Capítulo 20
Teorias Éticas
Não existe “a ética”,
mas “éticas”
Séc. V a. C.
Ética reflexão sobre as questões morais
Sujeito moral = cidadão (membro da comunidade)
não um indivíduo isolado, como hoje
Ética está ligada à política
Política exercício da liberdade
isonomia – “iguais” perante a lei
Ética Grega
Séc. V a. C.
Era clássica - pólis
(lógos) tudo era decidido pela palavra e persuasão
Nos tempos homéricos “os melhores” (aristói)
Sujeito moral = cidadão (membro da comunidade)
não um indivíduo isolado, como hoje
Valores da cidadania Philia “amizade”, “amor” reciprocidade
isonomia – “iguais” perante a lei
Ética Grega
Vida pública
philia
Temos homéricos
a decisão cabia aos
aristói = melhores
Estudo do ser enquanto ser
A compreensão do mundo baseia-se na noção do ser
A busca pelo sentido nos conduz à essência do ser
Sócrates – definição do conceito
Viés Metafísico
Ética e sabedoria
Diálogos: sobre as virtudes e a natureza do bem
Virtude = sabedoria
Vício = ignorância
A virtude pode ser aprendida
Platão
Ética e sabedoria
República
Alegoria da Caverna
O filósofo é o único capaz de se soltar
Contemplar o sol = Contemplar a idéia do Bem
Alcançar o bem = capacidade de “compreender bem”
Platão
República
cidade bela
Platão
1. Dois relatos míticos
O justo meio
Ética a Nicômaco
Qual é o fim último de todas as atividades humanas?
Bens desejáveis: riquezas, prazeres, honra...
Qual é o sumo bem?
A “boa vida”, “vida feliz” (eudaimonia)
Aristóteles
O justo meio
Aristóteles
Exercício da inteligência teórica, contemplação
1. Dois relatos míticos
PRINCÍPIO
Para refletir
2. O que é o mito?
O justo meio
Aristóteles
2. O que é o mito?
2. O que é o mito?
2. O que é o mito?
3. Os rituais
3. Os rituais
3. Os rituais O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a
festa religiosa não é simples comemoração, mas a
ocasião pela qual o evento sagrado, que teve lugar no
passado mítico, acontece novamente.
Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher
não será fecundada, a árvore não dará frutos, o dia não
sucederá à noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar.
Transgressões do tabu
A consciência mítica
É o caso do tabu, termo que significa proibição,
interdito, e que entre os povos tribais assume caráter
sagrado.
O mais primitivo tabu é o do incesto.
O que é o prazer?
Epicuro faz a distinção em três tipos:
naturais necessários,
naturais não necessários e
não naturais não necessários.
Epicuro
O que é o prazer?
•Naturais necessários: sem eles, a harmonia de nosso
corpo se desfaz. Os desejos naturais e necessários
permitem que o corpo continue afirmando-se na
existência. Nós não os desejamos porque são bons, eles
são bons porque os desejamos. Água, para não morrer
de sede; comida para não morrer de fome; calor; para
não morrer de frio.
Epicuro
O que é o prazer?
•Naturais não necessários: são prazeres, mas não
necessários no sentido em que excedem a simples
manutenção da existência. Mais do que conservar-se a
vida quer o prazer de viver, e ela pode obter isso através
da natureza. Faz-se aqui a passagem da existência para
uma estética da existência. Mais do que apenas comer, é
possível criar a culinária, arte de cozinhar. Mais do que
ver, e ouvir, é possível pintar e fazer música, arte das
cores e dos sons.
Epicuro
O que é o prazer?
•Não naturais e não necessários: entramos no terreno das
ilusões e da superstição. Aqui nascem os deuses e os demônios.
Esses desejos são aqueles que se descolam cada vez mais da
terra e atingem reinos que não existem. Dinheiro, nosso novo
deus, fama, glória, santidade. Curtidas no facebook, por que
não? Estes objetos são vazios, alienam, nos impedem de atingir
uma vida natural e de prazeres. Enfim, causam mais aflição que
prazer, o dispêndio de energia para obtê-los não vale o que nos
trazem em retorno. Copos sempre meio vazios, estas ilusões são a
cenoura na frente do burro, elas conduzem a humanidade em sua
longa marcha irracional…
Epicuro
O Jardim dos filósofos. Os epicuristas eram conhecidos como os
“filósofos do jardim”, local em Atenas onde celebravam a amizade,
aprendendo a cuidar da vida como um belo jardim.
2. O que é o mito?
Coluna grega (stoá). Chama-se stoá o pórtico de
prédios gregos que formavam uma galeria com
colunas. Ficaram conhecidos como estoicos
(stoikós), isto é, os filósofos do Pórtico.
Transgressões do tabu
Quando nas tribos a proibição é transgredida, são
feitos ritos de purificação, como abster-se de alimentos,
retirar-se para local isolado, submeter-se a cerimônias de
ablução (purificação por meio da água, ritual comum a
várias religiões).
As funções do mito
3.
As concepções éticas medievais Queda do império romano
Surgimento de inúmeros reinos bárbaros
Igreja católica surge como elemento agregador
- ao difundir a mesma fé cristã
3.
As concepções éticas medievais O clero
- era o único detentor da educação
- guardião da tradição greco-romana
- a educação foi adaptada aos ideais religiosos
- o sobrenatural tem primazia sobre o humano
Logo,
- a ação orienta-se para a contemplação de Deus
- em prol da conquista da vida eterna
3.
As concepções éticas medievais
As teorias estóicas - foram bem aceitas pelo cristianismo
- fecundou as ideias ascéticas*
Controle das paixões
- visando a vida futura
- quando poderemos ser felizes
Renascimento
Idade Média
• Teocentrismo
• Fé
• Deus
• Trevas
• Homem (Miserável)
Idade Moderna
• Antropocentrismo
• Razão
• Homem
• Luz
• Homem (Digno)
Renascimento Cultural • Retorno à cultura Greco-Romana
4.
O pensamento moderno Alterações sociais e econômicas
Ascensão da burguesia
Florescimento do comércio
Revolução científica produz
- outra realidade
- se descobriu o poder do conhecimento humano
- capaz de transformar o ambiente
- “dominar a natureza” e tornar-se “senhor” dela
4. Hume (1771-1776)
Os sentimentos morais Obra: Investigações sobre o entendimento humano
Contrário ao racionalismo cartesiano
A favor do empirismo radical
- Postura cética influenciou Kant
- Kant: quais são os limites do nosso conhecimento
- capaz de transformar o ambiente
4. Hume (1771-1776)
Os sentimentos morais Obra: Tratado da natureza humana
Desenvolve uma moral do sentimento
São as paixões que determinam a vontade, e não a razão
- Os atos morais dizem respeito
- aos sentimentos de aprovações e desaprovação
- às sensações de agrado e prazer ou dor e remorso
4. Hume (1771-1776)
Os sentimentos morais Obra: Tratado da natureza humana
A razão
- Se ocupa com o verdadeiro e o falso
- faz juízos de realidade (fato) sobre a realidade
Os atos morais
- Requerem juízo de valor
- ajuda a identificar ações
- Boas (virtude)
- Más (vício)
A ilustração O século XVIII é conhecido como Iluminismo, Século das
Luzes, Ilustração ou Aufklârung. Como as próprias
Designações sugerem, trata-se do otimismo no poder da
razão de reorganizar o mundo humano.
Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta
contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios
poderes humanos, pelos quais o homem tecerá ele
próprio a trama do seu destino.
5.
A moral iluminista
A ilustração O século XVIII é conhecido como Iluminismo, Século das
Luzes, Ilustração ou Aufklârung. Como as próprias
Designações sugerem, trata-se do otimismo no poder da
razão de reorganizar o mundo humano.
Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta
contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios
poderes humanos, pelos quais o homem tecerá ele
próprio a trama do seu destino.
5.
A moral iluminista
4
O pensamento moderno A ilustração O pensamento humano passou por mudanças cruciais
O teocentrismo foi substituído pelo antropocentrismo
Em lugar da fé a reflexão filosófica secularizada
Volta-se para a busca do fundamento racional
Iluminismo
O racionalismo e o empirismo do século XVII (Descartes,
Locke e Hume) dão o substrato filosófico dessa reflexão:
Descartes justifica o poder da razão de perceber o
mundo através de idéias claras e distintas;
Locke valoriza os sentidos e a experiência na elaboração
do conhecimento;
Hume levanta o problema da exterioridade das relações
frente aos termos.
Iluminismo
"Filha emancipada do cartesianismo, a filosofia do
Iluminismo deve a Descartes
o gosto do raciocínio,
a busca da evidência intelectual,
a audácia de exercer livremente seu juízo e
de levar a toda parte o espírito da dúvida metódica.
"Sou, logo penso" seria de algum modo o cogito do
filósofo do Iluminismo, bem próximo do cogito
cartesiano."
Iluminismo
Outra influência importante foi o advento da ciência
galileana no século XVII,
cujo método experimental fecundou outros campos de
pesquisa, fazendo nascer novas ciências.
Como essa ciência é aliada da técnica, faz surgir o
modelo de um novo homem, o homem construtor, o
artífice do futuro, que não mais se contenta em
contemplar a harmonia da natureza, mas quer conhecê-
la para dominá-la.
Iluminismo
E é uma natureza dessacralizada, isto é, desvinculada da
religião, que reaparece em todos os campos de
discussão do homem no século XVIII.
Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz
de procurar soluções para seus problemas com base em
princípios racionais, o homem estende o uso da razão a
todos os domínios: político, econômico, moral e religioso.
Iluminismo
A exaltação do poder do homem decorre, segundo
Desné, do fato de que "a segurança do filósofo é a
segurança do burguês que deve à sua inteligência, ao
seu espirito de iniciativa e de previdência, o lugar que
tem na sociedade (...) A emancipação do homem, na qual
Kant vê o traço distintivo do Iluminismo, é a emancipação
de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade".
Iluminismo
Nesse momento se dá o fortalecimento do sistema
capitalista como modo de produção predominante, o que
se exemplifica pela Revolução Industrial, marcada pelo
aparecimento da máquina a vapor em meados do século
XVIII e que introduz o processo de mecanização das
indústrias.
Iluminismo
De fato, o século XVIII é o século das revoluções
burguesas: ainda no final do anterior, em 1688,
a Revolução Gloriosa na Inglaterra destrona os Stuart
absolutistas e, em 1789,
os Bourbon são depostos com a Revolução Francesa.
Ecos desses acontecimentos chegam ao Novo Mundo,
em movimentos de emancipação como a Independência
dos Estados Unidos (1776). a Inconfidência Mineira
(1789) e a Conjuração Baiana (1798).
Iluminismo
Na Inglaterra, os representantes da Ilustração são
sobretudo Newton e Reid, herdeiros de Locke e Hume.
Na França, surgem Montesquieu, Voltaire, Rousseau. O
poder de penetração da Ilustração na França se deve,
sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus
filósofos, empenhados em "levar as luzes" a todos os
homens. Importante nesse processo é a publicação da
Enciclopédia, obra imensa cujos verbetes são confiados
a diversos autores: Voltaire, D'Alembert, Diderot,
Helvetius.
Iluminismo
Na Alemanha, o movimento é conhecido como
Aufklàrung. É importante acentuar a especificidade desse
"país", já que não podemos falar em autonomia nacional,
pois a Alemanha não passa, naquele momento, de um
agregado de Estados que têm em comum apenas a
lingua. (A unificação alemã só ocorrerá no século XIX.) A
economia feudal ainda predominante mantém o povo
miserável e impede a ascensão da burguesia ric a e
esclarecida.
Iluminismo
Além disso, a Alemanha se acha extenuada pela Guerra
dos Trinta Anos. Só na segunda metade do século XVIII
começam a aparecer sinais da emancipação intelectual,
sobretudo na produção literária (Lessing, Herder,
Goethe, Schiller) e musical (os descendentes de Bach,
Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven).
Iluminismo
Na filosoffia alemã, as expressões maiores são:
Wolff, Lessing e Baumgarten.
Mas foi Kant o filósofo por excelência desse período,
criando uma obra sistemática cuja influência marcará a
filosofia posterior.
4.
Kant: o formalismo moral Obras:
Crítica da Razão Pura
“O que podemos conhecer?”
Crítica da Razão Prática
- “O que podemos fazer?”
Fundamentação da metafísica dos costumes
4.
Kant: o formalismo moral
Ora, enquanto tudo na natureza age segundo leis,
apenas o ser humano age segundo princípios.
Agir por princípios exige
Capacidade de escolha
Portanto, só ele tem uma vontade
4.
Kant: o formalismo moral
E como para agir racionalmente ele precisa de princípios,
A vontade é a razão prática, o instrumento para
compreender o mundo dos costumes e orientar o
indivíduo na sua ação.
4.
O imperativo
Analisando os princípios da consciência moral, Kant usa o
conceito de imperativo, que pode ser:
a) Segundo um tempo verbal, uma ordem: “faça!”, “retire-se”
b) Na linguagem comum, o que se impõe como um dever:
“respeitar as pessoas é um imperativo para mim”
4.
O imperativo
a) Para Kant, o imperativo é um mandamento da razão que
serve para orientar a ação e se exprime pelo verbo dever.
Distingue dois tipos de imperativos:
- O imperativo hipotético: ordena uma ação como meio de
alcançar qualquer outra coisa que se queira; ou seja, a ação é
boa porque me possibilita alcançar outra coisa além dela (um
objeto, o prazer, o interesse, a felicidade)
4.
O imperativo
- O imperativo categórico: é o que visa a uma ação como
necessária por si mesma, ou seja, a ação é boa em si, e não
por ter como objetivo outra coisa; portanto, é assim chamado
por ser incondicionado, absoluto, voltado para a realização da
ação tendo em vista o dever.
4.
O imperativo
Ao distinguir imperativos hipotéticos dos imperativos
categóricos, Kant conclui que a vontade humana é
verdadeiramente moral apenas quando regida por estes últimos.
Rejeita as concepções éticas anteriores, quer seja a ética
grega, quer seja a ética cristã, que norteiam a ação moral a
partir de condicionantes como a felicidade, o prazer, o interesse.
4.
O imperativo
Para o sujeito racional, a ação não deve ser movida por
interesses com objetivo de ser feliz ou evitar a dor, ou ainda
para alcançar o céu ou não sofrer a punição divina.
4.
O imperativo
Pelo imperativo categórico, o agir moral funda-se
exclusivamente na razão.
Mais ainda, a lei moral que a razão descobre é universal, pois
não se trata de descoberta subjetiva, mas da pessoa como ser
racional, e que é necessária, pois é ela que preserva a
dignidade humana.
4. Nas palavras do próprio Kant:
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
Exemplificando, suponhamos a norma moral "não roubar": • para a concepção judaico-cristã, o fundamento da norma encontra-se
no sétimo mandamento de Deus: "Não furtarás".
• para os teóricos jusnaturalistas, funda-se no direito natural, comum a
todos os seres humanos;
• para os empiristas (como Locke), a norma deriva do interesse próprio,
pois o sujeito que a desobedece será submetido ao desprazer, à
censura pública ou à prisão;
4.
O imperativo
Para Kant, a norma enraíza-se na própria natureza da
razão. Caso se aceite o roubo e consequentemente o
enriquecimento ilícito, de modo a elevar-se essa máxima
(pessoal) ao nível universal, haverá uma contradição: se
todos podem roubar, não há como manter a posse do que
foi furtado.
4.
Autonomia e dignidade
A autonomia da razão para legislar supõe a liberdade e o
dever. Todo imperativo impõe-se como dever, mas essa
exigência não é heterônoma – exterior e cega - e sim
livremente assumida pelo sujeito que se autodetermina. É
essa a diferença que Kant percebe entre a sua ética e as
anteriormente propostas, porque para ele o indivíduo só
está sujeito à sua própria legislação, ainda que ele admita
que essa lei por ele erigida deve ser universal.
4.
Autonomia e dignidade
A ideia de autonomia e de universalidade da lei moral leva
a um outro conceito: o da dignidade humana, e, portanto,
do ser humano como fim e não como meio para o que quer
que seja.
4.
Autonomia e dignidade
Para tanto, Kant distingue as coisas que têm preço e as
que têm dignidade. As que têm preço podem ser trocadas
por um valor equivalente, mas as que têm dignidade valem
por si mesmas e estão acima de qualquer preço. Isso
significa que a moralidade por excelência é a que respeita
qualquer ser humano como fim em si mesmo e não meio
para o que quer que seja. Portanto, apenas os seres
humanos - e qualquer um deles - têm dignidade.
4.
Autonomia e dignidade
Assim diz Kant:
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na
tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre
e simultaneamente como fim e nunca simplesmente
como meio.”
4.
Autonomia e dignidade
Ao acentuar o caráter pessoal da liberdade, Kant elabora
as categorias da moral iluminista racional e laica.
No entanto, a moral kantiana é formalista porque fundada
na razão universal, abstrata, o que mereceu a crítica dos
filósofos posteriores. A partir do final do século XIX e ao
longo do século XX, os filósofos orientam-se no sentido de
descobrir o sujeito concreto da ação moral.
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