UNIVERSIDADE DE BRASLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINRIA
ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA DE UM SISTEMA DE CRIA NA BOVINOCULTURA DE CORTE NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL.
Tiago Geraldo de Lima
Braslia/DF 2017
UNIVERSIDADE DE BRASLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINRIA
GESTO DE AGRONEGCIOS
TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO
ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA DE UM SISTEMA DE CRIA NA
BOVINOCULTURA DE CORTE NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL.
Tiago Geraldo de Lima
Braslia/DF 2017
ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA DE UM SISTEMA DE CRIA NA
BOVINOCULTURA DE CORTE NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL.
Tiago Geraldo de Lima
Monografia apresentada ao curso de Gesto de Agronegcios, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria da Universidade de Braslia (UnB), como requisito parcial para a obteno do grau de Bacharelado em Gesto de Agronegcios.
Orientadora: Prof. Dra. Masa Santos Joaquim
Braslia/DF 2017
Ficha Catalogrfica
Lima, Tiago Geraldo de.
Estudo de viabilidade financeira de um sistema de cria na bovinocultura de corte no entorno do Distrito Federal / Tiago Geraldo de Lima. Braslia DF, 2017.
99 f.: il.
Monografia (Bacharelado em Gesto de Agronegcios)
Universidade de Braslia, Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinria, 2017.
Orientao: Prof. Dra. Masa Santos Joaquim.
1. Bovinocultura de corte. 2. Planejamento. 3. Viabilidade
Financeira. 4. RIDE.
ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA DE UM SISTEMA DE CRIA NA
BOVINOCULTURA DE CORTE NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL.
A Comisso Examinadora, abaixo identificada, aprova o Trabalho de Concluso de
Curso do aluno Tiago Geraldo de Lima.
_______________________________________________
Profa. Dra. Masa Santos Joaquim
Universidade de Braslia / FAV / UnB
(Orientadora)
_______________________________________________
Profa. Dra. Anna Paula Rodrigues dos Santos
Universidade de Braslia / FAV / UnB
(Examinador)
_______________________________________________
Prof. Dr. lvaro Nogueira de Souza
Universidade de Braslia / Engenharia Florestal / FT
(Examinador externo)
Braslia/DF Fevereiro/2017
Dedico este trabalho a minha esposa Ivana por estar ao meu lado ao longo desta jornada, pelo apoio, amor, carinho e compreenso. Ao meu pequeno Joo Pedro razo das minhas lutas e alegrias dirias. Aos meus pais que sempre me incentivaram a continuar os estudos e me deram as oportunidades necessrias para chegar at aqui.
Agradeo a Deus pela vida e por ter trilhado meus caminhos para que, apesar dos obstculos e dificuldades, vencer mais esta etapa. A minha esposa pelo companheirismo e compreenso das horas que estive que estar ausente. Aos meus pais, Jos Martins e Elisabete, pelo amor, carinho e ensinamentos durante toda minha vida. A minha irm Jacqueline e meu cunhado Tiago pelo apoio. A minha sogra Esperana (in memorian), ao meu sogro Jadir e minha cunhada Meili pelo incentivo e apoio durante a realizao do curso. A professora e orientadora Masa Santos Joaquim pela pacincia, compreenso e dedicao nesta orientao. Pelas boas conversas e sugestes que permitiram melhorar meu trabalho e alcanar meus objetivos. Ao senhor Carlos E. P. Borges, proprietrio da fazenda Rio Verde, pela confiana, ajuda e disposio em levantar os dados necessrios para realizao deste trabalho. Aos professores do curso de Gesto do Agronegcio da Universidade de Braslia pelo incentivo na busca de novos conhecimentos que contriburam em grande parte para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Ao funcionrio Alexandre Costa pelo esclarecimento de dvidas e ajudas administrativas ao longo desses anos. Universidade de Braslia, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria e ao curso de Gesto do Agronegcio pela oportunidade de realizao do mesmo. Ao meu amigo, mdico veterinrio, Sancho Sicola Junior, pela ajuda e esclarecimentos de dvidas quanto a alguns aspectos e indicadores zootcnicos. Aos meus amigos da graduao Beatriz, Camila, Guilherme Brito, Matheus, Giuliano, Fbio, Ligia, Joelma, Gabriel Henrique, Regiane, Lucas, Celestino, Jordane, Jameson, Arthur, Isabela, Murilo, Alvim, Vitor, Gilza, Giselle, Luciano, Alan, Pedro, Samuel, que se fizeram presentes em algum momento durante o desenvolvimento do curso e que, de alguma forma, contriburam para a realizao deste trabalho. A todos os outros que, porventura, no tenham sido citados, pela amizade e convivncia durante este perodo.
e, circunstancialmente, entre posturas mais urgentes, cada um deve sentar-se num banco, plantar bem um dos ps no cho, curvar a espinha, fincar o cotovelo do brao no joelho, e, depois, na altura do queixo, apoiar a cabea no dorso da mo, e com olhos amenos assistir ao movimento do sol e das chuvas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos assistir a manipulao misteriosa de outras ferramentas que o tempo emprega em suas transformaes, no questionando jamais sobre seus desgnios insondveis, sinuosos, como no se questionam nos puros planos das plancies as trilhas tortuosas, debaixo dos cascos, traadas nos pastos pelos rebanhos: que o gado sempre vai ao poo.
Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
RESUMO
A criao de bovinos de corte a pasto uma atividade agropecuria tradicionalmente desenvolvida no Brasil que tem sido aprimorada por meio de novas tcnicas de produo, melhorias dos ndices zootcnicos e gesto das propriedades buscando otimizar os fatores de produo e maximizar os resultados. O setor do agronegcio tem especificidades que exigem do produtor rural qualificao e planejamento para administrar seus empreendimentos diante de um mercado cada vez mais competitivo e com inmeros riscos financeiros, climticos, dentre outros, demostrando a importncia da gesto de custos e o uso de tcnicas agronmicas, zootcnicas e administrativas para o sucesso do negcio. Este trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade financeira da implantao de um sistema de cria de bovinos de corte na Fazenda Rio Verde localizada no municpio de Cocalzinho de Gois, GO, caracterizando-se como pesquisa de natureza exploratria descritiva realizada mediante um estudo de caso. A fundamentao terica foi baseada em pesquisas bibliogrficas e as informaes necessrias para a caracterizao da propriedade foram coletadas mediante visitas a campo. Foi confeccionado o fluxo de caixa da atividade com a previso dos custos e receitas a serem dispendidos e gerados ao longo de um horizonte de planejamento de cinco anos para a implantao do sistema de pastejo e outras tcnicas como creep-feeding, diferimento de pastagens, seleo e cruzamento industrial. Para a formao do preo de venda foram utilizados os preos histricos do bezerro desmamado com idade entre 8 e 12 meses dos ltimos trs anos (janeiro de 2014 a outubro de 2016) fornecidos pelo Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada CEPEA. Devido ao preo elevado em que se encontram as matrias primas utilizadas durante a realizao da pesquisa, o projeto no se tornou vivel financeiramente com as estratgias e tcnicas propostas. As estruturas da propriedade rural foram levantadas e inventariadas possibilitando o clculo da depreciao e insero da mesma nos custos de produo. As tcnicas de diferimento de pastagens, seleo, cruzamentos industriais e estao de monta so tcnicas promissoras de serem implementadas, pois exigiriam poucos aportes financeiros. O creep-feeding e o pastejo rotacionado tambm so tcnicas promissoras, principalmente pela elevao do nmero de animais por rea, desde que o gasto dispendido com a aquisio de rao e fertilizantes sejam reduzidos. Ressalta-se, porm, a necessidade de um bom planejamento para sua efetividade. O custo total de produo referente a investimentos e operacionalizao do sistema com as tcnicas propostas e para o horizonte de planejamento de cinco anos foi de R$1.420.696,92, representando um custo mdio de R$2.841,39 por hectare por ano. As receitas totais para o mesmo perodo foram de R$400.438,89. O Valor Presente Lquido (VPL) negativo demonstrou que invivel financeiramente a execuo do projeto, pois, os custos apresentaram valores maiores que as receitas. De uma forma geral, o cenrio financeiro para a produo de carne bovina a pasto na Fazenda Rio Verde no se apresentou promissor. A utilizao de estratgias nutricionais, programas de preveno a doenas, raas especializadas de corte mais precoces e com maior valor de mercado, assim como a capacidade de gerenciar custos e o conhecimento de mercado, so as ferramentas mais importantes que o produtor tem ao seu lado que podero modificar este cenrio e possibilitar tornar a pecuria de cria mais atraente e rentvel. Palavras-chave: 1. Bovinocultura de corte. 2. Planejamento. 3. Viabilidade Financeira. 4. RIDE.
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Mapa da propriedade Fazenda Rio Verde com as reas de pastagens previamente divididas.................................................................................................40 Figura 2 - Ilustraes de modelos de creep-feeding..................................................51 Figura 3 - Ilustrao e dimensionamento da rea destinada para alimentao com acesso exclusivo dos bezerros (creep-feeding).........................................................51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - ndices zootcnicos do rebanho brasileiro.................................................8
Tabela 2 - Taxa de acmulo de matria seca em pastagens de braquiria com idade superior a cinco anos, em resposta adubao de manuteno em Gois.........................................................................................................................26 Tabela 3 - Peso de bezerros mestios a desmama e fertilidade de matrizes Nelore........................................................................................................................29 Tabela 4 - Efeito do creep-feeding no desempenho de bezerros.............................31 Tabela 5 - Consumo de forrageira (Kg/MS/dia) estimado de acordo com a categoria animal........................................................................................................................45 Tabela 6 - Produo e consumo (Kg/MS/ha/dia) estimados de acordo com o perodo, meses do ano e nmero de animais no plantel...........................................46 Tabela 7 - Manejo das reas de pastagens de acordo com os perodos do ano (chuvoso e seco).......................................................................................................47 Tabela 8 - ndices zootcnicos e propostas de manejo do rebanho almejadas........48 Tabela 9 - Composio do rebanho em UA no perodo de cinco anos.....................50 Tabela 10 - Lista de materiais necessrios para construo de uma unidade de alimentao dos bezerros (creep-feeding) com rea de 8,1 metros quadrados (2,7 x 3 m)............................................................................................................................52 Tabela 11 - Teores mdios encontrados para diversos parmetros qumicos de trs amostras de solo da fazenda Rio Verde feitas no ano de 2009...........................................................................................................................54 Tabela 12 - Teores qumicos mdios encontrados para fsforo de trs amostras de solo da fazenda Rio Verde feitas no ano de 2009.....................................................55 Tabela 13 - Clculo da necessidade de calagem pelo mtodo da saturao de bases em toneladas por hectare de acordo com os resultados encontrados na anlise de solo...........................................................................................................55 Tabela 14 - Teores qumicos encontrados em algumas formulaes comerciais de fertilizantes e as respectivas quantidades necessrias para contemplar as exigncias da forrageira previstas no projeto............................................................56 Tabela 15 - Preos unitrios e totais dos fertilizantes comerciais (scs 50 kg)..............................................................................................................................57
Tabela 16 - Investimentos iniciais para implantao de um sistema de cria de bovinos de corte em um sistema de pastejo rotacionado (100 hectares).................58 Tabela 17 - Custos totais anuais no intervalo de cinco anos conforme evoluo do rebanho......................................................................................................................58 Tabela 18 - Preo mdio de comercializao conforme categoria animal em algumas regies do estado de Gois referente ao perodo de 2014 a 2016............59 Tabela 19 - Evoluo do rebanho e perodo de comercializao dos animais.........59 Tabela 20 - Receitas totais anuais no intervalo de cinco anos conforme evoluo do rebanho......................................................................................................................60 Tabela 21 - Fluxo de caixa durante o intervalo de cinco anos propostos conforme comercializao e evoluo do rebanho...................................................................60 Tabela 22 - Indicadores de viabilidade econmica.....................................................60
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEPEA - Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada DF Distrito Federal Ha - hectare IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada MS Matria Seca PAY-BACK Tempo necessrios para recuperar o capital investido PV Peso Vivo TIR Taxa interna de Retorno UA Unidade Animal UnB Universidade de Braslia VPL Valor presente lquido
SUMRIO
1. INTRODUO................................................................................................... 1
1.1 Objetivo Geral............................................................................................... 2
1.2 Objetivos Especficos................................................................................... 3
2. REVISO BIBLIOGRFICA.............................................................................. 3
2.1 Panorama da Bovinocultura de Corte.......................................................... 3
2.2 Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
RIDE................................................................................................................... 4
2.3 Cocalzinho de Gois.................................................................................... 6
2.4 ndices Zootcnicos...................................................................................... 7
2.5 Sistemas de Produo................................................................................. 8
2.6 Fases de Produo...................................................................................... 10
2.7 Planejamento e Manejo do Rebanho........................................................... 12
2.8 Tcnicas de Manejo Visando Ganhos de Produo.................................... 16
2.8.1 Melhoramento Gentico......................................................................... 16
2.8.2 Cruzamentos Industriais......................................................................... 18
2.8.3 Estao de Monta.................................................................................. 20
2.8.4 Pastejo Rotacionado.............................................................................. 20
2.8.5 Diferimento de Pastagens...................................................................... 27
2.8.6 Creep-feeding........................................................................................ 28
2.9 Custos de Produo..................................................................................... 31
2.10 Indicadores de Viabilidade Financeira........................................................ 34
2.10.1 Valor Presente Lquido (VPL).............................................................. 36
2.10.2 Taxa Interna de Retorno (TIR)............................................................. 37
2.10.3 Payback (PBE)..................................................................................... 37
3. MATERIAL E MTODOS.................................................................................. 38
3.1 Mtodos e Tcnicas de Pesquisa................................................................. 38
3.2 Local da Pesquisa........................................................................................ 39
3.3 Coletas de Dados e Levantamento dos Custos de Produo...................... 41
3.4 Metodologias dos Clculos........................................................................... 41
3.5 Das Propostas de Manejo e Implementao Relacionadas ao Projeto....... 43
4. RESULTADOS E DISCUSSO......................................................................... 49
4.1 Investimentos............................................................................................... 49
4.1.1 Matrizes e Reprodutores........................................................................ 49
4.1.2 Construo das reas de Creep-feeding............................................... 50
4.2 Custos Operacionais de Produo............................................................... 52
4.3 Anlises de Viabilidade Financeira............................................................... 58
4.4 Anlise de Sensibilidade.............................................................................. 61
5. CONSIDERAES FINAIS............................................................................... 62
6. CONCLUSO.................................................................................................... 63
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS
APNDICES
1
1. INTRODUO
A bovinocultura um dos principais destaques do agronegcio brasileiro no
cenrio mundial, conforme Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
(MAPA). O Brasil dono do segundo maior rebanho efetivo no mundo, com cerca de
200 milhes de cabeas. Desde 2004 assumiu a liderana nas exportaes
mundiais sendo comercializado um quinto da carne bovina para mais de 180 pases.
At 2020, a expectativa que a produo nacional de carne bovina ir suprir a
demanda de 44,5% do mercado mundial. As estimativas indicam que o Brasil poder
manter sua posio de primeiro exportador mundial de carne bovina (MAPA, 2016).
A criao de bovinos de corte a pasto uma atividade agropecuria
tradicionalmente desenvolvida no Brasil que tem sido aprimorada por meio de novas
tcnicas de produo, melhorias dos ndices zootcnicos e gesto das propriedades
buscando otimizar os fatores de produo e maximizar os resultados. Segundo
Lazzarini (2000), o empresrio rural deve estar atento e traar um planejamento
quanto aos trs principais fatores crticos produtividade do rebanho na pecuria de
corte: a estacionalidade da produo de pastagens e fornecimento de alimentos, o
potencial gentico do rebanho e as condies de sade dos animais.
Produzir alimentos vem se tornando cada vez mais complexo e desafiador
aos agentes envolvidos neste segmento da economia seja em funo do
cumprimento de questes legais relacionadas preservao dos recursos naturais,
poluio, tratamento de resduos, bem-estar animal, segurana alimentar, normas
trabalhistas, seja por questes climticas, econmicas, administrativas e
tecnolgicas, ou mesmo, as tendncias e exigncias mercadolgicas do pblico
consumidor. A habilidade de lidar e gerenciar todas essas variveis tornou-se pea
fundamental para o sucesso e permanncia dos empreendimentos no meio rural. A
realizao de um planejamento estratgico, pesquisas mercadolgicas, junto a um
estudo de viabilidade financeira, tornou-se essencial para o incio de qualquer
atividade econmica.
A gesto das empresas rurais compreende o processo de administrar todos
os procedimentos e recursos envolvidos na atividade, desde a aquisio de insumos
passando pela produo at comercializao do produto final. O planejamento das
atividades no mbito da bovinocultura de corte tem por objetivo organizar os fatores
2
de produo e as tecnologias existentes visando obter maiores resultados para o
pecuarista.
Segundo Baldini (2009), um empreendimento rural deve ser administrado
como toda e qualquer empresa, pois os princpios so os mesmos: comandar,
controlar, decidir, planejar. Sem um planejamento no possvel avanar os demais
princpios com eficincia. O autor ainda afirma que, a capacitao dos pecuaristas
na tecnologia de produo, na gesto dos negcios e comercializao dos produtos
tem papel fundamental para que o planejamento proporcione uma mudana e
transforme as fazendas em empresas rurais sustentveis, mais eficientes e eficazes.
Um sistema de custos completo possui objetivos amplos e refletem a
importncia da ferramenta para a gesto de qualquer empreendimento agropecurio
onde, os intervalos de tempo entre a produo e comercializao, exigem tcnicas
especiais para apresentao dos custos e resultados do empreendimento (MARION,
2014). Conhecer o custo unitrio de cada animal presente em estoque, pertencente
a cada lote ou ao total do rebanho, em determinado perodo, torna-se informao
imprescindvel ao gerenciamento da atividade rural. A finalidade no apenas de
apurao da rentabilidade no ato da comercializao, mas para evitar a manuteno
do gado na propriedade rural quando os custos se tornam excessivos em relao ao
ganho de peso (MEGLIORINI, 2012; MARION, 2014).
O presente estudo tem como justificativa propor alternativas que subsidiem o
produtor rural na tomada de deciso quanto aos investimentos destinados
atividade de pecuria de corte no entorno do Distrito Federal bem como
compreender as complexidades e importncia do clculo dos custos de produo e
anlise de viabilidade financeira de projetos possibilitando definir qual sistema de
criao poder ser o mais adequado a sua realidade.
1.1 Objetivo Geral
Avaliar a viabilidade financeira da implantao de um sistema de cria de
bovinos de corte na Fazenda Rio Verde localizada no municpio de Cocalzinho de
Gois, GO Brasil.
3
1.2 Objetivos Especficos
I) Inventariar as estruturas e caractersticas existentes na propriedade rural
em estudo;
II) Levantar os custos de produo;
III) Avaliar a viabilidade tcnica do creep-feeding, pastejo rotacionado,
diferimento de pastagens, estao de monta, seleo e cruzamento industrial.
2. REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Panorama da Bovinocultura de Corte
A criao de bovinos apresenta grande importncia para o agronegcio
brasileiro, registrando no ano de 2015 o maior rebanho comercial de bovinos do
mundo, com aproximadamente 216 milhes de animais (IBGE, 2015). Desde 2004 o
Brasil est entre os lderes na exportao mundial de carne bovina (MAPA, 2015),
gerando um valor aproximado de U$$ 7,2 bilhes de dlares no ano de 2014
(ABIEC, 2015).
Apesar de o pas apresentar esses dados econmicos importantes, a
produo considerada ineficiente devido a diversos fatores, entre eles, a baixa
taxa de lotao, idade muito alta para o primeiro parto, elevada idade ao abate e
pouco retorno financeiro, quando comparados com pases da Unio Europeia,
Austrlia, Estados Unidos e Argentina (SRIO, 2008).
Segundo Lemes (2001), a pecuria de corte brasileira apesar de apresentar
bons nmeros econmicos e quantitativos, enfrenta diversos problemas de
estruturao, devido ao forte apego de matriz cultural e conservadora, falta de
conhecimento de tecnologias, assessoria tcnica, e principalmente a dificuldade dos
produtores em anotar e controlar os dados de forma organizada. Ainda, segundo a
autora, a realizao de uma anlise econmica tem extrema importncia para a
tomada de deciso do produtor, onde, conhecer os custos, o investimento
necessrio para iniciar uma produo, ter uma viso das tendncias do mercado, da
concorrncia, dos seus pontos fortes e fracos ser uma das melhores ferramentas
4
para o produtor montar seu planejamento e ter sucesso na atividade de produo de
carne (LEMES, 2001).
A maior parte da produo de bovinos de corte se d nas regies do Centro
Oeste e Sudeste, que somam um pouco mais de 50% do rebanho nacional, segundo
dados do IBGE (2015). A bovinocultura de corte na regio do Centro Oeste
tradicional, possui vrias propriedades com grande potencial natural para esta
finalidade. O clima, solo, relevo e pastagens favorecem a atividade, a regio tambm
possui profissionais capacitados e comprometidos com o aumento da produtividade.
Outro aspecto que favorece o centro-oeste a logstica, onde esto situadas
grandes plantas de empresas frigorficas, que demandam grande volume dirio de
bovinos (MEZZADRI, 2012).
A regio Sul apesar de ter um rebanho menos expressivo em nmeros, ganha
destaque devido produo de animais de raas taurinas de origem britnicas
(Aberdeen Angus, Hereford, Devon), que tem valores de produo acima da mdia
nacional (FELCIO, 2001).
O futuro da bovinocultura de corte visto como um cenrio positivo, pois
conforme o CEPEA (2015) Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada
aponta que, apesar da atual crise econmica que o pas enfrenta e a deficincia
pluvial que se estende desde 2013, a pecuria vem se valorizando, devido,
principalmente, ao interesse de outros pases pelo produto brasileiro. Contudo, esse
cenrio no deve mascarar a ineficincia na gesto e na produo animal, e sim
servir como base para uma mudana de atitude na forma que se lida com a
produo de gado de corte.
2.2 Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno RIDE
Segundo Egler (2003), o art. 43 da Constituio Federal alicerou a criao
da institucionalidade denominada Regio Integrada de Desenvolvimento, ao
reconhecer problemas de interesses comuns em um territrio compartilhado, e o
papel articulador da Unio sobre determinado espao, sem estabelecer previamente
limite poltico ou administrativo para que se exera a cooperao. Permitiu desta
forma, arranjos espaciais entre entes federativos, sem exigir vinculao a
5
determinadas competncias, a no ser a inteno de promover o desenvolvimento e
reduzir as desigualdades regionais.
Este modelo preencheu a lacuna deixada pela instituio metropolitana, e
resultou na criao da primeira Regio Integrada, que foi a do espao metropolitano
de Braslia e seu Entorno, uma vez que os problemas ocasionados com a presso
sobre os servios pblicos da capital, a necessidade de formao de uma base
produtiva que evitasse a dependncia da criao de empregos por meio da
burocracia estatal e as questes de segurana j fundamentavam inmeros
programas e aes governamentais (EGLER, 2003).
Assim, a Lei Complementar n 94, de 19 de fevereiro de 1998, criou a Regio
Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno RIDE/DF, com o
propsito de fomentar a articulao da ao administrativa da Unio, dos estados de
Gois e de Minas Gerais e do Distrito Federal, para mitigar desigualdades regionais
ocasionadas pela alta concentrao urbana resultante do fluxo migratrio entre o
Distrito Federal e os municpios vizinhos. Sua rea de abrangncia de 55.435 km,
na qual abriga 4.291.577 habitantes, com densidade demogrfica de 77,4 hab/km
(IBGE, 2016).
A RIDE-DF alcana o Distrito Federal, trs municpios mineiros (Una, Buritis e
Cabeceira Grande) e 19 municpios goianos (Abadinia, gua Fria de Gois, guas
Lindas de Gois, Alexnia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Gois,
Corumb de Gois, Cristalina, Formosa, Luzinia, Mimoso de Gois, Novo Gama,
Padre Bernardo, Pirenpolis, Planaltina, Santo Antnio do Descoberto, Valparaso
de Gois e Vila Boa). Esta RIDE foi constituda com o intuito de buscar soluo para
os problemas gerados pelo crescimento desordenado de Braslia e de seu entorno, e
suas aes tm priorizado os Arranjos Produtivos Locais (APLs), tais como, o de
fruticultura, artesanato, confeco, movelaria e pedras, etc. (BRASIL, 2016).
O espao rural no Distrito Federal foi planejado inicialmente para ser
exclusivamente agrcola, contrapondo-se realidade urbana e dinmica de suas
atividades. Desde a sua criao, o DF sofreu um processo de valorizao de suas
terras, fazendo com que as reas inicialmente destinadas de forma exclusiva s
atividades rurais se transformassem em uma rea de utilizao complexa, que
inclua a realizao de atividades metropolitanas e no agrcolas. Desta maneira, o
espao rural idealizado para que a produo agrcola se desse de modo a ocupar
crculos em torno do Plano Piloto, sob a denominao de cinturo verde, passou a
6
ser fruto da especulao imobiliria, fazendo com que somente atividades com alta
lucratividade e dependentes de grandes investimentos pudessem concorrer com a
especulao vigente (RAMOS, 2013).
A RIDE-DF, em suma, busca aprimorar e estender os servios pblicos
essenciais, alm de desenvolver as atividades econmicas da regio para a criao
de empregos e gerao de renda (ALMEIDA et al., 2005).
2.3 Cocalzinho de Gois
Com uma rea de 1.789,039 km2, Cocalzinho de Gois foi institudo como
municpio e distrito pela lei estadual n 11.262, de 03/07/1990, quando foi
desmembrado de Corumb de Gois. O municpio, instalado em 01/01/1993,
localiza-se no centro-oeste goiano e integra o Eco-Museu do Cerrado, do Consrcio
das guas Emendadas e da Regio Integrada para o Desenvolvimento do Entorno
(RIDE), sendo o portal de entrada do corredor turstico dos Pireneus (IBGE, 2016).
A fauna e a flora do municpio destacam-se por sua riqueza, com cerrado
predominantemente, e pela existncia de rios e crregos que nascem em seu
territrio ou nele formam, os quais desaguam pelos rios Corumb e Areias ou ao
norte por meio dos rios Verde e Oliveira Costa. O turismo j aponta como uma
vocao do municpio, haja vista o incentivo dado pelas modernas leis voltadas para
essa atividade, e com as j existentes atraes tursticas, os hotis bares,
restaurantes, trs postos de combustveis na sede e um no povoado de Girassol, um
hospital particular e trs modernos postos municipais de sade, banco, hotel urbano,
policiamento ostensivo, entre outros (IBGE, 2016).
Ainda, segundo o mesmo instituto, em 2014, a produo pecuria local foi
diversificada, com registros de criao de bovinos, bubalinos, sunos, caprinos e
ovinos, galinceos, leite de vaca, ovos de galinha, mel de abelha e tilpia. O
rebanho bovino registrou um total de 85 mil cabeas (IBGE, 2014).
Cocalzinho de Gois tem um clima tropical classificado como Aw segundo
classificao de Kppen e Geiger com temperatura mdia de 21.7 C e pluviosidade
anual mdia de 1.534 milmetros. O clima Aw, pode ser encontrado em quase todo o
territrio goiano, caracterizando quase todo o estado como tendo clima tropical com
estao seca no inverno (CARDOSO, 2014).
7
2.4 ndices Zootcnicos
Indicadores de processo expressam visualmente ou numericamente a
situao de uma atividade. So fundamentais para uma empresa que pretende
controlar a eficcia de suas operaes e promover melhorias em seus processos.
Eles possibilitam identificar problemas e oportunidades, entender processos,
melhorar o controle e planejamento, facilitar a delegao de responsabilidades, entre
outros (PAIM, 2009).
As taxas de prenhes e natalidade so utilizadas como indicadores de
desempenho reprodutivo na fase de cria. Em estudo, Grecell et al. (2006), atribuiu
as baixas taxas de prenhes s condies nutricionais inadequadas, s perdas de
peso durante o acasalamento e aos partos tardios. Doenas reprodutivas, baixa
fertilidade do touro e infertilidade de fmeas tambm so fatores que contribuem
para a reduo desses indicadores.
A taxa de desmame um dos principais indicadores de desempenho
produtivo do sistema de cria, uma vez que indica quantos bezerros foram produzidos
a partir de um determinado nmero de vacas (DOYE et al., 2007). Segundo Dill et al.
(2015), produtores que atingem a taxa de desmame acima de 70%, tm maior
facilidade em adotar prticas gerencias. Taxas de desmame inferiores a 70%
indicam que o sistema apresenta dificuldades de gesto e interferem na
rentabilidade do negcio (CANELLAS et al., 2010).
O desmame precoce uma ferramenta que procura beneficiar a recuperao
do trato reprodutivo da fmea frente ao futuro acasalamento, principalmente em
ocasies de baixa disponibilidade alimentar. Entretanto, deve-se ter o cuidado para
no prejudicar o desenvolvimento do bezerro. O desmame precoce no busca
promover ganhos de peso superiores aos obtidos pela amamentao da vaca, e sim
garantir o desenvolvimento sem prejuzos ao animal (RESTLE et al., 1999), pois
quando o peso ao desmame baixo, o desenvolvimento futuro do bezerro
comprometido (SIMEONE et al., 1997).
A taxa de mortalidade representa em porcentagem, a quantidade de animais
que morreram em um ciclo de produo. Ela indica a eficincia do manejo sanitrio
do rebanho adotado na propriedade, programa nutricional, entre outros. Tambm
pode ser utilizada para avaliar o acasalamento e a pario, atravs da mortalidade
8
de bezerros, sendo aqueles que morreram desde o nascimento at o desmame
(OAIGEN et al., 2014).
A taxa de desfrute demonstra, em porcentagem, o quanto de animais foi
vendido em relao ao total presente no sistema. O desfrute indica a capacidade de
um sistema produzir excedentes para a venda. Em sistemas em equilbrio, a taxa de
desfrute um bom estimador do tempo de durao do ciclo de produo e da
velocidade de circulao do capital investido no sistema. Em estudo com sistemas
de ciclo completo, Beretta; Lobato; Mielitz Neto, (2002), obtiveram aumento na taxa
de desfrute conforme a maior tecnologia empregada e menor idade ao primeiro parto
de novilhas. Na tabela 1, segundo Euclides Filho (2000), esto relacionados alguns
ndices zootcnicos em sistemas melhorados e os indicadores mdios encontrados
nas fazendas brasileiras.
Taxa de desfrute = (n de animais comercializados / n total de animais) x 100
Tabela 1 - ndices zootcnicos do rebanho brasileiro.
ndices Mdia Brasileira Sist. Melhorado
Natalidade (%) 60 >80 Mortalidade at o desmame (%) 8 4 Taxa de desmama (%) 55 >77 Mortalidade ps desmame (%) 4 2 Idade primeira cria (anos) 4 2 Intervalo entre partos (meses) 20
9
histricas, econmicas e ambientais de cada regio (EUCLIDES FILHO, 2000;
SEBRAE, 2000; e SANTOS FILHO, 2006).
Nas ltimas duas dcadas a produo de bovinos de corte obteve
significativas alteraes no que diz respeito produtividade, acompanhada por
considerveis aumentos de indicadores tecnolgicos e eficincia dos sistemas de
produo (BARCELLOS et al., 2013). Os sistemas de produo devem desenvolver
a atividade com o uso de tcnicas produtivas eficientes, visando o aumento da
produo com o objetivo de reduzir os custos, resultando na economia de escala.
Entretanto, o aumento do custo varivel de produo e consequentemente,
acrscimos nos custos totais por unidade produzida inevitvel. Desta forma, s
vantajoso, o aumento dos investimentos para obteno de acrscimo na produo,
quando o lucro obtido em decorrncia do investimento, for maior do que os novos
custos (BANNOCK et al., 2003).
Conforme Arajo (2008, p. 53) existem trs tipos de sistemas de produo na
criao de animais: intensivo, extensivo e semi-intensivo ou semi-extensivo. O
sistema intensivo refere-se criao de animais de forma intensiva, caracterizados
por utilizao de tecnologias mais sofisticadas, maior investimento em construes e
alimentao (...), maior dedicao dos trabalhadores, menor espao disponvel,
maior assistncia etc., (ARAJO, 2008, p. 53). Ainda para este autor os principais
resultados das exploraes intensivas so: produtividade maior por rea e por
animal, rapidez de ganhos, mais facilidade para controlar os rebanhos.
Para Marion (2014) o sistema intensivo consiste na formao de pastagens
artificiais adequadamente adubadas e at irrigadas. Na melhoria tanto das
condies de alimentao (arraoamento, sal, minerais etc.), associando pasto mais
suplementao, ou pasto mais confinamento, melhorando as questes sanitrias
pela aproximao do curral com o rebanho e na introduo de novas raas
produtivas conforme cada regio, substituindo os gados nativos.
No sistema de produo extensiva, os animais so criados soltos em grandes
espaos. Sua alimentao totalmente pasto. So nfimos os investimentos em
construes e cuidado animal, resultando, geralmente, em ndices zootcnicos
aqum dos desejados (ARAJO, 2008, p. 53). Conforme Marion (2014) no sistema
extensivo geralmente os animais so criados em pastos nativos ou cultivados, e
10
dependem totalmente de recursos naturais. um sistema utilizado em reas recm-
formadas. Caracterizado pela baixa lotao animal, baixa oferta de forragem, bem
como, no ter um planejamento adequado para abrigar todos os animais. O manejo
sanitrio somente realizado conforme os calendrios de vacinao previstos para a
regio. O manejo zootcnico praticamente no existe.
De acordo com Marion (2014) a inviabilidade tcnica versus econmica dos
sistemas intensivos e extensivos pela degradao das forrageiras ou pastagens faz
com que o produtor que pretende manter-se no mercado adote um sistema
intensificado, em que se faz a implantao de forrageiras, cuja qual sofre
racionalidade nas divises de pastagens e que leva a maior capacidade de rea de
UA/ha/ano. Possibilita ainda o manejo mais adequado do rebanho, alm de
vacinaes obrigatrias, vermifugao, mineralizao e acompanhamento
zootcnico do rebanho.
2.6 Fases de Produo
A reproduo uma etapa importante dentro do processo produtivo, pois o
produto final, o bezerro, ser o principal item de receita para o fazendeiro. Tendo isto
em vista, o sistema de produo de bovinos de corte pode ser dividido em trs
categorias: cria, recria e engorda/terminao. Cabe ao produtor escolher realizar
essas trs fases dentro de uma mesma propriedade (ciclo completo), ou escolher
alguma dessas fases em especifico. (SEBRAE, 2000; ZENI, 2001; SANTOS FILHO,
2006).
A fase de cria definida pelo perodo da cobertura at o desmame. Esta
compreende o perodo em que o bezerro separado da me, normalmente com 6 a
8 meses de vida. Nesta idade o animal j tem total condio de utilizar alimentos
slidos como nica fonte de nutrientes e energia, sendo considerado um ruminante
(EMBRAPA-CNPGC, 1996). Esta fase pode ser considerada a mais importante da
produo, sendo que as escolhas feitas neste perodo pelo produtor iro definir o
sucesso ou insucesso na criao (QUADROS, 2005).
Zeni (2001) aponta alguns indicadores de eficincia nesta fase: taxa de
natalidade, material gentico do rebanho; condio nutricional das vacas; e uma
estao reprodutiva (monta) definida. O objetivo desta fase desmamar um
11
bezerro/vaca/ano e sua eficincia medida por quilos de bezerro desmamado por
vaca submetida reproduo no ano anterior.
Com os ndices de prenhes, natalidade e desmame baixos, no h aumento
na taxa de desfrute, ocasionando uma reduo na renda do sistema. Para que isso
no ocorra, a fertilidade do rebanho no pode ser comprometida pela sanidade,
nutrio, fertilidade individual da vaca, fertilidade do touro, entre outros (OLIVEIRA et
al., 2006).
A recria o perodo aps a desmama at o momento que o animal
encaminhado para reproduo ou terminao. Para as fmeas este perodo
destacado por um maior crescimento, utilizando sua energia para atingir o tamanho
ideal para reproduo. J para os machos caracterizado pelo alto potencial de
crescimento muscular, com baixa deposio de gordura (MEDEIROS, ALMEIDA &
LANNA, 2010).
Zeni (2001) e Pires (2010) apontam a recria como a fase que mais vem
recebendo ateno nos ltimos anos, com a adio de novas tecnologias e
melhoramento nutricional. Esta ateno se deve, ps neste perodo que o ganho
de peso de forma mais eficiente, em virtude das exigncias de mantena serem
baixas, e o ganho de peso no animal ser constitudo principalmente por gua e
protena, que um processo mais rpido e dispe menos energia do que a
deposio de gordura. Outro dado que os autores apontam a utilizao de
suplementos nesse perodo, devido a melhor resposta e ganho de pesos dos
animais.
A terceira fase o perodo de engorda/terminao, em que os animais, por
um certo tempo, recebem uma alimentao diferenciada podendo ser em sistema a
pasto ou confinamento fechado. A engorda foi muito necessria num perodo onde
os animais sofriam muito para chegar ao peso final de abate, devido a ineficincia na
fase de recria. Hoje o termo engorda vem se substituindo por terminao, pois
possibilita os animais que saem da fase de recria, atinjam o peso e a taxa de
gordura ideal na carcaa, agregando maior valor ao produto final, a carne (SEBRAE,
2000; BEEFPOINT, 2009).
12
2.7 Planejamento e Manejo do Rebanho
De acordo com Chiavenato (2009) planejamento a funo administrativa
que determina previamente quais so os objetos almejados e o que deve ser feito
para atingi-los de maneira eficiente e eficaz, isto , com o mnimo de recursos e com
o mximo de rendimento. Constitui a primeira funo do processo administrativo de
planejar, organizar, dirigir e controlar. O planejamento deve ter como princpios
maior eficincia, eficcia e efetividade, maximizar os resultados e minimizar as
deficincias, pois so estes critrios que servem de instrumentos para avaliao da
gesto (CHIAVENATO, 2009).
Um fator importante que deve ser considerado em qualquer atividade
desenvolvida no meio rural o clima. A produo de bovinos pode ser dividida em
dois perodos de produo bem distintos no ano na grande maioria das regies
produtoras de carne do pas. O perodo das guas, no qual h grande quantidade e
qualidade na oferta de pastagens devido ocorrncia de elevada umidade e calor, e
o perodo da seca, perodo em que a qualidade e quantidade das pastagens ficam
debilitadas devido s baixas temperaturas, umidade e luminosidade, sendo um
perodo caracterizado pela perda de peso do animal principalmente nos sistemas
extensivos de criao.
Segundo Resende Filho et al. (2010), o fator da sazonalidade do clima
responsvel pelos ganhos e perdas de peso dos bovinos. Nesse contexto, o
investimento na alimentao dos animais permite com que os mesmos no sofram
com a perda de peso. O planejamento prvio da produo de volumosos e o uso de
suplementaes promoveriam aos bovinos ganhos de pesos dirios e permitiriam
atingir a idade de abate em menos tempo, aumentando a lucratividade da atividade.
A utilizao do pasto a etapa em que o manejador da pastagem pode atuar
para obter maior oportunidade de alterao da eficincia do sistema produtivo.
Assim, aes de manejo devem, prioritariamente, atuar na etapa de utilizao da
forragem produzida, por meio do controle e monitoramento do processo de pastejo,
para resultar em aumento da produtividade do sistema (SILVA; CORSI, 2003).
O manejo das pastagens o conjunto de aes que buscam produzir
forragem de forma eficiente em quantidade e qualidade nutricional para os animais,
e tem como principal objetivo conciliar condies favorveis fisiologia e
13
desenvolvimento da planta forrageira sob pastejo, com o desempenho e produo
de carne bovina por hectare (BARBOSA; NASCIMENTO JNIOR; CECATO, 2006).
Ao bom manejo das pastagens, deve-se somar a conservao dos recursos
ambientais, evitando ou reduzindo os impactos negativos da eroso, da
compactao e da baixa infiltrao de gua no solo.
Estudos realizados por Pereira et al. (1995) concluram que o manejo
incorreto das pastagens o principal responsvel pela alta proporo de pastagens
degradadas em todas as regies brasileiras. O princpio bsico do bom manejo
manter o equilbrio entre a taxa de lotao e a taxa de acmulo de massa forrageira
(quantidade e qualidade). A taxa de lotao considera o nmero de cabeas por
hectare ou unidade animal por hectare (UA= 450 kg de peso vivo) variando ao longo
do ano (CEPLAC, 2005).
Controlar, planejar e analisar a atividade rural pensar no futuro da empresa.
Marion (2014) classifica manejo dos rebanhos como pastoreio. Que pode ser
pastoreio rotativo (em rodzio) e pastoreio continuo. Pastoreio rotativo quando
em algum momento interrompe-se o pastejo, mantendo o pasto livre por
determinado perodo. O pasto dividido em piquetes e em seguida insere o
pastoreio rotativo. Desta forma permite que o proprietrio racionalize a produo de
forragens, unificando a maior produo de forragens com a maior qualidade
nutricional. Considera-se como medida satisfatria uma rea de 70m de pastagem
por animal ao dia. A variao mdia para descansar o pasto de 25 a 35 dias
dependendo da forrageira. Esse tipo de processo moderno e se bem conduzido
leva a perpetuao da forrageira, no precisando fazer reformas. O meio ambiente
tambm beneficiado reduzindo totalmente o processo de degradao ambiental,
como acontece no pastoreio contnuo.
Pastoreio contnuo o inverso do pastoreio rotativo, o gado mantido
permanente e sem interrupo num mesmo pasto durante todo o ano. Entretanto
nos dois tipos de pastoreio seja rotativo ou contnuo de costume separar os
animais em lotes distintos, conforme a classificao do rebanho. Sendo assim pode
ter lote de vacas em cria, de animais de engorda, outro de bezerros etc. Para ambos
os pastoreios um dos aspectos fundamentais o planejamento do montante de
cabeas por hectare, evitando o excesso de animal para o pasto que se tem
disponvel, consolidando em maior produtividade. Da a preocupao dos
14
produtores, em manter o controle em termos de unidade animal por hectare, para
no ultrapassar o limite mximo e sim conseguir o ideal por pasto (MARION, 2014).
O manejo do pastejo pode ser entendido pela manipulao do processo de
colheita da forragem pelo animal num ecossistema de pastagens e pode ser
caracterizado pelo controle da frequncia e da intensidade da desfolhao
(CARNEVALLI et al., 2006; BARBOSA et al., 2007; PEDREIRA et al., 2007).
A frequncia de desfolhao refere-se ao intervalo de tempo entre duas
desfolhaes sucessivas e inversamente proporcional ao perodo de descanso. J
a intensidade de desfolhao a razo entre a massa de forragem removida e a
massa de forragem original. De modo mais prtico, sem considerar a massa de
forragem original, pode ser determinada pela altura de corte ou pastejo da planta.
Quanto mais alto o corte ou pastejo, menor a quantidade de forragem removida
por unidade de planta, e consequentemente menor a intensidade de pastejo
(ANTUNES, 2015).
Silva e Nascimento Jnior (2007) discutiram a elaborao de estratgias de
manejo das pastagens utilizando metas de altura do pastejo, que a mensurao da
altura do dossel forrageiro como ferramenta para direcionar o pastejo dos animais,
buscando eficincia de colheita da forragem produzida. A partir desta premissa, a
altura do pasto pode orientar a entrada ou sada de animais de uma determinada
rea com sistema de lotao rotacionada das pastagens, ou ainda a incluso ou
remoo de animais adicionais em sistemas de lotao contnua.
O mtodo de pastejo pode influenciar a quantidade de pastagem consumida
diariamente por animal, ento, deve-se respeitar o tempo suficiente para a
recuperao da planta e a produo de massa verde aps o ltimo perodo de
pastejo, pois, a nova massa verde disponvel tem influncia direta no
desenvolvimento do animal e no seu ganho de peso (OLIVEIRA; FARIA, 2006).
Uma das mais importantes limitaes nutricionais dos bovinos de corte nas
regies tropicais a deficincia de minerais, uma vez que as forrageiras geralmente
no atendem s exigncias dos animais. A composio de mineral na forragem
depende de vrios fatores, como solo, clima e espcie forrageira e sua maturidade
(EMBRAPA, 2006). As formulaes minerais so calculadas visando o suprimento
dirio das exigncias minerais, principalmente por meio de uma mistura nica e
15
completa. A maneira mais comum de se ofertar os minerais deixar vontade a
mistura mineral para consumo dos animais sob pastejo (VEIGA; CARDOSO, 2005).
Durante a seca, o gado emagrece quando se alimenta somente de pasto. Isso
acontece porque, nessa poca, a pastagem perde a maior parte do seu valor
nutritivo. Mas a perda de peso durante a seca pode ser evitada, mesmo que o gado
seja mantido somente a pasto. Nestas condies, o gado deve receber no cocho a
mistura de sal mineral com ureia. A ureia corrige a falta de protena do capim
existente na pastagem. Por outro lado, ao consumir ureia, o gado passa a comer
mais. Com isso, o gado pode manter e at ganhar algum peso, mesmo quando
depende s do capim fibroso existente na pastagem no perodo da seca. Segundo
Veiga e Cardoso (2005), as misturas que contm ureia exigem uma adaptao do
animal com a mistura, para se evitar um processo de intoxicao.
Para Arajo (2008, p. 55) no processo de manejo o controle de doenas
feito prioritariamente de forma preventiva principalmente com o uso de vacinas, com
programas preestabelecidos e seguidos com rigor (...). O conforto dos animais
muito importante para obter animais saudveis, bem alimentados e menos sujeitos a
doenas, endo e ectoparasitas. Normalmente, animais que tem conforto se
alimentam melhor, so mais resistentes a doenas e so mais produtivos. O
empreendimento tem de ser lucrativo. Portanto, as prticas de manejo devem
procurar integrar eficincia com minimizao de custos.
A sade dos animais um dos sustentculos de uma fazenda prspera e
lucrativa. Os cuidados sanitrios de um rebanho comeam com o nascimento dos
bezerros. Muitos pecuaristas tem um controle sanitrio do rebanho deficiente, por
quererem reduzir o custo e outras vezes, apenas pelo descaso do processo,
observou Lazzarini (2001). Dentro do controle sanitrio bovino, existem vrias
etapas de vacinaes durante o ano, como por exemplo, a vacinao contra a febre
aftosa, contra raiva bovina, contra brucelose, alm do controle parasitrio de vermes,
carrapatos, bernes, mosca do chifre.
Vacinar um dos principais procedimentos do manejo sanitrio, tratando de
um ato inteligente e prudente, com boa relao custo-benefcio. A funo das
vacinas propiciar a proteo dos animais contra as enfermidades naturalmente
ocorrentes na regio onde o rebanho est localizado. Fatores como idade, sexo,
16
espcie e tipo de manejo tambm determinam as vacinas a serem utilizadas
(EMBRAPA, 2006). Para obter sucesso na pecuria de corte, faz-se necessrio a
elaborao de um calendrio profiltico, esquematizando as pocas de vacinaes.
(AFONSO, 2003).
As vermifugaes so realizadas visando ao tratamento, controle e preveno
das infestaes endoparasitrias. Atualmente, os programas de controle parasitrio
visam maximizar a sade dos rebanhos e a produtividade do sistema de produo.
Os melhores programas de vermifugao so aqueles delineados, considerando-se
as metas do produtor, os custos e retorno econmico. Um programa de
vermifugao eficaz, em uma determinada regio, nem sempre eficiente em outro
local (EMBRAPA, 2006).
2.8 Tcnicas de Manejo Visando Ganhos de Produo
Arajo (2008, p. 54) conceitua manejo dos rebanhos como o conjunto de
prticas racionais adotadas nas criaes, com a finalidade de produzir animais de
forma econmica. Para um bom manejo precisa-se de investimentos, muito
trabalho, conhecimentos tcnicos e procedimentos adequados para atender as
necessidades dos animais. De forma que todo o processo de produo tenha
controle de todos os gastos de produo. Saber conduzir o manejo muito
relevante, uma vez que uma propriedade bem administrada proporciona maiores
produtividades. O produtor e os trabalhadores tero maiores rendimentos. Os
animais tambm sero beneficiados, tornando a produo mais vivel e lucrativa
impulsionando os produtores nas suas atividades.
2.8.1 Melhoramento Gentico
Para o aumento de produtividade no sistema pecurio nacional fundamental
a utilizao do melhoramento gentico animal. Considerando-se que o
melhoramento se baseia na anlise das caractersticas fenotpicas do indivduo com
a finalidade de selecionar aqueles geneticamente superiores, e mais adaptados ao
ambiente em que so criados, o melhoramento pode ser usado como ferramenta
17
para obteno de animais que sejam criados em sistemas de produo sustentveis
(MOREIRA, 2011).
Os programas de melhoramento gentico, desenvolvidos no Brasil,
especialmente aqueles relacionados com a seleo e comercializao de
reprodutores jovens tm apresentado grandes progressos no aumento da mdia de
pesos dos animais, bem como melhora na qualidade dos animais no sentido de
melhor conformao frigorfica e melhor musculosidade.
O melhoramento animal o resultado da aplicao de tcnicas que alteram
as frequncias dos genes, visando o aumento da produtividade, em determinado
ambiente. Esses processos so aplicados a populaes reais, visando alterar as
frequncias dos genes, com a certeza de que essas alteraes sero refletidas nas
prximas geraes, j que as fmeas so mantidas nos rebanhos, substituindo as
antigas matrizes, alterando, assim, o equilbrio gnico e genotpico das populaes
(FERRAZ E ELER, 2010).
No melhoramento gentico de bovinos, conforme Campos (2005), so
utilizados dois instrumentos bsicos de trabalho. O primeiro, a seleo, que consiste
na escolha dos pais das geraes futuras. O segundo, o sistema de acasalamento,
que envolve as diversas possibilidades de acasalar indivduos selecionados. A
combinao apropriada de seleo e sistema de acasalamento define, para qualquer
circunstncia, o plano de melhoramento. A importncia relativa de cada um dos
componentes do plano de melhoramento funo da natureza da variao gentica
predominante, isto , quando apresenta alta herdabilidade a seleo mais
importante que o sistema de acasalamento.
Segundo Santos (2009), o grande desenvolvimento da gentica e da
tecnologia tem sido os grandes impulsores do melhoramento gentico, pois com a
inseminao artificial (IA), com a inseminao artificial por tempo fixo (IATF), com a
fertilizao in vitro (FIV) e com a transferncia de embries (TE), tornou-se possvel
o nascimento de produtos melhorados geneticamente.
A seleo de animais geneticamente superiores baseada no mrito gentico,
pela qual se escolhe os indivduos que se tornaro os pais da prxima gerao,
promove alteraes nas frequncias dos genes de interesse e o consequente
18
melhoramento gentico de determinada caracterstica de importncia econmica
numa dada populao (SILVA, 2000).
O aumento da eficincia econmica da produo bovina est diretamente
correlacionado com a melhoria na eficincia reprodutiva e com a diminuio da idade
a puberdade (LBO et al., 2008; BALDI et al., 2008). A busca pela eficincia
reprodutiva de animais em programas de melhoramento gentico tem-se voltado
para a seleo de caractersticas que determinem aumento da fertilidade
(SCHWENGBER et al., 2001).
O aumento da precocidade sexual dos animais e da taxa de pario das
fmeas aumenta o nmero de descendentes na vida til e amortiza os custos da
criao de novilhas. Sendo assim o aumento do nmero de animais aumentar a
eficincia do processo de seleo, pois permite substituir mais rapidamente o
material gentico e aumentar a taxa de desfrute dos animais, o que resulta
positivamente no aumento de carne produzida ao ano, elevando a rentabilidade do
produtor (SCHWENGBER et al., 2001).
A produtividade e eficincia reprodutiva dos rebanhos de cria so
fundamentais para a maior rentabilidade da pecuria de corte (BERETTA; LOBATO;
MIELITZ NETO, 2002). A eficincia da fase de cria em bovinocultura de corte
relaciona-se com o desempenho reprodutivo e a habilidade materna das vacas a
qual juntamente ao potencial gentico para ganho de peso dos bezerros determinam
o peso ao desmame dos mesmos (RESTLE; HARGROVE; KOGER, 1984), sendo
essencial para as demais fases de produo (EUCLIDES FILHO, 1997).
2.8.2 Cruzamentos Industriais
Cruzamentos industriais so os cruzamentos entre indivduos de raas
diferentes buscando aumentar a eficincia na produo de carne. A razo principal
para se fazer o cruzamento orientado entre raas aumentar a lucratividade atravs
do aumento da produtividade e eficincia de produo (EUCLIDES FILHO, 1997).
Segundo Bacci (2009) os cruzamentos industriais buscam indivduos de DNA
bastante diferentes, visando gerar mximas heteroses, potencializando os genes
positivos dos animais.
19
Euclides Filho (1997) relata que ao se iniciar um programa de cruzamentos o
que se busca um ou mais dos seguintes benefcios: utilizar da heterose; usar as
diferenas entre raas, no que diz respeito ao mrito gentico aditivo, de forma a
sincronizar caractersticas de desempenho e adaptabilidade dos recursos genticos
com os recursos de meio ambiente tais como: clima, alimentao, manejo e outros;
usar da "complementariedade" quando se utiliza raas de touros com grande
potencial para crescimento e produo de carne sobre vacas mestias de
pequeno/mdio portes e, formao de novas raas, ou de novos grupos genticos.
Euclides Filho (1997) ainda ressalta que apesar de o uso de fmeas F1
possibilitar usufruir dos benefcios da heterose materna, ao se utilizar estas fmeas
para acasalamento com touros terminais, faz-se necessrio manter parte do rebanho
total de fmeas como rebanho puro. Isto tem a finalidade de produzir fmeas de
reposio, tanto para produo das F1 quanto para a substituio das puras.
O fato do cruzamento se constituir em uma forma rpida, e muitas vezes
econmica, de produzir carne bovina, no elimina a necessidade, nem diminui a
importncia, da seleo como mtodo de melhoramento gentico a ser realizado
concomitantemente. Raas puras melhoradas so, na verdade, elementos
fundamentais ao sucesso do cruzamento. De acordo com Bacci (2009), a seleo,
alm de fundamental na melhoria das raas puras, tem de ser componente essencial
em um programa de cruzamentos. Cruzamento sem seleo resultar em vantagens
facilmente superveis pela seleo em raa pura.
Segundo Euclides Filho (1997) a escolha e definio das raas iro depender
de diversos fatores, tais como: ambiente (clima, solo, pastagens etc.), exigncia de
mercado, mo-de-obra disponvel, nvel gerencial, sistema de produo, viabilidade
de uso de inseminao artificial, objetivo do empreendimento, nmero de vacas,
nmero e tamanho dos pastos e da propriedade. Pelos estudos desenvolvidos por
Euclides Filho (1997), a rentabilidade do pecuarista pode aumentar em at 25% com
o cruzamento industrial.
20
2.8.3 Estao de Monta
A adoo de uma estao de monta se torna uma ferramenta de grande
importncia para o sistema reprodutivo da fazenda. A prtica consiste na retirada do
touro do lote de fmeas e retorn-lo no perodo mais favorvel cobertura das
matrizes, normalmente determinada pelo melhor perodo para o nascimento dos
bezerros e a maior oferta de alimentos para as fmeas (HADDAD e MENDES,
2010).
Pires (2010) cita as principais vantagens de uma estao de monta pr-
definida: conhecimento da eficincia reprodutiva do plantel, o que facilita na seleo
de fmeas que no pegaram cria descartando-a do rebanho; facilidade de utilizao
de mo de obra, pois sincroniza os nascimentos no mesmo perodo; e a obteno de
lotes de bezerros homogneos, atributo importante para a comercializao das crias.
Outro fator importante que essa estao de monta no ultrapasse o perodo maior
de 90 dias, sendo o ideal um perodo entre 45 a 60 dias.
A avaliao da condio corporal das fmeas se faz necessria para melhor
eficincia do rebanho. Vacas com boas condies corporais ao parto retornam ao cio
mais cedo e apresentam maiores ndices de concepo, portanto necessrio que
as fmeas no perodo da estao de monta apresentem escore corporal 5 a 6 ao
parto (condio moderada a boa), aumentando os ndices de concepo ao incio do
parto (VALLE et al., 1998).
2.8.4 Pastejo Rotacionado
O destaque do Brasil no cenrio mundial como produtor pecurio se deve,
entre outros fatores, explorao do potencial produtivo de gramneas tropicais.
Essas espcies apresentam altas taxas de acmulo de biomassa durante a estao
chuvosa, consistindo-se em opo alimentar abundante e barata, o que coloca o
custo de produo da carne bovina entre os mais baixos do mundo. No entanto, o
impacto ambiental da criao de bovinos vem exigindo maior eficincia na aplicao
de tecnologias para aumento da produtividade das plantas forrageiras, sem a
utilizao de novas reas de terras (ANTUNES, 2015).
21
O melhoramento de campos nativos ou reas de formao de pastagens se
d atravs da construo, estruturao e tcnicas de manejo sobre o campo com o
objetivo de maximizar a produtividade do sistema. A correo do solo e o uso de
fertilizantes se fazem necessrios para potencializarem o desempenho das
forrageiras exticas visando elevar a disponibilidade de nutrientes essenciais no solo
(clcio, fsforo, potssio e magnsio), alm de diminuir a acidez do mesmo
(CRDOVA et al., 2004).
A adio de sementes de espcies cultivadas pode ser feita atravs de
sobressemeadura no mecanizada; preparo convencional do solo com gradagem
superficial; e atravs de mquinas e equipamentos para renovao de pastagens
(CRDOVA et al., 2004). O principal manejo adotado aps o melhoramento de uma
rea de campo se d atravs do mtodo de Pastoreio Rotativo ou tambm Pastoreio
Racional Voisin PRV, esses sistemas de manejo das pastagens so conhecidos
pela interveno humana sobre os animais, o pasto, o solo e da vida do ambiente
(CASTAGNA, 2008).
O pastoreio rotacionado consiste na diviso da rea de pastagens em
piquetes, nos quais so estabelecidos intervalos entre o repouso e o pastoreio do
gado, de forma que esse descanso proporcione o desenvolvimento das forrageiras
at o ponto que ela esteja favorvel para um segundo corte, portando esse perodo
de descanso pode variar conforme as pocas do ano. Essa prtica de manejo
permite que o animal apresente um consumo mais uniforme e um menor gasto
energtico, devido sempre ter a oferta de pastagens em excelentes condies
prximas a eles. Outro fator que deve ser considerado a distribuio dos animais
na pastagem, sempre tentando manter grupos de mesma idade e de funes
prximas, assegurando um aproveitamento homogneo da rea de pastagem por
parte do rebanho (CASTAGNA, 2008 e ZONTA et al., 2013).
Os dias de pastoreio ou de descanso no podem ser definidos de forma
concisa e variam de acordo com as condies ambientais e com a estao do ano.
Enquanto na primavera os rebrotes so mais rpidos, requerem perodos de
descanso mais curtos. No inverno, pelo crescimento menor da forragem, os perodos
de descanso so maiores (CRDOVA et al., 2004).
22
Esses sistemas preconizam utilizar a taxa tima de lotao, de modo que,
aumente o rendimento das forrageiras, melhore o desempenho animal, equilbrio das
espcies e conservao da fertilidade do solo. A medida que aumenta a carga
animal sobre a pastagem, diminui o processo de seleo dos bovinos, isso ocasiona
a diminuio de peso de forma individual dos animais mas proporciona um ganho
maior de peso/hectare para o rebanho manejado. (FONSECA, 1969; CRDOVA et
al., 2004).
Melado (2007) destaca os principais pontos e vantagens na utilizao do
sistema de PRV ou rotacionado, sendo eles: o aumento da capacidade de lotao
das pastagens; recuperao natural de pastagens degradadas, devido ao repouso
longo e curto perodo de ocupao; melhoria das condies de fertilidade e
permeabilidade do solo; controle natural de pragas do pasto e do rebanho;
conservao dos recursos hdricos e maior sequestro de carbono; aumentar a
docilidade dos animais; e maior facilidade de controle e administrao da
propriedade.
De acordo com Pedreira et al. (2001), o pastejo rotacionado formado por
uma sequncia regular entre o pastejo e o descanso sobre um nmero determinado
de piquetes. O manejo pode ser descrito de acordo com o perodo de pastejo e o
perodo de descanso, sendo a soma destes dois perodos que constitui o ciclo de
pastejo, e a razo entre o tempo de descanso e o tempo de pastejo constitui o
nmero de piquetes no sistema. O nmero de piquetes depende do perodo de
descanso e do perodo de ocupao indicados para a forrageira que se est
trabalhando, deve ser calculado de acordo com a seguinte equao:
Nmero de piquetes = (perodo de descanso / perodo de ocupao) + 1
A recuperao de reas degradadas fundamental em termos econmicos,
tcnicos e ambientais. Para a recuperao destas reas essencial melhoria da
fertilidade do solo e o manejo adequado da planta forrageira (IEIRI et al., 2010).
O manejo da fertilidade do solo em reas de pastagens degradadas difere do
realizado em reas recm-implantadas ou manejadas intensivamente h muitos
anos. Para a explorao intensiva das pastagens, a calagem e adubao esto
entre os fatores mais importantes que determinam o nvel de produo e a qualidade
23
das pastagens (CASTAGNARA et al., 2011). Em reas j degradadas, a correta
correo do solo e adubao pode resultar na recuperao das forrageiras.
Os capins do gnero Brachiaria destacam-se por serem os mais utilizados
como fonte forrageira na alimentao do rebanho bovino nacional. Entre as
espcies, destaca-se a Brachiaria brizantha (A. Rich.) Stapf cv. Marandu
(MONTAGNER, 2014). O nome comum brachiaro, brizantho, sendo uma
gramnea originria da frica Tropical e do Sul. uma das espcies formadoras de
pasto mais plantadas no Brasil, sendo utilizada para a alimentao de bovinos e
para a produo de feno, com excelente desempenho para desmama, cria, recria e
engorda. Quando bem formadas e manejadas, permitem lotaes que variam entre 1
UA (Unidade Animal) no perodo seco, at 3 UA/ha no perodo chuvoso (CRISPIM;
BRANCO, 2002).
De acordo com o IBGE (2006), o Brasil possui 158 milhes de hectares de
pastagens, dos quais 101 milhes so reas de pastagens cultivadas e 57 milhes
so pastagens naturais. A Brachiaria brizantha cv. Marandu representa
aproximadamente 70% do volume total de sementes comercializadas, sendo que em
alguns estados da regio norte, sua participao nas reas de pastagens estimada
em 80% e, em todo o pas, estima-se que 50% da rea de pastagens cultivadas
sejam formadas por esta cultivar (MACEDO, 2006).
As principais caractersticas que proporcionaram a essa forrageira ampla
distribuio no territrio brasileiro so a sua adaptabilidade a solos de cerrado de
mdia a alta fertilidade, elevada produo de forragem de qualidade, elevada
resposta adubao, boa produo de sementes, boa cobertura do solo e
resistncia ao ataque das cigarrinhas-das-pastagens (COSTA et al., 2009).
As pesquisas com gramneas tropicais sob pastejo demonstraram a existncia
de uma condio ideal para interrupo do perodo de rebrota dos pastos, que est
associada ao momento que o dossel forrageiro intercepta 95% da radiao solar
incidente. Nessa condio, o dossel composto principalmente por folhas e
apresenta baixa participao de colmos e material morto (CARNEVALLI et al., 2006;
BARBOSA et al., 2007; ZANINE et al., 2011).
A determinao da intensidade de pastejo, representada pelo controle do
momento de sada dos animais dos piquetes, influencia a capacidade de
24
recuperao do dossel forrageiro aps o pastejo e a durao do perodo necessrio
para que o dossel intercepte a radiao solar determinada como meta para o novo
pastejo. As combinaes possveis entre frequncia, e intensidade de pastejo,
promovem respostas distintas das plantas forrageiras. Estas respostas so
determinadas pelas modificaes no ndice de rea foliar do pasto, causadas por
modificaes nos padres demogrficos de perfilhamento (DIFANTE et al., 2008),
afetando o acmulo de forragem, a estrutura do dossel forrageiro e,
consequentemente, o processo do pastejo (DIFANTE et al., 2009).
Giacomini et al. (2009) e Pereira et al. (2010) avaliaram pastos de capim-
marandu sob pastejo intermitente submetidos a combinao de duas frequncias,
correspondentes s metas pr-pastejo de 95 e 100% de interceptao da luz
incidente pelo dossel (IL) e duas intensidades de pastejo (10 e 15 cm de resduo).
Os autores verificaram que o processo de alongamento do colmo e incio do
processo de senescncia foliar ocorria quando 95% da radiao incidente era
interceptada, indicando, que esse seria o momento ideal para interromper o
processo de rebrotao. Tambm foi observado que altura do dossel forrageiro,
relacionada com 95% de interceptao de luz foi de 25 cm. Alm disso, a maior
produo de forragem e a maior eficincia de pastejo foram registradas quando os
pastos atingiram o resduo de pastejo de 15 cm.
O manejo do pastejo tem por objetivo controlar o consumo de forragem pelos
animais garantindo que os mesmos possam colher a forragem em quantidade e
qualidade suficientes para alcanar os ganhos determinados geneticamente. O
manejo dos pastos de gramneas tropicais com condies controladas, notadamente
frequncia e intensidade de pastejo, tem se mostrado eficiente em melhorar o valor
nutritivo da forragem colhida pelos animais em pastejo (FLORES et al., 2008;
PAULA et al., 2012; SILVA et al., 2013).
Pastos manejados com maior frequncia apresentaram alteraes estruturais
no dossel que possibilitaram o maior acmulo de lminas foliares e maior
porcentagem de folhas na massa de forragem pr-pastejo, assim, os animais
receberam forragem de melhor valor nutritivo. Carvalho et al. (2012) observam que
quando a intensidade de pastejo privilegia o desempenho animal, elevados nveis de
ingesto de forragem so alcanados. Tal condio permite tambm o alcance de
25
elevados nveis de interceptao luminosa pelas plantas, elevada produo de
biomassa e incrementos nos estoques de carbono.
Antunes (2015) estudando o acmulo de forragem e o valor nutritivo de
capim-marandu submetido a estratgias de lotao intermitente concluiu que esta
forrageira sob pastejo rotacionado deve ser pastejado quando o dossel forrageiro
intercepta 95% da radiao solar incidente, o que corresponde altura de 30 cm. Os
animais devem ser retirados dos piquetes quando a altura de resduo chegar a 15
cm. Os tratamentos corresponderam s frequncias de desfolhao de 95 e 100%
de interceptao de luz (IL) pelo dossel, no pr-pastejo, e s intensidades de 10 e 15
cm de altura de ps-pastejo.
Ainda, segundo o mesmo autor, no pr-pastejo, pastos manejados com 95%
de IL apresentaram a menor massa de forragem, mas as maiores taxas de acmulo
de forragem e de folhas, relao folha:colmo, densidade populacional de perfilhos, e
teores de protena bruta e digestibilidade in vitro da matria orgnica das folhas.
Pastos rebaixados a 15 cm apresentaram maior taxa de acmulo de forragem.
Nessas condies o autor encontrou um acmulo mdio de forragem de 3.269 e 665
kg ha-1 de matria seca (MS) por ciclo de pastejo, para o pr-pastejo e ps-pastejo
respectivamente. O acmulo de forragem foi calculado pela diferena entre as
massas de forragem no pr-pastejo atual e no ps-pastejo anterior de cada piquete.
Segundo Andrade et al. (2011), a capacidade de suporte potencial das
pastagens tropicais de aproximadamente 12,5 UA/ha, considerando taxa de
acmulo de matria seca de 200 kg/ha/dia, eficincia de utilizao de 70% e
consumo de matria seca equivalente a 2,5% do peso vivo animal (11,25 kg/UA/dia).
Ainda segundo estes autores, as taxas de acmulo de matria seca obtidas em
pastagens de braquiria com idade superior a 5 anos, e que nunca receberam
adubao nitrogenada de manuteno, geralmente variam de 25 a 40 kg/ha/dia nas
pocas mais favorveis ao crescimento do pasto, valores que representam
aproximadamente 10 a 20% do potencial produtivo destas gramneas e que so
compatveis com capacidade suporte de apenas 0,8 a 1,6 UA/ha (na poca das
chuvas). Nas pocas menos favorveis ao crescimento do pasto (estao seca),
geralmente ocorre reduo de 50 a 80% nas taxas de acmulo de MS, dependendo
do clima da regio.
26
Na tabela 2 pode-se visualizar a taxa de acmulo de matria seca em
pastagens de braquiria em resposta aos diferentes nutrientes utilizados conforme
Andrade (2011).
Tabela 2 Taxa de acmulo de matria seca em pastagens de braquiria com idade superior a 5 anos, em resposta adubao de manuteno em Gois.
Adubaes Local Gois
Taxa de acmulo de MS (kg/ha/dia)
Nenhuma 26,5 Com P 25,9 Com K 26,7 Com N 40,9
Com NPK 82,4 Fonte: Andrade et al. (2011). Adaptado pelo autor.
Segundo Vilela et al. (2011), a exigncia por nutrientes das plantas forrageiras
tropicais elevada. A demanda por N, P e K, para produo de 1,0 t/ha de forragem
e dependendo da espcie, pode ser de 12,0 a 20,0, 0,8 a 3,0 e 12 a 30 kg/ha. A
baixa fertilidade da maioria dos solos do Cerrado restringe o crescimento vegetal,
tanto em razo da acidez elevada e dos nveis txicos de alumnio, como pela baixa
capacidade de fornecimento de nutrientes. Infelizmente, o esforo para melhorar a
nutrio e produtividade da planta forrageira no pas, por meio da adubao, ainda
muito limitado: em 2006, 1,6% dos estabelecimentos com pastagem do Brasil
declararam usar fertilizante (IBGE, 2006).
Investimentos no componente animal (gentica, nutrio, sanidade) so
indispensveis para assegurar a rentabilidade do empreendimento, pois o maior
desempenho animal diminui o tempo de retorno do capital (menor idade de abate) e
melhora o fluxo de caixa do negcio. Barcellos (1999) ilustrou a importncia de
associar gentica animal ao manejo do pasto e renovao de pastagens
degradadas. Durante 15 meses, o ganho de peso de animais cruzados (Nelore x
Blond DAquitaine), de maior potencial de produo, superou o ganho de peso de
animais nelore em 8,8% (161 kg x 148 kg) quando o pasto estava degradado. Com
ajuste no manejo, a diferena em favor dos animais cruzados aumentou para 15,4%
(263 kg x 228 kg), porm, tal efeito de curta durao na ausncia de medidas para
aumentar a produo de forragem. Em pastagens renovadas e manejadas
adequadamente, os valores de ganho de peso registrados para os cruzados
superaram aqueles dos nelores em 24,9% (266 kg x 213 kg). As produtividades no
27
pasto degradado, no pasto com ajuste de manejo e no pasto renovado e com
manejo de pastejo adequado foram de 3,4@, 11,9@ e 20,7@/ha/ano,
respectivamente.
2.8.5 Diferimento de Pastagens
A importncia das pastagens na produo de bovinos no Brasil
inquestionvel e reconhecida, fato relacionado, entre outros fatores, ao baixo custo
de produo nestas condies. Todavia, em razo da fenologia das forrageiras
tropicais e das condies de clima no decorrer do ano, a produo de forragem nas
reas de pastagens estacional, o que resulta na sazonalidade da produo animal
(SANTOS et al., 2009).
A produo de forragem no uniforme ao longo do ano, consequncia da
variao que ocorre na disponibilidade de fatores ambientais para o crescimento,
como gua, luz e temperatura. No Brasil Central pecurio, a produo de forragem
dividida em perodo das guas e perodo da seca. Segundo Pizarro et al. (1996), as
gramneas do gnero Brachiaria acumulam de 77 a 90% da produo total de
matria seca durante o perodo das guas. Consequentemente, pastos com essas
forrageiras comportam elevadas taxas de lotao nesse perodo, que so
drasticamente reduzidas durante o perodo seco (EUCLIDES, 2001).
Existem estratgias para disponibilizar forragem suplementar durante o
perodo crtico do ano em recurso forrageiro, como: formao de capineiras de capim
ou de cana-de-acar, ensilagem, fenao e diferimento do uso da pastagem. Estas
estratgias so viveis tecnicamente, porm o diferimento do uso da pastagem
consiste em uma das estratgias de mais fcil adoo e, em geral, de menor custo
(SANTOS et al., 2009). O pastejo diferido consiste em selecionar determinadas
reas de pasto e ved-las ao acesso dos animais, no fim do vero. Dessa forma,
possvel reservar o excesso de forragem produzida no perodo das guas, para
pastejo direto durante o perodo de escassez.
Bovinos mantidos em pastagens diferidas expressam desempenho modesto
ou simplesmente mantm seu peso corporal (SANTOS et al., 2004; GOMES JR. et
al., 2002), pois a forragem diferida , geralmente, de baixa qualidade. Assim, quando
se almeja maior desempenho animal, pode-se adotar a estratgia de suplementao
28
do pasto diferido para complementar o valor nutritivo da forragem disponvel e/ou
melhorar a converso alimentar (EUCLIDES E MEDEIROS, 2005).
Para otimizar a suplementao em pastagens diferidas, a disponibilidade de
forragem no deve ser limitante ao consumo animal. Nesse sentido, o perodo em
que o pasto permanece diferido fundamental para garantir produo de forragem
em quantidade e qualidade. Pastagens diferidas por longo perodo possuem alta
produo de forragem, porm de pior valor nutritivo. Por outro lado, menor perodo
de diferimento pode determinar baixa produo de forragem. Alm disso, durante o
perodo de pastejo ocorrem modificaes na massa e na oferta de forragem
disponvel, o que afeta o comportamento ingestivo e o desempenho dos animais,
mesmo quando estes consomem suplemento (SANTOS et al., 2009).
Para o diferimento de pastagem, deve-se optar preferencialmente por
espcies forrageiras que naturalmente apresentem menores tamanhos, boa
produo no outono e reduzido florescimento durante o perodo de diferimento.
(FONSECA et al., 2014). As plantas forrageiras mais indicadas para essa prtica so
aquelas que apresentam baixo acmulo de colmos e boa reteno de folhas verdes,
o que resulta em menores redues no valor nutritivo ao longo do tempo.
Para a regio do Cerrado, Euclides et al. (1990) destacaram como promissora
a Brachiaria decumbens, e Leite et al. (1998) a Brachiaria brizantha cultivar
Marandu. Vrios autores mostraram que medida que se aumenta o perodo de
vedao, h acrscimos no acmulo de forragem e decrscimos no seu valor
nutritivo (EUCLIDES et al., 1990; COSTA et al., 1998; LEITE et al., 1998).
2.8.6 Creep-feeding
Nas condies de Brasil Central, os bezerros para produo de novilho
precoce devem nascer entre agosto e outubro, provenientes de uma estao de
monta de novembro a janeiro. Deve-se oferecer pasto de qualidade e em quantidade
para que esses bezerros desmamem entre maro e abril aos 6-7 meses de idade.
No caso de escassez de forragem, os bezerros devem ser desmamados aos 3-4
meses de idade, para liberar as mes do estresse da amamentao.
Independentemente de quando seja o desmame, os bezerros devem ser
suplementados at o stimo ou oitavo ms de idade. Uma prtica conveniente para
29
um desmame de animais com peso elevado o creep-feeding e/o creep-grazing,
que deve ser realizado entre 50 a 180 dias de idade do bezerro (ENCARNAO;
SILVA, 1997). Os bezerros devem chegar a desmama aos 6-7 meses (maro/abril)
pesando, no mnimo, 200 kg, quando sero submetidos ao regime de pasto, ou iro
para o confinamento.
O creep-feeding a utilizao de um cocho privativo, ao qual apenas o
bezerro tem acesso. Visa suplementar a cria sem separ-la da me. O bezerro ainda
mamando recebe um reforo alimentar com uma rao concentrada. Os fatores que
afetam as respostas do uso do creep-feeding so a quantidade e qualidade do
pasto, a produo de leite das mes, o potencial gentico de crescimento, idade e
sexos dos bezerros a desmama, tempo de administrao, o consumo e o tipo do
suplemento (BARBOSA, 2003). Essa suplementao ir proporcionar um maior peso
a desmama, alm de melhorar a condio corporal das fmeas no prejudicando a
sua fertilidade futura (SEBRAE, 2000; SILVEIRA, 2001; ZENI, 2001).
Na tabela 3 esto demonstrados os pesos de bezerros mestios a desmana
aos cinco e sete meses e o percentual de aumento da fertilidade de matrizes nelore
com e sem o uso do creep-feeding, conforme Silveira et al. (2001).
Tabela 3 - Peso de bezerros mestios a desmama e fertilidade de matrizes nelore.
S/ Creep-feeding C/ Creep-feeding
Aumento (%)
5 meses (kg) 170 190 10,5 7 meses (kg) 200 245 18,3 Fertilidade das matrizes (%)
77,0 84,5 8,9
Fonte: SILVEIRA et al., 2001
A necessidade de produzir novilhos precoces e de aumentar a taxa de
desfrute dos rebanhos aumenta a importncia de se produzir animais com elevado
peso desmama. O ganho dirio dos bezerros no incio da lactao constitui um
indicativo da quantidade de leite produzido pela vaca (BOGGS et al., 1980). A
relao entre ganho de peso mdio dirio (GMD) do bezerro e a produo de leite
da me diminui depois de 16 semanas (LEAL E FREITAS, 1982). Acredita-se que, a
partir de trs a quatro meses de idade, parte dos nutrientes necessrios ao bezerro
de corte venha de outras fontes que no o leite materno.
30
Fordyce et al. (1996), ao trabalharem com animais Brahman e mestios,
encontraram diferena de 10,8% no GMD a favor dos bezerros suplementados com
16% de protena bruta e 66% de nutrientes digestveis totais (NDT). O consumo
dirio de suplemento foi de 0,40 kg por animal.
Nogueira et al. (2006) avaliaram o efeito da suplementao de bezerros em
sistema de creep-feeding, em pastagens de Brachiaria brizantha, durante o perodo
de amamentao, sobre o ganho mdio dirio (GMD), peso desmama (PD) e taxa
de gestao utilizando 102 vacas Nelore (primparas de baixa condio corporal ao
incio da estao de monta) e seus bezerros, divididos em dois grupos: sem e com
suplementao base de 20% de PB e 75% de NDT. O consumo mdio dirio
estimado no perodo foi 0,61 kg de suplemento/bezerro/dia perfazendo um consumo
total de 82,35 kg durante o perodo experimental. O consumo mdio dirio mensal foi
de 0,11, 0,25, 0,56, 1,01 e 1,20 kg para os meses de janeiro, fevereiro, maro, abril
e maio, respectivamente, aumentando com o aumento da idade dos bezerros.
Pacola et al. (1989) estudaram os efeitos da suplementao em creep-feeding
sobre os pesos de 495 bezerros Nelore aos 120 e 210 dias, sobre a fertilidade e o
peso das vacas pario e desmama. A suplementao dos bezerros que se
iniciou aos dois meses de idade e prosseguiu por 122 dias resultou em efeito
favorvel sobre o peso a desmama. As vacas cujos bezerros foram suplementados
em creep-feeding apresentaram tendncia de maior ganho de peso at a desmama
e melhor eficincia reprodutiva. Os autores observaram aumento do consumo de
suplemento com o aumento da idade dos bezerros. O consumo mdio dirio (CMD)
foi de 0,328kg/animal/dia durante todo o perodo (122 dias), variando de 0,066
durante o primeiro ms de suplementao, quando a idade mdia dos bezerros era
de trs meses, para 0,747kg no ltimo ms (idade de sete meses).
A tabela 4 mostra um compilado de referncias levantado por Oliveira et al.
(2007) sobre o efeito do creep-feeding no desempenho de bezerros de diversas
raas com suplementaes variadas quanto aos teores de protena e nutrientes
digestveis.
31
Tabela 4 - Efeito do creep-feeding no desempenho de bezerros.
Peso a desmama (kg)
Raa Consumo
kg/dia Suplemento Creep
Sem Creep
Fonte
Guzer 1,157 14% PB, 80% NDT
171,6 144,8 PACOLA et al. 1977
Nelore 0,328 15% PB, 80% NDT
193,8 180,8 PACOLA et al. 1989
Angus e Hereford
3,4 12,4% PB 235,4 199,8 TARR et al. 1994
Nelore 0,61 20% PB
75% NDT 163,8 155,1
NOGUEIRA et al. 2006
Simental x Nelore
1,4 19% PB
75% NDT 256,73 224,40
BENEDETTI et al.
2002
Fonte: OLIVEIRA et al. (2007)
Sistemas de pecuria de corte que utilizam suplementao animal,
normalmente alcanam maiores ndices produtivos. Ruiz et al. (2000) e Beretta,
Lobato, Mielitz Neto (2002), relataram diferena de 92% para a produtividade em
sistemas de recria-terminao, devido ao primeiro utilizar suplementao alimentar e
o segundo apenas pastagem.
2.9 Custos de Produo
O controle dos custos de produo e margens econmicas fundamental
para a gesto da propriedade rural. Este permite viabilizar a implementao de
processos tecnolgicos, como a seleo gentica dos rebanhos, a suplementao
estratgica, ajuste de carga, entre outros, que permitem diminuir o ciclo produtivo
(BARCELLOS et al., 2013). Apesar disso, a gesto produtiva e econmica dos
sistemas de produo no Brasil, um recurso pouco utilizado nas empresas rurais
(NOGUEIRA, 2007), acarretando no desconhecime
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