanaka e seus homens

    esto severamente vigiados. Devo admitir que seus

    compatriotas est