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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DOUTORADO EM EDUCAO

TEFILO ALVES GALVO FILHO

Tecnologia Assistiva para uma Escola Inclusiva: Apropriao, Demandas e Perspectivas

Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obteno do grau de Doutor em Educao.

Orientadora: Profa. Dra. Theresinha Guimares Miranda

SALVADOR - BAHIA 2009

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UFBA / Faculdade de Educao Biblioteca Ansio Teixeira G182 Galvo Filho, Tefilo Alves. Tecnologia assistiva para uma escola inclusiva [recurso eletrnico] : apropriao, demanda e perspectivas / Tefilo Alves Galvo Filho. 2009. 1 CD-ROM ; 4 pol. Orientadora: Profa. Dra. Theresinha Guimares Miranda. Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educao, 2009. 1. Tecnologia educacional. 2. Educao inclusiva. 3. Estudantes deficientes. 4. Aprendizagem. I. Miranda, Theresinha Guimares. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educao. III. Ttulo. CDD 371.334 - 22 ed.

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TERMO DE APROVAO

TEFILO ALVES GALVO FILHO

Tecnologia Assistiva para uma Escola Inclusiva: Apropriao, Demandas e PerspectivasTese aprovada como requisito parcial para a obteno do grau de Doutor em Educao, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: Dora Leal Rosa _______________________________________________Doutora em Educao, Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia

Eduardo Jos Manzini _________________________________________Doutor em Psicologia, Universidade de So Paulo Universidade Estadual Paulista UNESP/Marlia

Maria Helena Silveira Bonilla ____________________________________Doutora em Educao, Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia

Miguel Angel Garcia Bordas _____________________________________Doutor em Filosofia, Universidad Complutense de Madrid Universidade Federal da Bahia

Susana Couto Pimentel _________________________________________Doutora em Educao, Universidade Federal da Bahia Universidade Federal do Recncavo da Bahia

Theresinha Guimares Miranda - Orientador ________________________Doutora em Educao, Universidade de So Paulo Universidade Federal da Bahia

Salvador, 03 de maro de 2009

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Dividindo e aliviando em mim o peso da viagem, o Dom de Deus, pelo qual agradeo sem cessar, disps em minha vida da cumplicidade e da ternura irrestrita dos meus filhos e da minha esposa, a quem dedico este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeo minha orientadora, Profa. Dra. Theresinha Guimares Miranda, por seu acompanhamento responsvel e competente, sempre permeado de uma sensibilidade que confia, incentiva e transborda amizade.

Aos alunos e colegas do Programa InfoEsp, "Informtica, Educao e Necessidades Especiais", do Centro de Reabilitao e Preveno de Deficincias (CRPD) das Obras Sociais Irm Dulce, e aos moradores desse Centro, pelas partilhas, novas descobertas e momentos de amizade, vivenciados juntos ao longo dos ltimos dezenove anos, assim como aos demais funcionrios e lderes da instituio que apoiaram o trabalho.

A todas as pessoas envolvidas na coleta de dados desta pesquisa, pela abertura, boa vontade e colaborao.

Aos professores, funcionrios e colegas do Programa de Ps-Graduao em Educao, da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia, pelas ajudas, intercmbios e reflexes partilhadas.

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RESUMONum mundo em profundas e aceleradas transformaes, a Tecnologia Assistiva emerge como uma rea do conhecimento e de pesquisa que tem se revelado como um importante horizonte de novas possibilidades para a autonomia e incluso social dos alunos com deficincia. Na busca de entender e discutir como a instituio Escola tem percebido e vivenciado essas possibilidades em suas prticas e processos, principalmente os relacionados com a Educao Inclusiva, esta pesquisa estudou, atravs de uma abordagem de Estudo de Caso, o processo de apropriao e uso da Tecnologia Assistiva por escolas pblicas de Ensino Bsico do municpio de Salvador, Bahia, tecnologia essa necessria para a incluso de alunos com deficincia em suas salas de aula. O estudo foi operacionalizado por meio de entrevistas realizadas em quatro escolas com os profissionais que vivenciam e gerenciam mais diretamente essas realidades, que so os seus gestores, professores, coordenadores pedaggicos e os responsveis por Salas de Recursos. Nesse sentido, a pesquisa fundamentou-se no pensamento de Bronfenbrenner sobre o modelo ecolgico de desenvolvimento, e tambm na perspectiva scio-histrica proposta por Vygotsky, mais particularmente nos seus Fundamentos de Defectologia, alm do suporte terico sobre Educao Inclusiva encontrado em autores como Mantoan, Baptista, Miranda, Manzini, Rodrigues e outros, e sobre a relao das Tecnologias de Informao e Comunicao com a educao, encontrada em Lvy, Papert, Silva, Pretto, Bonilla e outros. Como resultados da pesquisa, destacam-se, alm da constatao dos avanos e conquistas verificados no processo de apropriao da Tecnologia Assistiva pelas escolas estudadas, tambm, e majoritariamente, as dificuldades e obstculos encontrados nesse processo pelos profissionais entrevistados, juntamente com as demandas desses profissionais por aes mais efetivas das gestes centrais das redes educacionais pblicas s quais pertencem, e por polticas pblicas consistentes e sistemticas que favoream uma maior agilidade e eficcia no processo de apropriao e uso da Tecnologia Assistiva necessria para a incluso escolar de alunos com deficincia. Foi possvel detectar e analisar, tambm, as contradies existentes entre o paradigma educacional tradicional hegemnico nas escolas e os princpios da Educao Inclusiva, contradies essas percebidas como desestruturadoras dos processos de apropriao e uso da Tecnologia Assistiva por essas escolas. A partir dos dados obtidos, analisados e discutidos, so apresentadas possibilidades concretas de novos horizontes, perspectivas e polticas pblicas que favoream e viabilizem o avano nesses processos, tal como a implantao de Centros de Referncia em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, e a construo de ambientes telemticos de aprendizagem favorecedores de prticas educacionais escolares mais inclusivas e compatveis com as necessidades da sociedade contempornea. Palavras-chave: Educao Inclusiva, Tecnologia Assistiva, Alunos com deficincia, Aprendizagem escolar.

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ABSTRACT

In a deeply changing world, Assistive Technology emerges as a knowledge and research area which has shown an important horizon of new possibilities of autonomy and social inclusion to students with disabilities. In order to understand and discuss how the school as an institution has noticed and experienced those possibilities in its practices and processes, maily the ones related to inclusive education, this work analyzed through a case study research the appropiation and use of Assistive Technology, which is needed to the inclusion of students with disabilities in classroom, in elementary public schools in Salvador, Bahia. This study was developed, in four schools, through accounts of professionals such as directors, teachers, coordinators and supervisors who experienced and managed directly those realities. Therefore, this study was based on Bronfenbrenners Ecological Model of development theory and Vygotskys Social-Historical Theory, mainly on his Defectology Fundaments. Also, theoretical support about inclusive education found on authors such as Mantoan, Baptista, Miranda, Manzini, Rodrigues and others, and the relation between informational and communicational technologies and education found on Lvy, Silva, Gomez, Pretto, Bonilla and others. As a result, we could observe the advances and achivements in the process of assistive technology appropriation at the schools analyzed as well as, and principally, the difficults and obstacles found in the process by the professionals enterviewed and also their demands for more effective actions from the public educational secretaries which they belong to and consistent and systematic public policies which favor agility and effectiveness in the process of appropriation and use of assistive technology that is needed to the inclusion of students with disabilities. It was also possible to detect the existing contradictions between the traditional and hegemonic educational paradigm in the schools and the principles of inclusive education. These contradictions were observed as disturbing factors of the assistive technology process in the schools. Based on obtained, analyzed and discussed datas, concrete possibilities of new horizons, perspectives and public policies are showed in order to favor and make possible the advance of process, such as the implementation of assistive technology and accessibility of reference centers, and the construction of telematic learning ambients which favor educational practices more inclusive and compatible to the contemporary societys needs.

Key words: Inclusive Education, Assistive Technology, Students with disabilities, School learning.

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SUMRIO

Lista de Figuras ............................................................................................................

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1. Introduo ................................................................................................................

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2. A Educao Escolar para uma Sociedade do Conhecimento ...............................

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2.1. As Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) ........................................... 2.2. A Sociedade do Conhecimento: Novas Relaes com o Saber e o Aprender ........ 2.3. O Papel Social da Escola Frente s Novas Demandas do Mundo de Hoje ............. 2.4. Uma Escola Dialgica, Aprendente e Inclusiva ..................................................... 2.4.1. Dilogo com a Sociedade e com o Aprendiz .................................................. 2.4.2. Uma Escola em Movimento e Aprendente ..................................................... 2.4.3. A Diversidade Humana Valorizada na Escola Inclusiva ................................

39 42 56 78 80 83 84

3. A Pessoa com Deficincia: da Invisibilidade Incluso Social ............................

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3.1. Os Diferentes Perodos na Histria ......................................................................... 3.2. O Paradigma Inclusivo ............................................................................................ 3.3. A Implicao dos Contextos Sociais nos Processos Inclusivos ..............................

87 92 106

4. A Tecnologia Assistiva para a Incluso Escolar e Social da Pessoa com Deficincia .....................................................................................................................

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4.1. A Tecnologia Assistiva na Mediao dos Processos Inclusivos ............................. 4.2. Conceituao, Classificao e Trajetria ................................................................ 4.3. Os Servios de Tecnologia Assistiva ...................................................................... 4.4. Os Produtos de Tecnologia Assistiva .....................................................................

115 127 150 156

9 4.4.1. Produtos de Tecnologia Assistiva No Relacionados s TIC ......................... 4.4.2. Produtos de Tecnologia Assistiva Relacionados s TIC ................................. 4.4.2.1. Adaptaes Fsicas ou rteses ............................................................... 4.4.2.2. Adaptaes de Hardware ....................................................................... 4.4.2.3. Softwares Especiais de Acessibilidade .................................................. 4.4.2.4. Acionadores (Switches) ......................................................................... 4.4.2.5. Acessibilidade WEB .............................................................................. 158 169 175 179 187 209 213

5. Trajetria Metodolgica ..........................................................................................

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5.1. O Problema e os Objetivos da Pesquisa .................................................................. 5.2. Abordagem Metodolgica ...................................................................................... 5.3. O Campo de Estudo ................................................................................................ 5.4. Caracterizao das Escolas ..................................................................................... 5.5. As Entrevistas Realizadas e os Dados Complementares ........................................

219 221 223 227 230

6. Analisando a Realidade Encontrada e Inferindo Possibilidades .........................

234

6.1. Apropriao da Tecnologia Assistiva pelas Escolas Estudadas ............................. 6.1.1. O Aluno com Deficincia: Transio da Invisibilidade para a Convivncia .. 6.1.2. Surgem as Primeiras Idias: da Convivncia Busca de Solues ................ 6.1.3. Da Busca de Solues Efetiva Apropriao da Tecnologia Assistiva ......... 6.1.3.1. Os Primeiros Passos da Apropriao da Tecnologia Assistiva .............. 6.1.3.2. As Escolas Regulares Especializadas em Apenas Uma Deficincia ..... 6.1.3.3. O Funcionamento das Salas de Recursos ............................................... 6.1.3.4. Os Especialistas Dentro da Escola Inclusiva: cuidados necessrios .. 6.1.3.5. A Tecnologia Assistiva Fora das Salas de Recursos ............................. 6.2. As Demandas das Escolas Estudadas Referentes Tecnologia Assistiva .............. 6.2.1. Dificuldades para Formular Demandas .......................................................... 6.2.2. As Demandas Concretas de Tecnologia Assistiva .......................................... 6.2.2.1. Demandas de Recursos para a Acessibilidade Fsica ............................ 6.2.2.2. Demandas de Tecnologia Assistiva Relacionadas ao Computador ....... 6.2.2.3. Demandas No Relacionadas ao Uso do Computador .......................... 6.2.2.4. Demandas de Apoios Humanos como Suporte de Acessibilidade ........ 6.2.2.5. Demandas de Formao, Suporte, Servios e Polticas Pblicas de Tecnologia Assistiva ........................................................................................... 6.2.2.6. Estruturas de Apoio: a Implantao de Centros de Referncia em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade ................................................................

237 238 244 253 253 255 259 270 273 279 280 284 285 287 292 293 296 304

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6.3. Os Paradigmas Educacionais e a Apropriao da Tecnologia Assistiva ................ 6.3.1. Caractersticas Desestruturadoras do Paradigma Tradicional em Relao Apropriao da Tecnologia Assistiva ....................................................................... 6.3.2. Percepo de Novas Possibilidades e de Novos Paradigmas .......................... 6.3.2.1. Aprendizagem com os Projetos de Trabalho ......................................... 6.3.2.2. Os Projetos Telemticos ........................................................................

309 309 319 321 324

Consideraes Finais ...................................................................................................

330

Referncias ....................................................................................................................

335

Apndice ........................................................................................................................

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Lista de Figuras

Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05 Figura 06 Figura 07 Figura 08 Figura 09 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21

Suporte para texto ou livro: http://www.infoesp.net/ Escova de dentes com adaptao para preenso: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Tesoura com mola para abertura automtica e adaptao para fixar na mo: http://www.mnsuprimentos.com.br Adaptao para facilitar a preenso do telefone: http://www.mnsuprimentos.com.br Adaptao para colher e prato: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Garfo com adaptao para fixar na mo: http://www.expansao.com Talheres adaptados para facilitar a preenso: http://www.mnsuprimentos.com.br Garfo e colher adaptados com engrosadores: http://www.mnsuprimentos.com.br Copo com adaptao para preenso: http://www.unicap.br/TO/html/fotos.html Aluno escrevendo utilizando estabilizador de punho e adaptao para lpis: http://www.expansao.com Lpis de cera com suporte para fixao em rtese de mo da Figura 10: http://www.expansao.com Pincel com suporte para fixao em rtese de mo da Figura 10: http://www.expansao.com Adaptao para fixao de lpis na mo: http://www.expansao.com Rgua adaptada para facilitar a sua preenso estvel: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/rec_adaptados.pdf Aluno utilizando rgua e lpis adaptados: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Engrossadores de espuma para diferentes objetos: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf Recursos para adaptao da empunhadura de lpis e canetas: http://www.mnsuprimentos.com.br Bengala dobrvel: http://www.tecnologia-assistiva.org.br/ Lupa eletrnica: SONZA, 2008, p. 48 Lupa circular: http://www.mnsuprimentos.com.br Lupa horizontal em formato de rgua: http://www.mnsuprimentos.com.br

129 159 159 159 160 160 160 160 160 161 161 161 161 162 162 162 162 163 163 163 163

12 Tapete com diferentes texturas para utilizao na escola: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Alfabeto Braille em carto com bolas de madeira coladas: http://www.tecnologiaassistiva.net/ Abdutor de joelhos: http://www.mnsuprimentos.com.br Almofada de segurana: http://www.mnsuprimentos.com.br Almofada giratria: http://www.mnsuprimentos.com.br Dispositivo para calar meias: http://www.mnsuprimentos.com.br Dispositivo para abotoar roupas: http://www.mnsuprimentos.com.br Prancha de plstico ou acrlico, acoplada cadeira de rodas: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/rec_adaptados.pdf Mesa com abas de madeira, facilitando a manipulao de objetos: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/rec_adaptados.pdf Carteira imantada: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Prancha de comunicao impressa e fixada em prancheta: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf Livro plastificado, com figuras para comunicao: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Figuras avulsas para comunicao, apoiadas na mesa: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf Diferentes pranchas de comunicao impressas: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf Balano para cadeira de rodas: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Gangorra com cinto de segurana: http://www.itsbrasil.org.br/pages/23/TecnoAssistiva.pdf Brinquedo com acionador de presso pequeno: http://www.tecnologiaassistiva.net/ Brinquedo com acionador Tash: http://www2.uepa.br/nedeta/ Recurso para apoiar cartas, com figuras ampliadas: http://www.mnsuprimentos.com.br Utilizando software Plaphoons, para construo de pranchas de comunicao: http://www.lagares.org/ Tela computadorizada porttil, para comunicao alternativa: http://www.lagares.org/ Sistema Domtico, para controle domstico: http://www.robmotica.cl/index/images/img/esquema_domotica.jpg Painel de controle de um Sistema Domtico: http://saraquintanam.blogspot.com/

Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Figura 31 Figura 32 Figura 33 Figura 34 Figura 35 Figura 36 Figura 37 Figura 38 Figura 39 Figura 40 Figura 41 Figura 42 Figura 43 Figura 44

164 164 164 164 165 165 165 166 166 166 167 167 167 167 168 168 168 168 169 172 172 172 172

13 As TIC em ambientes de aprendizagem: http://www.infoesp.net/ Aluna com deficincia aprendendo no computador: http://www.clik.com.br/intelli_01.html Desenvolvendo atividade profissional no computador: http://veja.abril.com.br/111198/p_140.html Trabalhando com o computador utilizando adaptaes: http://veja.abril.com.br/111198/p_140.html Posicionamento na cadeira de rodas, para o mouse: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. Prancha de madeira e almofadas: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. Pulseira de pesos em tecido: http://www.infoesp.net/ Aluno com pulseira: http://www.infoesp.net/ Pulseira de pesos em material plastificado: http://www.infoesp.net/ Estabilizador de punho e abdutor de polegar: http://www.infoesp.net/ Com ponteira para digitao: http://www.infoesp.net/ Adaptao para digitao: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. Adaptao artesanal para uso do mouse: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. rtese para digitao: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. Detalhe de rtese: WATANABE, M. K. F.; TSUKIMOTO, D. R.; TSUKIMOTO, G. R., 2002. Haste fixada na cabea para digitao: http://www.expansao.com Mscara de teclado encaixada no mesmo: http://www.infoesp.net/ Mscara de teclado sobreposta ao mesmo: http://www.infoesp.net/ Mscara de teclado com poucas teclas expostas: http://www.infoesp.net/ Teclado com mscara coberta: http://www.infoesp.net/ Posicionamento do mouse no colo do aluno: http://www.infoesp.net/ Teclado com alterao na inclinao e fixado mesa: http://www.infoesp.net/

Figura 45 Figura 46 Figura 47 Figura 48 Figura 49 Figura 50 Figura 51 Figura 52 Figura 53 Figura 54 Figura 55 Figura 56 Figura 57 Figura 58 Figura 59 Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63 Figura 64 Figura 65 Figura 66

173 173 174 174 176 176 176 176 177 177 177 178 178 178 178 179 180 180 181 181 182 182

14 Teclado reposicionado para digitao com o p: http://www.infoesp.net/ Roller Mouse: http://www.tecnologiaassistiva.net/ Mouse especial: http://www.clik.com.br/clik_01.html Teclado especial para utilizao com uma nica mo: http://www.tecnum.net/teclados.htm Teclado especial configurvel, com diferentes opes de caracteres e conceitos: http://www.clik.com.br/clik_01.html Linha Braille: SONZA, 2008, p. 51 Adesivos para destaque dos caracteres do teclado: http://www.infoesp.net/ Braille Lite: SONZA, 2008, p. 51 Braille Falado: SONZA, 2008, p. 50 Diagrama com a dinmica de funcionamento do dispositivo: http://www.fpf.br/cont.php?modulo=hardware&op=voz O equipamento em uso: http://www.fpf.br/cont.php?modulo=hardware&op=voz Software espanhol Teclat, de Jordi Lagares: Acervo pessoal Teclado Amigo, da UFRJ, com editor de textos prprio: Acervo pessoal Simulador de Mouse Rata Plaphoons: http://www.lagares.org/ O microfone fixado cabea: http://www.infoesp.net/ Todos os perifricos so reposicionados para facilitar o trabalho: http://www.infoesp.net/ Comandando o computador com sopros no microfone: http://www.infoesp.net/ Software HeadDev: http://fundacion.vodafone.es/ Software Camera Mouse: http://www.cameramouse.org/ Utilizando o Mouse Ocular: http://www.fpf.br/cont.php?modulo=hardware&op=mouse Sistema Eagle Eyes: http://www.bc.edu/schools/csom/eagleeyes/ Lente de aumento do Windows: Acervo pessoal

Figura 67 Figura 68 Figura 69 Figura 70 Figura 71 Figura 72 Figura 73 Figura 74 Figura 75 Figura 76 Figura 77 Figura 78 Figura 79 Figura 80 Figura 81 Figura 82 Figura 83 Figura 84 Figura 85 Figura 86 Figura 87 Figura 88

182 184 184 184 184 185 185 185 185 186 187 192 193 194 195 195 195 196 197 198 198 199

15 Tela com cones ampliados por software de ampliao: Acervo pessoal Tela inicial do Jaws: SONZA, 2008, p. 62 Software DOSVOX: SONZA, 2008, p. 58 Interface do software Dspeech: Acervo pessoal Exemplo de prancha de comunicao do software Plaphoons: http://www.lagares.org/ Aluno trabalhando com slabas, no software Plaphoons: http://www.lagares.org/ Tela do Dicionrio de LIBRAS Ilustrado: Acervo pessoal Tela com o Player Ryben em funcionamento: Acervo pessoal Preditor de Texto Eugnio: Acervo pessoal Softwares MicroFenix e Falador da UFRJ: Acervo pessoal Acionador de Presso: http://www.clik.com.br/clik_01.html Acionador de Trao; http://www.clik.com.br/clik_01.html Microfone com brinquedo de presso acoplado: http://www.infoesp.net/ Dispositivo em uso atravs de presso com a mo: http://www.infoesp.net/ Mouse adaptado com plug: http://www.infoesp.net/ Acionador confeccionado com boto liga/desliga de computador: http://www.infoesp.net/ Switches para acionamento com a cabea, feito com boto grande de sucata: http://www.infoesp.net/ Caixa de fita VHS com mouse no interior: http://www.infoesp.net/ Viso frontal do dispositivo em uso: http://www.infoesp.net/ Viso posterior do dispositivo: http://www.infoesp.net/

Figura 89 Figura 90 Figura 91 Figura 92 Figura 93 Figura 94 Figura 95 Figura 96 Figura 97 Figura 98 Figura 99 Figura 100 Figura 101 Figura 102 Figura 103 Figura 104 Figura 105 Figura 106 Figura 107 Figura 108

200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 210 211 211 212 212 212 213 213 213

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1. Introduo

As realidades referentes pessoa com deficincia ainda so bastante desconhecidas da populao em geral. Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), 10% da populao mundial composta de pessoas com algum tipo de deficincia. No Brasil, esse nmero salta para 14,5% da populao nacional, em torno de 27 milhes de brasileiros nos dias de hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2008), sendo que a maior proporo se encontra no Nordeste (16,8%) e a menor, no Sudeste (13,1%). Uma grande parcela dessa populao vive realidades de graves carncias sociais, como baixa renda e baixo nvel de escolarizao, o que s potencializa as dificuldades dessas pessoas, em funo das barreiras, preconceitos, desigualdades e desinformao, conforme vem sendo detectado e alertado por diferentes organizaes de defesa dos direitos da pessoa com deficincia.[...]a questo da deficincia atinge, indiretamente, 73,8 milhes de pessoas, o que representa 43,44% do total de brasileiros. So parentes e amigos que se dedicam a ajudar os portadores de deficincia nas atividades do dia a dia. Esse percentual no engloba o nmero de os profissionais que atuam no atendimento dessa parcela da populao. [...] colocar a legislao em prtica significa proporcionar melhor qualidade de vida no somente para as pessoas portadoras de deficincia fsica, mas tambm para aquelas que prestam algum tipo de auxlio a elas. (REDE SACI, 2004a).

Como alerta Sassaki:No Brasil, a grande maioria dos 17 milhes (24,6 milhes, segundo o Censo 2000) de pessoas com deficincia tem sido excluda de todos os setores da sociedade, sendo-lhes negado o acesso aos principais benefcios, bens e oportunidades disponveis s outras pessoas em vrios tipos de atividades, tais como educao, sade, mercado de trabalho, lazer, desporte, turismo, artes e cultura. Esta afirmao, que se apresenta

17como uma denncia, consta em vrios documentos, moes, relatrios, palestras, etc. (SASSAKI, 2004)

Embora o Brasil disponha de uma legislao relativa aos direitos da pessoa com deficincia considerada avanada internacionalmente, e a sociedade atual venha se tornando mais permevel diversidade, ao pluralismo de realidades, tudo isso ainda no tem se refletido em significativos avanos reais, em considerveis iniciativas concretas, a ponto de diminuir de forma sensvel as desigualdades nas oportunidades e no acesso aos benefcios sociais, para essas pessoas. Primeiramente, pelo fato de que todos esses avanos e descobertas citados anteriormente sejam ainda inacessveis a grande maioria das pessoas que delas poderiam beneficiar-se. Por diferentes motivos, apenas uma minoria tem tido acesso a tudo isso, em nosso pas. Alm disso, uma verdadeira incluso social da pessoa com deficincia e seu acesso a todos os recursos, possibilidades e oportunidades disponveis em nossa sociedade para todos os cidados, depende de diferentes fatores e solues que no esto sendo estudados e viabilizados com a amplitude, velocidade e profundidade necessrias. No mbito educacional, embora seja crescente uma tomada de conscincia social que aponta para a ineludvel necessidade da incluso de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, os nmeros sugerem uma realidade bem diferente, evidenciando que a segregao, ou a excluso, ainda so a tnica. Por exemplo, pesquisas mostram que 21,6% das pessoas com deficincia no Brasil nunca freqentaram uma escola (FGV, 2003). Embora proliferem hoje documentos oficiais, orientaes e dispositivos legais que determinam que nenhuma escola possa, diferentemente de alguns anos atrs, recusar a matrcula de um aluno com deficincia, so constantes as reclamaes

18 e crticas, encontradas tambm em literatura especializada e at na mdia, tanto de professores e dirigentes escolares que argumentam no estarem preparados para trabalhar com alunos com deficincia, quanto de pessoas com deficincia que reclamam por encontrarem com freqncia escolas que ainda as excluem, de forma aberta ou implcita, por no disponibilizarem espaos acessveis, recursos e metodologias que efetivamente respondam s especificidades de suas necessidades. Em relao ao mundo do trabalho, da profissionalizao e desempenho de atividades laborais, as dificuldades no so menores. Se, por um lado, foi promulgada a chamada Lei de Cotas, o Decreto 3298 de 1999, que obriga as empresas com mais de 100 funcionrios a contratar determinados percentuais de pessoas com deficincia, por outro lado, essas empresas queixam-se tanto de no encontrarem pessoas com deficincia habilitadas para exercer as funes e vagas disponveis, quanto de no saber como tornar suas empresas acessveis a esses potenciais trabalhadores, ou ainda de no saber como lidar com essas pessoas. Alm disso, as pessoas com deficincia denunciam que no encontram, na sociedade, oportunidades acessveis para seu desenvolvimento e formao para o trabalho, pelas diferentes barreiras existentes em seu caminho. E o resultado de tudo isso , ainda, a excluso da grande maioria dessas pessoas do mercado e trabalho:No Brasil, h 24,6 milhes de portadores de deficincia, de acordo com o ltimo Censo do IBGE, do ano 2000. Entre eles, apenas 537.000 tm alguma atividade remunerada, o que corresponde a 2,3% do total. E s 200.000 trabalham com registro em carteira - o que no chega a 1% (REDE SACI, 2004b).

E essa excluso no ocorre apenas pela falta de formao e qualificao. O mundo das empresas tambm est impregnado dos preconceitos e da falta de conhecimento sobre

19 as reais possibilidades e sobre o potencial de eficincia laboral dessas pessoas. Como alerta Miranda:[...] a preocupao com a segurana do trabalho ainda um dos maiores motivos para as empresas no contratarem pessoas com deficincia, somando-se falta de conhecimento da capacidade dessas pessoas ao at mesmo uma viso negativa dessa capacidade, acreditando que elas no so suficientemente produtivas e que poderiam trazer problemas para o ambiente de trabalho. (MIRANDA, 2006, p. 167)

Portanto, a crescente conscincia social e os dispositivos legais referentes incluso das pessoas com deficincia em nossa sociedade no tm sido acompanhados de solues criativas e eficazes que dem conta dos grandes problemas e obstculos para a efetivao dessa incluso, na imensa maioria dos casos. Ainda percebida uma ampla carncia de iniciativas e solues que faam a ponte entre essa sociedade ainda excludente, mesmo com toda a nova conscincia e suas leis, e as pessoas com deficincia, mesmo com sua maior visibilidade atual. Tudo isso faz com que as realidades de desigualdade social, de carncias e de falta de oportunidades, sejam dramticas, e o resultado disso a excluso da escola, do mercado de trabalho, da sociedade em geral. E tudo isso s poder ser superado na medida em que na sociedade comece a ocorrer uma verdadeira equiparao de oportunidades. Segundo a Declarao de Princpios de 1981, proclamada pela Disabled Peoples' lnternational, uma organizao internacional de pessoas com deficincia da qual o Brasil faz parte, equiparao de oportunidades seria:o processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade, tais como o meio fsico, a habitao e o transporte, os servios sociais e de sade, oportunidades educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, includas as instalaes esportivas e de recreao, so acessveis a todos. (DPI, 1981)

20 E, para isso, necessrio que se crie uma cultura de valorizao da diversidade, na escola, nas empresas e na sociedade em geral. S assim se apontar para o rumo de um verdadeiro desenvolvimento inclusivo, que deve ser entendido como:a elaborao e a implementao de aes e polticas voltadas para o desenvolvimento scio-econmico e humano que visam igualdade de oportunidades e de direitos para todas as pessoas, independentemente de status social, gnero, condies fsicas ou mentais e raa.[...] O paradigma de desenvolvimento inclusivo procura resgatar a idia de diversidade como um ponto forte do processo de desenvolvimento (BIELER, GIL e WERNECK, 2005).

Todas essas dificuldades, os preconceitos vivenciados e as excluses sofridas, tornam urgente a construo de novas possibilidades e caminhos para a reduo das desigualdades sociais. Os progressos da cincia, os novos estudos e descobertas, por outro lado, oferecem pistas e luzes para a busca de solues. O trabalho educacional que desenvolvo junto a alunos com necessidades educacionais especiais em ambiente computacional e telemtico teve incio no ano de 1993, quando um assessor da superintendncia da Obras Sociais Irm Dulce, em Salvador, Bahia, props que eu assumisse a responsabilidade pela formulao e implantao de um projeto educacional na instituio, visando, naquele momento, o atendimento aos moradores do seu Centro de Reabilitao e Preveno de Deficincias (CRPD), com a utilizao do computador para o aprendizado e desenvolvimento dessas pessoas, que se tratavam principalmente de crianas e adolescentes. O CRPD tinha, naquela ocasio, 120 moradores, a maioria rfos ou abandonados pela famlia, com deficincias de moderadas a severas na sua maioria, as quais envolviam comprometimentos fsicos, sensoriais e/ou intelectuais, alm de alguns moradores diagnosticados na poca como portadores de distrbios de

21 comportamento. O trabalho iniciou em 1993 atendendo a sete alunos, com trs computadores antigos. Esse projeto, que se denomina Programa InfoEsp1 Informtica, Educao e Necessidades Especiais, e pelo qual continuo responsvel, atende atualmente em torno de 120 alunos, no mais somente moradores do CRPD, mas tambm alunos da comunidade, desenvolvendo um trabalho educacional complementar, e no substitutivo, ao trabalho escolar. O Programa InfoEsp, portanto, cresceu bastante ao longo dos ltimos 15 anos, tendo recebido no ano de 2007 o Prmio Rainha Sofia de Reabilitao e Integrao, ao qual concorrem diferentes instituies da Amrica Latina e da Pennsula Ibrica, conferido pelo Real Patronato sobre Discapacidad do Ministrio del Trabajo y Asuntos Sociales da Espanha, entre outros prmios recebidos nesse mesmo perodo. O referencial filosfico e metodolgico primeiro do Programa InfoEsp foi o Ambiente Logo de Aprendizagem (PAPERT, 1988, 1994; VALENTE, 1991, 1993, 1999), um ambiente computacional de aprendizagem desenvolvido por volta de 1968, no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), em Boston, nos E.U.A., por uma equipe de pesquisadores liderados por Seymour Papert. E o Ambiente Logo, por sua vez, tem nos estudos de Papert, Piaget, Vygotsky e Paulo Freire, o seu referencial principal, o qual continua norteando o paradigma educacional que permeia as aes e prticas pedaggicas do Programa InfoEsp. Posteriormente, principalmente a partir do ano de 1997, com o advento de novos recursos multimdia e da possibilidade do acesso permanente internet, novos programas e atividades foram sendo incorporados aos trabalhos do Programa, porm mantendo a estruturao terica que lhe tem servido de referncia. Os documentos do Programa InfoEsp explicitam como sendo sua misso:1

www.infoesp.net

22promover, utilizando os recursos de um ambiente computacional e telemtico, o desenvolvimento das potencialidades cognitivas de alunos com necessidades educacionais especiais, entendidos como sujeitos do seu processo de aprendizagem e construo de seus conhecimentos. E, por meio de sua incluso scio-digital, torn-los mais autnomos no equacionamento e soluo dos prprios problemas, capacitando-os a uma melhor interao com as pessoas e com seu meio, alm de, para os alunos dos cursos tcnicos oferecidos, prepar-los para um trabalho efetivo. (PROGRAMA INFOESP, 2008)

A partir do ano de 2005, o Programa InfoEsp, com os recursos de um convnio com a Secretaria de Cincia, Tecnologia e Inovao (SECTI) do Estado da Bahia, passou a atender a uma outra forte demanda existente, ou seja, o oferecimento de cursos tcnicos de informtica, em ambiente acessvel e adaptado com a Tecnologia Assistiva e as metodologias apropriadas, principalmente para pessoas com diferentes graus de comprometimento motor e sensorial, possibilitando a essas pessoas a aquisio dos conhecimentos em informtica to necessrios atualmente para a busca de um espao no mercado de trabalho. Atualmente so oferecidos dois cursos tcnicos: 1- Curso de Informtica Bsica: com durao de 80 horas, em ambiente acessvel e adaptado, para pessoas com deficincia a partir dos 16 anos de idade, com o Ensino Fundamental, disponibilizando a Tecnologia Assistiva e as metodologias necessrias, visando o aprendizado das informaes e procedimentos bsicos relativos ao Sistema Operacional, Edio de Texto e utilizao da Internet, conhecimentos relevantes para a busca de um espao no mercado de trabalho. 2- Curso de Montagem e Manuteno de Computadores: com durao de 64 horas, em ambiente acessvel e adaptado, para pessoas com deficincia a partir dos 16 anos de idade, que estejam cursando ou tenham concludo o Ensino Mdio, disponibilizando a Tecnologia Assistiva e as metodologias necessrias.

23 O Programa forma, somente com esses cursos tcnicos, uma mdia de 100 pessoas com deficincia por ano. Alem desses cursos tcnicos, o Programa InfoEsp tambm atende, atualmente, a 108 alunos com necessidades educacionais especiais, a partir dos 8 anos de idade (pessoas com deficincia fsica, sensorial e deficincia intelectual), de Salvador e municpios prximos, com duas ou trs horas-aula por semana. Nesses casos, o objetivo trabalhar o desenvolvimento cognitivo e as possibilidades de comunicao desses alunos, principalmente crianas e adolescentes, utilizando os recursos do ambiente computacional e telemtico. Em alguns casos, tambm adultos. Esses alunos constroem seus conhecimentos por meio de atividades, interao com softwares e projetos telemticos que respondem s suas necessidades educacionais e de comunicao, detectadas por avaliao e no decorrer dos projetos, segundo a filosofia e metodologia que baliza o paradigma educacional do Programa. A concepo do trabalho educacional desenvolvido pelo Programa InfoEsp tem por base tambm os princpios que referenciam a aprendizagem por meio de Projetos de Trabalho (HERNANDEZ, 1998, 2000), tambm chamada Pedagogia de Projetos, principalmente por meio de Projetos Telemticos, que so os projetos educacionais de trabalhos desenvolvidos em ambiente de rede, na maioria das vezes com os recursos da internet, por propiciarem a construo de um ambiente de aprendizagem baseado na iniciativa e na criatividade do aprendiz, percebido como sujeito ativo na construo e produo de conhecimentos, e no como mero executor de tarefas e receptor passivo de informaes. Conforme destaca Miranda:[...] atualmente so desenvolvidos novos modelos de aprendizagem dos conhecimentos e novas concepes, mais bem instrumentadas que as do passado, sobre o papel do professor e a mediao entre o aluno e o saber.

24A aplicao de tecnologias modernas de tratamento da informao estimula a pesquisa, bem como novos suportes pedaggicos, atraentes e melhores adaptados s dificuldades das crianas, com novas formas de efetuar uma avaliao de competncias, de trabalhar de maneira seletiva sobre os dficits de desempenho, de fornecer ajudas necessrias. (MIRANDA, 1999b, p. 02)

Ao longo de todos esses anos de trabalho no Programa InfoEsp, diversas descobertas se destacaram por sua relevncia, muitas vezes at surpreendendo pela amplitude das novas possibilidades para as quais apontavam. Por outro lado, questionamentos, obstculos e inquietudes tambm foram surgindo no caminho, desafiando para novos estudos, pesquisas e possibilidades de soluo. Dentre as descobertas ocorridas, destaco os resultados alcanados decorrentes da busca de novos caminhos, possibilidades e concepes pedaggicas por meio do uso de ambientes computacionais e telemticos para o desenvolvimento cognitivo e aprendizado de alunos com graves comprometimentos motores. Entre essas descobertas, coloco os resultados da minha pesquisa do Mestrado em Educao, cuja dissertao, intitulada Ambientes Computacionais e Telemticos no Desenvolvimento de Projetos Pedaggicos com Alunos com Paralisia Cerebral (GALVO FILHO, 2004), relatou um Estudo de Caso sobre o processo de construo e publicao de homepages pessoais por quatro alunos com sequelas graves de paralisia cerebral. Esse estudo revelou, como principais resultados: O perceptvel crescimento da auto-estima e motivao dos alunos envolvidos no trabalho, na medida em que foram vencendo os obstculos do processo de construo, e que foram percebendo-se capazes de avanar e aprender alm das suas prprias expectativas, e os progressos no desenvolvimento da leitura e da escrita, por meio do desenvolvimento de projetos telemticos.

25 A ampliao do seu crculo de novas amizades, construdas via internet, por meio da publicao de suas pginas, com as visitas, palavras de incentivo e elogios que receberam de diferentes pessoas, de forma presencial ou por e-mail. A maior conscincia alcanada pelos alunos, sobre as reais possibilidades de trabalho e aprendizagem encontradas na internet, e a incorporao das possibilidades e recursos telemticos no repertrio corriqueiro de interaes e aprendizados desses alunos.

Durante esses 15 anos de existncia, um dos desafios enfrentados cotidianamente no Programa InfoEsp, tem sido desenvolver ou captar recursos de acessibilidade, a chamada Tecnologia Assistiva, que facilitem, ou mesmo, tornem possvel, o acesso ao computador a alunos com diferentes tipos de limitao motora, sensorial e/ou de comunicao e linguagem. Para diversos deles, a utilizao dessa Tecnologia Assistiva a nica maneira pela qual podem estudar e aprender, utilizando o computador. A utilizao de adaptaes e dispositivos especiais para o acesso dessa populao s Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC), em alguns casos, significa a diferena entre poder estudar e aprender de forma sistemtica, poder comunicar-se, enfim, poder desenvolver-se, ou no. As principais descobertas nesse sentido dizem respeito tanto a facilidade de acesso a esses recursos, pois muitos deles tm sido construdos de forma artesanal pela prpria equipe do Programa InfoEsp, quanto a eficcia dos mesmos, como fator preponderante para a acessibilidade ao conhecimento, a independncia, autonomia e incluso social dos alunos. As novas descobertas e solues nessa rea tm sido constantes e cada vez mais abrangentes, com repercusses altamente significativas, principalmente para o aprendizado e incluso social de alunos com graves comprometimentos motores, sensoriais e/ou de

26 comunicao e linguagem, a partir do uso dessa Tecnologia Assistiva, das adaptaes e outros recursos de acessibilidade. possvel perceber que essa rea de pesquisa, ainda muito nova e pouco investigada, possui um potencial de crescimento bastante promissor, tambm pelos rpidos avanos das Tecnologias de Informao e Comunicao. Esses avanos tm possibilitado, por exemplo, que, com o movimento voluntrio de apenas um msculo do corpo, ou mesmo apenas com o movimento dos olhos, uma pessoa com graves paralisias possa realizar qualquer atividade no computador, por meio de Softwares Especiais de Acessibilidade, acionadores artesanais e outros recursos de fcil acesso nos dias de hoje. Paralelamente a todas essas descobertas e possibilidades, enormes desafios, obstculos e demandas para a incluso social de pessoas com deficincia foram percebidos por meio do trabalho do Programa InfoEsp, ao longo desse tempo. Conforme tem sido estudado e demonstrado em diferentes estudos, as tecnologias de Informao e Comunicao vm se tornando, crescentemente, um fundamental instrumento de nossa cultura e sua utilizao um meio concreto de interao e incluso social (LVY, 1999). Nesse sentido, pode-se constatar que,como destacou Vygotsky (1994), sumamente relevante, para o desenvolvimento humano, o processo de apropriao, por parte do indivduo, das experincias presentes em sua cultura. O autor enfatiza a importncia da ao, da linguagem e dos processos interativos, na construo das estruturas mentais superiores. O acesso aos recursos oferecidos pela sociedade, pela cultura, escola, tecnologias, etc., influenciam determinantemente nos processos de aprendizagem e desenvolvimento da pessoa. Entretanto, as limitaes do indivduo com deficincia tendem a tornar-se uma barreira a estes processos. Desenvolver recursos de acessibilidade, a chamada Tecnologia Assistiva, seria uma maneira concreta de neutralizar as barreiras causadas pela deficincia e inserir esse indivduo nos ambientes ricos para a aprendizagem e desenvolvimento, proporcionados pela cultura. GALVO FILHO e DAMASCENO, 2003)

27 fundamental determinar exatamente o que entendido neste estudo pela expresso Tecnologia Assistiva. Sobre esse conceito, e tambm sobre a sua classificao, tratarei de forma mais detalhada posteriormente. Entretanto, creio ser importante introduzir j aqui o conceito de Tecnologia Assistiva proposto pelo Comit de Ajudas Tcnicas, uma instncia de estudos e de proposio de polticas pblicas da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica (SEDH/PR), que aprovou a seguinte definio:Tecnologia Assistiva uma rea do conhecimento, de caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratgias, prticas e servios que objetivam promover a funcionalidade, relacionada atividade e participao de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida e incluso social. (CAT, 2007c)

importante salientar, portanto, que Tecnologia Assistiva, no seu sentido mais amplo, vai alm da mera considerao de artefato ou ferramenta, para abarcar, tambm, a idia de metodologias, processos ou servios. Embora ainda no sejam muito numerosos, j comeam a surgir pesquisas e estudos relevantes, os quais tm investigado as relaes da Tecnologia Assistiva, tanto com as Tecnologias de Informao e Comunicao, quanto com a Educao e a Escola Inclusiva. Por exemplo, citando duas dessas pesquisas em nvel de doutorado, a tese de Lauand (2005) estudou as Fontes de informao sobre Tecnologia Assistiva para favorecer a incluso escolar de alunos com necessidades especiais, tese esta defendida em 2005 na Universidade Federal de So Carlos, no Estado de So Paulo, apresentando um levantamento sobre essas fontes. E pelo Programa de Ps-Graduao em Informtica na Educao, da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sonza (2008) defendeu a tese intitulada Ambientes virtuais acessveis sob a perspectiva de

28 usurios com limitaes visuais, enfocando principalmente a acessibilidade de ambientes virtuais e da Web, com a Tecnologia Assistiva necessria para isso. Portanto, j so significativos os sinais que apontam a Tecnologia Assistiva como uma nova e poderosa aliada para a incluso social da pessoa com deficincia, principalmente levando em conta os acelerados e recentes avanos das Tecnologias de Informao e Comunicao, as quais tambm vo se tornando cada vez mais acessveis. Porm, ainda so raros os estudos que busquem perceber e desvendar, de forma mais sistematizada, as relaes que existem, ou podem ser estabelecidas, entre esses avanos e novas descobertas, e uma verdadeira incluso escolar do aluno com deficincia no ensino regular. Por outro lado, numerosos estudos enfatizam a importncia, para o aprendizado e desenvolvimento humano, dos espaos e instituies educacionais presentes na sociedade humana. Tericos que estudam o desenvolvimento humano, como Bronfenbrenner (2002) e Vygotsky (1989, 1994, 1997) afirmam a importncia das prticas educacionais presentes nos espaos escolares para o desenvolvimento das crianas. Bronfenbrenner (2002) concluiu que, depois do lar, nas instituies infantis que se encontra o ambiente mais propcio para o desenvolvimento e socializao da criana. Rosa (2001) salienta que, alm da tarefa familiar,[...] desde a Modernidade uma outra instituio social assumiu papel relevante nesse processo de socializao: a escola, locus privilegiado para a educao da criana, tanto na sua dimenso socializadora quanto de preparao para o trabalho.[...] Assim, a partir do Iluminismo a educao passa a ser compreendida como uma atribuio no s da famlia, mas tambm da sociedade. (ROSA, 2001, p. 13-14)

principalmente atravs da escola que o cidado amplia os seus horizontes e sua relao com o mundo, alm do seu ncleo familiar. a escola que o prepara, ou pelo menos

29 deveria preparar, por meio de uma reflexo sistematizada, para uma relao mais consciente com os fenmenos e realidades de seu mundo e com as outras pessoas, numa progressiva tomada de posse de sua prpria vida. E, na apropriao dos recursos oferecidos pela sociedade, escola, tecnologias, etc., os quais influenciam

determinantemente nos processos de aprendizagem da pessoa, que se propicia o exerccio do potencial criativo e produtivo do ser humano, tornando-o co-artfice na construo solidria de um mundo melhor e mais acolhedor, para si, para sua famlia e para toda a humanidade. Em relao pessoa com deficincia, apropriar-se dos recursos de acessibilidade seria uma maneira concreta de neutralizar as barreiras causadas pela deficincia e uma forma de inseri-la nos ambientes ricos para a aprendizagem, proporcionados pela cultura. Em se tratando de crianas e jovens com deficincia, portanto, pensar em seu desenvolvimento e aprendizagem nos dias de hoje, significa necessariamente pensar na construo de instituies educacionais cabalmente inclusivas. Entretanto, tanto os alunos do Programa InfoEsp, quanto seus professores nas escolas pblicas, os quais mantm contato e buscam informaes e suporte com a equipe do Programa, tm relatado as grandes dificuldades que costumam enfrentar nas escolas para viabilizar uma verdadeira incluso desses alunos e dispor dos recursos e servios de Tecnologia Assistiva necessrios para que alcancem um real aprendizado. Dado que as pesquisas sobre Tecnologia Assistiva ainda so bastante recentes, e tambm pelo fato de que as possibilidades e a eficincia dessa tecnologia tm alcanado uma ampliao de horizontes bastante significativa e acelerada nos ltimos tempos, penso que dessa nova realidade decorre um problema e uma questo relevante a ser entendida, que, a meu ver, seria:

30 como a escola pblica est buscando apropriar-se dessa Tecnologia Assistiva que, em muitos casos, fundamental e indispensvel para a incluso de alunos com deficincia em suas salas de aula, com vistas a um real aprendizado e, consequentemente, a uma verdadeira incluso escolar desses alunos?

Esse problema assim formulado, portanto, trata da questo sobre como a escola pblica tem percebido e se apropriado desses avanos relativos Tecnologia Assistiva, e sobre como essa escola tem entendido e formulado as suas necessidades e demandas nessa rea. Para o estudo e busca de compreenso dessa realidade segundo a perspectiva da escola, penso ser fundamental a escuta dos principais agentes e representantes da instituio escolar, ou seja, aqueles profissionais que atuam mais diretamente no cotidiano dos processos educacionais de cada escola pblica, e que vivenciam as dinmicas e paradigmas que balizam as suas opes e atividades no dia-a-dia. E esses profissionais so, a meu ver, principalmente: os gestores das escolas, os seus coordenadores pedaggicos, os seus professores, e, pelo fato de que o foco esteja na relao entre Tecnologia Assistiva e incluso escolar, tambm os responsveis pelas Salas de Recursos hoje existentes em diferentes escolas.

Neste estudo optei, portanto, dentre todos os atores que compem a comunidade escolar, entre os quais esto includos os alunos, por um foco na escuta dos profissionais da

31 escola, tanto por se tratarem, segundo os paradigmas atualmente vigentes e hegemnicos, dos protagonistas principais na determinao e gerenciamento das dinmicas e prticas do cotidiano escolar, quanto pela ampliao excessiva do foco e das variveis a serem consideradas, se fossem includos tambm os alunos como sujeitos principais na coleta de dados. O foco principal, portanto, esteve na percepo e palavras dos representantes e profissionais da instituio Escola. Os dados que obtive por meio da conversa com alguns alunos, foram considerados nesta pesquisa como dados complementares. Nos dias de hoje muito se tem falado, escrito e pesquisado sobre a Educao Inclusiva, e muito se comea a falar em Tecnologia Assistiva. Porm, como a instituio escola pblica est, de fato, percebendo e vivenciando, no seu cotidiano, essas realidades e possibilidades, segundo os seus profissionais? Qual a sua palavra, os seus anseios e temores, as suas dvidas e dificuldades, as suas demandas e conquistas nessas reas? Na busca de aprofundar essas questes e afinando os ouvidos para uma escuta e melhor compreenso dessa realidade vivenciada pela escola pblica e explicitada pela voz desses seus protagonistas, o objetivo central desta pesquisa foi estudar os processos de apropriao, pelas escolas pblicas de Ensino Bsico do municpio de Salvador, Bahia, da Tecnologia Assistiva necessria para a incluso escolar e aprendizado de alunos com deficincia em suas salas de aula, conforme so percebidos pelos profissionais dessas escolas. importante esclarecer que a palavra apropriao entendida aqui como referente aos diferentes processos necessrios para a identificao das necessidades, para a aquisio, para o acesso, formao e utilizao adequada, relacionados Tecnologia Assistiva, pelas escolas pblicas estudadas, com vistas ao aprendizado escolar dos alunos com deficincia por elas atendidos.

32 Esse objetivo geral, portanto, remeteu a diferentes outros objetivos mais particulares, que configuraram os objetivos especficos do estudo, formulados da seguinte forma: Identificar, analisar e discutir os passos concretos que tm sido dados pelas escolas, em direo a uma verdadeira apropriao da Tecnologia Assistiva, incluindo a tanto as barreiras e dificuldades encontradas, quanto as conquistas alcanadas. Identificar, analisar e discutir as principais demandas das escolas na rea da Tecnologia Assistiva, em funo das necessidades e dificuldades dos alunos com deficincia que nelas estudam, segundo entendem os profissionais dessas instituies estudadas. Detectar, analisar e discutir a relao entre o modelo educacional vigente nas escolas e o processo de apropriao da Tecnologia Assistiva com vistas a uma verdadeira Educao Inclusiva. Identificar e apontar novos horizontes, perspectivas e possibilidades de avanos no processo de apropriao da Tecnologia Assistiva pela escola pblica inclusiva.

Este estudo, portanto, buscou ter um carter tambm propositivo, com a apresentao de possibilidades concretas de avanos e de polticas pblicas que possam fornecer uma resposta efetiva s dificuldades levantadas na pesquisa, enfatizando a dimenso poltica do pesquisador, conforme prope Bronfenbrenner (2002), o qual estabelece uma relao entre sua proposta ecolgica de investigao com as polticas pblicas e a produo de mudanas histricas, posicionando-se a favor de uma poltica e

33 de uma prtica comprometida com experimentos transformadores, defendendo as conexes entre cincia e a poltica pblica (KOLLER, 2004, p. 61). A abordagem metodolgica assumida por esta investigao foi o Estudo de Caso, para o qual foram selecionadas quatro escolas pblicas de Ensino Bsico do municpio de Salvador, Bahia. Este estudo de Caso utilizou como referncia os princpios do Modelo Ecolgico de desenvolvimento, proposto por Bronfenbrenner (BRONFENBRENNER, 2002; KOLLER, 2004; DESSEN e COSTA JUNIOR, 2005), subsidiando principalmente a anlise dos contextos scio-educacionais nos quais esto inseridas as pessoas com deficincia, e tambm os fundamentos da teoria scio-histrica de Vygotsky (1989; 1994), e, mais especificamente, no que se refere ao desenvolvimento e aprendizado da pessoa com deficincia, com particular nfase nos seus "Fundamentos da Defectologia"

(VYGOSTSKY, 1997). Em relao aos princpios e diretrizes relacionados Educao Inclusiva, subsidiaram este estudo tambm os trabalhos e pesquisas de Mantoan (1997, 2005, 2007), Miranda (1999a, 1999b, 2006), Baptista (2006), Manzini (2005), Rodrigues (2007, 2008), entre outros. E na reflexo sobre os novos paradigmas de construo e produo de conhecimentos com as Tecnologias de Informao e Comunicao, foram referncias desta pesquisa principalmente os estudos de Lvy (1998, 1999, 2003), Papert (1988, 1994), Silva (2002), Gomez (2004), Bonilla (2005), Pretto (1996, 2005), entre outros. Para melhor compreenso da reflexo proposta por este estudo, creio ser importante definir aqui, de forma mais explcita, alguns conceitos centrais a ela relacionados. Por exemplo, o termo Acessibilidade, para o Decreto 5296 de 02 de dezembro de 2004, a chamada Lei da Acessibilidade, em seu artigo 8, refere-se a:

34condio para utilizao, com segurana e autonomia, total ou assistida, dos espaos, mobilirios e equipamentos urbanos, das edificaes, dos servios de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicao e informao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004)

O conceito de Acessibilidade entendido neste estudo tambm no seu sentido mais amplo, como a possibilidade de acesso escola, ao trabalho e a outras realidades e necessidades sociais.Este novo sentido foi aplicado a outras esferas do fazer humano; passamos, ento, a refletir sobre a acessibilidade (e o acesso a) na Educao, no Trabalho, Lazer, Cultura, Esportes, Informao, Internet e outras. Alcanar condies de acessibilidade significa conseguir a equiparao de oportunidades em todas as esferas da vida. Isso porque essas condies esto relacionadas ao AMBIENTE e no s caractersticas da PESSOA (GIL, 2007).

Outro conceito importante o conceito de Tecnologia Social, aqui definido como:Conjunto de tcnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interao com a populao e apropriada por ela, que representam solues para a incluso social e melhoria das condies de vida. (ITS, 2007a)

Este estudo buscou analisar, no seu segundo captulo, a instituio escolar frente aos novos desafios e possibilidades que se tornaram realidade na sociedade humana, principalmente a partir da presena das Tecnologias de Informao e Comunicao. Um terceiro captulo tratou das realidades referentes pessoa com deficincia, na sua trajetria histrica desde a invisibilidade e excluso dessas pessoas do convvio social, at os passos recentes em direo a sua incluso escolar no ensino regular. O quarto captulo introduz o estudo sobre a Tecnologia Assistiva, com a trajetria da reflexo sobre esse conceito, no Brasil e em outros pases, assim como sobre as diferentes formas de classific-la. Esse captulo tambm faz uma apresentao sobre os

35 servios de Tecnologia Assistiva, destacando a importncia da formao para o empoderamento do seu usurio final nos processos de seleo e aquisio desses recursos, alm da apresentao de alguns dos principais produtos de Tecnologia Assistiva, relacionados ou no ao uso do computador. No quinto captulo apresento o Estudo de Caso propriamente dito, com o detalhamento sobre a metodologia utilizada na pesquisa, com a caracterizao das escolas e sujeitos estudados, e com os procedimentos para a coleta e anlise dos dados. E no sexto captulo apresento a anlise e discusso dos dados, com os resultados do estudo, destacando-se entre eles, alm dos avanos e conquistas verificados no processo de apropriao dos recursos de Tecnologia Assistiva pelas escolas, tambm, e

majoritariamente, as dificuldades e obstculos revelados pelos profissionais entrevistados, juntamente com as demandas por aes mais efetivas das gestes centrais das redes educacionais pblicas s quais pertencem, e por polticas pblicas consistentes e sistemticas que favoream uma maior agilidade e eficcia no processo de apropriao da Tecnologia Assistiva necessria para a incluso escolar de alunos com deficincia. Foram freqentes as demandas por melhor formao, por suporte e apoio na implementao de solues de Tecnologia Assistiva, e por um acompanhamento mais prximo e acessvel de tcnicos que auxiliassem na resoluo dos problemas cotidianos vivenciados na escola, nessa rea. Foi possvel detectar e analisar, tambm, as contradies existentes entre o paradigma educacional tradicional hegemnico nas escolas e os princpios da Educao Inclusiva, contradies essas percebidas como desestruturadoras dos processos de apropriao e uso da Tecnologia Assistiva por essas escolas. A partir dos dados obtidos,

36 apresento a possibilidade de novos horizontes, perspectivas e polticas pblicas que favoream e viabilizem o avano nesses processos. Concluo apresentando minhas consideraes finais sobre os resultados do estudo, explicitando as perspectivas e possibilidades para as quais, a meu ver, ele aponta, destacando entre elas, a importncia da implantao de Centros de Referncia em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, como uma ao estruturante de uma poltica efetiva de incluso escolar e social da pessoa com deficincia. Alm da importncia dos recursos telemticos para o desenvolvimento de projetos educacionais, que enfatizem e apostem na iniciativa e na criatividade do aprendiz, percebido como sujeito na construo e produo de conhecimentos, e para a mudana do modelo tradicional de educao, rumo a um novo paradigma convergente com as necessidades da sociedade contempornea e com os princpios da Educao Inclusiva, e em direo a uma necessria redescoberta do papel social da escola.

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2. A Educao Escolar para uma Sociedade do Conhecimento

Com muita freqncia, pelo senso comum, a palavra tecnologia associada imediatamente idia, quase que exclusiva, de equipamentos ou dispositivos materiais para a execuo de atividades e tarefas, com a idia de ferramentas ou produtos teis. Por definio, o sentido da palavra tecnologia vai alm disso. O dicionrio Aurlio, por exemplo, define tecnologia como o conjunto de conhecimentos, especialmente princpios cientficos que se aplicam a um determinado ramo de atividade. Nesse mesmo sentido, o documento Educao em Tecnologias de Apoio para Utilizadores Finais: Linhas de Orientao para Formadores do Consrcio Europeu EUSTAT, detalha e exemplifica da seguinte forma:[...]o termo tecnologia no indica apenas objectos fsicos, como dispositivos ou equipamento, mas antes se refere mais genericamente a produtos, contextos organizacionais ou "modos de agir" que encerram uma srie de princpios e componentes tcnicos. Uma "tecnologia de acesso a transportes pblicos", por exemplo, no consiste apenas numa frota de veculos acessveis (ex. autocarros com plataforma elevatria), mas engloba toda a organizao dos transportes, incluindo controlo de trfego, implantao das paragens, informaes e procedimentos de emisso/validao de bilhetes, servio de clientes, formao do pessoal, etc. Sem uma organizao deste tipo, o simples veculo no ofereceria qualquer "transporte pblico". Em segundo lugar, o termo de apoio aplicado a uma tecnologia, quando a mesma utilizada para compensar uma limitao funcional, facilitar um modo de vida independente e ajudar os idosos e pessoas com deficincia a concretizarem todas as suas potencialidades. (EUSTAT, 1999b)

Tambm com muita freqncia a palavra tecnologia percebida ou associada idia de algo frio, mecnico, sem emoo, distante de tudo o que concebido como intrinsecamente humano, sensvel, afastado do que est diretamente relacionado com os valores da humanidade, como a educao, por exemplo. Essa forma de perceber e recortar as realidades que nos cercam, que levou at a diviso do saber sistematizado em reas

38 opostas tais como as cincias humanas por um lado e as cincias exatas e tecnolgicas por outro, nem sempre nos ajuda a entender o verdadeiro papel e lugar das tecnologias ao longo da histria da humanidade, inclusive para a sua prpria constituio, enquanto humanidade, enquanto raa humana. As tecnologias esto presentes em cada uma das pegadas que o ser humano deixou sobre a terra, ao longo de toda a sua histria. Desde um simples pedao de pau que tenha servido de apoio, de bengala, para um homem no tempo das cavernas, por exemplo, at as modernas prteses de fibra de carbono que permitem, hoje, que um atleta com amputao de ambas as pernas possa competir em uma Olimpada, disputando corridas com outros atletas sem nenhuma deficincia. Passando por todos os outros tipos e modelos possveis e imaginveis de bengalas, muletas e prteses, que surgiram ao longo de toda essa histria. O fogo que cozinhou os primeiros animais caados pelo homem e que o aqueceu, o mesmo fogo que, ao longo da histria, foi sendo utilizado para diversas outras tarefas, at chegar hoje a mover um motor de combusto interna ou uma usina de gerao de energia. Tudo isso tecnologia. E tudo isso esteve sempre muito prximo do ser humano e de suas necessidades. A histria da humanidade sempre foi fortemente permeada no somente pelas relaes entre os seres humanos e pelas suas representaes culturais, como tambm pelas tcnicas, conhecimentos e recursos materiais que os viabilizaram, ou que foram produzidos por essas relaes e representaes. Percebendo a relao indissocivel, nas atividades humanas, entre a tcnica, cultura e sociedade, Pierre Lvy considera que impossvel separar o humano do seu ambiente material, assim como dos signos e das imagens por meio dos quais ele atribui sentido vida e ao mundo (LVY, 1999, p. 22). Porque, para Lvy, no somente as tcnicas so imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu uso pelos homens, como tambm o prprio uso intensivo de ferramentas que constitui a

39 humanidade enquanto tal (junto com a linguagem e as instituies sociais complexas) (LVY, 1999, p. 21). No seria a tecnologia como que um ente independente que atuaria, que agiria, como algo externo, sobre as culturas e as relaes entre os seres humanos, as sociedades. Para Lvy, o que existe so relaes entre um grande nmero de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas, as tcnicas (LVY, 1999, p.23).

2.1. As Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC)

Porm, as diferentes tecnologias que foram desenvolvidas pelo homem ao longo do tempo, no tiveram, todas, a mesma repercusso e importncia para as relaes entre os seres humanos e suas culturas. Algumas, diferentemente de outras, assumiram um papel de catalisadoras de mudanas de paradigmas, nessas relaes e nessas culturas. Por exemplo, pensando na relao entre tecnologia e educao, cultura, aprendizado e desenvolvimento do ser humano, possvel identificar, na histria, uma tecnologia que propiciou uma mudana de paradigma na relao da humanidade com as informaes, com os conhecimentos construdos por essa humanidade e, portanto, com os seus processos de aprendizagem. Esse exemplo de mudana de paradigma, a partir das possibilidades abertas por uma nova tecnologia criada, ocorreu na histria com a inveno da prensa de tipo mveis, por Johannes Gutenberg, no sculo XV. Sobre as novas tecnologias que surgem, Pierre Lvy, embora rejeite a caracterizao de supostos impactos das mesmas sobre as sociedades e culturas, como algo externo a elas, prope a percepo das tecnologias como condicionantes de novas possibilidades, ou

40 novos limites, mesmo sem serem determinantes dessas novas realidades. Ou seja, perceber a tecnologia como elemento condicionante de novas realidades, significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opes culturais ou sociais no poderiam ser pensadas a srio sem sua presena (LVY, 1999, p. 25). Pensando nas relaes que a sociedade humana tinha com as informaes, com os saberes construdos pela humanidade ao longo de milnios, suas formas de aprender e transmitir os conhecimentos, antes da inveno de Gutenberg, encontramos os recursos de transmisso oral como a tcnica majoritariamente empregada para isso, at aquele momento. Sabe-se que, antes de Gutenberg, os livros existiam numa quantidade muito pequena em relao ao nmero de habitantes de qualquer localidade, porque eram copilados artesanalmente, um a um, por um nmero tambm reduzido de escribas, principalmente em mosteiros e outros centros de cultura. Saber ler e escrever, portanto, de forma alguma era uma prioridade para a maioria da populao, pelo simples fato de que praticamente no havia o que ler. A relao da humanidade com as informaes, com os conhecimentos, com a formao para o trabalho, com a trajetria de aprendizados da civilizao humana, no passava pelo ato da leitura ou escrita para a maioria, e, por isso mesmo, o acesso a grande parte desses conhecimentos era impossvel para essa maioria. Uma mudana paradigmtica ocorreu com as novas possibilidades que se abriram a partir da inveno da prensa dos tipos mveis. A partir da, a humanidade foi mudando toda a sua forma de se relacionar com os conhecimentos, com a sua histria e com sua forma de ensinar e aprender. Gradativamente, ler e escrever passou a assumir uma nova relevncia, porque passou a existir o que ler e onde escrever de forma a que muitos pudessem ter acesso ao que foi escrito. Os cerca de 30 mil livros que havia em toda a Europa antes de Gutenberg, saltaram para nove milhes de exemplares, em torno do ano de 1500 (GATES, 1995).

41 A sociedade humana, com suas representaes culturais, foi profundamente modificada, a partir das diferentes portas abertas por uma nova tecnologia. Se hoje saber ler e escrever um requisito bsico para o processo de aprendizagem de todo o cidado desde a infncia, isso s foi viabilizado na histria humana a partir de um novo recurso tecnolgico inventado por Gutenberg. Portanto, a prpria percepo do que era educar, do que era ensinar e aprender, com suas prticas, amplitude de aspiraes, repercusses sociais, foram profundamente modificadas a partir de uma tecnologia e das novas possibilidades que ela abriu. Hoje, embora estejamos, ns mesmos, habitantes do planeta Terra, mergulhados no torvelinho das rpidas mudanas que ocorrem a nossa volta e em nossas vidas, e que nos impedem de tomarmos uma distncia razovel em relao a elas para avali-las com mais objetividade, assim mesmo, j possvel perceber, talvez como de certa forma tambm tenham percebido os contemporneos de Gutenberg, que vivenciamos os primrdios de um novo fenmeno cultural e social semelhante ao ocorrido nos tempos de Gutenberg, que entramos numa nova etapa, de uma nova mudana paradigmtica nas relaes da humanidade com as informaes e com os conhecimentos. Transformaes essas com profundas implicaes sobre a maneira como o ser humano ensina e aprende, e, portanto, com profundas implicaes para as nossas concepes e expectativas em relao a escola, a partir das diferentes e variadas possibilidades abertas pelas Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC). Esto abertas, portanto, como faz notar Bonilla (2005), novas possibilidades para fazer, pensar e conviver que no poderiam ser pensadas sem a presena dessas tecnologias, e que essa realidade acontece da mesma forma que a escrita abriu possibilidades que no poderiam ser passadas num contexto oral (BONILLA, 2005, p. 32).

42 As dvidas e desconfianas que encontramos hoje em relao ao papel das novas tecnologias, provavelmente tambm foram dvidas para os conterrneos de Gutenberg em relao tecnologia por ele inventada: para que serviria imprimir livros em srie, se poucas pessoas sabiam ler naquela poca? Utilizar livros para a Educao com um custo to alto para imprimi-los nas condies daquele tempo?... Absurdo... Questionamentos desse tipo tambm so lanados hoje em relao ao computador e a internet: custos, poucas pessoas com acesso, poucos sabem utilizar, etc. Entretanto, o que a histria nos mostrou foi que nenhuma dessas dificuldades impediu que o invento de Gutenberg tivesse possibilitado transformaes radicais no mundo e nas relaes da humanidade com as informaes e os conhecimentos. Porm, quais so mesmo as mudanas que esto ocorrendo hoje? Quais as transformaes reais que j esto acontecendo nas relaes da humanidade com o saber e o aprender?

2.2. A Sociedade do Conhecimento: Novas Relaes com o Saber e o Aprender

A expresso Sociedade do Conhecimento foi proposta por Robert E. Lane em 1966 (BONILLA, 2005, p. 59). Essa expresso utilizada neste trabalho como representativa das realidades vivenciadas pela sociedade contempornea, principalmente porque, conforme faz notar Chaparro (apud BONILLA, 2005, p. 60), o conhecimento comea a tomar uma dimenso, a desempenhar um papel na sociedade, que vai alm do papel que cumpriu historicamente. E, ao contrrio da viso mercantilista, que procura associar imediatamente o conhecimento a um valor monetrio, entender a sociedade atual

43 como uma Sociedade do Conhecimento deve principalmente levar em considerao toda a dimenso social relacionada aos conhecimentos. Conforme mostra Bonilla,compreender a sociedade contempornea como uma sociedade do conhecimento significa enfatizar e investir em seus aspectos e caractersticas sociais e no apenas em seus aspectos econmicos. tomar o conhecimento e a educao como valores e no como mercadorias. colocar a nfase em seus aspectos qualitativos, ou seja, em questes relacionadas com as relaes, a significao, os valores. investir em processos de produo de cultura e conhecimento e no na transmisso e assimilao. considerar como base dos processos societrios as diferenas/diversidades. investir em polticas de formao, seja inicial, seja continuada. (BONILLA, 2005, p. 68)

Para que se possa perceber quais as mudanas que esto ocorrendo nos dias de hoje, nas relaes da humanidade com o saber e o aprender, e nas relaes dos seres humanos entre si, creio que importante relembrar como era esse homem e o que significava para ele estar formado, estar qualificado para o trabalho, no sculo XIX, ou mesmo no incio do sculo XX. Naquele tempo, para que uma pessoa fosse considerada formada, qualificada, em uma determinada rea de conhecimento, era suficiente que dominasse, retivesse na memria ou tivesse um rpido acesso, por meio, por exemplo, de uma boa biblioteca, a uma determinada quantidade de informaes, que corresponderia ao saber acumulado, sistematizado e disponvel naquele tempo, sobre a referida rea. Os anos de ensino formal cursados numa boa instituio de educao, utilizando o referencial terico mais atualizado e reconhecido na poca, eram suficientes para que, de uma maneira geral, os conhecimentos que adquirisse num curso superior, por exemplo, lhe fossem teis e apropriados por praticamente todo o seu tempo de vida laboral. E isso, porque os saberes e conhecimentos disponveis naquele tempo eram bastantes estveis e perenes. As transformaes, avanos e mudanas ocorriam num ritmo bastante lento, demorando muito para que uma determinada descoberta, ou um novo conhecimento, fosse superado e se tornasse ultrapassado.

44 A prpria dinmica da produo de conhecimentos, da criao e da pesquisa, era lenta. Um laboratrio de pesquisas em qualquer pas da Europa, por exemplo, ao chegar a uma determinada descoberta cientfica no incio do sculo passado, tinha que passar por longas e demoradas etapas at que esses novos conhecimentos podem gerar aplicaes prticas e teis a um grande nmero de pessoas. Primeiramente, essas descobertas deveriam ser apresentadas em congressos e eventos cientficos, para uma posterior publicao em revistas especializadas, circular nos meios cientficos para, posteriormente, serem publicadas e divulgadas para o pblico em geral. E s depois viriam as tradues para outros idiomas e a circulao em outros pases. Toda essa dinmica normalmente fazia com que pudessem se passar muitos anos, at que os benefcios dessa nova descoberta pudessem chegar de fato s populaes de pases mais longnquos. Os avanos e mudanas eram, portanto, bastante lentos. Por esse motivo, um paradigma educacional baseado na transmisso, repetio e reteno de informaes, na memorizao, podia, at certo ponto, dar conta das necessidades de aprendizado e formao das sociedades daquele tempo. Hoje, isso j ao acontece. Em primeiro lugar, porque hoje as mudanas, transformaes e avanos ocorrem de forma mais rpida, fazendo com que os conhecimentos e novos saberes se tornem muito mais rapidamente superados e ultrapassados. Como mostra Lvy pela primeira vez na histria da humanidade, a maioria das competncias adquiridas por uma pessoa no incio de seu percurso profissional estaro obsoletas no final de sua carreira (LVY, 1999, p. 157). A prpria dinmica da produo de conhecimentos, a dinmica das pesquisas, bastante diferente nos dias de hoje. Enquanto no passado as pesquisas eram desenvolvidas isoladamente, quase sem comunicao entre os laboratrios, hoje em dia essas pesquisas

45 so frequentemente desenvolvidas em forma coletiva e colaborativa por diferentes laboratrios espalhados pelo mundo inteiro, que investigam juntos, comunicando-se em tempo real pela internet. Uma nova descoberta alcanada em qualquer centro de pesquisa no mundo pode estar sendo acompanhada, em tempo real, para qualquer outro laboratrio ou centro acadmico no mundo, no mesmo instante em que est ocorrendo, via internet. A partir dessas possibilidades e dessas novas dinmicas, cada nova descoberta pode gerar instantaneamente novas pesquisas, que levam a outros novos achados, tornando ultrapassados os anteriores, e assim por diante, num ritmo de mudanas vertiginoso, que faz com que no exista mais aquele volume slido e quase imutvel de conhecimentos, na medida em que, constantemente, novos conhecimentos so produzidos e disseminados em mbito global, superando e tornando defasados os conhecimentos anteriores. Tudo isso faz com que, em segundo lugar, a quantidade, o volume de informaes e conhecimentos disponveis em cada rea seja absolutamente imensurvel e incontrolvel. Por esse motivo, ningum mais pode afirmar, nos dias de hoje, diferentemente do incio do sculo passado, que domina e tem o controle sobre todos os conhecimentos mais relevantes produzidos em sua rea de atuao, por melhor e mais avanada que seja a sua formao. Sempre haver novas informaes e conhecimentos que lhe fogem ao controle porque as novas dinmicas e a quantidade de conhecimentos em constante produo e disseminao so absolutamente incontrolveis no seu conjunto. Nesse sentido, destaca Pretto que:As novas tecnologias da comunicao e informao esto possibilitando e influenciando a introduo de diferentes valores, de uma nova razo [...] A razo moderna no est mais dando conta de explicar os fenmenos desta sociedade em plena transformao. (PRETTO, 1996, p. 218)

46 Por tudo isso, se torna cada vez mais flagrantemente intil e incuo formar cidados pela transmisso e reteno de informaes, a partir de um suposto recorte essencial de informaes e conhecimentos mais importantes de cada rea. Esse recorte se torna cada vez mais insignificante e menos representativo de um todo que no cessa de crescer rapidamente, e de mudar incessantemente. As Tecnologias de Informao e Comunicao mudaram definitivamente as formas da humanidade se relacionar com o saber, com o ensinar e o aprender. Por outro lado, a lgica do acesso e manipulao desse volume imenso de informaes imediatamente disponveis nos dias de hoje no chamado ciberespao, tambm no a mesma lgica dessa relao mediada tradicionalmente pelos livros. Lvy define o termo ciberespao como: o novo meio de comunicao que surge da interconexo mundial dos computadores (LVY, 1999, p. 17), incluindo tanto a estrutura material quanto o volume imenso de informaes publicadas e os seres humanos que as publicam e utilizam. Num livro, normalmente as informaes so organizadas e fornecidas de uma forma linear. Ele escrito numa seqncia lgica de captulos, os quais os leitores devem geralmente percorrer, um a um, do primeiro ao ltimo, pgina por pagina. Existe um itinerrio nico proposto a ser percorrido. Com a internet, as possibilidades da relao do navegante com as informaes so bastante diversificadas, a partir de uma lgica no linear. Normalmente a forma de organizao e disponibilizao das informaes na rede mundial de computadores feita por meio do chamado hipertexto (LVY, 1999). O texto deve ser entendido aqui, como prope Lvy, no seu sentido mais amplo, podendo incluir sons e imagens, estticas ou em movimento. No modelo hipertextual as informaes so dispostas no de forma linear, item por item, captulo por captulo, mas na forma de mltiplas possibilidades de caminhos a

47 serem percorridos, numa forma rizomtica, labirntica, com esquinas e bifurcaes, a cada passo, a cada link. Conforme esclarece Lvy:A abordagem mais simples do hipertexto descrev-lo, em oposio a um texto linear, como um texto estruturado em rede. O hipertexto constitudo por ns (os elementos de informao, pargrafos, pginas, imagens, seqncias musicais, etc.) e de links entre os ns, referncias, rotas, ponteiros, botes indicando a passagem de um n a outro. (LVY, 1999, p. 55-56)

Os caminhos percorridos em cada leitura/pesquisa/estudo, em cada navegao, so os mais variados possveis, dependendo dos interesses, curiosidade, necessidades, mas tambm da experincia, capacidade e formao do navegador. Uma navegao eficiente depende tambm de uma preparao, depende de determinadas capacidades e habilidades do navegador, conforme analisarei mais adiante. As possibilidades e opes so to variveis que, dificilmente, mesmo num grupo grande de pessoas, existam duas pessoas que sigam o mesmo caminho, aps alguns minutos na trajetria por um hipertexto disponvel na Web. As prprias diferenas entre as pessoas, as faro trilharem percursos diferenciados, por entre o mar de links e bifurcaes possveis, em funo dos seus prprios interesses, curiosidades, necessidades, informaes de que j dispunham anteriormente, e incontveis outras variveis que fazem uma pessoa ser diferente de outra. E isso, mesmo que estejam estudando ou pesquisando sobre um mesmo assunto. Essa nova realidade muda significativamente a lgica da relao da humanidade com as informaes, com o saber. A infinidade de possibilidades de percursos faz com que, cada navegante, em funo dos seus desejos, porm tambm em funo de suas capacidades e habilidades, crie o seu caminho particular, indito, o seu itinerrio e organizao pessoal de circulao por entre informaes e saberes, o qual ele tambm pode propor aos outros, e que o torna, no somente um leitor, um consumidor de informaes e

48 saberes produzidos por outros, mas tambm um autor, uma espcie de organizador de uma nova obra, no interior desse hiperdocumento vivo, que a Web (LVY, 1999). Ao final de uma leitura/navegao, de uma pesquisa/itinerrio no hipertexto, no hiperdocumento da Web, o conjunto geral da trajetria percorrida pelo leitor por entre links, assuntos, desvios, subttulos, etc., como se fosse um novo e original livro, organizado pelo leitor. O conjunto do seu percurso pessoal e particular percorrido por entre textos, imagem e sons, em funo dos seus interesses e necessidades no momento, o tornam como que o organizador de uma nova obra literria indita, na medida em que resultante de um percurso que foi determinado por ele, decorrente dos seus desejos e de suas necessidades pessoais. Isso, a cada pesquisa, a cada navegao no mar de informaes e conhecimentos disponveis no hiperdocumento Web, de uma forma que seria praticamente impossvel no universo linear do livro impresso. Como afirma Lvy, com o hipertexto, toda leitura uma escrita potencial (LVY, 1999, p. 61). E essa nova seqncia de links, essa trajetria nica percorrida, organizada pelo leitor, pode ser sugerida e disponibilizada a outros leitores, como se fosse uma nova e original obra literria, se quisermos fazer uma analogia com o universo dos livros impressos. Sem falar da possibilidade do leitor criar, ele mesmo, novos links ainda inexistentes, apontados para produes prprias ou de outros, e incorporadas ao conjunto da nova obra organizada. Dessa forma,O navegador pode tornar-se autor de maneira mais profunda do que ao percorrer uma rede preestabelecida: ao participar da estruturao de um texto. No apenas ir escolher quais links preexistentes sero usados, mas ir criar novos links, que tero um sentido para ele e que no tero sido pensados pelo criador do hiperdocumento. (LVY, 1999, p. 57)

49 Essas possibilidades explicitam algumas das caractersticas dessa nova lgica, desse novo paradigma, nas relaes da humanidade com as informaes e os conhecimentos, nos dias de hoje. Uma outra caracterstica fundamental das TIC, como realidade estruturante de novas formas de relao com o saber e o aprender, portanto, o fato de que, no ciberespao, com as possibilidades abertas pela rede mundial de computadores, o

navegante/aluno/pesquisador pode tornar-se a cada momento, no somente receptor, consumidor de informaes e conhecimentos, mas tambm emissor, construtor e produtor de novos saberes. Isso, sabemos, no era to fcil de ser concebido com outros recursos, com outras mdias, com o livro, com os recursos tradicionais de comunicao de massa, como rdio, TV, etc. Os recursos tradicionais de estudo e comunicao so geralmente pista de mo nica, com um emissor, centralizado, de informaes e diretrizes, e vrios receptores passivos, que devem absorver o que disponibilizado em massa para seu consumo. Com a internet trafega-se numa pista de mo dupla, onde se pode ser, simultaneamente, receptor e tambm emissor de dados e reflexes. O aluno pode, nesse ambiente, deixar a passividade paralisante do aprendiz no modelo tradicional de educao bancria (Freire, 1987), baseada na transmisso e memorizao de informaes. Essas novas possibilidades abrem uma larga avenida para a formao de cidados mais autnomos no pensar e no agir, construtores dos seus prprios processos, crticos e produtores de novos conhecimentos, e no apenas consumidores dos conhecimentos produzidos por outros. O carter anrquico da internet, que no admite um controlador central das informaes que circulam no ciberespao, favorece no somente um ensino e um aprendizado que respeite os estilos, ritmos e formas de construir conhecimentos pessoais, individuais, como tambm favorece a valorizao das riquezas provenientes da

50 diversidade humana, das inspiraes e iniciativas originais, das construes coletivas e cooperativas, que normalmente so sufocadas pela prpria dinmica da escola tradicional. Essa nova relao da humanidade com as informaes e os saberes, tem possibilitado e exigido o surgimento de novas lgicas de interao e aprendizado, de novos critrios e competncias no processo de desenvolvimento humano, de novas percepes acerca da dinamicidade da inteligncia humana. Para situar essas novas dinmicas, que se contrapem aos processos tradicionais lineares, baseado no desenvolvimento de inteligncias individuais, Lvy (1998) prope o conceito de Inteligncia Coletiva. Fazendo uma analogia com a idia de inteligncia individual, que depende das sinapses, das conexes entre neurnios, Lvy percebe a Inteligncia Coletiva (IC) como o resultado das trocas, das conexes, dos intercmbios que ocorrem em rede no ciberespao. Enquanto na noo de inteligncia individual a memria, a capacidade individual de reteno de informaes, tem papel preponderante, na noo de IC isso j no assim. O papel da memorizao muito mais relativizado na medida em que, cada vez mais, o volume de informaes relevantes imediatamente disponveis cresce de forma vertiginosa, tornando incua e irrelevante qualquer tentativa de reteno na memria individual, como forma prioritria de aprendizado. Para Lvy, a IC significa e pressupe[...] o estabelecimento de uma sinergia entre competncias, recursos e projetos, a constituio e manuteno dinmicas de memrias em comum, a ativao de modos de cooperao flexveis e transversais, a distribuio coordenada dos centros de deciso opem-se separao estanque entre as atividades, s compartimentalizaes, opacidade da organizao social. [...] O ciberespao, dispositivo de comunicao interativo e comunitrio, apresenta-se justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligncia coletiva. (LVY, 1999, p. 28-29)

51 Enquanto a inteligncia individual potencializada pela quantidade e qualidade das conexes entre os neurnios do crebro humano, a IC desenvolve-se em funo da quantidade e qualidade das conexes estabelecidas em rede, em comunidades virtuais. No sendo mais possvel nem necessrio reter na memria (ou na minha biblioteca) todas as informaes mais relevantes de uma determinada rea de conhecimento, uma das competncias requeridas agora a capacidade de discernir, onde, com quem, de que forma, quando, posso encontrar os conhecimentos de que vou necessitando a cada passo, a partir de conexes e parcerias que estabeleo, num processo contnuo de aprendizagem cooperativa, conforme prope Lvy (2003). Para ele aprendizagem cooperativa a melhor traduo da Inteligncia Coletiva para o campo educativo (LVY, 2003). toda uma nova lgica. Transcendendo a lgica da competio individual, que prpria