SEJA MAIS Assim como pedrinhas pequenas
movimentam as águas dos lagos que seguem longe e geram ondas que atingem o mar, cada um de nós pode mudar um cidadão, cida-dã que mudará mais duas ou três pessoas e essas outras pessoas poderão mudar uma sociedade, um país e fazer desse mundo, um lugar melhor para se viver. Genha Auga
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Rumo aos 70 anos da Declaração dos Direitos do Homem
No dia 10 de Dezembro deste ano, completam-se 70 anos da de-claração universal dos Direitos Humanos. Um marco na busca pela igualdade dos homens e uma data para nunca mais ser esquecida. Nos dias de hoje, pelo menos em princípio, todos os homens nas-cem iguais. Mas isso já foi muito diferente. E a casta em que se nascia, bem como o sobrenome que se carregava, poderia ser algo que iria definir a sua sorte [boa ou má] pelo resto de sua vida
Mariene Hildebrando
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Ano XI - Edição 129 - Agosto 2018 Distribuição Gratuita
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Ventos de mudanças Não poucas pessoas no mundo reprovam severamente o atual regime cubano. Mas há muitos que
o aprovam, por outro lado. Os defensores do Liberalismo econômico estão entre os maiores críti-
cos ao regime. Sim, Cuba incomoda muita gente! Será que Cuba é realmente tão ruim assim co-
mo muita gente afirma? Será que há um sopro liberal na ilha de Fidel Castro?
João Paulo E. Barros
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"TÉCNICAS" SEGUIDAS NO BRASIL PARA SILENCIAR E ADULTERAR A VERDADEIRA HISTÓRIA DA COROA PORTUGUESA
A história do Brasil e de Portugal era a MESMA história até 1822. No entanto, a historiografia bra-sileira tem-se norteado, regra geral desde a Independência em 1822, à contemplação de um proje-to ideológico de poder e enferma de uma visão autocentrada da história do Brasil desconectada das fontes e acervos tradicionais da história e da cultura Portuguesa. Está, portanto, equivocada porquê assenta em um erro ou em uma deturpação ou em uma ocultação recusando-se a penetrar na alma autêntica Luso-Brasileira. Loryel Rocha
Página 12
O eclipse lunar com ‘lua de sangue’ mais longo do século aconteceu na Sexta-Feira 27 de Julho passada. E ficou conhecido mundialmente como a Lua de Sangue.
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 2
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ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS
01 - Dia Nacional do Selo
05 - Dia Nacional da Saúde
09 - Dia Internacional dos Povos Indígenas
11 - Dia da Televisão
11 - Dia Internacional da Logosofia
11 - Eclipse solar parcial de agosto 2018
12 - Dia dos Pais
12 - Dia Internacional da Juventude
12 - Dia Nacional das Artes
22 - Dia do Folclore
29 - Dia Nacional de Combate ao Fumo
Projeção da população exige urgente reflexão
Pesquisa divul-
gada no passa-
do dia 25 de
Julho pelo IB-
GE, denomina-
da “Projeção da
p o p u l a ç ã o ” ,
mostra que Mi-
nas Gerais en-
frentará, nos
próximos anos – a exemplo do que deve ocorrer em todo o país –, um
cenário social e econômico bastante complicado no que diz respeito ao
perfil etário da população, caso não se tomem, desde já, medidas que
possam atenuar possíveis impactos.
Por um lado, a população de idosos deve dar um salto em relação à
dos mais jovens, incrementando tendência de alta que já vem sendo
experimentada. Em 2010, por exemplo, 22,8% dos mineiros tinham
entre 0 e 14 anos e 8,10%, mais de 65 anos. Hoje, a relação é de
19,2% para os primeiros e 10,4% para o grupo dos mais velhos.
Em 2033, segundo a estimativa do IBGE, pela primeira vez na história,
o número dos mais maduros no Estado irá superar o de crianças e ado-
lescentes: serão 17% com idade maior que 65 anos e 16,7% com me-
nos de 14 anos. Em 2060, cresce ainda mais tal diferença: 28,7% de
idosos e 13,2% de menores.
Outro aspecto preocupante da projeção, e que se relaciona ao primei-
ro, é a redução progressiva da fecundidade entre as mulheres. Dono,
hoje, da menor taxa do país, Minas deve continuar como o Estado on-
de elas têm menos filhos até 2030. Como resultado, a população deve-
rá começar a “encolher” oito anos antes que a média nacional.
Hoje, o índice de fertilidade das mineiras é de 1,62 (ou seja, a média
de filhos de cada uma é inferior a duas crianças). Dentro de 12 anos,
esse indicador deverá cair para 1,60, enquanto, no Brasil, passará dos
atuais 1,77 para 1,72.
Isso significa que deve haver menor oferta de mão de obra jovem no
futuro próximo. E que o horizonte pode se tornar nebuloso, caso não
se façam investimentos adequados e Minas e o país encontrem manei-
ras de alavancar o desenvolvimento até chegar ao patamar de países
europeus que já enfrentam tal situação.
Dessa forma, talvez reduzíssemos a necessidade dessa força de traba-
lho e, paralelamente, aumentássemos a qualidade de vida da popula-
ção. Outra questão crucial, diante de uma crescente população idosa,
seria a implementação, o mais rápido possível, de uma reforma previ-
denciária justa e equilibrada, descartando distorções e privilégios a
quem quer que seja.
Reflexões do mês
Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado.
Roberto Shinyashiki
Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simples-mente porque está escrito em seus livros religio-
sos. Não acredite em algo só porque seus profes-sores e mestres dizem que é verdade. Não acredi-te em tradições só porque foram passadas de ge-ração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos,
aceite-o e viva-o.
Buda
Podemos acreditar que tudo que a vida nos ofere-cerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e ho-
je. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada
manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve para esse dia e que não se pode
guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se
perder. Este milagre está nos detalhes do cotidia-no; é preciso viver cada minuto porque ali encon-tramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a de-
cisão que tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes,
porque estamos em constante processo de mudança.
Paulo Coelho
SEJA MAIS
Assim como pedrinhas pequenas movimentam as águas dos lagos que seguem
longe e geram ondas que atingem o mar, cada um de nós pode mudar um cida-
dão, cidadã que mudará mais duas ou três pessoas e essas outras pessoas po-
derão mudar uma sociedade, um país e fazer desse mundo, um lugar melhor
para se viver.
É necessário que, cada um, dê o melhor de si, meio bom ou meio ruim não fará
um país crescer e sair da lama. Sem os fortes, dificilmente venceremos.
Sim, estamos decepcionados com nossos governantes, porém não são eles
que nos fazem jogar o lixo nas ruas para depois reclamar da limpeza pública,
prejudicar o próximo, dar um jeitinho para se favorecer em alguma situação,
vender-se por votos, e ainda chamar de lixeiro aquele que limpa a sujeira do
próprio brasileiro.
Não faça só o bem feito, não faça somente sua parte, faça melhor ainda, faça
muito mais, podemos ser o melhor ou o pior brasileiro, pois o “mais ou menos”
não tem dado resultado...
Provoque quem está ao seu lado de maneira civilizada e inteligente para formar
um mutirão com sucesso. Não queira apenas “se dar bem” e sim procure em-
purrar seu semelhante para frente, a gerar resultados e construir o que ninguém
mais espera de nós. Não podemos ver os defeitos apenas nos outros como se
fizéssemos tudo certo. O furador de fila pensa assim e por isso sente-se sem-
pre absolvido e dessa mesma forma, os grandes saqueadores do país sentem
que seus delitos são pequenos, mesmo porque, eles não caíram de paraquedas
no palácio do governo, nós os colocamos lá e cabe a nós tirá-los.
Precisamos ser acima da média e banir os canalhas que nos impedem de cres-
cer e, com equilíbrio, sair da zona de conforto e para isso, não podemos conti-
nuar a ser manipulados permitindo que os estúpidos continuem nos tomando
como alienados e ingênuos. Para isso é preciso unir forças e o Brasil, depende
disso.
A maioria dos brasileiros são pessoas boas e ainda sonham, trabalham hones-
tamente, mas são feitos de tolos pelos corruptos. É preciso arrastar-se para sair
dessa e melhorar muito, mas muito mesmo, concentrando energias, priorizando
nossos conteúdos, desenvolvendo através de muito esforço, a responsabilidade
de cada um com sua vida e mais com o rumo dessa nação que determinará co-
mo todos viverão daqui pra frente.
Não será fácil e nem mudaremos tudo que precisamos de um dia para o outro.
É como exercitar os músculos, ou fazer dieta... Leva tempo, mas, só persisten-
tes conseguem bons resultados e os brasileiros precisarão ouvir mais do que
dar opinião nas redes sociais, respeitar-se mais, manter o caráter, a tolerância e
força se quiserem realmente ir às urnas equilibrados e fortes.
Não podemos amar apenas um resultado e sim o que virá de um esforço cons-
ciente e de uma luta inesgotável.
Genha Auga
Jornalista – MTB:15320
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 3
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Pensamentos e Frases
Ditos Populares
DAR COM OS BURROS N’ÁGUA A expressão surgiu no período do Brasil Colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que muitas vezes esses bur-ros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muito difíceis e regiões alagadas e muitos morriam afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado para se referir a alguém que faz um grande esforço para conseguir alguma coisa e não obtém sucesso
ENTRAR COM O PÉ DIREITO A tradição de entrar em algum lugar com o pé direito para dar sorte é de origem romana. Nas grandes cele-brações dos romanos, os donos das festas acredita-vam que, entrando com esse pé, evitariam má sorte na ocasião da festa. A palavra “esquerda”, em latim, é “sinistra”; daí fica evidente a crença no lado azarento dos inocentes pés esquerdos. Foi a partir daí que essa crença se espalhou por todo o mundo. FEITO NAS COXAS Esta expressão surgiu na época da colonização brasi-leira. As telhas usadas nas construções da época, fei-tas de barro, eram moldadas nas coxas dos escravos. Assim, algumas vezes ficavam largas, outras vezes finas, mas nunca num tamanho uniforme. Foi desta for-ma que surgiu a expressão, utilizada para indicar algo mal feito. FAZER UMA VAQUINHA A expressão “fazer uma vaquinha” surgiu na década de 20 e tem sua origem relacionada com o jogo do bicho e o futebol. Nas décadas de 20 e 30, já que a maioria dos jogadores de futebol não tinha salário, a torcida do time se reunia e arrecadava entre si um prêmio para ser dado aos jogadores. Esses prêmios eram relacio-nados popularmente com o jogo do bicho. Assim, quando iam arrecadar cinco mil réis, chamavam a bola-da de “cachorro”, pois o número cinco representava o cachorro no jogo do bicho. Como o prêmio máximo do jogo do bicho era vinte e cinco mil réis, e isso repre-sentava a vaca, surgiu o termo popular “fazer uma va-quinha”, ou seja, tentar reunir o máximo de dinheiro possível para um determinado fim.
A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web
Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J
Genha Auga
Mariene Hildebrando
Loryel Rocha
João Paulo E. Barros
Filipe de Sousa
Elissandro Santana
Guigo Ribeiro
Wilson Ferreira
Mayara Bergamo Thienne Mayrink
Luís Fernando Praga
Agência Brasil
Lucia Helena Issa
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IMPORTANTE
Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as
matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.
Colaboraram nesta edição
Uma radio a serviço da educação, cultura e cidadania
Rumo aos 70 anos da Declaração dos Direitos do Homem
No dia 10 de Dezembro deste ano, completam-se 70 anos da de-
claração universal dos Direitos Humanos. Um marco na busca pela
igualdade dos homens e uma data para nunca mais ser esquecida.
Nos dias de hoje, pelo menos em princípio, todos os homens nas-
cem iguais. Mas isso já foi muito diferente. E a casta em que se
nascia, bem como o sobrenome que se carregava, poderia ser algo
que iria definir a sua sorte [boa ou má] pelo resto de sua vida.
Longos foram os anos em que os direitos dos homens eram
poucos ou inexistentes. Onde a vida humana eram até mesmo pro-
priedade privada de outros seres humanos, cabendo a estes decidi-
rem se eles possuiriam algum direito ou se desfrutariam apenas do
direito de estar vivo para servir. Punições cruéis ou trabalhos força-
dos eram comuns, e fazem parte da história de todas as civiliza-
ções onde o poder de alguns poucos prevalecia sobre a vontade de
muitos. E ainda que se pense que em alguns lugares do mundo em
que vivemos, estes cenários ainda existam, é inegável que houve
um avanço significativo no que diz respeito aos direitos humanos.
Hoje é indiscutível que, mesmo o cidadão mais comum, deve ter
garantido os seus direitos civis e políticos, seus direitos naturais
tais como: direito à vida, à propriedade , à liberdade, à igualdade,
à segurança e tantos outros que hoje parecem tão comuns a todos,
mas que já nos foram negados em um tempo não tão distante as-
sim. Acontece que todos esses direitos mencionados são aquilo
que chamamos de Direitos Humanos fundamentais ou seja, os di-
reitos de todos os seres humanos, direitos naturais, que possuímos
desde sempre, são direitos inalienáveis. O fato é que é consenso
entre as nações que, nos dias de hoje nenhuma civilização pode
sustentar-se sem a ideia de que sem os direitos fundamentais um
povo jamais poderá ser completamente livre.
De forma mais detalhada, os Direitos Humanos são um con-
ceito filosófico mais antigo do que se imagina. E têm sua gênese
em um momento da história onde essas duas palavras, sequer e-
ram imaginadas. Podendo citar-se o “Cilindro de Ciro” como um
precursor dessa ideia. Neste documento, escrito por Ciro II, rei da
Pérsia, já eram declarados conceitos como liberdade de religião e
abolição da escravatura. Tendo este, chegado a ser descrito como
a primeira declaração universal dos direitos humanos já existentes.
Já na Roma Antiga, todos seus cidadãos com vida política possuí-
am a chamada “Cidadania Romana”, e o cristianismo, na Idade
Média defendia a igualdade de todos os homens. Bem, se tantos
conceitos de liberdade e igualdade surgiram de tempos bastante
antigos seria lógico perguntar-se por que demoraram tanto para
que pudessem ser devidamente estabelecidos. A verdade é que
em toda a história da humanidade a tirania e a opressão foram uma
constante entre os povos. E os documentos já mencionados, assim
como uma adição de documentos que viriam [como por exemplo a
“Magna Carta”] foram uma tentativa de contrabalancear o peso da
injustiça que caía de uns homens sobre os outros. Mas um proble-
ma recorrente era de que essas declarações eram subjetivas e va-
riavam conforme os povos. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos tratou de universalizar os direitos, mostrando que não
podiam ser tratados como assuntos particulares de cada Estado.
A Declaração surgiu após a segunda guerra mundial, numa tentati-
va da ONU- Organização das Nações Unidas- de resgatar a digni-
dade humana por todos os países, um comprometimento que visa
a preservação e a promoção dos direitos humanos.
É um documento internacional que pretende afirmar os di-
reitos universais do ser humano. Segundo o documento, “todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os
outros em espírito de fraternidade.”
A violação dos direitos humanos continua ocorrendo em todos os
lugares, em vários países, infelizmente. Aqui no Brasil a secretaria
de Direitos Humanos divulgou que o número de denúncias de viola-
ção desses direitos aumentou 77% em 2012.
Os desafios que ainda temos são grandes. A violência gerada pelo
ódio e a discriminação continuam a existir. O desrespeito à pessoa
humana também. Pessoas com subempregos, sem ter onde mo-
rar, fugindo de guerras, saindo de seus países e muitas vezes não
tendo acolhida e ajuda, o tráfico de pessoas, a escravidão, o traba-
lho infantil, a fome, a educação sucateada,são tantas as violações
que não dá para enumerar todas.
Direitos humanos servem para designar a mesma coisa, os direitos
fundamentais do homem. Correspondem às necessidades básicas
do ser humano, aquelas que são iguais para todas as pessoas e
devem ser atendidas para que se possa levar uma vida digna. São
princípios que servem para garantir nossa liberdade, nossa dignida-
de, o respeito ao ser humano para termos uma sociedade com i-
gualdade para todos.
É inegável que a humanidade evoluiu muito na forma como trata
seus semelhantes. Ainda estamos longe do ideal imaginado, muitos
seres humanos ainda estão desprovidos de seus direitos mais bási-
cos. E por isso mesmo é tão importante ressaltar esta data que vi-
rá. Pois ela marca exatamente o ponto em que estamos. Ainda que
longe do ideal, é o momento de maior igualdade e justiça que a hu-
manidade jamais vivenciou ou experimentou. Desafios? Temos
muitos. Mas a nossa possibilidade de vencê-los é, neste momento,
maior do que jamais foi em toda a história da humanidade. E isso é,
certamente, um grande motivo para ser comemorado.
Um brinde aos direitos de TODOS os seres humanos!
Mariene Hildebrando
e-mail: [email protected]
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 4
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) fez com que brasileiros debatessem o que signifi-cam exatamente os direitos pelos quais ela lutava, gerando acaloradas discussões online.
De um lado, aqueles que lamentavam a perda de uma política ativa na defe-sa dos negros, dos homossexuais e dos moradores de comunidades ca-rentes, e do outro insinuações de que
como defensora dos direitos humanos ela "defendia bandidos" e que isso poderia ter uma relação com seu assassinato.
Mas afinal, o que são direitos humanos?
Defender os direitos humanos é defender bandidos?
E há razões para o conceito ser comumente relacionado a determi-nados grupos políticos?
Direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres huma-nos, como, simplesmente, o direito à vida. Mas estão incluídos ne-les também o direito à moradia, à saúde, à liberdade e à educação.
Boas questões para discutir em sala de aula.
Ventos de mudanças Não poucas pessoas no mundo repro-
vam severamente o atual regime cuba-
no. Mas há muitos que o aprovam, por
outro lado. Os defensores do Liberalis-
mo econômico estão entre os maiores
críticos ao regime. Sim, Cuba incomoda
muita gente! Será que Cuba é realmen-
te tão ruim assim como muita gente afir-
ma? Será que há um sopro liberal na
ilha de Fidel Castro?
A nova Constituição cubana exclui o ter-
mo Comunismo, reconhece o direto à
propriedade privada, o casamento entre
homossexuais, propõe também limitar o
tempo de mandato do Presidente da
República para dez anos e, criar o car-
go de Primeiro-Ministro. E, apesar de
Cuba não ser reconhecida como uma
democracia, ela permite a participação
popular, as pessoas comuns em Cuba
podem opinar, podem dar sugestões, o
que é prática democrática de fato.
Cuba é um país da América Latina, foi
colonizada pela Espanha, tal como o
Brasil, tem muita gente descendente de
africanos, os cubanos não são chineses
e nem norte-coreanos, no aspecto cul-
tural, de costumes. Cuba é latina e cari-
benha. O objetivo das pessoas de bem
que tenham ao menos um conhecimen-
to básico de política é a justiça social,
uma sociedade justa e igualitária, sem
grandes disparidades de renda. Pesso-
as bem intencionadas não sentem pra-
zer na miséria dos outros, mesmo de
desconhecidos. Muitas das crenças
marxistas e do Evangelho cristão tam-
bém, de amor ao próximo, de caridade,
solidariedade, de defesa dos trabalha-
dores, dos socialmente vulneráveis co-
mo moradores de rua, desempregados,
menores abandonados, e outros, são
moralmente corretas. No entanto, pos-
tas em prática através da política, não
funcionam bem, não trazem os resulta-
dos que são desejados, impostas atra-
vés do poder político, do aparato esta-
tal. A natureza do ser humano tem que
ser levada em consideração, porque
pessoas têm interesses e, quando um
projeto de governo colide com os inte-
resses, há intensa resistência e reações
ferozes. E quando colide com valores
morais, com princípios, conceitos já es-
tabelecidos de certo e de errado, tam-
bém há feroz resistência contra tal pro-
jeto de governo. Quando um caminho
não funciona da forma como deveria
funcionar, o lógico, o obvio é adotar ou-
tro caminho.
Não será Cuba um exemplo a ser se-
guido pelo Brasil? A Constituição brasi-
leira de 1988 está completando quase
30 anos, e
não poucas pessoas questionam a efi-
cácia dela. A Constituição atual conce-
de muitos direitos sociais ao cidadão
comum, mas o Estado brasileiro é inefi-
caz quanto à garantir tais direitos soci-
ais. Na teoria, a Constituição cidadã é
uma das mais belas obras jurídicas do
mundo, mas na prática, os resultados
almejados estão longe de serem alcan-
çados. Será que, tal como Cuba, o Bra-
sil também não deveria rever concei-
tos? Mas mudar de Constituição neste
período em que estamos não é perigo-
so? Democracia é participação popular.
Se o povo puder participar da próxima
Assembleia Constituinte, vai ter a opor-
tunidade de reivindicar direitos sociais
ali mesmo na elaboração. O que é fato
incontestável é que o aparato estatal
brasileiro não funciona em favor da mai-
oria da população, portanto, tem que
ser refeito. Alguém que tem a opção de
trocar de carro vai permanecer com um
carro estragado que funciona mal? Al-
guém que tem a opção de trocar de ca-
sa, vai permanecer morando numa casa
caindo aos pedaços? Por que o Brasil
não pode trocar de modelo de Estado?
Tentativas são válidas, mas só não se
mexe num time se ele estiver ganhando
o jogo. Se ele estiver perdendo o jogo,
então vai ter que mexer no time sim!
Quem quer perder campeonato? O que
é mais fácil, emendar tudo o que não for
cláusula pétrea na atual Constituição
brasileira ou, promulgar uma nova
Constituição? O que vai funcionar me-
lhor? Como os brasileiros vão encontrar
ou descobrir o seu próprio modelo de
desenvolvimento nacional? Vão ter que
“reinventar a roda”? Vão ter que experi-
mentar novos modelos ainda não expe-
rimentados? O que condiz com a natu-
reza do brasileiro? O que é certeza é,
se deixar tudo como está, a realidade
do país não vai mudar, é impossível!
Mudanças são provocadas, são causa-
das. Alguém vai ter que tomar uma ati-
tude diferente das costumeiras. Cuba
percebeu isso dentro de sua realidade
nacional e está tomando atitudes de
mudanças. E o Brasil? Os brasileiros
não deviam abrir as suas mentes para
novidades, para novas experiências po-
líticas?
João Paulo E. Barros
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 5
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
O mal da humanidade e a imunidade
Que poder te faz tão alucinado
E faz a fé ferver teu sangue em ira?
Que, parvo, bem te orgulhas do teu brado:
“O cativeiro é meu, daqui ninguém me tira!”
E teu viver… é vida de verdade?
Ou vaza pelo ralo da torneira?
Como podes saber da liberdade
Se o preconceito te traz pela coleira?
Servo infeliz, ser vil e acorrentado,
Vigia teus irmãos, aponta, atira!
Enquanto te sustentas de passado,
Teu deus seva teus filhos na mentira!
Por que culpar aos outros te faz bem?
Não julgarás pra não seres julgado?
Como podes amar sem ver a quem
Se até o amor, a ti, é tão errado?
Hipócrita cruel, pai do pecado,
Coração da exclusão, mão da chacina!
Teu cancro social foi espalhado,
Mas lutas contra a cura e a vacina!
Que tal amar sem ter que por na cama?
Não há de ser tão duro o tolerar!
Olha a transformação em quem se ama;
Em quem clama por ti, só por te amar!
Mas se o clamor da história não te ensina
Que o paraíso deve ser aqui;
Se infernizar já é tua doutrina,
Não passarás! Passaremos por ti!
Luís Fernando Praga
CONFUSÃO NO ZOOLÓGICO
Um dia ensolarado, que deveria ser festivo, encantador, quase acabou nu-
ma tragédia não fosse uma pessoa que na última hora, impediu de acontecer.
Tainá, neta de dona Mônica, aprontou e bagunçou o armário do zoológico
onde guardavam ração para amansar os leões. Também deixou caído por lá os vesti-
dos usados e perfumes relaxantes de Jandira, a leoa preferida de todos por sua os-
tentação e sensacional urrar que demonstrava ser a melhor de todas daquele lugar.
Jandira atacava todos e se irritava quando sua vaidade não era atendida,
sem seu perfume preferido, não conseguia conter sua ansiedade antes de se apre-
sentar ao público sem seus trajes preferidos, não se sentia bonita como uma vedete
para seu show.
Chamaram com urgência o domador para que a convencesse deixar de la-
do essas exigências tolas e acreditar que era amada pelos fãs assim mesmo. Enquan-
to isso, o público aguardava ansioso e impaciente pela demora.
Mas, o que fez Tainá ter essa atitude tão irresponsável? Ela sabia da rotina
do lugar e do temperamento de dona leoa, ninguém sabia o que acontecera e nem
onde foram parar os apetrechos imprescindíveis para o tão esperado espetáculo.
Mônica, conversando com a neta sobre o ocorrido, tentava refletir sobre o
inesperado acontecimento sem imaginar que as pequeninas mãozinhas da garota es-
tavam por trás de tudo aquilo. No entanto, ao chegar e ver aquele alvoroço todo, Mari-
na que havia presenciado a garota atentando a leoa com vara curta, lembrou-se que o
animal ameaçou avançar nela se continuasse a lhe importunar com suas birutices in-
dolentes. Tainá gostava de ver a super woman estressada e sabia muito bem o que
mais a provocava: mexer em sua ração ou ousar tocar em suas roupas impecáveis. A
menina torcia para que ela perdesse a pose e deixasse de ser a número um do zooló-
gico.
Para a garota, a elefanta Rita, é quem deveria ter mais privilégios e oportu-
nidades para se exibir, pois além de serem amigas ela era mais divertida, brincalhona
e de porte superior e versátil e, como Tainá era neta da dona do zoológico, gostava de
ameaçar a carreira de Jandira.
Mediante a gravidade do problema, Marina contou a dona Mônica quem es-
tava por trás de tudo antes que os espectadores fossem embora decepcionados ou,
pior ainda, que a leoa atacasse alguém por não conter sua ira e, seus urros, na verda-
de, já estavam bem ameaçadores.
Sabendo dos acontecimentos, Mônica chamou a neta e a fez entregar tudo
que havia escondido e a repreendeu mediante o feito. Mas, para não ser injusta, as-
sim que a leoa acalmou-se, puniu-a tirando-lhe o foco do show e, reunindo todos criti-
cou veemente a atitude da neta e de Jandira decretando que, dali pra frente, a número
um nas apresentações seria a girafa Valdirene que esticou o pescoço orgulhoso, pis-
cou ao cuidador que com cumplicidade, respirou e retribuiu a piscadela.
Afinal, para ele, cuidar de dona girafa estaria longe de lidar com alguém
com o ego como da leoa Jandira e com as safadezas de Tainá que se valia da condi-
ção de ser neta da proprietária para aprontar suas confusões saindo ilesa de tudo por-
que ninguém tinha coragem de delatá-la.
Moral da história: “Não tem moral nenhuma, se quiser, reflita sobre uma”.
Valdirene passou a ser a grande favorita do zoológico e sempre a desfilar
elegantemente aplaudida por todos enquanto Tainá e Jandira continuavam a se olhar
de esguelha, mas, ambas pensando o que aprontar para acabar com o sucesso da
nova estrela.
Genha Auga Jornalista MTB:15.320
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 6
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
PAI
Pai é aquele que encoraja, Abre os braços para os primeiros passos.
Ama os filhos antes de se amar, Conta histórias e esquece o cansaço.
Pai repreende erros com amor, Molda o caráter do filho, muda seu destino,
Pai envelhece, mas não vê que o filho cresce.
Nem sempre é presente, Mas o bom filho entende.
Para a mãe é um príncipe encantado, Para os filhos herói querido.
O pai ora por seu filho a vida inteira, Cuida da família com preciosidade,
Pai teme ficar idoso, perder as forças E nunca mais sair do anoitecer.
Pai tem talento de proteger filhos,
De lhe dar as mãos e os guiar Pai que é pai não se esconde,
Derrama lágrimas quando seu rebanho é arre-batado
Diante das mazelas da humanidade.
E quem não tem mais pai encarnado Terá sempre o Pai Celestial E esse pai que tudo pode
Nunca abandonará o coração do filho.
Se teu pai está enfraquecido pela idade, Aposentado ou debilitado,
Preso apenas por um fio do passado, Não o deixe sentir-se um fardo,
Trate-o como um mestre Que aprendeu com martírios, Resistiu para lhe ver crescer.
Viveu! Fez por merecer e, no final da trilha, Não poderá escolher, viverá exilado da sua
mente, Ou no asilo se assim o filho quiser,
Mas, se for bom filho, Mostre-lhe o Sol todos os dias Para que ele não tenha medo
Do escuro levá-lo de você.
Enquanto puderes e ele viver, Sinta-o, abrace-o todos os dias.
Para quando você se tornar pai,
Souber como vai ser...
Genha Auga
A esperança não virá com as eleições…
Neste exato momento em que ensaio esta reflexão, em cada rincão
deste país, seja nas metrópoles ou em pequenas cidades, vilas e,
até mesmo, em meio ao nada das ausências operadas pelo Estado
no ir e vir dos sertões, nas veredas da existência, milhões de
brasileiros/as, mesmo diante do mal-estar na política e na
economia desde o golpe político-jurídico-econômico-midiático
motivado pelos interesses mais tacanhos da elite colonial de
capitalismo dependente, tentam sonhar, mas a esperança se
contorce.
Ela, a esperança, a última que morre, agoniza em cada vivência,
experiência sensível-precária e na falta de perspectivas de
coraçõezinhos que, desde que nascem, batem forte por esta nação
que escraviza até mesmo os sonhos e faz com que muitos pereçam
no caminho.
Em meio a tudo isso, queremos depositar esperança no futuro e
acreditar que as eleições de 2018, dependendo de quem seja
eleito/a, viabilizará o projeto de Brasil como ainda sendo um país
do e de futuro. Mas, infelizmente, quem acredita nisso, precisa
conhecer e reconhecer, urgentemente, no mínimo, duas grandes
questões – Primeira: que o ideário de democracia se rasgou, pois a
mídia empresarial, o Senado, a Câmara dos Deputados e o
Judiciário, a serviço dos donos do capital interno dependente dos
capitalistas estrangeiros, trabalharam (e sempre trabalharão, a não
ser que haja uma revolução, de fato!) em prol da desestabilização
da nação e do fortalecimento das forças externas, e, segundo, que,
com o golpe, instaurou-se, de forma naturalizada nas
discursividades e nas operacionalidades dos quatro poderes
supracitados a cultura da destituição de qualquer candidato/a que
venha a ser eleito/a para a Presidência.
É oportuno pontuar que o golpe deu início a uma roda de horrores
que precisa ser quebrada. Como e de que forma isto ocorrerá, esta
é, talvez, a grande questão em torno da qual o Brasil, com rapidez
e eficiência, precisa refletir para encontrar respostas sustentáveis
livres do romantismo analítico imediatista que paira nas
virtualidades e nas territorialidades ilusórias do exercício da
cidadania, pois somente a partir da ruptura desse círculo será
possível acreditar que quem sair vitorioso/a na batalha ou jogo do
trono verde-amarelo seguirá na gestão da nação.
Ademais, no limbo político, ou explicitado de outra maneira, no
estado de indecisão, de incerteza e de indefinição no qual estamos
estacionados, as forças reacionárias no/do Senado, na/da Câmara
dos Deputados, no/do próprio executivo a partir da coalisão com os
vampiros da nação de partidos diversos, fator sob o qual se arvorou
o PT e todos os demais partidos que chegaram ao poder,
historicamente, para a tal governabilidade, base na qual se assenta
a política brasileira desde os primeiros momentos de construção da
política e da nacionalidade, sempre encontrarão forças para a
projeção dos espectros da opressão e entrega do país aos anseios
das potências capital-belicistas. Cabe destacar que estas forcinhas
reacionárias também estão em nós, construção e projeção de
décadas de educação bancária, fruto de práxis educacionais
aparelhadas a serviço do Estado e de culturas teístas
insustentáveis que nos atravessam em nossos afazeres sociais
cotidianos, construtos e imaginários dos quais os políticos, os
togados e a mídia empresarial tradicional se valem para nos manter
sob a dominação e a manipulação.
Quase a guisa de conclusão, externo que após o golpe pelo qual
passou e vive a nação, parte dos mais desonestos e inocentes
intelectualmente no que concerne ao “Fora, Dilma!”, ainda que
timidamente, reconhecem o buraco/poço sem fundo no qual
entramos, mas isto é pouco. Digo parte, pois a maioria ainda segue
alienada sob a ótica da ilusão de que a destituição da primeira
mulher do mais alto cargo do país, ainda que ilegal, mesmo com
nuances de legalidade e, portanto, de constitucionalidade, foi a
melhor saída para o país.
Sinto muito em desapontá-lo/a, mas você que está aí todo/a crente
de que se um candidato de esquerda vencer o jogo do trono, ou,
dito de outro modo, conquistar o cargo presidencial, o Brasil entrará
nos eixos, está equivocadíssimo/a. A não ser que,
concomitantemente, sejam escolhidos/as candidatos/as
progressistas, revolucionários, para as cadeiras no Senado e na
Câmara dos Deputados, que o judiciário seja todo renovado para
que, desta forma, tenhamos posicionamentos jurídicos não
personalistas e mais éticos constitucionalmente e, mais importante
que tudo, que a mídia seja regulamentada para a democratização
da informação, mas o quadro atual, infelizmente, nos prova que
isso é quase impossível de acontecer sem uma mudança na
arquitetura mental societária brasileira que, ao longo da história,
esteve subjugada aos mandos e desmandos dos poderosos branco
-racista-religioso-homofóbico-machista-patriarcais deste país que,
desafortunadamente, em pleno século XXI, ainda possui fortes
traços coloniais ao estilo séculos XVI, XVII e XVIII.
Diante do exposto, faço questão de mencionar o seguinte: ou
compreendemos que a revolução não se dará por eleição e que
outro país só nascerá se entendermos profundamente as forças do
atraso e como elas se constituem, para combatê-las, ou
pereceremos sem escape.
Por fim, Eu, como muitos, queria acreditar no poder das eleições do
ano em curso, mas, reitero, o golpe matou qualquer esperança no
futuro. Por enquanto, o pleito de outubro não representa, para mim,
semiótica ou presciência para a mudança e bem da nação. A
eleição, na conjuntura brasileira, é apenas mais uma ilusão para
que, assim, sigamos todos alienados acreditando ser viável, por
meio dela, a transformação da grande pátria pelas urnas. O que
está para acontecer em outubro é nada mais, nada menos, que o
Estado nos alienando ao limite, brincando com nossa memória e
nos violentando, mostrando-nos que a eleição é a nossa arma para
mudar o Brasil, para o nascer do país que queremos para o futuro,
discurso deveras alinhado com a carga ideológica partidária de
panfletagem informativa política de certa emissora, que não direi o
nome para não dar ibope, ao serviço das oligarquias do poder, por
meio de uma espécie de lavagem documental-gráfico-imagético-
discursiva em todos os seus telejornais, através de um quadro de
vídeos de eleitores/as que chegam do Contamana, à Ponta do
Seixas, do Caburai ao Chuí, em uma espécie de osmose midiático-
politiqueira, fazendo com que a sociedade, historicamente
idiotizada, sem pestanejar, vislumbre a revolução numa eleição,
mesmo que o nosso voto seja rasgado depois em golpes com o
judiciário e com tudo, nos grandes acordos nacionais orquestrados
pela elite político-empresarial-colonial.
Elissandro Santana
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 7
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
Pesquisa do BID mostra que quase ninguém quer ser professor no
Brasil
O estudo ‘Profissão Professor na América Latina – Por que a do-
cência perdeu prestígio e como recuperá-lo?’, divulgado hoje (27)
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra o
Brasil em um projeto suicida, que desvaloriza a profissão de profes-
sor.
Apenas 5% dos jovens de 15 desejam ser professores de educação
básica. Um dos maiores ataques à educação foi feita após o golpe
parlamentar de 2015, quando o governo Temer aprovou o congela-
mento dos investimentos em educação por 20 anos
Já em países onde a profissão é mais valorizada, o interesse tende
a ser maior, como na Coreia do Sul, onde 25% dos jovens têm a
intenção de lecionar, e na Espanha, onde o índice chega a quase
20%.
Entre as razões para o desinteresse para atuar na educação básica
estão, segundo a pesquisa, os baixos salários. “Mesmo nos últimos
anos, após uma década de incrementos nos salários dos professo-
res, eles continuam a ganhar consideravelmente menos do que ou-
tros profissionais”, enfatiza o texto.
A partir dos dados das pesquisas domiciliares, o estudo do BID
mostra que os educadores ganham cerca da metade da remunera-
ção de profissionais com formação equivalente. No Equador, a dife-
rença é menor, mas os professores ainda recebem 77% da remu-
neração de outras áreas. No México, os vencimentos dos trabalha-
dores da educação é de 83% dos de outros ramos.
Além da questão financeira, o estudo aponta para as condições de
trabalho como razão do desinteresse dos jovens pela docência.
“Muitas vezes a infraestrutura das escolas latino-americanas é defi-
ciente em relação a equipamentos e laboratórios e até mesmo em
termos de serviços básicos”, ressalta o documento.
O estudo menciona as informações levantadas pelo Laboratório La-
tino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação em 2013
sobre escolas de 15 países latino-americanos, incluindo o Brasil.
Na ocasião, foi constatado que 20% dos estabelecimentos de ensi-
no não tinham banheiros adequados, 54% não tinham sala para os
professores e 74% não contavam com laboratório de ciências.
O professor emérito da Unicamp, filósofo e educador, Dermeval Sa-
viani, de 73 anos, afirmou que a PEC (Proposta de Emenda Consti-
tucional) que congelou os gastos em saúde e educação não inviabi-
lizou somente a educação brasileira, mas o país como um todo.
Para Saviani, um dos pontos chaves que provocou o golpe foram
os interesses econômicos do sistema financeiro. Ele ressaltou, em
entrevista ao jornal Brasil de Fato, que o foco na dívida e nas con-
tas públicas, pós-golpe, foi para fazer caixa, para fazer o superávit
primário, para o pagamento dos bancos.
“Isto levou àquela emenda constitucional, a chamada PEC do Fim
do Mundo, que congelou por 20 anos os gastos públicos, limitada
apenas à inflação do ano anterior.” Então, isto inviabiliza o Plano
Nacional de Educação (PNE) porque as metas do plano estão vin-
culadas aos recursos financeiros. Uma das metas principais, a me-
ta 20, que determinava atingir 7% do PIB [para o investimento na
educação] nos primeiros cinco anos, chegando a 10% ao final do
período de dez anos. Como o plano foi aprovado em 2014, então a
meta de 10% do PIB, deveria ser atingida até 2024″, disse.
Para Saviani, que é considerado o criador da chamada Pedagogia
Histórico-Crítica e já recebeu o prêmio Jabuti, a aprovação da e-
menda constitucional por 20 anos, impedindo investimentos públi-
cos, e iniciando-se a partir de 2017, conduz a limitação do Plano
Nacional de Educação até 2037. “Como o plano vence em 2024, as
metas ficaram inviabilizadas; algumas delas que deveriam ser atin-
gidas no prazo de 2 anos, portanto em 2016, já venceram e não fo-
ram atingidas, e aquelas cujo vencimento se estende até 2024,
também estão inviabilizadas por conta dessa PEC”, afirmou.
Segundo o professor, a reforma do ensino médio proposto pelo go-
verno Temer (com o apoio dos partidos evangélicos e do PSDB),
implica um retrocesso para a década de 1940, quando estava deli-
mitada a formação profissional de um lado e a formação das elites
de outro.
“Em 1942, o decreto que é conhecido como Lei Orgânica do Ensino
Secundário, determinava que o ensino secundário se destinava às
elites condutoras, e nesse mesmo ano de 1942, foi baixado um ou-
tro decreto, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Industrial, re-
gulando o ensino industrial, com o mesmo período de duração do
ensino médio, quatro anos de primeiro ciclo, chamado ginásio, e
três anos do segundo ciclo, o colegial, para formar os chamados
técnicos de nível médio. Se o ensino secundário era destinado às
elites condutoras, infere-se que o ensino profissional era destinado
ao povo conduzido. Em 1942 foi a Lei Orgânica do Ensino Industri-
al, e em 1943 a do Ensino Comercial, depois em 1946 saiu a do
Ensino Agrícola”, contextualizou.
Para ele, a reforma atual comete um absurdo ao atribuir aos ado-
lescentes de 15 anos, a responsabilidade de definir o seu percurso,
os seus projetos de vida.
“Como é que um adolescente de 15 anos vai ter um projeto de vida
para poder escolher entre os cinco itinerários, àquele que corres-
ponde ao que ele pretende desenvolver na sociedade?” Nós sabe-
mos que os jovens de 18, 20 anos que ingressam no ensino superi-
or não têm clareza ainda da opção (…).
Por detrás disto está o entendimento de que a grande maioria vai
para aquelas profissões de caráter não intelectual, que implica mai-
or precariedade e salários mais baixos. Então, a diferença entre as
elites condutoras e a população trabalhadora de modo geral, pro-
clamada lá na reforma de 1942, tende a se acentuar com uma pro-
posta como essa”, afirmou. (Veja no Brasil de Fato a entrevista)
Coincidentemente, a reforma trabalhista também retrocede para
1942, quando foi criada a Consolidação das Leis Trabalhistas e há
também tentativas de criminalizar a mulher em casos de aborto que
remontam ao código civil anterior à década de 40.
Agência Brasil
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 8
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
Ser professor é muito mais que exercer uma profissão, dar aulas, aplicar e corrigir provas. Ser professor é uma profissão que exige muito esforço, preparo, conhecimento, pesquisa, tempo e dedicação, mais ainda, que
requer compromisso e comprometimento.
Porque Deus quis
Foi bem ali. Naquela esquina, perto da pa-
daria. Só deu pra ouvir o barulho e o corre-
corre das pessoas desesperadas tentando
entender. Veio resgate, helicóptero, mas
não deu. 3 vidas assim. Fico pensando que
a ideia deles era tomar um sorvete e jogar
conversa fora. Não partir. O moço quando
saiu do carro mau parava em pé. Cheio de
sangue na cabeça e cachaça na alma. Nun-
ca mais ninguém soube nada. Mas foi preso
não. Parece que é influente, filho sabe lá de
quem. Para os outros ficou foi a dor e a
saudade. 3 vidas. Que que vai fazer? Deus
quis eles para um chamado maior no céu.
Porque perder a vida assim só pode ser pla-
no de Deus. Igual o menino da época da
escola. Tava na festa, feliz e arrumou briga.
Ou arrumaram. O ruim é que nunca contam
direito o que aconteceu. Mas e daí? Muda o
fim da história? Quem socou ou foi socado
ajuda, leva a dor? Não! Dizem que tava na
festa e teve um problema. Discussão, gente
exaltada, foi formando um bolo de gente e
deram uma paulada. Foi quando o resto das
pessoas começaram bater. Tem vídeo na
internet. Até a mãe dele viu. Eu nunca quis
ver, mas diz que é bem feio. Também ficou
por isso mesmo. Virou entretenimento para
as pessoas. Resolver mesmo, nunca resol-
veram. Nem sequer foram atrás. Fica aque-
le zumzum, papo furado. “que não devia tá
em festa”, “que coisa boa não devia tá fa-
zendo”. Gente besta! Com essa mania de
ficar falando da vida dos outros e arruman-
do forma de assuntar sobre. Dona Zé foi
igual. Vivia sorrindo, cantando. Forte igual
um toro, subia e descia sabe lá quantas ve-
zes a ladeira. Pra buscar os netos, pra com-
pras no mercado. Ajudava seu Tião, Juarez.
Cansou de livrar os meninos da rua das
mãos da polícia, viu? Cansou! Certo ou er-
rado, ia lá e metia o dedo na cara. Mandava
ir prender vagabundo. Que com os meninos
dali ninguém mexia. Era como uma santa
na rua. Foi embora de besteira. Tava com
uma tal de dor de cabeça fazia dias, mas ia
que ia subindo as ladeiras da vida. Quando
a dor tava no nível máximo, ainda fez ques-
tão de dar de comer e pôr pra dormir seu
neto caçula pra depois partir no sofá vendo
notícia. Cê vê? É coisa maior. Coisa da vida
que a gente não controla, só aceita e se-
gue. Não tem muito o que fazer. Sabe que
essa é mesmo minha maior impressão?
Que a gente não tem muito o que fazer! Se
vai na delegacia, depende do humor do de-
legado. Advogado é caro e as leis são para
quem tem dinheiro pra pagar advogado. A
gente fica com as mãos presas mesmo.
Sem qualquer opção. Mesmo quando é es-
cancarado, ainda dá um trabalho lascado
para ter qualquer coisa que é de direito.
Sim! Um trabalhão pra se ter o que é de di-
reito, o que o governo tem que garantir.
Cansa!
Quando penso nessas coisas, me ocorre
algo interessante. Não sei se você concorda
comigo, mas me ouça antes de dizer qual-
quer coisa. Acho que Deus deve ter um pro-
jeto maior pra nós pobres! Vai ver que ele
odeia gente rica e quer mais é que eles fi-
quem aqui mesmo na terra, com suas fres-
curas. A gente ele quer perto. Talvez Deus
goste do cheiro do feijão que a gente faz,
como nossos meninos correm despreocu-
pados na rua. Não ligam de sujar roupa ou
ralar pé. Talvez Deus queira nossa festa lá
no quintal Dele e com ele. Por isso a gente
vai tão mais rápido pra perto Dele. Só pode.
A gente morre em fila de hospital, de fome,
de bala e cachaça. Porrada, faca. Não vejo
gente rica morrendo assim. Gente rica pode
tratar as doenças mais sérias em países
que tem o tratamento mais caro e melhor. A
gente pra aposentar, quando consegue por-
que agora ficou impossível com esse nojen-
to fingindo ser presidente, tem que ralar co-
mo se tivesse ainda em trem lotado. Por is-
so acho que é um projeto maior. Acho que a
gente nem passa no julgamento final. Entra
direto, se alimenta direito e pega a chave do
quarto que vai ficar. Lá sim a gente deve ter
tratamento vip. Coisa que burguês tem aqui,
a gente tem lá para toda eternidade. Vai ver
que é isso. Essa loucura toda é por isso.
Porque Deus quis.
Guigo Ribeiro
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 9
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
Clarice Lispector: “O que importa afinal,
viver ou saber que se está vivendo?”.
* * *
Clarice Lispector: “Eu sou mansa, mas mi-
nha função de viver é feroz”.
* * *
Sêneca: “Dedica-se a esperar o futuro ape-
nas quem não sabe viver o presente”.
* * *
Wilson Mizner: “A vida é dura e os primeiros
cem anos são os piores”.
* * *
Jonathan Swift: “São poucos os que vivem
o presente; a maioria aguarda para viver
mais tarde”.
* * *
Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do en-
contro, embora haja tanto desencontro pela
vida”.
* * *
Simone de Beauvoir: “Viver é envelhecer,
nada mais”.
* * *
Dante Alighieri: “Do viver que é uma corrida
para a morte”.
* * *
José Saramago: “A vida é breve, mas cabe
nela muito mais do que somos capazes de
viver”.
* * * Gonçalves Dias: “A vida é combate / que os
fracos abate / que os fortes, os bravos / só
pode exaltar”.
* * *
Sigmund Freud: “Somos feitos de carne,
mas temos de viver como se fôssemos de
ferro”.
* * *
Leila Diniz: “Nem de amores eu morreria
porque eu gosto mesmo é de viver deles”.
* * *
Arthur Schopenhauer: “Como somos obri-
gados a viver, devemos sofrer o menos pos-
sível”.
* * *
Viana Moog: “Pensar é fácil, agir é difícil;
mas a vida só pertence aos que sabem unir
o pensamento à ação”.
* * *
Humberto de Campos: “A vida do homem
não será a repetição, na Terra, da evolução
da pimenta-do-reino?”.
* * *
Mês que vem... Tem mais!
O Judiciário brasileiro trata mal os pobres – especialmente os negros – e tem resistência em cumprir a função que a Constituição Federal lhe atribuiu. Vários estudos demonstram que o aces-so à Justiça no Brasil não é igual para todos e que a raça e o nível social podem influenciar nos resultados dos processos judiciais, criando dificuldades para que práticas racistas sejam exem-plarmente punidas. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, elaborado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – que analisou o andamento de vários casos de racismo e discriminação racial no Tribunal de Justiça do Maranhão e em outras doze Cortes Estaduais – aponta que 40% dos processos de acusação por prática racista tiveram os méritos considerados improcedentes pelos juízes na primeira instância.
A GUERRA HÍBRIDA NA NICARÁGUA
"O assassinato da estudante brasileira de medicina na Nicarágua, em meio à violência nas manifestações contra o governo Daniel Or-tega, é mais uma evidência de que a crise naquele país segue o roteiro já visto das guerras híbridas no Brasil e no mundo. Timing perfeito", aponta o jornalista Wilson Ferreira, editor do blog Cineg-nose
Velhas guerras, novas estratégias. Se pela Convenção de Genebra (tratado de 1949 que define direito e deveres de pessoas e comba-tentes em tempos de guerra) mulheres e crianças, como de resto a população civil, são protegidos por diversos artigos e protocolos a-dicionais, com as modernas táticas de guerra híbrida elas se tor-nam as principais vítimas.
A questão é que a Guerra Híbrida não é uma guerra convencional: é a uma guerra semiótica: uma combinação de operações secretas, pressão diplomática, coerção econômica, ciberataques e muita de-sinformação – sempre procurando apresentar a ideia de uma con-frontação entre um corpo policial repressivo do governo-alvo do momento contra "protestos pacíficos".
Seguindo o roteiro do cientista político Gene Sharp, da chamada "luta não-violenta" implementada pelos manuais de intervenção hí-brida dos EUA, "protestos pacíficos" se transformam rapidamente em incêndios, saques, bloqueios, nos quais manifestantes se con-fundem com milícias armadas. Sempre visando criar eventos para repercutirem midiaticamente como bombas semióticas para opinião pública. E mulheres e crianças são as vítimas exemplares.
A morte da estudante brasileira de medicina Raynéia Lima em Ma-nágua, capital da Nicarágua, soma-se à estatística de centenas de mortos desde que os protestos explodiram no país em outubro. Ela voltava para casa quando seu carro foi alvejado supostamente por paramilitares que tomaram o Campus da Universidade Nacional Autônoma.
O sintomático nesse trágico episódio foi a consonância da narrativa da grande mídia e do governo brasileiro: a condenação imediata do "aprofundamento da repressão" aos protestos na Nicarágua, antes de qualquer investigação ou de declarações "do outro lado". De ca-ra, a execução da estudante brasileira foi colocada na conta do go-verno Daniel Ortega.
É como se o assassinato fosse uma espécie de "deixa" para colo-car no ar uma narrativa já pronta.
Crise "inesperada"
E nem é necessário se aprofundar na diferença de tratamento dada pelo governo do desinterino Temer: enquanto o episódio das 51 cri-anças brasileiras presas separadas dos pais (imigrantes brasileiros nos EUA sem documentos) foi tratado de forma burocrática e proto-colar, no assassinato de Raynéia a diplomacia do governo brasilei-ro mostrou uma indignação poucas vezes vista: o Itamaraty convo-
cou a embaixadora da Nicarágua para dar explicações, enquanto o embaixador brasileiro naquele país foi chamado de volta a Brasília.
O fato é que desde 18 de abril desse ano começou aquilo que a grande mídia vem descrevendo como "um amplo e popular levante" contra o presidente do país centro-americano Daniel Ortega.
A crise começou de uma forma inesperada: pequenos grupos pro-testavam contra a reforma do sistema previdenciário quando foram violentamente atacados por supostos grupos pró-governo. Os ví-deos da repressão foram amplamente divulgados nas redes sociais – foi o rastilho de pólvora aceso para acabar gerando mais protes-tos e a espiral da violência e mortes nas ruas.
Desde então a crise nicaraguense segue o mesmo script da crise brasileira a partir das chamadas "jornada de junho" de 2013, marco da guerra híbrida brasileira que culminou com o impeachment de 2016.
Financiamento de grupos capazes de articular protestos nas ruas; pequenos grupos promovendo ações extremamente violentas para repercussão midiática, provocando levantes dos setores médios da sociedade. E o pano de fundo diário é a mídia corporativa, articula-da em um discurso unitário de denúncia de "corrupção", críticas ao afastamento do país em relação aos EUA e promoção do ideário neoliberal. E, principalmente, articulação de agentes internos no próprio Estado – judiciário, polícias etc. É um roteiro já assistido nas diversas primaveras que correram o mundo.
Não são mais necessárias bombas e mariners: a Guerra Híbrida encontra aqueles que façam o trabalho internamente em um país.
O elemento feminino de propaganda na Guerra Híbrida
Mas o assassinato brutal da estudante brasileira coloca em evidên-cia um elemento importante na receita de uma Revolução Popular Híbrida (RPH): a vítima feminina como importante peça de propa-ganda.
O momento certo da vítima feminina aparecer é quando a grande mídia internacional já está retratando a RPH como "popular", "espontânea" e como "o novo" na velha política carcomida pela cor-rupção.
Há quatro maneiras de produzir essa vítima: encenação (ex: a irani-ana Neda Agha-Soltan, o "anjo da liberdade", olhando para a câme-ra enquanto aplicava sangue falso em si mesma); glamorização (Caetano Veloso tecendo elogios a mulheres black blocs como "os olhos amendoados do anarquismo); dar ampla repercussão midiáti-ca e em mídias sociais de mulheres vítimas de ações repressivas; encontrar uma fanática suicida; ou criar uma execução real.
E a RPH nicaraguense optou pela última alternativa.
No caso da RPH brasileira não faltaram bombas semióticas da víti-ma feminina:
(a) Sob a rubrica diária de "País em Protesto" na grande mídia, foi dado grande destaque a duas manifestantes femininas atropeladas em protestos na cidade de Ribeirão Preto quando a Land Rover de um empresário. Vídeo circulou em redes sociais, dando mais um empurrão simbólico às "jornadas" de junho de 2013.
(b) O episódio de mulheres salvando cães beagles cobaias em um Instituto farmacêutico em São Roque/SP em 2013: mulheres de classe média salvando animaizinhos em meio a fogo e quebradeira de black blocs. Claro, para jogar a culpa no Governo e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
Wilson Ferreira
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 10
Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar
GUERRAS HIDBRIDAS Guerra Híbrida é uma estratégia militar que mescla táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular, e ciber-guerra com outro métodos de influência, tais como fake news, di-plomacia e intervenção eleitoral externa. Uma responsabilidade primordial dos Governos é proteger seus ci-dadãos das ameaças que coloquem em risco sua segurança, liber-dades, bem-estar e a estabilidade de suas instituições de governo.
Um elemento essencial da guerra híbrida é a dissimulação, o que dificulta a atribuição desse novo tipo de ataque. De modo que as autoridades espanholas, como as europeias e também nossos alia-dos na OTAN, estão investindo cada vez mais recursos humanos e materiais para combater esse tipo de ameaça. Essa estratégia de segurança nacional é um primeiro passo, imprescindível, para to-mar consciência sobre a importância dessa ameaça e a necessida-de de se responder coordenadamente.
A SEMELHANÇA ASSUSTADORA ENTRE O MBL E AS
MILICIAS FASCISTAS ITALIANAS DOS ANOS 30 E A
REAÇAO TARDIA AO FASCISMO
Há alguns dias, contei a dois amigos romanos, dois jornalistas que
vivem em Roma, onde morei por seis anos, que o movimento fas-
cista MBL havia tido mais de cem páginas ligadas a ele deletadas
pelo Facebook.
A reação imediata dos dois foi exatamente a pergunta que povoa
minha mente há dias.
Ma perché solo adesso? ( Por que somente agora?)
O fato é que na Itália centenas de páginas neofascistas, irmãs sia-
mesas do MBL tupiniquim estão sendo deletadas desde 2013, sem
possibilidade de retorno , por alimentarem o ódio aos imigrantes, a
misoginia mais primitiva, o machismo que mata, o falso moralismo
e o ódio aos muçulmanos ou a qualquer grupo religioso que não o
falso cristianismo dos neofascistas.
Os jovens líderes desses grupos italianos, um dos quais entrevistei
em Roma há alguns anos, quando esses movimentos começavam
a surgir e eram vistos como excêntricos ou bizarros na península,
começaram a ganhar mais e mais adeptos nos últimos dez anos,
na mesma medida em que partidos como a Lega Nord , a Liga Nor-
te, na época liderada por Umberto Bossi, um dos mais agressivos,
boçais e xenófobos políticos italianos ( um homem que se inspirava
nas milícias fascistas dos anos 30 e 40) começaram a ganhar força
no parlamento italiano.
A semelhança entre os líderes do MBL e as milícias italianas fascis-
tas, que deram origem ao histórico Fascismo italiano, é assustado-
ra. Assim que surgiram, as milícias fascistas da década de 30 fo-
ram chamadas de “fascio”, uma espécie de feixe com vários grave-
tos de madeira que, juntos, podem fazer uma fogueira, segundo u-
ma das metáforas usadas na época.
O movimento dos “fascio” passou a ganhar força quando a Milizia
Volontaria per La Sicurezza passou a agredir os jovens de esquer-
da, chamados por eles de ' comunistas' em passeatas perto do Co-
liseu e na região da Piazza Navona .
Os agressores eram chamados de Camicie Nere, Camisas Negras,
porque que usavam camisas negras fechadas até o pescoço e agi-
am em nome do anticomunismo, do antipacifismo e do ” nacionalis-
mo”. Os Camisas Negras atacavam mulheres ( como as mulheres
atacadas em uma passeata no sul do Brasil recentemente) , espan-
cavam jornalistas e intelectuais críticos ao fascismo, agrediam as
ligas camponesas e qualquer grupo que pensasse de forma dife-
rente dos fascistas.
Poucas pessoas sabem que bem antes da II Guerra, os “fascios”
foram responsáveis pelo assassinato de 600 italianos, enquanto a
polícia italiana se omitia ou se recusava a fazer algo.Essas milícias,
no início, usavam porretes e chicotes ao invés de armas, pois seu
objetivo era humilhar seus inimigos e não matá-los. As milícias ata-
cavam em bandos os partiggiani, ( hoje reverenciados como heróis
na Itália), que muitos brasileiros desconhecem e que lutavam con-
tra Mussolini e contra o fascistas, formando a maior força de resis-
tência interna durante toda a década de 40.
As milícias atacavam caravanas a cavalo, exatamente como grupos
próximos ao MBL atacaram mulheres e homens que estavam parti-
cipando de uma caravana política no sul do Brasil.
Os Camicie Nere tentavam impedir que os jovens de esquerda e
qualquer um que eles considerassem comunistas circulassem livre-
mente pelo território italiano e lutassem pelos direitos civis. Assim
como no MBL, havia entre seus membros uma massa heterogênea,
desde odiadores contumazes e agressivos, passando por filhos de
militares, até oportunistas em busca de dinheiro ou de uma forma
mais fácil de fazer uma carreira política.
Os Camicie Nere odiavam os sindicatos de trabalhadores e protegi-
am os latifúndios italianos. Tinham uma clara adoração pelos nazis-
tas alemães , que haviam escolhido as camisas pardas para as SA,
com uma atuação muito similar aos Camicie Nere, e chegaram a
inspirar vários grupos fascistas na Europa, sem grande sucesso,
como o grupo fundado por Oswald Musley , na Inglaterra, a União
Britânica de Fascistas, a Falange Espanhola, que recebeu o nome
de Camisas Azuis, o Parti Franciste, na França e até mesmo os In-
tegralistas de Plínio Salgado no Brasil, que foram chamados de Ca-
misas Verdes.
Os milicianos fascistas italianos foram, como sabemos hoje, o gru-
po mais longevo e mais coeso porque tiveram o apoio de policiais e
de líderes políticos italianos.
Os fascistas brasileiros, que vem agindo, sobretudo, em São Paulo
e no sul do Brasil contam com o amplo apoio de policiais, ex polici-
ais e até de uma senadora da República.
Vivendo em Roma, pude entrevistar pessoas que perderam seus
pais durante o Fascismo e centenas de mulheres que lutam para
que a história jamais se repita e o ódio não seja adubado. Recente-
mente, um grupo de mulheres italianas conseguiu que o Facebook
fechasse mais uma página italiana, uma página chamada “Giovani
fascisti italini” (Jovens Fascistas Italianos), que tinha como objetivo
alimentar o ódio e como membros jovens de extrema direita e dois
senadores que os apoiavam.
Há alguns dias, depois de milhares de fake news, de anos alimen-
tando um ódio galopante e assustador , depois de milhares de men-
tiras e agressões até mesmo a uma ativista como Marielle Franco,
assassinada no Rio há quatro meses, o Facebook brasileiro deletou
mais de cem páginas ligadas ao MBL .
A pergunta que ainda me faço é: Ma perché solo adesso?
Lucia Helena Issa
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 11
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FASCISMO O movimento fascista se desenvolveu na Itália no início da década de 1920 e acabou servindo como modelo para outros regimes políticos europeus de viés totalitário,
com os da Alemanha, da Espanha e de Portugal, bem como para o “Estado Novo”, implantado no Brasil por Getúlio Vargas em 1937.
O Fascismo surgiu no contexto do fim da Primeira Guerra Mundial, quando vários problemas, principalmente de ordem econômica, avolumaram-se no governo do rei
Vítor Emanuel III. Apesar de ter sido um dos países que ganharam a guerra, a Itália, assim como os demais países envolvidos no conflito mundial, sofreu bruscos da-
nos em sua estrutura econômica, o que gerou problemas de ordem social, sobretudo com relação aos trabalhadores do setor industrial. O anarco-sindicalismo era
muito forte neste período, na Itália, e o Partido Comunista Italiano também havia se organizado neste país e tinha, por sua vez, fortes ligações com o comunismo da
Revolução Bolchevique de 1917.
"TÉCNICAS" SEGUIDAS NO BRASIL PARA SILENCIAR E
ADULTERAR A VERDADEIRA HISTÓRIA DA COROA
PORTUGUESA
A história do Brasil e de Portugal era a MESMA história até 1822.
No entanto, a historiografia brasileira tem-se norteado, regra geral
desde a Independência em 1822, à contemplação de um projeto
ideológico de poder e enferma de uma visão autocentrada da histó-
ria do Brasil desconectada das fontes e acervos tradicionais da his-
tória e da cultura Portuguesa. Está, portanto, equivocada porquê
assenta em um erro ou em uma deturpação ou em uma ocultação
recusando-se a penetrar na alma autêntica Luso-Brasileira.
A historiografia nacional, desde 1822, adotou alguns "caminhos" de
cariz revolucionário para tratar da questão relativa à história luso-
brasílica que cobre o período de 1500-1822. Cito, de modo resumi-
do:
1) A criação da tese do "Brasil colónia de Portugal" de José Bonifá-
cio com o beneplácito do Príncipe Regente D. Pedro;
2) a criação do IHGB;
3) a criação de "como se deve produzir a história do Brasil" emba-
sada na historiografia alemã;
4) a adoção do materialismo histórico e dialético na "leitura da his-
tória", com destaque para Marx, Engles, Comte;
5) a re-edição de obras com o "português atualizado", inserindo ter-
mos, palavras e conceitos que jamais existiram nos documentos
coevos da época em que foram primeiramente lançados;
6) a adoção de autores e obras não portugueses, notadamente in-
gleses, franceses, alemães para falar da história da Coroa Portu-
guesa, desprezando as fontes primárias da própria Coroa;
7) A adoção da leitura histórica da Semana de Arte Moderna de
1922: a afirmação da não existência de documentos primários da
Coroa Portuguesa;
8) A incorporação plena do discurso liberal-maçônico do século XIX
de que Portugal era o país mais atrasado e subdesenvolvido da
Europa;
9) A partir da década de 1930 uma geração de historiadores vão
construindo "teses" baseadas em "achismos interpretativos" sem
base documental. Exemplo clássico a tese dos "semeadores e la-
drilheiros" de Sérgio Buarque de Holanda;
10) A consolidação da negação de que o Brasil antes mesmo da
Independência, fizesse parte integrante de uma Coroa unida e coe-
sa em torno de um centro político. Por trás desta tese, está a defe-
sa da tese de José Bonifácio de que não existia a ideia de um Bra-
sil unido e coeso em torno de um centro político. Bonifácio defende
seu projeto de uma pátria imaginada à revelia da VERDADE da Co-
roa Portuguesa;
11) A teoria da Espiral do Silêncio: o documento existe? Se sim,
não se fala nele;
12) A não aplicação da STATUS QUAESTIONES no estudo da his-
toriografia da Coroa Portuguesa;
13) Uso do ARGUMENTUM EX SILENTIO.
Diante desses FATOS urge, portanto, adotar novos rumos, reabili-
tando Autores, Obras e Documentos no âmbito da lusofonia ostraci-
zados, marginalizados, adulterados e silenciados pela norma domi-
nante, mas, imprescindíveis para entender a Alta Cultura luso-afro-
brasileira, contraponto indispensável à cultura de massa em voga.
Loryel Rocha
Professor e palestrante
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 12
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Fake News: a praga da vida pessoal que se alas-trou na socie-dade
Essa semana
o Facebook
retirou do ar
196 páginas e 87 contas vinculadas ao Movimento Brasil Livre –
MBL, pela disseminação de fake news. Juntas, essas páginas ti-
nham mais de meio milhão de seguidores.
“Antes tarde do que nunca” é a primeira coisa que me vem à men-
te. A segunda coisa é uma preguiça enorme. Em meio a todos os
problemas que nos rodeiam como sociedade, nem era para perder-
mos tempo em discussões como essa. O falso é falso, pronto. Não
deveria causar comoção, não deveria ser passado adiante, não de-
veria sequer, ser fabricado. E é justamente aí que reside o proble-
ma: ele é fabricado, é patrocinado e gera lucro para alguém.
A disseminação é outra coisa. Indivíduos que têm a escolha e o pri-
vilégio de investir em educação, cultura e informação e ainda assim
não o fazem, especialmente quando inseridos em uma sociedade
que congela esses mesmos recursos fundamentais por 20 anos
sem parecer se importar, não têm como interpretar narrativas. Não
tem como interpretar a realidade, seja a própria ou a alheia.
Em um dos dias da semana passada, a primeira coisa que vi quan-
do acordei foi uma barbaridade que me fez abandonar essa pregui-
ça e me envolver em uma discussão sobre o tema. De acordo com
o vídeo, que até parecia bem produzido, a esquerda brasileira e os
militantes LGBTQI tinham um plano secreto e cruel para legalizar a
pedofilia no país, com a ajuda da Rede Globo. Não aguentei. Iniciei
uma discussão que durou três dias e não levou a lugar algum. Ali-
ás, as pessoas que compartilharam e acreditaram no vídeo, pare-
ceram confiar ainda mais nele após esse episódio.
Nesses momentos, uma mistura de cansaço, preguiça, incapacida-
de, desolação e tristeza – por não poder dialogar sobre o contradi-
tório com o outro, mantendo o respeito – me invadem e me fazem
lembrar dos outros braços das fake news: a fofoca, a boataria e a
difamação.
Não serei hipócrita e não farei a pregação da moral de cuecas aqui,
afinal, é muito provável que, em algum momento da vida, nos veja-
mos como alvo, produtores ou reprodutores de alguma “fake news
da vida privada”. Sabemos como pode ser difícil romper o ciclo de
invenção de histórias, afinal, a fofoca também pode ser uma manei-
ra de socializar, de criar laços. A pergunta que deve ser feita nesse
momento, talvez seja: qual a qualidade dos laços criados dessa
maneira? Tanto os pessoais quanto os que usamos para nos infor-
mar, para interpretar a realidade?
Celebremos a iniciativa (tardia) do Facebook. Mas não nos conten-
temos apenas com o desmantelamento da rede de fake news dos
outros.
Mayara Bergamo
+ ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS DE AGOSTO
Esta data homenageia a emissão do primeiro selo postal pelos Cor-
reios brasileiros, em 1º de agosto de 1843.
O Dia do Selo é celebrado principalmente entre os funcionários dos
Correios e os filatelistas – pessoas que colecionam selos – que,
normalmente, promovem exposições ou produzem selos especiais
comemorativos.
O Brasil é conhecido como o segundo país do mundo a aprovar o
uso de selos postais nas correspondências, em 1843, sendo ante-
cedido apenas pela Inglaterra (criadora do sistema de selos pos-
tais).
Os selos postais foram criados numa tentativa de evitar prejuí-
zos com a devolução das correspondências. Antigamente, o paga-
mento das cartas era feito pelos destinatários, caso este não acei-
tasse a correspondência, o correio ficava no prejuízo.
O diretor do sistema de correios de Londres, Rowland Hill desco-
briu que as pessoas utilizavam códigos secretos nos envelopes pa-
ra se comunicar com outras pessoas, sem a necessidade de rece-
ber a carta e, consequentemente, sem precisar pagar por ela.
Com a chamada “reforma postal”, em 3 de dezembro de 1839, a
Inglaterra emitiu o primeiro selo postal, fazendo com que o reme-
tente tivesse que pagar o envio da carta antecipadamente, evitando
prejuízos para o sistema de correios.
O primeiro selo inglês se chamava “Penny Black”, enquanto que os
brasileiros ficaram conhecidos por “Olho-de-boi”, pois os valores de
30, 60 e 90 réis estavam inscritos numa esfera que lembrava a se-
mente de mesmo nome.
Atualmente, os selos 'Olho-de-boi' são as estampas brasileiras
mais disputadas pelos colecionadores.
A data tem o objetivo de conscientizar a sociedade brasileira sobre
a importância da educação sanitária, despertando na população o
valor da saúde e dos cuidados para com ela.
O Dia da Saúde também serve para homenagear erecordar a vida
e o trabalho de Oswaldo Cruz, um dos principais responsáveis pe-
las erradicações de perigosas epidemias que acometiam o Brasil
no final do século XIX e começo do século XX.
O Brasil ainda comemora o Dia Nacional da Saúde e Nutrição,
em 31 de março.
Origem do Dia Nacional da Saúde
O Dia Nacional da Saúde foi oficializado e inserido no calendário
oficial brasileiro através do Decreto de Lei nº 5.352, de 8 de novem-
bro 1967, do Ministério da Saúde e da Educação e Cultura.
O dia 5 de agosto foi escolhido para celebrar o Dia Nacional da Sa-
úde por ser a data de nascimento do sanitarista Oswaldo da Cruz,
um importante personagem na história do combate e erradicação
das epidemias da peste, febre amarela e varíola no Brasil, no co-
meço do século XX.
Oswaldo da Cruz nasceu em 5 de agosto de 1872 e foi responsável
pela criação do Instituto Soroterápico Federal (atualmente conheci-
do como Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ) e da fundação da
Academia Brasileira de Ciências.
O princi-
pal propósito desta data é conscientizar sobre a inclusão dos povos
indígenas na sociedade, alertando sobre seus direitos, pois muitas
vezes são marginalizados ou excluídos da cidadania.
Outra finalidade é garantir a preservação da cultura tradicional de
cada um dos povos indígenas, como fonte primordial de sua identi-
dade.
O Dia Internacional dos Povos Indígenas ainda presta homenagem
a todas ascontribuições culturais e sabedorias milenares que esses
povos transmitiram para as mais diversas civilizações no mundo.
De acordo com o senso demográfico de 2010, no Brasil existem
mais de 800 mil indígenas, repartidos aproximadamente 305 etnias
diferentes, com cerca de 274 idiomas. Esses dados mostram que
no Brasil ainda existe uma população indígena expressiva e que
deve ser preservada.
Origem do Dia Internacional dos Povos Indígenas
O Dia Internacional dos Povos Indígenas foi instituído pela Organi-
zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
– UNESCO, em 23 de dezembro de 1994, através da resolução 49-
/214.
O primeiro Dia Internacional dos Povos Indígenas foi comemorado
em 9 de agosto de 1995, marcando o início da primeira década in-
ternacional dos indígenas (1995 a 2004).
Em 2007, comemorando a segunda década internacional dos indí-
genas, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas sobre os Di-
reitos dos Povos Indígenas. ´
Entre alguns dos principais pontos da Declaração sobre os Direitos
dos Povos Indígenas, destaca-se:
A inserção dos indígenas na Declaração Internacional dos Direitos
Humanos;
Direito à autodeterminação, de caráter legítimo perante todas as
entidades internacionais;
Os indígenas não podem ser removidos de seus territórios de modo
forçado;
Direito à utilização, educação e divulgação dos seus idiomas pró-
prios;
Direito de exercer suas crenças espirituais com liberdade;
Garantia e preservação da integridade física e cultural dos povos
indígenas;
O principal objetivo desta data é ajudar a reforçar ações nacionais
que sensibilizem a sociedade sobre os prejuízos que o tabaco pode
acarretar, seja socialmente, economicamente, ambientalmente e à
saúde das pessoas, principalmente.
Esta é uma preocupação grande no país, visto que ocâncer de pul-
mão é dos tipos de tumores que mais mata no Brasil. Além disso, o
tabaco também é responsável por outros males, como a infertilida-
de masculina, a impotência sexual, derrame cerebral, enfisema,
bronquite, doenças do coração, etc.
O Dia Nacional de Combate ao Fumo foi criado através da Lei Fe-
deral nº 7.488, de 11 de junho de 1986, que tem como proposta a-
lertar a população sobre os malefícios advindos do uso do fumo
(cigarros, charutos, etc).
Fonte: Calendar
Agosto de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 13
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DROGA É UMA DROGA - Não peça para regulamentar, fuja dela.
09 - Dia Internacional dos Povos Indígenas
05 - Dia Nacional da Saúde
01 - Dia Nacional do Selo
05 - Dia Nacional da Saúde
O QUE É FOLCLORE?
Existem correntes de pensamento que acham que folclore é tudo aquilo que o homem do povo faz e reproduz como tradição. Para outras, é só uma peque-na parte das tradições populares. Para uns, o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura. Para outros, folclore é a mesma coisa que cultura popular. De fato para algumas pessoas as duas palavras são sinôni-
mas.
O famoso folclorista Luís da Câmara Cascudo define folclore como “a cultura do popular tomada normativa pela tradição”. Para outros pesquisadores do assunto há importantes diferenças entre folclore e cultura popular. A maioria das pessoas acredita que os dois no-mes são a mesma coisa, sendo o folclore o nome mais conservador daquilo de que cultura popular é o mais progressista. As pessoas do povo, ou seja, os criadores do popular e o do seu folclore não utilizam a primeira palavra e não conhecem a segunda.
Antes da proposição do nome “folklore”, havia muitos especialistas estudando os costumes e tradições populares. Mais tarde, a esse estudo se deu o nome de folclore, que é a fusão de dois outros ter-mos: folk e lore. Eles têm origem anglo-saxônica e juntos significam o saber tradicional do povo. A palavra “Folklore” não foi aceita logo de saída, e quase que vira folclore. Três décadas depois desta pre-posição, foi fundada a Sociedade do Folclore, em Londres. Posteri-ormente, alguns estudiosos do assunto sugeriram que folclore, com letra minúscula, significasse modos de saber do povo, enquanto Folclore, com letra maiúscula, o saber erudito que estudava aquele saber popular. Esse grupo considerava como seu objeto de estu-dos:
- As narrativas tradicionais: como os contos populares, os mitos, lendas e estórias.
- Costumes tradicionais: preservados e transmitidos oralmente de uma geração à outra, os códigos sociais de conduta, a celebrações cerimoniais populares.
- Os sistemas populares de crenças e superstições: ligados à vida e ao trabalho.
- Os sistemas e formas de linguagem: seus dialetos, ditos e frases feitas.
Entre o final do século XIX e o começo do passado, muitas formas de definir o folclore como “equipamento mental” de um povo torna-ram-se habituais. Paul Sebillot o via como “uma espécie de enciclo-pédia das tradições crenças e costumes das classes populares ou das nações pouco avançadas”. Já o antropólogo alemão Franz Bo-as, diz que folclore é “um aspecto da etnologia que estuda a litera-tura tradicional dos povos de qualquer cultura”.
Essa compreensão do termo em questão também estabelece dois pontos: um que estende o folclore à cultura primitiva, e o outro que considera o folclore como uma disciplina diferenciada de uma ciên-cia, a Antropologia, e não como uma ciência autônoma. Já Arthur Ramos determina esse conceito como “uma divisão da Antropologi-a cultural que estuda os aspectos da cultura de qualquer povo que dizem respeito à literatura tradicional”.Aos poucos, a ideia de folclo-re como apenas a tradição popular estendeu-se a outras dimen-sões mais atuais.
O folclore vive a coletivação anônima do que se cria, conhece e re-produz, ainda que, durante algum tempo, os autores possam ser conhecidos. Isto se dá com o herói, o mito, e com o rito até com a própria vida cotidiana.
De um ponto de vista rigoroso, são propriamente folclóricas toadas, cantos, lendas, mitos, sabores, tecnologias que, durante a sua re-produção através de cada indivíduo, de geração a geração foram
incorporadas ao modo de vida e ao repertório coletivo da cultura de uma fração específica do povo.
O QUE É CULTURA POPULAR?
Cultura popular é um conceito originado da junção do termo francês civilization, que remete ao material, e do termo alemão kultur, que remete ao imaterial, ao subjetivo. Por sua vez, popular é algo do povo. Desta forma, cultura popular diz respeito ao material e ao subjetivo do povo.
Porém, até na atualidade, ela ainda não foi muito bem definida, nem mesmo pela antropologia social que dedica grande atenção ao estudo da cultura. Seu significado e aquilo sobre o qual ele diz res-peito ainda são fontes de discordância, não caracterizam um con-senso. Os pontos de vista sobre esse tema variam desde aquele em que fica claro, implícita ou explicitamente, que cultura popular não é absolutamente uma forma de saber, baseada na máxima “o povo não tem cultura” como base de idealização romântica das tra-dições. Essa primeira concepção se relaciona com o contexto das sociedades capitalistas onde o trabalho intelectual diretamente rela-cionada com as elites assume o papel de destaque e superioridade em relação ao trabalho manual que diz respeito a uma maioria, chamada povo.
É a paradoxal oposição saber x fazer que além de possuir demons-trações práticas, como a diferença de salários e desprestígio entre, por exemplo, um arquiteto e um mestre-de-obras, se estende a questões ideológicas mais profundas; o fazer popular como sendo desprovido de saber, o povo não tendo cultura. As teorias a respei-to de cultura popular têm a tendência de suprimir toda sua hetero-geneidade, colocando-as num mesmo bloco de “coisas” considera-das simplórias, rudimentares, deselegantes e anacrônicas.
Um outro ponto de vista muito comum entre pesquisadores, sobre-tudo folcloristas, é a questão da cultura popular constituindo apenas o lugar social onde as tradições são preservadas. Afirmar cultura popular como sinônimo de tradições é encará-lo como uma outra cultura, cujo apogeu se deu no passado, e hoje em dia tentamos reproduzir. Nesse processo, no entanto, acabamos por agregar no-vos significados e conotações a essa cultura tirando-lhe a originali-dade e desenvolvendo apenas a visão dela temos.
Faz-se necessário diante dessas insustentações nos questionar-mos sobre o sentido mais profundo dessa expressão e se sua apli-cação se tornará convincente. Em sociedades complexas e diferen-ciadas alguns valores e concepções do interesse das classes, são oficiais e até por mecanismos sociais bastante sólidos, como por exemplo, a família, como se fossem se tornar o modo de agir e de pensar de todos. É uma tentativa de homogeneizar aquilo que é di-ferenciado, uma ilusão de unidade. No entanto essa sociedade de classes possui por si só uma heterogeneidade que já faz resistir a esse processo.
É possível a demonstração da existência de interpretações diferen-tes daqueles que tentam se impor. Seria como se a sociedade transformasse essa unidade ilusória e recuperasse o múltiplo, o di-verso. As peculiaridades das culturas populares podem ser inseri-das nesse contexto como um conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural, expressas por um grupo ou por indiví-duos que respondem reconhecidamente às expectativas da comu-nidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social. In-cluem-se nesse processo as normas e os valores, como a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos e brincadeiras, os ritos, os costumes, o artesanato a arquitetura e outras artes.
A Cultura popular e a Cultura de Massa
Atualmente, a cultura de massa é utilizada de forma generalizada, englobando toda e qualquer manifestação de atividades ditas popu-lares. Acaba que tudo pode ser inserido no cômodo e amplo con-ceito de cultura de massa. Porém, quando é questionada a real a-brangência do termo em questão, os que o usam indiscriminada-mente se vêem em situação difícil.
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A DROGA superlota nossas cadeias.E só existe um o culpado, o consumidor!
22 - Dia do Folclore
CONTINUAÇÃO
Pensar o povo como massa é subestimar o primeiro, uma vez que massa é uma soma de indivíduos, é inerte e instável. Ela é sempre passiva, sendo manipulada por influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos passageiros. Já o povo é movido por princí-pios individuais.
Temendo ser diferente do conjunto, os indivíduos que compõem a massa jamais discordam da maioria. Se alguém perguntar a uma pessoa se ela já viu determinado programa da moda, provavelmen-te ela irá assisti-lo, mesmo que não seja do seu gosto, para sentir-se parte do todo, será “como todo mundo”. Assim sendo, a inserção nesse aglomerado de indivíduos impõe um padrão, todos se ves-tem da mesma forma, gostam da mesma coisa, agradando sempre ao outro. Então, há uma renuncia da individualidade.
Desta forma, cultura popular jamais pode ser confundida com cultu-ra de massa, tendo em vista que essa, na verdade não existe. Isto se dá pelo fato de que a massa, por ser apática, jamais opina, não é consciente. E a cultura, para realmente existir, precisa da inter-venção individual.
A cultura popular é algo totalmente diverso. Ela tem movimento pró-prio, movendo-se de acordo com os seus princípios. Cabe ao povo formar a sua cultura peculiar, responsável por o diferenciar dos de-mais.
Já a falsa cultura de massa é simplesmente a manipulação dada pelos meios de comunicação. Não é por outro motivo que Britney Spears e o Mc Donald´s são apreciados e consumidos por pessoas de diversos países. Também não é por outra razão que a cultura popular e o folclore de cada povo vem sendo engolidos pelo desejo da maioria, pela massificação mundial. Sem se preocuparem com as diversidades culturais, todos recebem a mesma falsa e estereoti-pada “cultura”.
Diferenças entre Cultura Popular e Folclore
As diferenças visíveis entre folclore e cultura popular não são no âmbito linguístico ou conceitual, mas sim social. O primeiro é visto como algo maior, um elo entre as pessoas de uma mesma nação, uma interseção entre ricos e pobres. Porém ele é duplo, ao mesmo tempo em que ele é nacional é também particular de cada região. Por isso, às vezes, pessoas do Rio de Janeiro não conhecem uma música folclórica de Minas Gerais, apesar de serem estados vizi-nhos. Isto se dá uma vez que na há apenas um folclore brasileiro, mas sim uma soma de conjuntos folclóricos regionais. Os america-nos se reconhecem como tais e não como tailandeses (e vice-versa) através desta soma. Contudo nova-iorquinos e texanos, ape-sar de ambos serem do mesmo país, também se diferenciam entre si devido ao folclore de cada estado/cidade. Desta forma ele é co-mum às pessoas de um determinado local, embora também faça parte de um conjunto maior, o patrimônio nacional.
Em contrapartida, a cultura popular é encarada com preconceito, como sendo apenas pertencente ao plebeu. Todavia, ela é mais abrangente do que o folclore, uma vez que é compartilhada por pessoas de todo país, e em alguns casos até em todo mundo. O material cultural do povo típico de um país é internacionalizado com o seu uso, tornando-se patrimônio mundial. Desta forma, ele não afirma uma identidade nacional. Não é porque um italiano usa catu-aba para impotência que ele vai se tornar um índio brasileiro. Mas italiano sabe que essa receita é característica do Brasil.
Esta diferença entre os dois conceitos em questão fica muito claro quando se pensa em governos populistas. Para controlarem um pa-ís, estas figuras autoritárias usam a cultura popular e não o folclore, já que não é conhecido por todos.
Uma outra diferença é a propriedade intelectual. O folclore possuí elementos com autores conhecidos e reconhecidos, porém a maio-ria destes são incorporados pelas pessoas sem haver qualquer pre-ocupação de se saber de quem é a autoria. A cultura popular, por sua vez, quando pensamos no termo popular por atingir a todos a-
través de produtos de massa, fica-se muito bem definido de quem é determinado produto. Todo mundo sabe quem é Tom Jobim, mas são poucos os que sabem quem compôs a letra de “Cai, cai balão”.
A ampliação do domínio do folclore e da cultura popular se dá de formas distintas. Aquela história de “quem conta um conto aumenta um ponto” é análoga e pertinente ao caso do primeiro. Uma festa que nasceu no interior de Minas fica diferente a cada nova cidade e estado onde ela passa também a ser festejada. Há uma adaptação de acordo com cada região. É tanto que para fazer um simples bolo de fubá há várias receitas diferentes.
Já a cultura popular não. Dá azar passar por debaixo da escada e ponto final, as únicas duas opções são acreditar nisso ou não. Não há pessoas no Sul do Brasil que acreditem que só dá azar se a es-cada for verde ou no Norte que é sinal de má sorte apenas se pas-sar rolando por debaixo dela.
Uma última questão a ser levantada é que ambos os termos em es-tudo são produtos da História, porém a influência dela em cada um é diferente. O folclore, assim como na ampliação de seu domínio, sofre mudanças estruturais de acordo com o contexto histórico. A Folia de Santos Reis foi alterada devido ao processo de urbaniza-ção que acarretou no êxodo rural. Desta forma, como a festa era inicialmente uma peculariedade de cidades interioranas, ela foi jun-tamente com os trabalhadores para as grandes cidades. Como os centros urbanos são diferentes das condições rurais, muitas altera-ções foram introduzidas neste rito.
Por sua vez, a cultura popular é encaixada a um contexto histórico, uma vez que há um certo tipo de produção em cada época, sendo assim, datável. O que foi produzido nos anos 60, 70, em meio a Di-tadura Militar, só é o que foi devido ao momento. Não há nada an-tecessor o sucessor que se pareça com a Tropicália. Desta forma não há transformação da cultura popular, mas um surgimento de novos elementos a serem somados.
Tendo em vista tudo o que foi discutido anteriormente, não há como se pensar em folclore e cultura popular como sinônimos. Embora não tenham o mesmo significado, no fim, estes representam uma única coisa: a criatividade humana.
Semelhanças entre folclore e cultura popular
A semelhança entre folclore e cultura popular é tamanha que mui-tos acreditam que é melhor chamar o folclore de cultura popular. Tanto que no meio dos festejos somente um ato de cirurgia teórica poderia separar de um todo significativo para os seus praticantes e consumidores populares o que é erudito, popular ou folclórico, a festa é o conjunto de tudo.
Porém, como já vimos anteriormente há algumas diferenças notá-veis, mas as congruências realmente são muitas já que ambos pro-curam ler a memória de um povo nos pequenos sinais da vida coti-diana, como costumes, objetos símbolos populares, enfim, os ritos ocultos presentes no cotidiano que ninguém sabe ao certo da auto-ria, mas que são repetidos de pessoa para pessoa, transmitidos de geração em geração, de forma codificada, mas não escrita, oral-mente, por imitação direta e sem a organização de situações for-mais e eruditas de ensino e aprendizagem.Ambos fluem através das relações interpessoais.
Outro importante ponto em comum é a valorização da tradição, tan-to que esta palavra é mencionada incontáveis vezes nas definições tanto de um quanto de outro. Luis de Câmara Cascudo mistura as duas noções e define o folclore como a cultura popular tornada nor-mativa através da tradição, tradição esta que é estendida por al-guns teóricos até a cultura primitiva.Pode se afirmar que a cultura popular também é formada por resíduos da cultura culta de épocas, às vezes até de lugares, como é o caso de países que sofreram a influência da imigração, filtrada através do tempo pela estratificação social.
CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE
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Educar para o desenvolvimento e para o Bem Estar Social
Gazeta Valeparaibana - AGOSTO 2018
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CONTINUAÇÃO
Contudo cultura popular e folclore não devem ficar somente na va-lorização do passado, a cultura popular mesmo composta por es-ses elementos residuais e fragmentários resiste a um processo de deterioração contrastando assim ao saber culto dominante, sendo assim um tipo de ação sobre a realidade social já que eventos cul-turais articulam-se no espaço das relações entre grupos e segmen-tos sociais, são produtos significantes da atividade social de ho-mens determinados, cujas condições históricas de produção, repro-dução e transformação devem ser desvendadas.
Já é justamente na tradicionalidade que o folclore oferece forte re-sistência política às inovações impostas pelo colonizador ou pelas classes dominantes sendo ele dessa forma politicamente ativo ape-sar de considerado antiquado e conservador para as classes erudi-tas, mas é vivo e atual para as casses produtoras de sua própria cultura. As grandes festas religiosas reproduzem simbolicamente a desigualdade social da vida cotidiana, assim, consagram e legiti-mam com os símbolos coletivos do sagrado a diferença desigual, os rituais que misturam sujeitos e grupos de diferentes classes so-ciais acabam sendo situações de simbolização da própria ordem desigual, expressam relações solidárias e traduzem formas popula-res de resistência a um domínio político simbólico de outras clas-ses, é o poder dos fracos.
O fato folclórico deve ser compreendido dentro do espaço de cultu-ra de que é parte, na vivencia pessoal, no interior das matrizes so-ciais da vida coletiva assim como eventos culturais devem ser defi-nidos a partir de critérios internos as situações observadas. É pos-sível descrever fatos isolados do folclore sem enxergar o homem social que cria o folclore que se descreve, mas é muito difícil com-preende o sentido humano do folclore sem explicá-lo através do homem que o produz e de sua condição de vida, pois por si só o folclore não existe, ele é parte popular em um mundo onde povo é sujeito subalterno.
Cultura é um processo dinâmico, pois ocorrem transformações po-sitivas, muitas vezes de forma não intencionada e não se consegue evitar a mudança de significados que ocorre no momento em que se altera o contexto em que os eventos culturais são produzidos. O mesmo acontece com o folclore já que para muitos teóricos o que vemos como folclórico não existe em estado puro e sim é uma situ-ação de cultura, um instante fugaz na vida de sociedades através da cultura.Fatos folclóricos são falas, linguagem, não são objetos que são congelados nos museus e sentem-se condenados a morte, são coisas vivas, modos de sentir, pensar, viver e festejar, por este motivo sofrem influências e por sua vez também influenciam, po-dendo até tornarem se erudito. Para serem compreendidos devem ser procurados através de sua vida na cultura e sua articulação com outras formas vivas dessas culturas, que são o produto coleti-vo de pessoas que criam, dançam e cantam.
Mais do que tudo, tanto o folclore quanto a cultura popular procu-ram expressar e reafirmar a identidade da nação. Quer seja como um todo, quer seja identificada por regionalismos ambos colaboram para a manutenção da unidade do país, do sentimento de identida-de que poderia ter sido destruído. Eles imaginam uma sociedade onde, destruídas as diferenças entre os homens, a oposição entre a cultura erudita e a cultura popular dê lugar a uma cultura humana, alguma coisa que como modo de sentir, pensar e agir de todos, ex-presse finalmente a descoberta de um mundo solidário. Como sita Antonio Augusto Arantes: “Fazer arte é construir com cacos e frag-mentos de um espelho onde transparece o que há de mais abstrato num grupo humano: sua organização”.
Alguns exemplos de cultura popular e folclore
A cultura popular e o folclore são questões que já foram discutidas, mas para melhor exemplifica-las é preciso voltar às suas defini-ções. Além de serem interdependentes, elas são dotadas de conti-nuidade, ou seja, o que surge como cultura popular do seio de um segmento da sociedade, pode ser transformado em folclore através da tradição, migrar para outro segmento social, receber deste no-vas características e se transformar novamente em um manifesta-ção de cultura popular. Para exemplificar estes termos e principal-mente essa transição, iremos citar alguns grupos de expressão po-pular de cultura existentes no Brasil.
1 - Folguedos:
Manifestações folclóricas que reúne as seguintes características: Letra: quadras, sextilhas ou outros tipos de versos; Música: melodia e ritmo sustentados por instrumentos musicais; Coreografia: movimentação dos participantes; Temática: enredo da representação teatral.
2 - Bumba-meu-boi:
No Brasil, este folguedo teve origem no ciclo econômico do gado, sendo produto da tríplice miscigenação, com influências do escravo (negro), do índio e do português (branco). O enredo deste folguedo apresenta uma série de variantes. Uma delas é narrada como fato acontecido: Caterina ou Catirina, mulher do escravo Pai Francisco, solicita que lhe tragam uma língua de boi, para satisfazer seu dese-jo de grávida. Pai Francisco, para atender os anseios de sua mu-lher, rouba um boi de seu patrão, e assim que inicia a matança, é descoberto. Sendo aquele o boi predileto do patrão, toda a fazenda se mobiliza para ressuscitar o animal.
3 - Guerreiro:
Auto popular do estado de Alagoas. Tem como personagens: Rei, Rainha dos Guerreiros, Rainha da Nação . Mestre e Contra-mestre, Primeiro e Segundo Embaixadores, o Índio Peri, a Lira, General, Sereia, dois palhaços, dois Mateus, damas, guerreiros: no total de 45 participantes. Consistia em dois grupos de guerreiros, que se exibiam sucessivamente com chapéus imitando catedrais, coroas, tiaras, mitras, enfeitados com espelhos, alfajôres, miçangas, fitas prateadas, num conjunto policolor e sugestivo. A coreografia era pobre, e os instrumentos consistiam em apenas sanfonas (uma pa-ra cada grupo) e pandeiros. Uma sequencia de cantigas dançadas, denominadas peças, intercaladas por marchas (danças não canta-das) e representações (entremeios e partes) constitui o auto, que se inicia e termina com cantigas e danças características dos gru-pos de Reisado.
4 - Folguedos Carnavalescos:
Samba de Matuto: a letra das melodias faz referência a santos ca-tólicos, a espíritos das religiões afro-brasileiras e a cenas do cotidi-ano, com nítida identificação com os terreiros de xangô. No início de cada apresentação o Mestre acende “três pontos” (velas) aos orixás, para o bom andamento do folguedo. É bastante frequente no período carnavalesco, em cidades litorâneas de Alagoas, ou no bairro do Poço, em Maceió.
5 - Folguedos de festas religiosas:
Mané do Rosário: apresenta-se por ocasião da festa de São José, em 19 de março, em Poxim, Alagoas. Surgiu em 1762, durante a construção da Igreja de São José, padroeiro de Poxim; naquele a-no apareceu, pela primeira vez, uma dupla de mascarados que brincavam na porta da igreja. Daí em diante, eles apareceram até 1766, quando sumiram.
Thienne Mayrink
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