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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMOS

INTERVENÇÃO NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SANTA TERESA Reinserção do Doente Mental na Sociedade

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO I

Tamiris Capellaro Ferreira

São Carlos, junho 2012

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“No hospício o que cura é o próprio hospício. Por sua estrutura e funcionamento, ele deve ser um operador de transformações dos indivíduos.”

JEAN-ÉTIENNE DOMINIQUE ESQUIROL

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Índice

PRÉ-TGI

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

DEFINIÇÃO DA ÁREA

HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

ARQUITETURA PAVILHONAR

REFORMA PSIQUIÁTRICA

INTERVENÇÃO

DEFINIÇÃO PROJETUAL

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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Pré-TGI Desde o início deste trabalho, fomos instigados a pensar o que queremos transmitir com nossa arquitetura. O Pré-TGI veio corroborar com isso ao incentivar a busca de referências em todo o universo artístico e arquitetônico que já fazia parte do nosso repertório, e, a partir disso, descobrir o que nos move quando fazemos um projeto. Interessava-me, então, pensar as diferentes sensações e percepções que o usuário tem ao percorrer uma edificação, e o que essas percepções significam para ele. Além da articulação da arquitetura com uma discussão de cidade, pensando-a como um organismo vivo, em constante crescimento e transformação, onde camadas se sobrepõem, e diferentes dimensões temporais podem ser percebidas. Depois de um longo percurso de estudos, meu pensamento sobre arquitetura foi definido pelo conceito de “EXPERIÊNCIAS”. Eu acredito que um edifício, ou um espaço da cidade, devem trazer sensações distintas a cada pessoa que o vivencie. Apesar de ser um espaço estático, ele deve trazer lembranças, pensamentos, reflexões, impressões e percepções diferentes a cada pessoa, afinal, os indivíduos também possuem parâmetros únicos.

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Considerações Iniciais As vivências em relação à arquitetura são trazidas para discutir a forma como um edifício é visto, sentido e utilizado. Interessa-me pensar as diferentes sensações e percepções que o usuário tem ao percorrer uma edificação, e o que essas percepções significam para ele. Considerando o que havia sido feito no Pré-TGI, a partir do TGI-I eu passei a pensar as relações entre edifício e cidade e isto com a paisagem; a questão da identidade (que se dá pela história, cultura, vivência/experiência e pela memória). A partir disso, faço estudos sobre diferentes implantações (relação edifício-quadra) e depois busco referências de intervenção no patrimônio histórico ou construção de um edifício novo relacionado a ele, que são meus interesses em relação ao desenvolvimento de um projeto. Outras questões que permeiam meu universo projetual e que serão objetos de pesquisa a partir de referências que auxiliem no desenvolvimento do meu projeto são: o diálogo do edifício com o entorno; pesquisa sobre espaços livres definidos pelas edificações que favorecem o uso e a apropriação pelo usuário, estudos de percursos na quadra; estudo das relações existentes entre os espaços livres e as edificações que os conformam e o que isso representa para o usuário. A seguir, serão apresentados estudos iniciais de projetos e de referências que irão ajudar no desenvolvimento do meu projeto.

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OS OLHOS DA PELE – A ARQUITETURA E OS SENTIDOS . Juhani Pallasmaa

“Eu me experimento na cidade, e a cidade existe através da minha experiência corporificada. A cidade e meu corpo se complementam e se definem mutuamente. Eu moro na cidade e a cidade mora em mim.” “Possibilidade de ação que diferencia a arquitetura de outras formas de arte”. “O espaço arquitetônico é o espaço vivido e não o espaço físico, e o espaço vivido transcendem a geometria e a mensurabilidade.”

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

Esta parte do estudo traz as relações existentes entre espaços livres e as edificações que os conformam; a inserção da edificação no espaço, com ênfase para a composição de espaços livres criados pelos edifícios.

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO EDIFÍCIO – QUADRA

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RELAÇÃO ENTRE EDIFÍCIOS

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CARTA DE ATENAS (1931)

No trecho da Carta de Atenas que trata sobre o patrimônio histórico, defende-se a proteção dos monumentos, afirmando a tendência a não fazer reconstituições integrais; afirma também a necessidade de manutenção regular e permanente do patrimônio, o que garante a conservação dos edifícios. A Carta diz que no caso de restauração devido à deterioração ou destruição, deve-se manter a obra exatamente como ela era, e a utilização dos monumentos deve assegurar a continuidade de sua vida, destinando-os a finalidades de caráter histórico ou artístico. Além disso, evidencia o direito da coletividade em relação à propriedade de monumentos de interesse histórico, artístico ou científico. No que concerne aos materiais, aprova-se o emprego de materiais modernos no restauro de obras antigas, mas estes devem ser dissimulados, a fim de não alterar o aspecto e o caráter do edifício. A Carta de Atenas diz também sobre a valorização dos monumentos, recomendando a conservação das edificações vizinhas a eles, o que representaria um respeito ao caráter e à fisionomia das cidades. Plantações e ornamentos vegetais não devem reduzir o caráter antigo do monumento e deve-se atentar para a supressão da presença abusiva de postes ou fios telegráficos, indústria ruidosa ou com altas chaminés nas proximidades dos monumentos. Em relação à deterioração dos monumentos, a Carta afirma a necessidade de cuidados com agentes atmosféricos; necessidade de uso de um método diferente de conservação para cada caso; e a preocupação espacial com as esculturas.

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CARTA DE ATENAS (1931)

Sobre as técnicas de conservação, a Carta de Atenas afirma que as ruínas devem ser recolocadas em seus lugares originais, e se necessários materiais novos, estes deverão ser reconhecíveis. Além disso, é importante educar a população para que ela entenda o valor dos monumentos e os respeite. Como resumo, as principais resoluções da Carta de Atenas são: - devem ser criadas organizações internacionais de caráter operativo e consultivo na área do restauro; - propostas de projetos de restauro devem ser submetidas à crítica fundamentada, para prevenir erros que causem perda de características e valor histórico das estruturas; - os problemas de preservação dos sítios históricos devem ser resolvidos legislativamente ao nível nacional em todos os países; - sítios escavados que não sejam submetidos à programas imediatos de restauro devem ser recobertos para proteção; - as técnicas e materiais modernos podem ser usados no trabalho de restauro; - os sítios históricos devem merecer estritas medidas de custódia e proteção; - uma atenção particular deve incidir sobre as zonas de proteção dos sítios históricos.

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CARTA DE ATENAS

ESTUDOS SOBRE A

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CARTA DE ATENAS

ESTUDOS SOBRE A

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CARTA DE ATENAS

ESTUDOS SOBRE A

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CARTA DE VENEZA (1964)

A Carta de Veneza trata sobre a conservação e a restauração de monumentos e sítios. Pela Carta de Veneza, os monumentos são testemunhos das tradições seculares de um povo. Desta forma, a conservação e a restauração dos monumentos visam a salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Ela tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e se fundamenta no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A Carta de Veneza diz que os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história.

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LINA BO BARDI: TEMPO, HISTÓRIA E RESTAURO

O zeitgeist (espírito da época) considera que as formas do passado estão tornando-se obsoletas continuamente, sendo substituídas por outras, correspondentes às novas épocas históricas. Cada um dos períodos históricos possui uma singularidade que o caracteriza, que marca sua diferença com relação às etapas anteriores e posteriores. A arquitetura é a expressão singular da vida dos homens de seu tempo, a sua projeção do mundo. Ao sublinhar que as épocas passadas estão superadas, a arquiteta pretende evitar repetições enganosas, e promover o direito que o presente tem à sua própria manifestação. Rogers diz a respeito da necessidade de integração entre o presente e o patrimônio herdado pela experiência. É o sentido de continuidade histórica. “O tempo linear é uma invenção do ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo, nem fim.” (LINA BO BARDI). Para Lina, a referência à origem não pode significar a eterna repetição de modelos anteriores e a morte dos acontecimentos posteriores. A relação entre os tempos históricos tem que ser mútua e construtiva. Transformar todas as partes envolvidas. Lina apresenta dois conceitos fundamentais para pensar sua obra, o conceito de Presente histórico, para o qual cada consciência humana é capaz de explorar o passado e o presente, e a partir deles formular a sua própria versão dos fatos, sendo os homens ativos na construção da história. E o conceito de Intervenção, para ela, a atualização de um edifício deve ser, ao mesmo tempo, crítica e criativa, ao mesmo tempo em que as existências humanas, esforço e trabalho devem ser reconhecidos e considerados.

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LINA BO BARDI E SUA ATUAÇÃO NA ÁREA DA RESTAURAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO

O Solar do Unhão era um antigo complexo arquitetônico agroindustrial que, segundo Lina Bo Bardi, era digno de preservação. Lina conserva aspectos das suas diversas etapas de vida, sendo que atenção especial é dada ao solar, à igreja, aos galpões e aos pátios que os circundam. A diretriz básica da intervenção de Lina no Complexo do Unhão consiste em sublinhar os aspectos estruturais de cada uma das edificações. Já os aspectos secundários da intervenção são: colocação de piso com seixos e revestimento de reboco texturizado; simplificação das esquadrias; inserção de divisórias em treliças (delimitam os ambientes sem segregá-los). Lina mantém a amplitude dos espaços e seu aspecto rústico. A inserção de elementos de contemporaneidade: ajudam na leitura sobre a história do complexo agroindustrial; expõe a atualidade do restauro e da construção histórica. O Conjunto do Unhão foi restaurado de acordo com o método da restauração crítica, cuja prática foi adotada após a 2ª Guerra Mundial. O método crítico, de acordo com Lina, mantém todo o conteúdo poético ( elementos que merecem ser preservados) do monumento e procura integrá-lo à vida moderna. Essa postura também evidencia que a história desse conjunto arquitetônico não está concluída. É um estímulo para os cidadãos apropriarem-se do Unhão (apoderarem-se de suas histórias, pessoais e coletivas).

SOLAR DO UNHÃO (1962-1963)

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SOLAR DO UNHÃO (1962-1963)

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PALÁCIO DAS INDÚSTRIAS (1990-1992)

O edifício do Palácio das Indústrias seria transformado na prefeitura paulistana – grande importância na destinação do edifício (que é eclético) – Lina quer convertê-lo em um autêntico espaço público, voltado para a comunidade. “O palácio não será como são, em geral, os edifícios da Administração Pública, que impedem a participação da vida popular em um ambiente que, afinal, é dedicado a ela [...] a Nova Prefeitura será aberta ao público.” (LINA BO BARDI) Nesta obra, Lina segue o conceito de “Restauração Científica”, pelo qual o monumento é um documento, portador de legítimas informações históricas, então, todas as etapas de vida do monumento devem ser valorizadas – os novos enxertos devem ser “neutros”. No entanto, Lina, apesar de fazer poucas incorporações novas à obra, as faz nitidamente contemporâneas. Absolutamente necessárias para evidenciar o caráter atual do restauro, e da construção histórica. Lina afirma que o “Restauro Científico” possibilita agir no mundo da modernidade com o vigor e respeito pela história do trabalho dos homens. A obra não foi completamente executada.

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SESC POMPÉIA (1977-1986)

O Complexo fabril da Pompéia possui uma elegante e percursora estrutura de concreto, que já era apropriada pela população aos finais de semana como área de lazer. Desta forma, em seu restauro, Lina preocupou-se em preservar as qualidades formais; tendo a intenção de manter a plena ebulição de vida que a arquiteta encontrava nos galpões da antiga fábrica. Assim, são preservadas a implantação e a volumetria, e a intervenção consiste na construção de um teatro, uma biblioteca, uma barreira, um riacho e dois blocos esportivos, sendo todas as novas intervenções nitidamente contemporâneas. Lina preserva o entorno da Fábrica com sua rica experiência comunitária e promove a manutenção do caráter pulsante, público e democrático adquirido pelo espaço antes da sua intervenção. Há uma ativação de lembranças pessoais e memórias coletivas (início da industrialização paulistana; cotidiano dos trabalhadores). Ao intervir no complexo industrial, Lina recolhe imagens e as dispões em uma nova e provocativa (des)ordem; o que atualiza e potencializa a obra, dando espaço à novas interpretações de cada pessoa que experimente a obra. Estimula-se uma leitura da história pautada em uma imagem dinâmica (que dependa de um). Lina considera o presente como produto da ordem histórica. O passado traz uma lição histórica, oferece os meios para a compreensão do presente. Então, o presente e passado devem estabelecer uma ligação fecunda.

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SESC POMPÉIA (1977-1986) É esta a grande conquista de Lina: ela consegue romper definitivamente com aquela compreensão temporal que mantém os acontecimentos rigidamente encadeados em uma linha do tempo abstrata. No seu lugar é reposto um maravilhoso emaranhado, e é nele que a arquiteta recolhe os acontecimentos e os vincula de um modo inusitado e provocativo. Sem começo e nem fim. Para ela, é preciso considerar o passado como presente histórico (ainda vivo). A fábrica, diferentemente das outras da região, foi mantida e o convívio espontâneo, que ali se manifestava antes da intervenção, foi preservado, assim como a inovadora estrutura de concreto (este também foi usado na construção do edifício novo). Com as novas torres, Lina resgata a escala fabril e a integração do antigo com o novo, que se dá inclusive na coerência com as tecnologias construtivas empregadas. Para Lina, a referência à origem não pode significar a eterna repetição de modelos anteriores e a morte dos acontecimentos posteriores, pois o fato arquitetônico é “aberto” (valorização das pré-existências, mas requalificação delas). A preservação, segundo Lina, não é feita para “salvar” uma edificação do passado, mas para ressignificar essa construção. Por isso, o presente histórico é o presente que traz raízes e memórias não sendo, contudo, passado. Segundo ela, não há lugar para a autonomia de um passado congelado.

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CARLO SCARPA (1906-1978)

Carlo Scarpa possuía um excepcional conhecimento de matérias-primas. Os projetos de Scarpa são, na realidade, acordos provisórios; e a memória involuntária que surge em seus desenhos aponta de volta para o passado. Torna-se, assim, possível ver o fragmento de arquitetura como a forma de realização preferida do trabalho de Scarpa e sua rejeição pelo hábito. Ele fazia seu trabalho com perícia; usava muito o padrão geométrico e via os elementos naturais como materiais de composição. O trabalho de Scarpa tem um forte papel na memória visual. Para ele, o olhar sobre o objeto arquitetônico tinha importância fundamental; suas composições consistem em fendas e contrastes – suas dúvidas sobre a norma conduzem à diferença. No detalhe, o desvio toma forma: a atenção do espectador concentra-se nele. O fragmento obriga a uma visão mais próxima, que traz o objeto para mais perto. Scarpa usa artifício, detalhe, diferença, fragmento, sendo que este é resultado da descontinuidade.

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QUERINI STAMPALIA FOUNDATION, VENEZA - CARLO SCARPA

A edificação é um lembrete da capacidade da arquitetura de incorporar qualidades particulares, sem ser literal. A Querini Stampalia foi, originalmente, um palácio para uma família, construído no século XVI e, posteriormente, transformado em uma pequena fundação dedicada a “promover o estudo de disciplinas úteis e conhecimentos estrangeiros”. Após uma série de inundações no início de 1900, Carlo Scarpa foi chamado para reformar o piso térreo a fim de preveni-las. No projeto, Scarpa compreende a água como uma força perturbadora, como um meio travado entre a solidez da terra e a volatilidade do céu. A água é, ao mesmo tempo, confiável e volátil; está presente como a terra, mas em constante mutação, como o céu. Veneza incorpora, segundo Cadwell, essa precariedade: “Em Veneza, os edifícios não brotam da terra – prendem-se com a lama abaixo”. Essa qualidade aquática, essa peculiaridade, permeia a Querini Stampalia.

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QUERINI STAMPALIA FOUNDATION, VENEZA - CARLO SCARPA

No projeto, a entrada principal é uma pequena ponte, que cai um pouco abaixo da linha do solo estabelecido e nos traz mais perto da água. Assim, mesmo antes de entrar no edifício, Scarpa põe em questão a solidez do terreno. Dentro da galeria principal, encontramos uma articulação similar dos níveis conflitantes e uma ambiguidade perturbadora sobre a localização do solo e da água. A galeria desce a partir do hall de entrada, colocando o piso ainda mais abaixo da linha de solo estabelecida. O chão é detalhado para cheias e sobe a parede, definindo uma “linha de flutuação” da água. Sem ser explícito, Scarpa coloca o visitante em algum lugar, não definido, debaixo d'água. “Estamos até os tornozelos. A grama do lado de fora está acima desta linha, mas não importa, a água sobe até nossas canelas”(SCARPA). Estas linhas de água acabam com qualquer sentimento de uma base sólida, mas localiza a sala em algum lugar entre a vazante da maré. Embora a galeria antecipe a água e sua presença possa ser sentida por toda a parte, é profundamente perturbadora a falta de água e a ausência de qualquer referência indicando onde fica a linha de água. A galeria dá dicas, mas não fornece garantias. A água é ausente, mas sua presença é sentido por toda parte. Scarpa transforma o problema (inundação) em solução. O problema passa a ser peça chave do projeto, sendo que o projeto incorpora o problema como solução, dando a ele um novo significado.

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QUERINI STAMPALIA FOUNDATION, VENEZA CARLO SCARPA

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PINACOTECA – Intervenção de Paulo Mendes da Rocha

A grande ação de Paulo Mendes da Rocha em sua intervenção na Pinacoteca foi trocar o local da entrada principal. Como ações secundárias, pode-se destacar a criação de uma infraestrutura mais funcional (elevador, sanitários, depósitos, …); consolidação das estruturas em alvenaria (o arquiteto “descasca” o edifício inteiro); sobre os pátios internos foram colocadas clarabóias planas com estrutura metálica reticular e vidros laminados – isso trouxe luz natural para o interior do edifício.

A luz permeia e unifica todo o edifício. Para aumentar sua incidência, todas as esquadrias foram retiradas, ficando seus vãos abertos.

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MASSIMO CARMASSI – LUCCA, A RESTAURAÇÃO DO CONVENTO COLÉGIO ROYAL DE SANTO FREDIANO COMO UM MUSEU DE ARTE SACRA

O mosteiro ao lado da Basílica de São Frediano é um complexo monumental que consiste em uma série de salas abobadadas distribuídas em torno de um claustro dos trezentos e dois claustros renascentistas. O restauro envolveu a consolidação e reorganização das estruturas de telhado, a libertação dos arcos do pátio da primeira colisão e acréscimos, a compensação das parcelas em colapso no momento da treliça e um terço da circunferência do grande salão apoiado por reforços de madeira. Quanto à recuperação da intervenção decorativa, a metodologia preliminar envolve a verificação do estado de conservação das decorações escondidas, em uma operação de limpeza limitada às camadas superficiais, deixando à vista apenas algumas das faixas mais profundas através de eventuais lacunas. A reorganização proposta tem maior preocupação funcional para com a ala oeste do prédio, onde é colocada uma escada de pedra, três rampas e um elevador transparente. Os assoalhos metálicos foram escondidos por um teto falso em abóbada: uma introdução ao tema da cobertura das salas do primeiro andar. O espaço do átrio, parcialmente composta por pé direito duplo, adquiriu uma nova qualidade, em termos de iluminação, graças à reabertura de algumas pequenas janelas na parte oeste e um conjunto completo de portas e janelas em direção ao claustro.

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MUSEU TATE MODERN, LONDRES HERZOG E DE MEURON

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Definição da Área Desde o início do processo eu pretendia trabalhar com as relações entre as edificações e os espaços conformados por elas e com edifícios históricos. Fui procurar uma área que atendesse a esses quesitos e me deparei com um interessante desafio, o de trabalhar com uma área tombada desde 2004 e que se trata de um Hospital Psiquiátrico. A intenção não era intervir especificamente em um Hospital Psiquiátrico, mas por ser um patrimônio (um lugar importante para a história da cidade), que está sendo degradado e precisa ser preservado e, acima de tudo, um lugar de importância funcional para a cidade, percebi que seria um interessante desafio intervir neste local, principalmente para adequá-lo às novas necessidades da doença mental no Brasil (reinserção dos pacientes na sociedade), o que envolve um trabalho contra o preconceito e para a conscientização de toda a sociedade. Existe uma forte relação entre preservação, memória e saúde mental, sendo que é fundamental ao doente mental identificar-se com o espaço, reconhecer-se nele, sentir-se bem onde ele estiver, para que sua recuperação seja facilitada. Assim sendo, deve-se preservar o patrimônio para manter a memória e a identidade. Atender a isso, e à reinserção do doente mental na sociedade são os principais objetivos da intervenção que será realizada.

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A criação do Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, na década de 40 do século XX, segundo consta, deu-se divido à necessidade de desafogamento do Hospital Psiquiátrico de Juqueri, em São Paulo; ou seja, o hospital abriu com pacientes vindos de lá. Havia também uma demanda à assistência psiquiátrica no município de Ribeirão Preto e na região. A questão política também foi importante. A criação de um Hospital de Alienados em Ribeirão Preto em 1944 foi um do inventor federal do Estado, Ademar de Barros. A criação do Hospital Santa Teresa foi decretada em 1937, mas só no dia 1 de março de 1944 o hospital começou a funcionar oficialmente.

História do Hospital Santa Teresa

Imagem aérea do Hospital Santa Teresa na época de sua criação.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Imagem aérea do Hospital Santa Teresa na época de sua criação.

Imagem do Hospital Santa Teresa na época de sua criação.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Ribeirão Preto da década de 1940 vivia o problema dos que podiam e dos que não podiam pagar pelo tratamento científico da loucura. Os primeiros buscavam os sanatórios particulares: Hospital Emboaba (criado em abril de 1941) e o Sanatório Esquirol (criado em agosto de 944), ambos fundados por médicos que faziam parte do quadro de psiquiatras do Hospital Santa Teresa. Para os indigentes, oficialmente até 1944 tinha-se apenas o Asilo para Dementes dr. Bezerra de Menezes, que era particular, mas o seu estatuto tinha como finalidade principal o asilo e o “tratamento de doentes mentais reconhecidamente pobres”. Esse asilo foi fundado em 25 de dezembro de 1933; sua clientela era predominantemente vinda das cadeias públicas de Ribeirão Preto e região, inclusive do sul de Minas Gerais. O tratamento era um “misto” entre científico e espiritual, sendo que se tratava de um estabelecimento de doutrina espírita. Uma cidade “do porte de Ribeirão Preto”, berço do maior pólo cafeicultor do Brasil, não podia mais continuar colocando os dementes amontoados nas cadeias locais ou deixá-los habitar as praças públicas. Era preciso um hospital. O Hospital de Psycopathas de Ribeirão Preto foi criado por decreto do interventor federal no Estado de São Paulo, Ademar de Barros, em 1937, no prédio do antigo Posto Zootécnico na Estação Santa Tereza. Foi reformado para este fim, mas antes mesmo de começar a funcionar, os materiais foram retirados e lá se instalou o novo quartel do 3º batalhão da Força Pública. O Hospital de Alienados de Ribeirão Preto teria de esperar mais 7 anos por sua criação (1944), naquele mesmo lugar.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

O Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto foi instalado em uma das grandes propriedades do Município, na antiga Fazenda Santa-Theresa de propriedade de Francisca Maria do Val, eminente fazendeira, que rivalizava “pela sua importância agrícola com a Senhora Dona Iria Alves, a ‘rainha do café’”. A Estação Santa Teresa da Companhia Mogiana localizava-se há apenas meia hora da fazenda. (BRAZIL MAGAZINE, 1911). A Era do Café em Ribeirão Preto coincidiu com o período da República Velha. Iniciada na década de 1880 estendeu-se até a crise, em 1929. Centro da “maior área produtora de café do mundo”, Ribeirão Preto era frequentemente chamada de Capital do Café. Apesar de não ter sido completamente destruída pela crise de 1929, a importância do café na economia do Município – tanto relativa quanto absoluta – decaiu continuamente a partir de então. (...) Ao mesmo tempo, enquanto o café entrou em declínio após 1929, os setores industrial, comercial e de serviços, que começaram a se desenvolver durante a era do café, definitivamente, tiveram seu crescimento acelerado. O setor de serviços experimentou crescimento espetacular. (...) O número de hospitais em Ribeirão Preto saltou de um em 1911, para 11 em meados da década de 1950. A cidade havia se tornado um centro médico e educacional para todo o interior de São Paulo, Minas Gerais e outros Estados vizinhos (WALKER e BARBOSA, 2000).

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Na década de 40, a Fazenda Santa Teresa, “que foi uma das maiores produtoras de café da região no início do século, mas depois da decadência, na diáspora do café, essa gente perdeu todo o patrimônio”, nas mesmas instalações que seriam por fim destinadas ao Hospital, teve uma história de efêmeras acomodações e constantes readaptações e mudanças de instalações financiadas pelo poder público federal. A efetivação do Santa Teresa, na década de 40, institucionaliza a assistência psiquiátrica pública e científica em Ribeirão Preto, uma vez que se trata do primeiro macrospício governamental dessa cidade. Dr. Joaquim Cardoso de Mello Neto assinou o decreto de novembro de 1937, instituindo reformas em um Patronato Agrícola de Ribeirão Preto para o funcionamento de um Hospital Regional de Insanos, que se torna dependência do Hospital de Juqueri em junho de 1938. Em dezembro de 1940 a criação do Hospital é anulada. Quatro anos depois, o este terá por fim sua certidão de nascimento, em 29 de fevereiro de 1944, por um telegrama enviado à estação Santa Teresa da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, comunicando a transferência de vinte internos do sexo masculino do Hospício de Juqueri para o Hospital Regional de Insanos de Ribeirão Preto. Só um ano depois ele passaria a receber pacientes da região. Em 1949 é novamente reconhecido como dependência do Departamento de Assistência a Psicopatas através do decreto assinado pelo governador do Estado, Dr. Ademar de Barros.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Segundo entrevista com antigos internos, pode-se constatar que, à época da criação do Hospital: (...) “aqueles primeiros pavilhões debaixo que ainda são os primeiros do tempo do Quartel, puseram mulheres (a partir de 1945) numa parte e homens na outra. Nessa época, o Hospital ainda abrigava parte do Quartel. Lá ficaram misturados soldados e insanos. Os tenentes e os sargentos ocupavam quatro residências e colocaram os soldados na antiga administração. O Hospital não podia ladrilhar porque tinha muito epiléptico, cai, bate a cabeça, morre. Tinha que ser gramado, mas não deu tempo de colocar grama. Não tinha uma árvore, não tinha nada, era limpo, de longe se via tudo. Não tinha cozinha, nem almoxarifado, nem administração e nem aquela casa na frente da administração que foi aonde os médicos dormiam antigamente. Não tinha nenhuma galeria; doente se manejava de um lugar para o outro na chuva, no sol, na terra. O asfalto veio bem depois dentro do Hospital. Aquilo tudo foi feito o Hospital já tinha uns 3 ou 4 anos.” Como recursos terapêuticos, o Hospital empregava principalmente a laborterapia ou a praxiterapia. Os pacientes varriam, plantavam, cozinhavam, etc. Por um lado essa “cura pelo trabalho” funcionava como lenitivo para o sofrimento do paciente, por outro lado, as funções são sempre de “manutenção” e redução de gastos públicos para com os pacientes. É importante destacar que, na época, o objetivo era a criação de um hospital colônia agrícola, e, portanto, a terapia predominante para a época e para o tipo de estabelecimento almejado teria que ser mesmo a laborterapia. O Hospital era uma fazenda, tinha vaca leiteira, gado, criação de porco e de galinha. Tinha plantação de fruta, horta. Os doentes cuidavam e comiam.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Em 1944 inaugura-se o Hospital Psiquiátrico de Ribeirão Preto a 6 Km da cidade, passando a ser conhecido como Santa Tereza, nome tirado da Estação de Estrada de Ferro São Paulo – Minas, que ficava ao seu lado. Seu funcionamento inicial esteve intrinsecamente ligado ao Hospital de Juqueri, pois o Prof. Franco da Rocha, já em 1899, levanta a necessidade de colônias esparsas pelo interior, as quais seriam necessárias quando “nosso Hospício de Juqueri tiver, num futuro não longínquo, doentes em tal número que impossibilite a administração, digamos, 1000 doentes, uma porção destes poderá ser removida para pequenas colônias agrícolas próximas às cidades” (CONTEL, 1980). Em 1971, MINZONI assim descreveu o Hospital Sana Teresa: “Fica a 6 Km da cidade, com 1100000m² de área, sendo 12000m² construídos e 4000m² em construção. É um hospital governamental, com 26 anos de existência, dividido em duas grandes secções, masculina e feminina. Possui área externa ajardinada, porém os pátios são de terra. É um Hospital escuro, pintado em cor ocre e está sempre limpo. Possui dois refeitórios para a secção masculina e um para a feminina. Os refeitórios são pintados, com o chão de ladrilho gasto. Possui grandes mesas, que ocupam a extensão toda do refeitório, com bancos ao longo delas. Não há secção de praxiterapia para os pacientes, mas alguns são encaminhados para ajudar na lavanderia, rouparia, costura, cozinha e trabalhos nos jardins e pomares. Sua capacidade é para 900 doentes e possui atualmente 1230, sendo 530 mulheres e 700 homens.”

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Imagens do Hospital Santa Teresa na década de 1970.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

É de praxe na história da psiquiatria a localização dos hospícios, como dos leprosários, dos cemitérios e, posteriormente, das cadeias, fora do perímetro urbano, no limite das cidades. O Hospital Santa Teresa não fugiu a essa regra, que era justificada, no caso dos hospícios, pela necessidade de isolamento dos doentes, mas que, por outro lado, sabemos que contribuía para a limpeza da cidade, que deveria ser “embelezada”, proscrevendo-se os “elementos” indesejados/ improdutivos. Só na década de 1960 é que se deu a construção do prolongamento da Avenida Independência (aprovado em 1950) que daria acesso da Cidade Universitária (antes Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – valor significativo e de grande importância relativa à hospitais) ao Santa Teresa e, a partir de então, começou a circular transporte coletivo para aquelas imediações. Até então, o Hospital encontrava-se fora da cidade e só era possível acessá-lo por estradas de terra. Pela dificuldade de chegar ao hospital, alguns de seus funcionários moravam lá mesmo, inclusive o próprio diretor, que morava em uma casa dentro do Hospital. Sobre esse aspecto é interessante notar que, assim, eram excluídos do convívio social amplo os doentes mentais e os que lhes assistiam. “Não tinha ônibus, não tinha asfalto, não tinha nada; tinha só a Mogiana, era o trenzinho, mas não parava aí, parava na estação. Então o povo vinha de bicicleta, de charrete, a pé, ou morava lá. (...) Muitos rapazes e moças moraram no Hospital. As moças moravam onde é a Creche, que era um sobrado e elas moravam em cima. Ali era um sobrado antigo, que foi muito modificado; foi ambulatório, escola de crianças de fora (...).”

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Hospital Santa Teresa, localizado à aproximadamente 6 Km de distância do centro da cidade.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

MINZONI (1971) constatou dificuldades de locomoção interna ao Hospital, devido à estrutura de construção antiga, tipo pavilhonar, com grandes distâncias entre as diversas seções. Assim, por exemplo, se um paciente precisava ser levado de maca à ala feminina para a seção de cirurgias, eram necessárias, pelo menos, quatro pessoas para o transporte, que carregariam a maca por um trajeto em aclives, com escadas e rampas. Além disso, faltavam outras estruturas fundamentais; os atendentes, por exemplo, usavam os banheiros dos pacientes, pois não haviam banheiros separados para eles. Todos os atendentes residiam longe do Hospital. Os meios de transporte usados eram bicicleta, charrete, ou carro alugado. Alguns se locomoviam a pé e gastavam aproximadamente 50 minutos nesse trajeto.

Para os pacientes, a visita era permitida uma vez por semana e os familiares eram recebidos no pátio ou numa sala separada. Telegramas e telefonemas não eram permitidos. O hospital, por ser público, atendia exclusivamente indigentes, tendo-se assim grande propensão à exclusão e ao abandono social, além do acúmulo de anos no ambiente hospitalar, o que culmina na cronificação desses pacientes e na superlotação do hospital, já que a quantidade de pacientes que entra é muito maior do que a que sai.

Pátios de terra do Hospital Santa Teresa, em 1965.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

A desinstitucionalização do Hospital Santa Teresa embora seja um processo existente e constitua, sem dúvida, um avanço na história do manicômio, articulado à reestruturação da assistência psiquiátrica no mundo, observamos que é um processo incipiente ainda, apesar de já possuir mais de 10 anos (1983-2001) de experiência renovadora. CONTEL (1980) observou o caráter “lento” dos hospitais com características custodiais em concretizar mudanças: “A instalação de programas que impliquem em maior contato com a comunidade é retardada ao máximo, pois implicam em uma organização e funcionamento hospitalar mais diferenciado e que se afastam do tradicional. ”Por que um percentual, em 2001, tão limitado de pacientes em vias de desistitucionalização? (18,38% do total de 272 pacientes internados no Hospital na época). Ou por que os pacientes-moradores fazem ainda as mesmas coisas: ou vagueiam pelo Hospital, ou praticam “a boa laborterapia”, ou mantêm-se nos horários permitidos nas enfermariam/pavilhões? E por que o tempo continua ainda aquele tempo antigo, o “tempo-morto” dos manicômios, cujos horários pré-estabelecidos das refeições, quase sempre absurdos e a fixidez das atividades ainda preenche os ares, os odores, os cantos (o antro?) do Hospital? Segundo CONTEL (1980), o interior dos hospitais psiquiátricos divide-se em dois, sendo um pequeno, de pacientes agudos com rápida rotatividade e por isso de fácil renovação. E um grande de pacientes crônicos, de longa permanência que constitui a clientela predominante e estática, que chega a constituir uma ameaça de paralisação do funcionamento da instituição. Outra “parte” que constitui os grandes hospitais psiquiátricos tradicionais são pátios e quartos-fortes que em Ribeirão Preto recebem o nome de rotundas, que veio com os primeiros pacientes e técnicos trazidos de Juqueri.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Para resolver o problema de superlotação, por volta da década de 1970, foi feita uma ampliação, sendo construído um novo pavilhão, de 160 leitos, perpetuando os problemas do hospital e agravando-os ainda mais (falta de médicos, profissionais da saúde e funcionários). O crescimento do número de leitos era quase uma norma para encobrir a impotência face ao asilamento e suas consequências (CONTEL, 1980). Frente a esse problema e com o início da desistitucionalização, houve a redução, a partir de 1983, do espaço asilar do Santa Teresa, intensificado com a implantação do Núcleo de Convívio, na Vila Terapêutica, das Pensões Protegidas e das Resistências Assistidas; o que se fortaleceu pelas ações de: - implantação das Ações Integradas de Saúde (AIH’s) e do Sistema Único de Saúde (SUS) em Ribeirão Preto na década de 80; -repercussão do Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, década de 80; - Encontros e Conferências Municipais e Estaduais de Saúde Mental, década de 80 e de 90; -Semanas Internas do Santa Teresa, décadas de 80 e de 90; -Jornadas Regionais de Saúde Mental, década de 90; -Projeto Delgado no nível federal e Projeto Gouveira, no nível estadual, na década de 90; -Criação do Núcleo de Luta Antimanicomial de Ribeirão Preto, 1993.

Imagem do Hospital Santa Teresa na década de 1980.

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

Corroborando com estas questões, houve a criação da Lei de Reforma Psiquiátrica de Ribeirão Preto em 07/06/1994 (Lei 6.820). No âmbito legislativo, o projeto terapêutico das Pensões Protegidas e residências Assistidas do Santa Teresa, recebeu o incentivo da Lei 8.555 de 01/09/99 que autoriza a Companhia habitacional de Ribeirão Preto (COHAB-RP) a destinar ao Projeto Casa Própria do Hospital, independentemente de ordem de inscrição, dez casas na medida que forem sendo retomadas do Conjunto Habitacional Branca Salles em Ribeirão Preto. O processo de redução do espaço asilar e concomitante ampliação do espaço terapêutico/comunitário do Santa Teresa, delineia a sua atualidade junto às políticas de desinstucionalização que se multiplicam no nível internacional desde os anos 50, e mais recentemente – anos 70 – no nível nacional. Daí podemos situar o processo de transformação do Hospital Santa Teresa como um processo híbrido, em que no discurso predomina o referencial da desinstitucionalização basagliana e, na prática, oscila entre o modelo tradicional de colônias agrícolas psiquiátricas, o modelo de comunidade terapêutica de Maxwell Jones e um menor percentual de tentativa de desinstitucionalização de cunho basagliano. Foram abolidos os quartos-fortes, eletrochoques e similares de aplicação coercitiva. Houve a criação dos espaços de moradias menores e mais personalizadas com o advento das assembleias semanais dos moradores (pacientes) e a implementação de passeios ao centro comercial da cidade com fins sociais – Núcleo de Convívio e Vila Terapêutica. E principalmente, foram criados os espaços de habitação para os ex-pacientes, agora moradores pensionistas, na própria comunidade - as Pensões Protegidas e as Residências Assistidas.

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A arquitetura de Tipologia Pavilhonar apresenta barreiras físicas à contaminação; por isso, o espaço hospitalar, como área física, era importante para o processo de cura, respondendo espacialmente às exigências das práticas médicas de então (a tipologia que surge no final do século XVIII). Era um conceito de Hospital Terapêutico, pelo qual havia uma sinergia entre as práticas médico-hospitalares e o espaço arquitetônico. “A história nos ensinou que o partido pavilhonar é, desde o século XIX até hoje, utilizado em um grande número de edificações hospitalares; foi gerado a partir de uma crítica radical aos procedimentos médicos e de enfermagem então adotados, assim como as edificação onde estas atividades eram praticadas.” (FOUCAULT, 1979). A “anatomia” do hospital pavilhonar reflete a preocupação de seus projetistas não só em garantir uma maior proteção aos enfermos, internando-os em enfermarias isoladas em pavilhões, como também em proporcionar aos pacientes uma integração maior com a natureza, através dos pátios ajardinados situados entre os pavilhões ou das imensas janelas localizadas junto aos leitos em ambos os lados das enfermarias. As soluções arquitetônicas adotadas no modelo pavilhonar propiciavam melhores condições de iluminação e ventilação naturais, reconhecendo a ação profilática dos raios solares e do contato direto com o meio ambiente.

Arquitetura Pavilhonar

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Segundo Lelé (João Filgueiras Lima): - O hospital, como edificação, poderia ter um papel relevante na recuperação de seus pacientes, ou, pelo contrário, retardá-la. - Lelé diz que nunca precisou ser “um especialista em hospital”, já que podia obter as informações de que precisava de médicos e enfermeiros. - O modelo pavilhonar, com seus jardins integrados aos pavilhões, com pátios ajardinados, é muito agradável. Com o surgimento do hospital tecnológico na forma de monobloco, troca-se a qualidade espacial do modelo pavilhonar por uma proposta arquitetônica, no mínimo, angustiante. - É fundamental que a arquitetura de uma edificação viabilize sua permanente atualização, principalmente quando se trata de uma edificação hospitalar. O partido em monobloco, por melhor que seja o projeto, dificulta bastante qualquer tipo de mudança ou de expansão. - Imaginamos que o edifício hospitalar e, consequentemente, a nossa participação na concepção e construção são importantes para o desenvolvimento das atividades de saúde porque, na criação de espaços adequados e na organização racional, oferecemos o respaldo para o trabalho eficiente da equipe de saúde na busca da cura dos doentes.

Reforma Psiquiátrica ARQUITETURA PAVILHONAR

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A Lei nº 10216 redireciona o modelo assistencial em saúde mental, enfatizando a convivência comunitária e a atenção extra-hospitalar para portadores de distúrbio mental. No entanto, o Brasil enfrenta um grande desafio na consolidação da reforma psiquiátrica, a qual se difunde nos discursos, porém as ações de implementação não acontecem na mesma proporção. Constata-se em Ribeirão Preto, um número insuficiente de serviços comunitários, além da fragilidade dos vínculos de integração do usuário com estes serviços. A saúde mental tem passado por importante processo de transformação em suas bases teóricas e práticas assistenciais, decorrentes do contexto internacional das políticas desenvolvidas pela Agência Nacional de Saúde. Ao longo das últimas décadas, diversos serviços têm políticas de atenção em saúde mental baseados no elemento central comum de alteração do eixo da atenção do hospital para a comunidade, objetivando a continuidade e a atenção integral. O relatório sobre a saúde no mundo, da Organização Mundial da Saúde, enfatiza que não deverá existir discriminação aos doentes mentais e que deverá ser concedido a todo o doente o direito de ter os cuidados necessários, na sua própria comunidade. Termina afirmando que todo doente deverá ter o direito de ser tratado de forma menos restritiva e intrusiva, num ambiente menos limitativo possível. (OMS, 2001).

Reforma Psiquiátrica

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Hoje, o Ministério da Saúde brasileiro determina que as equipes de saúde mental repensem o modelo de atendimento e estimula a criação de serviços alternativos aos manicômios. A principal finalidade é permitir que pessoas com problemas psíquicos não sejam excluídas do convívio social. Os conceitos de desospitalização, desinstitucionalização e rede de atenção guiam o processo de mudança de foco dominante das ações psiquiátricas da área intra-hospitalar para extra-hospitalar, onde os serviços ambulatoriais e centros de atenção diária passam gradativamente a assumir e dividir o papel da assistência em saúde mental. Dessa forma, foi necessário criar serviços alternativos e a construção de uma nova rede de atendimento em saúde mental para, gradativamente, substituir o modelo hospitalocêntrico. Foram criados serviços ambulatoriais, com equipes multidisciplinais voltadas para a saúde, centros e núcleos de atenção psicossocial, hospitais-dia, unidades psiquiátricas dentro de hospitais gerais, centros de convivências, oficinas terapêuticas, lares abrigados, cooperativas e grupos de trabalho. No Brasil, os macrohospitais psiquiátricos decrescem gradativamente e deixam de ser a base para a assistência psiquiátrica, cedendo lugar aos serviços de base comunitária, de variada complexidade, os quais devem ser utilizados de acordo com a complexidade dos quadros nosológicos atendidos.

Reforma Psiquiátrica REFORMA PSIQUIÁTRICA

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Nos últimos anos, conseguiu-se, gradativamente, a expansão, consolidação e qualificação da rede de atenção à saúde mental, sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os quais foram objetos principais das ações e normatizações do Ministério da saúde. Os novos serviços mostram a possibilidade de outros tipos de intervenção em relação à doença psíquica, combatendo a exclusão, a estigmatização e a cronificação do transtorno mental. O movimento de reorientação do modelo assistencial brasileiro no campo da saúde mental difundiu-se muito no discurso, mas as ações para a implementação dos novos serviços estão aquém do necessário. A discriminação ao portador de transtorno mental e as próprias limitações causadas pela doença provocaram a exclusão e construíram a cultura de dependência. A transformação dessa cultura pressupõe inversão do pensar, de todos que ajudaram a condicioná-la. Além disso, observa-se que os familiares estão sobrecarregados, pois transferiu-se a responsabilidade institucional para eles, que passaram a ter papel de relevância perante as instituições de atendimento em saúde mental porém não recebem o apoio esperado desses profissionais para assumirem o seu familiar “doente” no contexto familiar.

Reforma Psiquiátrica REFORMA PSIQUIÁTRICA

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O trabalho com a família deve ser realizado desde as primeiras internações no sentido de não se romper o vínculo entre doente e seus familiares. Esta conscientização é deveras importante, pois 450 milhões de pessoas sofrem de perturbações mentais, neurológicas ou de problemas relacionados com o abuso de álcool e drogas. Portanto, rara é a família poupada de um encontro com perturbações mentais (OMS, 2001). A clientela tem um conjunto de necessidades muito complexas que não se resumem ao controle da sintomatologia psíquica e somática, mas que envolvem a integração na sociedade e o desempenho de papéis sociais de forma adequada. Necessitam de suporte para enfrentar as exigências da vida cotidiana e melhorar sua qualidade de vida, apesar da doença. Além disso, é responsabilidade de todos os serviços de atenção psiquiátricas, em especial os comunitários, o esclarecimento sobre a doença e as suas consequências, o qual se faz necessário e urgente. O acompanhamento e o tratamento no meio social só serão possíveis com a mudança de cultura de todos (profissionais, sociedade e dos próprios doentes). Apesar de todo o avanço, observa-se, ainda, o paradigma da exclusão social representado pelo isolamento, pelos preconceitos e pela perda da cidadania com consequente segregação social. Outro problema observado no cotidiano é a falta de integração dos serviços extra-hospitalares com o hospital, resumindo-se em agendamento da consulta no período de 10 dias e fornecimento de medicações para diminuir os riscos de abandono do tratamento, até o retorno no serviço comunitário de referência.

Reforma Psiquiátrica REFORMA PSIQUIÁTRICA

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Ribeirão Preto tem, hoje, três Ambulatórios de Saúde mental: Ambulatório de Saúde Mental “Guido Hetem”; Ambulatório de Saúde Mental Central “Nelson Okano” ; Núcleo de Saúde Mental do centro de saúde escola “Dr. Manoel dos Santos Gabarra”. A cidade tem duas outras estruturas de apoio ao doente mental, que são: CAPS AD – Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas; CAPS III de Ribeirão Preto. Os únicos locais destinados à internação dos doentes mentais em Ribeirão Preto são o Hospital Santa Teresa e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Os Ambulatórios de Saúde Mental realizam atendimento ambulatorial em psiquiatria e psicologia clínica para pessoas a partir de 18 anos. Os CAPS realizam atendimento multiprofissional em saúde mental para pessoas a partir de 18 anos em regime de semi-internação, residentes no distrito central, encaminhados do Ambulatório do Distrito Central, Hospital Santa Tereza e do Hospital das Clínicas. O CAPS III Dr. André Santiago é o único que possui atendimento 24h e realiza as seguintes atividades: atendimento 24 horas em regime intensivo com 5 leitos de permanência por 7 dias contínuos ou 10 descontínuos; atendimento em oficinas para inclusão social e reabilitação de pacientes com problemas mentais que necessitem de regime mais intensivo; atividade de Escola de Família para integração das famílias nos tratamentos e para abordagem das dificuldades enfrentadas com os transtornos mentais; atendimento externo e referenciado às Unidades Básicas e Distritais de Saúde para a avaliação de casos psiquiátricos enquadrados no sistema de urgência; suporte a Central de Regulação Médica para acompanhamento dos casos regulados nas Distritais ou com indicação para internação psiquiátrica; acompanhamento ambulatorial para os pacientes que passaram por regime intensivo que não tenham ainda retorno nas unidades de referência regionalizadas; atendimento à mulher vítima de violência doméstica, desde comunicados previamente os casos à coordenação (em implantação); rotinas.

Reforma Psiquiátrica MAPA DA DOENÇA MENTAL EM RIBEIRÃO PRETO

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MAPA DA DOENÇA MENTAL EM RIBEIRÃO PRETO

Localização dos apoios à doença mental em Ribeirão Preto e localização do Hospital Santa Teresa.

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Considerando as Cartas Patrimoniais e os preceitos da Reforma Psiquiátrica, propõe-se uma intervenção no Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto que promova um restauro dos velhos edifícios, ajudando a manter a memória e a identidade deste lugar, removendo deles todas as camadas que não lhes eram originais. Ao mesmo tempo, a intervenção traz algo novo para este espaço, sendo que, como na Carta de Veneza, o novo vai apresentar-se com características arquitetônicas e tecnológicas que não deixarão dúvidas quanto à sua contemporaneidade. Identificáveis como novas, as intervenções, que transformam este espaço em um grande parque para uso de toda a população de Ribeirão Preto, valorizam e autenticam o que é original e o que deve ser preservado. Aos usuários que não são doentes (parentes, funcionários,...), a intervenção possibilita conhecer melhor a doença mental, para que o estigma sobre ela seja deixado de lado; possibilita também uma interação com os doentes mentais e com o espaço do Hospital Psiquiátrico. Além disso, ela visa promover uma mudança na percepção sobre a saúde mental, o que se viabiliza pela criação de espaços onde pacientes e sociedade podem conviver, interagir e realizar atividades juntos. Desta forma, eu pretendo trazer a sociedade ao Hospital Psiquiátrico, e, informando-a, despi-la de seu preconceito contra a doença mental; acabar com o estigma sobre a “loucura”, e assim, promover uma nova visão da sociedade em relação ao Hospital psiquiátrico e aos doentes mentais.

Intervenção

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O objetivo da intervenção não é ajudar no tratamento apenas do doente, mas de toda a família (a família pode ter contribuído como causa da doença mental e pode agravá-la devido à discriminação e ao preconceito em relação ao doente). Por isso a importância de promover espaços de interação e socialização entre internos e suas famílias e também com a sociedade. O projeto tenta transformar o problema em solução. A doença mental e a dependência química são vistos atualmente como um problema; existe um grande estigma sobre eles e a intervenção busca mudar essa visão. Haverá também uma nova percepção desse espaço para o conjunto da sociedade, que não o verá mais como um espaço segregado, de doentes. É uma nova visão social para o lugar. Ao invés de um espaço de exclusão, trabalharemos com um ambiente de socialização, onde os doentes possam trabalhar, estudar e se integrar com a sociedade. Mudar a visão que se tinha de um Hospital Psiquiátrico, de um lugar de exclusão e medo para um local de sociabilização. E, além disso, um bom espaço físico contribui para a aceleração do tratamento. Para conseguir tal objetivo, será feito um percurso que leve à conscientização e à integração. Um percurso projetado, que possibilite o fim do preconceito e a sociabilização. Na entrada, será, analogamente, o momento do preconceito e ao longo do percurso a pessoa vai se despindo de seus antigos preconceitos para chegar à um espaço de nova consciência, nova visão. São criados espaços, momentos, que possibilitem a convivência entre doentes e não doentes, havendo, assim, um questionamento sobre a loucura. Como é um Hospital, naturalmente, alguns espaços serão restritos, no entanto, são momentos apenas, e devem ser vistos como tal, assim como é passageiro o momento de crise da doença. O convívio se dá aos poucos, pulverizado pelo percurso (praças ao longo do caminho, oficinas, espaços esportivos, horta, pomar,...).

Intervenção INTERVENÇÃO

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Na intervenção, a antiga casa do diretor vai virar um museu que conte a história do Hospital e a história da doença mental. Além disso, ela será “raspada” para colocar a mostra sua estrutura original; isso deve ficar bem evidente e deve ser feito com todas as edificações históricas do local. As edificações antigas serão recuperadas como eram originalmente, evidenciando os materiais e técnicas do tempo de sua construção. Quando mudanças forem imprescindíveis, devem ser marcadamente contemporâneas, assim como as novas intervenções e edificações. As novas coberturas, por exemplo, devem ser leves e delgadas, visando dar unidade e fluidez ao conjunto. Haverá uma reestruturação do viário, que será peça fundamental no percurso que descortina a nova consciência. Através de eixos e hierarquias viárias, as ruas levarão as pessoas a esse espaço de forma natural. Além disso, o espaço será dividido em núcleos, dentro dos quais haverão espaços mais segregados e espaços mais abertos, sendo feita uma gradação do primeiro para o segundo. As áreas de maior convívio com a sociedade devem ser convidativas e bem abertas, para que a população se aproprie do lugar.

Intervenção INTERVENÇÃO

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Antiga casa do diretor, que vai virar um museu que conte a história do Hospital e a história da doença mental.

INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

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As coberturas, que ligam as edificações, serão substituídas, deixando de ser apenas funcionais. Passando a ser leves e delgadas, vão dar maior unidade e fluidez ao conjunto.

INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Desenhos de propostas para novas coberturas. Novos desenhos são mostrados a seguir, juntamente com as propostas de implantação.

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Reestruturação das funções.

INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

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Houve a necessidade de redistribuir as funções pelas edificações já existentes no Hospital para que fosse possível realizar uma setorização mais funcional. Além disso, como se pode ver na imagem a seguir, os núcleos provenientes da nova setorização apresentam uma gradação de convívio. Eles vão de espaços mais segregados, aos quais as pessoas não podem ter acesso, como as áreas de “Internação de Agudos”, à espaços mais abertos, os quais também podem ser usados por familiares e pela população, pois são lugares de convívio e de aprendizado (desenvolvimento de oficinas).

Intervenção INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

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Reestruturação das funções – divisão em núcleos.

INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

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Nas imagens a seguir, destaca-se o percurso de sociabilização e nova consciência da doença mental. O início dele seria análogo ao momento de preconceito em relação à doença mental e, por isso, seria uma parte mais fechada e escura. À medida que se caminha e se conhece mais sobre a doença, o preconceito vai sendo deixado de lado e, analogamente, o percurso torna-se mais aberto. Na parte final do caminho, completamente despidas de seus preconceitos as pessoas passam a andar por espaços completamente claros e abertos, até chegar, ao fim do percurso, onde ficam o museu e o edifício novo (com área para exposições, espaço para palestras, biblioteca e café), a um momento de nova consciência, nova visão em relação à doença mental. A própria doença mental também pode ser relacionada como analogia ao percurso, sendo que a parte mais fechada, mais escura, corresponderia aos momentos de crise da doença, e, ao longo do tratamento, com o controle das crises e a volta da vida em sociedade, a visão se amplia, em espaços mais claros e abertos.

INTERVENÇÃO - PERCURSO

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INTERVENÇÃO - PERCURSO

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INTERVENÇÃO - PERCURSO

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Segundo a Carta de Veneza, conservação e a restauração dos monumentos visam a salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. Toda nova intervenção deve se destacar da composição arquitetônica; restauro deve ostentar a marca do nosso tempo. Usando dos preceitos da Carta de Veneza, o edifício novo será completamente diferentes das edificações já existentes no Hospital, no entanto, deve possuir alguns materiais semelhantes aos já existentes no local, para ressaltar o aspecto da memória e da identidade. Ao mesmo tempo, o novo edifício deve ser convidativo, para que as pessoas se apropriem dele. Para isso, ele terá espaços amplos, pé-direito alto e ser feito com materiais, como vidros, em grandes esquadrias, que permitam a continuidade da visão do espaço interno para o externo, e ao contrário.

Intervenção INTERVENÇÃO – EDIFÍCIO NOVO

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INTERVENÇÃO – EDIFÍCIO NOVO

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Visando melhorar as proposições apresentadas, foram feitos novos estudos para a intervenção. O percurso, que antes se configurava em um caminho fechado com aberturas passa a ser completamente aberto e a percorrer todo o espaço do Hospital. Desta forma, o papel do caminho que leva à nova consciência agora é desempenhado pelo viário, que foi reestruturado e ganhou força na intervenção. Foi feito um viário completamente novo, que considera as necessidades do lugar, as curvas de nível e a proposta principal do projeto, que é a reinserção do doente mental na sociedade através da sociabilização e do convívio com a sociedade, que deve perder o preconceito em relação à doença mental. Com este novo viário, agora estruturador de todo o projeto, o espaço do Hospital Santa Teresa passa a ser um grande parque, aberto para toda a população de Ribeirão Preto. A proposta de transformar o espaço em um grande parque torna-se especialmente interessante devido à proximidade do Hospital com a Mata Santa Teresa (uma mata preservada que o circunda) e com o Parque Ecológico Ângelo Rinaldi, logo a frente da área do Hospital.

Intervenção NOVAS PROPOSTAS

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Viário original e fluxos

INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE REESTRUTURAÇÃO DO VIÁRIO

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE REESTRUTURAÇÃO DO VIÁRIO

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE REESTRUTURAÇÃO DO VIÁRIO

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS PARA AS NOVAS COBERTURAS

Desenhos de propostas para novas coberturas. Novos desenhos são mostrados a seguir, juntamente com as propostas de implantação.

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE IMPLANTAÇÃO DO EDIFÍCIO NOVO

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE IMPLANTAÇÕES

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INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE IMPLANTAÇÕES

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Como o viário passou a ser o estruturador do projeto, propõe-se uma estrutura de ruas possuidora de dois eixos principais que se abrem em um triângulo, ao qual está inserido o museu e o edifício novo. Ambos são circundados por uma “Praça das Artes”, onde ficam expostos trabalhos feitos pelos doentes mentais. Este espaço é mais aberto, sendo possível também fazer um piquenique nas imediações da Praça. O parque possui, além da “Praça das Artes” e de áreas livres outros ambientes, como espaços para leitura, espaço com redes, espaço esportivo (com quadras, lanchonete e apoios), pomar e horta.

Intervenção INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE IMPLANTAÇÕES

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Uma nova tentativa foi a estruturação do viário com um desenho mais orgânico, em contraposição à ortogonalidade das edificações existentes, das novas coberturas propostas e dos planos de pisos (coberturas e planos de piso possuem a mesma linguagem no que diz respeito ao desenho). Nestes novos estudos de sistema viário, foi incorporada ao parque uma “Praça Seca”, com espaço para eventos e apoios. Além disso, houve uma maior preocupação com os lugares onde possam haver maior convívio. Para evidenciá-los, os planos de pisos ganharam um desenho diferente, com diagonais e maior área, assemelhando-se ao desenho da “Praça das Artes”.

Intervenção INTERVENÇÃO – ESTUDOS DE IMPLANTAÇÕES

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Viário mais orgânico.

Viário ortogonal, com destaque para as ruas que constituem os eixos principais, abrindo-se em um triângulo para a “Praça das Artes”.

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Considerando as Cartas Patrimoniais e os preceitos da Reforma Psiquiátrica, propõe-se uma intervenção no Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto que promova um restauro dos velhos edifícios, removendo deles todas as camadas que não lhes eram originais, mas que, ao mesmo tempo, traga algo novo para este espaço, sendo que, como na Carta de Veneza, o novo vai apresentar-se com características arquitetônicas e tecnológicas que não deixarão dúvidas quanto à sua contemporaneidade. Identificáveis como novas, as intervenções, que transformam este espaço em um grande parque para uso de toda a população de Ribeirão Preto, valorizam e autenticam o que é original e o que deve ser preservado. A intervenção viabiliza um maior conhecimento sobre a saúde mental e diversos espaços de convívio com os doentes mentais, onde pacientes e sociedade possam conviver, interagir e realizar atividades juntos. Desta forma, eu pretendo trazer a sociedade ao Hospital Psiquiátrico, e, informando-a, despí-la de seu preconceito contra a doença mental; acabar com o estigma sobre a “loucura”, e assim, promover uma nova visão da sociedade em relação ao Hospital e aos doentes.

Definição Projetual

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Ao invés de um espaço de exclusão, o Hospital torna-se um espaço de socialização, onde os doentes possam trabalhar, estudar e se integrar com a sociedade. A intenção é mudar a visão que se tinha de um Hospital Psiquiátrico, de um lugar de exclusão e medo para um espaço de sociabilização com a sociedade. Isso é possível através da criação de um percurso que leve à conscientização e à integração. Um percurso projetado, que possibilite uma nova percepção desse espaço para o conjunto da sociedade, que não o verá mais como um espaço segregado, de doentes. A intervenção trará uma nova visão social para o lugar. Para isso, foi pensado, na entrada, um momento do preconceito; e ao longo do percurso a pessoa vai se despindo de seus antigos preconceitos para chegar a um espaço de nova consciência, nova visão. O convívio vai se dando aos poucos; pulverizado pelo percurso, mas é ao fim dele (no espaço mais distante em relação à entrada), que acontece o ponto principal da intervenção e o ponto de maior compreensão da doença mental, que deverá significar o fim do preconceito. Ao término do percurso por diversos espaços e ao fim do eixo principal, constituído junto com a reestruturação do viário, encontra-se um museu, que conta a história do Hospital e da doença mental; e um edifício novo, inserido na “Praça das Artes”, um espaço de convívio e sociabilização.

Intervenção DEFINIÇÃO PROJETUAL

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PLANTA DE LOCALIZAÇÃO

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PLANTA DE SITUAÇÃO

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EXPLICAR O PQ DOS EIXOS

IMPLANTAÇÃO ATUAL

Edificações

Viário

Ruas de terra

Planos de piso

Praça

Praça

Estacionamento visitantes

Estacionamento

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Ao final de muitos estudos, o desenho do viário constituiu-se em uma união entre eixos principais mais ortogonais e vias secundárias mais orgânicas. Os eixos principais são os estruturadores do projeto, consistindo no fundamento do percurso para o fim do preconceito e início da nova consciência em relação à doença mental. Eles levam o usuário a percorrer todo o parque, ao longo do qual se pulverizam espaços de convívio, e culminando no ambiente principal da intervenção, que é a “Praça das Artes”, onde estão inseridos o museu e o edifício novo. Já as vias secundárias, mais orgânicas configuram espaços de maior convívio e sociabilização, contornando-os (“Praça das Artes” ; espaço esportivo, horta e pomar).

Intervenção INTERVENÇÃO – VIÁRIO

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INTERVENÇÃO – VIÁRIO

Eixos principais

Vias secundárias

Núcleos de convívio

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As “quadras” geradas pelo novo viário compõe diferentes espaços de convívio e sociabilização entre doentes mentais, familiares, funcionários e sociedade. A pessoa que entra no parque logo se depara com uma horta, um pomar e um espaço esportivo, com quadras, lanchonete e apoios; continuando o percurso pelo eixo principal, encontram-se praças, lugares com redes, espaços para leitura e uma “Praça Seca”, com ambiente para eventos e apoios. Os pátios conformados pelas edificações existentes também configuram espaços de convívio, interligados por desenhos de pisos e coberturas. Alguns trechos são mais restritos, e para que as pessoas não cheguem muito perto deles, foram plantadas árvores em suas proximidades. Finalmente, o percurso culmina no ponto principal da intervenção, que é a “Praça das Artes”, onde se localizam o museu e o edifício novo, com auditório, café, espaço para exposições e biblioteca. É um local bem aberto, que pode ser usado para piquenique.

Intervenção INTERVENÇÃO – IMPLANTAÇÃO

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INTERVENÇÃO – CORTES

Corte AA’

Corte BB’

Corte CC’

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_ARTIGAS, Rosa (org.). Paulo Mendes da Rocha. São Paulo, Cosac Naify, 2000. _GUIMARÃES, Jacileide. Sobre a criação do Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto: outras raízes de uma história. Ribeirão Preto-SP., EERP-USP, Dissertação de Mestrado.2001. _FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. 1997. São Paulo, Perspectiva. _FRAMPTON, Kenneth. Perspectivas para um Regionalismo Crítico. In: NESBITT, Kate (Org). Uma Nova Agendapara a Arquitetura: antologia teórica (1965 – 1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 503 – 520. _FRAMPTON, Kenneth. Perspectivas para um Regionalismo Crítico. In: NESBITT, Kate (Org). Uma Nova Agenda para a Arquitetura: antologia teórica (1965 – 1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 503 – 520. _Memória da Loucura: http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/ (acesso em maio de 2012) _www.ribeiraopreto.sp.gov.br/ssaude/programas (acesso em maio de 2012)

Revisão Bibliográfica

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