MEMÓRIAS ITAPORANENSES: O USO DO FACEBOOK COMO ESPAÇO DE
MEMÓRIAS DA CIDADE DE ITAPORÃ Paulo Rodolfo Bork Zanata1
RESUMO: Criado por moradores da cidade de Itaporã - MS, o perfil do facebook “Itaporã-
MS: O povo contando sua história” se apresenta como uma importante ferramenta para
eventuais pesquisas, sobretudo, na área de História e memória. Com isso, esse texto se propõe
não apenas apresentar esse perfil como também analisar os usos desse por moradores da
cidade considerando que os mesmos publicam com certa frequência desde fotografias e
mensagens em referência à história da cidade. Além da análise do perfil e suas publicações,
também será de suma importância entrevistas de História Oral realizadas com parte dos
moradores que utilizam o perfil proporcionando assim um material para análise permitindo
resultados que melhor apresentem os significados e construções, além da própria disputa que
se tem por memórias a respeito dessa cidade interiorana que em muitos aspectos dificulta
estabelecer características que diferencie ou delimite o mundo rural do urbano, já que boa
parte de sua população, apesar de viver na urbe, trabalha na zona rural.
Palavras Chave: Memória; Cidade; História Oral; Facebook.
ABSTRACT: Created by residents of the city of Itaporã - MS, the profile of facebook
"Itaporã-MS: The residents telling their story" presents itself as an important tool for eventual
research, especially in the area of History and memory. This text proposes not only to present
this profile but also to analyze the uses of it by city dwellers considering that they publish
with certain frequency from photographs and messages referring to the history of the city. In
addition to analyzing the profile and its publications, it will also be of utmost importance Oral
History interviews conducted with part of the residents that use the profile thus providing a
material for analysis allowing results that best present the meanings and constructions,
besides the very dispute that has by memories about this inner city that in many ways makes it
difficult to establish characteristics that differentiate or delimit the rural from the urban, since
a good part of its population, although living in the city, works in the rural area.
Keywords: Memory; City; Oral History; Facebook.
Este texto traz algumas considerações a respeito de um material disponibilizado ao
público na rede social Facebook, tomado como fonte de pesquisa para a dissertação de
1 Graduado em História-Licenciatura pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD no ano
de 2016. Atualmente (2018) é bolsista do Programa de Pós-Graduação em História da UFGD.
mestrado intitulada Memórias Itaporanenses: Trajetórias de vida e trabalho entre as décadas
de 1950 e 1970 em produção pelo autor desse texto. Itaporã MS: O Povo Contando Sua
História é um perfil do Facebook criado por moradores da cidade de Itaporã com o objetivo
de apresentar memorias sobre a cidade e parte de seus moradores.
É importante esclarecer que se prefere aqui o uso do termo “fonte” ao invés de
“documento” para se referir ao material analisado pelo historiador por entender que esse, o
conceito de fonte, abrange de forma mais lúcida uma grande variedade de materiais como
possibilidades de pesquisa histórica.
No século XIX, a história buscando se afastar da filosofia e ser reconhecida enquanto
ciência teve como importante influência a escola metódica positivista que preconizava uma
abordagem objetiva e linear dos fatos onde poderiam ser obtidos através dos documentos
escritos acreditando, assim, que era possível ao historiador o conhecimento do real ou do
passado como realmente foi através dos documentos.
Com isso, o termo “documento” serviu como referência aos materiais
impressos/escritos, que muitas vezes priorizavam informações a respeito de uma parcela da
sociedade que normalmente tinha membros que detinham o poder, como autoridades oficiais,
chefes de estado, figuras ilustres etc. O documento escrito foi entendido como detentor da
verdade e por isso, deveria ser manuseado pelos historiadores de forma a reproduzirem suas
informações integralmente sem uma análise crítica a respeito de seus conteúdos ou sobre as
condições de sua produção exceto se fosse para verificação de sua autenticidade.
No entanto, essa forma de fazer história sofreu um desgaste e o surgimento de novos
pensadores a respeito da disciplina histórica e do trabalho com os documentos possibilitou o
surgimento de novas escolas como a escola francesa dos Annales, no início do século XX, que
influenciou e influencia ainda hoje a academia brasileira.
Passadas três gerações de pensadores dos Annales que divergiram entre si sobre certos
aspectos, - principalmente com relação as temporalidades pensadas pela segunda geração - a
partir da terceira geração com a aproximação às temáticas e objetos antes afastados como a
história política por exemplo, ampliam-se em definitivo as possibilidades para a pesquisa
histórica que agora passa a levar em consideração tudo o que representa registros da ação
humana no tempo.
É importante considerar também a contribuição de outros pensadores como os
historiadores italianos que através da microanálise histórica trouxeram a possibilidade do
trabalho com diferentes escalas de observação contribuindo também para desconstruir a ideia
do trabalho com generalizações através do olhar micro para eventos/acontecimentos e/ou
personagens do cotidiano que ao pesquisador podem passar por insignificantes.
Com isso tem-se uma nova maneira de pensar o conceito de documento histórico, pois,
“Em síntese, documento histórico é qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente
ou deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo diálogos entre a
subjetividade atual e a subjetividade pretérita” (KARNAL e TATSCH, 2015, p. 24).
Porém, antes de mais nada, é preciso frisar que apesar da ampliação da noção do
conceito de documento esse não é “qualquer coisa”, uma vez que
Em síntese, a noção de documento ampliou-se muito mais do que os historiadores tradicionais
queriam, mas, igualmente, não atingiu o patamar de “qualquer coisa” que certos
vulgarizadores do pós-modernismo pregavam. Ocorreu, por certo, um esgarçamento do
conceito (KARNAL e TATSCH, 2015, p. 16).
De certa forma, o esgarçamento do conceito de documento contribui para a inserção de
uma variada gama de vestígios deixados pela ação humana ao longo do tempo, incluindo a
possibilidade de se pensar em uma história do tempo presente. No entanto, como Karnal e
Tasch (2015) apontam existem limites para essa abordagem documental, pois, entende-se que
a noção de documento passa pela escolha do historiador no momento em que seleciona quais
os materiais que irá trabalhar. Sendo assim, o que é considerado fonte para um pode não ser
para outro. Depende em muito do objeto de investigação e das perguntas que o historiador
pretende responder.
Conforme já apontado anteriormente, aqui se prefere o uso do termo “fonte” ao invés
de “documento” por entender que esse termo representa de forma mais clara a grande
variedade de objetos possíveis de análise para o historiador. Nesse sentido, o autor desse
texto, tem trabalhado já a algum tempo, desde a graduação, com fontes orais utilizando a
metodologia da História Oral e que tem dado conta dos problemas trabalhados nas Iniciações
Científicas produzidas nesse período.
Em se tratando do trabalho com memórias de sujeitos envolvidos com o trabalho no
campo, na época da graduação com peões de fazendas de gado, a metodologia de História
Oral correspondeu às inquietações da pesquisa naquele momento, fato esse que contribuiu
para a continuidade com essa metodologia e com esse tipo de fonte para o projeto de
Dissertação de Mestrado.
Entretanto, nesse ano de 2018, um novo tipo de fonte tem chamado a atenção e está se
mostrando potencialmente satisfatório para complementar as informações das fontes orais.
Um perfil do Facebook criado por moradores da cidade de Itaporã que postam continuamente
mensagens e sobretudo fotografias de espaços da cidade e de algumas famílias tidas como
pioneiras na construção da mesma. É sobre esse material que a discussão será desenvolvida
nas próximas páginas, mas não sem antes trazer algumas informações gerais sobre a cidade de
Itaporã.
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE ITAPORÃ
Itaporã é um município do interior do Estado do Mato Grosso do Sul e tem como
municípios limítrofes Dourados, Douradina, Maracaju e Rio Brilhante. De acordo com dados
do IBGE (2011) contou com 21.158 habitantes em 2011 e tem uma área de 1.322 Km².
Itaporã também é conhecida como a “Cidade do Peixe” por possuir a maior lâmina d’agua do
estado em matéria de criação e produção de peixes.
A agricultura é grande responsável pela renda do município tendo como principais
produtos cultivados a soja com 144.000 toneladas, seguida do milho com 113.118 toneladas e
do arroz com 26.400 toneladas, conforme Censo Agropecuário (IBGE, 2006).
Mapa 1: Localização do Município de Itaporã
Fonte: OLIVEIRA, 2012, p. 16.
A fundação do município é datada de 1953 pela Lei 659 de 10 de dezembro deste ano
e foi ratificada pela Lei nº 370 de 31 de julho de 1954, integrando-se “[...] à comarca de
Dourados, sendo nomeado o senhor Durval Gomes da Silva para administrador do município
até a primeira eleição” (Perfil Histórico de Itaporã, 1996, p. 9). A primeira data, 1953,
inclusive, é alvo de polêmicas e controvérsias, pois, antes da emancipação Itaporã teria que ter
sido primeiramente Distrito de Dourados o que não ocorreu, já que antes de se emancipar
Itaporã era uma colônia agrícola, a Colônia Municipal de Dourados.
De qualquer modo, não é pertinente a esse texto, pelo menos nesse momento, trazer a
discussão a respeito do contexto e da movimentação a respeito da emancipação de Itaporã.
Isso ficará por conta da dissertação de mestrado em produção no momento. Aqui, o interesse
se limitará a observações a respeito do perfil do Facebook criado por moradores itaporanenses
para representarem histórias sobre a cidade.
SOBRE O PERFIL ITAPORÃ MS: O POVO CONTANDO SUA HISTÓRIA
Criado a pouco mais de dois anos, pelo ex-vereador Antonino Rebeque, o perfil
Itaporã MS: O Povo Contando Sua História disponível no Facebook reúne fotografias em
referência à história da cidade de Itaporã – MS disponibilizadas pelos moradores da cidade
que participam como membros do perfil.
Em sua entrevista o ex-vereador Antonino Rebeque apontou as motivações que o
levou a criar o perfil, onde afirma que
Eu acho que faltava resgatar a história de Itaporã. Então as vezes você via aí, nada
contra né... éé... mas às vezes você vê aí muitas pessoas sendo homenageadas agora
e pessoas que lutaram pela cidade a muitos e muitos anos atrás elas simplesmente
terem sido esquecidas pelo tempo (ENTREVISTA, Antonino Rebeque, ago./2018).
Nota-se que as motivações para a criação do perfil vieram de uma necessidade de
“resgate” de personagens envolvidos com a origem da cidade. Evidencia-se nesse sentido, a
preocupação do mesmo em buscar memórias dos sujeitos tidos como pioneiros na história da
cidade que, de acordo com o senhor Antonino, ficaram no esquecimento.
Desse modo entende-se que a origem do perfil está em volto a uma disputa de
memórias, ou seja, uma disputa que envolve o medo do esquecimento. Há uma necessidade
do ponto de vista do senhor Antonino de recuperar memórias de personagens ligados com a
fundação da cidade que não são lembrados no presente. Esse sim, o medo do esquecimento é
a principal motivação para a necessidade de buscar uma ferramenta, o Facebook, que dê
condições de “reavivar” experiências do passado, que evoca uma memória que vai ao
encontro de interesses, em um primeiro momento, individuais, lembrando que é preciso
considerar o envolvimento pessoal do criador do perfil, o senhor Antonino Rebeque.
Ao iniciar a entrevista o senhor Rebeque apresenta sua família como uma das
pioneiras na história da cidade o que reforça o engajamento pessoal do mesmo com a
memória de pioneiros justificando a sua motivação pessoal com a criação do perfil.
Eu sou de família pioneira né, no caso, família dos Rebeque ela... é a mais
conhecida né, em termos gerais. Nós temos, eu até brinco muito, eu falo que é que
nem “tiririca” né, ficou... se espalhou muito! Mas a família tradicional mesmo, a
pioneira é os Moura! E eu gosto muito da coisa antiga... dessas coisas!
(ENTREVISTA, Antonio Rebeque, ago/2018).
Além de citar sua família, a família Rebeque, o senhor Antonino destaca a família
Moura como a pioneira e tradicional na história da cidade. De acordo com o Perfil Histórico
de Itaporã (1996) a família Moura está entre as sete famílias que chegaram na região que até
então pertencia a Colônia Municipal de Dourados no ano de 1944, colônia essa, que deu
origem ao município de Itaporã dez anos depois.
No ano de 1944 chegaram 7 famílias à região onde hoje é o município de Itaporã.
Instalando-se próximo ao Córrego Canhadão.
1º Sr. Rogério e Srª Isabel Moura;
2º Sr. Inácio Felix r Srª Joaquina Moura;
3º Sr. Miguel Moura e Srª Maria Carolina Gimenez Moura;
4ª Sr. Antonio Camilo Diniz e Srª Maria Licinda Diniz;
5º Sr. Januário Rodrigues e Srª Odília
6ª Sr. Benedito Pereira e Srª Maria Camilo;
7º Sr. Joaquim Rodrigues e Srª Brolínia Camilo (ITAPORÃ, Peril Histórico, 1996
p. 7).
Para o senhor Antonino, as memórias dessas e de outras famílias foram deixadas no
esquecimento e atualmente não são lembradas ou mencionadas. Com isso o perfil criado por
esse teria um papel importante para divulgar ao público da internet memórias de pioneiros
itaporanenses.
Entretanto, desde sua criação o perfil tem se tornado importante para a divulgação de
memórias da própria cidade de Itaporã. Paisagens do meio rural, aspectos do meio urbano em
formação se tornaram recorrentes nas publicações enquanto contribuições dos membros do
perfil.
SOBRE O MATERIAL DISPONIBILIZADO AO PÚBLICO NO PERFIL
A ideia de criar o perfil, segundo Antonino Rebeque, se deu após a repercussão do
álbum “Túnel do Tempo” publicado em seu perfil pessoal no Facebook contando com várias
fotografias, tendo a colaboração de alguns moradores que lhe forneceram o material.
Conforme Antonino Rebeque, a ideia de utilizar fotografias buscando contar a história da
cidade surgiu de uma conversa com um morador que lhe apresentou algumas fotografias
antigas.
Num dia eu estava conversando com o Seu Líbero Balasso, aquele da... da Balasso
[Materiais de Construção LTDA] e vi umas fotos com ele. Eu falei: Seu... o
Balasso você podia me emprestar isso aqui porque eu queria colocar - porque eu
gosto muito da história né -, e ele começou a me contar a história, e eu gosto muito
disso! Eu sento com os mais antigos e fico ouvindo... ouvindo... ouvindo histórias
né! Conversando e perguntando. E ele me emprestou aquilo e foi me contando a
história: da eleição dele, tinha um pessoal... então aquilo alí... quando eu postei -
que era um álbum chamado “Túnel do Tempo”, que é dentro do meu face -, aquilo
as pessoas começaram a falá, e contar histórias e foram relembrando de histórias e
aquilo alí foi ficando mais gostoso né aí, o que aconteceu?! Eu ia em um lugar e
pegava as fotos. E aí foi indo... que o álbum ficou com duas... três mil curtidas! E
dali a gente optou por fazer a página né, separada, porque o face meu ele tem todos
os tipos de coisa né! E aí a gente fez aquela página justamente pra esse resgate né,
da... da história, de encontrar pessoas, que as vezes você nem conhece, lugares, e o
que é interessante é que, tipo assim, você vai colocando e as pessoas vão
lembrando, né: Isso aqui era isso... isso aqui fulano é qui morava, né! Então tem
alguns que são colaboradores ali, que sempre estão comentando! Mas é mais pelo
resgate mesmo né! Até por... pela família né, pioneirismo assim pra tê o... contar
uma história né (ENTREVISTA, Antonino Rebeque, ago./2018).
Desta forma, ao analisar o perfil, nota-se que as fotografias de espaços da cidade
ocupam a maior parte das publicações (Figura 1) e se tornaram as principais referências à
memória da mesma.
Figura 1: Fotografia tirada de cima da caixa d'água da cidade de Itaporã (data não determinada)
Fonte: Itaporã MS: O Povo Contando Sua História.
É pertinente lançar mão de Pesavento (2007) para chamar a atenção ao fato de que,
ressalvadas suas condições de produção e construção, a fotografia de uma cidade é uma fonte
pertinente ao historiador. De acordo com a autora
[...], a foto é traço do objeto que um dia ali esteve diante do aparelho, como uma
marca ou pegada que foi possível captar. Dessa forma, as fotografias, sobretudo, as
das cidades, são dotadas de um valor documental: historiadores delas se apropriam
em busca de constatar a presença ou ausência de determinados prédios, os estado
das ruas, o trajar dos habitantes, os sinais da modernização urbana – ou a sua falta,
captando a vida presente em um momento do tempo, congelado para sempre na
imagem que se grava no papel pelo efeito técnico de captação da luz
(PESAVENTO, 2007, p. 22).
Além disso, nesse caso se tratando de publicações acompanhadas por comentários de
moradores da cidade, essas fotografias disponibilizadas no perfil Itaporã MS podem ser
melhor contextualizadas e, inclusive, com a possibilidade de localizar e situar esses espaços
no tempo presente mesmo diante da impossibilidade de encontrar as pessoas que estiveram
envolvidas com sua produção conforme se verifica na figura 1.
Esse aspecto de comparação entre o passado e o presente a respeito dos espaços da
cidade representados nessas fotografias também são utilizados nesse perfil (Figura 2):
Figura 2: Fotografias comparando o passado e o presente de um prédio comercial localizado no centro
de Itaporã
Fonte: Itaporã MS: O Povo Contando Sua História.
Além de fornecer importantes informações a respeito das transformações de espaços
da cidade essas fotografias também ajudam a identificar continuidades e espaços que tiveram
parte de sua estrutura preservada como no caso acima (Figura 2) do prédio comercial que teve
sua estrutura base preservada, e que ainda hoje permanece no mesmo local.
Também é importante destacar que, além dos espaços da cidade, o perfil traz uma
variedade de fotografias de algumas famílias em que é possível identificar alguns aspectos
envolvendo vestuário da época, expressões, objetos de uso pessoal, mobília e etc... (Figura 3).
Figura 3: Retrato de família produzido em 1969 em Itaporã e publicado no perfil Itaporã MS: O Povo
Contando Sua História
Fonte: Itaporã MS: O Povo Contando Sua História.
É sempre importante notar o papel das pessoas envolvidas com a produção da
fotografia, principalmente o fotógrafo que é quem decide o ângulo e da mesma forma o
recorte da paisagem de fundo e do local. Assim como as fotografias de espaços da cidade, os
retratos de família exemplificam atuação dos sujeitos na construção de uma representação do
real. No momento da produção de fotografias de espaços da cidade podem ser escolhidos
ângulos que favoreçam determinados edifícios, ruas e etc. isso em detrimento de outros
espaços, sobretudo àqueles em que ainda não contam com uma estrutura mínima que forneça
uma visão moderna do meio urbano. De certo modo, os retratos de famílias também passam
por essa construção.
Na figura 2 por exemplo, é possível observar muitos aspectos envolvendo vestuários,
quantidade de integrantes da família, além do próprio espaço/local escolhido para a produção
da fotografia. É preciso considerar ainda a situação peculiar que envolve o momento da
fotografia, fora de uma situação cotidiana, pois os indivíduos posam para a foto
interrompendo suas atividades rotineiras para deixar uma memória para o futuro.
Além disso, o próprio vestuário pode ser selecionado para aquele momento da foto.
Conforme entrevistas com moradores locais, entre as décadas de 1950 e 1960, o uso dos
calçados eram restritos, isto é, era um item raro principalmente para as crianças que passavam
a maior parte do tempo descalços. Na fotografia da figura 2 observa-se que todos estão
utilizando calçados, o que denota a importância do momento para a família que lança mão de
itens materiais para construir uma memória.
Para tanto, as fotografias juntamente com os comentários de usuários do Facebook,
moradores da cidade de Itaporã e/ou descendentes desses moradores, nutrem o perfil Itaporã
MS: O Povo Contando Sua História com informações tornando esse material potencial fonte
para a pesquisa em História. Cabe ao pesquisador, amparar-se teórico-metodologicamente
para a análise desse material de forma que o mesmo corresponda não apenas às suas
necessidades pessoais na pesquisa como também para que essa corresponda às necessidades
da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O perfil Itaporã MS: O Povo Contando Sua História é uma importante contribuição
para a comunidade local, pois oferece a possibilidade de trocas de informações envolvendo
lembranças sobre uma “cidade do passado”, “reencontros” com paisagens que já não fazem
parte da cidade do presente e também com pessoas que acabam se reencontrando em meio às
publicações e recordações. Isso demonstra que a ideia de sua criação foi contemplada, pelo
menos em parte, por seus idealizadores. Entretanto, esse perfil também é significativo para a
pesquisa em história oferecendo vestígios sobre a memória da cidade e de seus moradores.
Em se tratando de um material disponibilizado ao público em uma rede social, o
pesquisador tem um desafio e tanto, pois não são só as condições de produção do material,
como no caso das fotografias por exemplo, mas o contexto de sua utilização/publicação que
pode ter motivações diversas e o pesquisador precisa estar atento.
Contudo, espera-se que esse texto sirva de motivação e desperte a curiosidade de
outros pesquisadores para com o trabalho com esses materiais. Durante o trabalho de
investigação desse perfil uma das dificuldades foi encontrar bibliografias referentes as redes
sociais como fontes para pesquisa em História o que aponta para seu aspecto enquanto debate
ainda muito “novo” se comparado a outros tipos de fontes. Com isso espera-se que esse texto
seja uma contribuição para novos debates e discussões a respeito de temáticas envolvendo a
utilização das redes sociais como fontes para a pesquisa histórica.
FONTES
Orais:
ENTREVISTA, Antonino Rebeque. (Vídeo-color). Produção: Paulo Rodolfo Bork Zanata.
Itaporã: UFGD, agosto de 2018. 20 min. (aprox.,).
Escritas:
ITAPORÃ, Prefeitura Municipal. O Perfil Histórico de Itaporã, 1996.
Sites e páginas da Web
IBGE. Itaporã: Censo Agropecuário., 2006. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/itapora/pesquisa/24/65644> Acesso em: 02/08/2016.
IBGE. Itaporã: Censo Demográfico., 2011. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=500450> Acesso em: 02/08/2016.
ITAPORÃ MS: O Povo Contando Sua História. [perfil criado por moradores da cidade].
Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/Itapor%C3%A3-MS-O-Povo-
Contando-Sua-Historia-290187711147595/> Acesso em maio de 2018.
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