Post on 09-Oct-2018
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
REORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA
ELABORADO POR CARLA DANIELA C. SOUZA COM ORIENTAÇÃO FEITA PELA PROFESSORA MARY SUE
RIO DE JANEIRO FEVEREIRO/2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade Projeto Vez do Mestre
REORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA
OBJETIVOS: É através dos exercícios de Reorganização Neurológica que poderemos recuperar, desenvolver e aprimorar as capacidades do ser humano e aplicá-la a qualquer patologia como os distúrbios de aprendizagem, distúrbios psicomotores, disgrafias etc.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus primeiramente pela força, fé e perseverança que Ele me deu para sempre seguir adiante. À família por ter me acompanhado em todo o meu trajeto me dando também muito apoio e força e, aos meus amigos Carla e Eduardo pelo incentivo e por terem estado ao meu lado em todo o processo de digitação.
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“Neste instante, esteja você onde estiver, há uma casa com seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora, contemplando a fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.”
Therèse Bertherat
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RESUMO
No movimento iremos abordar o desenvolvimento psicomotor de uma criança falando um pouco sobre o seu sistema motor abrangendo as vias piramidal e extrapiramidal, passando pelo cerebelo e os gânglios de base que também contribuem com o movimento e sem deixar de falar um pouquinho sobre o sistema límbico em relação à sua importância. Faremos também uma correlação entre andar, falar e pensar uma vez que não podemos separar estas unidades. Abordaremos o desenvolvimento neurológico na infância em seu processo de aprendizagem pelo qual a criança passa, a maneira como o bebê e a criança exploram o mundo. Falaremos sobre os reflexos pelos quais os bebês dentro dos padrões de normalidade passam, sobre as habilidades perceptuais do recém-nascido e o desenvolvimento psicomotor da criança pequena falando sobre o desenvolvimento do sistema nervoso, a sua maturação e algumas etapas pelas quais a criança passa. Não podemos deixar de citar as perturbações psicomotoras, cujo problema repercutirá na formação do esquema corporal e talvez na estruturação espaço-temporal. E, por último, a Reorganização Neurológica, que vai levar a maturação do sistema nervoso central (SNC) e vai trabalhar o “todo” de uma criança sendo então realizados exercícios de acordo com as etapas da Reorganização Neurológica.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I 8 O MOVIMENTO 8 CAPÍTULO II 13 DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO NA INFÂNCIA 13 CAPÍTULO III 29 REORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA 29
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 36 ÍNDICE 37
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INTRODUÇÃO
A Psicomotricidade tem enorme importância para o indivíduo, permitindo
a locomoção da criança, fazendo com que a mesma tenha vivências através do sentir,
ouvir, olhar, tocar, enfim, vai possibilitar a sua relação com o meio ambiente, com os
objetos e pessoas.
Quando a criança nasce, por imaturidade dos centros motores do
sistema nervoso central (SNC) há uma fase de difusa hipertonia de incoordenação
motora e de movimentos involuntários. Com a maturação neurológica, o tônus
progressivamente irá se regularizando permitindo o maior controle muscular,
movimentos coordenados e voluntários. Esta modificação poderá ser observada pelas
posturas do corpo e seus movimentos.
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CAPÍTULO I – O MOVIMENTO
Os indivíduos durante o seu desenvolvimento psicomotor, passam por
várias etapas. Cada etapa está relacionada com a anterior e o aspecto específico de
cada idade é o surgimento de novas propriedades, que se diferenciam
qualitativamente, do que já existia nas etapas anteriores. Ex: a passagem do
engatinhar à marcha; do balbucio à linguagem; das formas do pensamento concreto à
abstração.
O indivíduo nasce somente com as condições anátomo-fisiológicas, dos
reflexos, para se transformar em atos, há necessidade da intervenção do meio
ambiente sob a forma de estímulos.
A ação do meio ambiente age sob re a estrutura nervosa.
1.1 - O Sistema Motor
O controle das atividades do corpo, é fornecido através da parte central do
sistema nervoso por meio de um arranjo que se origina no córtex cerebral. O
equilíbrio entre os impulsos motores provenientes do centro motor primário e aqueles
que se originam dos centros para a inibição determina a eficiência da atividade
muscular. O desequilíbrio produz graus variados de ineficiência, de simples
desajustamento e desorganização até a falência completa do sistema.
1.1.1- A Via Piramidal
É responsável pela execução de movimentos voluntários, ou seja,
dos movimentos deliberados e planejados decorrentes de um ato de vontade. É o
sistema de inervação muscular mais direto do córtex cerebral.
Convém acentuar que também intervém na realização de vários atos
automáticos, iniciando, modificando ou interrompendo as características dos
movimentos, cuja manutenção, no entanto, depende do sistema extrapiramidal.
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1.1.2- A Via Extrapiramidal
É um sistema coordenado e cooperativo associado que participa das
funções do corpo; é auto-direcionado e controla os impulsos do córtex para os
músculos. Compreende todos os centros, exceto aqueles do sistema piramidal, que
enviam impulsos motores do encéfalo para a medula espinhal. Juntos formam uma
rede funcional.É essencialmente uma via para integração da atividade motora. Está
significativamente relacionada com o padrão de comportamento complexo,
normalmente modificado pela experiência. As atividades comuns e automáticas do
corpo, tais como aquelas que lidam com a postura e o comportamento reativo em
geral, são mediadas pelo sistema extrapiramidal.
1.1.3- Cerebelo e Gânglios de Base
Há duas outras estruturas cerebrais que também são relevantes para
a função motora normal. São elas o cerebelo e os gânglios da base. No entanto,
nenhuma das duas pode iniciar a função muscular por si só. Ao contrário, sempre
funcionam em associação com outros sistemas de controle motor.
Basicamente, o cerebelo desempenha papéis importantes na cronometragem das
atividades motoras e na progressão rápida de um movimento para o próximo.
Também ajuda a controlar a intensidade da contração muscular, quando a carga
muscular se altera, bem como controla a interação instantânea necessária entre
grupos musculares agonistas e antagonistas.
O cerebelo foi considerado durante muito tempo uma área silenciosa do
encéfalo, principalmente porque a excitação elétrica desta estrutura não provoca
nenhuma sensação e raramente causa qualquer movimento motor. A remoção do
cerebelo, entretanto faz com que os movimentos se tornem altamente anormais. Ele é
especialmente vital no controle das atividades musculares rápidas, tais como a
corrida, a datilografia, tocar piano e mesmo falar.
Os gânglios de base, por outro lado, ajudam a planejar e a controlar
padrões complexos de movimentos musculares, controlando as intensidades relativas
dos movimentos seqüenciais, as direções dos movimentos e a seqüência dos
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movimentos múltiplos sucessivos e paralelos para atingir objetivos motores
específicos complicados. Um de seus papéis principais no controle motor é
funcionarem em associação com o sistema córticoespinhal para controlar padrões
complexos de atividade motora, um exemplo é escrever as letras do alfabeto. Outros
padrões que necessitam dele são, por exemplo, cortar papel com a tesoura, bater
pregos, atirar uma bola de basquete no centro da cesta, passar uma bola de futebol, os
movimentos de cavar terra, os movimentos controlados dos olhos e, virtualmente,
qualquer outro dos nossos movimentos especializados.
Não podemos, também, deixar de falar no sistema límbico, pois é ele
quem controla, além das funções vegetativas e endócrinas do corpo, muitos aspectos
do comportamento emocional tais como: raiva, medo, hiperatividade, passividade.
Essas funções desempenham papel decisivo nas conexões entre o sistema límbico e o
córtex, porque os acontecimentos do meio ambiente registrados pelo último recebem
por essas vias as suas totalidades afetivas e, conseqüentemente, sua avaliação.
1.2- O Desenvolvimento dos seres vivos
Se plantarmos um grão de feijão num ambiente ideal, já sabemos o que
irá acontecer: ele vai brotar, crescer com suas características próprias, vai dar vagens,
e a partir daí sementes iguais àquela que plantamos. Bom, se pensarmos um
pouquinho, veremos que todo ser vivo é assim. Portanto, com o ser humano ocorre o
mesmo: nasce um bebê e sabemos que no futuro, atingirá características de um
adulto.
Tudo isso se parece muito simples, porém sabe-se que entre essas fases
(nascer, crescer, desenvolver-se) ocorrem várias mudanças. No caso do homem, por
exemplo, estas modificações acontecem desde que é gerado até a sua morte. E isto, é
o que chamamos de desenvolvimento. E o que isto significa? Desenvolvimento é um
processo ordenado regular e contínuo que envolve todas as áreas do organismo e da
personalidade. Não importa que este desenvolvimento seja motor, ou de linguagem
ou intelectual, ou mesmo emocional. Tudo é desenvolvimento!
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1.2.1- Andar, Falar, Pensar
Para Steiner (1981), estas três unidades definem o ser humano. Não se
pode separá-las, da mesma forma que não se pode dividir o homem.
• Andar:
É um processo motor complexo, uma vez que andar não é um simples
locomover-se. É o traço mais visível de um processo amplo e complexo. É um
processo evolutivo que leva a criança de uma posição horizontal à uma posição
vertical. É a aprendizagem da conquista do equilíbrio no mundo espacial, para nele
situar seu organismo.
Até a criança conseguir ficar de pé, ela deverá percorrer várias fases do
seu desenvolvimento: rolar, rastejar, engatinhar, etc. Todas essas fases são inerentes
à própria natureza humana.
• Falar:
Meio de comunicação surgido do processo de orientação de ser
humano no espaço. Não se restringe apenas à palavra oral. Há vários tipos de
comunicações: gestual, através da mímica, postural, pela escrita, leitura, etc. O falar
surge dos processos de orientação no espaço, nasce de todo o organismo motor da
criança. A lateralidade e a fala se relacionam; o começo do estabelecimento da
dominância cortical é um estágio de grande desenvolvimento e coordenação da
musculatura. Cada movimento muscular dos órgãos da fala exige a participação de
toda a musculatura voluntária, tal como o andar. O organismo motor todo está
presente quando a criança aprende a falar.
O falar percorre etapas evolutivas: vai desde a comunicação do próprio
corpo, o grito, o primeiro choro ao nascer, passando pelo balbucio, pela fala
deficiente, até alcançar uma linguagem bem estruturada.
• Pensar:
Processo mental desenvolvido a partir da evolução da linguagem. O
pensar não deve ser entendido apenas como a possibilidade de elaborar idéias, mas
também como as capacidades de aprender e de se adaptar ao meio em que vive o
indivíduo.
Se por um lado a fala é um veículo do pensamento, por outro lado, não
podemos pensar sem a linguagem.
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Estas três atividades se interrelacionam, se interdependem e se
desenvolvem paralelamente, embora em cada idade haja a predominância de uma
delas. Desta forma, o falar se desenvolve a partir do processo do andar, o pensar se
desenvolve a partir da evolução da linguagem.
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CAPÍTULO II- DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO NA
INFÂNCIA
“ Cada período é diferente do outro e, em
cada um deles, a criança tem formas peculiares de
pensar e de se comportar, determinando e
estabelecendo, então, o seu caráter do que pode ser
aprendido neste período, o que de melhor a criança
é capaz de realizar”.
Fátima Alves
O organismo que a criança utiliza para a tarefa de aprendizagem é
admiravelmente projetado, com a máxima flexibilidade, de modo que as principais
operações e processos possam ser determinadas pela aprendizagem. As reações estão
fixadas apenas o suficiente para garantir a sobrevivência. O restante está sujeito a
modificação e construção por meio de aprendizagem. O sistema nervoso central é
uma intrincada máquina de aprender que permite a coleta e a armazenagem de dados
e seu uso subseqüente na alteração do comportamento e também que o indivíduo
construa “um pequeno modelo de universo” em sua mente e forme seu
comportamento baseado em modelos.
A criança descobre o mundo fazendo experiências e, quando não
encontra resposta para um fenômeno, inventa.
Vayer (1984) afirma:
“ Todas as experiências da criança (o prazer
e a dor, o sucesso ou o fracasso) são sempre vividas
corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que
o meio dá ao corpo termina por ser investido de
significações, de sentimentos e de valores muito
particulares e absolutamente pessoais”.
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A maneira interessada como o bebê e a criança exploram o seu mundo
à sua volta lembra em muito a forma de trabalho de um cientista, que faz seguidos
testes, erra e acerta até confirmar um fenômeno. Bem pequeno o bebê procura pegar
um objeto com as mãos e faz várias tentativas até que consegue. Constata que aquela
mão cheia de dedos serve para alguma coisa. Quando começa a engatinhar, circula
por todos os lados da casa até bater com a cabeça na parede da sala ou ficar preso
debaixo de algum móvel. Em seguidas tentativas como um cientista, a criança revira
o contudo do cesto de lixo, armários e gavetas – e é essa investigação que vai
amadurecer a raciocínio infantil.
Parece óbvio que a maturação deve desempenhar um papel vital
nesses processos de desenvolvimento inicial. O termo maturação não significa
exatamente o mesmo que crescimento. Crescimento refere-se a um tipo de mudança
passo a passo em quantidade, como no tamanho, e pode ocorrer com ou sem um
processo maturacional subjacente. O termo crescimento é uma descrição da
mudança, enquanto o conceito maturação é uma explicação da mudança.
O desenvolvimento humano é lento, se comparado às outras espécies
animais, porque o cérebro da criança é programado para atividades sofisticadas e
complexas, que envolvem raciocínio, linguagem e amadurecimento das emoções; a
estimulação é a ginástica de que o cérebro precisa para desenvolver suas conexões
neurais. Basta dizer que cada pessoa pode realizar de 3 a 150 mil conexões neurais.
Estimulação é uma palavra tão repetida que fica parecendo que
devemos transformar a vida de uma criança em um laboratório, onde deve ser
iniciada em tudo: esportes, contato com cartões coloridos, entre outras coisas. Claro
que o bebê e as crianças precisam de certa estimulação. Não há nenhuma prova
científica de que a estimulação intensa pode tornar a criança mais inteligente ou
esperta. Deve-se ter cuidados com os excessos, isso pode produzir um resultado
oposto: e desestimulação. Com tanto a fazer, com a agenda cheia, a criança ressente-
se de ter de atingir o sucesso, de estar acima das demais crianças e pode negar-se
obstinadamente a aprender.
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2.1- Reflexos
Os bebês nascem com uma grande coleção de reflexos, que são as
respostas físicas automáticas desencadeadas involuntariamente por um estímulo
específico, reflexos chamados de arcaicos, que desaparecem com a evolução
orgânica do indivíduo, outro que evoluem para atos voluntários e também reflexos
que permanecem a vida toda. Os reflexos do recém-nascido podem ser
grosseiramente agrupados em duas categorias. Primeiro, há muitos reflexos
adaptativos que ajudam o bebê a sobreviver no mundo em que nasceu. Os reflexos de
sucção e deglutição são proeminentes nessa categoria, assim como o reflexo de
procura – a virada automática de cabeça em direção a qualquer toque na bochecha –
e o reflexo que ajuda o bebê a colocar o mamilo na boca durante a amamentação.
Esses reflexos com o passar do tempo tornam-se movimentos voluntários. Outros
reflexos adaptativos persistem por toda a vida. Incluindo a reação de retraimento
diante de um estímulo doloroso. Existem alguns reflexos que eram adaptativos na
história evolutiva e se tornaram atos voluntários ainda estão presentes nos recém-
nascidos, mesmo que não sejam úteis. O reflexo de preensão palmar é um exemplo
claro. Se você colocar o dedo na palma da mão de um bebê recém-nascido, ele,
reflexamente, fechará os dedos firmemente em volta do seu dedo.
Uma segunda categoria inclui os reflexos primitivos, assim chamados por
serem controlados pelas partes mais primitivas do cérebro – a medula e o
mesencéfalo – e que estão quase totalmente desenvolvidas no nascimento, reflexos
de defesa. Por exemplo, se você fizer um ruído alto ou assustar um bebê de alguma
outra maneira , verá que ele abre os braços e arqueia as costas, um padrão que é do
reflexo de Moro ou de susto. Esfregue a sola do seu pé e verá que ele abre os dedos e
depois os encolhe, o chamado reflexo de Babinsky.
No primeiro ano de vida, quando as áreas cerebrais que governam as
complexas atividades da percepção, movimento corporal, pensamento e linguagem já
estão mais desenvolvidas, esses reflexos primitivos começam a desaparecer
substituídos por funções mais complexas. Quando esses reflexos persistem depois
dessa idade, isso pode ser sinal de algum problema neurológico. O reflexo de
Babinsky, em particular, é utilizado como um instrumento diagnóstico pelos
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neurologistas em caso de suspeita da existência de alguma disfunção em criança ou
adulto.
Essas duas categorias de reflexos obviamente sobrepõem-se. Muitos
reflexos adaptativos – incluindo os de procura e de sucção, começam a desaparecer
mais para o final do primeiro ano de vida no sentido involuntário indicando que são
controlados pelas partes mais primitivas do cérebro, para tornarem-se movimentos
voluntários com o amadurecimento do ser.
2.2- Habilidades Perceptuais: o que o Recém-Nascido Enxerga,
Escuta e Sente
Os bebês vêm também munidos de um conjunto surpreendente
amadurecido de habilidades perceptivas . O recém-nascido é capaz de:
• focalizar os olhos no mesmo local, sendo cerca de 24 cm a melhor
distância. Em poucas semanas o bebê consegue, pelo menos de
maneira grosseira, seguir um objeto em movimento com os olhos, e
por volta de um ou dois meses, ele é capaz de discriminar o rosto
materno dos demais;
• Facilmente ouvir sons que se situem na variação de grau e de
intensidade da voz humana; localiza, de modo impreciso, objetos
pelos sons e discrimina algumas vozes individuais, em especial a da
mãe;
• Sentir os quatro gostos básicos (doce, azedo, amargo e salgado) e
identificar odores corporais familiares, o que inclui a discriminação
do cheiro materno do de um estranho.
As habilidades perceptivas dos bebês são mais apurados do que os pais
acreditam – e melhores do que a maioria dos médicos e psicólogos
acreditava anos atrás; quanto melhores são as técnicas de pesquisa, mais
compreendemos quão habilidoso é o bebê.
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2.3- Desenvolvimento Psicomotor da Criança Pequena
“A divisão por idade tem por objetivo a
comodidade. Não existe nada, nem com um mês,
nem com dois anos que seja mais importante do
que acontece antes e durante... isto é o passado da
criança com respeito ao desenvolvimento
sensorial, da comunicação e do seu corpo”.
Fátima Alves
O ser humano é mais evoluído na filogênese (evolução do sistema
neurológico animal, desde as espécies que possuem um sistema neural mais simples
até o homem.Na escala animal há seres inferiores e superiores. O lugar que cada um
ocupa dentro desta escala depende, principalmente da complexidade da estrutura do
seu sistema nervoso): ereto, mobiliza os membros superiores e inferiores
independentemente, utiliza as suas mãos em pinça e estabelece comunicação
consciente. Além dos objetivos da espécie, cria objetivos individuais. Todo esse
processo coincide com o desenvolvimento do sistema nervoso, cujas funções básicas
– sensibilidade e motricidade – são levadas a aspectos funcionais interligados de
intensa sofisticação (BARNETT, 1959; TOLOSA, 1969; BRANDÃO, 1984).
Na ontogênese (desenvolvimento do sistema nervoso de cada indivíduo),
apresentam-se duas características específicas: crescimento, aumento em massa
corpórea e desenvolvimento (maturação, diferenciação), ou aquisições de funções.
Vigilância dessas características é a tarefa máxima dos que lidam com a criança
(MARCONDES, 1991)
Há uma continuidade no tempo e no espaço que é regida por fatores
intrínsecos e extrínsecos, isto é, genéticos, ambientais e alimentares. Durante a
infância esses fatores traduzem-se por meio dos fenômenos de adaptação física,
psíquica e social, complexo processo no qual a criança é uma pessoa completa a cada
idade que percorre, e cuja interrupção provoca distorções que desequilibram o
encadeamento natural, propiciando seqüelas (VOLPE, 1977; MARCONDES, 1969).
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O recém-nascido não é capaz ainda de segurar a cabeça, coordenar o olhar
e o movimento, alcançar objetos, rolar nem sentar. Essas habilidades surgem
gradualmente nas primeiras semanas. Com cerca de um mês, o bebê consegue
levantar o queixo do chão ou do colchão. Aos dois meses, começa a golpear com as
mãos os objetos próximos.
Uma das características notáveis dos movimentos do jovem bebê é quão
repetitivamente eles desempenham sua limitada gama de habilidades. Eles chutam,
se balançam, oscilam, se debatem, batem, esfregam, arranham ou se inclinam de
modo repetido e rítmico. Esses padrões repetidos tornam-se particularmente
proeminentes aos seis ou sete meses de idade, embora possamos perceber alguns
desses comportamentos mesmo nas primeiras semanas, especialmente nos
movimentos dos dedos e das pernas chutando. Esses movimentos não são voluntários
ou coordenados, sendo classificados como automáticos ou processos de
automatismos – reflexos. Foi observado que o movimento de chutar do bebê atinge
seu pico um pouco antes de o bebê começar a engatinhar, como se o chutar rítmico
fosse parte da preparação para o engatinhar.
Mesmo ainda não falando, a criança a partir de sete a oito meses já
consegue realizar a compreensão da linguagem e a variação das palavras para,
posteriormente, começar os movimentos de andar e subir pequenos obstáculos. A
capacidade social e a intelectual da criança estão situadas entre nove e dezoito meses.
Acontecendo uma carência nesta fase pode acarretar um déficit intelectual muito
grande.
Com um ano, a criança anda com ajuda e sua linguagem passa a ser
constituída por três palavras. Mais tarde, com um ano e três meses, anda sozinha, seu
vocabulário passa a ser de nove palavras sendo uma linguagem de ação. As frases
são construídas, adquire a noção de totalidade corporal dando nome a duas imagens,
com um ano e nove meses isto é adquirido. A criança neste nível está se tornando
gradativamente mais hábil em atividade bilateral. Mostra muito progresso no
controle bilateral e começa a tentar tornar-se paralateral. Começa a usar as mãos e os
braços independentemente dos pés e pernas, e domina uma das funções mais
humanas, a de andar.
A primeira audição cortical começa a se desenvolver quando a criança
começa a utilizar estímulos sonoros binauricularmente em combinação e os sons
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começam a adquirir caráter estereofônico (sons e aparelhos que produzem a
impressão de um espaço sonoro). Isso se realiza a nível de córtex.. É um dos atos
finais de preparação para a fala simbólica.
A criança começa a aprender vários componentes sonoros, isto é, os
nomes verbais dados as coisas e as idéias do seu ambiente. Como resultado, ale
aprende a falar a linguagem falada pelos que a cercam.
Com dois anos e dois meses, já consegue nomear as partes do corpo
através de um desenho. Aos três anos, a coordenação dinâmica manual está
progredida e existe exatidão nas atividades manuais, como segurar o lápis com
preensão e os gestos mais diversificados, permitindo o aperfeiçoamento da
coordenação visomotora. A criança já consegue imitar um desenho sem muitos
traçados e tenta fazer um boneco mais aperfeiçoado.
A coordenação ocular desenvolvida torna possível à criança com esta
idade construir uma ponte com três cubos ou uma torre com mais cubos com
equilíbrio, fazendo com que através dessas atividades, ela obtenha o equilíbrio no
movimento fino.
A criança, ao usar uma xícara mesmo sem harmonia e agilidade, é capaz
de executar alguns procedimentos de coordenação bimanual como se calçar e através
do dia-a-dia os atos de vestir-se e comer estarão sendo mais precisos como também a
coordenação visomotora.
Com quatro anos de idade, o conhecimento da criança para vestir-se e
despir-se sozinha, manusear a tesoura, o lápis, abotoar e desabotoar, amarrar e
desamarrar o sapato já é evidenciado.
Com quatro anos, a criança aprende a manejar a tesoura, usa mais o lápis
de cor, abotoa e desabotoa, despe-se sozinha, amarra e desamarra cada laço do
sapato. Os movimentos de preensão ocorrem em forma de pinça, mas não há ainda a
dissociação manual.
Esses movimentos de pinça são alcançados através de tarefas onde os
dedos são mais valorizados. Essas tarefas são bem alcançadas na pré-escola, onde
ocorre a maturação intelectual e motora, na qual se apóiam as duas funções
esboçadas nos três primeiros anos.
A criança de quatro a cinco anos, no começo do pré-escolar, adquire a
precisão de movimentos, lentamente, e é através de atividades de pouco
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deslocamento. Por si mesma, a criança de cinco a seis anos inicia a realização de
certas tarefas, independentemente, adquirindo assim um sentido de responsabilidade.
Já há controle nos exercícios complexos, pois através dos movimentos
exigidos solicitará dela um esforço enorme de caráter psicomotor. A atenção será
importante neste momento, onde facilitará a capacidade motora de uma acomodação
postural para o ato da escrita e o manejo bimanual dos movimentos que deve usar.
Tais atividades para a criança pequena ajudam-na a mover-se dentro do
seu ambiente, desenvolvendo maior força muscular, maior capacidade vital e ganhar
experiência sobre as quais construirá mais tarde sua função intelectual.
Essas são as últimas realizações verticais possíveis na sua organização
neurológica, o estágio seguinte é o da Lateralidade, que é exclusivo do homem.
Precisa agora progredir para um estágio de linguagem mais elaborada, que inclui
leitura, escrita e soletração. O próximo passo na progressão em direção à função
humana completa é o desenvolvimento da dominância cortical hemisférica. Até este
ponto da função cortical, ambos os hemisférios do córtex estiverem operando em
conjunção, com uma relação equilibrada transcortical. Agora, os dois hemisférios
começam a desenvolver funções diferenciadas – um deles tornando-se o hemisfério
dominante enquanto, o outro assume papel sub-dominante.
Todas as etapas têm sua importância, pois uma pessoa precisa possuí-las
para ser neurologicamente normal.
2.4- Perturbações Psicomotoras
Os distúrbios da psicomotricidade podem ser evidenciados precocemente,
antes de um ano de idade; à medida que a criança se desenvolve, outros distúrbios de
conduta se agregam à perturbação psicomotora.
O quadro completo se evidencia mais claramente na idade em que a
criança inicia a escolaridade.
As perturbações psicomotoras são também chamadas de “perturbações
instrumentais”, termo que evidencia que um problema de natureza psicomotora
repercutirá na formação do esquema corporal e talvez da estruturação espacial e
temporal.
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2.4.1- Instabilidade psicomotora ou hipercinesia
É denominada síndrome hipercinética, sendo fácil de ser diagnosticada
porque predomina uma atividade muscular contínua, incessante e agitada, muitas
vezes, mesmo durante o sono.
Esta instabilidade tanto é psíquica quanto motora.. O paciente não se fixa
em nada, não leva tarefa nenhuma a sério, mesmo que esteja interessado; a
inteligência encontra-se muito prejudicada devido a dispersão dificultando sua
concentração.
As atividades solicitadas, em locais não muito amplos, devem ser calmas
e as ordens dadas através de frases simples e curtas.
Quando pequenas, as crianças instáveis motoras, babam excessivamente,
chupam dedo, roem unhas, rangem dentes, têm dificuldade no controle dos
esfíncteres e, facilmente se fadigam. Às vezes são portadoras de estrabismo e
nistagmo; existe uma alta incidência de canhotos e de crianças com lateralidade não
definida.
A instabilidade não é observada exclusivamente nos movimentos físicos,
mas apresenta-se também nas funções emocionais e intelectuais, a instabilidade é
total. Essas crianças são de risco para evoluir para Transtorno de Déficit de Atenção
com Hiperatividade na idade escolar. Os pacientes têm incapacidade habitual em
manter uma atitude, em fixar a atenção, em continuar a mesma ação, em reagir de
maneira constante, num jogo e numa linha de conduta.
O sono é perturbado por insuficiência de sono desde as primeiras semanas
de vida. Apresentam posteriormente, agitação quando dormem; falam, resmungam,
gritam, têm terror noturno e sonambulismo.
Começam a andar muito cedo, mas a aprendizagem é prejudicada. Têm
distúrbios de linguagem, especialmente o cluttering e gagueira; as maiores
dificuldades se dão na escola. Parecem sempre muito vivos, mas não têm bom
rendimento nas informações, em virtude da dispersão.
Os problemas disciplinares chegam a ser severos – de início, na família;
depois, na escola e, finalmente, no grupo social.
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O quadro de instabilidade psicomotora tem maior número de antecedentes
de familiares com os mesmos sintomas, comparado com os débeis motores e inibidos
motores, levantando suspeitas de uma perturbação geneticamente transmitida.
As tendências anti-sociais durante a infância não são muito evidentes e,
nos casos em que aparecem, é mais por sua inquietude, pelas queixas constantes do
ambiente e pela difícil aceitação destas crianças. Os sintomas de instabilidade
psicomotora melhoram na fase escolar e com freqüência remitem na adolescência,
com a maturação do sistema Nervoso central (SNC).
2.4.2- Debilidade Psicomotora
Foi descrito por Dupré em 1911, que deu muita importância a certas
alterações tônicas musculares e ao fato de haver uma tendência familiar na
transmissão do distúrbio.
A característica principal é um sério comprometimento no
desenvolvimento da coordenação motora, que não é explicável em termos de retardo
intelectual global ou qualquer transtorno neurológico congênito ou adquirido
específico, a não ser aquele que possa estar implícito na anormalidade da
coordenação.
A debilidade psicomotora caracteriza-se pela presença de paratonia e
sincinesias.
A paratonia é a persistência de uma certa rigidez muscular particular
evidenciada por uma inadequada incontinência das reações tônicas. Esta paratonia
pode aparecer nas quatro extremidades ou somente em duas. Dá uma deselegância
global na posição estática especialmente quando a criança caminha ou corre: os
braços e pernas se movimentam mal, rigidamente. A qualquer solicitação interna ou
externa, esta rigidez aumenta. Tal paratonia pode ser pesquisada por manobras
externas:
a) balançamos de um lado para outro o corpo da criança,
segurando-a pelos ombros. O movimento dos braços na
criança normal é livre e amplo; a criança débil psicomotora
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não tem estes movimentos amplos, apresenta-os muito
limitados, ao que chamamos de bloqueio;
b) manobra de braço caído, proposta por Ajuriaguerra e
Diatkine (1948), em que levantamos os braços da criança
até à altura dos ombros de maneira paralela e de maneira
cruzada e largamos livremente. Na criança normal os braços
caem livremente, na hipotônica caem em pêndulo e na
paratônica caem livremente, permanecendo bloqueados;
c) nas crianças menores, além da conservação de reflexos
primitivos, como o Babinsky, que pode se manter por vários
anos num dos membros ou em ambos de maneira itinerante,
podemos ainda observar a extensibilidade dos ângulos
poplíteos e dos adutores, na metade do que o normal.
As sincinesias se caracterizam pela participação, no curso dos
movimentos, de músculos que normalmente não estão envolvidos nestes
movimentos.
Se colocarmos numa das mãos do débil motor um objeto e ordenarmos
que o aperte fortemente, a mão oposta também se fechará. Ao sentarmos a criança
desnuda sobre a mesa, podemos observar os dedos de um pé se fletirem e os outros
se estenderem. Estas sincinesias podem ser observadas na face, quando mandamos
fechar e abrir os olhos.
Se mandarmos ficar sobre um pé, ela não conseguirá, em virtude das
sincinesias. Notamos, ainda, descontinuidade dos gestos e imprecisão de movimentos
nos braços, no número e amplidão dos passos na marcha. Os movimentos finos dos
dedos não são realizados e um dado ritmo não pode ser reproduzido. Não executa
corretamente atos coordenados, nem por imitação.
Apresenta ainda outros sintomas:
24
A criança pode apresentar ainda tremores na língua, nos lábios ou nas
pálpebras, bem como nos dedos, quando faz força com os mesmos. Pode ocorrer um
tremor dos globos oculares, caracterizando muitas vezes um verdadeiro nistagmo.
A paratonia, as sincinesias e os tremores algumas vezes são espontâneos,
outras vezes, dificilmente verificados, mas em todos esses casos, quando há
solicitação da criança é facilitada sua semiologia.
A afetividade e a intelectualidade também são comprometidas. O aspecto
habitual destas crianças não é de sofrimento, mas de indiferença e até certa apatia,
confundidas freqüentemente com déficits intelectuais devido à aparência. Têm
sonolência maior do que outras crianças e raramente apresentam distúrbios do sono.
Mantém por muitos anos enurese noturna e até diurna, podendo coincidir
a encoprese diurna.
A sociabilidade do débil motor sempre está prejudicada por isolamento e,
quando forçado a enfrentar situações de rivalidade, pode apresentar crises de birra ou
ansiedade. Tem, com freqüência, manipulações, como chupar dedo e enrolar cabelo.
Os maiores prejuízos verificam-se no campo da aprendizagem. A linguagem é
atrasada com vários distúrbios, como articulação, ritmo e simbolização.
A atenção é intensamente prejudicada; na escola, é freqüente a queixa de
distúrbio da atenção. Pode apresentar dificuldades para leitura, escrita e aritmética.
2.4.3- Inibição Psicomotora
As características das crianças com debilidade psicomotora estão
presentes neste quadro, com uma condição de distinção fundamental: a inibição se
caracteriza por presença de ansiedade. Esta ansiedade permanente, evidenciada por
franzir de sobrancelhas, cabeça baixa, olhar crispado, com expressão sorridente,
sorriso sardônico e distante. Quando esta ansiedade é sobrepujada por mudanças no
ambiente, criando curiosidade e interesse, o quadro psicomotor melhora, mas de
maneira passageira, e quando o ambiente volta ao habitual as manifestações
características tornam a aparecer.
Esta criança, com comportamento inibitório, melhora e se supera quando
está em grupo, ao passo que a criança desajeitada ou débil motora, piora. Na
terapêutica é que resultam as maiores diferenças dos dois diagnósticos, pois enquanto
25
o débil motor se beneficia do tratamento, quase sempre individual, o inibido precisa
de tratamento em grupo.
Na escola pode ter rendimento superior ao débil psicomotor, mas em
todas as condições de provas individuais, exames, chamadas orais, a variável
ansiedade interfere nos resultados com fracassos seguidos.
Na situação de teste seu nível também pode ser prejudicado por
interferência da ansiedade. São crianças que vão bem durante o ano, mas são
reprovadas “sem explicação”.
Além dos distúrbios de conduta semelhantes aos dos débeis motores, os
inibidos apresentam maior número de distúrbios psicossomáticos dos diferentes
aparelhos: além de enurese e encoprese, podem apresentar distúrbios glandulares,
distúrbios da pele, distúrbios circulatórios e tiques.
2.4.4- Lateralidade Cruzada
Sob condições normais, as habilidades manuais, as funções da linguagem
falada, escrita e leitura, a visão, o comer e as habilidades dos pés, são controladas por
um dos hemisférios cerebrais, considerado hemisfério dominante, à função que
chamamos de dominância lateral. Na absoluta maioria das pessoas, a dominância é
do hemisfério cerebral esquerdo. O lado da atividade mais bem desenvolvida
chamamos de lateralidade dominante. Como as vias do sistema nervoso são cruzadas,
a maioria das pessoas apresenta lateralidade direita, ou destrismo.
A dominância lateral e a lateralidade são atributos do homem, sendo só
ocasionalmente observados nos animais.
Quando há dominância direita ou esquerda, perfeita, não há perturbação
do esquema corporal. E quando a lateralidade é cruzada, os distúrbios psicomotores
são evidentes com deformação no esquema corporal.
Nas crianças, parece evidente que os destros têm menor propensão à
lateralidade cruzada do que os sinistros.
Segundo Gesell e Ames (1947), as observações sobre o desenvolvimento
da lateralidade até os 24 meses concluem que há normalmente, no desenvolvimento,
fases de lateralidade cruzada. Estes autores observaram que a tendência inicial é
manipular os objetos com a mão não-dominante; depois bilateralmente; a seguir, com
26
a mão dominante.Aos 18 meses, é muito nítido o ambidestrismo e, aos dois anos, é
definida a lateralidade.
Clinicamente, esta criança se apresenta desajeitada e desastrada. Deixa
cair os objetos, quebra facilmente as coisas, cai muito, se machuca, tem fraturas,
queimaduras e cortes em maior número do que as outras crianças. Vivem com
manchas roxas pelo corpo. Apresentam uma certa inquietude, que não é exagerada,
como nos instáveis. Uma característica os diferencia dos instáveis, pois mostram
fatigabilidade rápida, ao passo que os instáveis são infatigáveis. Têm coordenação
pobre e não conseguem desenvolver satisfatórias habilidades manuais.
São freqüentes os distúrbios de sono.
Têm distúrbios de linguagem, especialmente dislalias e linguagem rápida.
A escrita é muito perturbada, podendo ser em imagem especular, de
cabeça para baixo ou escrita ilegível.
A leitura também é, costumeiramente, comprometida.
Na escolaridade a falta de atenção é a mais comum das queixas, como nos
outros distúrbios psicomotores.
Emocionalmente, os desatentos apresentam uma intranqüilidade,
sensações de inadequação ou de inferioridade.
São menos agressivos do que os instáveis, mas podem, como os instáveis,
apresentar alterações no EEG, com traçado tipo instável.
2.4.5- Apraxia Motora
É o distúrbio que se caracteriza por uma incapacidade ou grande
dificuldade para realizar movimentos de atividades corriqueiras.
Esta criança possui inteligência normal evidenciando apenas frustração,
pelo fato de não conseguir realizar certas tarefas que requerem uma apurada
habilidade manual. A ansiedade que apresenta é muito grande e, comumente estala-
se agressividade.
Apresenta alterações na coordenação motora fina pois quebra
constantemente objetos de uso comum e tem movimentos rígidos e tem também alto
índice de fatiga. E também apresenta atraso de linguagem.
27
2.4.6- Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade
No DSM-IV os critérios são organizados em sintomas de: desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Os sintomas devem estar presentes antes dos sete
anos de idade; persistir por pelo menos seis meses; causar prejuízos na escola e em
casa; causar prejuízos no funcionamento acadêmico e social.
Os sintomas e tratamento preconizado foram estabelecidos a partir da
década de 1980.
Incidência:
A incidência do TDAH (ADHD em inglês) é estimada em 3% a 5% entre
as crianças em idade escolar com prevalência no sexo masculino. O Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade é encontrado com maior freqüência nos parentes
biológicos em primeiro grau com TODA/TDAH. Os estudos também sugerem que
existe uma prevalência superior de Distúrbios de Aprendizagem, Transtornos de
Humor , Transtornos de Personalidade Anti-social e Dependência em Drogas e
Álcool nos membros das famílias de indivíduos com Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade.
Características clínicas:
A maioria dos pais observa pela primeira vez o excesso de atividade
motora e a instabilidade quando as crianças ainda estão engatinhando ou começando
a andar. Entretanto, uma vez que muitos bebês com instabilidade podem não
desenvolver o TDA/TDAH, deve-se ter cautela ao fazer o diagnóstico em uma idade
muito precoce. O diagnóstico de instabilidade psicomotora é mais comum e o
TDAH geralmente só é confirmado na fase pré-escolar. Portanto, a terapia
medicamentosa precocemente iniciada, como tem sido feita na atualidade, não é
efetiva, somente causando riscos. Durante os primeiros anos de escolaridade o
ajustamento é comprometido. Apresentam baixa tolerância a frustrações, acessos de
raiva, comportamento mandão, insistência excessiva até cansar os outros, adultos e
colegas se com a hiperatividade e a teimosia dos portadores de TDAH. Desastrados,
cometem atos de imprudência com impulsividade que podem acarretar acidentes em
28
todos os ambientes. Agressivos, com impetuosidade, não podem ser contidos porque
escapam, ou resulta em ferimentos neles próprios ou em outros. Incansáveis na
atividade motora, são preguiçosos na execução de tarefas planejadas, especialmente
as escolares; mesmo que sejam atividades físicas programadas, escapam e não
cumprem.
Essas características, além de outras como depressões, disforia,
ressentimentos, hostilidade, oposição e desafios, dependem da idade e do estágio
evolutivo.
29
CAPÍTULO III- REORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA
Temple Fay e companheiros observaram,e isso em vários povos e
civilizações do mundo,
que crianças normais, não importa em que povo faziam, percebia-se os mesmos
movimentos estereotipados, aos quais chamamos de padronizações. Observaram
também que crianças com lesões cerebrais não conseguiam executar aqueles
movimentos.
Pensaram então, “se fizermos com que o paciente, mesmo
passivamente,execute estes movimentos-padrões, será que o seu SNC vai “aprender”
e assumir depois a seu comando?” Assim, o fizeram e observaram que realmente, a
criança passava a executar aqueles movimentos. Mas, mais do que isso, perceberam
também que, algumas vezes, o desenvolvimento prosseguia normal, como se tivesse
tirado um bloqueio que impedia esse desenvolvimento.
A esse procedimento chamaram de Reorganização Neurológica (RON),
que deve ser compreendida como a recapitulação do desenvolvimento ontogenético,
fase por fase, na mesma seqüência do desenvolvimento normal.
A Reorganização Neurológica consiste na repetição, na recapitulação das
fases do desenvolvimento natural da criança, que são significativamente importantes
na definição da Organização Neurológica.
A Reorganização Neurológica leva a maturação que facilita o sistema
nervoso central para vir definir a lateralidade que conseqüentemente levará a fala.
Trabalha o “todo” da criança, isto é, a atenção, a percepção, o ritmo, o
equilíbrio, a orientação espaço-temporal, o comportamento e etc.
É importante saber que os exercícios terão que ser feitos na ordem certa,
ritmados, ininterruptamente para livrar estímulos eficazes para o cérebro.
A relaxação e respiração tem um valor fundamental dentro da
reorganização, pois caminham juntos.
A relaxação faz o papel da propriocepção voltada para o esquema
corporal possibilitando um maior conhecimento do seu corpo.
A respiração devido ao aumento e enriquecimento do fluxo de oxigênio
ao cérebro, fazendo uma espécie de nutrição. Causando, juntos, um melhor
30
condicionamento, elaboração, desempenho e um efeito bem mais satisfatório no
desenvolvimento de todas as etapas neurológicas.
3.1- Etapas de Reorganização Neurológica (exercícios principais):
Segundo alguns autores a Reorganização Neurológica é aplicada qualquer
patologia como: disfemias, dislexias, distúrbios de aprendizagem, disgrafias,
dislalias... Através dela pode-se recuperar, desenvolver e aprimorar as capacidades do
ser humano.
Passar por essas etapas são fundamentais, pois o interior e exterior estão
interligados e para haver “harmonia” do seu corpo é preciso sentir através do
movimento para depois ser aplicado especificamente a cada patologia e só assim
adquirimos um bom resultado.
Sabemos que as etapas primordiais (rolar até marcha) são feitas sem
determinação de tempo, sem interrupção, e às vezes, mecânica, e por isso e por outros
motivos que até hoje é discutida, sendo assim, devemos Ter um conhecimento amplo e
ao mesmo temo consciente da Reorganização Neurológica para a sua aplicação.
3.1.1- Rolar
- braços estirados ao longo do corpo;
- um braço para cima e outro para baixo;
- braços para cima de mãos dadas;
- braços para cima segurando uma bola;
- braços cruzados no peito;
- braços para baixo com a bola entre as pernas;
Preparar: tato, orientação especial, atenção e equilíbrio
Observar: crianças com problemas espaciais geralmente rolam fazendo como centro,
a cabeça ou os pés, não tendo uma direção certa.
31
3.1.2- Padronização
1° homolateral:
- cabeça e membros para o mesmo lado;
- deitado no chão em decúbito ventral;
- calcanhar na altura do joelho;
- dedo polegar tem que ficar na altura da boca;
Preparar: para o rastejar, ajuda nos problemas de enurese e do sono. Dá ritmo, tato,
lateralidade, visão biocular, audição biauricular e atenção.
2° Cruzada:
- cabeça virada para o mesmo lado do braço flexionado e perna do lado
oposto flexionado
Observação: os efeitos são os mesmos do homolateral, mas de maneira cruzada.
3.1.3- Rastejar
1° Homolateral:
- a cabeça fica bem abaixada;
- a criança ficará na mesma postura que a padronização homolateral
Preparar: tato, audição e visão
2° Cruzado:
- mãos fechadas para disgrafia;
- um braço na frente do outro, o que está atrás passa para frente, juntamente
com a perna dobrada;
- cabeça e troco ligeiramente levantados, apoiando os cotovelos no chão.
Preparar: tato, audição e visão
Observação: os efeitos são o mesmo do homolateral, mas com efeitos cruzados. O
rastejar é responsável também pela coluna vertebral e protuberância anular.
3.1.4- Engatinhar
- o padrão deve ser cruzado;
32
- andar livremente pelo espaço proposto;
- andar ao comando do terapeuta;
- devagar, depressa;
- colocar objetos diferentes entre os dedos e pedir que olhe.
Preparar: visão, sentido de direção e movimentos possam ser todos cruzados
Observação: cuidar da posição das mãos, dos pés e olhos dirigidos para a mão que
estiver na frente.
3.1.5- Macaco
- andar de quadrúpedes;
- quando a perna vai a frente, o braço oposto vai a frente também, depois
vice-versa.
Preparar: a tonicidade da musculatura das mãos e braços. Último para a disgrafia:
esse exercício prepara o andar.
3.1.6- Marcha
- cuidar da postura;
- direção;
- olhos em direção ao ponto de chegada;
- marcha cruzada.
1ª marcha: é na preparação (parado);
2ª marcha: mãos na frente e andando;
3ª marcha: mãos na frente batendo as pernas;
4ª marcha: movimentos completos andando para frente e para trás;
5ª marcha: apontando o dedo para o pé;
6ª marcha: mão fechada na frente batendo na barriga e aberta atrás.
Trabalha: equilíbrio, percepção visual, audição, coordenação e ritmo.
Observação: na marcha pode-se estimular através da música ou só o ritmo utilizando
alguns critérios como a contagem de números, etc.
33
3.1.7- Cambalhotas
- simples (para a frente)
- das costas (invertida)
Trabalha: área vestibular, equilíbrio e direção.
3.1.8- Saltar
- saltitar simples, parado
- saltitar andando
- pular com os dois pés, parado
- saci (com um pé e depois com o outro)
- saci (pé dominante)
- saltitar dando pulo (pés alternados)
- saltitar dando pulo e um passo
- saltitar (batendo palmas em cada pulo)
- saltitar (pé dominante – caso tenha)
Preparar: para atenção, equilíbrio, orientação temporal e principalmente lateralidade.
3.1.9- Pular corda
- outros passando a corda no chão (pular com os dois pés)
- outros batendo a corda (pular com os dois pés)
- outros (dando dois pulos)
- outros passando a corda no chão (alternando os pés)
- outros batendo a corda, alternando os pés
- sozinho alternando os pés, parado
- sozinho alternando pés andando para frente e para trás
- sozinho alternando os pés, parado mas batendo, a corda da frente para
trás.
Preparar: para orientação temporal, equilíbrio e atenção.
Observação: as crianças fazem em todas as mobilidades e usam como forma de lazer.
34
3.1.10- Mãos
São feitos exercícios tanto para aprimorar a competência manual, quanto
para estabelecimento de lateralidade.
- pronação e supinação (a criança deitada de bruços no chão);
- pronação e supinação, batendo palmas;
- oponência de dedos;
- pinçamento.
35
CONCLUSÃO
O método adotado é bastante simples e no entanto, muito eficaz. A
Reorganização Neurológica é aplicada a qualquer patologia como por exemplo
distúrbios de aprendizagem, dislalias... através dela pode-se recuperar, desenvolver e
aprimorar as capacidades do ser humano.
Não se trata de movimentos inventados, pois pertencem à própria natureza
humana. Portanto, a natureza é simples, basta que estudemos e conheçamos suas leis
para poder colocá-las em prática com nossos pacientes.
Ao final do trabalho, espero que outros profissionais que lidam com o ser
humano (tais como: pais, professores, terapeutas, psicólogos...) possam se interessar
por este método e estudá-lo para que possam entender um pouco mais da
complexidade do desenvolvimento do homem.
36
BIBLIOGRAFIA
- Fonseca, Vitor da, Manual de Observação Psicomotora – Significação
Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores, Ed. Art Med, Porto Alegre,
1995.
- ______________, Psicomotricidade: Filogênese, Ontogênese e Retrogênese,
Ed. Art Med, Porto Alegre, 1998.
- Ferreira, Carlos Alberto Mattos, Psicomotricidade Da Educação Infantil à
Gerontologia, Ed. Lovise, São Paulo, 2000.
- Palmer, John M., Anatomia para a Fonoaudiologia,Ed. Guanabara Koogan,
Rio de Janeiro, 2003.
- Ferreira, Carlos A., Thompson, Rita & Mousinho, Renata, Psicomotricidade
Clínica, Ed. Lovise, São Paulo, 2002.
- Alves, Fátima, Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção, Ed. Wak, Rio de
Janeiro, 2003.
- Guyton, Arthur C. & Hall, John E., Tratado de Fisiologia, Ed. Guanabara
Koogan, Rio de Janeiro, 1997.
- Grunspun, Haim, Distúrbios Neuróticos da Criança Psicopatologia e
Psicodinâmica, Ed. Atheneu, São Paulo.
37
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I 08
O MOVIMENTO 08
1.1- O Sistema Motor 08
1.1.1- A Via Piramidal 08
1.1.2- A Via Extrapiramidal 09
1.1.3- Cerebelo e Gânglios de Base 09
1.2- O Desenvolvimento dos Seres Vivos 10
1.2.1- Andar, Falar, Pensar 11
CAPÍTULO II 13
DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO NA INFÂNCIA 13
2.1- Reflexos 15
2.2- Habilidades Perceptuais: o que o Recém-nascido 16
Enxerga, Escuta e Sente
2.3- Desenvolvimento Psicomotor da Criança Pequena 17
2.4- Perturbações Psicomotoras 20
2.4.1- Instabilidade Psicomotora ou Hipercinesia 21
2.4.2- Debilidade Psicomotora 22
2.4.3- Inibição Psicomotora 24
2.4.4- Lateralidade Cruzada 25
2.4.5- Apraxia Motora 26
2.4.6- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade 27
CAPÍTULO III 29
REORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA 29
3.1- Etapas de Reorganização Neurológica (exercícios principais) 30
38
3.1.1- Rolar 30
3.1.2- Padronização 31
3.1.3- Rastejar 31
3.1.4- Engatinhar 31
3.1.5- Macaco 32
3.1.6- Marcha 32
3.1.7- Cambalhotas 33
3.1.8- Saltar 33
3.1.9- Pular corda 33
3.1.10- Mãos 34
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 36
ÍNDICE 37
39
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade
Título do Livro: Reorganização Neurológica
Elaborado por Carla Daniela C. Souza
Orientação feita pela Professora Mary Sue
Data de Entrega: _______________.
Comentários:______________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
________________________________________________ .
Avaliado por: ________________________ Grau: _______.
Rio de Janeiro, _________ de ____________________ de __________ .
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