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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
1Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas pela Escola Superior de Ensino Empresarial e Informática (ESEEI) e graduanda do Curso Bacharel em Teologia da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR) Curitiba PR Brasil.
Aprovado em: 10/09/2012 Autor para correspondência: Alexandra Costa de Santana do Rosário Contato: alexandra.curitiba@hotmail.com
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.97-107, jul./set. 2012. 97
A MULHER E O TRABALHO ECLESIÁSTICO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO OLHAR EVANGÉLICO
THE WOMAN AND THE CHURCH WORK: A REFLECTION
FROM THE STANDPOINT OF EVANGELICAL
Alexandra Costa de Santana do Rosário1
RESUMO
O presente artigo busca refletir acerca da emancipação da mulher, suas lutas, seus desejos e suas conquistas ao longo dos séculos; Discutir o impedimento e preconceito contra a liderança e o exercício do ministério eclesiástico pelas mulheres em determinadas igrejas evangélicas; Bem como compreender a função da mulher na atualidade com fundamentos bíblicos. Por meio de revisão de literatura, identificou-se que por muito tempo o mundo foi regido por normas masculinas, sem direito à participação feminina, influenciando até mesmo os autores dos textos bíblicos. São discutidos fundamentos para a visão de alguns líderes eclesiásticos que concordam e dos que não aceitam o ministério ou a liderança eclesiástica feminina. São apresentados argumentos baseados na Bíblia demonstrando que já existiam atuação e liderança feminina no início do ministério cristão. Há uma discussão, com base no contexto em que a Bíblia foi escrita, que tentará esclarecer que tal impedimento não tem respaldo nos textos bíblicos. Procura contextualizar as influências que os autores bíblicos tiveram da cultura de sua época, procurando ressaltar as transformações ocorridas na atualidade e assim, identificar que a mulher pode atuar em conjunto com o homem, sem distinção de funções no que se refere à liderança e administração eclesiástica. Descritores: Mulher, preconceito, evangélicos, liderança, trabalho eclesiástico. ABSTRACT This article aims to study the emancipation of women, their struggles, their desires and their achievements over the centuries; Discuss the prevention and prejudice against the exercise of leadership and church ministry by women in some evangelical churches, as well as understanding the role of actual women with biblical foundations. Through this literature review, we found that for a long time the world was ruled by masculine norms, without the right of female participation, influencing even the authors of the biblical texts. Some grounds are discussed from the view of some church leaders who agree and those who do not accept the ministry or female church leadership. Arguments are presented in the Bible showing that we already had a female acting and leadership since the beginning of the Christian ministry. There is a discussion based on the context that the Bible was written, it will try to clarify that such impediment is unsupported by the biblical texts. Contextualize the influences that biblical authors had in the culture of their time, trying to highlight the changes occurring today and then identify that women can work together with men, without distinction of functions in leadership and church administration. Keywords: Woman, prejudice, evangelical, leadership, church work.
A MULHER E O TRABALHO ECLESIÁSTICO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO OLHAR EVANGÉLICO
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.97-107, jul./set. 2012. 98
METODOLOGIA
O presente artigo apresenta uma abordagem fundamentada em pesquisa bibliográfica, no
que diz respeito a livros e artigos publicados na internet referente ao papel da mulher na sociedade e
na instituição eclesiástica sob o olhar evangélico, utilizando-se as seguintes palavras-chave: Mulher,
preconceito, evangélicos, liderança, trabalho eclesiástico. A pesquisa bibliográfica apresenta o
conjunto de conhecimentos humanos reunidos nas obras. Tem como objetivo essencial conduzir o
leitor a determinado assunto e fomentar a produção e continuidade de pesquisas do gênero. Para a
elaboração deste estudo foram percorridas 06 etapas: 1) Escolha e delimitação do tema; 2)
Elaboração do projeto de pesquisa; 3) Levantamento de dados: compilação do que foi publicado
sobre o assunto; 4) Análise dos dados levantados; 5) Redação preliminar; 6) Revisão: ajustes
metodológicos, conceituais e referenciais teóricos. A coleta de materiais deu-se no período de
agosto de 2010 a outubro de 2011. A busca resultou num total de 12 publicações.
INTRODUÇÃO
O preconceito existente com relação ao sexo feminino no tocante à sua atuação profissional
na sociedade e no ministério eclesiástico existe há muitos séculos. A sociedade pôde presenciar o
sofrimento, a alienação e a exclusão social que a mulher viveu durante muitas gerações. A maioria
das mulheres foi tratada como ser insignificante, com papéis e funções delimitadas, sendo
responsáveis pelas tarefas domésticas e educação dos filhos. As mulheres não tinham direito à
profissão, o acesso à escola era limitado, e consequentemente, elas viviam sob domínio do homem,
primeiro pelo pai e depois pelo esposo.
O presente artigo busca refletir a origem e a razão dos preconceitos contra a liderança e o
exercício do ministério eclesiástico pelas mulheres em determinadas igrejas evangélicas, bem como
acerca da emancipação da mulher, suas lutas, seus desejos e suas conquistas ao longo dos séculos.
Ao contrário do que muitas pessoas pensavam, a luta feminina não tinha como propósito alcançar a
superioridade sobre os homens, mas sim, o movimento feminista buscava igualdade dos direitos
civis e políticos, bem como o acesso ao ensino superior e oportunidades profissionais. Muito foi
questionada a inteligência feminina, mas gradativamente a sociedade pôde compreender que a
mulher foi preparada para pensar, criar e desenvolver projetos, assim como o homem. O mundo era
regido por normas masculinas, sem direito à participação feminina. Entretanto, aos poucos as
mulheres tomaram consciência de que este estereótipo poderia ser transformado, concedendo à
mulher um lugar de maior dignidade e condizente com o seu ser.
O trabalho também discute, através de revisão de literatura, alguns fundamentos para a visão
de alguns líderes eclesiásticos que não aceitam o ministério ou a liderança feminina. Na sua
maioria, eles se firmam em interpretação de textos isolados da Bíblia que declaram que a mulher
deve ficar calada na igreja, ser obediente e dominada pelo seu esposo. Da mesma forma,
contrapondo à esta perspectiva, apresenta opiniões de outros líderes religiosos que entendem como
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contribuição importante a atuação feminina no ministério eclesiástico, pois creem que as mulheres
também podem ter sua contribuição própria a oferecer. Paralelamente, são apresentados argumentos
baseados na Bíblia demonstrando a atuação feminina no início do ministério cristão. É apresentada
uma discussão, com base no contexto em que os textos bíblicos foram escritos, que tentará
esclarecer se tal discriminação e impedimento têm respaldo nos textos bíblicos. O artigo sugere
alternativas de compreensão procurando contextualizar as influências que os autores bíblicos
tiveram da cultura de sua época, procurando ressaltar as transformações ocorridas na atualidade e
assim, identificar qual a função da mulher na atualidade, sem desconsiderar, entretanto, as
recomendações bíblicas.
1. A CONSTRUÇÃO DO ESTEREÓTIPO DA MULHER
Há séculos a mulher foi vista como sujeito secundário, limitada e dependente do homem. Ao
analisar a sua história, é possível perceber a origem deste estereótipo. Suas raízes foram
transmitidas de geração em geração, predominando em todas as classes sociais a imagem da mulher
como sexo frágil, dependente do homem, alimentando a ideia de que a mulher nasceu para
desempenhar atividades limitadas, pré-definidas e diferentes do homem.
No entanto, o valor das mulheres estava associado a certas funções e tarefas. A mulher
justificava sua existência como filha pelo seu futuro papel de gerar filhos para seu marido. As
mulheres que não conseguiam cumprir as responsabilidades deste papel (as estéreis), as que eram
infiéis a essa missão (prostitutas, adúlteras), ou as que danificavam a autocompreensão de Israel
pela idolatria (as mulheres estrangeiras) – todas essas eram rejeitadas pela sociedade. (1)
Existe a opinião de que é interessante que as mulheres não aspirem profissões como as dos
homens, para preservar o homem do serviço de sua esposa, pois uma vez que elas não têm um
compromisso externo, estaria sempre à disposição do marido. Este teria como principal
responsabilidade trabalhar fora e ter a garantia de um lar aconchegante. Por outro lado, embora
algumas mulheres aceitem esta condição, neste caso, elas não teriam chance de optar por outra
função dentro daquilo que elas sonham, e ficariam à dedicação exclusiva do lar, cumprindo o papel
de esposa e mãe.
Para o homem, pode em alguns casos ser cômodo que a mulher permanecesse como apenas
uma ajudante, no que diz respeito a administrar o lar e cuidar da educação dos filhos. Neste caso, o
homem estaria sempre numa posição superior à esposa, pois têm controle dos atos dela e de suas
limitações. A esposa não teria, nestas circunstâncias, oportunidade para desenvolver-se
integralmente como pessoa, como profissional atuante na sociedade. Seu papel sempre estaria em
servir seu esposo. E este, muitas vezes, poderia ajudá-la a lembrar que esta realidade jamais
mudaria, lisonjeando a sua função.
Sob o disfarce de uma “alta consideração” do que a mulher é na sua “caluniada”
inferioridade, os homens pretendem, mediante a gratidão mais hipócrita, que a mulher permaneça
onde sempre esteve, pelo menos entre nós. Às vezes recebe em paga palavras consideradas
agradáveis - “todas as mães são belas”, disse monsenhor Escrivá; outras vezes, se possível, gestos,
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de modo que a mulher se sinta cada vez mais gratificada com a sua condição “feminina”. Mas com
isso se tenta fazer persistir sua condição de estupidificação, de forma que possa continuar sendo
objeto, simples coisa, a serviço do homem, e nada mais...(2)
Com o passar dos séculos, as mulheres já podiam reconhecer que trabalhando fora, poderiam
se tornar independentes e respeitadas na sociedade. Elas passaram a compreender que estavam
alienadas quando não tinham liberdade para decidir sobre as suas vidas. Nem todas as mulheres
estavam satisfeitas e felizes com sua condição de dependente, incapaz e inferior. Ao longo dos
séculos, já havia em muitas mulheres o desejo de se libertarem do fardo opressor a elas imposto
pela sociedade.
Algumas mulheres se conscientizaram que poderiam recusar a alienação em que viviam.
Assim, surge a iniciativa de algumas delas após tantos séculos de silêncio e sujeição. Existe a ideia
equivocada de que a intenção principal dessas mulheres era a de serem superiores aos homens, mas
na realidade, a luta era pela igualdade. Lutavam pelo direito ao trabalho, ao estudo, ao
desenvolvimento intelectual, à escolha, à decisão e à administração, assim como o homem. Em
meados de 1830, algumas mulheres tiveram iniciativas para romper o estereótipo criado. Foram
séculos de lutas para terem os seus direitos respeitados.
É difícil precisar a data exata em que foi empregada pela primeira vez a palavra feminismo.
Há notícias de que foi usada no século XIX, quando do surgimento na França de um movimento de
mulheres, nos anos 1830/1840. Segundo dados da época, apesar de aquele movimento ter tido suas
origens nas transformações econômicas ocorridas, não incluía em seu programa nem as lutas pela
melhoria das condições de vida das mulheres proletárias, nem tampouco as lutas de direitos
políticos da mulher, em geral. Dos itens do programa constavam as primeiras reivindicações:
igualdade de direitos no matrimônio e no acesso às profissões liberais. Eram reivindicações que
caracterizavam as aspirações de determinadas camadas sociais: média e superior.(3)
Algumas pessoas da sociedade tinham a visão de que a mulher também era capaz de exercer
as mesmas atividades que o homem e serem valorizadas. Existem aqueles que as defendem pelo
fato das mulheres não terem sido criadas e educadas a pôr a sua inteligência em prática.
No entanto, o mais combativo defensor desses direitos e dessa igualdade, entre os séculos
XVII e XVIII, foi, sem dúvida, Poulain de La Bar, que publicou em 1673 a obra Sobre a igualdade
dos sexos, na qual condena a falta de liberdade, de instrução e de oportunidade das mulheres. E foi
ainda naquele século que Charles Rollin (1661-1741), historiador e humanista, defendeu a
necessidade de um programa de educação superior para as mulheres.(3)
Porém, aos poucos, a mulher foi conquistando o seu espaço e desfazendo a imagem a ela
atribuída. Receberam, a princípio, espaço em alguns setores, e conforme demonstravam os seus
talentos e capacidade, outros campos a elas foram confiados. Embora tendo o seu direito
conquistado de trabalhar fora como os homens, as mulheres enfrentaram discriminações por longos
períodos. A submissão e dependência apenas foram transferidas dos pais para o patrão. Havia muita
resistência em libertar a mulher de uma cultura opressora e dominadora.
Apesar de saírem de casa para trabalhar, essas mulheres continuaram ligadas exclusivamente
ao espaço doméstico. Para elas, a indústria era um prolongamento da casa, onde o patrão assumia o
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lugar do pai. A entrada no mercado de trabalho era determinada pela família, que decidia onde e
quando ela iria trabalhar. O trabalho na fábrica era aceito como uma tarefa. As características da
obediência e da submissão eram transportadas para o ambiente de trabalho. Elas não decidiam sobre
a sua vida, alguém decidia por elas. O salário ganho era entregue, muitas vezes na própria fábrica,
diretamente aos pais. Sem liberdade e sem autonomia para reagir diante da autoridade paterna ou
paternal, elas ajustavam-se ao sistema de relações de trabalho que lhes era imposto.(4)
Uma vez livre, independente e pensante por si só, não foi suficiente para conquistar a
verdadeira igualdade. Existe um pensamento até mesmo no século XXI de que as atividades
domésticas pertencem à mulher. Decidindo ela por trabalhar fora, ela terá que conciliar com as
atividades do lar e filhos, que não são poucas. Os homens, aos poucos, vêm compreendendo que da
mesma forma que as mulheres contribuem no orçamento doméstico, a responsabilidade pelas
atividades do lar também precisam ser divididas para que não sobrecarregue nenhuma das partes.
Contudo, após uma longa história, todo processo de mudança é também lento e demorado no que
tange à conquista da igualdade de gênero.
O ingresso das mulheres no mundo do trabalho, ao contrário das expectativas femininas,
significou antes de mais nada a dupla jornada de trabalho – acumularam-se as tradicionais tarefas
domésticas e novas responsabilidades no emprego. O passo dado pelas mulheres em direção à
esfera pública, portanto, não teve correspondência dos homens em direção à esfera privada.(5)
Por seu lado, as mulheres esperam que exista da parte dos homens a consciência da
cooperação, o sentimento de reciprocidade pelo empenho delas se desdobrarem a conseguir cumprir
todos os seus papéis. Caso não haja colaboração mútua de ambos os gêneros, poderão ocorrer
naturalmente os conflitos.
2. LIDERANÇA ECLESIÁSTICA EVANGÉLICA FEMININA
Com relação ao campo ministerial eclesiástico, no tocante à atuação das mulheres como
pastoras e pregadoras, foi possível perceber, ao longo da história da igreja evangélica, como era
perceptível o desempenho das mulheres no ministério em diversas denominações. Sua disposição
era bastante atuante e assumiam responsabilidades. Há denominações que não admitem cargos de
liderança à mulher, mas isso não é posição unânime, pois outras reconhecem a dedicação e
empenho manifestado pelas mulheres.
David Yonggi Cho no início do ministério diagnosticou que as mulheres respondiam
primeiro e que faziam o trabalho com mais qualidade e responsabilidade que os homens. Isto fez
com que ele quebrasse os dogmas e preconceitos culturais da Coréia, em relação à liderança e ao
pastorado feminino. Hoje na sua igreja, com mais de setecentas mil pessoas, o potencial feminino é
o grande destaque de crescimento do Reino de Deus naquele país.(6)
A própria Bíblia, considerando o fato de ela ser a base da fé cristã e também o fundamento
de muitos preconceitos, devido a determinadas interpretações que dela se faz até hoje, mostra como
foi parte da atuação feminina. Muitas igrejas ignoram a história que favorece as mulheres, pois
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estão limitadas a um contexto histórico social que por muito tempo não apoiou a manifestação
feminina.
Embora integrantes de uma sociedade patriarcal, algumas mulheres tiveram participação na
estrutura familiar. Conseguiram se sobressair, utilizar sua criatividade e talento, tendo os seus
nomes reconhecidos na Bíblia. Figuras femininas na Bíblia puderam deixar exemplos para as
mulheres de qualquer geração.
Mulheres como Sara que pela fé gerou a Isaque, dando início a formação da nação israelita,
quando não mais ovulava. Descrita na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11. (…) Ana, (…) orou
incessantemente a Deus, pedindo para engravidar, fez um pacto com Ele. Esse pacto consistiu em
dar o filho, depois de cumprido o tempo, de entregá-lo para servir a Deus no templo. Conforme I
Samuel 1.1-25. Raabe, a prostituta, que a despeito do estigma de sua profissão, foi capaz de dar
cobertura aos espiões de Israel, e crendo na promessa de sua casa ser poupada e assim fazer parte da
linhagem que leva até ao rei Davi. Conforme Josué 2. Débora, que ocupou um lugar de destaque na
liderança entre o povo, tida como profetiza e juíza (…),conforme Juízes 4.4-10. Hulda, a profetiza,
cuja incumbência foi decifrar o rolo contendo o livro da lei encontrado no templo, durante uma
reforma feita no período do rei Josias, em 621 a.C, da tribo de Judá.(7)
O Antigo Testamento fala que as mulheres também exerceram ministérios. Miriã era
profetiza do Senhor. Exerceu plenamente seu ministério e teve o reconhecimento do povo e de
Deus. Influenciou o povo e foi um exemplo. Ester foi escolhida por Deus para livrar e salvar o
povo. Teve ousadia para entrar na presença do rei sem ser convocada e este a ouviu, dando a ela
autoridade para governar. Raquel era pastora de ovelhas, embora houvesse na sua maioria pastores,
existiam mulheres que apascentavam ovelhas e sabe-se que ela muito se destacou. Jesus Cristo
valorizou as mulheres no Novo Testamento, numa cultura onde as mulheres não eram consideradas,
Jesus resgatou a sua dignidade. Muitas religiões ainda hoje menosprezam as mulheres, mas o
Cristianismo mostrou que diante de Deus não há distinção. São mulheres dignas de nota e exercem
influências até os dias atuais.
O Cristianismo declarou que homem e mulher são iguais diante de Deus (Gl 3.28). O
próprio Jesus possuía um grupo de mulheres que lhe serviam com os seus bens e lhe prestavam
assistência (Lc 8.1-3). Jesus quebrou o protocolo em diversas ocasiões, quando absolveu e justificou
muitas mulheres discriminadas pela própria religião judaica (...) Foi tocado por uma mulher impura,
e perdoou o seu pecado (Mt 9.19-22). Aceitou ser beijado por uma mulher pecadora, e perdoou o
seu pecado (Lc 7.36-48). Conversou sozinho com uma mulher samaritana, e lhe ofereceu a vida
eterna (Jo 4.6-42). A religião rabínica degradava a posição da mulher. Rabino algum teria se
“rebaixado” para instruir uma mulher, sendo, sobretudo uma mulher samaritana, como Jesus fez.
Absolveu uma mulher pega em flagrante adultério, e a perdoou (Jo 8.1-11). Quatro mulheres
indignas fizeram parte da Genealogia de Jesus: Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba (Mt 1.3,5,6,16). As
mulheres permaneciam ativas na Igreja Primitiva, perseverando em oração (At 1.14). As mulheres
foram as primeiras a verem Jesus Ressuscitado (Mt 28.1-10). As mulheres eram grandes
trabalhadoras do Evangelho (Fp 4.3). E, muitas dessas mulheres foram citadas pelo apóstolo Paulo.
(Rm 16.3-6 e12).(8)
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O Novo Testamento apresenta muitas mulheres que trabalharam na construção inicial do
Reino de Deus. Jesus quebrou preconceitos, pois naquele tempo os homens não se dirigiam às
mulheres na rua e ainda assim, atendeu a sua súplica. Febe foi um exemplo na assistência social. Ela
servia na igreja e nas casas, sem cessar. Priscila foi uma referência de serviço e lembrada por seu
conhecimento do Evangelho. Rifena e Trifosa foram destaques no evangelismo, pois
desempenhavam funções de liderança e de pregação do Evangelho. Renunciaram suas vidas para
anunciar o evangelho, tanto que foram aprisionadas.
Existem em diversas denominações impedimento para que as mulheres preguem, sejam
pastoras ou líderes. A elas só é permitido exercer algumas das funções tidas como masculinas
quando na ausência do líder masculino.
Temos também a história da missionária Leonete Cunha, hoje pastora do MIR que trabalha
comigo na Rede de Mulheres. Ela trabalhou alguns anos nos sertões nordestinos, ganhando vidas,
pastoreando, visitando, cuidando, orando, jejuando, ensinando àquele povo, mas, na hora de
ministrar a ceia ou batizar, um obreiro provisionado era convocado para aquele momento.(6)
Muitas mulheres rompem os preconceitos e se firmam na crença de que o propósito de Deus
é usar a todos, desde que haja um compromisso com o Reino de Deus. Elas compreendem os textos
bíblicos que recusam a sua atuação no ministério como sendo direcionado àquela época, quando as
mulheres não possuíam a liberdade e independência que hoje já foi conquistada.
3. A COMPREENSÃO DA FUNÇÃO DA MULHER FUNDAMENTADA NA BÍBLIA
Para alguns autores, o maior argumento que sustenta o preconceito contra a atuação
feminina no ministério eclesiástico baseia-se em textos extraídos da própria Escritura. Oliveira
afirma que a Escritura não pode ser contestada, pois se está escrito, é pra ser obedecido. Esquece-se,
porém, que o texto precisa ser interpretado. O autor ainda deixa explícito que a menção feita pelo
apóstolo Paulo foi proferida num período sem preconceitos.
Antes de mais nada, convém notar que há proibição taxativa, que não deve ser ignorada
nem transgredida por quem quer que seja, como passamos a verificar. Escrevendo a Timóteo, Paulo
faz uso de sua autoridade apostólica, e ordena: “A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão.
E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em
silêncio” (1Tm 2.11-12) (...) É preciso não esquecer, que estes preceitos discriminativos que
estabelecem as distâncias ou limites de autoridade – entre o homem e a mulher procedem do Novo
Testamento, quando a mulher já estava liberta dos preconceitos sociais, pela autoridade e pela graça
de Jesus.(9)
Embora o texto mencionado anteriormente tenha sido escrito no Novo Testamento, as
palavras de Paulo à cidade de Corinto e também a Timóteo, fonte principal de toda argumentação
contra a mulher atuar no ministério cristão, foi dirigido a um povo determinado, num lugar
delimitado e principalmente, numa época específica. Assim, é contra os métodos de interpretação
bíblica fundamentar doutrinas em textos isolados. Primeiro, não devemos construir uma doutrina
com base numa passagem obscura. (...) Se algo for importante, isso será ensinado nas Escrituras de
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forma bem clara, § [SIC] provavelmente em mais de um lugar”.(10) Há muitas polêmicas em torno
do texto encontrado na carta de Paulo aos Coríntios: “As mulheres estejam caladas nas igrejas,
porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei” (1 Co 14.34) e
ainda: “A mulher aprenda em silêncio, com toda sujeição” (1 Tm 2.11).
Para esclarecer, precisamos levar em conta que parte destes ensinamentos estava debaixo de
um contexto social característico da época em que Paulo vivia. Naquela estrutura social, e, portanto,
na estimativa da maioria dos homens judeus, as mulheres não eram tidas em conta. Muitos rabinos
até duvidavam que as mulheres tivessem alma. Um escravo podia ler as Escrituras nas sinagogas,
mas a mulher judia não tinha essa permissão; até mesmo uma criança do sexo masculino poderia
fazer a leitura, caso fosse capaz de fazê-lo, mas não as mulheres. Na realidade, os rabinos radicais
afirmavam: “É preferível queimar a lei a ensinar uma mulher”.(6)
É um equívoco hermenêutico interpretar os textos sagrados de forma a defender uma opinião
baseada em preconceitos de gênero, principalmente em pleno século XXI, desvalorizando a
importância da mulher, principalmente ignorando o ato da criação quando Deus considera ambos,
macho e fêmea. Há uma corrente que afirma que a origem deste preconceito contra a mulher até
dentro da igreja parte do livro Gênesis, quando fala que o homem deve dominar a Terra.
No entanto, é possível estudar cada versículo para fazer a correta interpretação. No
versículo: “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra e
sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se
move sobre a terra” (Gn 1.28). Está explícito que Deus deu a ordem a ambos: macho e fêmea, ou
seja, os dois devem exercer autoridade, um auxiliando o outro para administrar os bens deixados
por Deus. Se o homem ou a mulher quiser dominar um sobre o outro, não está agindo conforme os
propósitos da Criação. A ordem de Deus para o macho e a fêmea foi: “Dominai”. Nós fomos
vocacionados por Deus para dominar. Domínio fala de governo, de liderança em todas as áreas:
familiar, política, governamental, empresarial, econômica, educacional e religiosa.(6)
Textos isolados deram espaço a interpretações fora de contexto. É importante compreender
que a mulher que vive sob domínio e jugo do homem não consegue cumprir o plano original da
criação, a saber, atuar como auxiliadora e governar junto ao homem. Vários autores utilizam
diversos textos para fundamentar uma concepção machista, o que lhes coloca em posição superior
às mulheres, baseando os seus argumentos em textos isolados sem analisar o contexto em que os
textos foram escritos.
Max Küchler examinou algumas passagens das cartas do Novo Testamento e perguntou por
que os argumentos misóginos eram tão poderosos. Ele concluiu que isto aconteceu graças a uma
exegese1 criada pelos homens para os homens, que interpretou e recontou a Bíblia para prejudicar as
mulheres. Estes exegetas aproveitaram todas as chances de interpretar quaisquer peculiaridades, na
forma ou no conteúdo, de tal modo que as mulheres fossem mantidas em seu lugar no que se refere
à conduta e à posição, bem como à confiança e aos direitos, e então apresentaram a ética bíblico-
judaico como plano de Deus para a criação. (11)
1 Exegese é a interpretação e análise profunda de um texto, considerando o contexto histórico, social, cultural em que ele foi escrito.
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A Bíblia, embora inspirada por Deus, foi escrita numa época em que os homens eram os
líderes da sociedade, atuantes e os únicos que exerciam posição e governavam. Pode-se
compreender que muitos textos foram influenciados pela cultura da época, logo, pelo
patriarcalismo. É relevante afirmar que na época em que a Bíblia foi escrita já havia preconceitos
com relação à mulher. Elas eram oprimidas, mas de forma sutil. Os homens eram destaques em
todas as áreas. As mulheres tinham pouca ou nenhuma chance de atuar de forma diferente a que já
estava estabelecida. E esta visão perdurou na sociedade por muitos anos.
O patriarcado, intimamente associado com hierarquia, é um modo de ordenar a
realidade de forma que um grupo, no caso o sexo masculino, é tido como superior ao outro, o
sexo feminino (...) A opressão costuma ser sutil numa cultura patriarcal (...) A estereotipagem das
funções dos sexos foi legitimada por muitas religiões e pela sociedade ocidental durante milênios.
As mulheres que extrapolam o “seu lugar” e assumem posições normalmente reservada aos homens
são “exceções”. As exceções podem até ser louvadas pelos homens – enquanto permanecem
exceções. Mas quando há perigo de que a exceção se torne a norma, os homens se rebelam.
Consequentemente, o patriarcado funciona melhor quando o sexo oprimido, o sexo feminino,
suporta o status quo e opta pela segurança que sua função oferece.(12)
Compreendendo que os textos foram escritos por uma cultura que transmitiu marcas do
preconceito e estabeleceu isto como verdade imutável, eles precisam ser reinterpretados para
encontrar o seu sentido original. Este recurso é indispensável para investigar o fiel propósito para o
qual o texto foi escrito.
Uma vez que os textos bíblicos são historicamente condicionados e foram elaborados por
uma sociedade patriarcal, eles são de índole patriarcal. Por isso devem ser lidos com suspeita.
Aqueles aspectos dos textos que reforçam a relegação das mulheres pela Igreja e pela sociedade a
uma posição inferior (i.é, tudo que vai desde a poligamia até a assemelhação da iniquidade de Israel
à prostituição) deve ser denunciado, e se possível, reinterpretado.(12)
Portanto, faz-se necessário uma reflexão para compreender os acontecimentos da história,
sem desconsiderar os contextos da época, para somente então formular uma opinião acerca da
atuação feminina no ministério eclesiástico ou em qualquer outro campo da sociedade. Para tanto,
qualquer ideia, crença ou visão devem estar fundamentadas em princípios analisados por meio de
interpretação aprofundada e abrangente para não incorrer nos mesmos erros cometidos pelos nossos
antepassados, quando engessaram a atuação feminina, impedindo-as de contribuir para o progresso
econômico e intelectual da sociedade, assim como retardaram o crescimento, propagação e
proclamação do evangelho de Jesus Cristo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade atual ainda enfrenta preconceitos e discriminação com relação à figura
feminina. Isto é possível perceber nos lares, onde mesmo a mulher possuindo trabalho externo
remunerado, a maior parte das atividades domésticas, bem como a educação dos filhos, recai
exclusivamente ou majoritariamente sobre os seus ombros, duplicando a sua jornada de trabalho.
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Em nossa sociedade, a mulher embora avançando consideravelmente na carreira profissional,
inclusive já está comprovada que a maior parte das cadeiras universitárias a elas pertence, ainda
assim, em outras atividades pode chegar a receber menores salários exercendo a mesma função do
homem.
No ministério eclesiástico, ainda existe preconceito em algumas denominações em confiar
às mulheres um cargo de liderança. Em outros casos, a liderança é amplamente concedida, porém
trabalha sem receber uma remuneração ou reconhecimento específico sobre o trabalho realizado,
quando são esposas de líderes ou pastores (embora muitas vezes sejam chamadas de pastoras, em
sua igreja).
O texto apresentou a origem destas discriminações, nossos antepassados comprovam que
por séculos a mulher possuía uma função pré-estabelecida. Seu papel era de gerar filhos, cuidar do
lar e satisfazer as necessidades de seu esposo. Sua condição era de total dependência e submissão ao
homem. Impedida de sonhar, de aspirar um futuro mais agradável que viesse a valorizá-la.
Depois de muito tempo, mulheres se unem para encontrar espaço profissional para si em um
mundo ditado por homens. Foram anos de lutas para que tivessem os seus direitos respeitados e
seus esforços reconhecidos. A total liberdade ainda não foi alcançada, mas gradativamente ela vem
sendo conquistada e ampliada.
A pesquisa destacou ideias nas quais se fundamentam autores contrários à liderança
feminina na igreja. Seus argumentos estão respaldados na Bíblia. Por meio de uma interpretação
minuciosa bíblica foi possível observar que alguns textos bíblicos foram influenciados pelo
patriarcado, ou seja, pela cultura predominantemente masculina que produziu sua interpretação,
pois se tratava de um contexto onde as mulheres não tinham autoridade, eram totalmente submissas,
diferente da cultura nos tempos atuais.
Para contrapor os argumentos que impedem as mulheres de atuar na igreja, o presente artigo
proporcionou um retorno à história e aos textos bíblicos a partir de outro olhar, o da hermenêutica
histórico-crítica demonstrando que mesmo no Antigo, como no Novo Testamento, as mulheres já
exerciam funções de liderança no ministério eclesiástico.
Assim, é possível compreender que a mulher foi criada para governar ao lado do seu esposo,
com respeito, igualdade, auxiliando-o nas suas atividades. Da mesma forma que o dom da liderança
não pertence a todos os homens, algumas mulheres foram dotadas de habilidades que a tornam
eficientes administradoras. Isto não é, porém, regra para todas.
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A MULHER E O TRABALHO ECLESIÁSTICO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO OLHAR EVANGÉLICO
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12 Laffey AL. Introdução ao Antigo Testamento: perspectiva feminista. São Paulo: Paulus; 1994.