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    EDGAR RICE BURROUGHS

    TARZAN

    E AS JIAS DE OPAR

    Tarzan and the Jewels of Opar Copyright 2011 Edgar Rice Burroughs

    Publicado originalmente em 1915Traduzido por Godofredo Rangel

    Verso para E-Book sem fns lucratvos

    Cultura Digital / Sebo Digitalosebodigital.blogspot.com

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    NDICE

    CAPTULO I - BELGA E RABE........................................................... 5CAPTULO II - A CAMINHO DE OPAR.............................................. 11CAPTULO III - O APELO DA MATA ..................................................17CAPTULO IV - VATICINIO CUMPRIDO............................................ 23CAPTULO V - O ALTAR DO DEUS FLAMEJANTE.............................. 29

    CAPTULO VI - O ATAQUE DOS RABES.......................................... 35CAPTULO VII - A SALA DAS JIAS DE OPAR................................... 41CAPTULO VIII - A FUGA DE OPAR.................................................. 45CAPTULO IX - O FURTO DAS JIAS................................................ 51CAPTULO X - ACHMET ZEK V AS JIAS........................................ 59CAPTULO XI - TARZAN VIRA BICHO OUTRA VEZ............................ 67CAPTULO XII - LA BUSCA VINGANA............................................ 75CAPTULO XIII - CONDENADO TORTURA E MORTE..................... 79CAPTULO XIV - SACERDOTISA, POREM MULHER.......................... 87CAPTULO XV - A FUGA DE WERPER.............................................. 95CAPTULO XVI - TARZAN DE NOVO TESTA DOS MANGANIS...... 105CAPTULO XVII - JANE CLAYTON EM PERIGO MORTAL................. 115CAPTULO XVIII - A LUTA PELO TESOURO..................................... 123CAPTULO XIX - JANE CLAYTON E AS FERAS DA MATA.................. 133CAPTULO XX - JANE CLAYTON NOVAMENTE PRISIONEIRA.......... 141

    CAPTULO XXI - A FUGA PARA A FLORESTA.................................. 149CAPTULO XXII - TARZAN RECOBRA A MEMRIA......................... 157CAPTULO XXIII - UMA NOITE DE TERROR.................................... 167CAPTULO XXIV - VOLTA AO LAR................................................... 175

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    CAPTULO I

    BELGA E RABE

    O tenente Albert Werper devia somente ao prestgio do nome o no

    ter sido expulso das leiras do exrcito. A principio cara humildementeagradecido de o terem mandado para esta guarnio do Congo, esquecidade Deus, em vez de o submeterem a conselho de guerra, como to justa-mente merecia: mas agora seis meses daquela monotonia, daquela solidopavorosa tinham produzido uma mudana. O rapaz ruminava continua-mente a sua m sorte. Passava os dias entregue a um sentimento mrbidode pena de si mesmo, sentimento que acabou engendrando em seu espritoraco e vacilante o dio por aqueles que o haviam mandado para ali pe-los mesmos homens aos quais a principio se mostrava intimamente agra-decido por lhe terem eles poupado a ignomnia da degradao.

    inha saudades da boa vida de Bruxelas, lastimando-lhe a perdacomo jamais lastimara os pecados que o haviam arrancado mais alegredas capitais. E medida que passavam os dias, oi concentrado o seu res-sentimento na pessoa daquele que representava no Congo a autoridade queo tinha exilado o seu capito e superior imediato.

    Este ocial era um homem seco e taciturno, inspirando pouca aei-o aos que serviam diretamente sob suas ordens, mas respeitado e temidopelos soldados negros da pequena guarnio.

    Werper costumava car horas inteiras de olhos tos no seu superior,

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    quando os dois, depois do jantar, se sentavam na varanda do alojamentocomum, umando num silencio que nenhum parecia desejoso de quebrar.O dio insensato do tenente degenerou anal numa espcie de mania. In-terpretava a taciturnidade natural do capito como uma inteno estuda-

    da de insulta-lo por causa dos seus precedentes. Imaginou que o superiorlhe votava desprezo, e assim ervia interiormente, at que uma noite a sualoucura se tornou subitamente homicida. Apalpou a coronha do revolver,apertou os olhos e contraiu as sobrancelhas. Por m alou.

    a ultima vez que o sr. me insulta! gritou, pondo-se de p. Sou um ocial e um gentleman. Isto no pode continuar assim, e euexijo uma satisao de sua parte!

    O capito, com uma expresso de surpresa nos olhos, voltou-se para

    o seu subalterno, j vira antes muitos homens com a loucura da mata im-pressa na sionomia a loucura causada pela solido, pelas cismas semm, e talvez por um acesso de ebre.

    Levantou-se e estendeu a mo para o ombro do rapaz. Ia dizer algu-mas palavras serenas de conselho; mas no chegou a pronuncia-las. Werpertomou o gesto do superior por uma tentativa de atracar-se com ele. O seurevolver estava altura do corao do capito, e este mal dera o primeiro

    passo, quando Werper puxou o gatilho. Sem um gemido, o homem tombouno soalho tosco da varanda. Ao mesmo, tempo as nvoas que obscureciamo crebro de Werper se dissiparam, de sorte que ele pde ver-se a si prprioe ao ato que acabara de praticar, como os veriam aqueles que o deveriamjulgar.

    Ouviu o rumor de exclamaes excitadas partidas do alojamentodos soldados. Sentiu que corriam na sua direo. Iam agarra-lo, e se noo matassem, haveriam de leva-lo Congo abaixo aonde um tribunal militar

    regularmente instaurado aria o mesmo anal de contas.Werper no desejava a morte. Jamais ansiara tanto pela vida como

    naquele momento, em que perdera to agrantemente todo o direito de viver. Os homens aproximavam-se. Que devia azer? Relanceou os olhosem torno, como a procurar a orma tangvel de uma escusa legitima para oseu crime; mas nada encontrou seno o corpo do homem que matara tosem motivo.

    Em desespero de causa, voltou-se e ugiu soldadesca j perto. Atra-vessou correndo a estacada, apertando ainda o revolver na mo. No portoa sentinela pretendeu det-lo. Werper no parou para explicar-se ou imporo prestgio do seu posto apenas levantou a arma e abateu o preto inocen-te. Um instante depois, o ugitivo abria o porto e desaparecia na escurido

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    da mata, no sem ter antes transerido para a sua pessoa a carabina e ocinturo de munies da sentinela morta.

    oda aquela noite, Werper entranhou-se cada vez mais longe no co-rao do ermo. De vez em quando a voz de um leo azia-o estacar escuta;

    mas de carabina engatilhada e pronto para atirar prosseguia caminho, maistemeroso dos homens que lhe vinham no encalo do que dos carnvorosbravios com que poderia deparar.

    Anal rompeu a madrugada, mas o homem continuou a caminhar.odas as suas sensaes de ome e adiga apagavam-se nos terrores de po-der ser capturado. S pensava numa coisa: ugir! No ousava parar paradescansar ou comer enquanto houvesse risco de ser alcanado, e por issocontinuou penosamente at cair exausto. Quanto tinha andado no sabia

    nem procurou saber. Quando no pde mais ugir, a noo de ter chegadoao limite de suas oras perdeu-se na inconscincia de um esgotamentocompleto.

    E oi nessas condies que Achmet Zek, o rabe, o encontrou. Ossequazes de Achmet estiveram a pique de traspassar a lana o corpo doinimigo hereditrio; mas Achmet queria a coisa eita de outra maneira. Pri-meiro interrogaria o belga. Era mais cil interrogar um homem primeiro e

    depois mata-lo do que mata-lo primeiro e depois interroga-lo.Por isso ez transportar sua tenda o tenente Albert Werper e alimandou os escravos administrarem ao prisioneiro pequenas pores de vi-nho e alimento, at que nalmente o ugitivo recobrou os sentidos. Quan-do ele abriu os olhos viu em torno de si as caras daqueles negros estranhose do lado de ora da tenda a gura de um rabe. Em parte alguma o unior-me dos seus soldados.

    O rabe voltou-se e vendo os olhos abertos do prisioneiro tos nele

    penetrou na tenda. Sou Achmet Zek anunciou. Quem s tu, e que estavas azen-

    do no meu pas? Onde esto os teus soldados?Achmet Zek! Os olhos de Werper arregalaram-se; o seu corao ra-

    queou. Estava nas garras do mais terrvel dos degoladores de um homemque odiava a todos os europeus, especialmente os que vestiam o uniormeda Blgica. Havia anos que as oras militares do Congo belga aziam guer-

    ra inrutera a este chee e seus sequazes uma guerra em que nem de umlado nem de outro se pedia ou esperava merc.Mas agora no prprio dio do homem pelos belgas via Werper um

    tnue raio de esperana para si. Ele tambm era um rprobo e um proscri-to. At a, pelo menos, tinham um interesse comum, e Werper decidiu tirar

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    todo o partido possvel dessa circunstncia. Ouvi alar de ti respondeu e vim tua procura. A minha

    gente voltou-se contra mim. Odeio-a. Agora mesmo os soldados da minhanao andam no meu encalo para matar-me. Eu sabia que tu haverias de

    proteger-me contra eles, pois tambm os odeias. Em troca passarei ao teuservio. Sou um bom soldado. Sei guerrear, e os teus inimigos so meusinimigos.

    Achmet Zek tava em silencio o europeu. A sua mente revolvia mui-tos pensamentos, o principal dos quais era que o estrangeiro lhe estavamentindo. Mas era bem possvel que no, e se tinha alado a verdade, entoa proposta merecia considerao, pois combatentes nunca eram demais especialmente homens brancos com o tirocnio das coisas militares que um

    ocial europeu costuma possuir.Achmet Zek amarrou a cara e Werper sentiu-se perdido; mas Werper

    no conhecia Achmet Zek, que era homem para car carrancudo quandooutro qualquer sorriria e sorrir quando outro haveria de echar a cara.

    E se tudo isso que ests dizendo or mentira alou Achmet Zek matar-te-ei em qualquer tempo. Que outra recompensa, alem da vida,esperas pelos teus servios?

    Por enquanto o meu sustento e nada mais respondeu Werper. Mais tarde, se vires que mereo mais, poderemos acilmente chegar aentendimento.

    O nico desejo de Werper no momento era salvar a vida. E assimo trato se ez e o tenente Albert Werper tornou-se membro do bando deAchmet Zek, o amigerado tracante de marm e escravos.

    Durante meses o renegado belga acompanhou as entradas selvagensdaqueles homens. Batalhava de corpo e alma, com dura crueldade, igual

    em tudo dos seus diablicos companheiros. Achmet Zek atentava no seurecruta com olho aquilino, e uma crescente satisao, expressa por mnum aumento de conana, do que resultou para Werper maior indepen-dncia de ao.

    Achmet Zek passou a abrir-se mais com o belga e nalmente p-loao par de um plano que vinha aagando h muito mas nunca tivera opor-tunidade de eetuar. Com a ajuda de um europeu, porm, a coisa parecia

    acilmente praticvel. Sondou Werper. Ouviste alar do homem que os homens chamam arzan? per-guntou. E Werper, acenando com a cabea:

    Ouvi sim; mas no o conheo. Sem ele, poderamos azer o nosso comercio em paz e com

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    grande proveito continuou o rabe. H anos que nos combate, ex-pulsando-nos da parte mais rica da regio, acossando-nos e armando osnativos para que possam repelir-nos quando chegamos para negociar. riqussimo. Se pudssemos achar um meio de az-lo pagar-nos muitas

    peas de ouro, caramos no s vingados mas tambm indenizados domuito que ele nos impediu de ganhar dos nativos sob sua proteo.Werper tirou um cigarro de uma carteira luxuosa e acendeu-o. E tens um plano para az-lo pagar? perguntou. Ele casado respondeu Achmet Zek e dizem que a mulher

    belssima. Daria preo alto no norte; isso no caso de encontrarmos dicul-dade em obter desse tal arzan o resgate.

    Werper inclinou a cabea meditando. Achmet Zek, de p, tava-o,

    esperando resposta. O que ainda restava de bom na alma de Albert Werperrevoltava-se ao pensamento de vender um mulher branca para o cativeiroe a degradao de um harm muulmano. Levantou os olhos para AchmetZek. Sentiu que o rabe adivinhava a repugnncia que lhe causava o plano.Que adiantava a Werper recusar? A sua vida estava nas mos daquele se-mibrbaro, que estimava a vida de quem no osse do seu credo em menosque a de um co. Werper amava a vida. Que era, anal de contas, aquela

    mulher para ele? Uma europia, sem duvida, um membro da sociedade or-ganizada. Ele um rprobo. Contra ele se levantava a mo de toda mulherbranca. Ela era, pois, uma inimiga natural, e se ele recusasse o seu auxiliona obra de desgra-la, Achmet Zek mat-lo-ia.

    Hesitas? murmurou o rabe. No. Estava apenas medindo as probabilidades de sucesso

    mentiu Werper e a minha recompensa. Na minha qualidade de europeuposso ter entrada em casa deles. No tens outro contigo que possa azer o

    mesmo. O risco ser grande. enho que ser bem pago, Achmet Zek.Um sorriso de alivio passou no rosto do bandoleiro. Falaste bem, Werper e Achmet Zek bateu no ombro do te-

    nente. ens que ser bem recompensado e se-lo-s. Agora sentemo-nose vejamos a melhor maneira de levar o plano a cabo e os dois homenssentaram-se moda oriental numa macia alcatia sob as sedas desmaiadasda tenda outrora magnca de Achmet Zek, e conversaram em voz baixa

    noite a dentro. Ambos eram altos e barbados, e a exposio ao sol e aovento dera compleio do europeu uma tez quase rabe. Alm disso obelga copiava em cada detalhe do seu traje os modos do chee, de sorte queexteriormente parecia to rabe quanto o outro. Era tarde quando ele selevantou e recolheu-se sua tenda.

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    O dia seguinte Werper passou-o inspecionando o seu uniorme bel-ga, removendo dele todo vestgio que pudesse revelar os seus propsitosmilitares. No despojo heterogneo do bando Achmet Zek arranjou um ca-pacete de cortia e uma sela europia, e de entre os seus homens e escravos

    negros um squito de carregadores, askaris e armadores de tenda, de moldea ormar um modesto saari para um caador de caa grossa. rente dessacomitiva Werper deixou o acampamento.

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    CAPTULO II

    A CAMINHO DE OPAR

    Duas semanas depois John Clayton, Lord Greystoke, voltando a ca-

    valo de uma viagem de inspeo que zera s vastas terras de sua proprie-dade na rica, divisou a cabea de uma coluna de homens atravessando aplancie que se estendia entre o seu bangal e a oresta ao norte e a oeste.

    Soreou o cavalo e cou observando a pequena comitiva que surgiade uma ondulao do terreno. Os seus olhos penetrantes lobrigaram o re-exo do sol no capacete branco de um homem montado, e convencido dese tratar de um caador europeu errante que buscava hospitalidade, torceu

    as rdeas e dirigiu-se lentamente ao encontro do estrangeiro.Meia hora depois subia ele os degraus que conduziam varanda doseu bangal, e apresentava Mr. Jules Frecoult a Lady Greystoke.

    Eu estava completamente perdido explicava Mr. Frecoult. Omeu capataz nunca havia andado por estas bandas e os guias que tomamosna ltima aldeia por onde passamos conheciam a regio ainda menos doque ns. Por m se escapuliram az dois dias. Foi uma elicidade ter en-contrado socorro to providencialmente. No sei o que aria, se no tivesse

    deparado com o sr.Ficou decidido que Frecoult e sua comitiva demorar-se-iam alguns

    dias, ou at se sentirem inteiramente repousados, e ento Lord Greystokeornecer-lhe-ia guias de conana que os levassem de volta s regies com

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    que se dizia amiliarizado o capataz de Frecoult.No seu disarce de rancs abastado Werper no encontrou dicul-

    dade em iludir o seu hospede e em conquistar as boas graas tanto de ar-zan como de Jane Clayton; porm quanto mais se demorava, tanto menos

    esperana tinha de uma realizao cil dos seus desgnios.Lady Greystoke quando saa a cavalo nunca se aastava muito dobangal, e a lealdade selvagem dos erozes guerreiros waziris que orma-vam grande parte do pessoal de arzan parecia excluir toda possibilidadede uma tentativa eliz de rapto violento ou de suborno dos mesmos waziris.

    Uma semana passou-se e Werper, tanto quanto podia julgar, no es-tava mais perto da execuo do seu plano do que no dia de sua chegada;mas justamente ento alguma coisa aconteceu que lhe renovou as espe-

    ranas, acenando-lhe mesmo com uma recompensa bem maior do que osimples resgate de uma mulher.

    Um estaeta chegara ao bangal com o correio da semana, e LordGreystoke passara a tarde em seu gabinete lendo e respondendo cartas. Aojantar parecia distrado, e naquela noite cedo pediu desculpas e recolheu-se. Lady Greystoke seguiu-o logo depois. Werper, sentado na varanda,ouviu-os em discusso animada, e tendo percebido tratar-se de assunto de

    importncia levantou-se de manso e deslizando sorrateiramente sombradas moitas que cresciam em prouso roda do bangal, encaminhou-sep ante p ao ponto que cava bem por baixo da janela do quarto de dor-mir do casal.

    Uma vez ali, ps-se a escutar, e no sem resultado, pois logo as pri-meiras palavras que ouviu encheram-no de excitao. Era Lady Greystokeque estava alando quando Werper se aproximou.

    Sempre receei pela estabilidade da companhia dizia ela; mas

    parece incrvel que eles tenham alido com um passivo to grande a noser que tenha havido alguma manipulao raudulenta.

    Disso que eu descono replicou arzan; mas seja como or,o ato que perdi tudo e no h jeito seno voltar a Opar e arranjar mais.

    Oh, John! gritou Lady Greystoke, e Werper sentiu um tremor navoz da moa, no haver outro remdio? No posso suportar a idia devoc voltar a aquela cidade medonha. Preeria car pobre a vida inteira a

    ver voc correr os perigos horrveis de Opar. No precisa ter medo replicou arzan, rindo-se. Sei muitobem como deender-me, e ainda que no soubesse, os waziris que levareicomigo ho de tomar cuidado para que nada me acontea.

    J uma vez eles ugiram de Opar, deixando voc entregue ;sua

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    sorte lembrou ela. No o aro mais respondeu arzan. Ficaram muito enver-

    gonhados e j vinham voltando quando os encontrei. Mas deve haver outro recurso insistiu a mulher.

    No h outro recurso to cil para obter outra ortuna como vol-tar aos tesouros das cavernas de Opar e traz-los para c retrucou ele. erei muito cuidado, Jane, e h toda a probabilidade de que os habitantesde Opar no saibam nunca ter eu estado ali e carregado com outra porodo tesouro, cuja existncia alis ignoram e de cujo valor no ariam, deresto, a menor idia.

    O tom resoluto da voz pareceu convencer Lady Greystoke da inu-tilidade de qualquer argumento a mais, e assim ela abandonou o assunto.

    Werper cou ainda algum tempo escuta, mas certo de ter ouvidoo essencial e receando ser descoberto, voltou varanda, onde umou umaporo de cigarros um depois do outro antes de se recolher.

    Na manh seguinte Werper anunciou a sua inteno de partir muitobreve, e pediu a arzan permisso para caar caa grossa na regio wazirique iria atravessar na sua viagem de regresso permisso que Lord Greys-toke prontamente concedeu.

    O belga consumiu dois dias em completar os preparativos. Final-mente partiu com o seu saari, acompanhado por um s guia waziri queLord Greystoke lhe emprestou. A comitiva, depois de algumas horas demarcha, parou, porque Werper simulou uma indisposio e comunicouo seu propsito de se demorar onde estava at restabelecer-se inteiramen-te. Como se achavam ainda a pequena distncia do bangal de Greystoke,Werper dispensou o guia waziri, dizendo-lhe que o mandaria chamar logoque estivesse em condies de prosseguir caminho. Depois da partida do

    waziri, o belga chamou sua tenda um dos pretos de conana de Ach-met Zek, e despachou-o para vigiar os movimentos de arzan, dando-lheordem de regressar imediatamente am de inorma-lo da direo tomadapelo ingls.

    No teve que esperar muito, pois logo no dia seguinte o emissriotornou com a noticia de que arzan e uma comitiva de cinquenta guerrei-ros waziris havia partido naquela manh rumo de sueste.

    Werper, depois de escrever uma longa carta a Achmet Zek, mandouvir o capataz sua presena. E entregando-lhe a carta: Mande levar isto j a Achmet Zek. Fique aqui no acampamento

    at receber novas instrues minhas ou dele. Se vier algum do bangaldo ingls, diga-lhe que estou muito doente na minha tenda e no posso

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    receber ningum. Agora arranje-me seis carregadores e seis askaris osmais ortes e mais bravos do saari e eu marcharei na pista do ingls paradescobrir onde ele tem o ouro escondido.

    E oi assim que enquanto arzan, coberto com uma simples tanga e

    armado maneira primitiva que mais amava, conduzia os seus leais waziris cidade morta de Opar, Werper, o renegado, seguia-lhe o rastro durante aslongas e quentes jornadas, acampando noite sua retaguarda.

    Enquanto isso, Achmet Zek galopava com toda a sua gente para osul, na direo da propriedade de Greystoke.

    Para arzan dos Macacos a expedio era umas rias. As suas ma-neiras civilizadas no passavam de uma casca supercial que ele tirava ale-gremente com a incomoda vestimenta europia todas as vezes que se lhe

    deparava um pretexto razovel. Era o amor de uma mulher que mantinhaem arzan as aparncias de civilizao. Mas no undo ele odiava os n-gimentos e hipocrisias daquela vida, e com a clara viso de um espritoincontaminado lhe penetrara a essncia corrupta a aspirao covarde depaz e comodidades, a segurana dos direitos de propriedade. Que as belascoisas da vida arte, msica e literatura tivessem medrado sob os aus-pcios de ideais to mesquinhos negava-o ele com energia, sustentando, ao

    contrario, que elas prosperaram a despeito da civilizao. Mostrem-me o poltro adiposo e opulento costumava dizerque porventura j tenha dado origem a um ideal elevado. No embate dasarmas, na luta pela vida, entre a ome e a morte e o perigo, a ace de Deusmaniestado na exibio das oras mais terrveis da natureza que nasceutudo o que existe de mais belo e melhor no corao e na inteligncia hu-mana.

    E assim arzan voltava sempre natureza, como o amante que aps

    um perodo de encarceramento atrs das grades de uma priso comparece entrevista por tanto tempo adiada. Os seus waziris, no intimo, eram maiscivilizados do que ele. Cozinhavam a carne antes de come-la e considera-vam porcaria muitos alimentos que arzan comera com gosto durante todaa sua vida. E to insidioso o vrus da hipocrisia que at o homem-macaco,to resoluto, hesitava na presena deles em dar livre curso aos seus apetitesnaturais. Comia carne assada quando preeria comer carne crua, e abatia

    a caa a echa ou a lana quando o seu desejo era saltar de emboscada ecravar os dentes ortes na jugular da presa; nalmente, porm, oi maisorte o apelo do leite da me selvagem que o amamentara na inncia: osseus instintos reclamavam o sangue quente de uma vitima resca; os seusmsculos ansiavam por exercitar-se contra os bichos da mata na batalha

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    pela existncia que ora durante os primeiros vinte anos de sua vida o seunico privilegio de nascena.

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    CAPTULO III

    O APELO DA MATA

    Movido por essas solicitaes vagas mas todo-poderosas, o homem

    -macaco velava uma noite na pequena boma de espinhos que protegia dealgum modo a comitiva das depredaes dos grandes carnvoros da mata.Uma nica sentinela montava guarda sonolenta ao p do ogo que os olhosamarelos, uzilando na escurido em torno, tornavam de uma necessidadeimperativa. Os uivos e budos dos enormes elinos misturavam-se mi-rade de rudos dos habitantes menores da oresta para espertar a chamaselvagem no peito do selvagem lord ingls. Por espao de uma hora arzan

    virou-se sem sono em seu leito de grama. Por m levantou-se, silenciosocomo uma apario, e aproveitando o momento em que a sentinela wazirilhe dava as costas, galgou rpido a paliada da boma em ace dos olhos cha-mejantes, saltou sem bulha a galhada de uma grande arvore e desapareceu.

    Por algum tempo entregou-se pura exuberncia do esprito ani-mal, jogando-se perigosamente de um a outro gigante da mata. Depois tre-pou aos ramos oscilantes e menores da parte mais alta da chapada, onde alua lhe vinha bater em cheio. Uma brisa leve agitava o ar e a morte esprei-

    tava iminente de cada galho rgil. Aqui ele estacou e ergueu o rosto paraGoro, a lua. Ps-se de p com um brao levantado, doido por soltar o gritotremendo dos macaces; mas permaneceu em silencio para no despertara ateno do seu el waziri, que conhecia to bem o desao pavoroso do

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    patro.Em seguida passou a mover-se com maior dissimulao e cautela,

    por que agora arzan buscava uma presa. Descendo ao solo, embrenhou-sena escurido completa do arvoredo cerrado e da verdura emaranhada da

    oresta. De quando em quando abaixava-se, encostando o nariz terra.Procurava o rastro de alguma caa, e anal as suas narinas oram recom-pensadas com os evios do cheiro resco de Bara, a cora. Sentiu gua naboca e dos seus lbios patrcios escapou-se um grunhido abaado. Cara--lhe o ultimo vestgio de casta articial era de novo o caador primevo o primeiro homem prottipo da raa humana. Contra o vento seguiua presa ugaz com um senso de percepo to superior ao do homem or-dinrio, to apurado que at parece inconcebvel. Atravs das contracor-

    rentes da catinga orte dos carnvoros acompanhou ele a pista de Bara; oartum doce e enjoado de Horta, o javali, no podia aogar-lhe o aro da suacarnia o suave almscar deixado pela cora.

    Dentro em pouco as emanaes do corpo de Bara deram a sentir aarzan que a sua presa andava perto. O homem-macaco aundou de novona escurido das arvores, de onde poderia apanhar pelo ouvido e pelo ol-ato o primeiro sinal de contato com a cora. No tardou muito a ver Bara

    alerta na orla de uma clareira banhada pelos raios da lua. Sem azer o me-nor rudo, arzan esgueirou-se da arvore at car diretamente a cavaleiroda presa cobiada. Na mo direita tinha a longa aca de caa de seu pai, nocorao a sede de sangue do carnvoro. Num relance mediu o bote sobre odorso luzente da cora desprevenida e precipitou-se-lhe em cima. O cho-que do seu peso ez Bara cair sobre os joelhos, e antes que o animal pudessetomar p novamente a aca se lhe cravara no corao.

    Quando arzan se erguia do corpo da presa para gritar o medonho

    berro de vitoria ace da lua, o vento lhe trouxe s narinas alguma coisaque o imobilizou num silencio de esttua. Os seus olhos selvagens luziramna direo donde o vento lhe carregara a advertncia, e um momento de-pois margem da clareira uma moita buliu e Numa, o leo, surgiu compasso majestoso. Os olhos amarelo-esverdeados da era taram-se em ar-zan, contemplando com inveja o eliz caador, pois Numa no tivera sortenaquela noite.

    Dos lbios do homem-macaco saiu um grunhido surdo de ameaa.Numa revidou, mas no prosseguiu. Ao invs, estacou abanando a caudade manso para c e para l, enquanto arzan, agachado sobre a carnia,cortava uma boa poro do quarto traseiro. Numa considerava com cres-cente ressentimento o homem-macaco, que de vez em quando, no interva-

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    lo de dois bocados, rosnava uma advertncia eroz. Ora, aquele leo nuncaentrara em contato com arzan dos Macacos e estava, pois, muito intri-gado. Com eeito, ali via uma coisa com a aparncia e o cheiro de criaturahumana.

    Numa provara j carne de gente e sabia que embora no osse a maissaborosa, era de certo a mais cil de apresar; todavia o rosnado bestialdaquele ente estranho lhe trazia mente reminiscncias de antagonistasormidveis, azendo-o deter-se, ao mesmo tempo que a ome e o odorda carne palpitante de Bara lhe atiavam cada vez mais a sanha selvagem.arzan no o perdia de vista, adivinhando o que se passava no pequenocrebro do carnvoro, e oi bem que assim zesse, porque anal Numa nopde mais resistir. Empinou a cauda de sbito, mas no mesmo instante

    o homem-macaco, sabendo muito bem o que signicava aquela atitude,agarrou com os dentes o resto do quarto traseiro da cora e saltou parauma arvore prxima no momento em que Numa carregava sobre ele com avelocidade e a aparncia do peso de um trem expresso.

    A retirada de arzan no implicava medo. A vida da mata obedecea normas e padres dierentes da nossa. Se arzan estivesse aminto, semduvida que no abandonaria o terreno e esperaria a carga da era. Assim

    procedera em mais de uma ocasio, e por sua vez atacara j muito leocomo aquele. Mas nesta noite estava longe de se sentir aminto e no quartoque carregara consigo havia mais carne crua do que a que poderia comer;contudo era com irritao que via Numa repastar-se na carnia de arzan.A presuno de Numa tinha que ser punida! E incontinenti arzan entroua inernizar a vida do enorme elino. Havia perto muitas arvores de rutosgrossos e duros. Com a agilidade de um esquilo o homem-macaco saltoupara uma delas, e iniciou um bombardeio que azia a terra tremer com os

    rugidos medonhos de Numa. Era impossvel o leo comer sob aquela chu-va de projteis s podia rosnar e rugir e pular de um lado para outro,at descorooar e desistir da carcaa de Bara, a cora. Numa aastou-serugindo e cheio de ressentimento; mas bem no centro da clareira a sua vozsilenciou de repente, e arzan viu a grande cabea abaixar-se, achatar-separa a rente, o corpo agachar-se, a comprida cauda tremer e a era avanarcautelosamente nessa atitude para o arvoredo do lado oposto.

    Imediatamente arzan cou alerta. Levantou a cabea e arejou aaragem branda da mata. O que seria que atrara a ateno de Numa e o des-viara sorrateiro e silencioso da cena da sua derrota? Mal o leo desapare-cera entre as arvores do outro lado da clareira, arzan apanhou no vento aexplicao daquele sbito interesse o odor humano eriu-lhe ortemente

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    as narinas sensveis. Escondendo o resto do quarto da cora no esgalho deuma arvore, o homem-macaco limpou as palmas das mos nas coxas nuase lanou-se no encalo de Numa. Uma trilha de eleante, larga e bem bati-da, levava da clareira oresta. Numa esgueirou-se paralelamente a ela, en-

    quanto arzan deslizava entre o arvoredo como a sombra de um antasma.O elino selvagem e o homem selvagem viram a presa de Numa quase aomesmo tempo, da mesma orma que ambos haviam pressentido, antes de averem, que se tratava de um preto. Assim os inormava o olato requintado,e o de arzan dava-lhe mais a conhecer que o cheiro era de estrangeiro velho e macho, pois raa, sexo e idade tem cada qual o seu odor peculiar.Era um velho que seguia o seu caminho pela mata sombria, um velhinhomarrado, encarquilhado, todo coberto de cicatrizes e tatuagens horrendas,

    e estranhamente vestido, com uma pele de hiena nos ombros e a cabeaseca do bicho por cima da sua. arzan reconheceu logo que era um eiti-ceiro e antegozou o bote iminente de Numa, pois o homem-macaco nogostava nada de eiticeiros; mas no instante em que Numa armou o pulo,o branco lembrou-se de repente que o leo lhe arrebatara a presa poucosminutos antes e que doce a vingana.

    O primeiro indcio que o preto teve de estar em perigo oi o estalo

    dos ramos quando Numa saltou na trilha a umas vinte jardas atrs. Voltou-se e deu com um enorme leo de juba negra que corria sobre ele. Pormmal se virou, Numa j o tinha agarrado. No mesmo instante o homem-macaco deixou-se cair de um galho bem sobre o dorso do elino e ao por-lhe p cravou a aca atrs da espdua esquerda da era, enou os dedos damo direita na longa juba, enterrou os dentes na garganta de Numa e cingiunas pernas possantes o torso do carnvoro. Com um rugido de dor e sanha,Numa empinou-se e caiu para trs sobre o homem-macaco; mas este no

    largou mo da sua presa e repetidamente enou com rapidez espantosa acomprida aca no anco do leo. Numa rolava sobre si mesmo, gadanhan-do e mordendo o ar, urrando e rugindo uriosamente na tentativa selvagemde pegar a coisa que se lhe colava s costas. Mais de uma vez arzan quaseoi alijado de cima de sua presa. odavia, embora modo, lanhado e cobertode sangue de Numa e da lama do mato, nem por um segundo arouxou aerocidade do ataque. Largar o costado da era seria expor-se a ser estraa-

    lhado pelas garras e presas temveis do seu antagonista. E estava acabadapara sempre a carreira do lord ingls, lho da mata! O eiticeiro jazia aindaonde o derrubara o leo. Sangrando, muito machucado e incapaz de semexer, assistia batalha terrvel entre aqueles dois senhores da oresta. Osolhinhos encovados do bruxo brilhavam, os seus beios encarquilhados

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    buliam sobre as gengivas desdentadas murmurando encantaes aos de-mnios do seu culto.

    Por algum tempo no teve duvida sobre o resultado da luta obranco certamente tinha que sucumbir ao terrvel Simba. Quem j vira um

    homem armado s de uma aca matar era to possante? No entanto logodepois o preto velho comeou a arregalar os olhos e a ter as suas duvi-das e apreenses. Que maravilha de criatura era aquela que aguentava aluta com Simba a despeito dos msculos ormidveis do rei dos animais?E lentamente no undo daqueles olhos encovados que luziam com brilhoto estranho no rosto encoscorado e retalhado de cicatrizes, raiou a luz deuma reminiscncia remota. Os dedos da memria, apalpando o passado,deram anal com uma imagem meio apagada e amarelecida pelos anos.

    Era a imagem de um adolescente de pele branca, balanando-se com agili-dade nas arvores em companhia de um bando de macacos gigantescos. Osvelhos olhos piscaram tomados de medo o medo supersticioso de quemacredita em antasmas e espritos e demnios.

    E veio o momento em que o eiticeiro no teve mais duvida sobreo desenlace do duelo, mas agora, ao contrario do que ajuizara a principio,tinha certeza que o deus da oresta mataria Simba, e o preto velho tremeu

    mais pela sua sorte s mos do vencedor do que pela morte segura e sbitaque o leo triunante lhe haveria de dar. Viu a era enraquecer-se com aperda de sangue. Viu o deus ou demnio da mata erguer-se de cima doinimigo vencido, e pondo um p sobre a carcaa ainda palpitante, levantara ace para a lua e soltar um grito horroroso que gelou o sangue nas veiasdo eiticeiro.

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    CAPTULO IV

    VATICNIO CUMPRIDO

    Ento arzan voltou a ateno para o homem. No matara Numa

    para salvar o negro apenas tirara vingana do leo; mas agora que via ovelho inerme e moribundo a seus ps, algo semelhante piedade tocou-lheo corao selvagem. Na sua primeira mocidade teria matado o eiticeirosem o mais leve remorso; a civilizao, porm, tinha exercido sobre ele,como sobre as naes e raas a que se estende, o seu eeito amolecedor,embora em arzan no chegasse a az-lo covarde ou eeminado. Ele tinhadiante de si um velho que soria e no tardaria a morrer: oi o bastante para

    que se abaixasse e apalpasse as eridas e estancasse o uxo do sangue. Quem s tu? indagou o velho com voz tremula. Sou arzan arzan dos Macacos respondeu o homem-ma-

    caco, na verdade com maior orgulho do que se tivesse dito: Sou JohnClayton, Lord Greystoke.

    O eiticeiro estremeceu convulsivamente e echou os olhos. Quandoos abriu novamente, havia neles a resignao a qualquer medonho destinoque o esperasse s mos daquele horrendo demnio da mata. Por que

    no me matas? perguntou. Por que te mataria eu? inquiriu arzan. Nada me zeste, e de

    resto j ests morrendo. Numa, o leo, matou-te. No me matars?

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    O tom da voz tremula denotava surpresa e incredulidade. Salvar-te-ia, se pudesse replicou arzan mas isso imposs-

    vel. Por que imaginaste que eu havia de te matar?Por um momento o velho permaneceu em silencio. Quando abriu a

    boca, era evidente que zera algum esoro para criar coragem. Conheo-te h muito tempo disse ele de quando vagavasnas matas de Mbonga, o chee. Eu j era eiticeiro quando mataste Kulongae os outros, e quando roubaste as nossas malocas e o nosso pote de veneno.A principio no me lembrava de ti, mas agora me recordo bem o ma-caco de pele branca que vivia com os macacos peludos e tornou a vida uminerno na aldeia de Mbonga, o chee o deus da oresta o Munango -Keewati para quem pnhamos comida do lado de ora dos nossos portes e

    ele vinha e comia. Dize-me, antes que eu morra s homem ou demnio?arzan riu-se. Sou homem.O velho bruxo suspirou e movendo a cabea: entaste salvar-me

    de Simba. Por isso te recompensarei. Sou um grande eiticeiro. Escuta, ho-mem branco! Vejo muita coisa ruim no teu uturo. Est escrito no meu pr-prio sangue, que esreguei na palma da minha mo. Um deus ainda maior

    do que tu levantar-se- para te pr por terra. Volta, Munango-Keewati!Volta antes que seja tarde. H perigo na tua rente e perigo nas tuas costas;mas o perigo que est na rente maior. Vejo...

    No pde concluir. Puxou uma inspirao prounda, descaiu paraum lado como um trapo e morreu. arzan cou imaginando que mais veriao velho.

    Era muito tarde quando o homem-macaco regressou boma e sedeitou entre os seus guerreiros negros. Ningum o vira sair e ningum o

    vira voltar. Pensou, antes de adormecer, na advertncia do velho eiticei-ro; tornou a pensar nela quando despertou. Mas no retrocedeu caminho,porque no tinha medo. Se soubesse, porm, o que estava reservado cria-tura que ele amava acima de tudo no mundo, teria voado atravs da matapara ao p dela, deixando o ouro de Opar car oculto para sempre nascavernas da montanha.

    Atrs dele, naquela mesma manh, outro homem branco reetia

    numa coisa que ouvira durante a noite, e quase desistiu do seu projeto e de-sandou caminho. Era Werper, o assassino, que na calada da noite escutara,muito ao longe, na trilha por onde seguia, um som que enchera de terror asua alma covarde um som como jamais ouvira em toda a sua vida, nemimaginava que pudesse emanar dos pulmes de uma criatura de Deus. Es-

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    cutara o grito de vitoria que o homem-macaco berrara em ace de Goro, alua, e tremera, tapando o rosto; agora, luz prousa do novo dia tremeu denovo ao lembra-lo, e teria voltado atrs, ugindo ao perigo sem nome queparecia ameaar o eco daquele som pavoroso, se no osse o medo maior

    que lhe inspirava Achmet Zek, seu chee.Assim arzan dos Macacos continuou avanando em direo s mu-ralhas arruinadas de Opar; atrs dele esgueirou-se Werper, como um cha-cal. E s Deus sabia o que estava reservado a cada um deles.

    Chegando crista da montanha donde se dominava o vale desoladono qual se viam as cpulas e os minaretes dourados de Opar, arzan ezalto. noite ele iria sozinho proceder a um reconhecimento nas cavernasque guardavam o tesouro, pois determinara de agir com toda a cautela nes-

    ta expedio.Ao cair da noite ps-se a caminho, e Werper, que escalara os penhas-

    cos sozinho na pista da comitiva do homem-macaco, e se ocultara duranteo dia entre o pedregal do cume da montanha, deslizou urtivamente atrsdele. A plancie alastrada de penedos que se estendia da orla do vale a umcabeo de granito, situado ora das muralhas da cidade e onde cava a en-trada do subterrneo que conduzia caverna do tesouro, acilitava muito

    ao belga seguir despercebido arzan at Opar.Werper viu o homem-macaco lanar-se com agilidade pela rochaacima. Para ele, porm, a ascenso constituiu um verdadeiro suplcio. Su-ando de terror, quase paralisado pelo medo, mas esporeado pela cobia, oisubindo penosamente at alcanar anal o cimo da penha.

    No viu arzan em parte alguma. Por algum tempo Werper couatrs de um dos blocos menores de pedra que havia espalhados no topodo morro, mas no vendo nem ouvindo sinal algum do ingls, saiu caute-

    losamente do seu esconderijo para empreender uma pesquisa sistemticados arredores, na esperana de poder descobrir a localizao do tesouro atempo de escapar-se antes da volta de arzan, pois o desejo do belga eraapenas localizar o tesouro, am de, aps a partida de arzan, vir com osseus homens e, a seguro, carregar tudo quanto pudesse transportar.

    Deu com a passagem estreita que conduzia ao interior do cabeo pordegraus de granito j muito gastos. Penetrou na boca do tnel onde desa-

    parecia a senda; mas ali estacou, receando que arzan, voltando, o visse.O homem-macaco, muito na dianteira dele, tateou o caminho aolongo da passagem rochosa, at chegar velha porta de madeira. Um mo-mento depois estava na cmara do tesouro, onde mos h tantos sculosmortas tinham empilhado as preciosas barras para os soberanos daquele

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    grande continente ora submerso nas proundezas das guas do Atlntico.Nenhum som quebrava o silencio da abbada subterrnea. No ha-

    via sinal de que outro, depois da primeira visita do homem-macaco, tivessedescoberto a riqueza esquecida.

    Satiseito, arzan voltou sobre os seus passos, buscando a sada dosubterrneo. Werper, escondido atrs de uma salincia da rocha, viu-o sairda sombra da escada e caminhar para o cume do morro a cavaleiro do valeonde os waziris esperavam o sinal do patro. Ento Werper, esgueirando-se urtivamente do seu esconderijo, mergulhou na escurido da entrada edesapareceu.

    arzan, parando no cimo do cabeo, levantou a voz num rugidotrovejante de leo. Duas vezes, a intervalos regulares, repetiu ele o apelo,

    cando em atento silencio durante vrios minutos depois que morreramno ar os ecos do terceiro chamado. A, do outro lado do vale chegou muitoraco um rugido de resposta uma, duas, trs vezes. Basuli, o chee waziri,ouvira e respondia.

    arzan voltou novamente cripta do tesouro, sabendo que dentro dealgumas horas os seus pretos estariam com ele, prontos para carregar outraortuna em barras do ouro de Opar, de to estranha eio. Enquanto es-

    perava, transportaria ele prprio para o alto do morro a maior quantidadepossvel do precioso metal.Seis viagens eetuou arzan nas cinco horas que levou Basuli para

    chegar ao cabeo, e no m daquele tempo amontoara quarenta e oito bar-ras no topo da grande penha, transportando de cada vez uma carga quearia cambalear dois homens comuns; e no entanto o seu corpo de giganteno demonstrava o menor sinal de adiga ao ajudar os guerreiros de banoa galgarem o cimo da penedia com a corda que trouxera para esse m.

    Seis vezes voltara cripta, e seis vezes Werper, o belga, agachara-se nas trevas do recesso mais undo da caverna. Mais uma vez tornou ohomem-macaco, e agora vinham com ele cinquenta guerreiros, transor-mados em carregadores por amor da nica criatura no mundo capaz deobter de suas naturezas selvagens e altivas servio to trivial. Cinquenta eduas barras mais oram levadas da cripta, perazendo o total de cem quearzan tencionava levar consigo.

    Quando o ultimo waziri sara da cripta, arzan voltou-se para lanarum derradeiro olhar abulosa riqueza onde duas retiradas no haviameito desalque aprecivel. Antes de apagar a vela trazida para a sua empre-sa e cuja luz vacilante lanava os primeiros raios dissipadores das trevasimpenetrveis da abbada subterrnea, desde que esta jazia h sculos es-

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    quecida dos homens, arzan voltou em mente a aquela primeira ocasioem que entrou na cripta do tesouro, descobrindo-a por acaso ao ugir dosubterrneo do templo, onde ora escondido por La, a Gr-Sacerdotisa dosAdoradores do Sol.

    Relembrava a cena no interior do templo quando cara estendido noaltar sacrical, enquanto La, com a adaga suspensa, inclinava-se para elee as las de sacerdotes e sacerdotisas aguardavam, na histeria esttica doanatismo, o primeiro jorro do sangue da vitima, am de encherem os seuscopos de ouro e beberem gloria do Deus Flamejante.

    A interrupo brutal e sanguinria de Ta, o sacerdote louco, passouvividamente na lembrana do homem-macaco, e a debandada dos devotosante a sede insana de sangue da horrenda criatura, e o bestial ataque a La,

    e a sua prpria parte na sinistra tragdia, quando deu combate ao energ-meno e deixou-o prostrado sem vida aos ps da sacerdotisa ameaada deproanao.

    Isso e muitas outras coisas passavam na memria de arzan ao con-templar as longas rumas de barras amarelo-scas. La ainda reinaria nostemplos da cidade arruinada cujas muralhas a se desmoronarem assenta-vam precisamente naqueles undamentos que o cercavam? eria sido ela

    nalmente compelida a casar-se com um dos seus grotescos sacerdotes?Parecia, com eeito, uma sorte medonha para criatura to bela. Abanan-do a cabea, arzan aproximou-se da vela, apagou-lhe a chama vacilante evoltou-se para a sada.

    No recesso da cripta o espia esperava que ele tivesse ido embora.Sabia agora o segredo atrs do qual viera, poderia voltar a cmodo com asua gente e levar todo o ouro que ela pudesse carregar.

    Os waziris tinham chegado boca exterior do tnel e subiam para

    o ar resco e a amoravel claridade do pico do cabeo, quando arzan analvoltou a si do devaneio em que cara e partiu lentamente aps eles.

    Mais uma vez a ultima, pensou bateu a porta macia da sala dotesouro. Ento Werper levantou-se e estirou os msculos dormentes. De-pois estendeu uma mo e acariciou com amor uma barra de ouro. Ergueu-a do lugar onde a haviam deposto em tempo imemorial e sopesou-a nasmos. Apertou-a ao peito num arroubo de cobia.

    arzan j sonhava com o eliz regresso ao lar, com os caros braosque lhe rodeariam o pescoo, com a doce ace que se encostaria dele; masacordou, para augentar aquele sonho, a lembrana do velho bruxo com asua terrvel advertncia.

    E ento, no espao de alguns breves segundos, as esperanas daque-

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    les dois homens oram espedaadas. Um esqueceu at a sua cobia no p-nico do terror o outro oi precipitado no esquecimento total do passadopor um ragmento cortante de rocha que lhe abriu uma brecha proundana cabea.

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    CAPTULO V

    O ALTAR DO DEUS FLAMEJANTE

    Foi no momento em que arzan acabou de echar a porta e se voltava

    para prosseguir caminho no corredor que o levaria ao ar livre. A coisa veiode sbito. Um segundo antes tudo estava quieto e rme um segundodepois, oi como se o mundo russe: os ancos torturados da estreita passa-gem desabaram arrebentados, grandes blocos de granito desprendidos doteto rolaram no corredor angusto, entupindo-o, e os muros penderam paradentro sobre o entulho. arzan cambaleou para trs, o peso do seu corpodeu contra a porta, que se abriu e ele oi cair por terra no interior da cripta.

    O terremoto causara poucos estragos na grande sala do tesouro. Al-gumas barras despencaram das rumas mais altas; s um bloco soltou-se daabbada rochosa, e as paredes enderam-se, porm no desmoronaram.

    No sobreveio segundo abalo para completar a runa comeada peloprimeiro. Werper, atirado a o comprido pela subitaneidade e violncia dochoque, levantou-se cambaleando ao sentir que no estava erido. Cami-nhando as apalpadelas para o extremo da sala, procurou a vela que arzandeixara sobre a ponta saliente de uma barra.

    Riscando uma poro de soros, o belga conseguiu ach-la, equando, um momento depois, os raios mortios espancaram as trevas emtorno, ele deu um suspiro nervoso de alivio, pois a escurido impenetrvelacentuara os terrores da sua situao.

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    Quando os olhos se acostumaram luz, voltou-os para a porta o seu nico pensamento era escapar-se o mais depressa possvel daquelatumba e ao az-lo enxergou o corpo nu do gigante estendido por ter-ra junto sada. Werper recuou amedrontado; mas um segundo depois,

    olhando novamente, convenceu-se de que o ingls estava desalecido. Deuma grande brecha na cabea do homem uma poa de sangue se ormarano cho de granito.

    Rapidamente, o belga saltou por sobre o corpo prostrado daqueleque havia pouco o hospedara, e sem um pensamento de socorro para oerido, possivelmente ainda com vida, lanou-se para o corredor.

    Deste lado, porm, perdeu logo as esperanas de salvar-se. A pas-sagem estava completamente entulhada com as massas impenetrveis das

    rochas desabadas. Voltou para trs e tornou a penetrar na cripta do tesou-ro. omando da vela, comeou uma pesquisa sistemtica na sala, e notardou a descobrir na extremidade oposta uma segunda porta, que cedeunos gonzos quando ele ez presso com o corpo. Do outro lado dela haviaoutra passagem estreita, por onde Werper enou, subindo por um lano dedegraus de pedra para novo corredor vinte ps acima do nvel do primeiro.A vela vacilante alumiava o caminho em rente dele. Como se sentiu grato

    de possuir aquela luminria grosseira e antiquada para a qual algumashoras antes teria olhado com desprezo quando ela um momento depoislhe mostrou, justo a tempo, um abismo escancarado, que aparentementeechava o tnel por onde vinha andando!

    sua rente havia uma escavao circular. Estendeu o brao quesegurava a vela e espiou para baixo. A uma grande proundidade a luz re-etia-se na supercie de um lenol dgua. Era um poo. Erguendo a velaacima da cabea, viu do outro lado do vazio a continuao do tnel; mas

    como transpor aquele abismo?Enquanto reetia, medindo a distancia que o separava da borda

    ronteira, incerto sobre se devia arriscar um pulo to grande, eis que lhechega aos ouvidos assustados um grito estridente que oi diminuindo pou-co a pouco at acabar numa srie de lgubres gemidos. A voz em parteparecia humana, mas era to medonha que bem poderia provir da gargantatorturada de algum danado a estorcer-se nas chamas do inerno.

    O belga sentiu um calario e olhou atemorizado para cima, pois ogrito parecia vir dali. Ao olhar, viu uma abertura muito longe por cima desua cabea, e um pedao de cu salpicado de estrelas.

    A sua inteno hesitante de chamar por socorro oi abolida poraquele grito horroroso; onde havia tal voz no poderiam viver criaturas

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    humanas. No ousou revelar-se a quem quer que habitasse aquela para-gem. Considerou-se um louco por ter-se metido em semelhante aventu-ra. Quem lhe dera estar a salvo no acampamento de Achmet Zek! Estariapronto a abraar uma oportunidade de se entregar as autoridades militares

    do Congo, contanto que escapasse situao pavorosa em que se via agora.Cheio de medo, cou escuta. O grito, porm, no se repetiu. Anal,resolvido aos meios extremos, preparou-se para o salto. Recuando uns vin-te passos, deu uma carreira e pulou para cima e para rente numa tentativadesesperada de alcanar a borda oposta.

    Ao ormar o pulo, o deslocamento do ar apagou a vela. E oi na escu-rido completa que ele se arremessou no espao, estendendo as mos parase agarrar a qualquer coisa, caso o p no atingisse a borda invisvel.

    Foi bater com os joelhos, escorregou para baixo, mas agarrou-secom quantas oras tinha e anal conseguiu car suspenso, metade paraora, metade para dentro do precipcio; mas estava salvo. Durante os pri-meiros minutos no teve coragem de se mexer; cou agarrado onde estava,raco e em suor. Por m, cautelosamente, arrastou-se para o tnel, at sepr de novo a o comprido no solo, esorando-se por dominar os nervosabalados.

    Quando os seus joelhos tocaram a beirada do tnel, a vela saltou-lheda mo. Agora, esperando contra toda a esperana que ela tivesse cado nocho do corredor e no nas proundas do poo, ps-se de quatro e come-ou a procurar o cilindrozinho de sebo, que lhe parecia agora mais preciosodo que toda a abulosa riqueza das barras de ouro de Opar.

    E quando, nalmente, o encontrou, agarrou-se a ele e descaiu paratrs soluante e exausto. Durante alguns minutos permaneceu assim, tre-mulo e sem oras; por m sentou-se e tirando um soro do bolso acen-

    deu o coto de vela que lhe restava. Com a luz oi-lhe mais cil recobrar odomnio sobre os nervos, e com pouco estava ele de novo a caminho aolongo do tnel em busca de uma sada. O grito terrvel que ressoara atravsda galeria da antiga cisterna ainda o perseguia, de sorte que at o som dosseus prprios passos lhe inspirava terror.

    inha andado apenas uma curta distancia, quando viu, consternado,que um muro de alvenaria lhe impedia a passagem, echando o tnel com-

    pletamente de um lado ao outro e de cima abaixo. Que signicaria aquilo?Werper era homem educado e inteligente. O tirocnio militar ensinara-lhea servir-se da sua inteligncia para os ns a que ora destinada. Um tnelsem sada como este era coisa que no tinha sentido. Por ora havia decontinuar alm da parede. Algum, um dia, tapara-o com algum intuito

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    desconhecido. Werper ps-se a examinar a alvenaria luz da vela. Comgrande alegria descobriu que os pequenos blocos de pedra da construono estavam ligados por argamassa ou cimento. Empurrou um e viu ra-diante que era cil de remover. Retirou os blocos um aps outro at abrir

    um oricio bastante largo para lhe dar passagem, e enando-se por ele oidar numa sala espaosa e baixa. De outro lado havia uma porta que lheechava o caminho; mas esta tambm cedeu aos seus esoros, pois no es-tava trancada. Deparou-se-lhe ento um corredor comprido e escuro, masno andara muito e a vela consumiu-se ao ponto de chamuscar-lhe as pon-tas dos dedos. Com uma praga deixou-a cair no cho, onde ela bruxuleouum instante e apagou-se.

    Agora via-se ele de novo em completa escurido, e o terror voltou a

    suocar-lhe pesadamente o corao. No podia adivinhar que outros abis-mos e perigos o esperavam ainda; mas percebia que estava mais do quenunca longe da liberdade, to desanimadora a ausncia da luz num am-biente desconhecido.

    Foi caminhando lentamente s apalpadelas, tateando com as mosas paredes do tnel, no avanando um passo sem experimentar cautelosa-mente o cho com os ps. Quanto tempo caminhou assim, no saberia di-

    zer; anal, porm, sentindo que o comprimento do tnel era interminvel,e exausto pelo esoro, pelo terror e pela alta de sono, resolveu deitar-se erepousar antes de prosseguir.

    Quando despertou, nada mudara na escurido em volta. Dormiraum segundo ou um dia inteiro? No sabia; mas que estivera adormecidopor muito tempo era certo, pois sentia-se descansado e tinha ome.

    De novo comeou a andar s apalpadelas; desta vez, porm, malcaminhara um pedao, emergiu numa sala clareada por uma abertura no

    teto, donde descia uma escadaria de pedra.Acima de si, pela aberta, Werper podia ver a luz do sol passando

    entre colunas macias enlaadas por trepadeiras. Escutou; mas no ouviuoutro som a no ser o sussurro do vento na olhagem dos ramos, gritosroucos de pssaros e a algazarra dos macacos.

    Animou-se a subir a escada e oi ter num recinto circular. suarente havia um altar de pedra manchado de ndoas cor de errugem. No

    momento Werper no procurou dar explicao da origem daquelas ndo-as origem que pouco depois se lhe tornaria pavorosamente maniesta.Alm da abertura no solo, por onde ele sara da cmara subterrnea,

    descobriu ainda o belga varias portas que davam entrada ao recinto. Aci-ma, circulando o ptio, havia uma srie de balces abertos. Macacos salta-

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    vam em correrias pelas runas desertas e aves de plumagens vistosas esvoa-avam para dentro e para ora entre as colunas e as galerias superiores; masno se via nenhum sinal de presena humana. Werper sentiu-se aliviado.Suspirou, como se lhe tivessem tirado um grande peso dos ombros. Deu

    um passo em direo a uma das entradas, e ento estacou, com os olhosarregalados de espanto e terror, pois quase no mesmo instante uma dziade portas abriram-se e uma horda de homens terrveis correram para ele.

    Eram os sacerdotes do Deus Flamejante de Opar os mesmos ho-menzinhos cabeludos, encalombados, horrendos que haviam alguns anosantes arrastado Jane Clayton ao altar sacrical naquele mesmo lugar. Osbraos compridos, as pernas curtas e tortas, os olhos malvados muito jun-tos, e a testa baixa e ugidia davam-lhes uma aparncia bestial que parali-

    sou de medo os nervos abalados do belga.Com um grito virou-se para ugir na direo dos corredores subter-

    rneos donde acabara de sair. Mas as horrendas criaturas anteciparam-lheas intenes. Fecharam-lhe o caminho; agarraram-no, e embora ele cas-se de joelhos, suplicando-lhes que lhe poupassem a vida, amarraram-no earrastaram-no para o interior do templo.

    O resto oi apenas uma repetio da cena porque passaram arzan

    e Jane Clayton. Entraram as sacerdotisas e com elas veio tambm La, aGr-Sacerdotisa. Werper oi suspenso e colocado sobre o altar. Um suorrio corria-lhe de todos os poros quando La ergueu a cruel aca sacrical.Ressoava-lhe aos ouvidos torturados o cantocho da morte. O belga arre-galava os olhos pasmados de terror para os copos de ouro onde dentro empouco esguicharia quente o seu prprio sangue destinado a saciar a sedeinumana daqueles anticos horrorosos.

    Desejou perder os sentidos antes de receber o golpe da lmina aa-

    da... Nisto soou um rugido terrvel quase aos seus ouvidos. A Gr-Sacer-dotisa baixou a adaga, dilatando os olhos de pavor. As suas companheirasgritaram e se precipitaram como loucas para as portas do templo. Os sacer-dotes rugiram de clera ou terror, segundo a natureza de cada um. Werpervirou com diculdade o pescoo para ver se descobria a causa daquele p-nico, e quando anal a descobriu, tambm ele cou gelado de pavor, poiso que os seus olhos enxergaram oi a gura de um enorme leo em p no

    centro do templo e j com uma vitima despedaada sob as garras cruis.O senhor das matas soltou novo rugido, voltando o olhar sanguin-rio para o lado do altar. La tentou ugir, mas titubeou e oi cair desmaiadasobre o corpo de Werper.

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    CAPTULO VI

    O ATAQUE DOS RABES

    Passado o primeiro momento de terror provocado pelo choque do

    terremoto, Basuli e os seus homens correram para a passagem procura dearzan e mais dois companheiros que estavam altando.

    Encontraram o caminho bloqueado por enormes rochas desmoro-nadas. Dois dias levaram labutando para abrir caminho naquela mole echegar aonde estavam os amigos; mas quando, depois de esoros herc-leos, desentulharam algumas jardas do corredor entupido e descobriramos restos esacelados de um dos companheiros, oram orados a concluir

    que arzan e o segundo waziri com certeza deviam tambm ter morridoesmagados pelos escombros da rocha.Enquanto trabalhavam na remoo das pedras, gritavam de vez em

    quando pelos nomes do patro e do camarada; mas nenhuma resposta che-gou-lhes aos ouvidos atentos. Anal desistiram da pesquisa. Deitaram umultimo olhar lacrimoso tumba de destroos do patro, puseram nos om-bros a pesada carga de ouro, que haveria de proporcionar seno a elicida-de, pelos menos conorto msera patroa, e regressaram tristemente, atra-

    vessando o desolado vale de Opar e depois as orestas, ao bangal distante.Enquanto isso, que unesto destino se abatia sobre aquele eliz e sos-

    segado lar!Do norte acorria Achmet Zek, galopando ao apelo da carta do seu

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    lugar-tenente. Acompanhava-o a sua horda de rabes renegados, saltea-dores perseguidos pela justia, e de negros inames, recrutados nas tribosmais baixas e ignorantes de canibais selvagens, atravs de cujos pases obandido corria acima e abaixo em pereita impunidade.

    Mugambi, o Hrcules de bano, que partilhara dos perigos e vicis-situdes de seu amado Bwana desde a Ilha da Mata at quase cabeceiras doUgambi, oi o primeiro a notar a aproximao atrevida da sinistra caravana.

    A ele conara arzan o comando dos seus guerreiros e a guarda deLady Greystoke, nem outro guarda mais bravo e leal poderia ser encontra-do em parte alguma. Um gigante na estatura, guerreiro selvagem e intr-pido, o enorme negro possua tambm alma e bom senso na proporo dasua corpulncia e da sua ereza.

    Nem uma s vez, depois da partida do patro, estivera longe da vistaou dos rudos do bangal, a no ser quando Lady Greystoke resolvia pas-sear a cavalo na vasta campina ou cortar a monotonia da sua solido comuma breve excurso de caa. Em tais ocasies Mugambi, montado numrabe nervoso, galopava na cola do cavalo dela.

    Os bandidos ainda estavam longe quando os olhos penetrantes doguerreiro os descobriram. Por algum tempo permaneceu escrutando o

    bando que avanava; depois virou-se e correu clere em direo s palho-as dos nativos, situadas algumas centenas de jardas abaixo do bangal.Ali convocou os guerreiros ociosos. Deu ordens rpidas. Em obedi-

    ncia a elas, os homens tomaram das suas armas e dos seus escudos. Algunscorreram a chamar os trabalhadores dos campos e a avisar os encarregadosdos rebanhos. A maioria voltou com Mugambi para o bangal.

    A poeira da caravana ainda se via ao longe. Mugambi no saberiadizer positivamente se se tratava de inimigos; tinha uma vida inteira de

    experincia da rica selvagem, e vira j muitas outras caravanas chegaremassim sem anuncio prvio. s vezes eram de paz, s vezes vinham dar as-salto ningum podia nunca adivinhar. Era melhor estar preparado. Noagradava a Mugambi a pressa com que os cavaleiros avanavam.

    O bangal de Greystoke no estava bem aparelhado para a deesa.Nenhuma paliada o cercava, pois situado como cava no corao das ter-ras dos leais waziris, o seu proprietrio no previra a possibilidade de ata-

    que da parte de nenhum inimigo. Havia pesados batentes de madeira paraproteger contra as echas hostis as aberturas das janelas, e Mugambi estavaatareado em echa-las quando Lady Greystoke apareceu na varanda.

    Que isso, Mugambi? exclamou. Que aconteceu? Porque estechando as janelas?

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    Mugambi apontou na plancie a tropa de cavaleiros vestidos de bran-co, agora distintamente visveis.

    rabes explicou. No viro com boas tenes na ausnciado Grande Bwana.

    Alm do gramado bem cuidado e das moitas em or Jane Claytonvia os corpos luzentes dos seus waziris. O sol rebrilhava nas pontas de me-tal das lanas, realava as cores vistosas das penas dos capacetes de guerra ereluzia na epiderme lustrosa dos inalares e dos ombros amplos.

    Jane Clayton considerou-os com um sentimento misto de aeto e or-gulho. Que mal lhe poderia, acontecer com esta gente a protege-la?

    Os cavaleiros haviam estacado a umas cem jardas na plancie. Mu-gambi apressou-se em juntar-se aos seus guerreiros. Marchou algumas jar-

    das rente deles e levantando a voz dirigiu a palavra aos estrangeiros. rabe! gritou Mugambi. Que queres aqui? Somos de paz respondeu Achmet Zek. Ento voltai em paz replicou Mugambi. No vos queremos

    aqui. No pode haver paz entre rabes e waziris.Mugambi, embora no osse waziri nato, havia sido adotado pela tri-

    bo, a qual no tinha presentemente membro mais zeloso das suas tradies

    e coragem.Achmet Zek voltou-se para a horda, alando em voz baixa aos seushomens. Um momento depois, sem um aviso, uma descarga cerrada eradespejada sobre as leiras dos waziris. Dois dos guerreiros caram. Osoutros queriam acometer os assaltantes; mas Mugambi era um chee tocauteloso quanto bravo. Conhecia a inutilidade de carregar contra homensmontados e armados com mosquetes. Por isso retirou a sua ora para trsdos arbustos do jardim. Despachou alguns homens a varias outras partes

    do terreno em torno da casa e mandou meia dzia deles para o interior dobangal, com instrues para no deixar a senhora sair e protege-la com asprprias vidas.

    Adotando a ttica dos combatentes do deserto dos quais descendia,Achmet Zek conduziu os seus cavaleiros a galope em extensa linha descre-vendo uma grande circunerncia que se ia aproximando cada vez mais dosdeensores.

    Daquela parte da circunerncia que cava mais perto dos wazirisdespejava-se uma uzilaria constante nas moitas onde os guerreiros pretosse tinham abrigado. Estes, por sua vez, visavam com as suas echas o ini-migo mais prximo.

    Os waziris, justamente amosos pela habilidade em manejar o arco,

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    no tiveram motivo para corar naquele dia. De vez em quando um cavalei-ro trigueiro levava as mos cabea e rolava da sela, traspassado por umaechada mortal; mas a luta era desproporcionada. Os rabes excediam demuito em numero aos waziris; as suas balas atravessavam os arbustos e

    acertavam no alvo que os atiradores rabes nem sequer tinham visto; analAchmet Zek apertou a circunerncia a meia milha do bangal, rompeuuma parte da cerca e penetrou com os saqueadores jardim a dentro.

    Uma vez ali, carregaram numa deslaria louca. No paravam paraderrubar as cercas: lanavam contra elas os animais impetuosos, saltandoos obstculos como se tivessem asas.

    Mugambi viu-os vir e chamando os guerreiros restantes, correu parao bangal, ultimo ponto de resistncia. Lady Greystoke estava em p na

    varanda, de carabina em punho. Mais de um cavaleiro tinha experimenta-do j a rmeza de nervos e a pontaria certeira da moa; mais de um cavalocorria desmontado na esteira da horda atacante.

    Mugambi empurrou a patroa para o interior da casa e com as suasoras desalcadas preparou-se para opor a ultima resistncia ao inimigo.

    Os rabes avanavam gritando e agitando as carabinas acima dascabeas. Ao passarem pela varanda, descarregavam uma uzilaria mortal

    nos waziris ajoelhados, os quais em resposta deseriam uma saraivada deechas por detrs dos longos escudos ovais escudos apropriados talveza deter uma echa hostil ou a entortar uma lana, mas inteis inteiramentecontra os projteis de chumbo dos carabineiros.

    Dos batentes entreabertos das janelas outros arqueiros atiravam comecincia e melhor protegidos. Depois do primeiro ataque Mugambi reti-rou-se com todos os seus homens para dentro de casa.

    Os rabes carregaram repetidas vezes, ormando anal uma cir-

    cunerncia estacionaria perto da pequena ortaleza e ora do alcance dasechas dos deensores. Da sua nova posio atiravam vontade sobre asjanelas. Um por um caram os waziris. Cada vez menos numerosas eram asechas que revidavam s balas das carabinas dos assaltantes, at que Ach-met Zek julgou azado ordenar a investida ao bangal.

    Correndo e azendo ogo, a horda sanguinria acometeu a varan-da. Uma dzia dos atacantes tombaram echados pelos deensores; mas

    a maioria chegou at a porta. Pesadas coronhas abateram-se sobre ela. Oestrpito da madeira arrebentada misturou-se ao estrondo da carabina deJane Clayton que atirava atravs das almoadas da porta sobre o inimigoimplacvel.

    De ambos os lados da porta caram homens; mas anal a rgil bar-

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    reira cedeu aos esoros dos atacantes enurecidos; voou em pedaos e umadzia de assassinos trigueiros saltou dentro da sala. Na extremidade opostaestava Jane Clayton de p, cercada pelo grupo restante dos seus hericosdeensores. O soalho cara coberto dos corpos daqueles que tinham perdi-

    do a vida protegendo-a. rente dos seus deensores estava o gigante Mu-gambi. Os rabes ergueram as carabinas para a descarga que poria termo atoda resistncia; mas Achmet Zek rugiu uma contra-ordem que sustou osdedos em todos os gatilhos.

    No atirem na mulher! gritou ele. Quem a erir, morrer.Agarrem-na viva!

    Os rabes precipitaram-se atravs da sala; encontraram-nos os wazi-ris com as suas pesadas lanas. Espadas rebrilharam, pistolas de longo cano

    rugiram surdas detonaes mortais. Mugambi arremessou a lana ao ini-migo mais prximo com uma violncia que a ez traspassar completamenteo corpo do rabe; em seguida arrancou uma pistola de outro e segurando-apelo cano azia saltar os miolos a todos quantos tentavam acercar-se dapatroa.

    Emulados pelo seu exemplo, os poucos guerreiros que ainda lhe res-tavam combatiam como demnios; mas tombaram um por um, at que

    s restou Mugambi para deender a vida e a honra da companheira dohomem-macaco.Do outro lado da sala Achmet Zek observava a luta e estimulava os

    seus homens. inha nas mos um rico mosquete. Levou-o ao ombro comvagar, esperando que Mugambi casse em posio de ser visado sem perigopara a vida da mulher ou para a de algum dos rabes.

    O momento anal chegou, e Achmet Zek puxou o gatilho. Sem umgemido Mugambi caiu aos ps de Jane Clayton.

    Um instante depois era ela cercada e desarmada. Sem dizer pala-vra arrastaram-na para ora do bangal. Um negro gigantesco carregou-apara o aro da sua sela, e enquanto os outros saqueavam o bangal e asdependncias, ele saiu com ela e cou esperando o chee do lado de orado porto.

    Jane Clayton viu os bandidos tirarem os cavalos da estribaria e to-carem os rebanhos dos campos. Viu a casa saqueada de tudo o que re-

    presentava algum valor intrnseco aos olhos dos rabes. E viu as chamaslamberem e consumirem tudo o que restava.Finalmente, quando os assaltantes se reuniram depois de satiseitos

    em sua ria e cobia, e partiram com ela para o norte, viu o umo e as cha-mas subindo alto nos cus at que uma volta do caminho no seio da oresta

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    espessa ocultou aos seus olhos o triste espetculo.Quando as labaredas abriam caminho para a sala da rente, esten-

    dendo as lnguas vermelhas para lamber os corpos dos mortos, uma guraentre eles que durante muito tempo estivera imvel mexeu-se novamente.

    Era um negro gigante que rolou para um lado e abriu os olhos doridos econgestionados. Mugambi, que os rabes haviam dado como morto, viviaainda. As chamas j estavam a envolve-lo, quando ele se levantou peno-samente nas mos e nos joelhos e arrastou-se de vagar para a porta davaranda.

    Mais de uma vez sentiu-se raquear; mas erguia-se de novo e con-tinuava heroicamente buscando salvao. Depois do que lhe pareceu umtempo interminvel, durante o qual as labaredas tinham tornado numa

    verdadeira ornalha o extremo oposto da sala, o negro conseguiu alcanar avaranda e rolando os degraus da escada arrasta-se para a rescura salvadorade uma moita dos arredores.

    Ficou ali toda a noite, ora desalecido, ora sorendo atrozmente; eneste ultimo estado, olhando com dio selvagem as chamas sinistras queainda se erguiam do celeiro em brasa e dos montes de eno. Perto rugiu umleo que vagava; mas o gigante negro no teve medo. No seu corao s

    havia lugar para um nico pensamento vingana! vingana! vingana!

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    CAPTULO VII

    A SALA DAS JIAS DE OPAR

    Durante algum tempo arzan cou estendido onde cara na sala do

    tesouro sob as muralhas arruinadas de Opar. Ficou desacordado, mas nomorto. Anal mexeu-se. Os seus olhos abriram-se na escurido completada cripta. Levou a mo cabea e sentiu-a pegajosa de sangue coagulado.Cheirou os dedos como uma era arisca o sangue na pata erida.

    Em seguida sentou-se escutando. Nenhum som chegava s pro-undidades soterradas do seu sepulcro. Ps-se em p titubeando e comeoua andar s apalpadelas entre as rumas de barras. Quem era ele? Onde se

    achava? a cabea doia-lhe; mas ora disso no sentia nenhum outro eeitodo golpe que o prostrara. No tinha lembrana do acidente nem de nadaanterior quele momento.

    Correu as mos com estranheza pelos membros, pelo torso, pela ca-bea. ateou a aljava nas costas, a aca na tanga. Alguma coisa lutava-lhedentro do crebro tentando lembrar-se. Ah, j sabia! Faltava alguma coisa.Arrastou-se no cho em torno, tateando com as mos procura do objetoque o instinto lhe advertia estar-lhe altando. Achou-o anal a pesada

    lana de guerra que em anos passados constitua ponto to essencial dasua vida cotidiana, quase da sua mesma existncia, to inseparavelmenteligada estivera a todos os seus atos desde o dia remoto em que arrancara aprimeira lana do corpo traspassado de um negro, sua vitima.

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    arzan estava certo de que havia outro mundo mais agradvel doque aquele em que estava connado na escurido das quatro paredes depedra que o rodeavam. Continuou a pesquisa e achou anal a sada queconduzia cidade e ao templo. Seguiu por ela sem a menor precauo.

    Chegou escada de pedra que levava a um nvel mais alto. Subiu-a e pros-seguiu na direo do poo.Nada despertava em sua memria traumatizada uma reminiscn-

    cia da antiga amiliaridade com o ambiente. Caminhava nas trevas comose estivesse atravessando uma plancie aberta ao sol do meio-dia, e sbitoaconteceu o que tinha de acontecer em tais circunstncias.

    Chegado beira do poo, deu um passo para rente no vcuo, per-deu o equilbrio e precipitou-se nas proundezas do abismo. De lana na

    mo caiu na gua, mergulhando at o undo da cisterna.A queda, porm, no o machucou, e quando ele voltou tona, sacu-

    diu a gua dos olhos e vericou que podia ver. A luz do sol ltrava-se nopoo pelo oricio que lhe cava por sobre a cabea e alumiava as paredesinternas racamente. arzan relanceou a vista em redor. Ao nvel da super-cie da gua viu uma larga brecha na parede mida e limosa. Nadou paraela e iou-se ao cho molhado de um tnel.

    Enou por ele a dentro; mas agora caminhava cautelosamente, poisarzan dos Macacos estava aprendendo. O poo inesperado tinha-lhe en-sinado a tomar cuidado ao atravessar corredores escuros: no havia neces-sidade de segunda lio.

    Numa longa distancia o corredor seguia reto como uma echa. Ocho era escorregadio, como a indicar que de tempos em tempos as guasdo poo cresciam e transbordavam. Isso retardava a marcha de arzan,pois era com diculdade que guardava o equilbrio.

    O corredor terminava numa escada. arzan subiu os degraus, conti-nuou caminhando, deu muitas voltas, at desembocar, anal, numa peque-na cmara circular, cuja escuridade era atenuada por uma luz raca descidade uma abertura tubular de alguns ps de dimetro rasgada do centro doteto da sala a uma altura de uns cem ps ou mais, onde acabava numa gradede pedra atravs da qual arzan podia ver um pedao de cu azul batidode sol.

    A curiosidade levou o homem-macaco a investigar o ambiente. Al-gumas arcas recobertas de metal e guarnecidas com pregos de cobre cons-tituam o nico mobilirio da sala circular. arzan correu as mos sobreelas. Apalpou os pregos, calcou as dobradias e anal, por acaso, conseguiulevantar a tampa de uma.

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    Uma exclamao de delcia rompeu-lhe dos lbios a vista do lindocontedo. Luzindo e cintilando luz atenuada da sala patenteava-se umagrande bandeja cheia de pedras brilhantes. arzan, revertido sua naturezaprimitiva pelo acidente, no tinha a menor idia do valor abuloso daquele

    achado. Para ele eram apenas pedrinhas muito bonitas! Mergulhou as mosnelas e deixou as gemas sem preo lhe escorregarem por entre os dedos. Foiaos outros cores e descobriu novos sortimentos de pedras preciosas. Qua-se todas estavam lapidadas e destas colheu ele uma mancheia e encheu abolsa que lhe pendia cintura; as no lapidadas tornou a colocar nas arcas.

    Sem saber, o homem-macaco tinha ido parar na esquecida sala dasjias de Opar. Durante sculos jazia ela sepultada sob o templo do DeusFlamejante, a meio caminho de um dos muitos corredores subterrneos

    que os supersticiosos descendentes dos antigos Adoradores do Sol no ha-viam ousado ou querido explorar.

    Cansado anal desta diverso. arzan retomou o caminho ao longodo corredor que subia da sala das jias por uma rampa ngreme. Virandoe coleando mas subindo sempre, o tnel aproximava-se cada vez mais dasupercie, at acabar numa sala de teto baixo, mais clara do que todas asoutras por onde j tinha passado.

    Uma abertura no teto, na extremidade superior de um lano dedegraus de pedra, revelou-lhe um cenrio brilhante iluminado pelo sol.arzan contemplou em doce enleio as colunas enlaadas pelas trepadeiras.Franzia as sobrancelhas num esoro de revocar alguma reminiscncia da-quelas coisas. No estava seguro de si. Havia no seu esprito uma sugestotantalizante de que algo lhe escapava de que ele devia saber muitas coi-sas que no sabia naquele momento.

    A sua prounda cogitao oi interrompida rudemente por um rugi-

    do trovejante vindo da abertura do teto. Acompanhando o rugido chega-ram-lhe aos ouvidos os gritos e os prantos de homens e mulheres. arzanapertou a lana com mais rmeza e subiu os degraus. Estranha cena a quedepararam os seus olhos ao emergir da semi-escurido do subterrneopara a luz brilhante do templo!

    Os entes que via diante de si, reconheceu-os como sendo o que eram homens, mulheres e um enorme leo. Os homens e as mulheres de-

    bandavam em uga para as portas. O leo pisava o corpo de um que tiveramenos sorte do que os outros. Estava no centro do templo. Bem em rentede arzan havia uma mulher em p ao lado de um bloco de pedra. Sobreeste um homem jazia estendido, e quando o homem-macaco observava acena, o leo deitou um olhar terrvel s duas nicas criaturas que haviam

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    cado no templo. Outro rugido trovejante partiu da goela eroz. A mulhersoltou um grito agudo e desmaiou sobre o corpo do homem estendido noaltar de pedra diante dela.

    O leo avanou alguns passos e agachou-se. A ponta da cauda sinu-

    osa enrolava-se-lhe nervosamente. Estava a pique de carregar, quando osseus olhos oram atrados para o homem-macaco.Werper, inerme no altar, viu o grande carnvoro preparar-se para

    saltar-lhe em cima. Viu a mudana brusca na expresso da era quando osseus olhos se desviaram do altar para alguma coisa ora do alcance da vistado belga. Viu o animal ormidvel pr-se em p. Uma gura passou numrelance diante de Werper. Ele viu um brao possante levantado e uma gros-sa lana voar na direo do leo, em cujo peito oi cravar-se.

    Viu o leo mordendo e gadanhando a haste da arma, e viu, mara-vilha das maravilhas, o gigante nu que arremessara o projtil preparar-separa pular sobre a grande era, armado unicamente de uma comprida aca.

    O leo recuou empinando-se para escorar este novo inimigo. A erarugia pavorosamente, e eis que aos ouvidos assustados do belga ressoa omesmo rugido selvagem, sado agora da boca do homem ao avanar parao elino!

    Com um pulo rpido de lado, arzan esquivou a primeira patada doleo. E saltando sobre o dorso ruivo da era, rodeou-lhe o pescoo com osbraos e cravou-lhe os dentes undo na carne. Rugindo, pinoteando, rolan-do e debatendo-se, o gigantesco elino tentou alijar o seu eroz inimigo, eenquanto isso um grande punho trigueiro aundava repetidas vezes a longaaca aada no anco da era.

    Durante a peleja, La recuperou os sentidos. De cima de sua vitimaela contemplava como ascinada o medonho espetculo. Parecia-lhe incr-

    vel que um ser humano pudesse levar a melhor sobre o rei dos animaisnum encontro pessoal, e no entanto a coisa estava se passando diante dosseus olhos.

    Por m a aca de arzan encontrou o caminho do corao da era,e com um estremecimento nal espasmdico esta rolou morta no cho demrmore. Saltando para o lado, o vencedor colocou um p sobre a carcaada sua presa, ergueu o rosto para o cu e deseriu um grito to horrendo

    que tanto La como Werper estremeceram ao ouvi-lo repercutir nas paredesdo templo.Ento o homem-macaco voltou-se e Werper reconheceu nele o ho-

    mem que cara estendido como morto na cripta do tesouro.

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    CAPTULO VIII

    A FUGA DE OPAR

    Werper estava perplexo. Podia esta criatura ser o mesmo ingls ali-

    nhado que o havia recebido to graciosamente em seu luxuoso lar arica-no? Podia esta besta-era de olhos chispantes e aspecto sanguinrio ser aomesmo tempo um homem? Podia o horrido grito de vitoria que acabara deressoar ormar-se numa garganta humana?

    arzan considerava o homem e a mulher com uma expresso intri-gada nos olhos, mas sem maniestar o menor vestgio de reconhece-los. Eracomo se tivesse descoberto uma nova espcie de criaturas vivas e estivesse

    maravilhado com o achado.La estudava as eies do homem-macaco. Pouco a pouco os seusgrandes olhos abriram-se desmesuradamente.

    arzan! exclamou ela anal, e depois, no vernculo dos grandesmacacos que o constante contato com os antropides tornara a linguagemusual dos oparianos: Voltaste para junto de mim! La no ez caso dospreceitos da sua religio, esperando sempre por arzan pelo seu arzan.No tomou esposo, pois em todo o mundo s h um homem que La des-

    posaria. E agora ele volta! Dize-me, arzan, que oi por mim que voltaste.Werper prestava ateno algaravia ininteligvel. Olhava de La para

    arzan. Compreenderia este a estranha linguagem? Com surpresa do bel-ga, o ingls respondeu num idioma evidentemente idntico ao dela.

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    arzan repetiu o homem-macaco enleado. arzan. Pareceque j ouvi esse nome.

    o teu nome tu s arzan gritou La. Eu sou arzan? disse ele dando de ombros. Seja, um bom

    nome no conheo outro, por isso aceito esse; mas eu no te conheo.No vim aqui por tua causa. ambm no sei porque vim; nem sei to pou-co donde venho. Podes diz-lo?

    La abanou a cabea: Nunca o soube.arzan virou-se para Werper e ez-lhe a mesma pergunta; mas na

    linguagem dos grandes macacos. O belga abanou a cabea. No compreendo essa lngua disse em rancs.Sem esoro, e aparentemente sem dar pela mudana, arzan repetiu

    a pergunta em rancs. Werper percebeu de pronto a gravidade do choquesorido por arzan. O homem perdera a memria, e no podia mais lem-brar-se dos atos passados. O belga ia esclarece-lo, quando de repente lheocorreu que mantendo arzan na ignorncia da prpria identidade, pelomenos por algum tempo, poderia tirar proveito da desgraa do homem-macaco.

    No sei dizer donde vens disse ele; mas uma coisa posso

    dizer-te: se no sairmos o mais depressa possvel deste lugar morreremosambos sangrados nesta pedra. A mulher ia enterrar-me a aca no coraoquando o leo interrompeu o ritual diablico. Vem! Antes que eles voltema si do susto e se reunam de novo, ujamos deste inerno.

    arzan voltou-se novamente para La. Por que perguntou querias matar este homem? inhas

    ome?A Gr-Sacerdotisa soltou uma exclamao de nojo.

    entou ele matar-te? continuou arzan.A mulher abanou a cabea. Ento por que motivo desejavas mata-lo?La ergueu o brao delicado e apontou para o sol: Estvamos oe-

    recendo a alma dele como uma oblata ao Deus Flamejante.arzan olhou intrigado. Ele voltara a ser um macaco, e os macacos

    no compreendem nada dessa coisa de almas, oerendas e Deuses Flame-

    jantes. Desejas morrer? perguntou a Werper.O belga jurou-lhe, com lgrimas na voz e nos olhos, que no dese-

    java morrer. Bem, neste caso no morrers disse arzan. Vem! Vamos

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    embora. Seno ela te mata e no me deixa sair daqui. Isto no lugar paraum Mangani. Eu no tardaria a morrer echado nestes muros de pedra. Evirando-se para La: Eu e ele vamos embora.

    A mulher precipitou-se e agarrou as mos do homem-macaco,

    No me deixes! gritou. Fica e sers o Gro-Sacerdote. La ama -te. oda Opar ser tua. Sers servido por escravos. Fica, arzan dos Maca-cos, e deixa que o meu amor te recompense,

    O homem-macaco empurrou para o lado a mulher ajoelhada. arzan no te deseja disse ele com simplicidade, e caminhando

    para Werper, cortou os laos que prendiam o belga e ez-lhe sinal que oacompanhasse.

    Oegante com o rosto convulsionado de raiva, La lanou-se-lhe

    aos ps. Fica, tens que car! gritou. Vivo ou morto, sers de La, e

    levantando os olhos para o sol, soltou o mesmo grito horrendo que Werperj ouvira uma vez e arzan muitas.

    Em resposta ao seu grito uma babel de vozes irrompeu das cmarase corredores em torno.

    Vinde, Sacerdotes-Guardies! gritou ela. Os inis proanaram

    a santidade. Vinde! Enchei-lhes de terror os coraes! Deendei La e o seualtar! Puricai o templo com o sangue dos poluidores!Werper no compreendeu, mas arzan compreendeu, e olhando

    para o belga, viu que ele estava desarmado. Avanando rpido para La, ohomem-macaco segurou-a nos braos possantes e embora ela se debatessecom a ria de um demnio, num instante a desarmou e passou a Werpera longa aca sacrical.

    Vai ter preciso disso disse arzan, e nisto de cada porta surgiu

    uma horda dos monstruosos homenzinhos de Opar.Estavam armados de clavas e acas, orticados na sua coragem pelo

    anatismo religioso. Werper cou aterrorizado. arzan, no entanto, olhavapara o inimigo com soberbo desdm. Lentamente se dirigia ele para umadas portas do templo, quando um sacerdote robusto lhe barrou a passa-gem. Atrs deste vinham muitos outros. arzan manejou a pesada lana,como um cacete, deserindo um golpe tremendo na cabea do sacerdote,

    que caiu com o crnio endido.A arma de arzan subia e descia abrindo caminho para o vo deuma porta. Werper colava-se-lhe atrs, voltando os olhos amedrontadospara a horda pavorosa que aos pulos e aos gritos o ameaavam pela reta-guarda. Erguia a aca sacrical, pronto a erir o primeiro que chegasse ao

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    seu alcance; mas nenhum chegou. Por um momento cou espantado queos homens atacassem to bravamente o gigantesco homem-macaco, e noentanto hesitassem em acomete-lo a ele, relativamente to raco. Se o zes-sem, sabia que cairia primeira investida. arzan chegara porta por sobre

    os cadveres de todos os que se lhe tinham oposto em caminho, antes queWerper adivinhasse a razo por que escapara ileso. Os sacerdotes temiama aca sacrical! Estavam prontos a desaar a morte e recebe-la-iam comdesprendimento se ela viesse enquanto deendiam a Gr-Sacerdotisa e oseu altar; mas evidentemente havia morte e morte. Alguma estranha su-perstio devia cercar a lmina polida, para que nenhum opariano ousasseexpor-se-lhe a um golpe, ao passo que se lanavam alegremente mortesemeada pela arrasadora lana do homem-macaco.

    Uma vez ora do ptio do templo, Werper comunicou a sua desco-berta a arzan. O homem-macaco sorriu sardnico e deixou Werper seguir rente dele, brandindo a rica arma sagrada. Como olhas varridas poruma luada, os oparianos espalhavam-se em todas as direes, de sorte quearzan e o belga tiveram caminho desimpedido atravs dos corredores esalas do antigo templo.

    Os olhos do belga arregalaram-se quando ele passou pela sala dos

    sete pilares de ouro macio. Com mal disarada cobia olhava para as pla-cas seculares de ouro embutidas nas paredes de quase todas as salas e aolongo de muitos dos corredores. oda essa riqueza nada signicava para ohomem-macaco.

    Os dois prosseguiram, e sucedeu que oram ter larga alameda exis-tente entre os imponentes pilares dos edicios meio arruinados e o murointerno da cidade. Grandes macacos saltavam-lhes em redor, ameaando-os; mas arzan revidava-lhes maneira deles insulto com insulto, desao

    com desao.Werper viu um macaco cabeludo atirar-se de uma coluna partida

    e avanar teso e eriado em direo ao gigante nu. A beiada arreganhadapunha a nu as presas amarelas, com rosnados e latidos colricos e amea-adores.

    O belga observava o companheiro. Horrorizado, viu o homem aga-char-se at tocar o cho com os punhos echados, semelhana do antro-

    pide. Viu-o rodear por sua vez o macaco, soltando os mesmos grunhidosbestiais que saam da boca do bruto. Se tivesse os olhos echados, julgariaestar ouvindo o combate de dois macacos gigantes,

    Mas no houve batalha. A coisa acabou como a maioria de tais en-contros na mata um dos desaantes cansa-se e ca interessado por uma

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