UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AUTISMO: CONHECER, RECONHECER E INCLUIR
Glaucia Ubaldo da Silveira
Orientador
Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AUTISMO: CONHECER, RECONHECER E INCLUIR
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como
requisito parcial para obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia Institucional.
Por: Glaucia Ubaldo da Silveira
Rio de Janeiro
2016
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a
Deus por sempre me guiar em todos os
momentos da minha vida.
Aos meus pais, por todo amor,
incentivo, respeito e amizade.
Quero agradecer a Cristiane, Paula e
Viviane e as todos os meus amigos da
AVM que me apoiaram e ajudaram nos
momentos em que mais precisei e
pelos momentos felizes e inesquecíveis
que vivemos.
Por último, quero agradecer ao
professor Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
pela orientação e colaboração no
desenvolvimento do meu trabalho.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais pelo incentivo, amizade
e respeito e a todas as famílias das
crianças acometidas pelo autismo.
RESUMO
Este presente estudo buscou analisar como o psicopedagogo deve
atuar frente aos desafios que uma criança autista apresenta nas instituições de
ensino. Primeiramente, entender que o autismo é uma síndrome com etiologias
múltiplas, e que vai variar de sujeito para sujeito, por não se manifestarem de
forma homogênea, e de acordo com o grau de severidade identificado. Desse
modo, cabe ao psicopedagogo um olhar sensível, investigativo e observador
para fazer sua intervenção de forma que auxilie a criança autista a desenvolver
suas habilidades e potencialidades, respeitando as singularidades e
particularidades, com intuito de melhorar seu desenvolvimento cognitivo e
social. Ressaltando que o quanto antes se iniciar o tratamento, há
possibilidades de melhoras significativas na evolução da síndrome.
O presente estudo também verificou a necessidade da formação
continuada dos professores para melhorar a sua prática didática na relação
com a criança autista em seu processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a
consolidação expressiva das políticas inclusivas para que realmente incida
tolerância e respeito diante das diversidades para uma educação de qualidade
e equidade para todos.
METODOLOGIA
Este presente trabalho baseou-se, principalmente, em pesquisas
bibliográficas, e em algumas consultas webgráficas. A pesquisa procurou
privilegiar autores com a finalidade de fazer uma revisão bibliográfica sobre o
autismo. E foi pautada em autores contemporâneos, tais como: Ana Beatriz
Barbosa Silva, Eugênio Cunha, Simaia Sampaio, entre outros.
Quanto à metodologia utilizada para a realização desta pesquisa foi
à qualitativa, buscando reunir o maior número de informações possíveis acerca
do tema.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Autismo: Breve Histórico, Etiologia, Epidemiologia e Características
Principais 10
CAPÍTULO II
A Importância da Intervenção Precoce da Criança Autista 24
CAPÍTULO III
A Inclusão da Criança Autista no Sistema Regular de Ensino 34
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 43
WEBGRAFIA 45
ÍNDICE 46
8
INTRODUÇÃO
Entende-se que o autismo ainda é um tema pouco conhecido pela
nossa sociedade, e muito do que se imagina é cercado por preconceitos e
mitos. É uma síndrome que desafia a ciência, suas causas ainda são mal
conhecidas, porém a incidência dos casos de autismo no mundo vem
aumentando consideravelmente e, desse modo, despertando grande interesse
de profissionais ligados tanto nas áreas cientificas, médicas quanto nas áreas
educacionais.
Compreende-se que a genética tem um papel preponderante, e que
os métodos e diagnósticos disponíveis hoje, possibilitam identificar um número
maior de casos. Diante disso, quanto antes se precisar o diagnóstico, devido ao
cérebro estar ávido por aprender, possibilitará famílias e responsáveis a
propiciar ao indivíduo um tratamento multidisciplinar de qualidade, a fim de
amenizar as causas de tantos estresses e sofrimentos.
Mas, o que se passa no cérebro do autista? Por que são tão
diferentes? Por que uns não aprendem a falar e outros desenvolvem
habilidades excepcionais?
O autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil, ou
seja, aquele desenvolvimento neurológico que se previa que ocorresse de
forma gradual não acontece e, irá se manifestar, principalmente, na dificuldade
absurda de interação social, na comunicação qualitativa e nas alterações de
comportamentos.
O universo do autista é algo muito singular, cheio de
particularidades, com suas nuances, como em uma paleta de cores, que vai do
mais claro para o mais escuro, ou seja, varia do grau leve ao severo.
Ao psicopedagogo, cabe um olhar sensível, investigativo, reflexivo e
o seu papel é fundamental para avaliar e elaborar programas de intervenção
estimulando a inclusão do aluno autista, para que este não se torne um objeto
que é depositado no fundo da sala de aula, tachado de “aluno-problema”.
Dessa maneira, propiciar, estimular, acolher e cuidar para que a criança autista
se sinta integrado na arena social e conquiste uma possível independência
9
diante da sua realidade e se desenvolva no seu processo de ensino-
aprendizagem.
O tema abordado é relevante, passivo da atenção das autoridades
do Estado, da sociedade em um todo, dos responsáveis pelas instituições de
ensino, pelos pais e/ou responsáveis e por todos os que se dediquem a
promover o bem. Pois, o autismo é um problema de saúde pública, devido ao
aumento na incidência dos casos de crianças afetadas pela síndrome e que
necessitam de tratamento adequado e não dispõe de recursos financeiros.
Este presente estudo visa resolver ao seguinte questionamento:
qual é o papel do Psicopedagogo nas instituições de ensino frente aos alunos
autistas? Entende-se que o Psicopedagogo deve tentar romper o estereótipo
de que criança autista vive isolada em seu próprio mundo, como se estivesse
dentro de uma redoma impenetrável, que brinca de forma esquisita, que fica
balançando o corpo de um lado para o outro, absorta a tudo e a todos.
Também, objetiva sensibilizar profissionais e familiares na busca de soluções
para o problema e suas conseqüências, no reconhecimento e respeito
tolerando as diferenças.
Os objetivos a que esse estudo se propõe são: apresentar e
entender o conceito de autismo; constatar a importância da intervenção
precoce da criança autista e buscar meios para a inclusão da criança autista no
sistema regular de ensino. Desse modo, no primeiro capítulo buscou-se
entender o conceito de autismo, falando brevemente da história do autismo na
Europa e aqui no Brasil, as causas e hipóteses, assim como, a taxa de
incidência e as características principais da síndrome. No segundo capítulo,
por sua vez, abordou como é impactante para os pais em um primeiro
momento receber o diagnóstico de um filho autista. Entender que ter um filho
autista não é sentença de morte e, que sim, dentro das possibilidades e
potencialidades de cada indivíduo, recebendo um diagnóstico precoce para que
se faça uma intervenção adequada e com apoio de uma equipe multidisciplinar,
o autista será capaz de obter uma autonomia significativa. E, finalmente, no
terceiro capítulo, pretendeu-se elucidar, brevemente, como ao longo da História
eram tratados os portadores de alguma deficiência e como até os dias atuais,
apesar das leis existentes, o preconceito e a discriminação ainda persistem.
10
CAPÍTULO I
AUTISMO: BREVE HISTÓRICO, ETIOLOGIA,
EPIDEMIOLOGIA E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
A origem do termo “autismo” vem do grego “autos” que tem o
significado “de si mesmo”. É um termo difundido na área médica, para
determinar comportamentos humanos que se concentram e que são voltados
para si mesmos.
É comum, também, a utilização de adjetivos para denominar o autismo, tais como: autismo puro, núcleo autístico, autismo (primário no caso de não-associação com outras patologias), autismo secundário, autismo de alto funcionamento, autismo de baixo funcionamento, entre outros. (ORRÚ, 2011, p. 17).
1.1. Breve Histórico
O primeiro a introduzir o termo autista na literatura psiquiátrica foi
Plouller, em 1906. Mas Paul Eugen Bleuler foi quem, em 1911, começou a
difundir o termo autismo para relacionar ao quadro de esquizofrenia, que
consiste na limitação das relações humanas com o mundo externo, e para
designar a perda do contato com a realidade, o que acarretava em uma grande
dificuldade ou impossibilidade de comunicação.
Para Sampaio & Freitas (2014), em 1943, Leo Kanner (médico
austríaco, residente em Baltimore, nos EUA) usou a mesma expressão para
descrever 11 crianças que tinham em comum comportamento bastante original
e denominou de “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”. Indicou que se
tratava de uma incapacidade inata para estabelecer contato afetivo e
interpessoal e que era uma síndrome muito incomum, mas, possivelmente,
mais frequente do que o esperado, pela quantidade de casos diagnosticados.
Kanner, também observou respostas incomuns ao ambiente que incluíam
maneirismos motores estereotipados, resistência à mudança ou insistência na
monotonia, bem como aspectos não-usuais das aptidões de comunicação da
criança, tais como: a inversão dos pronomes e a tendência a repetição nos
11
elementos da fala, denominado de ecolalia. Kanner foi cuidadoso ao fornecer
um contexto de desenvolvimento para suas observações.
De acordo com Mello (2011), em 1944, o austríaco Hans Asperger
(médico pediatra, também austríaco e formado pela Universidade de Viena, a
mesma de Kanner) descreveu crianças que tinham dificuldades de integrar-se
socialmente em grupos, denominando esta condição de “Psicopatologia
Autística da infância”. Estas crianças exibiam um prejuízo social marcante,
parecidas com as identificadas por Kanner, entretanto possuíam uma
linguagem bem preservada e pareciam mais inteligentes. Desse modo,
Asperger compreendia que elas se diferenciavam das crianças autistas, pois
não demonstravam tantas perturbações, possuíam capacidades especiais,
desenvolviam a fala altamente gramatical em uma idade precoce e não
apresentavam os sintomas antes dos três anos de idade.
Na década de 1960, Lorna Wing, uma psiquiatra de origem inglesa,
cuja filha era acometida pelo autismo, publica vários textos importantes sobre o
assunto e também traduz para o inglês as teorias de Hans Asperger. Dessa
forma, Wing torna-se a primeira pessoa a relatar uma tríade de sintomas, que
consistiam em: alterações na sociabilidade, comunicação/linguagem e padrão
alterado de comportamento. Ou seja, diante da tríade de sintomas foi possível
perceber que os indivíduos que eram afetados pela síndrome variavam de
graus de intensidade e, desse modo, com manifestações diferentes.
Também na década de 1960, Oler Ivar Lovaas, um psicólogo
comportamental, introduz ideias de que crianças autistas aprendem novas
habilidades através da técnica da terapia comportamental. Mas naquela época
a terapia comportamental sofria grande preconceito, devido a psicólogos que
adotavam outra linha de tratamento e pela sociedade em geral. A terapia
comportamental era o último recurso adotado pelas famílias e, por conseguinte,
o comportamento da criança com autismo era insuportável para os pais e para
a própria criança.
A partir da década de 1980, o autismo deixa de ser reconhecido
como “psicose infantil” ou esquizofrenia, e devido a esse reconhecimento,
houve maiores estudos científicos sobre o assunto. Diante disso, o autismo
passou a ser tratado como uma síndrome, como um distúrbio do
12
desenvolvimento e não mais como uma doença. Por está razão, cabe ressaltar
o significado do termo “síndrome”, para um melhor entendimento e
identificação se realmente um individuo é autista ou não. De acordo com
Ferreira (2001, p. 638), o significado de síndrome é: “Estado mórbido
caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas, e que pode ser produzido
por mais de uma causa.” Desse modo, compreende-se que para assegurar se
uma criança é mesmo autista, é necessário passar por uma avaliação médica
criteriosa e, logo em seguida, iniciar um tratamento especializado adequado.
De acordo com Silva, Gaiato & Reveles (2012), aqui no Brasil, a
história do autismo deve-se muito a um grupo de pais, a maioria com filhos
acometidos pelo autismo, que criaram a Associação de Amigos Autistas (AMA).
A primeira organização brasileira, fundada em São Paulo, em 8 de agosto de
1983. Está associação tinha o objetivo de amparar, informar e capacitar
famílias e profissionais, com cunho social e de pesquisa vasta, auxiliando as
famílias do Estado de São Paulo e do país. No ano seguinte, a AMA promoveu
o “I Encontro de Amigos Autistas”, que tratou de reunir médicos e outros
profissionais do Brasil que eram estudiosos da síndrome e instituições que
ofereciam atendimento a criança autista. Desse modo, no Brasil, até então, não
existia tal instituição com esta finalidade.
Devido há viagens realizadas ao exterior, especificamente, pela
Europa e Estados Unidos, conhecendo locais de tratamento, três mães
fundadoras da AMA, trouxeram para o Brasil mais metodologia especializada, e
ficou comprovado nestas viagens que era possível levar para o Brasil esses
recursos, com objetivo das crianças autistas se desenvolverem
significativamente. Nos dias de hoje, a AMA é reconhecida como referência na
formação de profissionais e por oferecer tratamento de qualidade e eficiência
nos casos de autismo.
A partir da década de 1990, com a criação do CID 10 (Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde)
e o DSM - IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais),
respectivamente nos anos de 1993 e 1994, houve uma melhor definição para a
síndrome. Dessa forma, o autismo não é uma doença exclusiva, única, todavia
é sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, determinado de um ponto de
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vista de uma síndrome comportamental, com causas múltiplas e graus variados
de severidade. A gama de sintomas apresentadas pelos autistas e essa
variação no nível de severidade pode ser leve, moderado e grave. Hoje, o
indivíduo portador desta síndrome enquadra-se no TEA (Transtorno do
Espectro Autista) descrito no DSM-V e no CID 10 como TID (Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento). O termo TID foi determinado para refletir o fato
de que várias áreas do funcionamento são afetadas no autismo e nas
condições a ele relacionadas. As manifestações comportamentais que definem
o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação,
padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito
de interesses e atividades.
Segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) sabe-se que
hoje, 70 milhões de indivíduos no mundo são acometidos pelo autismo, desse
modo, é mais comum nas crianças do que AIDS, câncer e diabetes. A partir de
dezembro de 2007, a ONU determinou que o dia 2 de abril fosse celebrado o
Dia Mundial de Conscientização do Autismo (World Autism Awareness Day –
WAAD). Com isso, no ano seguinte, ocorreu a primeira celebração do WAAD,
com enfoque nas pessoas com o transtorno do espectro autista.
Em dezembro de 2007, a ONU decretou que o dia 2 de abril seria o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado pela primeira vez em 2008. Pode parecer um pequeno passo, mas até bem pouco tempo atrás o autismo sequer era citado nos meios de comunicação. Portanto, é causa de alegria constatar que o autismo está saindo de um lugar de tabu e está começando a ser abordado com coerência, clareza e compaixão. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 15).
Em nosso país, o Dia Mundial da Conscientização do autismo foi
comemorado pela primeira vez, em 2 de abril de 2010, consolidando o Brasil
como um dos países que apóiam o WAAD. Diante disso, reuniu vários adeptos,
pessoas comprometidas, e ficou marcado pela iluminação em tom azul (que é a
cor escolhida para o autismo) em diversos monumentos, tais como: o Cristo
Redentor, no Rio de Janeiro; a Ponte Estaiada, o Monumento às Bandeiras e o
Viaduto do Chá, em São Paulo, assim como, o Prédio do Senado em Brasília.
1.2. Etiologia
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No âmbito da ciência, estudos relacionados aos casos de autismo
datam da década de 40. Mas, em se tratando de ciência é ainda um tempo
muito curto. E devido à complexidade em relação à etiologia, há muitas
divergências e controvérsias quanto às causas, tratamentos e curas sobre os
indivíduos acometidos pela síndrome. Ressaltando que muitos avanços foram
conquistados em termos de atendimento e tratamento.
As causas do autismo ficaram desconhecidas por um longo tempo. Acreditava-se que sua origem esteja em anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além disso, admitiu-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação ou no momento do parto. (MELLO, 2001, p. 12).
Dessa forma, faz-se imprescindível o acompanhamento médico
durante a gravidez. Gestantes devem fazer o pré-natal e observar o
desenvolvimento do bebê e relatar uma eventual anormalidade ao seu médico.
Posteriormente, acreditava-se que os casos de autismo estavam
relacionados ao comportamento de frieza das mães, onde estas eram
denominadas de “mães geladeiras”, devido a essas mães apresentarem
contato afetivo frio, mecanizado e obsessivo. Também achava-se que esse
comportamento de distanciamento da mãe estava relacionado a não resposta
de afeto que o próprio filho acometido pela síndrome não correspondia. Hoje
em dia, ainda é comum ouvirmos profissionais da área de saúde, que ficaram
estagnados no tempo, reproduzindo a teoria de Kanner e responsabilizarem as
mães por ter um filho autista. Essa teoria foi muito divulgada, mas foi
descartada e virou mito há décadas. Pois, anos mais tarde, o próprio Leo
Kanner veio a público e fez uma retratação acerca de suas considerações.
Essa teoria é equivocada, de acordo com Silva, Gaiato & Reveles (2012, p.
160) “Podemos atestar que essa hipótese é completamente absurda, já que
vemos, em nossa prática clínica, que essas mães de crianças com autismo são
extremamente afetuosas e, muitas vezes, dedicam a vida àquele filho”. Por
conseguinte, se essas mães não fossem afetuosas, preocupadas, não
buscariam tantos recursos e/ou tratamentos, a fim de amenizar tal sofrimento
para os filhos que se enquadram no TEA.
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Outra suposição era que alguns pais acreditavam que seus filhos
tornavam-se autistas devido a algum tipo de doença, por exemplo, a epilepsia,
já que a epilepsia é comum no início da vida da criança e na adolescência.
Cabe ressaltar que desde a primeira descrição de Leo Kanner, em 1943, a
associação do transtorno do espectro autista com a epilepsia já era descrita.
Outros pais supunham que devido a alguma cirurgia sofrida nos primeiros
meses de vida ou a chegada de outro bebê poderia ter desencadeado a
síndrome, já que as mesmas começavam a demonstrar alterações nos seus
comportamentos, ou seja, algo fora do padrão comparado às crianças da
mesma faixa etária.
Uma causa muito polêmica estava relacionada ao uso da vacina
tríplice viral. Para Silva, Gaiato & Reveles (2012, p. 176), “durante um longo
período, alguns pais associaram a causa do autismo a algumas vacinas e este
fato fez com que parassem de vacinar os seus filhos.” Mas, tal hipótese foi
descartada devido à realização de pesquisas bem sucedidas.
Um antígeno que tem recebido atenção considerável nos últimos anos é a vacina contra o sarampo, caxumba e rubéola (tríplice), que pode produzir anticorpos que reagem de forma cruzada com proteínas do sistema nervoso. Por conta de relatos informais de aparecimento de sintomas autistas após a vacinação, tem havido um aumento nas pesquisas entre a vacina e o autismo. (WHITMAN, 2015, p. 136).
Entende-se que a maioria das vacinas são aplicadas, geralmente, na
faixa etária até entre os dois anos de idade, e é precisamente nesta fase que
os sintomas do autismo se evidenciam. Há que se ressaltar que o não uso da
vacina tríplice viral, pode sim aumentar o risco de morte e doença quando não
acontece a vacinação.
Compreende-se que os fatores ambientais tendem a executar um
papel na forma como esta síndrome se manifesta. Para Silva, Gaiato & Reveles
(2012, p. 175), “Além dessas causas, não devemos descartar a hipótese de
que crianças com predisposição genética ao autismo também estão sujeitas a
fatores ambientais, que podem deflagrar o surgimento do problema.” Desse
modo, recomenda-se cuidados preventivos gerais a todas as gestantes, tais
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como: não ingerir bebida alcoólica, não fumar, não utilizar drogas,
medicamentos, radiações etc.
De acordo com a professora Anick Bérard, da Universidade de
Montreal, Canadá, uma pesquisa realizada no Centro Hospitalar Universitário
Sainte-Justine, principal responsável pelo estudo, indicam que as grávidas que
tomam antidepressivos, principalmente aqueles que agem sobre a serotonina
(um neurotransmissor) no segundo e terceiro meses de gestação, aumentam
consideravelmente o risco de a criança desenvolver o autismo. A pesquisa
relata que mães que possuem histórico familiar de autismo têm uma maior
predisposição genética para o transtorno, assim como a idade da gestante e a
depressão podem também estar associados ao surgimento da síndrome.
Desse modo, os fatores socioeconômicos e a pobreza podem exercer alguma
influência também, por falta de informação e tratamento especializado.
Segundo um estudo realizado pelo Instituto Karolinska, de
Estocolmo, publicado pela revista “Molecular Psychiatry”, relatam que mães ao
produzirem em excesso o hormônio masculino durante a gravidez, aumentam
consideravelmente, o risco de a criança desenvolver transtornos autistas. O
estudo em questão demonstra pela primeira vez que existe um vínculo entre a
síndrome de Stein-Leventhal, ou Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), e o
Transtorno do Espectro Autista (TEA). O presente estudo ainda relata que
mulheres acometidas por esta síndrome, ou seja, de 5% a 15% das que estão
na idade para terem filhos, separam uma quantidade significativa elevada de
hormônios andrógenos, também durante a gravidez.
Estudos genéticos, apesar de muito importantes, ainda engatinham nas elucidações da causa do autismo e é provável que a tese do excesso de testosterona não explique todos os casos de autismo existentes no mundo. Mas tudo indica que isso pode ser um dos fatores nessa colcha de retalhos. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 55).
Outra suposição relacionada aos casos de autismo clássico é a
fenilcetonúria, a saber:
Pessoas com esse transtorno genético são incapazes de metabolizar a fenilalanina, um aminoácido. Quando expostas à fenilalanina em sua dieta (fator ambiental), crianças com este transtorno tipicamente experimentam grave retardo mental e de
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crescimento, mas com uma dieta especial sem fenilalanina, o desenvolvimento ocorre normalmente. (WHITMAN, 2015, p. 125).
Faz-se necessário um diagnóstico precoce, logo após o nascimento
realizar o teste do pezinho, é imprescindível para detectar a fenilcetonúria e
realizar as mudanças alimentares necessárias.
Hoje, entende-se que o autismo é uma disfunção global do
desenvolvimento, que é a expressão de um desenvolvimento anormal cerebral
e que resulta em disfunções mais ou menos difundidas na rede neural
complexa e vastamente distribuída (mais de 40% com alterações das ondas
cerebrais). Essa condição é genética, vai variar em graus de severidade de
acordo com individuo acometido pela síndrome e implicará na capacidade de
comunicação, na socialização e no comportamento.
1.3. Epidemiologia
As incidências dos casos de autismo vão variar de acordo com
critérios utilizados por cada autor. De acordo com Simaia & Freitas (2014, p.
167), “A taxa média de prevalência do transtorno autista em estudos
epidemiológicos é de 15 casos por 10.000 indivíduos, com relatos de taxas
variando de 2 a 20 casos por 10.000 indivíduos”.
Entende-se que a incidência de casos de autismo no Brasil tem
aumentado consideravelmente. Devido a uma estimativa feita em 2007, quando
a população do país girava em torno dos 190 milhões de habitantes, os casos
de autismo eram de um milhão, ou seja, um para cada 190 habitantes.
Estima-se que os números de casos de autismo entre meninos e
meninas são: três a quatro meninos para cada menina. O que foi percebido
também é que essa proporção varia, no entanto, em função do grau de
funcionamento intelectual, ou seja, de acordo com essa hipótese, quando uma
pessoa com autismo for uma menina, ela teria maior probabilidade de
apresentar prejuízo cognitivo grave.
A síndrome de Asperger, que compõe o quadro do transtorno autista
afeta também mais meninos do que meninas. A incidência é dez vezes mais
frequente em meninos.
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Outras hipóteses foram propostas, incluindo a possibilidade de que o
autismo seja uma condição genética ligada ao cromossomo X, estando os
meninos mais vulneráveis, entretanto os dados ainda são limitados para se
chegar a conclusões.
Cabe ressaltar que o autismo não está relacionado com diversidades
sociais, culturais, credo, raciais, entre outros. Desse modo, os indivíduos
acometidos por autismo, apresentam a mesma prevalência em relação às
variáveis sociodemográficas.
1.4. Características Principais
Entende-se que o Autismo é um distúrbio do desenvolvimento
humano que geralmente aparece nos três primeiros anos.
Dentre as características mais divulgadas dos casos de autismo,
podemos destacar as seguintes manifestações: prejuízos na comunicação; na
interação social; comportamentos repetitivos, entre outros.
Normalmente, os pais começam a se preocupar entre os 12 e os 18
meses, na medida em que a linguagem, a fala não se desenvolve.
Compreende-se que a fala é um sistema de comunicação aprendido
que requer o uso coordenado da voz, articulação e capacidade de utilizar a
linguagem. A fala precede à escrita. Crianças muito antes de serem
alfabetizadas já possuem um vocabulário extenso. Apenas a raça humana é
dotada da habilidade de falar. Os animais emitem sons específicos de sua
espécie, o papagaio escuta e imita, mas não tem a capacidade de pensar e
expor suas idéias. A nossa faringe é longa e nos da à habilidade física de
produzir diversos sons. A fala é espontânea, pode ser formal ou informal, vem
acompanhado de gestos, de expressão facial, tom de voz etc.
Observa-se que as crianças desde o útero da mãe são expostas aos
sons: seja da fala, de músicas, de ruídos etc. Desse modo, o bebezinho já é
capaz de reconhecer a voz da mãe logo nos primeiros meses de vida. O
processo para aquisição da linguagem vai depender dos estágios, do
amadurecimento biológico dessa criança. À medida que a criança é estimulada,
como no exemplo da palavra água. Nas primeiras tentativas, a palavra não terá
muito significado, a pronuncia da palavra será parecido com ga, ga, gu, gu. Até
conseguir expressar corretamente levará certo tempo. Todo esse processo
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para aquisição da linguagem para a criança é extremamente acelerado, com
pouca idade já possuem vocabulário extenso, e já se fazem entender. Por
estas razões, os pais ficam em alerta, pois começam a perceber e comparar
que os coleguinhas dos filhos e os sobrinhos já possuem um determinado
vocabulário e, geralmente, vão procurar um atendimento médico, que deve
encaminhar essa criança para o fonoaudiólogo para descartar algum problema.
Cabe salientar que não são todas as crianças que vão apresentar a
ausência da fala. Algumas desenvolvem um excelente desenvolvimento da
língua falada, outras falam na terceira pessoa, por exemplo, “Glaucia quer
comer” ou “Ela está com fome”. Crianças autistas também costumam falar
coisas repetidas ou falar apenas sobre um assunto específico.
Dessa forma, as crianças/indivíduos que são afetados por esta
síndrome apresentam características um tanto quanto peculiares e nem
sempre os autistas são diagnosticados com os mesmos sintomas.
Os prejuízos na comunicação ocorrem em graus variados, tanto na
habilidade verbal quanto na não-verbal de compartilhar informações com
outros. Entende-se que o objetivo da linguagem é a capacidade do ser humano
de se comunicar. Desse modo, a linguagem verbal utiliza para a sua
comunicação as palavras, sejam elas faladas ou escritas, por exemplo, uma
carta, e-mail etc. A linguagem não-verbal é aquela que utiliza para atos de
comunicação outros sinais que não são as palavras, por exemplo, sinal de
trânsito, as bandeiras na pista de corrida etc. É comum o uso das duas
linguagens, paralelamente, na comunicação.
Estamos vivendo em pleno século XXI, na Era da Informação, da
comunicação. Hoje, com o avanço da tecnologia, onde os meios de
comunicação são imediatos. As informações viajam pela internet e em
segundos atravessam continentes. Mas, o que fazer com o indivíduo que não
é capaz de entender os sinais de comunicação? E como ficam esses sujeitos
nesse mundo conectado e comunicativo? Sabe-se que pessoas afetadas pelo
autismo sofrem grande prejuízo na capacidade de se comunicar e interagir com
o outro e, com isso, podem se isolar cada vez mais em seu mundo particular.
Para Mello (2001), a dificuldade de comunicação está em utilizar com sentido
todos os aspectos da comunicação verbal e não verbal, que inclui os gestos, as
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expressões faciais, a linguagem corporal, o ritmo e modulação na linguagem
verbal. Desse modo, algumas crianças não desenvolvem habilidades de
comunicação, outras desenvolvem uma linguagem caracterizada por jargão,
ecolalia, reversões de pronome, prosódia anormal etc. Os que conseguem se
expressar pode ter dificuldade em iniciar ou mantiver uma conversa apropriada.
Os déficits de linguagem e de comunicação persistem na vida adulta, e uma
proporção significativa de autistas permanece não-verbais.
Por vezes, o autista para pedir alguma coisa ao invés de falar, usa
pessoas como ferramenta. Dessa maneira, utiliza partes do corpo de alguém,
por exemplo, o braço para apontar aquilo que se deseja.
As dificuldades na interação social em TID (Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento) podem manifestar-se como isolamento ou comportamento
social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em participar de atividades
em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta
de empatia social ou emocional.
Sabe-se que nós, humanos, somos animais sociais e se não
tivéssemos formado grupos, nossos antepassados teriam desaparecido da
Terra. Desse modo, sabemos da importância da interação social para se viver
em sociedade. Deve-se ressaltar a importância e entender como é viver em
sociedade. Por essa razão, a definição da palavra sociedade é a seguinte:
1. Agrupamento de seres que vivem em estado gregário. 2. Grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob normas comuns; comunidade. 3. Grupo de pessoas que, submetidas a um regulamento, exercem atividades comuns ou defendem interesses comuns; grêmio, associação, agremiação. 4. Meio humano em que o indivíduo está integrado. 5. Contrato pelo qual pessoas se obrigam a reunir esforços ou recursos para a consecução dum fim comum. (FERREIRA, 2001, p. 642).
E esse podemos dizer que é um dos grandes desafios enfrentados
pelos autistas: viver em sociedade, viver com o outro. Diante disso, observa-se
que crianças autistas na presença de outras, se isolam, não sentem prazer em
brincadeiras coletivas e tendem a evitar o contato físico a todo custo. Por
vezes, não respondem quando chamadas pelo nome, agem como se fossem
surdas, não percebem que estão falando com ela. Por conseguinte, a
21
socialização é muito comprometida, além deles também apresentarem
dificuldade de se colocar no lugar do outro.
O autista não tem a leitura social, é incapaz de mentir, não lê nas
entrelinhas, a expressão facial e corporal é de difícil compreensão. Se alguém
faz uma expressão de irritação, o autista não entende isso, e continua falando
compulsivamente sobre o que lhe é de interesse.
O autista quando olha para o rosto de um determinado indivíduo
não vê o todo, ele se concentra nos detalhes, por exemplo, o rosto é visto por
partes.
Alguns estudos mostram que pessoas com autismo demoram mais tempo para mudar a atenção de uma coisa para outra, cerca de cinco segundos, em média. Isto significa que, quando olham para um rosto, se prendem a uma parte por um tempo muito maior que as outras pessoas, construindo uma imagem cerebral de um conjunto de partes isoladas e não de um todo. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 44).
Dessa forma, o autista não reconhece, por exemplo, o rosto do seu
pai, e sim um conjunto de boca, nariz, olhos que não formam uma imagem
completa.
Na medida em que esses indivíduos entram na fase adulta, há, em
particular, uma melhora do isolamento social, mas a pobre habilidade social e a
dificuldade em estabelecer amizades continuam. Nestas fases acontece
também dos autistas cometerem interpretações equivocadas a respeito de
como são percebidos por outras pessoas.
Os padrões repetitivos e estereotipados de comportamento
característicos do autismo incluem resistência a mudanças, insistência em
determinadas rotinas, apego excessivo a objetos. Frequentemente apresentam
estereotipias motoras e verbais, tais como: se balançar, bater palmas
repetitivamente, andar em círculos, repetir determinadas palavras ou frases.
O autista apresenta esses comportamentos repetitivos, sem muito
significado e que ficam realizando sem uma finalidade muito clara. Portanto, o
autista vive em um mundo metódico, por exemplo, acordar na mesma hora,
vestir a mesma roupa, tomar o café na mesma xícara, prato etc. Sabe-se que
22
uma simples mudança de rotina para o autista, como: deslocar-se de uma local
para outro, mudar objetos de lugar ou mudar-se de uma casa etc., pode
desencadear um desconforto desagradável em algumas crianças.
Outra característica marcante observada é o pouco ou nenhum
contato visual, o autista sente-se incomodado com os olhos nos olhos. Desde
os primeiros meses de vida, por exemplo, quando amamentados já fogem do
contato visual da mãe.
Observa-se também que os autistas possuem uma sensibilidade
alterada. Por vezes, se machucam gravemente e não sentem dor; mesmo em
dias frios não se preocupam com agasalhos.
Os autistas possuem fascínio por movimentos circulares, podem
passar horas e horas observando um ventilador, ficam aficionados observando
a roda de um carrinho de brinquedo girar, entre outros.
E, finalmente, uma das características que despertam grande
interesse nas áreas médicas, educacionais e científicas está relacionada aos
autistas que possuem um rendimento excelente em determinadas áreas do
conhecimento com características de genialidade. Dessa maneira, esses
autistas, em particular, são denominados de “Savants”, que significa sábio em
francês.
Características de savant, ou savantismo, referem-se à presença de capacidades notáveis e, às vezes, surpreendentes, existentes no contexto de déficits mentais. Estas características são mais comuns em indivíduos com retardo mental e em vários tipos de danos cerebrais. (WHITMAN, 2015, p. 80).
Os savants se destacam por possuírem consideráveis talentos e/ou
habilidades visuais, auditivas, motoras, na memória, na arte e na música etc.
Dessa maneira, eles podem sentar-se em um piano e tocar brilhantemente uma
melodia, isso sem ao menos terem frequentado uma escola de música; podem
realizar cálculos matemáticos como se fossem os mais notáveis gênios da
espécie humana; ou, além disso, podem iniciar a leitura aos 2, 3 anos, sem
nunca terem ido á escola. Sabe-se que hoje, por possuírem um hiperfoco em
determinados assuntos, os savants trabalham em grandes empresas
23
exercendo cargos de suma relevância. Para Silva, Gaiato & Reveles (2012, p.
144), “Vale ressaltar que, embora a síndrome de Savant possa surgir em
consequência do autismo, somente uma minoria dos que têm um
funcionamento mental autístico são de fato savants ou gênios”.
Cabe salientar que um dos casos clássicos do cinema da década de
1980, que retratava um savant do espectro autista, interpretado brilhantemente
por Dustin Hoffman foi o filme “Rain Man”, dirigido por Barry Levinson. No filme,
Raymond (Hoffman) possuía a uma formidável habilidade em resolver cálculos
matemáticos com uma extrema velocidade e, além disso, tinha uma memória
invejável. Entretanto, Raymond tinha uma série de problemas cerebrais,
dificuldade de interação social e sérios comprometimentos motores. De acordo
com Silva, Gaiato & Reveles (2012, p.144), “Os savants são poucos no mundo
e apresentam “ilhas” de conhecimento em um cérebro com tantas outras
“falhas” ou deficiências”.
Os portadores da síndrome de Asperger, em geral, são confundidos
com os savants, mas há uma grande diferença, enquanto os asperges
apresentam interesses restritos, mas não possuem um brilhantismo nesses
interesses, os savants são extremamente habilidosos e prodigiosos ao menos
em algum assunto em especial.
Portadores da síndrome de Savant, uma condição rara, ainda em estudo. Pesquisas com neuroimagens demonstram que os savants utilizam mais os hemisfério direito do cérebro em detrimento do esquerdo. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 144).
Desse modo, percebe-se que os indivíduos portadores de
savantismo possuem um funcionamento específico em determinadas áreas do
cérebro, que irá propiciar o brilhantismo que não vemos nas demais pessoas.
Portanto, o TEA é diagnosticado por meio de critérios de
observação descritos no DSM-V e TID (F84) no CID-10. Mas há uma variação
apreciável no perfil sintomático, dependendo das causas subjacentes. O
diagnóstico de autismo requer uma apreciação clínica cuidadosa, seguida de
avaliações de linguagem e neuropsicológicas, bem como exames
complementares.
24
CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE DA
CRIANÇA AUTISTA
Compreende-se que os pais, não generalizando, ao receberem o
diagnóstico de um filho autista apresentam um “luto”, não um luto de perda, de
morte, mas um luto do esperado filho perfeito. E, é nesse momento do
diagnóstico, que deve ser precoce, até os três anos de idade, que cabe
elucidar os pais que eles não desejaram um filho autista, que ninguém se
prepara para ter um filho autista, porque uma criança autista tem uma
linguagem diferente das demais.
Em virtude da importância de se iniciar intervenções o quanto
antes, é fundamental diagnosticar o autismo no estágio mais
prematuro possível. Embora muitos instrumentos não tenham
sido validados em crianças com menos de três anos de idade,
tais métodos começam a evoluir. (WHITMAN, 2014, p. 40).
Dessa forma, é possível que um indivíduo que se encontre no
Transtorno do Espectro Autista se desenvolva e adquira autonomia dentro das
suas possibilidades, dependendo do grau de autismo identificado. De acordo
com Silva, Gaiato & Reveles (2012, p. 213), “A independência é um dos
principais objetivos que pais e profissionais anseiam que as crianças com
autismo alcancem”. Por esta razão, o psicopedagogo necessita atuar em
conjunto com a família e toda a comunidade escolar para tentar atenuar as
aflições, preocupações e sofrimento dos pais da criança autista em relação ao
processo de ensino-aprendizagem.
Em se tratando de comportamento e reações humanas, entende-se
que é de suma relevância que os pais se informem sobre o transtorno e
compreendam a importância deles e/ou dos cuidadores na intervenção precoce
da criança autista.
É preciso que os pais conheçam com clareza a síndrome do autismo e o que ela acarreta. O autismo não deve ser causa de empobrecimento da relação entre a família e a criança, de
25
redução da experiência da interação por meio das relações humanas afetivas. (ORRÚ, 2011, p. 80).
Desse modo, passado o “luto” inicial, alguns pais irão vivenciar a
fase da negação, insistindo que o filho apenas possui um atraso e,
infelizmente, dessa maneira, irão retardar o tratamento, agravando ainda mais
os traços autísticos identificados. De acordo com Whitman (2015, pp. 38 - 39),
“Muitos pais relutam em levar a criança para testes diagnósticos. Antes do
resultado, eles vivem com a esperança de que não haja realmente qualquer
problema com seu filho e filha.” Em geral, é comum que a família se encontre
frustrada, devido ao grande preconceito vivenciado pelas minorias em nossa
sociedade. Infelizmente, a nossa sociedade espera do indivíduo um
comportamento padronizado e que corresponda às regras já estabelecidas.
É evidente que a questão do filho com autismo interfere na qualidade da vida familiar, de sua comunidade e sociedade. As relações em torno dessa pessoa, ao se reduzirem ainda mais, a vitimarão com um comprometimento ainda maior. (ORRÚ, 2011, p. 80).
Compreende-se que a logística da rotina familiar de uma criança
autista, por vezes, será alterada emocionalmente e economicamente, pois
implicará em gastos financeiros consideráveis em busca de tratamentos
convencionais, terapêuticos e medicamentosos. Ressaltando que apenas um
médico especialista poderá prescrever medicamentos específicos, dependendo
dos sintomas identificados e grau de severidade, relatando que eventualmente
ocorram efeitos colaterais.
Dessa forma, entende-se que educar uma criança com um
desenvolvimento anormal não será uma das tarefas mais simples. É necessário
muito afeto, paciência, constância e disciplina como características principais
desses pais e/ ou cuidadores.
Muitas vezes as famílias funcionam como multiplicadores dos ganhos da criança e podem ser instrumento importante para potencializar o tratamento, pois condutas adequadas propiciarão melhor desenvolvimento dos comportamentos das crianças. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 226).
26
Diante disso, o tratamento dos indivíduos que se enquadram no
TEA requer uma ‘intervenção multidisciplinar’ para realizar uma melhora nas
orientações aos pais, familiares e/ou cuidadores. As bases do tratamento na
maior parte irão envolver técnicas de modificação de comportamento,
programas educacionais ou de trabalho e terapias de linguagem. É de grande
valia ressaltar a importância do diagnóstico o quanto mais cedo para que os
resultados viabilizem trabalhar as potencialidades, independência, autonomia e
socialização desta criança.
Compreende-se que além dos graves prejuízos sociais e cognitivos
(memória, percepção, atenção, raciocínio, pensamento, linguagem,
imaginação, juízo etc.), os problemas de comportamento são uma grande
inquietação, já que aparentemente essas são as dificuldades que mais ocorrem
e interferem na integração de crianças autistas dentro da família e da escola.
Considerando a necessidade e importância de uma equipe multidisciplinar para
tratamento e desenvolvimento do autista, o presente capítulo irá focar nas
possíveis intervenções psicopedagógicas.
Entende-se que uma das características mais preponderantes de um
psicopedagogo seja a observação, ter um olhar atento, investigativo e sensível,
irá contribuir para que sua intervenção seja flexível, mediadora e intercessora,
independente de onde irá atuar. Diante disso, a sua observação deverá ser
pautada diretamente na criança autista tanto no seu processo de aprendizagem
quanto nas relações dela.
A escola deve educar, também, para o desenvolvimento da autonomia do aprendente, abrangendo toda a complexidade que há na individualidade de cada um, pois a natureza humana é uma unidade complexa, é um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico. Este é um olhar psicopedagógico. (CUNHA, 2015, p. 113).
Dessa maneira, o olhar do profissional que atua na Psicopedagogia
necessita ser um diferencial, ele deve enxergar o todo do aluno e por meio da
relação com o mesmo buscar conhecer sua individualidade, singularidade e
especificidade. Desse modo, levar em consideração e dar relevância a
necessidade de formação de vínculo e a presença de afeto nesta relação, uma
27
vez que a confiança precisa ser construída para que o psicopedagogo possa
conhecer a realidade de vida familiar, social, econômica desse aluno.
O afeto é cientifico: ao consumar o afeto, o cérebro recompensa o corpo por meio da sensação de prazer e de alegria. Ser afetivo não é ser adocicado. Ser afetivo e trabalhar com as qualidades, as emoções, os interesses e os sonhos que possuímos. (CUNHA, 2013, p. 100).
Dessa forma, cabe ao psicopedagogo utilizar o afeto como
ferramenta para canalizar as emoções da criança autista para o campo da
aprendizagem e, com isso, tentar entender as posturas, comportamentos,
habilidades e necessidades. Esse processo de aproximação precisa acontecer
aos poucos, através do dia a dia escolar. Assim sendo, ele não deve ficar
restrito somente a sua sala. O psicopedagogo deve transitar entre os
professores, coordenadores, gestores, entre outros. E, principalmente, estar
nos pátios, na hora do recreio, e é nesse momento onde as relações humanas
estão em evidência, onde acontecem as interações, inclusões ou rejeições
como nos casos de autismo.
Portanto, o processo de levantamento de dados, informações e o
desenvolvimento de vínculo poderão ser obtidos com a ajuda de todos aqueles
que estão inseridos na dinâmica do dia a dia escolar do aluno autista, é o que
podemos chamar de ‘redes de apoio’, desde o diretor da escola até o inspetor,
poderão contribuir tanto neste processo de conhecimento e entendimento da
realidade do aluno como nos processos futuros de atuação junto ao mesmo
com a finalidade de um melhor desenvolvimento no processo de ensino-
aprendizagem.
A intervenção psicopedagógica é um processo de mediação entre
escola, professores, pais e alunos. Mas oferecer uma orientação de qualidade
e com eficácia requer profissionais capacitados e especializados. Muitos
professores não querem “alunos-problemas” em sala de aula, alegam que vão
atrapalhar o rendimento da turma. Cabe ao psicopedagogo trabalhar esses
profissionais a fim de desconstruir esse tipo de relação para que eles possam
desenvolver um trabalho singular com esses alunos que requer uma atenção
diferenciada.
28
Quando o psicopedagogo é acionado seja pela escola ou pelos
responsáveis, assinalando que há um problema com esse indivíduo portador
da síndrome, é preciso que o profissional em questão tenha plena consciência
que essa criança não vem com manual de instrução. Desse modo, o
psicopedagogo precisa compreender as diferenças, diversidades,
especificidades e singularidades, não desprezando as vivências e experiências
desse indivíduo. Traduzindo melhor o universo dessa criança, e entendendo as
suas possibilidades facilitará a sua intervenção para desenvolver também as
eventuais potencialidades.
A presença da ‘rede familiar’ na escola faz-se indispensável para o
trabalho psicopedagógico, pois esta irá fornecer dados do histórico familiar,
escolar, social e do desenvolvimento do aluno até o momento. Se o mesmo
estiver sendo acompanhado por profissionais fora do ambiente escolar, por
exemplo, psicólogos, psiquiatras, neurologistas etc., esses também são
considerados redes de apoio para o trabalho psicopedagógico. Com a parceria
e colaboração desses profissionais irá enriquecer o entendimento do processo
em que o aluno está vivenciando e poderão contribuir para construção de
estratégias para o trabalho com o mesmo. Ainda que da riqueza de
contribuição que as redes de apoio fornecem para o trabalho do
psicopedagogo, é importante ressaltar que o aluno é o que melhor pode dizer
sobre ele mesmo.
Entende-se que depois de uma criteriosa e cautelosa realização de
uma avaliação diagnóstica do educando, o psicopedagogo precisa preparar o
PEI – Programa de Ensino Individualizado, que contem as necessidades, os
recursos, conteúdos e estratégias para serem trabalhadas e também as metas
e seu desenvolvimento a serem atingidos, os prazos estabelecidos, os
profissionais envolvidos e os processos avaliativos desta prática.
O profissional que atua como psicopedagogo deverá explicar para
todos os profissionais envolvidos no ambiente escolar do aluno autista a
dinâmica de vida do mesmo, suas habilidades, competências e necessidades,
através de estudo de caso por exemplo. Desse modo, cabe ao psicopedagogo
orientar os funcionários da escola, a saber, como lidar com o aluno autista e
estimulá-los a desenvolver vínculo com o mesmo para que possam ajudá-lo. O
29
Programa de Ensino Individualizado precisa ser estudado, discutido e avaliado
por todos os profissionais que estão envolvidos no processo de
desenvolvimento do educando. Pois, dependendo do caso de autismo e do seu
grau de severidade identificado, o indivíduo talvez não se desenvolva de forma
plena, então, é preciso realizar um trabalho, uma intervenção preparando esse
sujeito para possibilitar um mínimo de autonomia para que possa realizar
atividades do dia a dia escolar.
O PEI deve estar regulado no Projeto Político Pedagógico da
escola, coeso com o planejamento mensal, semanal e diário da turma que o
aluno portador da síndrome esteja inserido. Faz-se necessário considerar as
alterações curriculares necessárias para o aluno. Desse modo, as orientações
precisam ser dadas a esses profissionais, inclusive ao professor, para que eles
consigam lidar da melhor maneira possível com o discente, potencializando
suas habilidades e trabalhando suas necessidades.
O psicopedagogo também fará orientações aos familiares a fim de
que eles trabalhem em parceria com a escola e se necessário for,
encaminhamentos para avaliações de profissionais de fora serão realizados
visando o bem estar do aluno. Desse modo, cabe salientar aos pais ou
responsáveis que o psicopedagogo não trabalha sozinho, não vem com
respostas prontas e que para se chegar a um parecer e fazer uma intervenção
satisfatória é indispensável um trabalho de equipe. Buscar colaboração com
todos que fazem parte da escola (gestores, professores, alunos, equipe
técnica, família). Diante disso, faz-se necessário o auxílio de uma rede de
apoio, uma ‘equipe multidisciplinar’. Psicopedagogo que trabalha sozinho está
fadado ao fracasso.
Em alguns casos, e dependendo da dificuldade, há que se requisitar
uma junta de profissionais, tais como: psicólogos, psiquiatras, neurologistas,
fonoaudiólogos, nutricionistas, pedagogos, educadores, entre outros. E, desse
modo, desenvolver um melhor trabalho e traçar uma rota até chegar a uma
conclusão efetiva. É preciso esclarecer aos pais ou responsáveis sobre as suas
e expectativas em relação ao trabalho da escola. Em uma conversa amigável,
sincera e esclarecedora, ressaltar as possibilidades de desenvolvimento da
criança na escola.
30
Outro ponto fundamental do trabalho psicopedagógico é a avaliação
dos resultados para que se faça o replanejamento das ações se necessário for,
uma vez que o objetivo principal é adequar o processo de aprendizagem à
necessidade do aluno, para que a aprendizagem seja construtiva e significativa
para ele. Assim, o aluno terá maior facilidade de superar os desafios que estão
prejudicando o seu processo de desenvolvimento. Esse ponto mencionado
precisa acontecer durante todo o processo de intervenção psicopedagógica.
Como citado anteriormente, entende-se que na relação com a
criança autista, o psicopedagogo precisa encontrar um caminho para conseguir
afetá-la. . Se a criança autista for obcecada, por exemplo, por desenhos
infantis, dinossauros ou outro assunto específico, já é um bom começo para
realizar uma ação psicopedagógica. Ambos se observam, se gostam, é
tentativa e erro. Há crianças que vão conseguir ficar sentadas, razoavelmente
comportadas e um ambiente fechado, como na sala do profissional, já outras,
serão necessárias explorar diferentes espaços físicos dentro da escola para
dar conta de suas inquietações.
Usar a afetividade para criar canais de comunicação com a criança
e informar a todos que estão nesse processo a incorporar o conhecimento à
sua sensibilidade humana é de grande importância. O que se precisa é
associar a prática escolar a conteúdos significantes para a criança. Segundo
Cunha (2013, p. 22), “A aprendizagem significante não somente generaliza o
aprendizado, mas faz igualmente o aluno generalizar a experiência escolar”.
Desse modo, no momento de prestar o atendimento a essa criança, é preciso
esclarecer aos pais ou responsáveis sobre as suas expectativas em relação à
intervenção psicopedagógica. Muitos pais acham que o psicopedagogo vai
resolver todos os problemas existentes, por exemplo, as eventuais dificuldades
de aprendizagem.
O que se acredita é que a partir do princípio afetivo da atividade
pedagógica que o professor conseguirá encontrar caminhos para que o aluno
autista consiga vencer os obstáculos e desafios do quadro hiperativo, do déficit
de atenção, da dificuldade de planejamento e organização, da dificuldade de
interação, entre outras que acomete a maioria dos indivíduos afetados pelo
TEA.
31
Sabe-se que existem diferenças peculiares entre as crianças
autistas. Como já citado algumas vezes, o autismo se apresenta com vários
graus de severidade, existem aqueles que têm uma deficiência intelectual
grave associada, mesmo assim ele é capaz de aprender como qualquer outro
aluno, já que a aprendizagem é característica do ser humano. O que se precisa
ressaltar primeiramente na relação com o aluno autista, são as possibilidades
de ele criar formas próprias de relacionamento com o mundo social.
O psicopedagogo pode utilizar diversos métodos, etapas, técnicas
para elaborar sua estratégia e aplicá-la no espaço escolar, orientando os
professores no desenvolvimento de atividades que possam obter algum ganho
no processo de ensino- aprendizagem do aluno com autismo.
Os transtornos do Espectro Autista apresentam diferenças baseadas na análise de variáveis, como etiologia, idade de manifestação das alterações comportamentais, características específicas dos desvios de desenvolvimento em cada transtorno do espectro avaliado, diagnóstico, funcionamento intelectual, perfil neuropsicológico e prognóstico. O conhecimento dessas variáveis também ajudará a possibilidade de combinar diferentes princípios de abordagens terapêuticas e educacionais, uma vez que não existe um tratamento especifico indicado para influir em todas as áreas afetadas. (RODRIGUES & SPENCER, 2015, p.69).
Desse modo, o psicopedagogo para se chegar a um diagnóstico
escolar, procede com a coleta de dados, sendo que esse processo de
intervenção pode começar com uma entrevista e anamnese, descartando
através dos resultados de exames fonoaudiológicos e oftalmológicos se há
algum problema de fato que acarrete em dificuldades de aprendizagem. Em
seguida, com entrevistas semi-estrutadas, formulários, instrumentos de
avaliação etc. Quando aplicar a entrevista semi-estruturara, por exemplo, com
a mãe, procurar retirar informações sobre a gestação, como foi o
desenvolvimento da criança, com quantos meses sentou, tentou falar, andou.
Se a mãe usou algum tipo de substância, tais como: remédios, álcool, drogas,
fumo etc. Extrair quais são as características predominantes da síndrome da
criança em questão. Em outro momento, realizar entrevistas com a criança,
pais ou cuidadores em separado e depois juntos. No espaço escolar, investigar
o seu relacionamento com outras crianças, com os professores e os outros
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profissionais da instituição, com o intuito de registrar tudo o que for percebido.
Dessa maneira, traçar uma avaliação que deve ser flexível e, com isso, fazer
um replanejamento caso não se obtenha êxito com o que está sendo aplicado.
Portanto, a atuação do psicopedagogo dentro do espaço escolar irá
favorecer os mecanismos existentes do aprender e de ensinar, nos aspectos
das relações de vínculos dos alunos com a escola, com o professor e com
todos os envolvidos da comunidade escolar. Além disso, redefinir os métodos
pedagógicos, agregando todas as dimensões implícitas no saber, articulando
todos os procedimentos educacionais.
Segundo Simaia & Freitas (2014), o psicopedagogo também pode se
apropriar de diversos métodos de intervenções psicopedagógicas, tais como: o
TEACCH (Tratamento e Educação para Crianças Autistas e com Distúrbios
Correlatos da Comunicação); a ABA (Análise Aplicado do Comportamento), o
PESC (Sistema de Comunicação Por Meio de Trocas de Figuras) e o Son -
Rise.
Entende-se que o método TEACCH utiliza uma avaliação
denominada PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado) que avalia a criança,
levando em consideração os pontos fortes e suas maiores dificuldades, haja
vista, por dar a possibilidade de um programa individualizado. Ele é um
programa educacional clínico e educacional com uma prática
predominantemente psicopedagógica. Foi criado em 1996, pelo Dr. Erich
Schopler e seus pesquisadores, que a partir de um projeto de pesquisa buscou
observar profundamente os comportamentos das crianças autistas em diversas
situações diante dos diferentes estímulos.
Na terapia psicopedagógica, trabalha-se em conjunto a linguagem
receptiva e a expressiva. Utilizam-se estímulos visuais, como: fotos, figuras,
cartões; estímulos corporais, como: apontar, gestos, movimentos corporais e
estímulos audiocinestesiovisuais: som, palavra, movimentos associados às
fotos, para buscar a linguagem oral ou uma comunicação alternativa com o
objetivo de orientar o autista na escola e no ambiente familiar.
O método TEACCH tem por objetivo organizar o ambiente físico,
estabelecendo rotinas, através de painéis, quadros ou agendas. Diante disso,
33
tem ajudado o autista a adequar-se dentro de suas possibilidades à sociedade,
promovendo sua independência em função de suas dificuldades.
O método ABA se caracteriza por ser um tratamento
comportamental analítico, ou seja, tem por objetivo final compreender o
comportamento e, com isso, criar estratégias socialmente valorizadas para
melhorar a qualidade de vida do autista. O método ABA para o autismo, mas
especificamente, envolve a família e profissionais que convivem com indivíduos
autistas na criação de condições especiais de aprendizagem que beneficiam o
desenvolvimento cognitivo, social, da linguagem e da independência funcional.
Além disso, possui um conjunto de métodos investigativos e práticos para lidar
com episódios de comportamentos problemáticos, reduzindo sua frequência ou
os substituindo por comportamentos adequados.
Vale ressaltar que tanto o TEACCH quanto o ABA são métodos que
recebem críticas por robotizar as potencialidades humanas. Entende-se pelo
método ABA que ele ‘formata’ o cérebro do autista introduzindo fichas de
comunicação e é também muito custoso.
O PECS é empregado, geralmente, em indivíduos que não se
comunicam ou que possuem uma baixa comunicação. O objetivo principal é
fazer com que a criança perceba que, por meio da comunicação, ela poderá
conseguir com mais agilidade o que deseja. Este método tem sido aceito em
vários lugares do mundo, por não utilizar-se de materiais complexos e caros e
seus resultados bem aplicados.
O Son - Rise é um método educacional elaborado pelo The Autism
Treatment Center of America que consiste na aceitação do indivíduo autista.
Dessa maneira, o Son - Rise é baseado na criança ou adulto autista com o
objetivo de fazer uma conexão entre o mundo convencional e o mundo do
sujeito, respeitando o autista como um ser único e plural e, com isso, é
respeitado o tempo de aprendizagem em um contexto divertido e dinâmico.
Portanto, para cada caso e grau de autismo, há que se
considerarem as particularidades e singulares destes indivíduos. Com a
finalidade de empregar os métodos disponíveis, privilegiando as possibilidades
de aprendizagem, independência e autonomia dos indivíduos autistas.
34
CAPÍTULO III
A INCLUSÃO DA CRIANÇA AUTISTA NO SISTEMA
REGULAR DE ENSINO
Primeiramente, antes de abordar a inclusão da criança autista no
sistema regular de ensino, é preciso ressaltar, brevemente, ao longo da
História o tratamento dispensando aos portadores de algum tipo de deficiência,
sejam elas: mentais, físicas ou sensoriais – cegueira e surdez, entre outras.
Em cada período histórico, e de acordo com a cultura em que o
indivíduo estava inserido, com as informações que possuía, com suas crenças,
convicções e religiosidade se justificava como os portadores de alguma
deficiência seriam tratados.
Sabe-se que Na Roma antiga, os deficientes seriam abandonados,
asfixiados, mutilados e explorados como pedintes de esmolas ou servindo
como bobos, trabalhando em circos em condições humilhantes. Na Grécia
antiga, o culto ao corpo perfeito fazia com que se excluísse do convívio social e
do direito à vida não só os débeis e os mutilados, ou com má formação, mas
também, os franzinos. Na Idade Média, o deficiente era considerado como “ira
divina” ou “possuídos pelo demônio”. Mas com a ética cristã, passaram a ser
reconhecidos como filhos de Deus, possuíam alma e, com isso, não eram
exterminados, mas banidos do convívio social. Na idade Moderna, médicos
como Paracelso e Cardano já reconheciam a deficiência mental como
problema médico. Para John Locke, o indivíduo era considerado uma “tábula
rasa”, não possuía conhecimento algum até o seu ingresso na escola. Na Idade
contemporânea, Esquirol diferencia demência de amência. Séguin, discípulo de
Itard, indicou causas orgânicas e/ou hereditárias e/ou ambientais e psicológicas
como específicas da idiotia.
Através dos tempos, o convívio com as pessoas com necessidades especiais foi regido por diferentes sentimentos e atitudes. Extermínio, humilhação, exploração, abandono, perseguição e até proteção e cuidado marcaram os diferentes períodos. A discriminação e o preconceito estiveram sempre presentes em todos os momentos da história. (CORRÊA, 2005, p. 15).
35
Nota-se que desde a Antiguidade até os dias atuais, os portadores
de alguma deficiência ainda sofrem grande preconceito e são discriminados.
Ou seja, como fazer uma inclusão significativa e eficaz em escolas
‘sucateadas’, com professores mal preparados que muitas vezes não
reconhecem as singularidades e possibilidades desse educando?
De acordo com a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9394/96 em seu art. 2º, a escola tem como papel principal o pleno
desenvolvimento do educando, conscientizando o indivíduo para o exercício da
cidadania e sua qualificação profissional. Dessa forma, a escola deve propiciar
que o aluno construa conhecimentos imprescindíveis para a sua inserção
social. Desse modo, cabe a escola garantir a aprendizagem de certas
habilidades e conteúdos indispensáveis para a vida em sociedade,
compreendendo a realidade local em que esse educando está inserido e, com
isso, possibilitar a sua participação nas relações socias que devem privilegiar a
diversidade.
Infelizmente, a realidade é que nossa educação e escolas estão
longe de oferecer um ensino de qualidade e equidade para todos, de ser uma
escola inclusiva, heterogênia, que torne um cidadão crítico, conhecedor dos
seus direitos e deveres, como defendem os projetos pedagógicos atualizados à
globalização. Sendo esta escola um lugar de aprendizagem, espaço político de
socialização, onde o indivíduo se sinta seguro, inserido e integrado no mundo,
com a participação dos pais e comunidade, para que o processo de ensino-
aprendizagem se torne natural e gradual.
Entende-se que a educação é um ato que envolve os processos de
ensinar e aprender, pois é um fato observado em qualquer sociedade e nos
seus grupos característicos, responsáveis pela conservação e perpetuação a
partir da adaptação, ás gerações que se seguem, dos modos culturais de ser,
estar e agir. Dessa maneira, entende-se que o papel do professor nos dias
atuais seja de orientar, compartilhar e não só aquele que ensina, mas aquele
que auxilia o aluno aprender. Dessa forma, o professor deve ser um aliado na
construção do sujeito e, não puramente, um transmissor de conteúdos.
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O professor precisa se conscientizar da importância do seu papel,
que além de ser o transmissor do conhecimento, também é de formação crítica
do cidadão, para que futuramente o educando atue em nossa sociedade.
Compreende-se que para melhorar a sua prática didática o professor
necessita estar em constante aprimoramento, mas em contrapartida a jornada
excessiva de trabalho, a ausência de plano de carreira e salários baixíssimos
impossibilita uma melhor qualidade de vida. Além disso, dificulta o estudo
continuado dos professores, ou seja, o aperfeiçoamento. Logo, o resultado
disso é mais produtividade e execução do trabalho com insuficiência de
qualidade.
Além disso, a escola é um ambiente de educação formal, mas é
nesse espaço que as crianças e os adolescentes podem ser observados
minuciosamente e diariamente, por ser um espaço de convívio relativamente
fechado, onde os professores devem estar preparados, atentos para
perceberem qualquer alteração de comportamento ou dificuldade de
aprendizagem.
Cabe esclarecer que não é função dos professores fazer o diagnóstico de crianças com autismo. Eles, em sua grande maioria, não tiveram treinamento de como identificar sinais e sintomas nesse grupo de crianças. Porem, os professores passam muitas horas do dia com essa turminha e são sensíveis à percepção das pequenas dificuldades e alterações de comportamento. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 101).
Dessa forma, a escola é o local onde o desempenho do aluno é
avaliado e suas atitudes são comparadas com os seus pares, com seu grupo.
Diante disso, entende-se que para o manejo da criança autista em sala de aula
faz-se imprescindível que o professor observe e busque informações acerca da
síndrome, para que saiba dar auxílio, de modo que propicie um rendimento
significativo do ponto de vista educacional, emocional e social.
O professor interessado pode fazer muito pelas crianças com autismo, mesmo que não seja especialista nessa área. Com amor, dedicação e paciência poderá ganhar a confiança eterna de uma criança. O primeiro passo é o conhecimento. Informações específicas sobre o funcionamento autístico são ferramentas essenciais para orientar o professor no trato com esse aluno e, sobretudo, auxiliá-lo em seu desenvolvimento.
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Algumas sutilezas, como falar baixo, chamar a atenção de forma delicada ou ajudá-lo a entender o conteúdo por meio de figuras ou imagens, são sempre muito bem-vindas. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 115).
Entende-se que a criança portadora do autismo ou a dita “normal” ao
ingressarem na escola regular está sendo iniciada a um ritual de passagem,
pois elas serão apresentadas a comunidade escolar (professores, diretores,
colegas de classe, pedagogos, entre outros profissionais afins), onde
acontecerá a ruptura do convívio familiar, (mesmo que seja por algumas
horas), para que seja substituído pela vivência escolar. Dando início a uma
nova etapa de vida, com responsabilidades, obrigações, descobrindo o
conhecimento em diversas áreas, se socializando e interagindo com diversos
tipos de pessoas.
Percebe-se que crianças desde muito pequenas necessitam
conviver e aprender a lidar com as diferenças, necessitam de contatos com
crianças autistas, deficientes físicos, com síndrome de Down, deficientes
visuais, deficientes auditivos etc. Pois, escolas que trabalham com a inclusão
das diversidades culturais, econômicas, religiosas, sexuais, étnicas, entre
outras, propiciam um ambiente amigável, sadio e tornam o aprendizado
prazeroso, livre de qualquer tipo de discriminação.
Dessa forma, o espaço escolar é lugar das relações humanas, das
diversidades de concepções e ideias, a fim de democratizar o ensino para
alcançar um maior número de indivíduos em sua integralidade.
A escola é o local de aprendizagem, de trocas de conhecimento,
deve ser um ambiente seguro, respeitoso e prazeroso, onde as relações
humanas estão em evidência, muitas crianças e adolescentes irão se tornar
amigos para sempre.
Não é possível ser feliz sem amigos, nem viver sem amigos. Por isso a amizade faz parte da essência humana. No plano pedagógico, não é diferente. A pedagogia busca desenvolver o que o ser humano tem de melhor, e o que ele tem de melhor é a amizade. A amizade com o outro, com ele mesmo, com a humanidade. (CHALITA, 2008, p. 13).
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Quando nasce a amizade verdadeira no ambiente escolar, ela irá
propiciar uma série de benefícios ao indivíduo, como: troca de conhecimentos e
experiências, onde se desenvolverá as suas habilidades e capacidades de
raciocínio, compreensão e leitura de mundo.
Percebe-se que é na relação com o outro que o discente deixa de
ser inativo e passa a ser ativo e, com isso, torna o docente compartilhador e
mediador e não o único detentor do saber.
Na atualidade, as crianças são inseridas cada vez mais cedo no
ambiente escolar, pois muitos pais necessitam trabalhar e não têm com quem
deixar os filhos, por isso, nos primeiros meses de vida, as crianças são
matriculadas em creches. Logo, a escola acaba se tornando o lugar onde as
crianças passam a maior parte do tempo.
Entende-se também que muitos pais ao matricularem as crianças
muito cedo na escola acabam negligenciando o desenvolvimento gradual das
mesmas. Pois, quando os pais e/ou responsáveis começam a exigir da escola
que os filhos sejam alfabetizados o quanto antes, mandar “trabalhinhos de
casa”, volume de conteúdos etc., praticamente obrigando a escola que as
crianças adquiram habilidades cognitivas e socias precocemente.
O desempenho escolar das crianças com autismo depende muito do nível de acometimento do transtorno. As crianças com um nível mais grave de autismo podem apresentar atraso mental e permanecer dependentes de ajuda. As crianças com autismo leve ou somente com traços autísticos, na maioria das vezes, acompanham muito bem as aulas e os conteúdos didático-pedagógicos. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 109).
Como cada criança tem seu modo particular de se desenvolver
sendo autista ou não; umas podem aprendem a andar mais cedo, outras não
desenvolverão a fala precocemente, possuir uma maior habilidade com
números, talento musical etc. Enfim, dependo do contexto social e cultural em
que se vive e dos estímulos que recebem poderá se tornar um fator
preponderante no desenvolvimento infantil.
Isso significa reconhecer que as crianças são diferentes e tem especificidades, não só por pertencerem a classes diversas ou por estarem em momentos diversos em termos do
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desenvolvimento psicológico. Também os hábitos, valores e costumes presentes na sua família e na localidade mais próxima interferem na sua percepção do mundo e na sua inserção. E, ainda, também, os hábitos, valores e costumes dos profissionais que com elas convivem no contexto escolar (professores, serventes, supervisores etc.) precisam ser considerados e discutidos. (PEREIRA, OSWALD & ASSIS, IN KRAMER, 1995, p. 22).
Dessa forma, é preciso estabelecer um relacionamento de respeito
dentro do ambiente escolar, onde seja priorizada a particularidade de cada
indivíduo, percebendo que um ambiente heterogêneo é muito rico e
proporciona uma interação da criança com a diversidade de situações e
experiências vivenciadas para uma educação construída para a autonomia da
criança.
Vale ressaltar que crianças acometidas pelo autismo, muitas vezes,
sofrem caladas, chegam a casa com roupas rasgadas, os matérias escolares
danificados e com hematomas.
As crianças com funcionamento autístico, dificilmente, contam eventos passados e, exatamente por isso, ensiná-las a narrar suas vivências é prioridade no tratamento, até para que possamos identificar situações constrangedoras e humilhantes no ambiente escolar, como o bullying. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 36).
Desse modo, dentro do ambiente escolar é preciso que o professor,
o mediador e todos os envolvidos da comunidade escolar fiquem atentos a atos
de violência contra a criança autista que pode estar sofrendo com o “Bullying”.
O bullying é identificado como um fenômeno onde o indivíduo ou um grupo de
indivíduos gosta de intimidar, hostilizar e perseguir insistentemente e
repetidamente um grupo ou indivíduo com menos capacidade para se
defender. Colocando apelidos depreciativos, ameaçando com violência física
ou verbal (xingamentos), sem motivo aparente, vão escolher uma vítima e
começar a caçar o indivíduo ou grupo de indivíduos como faz o caçador com a
sua presa, pois, geralmente, a vítima está indefesa e encurralada.
Os agressores não facilitam a vida de suas vítimas. Eles humilham,
zombam, caçoam, perseguem, agridem, roubam os pertences, cobram dinheiro
para ir ao banheiro, para passar nos corredores e outros, obrigam o
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financiamento para lanches, e fazem dentro e fora da escola, fazendo com que
a vida da criança ou adolescente se torne um verdadeiro caos. Diante disso, a
escola tem suma importância em garantir que o ambiente escolar seja
amigável, seguro e não permita atos de violência contra os alunos. É salutar
que a escola envolva os alunos, professores, pais e comunidade em projetos
“antibullying”, para que esse mal seja erradicado e que preserve a diversidade
para que haja uma verdadeira inclusão, seja da criança autista, entre outros
transtornos e deficiências.
Dessa forma, ao pensarmos no contexto da educação na sociedade
contemporânea só há lugar para uma escola: a escola inclusiva. Esta deve
trabalhar a autonomia do aluno, capacitá-lo para o ensino regular e para o
convívio familiar e social.
De acordo com Cunha (2013), a partir da década de 1990 o termo
“inclusão” era muito utilizado nos EUA, sendo que na Europa denominava-se
“integração” quanto à proposta de colocação seletiva nas escolas.
Na mesma década de 1990, começaram acontecer movimentos
mundiais sobre as necessidades educacionais de todos os alunos, que
acabaram culminando em duas conferências internacionais importantes: a
Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia, que
foi promovida pelo Banco Mundial, a UNESCO, a UNICEF (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento). Nesta conferência foi aprovada a “Declaração Mundial
sobre Educação para Todos”, que contou com a participação de educadores de
vários países.
No ano de 1994, em Salamanca, Espanha, acontece a Conferência
Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. Nesta
conferência, que contou com a participação de vários governos e organizações
internacionais, e no qual o Brasil foi signatário do documento determinado em
assembléia denominado de “Declaração de Salamanca”, que sacramentou as
políticas inclusivas. Com isso, no mesmo ano de 1994, a Política Nacional de
Educação Especial começou a fazer orientações para o processo de integração
instrucional, que tinha por objetivo a permanência às classes comuns do ensino
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regular àqueles que possuíam condições de seguir e desenvolver suas
atividades curriculares, no mesmo passo que os alunos típicos.
Dessa maneira, essas influências foram abordadas na LDBEN nº
9.394/96, que resultou na importância da educação inclusiva, deixando claro
que a educação especial deve ser ofertada com prioridade na rede regular de
ensino.
A inclusão escolar teria o objetivo nobre de colocar as crianças com necessidades especiais em contato com seus pares, o que facilitaria seu desenvolvimento e ensinaria a todo grupo que é possível conviver com a diversidade, na construção de um mundo melhor. Falar em inclusão é um tema delicado e complexo quando saímos da teoria e partimos para a prática efetiva nas escolas. (SILVA, GAIATO & REVELES, 2012, p. 233).
Dessa forma, para que aconteça uma inclusão significativa não
adianta matricular a criança e deixá-la depositada no fundo da sala de aula.
Pois, qual é o princípio da educação inclusiva? É dar o direto para todas as
crianças de freguentarem o sistema regular de ensino. Não é só inscrever a
criança no espaço escolar, tem toda uma mudança de cultura, mentalidade, de
formação de professores, de adequação curricular etc.
As políticas oficias em nosso País têm reconhecido o processo de inclusão como uma ação educacional que tem por meta possibilitar o ensino de acordo com as necessidades do indivíduo. Buscam permitir o fornecimento de suporte de serviços por intermédio da formação e da atuação dos seus professores. (CUNHA, 2013, p. 37).
É importante ressaltar que houve um avanço na consolidação de
políticas públicas inclusivas quando foi publicada em 27 de dezembro de 2012
a Lei 12.764, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, e foi através dessa lei que o
autismo passa a ser considerada uma deficiência, ou seja, se garante assim o
atendimento especializado aos autistas na educação.
Houve outro avanço, em 6 de Julho de 2015, com a criação da Lei
13.146, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Assegurando igualdade e visando a
inclusão social e a cidadania do indivíduo portador de qualquer deficiência.
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CONCLUSÃO
Ao finalizar este trabalho pode-se compreender um pouco melhor o
que é o autismo, que hoje se enquadra no Transtorno do Espectro Autista.
Esse entendimento é uma necessidade social, haja vista que ultimamente, vem
aumentando significativamente os casos diagnosticados de autismo, assim
sendo há uma demanda por uma educação de combate ao preconceito com
ações inclusivas, uma práxis para eliminar os contextos segregantes.
O autismo continua sendo uma síndrome com muitos desafios para
as crianças e suas famílias, a avaliação de indivíduos autistas requer uma
equipe multidisciplinar com a junção das redes de apoio escolar. Sabe-se que
não existe cura para este diagnóstico, mas um programa de tratamento
precoce, intensivo e apropriado melhora muito a perspectiva de vida destes
indivíduos. As intervenções, inclusive psicopedagógicas vão variar de sujeito
para sujeito dependendo do grau de autismo identificado, os métodos e
técnicas usados também vão variar de tratamentos tradicionais até os
alternativos. O atendimento psicopedagógico é um recurso muito solicitado por
pais e/ou responsáveis no atendimento do sujeito autista. Mas, cabe ao
profissional um olhar sensível, investigativo e reflexivo para criar um canal de
interação entre o indivíduo e o terapeuta, com a finalidade de tornar o processo
de ensino-aprendizagem possível, mesmo diante dos casos mais severos do
espectro. Além disso, é importante ressaltar que a melhor via de acesso é a via
afetiva, que permite considerar a individualidade de cada sujeito para que se
possa desenvolver as habilidades, potencialidades e desconstruir os pontos
fracos visando uma melhor qualidade de vida dos autistas em sociedade.
Portanto, com o término deste trabalho, espera-se que ele venha
contribuir para esclarecer que ainda é preciso em nosso país desenvolver uma
longa caminhada em relação aos indivíduos diagnosticados com autismo,
fazendo com que o tratamento multidisciplinar de qualidade seja oferecido a
todos, sem distinção de classe social. Pois, não é preciso só criar leis e
cumprir, mas sim, preparar a escola e os educadores para fazer uma inclusão
significativa, eliminando qualquer traço de discriminação, preconceito e
contribuindo para que a educação seja de qualidade e equidade para todos.
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BIBLIOGRAFIA
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vítimas e dos agressores. São Paulo: Editora Gente, 2008.
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44
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Autismo: Breve Histórico, Etiologia, Epidemiologia e Características
Principais 10 1.1. Breve Histórico 10 1.2 Etiologia 13 1.3 Epidemiologia 17 1.4 Características Principais 18
CAPÍTULO II A importância da Intervenção Precoce da Criança Autista 24
CAPÍTULO III A Inclusão da Criança Autista no Sistema Regular de Ensino 34
CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA 43 WEBGRAFIA 45 ÍNDICE 46