Anais – III Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto
Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006 VULNERABILIDADE À AÇÃO ANTRÓPICA E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO PARA
A ESTAÇÃO ECOLÓGICA MUNICIPAL ILHA DO LAMEIRÃO, VITÓRIA-ES.
TULLI, L. M. A.1; SANTOS, A. R.2; RIGO, D.3; ALMEIDA, A. Q.4
Resumo: O Município de Vitória sofreu um intenso processo de degradação de seus manguezais
incentivado pela crise do café na década de 60 e pelo atrativo da criação de novas industrias,
movimentando um grande contingente populacional para a capital capixaba. A Estação Ecológica
Municipal Ilha do Lameirão, que faz parte dos 891,83 hectares do Manguezal de Vitória, tem como
objetivo a pesquisa e a preservação deste ecossistema ambientalmente importante. Neste trabalho
buscamos analisar as mudanças ocorridas nesta e em seu entorno desenvolvendo mapas de uso e
ocupação do solo dos anos de 1978, 2003 e 2005. Assim, foi possível delimitar os principais fatores
de degradação proporcionados pelo homem e desenvolver um mapa de vulnerabilidade a ação
antrópica para esta área de preservação. Verificamos um pequeno aumento de 3,37% na área de
manguezal no período de 1978 ao ano de 2005, entretanto comprovamos uma vulnerabilidade de
média a alta para a área.
Palavras chaves: Vulnerabilidade, uso e ocupação do solo.
Abstract: The Vitória city suffered an intense process from degradation of its mangroves
stimulated by the crisis of the coffee in the decade of 60 and by attractive of the creation of a new
factories, which contributed for the increase of the population. The Ecological Station Municipal
Island of the Lameirão, that is part of the 891,83 hectares of the Vitória mangroves, has as objective
the research and the preservation of this ecosystem. In this work we analyze the changes in this area
developing maps of use and occupation of the ground of the years 1978, 2003 and 2005. Thus, it
was possible to delimit the degradation factors and develop a map of vulnerability for this area. We
verify a small increase of 3,37% in the area of mangrove in the period of 1978 up to 2005, however
we prove a average vulnerability the high one for the area.
Keywords: Vulnerability, use and occupation of the ground.
1 Mestranda do Curso de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Endereço: Av. Fernando Ferrari, S/Nº. CEP: 29069-900, Vitória-ES. Tel: (27)3335-2495. E-mail: [email protected] 2 Doutor, professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected] 3 Doutor, professor do departamento de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected] 4 Mestrando do Curso de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]
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Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006 INTRODUÇÃO: Os manguezais possuem uma vegetação altamente adaptada aos constantes movimentos
da maré e a suportar a alta salinidade que lhe é imposta, porém altamente sensível à ação humana.
(CITRÓN E NOVALLI, 1992)
No município de Vitória, os manguezais atualmente estão amparados pela Lei Municipal 3377 de 12 de
setembro de 1986, quando houve a criação da Estação Ecológica Municipal ilha do Lameirão.
Os aglomerados urbanos próximos a áreas de preservação tem sido alvo de muitas pesquisas científicas,
devido à preocupação com fatores antrópicos, que segundo Suguio (2003), são todos os que se superpõe
às forças dinâmicas atuantes, exacerbando as suscetibilidades naturais, introduzindo suscetibilidades
induzidas e criando situações de crises cada vez mais complexas e de diferentes naturezas.
No presente trabalho, tendo em vista aplicar uma metodologia que proporcione um estudo dos fatores
antrópicos atuantes na Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão, optamos por analisar a evolução
temporal da área de estudo nos anos de 1978, 2003 e 2005 através do desenvolvimento de mapas de uso e
ocupação do solo, desenvolvidos por meio de técnicas de fotointerpretação. Assim, conhecemos e
mapeamos os fatores antrópicos e elaboramos um mapa de vulnerabilidade a ação antrópica para esta área
de preservação utilizando o Método Analítico Hierárquico (AHP) desenvolvido por Thomas L. Saaty
(1977).
MATERIAL E MÉTODO: Com objetivo analisar temporalmente as mudanças ocorridas na área de
estudo, ou seja, na Ilha do Lameirão e seu entorno utilizou-se o software ArcGIS 8.3, bem como as
aerofotos pertencentes a área de estudo dos anos de 1978 e 2003 e, também uma imagem do satélite
Quickbird do ano de 2005 com composição das bandas do visível e infravermelho, conhecida como
Pancromática. Portanto, foi possível estabelecer um mapa de uso e ocupação do solo para cada ano
estudado. Os mapas foram desenvolvidos através da técnica de fotointerpretação, tendo como base
observações feitas em campo.
Para o desenvolvimento do mapa de vulnerabilidade antrópica para a Estação Ecológica Municipal Ilha do
Lameirão foi utilizado o Método de Análise Hierárquica (AHP) criado por Thomas L. Saaty. Através da
decisão do problema em níveis hierárquicos, este método determina por meio da síntese dos valores dos
agentes de decisão, uma medida global para cada alternativa, priorizando-as ou classificando-as ao
finalizar o método. (GOMES et. al., 2004)
Por meio de observações em campo e dos mapas de uso e ocupação do solo nos anos de 1978, 2003 e
2005, optou-se por mapear três fatores de ação antrópica que por sua vez foram divididos em outros
fatores que chamaremos aqui de subfatores. (Tabela 1).
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Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006 Todos os subfatores foram mapeados com o uso de um GPS e digitalizados em tela, utilizado software
Arcgis 8.3, tendo como plano de fundo a imagem pancromática do satélite quickbird do ano de 2005.
Posteriormente a este procedimento, foi desenvolvido para cada subfator um mapa de distância. Tendo
como resultado a distância euclidiana de cada célula à sua mais próxima num conjunto de células-alvo
pré-especificado (ROSOT et. al., 2000).
Após a execução dos mapas de distância foi realizada a padronização dos subfatores, com o uso da
caculadora raster, no intervalo correspondente a um byte, ou seja, de 0 a 255. Para tanto, utilizamos uma
equação linear simples (Y=aX+b), definindo que quanto mais próximo o subfator da área de estudo maior
a vulnerabilidade à mesma. Assim os mapas de distância serão padronizados numa escala contínua de
vulnerabilidade de 0 (menos vulnerável) a 255 (mais vulnerável) mantendo-se a integridade dos mesmos.
TABELA 1 - Fatores e subfatores antrópicos
MAPA DE VULNERABILIDADE À AÇÃO ANTRÓPICA ESGOTO RUIDO/ VIBRAÇÕES URBANIZAÇÃO Bacia 4 Pedreira Urbanização Bacia 5 Aeroporto Área Construída Bacia 6 Ruas e Avenidas Linha de transmissão Elétrica Bacia 7
Rio Bubu Rio Stª Mª da Vitória
Esgoto Bairro Nova Carapina
Ponderamos os resultados obtidos de acordo com o grau de importância que possuem. Assim
desenvolvemos matrizes de comparação par a par ou matrizes decisão no software Idrisi 32 fazendo uso
da escala fundamental de Saaty (1977).
Feita a matriz de comparação, utilizou-se o software Idrisi 32. Através do módulo Weight, foi possível
obter pesos referentes a cada fator e subfator antrópico.
Com o uso da calculadora raster disponível no software Arcgis 8.3 cada mapa de distância ponderado de
cada subfator foi multiplicado pelo seu peso correspondente. Depois da multiplicação dos subfatores por
seu peso, todos os subfatores de um mesmo fator foram somados. O mapa resultante foi multiplicado pelo
peso do fator correspondente. Depois de feito este processo para todos os subfatores e fatores obtivemos
três mapas: mapa esgoto, mapa ruídos/ vibrações, mapa urbanização. Os mesmos foram somados para a
obtenção do mapa de vulnerabilidade a ação antrópica para a área de estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A classe Área Urbana apresentou um considerável aumento no passar
dos anos. Representando 9,79% da área no ano de 1978, aumentou 10,72% até o ano de 2003, não
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Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006 apresentando mudanças significativas em relação ao ano de 2005. A classe Campo que no ano de 1978
detinha 11,92% da área apresentou queda no ano de 2003 para 8,54% e no ano de 2005 um pequeno
aumento para 8,91% da área de estudo. A classe Mangue que em 1978 representava 37,33% da área,
aumento 1,48% em relação ao ano de 2003 e 1,89% em relação 2005. A Restinga que representava 6,15%
da área em 1978 apresentou um pequeno aumento, e em 2005 corresponde a 7,18% da área. A classe Solo
Exposto que apresenta 1,70% no ano atual, em 1978 apresentava 8,35% da área.
Quanto à ação antrópica exercida pelos fatores mapeados sobre a Estação Ecológica Municipal Ilha do
Lameirão, ou seja, sobre o ecossistema manguezal, percebemos que a maior vulnerabilidade encontra-se
próxima à área urbana. O que é justificável já que há uma relação próxima entre os fatores e a urbanização
(Figura 1).
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Figura 1 – Vulnerabilidade a ação antrópica para a Estação Ecológica Municipal ilha do Lameirão
CONCLUSÃO: Apesar da invasão ocorrida aos manguezais da área de estudo, o que observamos foi um
pequeno aumento de 3.37% da área de manguezal entre os anos de 1978 a 2005. Ao nosso entender parte
da área dos manguezais que havia sido degradada nos anos que antecedem o período englobado por esta
pesquisa conseguiu se recuperar, tal fato pode ser justificado pela diminuição da área classificada como
solo exposto, o que pode ser observado facilmente nas tabelas de dados e nos mapas de uso e ocupação do
solo.
Tal recuperação, contudo vem acompanhada de uma vulnerabilidade antrópica que na maior parte da área
da Estação Ecológica foi classificada de média a alta. Ou seja, apesar das medidas de preservação
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Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006 adotadas ainda existem fatores que colaboram para a degradação deste ecossistema, como por exemplo, os
esgotos lançados diretamente nas áreas de manguezal.
Acreditamos que o resultado desta pesquisa possa se tornar uma ferramenta útil no apoio à decisão, pois
através da mesma foi possível analisar temporalmente as mudanças ocorridas na área de estudo,
reconhecer os seus fatores de vulnerabilidade antrópica e desenvolver um mapa de vulnerabilidade a ação
antrópica que esses fatores proporcionam. Tornando possível então reconhecer as áreas passíveis de maior
impacto ambiental e desenvolver um plano de manejo focado para as necessidades de preservação da
Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CITRÓN, G., NOVALLI Y. Ecology and Management of New World Mangroves. In: SEELIGER, U.
(Org.). Coastal plant communities of Latin America. San Diego: Academic, 1992. p. 233-258.
GOMES, L. F. A.M. et al. Tomada de Decisões em Cenários Complexos. São Paulo: Pioneira, 2004
ROSOT, A. et al. Análise da vulnerabilidade do manguezal do Itacobi a ações antrópicas utilizando
imagens de satélite e técnicas de geoprocessamento. COBRAC 2000, UFSC. Florianópolis. Congresso
brasileiro e cadastro técnico multifinalitário. 15 a 19 de outubro de 2000. Disponível em:
<http://geodesia.ufsc.br/geodesia-online/arquivo/cob2000.htm>
SAATY, T. L. A Scaling Method for Priorities in Hierarchical Structures. Journal of Mathematical
Psychology, 1977. 15: p.234-281
SUGUIO, K. Tópicos de geociências para o desenvolvimento sustentável: as regiões litorâneas.
Geologia USP: Série Didática, v. 2, n. 1, p. 1-40, 2003. Disponível em:
<http://www.igc.usp.br/geologiausp/sd1/art.php?artigo=598> Acesso em: 6 abr. 2005.
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