Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins
Centro de Estudos Cyro Martins
XII JORNADA CELPCYRO SOBRE SAÚDE
MENTAL
(DO MITO À VERDADE CIENTÍFICA)
PAINEL IV
DIAGNÓSTICO E CLÍNICA DE ALTERAÇÕES DO
NEURODESENVOLVIMENTO
(*) segundo os critérios da CID-10
EVELYN KUCZYNSKI (SP/SP)
“Incapacidade de competir em
termos de igualdade com
indivíduos da mesma idade,
sexo e grupo social”
Stanislau Krynski (1969)
RETARDO MENTAL(*)
“É melhor ser infeliz,
porém estar inteirado disso,
do que ser feliz e viver
sendo feito de idiota.”
Fiódor Dostoievski (1869)
A formação do psiquiatra (e de outros profissionais da
saúde) vem cada vez mais carecendo de intimidade
com esta entidade tão variada e heterogênea,
retratada por inúmeros artistas ao longo dos séculos
e reconhecida pela Medicina desde a Antiguidade.
São raros hoje no Brasil (e estes poucos vem sendo
paulatinamente esvaziados para, a seguir, serem
extintos...) os serviços transdisciplinares envolvidos
na detecção precoce do retardo mental, bem como
na capacitação de profissionais de saúde nesta área
de conhecimento.
RETARDO MENTAL
Contrariando o estimulado e veiculado por algumas
correntes da Psicologia em nosso meio, o DSM-5
preconiza a avaliação clínica do RM, mas também a
testagem paramétrica da inteligência para o
diagnóstico, priorizando a gravidade do
funcionamento adaptativo ao índice isolado de
quociente de inteligência (QI), enfatizando (contudo)
sua importância (do QI) no processo diagnóstico
(presente na descrição textual da deficiência intelectual,
como prova de que não está ultrapassado, com
especial relevância em casos forenses), devendo (o
QI) ser incluído na avaliação.
American Psychiatric Association (2012). Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, 5th edition (DSM-5). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.
RETARDO MENTAL
Curva de distribuição normal (gaussiana) da inteligência (disponível em:
http://probestlgtn.blogspot.com).
RETARDO MENTAL
Os problemas na adaptação habitualmente são mais propensos a apresentar melhora com esforços terapêuticos do que o QI, que tende a permanecer como um atributo mais estável. (apud Kuczynski, 2014)
“...O sistema escolar da cidade onde eu cresci (Newton, Iowa*) aplicava testes de QI nos estudantes aos 13 anos, e os resultados eram usados pelas escolas para guiá-los. Os estudantes nunca sabiam os resultados, por isso nunca soube
qual é o meu QI...” (Murray apud Cardoso; Mendes, 2008)
RETARDO MENTAL
Iowa (Des Moines)
Área: 28,98 Km2
População: 15.136 hab (2013)
Condado de Jasper
97% Caucasianos
526 habitantes/Km2
Pindorama (a 370Km de SP)
Área: 184,8 Km2
População: 15.039 hab (2010)
Mesorregião de São José do Rio Preto
89% são alfabetizados
81,38 habitantes/Km2
“Dei, non hominum, gratia”
Fui acusado de racismo porque mostrei um indiscutível fato
empírico: quando amostras representativas de brancos e
negros são submetidas a testes que medem a habilidade
cognitiva, os resultados médios são diferentes (...) um fato, da
mesma forma que medidas de altura mostram um resultado
médio diferente entre japoneses e alemães.
(Murray apud Cardoso; Mendes, 2008)
RETARDO MENTAL
(...) Eu não tirei conclusões racistas deste fato, não advoguei
políticas racistas, e tenho escrito explicitamente que a Lei deve
tratar pessoas como indivíduos e não como membros de
grupos raciais. Então por que me chamar de racista? Porque
alguns fatos NÃO PODEM ser discutidos - e os indivíduos que
discutem devem ser pessoas terríveis.
(Murray apud Cardoso; Mendes, 2008)
RETARDO MENTAL
Correlações econômicas e sociais do QI (Herrnstein; Murray, 1994)
QI <75 75-90 90-110 110-125 >125
Distribuição na população dos EUA 5 20 50 20 5
Casados aos 30 72 81 81 72 67
Fora do mercado de trabalho mais
de um mês ao ano (homens) 22 19 15 14 10
Desempregado mais de um mês ao
ano (homem) 12 10 7 7 2
Divorciado em 5 anos 21 22 23 15 9
% de crianças com QI nos percentis
mais baixos (mães) 39 17 6 7 -
Teve um filho ilegítimo (mães) 32 17 8 4 2
Vive na miséria (4,7%) 30 16 6 3 2
Alguma vez preso (homem) 7 7 3 1 0
Recebedor de subsídio
governamental crônico (mães) 31 17 8 2 0
Evasão do ensino médio (10%) 55 35 6 0.4 0
* Valores são a percentagem de cada subpopulação de QI (apenas de brancos não-hispânicos).
É uma questão de aritmética. Se em testes o QI é sempre
maior com amostras de nórdicos do que com amostras de
negros, então um país com uma significativa proporção de
negros terá um QI médio inferior ao de um país que consiste
exclusivamente de nórdicos. Isso é verdade, por exemplo,
quando comparamos os Estados Unidos com a Suécia, da
mesma forma que é verdade quando comparamos o Brasil e a
Suécia. A única questão é empírica: as médias são sempre
diferentes? Se são, a questão está respondida por si mesma...
(Murray apud Cardoso; Mendes, 2008)
RETARDO MENTAL
O valor dos testes de QI (para um cientista social) é usá-los
para prever resultados em grupos grandes. Por exemplo, se
você me mostrar duas crianças de seis anos, uma com 110 de
QI e outra com 90, não tenho ideia de quem estará ganhando
mais quando elas estiverem com 30 anos. Mas, se você me
mostrar mil crianças de seis anos com 90 de QI e mil com 110,
posso dizer com muita confiança que a renda do grupo de 110
de QI aos 30 anos será mais alta na média - essa é palavra-
chave, na média - do que a do grupo de QI 90.
(Murray apud Cardoso; Mendes, 2008)
RETARDO MENTAL
…“O romantismo educacional [que] exige demais dos
estudantes na base da pirâmide intelectual, exige as coisas
erradas daqueles no meio e exige muito pouco daqueles no
ápice”…
…„“Quatro simples verdades" sobre educação:
a)A habilidade varia;
b)Metade das crianças estão abaixo da média;
c)Há gente demais na faculdade;
d)O futuro [da América] depende de como educaremos os
academicamente privilegiados‟…
(Murray, 2008)
RETARDO MENTAL
Estudo retrospectivo com 198 prontuários de casos de retardo
mental admitidos em enfermaria psiquiátrica*
(média de permanência: 17.6 dias)
Maior no. de diagnósticos clínicos se associou a mais dias de
internação
(Spearman r = +.32, p < 0.0001).
Correlação positiva entre o no. de problemas clínicos e o no. de
substâncias psicoativas
(Spearman r = + .32, p < 0.0001).
Charlot, 2011
(*) Setor Psiquiátrico do UMASS Medical Center, instituição de Worcester, MA
(2a maior cidade da Nova Inglaterra depois de Boston), com 181.045 habitantes
(~ Nilópolis, RJ)
RETARDO MENTAL
A mais frequente comorbidade
médica (60%) era
OBSTIPAÇÃO (n=118),
seguida de (38%) REFLUXO
GASTROESOFÁGICO (n=75)! Charlot, 2011
RETARDO MENTAL
Levantamento: 9 estudos
Comorbidade de transtorno mental (crianças e
adolescentes): 30 a 50%
Risco relativo (RR): 2,8 a 4,5 (associação a idade,
gênero, gravidade do retardo e status socioeconômico?)
Einfeld, 2011
RETARDO MENTAL
RETARDO MENTAL
A detecção de casos de autismo por 1000 crianças cresceu dramaticamente
nos EUA de 1996 a 2007. Não se sabe quanto deste crescimento (ou todo
ele) se deve a alterações na prevalência do autismo
(Fombonne, 2009; Wing; Potter, 2002)
RETARDO MENTAL
Apesar do progressivo interesse de profissionais da Saúde
Mental brasileira pela questão do continuum autista, tal
movimento se processa em nosso meio de forma superficial
(comercial? midiático?), em detrimento da identificação e
abordagem dos casos de retardo mental (muito mais
frequentes na população...), sendo estes ubíquos em qualquer
grupo étnico, social ou cultural do planeta.
Como se não bastassem as distorções ideológicas que
professam ser a deficiência sensu lato mera “...construção do
social"!...
(Kuczynski, 2014)
RETARDO MENTAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
American Psychiatric Association (2012). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th
edition (DSM-5). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.
Assumpção Jr FB, Kuczynski E (2012). Deficiência mental. In: Assumpção Jr FB, Kuczynski E. (eds.)
Tratado de Psiquiatria da Infância e Adolescência (2a edição). São Paulo: Atheneu, p.253-73.
Cardoso R, Mendes D (2008). Charles Murray: Miscigenação diminui o QI dos brasileiros (15/10/08).
Disponível em: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/3365_MISCIGENACAO+DIMINUI
+ O+QI+DOS+BRASILEIROS
Charlot L, Abend S, Ravin P, Mastis K, Hunt A, Deutsch C (2011). Non-psychiatric health problems
among psychiatric inpatients with intellectual disabilities. J Intellect Disabil Res;55(2):199–209.
Einfeld SL, Ellis LA, Emerson E (2011). Comorbidity of intellectual disability and mental disorder in children
and adolescents: A systematic review. Journal of Intellectual & Developmental Disability;36(2):137-143.
Herrstein RJ, Murray C (1994). The bell curve: Intelligence and class structure in american life. Glencoe,
Il: Free Press.
Kuczynski, E (2014). Retardo mental: Detecção precoce. RDP, p.6-11.
Kelley A, Palmer F, Askins KM (2013). TDMHSAS best practice guidelines: Intellectual disability and
comorbid psychiatric disorders in persons under 22 years of age. Disponível em: http://www.tn.gov/
mental/policy/best_pract/pages%20from%20cy_bpgs_283-296.pdf
Murray C (2008). Real education: Four simple truths for bringing America's schools back to reality. New
York, NY: Crown Forum.
Organização Mundial de Saúde (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da
CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. (Trad. Dorgival Caetano). Porto Alegre: Artes
Médicas.
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