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UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ÉTICA NA EDUCAÇÃO SEXUAL
ANA LÚCIA SANTOS SANTANA
Brasília, dezembro de 2009
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ÉTICA NA EDUCAÇÃO SEXUAL
Trabalho apresentado a UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM, como requisito para a obtenção do título de especialista em Orientação Educacional.
ANA LÚCIA SANTOS SANTANA
Brasília, dezembro de 2009.
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Não estamos a discutir um tema sem importância, mas sim como devemos viver.
Sócrates, na República de Platão (390 a.C.).
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Ana Lúcia Santos Santana. Ética Na Educação Sexual. 2009. Orientadora: MSc Maria Esther de Araújo.
RESUMO
O papel da ética na valorização do educador sexual estabelece um canal permanente de reflexões no qual o conhecimento produzido possa ser fruto de um entrecruzamento da teoria, da experiência vivida, da análise da prática e de propostas construídas cada vez mais coletivamente. Na elaboração desta monografia, buscou-se de alguma forma contribuir, no sentido de melhor esclarecer a profunda diferença entre ética e moral, evidenciando que a busca do agir ético tem origem no anseio de romper a atual hegemonia da moral sobre a ética, e mais especificamente sobre as profissões. A intenção do trabalho é a de desvelar uma ética profissional que, na realidade tende a apontar somente os deveres do profissional utilizando-se de regulamentos que trazem no seu escopo o desejo de controle e submissão. Demonstra-se ao longo da monografia que a ética nasceu da aspiração da humanidade de tornar concreto um mundo harmônico, no qual prevaleceria a compaixão com o Outro.
Palavras-Chave: Ética. Moral. Educação. Orientação. Sexualidade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
Cap. I. ÉTICA 8
1. Conceito: Ética 8
1.2. Mudança de paradigmas – Retorno à ética 14
Cap. II. ÉTICA PROFISSIONAL 18
2.1. O surgimento de uma profissão 19
Cap. III. ÉTICA E OS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO SEXUAL 21
3.1. Abordagem do tema Educação Sexual na escola 23
3.2. Proposta de Trabalho 26
3.3. Como trabalhar a educação sexual 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35
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INTRODUÇÃO
Atualmente, a humanidade tem manifestado uma preocupação
generalizada, provocada pela falta de valores éticos resultante de um sistema
econômico-financeiro, baseado na relação capital trabalho, onde a maximização do
lucro é um dos principais fatores que conduz aos mais diversos comportamentos
antiéticos no ambiente profissional. Dentre estes se destaca a concorrência que gera
uma competição acirrada nos países, nas empresas, entre trabalhadores e
profissionais.
Neste contexto, verifica-se uma degradação de certos valores que de
alguma forma direcionavam a sociedade nos seus posicionamentos éticos,
conduzindo assim, o indivíduo a adotar uma posição relativista em torno da vida. O
posicionamento revela que os juízos de valores e as normas éticas são
considerados meramente uma questão de preferência individual, justificado por cada
indivíduo que apresenta seu próprio conjunto de crenças e valores, com
comportamentos e objetivos distintos, ocasionando desta forma conflitos nos
relacionamentos no seio de cada sociedade.
A sociedade contemporânea valoriza comportamentos que
praticamente excluem qualquer possibilidade de cultivo de relações éticas. É fácil
verificar que o desejo na obtenção, possessão e consumo da maior quantidade
possível de bens materiais é o valor central na nova ordem estabelecida no mundo e
que o prestígio social é concedido para quem alcança tais bens. O sucesso material
tornou-se sinônimo de sucesso social e o êxito pessoal deve ser adquirido a
qualquer custo. Prevalece o desprezo ao tradicional, o culto à massificação e
mediocridade que não ameaçam e que permitem a manipulação fácil das pessoas.
Um dos campos mais carentes, no que diz respeito à aplicação da
ética, é o do trabalho e exercício profissional. Por esta razão, executivos e teóricos
em gestão de empresas voltaram a se debruçar sobre questões éticas. A lógica
alimentadora desse processo não é idealista nem "cor de rosa". É lógica do capital
que, para poder sobreviver, tem que ser mais ético, evitando cair na barbárie e
autodestruição. São os próprios pressupostos da disputa empresarial que forçam a
adoção de um modelo mais ético.
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Partindo dos pressupostos acima descritos, o empreendimento em
questão constitui-se de três capítulos assim estruturados: o primeiro capítulo
analisará a definição e o conceito de ética sob o enfoque histórico filosófico,
buscando o momento no qual ética e moral assumem significados semelhantes,
conduzindo as pessoas a aceitarem que as condutas morais sejam apresentadas
como princípios éticos. Busca mostrar o porquê do “retorno” à ética, como novo
paradigma que questiona o sistema vigente.
O segundo capítulo, por sua vez, apresenta a importância da ética no
cerne das profissões, apresentando a conceituação e aplicabilidade da ética
profissional, para no passo seguinte trazer a idéia da codificação da ética junto às
profissões.
Em seqüência surge o terceiro capítulo que se centra na coalizão das
idéias desenvolvidas nos capítulos anteriores, ou seja, a necessidade de aceitação
por todas as nações, e em especial os educadores, de uma legítima ética
profissional. Em seguida a leitura traz o agir ético do educador. O capítulo encerra-
se com a discussão dos problemas enfrentados para atingir uma ética profissional
universal, materializada através de uma padronização e a capacitação do educador.
Surge aqui o desafio de moldarmos uma classe às novas exigências,
sem perder a conduta ética que se espera de um profissional.
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1. DEFINIÇÃO DE ÉTICA
Um dos assuntos que mais tem sido debatido e chamado à atenção,
quando se fala em negócios, em política, em relacionamentos humanos, trata-se do
posicionamento ético ou moral das pessoas. Frases como: “É importante ter ética
nos negócios”, “o comportamento desta ou daquela pessoa não foi nada ético”, “a
ética não pode ser esquecida”, são muito comuns e aparecem seguidas vezes nos
noticiários.
Quando se fala de novas tecnologias e, principalmente, das conquistas
científicas, a ética novamente é um assunto que vem à tona. Isto significa que a
ética está mais atual do que nunca.
Para o empreendimento em questão ter um ponto de partida mais
adequado nesta área temática é essencial investigar “que é isto – a ética?”. O
procurar entender o que é a ética é estar a caminho, é aproximar-se de uma visão
mais clara.
Constantemente as pessoas usam termos como “ética profissional,
código de ética, ética contábil, ética na política”. Mas o que é ética profissional? Será
o mesmo que código de ética? E será a ética um sistema de normas e códigos
morais? Quando assim usado não estaria havendo uma simplificação demasiada,
sendo a ética confundia com a moral como se fosse a mesma coisa?
É realmente de ética que se está falando quando o que está em pauta
é o modo de comportar-se em relação aos alunos, aos colegas, à sociedade e no
obedecer a certas regras? E é uma postura ética real o que se espera ou o solicitado
é um comportamento externo que não fira as regras sociais (morais)?
Mais do que o assunto da moda ou o estudo dos valores, a ética deve
ser algo presente, de fato, na nossa existência, mas de modo adequado. Se hoje a
sociedade passa por uma crise de valores, maior ainda é a crise originada da falta
de uma ação de acordo com a consciência – ouvir a “voz da consciência” e agir em
sintonia com ela. E a nossa consciência é a mente universal em nós; a mesma
mente em todos os seres.
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A única obrigação do homem é ser e agir como homem; como, ao
contrário, o único mal do homem é não ser e não agir como homem. Voltando então
à definição de ética, pode-se dizer que esta brota de dentro do ser humano,
daqueles elementos que o caracterizam na sua essência como humano, ela exige
antes a determinação de sua realidade ontológica para, a partir daí, estabelecer a
forma de comportamento.
Partindo dessas premissas, qualquer situação específica da pessoa
deve embasar-se na realização do fundamental; assim, professor, antes de ser
educador, ele é um ser humano, e só vai realizar-se como educador à medida que
se realizar como pessoa. O mesmo pode ser afirmado de outras possibilidades: ser
pai, mãe, enfermeiro, advogado, político, e outros, que exigem antes de tudo ser
pessoa, ser gente, ser “homem”.
Deste modo, a construção da ética parte das exigências ou
necessidades fundamentais da natureza humana; estas não são aleatórias, mas
existem no ser humano, limitando-o e identificando-o para que ele possa descobrir-
se a satisfazer o que lhe é solicitado para sua realização.
Portanto é uma questão ética a amplificação das potencialidades
humanas, um deslanchar de suas virtualidades. Antes de o homem perguntar: Como
devo me comportar? O que devo fazer? Deve perguntar o que sou? Quais são
minhas energias humanas que não podem ficar reprimidas, mas devem ser
estimuladas?
Estas constatações mostram que o objetivo da ética é apontar rumos,
revelar horizontes para a realização do próprio ser humano; ela é a edificação
contínua de um “sim” em benefício do enobrecimento do ser pessoal; por isso que a
ética deve ser pensada como eminentemente positiva e não proibitiva; por exemplo:
o mais importante é “respeitar a vida” do que “não matar”.
Tal pensamento está na origem da ética cristã, de tal sorte que o Livro
de Romanos (13.9) traz que “pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás,
não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (A BÍBLIA SAGRADA, 1996, p.251).
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Desta maneira, a ética não se torna uma imposição ou obrigação
aleatória e até extrínseca ao ser humano: seus fundamentos objetivos têm que ser
assimilados ou conscientizados pelo indivíduo humano concreto. Por isso a ética
antecede códigos, normas ou leis e analisa a mesma validade destas para o ser
humano. O que está em jogo na ética é o ser humano, é a pessoa em todas as suas
dimensões, perfazendo, porém uma unidade no seu ser e no seu dever.
A ação ética não é uma mera adequação a um sistema de normas. É
uma reta ação, algo que se expressa em sintonia e harmonia com o que está no
nosso íntimo, é a exteriorização de nossa índole interna. A ética não se restringe à
moral social, às determinações do discurso religioso, a um código de deveres. A
ética, já na antiga Grécia, era uma das divisões essenciais da filosofia. E esta, além
de buscar a compreensão da vida e da verdade, também reflete sobre as
circunstâncias que nos envolvem em nossa existência diária. Então, certamente
deve existir uma diferença entre o essencialmente ético e o moral. Deve-se
examinar este ponto, pois ele trará conseqüências na ação. Se a moral está
vinculada a regras, sua delimitação é dada em certa situação social – está localizada
no tempo e no espaço e se altera quando mudam os valores vigentes.
A ação ética surge de um âmbito mais amplo que o simples obedecer a
uma regra. Não são os costumes morais, o que é aceito pelo grupo e considerado
“certo”, o que determina uma atitude ética. O correto e o incorreto envolvem juízos
de valores. Já a verdadeira postura ética, a reta ação, escapa dos julgamentos
valorativos.
Tendo em vista que a ética não deve ser restrita ou identificada com a
moral, é aconselhável, portanto, rever qual o sentido do termo ethos, que é a origem
da palavra ética. É comum encontrar o uso dos temos ética e moral como sendo
equivalentes, o que não é adequado, pois a palavra moral é posterior ao ethos e tem
um sentido diferente.
Para Heráclito, ethos é o lugar onde se habita a morada, ou seja, ethos
anthropos daimon, é o homem acolhendo a sua consciência (VAZ, 1988).
O termo ethos é uma transliteração dos dois vocábulos gregos ethos (com eta inicial) e ethos (com épsilon inicial). É importante distinguir com exatidão os matizes peculiares a cada um dos termos.
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A primeira acepção de ethos (com eta) designa a morada do homem. O ethos é a casa do homem. O homem habita sobre a terra acolhendo-se ao recesso seguro do ethos [...]. A metáfora da morada e de abrigo indica justamente que, a partir do ethos, o espaço do mundo torna-se habitável – para o homem. É no espaço do ethos que o logos torna-se compreensão e expressão do ser do homem como exigência radical de dever-ser ou do bem. Assim, na aurora da Filosofia grega, Heráclito entendeu o ethos na sua sentença célebre: ethos anthropos daimon. O ethos é regido pelo logos e é nessa obediência ao logos que se dão os primeiros passos em direção à ética [...].
A segunda acepção de ethos (com épsilon inicial) diz respeito ao comportamento que resulta de um constante repetir-se dos mesmos atos. O ethos, nesse caso, denota uma constância no agir (VAZ, 1988, p.68).
Aristóteles vê ethos como virtudes – moral e intelectual. A intelectual
você adquire com estudos, aprendizado na escola. A moral, por sua vez, a mais
difundida entre os homens, é aquela que você adquire através de hábitos. Não se
encontra no ser e sim se adquire para o ser. E assim disse Aristóteles:
Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito, donde ter-se formado o seu nome por uma pequena modificação da palavra (hábito). Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário à sua natureza.
Não é, pois, por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornarmos perfeitos pelo hábito.
Por outro lado, de todas as coisas que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde exteriorizamos os atos [...]. Com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemos fazendo... Tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura etc. [...] Pelos atos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos; pelo que fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo ou da ousadia, nos tornamos valentes ou covardes. O mesmo se pode dizer dos apetites e da emoção da ira: uns se tornam temperantes e calmos, outros intemperantes e irascíveis, portando-se de um modo ou de outro em igualdade de circunstâncias.
Numa palavra: as diferenças de caráter nascem de atividades semelhantes. É preciso, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porquanto da sua diferença se pode aquilatar a diferença de caracteres. E não é coisa de somenos que desde a nossa juventude nos habituemos desta ou daquela maneira. Tem, pelo contrário, imensa importância, ou melhor: tudo depende disso (ARISTÓTELES, 1973, p.267).
Como visto, há uma ênfase de que a virtude moral é adquirida pelo
exercício (repetição) e que elas, portanto, não estão no ser humano por natureza. O
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homem será se for ensinado e até mesmo ‘treinado’ a ser ético. Veja que são
caminhos nitidamente diferentes os dois sentidos do ethos – e tudo começa através
da maneira como se compreende o significado da palavra. Não é um mero estudo
lingüístico, pois produz uma direta conseqüência.
Por influência inicial de Aristóteles e devido à transformação do ethos
como morada em “costumes”, a ética, no sentido primordial, acabou sendo
confundida com a moral tradicional, de tal forma que no latim foi usado só uma
palavra – mores. E mores são apenas costumes adquiridos (VAZ, 1988).
Ao se transferir o centro do universo para o homem, este acabará por
apresentar-se como o absoluto, ou como criador ou legislador em diferentes
domínios, incluídos neste a moral, de tal forma que ao final do século XVI a ética
como “moral do dever” tinha se fortalecido. Apesar do Renascimento ter procurado
retornar o pensamento antigo, a moral autoritária que existia nesse período negava
a capacidade do homem escolher o que é bom para si, separar o bom do mau.
Deverá haver alguém, uma autoridade “moral”, que irá determinar o que pode e não
pode ser feito – é a fase das rígidas normas. Tais normas são fixadas previamente e
cabe ao homem adequar-se a elas. Ele não tem a liberdade de fixar suas próprias
regras. E a autoridade que enuncia as regras quer a nossa obediência. Neste
contexto obediência é bom e a desobediência a rebeldia, pecado.
Na “moral autoritária” é a autoridade que decide o que é bom e o que é
mau. Essa moral de submissão é o contrário do que a ética sugere, pois essa
obrigatoriedade moral é exterior e “irracional”. Mas será que é realmente “Deus”,
diretamente, que decide e determina, ou é algum intérprete que atribui a si mesmo
esta função?
A chamada “moral cristã” não era mais a ética cristã original. A moral
moderna não era a “moral das virtudes”. O moral, o religioso e o político
confundiram-se. O moralismo era um instrumento de buscar a submissão das
massas. A moral “autoritária” era uma arma social.
Assim, podemos verificar através da definição de “ética” por diversos
pensadores contemporâneos a influência da ética como moral dos costumes. “Parte
da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade; ciência
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da moral” (BUENO, 1996. p.276). E, “Ética é a disciplina ou campo do conhecimento
que trata da definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações”
(MAXIMIANO, 2000, p.428). Ou, como explica Franco, quando se refere ao
entendimento sinônimo e em seu sentido literal:
Os dois termos, moral e ética, são geralmente considerados como sinônimos, e como tal utilizados, apesar de que na linguagem comum o termo moral refere-se mais à esfera íntima da conduta humana, em particular a seu aspecto religioso, enquanto ética refere-se geralmente ao aspecto exterior, como comportamento visível que pode ser visto e julgado pelos membros da comunidade (FRANCO, 1999, p.267).
No entanto, o viver ético e a prática de virtudes não são uma
obrigatoriedade ou imposição de uma moral autoritária, mas sim uma escolha livre,
uma atitude natural, buscando o bem e a felicidade. Mesmo no Novo Testamento,
não há moral do dever e sim a ética da consciência, como se vê no Livro de João
(13.17), quando Jesus, após convidar seus discípulos a viver uma vida mais útil para
seus irmãos, disse: “Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurado sois se as
praticardes” (A BIBLIA SAGRADA, 1996, p. 169). Destaque à compreensão e à
prática. Também se lê que a ação em direção ao outro nos torna mais felizes do que
o mero receber. Há, várias vezes, o termo bem-aventurados, felizes. As instruções
não são apresentadas como deveres, mas como algo que tornaria a vida mais feliz.
Assim, a ética cristã original também estaria vinculada à ênfase na prática das
virtudes – com destaque à alegria, felicidade, amor e caridade.
Para Schopenhauer, filósofo alemão, a ética está relacionada
diretamente às ações – como homens efetivamente agem e não como devem agir.
Não é a ciência que trata do como se deve agir. Não está vinculada ao dever.
Schopenhauer identifica o egoísmo como a origem de todos os males da existência,
para depois trazer o papel fundamental da compaixão. Ela é o antídoto para o
egoísmo. A compaixão brota do mais íntimo do homem e não depende de nada a
priori ou de algum raciocínio ou discurso. Ela é algo presente na espécie humana,
um mistério que se mostra. Fazendo-se lembrar que o Ser mora no homem e é do
interior do homem que aparece a energia da compaixão. “Se a motivação de uma
ação é o Outro, se o motivo não é egoísmo do eu, poderá surgir a fundamentação
da ação ética. A presença da compaixão é o que torna uma ação genuinamente
ética” (CRISTINA, 2002).
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A ética é a consciência humana presente no próprio homem. É a
capacidade que este possui de deparar-se frente ao outro e demonstrar o que há em
si mesmo, sempre consciente do que há de mais reto enquanto ação humana. Ética
é a reta ação do homem para o próprio existir, advinda do próprio homem. O homem
nasce ético e torna-se moral através de costumes. Portanto, a ética é a
transcendência da moral.
“Se tivéssemos que negar os aspectos de ocorrência dos fenômenos
éticos, também deveríamos negar a dos econômicos, sociais, psicológicos e tantos
outros que dependem da vontade do ser humano perante a realidade da existência”
(SÁ, 2001, p.45).
1. 2. Mudança de paradigmas – Retorno à Ética
Nos séculos XVI e XVII, desabou literalmente a cosmovisão escolástica aristotélico-tomista, que mesclava razão e fé, dominante na Idade Média, abalada de forma profunda e irreversível pela Renascença e, mais tarde, pelo movimento cultural-filosófico do Iluminismo. Nascia então uma nova Idade, denominada pelos historiadores de Revolução Científica, que desvinculou o profano do sagrado, destacando a razão como valor fundamental juntamente com a liberdade de pensamento, e erigindo como meta a bandeira do progresso. O método de investigação empírico-indutivo de Bacon, o raciocínio analítico-dedutivo de Descartes e a Física clássica de Newton orientaram e modelaram a ciência moderna, com sua tendência à quantificação, previsibilidade e controle. O mundo passou a ser percebido como uma máquina, gigantesca e maravilhosa (CREMA, 1989, p.22).
Na Era da Revolução Industrial, as administrações tinham as tarefas
como sendo o foco dos trabalhos realizados. Da década de 80 para cá, com a
ampliação dos mercados de consumo - notadamente como um reflexo natural da
globalização – os administradores perceberam que o modelo administrativo até
então vigente já não resolvia os problemas da nova era, tais como: o elevado custo
e a oferta excedente.
Na era da revolução industrial, o maior problema residia no
atendimento à crescente demanda. Com a globalização, as ofertas de produtos e
serviços foram multiplicadas e com isso o cliente tornou-se mais exigente.
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Também fica claro, que a revolução tecnológica dos séculos XVIII e
XIX, mais do que um progresso significou a generalização de um projeto de controle
social. As teses das classes dominantes revelam que o desejo de expansão de
mercado e de aumento de suas riquezas passava pela necessidade da
universalização dessa nova ordem social.
Marx, afirmava que os valores da moral vigente – liberdade, felicidade, racionalidade, respeito à subjetividade e à humanidade de cada um, etc. – eram hipócritas não em si mesmos (como julgava Nietzsche), mas porque eram irrealizáveis e impossíveis numa sociedade violenta como a nossa baseada na exploração do trabalho, na desigualdade social e econômica, na exclusão de uma parte da sociedade dos direitos políticos e culturais. A moral burguesa, dizia Marx, pretende ser um racionalismo humanista, mas as condições impedem a existência plena de um ser humano que realize os valores éticos. Para Marx, portanto, tratava-se de mudar a sociedade para que a ética pudesse concretizar-se (CHAUI, 2001, p.179).
A crise da consciência ética aparece no mundo de hoje porque o
homem enfrenta várias situações em que parece difícil ou até impossível separar o
certo do errado; assim, o avanço da ciência, um valor tido por si mesmo e absoluto,
parece ignorar outros valores, por exemplo, em questões relativas à bioética;
também o desejo desenfreado do ter pode levar ao afogamento do ser, enquanto as
pessoas se perdem no meio de tantas coisas, escurecendo assim o horizonte dos
valores da vida; também a preocupação exagerada com aprendizagem do poder-
fazer pode criar um abismo em relação à autêntica formação do homem como um
todo, reduzindo este a uma simples máquina produtiva; acrescenta-se a isto a
formação prático-material da vida que freqüentemente menospreza a cultura ética.
Roberto Crema faz uma vigorosa e preocupante descrição das
contradições internas do racionalismo científico e seus efeitos globais na vida
humana, as quais produziram a crise que vem conduzindo a humanidade numa
busca à reta ação e ao que dever ser o agir ético. O novo paradigma questiona a
generalização do pensamento em que toda ação racional é ética (CREMA, 1989).
Entretanto, a cômoda e ingênua crença progressista evidenciou-se insustentável, e mesmo alienante, especialmente quando levamos em conta que, neste mesmo século, a humanidade presenciou, horrorizada e violentada, a duas guerras mundiais – e a terceira já é tida praticamente como inevitável – certamente por não ter ocorrido uma evolução ética-psíquica-espiritual correspondente (CREMA, 1989, p.24).
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É exatamente esse individualismo e falta de ética predominante na
sociedade contemporânea que está provocando uma nova corrida ao seu estudo. A
ética está se tornando um tema corrente em nosso dia a dia, pois nossa sociedade,
enfrentando esses graves desafios nos anos finais no século XX, precisa de visões
do futuro que sejam atraentes, inspiradoras e vigorosas o bastante, para levar as
pessoas a deixar de lado o seu costume atual de concentrar-se nas crises imediatas
e a voltar-se com esperança para o futuro - um futuro em que a saúde e o bem
estar, da Terra e dos seus habitantes esteja assegurado.
Numa visão mais ampla, da mesma forma que um empregado não
mantém seu emprego com a falência de sua empresa, também uma empresa terá
muitas dificuldades com a falência econômica, social e ambiental do país em que
estiver operando.
Estão começando a reconhecer que o desejo de acumulação infinita e
de consumo sem limites exige uma desenfreada exploração de recursos naturais,
que são escassos. Os altos custos ecológicos, pela ameaça que representam à
população e ao planeta, estão colocando as empresas devastadoras numa posição
muito delicada. Afinal, os interesses deste tipo de empresa entram em conflito frontal
com os interesses da coletividade e as empresas que estão sensíveis a esta
realidade têm sua sobrevivência reforçada, pois existirá uma procura crescente por
aquelas não apenas voltadas para a produção e lucro, mas que também estejam
preocupadas com a solução de problemas mais amplos como preservação do meio
ambiente e bem estar social.
A vida humana está exposta a dissabores, experiências amargas,
stress, cansaço constante, tristeza. Trabalho para sobreviver, mas falta alegria e há
temores do futuro. Há, ainda os hospitais (e seu mau atendimento), as prisões (e a
violência), campos de batalhas, tribunais. Mas, apesar de tudo isso, são as ações
humanas que criam este mundo como ele é, sendo, portanto, o homem o
responsável por tudo isso. E o grande centro de tanta desgraça é o egoísmo
humano.
O ponto fundamental na ética é a importância de substituir uma atitude
autocentrada e egoísta por um modo de agir com manifestação do altruísmo e da
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compaixão, conduzindo a uma maior harmonia. A causa fundamental dos conflitos,
dores e misérias humanas são derivadas do egoísmo e que a compaixão conduz a
um reto modo de vida.
Tenzin Gyatso (1992), conhecido como o 14º Dalai Lama do Tibete,
relata que para termos uma ação genuinamente ética é preciso desenvolver esta
‘responsabilidade universal’, um sentimento de fraternidade universal – a percepção
de que nós realmente somos partes de uma grande família. E que mais do que
apegos familiares são cruciais despertarmos a energia da compaixão, pois é ela que
faz surgir um bom coração (GYATSO, 1992).
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2. ÉTICA PROFISSIONAL
Através da influência de Aristóteles o ethos torna-se “virtudes”, sendo
assim confundida com a moral tradicional. Tal sentido serviu como conduta de
trabalho de diversos pensadores que também foram formadores de juízo junto a
toda sociedade, intelectual ou não, formando a conceituação contemporânea sobre
a vivência da ética dentro das profissões.
Generalizar, na realidade seria negar que o homem é um ser ético por
natureza, nascendo assim, contudo boa parte dos trabalhos produzidos sobre a
importância da ética nas classes profissionais, quando não na sua maioria
apresentam um foco centralizador nos costumes, sob o “dever das virtudes”, que as
profissões devem apresentar para serem reconhecidas pela sociedade.
O choque de consciência ocorre quando o homem percebe que é um
ser ético e não um produto da “ética” enquanto moral. Essa postura de
responsabilidade universal é certo um desafio e é baseada no claro entendimento do
desejo de todos os seres alcançarem a felicidade. O surgimento deste “bom
coração” não é algo simples e tão espontâneo, pois é fundamental realizar uma
alquimia na mente – mudar a sua motivação. Somente a própria mente pode
produzir essa mudança que conduz a reta ação, mudança que nem sempre ocorre
em circunstâncias muito favoráveis.
Talvez este seja o ponto fundamental para que ocorra um controle do
grupo social sobre seus representantes, o descompasso na ação em circunstâncias
não muito favoráveis. Neste ponto surge o individualismo e o egoísmo, que para o
Dalai Lama é a origem de todos os problemas globais (GYATSO, 1992).
De acordo com Lopes de Sá “a consciência de grupo tem surgido,
então, quase sempre, mais por interesse de defesa do que por altruísmo. Isto
porque, garantia à liberdade de trabalho, se não se regular e tutelar a conduta, o
individualismo pode transformar a vida dos profissionais em reciprocidade de
agressão” (SÁ, 2001, p.111).
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A ética não é um código exterior convencional de preceitos humanos
que muda com o tempo, ou que depende de cada um ou da sociedade, mas é algo
interior, inseparável da própria pessoa. Da mesma maneira que ninguém dá a vida a
si próprio, igualmente não é dono e senhor da ética. A ética profissional representa o
desejo das classes profissionais conduzirem seus representantes nas diversas
interações dentro da sociedade, mas esta ordem de conduta será eficaz caso esteja
imbuída do agir ético.
2.1 O surgimento de uma profissão
“Profissão: Atividade ou ocupação especializada, e que supõe
determinado preparo” (FERREIRA, 1986, p.1.398).
Para que uma atividade seja uma profissão e, conseqüentemente, para
que haja uma ética profissional, são necessárias algumas condições, com
manifestações cada vez mais claras e sistematizadas. José Washington Coelho
expressa tais condições de forma sistemática, sendo estas abaixo detalhadas
(COELHO, 1990).
Primeiramente, a atividade deve desenvolver um conjunto de
operações cognitivas acompanhadas de grande responsabilidade individual; e não é
só uma tarefa imediata, mas sim, exige um pensar sobre o que se faz para operar
com eficiência, eficácia e efetividade; não basta contar com algo que está fora da
pessoa, como uma nota fiscal ou um microscópio, mas tem que vir uma decisão
intrínseca da pessoa. O agir de todos os profissionais, assim deve ser, como
professores, médicos, administradores, engenheiros, e outros.
Logo após, esta atividade necessita comportar um aprendizado
especial na área de seu conhecimento; este aprendizado tem que se embasar num
conjunto metódico e orgânico, que constantemente vai crescendo, evoluindo e se
aperfeiçoando, e quando necessário, até se modificando; neste ponto surge a
importância e a essencialidade de encontros científicos, seminários, experiências, e
outros.
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Qualquer profissão supõe uma formação que não seja acadêmica ou
teórica apenas, embora esta seja fundamental; deve, porém ser prática em seus
objetivos. Aqui surge o questionamento da essencialidade de diplomas ou
certificados para exercer uma determinada ocupação especializada. Esta é relevante
sob o aspecto da classe profissional que deseja exercer um controle sobre os seus
representantes, contudo do ponto de vista ético o necessário é o conhecimento do
indivíduo.
Toda profissão, ainda, deve consistir numa técnica capaz de ser
transmitida por meio de disciplina especializada. Disciplina tem com sentido um
conjunto de procedimentos, os quais incluem métodos e conteúdos, utilizando
técnicas da psicopedagogia e da didática para ministrar. O profissional não precisa
ser um professor em sua área de atividade, mas que a profissão seja possuidora de
meios para que a mesma seja comunicada.
Por último, toda profissão deve dispor de grupos organizados
adequados com atividades, obrigações e responsabilidades com consciência de
grupo. Tais organizações devem desenvolver nas pessoas uma razão para viver de
acordo com o princípio de solidariedade, reforçando o altruísmo do individuo dentro
de sua profissão; assim, as associações profissionais, os sindicatos, os conselhos
profissionais, são importantes para a ética, refletindo na formação da imagem da
profissão.
21
3. ÉTICA E OS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO SEXUAL
Questiona-se aqui sobre a ética de profissionais da educação, e,
mesmo, de um código para o exercício da profissão, no magistério, a ética e a moral
são assuntos que devem ser tratados com muita seriedade. A competência do
professor deve ser tratada não apenas como um dever de ofício, mas como uma
exigência ética e moral na sua atuação. São questionadas posturas antiéticas,
antipedagógicas e até imorais, não muito apropriadas para o magistério, assim como
princípios para um trabalho docente de qualidade e a tipologia dos professores.
Não cabe aqui definir o perfil ideal do educador apto a desenvolver um
trabalho de Educação Sexual na escola, mas mostrar como vem se constituindo
esse perfil, ou seja, o que os estudiosos dizem a esse respeito.
Conforme a literatura consultada (AQUINO, 1997; VITIELLO, 1997;
SUPLICY, 1999, et al), não existe uma exigência profissional específica para alguém
exercer o papel de orientador sexual. No entanto, os estudiosos acreditam que a
escolha mais adequada tem sido o próprio professor (a), de preferência aquele (a)
que tem maior empatia pelo aluno e que está em sintonia com a sua linguagem, de
tal forma que seja capaz de exercer autoridade com afetividade e não com
autoritarismo. É o professor que convive com seus alunos, muitas vezes
diariamente, que conhece a forma como vivem em grupo e seus conflitos.
Não é necessário que seja um professor de Ciências, pois se tratando
da sexualidade, o conhecimento do corpo é importante, mas insuficiente para
mudança de práticas e atitudes. Além disso, não garante que o professor de
Ciências tenha atitude e postura para ser um bom Educador Sexual.
O importante é que este professor (a) tenha abertura e receptividade
como os alunos e interesse pelo tema. É necessário, portanto, que o Educador (a)
ao trabalhar a Educação Sexual na escola tenha capacidade de rever sua postura e
seus conhecimentos constantemente.
22
O Educador Sexual é acima de tudo um educador que observa e reflete
para o grupo (alunos) as diversas opiniões para que cada indivíduo se torne capaz
de ser sujeito de seu desenvolvimento emocional e sexual.
VITIELLO (Ibid, p. 104), diz que:
O professor ideal é aquele que normalmente é o mais procurado pelos alunos para um conselho, ou um esclarecimento, qualquer que seja a disciplina que ele habitualmente ministre, pois, o simples fato de ser alvo de confiança dos jovens, já demonstra possuir credenciais que o capacitam para exercer a atividade de educador sexual devendo apenas ser adequadamente treinado. Deve ainda estar ele bem adequado com sua sexualidade, tendo a coragem de desafiar seus próprios tabus e preconceitos, reconhecendo suas próprias falhas.
Nesse sentido, o educador sexual “ideal” é aquele que está aberto para
questionamentos e predisposto a mudanças, a escutar o aluno, reconhecendo seus
limites, pois estes deverão ser encorajados a expressar suas idéias e opiniões sem
ter que dar depoimentos pessoais.
Tal visão assemelha-se a de RIBEIRO (1990, p. 33), quando faz o
seguinte comentário.
O orientador sexual, por sua vez, deverá ter uma formação específica e distinta, de maior duração, envolvendo aspectos desde conhecimentos teóricos a serem transmitidos, até a aquisição de atitudes positivas e sadias em relação à sexualidade, sua própria e de outrem, e da capacidade de tratar com naturalidade as questões que serão abordadas. E o critério de seleção indispensável é que o ‘candidato’ esteja interessado na temática e se sinta à vontade para falar de sexo.
Desse modo, as principais características do professor facilitador do
trabalho de Orientação Sexual são: disponibilidade em lidar com o assunto e o
compromisso de estar atualizado com as informações referentes à sexualidade, bem
como sobre os recursos a serem usados pelos alunos. O educador deve garantir o
respeito às diferenças, que é condição fundamental na viabilização do trabalho de
Orientação Sexual. Além disso, é preciso garantir a ética no trabalho por parte dos
alunos e do professor; bom senso; facilidade em dirigir dinâmica de grupo; desejo
por conhecimento do assunto; bom relacionamento com os alunos e tranqüilidade
em relação à sexualidade são algumas das condições necessárias ao orientador.
23
É com esse pensamento que SUPLICY (apud RIBEIRO, 1993, p. 33)
comenta:
O papel do educador não é de impor a conformidade a um determinado tipo de padrão de comportamento, mas sim o de proporcionar novos conhecimentos, estimular o questionamento do que se sabe e proporcionar o intercâmbio de opinião que levem às decisões individuais. O educador deve propiciar o crescimento através da busca da verdade. Se o educador se propuser a ensinar o “certo” e o “errado” ele se colocará na posição de dono da verdade.
Resumindo, qualquer professor (a) poderá exercer esse papel, desde
que tenha abertura receptiva para o grupo e interesse pelo tema, despertando e
encorajando o educando a buscar apoio quando necessário e a participar como
protagonista de sua própria história.
3.1. Abordagem do tema Educação Sexual na escola
Os professores encontram várias dificuldades ao abordar a temática da
Educação Sexual nas escolas; sendo a maior delas, a incompreensão dos pais
sobre o assunto. Contudo, a falta de conhecimento sobre a questão é um dos
fatores que dificultam a abordagem deste tema, pois o assunto é delicado, e estes
não estão preparados para tal.
A respeito disso NUNES e SILVA (2000) fazem o seguinte comentário:
“a omissão consciente, aquela que tem consciência de que não domina ou se possui
o instrumento para a educação sexual deve ser duramente questionada”.
Investir na formação dos educadores é uma das alternativas para que
se inclua a educação sexual nas escolas, conforme postulam os Parâmetros
Curriculares Nacionais. Entretanto, é importante ressaltar que a formação apenas
não basta, é preciso acima de tudo, que a iniciativa de se abordar a sexualidade na
escola, parta do próprio educador, pois não adiante este ter uma formação
adequada, se não se sente à vontade para discutir o assunto.
A incompreensão dos pais sobre o assunto também, destaca-se como
sendo uma das dificuldades mais acentuadas pelos professores frente ao trabalho
24
de educação Sexual nas instituições de ensino. Pelas oposições que podem gerar,
pela conflitualidade potencial, pela carga emocional que envolve, áreas como a
educação sexual deve ser particularmente acautelada. Entendemos ser
relativamente pacífico o consenso quando se entende que, pela impreparação de
grande parte das famílias, deve a escola assumir essas competências.
Pode-se dizer que essa atitude é resquício de uma sociedade
conservadora, machista, onde falar da sexualidade, ou de sexo, como diz o senso
comum, era assunto para ser abordado em “casa” muito sorrateiramente e de
preferência para os rapazes. Falar da sexualidade para as crianças, então, nem
pensar, pois os pais pensavam - e muitos ainda pensam assim - que as crianças não
estavam preparadas, era cedo demais, e caso a escola tentasse orientar, estaria
ensinando coisa feia, errada.
Esse tipo de atitude supõe-se ter duas razões de ser: ou os pais não
têm conhecimento sobre o assunto, ou estes não estão preparados para assumir o
ônus de orientar seus filhos. Então, sentem-se impotentes diante da atitude da
escola. Do contrário, esses pais que não aceitam que a escola assuma essa função,
ainda continuam pensando que podem manter seus filhos “puros”, livres das
manifestações da sexualidade.
Segundo NUNES e SILVA (Ibid, p. 118) “Muitos adultos reconhecem
sua incapacidade em enfrentar tais situações, mas tal reconhecimento, ainda que
meritório, se não for acompanhado por uma atitude de superá-lo como impedimento,
reduz-se somente a uma constatação inoperante”.
Com essa tabela enfim, tem-se a idéia de como os professores
pesquisados vêem a Orientação Sexual na escola. Os dados que nos foram
oferecidos só vieram confirmar o que grande parte dos educadores demonstrou ao
longo do questionário: a dificuldade de se trabalhar com a oralidade ou diálogo
referido ao tema, pois a maioria vê a palestra como, uma certa despreocupação, ou
quem sabe um certo “descompromisso”. Não se sabe se é por falta de despreparo
mesmo, ou por ser uma atitude mais fácil, ou quem sabe, essa é a concepção que
eles têm sobre Orientação Sexual.
GUIMARÃES (Ibid., p. 19) coloca que:
25
Há escolas que entendem que palestra sobre AIDS, sobre a menstruação e uso de absorventes ou qualquer outro item isolado, tratando de saúde sexual, já as definem como comprometidas com o trabalho de Educação Sexual, assim como outras que apenas fazem um atendimento pessoal, sigiloso com os alunos tipo ‘conversa com o diretor’, ‘contato com os pais’, quando surgem acompanhamento considerados inadequados.
Infelizmente a afirmação de GUIMARÃES só confirma o que se
observa em grande parte das escolas, que é a veiculação de informações vazias,
irrelevantes, esquecidas, deturpadas e, o que é pior, nefasta. Não se quer dizer com
isso que as informações dadas por um médico, ou por um psicólogo, por exemplo,
são informações erradas, mas o que acontece é que nem sempre estas são
significativas para os alunos. Como se trata de trabalhos informativos, sem espaço
para o aluno questionar, estabelecer juízo de valor, dialogar. No máximo o aluno
resolve algumas dúvidas, pois estes profissionais não têm, na maioria das vezes,
conhecimento prévio das demandas dos alunos.
A esse respeito SAYÃO (Ibid, p. 112) revela que: “Qualquer diálogo,
escrito ou face a face, que se tente entabular com os jovens [crianças] sem
reconhecer sua linguagem e o seu estilo, tende ao fracasso. Ele poderá até ‘curtir’,
como muitos dizem, mas o aproveitamento será igual ao de quando lê um texto
qualquer por pura obrigação, sem nenhum interesse pessoal”.
Além disso, ocorre uma confusão de conceitos. Confunde-se
“informação pura e simples” com “informações educativas”, calcadas na ciência. Em
uma palestra, por exemplo, ocorre a mera difusão de informações, muitas vezes
limitadas, na medida em que não há uma continuidade e conhecimento do contexto
da escola. Mas, o que a diferencia da informação educativa? Na informação
educativa há o reconhecimento do interlocutor a que se dirige a mensagem, ou seja,
o professor “conhece” seus alunos, sabem de suas ansiedades, dúvidas. O
médico/psicólogo, não.
Enfim, a amostra sondada apresenta respostas que favorecem um
estudo mais intenso, aprofundado para entender melhor o porquê da “omissão”, da
não inclusão da sexualidade na escola, pois não se sabe se é por falta de vontade
do próprio professor de se especializar, ou se é devido à “educação repressiva” que
26
tiveram. O fato é que muitos caminhos precisam ser desbravados para se entender
tal questão.
3.2. Proposta de Trabalho
Diante dos relatos feitos pelos professores, percebeu-se a necessidade
de elaborar “alternativas” de como os educadores devem proceder diante de um
tema tão atual, preocupante e necessário como é a abordagem da Orientação
Sexual na escola. Nesse sentido, apresentam-se algumas sugestões de como
introduzir e abordar a Orientação Sexual na escola.
Para refletir sobre essas questões, propõe-se como guia o trabalho de
Marta Suplicy et al, “Sexo se aprende na escola”. Nesta obra, a autora e os demais
dão algumas sugestões de como proceder diante de algumas questões que
surgirem na sala de aula sobre o referido tema. Além dos PCN’s e do guia de
Orientação Sexual.
Pelas “falas” dos sujeitos, percebeu-se que uma das dificuldades
encontradas por estes ao “abordarem a sexualidade na escola” está na
incompreensão dos pais, pois, como alguns “não têm conhecimento” sobre o tema,
acham que a escola está ensinando coisa feia, errada para os alunos. Então o que
fazer diante dessa situação?
De acordo com Suplicy, et al (Ibid, p. 37) a primeira providência que a
escola deve tomar ao implementar o trabalho de Orientação Sexual é promover uma
reunião com os que compõem a escola (o quadro funcional, a comunidade, na figura
do pai, os alunos...). Os pais devem tomar conhecimento do trabalho que vai ser
desenvolvido, quais os objetivos, pois cabe a estes “autorizarem” seus filhos a
participar desse trabalho.
É interessante, segundo a autora, que haja uma integração com a
proposta pedagógica geral, ou seja, a abordagem da sexualidade deve ser incluída
nas propostas do Projeto Político Pedagógico, no planejamento escolar, para que
todos tenham consciência de sua importância.
27
Quando os atores sociais implicados se inteirarem da proposta, devem-
se planejar as ações, definir os objetivos.
Como primeira atividade pedagógica, sugere-se que os professores
façam uma sondagem para saber e detectar quais as dúvidas mais acentuadas dos
alunos, que assunto foi mencionado, silenciado, com o intuito de identificar os
preconceitos, valores, tabus, entre outros. Para que se tenha uma base de como
proceder, por onde começar, para então estabelecer um plano de trabalho que
contemple os aspectos compilados segundo as concepções: biológicas, culturais
afetivos, emocionais e sociais.
É importante lembrar que a linguagem usada deve ser acessível à faixa
etária das crianças, para que estas possam entender o conteúdo transmitido. Além
disso, o professor deve aceitar as formas de a criança falar ou perguntar. Isso não
impede que ele use uma linguagem científica. Quanto às dúvidas, estas devem ser
esclarecidas com simplicidade, de forma direta. Nada de fantasias, perpetuada pelo
senso comum como: explicações através de metáforas (sementinha, cegonha...).
Em suma, o trabalho de Orientação Sexual deve contribuir para que os
alunos exerçam sua sexualidade com prazer, com o cuidar de si, com ética, com
respeito a si e ao outro, com responsabilidade.
Partindo dessa premissa, pergunta-se: mas que conteúdos devem ser
trabalhados? De acordo com os PCN’s, existem três eixos básicos que devem estar
contidos em todo e qualquer trabalho de Orientação Sexual, que são:
A intenção aqui não é definir o perfil ideal do educador apto a
desenvolver um trabalho de Orientação Sexual na escola, mas mostrar como vem se
constituindo esse perfil, ou seja, o que os estudiosos dizem a esse respeito.
Conforme a literatura consultada (AQUINO, 1997; VITIELLO, 1997;
SUPLICY, 1999, et al), não existe uma exigência profissional específica para alguém
exercer o papel de orientador sexual. No entanto, os estudiosos acreditam que a
escolha mais adequada tem sido o próprio professor (a), de preferência aquele (a)
que tem maior empatia pelo aluno e que está em sintonia com a sua linguagem, de
tal forma que seja capaz de exercer autoridade com afetividade e não com
28
autoritarismo. É o professor que convive com seus alunos, muitas vezes
diariamente, que conhece a forma como vivem em grupo, seus conflitos etc.
Não é necessário que seja um professor de Ciências, pois se tratando
da sexualidade, o conhecimento do corpo é importante, mas insuficiente para
mudança de práticas e atitudes. Além disso, não garante que o professor de
Ciências tenha atitude e postura para ser um bom Orientador Sexual.
O importante é que este professor (a) tenha abertura e receptividade
como os alunos e interesse pelo tema. É necessário, portanto, que o Educador (a)
ao trabalhar a Orientação Sexual na escola tenha capacidade de rever sua postura e
seus conhecimentos constantemente.
O Orientador Sexual é acima de tudo um educador que observa e
reflete para o grupo (alunos) as diversas opiniões para que cada indivíduo se torne
capaz de ser sujeito de seu desenvolvimento emocional e sexual.
VITIELLO (Ibid, p. 104), coloca que:
O professor ideal é aquele que normalmente é o mais procurado pelos alunos para um conselho, ou um esclarecimento, qualquer que seja a disciplina que ele habitualmente ministre, pois, o simples fato de ser alvo de confiança dos jovens, já demonstra possuir credenciais que o capacitam para exercer a atividade de educador sexual devendo apenas ser adequadamente treinado. Deve ainda estar ele bem adequado com sua sexualidade, tendo a coragem de desafiar seus próprios tabus e preconceitos, reconhecendo suas próprias falhas.
Nesse sentido, o orientador sexual “ideal” é aquele que está aberto
para questionamentos e predisposto a mudanças, a escutar o aluno, reconhecendo
seus limites, pois estes deverão ser encorajados a expressar suas idéias e opiniões
sem ter que dar depoimentos pessoais.
Tal visão assemelhasse a de RIBEIRO (1990, p. 33), quando faz o
seguinte comentário.
O orientador sexual, por sua vez, deverá ter uma formação específica e distinta, de maior duração, envolvendo aspectos desde conhecimentos teóricos a serem transmitidos, até a aquisição de atitudes positivas e sadias em relação à sexualidade, sua própria e de outrem, e da capacidade de tratar com naturalidade as questões que serão abordadas. E o critério de
29
seleção indispensável é que o ‘candidato’ esteja interessado na temática e se sinta à vontade para falar de sexo.
Desse modo, as principais características do professor facilitador do
trabalho de Orientação Sexual são: disponibilidade em lidar com o assunto e o
compromisso de estar atualizado com as informações referentes à sexualidade, bem
como sobre os recursos a serem usados pelos alunos. O educador deve garantir o
respeito às diferenças, que é condição fundamental na viabilização do trabalho de
Orientação Sexual. Além disso, é preciso garantir a ética no trabalho por parte dos
alunos e do professor; bom senso; facilidade em dirigir dinâmica de grupo; desejo
por conhecimento do assunto; bom relacionamento com os alunos e tranqüilidade
em relação à sexualidade são algumas das condições necessárias ao orientador.
É com esse pensamento que SUPLICY (apud RIBEIRO, 1993, p. 33)
comenta:
O papel do educador não é de impor a conformidade a um determinado tipo de padrão de comportamento, mas sim o de proporcionar novos conhecimentos, estimular o questionamento do que se sabe e proporcionar o intercâmbio de opinião que levem às decisões individuais. O educador deve propiciar o crescimento através da busca da verdade. Se o educador se propuser a ensinar o “certo” e o “errado” ele se colocará na posição de dono da verdade.
Em suma, qualquer professor (a) poderá exercer esse papel, desde
que tenha abertura receptiva para o grupo e interesse pelo tema, despertando e
encorajando o educando a buscar apoio quando necessário e a participar como
protagonista de sua própria história.
3.3 Como trabalhar a educação sexual
A necessidade de elaborar “alternativas” de como os educadores
devem proceder diante de um tema tão atual, preocupante e necessário como é a
abordagem da Educação Sexual na escola. Nesse sentido, apresentam-se algumas
sugestões de como introduzir e abordar a Educação Sexual na escola.
Para refletir sobre essas questões, propõe-se como guia o trabalho de
Marta Suplicy et al, “Sexo se aprende na escola”. Nesta obra, a autora e os demais
30
dão algumas sugestões de como proceder diante de algumas questões que
surgirem na sala de aula sobre o referido tema. Além dos PCN’s e do guia de
Educação Sexual.
Existem grandes dificuldades encontradas pelos professores ao
“abordarem a sexualidade na escola” principalmente pela incompreensão dos pais,
pois, como alguns “não têm conhecimento” sobre o tema, acham que a escola está
ensinando coisa feia, errada para os alunos.
De acordo com Suplicy, et al (Ibid, p. 37) a primeira providência que a
escola deve tomar ao implementar o trabalho de Educação Sexual é promover uma
reunião com os que compõem a escola (o quadro funcional, a comunidade, na figura
do pai, os alunos...). Os pais devem tomar conhecimento do trabalho que vai ser
desenvolvido, quais os objetivos, pois cabe a estes “autorizarem” seus filhos a
participar desse trabalho.
Segundo a autora, é interessante que haja uma integração com a
proposta pedagógica geral, ou seja, a abordagem da sexualidade deve ser incluída
nas propostas do Projeto Político Pedagógico, no planejamento escolar, para que
todos tenham consciência de sua importância.
Quando os atores sociais implicados se inteirarem da proposta, deve-
se planejar as ações, definir os objetivos.
Como primeira atividade pedagógica, sugere-se que os professores
façam uma sondagem para saber e detectar quais as dúvidas mais acentuadas dos
alunos, que assunto foi mencionado, silenciado, com o intuito de identificar os
preconceitos, valores, tabus, entre outros. Para que se tenha uma base de como
proceder, por onde começar, para então estabelecer um plano de trabalho que
contemple os aspectos compilados segundo as concepções: biológicas, culturais
afetivos, emocionais e sociais.
É importante lembrar que a linguagem usada deve ser acessível à faixa
etária das crianças, para que estas possam entender o conteúdo transmitido. Além
disso, o professor deve aceitar as formas de a criança falar ou perguntar. Isso não
impede que ele use uma linguagem científica. Quanto às dúvidas, estas devem ser
31
esclarecidas com simplicidade, de forma direta. O objetivo da Educação Sexual é
contribuir para que os alunos exerçam sua sexualidade com prazer, com o cuidar de
si, com ética, com respeito a si e ao outro, com responsabilidade.
Os conteúdos que devem ser trabalhados, será de acordo com os
PCN’s, e existem três eixos básicos que devem estar contidos em todo e qualquer
trabalho de Educação Sexual:
3.4. Corpo: matriz da sexualidade.
O conceito de corpo deve ser entendido como um todo integrado e
incluir, além de sua anatomia e funcionamento, emoções, sensações de prazer,
desprazer, sentimentos, ou seja, as dimensões biológicas, psicológicas, políticas e
sociais. Assim, devem-se abordar os seguintes temas:
• As transformações do corpo do homem e da mulher nas
diferentes fases da vida;
• a concepção, a gravidez, o parto e os métodos contraceptivos;
• as mudanças na puberdade: amadurecimento das funções
sexuais e reprodutivas; o aparecimento dos caracteres sexuais secundários;
variações de idade em que se inicia a puberdade; transformações que
decorrem do crescimento físico acelerado;
• o respeito ao próprio corpo e ao corpo do outro, o respeito aos
colegas que apresentam desenvolvimento físico e emocional diferentes;
• fortalecimento da auto-estima;
• tranqüilidade em relação a vivenciar a sexualidade.
3.5. Relações de Gênero
Esse conceito diz respeito ao conjunto das representações sociais,
construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Dentro desse tema, podem-se
trabalhar as seguintes questões:
• a análise do comportamento de homens e mulheres em épocas
e locais diferentes;
• concepções sobre o masculino e o feminino;
32
• respeito pelo outro sexo, na figura das pessoas com as quais se
convive;
• respeito às várias expressões do masculino e do feminino.
3.6. Prevenção às DSTs/AIDS
Enfocando a prevenção, enfatizando a distinção entre as formas de
contato que envolve risco de contágio e aquelas inofensivas. Pode-se trabalhar
nesse estudo as seguintes questões:
• conhecimento da existência de doenças sexualmente
transmissíveis;
• as formas de contato que propiciam contágio e as que não
envolvem riscos;
• a divulgação de informações sobre a AIDS; prevenção e vias de
transmissão;
• procedimentos necessários em situações de acidentes ou
ferimentos que possibilitem o contato sangüíneo;
• respeito e solidariedade nas relações com os portadores do
vírus HIV e os doentes de AIDS.
Além desses três eixos básicos, o Guia de Orientação Sexual orienta
que devem ser incluídos outros temas igualmente significativos, tais, como:
a) a masturbação;
b) a família;
c) o amor;
d) o namoro;
e) os valores;
f) o aborto;
g) o homossexualismo;
h) o abuso sexual, etc.
Os temas são flexíveis, podendo ou não, serem abordados,
dependendo da necessidade da turma. Além disso, no trabalho de Educação sexual
– como já se fez referência anteriormente – deve-se levar sempre em consideração
33
a idade do educando e o grau de conhecimento deste, pois as questões devem ser
abordadas dentro do grau de interesse e das possibilidades de compreensão própria
para cada idade.
Outro ponto que precisa ser esclarecido, é que não existe, como já foi
dito antes, uma idade “certa”, “ideal” para se iniciar o trabalho de Educação Sexual.
Corroborando o pensamento de LIMA (Ibid, p. 5) “Não existe uma idade
ideal para o trabalho de Educação Sexual.” Segundo a mesma, “se o espaço for a
escola, a Orientação Sexual deve acontecer desde sempre.”
Como todo e qualquer processo educativo, o trabalho de Educação
Sexual deve ter como base a pesquisa. É importante que antes de tudo ocorra uma
intervenção por parte dos professores, ou seja, que estes formem grupos de estudo,
discutam, exponham suas dúvidas, seus limites, tabus. Como eixo central, sugere-se
que se discuta a proposta dos PCN’s, pois são eles que devem nortear as ações.
Esse é o que se julga ser o alicerce de uma proposta de Educação
Sexual a ser implantada na escola. Cabe a cada educador retirar ou melhorar os
pontos acima elencados, de acordo com sua clientela. Cada educador deverá
encontrar formas próprias e criativas de trabalhar.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Indivíduo não pode ser adestrado para se tornar ético, pois a ética é fruto
da consciência do homem para com o homem em sua capacidade de olhar o Outro
sem juízos de valor. Deve haver um equilíbrio dinâmico entre a compaixão e a
sabedoria, uma harmonia que produzirá efeitos mais adequados e abrangentes na
prática da ética, sem com isso excluir o senso crítico e uma visão profunda da
realidade que envolve a todos. Não é a prática das virtudes que conduz à ética, mas
sim, a ética quando exteriorizada que produz os atos virtuosos, de tal forma que a
humanidade deve ser incentivada à compaixão e não coagida pela pura intelecção
racional e especulativa que teoriza o homem como ser da práxis.
Reviver a vontade de buscar caminhos para que a ética seja realmente
aplicada, mas não pela imposição, e, sim, pela consciência de sua importância. O
ensejar desta consciência inicia-se dentro da sociedade na exteriorização das
virtudes, proporcionando uma maior atenção para com o Outro. Dentro desta visão a
educação tem importante papel, não como um processo em que a ética é ensinada
e absorvida, mas, sim, como algo inato ao homem, necessitando apenas que seja
vivenciada em sua plenitude. Neste processo construtivo da educação ética, agindo
de forma a analisar, criticar, implementar e propor mudanças que gerem nos
profissionais o anseio do agir ético, tornando-os multiplicadores desta consciência.
Diante do despreparo crônico para lidar com as manifestações da
sexualidade da criança, cursos de formação de professores que incluam em seus
currículos a discussão sobre a sexualidade, pois os alunos não podem ficar à mercê
de informações infundadas, vazias, distorcidas. Faz-se necessário, portanto, investir
na formação desses profissionais e, de todos que convivem com os alunos. Urge
que a escola venha ajudar o aluno desde cedo a enfrentar e lidar de forma saudável
e equilibrada com as manifestações sexuais próprias da sua idade. E para isso é
necessário que os profissionais em educação sexual, com competência ética e
moral, percebam que o seu papel é fundamental para os alunos, fornecendo-lhes
informações claras e objetivas.
35
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