LICIUS CASTRO LESSA DE MORAIS
ESTUDO PARA O CULTIVO, EM GAIOLAS FLUTUANTES, DE CAMARÃO MARINHO Litopenaeus vannamei Boone,
1931 (CRUSTACEA, DECAPODA, PENAEIDAE), EM GUARAPUÁ, CAIRU-BA
ORIENTADOR: PROF. MIGUEL DA COSTA ACCIOLY
Salvador 2002
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA LICIUS CASTRO LESSA DE MORAIS
ESTUDO PARA O CULTIVO, EM GAIOLAS FLUTUANTES, DE CAMARÃO MARINHO Litopenaeus vannamei Boone,
1931 (CRUSTACEA, DECAPODA, PENAEIDAE), EM GUARAPUÁ, CAIRU-BA
Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel, modalidade Organismos Aquáticos –Zoologia
ORIENTADOR: MIGUEL DA COSTA ACCIOLY
Salvador 2002
Projeto: Gestão de Recursos Ambientais do Município de Cairu, Bahia
Subprojeto: Estudo para o cultivo, em gaiolas flutuantes, de
camarão marinho Litopenaeus vannamei Boone, 1931 (Crustacea, Decapoda, Penaeidae), em
Guarapuá, Cairu-Ba Órgão Financiador: Fundo Nacional do Meio Ambiente, do
Ministério do Meio Ambiente Órgão Executor: Fundação Ondazul Órgão Coordenador: Universidade Federal da Bahia Parceiros: Bahia Pesca; Centro de Recursos Ambientais (CRA);
Associação dos Moradores e Amigos de Guarapuá (AMAGA)
Morais, Lícius Castro Lessa. Estudo para o cultivo, em gaiolas flutuantes, decamarão marinho Litopenaeus vannamei Boone,1931 (Crustacea, Decapoda, Penaeidae), emGuarapuá, Cairu-Ba. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas, Organismos Aquáticos –Zoologia), Instituto de Biologia da UniversidadeFederal da Bahia. Salvador, 2002. 76 p. il.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 3
BANCA EXAMINADORA
Professor Miguel da Costa Accioly Instituto de Biologia - UFBA
Dra. Professora Angélica de Araújo Corrêa Instituto de Biologia - UFBA
Biólogo Gitonilson Tosta Bahia Pesca
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 4
Aos meus pais, razão de minha vida.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 5
“Era uma vez um grupo de jovens que se encontrou numa manhã colorida. Vinham de várias partes, mas ao mesmo tempo eram tão iguais!
Para eles, a vida se mostrava extraordinária, colorida, estonteante, era gostoso brincar de viver.
Os sonhos surgiam com facilidade, claros, brilhantes, e eles se divertiam. E o tempo passou...
Os sonhos já não vinham com tanta facilidade como antes. A vida se mostrava pálida, porém forte, pois eles eram jovens.
E o tempo passou ainda mais... Agora eles são adultos.
Alguns sonhos se realizaram e outros se perderam no tempo. Eles sabem que não podem mudar o mundo, mas que podem dar um
contribuição importante a ele. Aqueles jovens assustados agora são seres maravilhados de brilho... e a vida
caminha lenta, sábia e em paz.”
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 6
AGRADECIMENTOS
A professora Angélica, que me iniciou no cultivo de camarões
marinhos;
Ao professor Miguel, que me ajudou a gostar ainda mais do assunto;
À comunidade de Guarapuá, pela confiança e também pela
desconfiança, que me incentivou a todo o instante a acreditar na
concretização do projeto;
À Fundação Ondazul, pelo apoio irrestrito e sempre presente;
A Milinha, pela inspiração;
Ao pessoal do laboratório, principalmente a Sérgio, que me deu várias
aulas de computação;
A todos os professores, que entendiam minhas faltas para viagens ao
campo;
Aos amigos, importantes na minha formação acadêmica;
Aos familiares, pela vibração a cada conquista!
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 7
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS 06
LISTA DE FIGURAS 09
LISTA DE TABELAS 11
LISTA DE ANEXOS 12
RESUMO 13
ABSTRACT 14
1. INTRODUÇÃO 15
1.1 EXTENSÃO E AQUICULTURA 16
1.2 CARCINOCULTURA 17
1.3 OBJETIVO 21
2. MATERIAL E MÉTODOS 22
2.1 ÁREA DO ESTUDO 22
2.2 PROCEDIMENTO 23
2.3 ESTRUTURAS DE CULTIVO 25
2.4 NORMALIZAÇÃO DO TEXTO 26
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 27
3.1 LOCALIZAÇÃO DO CULTIVO 27
3.1.1 DISTÂNCIA ENTRE A COMUNIDADE
E O CULTIVO 29
3.1.2 SUBSTRATO 31
3.1.3 PROFUNDIDADE 33
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 8
3.1.4 SALINIDADE 35
3.1.5 VELOCIDADE DE CORRENTE 38
3.2 CONSTRUÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS
ESTRUTURAS DE CULTIVO 42
3.2.1 FIXAÇÃO 42
3.2.2 PROAS 45
3.2.3 FLUTUANTE 48
3.2.4 GAIOLA 53
3.2.5 CASA FLUTUANTE 56
3.3 MANEJO 57
3.3.1 POVOAMENTO 57
3.3.2 ARRAÇOAMENTO 60
3.3.3 MANUTENÇÃO 67
3.4 DESPESCA 71
3.5 LICENCIAMENTO 73
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 76
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Imagem de satélite do Arquipélago de Tinharé,
mostrando o Rio Guarapuá e baía de Guarapuá (Fonte: GEOMAPA-BAHIA PESCA, 2001) 22
FIGURA 2 Representação das estruturas de cultivo no Rio Taengo, na localidade do Mangue Redondo. (a) Visão geral do rio com os pontos de coleta de dados; (b) Visão mais aproximada da representação do cultivo 23
FIGURA 3 Foto mostrando o trem de gaiolas 26 FIGURA 4 Construção da casa flutuante 30 FIGURA 5 Mangue Redondo com coroa cercando o
cultivo 30 FIGURA 6 Comparação de amplitude de maré entre
Salvador e Guarapuá nos dias 20 e 21/01/01 34 FIGURA 7 Representação esquemática da variação de
salinidade ao longo do Rio Taengo e Canal de Taperoá na baixamar 36
FIGURA 8 Comparação da maré de Guarapuá com as salinidades na superfície e no fundo no Mangue Redondo nos dias 20 e 21/01/01 37
FIGURA 9 Comparação da maré de Guarapuá com a velocidade de corrente no Mangue Redondo entre os dias 20 e 21/01/01 41
FIGURA 10 Representação esquemática da mistura de água mais salgada com água menos salgada em quatro momentos de maré no Mangue Redondo. O azul claro representa a água menos salgada e o azul escuro, a água mais salgada 41
FIGURA 11 Estacas de fixação de cultivo usadas em Guarapuá 43
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 10
FIGURA 12 Esquema do processo de enterramento das estacas com uso de motobomba. (a) setas
mostram o sentido da água saindo da mangueira e areia saindo do tubo; (b) colocação da estaca no tubo enterrado no substrato; retirada do tubo-guia; (d) estaca enterrada 43
FIGURA 13 Planta baixa da amarração das estruturas em pé-de-galinha 44 FIGURA 14 Esquema da vista lateral da amarração das
estruturas em pé-de-galinha 44 FIGURA 15 Encastoamento de bombonas 45 FIGURA 16 Proa na extremidade de um trem de gaiolas,
mostrando alguns detalhes construtivos 46 FIGURA 17 Reforçando os tubos dobrados com fibra
de vidro e resina de poliéster 47 FIGURA 18 Tela sendo costurada na proa 48 FIGURA 19 Montagem de um flutuante. (a) Tubos
de PVC; (b) Tubos com bambus; (c) Tubos, bambus e vergalhões 49
FIGURA 20 Flutuante e suas estruturas 50 FIGURA 21 Detalhe da alça e freio na montagem das gaiolas 50 FIGURA 22 Planta baixa do cultivo projetada para
400 gaiolas 51 FIGURA 23 Defumação do bambu 52 FIGURA 24 Esquema mostrando a tampa semi-soldada 54 FIGURA 25 Camarões alimentando-se na bandeja 61 FIGURA 26 Encrustrações em uma estrutura submersa 68 FIGURA 27 Fouling na parede de uma gaiola 70 FIGURA 28 Aspecto da despesca de uma gaiola em
Barra dos Carvalhos 72
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 11
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Avaliação dos pontos ao longo do Rio Taengo
de acordo com critérios específicos 28 TABELA 2 Relação entre o tipo de substrato e os
respectivos tipos de estacas com os métodos recomendados de instalação 32
TABELA 3 Salinidade no Mangue Redondo em dias diferentes de coleta 38
TABELA 4 Órgãos com suas informações e documentos necessários para o licenciamento do cultivo em gaiolas para Guarapuá 74
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 12
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 Quantidade de material utilizada para cada
estrutura de instalação do cultivo ANEXO 2 Planta da casa flutuante ANEXO 3 PARECER DEPAC NO 13/01 ANEXO 4 Formulário de Registro de Aquicultor
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 13
RESUMO
A carcinicultura é o segmento mais bem sucedido da aquacultura, tendo se
tornado uma atividade economicamente viável no Brasil só a partir da década
de 80. O cultivo de camarão marinho em gaiolas flutuantes teve seus
primeiros resultados positivos no final da década de 80. Essa modalidade de
cultivo é uma alternativa de geração de renda para comunidades de
pescadores, onde a sobrepesca provocou uma redução excessiva no estoque
pesqueiro. O presente trabalho visa apresentar e discutir as bases teóricas e
procedimentos práticos para a utilização da técnica de cultivo de camarões
marinhos em gaiolas flutuantes, aplicada para a Vila de Guarapuá, dentro do
Projeto Gestão de Recursos ambientais do Município de Cairu. O cultivo é
realizado utilizando gaiolas de malha de poliéster. Elas são montadas dentro
de estruturas flutuantes e dispostas em série formando um trem de gaiolas.
Cada trem é fixado no leito do corpo d’água através de estacas de concreto.
As gaiolas são povoadas com a espécie Litopenaeus vannamei, com peso
individual entre 0,5 e 1,0g, a uma densidade de 200 camarões/m2. O
arraçoamento é feito através de bandejas em uma frequência de três vezes
ao dia. De acordo com a experiência em cultivos anteriores em gaiolas de
engorda, é prevista uma duração de cultivo de cerca de 70 a 80 dias, com
uma sobrevivência entre 60 e 80%. Esse tipo de cultivo mostra-se apropriado
para a condição sócio-econômica e cultural daquela comunidade, já que
preserva os costumes e o estilo de vida dos pescadores tradicionais. Além
disso, é uma atividade não agressiva ao ambiente, ao mesmo tempo que
favorece a recuperação do estoque natural do pescado. No entanto, essa
técnica ainda pode ser melhorada, no intuito de aumentar sua produtividade.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 14
ABSTRACT
Carciniculture is the most well succeed segment in aquaculture, becoming a
activity economically feasible just from the 80 decade. This modality of
culture is an alternative to income production to fisherman communities,
where the superexplotation caused a excessive reduction to the fish stock.
The present work aims to evaluate the technique of floating cage culture,
adapted to the Guarapuá community, county of Cairu, Bahia. The culture is
accomplished using polyester net made cages. Cages are prepared inside
floating structures forming a cage train. Each train is moored in the bottom
of the river by means of concrete posts. Cages are settled with the specie
Litopenaeus vannamei, with individual weight between 0,5 and 1,0g, and a
density of 200 shrimps/m2. Feeding is accomplished using trays, three times
a day. According to previous experiences, the cultures are kept in cages
from 70 to 80 days, with a mortality between 20 and 40%. This kind of
culture shows itself suitable to the social-economic and cultural condition of
that community, once it preserves the culture and style of life of traditional
fisherman. Besides, it is an environmental friendly activity, at the same time
that helps to recover to natural fish stocks. Nevertheless, this technique is
still to be improved in order to increase its productivity.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 15
1.INTRODUÇÃO
Diferentemente da agricultura, que tem sido o modo mais importante de
obter alimento na terra por vários séculos, a aquacultura até recentemente
contribuiu pouco, em termos reais, para a produção de alimentos. Ao invés de
melhorar as técnicas de cultivo, o desenvolvimento de produção de pescado
se deu em termos de aumento do poder de matança e aumento na capacidade
de transporte (BEVERIDGE, 1996). A aquacultura é uma atividade de
indiscutível importância para garantir o fornecimento de proteínas
necessárias à continuidade da alimentação humana. Ela gera emprego e renda
nas pequenas comunidades, trazendo novas oportunidades e auxiliando a
manter o homem no campo e nas comunidades litorâneas de origem
(BOLETIM DO AQUACULTURA EM DIA, 2001). A aquacultura é a atividade
agropecuária de maior crescimento desde os anos 80, e a maior parte desse
crescimento se deve ao cultivo de peixes em gaiolas, principalmente às
espécies marinhas como o salmão (BEVERIGE, 1996). Segundo NUNES
(2000), é o segmento atualmente responsável pelo aumento da oferta mundial
do pescado, sendo este, a terceira fonte de proteína de origem animal.
A aquicultura já deixou de ser uma atividade restrita à empreendimentos
comerciais de grande porte. Ela já é adotada por muitos países como uma
alternativa alimentar e de renda a nível também de médio e pequeno porte.
Além de questões sociais, a aquacultura visa proteção aos recursos naturais
devido à pesca descontrolada (BOLETIM DO AQUACULTURA EM DIA,
2001).
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 16
Provavelmente, as primeiras gaiolas foram utilizadas por pescadores como
estruturas de armazenamento do pescado vivo até que o produto pudesse ser
comercializado (BEVERIDGE, 1996). Ainda segundo esse autor, as primeiras
gaiolas verdadeiramente destinadas à produção foram desenvolvidas no
sudoeste asiático no final do século passado e eram construídas de madeira
ou bambu, sendo que os peixes eram alimentados com restos de comida. O
cultivo em gaiolas foi facilitado pelo advento dos materiais sintéticos para a
sua construção. Gaiolas modernas, com malhas feitas de polímeros sintéticos
são difíceis de terem sua origem identificada, mas o Japão tem sido
importante fonte de inspiração. Os Primeiros experimentos com cultivo em
gaiolas foram com peixes em 1954, sendo que em 1958 começou o cultivo
comercial de rabo-amarelo, Seriola quinqueradiata, nos EUA (BEVERIDGE,
1996). O autor ainda cita a Noruega, onde gaiolas foram usadas para cultivo
do Salmão Atlântico, Salmo salar, no começo da década de 60. As pesquisas
utilizando gaiolas tem sido limitadas porque o cultivo em viveiros ainda é
economicamente mais viável e, portanto, recebe mais atenção para a pesquisa.
Entretanto, a diminuição dos estoques naturais junto com o empobrecimento
de fazendas de peixe geraram um maior interesse pelas gaiolas (BEVERIDGE,
1996).
1.1 EXTENSÃO E AQUICULTURA
A extensão rural e extensão pesqueira são serviços prestados por órgãos
governamentais e organizações não governamentais, consistindo em
assessoramento aos agricultores e pescadores, respectivamente, nas áreas
de tecnologia, produção, comercialização, administração, associativismo, ação
comunitária e educação alimentar, sanitária e ecológica. A extensão em
aquicultura é realizada por profissionais da extensão rural ou da extensão
pesqueira. Os órgãos de extensão devem atuar em conjunto com a pesquisa
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 17
científica, principalmente com as universidades. Essa parceria propicia a
formação de profissionais com maior contato com a realidade e aproxima os
pesquisadores dos problemas enfrentados pelos produtores (DA SILVA,
2001).
Segundo DA SILVA (2001), os serviços de extensão rural e extensão
pesqueira são fundamentais para o desenvolvimento da aquicultura, visto que
no Brasil, esta vem sendo praticada principalmente por pequenos
produtores/pescadores. É necessário que o Estado preste esses serviços, a
exemplo da China e dos Estados Unidos. Estes serviços são imprescindíveis
para o planejamento e execução de projetos que promovam o desenvolvimento
sustentável. Portanto, os extensionistas devem estar capacitados para isso.
Eles devem atuar respeitando a condição sócio-econômica e cultural do
produtor/pescador utilizando os recursos disponíveis e estabelecendo troca
de informações para que a tecnologia a ser empregada esteja adequada às
realidades e aos anseios de ambos. Como esse trabalho foi desenvolvido
através da parceria da universidade com a comunidade de pescadores, é um
trabalho de extensão em que os próprios pesquisadores também atuaram
como extensionistas.
1.2 CARCINICULTURA
A carcinicultura é o segmento mais bem sucedido economicamente da
aquacultura. Este representa sozinho US$ 6,1 bilhões, que é 12% do valor
total gerado anualmente pela indústria aquícola no mundo (FAO, 1999)
Segundo ROCHA e MAIA (1998), o cultivo de camarão marinho teve sua
origem na Ásia quando, na década de 30, cientistas japoneses iniciaram
trabalhos de larvicultura com a espécie Penaeus japonicus, e só nas décadas
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 18
de 70 e 80 essa atividade realmente se proliferou intensamente. Em meados
dos anos 80, a disponibilidade de larvas produzidas em laboratórios e rações
comerciais permitiu a intensificação, levando Taiwan a colheitas recordes,
junto com Filipinas, China e outros países asiáticos (PRIMAVERA, 1998).
Segundo essa autora, essa tendência lança dúvidas sobre a sustentabilidade
das modernas práticas de cultivo de camarões. Nos últimos 40 anos, a
expansão da atividade de carcinicultura devastou praticamente metade dos
manguezais, com o objetivo de atender a demanda dos países desenvolvidos
(COELHO JÚNIOR e NOVELLI, 2000). BEVERIDGE (1996), afirma que mais
de 50 países possuem fazendas de camarão, destacando-se o Equador,
Tailândia, China, Malásia, México, Peru e Brasil, dentre outros.
No Brasil, a maricultura do camarão começou na década de 70, mas somente
na década de 80 se tornou uma atividade economicamente viável. Em 1998,
fazendas de camarão marinho, estimada em 113 unidades, cobriam 4.320 ha e
produziam 7.000 t. Essas fazendas ocorrem predominantemente próximas a
áreas úmidas costeiras, alcançando um tamanho entre 1 e 600 ha e
empregando aproximadamente 1 trabalhador para cada 3 ou 4 ha (ROCHA e
MAIA, 1998).
COELHO JÚNIOR e NOVELLI (2000), afirmam que essa atividade causa
alterações no hidrodinamismo do ecossistema relacionado, através da
construção de barreiras e de sua retirada da cobertura vegetal. Ainda
segundo esses autores, isso afeta o equilíbrio dinâmico dos estuários,
acarretando em um maior aporte de sedimentos terrígenos e materiais
suspensos e dissolvidos que são transportados pelas correntes de marés e
pela deriva ao longo da costa. Eles alertam para o impacto desses sedimentos
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 19
finos e contaminantes de origem terrestre sobre os bancos de corais e
principalmente o desmatamento de manguezais.
A carcinicultura marinha é hoje uma das atividades agroindustriais mais
atrativas economicamente, já que nos últimos quatro anos, este setor vem
registrando uma taxa média de expansão territorial da ordem de 20 % ao ano
(ROCHA, 2000). Segundo ROCHA e MAIA (1998), o desenvolvimento da
carcinicultura no Brasil está concentrado na região Nordeste, com pequenas
iniciativas nas regiões Norte, Sul e Sudeste. O autor ainda cita os estados
produtores Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Pernambuco na ordem de
importância para o cultivo.
O Nordeste é a região brasileira em que se encontra as melhores condições
para a carcinicultura devido às altas temperaturas com variação anual em
torno de 22 a 30 oC e à relativa estabilidade climática (QUAGLIA, 1993).
Essas condições estão ainda aliadas a uma ampla extensão de terras às
margens do litoral, boa qualidade da água e disponibilidade de mão-de-obra
barata, indicando um considerável potencial para a expansão da maricultura.
A região tem experimentado fortes declínios rurais e migrações para áreas
urbanas. O desenvolvimento de atividades viáveis de maricultura para
localidades costeiras é visto por QUAGLIA (1993) como uma maneira de
parar esta tendência, contanto que não coloque sob pressão comunidades
naturais, como o faz as indústrias.
Com 1.188 km de costa, a Bahia em 1994 possuía 6 fazendas de criação de
camarão em um total de 1060 ha de viveiros construídos, sendo que 980
estavam em plena produção. Esse estado possuía 43% da área total dos
viveiros destinados à criação de camarões no Brasil. A maior parte com
sistema semi-intensivo, com rendimento de 900 kg/ha/ano e com um pouco
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 20
mais de dois ciclos de criações anuais, tendo a média de peso de 10 a 15g
(CHIM et al, 1995). Em 2001, a produtividade baiana anual por hectare
aumentou para 4,814 toneladas, em 125 unidades, totalizando 1.897 ha
(BAHIA PESCA, 2001).
Experiências de criação de camarões em gaiolas no Brasil foram iniciadas em
1985 na Barra de Guaratiba, no Estado do Rio de janeiro. Os primeiros
resultados positivos só surgiram em 1988. Esses resultados levaram à
introdução ao desenvolvimento da tecnologia comercial de camarões em
gaiolas, culminando na criação de uma estação piloto na Vila da Barra do
Serinhaém, no município de Ituberá, Bahia (CHIM et al., 1995).
A partir de 1998, na Vila de Barra dos Carvalhos, município de Nilo Peçanha –
Bahia, iniciou-se um projeto de cultivo de camarões marinhos em gaiolas
flutuantes, financiado pela Agência Internacional de Desenvolvimento
Canadense, o Programa de Convênio ‘a Maricultura Brasileira. Este projeto
continua em pleno desenvolvimento para viabilizar esta modalidade de cultivo
não convencional.
Segundo dados da FAO (1994), no início da década de 90, cerca de 69% das
espécies marinhas mais conhecidas do Planeta se encontram esgotadas ou se
recuperando desse nível de exploração. Aliado a isso, segundo o
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (1997), a região Nordeste apresenta
menor produtividade de recursos pesqueiros devido a presença da Corrente
do Brasil. Na região, observa-se ainda a presença da pesca de arrasto
motorizada, que segundo o mesmo autor, foi introduzida no começo dos anos
70 e que com os altos índices de produtividade a atividade foi intensificada,
afetando este número. Segundo os próprios pescadores da região de
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 21
Guarapuá, o estoque natural de pescado vem diminuindo ao longo dos anos.
Além disso, a simples recomendação da paralisação de atividades
extrativistas por órgãos competentes sem oferecer uma alternativa para o
sustento do pescador não é eficiente. A modalidade de cultivo de camarão
marinho em gaiolas flutuantes é uma alternativa de renda para esses
pescadores. Então, em 1999, com o Projeto de Gestão de Recursos
Ambientais do Município de Cairu, na Vila de Guarapuá, iniciou-se o esforço
para a instalação do cultivo em gaiolas de acordo com leis que visassem
especificamente a carcinicultura.
1.3 OBJETIVO
Assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar e discutir as bases
teóricas e procedimentos práticos para a utilização da técnica de cultivo de
camarões marinhos em gaiolas flutuantes, aplicada para a Vila de Guarapuá,
dentro do Projeto Gestão de Recursos ambientais do Município de Cairu.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 22
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 ÁREA DO ESTUDO
O estudo foi realizado na Região do Baixo Sul baiano, próximo a um
importante centro distribuidor de pescado, Valença. O cultivo foi instalado
no Rio Guarapuá ou Taengo, a cerca de 13,0 km da Vila de Guarapuá,
pertencente ao Arquipélago de Tinharé, Município de Cairu – Ba (figura 1). O
trecho do rio referido é chamado Ilha das Garças ou Mangue Redondo
(figuras 2a e 2b), devido à disposição de árvores de mangue da espécie
Rhizophorae mangle em forma de círculo que serve como assentamento para
as garças nativas.
Figura 1 Imagem de satélite do Arquipélago de Tinharé, mostrando o Rio
Taengo e baía de Guarapuá (Fonte: GEOMAPA-BAHIA PESCA, 2001)
Baía de Guarapuá
Rio Taengo
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 23
(a)
(b)
Figura 2 Representação das estruturas de cultivo no Rio Taengo, na
localidade do Mangue Redondo. (a) Visão geral do rio com os
pontos de coleta de dados; (b) Visão mais aproximada da
representação do cultivo.
2.2 PROCEDIMENTO
Viagens quinzenais foram realizadas para coletas de dados, reuniões com a
comunidade e confecção das estruturas de cultivo. Dados de profundidade,
salinidade, velocidade de corrente e amostras de substrato foram coletados
de quatro pontos situados ao longo do Rio Taengo para análise e escolha do
local de instalação do cultivo. Esses pontos foram denominados Mangue
Redondo, Casado, Encosta do Casado e Batateira. Após determinado o local,
Batateira
Casado
Mangue Redondo
Encosta do Casado
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 24
as estruturas de cultivo foram confeccionadas na Batateira, antes de serem
transferidas para o Mangue Redondo.
Todo o processo de escolha do local até a instalação do cultivo foi
acompanhado passo a passo e discutido com os pescadores envolvidos. O
objetivo foi desenvolver adaptações principalmente relacionadas à troca de
materiais utilizados para a confecção das estruturas, de acordo com as
condições sócio-econômicas e culturais dos moradores daquela localidade.
As atividades de manejo não foram acompanhadas devido ao fato de que
ainda não houve povoamento. Logo, a partir dessa fase as atividades foram
discutidas e recomendações foram feitas através de levantamentos teóricos
e de experiências anteriores.
Vinte famílias locais foram escolhidas para trabalhar como aquicultores. A
escolha foi feita pela própria associação de pescadores local, a AMAGA.
Essas trabalharam juntas até a instalação das gaiolas no rio, fase em que se
encontra atualmente o projeto. A partir daí, um representante de cada
família se revezará no manejo do cultivo. Uma importante ajuda no sentido de
organizar melhor a comunidade como associação foi realizada pela Bahia
Pesca. Outro parceiro não menos importante foi a Fundação Ondazul, através
do seu apoio logístico e no processo de licenciamento ambiental.
Tais adaptações foram resultados de trocas constantes de informações,
criando uma cumplicidade que ajudou muito no desenvolvimento do processo
de instalação. Para isso, foi necessário conhecer as necessidades e limitações
próprios do local e de sua comunidade, porque mais importante que o
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 25
conhecimento transferido é conhecer como este é passado e como a
comunidade o absorve.
2.3 ESTRUTURAS DE CULTIVO
O cultivo de camarões marinhos é realizado em gaiolas para piscicultura com
malha de poliéster com 5 mm de abertura (PAQUOTTE et al., 1998). Só
foram utilizadas gaiolas de engorda. As de berçário foram excluídas devido
ao fraco desempenho caracterizado principalmente pela reduzida taxa de
sobrevivência. Cada gaiola possui 2,0 x 2,5 m por 1,2 m de altura. Ela flutua
de maneira que 0,80 m ficam submersos e 0,40 m ficam emersos (ACCIOLY
et al., 2001).
A gaiola é montada dentro de uma estrutura flutuante. Esta estrutura
suporta até duas gaiolas. Segundo (ACCIOLY et al., 2001), o flutuante é
formado por 2 tubos de PVC de 100 mm com 6 m de comprimento e tampados,
sobre os quais ficam amarrados 3 varas de madeira de 2,5 m cada, com 3 m
de arame 12 encapados com PVC e 6 pedaços de vergalhão de ferro com ½”
com 1,5 m protegidos com antioxidante, verticalmente fixados nas varas de
madeira. As gaiolas são amarradas em série em uma corda mestra, formando
uma linha (ou “trem”) de 10 gaiolas (figura 3). O conjunto é ancorado em suas
extremidades com o auxílio de estacas de concreto enterradas no sedimento
(CHIM et al., 1995). As estruturas são posicionadas em uma posição que
minimize a resistência oferecida pela correnteza (PAQUOTTE et al., 1998).
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 26
Figura 3 Foto mostrando o trem de gaiolas.
2.4 NORMALIZAÇÃO DO TEXTO
A monografia foi editada de acordo com as Diretrizes para Normalização de
Dissertações Acadêmicas, segundo FERREIRA (1993). As referências
bibliográficas obedeceram às normas da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, de agosto de 2000.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 27
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
O cultivo de camarões marinhos em gaiolas flutuantes foi adaptado com o
objetivo de a comunidade alcançar uma sustentabilidade econômica, social e
ambiental, ou seja, para que quando não houver mais recursos financeiros
externos, a comunidade possa levar adiante o empreendimento. Para isso,
observou-se as condições oferecidas pelo ambiente e, de acordo com os seus
limites e ofertas, determinou-se a instalação do cultivo com as adaptações
impostas por ele.
A concretização do projeto serviu como mais um exercício de
companheirismo e senso de bem comum por parte dos moradores e visitantes
da Vila. Sendo eles próprios os executores do projeto, suas ansiedades e
necessidades comandaram o ritmo e a realização do principal objetivo do
trabalho. Tal objetivo era não o de transformar o pescador em um aquicultor,
mas fornecer uma fonte de renda alternativa, sem impedir que ele deixe de
fazer aquilo que ele sempre fez, não alterando sua condição cultural, mas
apenas econômica.
3.1 LOCALIZAÇÃO DO CULTIVO
Os parâmetros selecionados apresentam características físicas e ambientais
próprias da região da Vila de Guarapuá que favorecem ou dificultam a
instalação do cultivo. Os locais testados foram quase todos dentro do canal
de navegação porque neles as condições para a instalação pareciam as
melhores. Os parâmetros condicionantes para a decisão da escolha do local
de instalação das estruturas de cultivo apresentaram resultados
considerados bons e não tão bons para a realização do projeto (tabela 1). Com
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 28
as alternativas encontradas, na tentativa de mitigar as dificuldades, foi
possível determinar um local onde esse esforço fosse o menor possível.
Tabela 1 Avaliação dos pontos de coleta ao longo do Rio Taengo de acordo
com critérios específicos
CRITÉRIOS
Local Distância
Variação de
salinidade
Profun-
didade Substrato Abrigabilidade Velocidade
De Corrente
Batateira + - - + - - - -
Encosta do
Casado - - + - - - -
Casado - - + - - - -
Mangue
Redondo - + + - ++ -
(++) = ótimo; (+) = bom; (-) = regular; (--) = ruim
Segundo ROCHA e MAIA (1998), as temperaturas encontradas nas regiões
Norte e Nordeste do Brasil, apresentam um patamar ideal para a prática da
carcinicultura marinha, uma vez que os camarões se desenvolvem bem em
temperaturas entre 26 a 32 oC. Já segundo QUAGLIA (1993), a temperatura
da água no Canal de Taperoá nos meses chuvosos são inferiores ao ótimo para
o desenvolvimento dos camarões. Entretanto, os locais escolhidos não são
muito distantes entre si, o que se deduz que os valores de temperatura na
água não são muito diferentes a ponto deste parâmetro se tornar
condicionante para a instalação. Quanto ao oxigênio dissolvido, segundo BOYD
(2001), esta é a variável físico-química mais importante da aquicultura. O
fato das gaiolas serem um sistema aberto impede que também este
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 29
parâmetro seja condicionante, já que, em sistemas abertos, não se tem
controle sobre parâmetros que dependam da condição natural da água.
3.1.1 DISTÂNCIA ENTRE COMUNIDADE E CULTIVO
A distância do cultivo até o local onde os pescadores residem é um fator
importante a ser considerado. Esta distância não foi um dos pontos fortes
para a escolha do Mangue Redondo. No intuito de mitigar esse problema, foi
construída um casa flutuante que foi ancorada próxima às gaiolas para servir
de apoio ao cultivo (figura 4). Quanto mais perto do local de trabalho, mais
cômodo e menos oneroso torna-se o empreendimento, já que transporte
normalmente é um custo não contabilizado na vida de um pescador. O local
escolhido é chamado Ilha das Garças ou Mangue Redondo, localizado a cerca
de 13,0 km da Vila de Guarapuá. Esta distância divide-se em 2,4 km por terra
da vila até o porto, onde a partir dali, um barco percorre mais 10,6 km pelo
rio. Seguindo um mapa, em linha reta, a distância é de 8,5 km. Apesar do Rio
Taengo ou Guarapuá possuir uma largura considerável, apenas um canal
relativamente estreito é navegável, principalmente na baixamar das marés de
sizígia. Apenas a localidade de Mangue Redondo não era via de transporte de
embarcações, o que diminuiu a possibilidade de conflitos com outras
atividades, principalmente com a atividade de “carreira”, que é o transporte
de passageiros entre as vilas e cidades da região. É um local encostado ao
mangue e cercado por formações de bancos de areia chamadas “coroas” que
chegam a surgir à superfície na baixamar de sizígia (figura 5). Devido a essa
localização, o cultivo é bem abrigado de ventos e correntes fortes na
baixamar. A salinidade no Rio Taengo mostrou-se inversamente proporcional à
distância do local de cultivo até a comunidade. Quanto mais desce-se o rio,
menor é a variação de salinidade. Entretanto, o cultivo torna-se
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 30
demasiadamente longe da residência dos pescadores/aquacultores, o que
influenciou na escolha. Velocidade de corrente foi um parâmetro com
resultado similar em todos os pontos de coleta, não influenciando na escolha.
Os resultados relacionados à coleta de amostras do leito do rio também não
ajudaram a definir o local, determinando apenas qual tipo de estaca seria
mais apropriada para aquele tipo de sedimento.
Figura 4 Construção da casa flutuante
Figura 5 Mangue Redondo com coroa cercando o cultivo
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 31
3.1.2 SUBSTRATO
O substrato de um determinado local pode ser rochoso, arenoso ou lamoso,
sendo que podem existir misturas e/ou camadas alternadas desses tipos. O
tipo de substrato pode influenciar na escolha do desenho da gaiola utilizada
(BEVERIDGE, 1996) e o seu tipo de estrutura de sustentação. No ambiente
do Rio Taengo, o tipo de substrato variou muito de local para local. Alguns
lugares possuem apenas lama, outros apenas areia, e outros ainda possuem
camadas alternadas de lama, areia e rocha, dificultando um pouco o processo
de instalação das estacas. Especificamente no local escolhido, Mangue
Redondo, o leito do rio possui uma primeira e fina camada de lama, resultado
do depósito de matéria orgânica proveniente do mangue. Isso pode indicar
que a correnteza junto ao leito é fraca, permitindo essa deposição, surgindo
logo abaixo uma camada grossa de areia. Para esse tipo de substrato, as
estacas utilizadas foram de concreto armado.
As estruturas que mantêm um cultivo flutuante podem ser estacas ou poitas,
que são pesos com função de âncora. Em locais com baixa velocidade máxima
de corrente, poitas são recomendadas pelo menor esforço de instalação, já
que não precisam ser enterradas. Entretanto, em locais de velocidade de
corrente máxima alta, poitas podem ser arrastadas, trazendo prejuízos ao
cultivo. Neste caso, estacas enterradas no substrato proporcionam maior
segurança. Um leito formado principalmente por areia, permite a utilização
de estacas de madeira, devido à possibilidade de seu enterramento por meio
de marretadas. Já em um substrato onde predomine lama, é mais difícil
enterrar estacas através desse método. No entanto, a lama pode ser
escavada utilizando-se um cavador e as estacas podem ser feitas de
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 32
concreto. Na tabela 2 foram relacionados os tipos de substratos ao tipo de
estaca e ao seu método de enterramento, geralmente utilizados.
Tabela 2 Relação entre o tipo de substrato e os respectivos tipos de
estacas indicadas com os métodos recomendados de instalação. SUBSTRATO ESTACA MÉTODO
Rochoso Ferro Marretada
Cascalho Ferro Marretada
Marretada Madeira
Bomba Hidráulica
Areia
Concreto Bomba Hidráulica
Marretada
Bomba Hidráulica
Madeira
Cavador
Bomba Hidráulica
Lama
Concreto Cavador
Sob o aspecto econômico, a utilização de estacas de madeira é mais
recomendável que a utilização de estacas de concreto, já que a obtenção
daquela estrutura é mais barata. A estaca de concreto é mais difícil de ser
enterrada, já que esta não pode sofrer marretadas devido à baixa
resistência do cimento a impactos. Entretanto, sob o aspecto ambiental,
ocorre o inverso. Na região próxima ao cultivo é difícil a disponibilidade no
comércio de madeiras reflorestadas e fortes o suficiente para serem
utilizadas como estacas de fixação de cultivo. Com isso, a madeira utilizada
geralmente para outras finalidades são madeiras-de-lei ou extraídas
ilegalmente na Mata Atlântica e no manguezal. No intuito de evitar qualquer
prática nociva ao ambiente, optou-se pela utilização de estacas de concreto.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 33
3.1.3 PROFUNDIDADE
Uma das característica mais importantes dentre as escolhidas para a
implantação do cultivo é a profundidade, a qual está estreitamente
relacionada com a maré no local. Em todos os locais avaliados, as
profundidades mínimas foram favoráveis em seus resultados. Na baixamar e
na preamar de marés de sizígia, medidas de profundidade foram tomadas
utilizando um prumo de mão, com marcações em intervalos de 0,5 m e um peso
em uma das extremidades. Os resultados obtidos variaram de 1,5 a 4,6 m,
indicando que todos os pontos ofereceram um profundidade mínima
necessária para a flutuabilidade das gaiolas. No Mangue Redondo, foi feito
um acompanhamento da variação da amplitude de maré. Uma estaca foi
enterrada no leito e uma régua fixada à esta permitiu observar nos estofos
de maré as profundidades máxima e mínima, 1,5 e 4,5, respectivamente, e a
variação durante todo o período de coleta de dados de profundidade.
Comparando-se a variação de maré entre o Mangue Redondo e Salvador,
percebeu-se que a hora da baixa-mar naquele local do rio Taengo é cerca de
uma hora e vinte minutos a duas horas mais tarde que a hora vista na tábua
de maré para Salvador (figura 6).
Como o próprio nome já esclarece, as estruturas de cultivo devem estar
sempre suspensas na água, flutuando. Segundo BEVERIDGE (1996),
problemas associados com sustentação aumentam com a profundidade. Ainda
segundo esse autor, a maioria dos tipos de gaiolas devem estar localizadas a
um profundidade suficiente para maximizar a troca de água, mantendo o
fundo da gaiola com uma certa distância do substrato. Outro problema pode
ocorrer com possíveis folgas do cabo de sustentação. Eles devem ter um
comprimento suficiente para que na maior maré de sizígia do ano as gaiolas
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 34
continuem flutuando e para que na menor maré a folga não seja exagerada a
ponto dos trens de gaiolas colidirem entre si ou com o leito em uma parte
mais rasa do corpo d’água, ou na margem.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
20/01/0100:00
20/01/0104:48
20/01/0109:36
20/01/0114:24
20/01/0119:12
21/01/0100:00
(m)
maré no MangueRedondomaré em Salvador
Figura 6 Comparação de amplitude de maré entre Salvador e no Mangue Redondo
nos dias 20 e 21/01/01.
Segundo ZIMMERMANN e WINCKLER (1993), além da profundidade de 1,5
m, deve haver pelo menos 0,6 m de lâmina d’água abaixo das gaiolas de cultivo
de peixes para que ocorra a eliminação dos resíduos dos animais, para
impossibilitar o seu contato prolongado. Por outro lado, o impedimento da
troca de água através do fundo da gaiola permite que a matéria orgânica se
deposite ali, implicando em vários problemas relacionados com a qualidade da
água BEVERIDGE (1996). Segundo NUNES (2000), a ração é composta por
atrativos químicos, os quais provocam o efeito inverso quando a ração fica
depositada por muito tempo no local de cultivo. Ou seja, no local onde a ração
está depositada por um tempo maior que o recomendado, os camarões evitam
de se aproximar. Isso pode causar um estresse no animal, prejudicando o seu
crescimento. Logo, a presença dessa lâmina d’água debaixo da gaiola permite
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 35
o crescimento normal do camarão, já que assim restos orgânicos podem ser
mais facilmente levados para fora das gaiolas. Adicionalmente, foram
empregados comedouros para o fornecimento da ração, como será discutido
no item 3.3.2.
3.1.4 SALINIDADE
Segundo BEVERIDGE (1996), salinidade é a medida da quantidade de sólidos
dissolvidos presentes na água. Esta é geralmente expressa em mg/l, mas em
aquicultura é mais conveniente expressá-la em partes por mil (ppt) (ARANA,
1997). Este parâmetro foi um dos mais decisivos para a indicação do local
ideal de instalação em Guarapuá. A montante do Rio Taengo, no ancoradouro
da Vila, utilizando um refratômetro com precisão de 1 ppt, observou-se que a
salinidade foi constantemente zero, tanto na baixa-mar quanto na preamar.
Descendo o rio, percorrendo-se toda a região do Rio Taengo e Canal de
Taperoá, foi possível conhecer aproximadamente o comportamento da
salinidade em vários momentos importantes, como sizígias e quadraturas e
estações secas e chuvosas (figura 7). Assim, pode-se perceber que descendo
o rio, a salinidade vai aumentando gradativamente enquanto se aproxima do
Canal de Taperoá, que tem contato direto com o mar. Então, foi necessário
descer o rio para encontrar um ponto em que a variação de salinidade fosse
baixa sem inviabilizar o cultivo pela distância elevada.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 36
Figura 7 Representação esquemática da variação de salinidade ao longo do Rio Taengo e no Canal de Taperoá, na baixamar
Segundo BEVERIDGE (1996), a salinidade em um estuário está relacionada
com a precipitação, maré, distância do mar aberto e vazão do rio. Para esse
autor, sua relevância para a aquacultura repousa principalmente no controle
da pressão osmótica, que pode afetar grandemente o balanço iônico dos
animais aquáticos, afetando o seu crescimento e conversão alimentar.
Segundo PONCE-PALAFOX (1997), um bom crescimento do camarão peneídeo
pode ser obtido em uma salinidade entre 25 e 45 ppt. Segundo BOYD (2001),
a espécie Litopenaeus vannamei é geralmente cultivado, na América Central e
do Sul, a uma salinidade entre 15 e 25 ppt. Ainda segundo esse autor essa
salinidade é considerada ideal para essa espécie, sendo que ela pode ser
cultivada até em água doce, como há registros no Equador e Brasil. Segundo
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 37
NUNES (2001), o L. vannamei, assim como o Penaeus monodom, se adapta
muito bem e desenvolve-se em água doce com características próprias,
também conhecidas como oligohalinas. Segundo o autor, camarões cultivados
em água oligohalina são normalmente um pouco mais claros que os
despescados em água salgada, apesar de ser comum despescas de camarões
claros em água salgada. O autor ainda informa que o mercado internacional
aceita sem nenhum problema o L. vannamei cultivado em águas oligohalinas,
não havendo oposições ao sabor ou qualidade.
A variação da salinidade no Rio Taengo acompanha a variação da maré em uma
relação direta. Quando a maré baixa, a salinidade a acompanha baixando,
quando esta sobe, a salinidade também tende a subir. No entanto, coletando
dados de salinidade na superfície e junto ao leito do rio no mesmo momento,
observou-se diferenças nos resultados. Na figura 8, observa-se que nos picos
de maré, as salinidades são diferentes, mas principalmente no meio da
vazante, as salinidades da superfície e do fundo são as mesmas. Naquele
momento, a água do rio e do mar estão totalmente misturadas, ao longo da
coluna d’água.
10
12
14
16
18
20
22
24
26/01/0106:00
26/01/0109:10
26/01/0113:04
26/01/0116:00
26/01/0118:08
(ppt)
0
0,5
1
1,5
2
2,5(m)
salinidade na superfíciesalinidade no fundomaré
Figura 8 Comparação da variação da maré com as salinidades na superfície e salinidade no fundo no Mangue Redondo
entre os dias 20 e 21/01/01
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 38
Quanto menor a variação de salinidade, menos energia o camarão despende
para a sua osmorregulação, em consequência, a energia é direcionada para
resultar em crescimento (ARANA, 1997). Segundo BANCOMEXT (1999), o
camarão marinho Litopenaeus vannamei suporta salinidades que variam de 5 a
55 ppt. De acordo com QUAGLIA (1993), a amplitude média da salinidade no
Canal de Taperoá, encontrada entre dezembro de 1987 e dezembro de 1988,
foi cerca de 5 ppt. Como a média da amplitude encontrada no Mangue
Redondo foi de 10 ppt (tabela 3), e considerando que fatores que influenciam
a salinidade tenham sido os mesmos nas duas épocas, a variação foi
consideravelmente menor. Por esse aspecto, é viável o deslocamento do
cultivo para mais próximo ao canal de Taperoá. Entretanto, os pescadores
teriam uma distância muito maior para percorrer até alcançar o cultivo. Essa
distância inviabilizaria o projeto financeiramente para a Comunidade de
Guarapuá, já que as gaiolas se localizariam mais perto de outras comunidades
para as quais, o custo com transporte seria reduzido.
Tabela 3 Salinidade no Mangue Redondo em dias
diferentes de coleta. Salinidade (ppt)
Data Maré máxima minima amplitude
20/01/01 Quadratura 20 10 10
26/01/01 Sizígia 22 11 11
08/02/01 Sizígia 28 19 9
Média 23,33 13,33 10,00
3.1.5 VELOCIDADE DE CORRENTE
Segundo BEVERIDGE (1996), a velocidade de corrente auxilia na troca de
água do cultivo, o que é essencial para a oxigenação do interior das gaiolas e
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 39
para a remoção dos resíduos metabólicos. A velocidade pode ser considerada
um dos fatores mais importantes para o cultivo de camarões marinhos em
gaiolas flutuantes, pois determina e atua sobre diversos outros parâmetros,
além de agir diretamente sobre as estruturas (ALMEIDA, 2000). SILVA et
al. (2000) também afirma que velocidades aumentam a renovação de água no
interior de gaiolas mantendo um equilíbrio do pH no interior e fora delas.
Entretanto, uma velocidade excessivamente elevada pode ser prejudicial. É
recomendado que as correntes não excedam 0,6 m/s (BEVERIDGE, 1996).
Utilizando um saco plástico completamente cheio da água do local e amarrado
a um cabo graduado, calculou-se a velocidade da corrente de superfície no
Rio Taengo. Tomou-se um ponto fixo como referência e deixou-se o saco
quase que totalmente imerso, à deriva. O deslocamento medido após a
passagem do saco pelo ponto de referência, em relação ao tempo
cronometrado de um minuto, forneceu a velocidade de deslocamento do corpo
em função da corrente, calculada em m/s. Segundo ALMEIDA (2000), a
imersão quase que total do saco plástico é importante no intuito de minimizar
a ação do vento sobre o deslocamento do corpo. O valor da velocidade
mostrou-se praticamente igual em todos os pontos observados (tabela 1). Em
um local citado por ALMEIDA (2000) com cultivo de camarão já implantado,
como em Barra dos Carvalhos, município de Nilo Peçanha, a velocidade
encontrada pelo autor foi de 0,51 m/s. Logo, os resultados indicaram que
esse parâmetro não demonstrou importância para a escolha do local, mas
ainda assim estiveram com valor próximo ao observado. A velocidade de
corrente mais alta encontrada no Rio Taengo foi 0,55 m/s. Os maiores
valores foram sempre encontrados na meia-vazante de sizígia (figura 9). Isso
ocorre porque na vazante existe o somatório da força do curso normal do rio
com a força do mar em curso de vazante. Já na enchente, esta água salgada
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 40
que chega elevando o nível do rio tem sua força diminuída pelo curso deste
até um ponto em que ele tem o seu sentido invertido. A partir da baixamar
(figura 10-a), durante a enchente, a água salgada, por ser mais densa vai se
misturando aos poucos à água doce a partir do fundo do rio até sua superfície
(figura 10-b). Enquanto as águas estão misturando-se, o curso do rio segue a
seu sentido normal até o momento em que o corpo d’água possui apenas um
sentido de corrente, independente da profundidade (figura 10-b1). A partir
desse momento, o Rio Taengo sofre uma inversão no seu sentido, correndo
para a sua jusante (figura 10-d). Com isso, a sua velocidade da vazante é
maior. Um período de grande pluviosidade pode aumentar ainda mais a
diferença entre vazante e enchente, já que os efluentes do Rio Taengo
despejam em seu corpo d’água uma maior volume de água. Segundo
PAQUOTTE et al. (1998), as estruturas devem ser posicionadas de modo que
minimize a resistência oferecida pela correnteza. Essa tentativa de
minimizar os efeitos da alta velocidade de corrente foi feita através de uma
avaliação utilizando uma garrafa plástica com 2l. A garrafa foi enchida de
água do local e amarrada a um cabo com 100 m. Segurando a outra
extremidade do cabo, pôde-se ter uma idéia da direção da corrente naquele
momento. O experimento foi realizado durante as meia-marés de sizígia. Com
os dados das direções da corrente em mãos, os trens de gaiolas foram
montados na mesma direção de forma a minimizar os seus efeitos negativos
sobre o cultivo.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 41
(m) (m/s)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
20/01/01 00:00
20/01/0104:48
20/01/01 09:36
20/01/0114:24
20/01/0119:12
21/01/0100:00
00,050,10,150,20,250,30,35
Figura 9 Comparação da maré com a velocidade de corrente no Mangue Redondo entre
os dias 20 e 21/01/01
Figura 10 Representação esquemática da mistura de água mais salgada com água menos salgada em quatro momentos de maré no Mangue Redondo. O azul
claro representa a água menos salgada e o azul escuro, a água mais salgada
Entretanto, a velocidade encontrada máxima no Rio Taengo de 0,55 m/s não é
ideal para a manutenção das estruturas de cultivo, como os cabos. Quanto
maior a velocidade de corrente, maior será a força exercida sobreas
♦ - Maré ▄ - Velocidade de corrente
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 42
estruturas, diminuindo o seu tempo de vida útil. Um valor maior podem
deformá-las, devido à forte tensão aplicada aos cabos e estruturas de
suporte, além de ocasionar perdas do alimento oferecido ao camarão. Além de
dificultar todo o trabalho de instalação, manejo e manutenção, outras
consequências ruins seriam o aumento de excreções metabólicas,
provenientes de um maior esforço de locomoção, e a redução do crescimento.
A energia que provavelmente seria utilizada no seu desenvolvimento normal,
seria usada para a manutenção da sua localização dentro da gaiola
(BEVERIDGE, 1996). Entretanto, apesar da velocidade ser um pouco alta fora
das gaiolas, a acolmatação da malha pelo fouling diminui essa velocidade do
lado de dentro. Portanto seus efeitos são ainda mitigáveis, se compararmos a
velocidades em locais de cultivos como na França e na Holanda, 1,5 – 3,0 m/s
(BEVERIDGE, 1996). Todos essas consequências diminuem o lucro, já que
ocorrem gastos poucos previsíveis.
3.2 CONSTRUÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS ESTRUTURAS
3.2.1 FIXAÇÃO
Em Guarapuá, a fixação do cultivo foi realizada através de estacas de
concreto com dimensões 0,12 x 0,12 por 1,8 m de comprimento (figura 11). O
enterramento foi realizado através da utilização de uma moto-bomba de 3” à
gasolina e um tubo de 200 mm de diâmetro e 4 m de comprimento. O
processo de enterramento das estacas está representado na figura 13.
Consiste em colocar o tubo na posição vertical sobre o sedimento, e à medida
que a água é bombeada para o seu interior, esta provoca a saída do substrato
(figura 12-a). Isso, por sua vez, permite o enterramento deste, sendo que seu
interior fica vazio. Quando o tubo está suficientemente enterrado, uma
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 43
estaca é inserida no seu interior (figura 12-b), e é retirado (figura 12-c),
restando a estaca enterrada (figura 12-d). Após alguns dias em repouso, o
sedimento fixa fortemente a estaca. Elas foram enterradas inteiramente no
sedimento para evitar acidentes com embarcações muito próximas, como
acontece no momento da despesca, bem como para evitar funcionar como um
braço de alavanca que facilite a retirada acidental.
Figura 11 Estacas de fixação usadas em Guarapuá
Figura 12 Esquema do processo de enterramento das estacas com uso de motobomba. (a) setas mostram o sentido da água saindo da mangueira e areia saindo do tubo; (b) colocação da estaca no tubo enterrado no substrato; (c)
retirada do tubo-guia; (d) estaca enterrada
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 44
A essas estacas foram amarrados cabos de polipropileno trançado de 12 mm,
que formam o pé-de-galinha. Nesse tipo de amarração, três estacas servem
de fixação para cada trem de gaiolas (figura 13), oferecendo maior segurança
ao cultivo. A quantidade de corda utilizada é quatro vezes a profundidade do
local na preamar, para propiciar uma tração mais horizontal, evitando o
deslocamento da estaca, bem como o afundamento das gaiolas. Cada pé-de-
galinha é continuado por um cabo mestre (figura 13 e 14), totalizando 134 m
de cabo. No encontro do “pé-de-galinha” com o cabo mestre, uma bombona de
20 l é amarrada para manter o cabo mestre na superfície.
Figura 13 Planta baixa da amarração das estruturas em pé-de-galinha
Figura 14 Esquema da vista lateral da amarração das estruturas em pé-de- galinha
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 45
As bombonas foram encastoadas para mantê-la em flutuação horizontal,
reduzindo sua resistência à corrente e para evitar extravios. O
encastoamento é um tipo de amarração que encobre toda a bombona, como
uma espécie de rede (figura 15). O cabo utilizado foi o trançado, de
polipropileno e de 8 mm. Para encastoar cada bombona utilizou-se cerca de 10
m de cabo.
Figura 15 Encastoamento de bombonas.
3.2.2 PROAS
Nas extremidades de cada trem de gaiolas foi colocada uma estrutura de
proteção, que devido ao seu formato em “V”, é chamada de proa. Ela também
é flutuante e presa ao cabo mestre (figura 13 e 16). Sua principal função é
barrar grandes sólidos em suspensão normalmente carregados pelo corpo
d’água que porventura venha colidir com as gaiolas. Esses sólidos são
formados principalmente por grandes galhos provenientes do mangue,
cortados por tapesteiros. Esses são pescadores que utilizam uma arte de
pesca, agressiva ao meio, muito comum na região, denominada tapestão. Eles
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 46
cortam os galhos das árvores de mangue para fazer estacas para fixar suas
redes de pesca e jogam os restos na água. Além dessa função, devido a sua
forma, a proa também atua como um quebra-mar, reduzindo a pressão que o
correnteza exerce sobre as estruturas.
Figura 16 Proa na extremidade de um trem de gaiolas, mostrando alguns detalhes construtivos
A proa é formada por um tubo de PVC de 100 mm com 6 m de comprimento,
tampado nas extremidades e dobrado a quente ao meio em uma forma de “V”.
A parte dobrada do tubo é reforçada com fibra de vidro apenas para evitar
que aquele local enfraquecido venha a se romper (figura 17). Um barrote de
madeira de 3 m é preso ligando as extremidades do tubo de PVC e outro de 1
m é preso próximo à ponta do “V” (figura 16). Cada amarração entre madeira
e tubo de PVC foi feita utilizando 5 m de cabo trançado de 4 mm. É
aconselhável que o nó utilizado seja firme para que a amarração não deslize
ao longo do tubo. Três pedaços de vergalhão de ½” com 1,5 m de comprimento
são utilizados para manter uma tela plástica ao longo do tubo. Cada vergalhão
é amarrado na junção do tubo com a madeira, utilizando 3 m de cabo trançado
Cabo mestre
Freio de proa
Amarração
Vergalhão
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 47
de 4 mm para cada amarração. A tela possui 6 m de comprimento x 1,5 m de
largura e malha com 50 mm de abertura. Um lado da tela é costurado ao longo
de todo o tubo, utilizando 12 m de cabo trançado de 3 mm, e o outro lado é
costurado ao longo do vergalhão, sendo para isso utilizados 15 m do mesmo
cabo (Figura 18). A parte telada é submersa para proteger a parte também
submersa das gaiolas e é presa a um pedaço de vergalhão de ¾” com 6,0 m de
comprimento, também em forma de “V”. O vergalhão que fica submerso é
preso às extremidades dos três pedaços menores de vergalhão que também
são submersos. Um cabo é amarrado da metade de um dos pedaços de
madeira até a metade do outro pedaço para ser usado como um “freio da
proa” (Figura 16). Esse “freio” é utilizado como uma segurança contra uma
eventual folga nas amarrações do bambu ao tubo de PVC. Utilizou-se 4 m de
cabo trançado de 8 mm para cada freio de proa.
Figura 17 Reforçando os tubos dobrados com fibra de vidro e resina de poliéster
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 48
Figura 18 Tela sendo costurada na proa
3.2.3 FLUTUANTE
As gaiolas são montadas dentro de estruturas flutuantes. Cada flutuante
suporta até duas gaiolas. Ele é formado por: 2 tubos de PVC de 100 mm com 6
m de comprimento e tampados (figura 19.a); 3 barrotes de bambu de 2,5 m
cada (figura 19.b); e 6 pedaços de vergalhão de ferro com ½” com 1,5 m
protegidos com antioxidante (Figura 19.c), onde as gaiolas vão ser amarradas
(figura 20). A amarração da madeira com o tubo e com o vergalhão é utilizada
com o mesmo tipo de cabo e dimensão da amarração na proa, já que
vergalhões, tubos e madeiras têm as mesmas dimensões na proa e no
flutuante. Nas pontas de cada vergalhão de 1,5 m, são amarradas pequenas
alças feitas do cabo de 3 mm, permitindo que as gaiolas sejam mais
facilmente montadas (figura 21) . Essas alças são confeccionadas utilizando
mangueira cristal de 3/8”. Em cada tampa do tubo de PVC é amarrado um
cabo que tem sua outra extremidade amarrada na ponta da madeira mais
próxima do mesmo flutuante. Essa amarração é denominada “freio do
flutuante” e é uma segurança para uma eventual folga da amarração da
madeira no tubo de PVC (Figura 21). Para cada freio foram utilizados 3 m de
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 49
cabo trançado de 3 mm. Os flutuantes são dispostos em série formando um
“trem” de até 10 flutuantes. Cada trem é sustentado por 6 estacas
enterradas no substrato. Serão instalados 10 trens de gaiolas, resultando em
200 gaiolas de cultivo. Entretanto há espaço para a instalação de 400 gaiolas
conforme foi licenciado (item 3.5) (figura 22). Cada flutuante é preso no
cabo mestre utilizando 4 pedaços de 1 m de cabo trançado de 3 mm. Uma
ponta é amarrada em cada extremidade dos pedaços de madeira e a outra
ponta é amarrada no cabo mestre. O nó aconselhado é a “volta de fiel”,
conhecido na região como “nó de arpão”, que evita que a amarração deslize ao
longo do cabo mestre. O anexo 1 informa a quantidade de material utilizada
para cada estrutura de instalação.
(a) (b)
(c)
Figura 19 Montagem de um flutuante. (a) Tubos de PVC; (b) Tubos com
bambus; (c) Tubos, bambus e vergalhões
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 50
Figura 20 Flutuante e suas estruturas
Figura 21 Detalhe da alça e freio na montagem das gaiolas
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 51
Figura 22 Planta baixa do cultivo projetada para 400 gaiolas
Experiências anteriores mostraram que a parte do vergalhão que fica acima
da superfície da água deve ser coberta por pelo menos um pedaço de 0,25 m
de mangueira cristal de ¾”. Essa medida evita que o cabo mestre tenha
contanto direto com esse pedaço de vergalhão. Os relevos existentes na
superfície do ferro são capazes de cortar o cabo, causando um grande
prejuízo ao proprietário do cultivo.
A madeira utilizada em Guarapuá, tanto na construção das proas quanto na
construção dos flutuantes, foi o bambu. Para uma maior resistência, ele
sofreu um processo de defumação. Em um ambiente fechado, ele foi seco
através da queima de pedaços do próprio bambu junto com casca de coco
(figura 23). Com isso, ele se tornou mais seco e leve, provavelmente
dificultando o acesso ao açúcar de seu floema para xilófagos, como o Teredo
sp. e insetos. O teredo é um molusco bivalve que penetra na madeira,
utilizando-a como moradia, além de utilizá-la como alimento (RIOS, 1994).
Segundo BERNAL (1999), o processo de defumação do bambu é uma técnica
muito antiga que através da queima da madeira desejada, produz fumaça e ao
mesmo tempo um ácido pirolítico que se impregna nas paredes do bambu,
criando uma barreira natural que não permite a penetração de insetos e
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 52
pragas. Para avaliar o desempenho deste processo, pedaços de bambu
defumados foram mantidos submersos no local de cultivo durante 45 dias.
Depois desse tempo, foram retirados e a presença de vários organismos
presos ao bambu foi observada, entre eles o Teredo sp. Logo, o processo não
demonstrou uma proteção eficiente com a madeira totalmente submersa.
Entretanto, por serem leves, as estruturas flutuantes não entram em contato
com a água por muito tempo, podendo resistir mais sem a presença de
organismos prejudiciais. Segundo DA SILVA (1997a), em um cultivo de ostras
em Santa Catarina, a estrutura de cultivo tipo mesa, é confeccionada
inteiramente com bambu e tiras de borracha de câmara de ar, devido a
presença do Teredo sp.. O autor ainda afirma que o bambu é uma madeira
bastante resistente a esse ataque (6 a 12 meses) e também é o de mais fácil
reposição. Já segundo BERNAL (1999), o bambu é muito interessante do
ponto de vista de sustentabilidade, porque um bambu de 9 m está pronto para
ser cortado e usado 5 a 7 anos depois de haver sido plantada. Ainda segundo
o autor, um elemento de construção da mesma dimensão leva entre 30 a 50
anos para crescer.
Figura 23 Defumação do bambu
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 53
O bambu é uma madeira barata, com apenas 16,7% do preço de outras
madeiras, como por exemplo a massaranduba. Além do preço, uma outra
vantagem no aspecto econômico é o seu peso reduzido. A sua utilização na
construção das estruturas flutuantes e da proa torna-os mais leves. Com isso,
o tempo médio de vida das estruturas aumenta, diminuindo os custos com
reposição de material. Há ainda uma vantagem ambiental, que é o fato desta
ser uma madeira reflorestada, o que exclui a possibilidade de impacto pelo
desmatamento local.
3.2.4 GAIOLA
Segundo BEVERIDGE (1996), desenhos de gaiolas práticos devem ter uma
boa interação das considerações de custos e de engenharia com os
requerimentos das espécies que estão sendo criadas. O material utilizado
para a construção das gaiolas modernas pode ser principalmente de três
tipos: malhas flexíveis não tratadas, polímeros sintéticos e aço galvanizado. A
resistência muda de acordo com o material. A gaiola de polímero sintético é
mais resistente ao “fouling” que a de malha não tratada e menos resistente
que a de aço inoxidável. Apesar disso, o custo aumenta com a resistência do
material utilizado na fabricação.
Com o passar do tempo, as estruturas de cultivo de camarões marinhos vêm
sendo modificadas e desenvolvidas através de adaptações para o local em que
elas são instaladas. Em 1996, quando da instalação desse sistema de cultivo
em Barra dos Carvalhos, Município de Nilo Peçanha, Bahia, elas sofreram
algumas modificações que o ambiente local permitia ou exigia. O ambiente
permitia uma maior parte da gaiola mergulhada, possibilitando um maior
espaço para o camarão utilizar como substrato. Apesar do animal utilizar
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 54
pouco o substrato na vertical que são as paredes das gaiolas, essa é uma área
a mais para o crescimento de “fouling” que, segundo MATOS (1999), faz
parte do grupo de organismos importantes na alimentação do camarão. Uma
das necessidades que o ambiente exigia era o completo fechamento das
tampas nas gaiolas, já que ocorria com frequência a entrada de peixes e
outros predadores, como o siri e até pássaros.
As gaiolas utilizadas são de piscicultura, com malha de poliéster coberta com
PVC de 5 mm de abertura. Suas dimensões são 2,5 x 2,0 x 1,2 m, sendo que
cerca de 0,8 m ficam submersos e 0,4 acima da linha d’água (figura 20). A
tampa da gaiola, com um perímetro total de 9 m, tem 5,6 m soldados e 3,4 m
não soldados (figura 24). Esta parte não soldada é amarrada à gaiola antes
dela ser colocada na água para evitar a entrada de predadores. Só é aberta
momentaneamente, durante o arraçoamento numa das laterais, e só
totalmente aberta na despesca. O cabo utilizado nessa amarração foi o
trançado de polipropileno de 3 mm. Para cada tampa foram gastos 4 m de
cabo.
Figura 24 Esquema mostrando a tampa semi-soldada da gaiola utilizada em Guarapuá
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 55
Segundo BEVERIDGE (1996), gaiolas têm provado ser apropriadas para
produção comercial artesanal em pequena escala e em larga escala. Segundo o
autor, os materiais usados para fabricar as gaiolas e o tamanho das unidades
de cultivo são escolhidos de acordo com o sistema emrpegado. O cultivo em
gaiolas pode ser importante em áreas onde a pesca está em declínio
(BEVERIDGE, 1996). Para Guarapuá, uma tecnologia de cultivo simples como
essa seria mais apropriada para a condição cultural da população local. O
cultivo em tanques de terra demanda um conhecimento técnico e científico
relativamente maior. Entretanto, mesmo com o fato de que o cultivo em
gaiolas necessitar manipular menos tecnologia, adaptações ainda foram
realizadas, reduzindo o custo do sistema de cultivo. Isso porque menor
utilização de tecnologia ainda não é sinônimo de acessibilidade ao cultivo.
Apesar de haver uma boa adaptação do L. vannamei ao sistema de gaiolas,
financeiramente esse desenho ainda não é o ideal. Como o camarão é uma
animal bentônico, ele prefere passar a maior parte do tempo no fundo da
gaiola, restringindo o espaço de cultivo a apenas 5 m2. A utilização de uma
alta densidade, como 200 camarões/m2, produz cerca de 8 a 10 kg/gaiola.
Experiências estão sendo realizadas no intuito de oferecer um maior
substrato ao animal, para se obter uma maior produção. 8,5 m2 de substratos
extras chamados de “poleiros” foram testados ao longo da altura da gaiola,
em Barra dos Carvalhos. Como as estruturas de montagem utilizadas, tubos
de PVC de 32 mm, mostraram-se demasiadamente frágeis, os poleiros não
promoveram o resultado esperado. Entretanto, poleiros confeccionados com
materiais mais adequados devem ser novamente testados, uma vez que os
resultados preliminares apontaram para uma elevação de 2 a 3 meses a
profundidade por gaiola.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 56
3.2.5 CASA FLUTUANTE
Uma casa flutuante foi construída para que os pescadores/aquacultores
passam a ter um maior controle do cultivo. Ela possui um quarto com
acomodações para quatro pessoas, uma cozinha, banheiro e um cômodo que
serve para a confecção e conserto das estruturas e para o armazenamento
de insumos. O tratamento do esgoto será feito através de uma fossa
séptica, detalhada no anexo 2. Com isso, os pescadores/aquacultores têm
toda uma infra-estrutura para realizar o manejo do cultivo, alimentação dos
animais, manutenção das gaiolas e despesca, além da vigia do
empreendimento.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 57
3.3 MANEJO
3.3.1 POVOAMENTO
Um importante aspecto para o cultivo é a espécie escolhida. Apesar do
camarão marinho nativo possuir um grande potencial, este encontra-se ainda
hoje subutilizado pela carcinocultura brasileira (ROCHA E MAIA, 1988). Para
o cultivo em Guarapuá, optou-se então pelo Litopenaeus vannamei.
Pertencente à Família Peneidae, é a espécie que o produtor brasileiro hoje
dispõe de forma mais acessível, tendo um constante fornecimento de insumos
no mercado. Ainda segundo ROCHA e MAIA (1998), a capacidade de
adaptação às mais variadas condições de cultivo ajudou a elevar o L. vannamei
à condição de principal espécie da carcinicultura brasileira. Por se tratar de
um animal exótico, foi necessária principalmente, uma produção auto-
suficiente de pós-larvas e a oferta de rações de boa qualidade.
O cultivo de uma espécie exótica pode causar a introdução desse organismo
no ambiente. Segundo COELHO JUNIOR e NOVELLI (2000), uma introdução
de uma espécie exótica pode causar competição, predação de espécies
nativas, e até a destruição do habitat. Entretanto, deve-se levar em
consideração um ponto importante. Desde a década de 80 essa espécie
originária do Equador já está sendo cultivada aqui no Brasil em larga escala
(ROCHA e MAIA, 1998). Perdas de animais para o ambiente são comuns em
qualquer sistema de produção. Se desde os anos 80 ocorrem perdas, esta
espécie já deve estar instalada no ambiente brasileiro, já que o seu alto
poder adaptativo às mais diversas condições o favorece. Se essa espécie não
se adaptou ao ambiente até hoje, dificilmente se adaptará. Segundo o
PARECER DEPAC NO 13/01 (anexo 3), o IBAMA, um dos órgãos
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 58
governamentais relacionados ao processo de licenciamento da carcinicultura
brasileira, através da Portaria IBAMA 145-N, de 29 de outubro de 1998,
classifica o camarão marinho L. vannamei como detectado na área onde o
projeto foi implantado. Isso significa que essa espécie já não é considerada
exótica para fins de cultivo. Diversos problemas ambientais aconteceram nos
países asiáticos e no Equador, onde as espécies eram nativas (SEIFFERT,
2001). Na agricultura, suinocultura, avicultura e bovinocultura brasileira,
várias espécies cultivadas são exóticas, demonstrando que o cultivo dessas
espécies é mais comum do que parece. Segundo OLIVEIRA (2002), a
maricultura é a última fronteira para a produção de alimentos e, à
semelhança do que aconteceu com a agricultura, ela não poderá prescindir da
introdução de espécies exóticas.
O povoamento é uma das etapas mais importantes do cultivo devido à
fragilidade dos animais nesta fase. Em Guarapuá, faz-se necessário algumas
adaptações porque, diferentemente dos viveiros em terra, os camarões que
irão povoar as gaiolas já estarão em fase juvenil, com mais de 0,5 g. Uma
dificuldade reside no fato de que não é conhecida bibliografia específica
para povoamentos em gaiolas flutuantes com camarões L. vannamei juvenis. O
povoamento será escalonado para que despescas mensais sejam realizadas.
Outros fatores também podem afetar o desenvolvimento do cultivo, como os
problemas nutricionais ou de saúde do animal desde sua origem e a
aclimatação que pode não ter sido adequadamente realizada. Segundo
BANCOMEXT (1999), o tamanho para povoamento influencia o bom
desenvolvimento, sobrevivência e melhor desempenho dos animais no
processo de engorda. Ainda segundo este autor, o melhor tamanho é o da pL
20, devido ao fato de que a tolerância e resistência às mudanças ambientais
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 59
aumenta com a idade e o desenvolvimento. Uma medida que deve ser tomada
para evitar a mortalidade é o cuidado no transporte. Deve-se evitar
transportar os animais em horários de alta temperatura e o tempo de
transporte deve ser o menor possível, não excedendo mais de 6 horas. Os
recipientes em que os animais são acondicionados devem estar a um
temperatura entre 20 e 25 oC. Em viagens entre 3 e 6 horas, deve-se
adicionar artemia recém-eclodida para prevenir um possível canibalismo.
(BANCOMEXT, 1999).
Segundo NUNES (2001), aclimatações em berçários intensivos são realizadas
utilizando densidades de 20 a 30 indivíduos/l, por um período de até 20 dias
precedendo o povoamento em viveiros de engorda com água oligohalina. A
aclimatação é a aproximação das condições ambientais do recipiente de
transporte com o ambiente que vai ser povoado. Ela pode ser realizada antes
do transporte, durante ou na chegada. O recomendável é que a água utilizada
para o transporte seja proveniente do novo local, facilitando o povoamento
(BANCOMEXT, 1999). Ainda segundo este autor, antes de povoar, deve-se
restabelecer as condições físicas dos animais através de um alimento de boa
qualidade.
Para o cultivo em Guarapuá, o transporte será feito através de barco, em
horário de temperatura amena, preferencialmente antes do amanhecer,
evitando ao máximo estressar o animal. Um sistema aberto de cultivo
permitirá que um menor número de parâmetros sejam analisados. Neste
caso, a salinidade e a temperatura são os parâmetros mais importantes na
aclimatação. Caso o transporte não venha a ser feito com a água do novo
ambiente, deverá aclimatar misturando-a aos poucos. O ritmo de aclimatação
deve ser de no máximo 2 ppt por hora, como mencionado por BOYD (2001). O
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 60
acompanhamento dos parâmetros deve ser feito levando em consideração ao
de mudança mais lenta, de acordo com as condições encontradas para o
povoamento. Dentro da região de cultivo, como geralmente a temperatura não
possui diferenças muito altas em seus valores de lugar para lugar, a
salinidade é o parâmetro que deve ser mais cuidadosamente observado
durante a aclimatação. Então, igualando-se este parâmetro do ambiente do
recipiente de transporte com o do novo local, os demais parâmetros,
consequentemente já deverão estar igualados. Segundo estudos realizados
anteriormente, é possível conhecer previamente as condições de salinidade
nas gaiolas, facilitando a aclimatação. Assim, essa aclimatação já pode ser
feita nos berçários, antes de acondicionar os animais para o transporte. Com
isso, durante o transporte, o cuidado que deve ser tomado é mantê-los
fortes, bem alimentados, minimizando ao máximo o estresse causado pelo seu
manuseio. Serão colocados cerca de 1.000 camarões por gaiola, resultando em
uma densidade de 200 camarões/m2. Segundo ACCIOLY et al. (2000), a
densidade de estocagem de camarão marinho altera diretamente a
concentração de oxigênio dissolvido, pH e amônia dentro das gaiolas de
cultivo. Entretanto, nas densidades avaliadas por aqueles autores de 800 e de
500 camarões por gaiola, as alterações dos parâmetros estudados estiveram
muito longe de comprometer as demandas para o cultivo, apesar da
velocidade de corrente quase nula. Assim, pode ser adequado aumentar as
densidades preservando-se as boas características da água de cultivo e
também de todo o ambiente.
3.3.2 ARRAÇOAMENTO
Em Guarapuá, o arraçoamento será feito por meio de bandejas (figura 25),
com uma frequência de três vezes ao dia. Os horários de alimentação são
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 61
6:00, 12:00 e 18:00 horas, aproveitando os melhores momentos para o
arraçoamento.
Figura 25 Camarões alimentando-se na bandeja em um cultivo em Barra dos
Carvalhos
Crustáceos utilizam uma alta variedade de alimento diferindo também o seu
método de captura ( RUPPERT e BARNES, 1996). Esses autores ainda
explicam que alguns se alimentam de matéria orgânica decomposta e outros
suplementam sua dieta com alimentação através da filtração. De acordo com
NUNES (2000), os camarões peneídeos consomem praticamente tudo que
está presente no ambiente. O autor afirma ainda que a dieta natural deste
animal abrange três grupos principais: as algas, os detritos e as presas, sendo
que a quantidade relativa de cada item consumido depende de sua
disponibilidade no ambiente, além do estádio de crescimento e espécie de
camarão cultivada. Segundo MATOS (1999), pode ocorrer no L. vannamei
canibalismo, principalmente sobre os indivíduos em ecdise ou doentes.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 62
De acordo com o estudo de MATOS (1999), algas foram, ao lado da ração, os
principais itens alimentares dessa espécie. NUNES (2000) explica que logo
quando a ração é colocada na água, ela geralmente perde suas características
físicas e químicas, indicando que intervalos muito prolongados entre os
arraçoamentos, de mais de 4 horas, podem comprometer a atratibilidade, a
palatabilidade, e a estabilidade da ração. Segundo este autor, arraçoamentos
múltiplos ajudam a manter as características nutricionais e a integridade
física da ração. Outro fator que favorece o arraçoamento múltiplo é o
tamanho do estômago do camarão peneídeo. Um estômago pequeno comporta
uma pequena quantidade de ração. Assim, para um melhor aproveitamento, o
seu consumo em várias refeições ao longo do dia é mais apropriado. Uma
distribuição mais homogênea da ração favorece um ganho de peso corporal
uniforme entre os camarões durante o ciclo (NUNES, 2000). No cultivo em
viveiros, o arraçoamento pode ser feito de duas maneiras: através do voleio
ou lanço, ou através de comedouros ou bandejas. O autor recomenda que o
número de bandejas introduzidas em cada viveiro deve ser proporcional à
densidade de camarões utilizada e ao ganho de biomassa que ocorre durante
a engorda. O autor também exemplifica que em viveiros de terra semi-
intensivos, cada comedouro possui uma área de influência entre 300 e 400
m2, concluindo assim que as bandejas devem ser alocadas no fundo do viveiro
a uma densidade de 25 a 30 unidades por hectare, devendo ser posicionadas
a uma distância de 20 m uma da outra e afastadas de 5 a 10 m dos taludes.
Já BANCOMEXT (1999), recomenda um número de comedouros de acordo
com o tamanho dos tanques. Em tanques menores que 2 hectares, usa-se, no
México, entre 4 e 6 comedouros por hectare, enquanto que em tanques
maiores que 20 hectares, são utilizados entre 1 e 2 comedouros por hectare
(BANCOMEXT, 1999). Levando em consideração o tamanho do viveiro para o
cálculo do número de comedouros, a menor área utilizada para um comedouro
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 63
deve estar entre 300 e 350 m2. Já levando em consideração a densidade, são
10.000 camarões por comedouro utilizado. Então, o número de comedouros
apropriado para gaiolas com 5 m2 e densidade de 200 camarões por m2 é de
apenas um comedouro.
Segundo NUNES (2000), o alimento deve ser distribuído três vezes ao dia,
sendo preferencialmente, 10 a 20 % da refeição diária total no início da
manhã, 30 % ao meio dia e 50% no final da tarde, ou conforme o consumo
observado. Ainda segundo este autor, o consumo de praticamente todos os
animais aquáticos decresce com o aumento do peso corporal. Para crescer o
animal precisa passar por um processo de muda. Este é outro fator que
influencia no consumo de alimento do camarão segundo aquele autor. Os
camarões mudam durante todo o seu crescimento. Cada fase de muda é um
período de estresse em que o seu apetite é reduzido a nulo e os padrões
normais de alimentação são interrompidos. Segundo BANCOMEXT (1999),
uma maneira para um melhor aproveitamento da ração é oferecer o alimento
quando o consumo é maior. Segundo SEIFFERT et al. (1998), os camarões
apresentam maior atividade alimentar durante o período noturno,
principalmente devido ao fato de que as suas presas em viveiros estão mais
acessíveis neste período. Segundo este autor, o fato do hábito do camarão se
enterrar durante o dia também pode contribuir para a ocorrência desse
padrão de atividade alimentar. Ainda segundo SEIFFERT et al. (1998),
estudos bioquímicos realizados em algumas espécies de peneídeos
demonstraram a presença de picos de secreção de enzimas digestivas
durante o anoitecer e ao amanhecer, indicando nesses períodos uma maior
atividade alimentar. Para o L. vannamei, observou-se picos de consumo ao
anoitecer (SEIFFERT et al., 1998). O alimento é controlado em cada gaiola,
de acordo com o grau de apetite do animal. Quando a sobra da ração nos
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 64
comedouros é alta, no próximo arraçoamento a quantidade de ração ofertada
deve ser menor para evitar perda de alimento. Se não houver sobra nenhuma,
a quantidade de ração no próximo arraçoamento deve ser maior que no
arraçoamento anterior. Deve-se sempre haver um pequena sobra para
garantir a presença do alimento para o camarão (SEIFFERT et al., 1998).
A taxa de crescimento, tanto relativa, em %/dia, como absoluta, em
g/semana, é menor nas gaiolas que em viveiros de terra (ACCIOLY e
MORAIS, 2000). Isso provavelmente é devido à falha no processo de
alimentação, já que há tipos diferentes de rações para cada fase de cultivo
(PL a adulto) e para cada sistema de cultivo (extensivo a superintensivo).
Animais de tamanho reduzido não conseguem se alimentar de pedaços de
ração muito grandes (NUNES, 2000). À medida que o camarão cresce,
alimentos com grãos cada vez maiores podem ser utilizados. Ainda segundo
NUNES (2000), o alimento com 35 % de proteína pura deve ser utilizado
para densidades de até 30 camarões/m2. Entretanto, em gaiolas utiliza-se o
mesmo alimento para uma densidade de até 200/m2 devido à falta de rações
para altas densidades como essa disponibilizadas no mercado. Para esta
densidade, pelo menos a proporção de proteína deveria ser diferente. Por
isso, melhorando a qualidade do alimento, a taxa de crescimento poderia ser
incrementada. Isso também favoreceria a diminuição da taxa de conversão
alimentar, tornando o cultivo mais rentável, já que a taxa de conversão
alimentar em viveiros de terra é menor. A taxa de conversão alimentar em
gaiolas é de 2:1 (ACCIOLY e MORAIS, 2000), enquanto que em viveiros de
terra é de 1,37:1 (ROCHA e MAIA, 1998). Produtores de ração só produzem
o que eles conseguem vender. Se não há cultivo que utilize outro tipo de
ração, não há motivo para a produção dessa ração. E se não há ração,
produtores não utilizam esse sistema de produção. No entanto, esse quadro
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 65
pode começar a mudar com o desenvolvimento de uma ração peletizada, já
disponível no mercado. Ela é destinada à alimentação de desde a fase juvenil,
com peso médio de 3g, até atingir peso de mercado, povoados em sistemas de
engorda sob densidades acima de 30 camarões/m2 (AGRIBRANDS, 2002).
Segundo ACCIOLY e MORAIS (2000), a duração do cultivo em gaiolas é de
cerca de 129 dias, com peso médio final de 10,04 g e permite quase 2,8 ciclos
por ano. Segundo ROCHA e MAIA (1998), o cultivo semi-intensivo do L.
vannamei no Nordeste do Brasil dura em média 100 a 110 dias, com peso
médio final de 12 a 13 g, permitindo 2,8 a 3 ciclos/ano. O peso médio de cada
indivíduo em gaiolas com 129 dias foi menor que o peso nos viveiros em 110
dias. Isso foi devido principalmente ao fraco desempenho na fase de berçário
em gaiolas flutuantes, que apresenta uma reduzida taxa de crescimento em
relação à engorda (ACCIOLY e MORAIS, 2000). Com a exclusão da utilização
das gaiolas de berçários, o tempo de cultivo em gaiolas pode ser reduzido em
cerca de 50 dias, já que os animais já serão adquiridos no estágio de juvenil.
A sobrevivência no cultivo em gaiolas desde o início do berçário até a
despesca das gaiolas de engorda, segundo ACCIOLY E MORAIS (2000) é de
22,3 %, enquanto que a sobrevivência em viveiros de terra é de 66,84 %
(ROCHA e MAIA, 1998). Segundo (BANCOMEXT, 1999) uma elevada
mortalidade que repercute na sobrevivência da despesca e em poucos
rendimentos econômicos pode ser causada pelo tamanho reduzido dos
camarões no povoamento. Com um pequeno tamanho, eles têm pouca
resistência a fatores de estresse, como o excessivo manejo da larva, o
transporte, enfermidades e fatores ambientais em geral (BANCOMEXT,
1999). Então, excluindo as gaiolas de berçário, a sobrevivência pode
aumentar, devido ao fato de que nas gaiolas de engorda a sobrevivência era
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 66
muito maior que nas gaiolas de berçário. Experiências anteriores em Barra
dos Carvalhos mostraram uma sobrevivência de até 80 % em gaiolas de
engorda.
Com o método de arraçoamento por voleio não se tem um controle da
utilização da ração pelo camarão, além deste método contribuir para a
degradação ambiental. Para NUNES (2000), a prática do comedouro é mais
trabalhosa, mas permite observações diretas do grau de apetite e condições
físicas dos camarões, já que o animal é geralmente visto no comedouro. Essa
prática leva a uma redução do desperdício de ração e melhora os índices de
conversão alimentar. A ração que sobra é recolhida, reduzindo a quantidade
de resíduos lançadas no meio.
Segundo SILVA et al. (2000), a decomposição da ração ofertada pode estar
relacionada a um aumento de valores de amônio dentro da gaiola. Segundo
ALMEIDA (2000), a forma não ionizada (NH3) é tóxica para as espécies
cultivadas, enquanto que o amônio (NH4+) geralmente não é hábil para
transpor as barreiras dos tecidos dos organismos. Entretanto, ainda segundo
esse autor, o seu grau de toxicidade varia de acordo com o seu estado
químico. Segundo ROCHA e MAIA (1998), a amônia é um gás extremamente
solúvel na água e quando atinge níveis elevados provoca estresse e
mortalidade na população cultivada com consequente diminuição na produção.
Um controle na frequência de arraçoamento é importante para reduzir os
efeitos da lixiviação de nutrientes no ambiente de cultivo (BANCOMEXT,
1999). Ainda segundo este autor, embora restos de ração sirvam de alimento
para outros organismos de dentro e fora das gaiolas, os riscos com a
eutrofização e a poluição do ambiente aumentam substancialmente. Segundo
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 67
ACCIOLY et al. (2000), o cultivo em gaiolas é uma das formas mais intensivas
de aquicultura. Essa intensidade de cultivo pode causar problemas. A
prevenção pode evitar alguns desses problemas ao identificar os sinais de
estresses nos animais como mudança comportamental e estrutural. Por outro
lado, a própria amostragem para a observação causa estresse. Com isso,
doenças secundárias podem surgir. Portanto, essa observação deve ser feita
apenas durante a alimentação, que é quando os animais são vistos mais
claramente. Entretanto, existem problemas que não são evitáveis, mas apenas
mitigáveis. O camarão, como qualquer animal, precisa se alimentar e como
consequência, libera resíduos no meio. A produção intensa de camarões
proporciona a liberação intensa de excreções no seu ambiente, podendo
causar problemas sanitários. O fouling absorve e recicla os resíduos,
retendo-os na própria gaiola, evitando sua diluição para o ambiente como
discutido no item 3.3.3.
Não utilizar com responsabilidade os recursos costeiros brasileiros devido a
comparações com exemplos negativos seria um atraso para um país que
precisa de geração de renda e empregos. O ecossistema costeiro precisa ser
melhor conhecido, planejado e utilizado de uma forma responsável. O
objetivo deve ser o de produzir com o mínimo impacto possível, mas gerando
melhor qualidade de vida. Isso pode ser feito melhorando o manejo alimentar
com dietas de menor impacto ou sistemas de manejo com menor renovação,
aproveitando a reciclagem dos nutrientes com a oxidação.
3.3.3 MANUTENÇÃO
Superfícies em contato constante com um corpo d’água, interagindo com o
ambiente, são um substrato ideal para a formação de uma comunidade
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 68
biótica. Em Guarapuá, depois de cerca de 45 dias de instaladas as gaiolas na
água, foi observada a presença de algas diatomáceas, organismos bivalves,
como a ostra do mangue Crassostrea rhizophorae, o sururu Brachidontes
exustus e cracas (figura 26).
Segundo BEZERRA (1996), as gaiolas de cultivo apresentam cerca de 80 g/m2
em peso seco de algas em 120 dias. Segundo esta autora, menos de 136 dias
foram necessários para a sucessão de macroalgas dentro das gaiolas de
cultivo. Ela verificou que a sucessão no interior das gaiolas começa com
formação de uma fina camada de bactérias e diatomáceas, sendo que em
poucos dias, se desenvolvem protozoários que dizimam as populações
bacterianas. Em ambiente marinho pode-se desenvolver algas ectocárpicas e
em seguida as incrustrantes. Todos esses organismos, encrustrados em uma
estrutura de cultivo, em uma quantidade excessiva proporcionam um peso
adicional que pode provocar a diminuição do tempo de vida útil dos
componentes dessa estrutura. Portanto, será necessário que as estruturas
sejam constantemente limpas, evitando o crescimento desses organismos
fora das gaiolas.
-
Figura 26 Encrustrações em uma estrutura submersa
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 69
Já a comunidade algal que se desenvolve dentro da gaiola de cultivo é
importante (figura 27). Segundo MATOS (1999), ela propicia um ambiente
semelhante ao natural, diminuindo o estresse do camarão. Os seres
epibiontes substituem o sedimento, servindo como refúgio, protegendo-os
contra os predadores naturais que podem devorar seus apêndices através da
malha da gaiola, além de fazer parte da base da cadeia alimentar. MATOS
(1999), ainda afirma que as algas servem de suporte para uma fauna variada
de animais que são na maioria presas para o camarão. Segundo BEZERRA
(1996), o próprio cultivo de camarões marinhos favorece a presença das
macroalgas no interior de gaiolas flutuantes. Isso é evidenciado pela maior
biomassa, maiores índices de riqueza, diversidade e equitatividade, em
relação a gaiolas sem camarões observadas em seu experimento. Segundo
AZEVEDO (1997), a comunidade do “fouling” é composta geralmente por
espécies de macroalgas dos gêneros Acanthophora, Polysiphonia, Spyridia,
Dasya, Callithamnium e Hypnea. Segundo BEZERRA (1996), A maioria das
algas ocorrentes dentro das gaiolas são rodofíceas, sendo que também há a
presença de feofíceas e clorofíceas. O “fouling” ocorre em algum grau em
todas as gaiolas (BEVERIDGE, 1996). Grudados no lado de fora das gaiolas
estão filtradores como ostras, cracas, vermes marinhos, esponjas e ascídias.
Essas comunidades podem reduzir os níveis de resíduos e são utilizadas
dentro de cultivos como dieta complementar para o camarão.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 70
Figura 27“Fouling” na parede de uma gaiola de cultivo de camarão em Barra
do Serinhaém (Fonte: BEZERRA, 1996)
Segundo MATOS (1999), espécies criadas em gaiolas, estudadas por ele,
possuem um hábito alimentar oportunista, não existindo uma preferência pela
ração em relação ao fouling. Este é de fundamental importância para a
alimentação dos camarões, podendo servir como base alimentar para esses
decápodos e reduzindo os custos com alimentação artificial, que representa
um dos maiores ônus nos cultivos de camarões peneídeos. Segundo SILVA et
al. (2000), apesar do desenvolvimento do “fouling” sobre as malhas das
gaiolas levar a uma diminuição da renovação de água, a sua biomassa algal
deve ser considerada como um fator capaz de contribuir para a redução de
impacto sobre o meio e no próprio cultivo, devido à grande capacidade de
assimilação do amônio deste grupo de organismos.
MATOS (1999) afirma que o fouling presente nas gaiolas proporciona uma
economia para o cultivo, na medida em que também protege o camarão de
ataques de predadores através da malha das gaiolas não permitindo a
diminuição da produção.
Fouling
Camarão
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 71
3.4 DESPESCA
A despesca é o processo de recuperação da biomassa investida no processo
da engorda. É a resposta à qualidade do manejo que vai indicar o valor do
produto para o mercado. Segundo BANCOMEXT (1999), em viveiros de terra,
recomenda-se que dias antes de começar a baixar o nível de água, encha o
viveiro ao máximo para diminuir a concentração de microalgas. Elas podem
causar um sério problema durante o processo de despesca, já que podem
ocasionar baixas excessivas da concentração do oxigênio dissolvido. Depois,
deve-se passar dois a três dias baixando o nível de água pouco a pouco.
Mudanças bruscas de nível podem acelerar o processo de muda dos camarões.
Segundo ROCHA e MAIA (1998), a despesca geralmente começa quando o
nível está a 30%. Enquanto se esvazia o viveiro, deve-se monitorar, várias
vezes por dia, a concentração de oxigênio e temperatura da água para evitar
mortalidade dos animais antes da despesca.
A tecnologia necessária utilizada para se cultivar organismos em gaiolas é
bem menor. O tempo utilizado para a despesca também é bem menor. No
mesmo dia da decisão da despesca, ela pode ser realizada. Por ser um sistema
aberto, não há o perigo de mudanças bruscas dos valores dos parâmetros
ambientais, como o oxigênio dissolvido. Em gaiolas, apenas poucas pessoas em
uma embarcação pequena são necessárias para colher o camarão (figura 28).
A quantidade por gaiola é o suficiente para o transporte de poucas caixas
isotérmicas, o que facilita o transporte. Portanto, como os
pescadores/aquacultores de Guarapuá são habitantes de comunidades
tradicionais, tecnologias que envolvam processos de manejo mais simples são
mais apropriados para a localidade.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 72
Figura 28 Aspecto da despesca de uma gaiola em Barra dos Carvalhos
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 73
3.5 LICENCIAMENTO
A aquicultura e outras atividades que utilizam recursos naturais necessitam
de normas que os direcionem a um desenvolvimento sustentável. A aquicultura
brasileira é orientada por um conjunto de leis, decretos portarias e
resoluções que buscam o uso harmônico e equilibrado dos recursos naturais.
Entretanto, a sustentabilidade da atividade depende sempre do nível de
consciência dos usuários dos recursos naturais, independentemente da
qualidade e da quantidade de leis disponíveis.
O subprojeto “Estudo para o Cultivo em Gaiolas Flutuantes, de Camarão
Marinho Litopenaeus vannamei em Guarapuá, Cairu - Bahia”, está em vias de
licenciamento, de acordo com o Decreto 2.869 e da Instrução
Interministerial no 9.
O Decreto no 2.869, de 29 de dezembro de 1998: a) regulamenta a cessão de
águas públicas para a exploração de aquicultura nos bens pertencentes à
União, para pessoas físicas ou jurídicas; b) estabelece a não autorização da
exploração da aquicultura em área de preservação permanente definida na
forma da legislação em vigor; c) Estabelece a gratuidade da cessão de uso de
águas públicas da União para as cooperativas e associações de pequenos
produtores, entidades de fins não lucrativos e de interesse social.
A Instrução Normativa Interministerial no 9, de 11 de abril de 2001, que:
a)estabelece as normas complementares para o uso das águas públicas da
união para fins de aquicultura; b)atribui ao Ministério do Meio Ambiente a
responsabilidade pela definição da capacidade de suporte dos ambientes
aquáticos, objetos da prática da aquicultura, e pelo monitoramento da
qualidade da água nesses ambientes.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 74
O artigo 1o da Instrução Normativa no 9 determina que os interessados nos
bens da União listados no artigo 1o do Decreto n o 2.869, deverão encaminhar
ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, consulta prévia, em 4 vias,
contendo informações e documentos a serem apresentados aos ministérios
envolvidos, resumidos na tabela 4:
Tabela 4 Órgãos com suas informações e documentos necessários para o
licenciamento do cultivo em gaiolas para Guarapuá
Ministério da Agricultura e do
Abastecimento
Formulário de Registro de Aquicultor
(anexo 4)
Marinha do Brasil
1. Planta ou croqui de localização com
escala entre 1:100 a 1:500;
2. Planta ou croqui de construção de
equipamentos com escala entre 1:50 e
1:200;
3. Memorial descritivo com descrição
detalhada do material a ser instalado
no corpo d’água.
Ministério do Meio Ambiente
Informações sobre a espécie cultivada, seus
possíveis efeitos e medidas tomadas para
manutenção dos padrões de qualidade da água
estabelecidos pela Resolução CONAMA NO
20/86.
Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão
indicação das coordenadas UTM dos
vértices dos polígonos das áreas
pleiteadas.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 75
No prazo de até 60 dias úteis, o ministério da Agricultura acolhe ou rejeita a
consulta prévia e comunica sua decisão por via postal. Se aprovada, deve-se
encaminhar ao Ministério da Agricultura e Abastecimento o requerimento de
autorização de uso de águas públicas, acompanhado de documentos
complementares que tenham sido requeridos. Para o licenciamento do cultivo
de Guarapuá foram exigidos:
1) cópia da licença ambiental expedida pelo órgão ambiental competente;
2) cópia para autorização para coleta de sementes no ambiente natural;
3) cópia de requerimento do Capitão dos Portos com jurisdição na área do
projeto, com respectivo parecer da capitania, conforme previsto nas
normas da Autoridade Marítima no11 – NORMAM 11;
4) cópia dos documentos comprobatórios de sua capacidade jurídica e
regularidade fiscal, quando se tratar de pessoa jurídica.
Apesar de só existirem 200 gaiolas para serem instaladas, o espaço pedido e
cedido no licenciamento foi projetado para a instalação de 400 gaiolas (figura
2-b e 22). Com isso, o projeto já proporcionou a disponibilização do espaço
para uma possível expansão, de acordo com o interesse dos
pescadores/aquacultores. Essa expansão deve ser custeada pelos seus
próprios rendimentos. A partir desse momento, o apoio da universidade e
colaboradores deve existir apenas no âmbito organizacional e técnico.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 76
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como alternativa de atividade para Guarapuá, a modalidade de cultivo em
gaiolas flutuantes se apresenta mais acessível que a introdução de um
cultivo em tanques de terra. Ela se mostra mais apropriada para a
condição sócio-econômica e cultural da população local.
Essa atividade relativamente nova, portanto, possui técnicas não-
agressivas ao meio ambiente e apropriadas para condições geográficas e
socio-econômicas específicas.
Entretanto, o atual desenho das estruturas de cultivo podem e devem ser
melhorados, adaptando-os para um maior benefício financeiro através de
uma melhor produtividade.
Morais, L. C. L. Estudo para o cultivo em gaiolas flutuantes do camarão marinho... 77
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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