UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA
Modalidade em perspectiva
estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro
BELO HORIZONTE
2014
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA
Modalidade em perspectiva
estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro
Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos Linguisticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do titulo de Doutor
em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguistica Teoacuterica e
Descritiva
Linha de Pesquisa Estudos Linguisticos baseados
em Corpora
Orientador Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2014
Ficha catalograacutefica elaborada pelos Bibliotecaacuterios da Biblioteca FALEUFMG
Aacutevila Luciana Beatriz Bastos A958m Modalidade em perspectiva [manuscrito] estudo baseado em
corpus oral do portuguecircs brasileiro Luciana Beatriz Bastos Aacutevila ndash 2014
253 f enc il grafs (color) tabs (pampb) + 1 CD-ROM
Orientadora Heliana Ribeiro de Mello
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguiacutestica Teoacuterica e Descritiva
Linha de Pesquisa Estudos Linguumliacutesticos Baseados Em Corpora
Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Minas
Gerais Faculdade de Letras
Inclui CD-ROM com arquivos de aacuteudio guia do usuaacuterio MMAX2
demonstraccedilatildeo de arquivo anotado
Bibliografia f 206-218
Anexo f 219-253
1 Modalidade (Linguiacutestica) ndash Teses 2 Linguiacutestica de corpus ndash Teses 3 Liacutengua portuguesa ndash Portuguecircs falado ndash Brasil ndash Teses 4 Atos de fala (Linguiacutestica) ndash Teses 5 Linguiacutestica ndash Processamento de dados ndash Teses I Mello Heliana Ribeiro de II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras III Tiacutetulo CDD 418
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS
FOLHA DE APROVACcedilAtildeO
Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA
Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e
Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros
~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador
UFMG
C4-vJl c eO~~c~ -
PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG
PWf(l o A g sto de Souza
~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari
UFRJ
LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas
PUC-RJ
Belo Horizonte 30 de abril de 2014
agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter
que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo
AGRADECIMENTOS
Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda
mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam
encorajam datildeo colo provocam motivam
Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me
guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa
para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo
paciecircncia e carinho desde sempre
Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo
mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da
Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por
parcerias futuras
Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo
de qualificaccedilatildeo
Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e
discussatildeo deste trabalho
Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a
peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc
Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos
Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma
bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho
Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos
professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada
e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu
momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao
Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software
de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia
Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa
Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos
plenos de sonhos e esperanccedilas
Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa
Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na
tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre
Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores
maravilhosos e um bom vinho
Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil
todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN
Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do
Atlacircntico
Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais
Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de
abraccedilo apertado em Viccedilosa
Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte
Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel
Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto
Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida
preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida
Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos
companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro
Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca
de tranquilidade
Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts
papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha
Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo
Aos meus colegas de departamento
Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia
Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas
Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de
estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado
Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil
A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais
leve assim
A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que
certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura
ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam
Que vivam por toda a parterdquo
(Herberto Heacutelder)
RESUMO
Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da
variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a
avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em
termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo
existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a
modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim
metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como
as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e
emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica
de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o
comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de
anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute
um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um
corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano
espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas
subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente
interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-
ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais
divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5
privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta
tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados
e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise
quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de
forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados
em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades
informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor
Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo
de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de
significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade
Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs
brasileiro
ABSTRACT
This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian
Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more
concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive
material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition
However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a
number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes
various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such
as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude
and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and
Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality
markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-
ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-
ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance
Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances
and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically
interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-
ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies
divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5
private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in
this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on
semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative
and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves
distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely
utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units
can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment
unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic
modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred
strategy for modality marking
Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian
Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 21 ndash Quadrado modal 25
Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44
Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58
Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66
Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102
Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104
Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105
Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107
Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices
modalizados 108
Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109
Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110
Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112
Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113
Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116
Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117
Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118
Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124
Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127
Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155
Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158
Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159
Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159
Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160
Figura 56 ndash Remover o link 161
Figura 57 ndash Apagar um markable 161
Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162
Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162
Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163
Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163
Figura 512 ndash Painel de controle 164
Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32
Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42
Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91
Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94
Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95
Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95
Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96
Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97
Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98
Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99
Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103
Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104
Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106
Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108
Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109
Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110
Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112
Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115
Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118
Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124
Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126
Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130
Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131
Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131
Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136
Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136
Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137
Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137
Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150
Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo
semacircntica 152
Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153
Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173
Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182
Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198
LISTA DE ABREVIATURAS
ALL - Alocutivo
APC - Apecircndice de Comentaacuterio
APT - Apecircndice de Toacutepico
b - Brasileiro (Portuguecircs)
fam - Familiar
pub - Puacuteblico
cv - Conversaccedilatildeo
dl - Diaacutelogo
mn - Monoacutelogo
CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo
CNT - Conativo
COB - Comentaacuterio Ligado
COM - Comentaacuterio
DCT - Conector Discursivo
EMP - Unidade informacionalmente vazia
EXP - Expressivo
F - Feminino
F0 - Frequecircncia fundamental
Hz - Hertz
i- - Unidade informacional interrompida
INP - Incipitaacuterio
INT - Introdutor Locutivo
IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual
LABLITA - Laboratorio Linguistico do
Departamento de Italianistica
LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e
Experimentais da Linguagem
M - Masculino
PAR - Parenteacutetico
PB - Portuguecircs do Brasil
PE - Portuguecircs Europeu
PLN - Processamento de Linguagem Natural
PHA - Faacutetico
PRL - Lista de Parenteacuteticos
SCA - Unidade informacional escandida
TLA - Teoria da Liacutengua em Ato
TMT - Tomada de Tempo
TOP ndash Toacutepico
TPL - Lista de Toacutepicos
UI - Unidade de informaccedilatildeo
UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel
XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida
SUMAacuteRIO
Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17
11 Justificativa 18
12 Quadro hipoteacutetico 20
121 Hipoacuteteses 20
122 Objetivos 20
13 Organizaccedilatildeo do texto 21
PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23
Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24
21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24
22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27
221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28
222 Realis x Irrealis 31
223 Subjetividade 33
23 Tipos de significados modais 39
231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40
232 A visatildeo tradicional 45
2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47
232 Modalidade deocircntica 50
233 Modalidade dinacircmica 53
24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55
25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58
251 Modalidade e negaccedilatildeo 59
252 Modalidade e modo 61
253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63
26 Modalidade na fala espontacircnea 67
PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS
DADOS 74
Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75
31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75
311 O enunciado 76
312 Unidades Informacionais 79
3121 Comentaacuterio (COM) 79
3122 Toacutepico 80
3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81
3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81
3115 Parenteacutetico (PAR) 82
3116 Introdutor locutivo (INT) 83
322 Unidades Dialoacutegicas 83
3221 Incipitaacuterio (INP) 83
3222 Conativo (CNT) 84
3223 Faacutetico (PHA) 84
3224 Alocutivo (ALL) 84
3225 Expressivo (EXP) 85
3226 Conector Discursivo (DCT) 85
323 A perda do isomorfismo 85
3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86
3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86
3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87
32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88
33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89
331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89
332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92
34 Anaacutelise dos dados 99
Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I
resultados e anaacutelise 101
41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101
42 Enunciados e tipologia interacional 103
43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105
431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107
44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109
441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110
442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111
45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114
451 Os verbos modalizadores 114
4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114
452 Os verbos epistecircmicos 117
4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122
4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125
453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129
4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129
4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131
454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135
4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135
PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141
Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS
SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142
51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143
52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152
53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS
(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154
531 Metodologia 154
5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154
5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156
5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158
5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165
532 Escolha dos valores modais 168
533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174
5331 Triggers 174
5332 Sources 180
53321 Source of the event mention 180
53322 Source of the modality 181
5333 Targets 185
5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193
534 Polaridade 197
54 Resultados 198
541 Acordo entre anotadores 199
Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206
ANEXOS
Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo
Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)
Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)
17
Capiacutetulo1
INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o
ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala
espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo
investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por
diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo
nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade
de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro
Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das
discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash
INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso
Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-
BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB
(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES
MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)
O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave
descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da
modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro
Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores
cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais
antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute
foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes
persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da
histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e
portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma
categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto
interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso
e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico
1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2
18
Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na
metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como
objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de
modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou
locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas
modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro
A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir
da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da
fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais
adiante Como exemplos desses iacutendices temos
(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai
(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai
13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$
(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$
(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$
11 Justificativa
Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar
um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda
controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou
modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de
atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam
caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas
vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica
uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa
de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles
2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo
―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e
no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o
caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato
de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si
finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor
engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que
rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma
articulaccedilatildeo informacional especifica
19
devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a
diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais
Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a
anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos
especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades
especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave
importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no
curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo
de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir
para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de
ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma
liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode
determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser
usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run
como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica
sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva
(GRIES 2006 p 57)
Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes
construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no
Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em
contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja
projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em
publicaccedilotildees)
Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre
semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras
liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se
mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos
teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da
cogniccedilatildeo humana e o comportamento social
Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa
de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento
automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para
dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros
desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir
20
para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e
tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade
12 Quadro hipoteacutetico
121 Hipoacuteteses
(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura
informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro
(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees
a depender do contexto de uso
(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero
discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da
interaccedilatildeo
122 Objetivos
Como objetivos pretendemos
Objetivo geral
reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de
modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica
e a partir disso definir e descrever os marcadores modais
Objetivos especiacuteficos
explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash
lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do
portuguecircs
sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs
Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus
enunciados
21
investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade
elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma
amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs
brasileiro
13 Organizaccedilatildeo do texto
Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da
definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo
dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte
em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A
narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a
partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a
elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo
O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre
o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de
negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a
modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a
modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa
Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute
introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o
minicorpus utilizado nesta pesquisa
O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte
informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido
segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e
frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e
os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos
modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees
condicionais
O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal
Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade
para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no
22
Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes
dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3
Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os
objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho
Em resumo
Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem
enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o
quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo
seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso
entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala
Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito
3 Processo nordm BEX 953712-0
23
PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA
24
Capiacutetulo 2
MODALIDADE estado da arte
Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade
desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas
concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar
ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea
O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no
que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave
conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes
agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves
estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo
21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica
A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos
loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa
fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a
noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada
proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de
motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)
(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande
influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e
matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura
metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo
de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema
gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto
e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o
proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e
emoccedilatildeo
Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma
caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4
4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain
of modality (BYBEE et al 1994 p 176)
25
Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que
conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente
Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da
modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees
―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute
suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e
do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees
entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao
necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas
contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13
A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)
A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel
que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas
duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma
gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash
necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21
abaixo
Figura 21 - Quadrado modal
5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest
susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire
(ARISTOTE 2007 p 309)
Possiacutevel Contingente
Contradiccedilatildeo
Necessaacuterio Impossiacutevel
26
O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3
degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam
semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas
Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com
o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos
possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que
modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade
e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo
(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento
Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro
significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que
a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)
abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)
(21) Joatildeo eacute solteiro
(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro
(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro
A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade
zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute
solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute
solteiro eacute verdadeira
Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente
Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades
contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma
verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade
contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute
impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e
consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis
uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos
possiacuteveis
As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece
cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade
6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor
27
satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais
das sentenccedilas7
Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros
Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute
necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado
por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros
acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora
22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema
As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da
modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa
fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura
subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem
eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8
De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em
1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao
conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as
a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10
A primeira corresponderia ao
obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo
Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se
alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a
perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre
realis e irrealis
Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes
perspectivas o fenocircmeno da modalidade
7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all
nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente
9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN
1924 p 313) 10
―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)
28
221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis
De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas
sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado
conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de
mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)
Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e
Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute
apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho
natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que
os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees
linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis
representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de
estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11
Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a
gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser
reais (PORTNER 2009 p 1)12
Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos
conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis
Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como
uma ―encarnaccedilatildeo influente13
da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos
a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela
denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a
quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas
modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de
mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes
mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de
mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais
A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de
proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo
de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os
11
Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to
whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012
p 191) 12
No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of
situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13
―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)
29
desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com
a sua avaliaccedilatildeo
Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer
modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as
proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o
escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado
pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma
ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua
acessibilidade14
Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de
significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma
sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel
proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo
(24) Sandy might be home
Sandy pode estar em casa
diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa
(25) Sandy must be home
Sandy deve estar em casa
diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa
von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no
centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do
aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta
para os diferentes tipos de significados dos itens modais15
e nos fornece exemplos com a
forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo
(26) It has to be raining
Tem que estar chovendo
[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]
14
No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in
terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15
No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que
carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto
30
(27) Visitors have to leave by six pm
Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde
[regulamento de hospital deocircntico]
(28) You have to go to bed in ten minutes
Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos
[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]
(29) I have to sneeze
Tenho que espirrar
[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]
(210) To get home in time you have to take a taxi
Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi
[modalidade teleoloacutegica]
Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo
deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou
bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o
que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade
teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a
finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005
HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio
Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da
modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute
fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras
alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional
conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo
em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees
de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta
abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial
teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background
conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles
31
222 Realis x Irrealis
Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas
anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao
contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN
1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata
situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por
percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento
reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16
Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o
mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais
Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez
natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo
interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a
diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua
para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas
A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta
inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente
irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas
Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute
uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)
exemplificada abaixo
(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a
1SGAGREAL-see-FUT
Irei olhaacute-lolsquo
No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de
irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-
Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na
Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do
julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer
16
No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable
through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only
through imagination (MITHUN 1999 p 173)
32
Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um
domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de
serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees
primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns
princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em
que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto
de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e
tipoloacutegica-gramatical (formal)
Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu
equivalente comunicativo
tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo
a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo
b verdade factual asserccedilatildeo realis
c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis
d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG
Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional
A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo
natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das
quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos
comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17
A
redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida
(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por
acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser
oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo
falante e natildeo contestada pelo ouvinte
17
Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them
in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative
transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)
33
(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a
contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia
ou outras bases para defender sua firme crenccedila
(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel
provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada
(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a
afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente
considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada
(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais
comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a
contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para
confirmar sua firme crenccedila
Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa
implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza
subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante
para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante
quanto o ouvinte
Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a
oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de
modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura
sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de
HAAN 2005 p 45)
Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma
categoria relacionada agrave subjetividade
223 Subjetividade
Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia
muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um
falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a
atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a
34
proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18
Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e
afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um
estado-de-coisas19
e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo
do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do
falante20
Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na
subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de
um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees
(subjetivas) de um falantersquo21
(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a
modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de
evento
A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto
factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa
o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa
incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva
(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a
evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo
tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute
tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica
relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo
Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a
modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22
e
propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente
(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23
Elas sublinham a importacircncia do
estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo
dos significados modais em uma liacutengua
18
No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the
situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19
Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs
(KIEFER 1994 p 2516) 20
Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos
coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21
―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be
defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22
Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al
1994 p 178) 23
Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231
35
A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre
a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute
apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a
chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua
vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua
verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na
qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)
toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)
(212) Alfred may be unmarried
Alfred pode ser descasado
Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas
proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser
descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de
pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a
possibilidade de Alfred ser descasado
(213) Alfred must be unmarried
Alfred deve ser descasado
Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma
vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da
proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a
porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o
estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se
compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser
descasado eacute de certa maneira verdadeira
Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como
diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a
objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)
que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos
e objetivos
36
Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo
O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque
ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira
entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel
alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um
falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do
vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc
Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da
modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe
de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura
cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam
outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais
(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os
marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)
A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a
modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de
Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como
imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que
diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave
expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do
gecircnero (TALMY 1988 p 49)24
Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo
conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de
diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)
Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila
focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar
este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25
(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2
a o tamanho do dente (bfammn01)
24
Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to
such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage
and the like (TALMY 1988 p 49) 25
A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os
pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a
uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida
como terminal
37
O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou
[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista
(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em
que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute
diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do
causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo
Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que
haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um
domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia
numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras
polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico
A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre
mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre
sentidos raiz26
ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos
Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-
os ―raiz Como exemplo temos
(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later
John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute
mais tarde
Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou
possibilidade Como atestado abaixo
(216) John must be home already I see his coat
John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco
A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio
epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para
aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele
mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-
26
Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como
veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica
Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou
moral
38
relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash
uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante
A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo
unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que
anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave
necessidade e agrave probabilidade loacutegicas
O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de
forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da
linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que
a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o
modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de
forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido
correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir
das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo
Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente
presente
(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)
A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer
(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)
Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie
Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva
mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de
enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27
(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como
expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado
(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a
arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem
O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos
modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto
27
No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of
politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)
39
de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado
como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma
abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens
modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de
proteccedilatildeo de face
Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do
International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a
Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o
primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA
2000 p128-129)
(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove
overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)
Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o
tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)
Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como
―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)
Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)
parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da
forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e
despertar a simpatia da audiecircncia
Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este
estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica
23 Tipos de significados modais
A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica
relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta
Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo
tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais
No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da
modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias
poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre
a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico
40
mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a
depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-
se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior
diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos
Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da
tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta
uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de
partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho
231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas
Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e
colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O
objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o
desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que
determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro
tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade
orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade
subordinada
A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que
indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo
expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e
possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28
As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo
(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir
a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo
(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned
before entering for examination
Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade
referida antes de entrar no exame
28
Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard
to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and
root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)
41
(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really
call her President
Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente
chamaacute-la de Presidente
Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um
exemplo de obrigaccedilatildeo forte
(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a
accedilatildeo predicada
(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up
Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar
(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave
accedilatildeo predicada
(223) I can only type very slowly as I am a beginner
Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar
(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo
predicada
(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth
if they would (= wanted to) save their lives
Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que
voltassem se eles quisessem salvar suas vidas
A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como
imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um
falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29
Este tipo
natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais
condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais
usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees
29
No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech
acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)
42
Termos gramaticais Funccedilatildeo
Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa
Proibitivo Comando negativo
Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso
na oraccedilatildeo principal
Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir
Admoestativo O falante emite um aviso
Permissivo O falante concede permissatildeo
Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees
Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade
deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se
se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade
As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de
estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas
Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a
proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria
relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes
paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro
domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante
A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade
interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos
(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night
Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite
(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly
Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente
O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do
participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do
participante
O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade
externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no
estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos
exemplos (226a) e (226b)
43
(226a) To get to the Station you can take bus 66
Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66
(226b) To get to the Station you have to take bus 66
Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66
Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e
em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico
meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo
O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da
modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras
externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma
social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em
(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna
possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma
autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria
(227a) John may leave now
John pode partir agora
(227b) John must leave now
John deve partir agora
O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento
de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel
(228a) John may have arrived
John pode ter chegado
(228b) John must have arrived
John deve ter chegado
(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a
chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como
provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que
necessariamente John chegou
44
Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)
desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura
22 abaixo
Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)
Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal
modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os
passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas
Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave
modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico
(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES
1983)
Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo
tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista
do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento
e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a
capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais
numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas
nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323
premodal
meanings going
to possibility
premodal
meanings going
to what is vague between
possibility and
necessity
premodal
meanings going to necessity
(one is future)
postmodal
meanings coming
from possibility
postmodal
meanings coming
from either possibility or
necessity
(one is future)
postmodal meanings coming
from necessity
participant-internal
possibility
deontic possibility
D
deontic necessity
D participant-external
possibility
participant-internal
possibility
participant-internal
necessity
epistemic
possibility
epistemic
necessity
45
232 A visatildeo tradicional
Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash
epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)
circunstancial e teleoloacutegica
A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou
necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal
afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os
modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica
modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto
quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As
modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel
quelsquo etc30
Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do
valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta
diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da
modalidade epistecircmica
Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute
logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute
qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua
entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31
Vejamos o exemplo
(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o
refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP
19OrBrIntrv Com)
Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA
2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute
estabelecido em um determinado universo
30
Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in
which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that
―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31
No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a
matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other
language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)
46
Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um
determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo
especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)
considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica
Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um
determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo
―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico
Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o
uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual
outros podem ser definidos
A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou
outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o
epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser
analisados de forma escalar com polos positivo e negativo
O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com
determinadas circunstacircncias por exemplo
(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa
A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que
viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se
a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo
Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma
autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente
A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado
objetivo
(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina
Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar
tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado
47
2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades
Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais
satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as
objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]
modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a
factualidade32
(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona
com a categoria de evidencialidade33
Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo
ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34
ou como define
Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele
diz35
No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma
proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos
Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a
confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36
e dessa
forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida
Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo
A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-
coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute
ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de
interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real
(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37
(NUYTS 2001 p 21)
A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave
absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a
possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam
32
No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and
it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33
Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34
― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS
PAGLIUCA 1994 p 179) 35
―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36
―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p
41) 37
―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under
consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as
the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or
rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)
48
(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber
alguma coisa (bfamcv01)
(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)
(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)
(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor
talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute
(bpubmn01)
O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber
alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo
ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um
estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de
―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor
Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade
raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela
explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise
unificada sobre modalidade
A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais
em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende
encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e
julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica
Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma
ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do
raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das
premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo
Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham
alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os
aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios
Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para
o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um
domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro
49
(236) dever epistecircmico
(236a) necessidade
RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$
(bfamcv02)
(236b) probabilidade
o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]
de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)
(237) poder epistecircmico
(237a) possibilidade
BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer
lugargt =COM=$ (bfamdl02)
(237b) impossibilidade
MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade
(bfammn01)
Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente
que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de
comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38
Esta categoria assim como
a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que
seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os
filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39
Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade
epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de
possibilidade probabilidade e certeza (inferida)
No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical
como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees
adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as
condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra
(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute
podegt garantir que ganhou (bfamcv02)
38
―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39
―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)
50
(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo
fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer
uma compra e tudo neacute (bpubmn01)
(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo
[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)
(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)
(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)
(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo
vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)
(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar
[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver
os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho
falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)
(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)
Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico
que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes
normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas
que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez
A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou
verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As
construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees
―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de
possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco
reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos
possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em
(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam
o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no
segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em
que o conectivo ―se eacute o marcador modal
232 Modalidade deocircntica
Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da
permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social
51
Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade
epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como
exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)
(246) Alfred is obliged to be unmarried
Alfred eacute obrigado a ser descasado
(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried
ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo
Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais
subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa
amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura
subjetiva ou objetiva como coloca Lyons
(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)
Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder
deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como
foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis
(248a) Eacute permitido parar o carro
(249b) Eu te permito parar o carro
No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo
de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do
subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas
gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40
atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo
Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de
uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a
emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele
pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as
uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica
40
Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243