UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” PROJETO A VEZ DO MESTRE TERAPIA DE FAMÍLIA: RECURSO FALICITADOR NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO. SEGUNDO UMA VISÃO PSICANALÍTICA Por: THAÍS DE MACÊDO MARTINS AGUIAR Orientador Profª: Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
Agosto de 2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” PROJETO A VEZ DO MESTRE TERAPIA DE FAMÍLIA: RECURSO FALICITADOR NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO. SEGUNDO UMA VISÃO PSICANALÍTICA
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes, como requisito parcial Para a obtenção do grau de licenciatura da Pós-Graduação em Terapia de Família. Por: Thaís de Macedo Martins Aguiar
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AGRADECIMENTOS
Ao Pai Celestial, o qual sempre esteve comigo, nos melhores e piores momentos desta trajetória.
Á minha estrelinha, que sempre lindamente me guia.
Á minha mãe, a quem muitas noites passamos juntas discutindo carinhosamente textos, filósofos e o nosso incansável questionamento sobre a mente humana. Obrigada por me fazer acreditar que eu conseguiria, e eu consegui. Á minha irmã, a qual sempre relembro, menciono que lhe devo a escolha de minha profissão. Obrigada pelo seu carinho e o seu incansável incentivo, me fazendo acreditar que conseguiremos um dia alcançar nossas metas e objetivos. Ao meu pai, que mesmo pelo telefone, sempre esteve presente em cada passo deste projeto. Ao meu ex-orientador e professor Cláudio Adolph, o qual obteve uma grande participação na minha constituição como sujeito pensante. A minha professora e orientadora Fabiane, que mesmo com muitos alunos, sempre consegui ao seu lado retirar minhas dúvidas e obter o apoio que muitas vezes busquei. Os seus bilhetes de incentivos e elogios foram peças fundamentais para a conclusão deste trabalho.
Aos meus amigos, que sempre estiveram ao meu lado. Obrigada pelo carinho e pela proteção.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os profissionais da área de psicologia, que acredita e defende a dignidade humana, o direito à ampla defesa, a Vida. Acreditando sempre que o ser humano trás em si um conteúdo psíquico, e original; Pois cada um possui, o seu momento para se constituir como um personagem do teatro da vida.
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RESUMO
A presente monografia trás um importante estudo sobre a depressão no
pós-parto, propondo articular o referido tema com a teoria psicanalítica.
A importância desse estudo está inicialmente sobre um breve histórico da
depressão, ao qual encontram-se registros desde a antiguidade.Após este estudo
menciona-se o tópico sobre a gestação e seus sintomas, que quando agravados
na mulher que possui quadros anteriores de depressão, acarreta-se uma Psicose
Puerperal, onde a mulher em seu pós-parto, os sintomas depressivos são
agravados levando até mesmo ao suicídio.
O eixo teórico deste trabalho, como mencionado é psicanalítico. Essa
fundamentação teórica parte de Freud, o qual retrata um estudo sobre o texto “luto
e Melancolia”; a psicanalista Melanie Klein complementa este estudo iniciado por
Freud, onde a teórica dedica-se ao desenvolvimento precoce da criança e dá
continuidade ao estudo da melancolia no pós-parto, finalizando teoricamente com
a participação do teórico Lacan, que utiliza-se como base de estudo o texto
Estágio do espelho, acreditando que a criança quando recém-nata não obtiver, um
olhar, um conforto de sua mãe que encontra-se em depressão, esta criança não
conseguirá constituir-se como sujeito.
O trabalho monográfico conta também com um breve estudo sobre a
importância da terapia de família no tratamento da depressão no pós-parto.
Palavras-chaves: Depressão; Gravidez; Pós-parto-depressão; Terapia de
família; Psicanálise.
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METODOLOGIA O objetivo desta pesquisa bibliográfica é analisar e refletir sobre a
depressão no Pós-parto e o auxilio da Terapia de família em seu tratamento.
Está embasado no referencial teórico psicanalítico. Para isto abordaremos
sete capítulos.
Este trabalho monográfico contará com o respaldo de teóricos como, Freud,
Melanie Klein e Lacan.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................8
CAPÍTULO I: Um Breve Histórico sobre a Depressão .............................12 CAÍTULO II: Período Gestacional..............................................................20 CAPÍTULO III: Depressão no Pós – parto e Psicose Puerperal................24 CAPÍTULO IV: A Melancolia sobre a Perspectiva Freudiana....................30 CAPÍTULO V: O Luto e a Depressão segundo Melanie Klein...................35 CAPÍTULO VI: Estágio do Espelho............................................................41
CAPÍTULO VII: A Terapia de Família como auxilia Terapêutico na Depressão Pós-Parto..............................................................................50
CONCLUSÃO ............................................................................................55 BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................57
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INTRODUÇÃO A depressão é um tema que sucinta ainda hoje, diversos estudos, tanto por
psiquiatras, psicólogos e psicanalistas, quanto por estudiosos de outros campos
do saber.
A depressão se encontra presente na vida de milhares de pessoas, levando
ao adoecimento psíquico através da tristeza, como físico, através da falta de
apetite, insônia, chegando inclusive, nos casos de maior gravidade, ao suicídio.
Este transtorno tende a atingir principalmente mulheres e agravando-se no seu
pós-parto, o que caracteriza um quadro psiquiátrico, a depressão pós-parto, tema
desta monografia.
Esta monografia se baseará em um vasto levantamento teórico sobre a
depressão no pós-parto, onde se respaldará na visão psicanalítica.
O interesse pelo tema surgiu por questões, as quais acompanharam-me no
estágio, que realizei com gestantes. Ao longo da experiência obtida no referido
estágio, pude analisar relatos narrados por grávidas, as quais vivenciaram ao
longo de suas gestações a depressão pós – parto, até mesmo quadros de psicose
puerperal, e com auxilio da terapia de família, obtiveram resultados positivos, bem
significativos.
Desde a antiguidade encontram-se registros sobre este tema, Segundo
Isaias Pessotti (1994) a primeira menção ao sofrimento melancólico, aparece na
Ilíada de Homero. Neste período a loucura é considerada como um estado de
desrazão, da perda do controle de si mesmo e o remédio Pharmakon, era usado
como terapia para acalmar as aflições.
Segundo Peres (2003), a melancolia apresentará no século XX, duas
correntes interpretativas; uma, a partir da psiquiatria e uma outra, através da
psicanálise com Sigmund Freud.
A depressão é mais comum no sexo feminino, estimando-se uma
prevalência do episódio depressivo em 1,9% no sexo masculino e 3,2% no sexo
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feminino. Observou-se também que muitas dessas mulheres apresentam
depressão no seu pós-parto, cerca de 20 a 40 % relatam algum sintoma deste
transtorno em seu pós-parto (Peres, 2003).
A gestação é geralmente um período de conflitos marcantes, momentos em
que a mulher se sentirá frágil e desprotegida, sendo parte de um dos momentos
de desenvolvimento psicológicos mais cruciais para a mulher (RIBEIRO, 2004).
A depressão pós - parto é um quadro que tem seu início em algum
momento durante o primeiro ano do pós-parto, havendo maior incidência entre a
quarta e oitava semana após o parto.
Essa depressão é um quadro clínico severo e agudo, onde se requer,
muitas das vezes, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, pois devido à
gravidade dos sintomas, há de considerar o uso de medicação. Além do descrito
acima, maior irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças
psicossomáticas, tristeza profunda, desinteresse pelas atividades do dia-a-dia,
sensação de incapacidade de cuidar do recém-nascido e desinteresse por ele,
chegando ao extremo de pensamentos suicidas e homicídas em relação ao bebê,
neste momento extremo, em que a mulher encontra-se, é chamado de Psicose
Puerperal (KAPLAN, 1997).
Em seu desenvolvimento, este trabalho contou com o respaldo teórico, de
autores ligados a psicanálise como, Sigmund Freud, Melanie Klein e Jacques
Lacan, que de uma forma ou de outra, trouxeram uma expressiva contribuição ao
estudo deste tema.
Freud em (1917[1915]), introduziu a partir do texto “Luto e Melancolia”, a
sua contribuição metapsicológica para a compreensão da relação entre o luto e a
melancolia. Situa como característica principal da melancolia a identificação que o
Ego faz com o objeto perdido. Neste, o investimento libidinal que é retirado do
objeto volta para o próprio ego do sujeito. Aqui existe uma identificação com o
objeto abandonado. Por isso, Freud (1917) diz: “a sombra do objeto caiu sobre o
ego” (Freud, 1917, p. 281).
O luto (1917[1915]), será tratado por Freud com muita propriedade, pois
com o efeito da perda o sujeito pode se recolher em um mundo exclusivamente
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seu, um sofrimento inigualável, com o acompanhamento do seu passado. O luto
vai se caracterizar por um trabalho de fazer retornar a libido ao ego após uma
perda.
O luto é considerado uma reação à perda de alguém que se ama, encerra o
mesmo estado de espírito penoso, a mesma perda de interesse pelo mundo
externo, a mesma perda de vontade de adotar um novo objeto de amor (o que
significa substituí-lo) e o mesmo afastamento a qualquer atividade que esteja
ligada à ele (FREUD 1971).
Melanie Klein, psicanalista de origem alemã, trouxe uma importante
contribuição ao estudo das depressões. Esta autora dedica-se especialmente a
teorizar o desenvolvimento precoce da criança. Klein descreve duas posições, as
quais chama respectivamente de esquizo-paranóide e depressiva.
De acordo com esta teoria da psicanalista, ao se referir ao melancólico, a
autora menciona que existem várias exigências internas responsáveis pela
severidade do superego no melancólico; o ego se submete à uma “escravidão”, ao
cumprir as exigências e advertências cruéis do objeto amado que se instalou
dentro de si. Durante todo o tempo o ego tenta manter os objetos “bons” afastados
dos objetos “maus”, os reais afastados dos fantasmáticos. (KLEIN, 1996).
Por outro lado, o psicanalista francês, Jacques Lacan com bases no seu
texto “Estágio do Espelho”, em 1949, menciona que ocorre uma relação com valor
estruturante e paradigmático, entre o sujeito e o seu semelhante. E que neste
estágio, não se refere necessariamente à experiência concreta da criança frente a
um espelho. O que assinala é um tipo de relação da criança com seu semelhante
através da qual ela constitui uma demarcação da totalidade do seu corpo (NEUSA
SANTOS, 1999).
Lacan (1949), afirma que o termo tristeza ao qual qualifica como depressão
é basicamente uma “covardia moral”, um pecado, uma covardia a partir do
pensamento e do dever de bem dizer, ou ainda, como esclarece em Televisão: a
depressão é um afeto normal porque ele reenvia ao fato de estrutura, que nos
furtamos de bem dizer da nossa relação ao gozo - ao inverso do sintoma,
novamente, que surge para dizê-la de alguma forma (LACAN, 1974).
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Lacan, quando relaciona a depressão com o pós-parto de uma mulher
relata que, quando a mãe rejeita o seu filho ao nascer, a criança não encontrará
no olhar de sua mãe, um conforto, uma segurança, e sim um olhar vazio,
distante.O sujeito se constitui quando há um investimento pulsional/libidinal, um
desejo psíquico em torno do seu nascimento. (LACAN, 1974).
Este trabalho monográfico será desenvolvido em sete tópicos, onde no
primeiro descreveremos um breve histórico sobre a Depressão partido do estudo
iniciado na Ilíada de Homero, passado por Aristóteles, DSM e outros; no segundo
tópico, trata-se a questão da Gestação e seus sintomas, onde abordaremos os
diversos sintomas que acarretam a mulher neste período em que se encontra mais
frágil e propensa ao adoecimento emocional; no terceiro tópico discorreremos
sobre a Depressão no pós-parto. No quarto, trataremos à luz da psicanálise o
estudo da Melancolia sob a perspectiva Freudiana, a partir do teórico o texto “Luto
e Melancolia” (1917[1915]); no quinto será abordado o luto e a depressão segundo
Melanie Klein; no sexto, será abordado o Estágio do Espelho, onde Jacques
Lacan, sobre a constituição do eu, Lacan assinala que neste estágio é assinalada
um tipo de relação da criança com seu semelhante através na qual se constituirá a
demarcação da totalidade do seu corpo. No sétimo, será mencionado, como a
Terapia de Família, é um fator positivo no Tratamento Terapêutico das famílias e
da própria puerpera, que encontra-se em Depressão pós-parto. Por último, a
conclusão deste trabalho monográfico.
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CAPÍTULO I
UM BREVE HITÓRICO SOBRE A DEPRESSÃO
A depressão hoje em dia, é um assunto muito discutido, entre psiquiatras,
psicólogos, psicanalistas entre outros, existindo diversas opiniões acerca deste
tema, à tristeza, ao luto ou ao pesar. A depressão é registrada através de escritos
desde a antiguidade.
A primeira menção ao sofrimento melancólico, segundo Isaias Pessotti
(1994) aparece na Ilíada de Homero. Neste, o personagem Belerofonte era um
melancólico, vítima do ódio dos deuses e por eles condenado ao ódio, ao
sofrimento e à solidão. Foi em Homero que surgiu a primeira referência ao
medicamento, Pharmakon. Entretanto, a conceitualização da melancolia surgiu
mais tarde, segundo o autor acima. Na época de Homero, os homens não
conheciam a si mesmo, possuíam idéias vagas sobre a questão da culpa, da
responsabilidade, do descontrole emocional, e da perda do bom senso. Neste
período a loucura é considerada como um estado de desrazão, da perda do
controle de si mesmo, e o Pharmakon, era usado como “terapia” para acalmar as
aflições e a ansiedade causada pela melancolia.
A concepção grega de melancolia derivava da teoria de humores
conceituada por Hipócrates, de acordo com a qual, os distúrbios mentais estavam
associados a um desequilíbrio em um dos quatro humores: o sangue, a linfa, a bile
amarela e a bile negra. Seria causada pela concentração da bile negra. Seus
sintomas incluíam, tristeza, ansiedade e tendência ao suicídio. Na opinião de
Hipócrates, as causas da melancolia combinavam fatores ambientais e internos
(Pessotti, 1994, p. 55).
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Segundo o autor acima, Aristóteles segue a teoria de Hipócrates, à qual
baseava-se na visão da bile negra e seus efeitos sobre os homens de exceção (os
ilustres). Uma determinada dose da bile negra tornaria o homem um gênio.
Se ocorre-se uma quantidade excessiva da dose, levaria à doença. Desta forma,
Aristóteles compreende a doença como a melancolia, sob um ponto de vista
positivo. Segundo o filósofo grego, a melancolia era uma doença que, sobretudo
afetava as pessoas ilustres, que seriam mais vulneráveis do que as outras,
obtendo maior concentração da bile negra.
Segundo Aristóteles:
A temperatura desta bile negra também influenciaria nas
reações do melancólico em frente a uma situação de perigo.
Se uma notícia alarmante era dada à um melancólico,
justamente quando a sua mistura biliar encontrava-se fria,
ele tenderia a mais covardia do que qualquer outro homem
(Aristóteles citado por Pessotti, 1994, p.99).
No século I depois de Cristo, o tratamento da melancolia já abrangia
medidas terapêuticas, como ginástica, massagem viagens e água mineral. No
século seguinte, destaca-se o trabalho de Cláudio Galeno. Segundo Isaias
Pessotti (1994), Galeno, viveu entre os anos 131 e 200, depois de Cristo, formou-
se em médico e lecionou em Roma. Galeno em seus estudos elaborou um
trabalho sobre as funções e as doenças do cérebro e da medula, e também em
seus estudos escreveu um capítulo dedicado à melancolia. O médico seguia a
teoria de Humora de Hipócrates. Ele classificava a melancolia em três tipos,
segundo a sua localização no corpo: no cérebro, na corrente sangüínea ou no
estômago. Embora possam apresentar as mais variadas atitudes, a característica
comum entre os melancólicos, segundo Galeno é a tristeza e o medo (PESSOTTI,
1994, p. 69).
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Na Alemanha, Emil Kraepelin (1856-1926) integrou a melancolia à
insanidade maníaco-depressiva, dentro da seção das psicoses, fundindo-se mais
tarde à psicose maníaco-depressiva (PERES, 2003).
O Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM) e a Classificação
Internacional das Doenças (CID) são baseados no sistema que Kraepelin criou.
De acordo com o teórico é um sistema de classificação importante, onde
até hoje através dele baseiam-se para classificar causas, sintomatologias, cursos,
prognósticos e achados anatomicos - patológicos das doenças. Ele estabeleceu a
descrição clínica dos quadros de demência precoce (hoje conhecido como
esquizofrenia) e psicose maníaco depressivo (denominado atualmente transtorno
afetivo bipolar). Seu livro foi editado com sua permissão nove vezes.
Preparou e idealizou o Instituto Alemão de Pesquisa em Psiquiatria.
Faleceu em 07 de outubro de 1926. Kraepelin continuou a usar o termo melancolia
e seus subtipos, utilizando o termo depressão para descrever afetos (KAPLAN,
1997).
Com o desenvolvimento científico, no século XIX, começou-se uma
preferência pelo termo depressão em detrimento do termo melancolia. O termo
depressão entrou em uso na psiquiatria européia por volta do séc. XVIII, vindo do
francês a partir do latim, depremere, que significa pressionar para baixo. No início,
seu uso foi introduzido em associação ao termo melancolia (DELOUYA, 2001).
Segundo Peres (2003), no século XX, apresentam-se duas correntes
interpretativas concomitantes, no que se refere à questão da depressão-
melancolia: a psiquiátrica e a psicanalítica. A psiquiatria passa a se consolidar
definitivamente no século XX, dando ênfase à dimensão orgânica e alimentando a
visão biológica da doença mental.
De acordo com a tradição Kraepeliana, os psiquiatras dão ênfase a um
déficit ou insuficiência orgânica e biológica, muitas vezes, uma deficiência inata.
Apostam ainda na observação e descrição de síndromes e enumeração de
sintomas, o que poderia dirigir suas estratégias terapêuticas. Desta forma
acreditam na terapêutica farmacológica, através da administração de
antidepressivos que regulam a produção de neurotransmissores (PERES, 2003).
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Os antidepressivos são eficazes em aliviar a depressão de maneira
significativa com maior freqüência do que o placebo. Também se relatam que
todos os antidepressivos eficazes apresentam interações imediatas e identificáveis
com um ou mais receptores ou enzimas. Esta ação farmacológica imediata
freqüentemente tem o efeito de aumentar os níveis dos neurotransmissores.
(ADALBERTO, 2007).
A outra corrente, a psicanálise, representada inicialmente por Freud, dará
ênfase aos conflitos psicológicos, os quais estão relacionados aos fatores
psicodinâmicos. Essas questões são sempre colocadas no campo das questões
psicogênicas (PERES, 2003). Nesta corrente, além de Freud, destacamos a
psicanalista de origem alemã Melanie Klein, D. W. Winnicott, médico e psicanalista
inglês, além de Jacques Lacan.
Desde os primeiros tempos da psicanálise, revela-se como instigante e
problemático o tema da melancolia. Freud menciona já em 1985, num rascunho
enviado a Fliess, apresentando aí um esclarecimento que antecipa em mais duas
décadas o que viria a ser o fundamento básico do seu entendimento do luto e do
padecimento melancólico (FREUD, citado por OLANDO. C, 2003).
Segundo o autor Orlando, o psicanalista Freud (1887-1902) empreendeu
um estudo metapsicológico sobre o fenômeno do luto como se fosse uma
“explicação” do fenômeno depressivo-melancólico, introduzindo a necessidade de
se comprovar psicologicamente uma noção da metapsicologia.
A metapsicologia constituiu um conjunto de doze textos que Freud escreve
em 1915, a princípio, constituído, segundo Garcia–Roza (1995, p. 9), ” em uma
série de textos com vistas à revisão de produção teórica, tentativa de empreender
uma grande síntese”. Nesses artigos a princípio, uma crítica a Jung e Adler,
encontra-se a passagem da primeira a segunda tópica, onde os aspectos ligados
a economia pulsional passam a prevalecer em detrimento dos aspectos
dinâmicos. Dentre os artigos que fazem parte dos artigos da metapsicologia,
destacamos “Pulsão, e destino da pulsão”, “O inconsciente”, e “Luto e Melancolia”.
Este texto freudiano será de extrema importância para a compreensão da
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depressão pós - parto, ao articulá-lo ao Luto e a Melancolia, conforme
descrevemos mais adiante.
A melancolia e a depressão percorreram um marcante e longo caminho
pela história. Hoje o sujeito deprimido, traz sintomas, tais como, o sono, que se
torna incerto, tristeza, medo, o futuro parece sombrio ou impossível, diminuição da
libido, tendência ao mutismo, crise de choro, não há prazer na vida, prazer em
fazer coisas simples como, ler um jornal, assistir um programa transformam-se em
um grande problema. A agitação passa a dominar o sujeito. Quando a depressão
ocorre, a visão que se tem de si mesmo transforma-se de aceitação e satisfação
em aversão, em culpa por falhas imaginárias de omissão ou de responsabilidade
podendo levar a perda da vontade de continuar uma tarefa, e levando o individuo
ao suicídio (HOLMES 2005).
O termo Depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros
distúrbios emocionais, podendo ser somáticos ou ainda, pode significar uma
doença caracterizada por alterações afetivas (BALLONE, 2005). Essas alterações
são fatores marcantes na depressão. Há também diminuição da energia mental e
física, prejuízo na capacidade de concentração ou na tomada de decisões,
irritabilidade dentre demais sintomas, que vão variando de individuo para
individuo.
Kaplan (1997), no Compêndio de Psiquiatria, menciona que a Depressão
tem sido registrada desde a antiguidade, e descrições do que, agora, chamam de
Transtornos de Humor foram usados em muitos textos antigos.
O humor dos indivíduos pode variar em normal, elevado ou deprimido. As
pessoas experimentam uma ampla faixa de humores e tem um repertório
igualmente variado de expressões afetivas; Elas sentem-se no controle, mais ou
menos, de seus humores e afetos. Os transtornos do humor são caracterizados
pela perda de senso de controle e uma experiência subjetiva de grande
sofrimento. Os indivíduos com humor elevado (isto é, mania), mostram
expansividade, fuga de idéias, sono diminuído, auto-estima elevada, e idéias
grandiosas. Os pacientes com humor deprimido (isto, é depressão) tem perda de
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energia e interesse, sentimento de culpa, dificuldades para se concentrar, perda
de apetite, e pensamentos sobre a morte e suicídio (KAPLAN, 1997).
O transtorno depressivo maior é um transtorno comum, com uma
prevalência durante a vida de cerca de 15%, talvez, até 25% em mulheres.Nesta
porcentagem, estão também as mulheres que sofrem com o transtorno depressivo
no pós-parto, onde apresentam perturbações emocionais ou disfunção cognitiva.
Esse transtorno pode durar alguns dias, e são atribuídos à rápidas alterações dos
níveis hormonais da mulher, ao estresse do parto ou até mesmo a conscientização
da responsabilidade de ser mãe (KAPLAN, 1997, p.48).
Ocorre também a incidência do transtorno depressivo maior ser mais alta
que o habitual em pacientes da clínica geral, nos quais chega a 10% , e em
pacientes internados por motivos médicos, nos quais aproxima-se dos 15%. O
transtorno bipolar I é menos comum do que no depressivo maior, com uma
prevalência no período de vida de cerca de 1%, similar à esquizofrenia. O
depressivo bipolar I possui um período definido de humor anormal, durante, pelo
menos, uma semana, é também sinônimo para o que era conhecido como
transtorno bipolar, que se conceitua como uma síndrome, tendo um conjunto de
sintomas maníacos durante o seu curso. O DSM-IV(1997), formalizou os critérios
diagnósticos para um transtorno conhecido como bipolar II, caracterizado pela
presença, durante o curso do transtorno, de episódios hipomaníacos, que se
conceituam em episódios de sintomas maníacos que não satisfazem plenamente
os critérios diagnósticos para uma síndrome maníaca completa (KAPLAN, 1997).
Kaplan (1997) menciona que há existência de dois transtornos o depressivo
maior e o transtorno bipolar I. Esses transtornos são diferentes um do outro.
Relata-se também que a depressão e a mania seriam dois extremos de continuas
experiências emocionais, porém esta idéia não é amparada pela observação
clínica comum de que muitos pacientes têm estados mistos, com aspectos tanto
depressivos como maníacos (1997, p. 493, 4).
Segundo Kaplan, o transtorno depressivo maior tende a ser crônico, com
recaídas. Este transtorno apresenta aspectos psicóticos, como pensamentos de
morte recorrentes, agitação ou retardo psicomotor. Estes aspectos acarretam uma
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doença severa com presença ou não de outras doenças associadas, intensidade e
comprometimento do sintoma, onde tudo é um indicador de mau prognóstico, pois
os sintomas causam sofrimentos clinicamente significativos ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
individuo (KAPLAN, 1997, p. 49).
Ocorre uma diferenciação entre sujeitos que possuem um episódio de
transtorno depressivo maior e de outros que apresentam dois ou mais episódios,
sendo conceituado pelo DSM-IV(1997) como transtorno depressivo maior
recorrente.
De acordo com o último relatório em 2005 da OMS (Organização
Mundial de Saúde), a Depressão é mais comum no sexo feminino, estimando-se
uma prevalência do episódio depressivo em 1,9% no sexo masculino e 3,2% no
sexo feminino. Ainda sobre prevalência, esse órgão da ONU reporta que 5,8% dos
homens e 9,5% das mulheres passarão por um episódio depressivo num período
de 12 meses. Essas cifras de prevalência variam entre diferentes populações e
podem ser mais altas em algumas delas.
Embora para Kaplan, esta doença possa afetar as pessoas em qualquer
fase da vida, a incidência é mais alta entre a fase da adolescência e inicio da fase
adulta. Observa-se que há também, um crescente reconhecimento da depressão
durante a infância (1997).
Na Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), a Depressão está
classificada como Transtornos Afetivos. Nesta classificação são aqueles nos quais
a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou do afeto, como uma
depressão (com ou sem ansiedade associada) ou uma euforia. Esta alteração de
humor em geral se acompanha de uma modificação do nível global, e as maiorias
dos episódios destes transtornos tendem a ser recorrentes e podem estar
relacionados com situações ou fatos estressantes (1991). Estes fatores
estressantes, tais como ansiedades, medos, euforias, podem desencadear na
gravidez, um episódio depressivo ou mesmo um surto puerperal.
Segundo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4º
revisão, da American Psychiatry, (DSM-IV), classifica a Depressão dentro dos
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Transtornos de Humor e também baseia a classificação nos episódios
depressivos. Na prática clínica sugere-se, didaticamente, que a Depressão seja
considerada de duas maneiras: Típica e Atípica. As depressões típicas seriam
aquelas que se apresentam através dos Episódios Depressivos e as Depressões
Atípicas seriam aquelas que se manifestam predominantemente através dos
sintomas ansiosos (Pânico, Fobias...) e somáticos (KAPLAN, 1997).
A Depressão é um transtorno onde atinge principalmente mulheres, levando
à obtenção de diversos sintomas.
Devido aos grandes números de casos depressivos em mulheres,
observou-se também que muitas dessas mulheres também apresentam depressão
no seu pós-parto, cerca de 20 a 40% das mulheres relatam algum sintoma da
depressão em seu pós-parto (HOLMES, 2005).
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CAPÍTULO II
PERÍODO GESTACIONAL A gravidez e o parto representam momentos marcantes para a mulher. São
períodos de grandes transformações, não só em seu organismo (envolvendo
todos os sistemas fisiológicos), mas também em seu psiquismo e em seu papel
sócio-familiar. Neste período ocorre a produção acentuada de alterações
biológicas, fisiológicas e psicológicas na mulher, já que representa um período de
grandes expectativas em sua vida.
Neste momento de maternidade as mulheres ficam mais propensas ao
adoecimento emocional, não só no período materno, devido o aumento da
sensibilidade, da ansiedade e outros fatores (RIBEIRO, 2004).
Na história da obstetrícia, que foi muito bem sintetizada por Briquet, um dos
maiores expoentes da obstetrícia brasileira, deparamos que o parto foi primeiro
um "processo solitário", isto é, a mulher escondia a gravidez e fazia os seus
partos; ela dava à luz sozinha, não tinha nenhuma espécie de ajuda; somente com
o passar do tempo ela foi auxiliada por amigas, vizinhas ou mulheres mais
experimentadas chamadas curiosas. Com o progresso da medicina a gestante
passou a ser atendida por obstetrizes e/ou por obstetras (MALDONADO, M.
1976).
Atualmente, graças à evolução científica, a parturiente tem oportunidade de
ser amparada mais adequadamente, sobretudo quando se submete a curso de
preparação para o parto.
A evolução científica trouxe um conhecimento médico especializado dando
à gestante, à parturiente, a puérpera e ao bebê um certo nível de segurança ante
os problemas orgânicos maternos e fetais, como por exemplo, a incompatibilidade
de Rh, a mortalidade perinatal, a patologia pré-natal e muitos outros. Mas, com a
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vida moderna, muitos outros problemas surgiram, principalmente os que dizem
respeito ao atendimento de gestante considerando-a como um ser dotado de
necessidades afetivas que devem ser compreendidas e atendidas, pois a
especialização técnica levou a relação médico-paciente a nível objetal. Assim,
muitos profissionais, visando suprir as necessidades psicológicas e afetivas da
mãe e da criança introduziram o chamado método psicoprofilático (MALDONADO,
M. 1976).
A gestação é um período de conflitos marcantes, onde a mulher se sentirá
frágil e desprotegida, sendo parte de um dos momentos de desenvolvimento
psicológicos mais cruciais para a gestante, onde ao lado da puberdade e do
climatério se chegará a um nível de tensão biológica caracterizada por grandes
mudanças metabólicas que podem acarretar em transformações.
As transformações hormonais do início da gravidez podem explicar, em
parte, a presença de sintomas neste período, os quais muitas vezes são,
sensibilidades extremas, outras irritações, sonolências, aumento libidinal, e outros.
Visto que toda gestante passa por eles, mas nem todas manifestam da mesma
forma apresentando variações quanto à ocorrência, severidade e persistência, os
sintomas caracterizam-se por serem uma forma de expressão do inconsciente.
Sendo assim, estão em relação direta com a história pessoal da mulher, história
do casal, momento que estão vivenciando, bem como o tipo de personalidade da
gestante.
Assim, a formação dos sintomas seria uma forma do corpo expressar uma
palavra "em sofrimento". O significado de cada um torna-se, então, específico a
cada gestante e assim deve ser compreendido e interpretado (SOIFER, 1980).
Muitas mulheres percebem-se grávidas antes mesmo da confirmação de
qualquer exame clínico e ou laboratorial, outras muito mais tarde. Nestes casos,
poder-se-ia pensar que está em jogo um autoconhecimento profundo, uma
sintonia com o próprio corpo, quando qualquer alteração é perfeitamente
percebida pela mulher, ou então, uma negação da futura maternidade, como se
com isto pudesse evitar a gravidez ou suas preocupações frente a ela.
22
Um dos primeiros sintomas a surgir é a sonolência tão intensa durante o
dia, que as horas costumeiramente dormidas já não se fazem suficientes. A
mulher passa a ficar mais introvertida, afasta-se dos demais, como se precisasse
evitar os estímulos internos e externos através do repouso, numa preparação para
o trabalho que se inicia. Durante a noite, entretanto, pode surgir a insônia, que
deve ser compreendida como uma ansiedade frente à gravidez, já que o atraso
menstrual começa a suscitar dúvidas.
Com o estado regressivo, a mulher revive inconscientemente seu próprio
nascimento e, identificando-se com o bebê, passa a funcionar como se fosse ele,
dormindo durante o dia para acordar durante a noite. Isto porque à noite, com o
corpo reagindo contra as queimações estomacais, má digestão, azia, pernas
pesadas, e o fato de se levantar várias vezes para ir ao banheiro, a gestante não
pára de se mexer, e isto poderia explicar o fato de o recém-nascido ficar com o
ritmo de sono invertido. Náuseas e vômitos são outros sintomas comumente
passíveis de ocorrer no primeiro trimestre, quando ainda a mulher não tem a
confirmação da gravidez ou simplesmente pelo fato de não se ver grávida, uma
vez que seu corpo não apresenta alterações visíveis (SOIFER, 1980, p. 20, 21).
Geralmente ocorrem pela manhã, ao despertar, e necessariamente também
funcionam como uma clara evidência desta gravidez, ao mesmo tempo em que
são umas válvulas de escape ante a ansiedade da dúvida.
O acompanhamento psicológico da grávida é evidentemente importante
uma vez que é durante a gravidez que se constroem os alicerces do futuro
relacionamento entre os pais e o bebê. É durante a gravidez que começam a
surgir tensões específicas deste momento de crise e que se abordadas nessa fase
tendem a se resolver mais facilmente. Se superadas, favorecem o crescimento e a
formação de uma ligação materno-filial mais saudável e quando não superadas,
ou não obtendo um acompanhamento leva esta gestante a gerar após o
nascimento de seu filho um quadro de depressão pós-parto.
O transtorno depressivo no pós-parto, geralmente inicia-se da quarta a
oitava semana após o parto (por vezes mais tarde, mas ainda dentro do primeiro
ano), pode-se persistir por mais uns anos. Essa depressão é um quadro clínico
23
severo e agudo, que requer acompanhamento psicológico e psiquiátrico, pois
devido a gravidade dos sintomas, há de considerar o uso de medicação.
Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças bruscas de humor,
indisposição, doenças psicossomáticas, tristeza profunda, desinteresse pelas
atividades do dia-a-dia, sensação de incapacidade de cuidar do recém-nascido e
desinteresse por ele, chegando ao extremo de pensamentos suicidas e homicídas
em relação ao bebê, neste momento extremo, em que a mulher encontra-se, é
chamado de psicose puerperal. (SOIFER, 1980).
24
CAPÍTULO III
DEPRESSÃO PÓS-PARTO E PSICOSE PUERPERAL
A depressão pós-parto é uma condição que afeta 10% a 15% das mulheres
no pós-parto. Este quadro tem seu início em algum momento durante o primeiro
ano do pós-parto, havendo maior incidência entre a quarta e oitava semana após
o parto. Geralmente se manifesta por um conjunto de sintomas como irritabilidade,
choro freqüente, sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e
motivação, desinteresse sexual, transtornos alimentares e do sono, ansiedade,
sentimentos de incapacidade de lidar com novas solicitações (KITZINGER citado
por, MALDONADO,1997).
Com o parto, ocorrem reações conscientes e inconscientes no puérperio e
em todo o ambiente familiar e social imediato, que reativam profundas ansiedades.
Uma das mais importantes angústias que é revivida inconscientemente, é
a angústia do trauma do próprio nascimento: a passagem pelo canal do parto, que
inviabiliza para sempre o retorno ao útero e empurra para um mundo totalmente
novo e, portanto, temido. A perda repentina de percepções conhecidas, como os
sons internos das mães, o calor do aconchego, enfim, o sentido total de proteção,
para o surgir de percepções novas e assustadoras.
A secção do cordão umbilical separa para sempre, o corpo da criança do
corpo materno deixando uma cicatriz, o umbigo, que marca o significado profundo
desta separação. Assim, no inconsciente, o parto é vivido como uma grande perda
para a mãe, revivendo perdas anteriores, muito mais do que o nascimento de um
filho. Ao longo dos meses de gestação ele foi sentido como apenas seu como
parte integrante de si mesma e, bruscamente, torna-se um ser diferenciado dela,
25
com vida própria e que deve ser compartilhado com os demais, apesar de todo
ciúme que desperta. Sendo assim, a mulher emerge da situação de parto num
estado de total confusão, como se arrancasse-lhe algo muito valioso, ou como se
tivesse perdido partes importantes de si mesma (SOIFER, 1980). De acordo com os critérios do Manual de Diagnostico e Estatística de 1997,
(DSM-IV) define depressão pós-parto, como um episódio de depressão maior, que
ocorre dentro das quatro primeiras semanas após o parto. Já a depressão que
acomete mães após este período, especialmente no primeiro ano do bebê, será
denominada depressão materna.
Quanto a cronicidade, a depressão pode se estender por um período de
seis meses a um ano. Em geral, a duração dos episódios de depressão pós-parto
é de alguns meses e não difere, em relação ao tempo de duração, de episódios
depressivos que não tiveram início no pós-parto.
Caracteristicamente a depressão materna ao longo do primeiro ano de vida
do bebê compreende alterações no apetite e sono, dificuldade de dormir
especialmente após amamentar o bebê, crises de choro, desatenção, problemas
de concentração, falta de energia e de interesse em atividades que antes eram
consideradas agradáveis. Também podem ocorrer idéias de suicídio e
sentimentos excessivos de culpa. Os sintomas tendem a ter uma duração razoável
de tempo (KAPLAN, 1997).
Os sinais e sintomas do estado depressivo variam quanto à maneira e
intensidade com que se manifestam, pois dependem do tipo de personalidade da
puérpera e da sua própria história de vida, além das mudanças bioquímicas que
se processam logo após o parto. Além das vivências inconscientes em que
predominam as fantasias de esvaziamento ou de castração, as mais intensas são
as ansiedades de carência materna - quando a puérpera apresenta forte
dependência infantil em relação à própria mãe ou ao marido - e as de
autodepreciação, quando se sente incapaz de assumir as responsabilidades
maternas, e até mesmo inútil, quando não consegue captar a compreensão do
significado do choro do bebê para poder satisfazê-lo.
26
Para poder suportar tais ansiedades, inconscientemente, alguns
mecanismos de defesa são colocados em movimentos, segundo as características
pessoais da puérpera. Dessa maneira, ela pode apresentar-se cheia de uma
energia despropositada, eufórica, falante, preocupada com seu aspecto físico e
com a ordem e arrumação do ambiente em que se encontra. As visitas são
recebidas calorosamente, e a mãe parece tão disposta e auto-suficiente, como se
não precisasse de ajuda externa. Em contrapartida, manifesta alguns transtornos
do sono, muitas vezes necessitando de soníferos. Se o ambiente mais próximo
não lhe oferecer carinho e atenções, tal estado pode produzir somatizações, como
febre, constipação e outros sintomas físicos. Do mesmo modo, se as fantasias
inconscientes não puderem ser contidas, surgem às ansiedades depressivas de
modo ocasional ou em acessos de choro, ciúmes, aborrecimento, tirania ou em
expressões de autodepreciação e de auto-acusação (NONACS & COHEN 1998,
citado por SILVA & SOUZA, 2003).
O reconhecimento da depressão pós – parto importante não apenas para a
compreensão e o tratamento da mãe, mas também por seus efeitos negativos
sobre o relacionamento entre a mãe e o bebê, e sobre o aprendizado e
desenvolvimento social e emocional da criança. A prevenção desta depressão
pós-parto é a melhor forma de evitar tais efeitos, e o apoio social é um dos fatores
mais vitais da prevenção (SOIFER, 1980).
Para Nonacs & Cohen, quando o quadro da depressão se agrava torna-se
patológico, chama-se psicose puerperal. Sua característica principal está na
rejeição do bebê pela mãe, sentindo-se aterrorizado por ele, mania de
perseguição, como se alguém fosse roubar o seu bebê; Quando a mulher entra
neste quadro profundo de depressão, sem poder oferecer ao seu filho proteção, o
mesmo acaba entrando também em depressão (NONACS & COHEN 1998, citado
por SILVA & SOUZA, 2003).
Kaplan & Sadock (1999), define os transtornos psíquicos puerperais como
doenças mentais com início no primeiro ano após o parto e que se manifestam por
desequilíbrios de humor psicóticos e não psicóticos. A etiologia das síndromes
psíquicas pós-parto envolve fatores orgânicos e hormonais, psicossociais e
27
predisposição feminina, deste modo, a associação destes elementos possibilita o
desenvolvimento do processo patológico.
As alterações hormonais que se processam após o nascimento, são
marcadas pela queda acentuada dos hormônios progesterona e estradiol, além da
redução de cortisol sérico, relacionado a uma diminuição elevada das atividades
secretoras da glândula pituitária imediatamente após o parto.
Os fatores psicossociais envolvem o estresse embutido nas transformações
puerperais e que contribuem para a exarcebação dos sintomas psíquicos. História
de infertilidade é também um fator que merece ser investigado, uma vez que em
muitos casos funciona como potencializador de risco. A predisposição representa
uma parcela considerável na etiologia dos transtornos psiquiátricos puerperais.
Determinadas situações ou experiências, expõem a puérpera ao maior risco
de adoecimento, dentre os quais deve-se destacar: primiparidade e história
familiar e pessoal de transtorno mental pós-parto.
Deste modo, prevenindo complicações e construindo um prognóstico
satisfatório das síndromes mentais pós-parto, cabe destacar a importância da
identificação dos sintomas iniciais que norteiam o quadro patológico puerperal, ou
seja, quanto antes se detectar os indícios, reflexos positivos poderão ser
oferecidos na assistência individual e familiar (Kaplan, 1999).
Na Décima Revisão Internacional das Doenças (CID-10), os transtornos
psíquicos não são considerados distúrbios mentais específicos do puerpério, mas
sim associados a ele, ou seja, o parto atua como um fator desencadeante devido à
fragilidade psicológica qual a mulher se expõe. Deste modo, os transtornos se
classificam da seguinte maneira: Síndrome da Tristeza Pós-Parto; Depressão
Puerperal ou Pós-Parto e Psicose Puerperal.
Na psicose puerperal, caracteriza-se pelo repúdio total ao bebê, a mãe não
deseja vê-lo, aterroriza-se com ele, permanece triste, afastada, como que ausente.
Torna-se apática, abandonada, nem sequer aceita dedicar-se aos próprios
cuidados pessoais. Pode sofrer insônia, inapetência. Freqüentemente esse quadro
se associa a idéias paranóides de perseguição, de que alguém irá introduzir-se na
sua casa para prejudicar-lhe ou até mesmo lhe roubar, etc.
28
Quando o quadro de psicose puerperal se agrava mais ainda, pode-se levar
ao desenvolvimento do mecanismo maníaco, a puérpera apresenta-se eufórica,
falante, muito preocupada com seu aspecto físico, arranjo e roupas, recebe
calorosamente as visitas, declara sentir-se muito bem, etc. Em geral, quando a
modalidade maníaca é intensa, tornando-se freqüente a dificuldade para dormir e
a necessidade de soníferos. A eficácia da situação maníaca dependerá da
existência de um ambiente social que a propicie. A falta de carinho e festejos
costuma produzir diversas somatizações: constipação, anúria, febre, dores
intestinais, hemorragias, choque (SOIFER, 1980, p. 67).
A puérpera pode vivenciar com o parto, segundo a sensação de mutilação
do seu corpo devido ao processo gravídico que confere a mulher o sentimento de
que o feto é parte integrante de si, e psicologicamente o nascimento gera uma
deficiência permanente. A turbulência deste fato pode ser acentuada no caso de
bebês que nascem com alguma deficiência física. O resultado pode ser traduzido
em relações maternais extremamente protetoras.
Inúmeros fatores podem ser considerados como determinantes para um
desfecho saudável do puerpério. Dentre eles pode-se destacar uma relação
familiar harmoniosa e cooperativa, bem como o desejo e o planejamento da
gravidez feita pelo casal. O papel do homem nesta fase merece destaque, uma
vez que vivencia sensações psicológicas semelhantes à mulher, e por sua vez, o
direcionamento dos fatos repercutirá de maneira favorável ou não no
relacionamento do casal (KITZINGER citado por MALDONADO, 1997).
O conhecimento dos fatores de risco da depressão pós-parto são
extremamente importantes no planejamento e implementações de ações
preventivas. Essas ações nos transtornos depressivos puerperais, e o máximo de
apoio emocional e físico durante a gravidez, no parto e durante o puerpério
(obstetra, enfermagem e pediatra); o máximo de apoio emocional da família,
amigos e companheiro; discussão com o companheiro a respeito da importância
da esposa se sentir amada e segura; e encaminhamento da mãe com risco
elevado para depressão pós-parto para aconselhamento ou psicoterapia( ROCHA,
1999).
29
Toda a forma de transtorno mental deve ser compreendida como um
estado de desconforto, associado à ameaça da integridade física, psicológica e
social do indivíduo, além de intervir severamente nas suas construções pessoais e
envolver todas as formas de relacionamento que o mesmo venha a assumir no
seu cotidiano.
O transtorno depressivo puerperal apresenta uma série de aspectos
semelhantes a episódios depressivos que ocorrem em outras etapas da vida da
mulher, o puerpério, como já foi discutido, é uma fase muito importante e reflexiva
na vivência feminina, mas ao mesmo tempo propício o desenvolvimento de
transtornos mentais, uma vez que promove diversas transformações físicas e
psicossociais na puérpera. As reações da mulher no período pós-parto terá grande
influência no relacionamento familiar e principalmente em questões características
da interação do binômio mãe-filho.
Assim, é importante que os profissionais de saúde desenvolvam ações
preventivas na rede pública voltados não só a saúde da gestante, mas da mulher
no geral. Além disso, estimular a compreensão da mulher e do companheiro em
relação às fases críticas do puerpério, bem como emoções e sentimentos
provenientes deste período, ou seja, somando esforços na prevenção e
tratamento da depressão pós-parto, que irão traduzir no exercício materno
saudável e essencial ao desenvolvimento humano (SANTOS, 1997).
Na depressão ocorre um desamparo fundamental, uma complexa e
problemática relação com a perda, a falta, o vazio estrutural do ser humano.
A melancolia, introduzida por Sigmund Freud (1917[1915]), lança um
desafio sobre a fronteira entre o somático e o psíquico, o estrutural e o atual, a
neurose e a psicose (Tourinho Peres, 2003, p. 10).
Para o psicanalista Freud, como veremos a seguir, a compreensão da
melancolia é necessariamente desencadeada pela questão da energia pulsional
(libido), da capacidade do ego, em fazer investimentos objetais e da identificação
com o objeto perdido.
30
CAPÍTÚLO IV
A MELANCOLIA SOB A PESPECTIVA FREUDIANA
Segundo a Psicanálise, a depressão, chamada por Freud de Melancolia se
caracteriza “por um desânimo profundamente penoso, sensação de interesse pelo
mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda a produtividade, e
uma diminuição dos sentimentos de auto-estima – sentimento”. (1917[1915]).
O luto foi um dos temas ao qual a psicanálise abordou com muita
propriedade. Segundo Freud (1917[1915]), o efeito de uma perda pode ser
parecido com o que foi designado na antiguidade por melancolia. A pessoa pode
se recolher em um mundo denominado exclusivamente seu, um sofrimento
mórbido com acontecimentos do passado, os quais apresentam outros sintomas
que podem eclodir fisicamente. Segundo Freud, um indivíduo desolado pode ser
considerado doente quando não se sabe a causa do seu comportamento (FREUD,
Vol. XIV 1914/1916, p. 277).
Em “Luto e Melancolia” Freud afirma que:
O Luto de modo geral, é a reação à perda de um ente
querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar
de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de
alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as
mesmas influências produzem melancolia em vez do luto;
por conseguinte, suspeita-se que essas pessoas possuem
uma disposição patológica (p. 277-8).
31
No luto, “a perturbação da estima de si“ (1917[1915]) está ausente, assim
como a expectativa delirante de punição. Da mesma forma, a perda que se
apresenta no luto diz respeito a uma perda objetal.
Nesta perda, ocorre a inibição e a perda de interesse, que é plenamente
explicada pelo trabalho do luto, no qual o ego é absorvido. O mundo torna-se
pobre e vazio (FREUD, 1997, p. 278).
Na melancolia, o investimento que é retirado do objeto volta para o próprio
ego do sujeito. Aqui existe uma identificação com o objeto abandonado. Por isso,
Freud (1917) diz: “a sombra do objeto caiu sobre o ego” (Freud, 1917, p. 281).
Melhor dizendo:
Uma perda objetal se transformou numa perda do ego,
e o conflito entre o ego e a pessoa amada, numa
entre a atividade critica do ego enquanto alterado
pela identificação(Freud, 1971,pág, 282).
O luto profundo, a reação à perda de alguém que se ama, encerra o mesmo
estado de espírito penoso, este mesmo sentimento de interesse pelo mundo
externo, a mesma perda de vontade de adotar um novo objeto de amor (o que
significa substituí-lo) e o mesmo afastamento a qualquer atividade que esteja
ligada à ele. É claro, constatar que essa inibição do ego é expressão de uma
exclusiva devoção ao luto, devoção que nada deixa a outros propósitos ou
interesses (FREUD 1971, p.275. 6.8).
Segundo Freud, a melancolia caracteriza-se por:
Um desânimo profundamente penoso, sensação de interesse
pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição
de toda a produtividade, e uma diminuição dos todos os
sentimentos e da auto-estima – sentimento de estima de si
mesmo, a ponto de encontrar expressão em se recriminar e
em se degradar,culminando ainda numa expectativa delirante
de punição (1917[1915], p. 278-9).
32
A perda que se apresenta no luto diz respeito a uma perda objetal, já na
melancolia, isto, transforma-se no eu. Freud (1917[1915], p.251) afirma que: “no
luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio eu”.
Pode-se constituir uma reação a este objeto amado, quando se refere à
melancolia, onde as causas excitantes se mostram diferentes, pode-se reconhecer
que exista uma retirada de um objeto mais ideal. O objeto talvez não tenha
morrido, mas tenha sido perdido enquanto objeto de amor.
O trabalho interno do sujeito na melancolia será responsável pela inibição
melancólica. Esta inibição é enigmática porque não podemos ver o que está
absorvendo completamente. O melancólico também exibe uma diminuição
extraordinária em sua auto-estima.
Na melancolia a relação com o objeto não é simples; ela é complicada pelo
conflito devido à ambivalência. Esta ou é constitucional, isto é, um elemento de
toda relação amorosa formada por esse ego, ou provém precisamente daquelas
experiências que envolveram a ameaça de perda do objeto. Por esse motivo, as
causas excitantes da melancolia, têm uma amplitude muito maior que as do luto.
Na melancolia, em conseqüência, trata-se de inúmeras lutas isoladas em
torno do objeto, nos quais o ódio e o amor se degladiam; um procura separar a
libido do objeto, o outro defender essa posição da libido contra o assédio. As
localizações dessas lutas só podem ser atribuídas, encontradas no sistema Ics, na
região dos traços de memória.
No texto “Luto e Melancolia”, Freud menciona que no quadro clínico da
melancolia “a insatisfação com o ego constitui, por motivos de ordem moral, a
característica mais marcante” (1917[1915], p. 281).
O paciente melancólico representa seu eu como sendo desprovido de valor,
incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível. Na melancolia, há uma
identificação narcísica com o objeto e uma ambivalência, levando a uma relação
de ódio e amor. O resultado desta luta é o abandono do investimento libidinal no
objeto, mas com o recuo deste ao ego. Após essa regressão da libido o conflito se
torna representável à consciência sob a forma de um conflito entre uma parte do
33
ego e seu agente crítico, o que explicaria na melancolia a tendência ao suicídio.
Existe uma identificação narcísica com o objeto perdido. (1917[1915]).
Para Freud, então, o ego só pode se matar se fizer objeto de si mesmo. É
por um lado como o luto, uma reação à perda real de um objeto amado; mas,
acima de tudo isso, é assinalada por uma determinante que se acha ausente no
luto normal ou que se estivesse presente transforma esse luto em patológico.
A depressão ou melancolia é, um transtorno ao qual também pode ser
encontrado no pós - parto de algumas mulheres.
Com base no texto de Freud de 1917 “Luto e Melancolia”, ao relacioná-lo
com o quadro da depressão pós - parto, veremos que neste quadro clínico a
mulher encontra-se mais sensível, fragilizada, temerosa pela nova situação ao
qual encontra-se, mais vulnerável a um estado melancólico. Se, nesta mulher
houver conflitos passados não resolvidos, ou até mesmo presentes, são fortes os
pontos que auxiliarão na formação de um quadro depressivo.
Quando ocorre o nascimento da criança, a mãe, em seu inconsciente
simboliza uma ruptura, entre ela e a criança que acabara de nascer. Esta mãe
acredita ter perdido o seu objeto amado, talvez não tenha morrido, mas sim
perdido como um objeto de amor.
A mulher encontra-se em inúmeras lutas inconscientes em torno do seu
objeto amado; uma luta entre o amor e o ódio. O amor leva o medo que ocorra
uma perda deste objeto amado, ao qual acredita ter sido perdido na ruptura do seu
nascimento e o ódio ao qual assedia este objeto.
Freud menciona que:
O par amor-ódio desempenha um papel fundamental
neste quadro, pois se o objeto frustra, ocorre um retorno
da libido em direção ao eu, ocorrendo uma comunicação
amena entre o objeto e o sujeito. Há um retorno à
identificação narcísica originária (FREUD, 1921, citado por
TOURINHO PERES, 2003).
34
Se esta mulher com depressão agravada ao longo do seu pós-parto, não
obtiver melhoras, estará encaminhando-se para um quadro de depressão
puerperal. A mãe tende a rejeitar o bebê, a achar que querem lhe fazer mal, e se
não houver um cuidado especial, tende a entrar em um quadro suicida. Freud no
texto “Luto e Melancolia” menciona : “O eu mata a si próprio na medida em que se
torna como objeto. O suicídio de uma sujeito melancólico representa um ato de
retorno a si de um ódio e de um desejo de matar o outro” (SOIFER, 1980).
A depressão puerperal está integrada no quadro de psicose, conceituada
como psicose puerperal. A mulher encontra-se em um quadro depressivo, após o
perí-natal; Este quadro, neste momento de maternagem, apresenta-se em um
grau muito elevado, tornando-se patológico. A psicose puerperal é um quadro
delirante, freqüentemente alucinatório, com a perca da realidade, sendo um
quadro grave e agudo.Para a mulher em surto o bebê não existe. Ele passa a ser
um espaço vazio preenchido por elementos do psiquismo da mãe, cedidos do real
(SOIFER, 1980).
Em “Luto e Melancolia” Freud traça um imenso caminho sobre a questão do
luto e da melancolia, e como isto se dá na vida de um sujeito. O psicanalista abre
caminhos para que outros estudiosos, psicanalistas baseados em seus estudos
possam dar continuidade, ao que por ele foi introduzido e conceituado.
35
CAPÍTULO V
O LUTO E A DEPRESSÃO SEGUNDO MELANIE KLEIN
Melanie Klein, Psicanalista de origem alemã, viveu a sua infância na
Austrália. Na Hungria, viveu após seu casamento (1903) teve seus dois filhos:
Melitta e Hans, que morreu em um acidente aos 26 anos de idade.
Devido a esta morte, Melanie Klein fez várias viagens, onde após alguns
anos, deparou-se com a teoria psicanalítica de Freud.
Os transtornos políticos de 1920 fizeram exilar-se num terceiro país.
Convidada por Karl Abraham instalou-se em Berlim; continuou a estudar e se
formou com ele, bem como uma análise. Comunicou seus primeiros tratamentos
com crianças pequenas e seu método, a técnica psicanalítica do brincar. Em 1924,
pelo congresso de Wurzburg, intitulou sua técnica como: “A técnica da análise de
crianças pequenas”. (PERES, 2003).
Melanie Kein traz uma importante contribuição ao estudo das depressões.
Esta autora dedica-se especialmente a teorizar o desenvolvimento precoce da
criança. Klein descreve “duas posições, as quais chama respectivamente de
esquizo-paranóide e depressiva, que não apenas são povoadas pela angústia e
defesas desses estágios precoces, mas podem ser reativadas em circunstâncias
particulares da vida, caracterizando estados patológicos” (MELANIE KLEIN, 1995,
p.139).
A teórica e psicanalista, retrata a questão da depressão, chamada também
por ela como melancolia, baseando-se no texto de Freud, “Luto e Melancolia”
(1917[1915]).
36
De acordo com o texto Freudiano, a melancolia é :
A perda do objeto amado. A verdadeira perda do objeto real,
ou uma situação semelhante que tenha o mesmo
significado, que resulta na instalação do objeto dentro do
próprio ego. Mas devido, a um excesso de impulsos
canibalescos no individuo, essa introjeção fracassa e a
conseqüência é a doença (1996, [1921-1945], p. 305).
A psicanalista questiona se a introjeção seria específico à melancolia? E
acredita que a “principal diferença entre a incorporação na paranóia e na
melancolia está ligada a mudanças na relação do sujeito com objeto, apesar de
também estar relacionada o com o ego introjetor” ( MELANIE KLEIN, p 305).
A paranóia segundo a autora possui certas defesas típicas, as quais busca
eliminar principalmente os “perseguidores” ao mesmo tempo em que a ansiedade
pelo próprio ego ocupa um lugar central. À medida em que o ego se torna mais
organizado, as imagens internalizadas vão se aproximando da realidade e ele se
identifica de forma mais completa com os “objetos bons”. Mas esses objetos
também passam a serem percebidos como uma ameaça ao ego (1935). Diz ainda
que:
Quando ocorre esse desenvolvimento citado acima, ocorrerá
também uma mudança de total importância, à qual refere à
passagem de uma relação objeto parcial para a relação
comum objeto total. Ao dar estepasso, o ego atinge nova
posição, que serve de base para a situação chamada de
perda do objeto amado. Só que quando o objeto é amado
como um todo é que sua perda pode ser sentida como um
todo (1996,[1921-1945], p.306).
37
Levando em consideração as experiências de Klein, a psicanalista explica
que há uma profunda ansiedade a respeito dos perigos que aguardam o objeto
dentro do ego. Ele não pode ser mantido lá com segurança, pois o interior do
individuo é percebido como um lugar perigoso, venenoso, onde o objeto amado
iria perecer.
Nesta situação, a autora dirá que:
O ego se identifica totalmente com os objetos bons
internalizados e, ao mesmo tempo, percebe sua própria
incapacidade de protegê-los e preservá-los do id e dos
objetos persecutórios. Isto é uma ansiedade à qual é
explicada e justificada psicologicamente (KLEIN, 1996, p.
306).
Quando o ego identifica-se totalmente com o objeto, ele não abandona seus
mecanismos de defesa, levando a aniquilação do objeto, dando inicio ao
mecanismo depressivo. Se isto for verdade diz Melanie Klein:
O mecanismo paranóico destruirá os objetos (tanto no
interior do corpo quanto no mundo exterior) com todos
os meios derivados do sadismo oral, uretral e anal
ainda persistem, mas numa intensidade bem menos
que antes das mudanças entre sujeito e objetos.(1996
p. 307).
De acordo com a teoria da psicanalista, quando se refere ao melancólico, a
autora menciona que, existem várias exigências internas responsáveis pela
severidade do superego no melancólico, levando a necessidade premente de
cumprir as reivindicações rigorosas dos objetos “bons”. Existe uma crueldade
nesses objetos bons, amados, que foram internalizados pelo ego, que é o único
38
reconhecido pelo saber analítico geral; ele fica muito claro na severidade
implacável do superego do melancólico.
O ego se submete a uma “escravidão”, ao cumprir as exigências e
advertências cruéis do objeto amado que se instalou dentro de si. Durante todo o
tempo o ego tenta manter os objetos “bons” afastados dos objetos “maus”, os
reais afastados dos fantásticos.
Quanto mais forte for a ansiedade do sujeito em perder o objeto amado,
mas o ego tentará salvá-lo; Da mesma maneira que, quanto mais árdua for a
tarefa de restauração, mas rígidas serão as exigências associadas ao superego
(1996 p. 310).
Melanie Klein diz que “só quando o ego introjetar o objeto como um todo e
estabelecer uma relação melhor com o mundo externo e as pessoas reais é que
ele percebe o desastre criado pelo seu sadismo e principalmente pelo seu
canibalismo” (1996 p. 310,1).
Esse sofrimento não está apenas relacionado com o passado, mas também
ao presente, pois neste estágio inicial do desenvolvimento o sadismo está no
auge. É preciso uma identificação mais completa com o objeto amado e um
reconhecimento mais completo de seu valor para que o ego perceba o estado de
“desintegração” a que o reduziu, e continua a reduzir. “Ego depara-se com o
objeto que se encontra em com as realidades psíquicas de seus objetos amorosos
que estão num estado de dissolução” (p.311). O desespero, remorso,
ansiedades...Essas ansiedades são criadas na tentativa de juntar os pedaços de
maneira correta, usando os bons e jogando fora os ruins.
O sofrimento do depressivo (melancólico), o leva à uma posição paranóica.
Apesar deste recuo Melanie Kein diz que “a posição depressiva é atingida,
portanto, a possibilidade da depressão sempre estará presente” (1996 p. 313).
O depressivo está cheio de ansiedade pelo objeto, que tenta juntar
novamente em um todo, no caso do paranóico, pois Melanie Klein faz uma
comparação entre a depressão e a paranóia, neste caso o objeto desintegrado é
principalmente uma multidão de perseguidores, pois cada pedaço se transforma
em um deles.
39
A autora menciona que:
Sempre que houver um estado de depressão, seja no
individuo normal,maníaco-depressivo, no neurótico ou em
casos mistos, estará presente esse grupo específico de
ansiedade, sentimentos de pensar e diversas variedades
dessa defesa que acabo de descrever dando o nome a ela
deposição depressiva (1996 p. 317).
Para a autora, assim como Freud, a depressão gira em torno da perda do
objeto amado e na tentativa de recuperá-lo.
Para a psicanalista, a mãe em seu pós-parto, encontra-se na posição de
perca do seu objeto amado. Esta mãe inconsciente acredita que perderá este
objeto amado, com a ruptura do seu nascimento, levando-a para um estado
psíquico de dissolução, acarretando até mesmo um estado paranóide nesta
mulher (1996, p. 320).
A mulher leva-se a este estado depressivo não apenas por esta perda
presente, mas também por questões do seu passado, ou seja, no parto, mulher
experimenta a soma de todas as vivências de perdas e diante da angústia, reage
odiando a criança, pois, poderá ver nela, a fonte de seu sofrimento. Ela então, só
conseguirá sair deste sofrimento quando obtiver uma identificação mais completa
com o seu objeto amado; Quando o ego conseguir afastar os objetos maus do seu
objeto bom, ou seja, quando esta mãe sentir-se sem ameaças, segura com o seu
objeto amado.
Melanie Klein, em 1948, menciona que se a “criança ao nascer, não obtiver
segurança, amor e presença desta mãe, irá sentir-se frustrada pela carência ou
pela falta de amor. A criança rebela-se contra a mãe e desenvolve fantasias do
tipo sádico e destrutivo contra ela. Esta situação provoca na criança estados de
ansiedade e de culpa. Além, disto à criança não consegue distinguir o mundo
40
exterior (a sua mãe) do interior (ela própria) e das imagens que interioriza da
mãe”. Isto explicaria o Infanticídio, tão comum nos surtos puerperais.
41
CAPÍTULO VI
O ESTÁGIO DO ESPELHO
Segundo Peres, a partir de 1953, com a introdução da noção do
inconsciente estruturado como uma linguagem, a melancolia foi pensada como
sacrifício suicida, ou seja, na melancolia o sujeito se nomeia, ao mesmo tempo em
que se eterniza e, com isto, Lacan deixou de pensar a melancolia a partir do
narcisismo para pensá-la a partir dos efeitos do parasitismo da linguagem no
sujeito, estando o sacrifício narcisista subordinado ao sacrifício simbólico (PERES,
2003, p. 41 2-3).
Lacan em 1974 reforça a tese freudiana da melancolia como uma neurose
narcísica, ou seja, é nos primórdios da constituição do eu – estágio teórico
chamado narcisismo, pois toca na questão da relação com a própria imagem –
que podemos situar esse acontecer.O autor menciona, através do estádio do
espelho, o ponto de ancoragem onde algo pode falhar, não se constituir, o que
comprometeria radicalmente a absorção do sentimento de si – sentimento que não
está dissociado do sentido da vida. Tanto no discurso do melancólico como nas
depressões ocasionais, a queixa da perda do sentido da vida é algo constante.
(LACAN, 1979/1998).
No texto “Estágio do Espelho e o Imaginário”, Garcia Rosa, relata que o
estágio do espelho designa um momento, uma marca na história do individuo.
Esta história inicia-se por volta dos seis meses de idade e termina em torno dos 18
meses, na qual a criança forma uma representação de sua unidade corporal por
identificação com a imagem do outro (2002 p. 211).
Esse momento é concretizado de forma exemplar pela experiência que a
criança tem ao perceber a sua própria imagem num espelho, experiência à qual
Lacan identifica a matriz, que se formará o primeiro esboço do ego.
42
Para Lacan a teoria do Estádio do Espelho é:
...o estádio do espelho como sendo uma
identificação: (...) a saber, a transformação
produzida num sujeito quando assume uma
imagem, cuja predestinação a este efeito de
fase está suficientemente indicada pelo
uso(1949,p. 87).
Lacan em 1949 menciona que apesar do nome, o estágio do espelho não
se refere necessariamente à experiência concreta da criança frente a um espelho.
O que ela assinala é um tipo de relação da criança com seu semelhante através
da qual ela constitui uma demarcação da totalidade do seu corpo.
Na fase do espelho ocorre uma relação com valor estruturante e
paradigmático, entre o sujeito e o seu semelhante. Relação, esta de dualidade e
ambivalência que portam consigo o selo da tensão agressiva cujas amarras são o
ódio e o fascínio, figuras da captura erótica conseqüente à confrontação entre o
pouco de ser do sujeito e a plenitude imaginária do outro (NEUSA SANTOS, 1999,
p. 31).
Segundo o texto de Lacan do ano 1949, relata-se que a vivência do corpo
despedaçado é anterior a fase do espelho, cede lugar a uma primeira demarcação
de si, por um processo de identificação ao outro. Esse si não pode ainda ser
considerado como uma subjetividade humana. O imaginário destroçado, o sujeito
desprotegido se encontra aberto à intrusão do Outro (LACAN, 1949, p. 213).
Wallon,(1878-1962) antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e
medicina e ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícitas.
Em 1925 funda um laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento de
crianças ditas deficientes. Ainda em 1925 publica sua tese de doutorado “A
43
Criança Turbulenta”. Inicia um período de intensa produção com todos os livros
voltados para a psicologia da criança. O último livro “Origens do pensamento na
criança’, em 1945”.
Faleceu em 1962. O método adotado por Wallon é o da observação pura.
Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu contexto, “só
podemos entender as atitudes da criança se entendermos a trama do ambiente no
qual está inserida”.
Wallon publicou um artigo onde foi intitulado Como se desenvolve na
criança a noção de corpo próprio e publicado na França em 1931 foi um dos
primeiros estudos a tratarem da reação infantil ao espelho. Nele, a experiência da
imagem especular representa um teste para o desenvolvimento cognitivo: quer-se
investigar o nível de consciência que a criança possui a respeito de sua realidade
e se ela conseguiu unificar seu “eu” no espaço ( Henri Wallon, 1995).
Referindo-se ao tratamento com crianças, Wallon se baseando no estágio
do espelho de Lacan, o teórico menciona que o espelho é considerado um objeto
privilegiado para traduzir o aspecto exterior do corpo. As dificuldades pelas quais
as crianças têm que passar até poderem se apropriar de uma imagem total de si
são esclarecidas quando se observa uma criança na frente do espelho. Esse
reconhecimento comporta duas etapas diferentes: reconhecimento da imagem e a
possibilidade de reportar essa imagem a si próprio (DANTAS, 1990).
De acordo com Lacan “a experiência do estágio do espelho, deve ser
entendida como uma identificação no sentido pleno que a análise dá a esse termo:
o saber, transformação produzida no sujeito quando assume uma imagem (...)”
(1949/1998, p. 96).
O autor no texto o estágio do espelho em 1949 menciona que, “esse tipo
de relação que ocorre neste estágio, caracteriza o imaginário, é chamado de dual.
O termo expressa a natureza especular da relação que consiste numa oposição
mediata entre a consciência e o outro. E sobre tudo é demarcada pela distinção
entre o interior e o exterior “(2002 p. 213)
Quando se fala da fase dual, para Lacan quer dizer o imaginário, isso não
quer dizer que o simbólico esteja ausente. Apesar da criança ainda não ter a sua
44
própria fala, é falada pelos outros, ela já surge num lugar marcado
simbolicamente.
Para Garcia Rosa, o simbólico e o imaginário são:
o simbólico é a Ordem, a Lei, é o que distingue o
homem do animal e funda o Inconsciente. A Ordem
Simbólica é a ordem humana, é transindividual na
medida em que precede o sujeito, isto, é a condição
de sua constituição como sujeito humano. No
interior do simbólico e por intermédio dele, que o
imaginário pode constituir-se” (2002, p. 213).
O caráter dual dessa relação não diz respeito, portanto, a uma dualidade de
indivíduos ou de sujeitos exteriores uns aos outros, mantendo uma determinada
relação. O infans não dispõe ainda da individualidade psíquica, de uma
subjetividade no sentido estrito do termo, o que torna problemático quando se
menciona acerca da “intesubjetividade” na fase do espelho. O que caracteriza
essa fase dual de relação é acima de tudo, a indistinção entre o eu e o Outro, e,
se alguma individualidade surge neste momento, ela é muito mais uma
demarcação do próprio corpo biológico, natural e suporte do desejo, do que, um
corpo imaginário, formado pela inscrição materna. Ser o desejo do outro, é o que
caracteriza a criança nesse inicio de vida (p.215).
No estágio do espelho o que é observado é a relação entre o sujeito e o
Outro. Quando Lacan em 1974 menciona a questão da melancolia, ele relata
novamente esta questão da relação do sujeito com o Outro.
Segundo Lacan em 1973 afirma que o termo tristeza ao qual qualifica como
depressão é basicamente uma “covardia moral”, um pecado, uma covardia a partir
do pensamento e do dever de bem dizer, ou ainda, como esclarece em Televisão:
“a depressão é um afeto normal porque ele reenvia ao fato de estrutura, que nos
45
furtamos de bem dizer da nossa relação ao gozo - ao inverso do sintoma,
novamente, que surge para dizê-la de alguma forma” (2002 p. 212,213).
O psicanalista acima ao lidar com a questão da melancolia, o mesmo faz
algumas referencias ao complexo materno do melancólico. O autor relata que o
complexo materno relaciona-se com freqüentes dificuldades que o melancólico
tem com a figura da mãe. A mãe é sempre colocada nessa posição de Outro,
nesse momento especular, essa mãe virá, por um olhar, pela voz, um sinal que
ratifica ao infans a sua conquista. Se essa resposta não chega, e o olhar materno
é vazio e transpassa o bebê, se a sua voz não transmite a harmonia que
apazigua, há de se supor que algo da ordem de uma busca constante se cristaliza
para a criança. A teoria lacaniana diz que, nesse momento, a criança é habitada
pela pergunta: “O que quer o Outro de mim para me reconhecer e me amar?”
(LACAN, 1974, p. 101-2).
Lacan em (1974) diz que a “criança passa por um momento de júbilo e
exaltação quando recebe a imagem especular que a unifica. Contudo, ela
necessita de um assentimento, um reconhecimento do Outro, que lhe confirme
essa captação”.
Quando a mãe encontra-se em um processo depressivo,
principalmente após o seu parto, ela não consegue estabelecer um contato com
esta criança, pois na depressão o eu para não correr o risco de se deparar com a
castração, entristece – sendo a tristeza o afeto da depressão, qual seja, uma baixa
de energia psíquica –, se deslibidiniza.
Com bases no texto acima, o autor diz que, a criança não encontra no olhar
de sua mãe, um conforto, uma segurança, e sim um olhar vazio, distante, levando
a não conseguir reconhecer-se no desejo do Outro. Ocorre neste momento um
sentimento de frustração, sendo o centro verdadeiro da relação mãe e o filho.
Para Lacan, a frustração se trata como imaginária de um objeto real; o seio
materno, a mãe simbólica, é o agente desta frustração. Esta ausência vai frustrar
o bebê do objeto real, o seio materno (LACAN, 1956-1957).
O rompimento da mãe com a criança na concepção lacaniana, além de
gerar uma frustração, o autor também menciona a castração, que não se define
46
somente pela “ameaça provocadora da angústia” do menino, nem pela
constatação de uma falta na origem da “inveja do pênis” na menina; ela se define,
fundamentalmente, pela “separação entre a mãe e a criança”.
Segundo Lacan, a castração é o corte produzido por um ato que cinde e
dissocia o vínculo imaginário e narcísica entre a mãe e o filho. A mãe, na
qualidade de mulher, coloca seu filho no lugar imaginário, e o filho, por sua vez,
identifica-se com esse lugar para preencher o desejo materno. O desejo da mãe,
tal como o de toda mulher, é ter o falo. Assim, a criança se identifica como sendo,
ela mesma, esse falo, mesmo falo que a mãe deseja desde que entrou no Édipo.
Por isso a criança se aloja na parte faltosa do desejo insatisfeito do Outro
materno. Assim se estabelece uma relação imaginária consolidada entre uma mãe
que acredita ter o falo e o filho que acredita sê-lo. O ato castrador incide, portanto,
não exclusivamente sobre a criança, como poderíamos enunciar com Freud, mas
sobre o vínculo mãe-filho (LACAN, 1956- 1957).
Lacan menciona que para a mãe, a criança, longe de ser apenas criança, é
também o falo. Ao tomar este valor de falo, ela se identifica com o significado do
desejo materno. O autor relata que resta saber de que modo a criança vai se
instalar na relação da mãe com a sua falta-a-ter do falo. Como criança vai se
engajar, se introduzir e se substituir ao apetite materno pelo falo faltoso (LACAN,
1956- 1957).
O “falo” da mãe é completado com o nascimento do filho. A mãe deseja ter
um filho (lhe dá um nome), engravida. Reconhece que seu filho é um ser humano
e este chora porque está com fome e lhe dá o “Objeto seio” para a satisfação do
bebê no prazer da oralidade (leite/alimento e a catexia da libido oral) passando o
bebê da natureza (instinto-animal) para a cultura (pulsão-homem).
Segundo Lacan (1974), quando uma mãe rejeita o seu filho ao nascer, a
criança não encontrará no olhar de sua mãe, um conforto, uma segurança, e sim
um olhar vazio, distante.O sujeito se constitui quando há um investimento
pulsional/libidinal, um desejo psíquico em torno do seu nascimento.Quando a mãe
não responde mais, ou só responde ao seu critério, ela torna-se real, transforma-
47
se numa potência, uma potência real, fora do jogo simbólico. Então o objeto real
perde a sua materialidade, e a resposta da mãe torna-se um signo de amor.
Se por um lado o “estágio do espelho” aponta a constituição do eu, a
foraclusão do significante do nome-do-pai, dará conta da questão da psicose,
segundo Lacan, esse significante não é transmitido ao sujeito nem por homem que
se declara pai, nem pela sociedade política ou religiosa, mas pelo desejo da mãe,
enquanto mulher. Ela dá a resposta à interrogação do filho ou filha diante da
imagem materna ( PHILIPPE JULIEN, 1967).
O psicanalista inglês escreveu em 1967 um artigo chamado “ Mirror-Role
da Mãe a família no desenvolvimento da criança”. Neste artigo ele cita a influencia
que sofreu do texto de Jacques Lacan, (1949), estabelecendo, entretanto, que sua
maneira de perceber o papel especular do rosto da mãe é diferente daquela
descrita pelo autor francês. Winnicott referiu-se a uma relação de mutualidade
entre o bebê e a mãe, a mãe-ambiente que incluiu além da mãe-objeto, o pai e a
família.O autor referiu-se a um “espelho vivo” e, na linha da “análise winnicottiana
como metáfora de cuidados maternos” (WINNICOTT, 1967, citado por J.
OUTEIRAL, 1998).
O psicanalista inglês D. W. Winnicott (1975) menciona que a mãe com suas
percepções e reações expressivas tem a função de recepção e comunicação dos
estados emocionais primordiais da existência, constitui-se num instrumento afetivo
para a elaboração e transformação das vivências do bebê. O autor no texto sobre
a relação mãe e filho, menciona que se valendo do amor da mãe e de sua
capacidade empática, o bebê organiza as suas pulsões libidinais e agressivas,
inaugura o simbólico e se constitui como sujeito psíquico. Eis a função primordial
da maternagem: apoiado no ego da mãe, o bebê satisfaz as suas necessidades,
contém a sua angústia e internaliza padrões de comportamento, prosseguindo o
desenvolvimento de sua personalidade.
48
No texto de Donald Winnicott em 1975, o autor ao tratar da maternagem ele
menciona que:
O que o bebê vê ao olhar para o rosto da mãe?Sugiro que,
normalmente, o que o bebê vê é a si próprio. Indago se isso que
é naturalmente tão bem feito pelas mães ao cuidar de seus bebês
deve ser aceito. Vou direto ao ponto com o caso do bebê sobre o
qual é refletido o humor da mãe, ou pior, a rigidez de suas
defesas. Em um tal caso o que é visto pelo bebê? A percepção
ocupa o lugar daquilo que deve ser o princípio de uma importante
troca com o mundo processo de mão-dupla em que o auto-
enriquecimento alterna pela descoberto de um significado para o
mundo ao ver as coisas ( p. 154 ).
Por outra via, Dolto & Nasio em 1991, quando falam da relação mãe e filho,
mencionam que, as primeiras relações objetais têm importância crucial para a
estrutura social, pois a capacidade para o estabelecimento de relações
interpessoais tem origem na relação mãe–filho. O investimento libidinal,
dispensado pela função materna, levará a criança a constituir uma identidade
subjetiva que conterá as marcas das relações estabelecidas com o mundo
externo. A história do sujeito refletirá os encontros e desencontros,
desencadeamentos pulsionais – vida e morte, amor e ódio – e as ligações e
desligamentos que ele vivenciou na relação com o outro. Sendo essa relação
precursora tão fundamental para a constituição do psiquismo.
Lacan (1960) menciona que o desejo é inconsciente, não pode ser
articulado pelo sujeito, indizível, e que só pode ser significante, um significado que
fará com que ele seja a sua própria interpretação.(LACAN citado por LUCIANO
ELIA, 2004).
Neusa Santos, em seus estudos lacanianos, menciona que Lacan realizou
um estudo sobre a psicose e neurose. Essas duas configurações distinguem-se,
se singularizam, e como o sujeito lida com o Outro e seu objeto.
49
Na psicose o sujeito quando se depara com o Outro, este, não deixa
nenhum sítio onde possa alojar-se, nenhuma borda. Sem qualquer espaço,
intervalo entre os significantes onde vira hospedar-se o sujeito, esse Outro faz do
psicótico um errante, um estrangeiro. Esse Outro em seu imenso desprezo e
abandono reduz o psicótico a um objeto decaído, sem contorno, sem moldura
objeto identificado, resto lançado à toa (1999 p. 63).
Segundo Lacan, o psicótico fica à mercê da angústia face ao enigma do
desejo do Outro, já que lhe falta o significante que permite significação, ponto de
basta, condição para constituição de um saber sobre o desejo do Outro. Trata-se
de uma angústia invasiva, acompanhada do sentimento de não ser mais que um
corpo, naquilo que o corpo tem de real. Essa angústia, muitas vezes, só pode ser
diminuída ao preço do delírio.
Os quadros psicóticos são caracterizados por visões fúnebres, por
depressão, a pessoa pode chorar muito, ouvir vozes etc... Diferentemente do
neurótico, que, por meio da barra do recalque, está protegido da voz do Outro, o
psicótico ouve a voz imperativa do Outro e a toma ao pé da letra. Trata-se de uma
voz real, inapreensível pelo significante, vem na forma de cadeia quebrada, como
as frases interrompidas de Schreber (LACAN, J, 1992 [1955-1956]).
Com o que foi explanado acima, podemos fazer a seguinte reflexão: O
desejo como mencionado é inconsciente, uma mãe com quadros anteriores de
depressão, engravida, e no decorrer de sua gestação, esta mulher deseja muito o
nascimento deste sujeito, promovendo um excesso de investimento inconsciente
libidinal; Quando este sujeito nasce, está mãe deposita muitas expectativas,
ansiedades, medos, levando-a interpretar que não poderá suprir toda
necessidade que acredita que o objeto amado cobrará; Tendo está mãe quadros
anteriores depressivos, este momento de incertezas, ansiedades após este
nascimento, pode propiciar que venha a desenvolver um quadro de depressão
pós - parto, por subentender não poder suprir as expectativas desejadas pelo
sujeito, levando-a ao temor de perdê-lo, o medo da falha, o sentimento de
onipotência diante deste sujeito e o desejo inconsciente da morte deste objeto
amado.
50
CAPÍTULO VII
A TERAPIA DE FAMÍLIA COMO AUXÍLIO TERAPÊUTICO NA
DEPRESSÃO PÓS - PARTO
Esta prática terapêutica nascida oficialmente nos anos 50, faz parte de um
movimento contemporâneo de emergência de uma multiplicidade de modalidades
de tratamento na área de saúde mental.
. Essa depressão é um quadro clínico severo e agudo, que requer
acompanhamento psicológico e psiquiátrico, pois devido a gravidade dos
sintomas, há de considerar o uso de medicação. Aparecem sintomas como
irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças
psicossomáticas, tristeza profunda, desinteresse pelas atividades do dia-a-dia,
sensação de incapacidade de cuidar do recém-nascido e desinteresse por ele,
chegando ao extremo de pensamentos suicidas e homicídas em relação ao bebê,
neste momento extremo, em que a mulher encontra-se, é chamado de psicose
puerperal. (SOIFER, 1980).
A depressão puerperal está integrada no quadro de psicose, conceituada
como psicose puerperal. A mulher encontra-se em um quadro depressivo, após o
perí-natal; Este quadro, neste momento de maternagem, apresenta-se em um
grau muito elevado, tornando-se patológico. A psicose puerperal é um quadro
delirante, freqüentemente alucinatório, com a perca da realidade, sendo um
quadro grave e agudo.Para a mulher em surto o bebê não existe. Ele passa a ser
um espaço vazio preenchido por elementos do psiquismo da mãe, cedidos do real
(SOIFER, 1980).
Esta mulher encontra-se em um momento de muitas expectativas e medos,
acerca do nascimento do seu filho.Tendo está mãe quadros anteriores
51
depressivos, este momento de incertezas, ansiedades após este nascimento,
pode propiciar que venha a desenvolver um quadro de depressão pós - parto, por
subentender não poder suprir as expectativas desejadas pelo sujeito, levando-a ao
temor de perdê-lo, o medo da falha, o sentimento de onipotência diante deste
sujeito e o desejo inconsciente da morte deste objeto amado.
O tratamento na depressão pós-parto pode ser feito por medicamentos
farmacológicos ou por Terapias.
Existem no mercado vários tipos de antidepressivos, sendo necessária uma
avaliação clínica, para então decidir sobre o medicamento mais adequado para o
paciente.
A Terapia de Família é uma alternativa terapêutica, á qual vem mostrando
um resultado bem significativo.
A família tem papel preponderante na etiologia de doenças mentais, de tal
modo que a estrutura familiar adequada tende a facilitar a adaptação psicológica,
o desenvolvimento da auto-estima, a resolução de conflitos e, a manutenção do
estado de saúde de seus membros. Ao contrário, falta de apoio, cuidados,
condutas acolhedoras e ausência de uma estrutura familiar adequada aumenta a
vulnerabilidade a doenças.
A Terapia Familiar Sistêmica surge como um instrumento eficaz para ajudar
as famílias a encontrar as causas de seus problemas e a solucioná-los
conscientemente. É importante lembrar que as famílias não conseguem sair
sozinhas da depressão. Existe gente feliz em nos lançar uma corda, dar-nos um
empurrãozinho necessário, erguer-nos e levar-nos a um lugar melhor. O que não
podemos é permanecer num ciclo vicioso de dor e repetir como Sísifo, ou seja,
continuar rolando a “pedra” eternamente sem nenhum objetivo.(DESIDERIO,
1983).
A Terapia proporciona bases para que a família da puerpera consiga obter
um entendimento acerca do problema onde todos acabam vivenciando e de uma
certa forma, sendo afetados, diretamente.
52
A qualidade das fronteiras que delimitam a família e seus subsistemas é
determinado pelo padrão de interação entre seus membros, muitas vezes sendo
difusas, desestruturadas e confusas.
A depressão afeta o funcionamento global da família constituindo um problema
sério que compromete a vida familiar e profissional de quem está doente, e de
seus familiares e requer ser diagnosticada e tratada adequadamente. Na terapia
Familiar Sistêmica o desafio é trabalhar todos os membros da família, levando-os
a perceber como o sistema da depressão funciona e procurar alternativas de
comportamento para que todos os indivíduos sejam responsáveis por suas dores
e não somente um indivíduo seja o “porta-voz” do sofrimento familiar.
(DESIDÉRIO, 1983).
O indivíduo está inserido em seus sistemas e sub-sistemas dentro do
contexto da família, afetando e sendo afetado e carregando as bagagens
transgeracionais que são passadas de geração em geração. Se não forem
trabalhadas estas situações perdurarão para sempre, mas se forem trabalhadas
de modo eficaz, a chance de minimizar ou acabar com os sofrimentos das
gerações futuras é grande e também do paciente identificado. Ele por sua vez,
tem retornos (ganhos) com a situação, como já fora dito anteriormente é o porta
voz do sofrimento familiar, pois, vai ser cuidado por outro membro da família que
por sua vez terá ganhos ao cuidar do paciente identificado. (DESIDÉRIO, 1983).
O terapeuta familiar considera a intervenção da família, de significante
importância para a reabilitação desta mulher que se encontra em Depressão pós-
parto.
Na terapia é bastante valioso tentar mudar o contexto do sintoma através
de simples palavras que fornecem à família um significado diferente da
problemática em que se encontram vivenciando. Tentará reesquematizar a
organização desta família, para que a mesma possa obter bases sólidas para
fornecer a escuta, atenção que está mulher necessita.(MINUCHIN, 1982).
Como analisamos anteriormente, a depressão no pós-parto, direciona a
mãe ao afastamento de seu filho e conseqüentemente de sua família,
principalmente de seu cônjuge. A Terapia de família proporcionará uma melhor
53
compreensão sobre este estado, para família e a própria puerpera, que muitas
vezes não consegui entender o que se passa com ela mesma.
Quanto mais a família conhecer sobre depressão, mais fácil ficará a
compreensão de que o comportamento do indivíduo são sintomas de uma doença,
evitando falsas interpretações sobre a personalidade do deprimido. Essa atitude
de compreensão conciliada com firmeza auxiliam os familiares a não gerarem
reações agressivas ou raivosas diante da situação.
No texto de Soifer 1983, a autora ao tratar a estrutura de uma família , ela
menciona que :
Estrutura social básica, com entre jogo diferenciado de papéis,
integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado,
em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade,
dentro da qual se vai desenvolvendo a criatura humana,
premida pela necessidade de limitar a situação narcísica e
transformar-se em um adulto capaz, pode-se postular que a
defesa da vida é seu objeto primordial.(1983, p.25)
O Suporte familiar caracteriza-se pelo tipo de suporte proveniente da
família. Compreende processos interpessoais com elevada coesão como ações,
atitudes e comportamentos que favorecem o desenvolvimento dos membros
familiares, além de ter efeito protetor diante de adversidades. Em consonância,
cada família possui tendências ou componentes afetivos que vão acompanhar os
seus membros ao longo da vida, influenciando a personalidade individual. Nesse
sentido, a relação entre os membros familiares favorece processos psicológicos,
cognitivos, afetivos, motivacionais e sociais. Em acréscimo, o suporte familiar
reforça o sistema de defesa do corpo diminuindo a vulnerabilidade a doenças.
Entretanto, um ambiente familiar hostil o qual não emprega adequadamente seus
recursos de apoio tem sido associado a transtornos emocionais, ou seja,
influenciam na etiologia dos estados depressivos (SILVA & DESSEN, 2001).
54
A terapia ao longo de suas sessões, tentará também abordar com esta mãe
os cuidados futuros sobre o emocional deste recém-nato, pois respaldado em uma
visão psicanalista acredita-se que quando uma mãe rejeita o seu filho ao nascer, a
criança não encontrará no olhar de sua mãe, um conforto, uma segurança, e sim
um olhar vazio, distante.O sujeito se constitui quando há um investimento
pulsional/libidinal, um desejo psíquico em torno do seu nascimento.Quando a mãe
não responde mais, ou só responde ao seu critério, ela torna-se real, transforma-
se numa potência, uma potência real, fora do jogo simbólico. Então o objeto real
perde a sua materialidade, e a resposta da mãe torna-se um signo de amor.
(LACAN, 1974).
55
CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho tivemos como objetivo articular a teoria
psicanalítica com a questão da depressão no pós-parto e um possível tratamento
através da terapia em família, almejando encontrar pontos que viabilizem uma
conexão possível entre a teoria psicanalítica, a psiquiatria com a depressão no
pós - parto. Para a realização deste trabalho, se fez necessário retomar os
objetivos do projeto, que serviram de base à discussão sobre a visão da
psicanálise e a luz dos seus principais teóricos, compreender os fatores que
envolvem a eclosão no puerpério, de um quadro depressivo, definido pela
literatura médica como depressão pós-parto. Assim, foi importante recorrermos à
compreensão psiquiátrica da depressão como doença e quais fatores biológicos
incidem sobre esta.
Deve-se ressaltar neste trabalho a importância das contribuições obtidas
através das leituras de autores ligados a corrente teórica psicanalítica,
principalmente Freud que, como seus estudos sobre o luto e a melancolia abriu
uma nova perspectiva de estudo sobre este tema, assim como a compreensão e
tratamento da depressão no pós-parto. Todavia, a leitura dos demais autores,
como Melanie Klein e Jacques Lacan, apesar das divergências teóricas, foram de
grande valia para a realização desta monografia.
O tratamento através da terapia em família foi de grande complementação a
este trabalho, nos direcionando a entender que a família juntamente com o
terapeuta será um grande facilitador na reabilitação desta puerpera.
Como vimos ao longo da revisão de literatura, a depressão hoje é um
transtorno, que acomete milhares de pessoas, levando-as ao adoecimento
emocional e físico, em alguns casos, leva inclusive, à morte. Nas mulheres, elas
são acometidas por diversos sintomas, como tristeza, letargia, um grau elevado de
irritabilidade, desanimo e até mesmo a falta de vontade de viver. Muitos desses
sintomas em algumas mulheres são agravados em seu período de pós-parto,
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devido a um quadro de maior sensibilidade e períodos de grandes transformações,
tanto hormonais, quanto psicológicas.
Na maternidade e durante a gestação, as mulheres ficam mais propensas
ao adoecimento emocional, como a depressão pós - parto. Quando este quadro
não consegue ser revertido, a mulher acaba desenvolvendo um quadro de psicose
puerperal, onde os sintomas agravam-se e a mulher tende a iniciar uma rejeição a
aquela criança recém-nata, sentindo-se muitas das vezes aterrorizada por ele,
abre um surto psicótico, através de um quadro delirante de perseguição, como se
alguém fosse roubar o seu bebê e muitas das vezes com desejos homicidas.
Nestes momentos, a intervenção e o atendimento psicológico serão de grande
valia, assim como, no agravamento do caso, o acompanhamento psiquiátrico se
faz necessário.
Para que este trabalho monográfico conseguisse atingir todos os objetivos
propostos, foi necessário recorrer a diversas fontes, pois ao longo deste percurso
encontrei dificuldade em achar uma literatura específica, de acordo com o
referencial teórico escolhido, pois, ao mesmo tempo em que deparar com um tema
complexo provoca angustia, serviu também de incentivo para que pudesse melhor
compreendê-lo e quem sabe futuramente, trabalhar com gestantes que
apresentam este quadro clínico.
Por último, ao longo e ao término desta monografia, percebemos que esta
pesquisa possa vir a dar uma expressiva contribuição teórica para o estudo da
depressão pós-parto, para aqueles que pretendem investigar este tema tão rico e
ainda pouco explorado, quer seja por psicólogos, psicanalistas ou mesmo
psiquiatras.
Através desta monografia pretendemos dar continuidade ao estudo deste
assunto trabalhado tão prazerosamente nesta monografia, levando à frente de por
meio de estudos uma de pesquisas ou uma pós-graduação, que será fundamental
para o meu enriquecimento, quanto futura psicóloga.
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