I
OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL
Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF
Relatório de Estágio apresentado com vista à
obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização
em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº
74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei
nº 65/2018 de 16 de agosto.
Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva
Diogo André Gomes da Costa
Porto, 2019
II
III
OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL
Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF
Relatório de Estágio Profissionalizante realizado na equipa
profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo
Autónomo de Futebol, na época desportiva 2017/2018
Relatório de Estágio apresentado com vista à
obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização
em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº
74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei
nº 65/2018 de 16 de agosto.
Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva
Diogo André Gomes da Costa
Porto, 2019
II
Ficha de Catalogação
Costa, D.G. (2019). A importância da observação e análise de adversário
em contexto profissional. Função e missão do analista – Estágio
Profissionalizante realizado na primeira equipa da Associação Académica de
Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol. Porto: Costa, D.G. Relatório de
estágio profissionalizante para obtenção de grau de Mestre em Treino
Desportivo com especialização em Alto Rendimento Desportivo, apresentado à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE,
ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS
III
Agradecimentos
Agradeço a todos os que me envolvem e que me acompanham ao longo
da minha vida pessoal e profissional.
Agradeço com muita consideração:
Ao Prof. Doutor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva, que me acompanhou
e orientou ao longo da realização deste trabalho. Uma palavra de agradecimento
pela sua disponibilidade, mas fundamentalmente pela paciência, mostrando-se
tolerante e compreensivo pelo facto da minha atividade profissional me consumir
muito tempo e nem sempre ser fácil organizar o meu trabalho. Agradecer-lhe
ainda a oportunidade de trabalhar com alguém com tamanha sabedoria.
À Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde tive
oportunidade de realizar o 2º Ciclo de Estudos correspondente ao grau de Mestre
em Treino de Alto Rendimento Desportivo, possibilitando-me continuar o meu
percurso académico e alcançar este objetivo.
Aos meus pais e irmão por todo o apoio, suporte, confiança e palavras de
força e incentivo, não me deixando desistir.
Ao meu colega e Amigo Cláudio Costa com quem partilhei muitas viagens
(Coimbra-Porto, Porto-Coimbra) para podermos presenciar as aulas. Sem a sua
colaboração teria sido tudo mais dificil.
A toda a direção, estrutura, funcionários, equipas técnicas e jogadores da
Associação Académica de Coimbra/OAF por se dedicarem a esta causa e por
ajudarem a elevar o nome da instituição e da cidade de Coimbra, onde nasci,
cresi e que aprendi a amar.
Aos Professores do mestrado que deixaram um pouco de si,
Aos diretores e dirigentes com quem trabalhei ao longo destes anos e que
acreditaram nas minhas capacidades, possibilitando-me ainda todas as
condições para cumprir com as minhas funções.
Aos atletas pelos desafios que me colocaram e que me fizeram evoluir.
Muito obrigado a todos.
IV
V
Índice
Agradecimentos ...................................................................................... III
Resumo ................................................................................................ XIII
Abstract ................................................................................................. XV
Lista de Abreviaturas ........................................................................... XVI
1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 1
1.1. Apresentação ........................................................................... 1
1.2. Contextualização da Prática..................................................... 3
2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ............... 10
2.1. Contexto legal ........................................................................ 10
2.2. Contexto institucional – história, valores e missão ................. 10
2.3. Recursos Espaciais ................................................................ 15
2.4. Recursos Humanos ................................................................ 15
2.5. Caraterização do plantel ........................................................ 16
2.6. Objetivos desportivos ............................................................. 22
2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino ................................... 22
2.8. Contexto de natureza funcional .............................................. 27
2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais ....... 29
3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL ............. 31
3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa .......... 31
3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol .............................. 34
3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo ........................... 43
3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis
para a caraterização do jogo e das equipas ................................................. 52
3.5. Conceptualização ................................................................... 55
Scouting .............................................................................. 55
VI
Scouter e Analista ............................................................... 56
Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores.......... 59
Observação e Análise da equipa adversária e da própria
equipa 60
Estratégia e Tática .............................................................. 64
Modelo de jogo ................................................................... 68
Equipa, Sistema de Jogo .................................................... 71
Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo
72
Racionalização do espaço de jogo...................................... 77
Métodos de Jogo............................................................... 79
Métodos de Jogo Ofensivo ............................................... 80
Métodos de Jogo Defensivo .............................................. 82
Processo de treino - meio para atingir o jogo idealizado ... 84
4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA ........................................ 88
5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ................................. 128
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... 141
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 146
ANEXOS .............................................................................................. 151
VII
Índice de figuras
Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita,
2011). ............................................................................................................... 12
Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação
Académica de Coimbra. ................................................................................... 14
Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra. ............ 15
Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015). ...... 35
Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da
história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até
Alemanha 2006 (Castellano, 2009). ................................................................. 37
Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos
mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005). ....................................... 38
Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar
o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994
(Hughes & Franks, 2005). ................................................................................ 39
Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola
parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015). ............ 41
Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013). ................. 46
Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura
(2013), adaptado por Pereira (2017). ............................................................... 56
Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura,
2013). ............................................................................................................... 90
Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre
SC Braga B e Gil Vicente FC. .......................................................................... 93
Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B. ................... 93
Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s)
adversários a observar. .................................................................................... 96
Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC Portugal B. ................ 100
Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da
forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos
fracos. ............................................................................................................ 100
Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101
VIII
Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101
Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 102
Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição
defensiva. ....................................................................................................... 102
Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição
defensiva. ....................................................................................................... 103
Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição
defensiva. ....................................................................................................... 103
Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC
Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área. .................. 104
Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua
baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco,
com mais dois médios à frente. ...................................................................... 104
Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam
agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona
pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e
poderem ocorrer espaços em profundidade. .................................................. 105
Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem a bola,
optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário. ............... 105
Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e
procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento
atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à entrada da área. ......... 106
Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre
como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de
seguida havia vários jogadores a procurarem apoiar e outros a procurarem
desmarcar-se em rutura. ................................................................................ 106
Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber
quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos
que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna). Porém há um jogador
próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa
perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois
jogadores à entrada da área que podem oferecer outra solução. .................. 107
IX
Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que
se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do
canto tem um braço levantado. ...................................................................... 107
Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à
bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou
“fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava cinco jogadores na área e
dois jogadores à entrada da área. .................................................................. 107
Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a
equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste
e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa segunda zona temos dois
jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas
de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda
um jogador preparado para a transição ofensiva. .......................................... 108
Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD
Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E
uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois tinham dois jogadores a
realizar marcação homem a homem. ............................................................. 108
Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada
na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um
jogador à frente deles. E um jogador marcando individualmente. Colocaram
apenas um jogador na barreira. ..................................................................... 109
Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas
estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes
e pontos fracos. .............................................................................................. 115
Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos
relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116
Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos
relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116
Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos
relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116
Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos
relatórios acerca das equipas SL Benfica B. .................................................. 117
X
Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos
relatórios acerca das equipas do SL Benfica B. ............................................. 117
Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual.
Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã. ................................................ 117
Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade
de Coimbra e jogo fora. .................................................................................. 125
Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras. .................................... 126
XI
Índice de quadros
Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias
(adaptado de Vales, 2015). .............................................................................. 36
Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos
anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015). ...................................... 37
Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo
de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença
máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015). .............................................. 40
Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado
de Vales, 2015). ............................................................................................... 49
Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T -
tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015). ......... 81
Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos
de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009). .................................................. 83
XII
XIII
Resumo
O presente relatório resultou do estágio profissionalizante realizado na
equipa profissional da Associação Académica de Coimbra / OAF.
Este relatório pretende mostrar a importância do trabalho realizado por um
departamento de observação e análise de jogo, pertencente a uma equipa
profissional, durante a época desportiva 2017/2018.
Ao longo deste estudo é abordada a temática da observação e análise de
jogo, com maior enfoque na análise da equipa adversária.
Aqui estão relatadas as dinâmicas e rotinas de trabalho e também quais
as informações acerca da equipa adversária valorizadas pelos treinadores,
aquando da preparação dos seus planos de treino e de jogo.
O estágio foi realizado num contexto marcado por alguma instabilidade,
visto que na mesma temporada houve duas mudanças na equipa técnica, ou
seja, uma temporada em que houve três treinadores principais diferentes e por
este motivo, temos a oportunidade de relatar três formas de organização distintas
e de relatar a experiência vivenciada na dinâmica de trabalho com cada um
deles.
Tentamos ainda ajudar a melhorar a compreensão de alguns conceitos e
ideias, tais como esclarecer o conceito de scouting e eliminar algumas confusões
entre as funções do scouter e analista. Procuramos ainda apresentar as
diferentes áreas abrangidas pelo scouting, nos quais se incorpora a observação
e análise de adversários.
Queremos acreditar que este trabalho possa ser uma contribuição para
os profissionais do treino desportivo, mas também para os profissionais que se
dedicam à interpretação do jogo.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE,
ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS
XIV
XV
Abstract
This report resulted from the professional stage conducted by the
Associação Académica de Coimbra / OAF professional team, which competed in
Ledman Liga Pro (Second Portuguese League).
This work aims to show the importance of the tasks developed out by a
match analysis department during the 2017/2018 season.
Throughout this study is described the subject of observation and game
analysis, focusing more on the opponents performance analysis.
Dynamics and work routines are presented, as well as information about
the opponent team that coaches value when preparing their training sessions and
game plan.
The professional stage was realized in instability environment marked by
two changes in the coaching staff, so there were three different head coaches in
the same season and for this reason, we had the opportunity to explain three
different ways to organize and show the experience of working with each one of
them.
We also tried to improve understanding of some concepts and ideas, such
as clarifying the concept of scouting and clear up some confusion between scout
and analyst mission. We also seek to present the different areas covered by
scouting, which includes the observation and opponents analysis.
This work can be a contribution for sports training professionals, and we
believe that this will help professionals who are dedicated to the game
understanding.
KEYWORDS: FOOTBALL, MATCH ANALYSIS, GAME ANALYSIS,
OPPONENT, PERFORMANCE ANALYST, SCOUTING, VIDEO ANALYSIS
XVI
Lista de Abreviaturas
AAC/OAF – Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo
de Futebol
AJ – Análise de jogo
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação
“Eu não tenho talentos especiais. Eu só sou apaixonadamente curioso.”
(Einstein)
Antes de avançar com aquilo a que me proponho, começo por me
apresentar. Chamo-me Diogo André Gomes da Costa, nascido em 1987, natural
e residente em Coimbra. Fui praticante de futebol e o futebol contribuiu imenso
para a minha formação humana e desportiva. Depois de ter praticado durante
alguns anos (iniciados, juvenis e juniores), tive apenas uma experiência
enquanto sénior. O desinteresse devido aos métodos aplicados e orientação
técnica naquela época (2008/2009), a incompatibilidade de horários, a pouca
prontidão (com várias lesões consecutivas) e o início do meu percurso
académico, fizeram com que abandonasse a prática desportiva e me iniciasse
enquanto formador.
Entrei na licenciatura em ciências do desporto (Faculdade de Ciências do
Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra – FCDEF, UC) no ano
letivo de 2007/2008. Conclui a licenciatura e seguidamente realizei o mestrado
em ensino da educação física, também na FCDEF-UC. Depois de um ano de
reflexão realizei o 1º e 2º semestre do mestrado em treino desportivo para
crianças e jovens, também na FCDEF-UC. Ao longo do percurso académico foi
crescendo o desejo e a vontade de aprender e de estar no futebol. No início do
meu percurso, procurei o conhecimento e quis aprender muito acerca de áreas
como a pedagogia, psicologia e de treino. Tinha como objetivo aprender para
poder ensinar. Quais os conteúdos, o que ensinar, como ensinar e quando
ensinar, era isso que pretendia conhecer.
A entrada na faculdade despoletou o interesse na área do treino e cresceu
em mim o desejo de aprender. A curiosidade fez com que observasse bastante
a postura e tudo o que está relacionado com a figura do treinador. E em
2009/2010, no âmbito da unidade curricular de Desporto Opção Futebol,
comecei a estar inserido num clube e no treino. Portanto, posso afirmar que a
verdadeira ignição e paixão pelo treino iniciou-se nessa altura e desde então
2
tenho somado algumas experiências, que me ajudaram a tornar-me numa
pessoa mais íntegra e respeitadora mas também num profissional dedicado e
com brio no cumprimento da sua função.
Desde 2009/2010 (ano em que iniciei funções de formador e treinador),
tenho passado por várias experiências, em todos os escalões (seniores –
2015/2016; sub19 2014/2015; sub17 2009/2010, 2016/2017; sub14 2013/2014)
embora, tenha dedicado mais tempo ao futebol de iniciação, desde sub6 aos
sub13, durante sete épocas desportivas. Tive oportunidade de trabalhar em
vários clubes ou instituições: Associação Académica de Coimbra / OAF
(2009/2010, 2014/2015, 2017/2018 e 2018/2019), Associação Desportiva e
Cultural da Adémia (2009/2010), Escola Academia Sporting – Coimbra
(2010/2011, 2011/2012, 2012/2013, 2013/2014), Clube Desportivo Pedrulhense
(2013/2014), Associação Recreativa e Cultural de Oleiros (2015/2016) e Clube
Condeixa (2016/2017).
Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me
permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a
creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ, optei
por me candidatar ao mestrado em treino de alto rendimento desportivo da
Universidade do Porto. Iniciei o mestrado no ano letivo 2016/2017, mas não
consegui conclui-lo no ano letivo 2017/2018. Chegados ao ano letivo 2018/2019,
o mestrado sofreu algumas alterações no seu plano de estudos e atualmente
denomina-se, Mestrado em Treino Desportivo. No âmbito deste Mestrado e
deste novo desafio, realizei um estágio na Associação Académica de Coimbra-
OAF, onde desempenhei funções de Analista da equipa profissional, tendo como
missão observar e analisar as equipas adversárias. Para além da função de
Analista, sou também Coordenador Técnico para os escalões de sub6 – sub13.
Sou portanto um funcionário do clube e irei realizar o meu estágio
curricular no âmbito da função de Analista de jogo, para a qual fui convidado pela
direção e estrutura da Associação Académica de Coimbra / OAF.
Esta época 2017/2018 foi certamente mais uma ótima experiência, uma
excelente aprendizagem e um grande desafio onde me coloquei à prova, saindo
da minha zona de conforto.
3
Quem quer se seja, que analise o meu percurso poderá ficar com algumas
dúvidas relativamente às minhas pretensões, objetivos e até mesmo aspirações.
Iniciar a carreira de treinador é tudo menos fácil. Como todos sabemos, ser
treinador nos escalões de formação, em Portugal, é reconhecido por todos, como
um agente social importante na vida de muitas crianças e jovens, mas ainda não
é entendida como uma profissão. Isto leva-nos, jovens treinadores, a procurar o
equilíbrio entre aquilo que nos motiva e aquilo que nos faz sobreviver, mantendo
a nossa independência financeira.
Apesar de por vários anos, ter procurado a minha independência
financeira em outras áreas, tais como, o ensino da educação física e também no
fitness, o futebol e o treino sempre foram a minha paixão. E por isso, vou
tentando conciliar as minhas motivações com a minha independência financeira,
todavia, tento não me desviar daquilo que pretendo para o meu futuro.
Apesar de ter trabalhado vários anos com crianças e jovens, onde aprendi
imenso acerca de treino e da sua contextualização, acerca da interação do
treinador com os atletas e do valor da sua comunicação e feedback, tenho como
objetivo ser um dia treinador de alto rendimento.
Neste momento sinto que ainda não desenvolvi um perfil nem a ambição
que me fazem querer ser treinador principal, ou “head coach”. Identifico-me
completamente com a ideia de equipa técnica, equipa de trabalho, onde existe
complementaridade entre as diferentes funções e ambiciono desempenhar
funções de treinador adjunto, ou “assistant coach”.
Gosto imenso do treino, do seu planeamento, periodização e
operacionalização, bem como, da área da análise de jogo e observação. Sinto-
me realizado nesse papel e é nesse papel, que desejo atingir a excelência.
1.2. Contextualização da Prática
O presente relatório foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Treino
Desportivo da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), com
vista à aprovação na unidade curricular de “Estágio – opção futebol”.
Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me
permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a
4
creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ
(Instituto Português do Desporto e da Juventude), que concede reconhecimento
às entidades universitárias e por isso confere equivalência ao grau de treinador
pela via académica, optei por me candidatar ao mestrado em treino desportivo
da Universidade do Porto.
Já são muitos os casos de treinadores de sucesso que buscaram
conhecimento e competências no ensino universitário. A aproximação entre
entidades desportivas (Federação, Associações, Clubes) e as universidades
(pela via académica) tem sido um excelente contributo para o levantar de
problemas e para constantes reflexões dos treinadores no contexto prático da
modalidade.
E esta ideia fez-me acreditar que a entrada no mestrado e
consequentemente o estágio profissionalizante numa equipa de futebol, com
uma orientação académica de reconhecida qualidade como a FADEUP, podia
ser um ótimo veículo para o meu crescimento pessoal e profissional.
1.2.1. Objetivos do estágio
Antes de começar o estágio profissionalizante, realizado no âmbito da
unidade curricular de “Estágio” na opção de Futebol, pensei num conjunto de
objetivos, tais como:
Estudar, ler e conhecer mais acerca da literatura sobre observação e
análise de jogo, suportando e enriquecendo a minha visão e
conhecimento acerca da temática onde desenvolvi a minha atividade
profissional.
Realização e aprovação do relatório de estágio, com vista à obtenção do
grau de mestre em Treino Desportivo
Melhorar, com a prática e com a devida orientação dos elementos da
equipa técnica e do gabinete de análise, o meu entendimento e
compreensão do jogo
Ser reconhecido como um profissional dedicado e que trabalha de forma
correta, contribuindo para o sucesso da equipa que representa.
5
1.2.2. Expetativas iniciais vs Realidade
Na antevisão daquilo que seria esta experiência, tinha noção que ia
percorrer uma estrada, um caminho novo. E como qualquer pessoa que percorre
um novo trilho, sabia que devia caminhar de forma prudente, um passo de cada
vez e mesmo assim devia levar comigo os pensos, compressas e desinfetantes
necessários para tratar das feridas abertas pelo caminho.
Inicialmente trazia comigo o brilho no olhar de quem está prestes a iniciar
uma nova e importante experiência, mas também o medo e o receio de quem
está claramente fora da sua zona de conforto. Estava muito motivado e
pretendia: perceber a organização, estrutura e contexto de um clube profissional;
perceber qual ou quais as rotinas de organização da equipa técnica; conhecer
as ideias de jogo e o modelo de jogo implementado, bem como a metodologia
utilizada; entender a organização e funcionamento de um Departamento de
Observação e AJ.
Iniciei com a vontade de mostrar trabalho, com o intuito de demonstrar o
quanto posso ser muito útil, fornecendo informações extremamente importantes
para a definição de um plano, de uma estratégia por parte dos treinadores, que
ajudasse a Académica a alcançar os seus objetivos.
Passadas 11 semanas de trabalho árduo, após 74 sessões de treino, nos
quais 6 jogos de preparação e após 7 jogos oficiais (Primeira Fase da Taça CTT
e 6 jornadas Liga Ledman), momento em que fiz a minha primeira grande
reflexão, senti que não tinha perdido o brilho no olhar, muito pelo contrário. Senti-
me totalmente integrado, com uma boa dinâmica de trabalho juntamente com a
equipa técnica. Senti que o meu trabalho era útil, sentia-me valorizado pela
equipa técnica, mas não pela estrutura. Para a estrutura, o analista é o “rapaz
dos cortes” e o rapaz que filma o treino e o jogo. Não lhe é reconhecida uma
importância fulcral naquilo que é o entendimento do jogo e uma peça
fundamental que dota o corpo técnico da melhor e mais sintética informação, que
podem fazer a diferença entre o ter mais ou menos uma vitória, mais ou menos
3 pontos.
Mas o maior choque nesta experiência foi mesmo na integração no
gabinete de observação e AJ. Tinha como expetativa, vir a integrar uma equipa
6
de trabalho e por ser uma primeira experiência neste campo de observação e
análise também eu precisava de ajuda, na orientação, planeamento,
organização e até mesmo na compreensão e entendimento do jogo. A realidade
foi bem diferente. O gabinete de scouting era constituído por 2 pessoas, ficando
o trabalho de prospeção entregue a um colega e ficando o trabalho de análise
da equipa adversário à minha responsabilidade. Considerando que necessitava
de ajuda e orientação, contava com uma pequena ajuda do treinador adjunto que
me atribuía tarefas e definia os prazos para conclusão das mesmas e também
do responsável pela prospeção relativamente à caraterização dos jogadores da
equipa adversária.
Esta foi uma verdadeira dificuldade, pois a partir daquele momento o
trabalho que devia ser para duas, três ou mais pessoas ficou concentrado em
mim. Mas continuei firme nos meus objetivos, desejando ganhar a confiança dos
treinadores e mostrar que podiam sempre contar comigo. Estava disposto a fazer
o possível e o impossível para conseguir cumprir com tudo o que me era
proposto.
Dentro das tarefas que me foram propostas (descritas em cima), procurei
focar-me no possível e esquecer muitas vezes o ideal: a) fiz um pedido à direção
da AAC/OAF para que encontrassem outra pessoa para filmar as sessões de
treino, pois eram cerca de 3 horas de treino (por vezes dois treinos por dia), em
que podia estar a adiantar outras tarefas; b) observei e analisei as equipas
adversárias (através de vídeo e “in loco”). Realizava os cortes de vídeo,
categorizava o jogo, pelos vários momentos de jogo e enviava a informação para
o treinador adjunto; c) enviava um relatório onde descrevia (com texto e imagens)
os princípios, ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários
momentos do jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório
era enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos, treinador
de guarda-redes); d) filmava os jogos em casa e fora e acompanhava a equipa
profissional em todos os jogos, sempre que os jogos eram em horários diferentes
das partidas (dos próximos adversários), que me pediam para observar.
Para além das tarefas propostas passaram a pedir-me mais algumas
tarefas, que passei a realizar: e) realizava um relatório esquematizado e
7
pormenorizado das bolas paradas das equipas adversárias; f) realizava vídeos
acerca de algumas individualidades das equipas adversárias, relatando alguns
movimentos padrão.
O volume de trabalho e as tarefas variaram ao longo da época, devido às
alterações verificadas no corpo técnico. Isto fez com que desenvolvesse a minha
capacidade de adaptação e ajustamento.
Enquanto profissional da AAC/OAF e com dupla função (Observador e
Analista para a equipa profissional e também Coordenador Técnico entre os
sub6 e os sub13) tive sempre muitas dificuldades para gerir e organizar o meu
horário, pois se é verdade que me eram solicitadas muitas missões com a equipa
profissional, não é menos verdade que a função de coordenação técnica, para a
qual fui contratado, também requer imenso tempo, na organização e
acompanhamento das equipas e no contributo para a formação de jogadores e
treinadores.
Estava perante uma enorme dificuldade. Conseguir conciliar duas
missões, completamente incompatíveis, considerando que estava sozinho no
gabinete de observação e AJ e considerando também que era o único
coordenador com responsabilidades nos escalões entre sub6 e sub13. Não
desisti, acreditei nas minhas capacidades e dei o melhor de mim, todos os dias.
1.2.3. Estrutura do Relatório
O relatório foi organizado em 7 capítulos, descritos nos parágrafos
seguintes.
No primeiro capítulo denominado “Introdução” é realizada uma
apresentação do aluno e do seu percurso académico e profissional. Para além
da sua apresentação, é onde se contextualiza toda a prática profissional no
âmbito do estágio, onde se definem os objetivos delimitados antes da realização
do estágio e onde são apresentadas as diferenças entre as expetativas iniciais
e aquilo que se enfrentou na realidade. Posteriormente, foi descrita a estrutura e
organização do relatório de estágio.
No segundo capítulo denominado “Enquadramento da prática
profissional” é realizado uma apresentação do contexto legal em que o estágio
se realizou. Depois, é caraterizado o contexto institucional, com toda a sua
8
história, missão e valores. De seguida, são apresentados os recursos espaciais,
humanos, materiais. Para além disso são descritos os objetivos desportivos, é
realizada uma caraterização do plantel, é ainda explicado o contexto de natureza
funcional com todas as tarefas e funções desempenhadas pelo aluno/estagiário
e por fim é apresentado o modelo de jogo da equipa e onde se aborda o processo
de treino.
Ao longo do terceiro capítulo, denominado “Macro contexto de natureza
conceptual” foi apresentado o estado da arte no âmbito desta temática, isto é,
para entendermos aquilo que foi desenvolvido ao longo deste estágio é
necessário compreender alguns conceitos. No primeiro subcapítulo “Futebol, da
aparência simples a uma lógica complexa” são apresentadas, de forma geral,
algumas caraterísticas do jogo de futebol. Depois, no segundo subcapítulo
“Tendências evolutivas do jogo de futebol”, descrevemos a evolução do jogo com
o passar dos anos. No subcapítulo seguinte (terceiro) fala-se acerca dos
“Métodos de observação e Análise de Jogo”. No quarto subcapítulo apresenta-
se a importância da “observação e análise do jogo, enquanto ferramentas
indispensáveis para a caraterização do jogo e das equipas”. O quinto subcapítulo
diz respeito à “conceptualização” propriamente dita onde se abordam os
conceitos de: “scouting”, “scouter” e “analista”, “estratégia” e “tática”, “modelo de
jogo”, “equipa”, “sistema de jogo”, “processo ofensivo”, processo defensivo” e
“momentos de jogo”, “método de jogo ofensivo” e “método de jogo defensivo”.
Ao longo do subcapítulo da “conceptualização” são ainda explicados os domínios
do scouting que dizem respeito ao “recrutamento” e à “observação e análise da
equipa adversária e da própria equipa”. É ainda explicada a necessária
“racionalização do espaço de jogo” e tenta-se explicar algo mais sobre “modelo
de jogo e sobre o processo de treino”.
No quarto capítulo é onde aproveitamos para demonstrar e evidenciar
aquilo que foi realizado no âmbito do estágio. É neste capítulo “Desenvolvimento
da Prática” que abordamos como recolhemos a informação, como a tratamos,
como a analisamos e como a transmitimos à equipa técnica e ao plantel.
No quinto capítulo “Desenvolvimento Profissional” fazemos uma reflexão
acerca daquilo que foi vivenciado ao longo do estágio e em que medida nos
9
tornámos mais ricos enquanto pessoas e também como profissionais do Treino
e da AJ.
No sexto capítulo “Considerações Finais” é onde deixamos algumas
ideias que pretendemos reforçar e que foram deixadas ao longo do trabalho.
Por último, o capítulo sete que corresponde às “Referências
Bibliográficas”, que representam as fontes a que recorremos para moldar o
nosso pensamento e também para compreendermos mais acerca da temática
da observação e AJ.
10
2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
2.1. Contexto legal
O estágio profissionalizante, realizado no âmbito da conclusão da unidade
curricular de “Estágio”, do 2º ciclo de Treino Desportivo com especialização em
Treino de Alto Rendimento, foi realizado durante a época 2017/2018 na equipa
profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de
Futebol, na função de analista.
2.2. Contexto institucional – história, valores e missão
A Académica é de Coimbra. Associação Académica de Coimbra. E
“Coimbra é de Portugal” (A Académica, 1995).
A história do futebol da Briosa, julgamos nós, dificilmente será entendida
se desligada da história da Associação Académica de Coimbra. Não apenas
porque foi no seio desta que nasceu a prática da modalidade entre os
universitários coimbrãos, mas porque de outro modo não se compreenderia
porque é que, em 1969, por uma única vez, o Presidente da República não
esteve presente na final da Taça de Portugal, como não se perceberia porque é
que, em Junho de 1974, a seção de futebol da Associação Académica foi
temporariamente extinta por decisão de uma Assembleia Magna estudantil.
Portanto, se a história do futebol da Briosa é, desde sempre, inseparável das
lutas estudantis, ela confunde-se igualmente, em larga medida, com a própria
história da cidade e do País nos últimos séculos (Santana & Mesquita, 2011).
O alvará fundador da Associação Académica de Coimbra data de 3 de
Novembro de 1887. Mais que centenária! É um motivo de reflexão. As
perspetivas de futuro têm importância, o contar-se com um passado também (A
Académica, 1995).
A Associação Académica de Coimbra, ao longo dos seus 131 anos,
marcou profundamente as várias gerações de estudantes que passaram pela
Universidade de Coimbra, através das lutas, da defesa de valores como a
democracia e a liberdade, e da sua cultura e do desporto (adaptado A
Académica, 1995).
11
A “Briosa”, com as suas camisolas negras, da cor das capas, e o emblema
losangular, com a torre da Universidade, é indiscutivelmente um dos mais fortes
elos de ligação entre a malta da Académica (A Académica, 1995).
Relativamente aos feitos e conquistas mais significativas, a Associação
Académica de Coimbra conquistou a taça na época de 1938-1939, a primeira
Taça de Portugal, competição que, nesse mesmo ano, substituíra o Campeonato
de Portugal (Santana & Mesquita, 2011).
Na época 1950-1951, a Académica atinge a final da taça, mas desta vez
viria a ser derrotada pelo SL Benfica, que foi também campeão nacional
(Santana & Mesquita, 2011).
Até à época de 1953-1954, a Académica já contava com 3 títulos de
campeão de juniores, o que começava a indicar a tradição na formação
desportiva (Santana & Mesquita, 2011).
Na época 1966-1967 a Académica consegue a sua melhor classificação
de sempre no principal campeonato português. Acaba em segundo lugar, a 3
pontos do SL Benfica, tornando-se vice-campeã nacional. O jogo do título
disputou-se em Coimbra, na 19ª jornada, perante cerca de 43 mil espetadores.
Nessa mesma época, a Académica atinge a final da Taça de Portugal mas acaba
derrotada pelo Vitória FC (Santana & Mesquita, 2011).
A Académica faz a sua estreia europeia na época 1968-1969, jogando
com o Olympique de Lyon. Saiu derrotada em Lyon por 1-0 e em casa venceu
por 1-0. Contudo, vinha a ser eliminada pelo velho sistema de desempate,
moeda ao ar (Santana & Mesquita, 2011).
Em 1969 a Académica atinge pela 4ª vez a final da Taça de Portugal e
esta, foi seguramente a mais politizada de todas quantas se realizaram até hoje.
A chamada crise estudantil desse ano está ao rubro e os jogadores da
Académica estão com a luta dos universitários de Coimbra. Luta que poderia ter
ganho um novo ânimo, caso a Briosa tivesse vencido. Mas, depois de ter estado
em vantagem, a Académica deixa-se bater pelo Benfica. “Um dos maiores
comícios de sempre contra o regime”, assim classificou o jornalista Carlos
Pinhão, anos mais tarde. No topo sul do Jamor, as bandeiras da Briosa e os
cartazes de incentivo a esta alternam com dísticos onde se pode ler: “Ensino
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para todos”; “Melhor ensino, menos polícias”, “Universidade livre” (Santana &
Mesquita, 2011).
Havia rumores que podiam ocorrer protestos e durante o jogo que não foi
transmitido pela RTP e ao qual o Presidente da República não compareceu,
milhares de comunicados voaram saídos de pontos estratégicos do estádio.
Dezenas de dísticos, cartazes e faixas passearam, intervaladamente, nas
bancadas. Palavras de ordem foram gritadas em coro e o hino cantado,
solenemente, a plenos pulmões (Coimbra, 1969). Cartazes com várias legendas
deste estilo “A Académica está de luto”, “Universidade livre”, “Viva a liberdade”,
etc (A Académica, 1995).
Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita, 2011).
Contudo, chega a época de 1969-1970, e a Académica consegue a
melhor prestação europeia de sempre, atingindo os quartos de final da antiga
Taça das Taças, onde é eliminada pelo Manchester City (Santana & Mesquita,
2011).
Depois surge o 25 Abril de 1974, data marcante da história de Portugal,
influenciou a vida da Académica como a de nenhum outro clube português.
Demonstrando, mais uma vez, a sua ligação umbilical ao corpo donde provém,
a Briosa nunca conseguiu passar incólume aos novos ventos que sopravam na
Universidade e na sociedade portuguesa.
Quando o antigo regime cai, e pese embora uma efémera passagem pelo
escalão secundário, a Briosa não terá a pujança futebolística da década de 60,
mas está solidamente implantada na primeira divisão. Contudo, instala-se uma
nova polémica na Universidade e a direção na altura coloca o lugar à disposição.
13
Foi então eleita uma comissão de gestão, constituída por estudantes
universitários, que tinham como objetivo garantir a continuidade da seção de
futebol, em diálogo com a direção geral e as restantes seções desportivas da
Associação Académica. Esse diálogo viria a revelar-se difícil e na cidade já
constava a extinção pura e simples da seção de futebol. E é nessa altura que a
nova assembleia geral, presidida por António Arnaut propõe: “transforme-se a
seção de futebol da Associação Académica de Coimbra em Clube Académico
de Coimbra” (Académica, 1995). Começava, então uma dura batalha jurídica,
destinada a garantir a transferência para o Clube Académico de Coimbra dos
direitos desportivos que eram pertença da Académica (Académica, 1995).
Enquanto Clube Académico de Coimbra não se assinalaram títulos ou grandes
feitos nas principais competições nacionais, entenda-se Primeira Divisão, Taça
de Portugal e provas europeias.
Só em 1984, haviam já passado os excessos (que aliás, caraterizam as
revoluções), sendo outra a atmosfera do País, resolveu-se que a Académica
voltasse ao seu nome verdadeiro: Associação Académica de Coimbra, por
competente decisão de Assembleia Magna. A resolução foi recebida com grande
contentamento pelos adeptos da Académica espalhados por todo o País e fora
do País (Académica, 1995).
A Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol
(AAC/OAF) foi criado, em boa hora, por protocolo entre a direção geral da
Associação Académica de Coimbra e o Clube Académico de Coimbra no ano de
1984. Este organismo “sui generis” da Académica, que tem como atividades “o
fomento do futebol federado e o desenvolvimento desportivo e sociocultural dos
seus associados”, dá corpo a uma Associação Académica para todos,
movimentando não só os estudantes, pessoas de Coimbra e muitos que
“chegam a ter saudades de Coimbra sem nunca nela terem vivido” (A
Académica, 1995).
14
Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação Académica de Coimbra.
O atual organismo autónomo de futebol, em si mesmo e nos seus
antecedentes institucionais, ultrapassa largamente o quadro da Universidade de
Coimbra. Mas sempre teve uma ligação privilegiada com a Universidade (Rui
Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995).
No seu passado recente, enquanto Associação Académica de Coimbra –
Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) conseguiu, na época 2011/2012, a
conquista da 2ª Taça de Portugal, vencendo o Sporting Clube de Portugal na
final.
Depois de vários anos a competir na Primeira Liga, a Académica foi
despromovida na época 2015/2016 e espera-se e deseja-se ansiosamente o
regresso ao escalão máximo do futebol português.
Resumidamente, A Associação Académica de Coimbra é a casa mãe e
existe uma relação umbilical que, apesar de alguns desencontros históricos,
efetiva a singularidade da Académica. É verdade que essa ligação teve as suas
crises e complexidades, e julgo que no momento atual se impõe aos dirigentes
e associados do organismo, como aos responsáveis académicos, estudantes ou
não, refletir sobre os caminhos a seguir, em face dos novos tempos e realidades
(Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995).
Com efeito, o compromisso de lealdade e solidariedade entre todos os
que compõem a AAC/OAF marca o funcionamento da Instituição, devendo esta
dar expressão e desenvolvimento à formação humana, ética, cultural e social
dos seus atletas (2018, Modelo Formativo, AAC/OAF).
Citando palavras de Vítor Santos, numa crónica no jornal “A Bola”, “a
Académica é isto – a equipa dos escândalos, a equipa dos impossíveis, a equipa
15
de que tudo se espera: o melhor e o pior, o lógico e o ilógico, o natural e… o
mágico. Há realmente qualquer coisa naquelas camisolas negras, tecidas com a
magia, a tradição, a irreverência, a ladinice, o azougue do ambiente de Coimbra
e da sua eterna Academia”.
2.3. Recursos Espaciais
Dotada de boas infra-estruturas (com uma Academia com 2 campos de
futebol em relva sintética, 1 campo em relva natural, 1 campo de futebol 7 em
relva sintética e também com um Estádio modernizado, com 13 anos de
existência, tendo sido reconstruído aquando da organização do Europeu de 2004
em Portugal).
Possui uma Academia com 30 quartos, refeitório, sala de estudo, ginásio, que
conta atualmente com 22 atletas residentes (desde sub15 aos sub23).
Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra.
2.4. Recursos Humanos
A atual direção é presidida pelo Dr. Pedro Roxo. O diretor desportivo
Américo Branco, o delegado Miguel Umbelino, o secretário Sérgio Abrunheiro, o
departamento médico composto pelo Dr. Roxo e Dr. Paulo Queirós, pelo
enfermeiro Nuno Simões, pela nutricionista Maria João Campos. Os técnicos de
equipamentos José Guerra e Pedro Bastos. O motorista Saúl. O responsável
pelo scouting (prospeção de jogadores) Pedro Evangelista.
A equipa era composta por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações
com a abertura do mercado, em Janeiro. Na posição de guarda-redes
constavam: Ricardo Ribeiro, Guilherme Oliveira e João Gomes. Na posição de
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defesas centrais: João Real, Brendon Lucas, Yuri Matias, Zé Castro, Hugo
Ribeiro (que depois foi emprestado), Tiago Duque (que saiu no mercado de
inverno). Na posição de defesas laterais: Pedro Empis, Nélson Pedroso, João
Simões, Mike Moura e Pedro Coronas (que chegou no mercado de inverno). Na
posição de médios centro: Ki, Chiquinho, David Teles, Ricardo Dias, Zé Tiago,
Ricardo Guima, Pedro Lagoa e Fernando Alexandre. Na posição de médios ala
e extremos: Marinho, Femi Balogun, Harramiz (que saiu no mercado de inverno),
Luisinho, João Traquina e Piqueti (que chegou no mercado de inverno). Os
avançados: Diogo Ribeiro, Alan Junior (que chegou em Janeiro), Donald Djoussé
e Tozé Marreco.
Com o intuito de respeitar a privacidade e os dados dos treinadores,
iremos atribuir a cada líder, uma respetiva codificação. Esta codificação não é
feita de forma aleatória, não respeitando uma ordem lógica.
A equipa técnica sofreu alterações ao longo da época. Entre o início de
época (26 junho de 2017) e o dia 8 de novembro de 2017, o treinador foi “T3”. A
sua equipa técnica era composta por dois treinadores adjuntos, um preparador
físico/treinador adjunto e ainda um treinador de guarda-redes. Depois deu-se a
chegada do treinador “T1” assumindo a equipa a partir do dia 19 de novembro
de 2017. A equipa técnica passou a ser composta por dois treinadores adjuntos
que chegaram com ele, mais um treinador adjunto e o treinador de guarda-redes
que já pertenciam à equipa técnica anterior. A liderança de “T1” terminou após o
jogo com a Oliveirense, a 31 de março de 2018. Depois chegou o treinador “T2”,
que trouxe com ele um treinador adjunto. Ficaram na equipa técnica o treinador
adjunto e o treinador de guarda-redes que já se encontravam na equipa técnica
desde o início da época.
Apesar de todas as alterações na equipa técnica, continuei a
desempenhar as minhas funções no gabinete de AJ, continuando a desenvolver
o trabalho de análise da performance das equipas adversárias.
2.5. Caraterização do plantel
O plantel era composto por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações
com a abertura do mercado, em Janeiro.
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Do plantel faziam parte três guarda-redes. O guarda-redes “G1” que era
um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos, que apesar de estar na
Académica há algumas temporadas e ser proveniente dos escalões de
formação, era um atleta que ainda não tinha sido aposta e que tinha somado
poucos minutos de jogo nas épocas anteriores. O guarda-redes “G2” que era
também um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos e que tinha chegado à
AAC/OAF a partir de um empréstimo. Foi um jogador que também não teve
muitas oportunidades ao longo da época. O guarda-redes “G3” era um guarda-
redes mais experiente já com alguns jogos na primeira e segunda Liga
Profissional de Futebol. Sem dúvida, um guarda-redes com presença e que
manifestava algumas caraterísticas de liderança, em que os restantes jogadores
lhe reconheciam talento e competência. Em treino, recebemos várias vezes mais
um guarda-redes da equipa de juniores (sub19), sendo que por uma vez, um dos
guarda-redes de juniores chegou a ser convocado para um jogo oficial.
No plantel possuíamos vários defesas centrais onde se encontrava um
misto entre experiência e juventude. Quase todos eles apresentavam
competência no jogo aéreo. Mas eram poucos aqueles que apresentavam
caraterísticas que nos permitiam construir e jogar curto e apoiado a partir de trás.
Portanto, o nosso jogo mudava significativamente em função dos defesas
centrais que jogavam de início. Por outro lado, também havia muitas diferenças
quanto às capacidades físicas já que no plantel constavam defesas centrais
rápidos e outros muito lentos. Por esse motivo, a nossa forma de defender
também tinha de ser repensada em função dos defesas que se apresentavam
em jogo. Assim o defesa central “D1” era um jovem jogador, também oriundo dos
escalões de formação do clube. Por infelicidade tem estado constantemente
lesionado e esse foi um motivo que não ajudou à sua integração acabando por
ser emprestado. O defesa central “D2” foi um jogador que jogou pouquíssimo
tempo e também acabou por ser emprestado no mercado de Janeiro. O defesa
central “D3” era um jogador que apresentava um bom jogo aéreo, mas era um
jogador que teve sempre muita dificuldade na leitura e antecipação das
situações. Para além disso, era um jogador que falhava imensos passes se
tentasse ligar jogo nos jogadores do sector intermédio. Por esse motivo optava
18
quase sempre por um jogo mais longo. O defesa central “D4” era um defesa
experiente, um jogador que permitia que a equipa construísse e jogasse a partir
de trás. Apresentava muita facilidade no passe interior, quebrando algumas
linhas de pressão da equipa adversária. Para além desse motivo apresentava
ainda um bom passe longo, o que nos permitia oferecer alguma variabilidade ao
jogo. Contudo, revela já muita dificuldade a nível físico, contraindo algumas
lesões e apresentando pouca velocidade, sendo várias vezes surpreendido com
bolas em profundidade. O defesa central “D5” era um defesa competente na
leitura e antecipação, manifestando boa capacidade física, sendo também
competente no jogo aéreo. Apesar de não ser a sua principal caraterística
tratava-se de um jogador que também nos podia trazer alguma qualidade na
construção de jogo. Por último, o defesa central “D6” que era um jogador
experiente, já há muitos anos no plantel. Tratava-se de um jogador muito capaz
no jogo aéreo, sendo essa a sua principal caraterística. Contudo, era um jogador
que tinha algumas dificuldades em construção e por esse motivo insistia também
em realizar passe mais longo para os homens da frente. A nível físico era um
jogador com pouca velocidade e que foi muitas vezes surpreendido quando a
bola era colocada em profundidade.
Na posição de defesas laterais tínhamos dois laterais direitos, sendo que
em Janeiro chegou outro lateral, visto que um dos laterais que estavam no plantel
foi alvo de processo disciplinar. Tínhamos ainda dois laterais esquerdos.
O defesa lateral “L1” foi um jogador que chegou no mercado de inverno
mas que não realizou qualquer jogo oficial. O defesa lateral “L2” era um jogador
oriundo da formação do clube, que estava a aparecer e a ganhar o seu espaço
no plantel. Caraterísticas mais ofensivas, projetando-se bastante ofensivamente.
Contudo, ficou afastado com um processo disciplinar e não deu mais o seu
contributo à equipa, ficando relegado para a equipa satélite: Associação
Académica de Coimbra / Seção de Futebol. O defesa lateral “L3” era um jogador
experiente, já com muitos jogos realizados na Segunda Liga Portuguesa. Foi
quase totalista na presente época desportiva. Tratou-se de um lateral com
excelente posicionamento defensivo, muito competente nas missões defensivas.
Foi um jogador que não se envolvia muito nas missões ofensivas preferindo
19
guardar posição. Com o passar do tempo, foi sentindo maior confiança e já vai
subindo, procurando criar maiores desequilíbrios pela direita. O defesa lateral
“L4” é um jogador mais experiente, com muitos jogos somados na Primeira e
Segunda Liga Portuguesa. Jogador muito competente ao nível do passe e do
cruzamento. Contudo é um jogador que já revela alguma dificuldade a nível
físico, principalmente com pouca velocidade. Para além disso, por se envolver
ofensivamente, tinha sempre alguma dificuldade em recuperar a posição,
controlando dessa forma a profundidade. Era um jogador referência nos lances
de bola parada ofensiva, sendo um bom marcador de livres laterais e livres
diretos (frontais). Por último, o defesa lateral “L5” que se tratava de um jovem
jogador, que havia chegado por empréstimo. Não foi um jogador muito utilizado.
Era um jogador tecnicamente evoluído, que se envolvia ofensivamente.
No meio-campo tínhamos vários jogadores, todavia havia dos médios que
desempenhavam de forma mais concreta a função de construção e também de
médio mais defensivo, que ficava mais próximo da linha defensiva. O jogador
“M1” tratava-se de um jogador já com muitos anos de Académica. Um jogador
muito experiente, competente na sua missão específica mas em quem se notava
já muitas dificuldades físicas, derivado das muitas lesões a que foi sujeito nas
últimas temporadas. Tratava-se de um jogador forte no jogo aéreo, mas que já
revelava menor capacidade de tração e de “choque” comparativamente com
épocas realizadas no passado em que teve a “agressividade”, combatividade,
capacidade de trabalho e entrega ao jogo como principais caraterísticas. O
jogador “M2” tratava-se de um jogador que tinha chegado por empréstimo. Foi
sem dúvida dos jogadores mais regulares durante a presente época desportiva.
Jogador com boa capacidade física, bom jogo aéreo, boa capacidade de trabalho
e de entrega ao jogo. Penso que é um jogador que tenta fazer também a ligação
com o sector ofensivo, mas aqui ele revela algumas dificuldades.
Outros médios da equipa mas que podiam desempenhar mais algumas
missões ofensivas: o médio “M3” era um jogador oriundo da formação que não
somou qualquer minuto ao longo da época. O médio “M4” foi outro jogador da
formação que somou poucos minutos ao longo da época desportiva”. O médio
“M5” era um jogador cuja caraterística principal era a sua capacidade física.
20
Muito forte e com muita resistência. Era um médio “de área a área”. Contudo,
era um jogador que falhava sempre muitos passes, um jogador que pecava
bastante na sua tomada de decisão. O médio “M6” era um médio muito evoluído
a nível técnico, com um controlo fantástico da bola, um médio bom ao nível do
passe, que tanto podia jogar como um médio mais ofensivo e a pisar zonas entre
a linha defensiva e a linha média adversária como podia jogar também junto ao
corredor lateral, com tendência para procurar espaços interiores. Para além
destas caraterísticas era um jogador com um bom passe de rutura. Era um
jogador frágil fisicamente. O médio “M7” era um médio desequilibrador, um
jogador que chegou por empréstimo, mas em quem se identificava um talento
fantástico e um potencial enorme. Era um médio muito competente, que apesar
de se sentir mais confortável a procurar espaços entre linhas, também baixava
muitas vezes a procurar bola um pouco mais atrás, transportando jogo para a
frente. É um jogador muito competente, com um bom passe de rutura, muito bom
no passe e com clara tendência para jogar curto e apoiado. Por último “M8” um
médio que também passou pelos juniores do clube e que já está no plantel
profissional há alguns anos. É um médio que gosta muito de ter a bola, que
procura fazer a ligação (médios – avançados) mas que falha bastante na
decisão, perdendo muitas bolas. Apesar de ser caraterístico de um bom passe e
também de bom remate, é um jogador que é frágil do ponto de vista físico, não
conseguindo aguentar a carga.
Na posição de médios ala e extremos tínhamos vários jogadores: “E1” era
um jogador que tinha acabado de chegar no mercado de inverno e que
praticamente não foi utilizado. Contudo pareceu ser um jogador rápido e com
boas mudanças de velocidade. “E2” era um jogador formado no clube, que conta
já com bastante experiência, com muitos jogos realizados na Segunda Liga. Bom
driblador, jogador que joga mais encostado ao corredor lateral. Com o passar
dos anos e com a perda de alguma velocidade tem sido experimentado também
a lateral direito. Jogava preferencialmente sobre a direita. “E3” era um extremo
muito rápido, que gosta da bola no espaço. Bom driblador, boa mudança de
velocidade mas que pecava imenso no cruzamento. Era um jogador que podia
ser solicitado nos instantes de transição ofensiva. Jogava preferencialmente
21
sobre a direita. “E4” era um extremo que saiu no mercado de Inverno. Jogador
que podia fazer de extremo mas também de avançado. Tinha algumas
caraterísticas de finalizador. Contudo, foi um jogador que nunca se adaptou e
nunca conseguiu soltar-se da pressão. Foi um jogador muito perdulário e que
falhou sempre bastante na tomada de decisão. “E5” é um jogador muito
experiente, com muitos anos de primeira e segunda liga, que já se encontra na
Académica há muitos anos. Jogador com quem os adeptos nutrem um carinho
muito grande, pois há uns anos foi ele que marcou o golo que deu a vitória da
Taça de Portugal em pleno estádio Nacional, vulgarmente conhecido “Estádio do
Jamor”. É um jogador desconcertante, com boa capacidade técnica, bom drible,
mas que já não tem a velocidade de outrora. Contudo é um jogador combativo e
voluntarioso. A sua presença em campo é importante para os colegas devido à
sua liderança. Por último “E6” foi um jogador que chegou por empréstimo. Um
jogador muito desequilibrador, muitíssimo rápido. Foi talvez o jogador mais
desequilibrador que jogava nos corredores laterais. Era um jogador que gostava
de procurar espaços interiores, no entanto, tinha mais caraterísticas de jogador
de corredor lateral. Foi um jogador que teve uma lesão grave no decorrer da
segunda metade da época, o que foi uma enorme contrariedade para a equipa.
Na frente, os avançados: “A1” que era um jogador oriundo da formação
do clube, já com alguns jogos realizados em clubes de Segunda Liga. Avançado
que gosta de sair bastante das zonas dele, caindo muitas vezes em apoio mas
também tombando para os corredores laterais. É um jogador muito combativo,
voluntarioso e natural de Coimbra. “A2” é um ponta de lança forte fisicamente e
também de elevada estatura. É muitas vezes servido como apoio frontal. É um
jogador muito solicitado nos momentos de transição ofensiva seja como apoio
frontal, seja em corredor lateral, transportando ele o jogo para a frente a partir de
condução rápida. “A3” é um ponta de lança, finalizador, que conta com várias
passagens em clubes de Segunda Liga e também clubes no estrangeiro. É um
finalizador, um homem de área. “A4” foi um avançado que chegou no mercado
de Janeiro. Trouxe alguma mobilidade à equipa, mas não foi o finalizador que
precisávamos.
22
2.6. Objetivos desportivos
A AAC-OAF, por se tratar de uma instituição histórica em Portugal (pela
sua mística, pela sua ligação à Academia, pela sua filosofia) com um grande
historial na Primeira Liga, terá obrigatoriamente que ter ambição de voltar aos
palcos principais do futebol português. Portanto, de forma assumida, os objetivos
da Académica passam sempre por procurar alcançar a promoção à Primeira
Liga, agora intitulada Liga NOS. Nas restantes competições o objetivo passaria
sempre por ir o mais longe possível, quer na Taça da Liga intitulada Taça CTT,
quer na Taça de Portugal. Na Ledman Liga Pro (Segunda Liga), falhámos o
nosso objetivo, não alcançando a promoção, terminando o campeonato em
quarto classificado, a três pontos do nosso objetivo. Na Taça CTT fomos
eliminados na primeira fase pelo Arouca Futebol Clube. Na Taça de Portugal,
fomos eliminados nos oitavos de final, pelo Caldas Sport Clube.
2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino
Apesar do jogo de futebol ser conhecido por ser surpreendente,
imprevisível, não sendo possível prever com certeza o resultado final de um jogo,
é possível minimizar a imprevisibilidade procurando criar contextos e situações-
problema em treino que possam assemelhar-se às situações que vão surgir em
competição. Assim, apesar de entendermos o jogo como caótico, entendemos
também que tem de haver algo que ligue o jogo e que o enquadre num cenário
de possibilidades e previsões, dando sentido à preparação dos jogadores e das
equipas. Caso contrário, o jogo seria completamente aleatório e estaria puro e
simplesmente entregue ao acaso.
Seguindo este pensamento, será possível modelar o jogo, minimizando a
imprevisibilidade, reduzir o desconhecido, mas colocando sempre na balança a
ordem e a desordem, não esquecendo em momento algum que a possibilidade
de modelar não elimina o cenário caótico do jogo.
Longos são os anos a acompanhar as equipas da AAC/OAF, assistindo
aos jogos na posição de adepto. Recordo-me desde sempre que na AAC/OAF
sempre houve interesse, ideia e tentativa de se implementar um jogo que desse
primazia à iniciativa e ao querer ter a posse de bola. Assim, no processo ofensivo
23
e mais propriamente em momento ofensivo, notei desde sempre que houve uma
preocupação em construir o jogo a partir de trás. Mas recordo-me também que
sempre houve alguma dificuldade, ano após ano, em conseguir criar muitas
situações de finalização. Havia sempre claras dificuldades em ligar o sector
intermédio com o sector ofensivo. Para além desta caraterística, observava
também nas equipas da AAC/OAF, a presença de jogadores rápidos nas alas e
até na frente, o que possibilitava também que a AAC/OAF fosse uma equipa
perigosa, nos instantes após a recuperação de bola, procurando rapidamente a
verticalidade e atacar a profundidade. Sem bola, e quando em organização
defensiva, tenho memórias de ver os “estudantes” como uma equipa organizada,
defendendo de forma coesa e competente.
Atualmente está a ser desenvolvido um trabalho competente e organizado
na formação do clube, havendo a definição clara de ideias para as equipas da
formação, com um “jogar” devidamente caraterizado e escrito num “manual
técnico – modelo formativo”. Contudo, entendo que na maior parte das vezes
ainda não existe uma ligação muito forte com o que é desenvolvido na equipa
profissional.
Nos dias de hoje, em alguns clubes profissionais, como é o exemplo da
AAC/OAF, vive-se uma enorme instabilidade com trocas de treinador
constantemente. E quando há a troca de treinador e consequentemente da
equipa técnica, é muito provável que exista alteração das ideias, do modelo de
jogo e até de alguns jogadores. Assim, uniformizar um modelo de jogo, uma
cultura de clube torna-se cada vez mais utópico.
Durante a época desportiva 2017/2018 foram três os treinadores que
passaram pelo comando da equipa. Foram três equipas técnicas que deram o
seu contributo à AAC/OAF. Por questões éticas vou dirigir-me aos treinadores
com a seguinte designação “T1”, “T2”, “T3”, sendo que esta designação não se
encontra ordenada.
O “T1” era um treinador conservador. Gostava de dominar e controlar o
jogo mas não gostava de ver a sua equipa exposta a grandes riscos.
A nível ofensivo era um treinador que trabalhava a primeira fase de
construção sempre em paralelo com uma transição defensiva, com uma
24
mudança rápida de atitude, onde pedia que os jogadores fossem rápidos a
“fechar a bola”, “fechar o campo” e a voltarem às suas posições. Ainda em fase
de construção, incutia que os seus jogadores construíssem muitas vezes com
três jogadores, baixando muitas vezes um médio entre centrais ou em corredor
lateral, permitindo que o lateral se projetasse. Ofensivamente, era suposto que
a equipa fosse rápida a circular a bola e entendesse o momento certo para variar
centro de jogo e acelerar em corredor contrário ou então para realizar passe em
profundidade à procura dos homens da frente. O “T1” pretendia que os seus
jogadores conseguissem ligar o jogo, procurando especialmente os espaços
entre linhas cedidos pela equipa adversária. Para além disso, “T1” incutia que os
seus jogadores atraíssem também o adversário dentro, procurando depois jogar
e acelerar por fora, em corredor lateral. Portanto era um treinador que procurava
alguma variabilidade entre a variação de centro de jogo e o passe para a
profundidade.
“T1” foi um treinador que dedicou sempre muito tempo à organização
defensiva da sua equipa. Na maior parte das vezes gostava que a equipa
pressionasse na saída de bola da equipa adversária, evitando que o oponente
conseguisse construir jogo a partir de trás. Definia zonas de pressão e tentava
dessa forma neutralizar o adversário nas suas fases de construção. “T1” mostrou
sempre muita preocupação em trabalhar a sua linha defensiva, preparando-a
para subir e descer em função do posicionamento da bola e em função da
interpretação de situações de “bola coberta” e “bola descoberta”. Para além disso
preparou a sua defesa para quando fosse surpreendida com algumas bolas em
profundidade, poder conseguir defender bem, fechando baliza e acertando
marcações.
Foi um treinador que se preocupou bastante em preparar a sua equipa
para sair bem em situações de contra-ataque e ataque rápido. Principalmente no
início, aquando da sua chegada a Coimbra. Inicialmente preparou a equipa para
corrigir algumas situações defensivamente. Preparou a equipa para sair melhor
em transição defesa-ataque. Com o passar do tempo, foi começando a trabalhar
a sua equipa no momento ofensivo. Assim, inicialmente, em situações de defesa
25
ataque, incutiu o hábito para que a sua equipa procurasse o ponta de lança mas
também os extremos.
Relativamente às bolas paradas, foi um treinador que se focou sempre
mais nas situações de bola parada ofensiva e não tanto nas situações de bola
parada defensiva. Assim que chegou começou a trabalhar as bolas paradas
ofensivamente. Só mais tarde começou a trabalhar a equipa nas bolas paradas
defensivas.
O “T2” chegou em situação adversas e circunstâncias muito particulares.
Por esse motivo, é difícil explicar qual a sua ideia de jogo e consequentemente
qual o modelo de jogo adotado. Com a sua chegada, o seu verdadeiro objetivo
foi recuperar a equipa mentalmente, motivando os jogadores para os jogos que
faltava disputar. O treino serviu muitas vezes para manter os índices físicos mas
não foi um treino muito elaborado e aquisitivo. A equipa técnica pretendia ter os
atletas focados para o que faltava mas, ao mesmo tempo, libertá-los do ambiente
de tensão existente.
Ainda assim, houve sempre preocupação em trabalhar e treinar a
organização defensiva, especialmente, a pressão de bola na saída de bola da
equipa adversária. O “T2” seguia a ideia adotada até então, em não permitir a
fase de construção da equipa adversária.
Ofensivamente, com a ideia existente em soltar um pouco os jogadores e
dar-lhes maior liberdade, passamos a depender um pouco mais de jogadas
individuais e do talento individual dos jogadores mais adiantados.
Houve ainda um cuidado na preparação da equipa para os lances de bola
parada defensiva e ofensiva.
Portanto, fica a dúvida acerca das ideias de jogo de “T2” bem como o
modelo de jogo que adotaria, caso estivesse na liderança a partir do inicio da
época.
Por fim, o “T3” era defensor de um jogo “positivo”, identificando-se com
um estilo ofensivo, com um futebol de ataque, tomando iniciativa do jogo,
tentando criar várias situações de golo, procurando a vitória. Gosta de dominar
e controlar o jogo. No processo ofensivo identificava-se com um jogo que dava
primazia à posse de bola, vendo nesta um meio para atingir o fim: golo. Joga
26
muitas vezes em ataque posicional, jogo apoiado, tentando várias dinâmicas
para ligar os sectores. Procura dedicar muito tempo de treino às fases de
construção e ligação de sectores, com uma boa dinâmica dos médios, para que
sejam capazes de encontrar espaços e assim possibilitarem a ligação do jogo.
Procura ainda uma equipa que consiga circular a bola rapidamente, variando
centro de jogo, levando a bola aos 3 corredores. Para além disso, procura ainda
colocar muitos jogadores em zonas de finalização.
Defensivamente, “T3” identificava-se com uma equipa pressionante, logo
a partir da saída de bola da equipa adversária, identificando-se zonas
pressionantes. O treinador pretende evitar que as adversárias consigam ter
sucesso nas fases de construção. “T3” adequava a forma de pressionar
considerando o adversário, definindo indicadores de pressão diferentes em
função das caraterísticas do adversário. Para além disso, o treinador identifica-
se com uma defesa organizada que se posicione corretamente em função da
bola, espaço e adversário. Sempre que não seja possível realizar pressão alta,
opta por fazer baixar a equipa, juntando linhas, evitando dessa forma que o
adversário consiga aproveitar os espaços entre linhas. Para além disso, trabalha
a sua linha defensiva para que consigam controlar bem a profundidade, de
maneira a não sermos surpreendidos com uma bola nas costas da defesa. Para
além do controlo da profundidade há ainda a preocupação no acertar das
marcações dentro de área.
No instante de transição ofensiva, o treinador pretendia que a equipa
fosse capaz de tirar a bola rapidamente da zona de pressão. O idealizado era
que a equipa e os respetivos jogadores fossem capazes de identificar situações
e espaços tomando a decisão de avançar rapidamente para o ataque (contra-
ataque e ataque rápido), procurando servir os jogadores mais adiantados da
equipa (avançado e extremos), ou procurando manter a bola, reorganizando-se
ofensivamente.
No instante de transição defensiva, o treinador pretendia uma equipa que
fosse rápida a mudar de atitude. O objetivo era que houvesse uma pressão
rápida sobre o portador da bola, evitando que a equipa adversária conseguisse
tirar a bola da zona de maior pressão. Portanto, antes de perder a bola pretendia
27
a equipa próxima, para que depois fosse possível ter uma resposta e pressão
pronta, após a perda de bola.
Por fim, nas situações de bola parada, “T3” o treinador atribuía muita
importância à observação e análise das situações de bola parada do adversário,
nomeadamente dos cantos e livres laterais, ajustando e “simulando” em treino a
ação da equipa adversária nestas situações.
2.8. Contexto de natureza funcional
Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante
da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei
e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Mais tarde, como disse
anteriormente, tive oportunidade de participar ativamente, treinando crianças e
jovens, e eis que durante a época 2017-2018 e no âmbito do estágio curricular,
desempenhei a função de Analista para a equipa profissional. Tive a
oportunidade de vivenciar, de perto, o trabalho desenvolvido junto de uma equipa
profissional. No final do mês de junho de 2017 recebi um convite por parte da
AAC/OAF para desempenhar a função de Analista para a equipa profissional e
também Coordenador Técnico para o Futebol de iniciação. Aproveitei o facto de
já estar dentro da estrutura para realizar o meu estágio curricular. No âmbito do
estágio, centrei o meu trabalho nas minhas funções junto da equipa profissional,
com principal enfoque naquilo que era a minha missão no gabinete de
observação e AJ.
Por já pertencer à instituição enquanto profissional, sempre houve
recetividade e nunca houve qualquer situação problemática.
Iniciei o estágio no dia 3 de julho de 2017, uma semana após o início dos
trabalhos (26 de Junho de 2017).
O trabalho desempenhado considerava uma lista enorme de tarefas:
Observar e filmar algumas sessões de treino da nossa equipa e passar os
ficheiros de vídeo para o treinador adjunto
Filmar os jogos em casa e acompanhar a equipa profissional em todos os
jogos (por vezes não foi possível, pois foi-me solicitado que fosse
observar um jogo “in loco” do próximo adversário).
28
Observar e analisar as equipas adversárias (através de vídeo e “in loco”):
a) Pretendia-se que fizesse cortes de vídeo, categorizando o jogo, pelos
vários momentos de jogo. Esta informação era igualmente enviada para
o treinador adjunto;
b) Realizar um vídeo (mostrando como a equipa adversária se organizava
nos vários momentos do jogo), com duração máxima de vinte minutos.
Enviava o mesmo para a equipa técnica;
c) Realizar um vídeo mais curto, com duração máxima de nove minutos.
Pretendia-se que trabalhasse as imagens, colocando algumas animações
por forma a enfatizar algumas situações. O objetivo era enviar este
segundo vídeo para a equipa técnica. Este mesmo vídeo seria mostrado
e apresentado aos jogadores, pelo treinador e um dos treinadores
adjuntos;
d) Elaborar um relatório onde descrevia (com texto e imagens) os princípios,
ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários momentos do
jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório era
enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos e
treinador de guarda-redes);
e) Elaborar um relatório detalhado das Bolas paradas ofensivas e defensivas
do nosso adversário. O mesmo seria enviado para todos os elementos da
equipa técnica.
f) Elaborar vídeos, com alguns comportamentos e ações padronizadas de
alguns atletas ou individualidades da equipa adversária.
Ao longo da época foram surgindo várias alterações, motivadas
principalmente pelas alterações ocorridas na composição das equipas técnicas,
com 2 alterações de treinador e consequentemente mudança de quase todos os
elementos que constituíam a equipa técnica.
Com todas estas alterações, continuei sempre a desempenhar a função
de analista e trabalhar no gabinete de observação e AJ, mas considerando as
diferentes alterações na composição das equipas técnicas e a diferente
organização, visão e até modelo de jogo e modelo de treino, houve alterações
nas tarefas solicitadas e realizadas.
29
Para além da equipa técnica, o staff também se manteve de início até ao
final de época, salvo uma ou outra exceção.
2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais
Segundo Vales (2015), a plena instauração e integração de um
departamento de AJ dentro do organigrama técnico de uma equipa de futebol
profissional requer, para além da participação de recursos humanos qualificados
e de uma correta estratégia de trabalho que os oriente, a posse de um material
mínimo imprescindível que possibilite o desenvolvimento de um alto ritmo de
trabalho e de uma máxima qualidade do mesmo. Material como: computadores
- fixo e portátil com grande capacidade de armazenamento e processador de
informação especialmente de vídeo; discos externos de alta capacidade para
armazenamento de informação; projetor de imagem portátil, de alta definição
para efetuar as diversas apresentações; Tela portátil para a projeção de imagens
e televisor de alta definição e grande tamanho para visualização dos jogos e para
as diversas apresentações; câmara de vídeo de alta gama com tripé para
gravação dos jogos e de treinos em direto ou desde ângulos especiais;
impressoras digitais com função de scanner para a apresentação e envio de
diferentes documentos.
Na AAC/OAF, dispúnhamos de um gabinete que ficava ao lado do
gabinete da equipa técnica. Utilizei sempre o meu computador pessoal. A
AAC/OAF disponibilizava um disco externo mas de capacidade reduzida. Acabei
por utilizar um disco externo pessoal para poder armazenar todos os documentos
e informação. No gabinete de scouting tínhamos uma TV à nossa disposição,
contudo era mais vezes utilizada pelo meu colega que ficava responsável pela
prospeção e recrutamento de jogadores.
Servíamo-nos da sala de imprensa da Academia Briosa XXI para fazer as
apresentações de vídeo aos jogadores. A sala já está equipada com projetor de
imagem e também com tela preparada para projeção de imagem. Em alguns
momentos, também utilizámos a sala de imprensa do Estádio Cidade de Coimbra
para os momentos de apresentação. Também a sala de imprensa do Estádio
30
está devidamente equipada com projetor de imagem e com tela preparada para
projeção de imagem.
Possuíamos apenas uma única câmara de vídeo e um tripé, para
gravação dos jogos e treinos.
Tínhamos uma impressora partilhada com a equipa técnica, o que nos
possibilitava entregar o relatório técnico de forma rápida.
31
3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL
3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa
“na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um
fenómeno que assenta numa lógica complexa”
(Garganta & Gréhaigne, 1999).
Com a entrada no século XXI, o futebol afirma-se como a modalidade
desportiva de maior expressão mundial, alcançando uma popularidade sem
precedentes na história da humanidade. Este jogo, cuja beleza parece decorrer
da sua aparência simples e dos comportamentos matizados e pouco previsíveis,
tem suscitado a adesão de um elevado número de afiliados (Garganta, 2006).
Porém, na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um fenómeno
que assenta numa lógica complexa (Garganta & Gréhaigne, 1999).
Numa análise mais profunda e detalhada, apesar do facto dos desportos
de equipa terem uma série de caraterísticas estruturais e funcionais que lhes
trazem um sentido único, o futebol, como desporto específico condicionado por
um regulamento e cultura particular, apresenta uma série de traços próprios que
o distinguem do resto das modalidades pertencentes à família dos desportos
coletivos. (…) Entre os principais aspetos que particularizam esta modalidade
desportiva podemos destacar: a) a proibição de usar as mãos para manipular a
bola, o que leva a um potencial aumento do grau de discordância entre o projeto
de ação e a execução, motivada pela elevada dificuldade coordenativa das
ações de jogo; b) o desenvolvimento do jogo num espaço amplo, o que leva a
uma importante exigência percetiva e que exige uma amplitude visual. Exige
ainda um domínio de jogo, tanto num espaço próximo (situações 1x1, etc), como
num espaço mais distante (mudanças de orientação, remates de longa distância,
etc). Requer ainda uma certa especialização posicional e funcional, para que os
jogadores racionalizassem o espaço (guarda-redes, sector defensivo, sector
intermédio e sector ofensivo); c) a participação de um importante número de
jogadores e a limitação das possibilidades de substituição entre os mesmos, o
que leva a redes complexas de interação, a uma solicitação física em termos
bioenergéticos e neuromusculares, pois são no mínimo oito os atletas que têm
32
que disputar a totalidade do tempo; d) a presença de um elevado tempo de jogo
e a obtenção de um escasso número de golos durante os jogos, o que evidencia
uma elevada dificuldade para desenvolver e manter o ritmo de jogo intenso
durante todo o jogo, a importância de dispor jogadores especialistas para as
fases de finalização para fases de finalização e de bola parada (Vales, 2015).
A performance nos jogos desportivos é difícil de analisar e avaliar, muito
particularmente nos jogos desportivos coletivos, pois trata-se não apenas de
quantificar comportamentos, mas sobretudo de os qualificar. O comportamento
dos jogadores não é tão previsível como as trajetórias dos planetas, mas também
não é tão imponderável quanto os lançamentos de dados (Garganta, 2008). Por
exemplo, as equipas de futebol, como referem Garganta (2000), operam como
sistemas dinâmicos que se confrontam simultaneamente com o previsível e o
imprevisível, com o estabelecido e a inovação. O decorrer do jogo dá-se na
interação e através da interação, das regras constitutivas do jogo, o acaso e a
contingência de acontecimentos específicos com as escolhas específicas e as
estratégias dos jogadores, viradas para a utilização das regras e do acaso para
criarem novos cenários e possibilidades.
Garganta (2000) referem que, decorrente da relação de oposição, existe
uma lógica interna que, em cada sequência de jogo, gera uma dinâmica de
movimento global, de um alvo ao outro, que a cada instante pode inverter-se.
Castelo (2009) reforça dizendo que o futebol é um fenómeno que se projeta
numa cadeia de estados, os quais têm caráter de ordem e desordem,
estabilidade e instabilidade, equilíbrio e desequilíbrio, uniformidade e
variabilidade, previsibilidade e imprevisibilidade, etc. Os contextos sempre em
mudança, radicam porventura o seu verdadeiro fascínio e espetacularidade, na
incerteza que envolve o resultado das ações realizadas.
Garganta (1997) considera ainda que o jogo de futebol apresenta uma
estrutura formal e uma estrutura funcional. A estrutura funcional decorre das
ações de jogo, enquanto resultado da interação recorrente entre os
companheiros de equipa e, da interação concorrente entre adversários, em torno
da bola, a fim de conseguirem vencer a oposição dos adversários e atingir os
33
objetivos propostos. A estrutura formal refere-se ao terreno de jogo, à bola, ao
regulamento, aos companheiros e adversários.
No futebol, a ideia básica é perceber que há um esforço da equipa para
marcar golo e para impedir que o adversário o faça. É claro que o adversário terá
o mesmo objetivo. Assim, ambas as equipas perseguem o mesmo objetivo,
simultaneamente. Importante, porque esses objetivos que são mútuos, são
perseguidos ao mesmo tempo, resultando interações entre ambas as partes.
Essas interações são dinâmicas, mudando no tempo ao longo do jogo (Lames &
McGarry, 2007).
No concurso das equipas para um objetivo comum e no permanente
antagonismo destas, de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo
de futebol apresenta-se como um fenómeno de contornos variáveis no qual as
ocorrências se intrincam umas nas outras. As competências dos jogadores e das
equipas não se confinam, portanto, a aspetos pontuais, mas reportam-se a
grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber o jogo
na sua complexidade (Garganta & Gréhaigne, 1999).
Não devemos esquecer que o futebol é jogado por pessoas. Os jogadores
estão em constante formação, em contínua incorporação de conhecimentos e
experiências próprias, em mútua interação consigo e com o envolvimento,
enriquecendo-se eles mesmos e enriquecendo o jogo. O jogador e o jogo são os
dois lados da mesma moeda. Um não existe sem o outro (…) A relação entre o
jogo e o jogador é bidirecional. Há influência do primeiro sobre o segundo e vice-
versa (Castellano, 2009).
Assim, numa partida, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o
seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto e aleatório. Não é
possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não
existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de
combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino. Todavia,
não obstante essas caraterísticas, as situações podem ser “categorizáveis”, isto
é, reconvertíveis num número restrito de categorias ou tipos de situações
(Garganta & Gréhaigne, 1999).
34
Tal entendimento repousa na convicção de que os comportamentos dos
jogadores e das equipas, quando observados várias vezes e no confronto com
diferentes oponentes, são suscetíveis de exibir traços que permitem identificar
padrões de jogo (McGarry et al., 2002).
3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol
Assistimos a mudanças na nossa sociedade com o passar do tempo.
Essas mudanças influenciam a nossa cultura e consequentemente o jogo de
futebol. Assim, é de extrema importância perceber e compreender as tendências
evolutivas do jogo de futebol.
Se tivermos presente alguns dados, de caráter quantitativo, da análise do
jogo de futebol, observamos que o número de acontecimentos aumentou na
unidade de tempo. Com efeito, no quadro da dinâmica dos esforços, produzidos
pelos jogadores ao longo do jogo, triplicou nos últimos 30 anos. Daqui se infere,
que no plano tático os jogadores cobrem uma maior área de terreno de jogo
(tanto na fase ofensiva, como defensiva). Esta “pequena” constatação veio a
implicar, por sua vez, uma diminuição do tempo e do espaço para a resolução
tático-técnica de uma dada situação, tendo-se ou não a posse da bola. Na
atualidade, cada jogador executa em média 360 a 400 intervenções (de curta até
dois segundos, média até cinco segundos ou longa duração até oito segundos)
por jogo. Este facto determina quatro esforços por minuto. Mas se utilizarmos o
tempo real de jogo (excluindo as paragens que representam cerca de 30% do
seu tempo total) este valor sobe para seis, isto é, observa-se um comportamento
visível de dez em dez segundos, com ou sem a posse da bola, com uma
determinada intenção, finalidade e duração. A tendência destes valores no futuro
é de aumentarem, não tão rapidamente como no passado, mas a melhorarem
no domínio da qualidade do complexo decisão / ação e, em especial, na maior
duração de cada esforço produzido (Castelo, 2009).
Vales (2015) resume aquelas que são as principais peculiaridades
estruturais e coletivas do futebol, tratando-se de ser:
a) Uma atividade desportiva com um formato de fase alternada,
determinado basicamente por o facto de ter ou não ter a posse de bola;
35
b) Atividade desportiva com alto conteúdo tático-estratégico, em que os
jogadores devem manifestar, desde um plano coletivo, uma intensa atividade
colaborativa para superar em conjunto a oposição ativa e inteligente que
representa a equipa adversária (organização e coerência global);
c) Atividade desportiva onde predominam as tarefas relacionadas com a
construção ofensiva e construção defensiva, sobre as de finalização ofensiva e
aquelas em que se evita o golo adversário;
Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015).
d) Atividade desportiva com uma dinâmica de situações de jogo de tipo
descontínuo, observando-se de forma intercalada sequências de jogo ativas e
passivas durante os jogos;
e) Atividade desportiva em que as equipas manifestam claramente uma
maior capacidade defensiva do que ofensiva, tanto nas subfases do jogo
pertencentes ao jogo dinâmico, como nas ações distintas que caraterizam o jogo
com bola parada;
f) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente
formatos defensivos estruturados a partir da adoção de posicionamentos
conservadores, com a participação de todos jogadores e a manifestação de
atitudes defensivas agressivas (pressing);
g) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente
formatos ofensivos caraterizados pela participação direta de grupos reduzidos
de jogadores sobre a bola e pelo predomínio do jogo interior sobre o jogo
exterior;
36
h) Atividade desportiva com uma baixa frequência de golos por jogo (2.63
golos/jogo), circunstância que determina que o aproveitamento das situações de
finalização ocorridas no decorrer do jogo seja um feito decisivo no resultado final
dos jogos;
Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias (adaptado de Vales, 2015).
País/Época França Inglaterra Espanha Itália Alemanha Média
75/76 3.01 2.66 2.50 2.27 3.29 2.74
80/81 2.80 2.70 2.70 1.91 3.39 2.70
85/86 2.45 2.78 2.63 2.05 3.24 2.63
90/91 2.16 2.65 2.23 2.22 2.74 2.40
95/96 2.32 2.60 2.69 2.66 2.71 2.59
00/01 2.48 2.61 2.88 2.75 2.98 2.74
05/06 2.13 2.48 2.46 2.61 2.80 2.49
10/11 2.92 2.79 2.74 2.51 2.92 2.77
i) Atividade desportiva em que 64% dos golos obtidos por uma equipa
resultam do jogo dinâmico, estando precedidos de ações coletivas cuja estrutura
espacial, temporal e modal são de complexidade intermédia. Por outro lado, 36%
dos golos resultam de ações de bola parada que apresentam um nível de
complexidade estrutural reduzida.
Vales (1998), em jeito de resumo, apresenta uma tabela onde esboça as
principais mudanças ocorridas no jogo, do ponto de vista tático estratégico,
assim como as principais repercussões dos mesmos nas exigências funcionais
solicitadas, tanto em termos condicionais como em termos técnico táticos.
37
Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015).
Se atendermos ao número médio de golos marcados por jogo em
campeonatos do Mundo, verifica-se que desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006
este vem descrescendo, atingindo o limite inferior em Itália 1990, rodando desde
então esse nível (Castellano, 2009). Barreira et al. (2013) acrescentam que no
Mundial 2010 se verificou um acréscimo de 0,04 na média de golos por jogo,
situando-se em 2,27.
Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006 (Castellano, 2009).
Caraterísticas do Jogo Consequências
condicionais
Consequências técnico –
táticas
Elevação do ritmo de jogo
Maior número dos
deslocamentos de
grande intensidade
Maior velocidade na atuação (cognitiva – operativa)
Limitação da iniciativa ofensiva /
defensiva do adversário
Maior número de duelos
com contacto
Mais recursos ofensivos e
defensivos
Relevância do jogo com bola
parada
Aumento do número das
disputas em jogo aéreo
Especialização técnico –
tática
Polivalência funcional dos
jogadores
Aumento do número de
intervenções
Repertório técnico – tático
mais amplo
38
Por sua vez, Hughes e Franks (2005) analisaram a média de golos por
cada 1000 posses de bola nos campeonatos do Mundo de 1990 e 1994,
revelando uma ligação forte entre a quantidade de uma variável de processo com
a de produto final (golo).
Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005).
Os mesmos autores (Hughes & Franks, 2005) sugerem que equipas bem-
sucedidas (Liga dos Campeões, Campeonatos do Mundo, Campeonatos
Europeus), não recorrem ao jogo direto, há padrões de jogo para as equipas
bem-sucedidas e mal sucedidas. Jones (2004), Lago & Martin (2007)
encontraram que as equipas de topo têm mais posse de bola que os seus
adversários, sugerindo que preferem controlar o jogo. Bloomfield (2005) mostrou
que as três melhores equipas na Primeira Liga Inglesa, na temporada 2003-2004
(Chelsea, Manchester e Arsenal) dominaram a posse de bola contra os seus
adversários ganhando, perdendo ou empatando. Isto indica-nos, segundo Lago
(2009) que a posse é afetada pelo resultado, mas existem equipas que seguem
diferentes estratégias (ter mais ou menos posse de bola), o que reflete o estilo
individual, as ideias do treinador, as caraterísticas dos jogadores, o orçamento
da equipa, a filosofia de jogo e a tradição e cultura dos clubes.
Num artigo recente publicado pelo jornal espanhol “Marca”, analisou-se a
posse de bola das equipas que competiram na “La Liga” Santander 2018-2019.
Apesar de existirem equipas bem-sucedidas com mais posse de bola mas
também com menos posse de bola, verificámos que entre os dez primeiros
classificados houve sete equipas com mais posse de bola e três com menos
39
posse de bola (como é o exemplo do Atlético de Madrid que foi a 11ª equipa com
mais posse de bola mas que acabou em terceiro classificado; ou do Valência
que foi a 13ª equipa com mais posse de bola mas que acabou em quarto
classificado; ou do Getafe que foi a equipa que teve menos posse de bola mas
que acabou num honroso quinto lugar. Estes dados mostram-nos que há
padrões de jogo para as equipas bem sucedidas e mal sucedidas, contudo,
também é possível ter sucesso apresentando outro tipo de estratégia que não
seja a de posse de bola.
Antes disso, Hughes & Franks (2005) verificaram que entre 1990 e 1994,
o jogo direto era mais “usual”. E no campeonato do Mundo de 1990, 84% dos
golos surgiram após a realização de quatro ou menos de quatro passes. Já em
1994, foram 80% dos golos a surgirem após quatro ou menos passes.
Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005).
Na perspetiva de Vales (2015), as principais mudanças observadas, em
relação aos aspetos coletivos do jogo podem apresentar-se nos seguintes
pontos:
a) O futebol contemporâneo carateriza-se pela presença de uma elevada
igualdade no rendimento manifestado pelas equipas, sendo difícil
encontrar atualmente, no alto rendimento, jogos de futebol em que as
diferenças entre uma e a outra equipa sejam muito elevadas;
40
Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015).
Época Campeonatos do Mundo % Jogos equilibrados
(resultado final – empate ou diferença de um golo)
1930 - 1940
Uruguai 30, Itália 34, França 38 45,3%
1950 - 1960
Brasil 50, Suiça 54, Suécia 58 42,1%
1960 - 1970
Chile 62, Inglaterra 66 53,1%
1970 - 1980
México 70, Alemanha 74, Argentina 78
60,2%
1980 - 1990
Espanha 82, México 86 62,5%
1990 - 2000 Itália 90, EUA 94, França 98 70,2%
2000 - 2010 Coreia-Japão 02, Alemanha 06,
África do Sul 10 66,1%
Segundo os dados apresentados, verificamos que quase 70% dos jogos
terminaram com resultados muito ajustados, em que a diferença de golos entre
as equipas é nula ou no máximo de um golo. Em sintonia com o apresentado, no
Mundial da Coreia e Japão em 2002, as estatísticas publicadas pela FIFA no
final do campeonato, mostravam que em 82,8% dos casos, a equipa que
marcava o primeiro golo, ganhou ou empatou o jogo. No campeonato mundial
de África do Sul, em 2010 observou-se que a distribuição média da posse de
bola também esteve muito igualada, com valores médios entre os 55% / 45%.
(Vales, 2015);
b) O “efeito globalização”, caraterístico das ordens políticas e
económicas, também já chegou ao futebol. Verifica-se uma grande mescla
de culturas futebolísticas, provocado pelo mercado de transferências de
jogadores. No campeonato do Mundo de futebol de 2010, jogado em África
do Sul, quase 60% dos jogadores participantes jogavam em ligas
estrangeiras.
c) Encontramo-nos num estado evolutivo do jogo em que, como existe
uma diminuição dos espaços disponíveis para a construção do jogo ofensivo
e um notável incremento da pressão sobre o portador da bola, as defesas
impõem-se aos ataques, produzindo um tipo de jogo “bloqueado”.
41
d) De forma paralela à progressiva instauração de formatos
posicionais cada vez mais conservadores, também destaque para a presença
de estruturas de jogo de maior intensidade e exigência tática, baseadas na
imposição de ritmos de jogo cada vez mais elevados. Assim, de um ponto de
vista defensivo, as equipas de futebol, com o intuito de dificultar ao máximo
a manobra ofensiva do adversário, centram os seus objetivos na busca de
uma rápida recuperação da bola, a partir da aplicação predominante de
métodos defensivos de caráter pressionante. Por outro lado, de um ponto de
vista ofensivo, esta progressiva aceleração do jogo caraterística do futebol
contemporâneo, manifesta-se também na intenção por parte das equipas de
quererem surpreender a organização defensiva do adversário logo após a
recuperação da posse de bola, buscando e aproveitando os espaços livres
através de um passe rápido da defesa para o ataque.
e) Por último, e tal como está apresentado na figura seguinte, parece
claro que as equipas de futebol obtêm cada vez mais golos e um maior
rendimento nos lances de bola parada ofensiva. A maior dedicação ao treino
deste tipo de ações e o aparecimento de jogadores especialistas na execução
das mesmas justifica que, na atualidade, mais de 30% dos golos ocorridos
em jogos de futebol de alto nível sejam obtidos a partir de cantos, livres
diretos e indiretos, penaltis.
Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015).
42
Salinas & Salinas (2010) cit. por Pedreño (2018) estudaram o Mundial
realizado em África do Sul e verificaram que 31% dos golos obtidos por cada
equipa resultaram de lances de bola parada.
Uma vez expostas as caraterísticas mais importantes relativas à
evolução do jogo desde um plano coletivo, Vales (2015) expôs os traços mais
representativos da evolução do jogo a nível individual, focando a análise tanto
em aspetos de natureza energético funcional como em aspetos técnico
táticos:
Em primeiro lugar, em relação à evolução dos aspetos de natureza
condicional, o jogador de futebol, com o objetivo de adaptar-se
adequadamente ao processo de intensidade crescente que o jogo
experimentou ao longo do tempo, teve de melhorar progressivamente os
seus índices físicos, mostrando maior disponibilidade para suportar a fadiga
e manter um alto nível de eficiência técnico tática (Vales, 2015).
Em segundo lugar, e analisando a evolução dos aspetos individuais do
jogo, têm-se assistido: a) ao desaparecimento do jogador especialista de
forma restritiva, passando a aparecer um tipo de jogador que responde a um
modelo funcional e que apresenta um claro equilíbrio entre a universalidade
e a especificidade, isto é, aquele jogador que tem capacidade para participar
com eficácia em diferentes subfases do jogo e em diferentes zonas do campo
mas que também domina uma faceta concreta do jogo, relacionada com a
posição específica que ocupa dentro do sistema de jogo da equipa. Segundo
Vales (2015), observamos que o jogador de futebol tende a jogar de forma
mais dinâmica e flexível, no qual o seu raio de ação não se encontra limitado
unicamente em torno da posição base que lhe foi atribuída; b) Finalmente e
em relação à posição específica do guarda-redes, também se observa uma
maior implicação deste no desenvolvimento do processo ofensivo da equipa,
como resultado do seu maior repertório técnico tático. O guarda-redes
assume agora um maior protagonismo quer em situações de contra-ataque,
com rápida execução do passe, na tentativa de aproveitar o desequilíbrio
momentâneo do adversário, quer em situações de ataque posicional, que se
43
traduzem no desenvolvimento da função de apoio, para minimizar os efeitos
de uma pressão avançada por parte da equipa adversária.
3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo
Sendo considerada a forma mais primitiva para aquisição de
conhecimentos, a observação foi, e continua a ser, um meio privilegiado a que o
ser humano tem recorrido para aceder ao conhecimento, bem como um
importante guia para a ação (Garganta, 2006).
A metodologia observacional consiste numa metodologia que reúne
condições particulares para o estudo do comportamento humano, que a coloca
também válida para a aplicação no âmbito dos jogos desportivos coletivos em
geral e do futebol em particular (Lago & Anguera, 2002 cit. por Barreira, 2013).
A metodologia observacional envolve o seguimento de todas as fases de
metodologia empíricas utilizadas nas ciências do comportamento,
nomeadamente: delimitação do problema, recolha de dados e a sua otimização,
análise dos dados e a interpretação dos resultados, caraterizando-se por um
escasso ou nulo controlo interno das variáveis, um grau máximo de naturalidade
e uma participação essencialmente passiva do investigador (Hernández-Mendo,
Anguera, & Bermúdez, 2000 cit. por Barreira, 2013). Desde logo, no papel de
ciência do comportamento, permite o registo das condutas lúdicas em contextos
naturais (terreno de jogo), respeita a espontaneidade dos comportamentos dos
jogadores em competição / treino, tornando desnecessária a preparação de
cenários (Barreira, 2013).
Nos últimos anos, no âmbito do desporto, registou-se um incremento
notório do volume de estudos realizados mediante a utilização da metodologia
observacional (Prudente, 2006). Muitos desses estudos baseiam-se na análise
do jogo com recurso à utilização de sistemas observacionais, o que tem
contribuído para a compreensão das exigências das exigências fisiológicas e
psicológicas até às exigências técnicas e táticas de vários desportos (Hughes &
Bartlett, 2002).
44
Todavia, a observação não se esgota na visão. E o olhar está sempre
influenciado pelo indivíduo. Pelas experiências prévias, pelo seu conhecimento,
por aquilo que procura, pelas suas motivações.
Popper (1991) cit. por Garganta (2001) explica que para que os nossos
sentidos nos digam alguma coisa, temos que possuir conhecimento prévio: para
podermos ver uma “coisa”, temos que saber o que são “coisas”.
Neste sentido, a situação do sujeito, enquanto observador, representa um
ponto de vista bifronte, porquanto viabiliza e limita, simultaneamente, as suas
possibilidades de conhecimento (Garganta, 2006). Contreras (2000) reforça
explicando que, na recolha de informação através dos sentidos (visão) a
experiência do observador é a chave, mas não deixa de converter-se numa
interpretação demasiado subjetiva (Contreras & Pino, 2000).
Por isso a pesquisa observacional carateriza-se por requerer um treino
especializado dos observadores, no que respeita a “o quê”, “como” e “quando”
observar (Baker, 2006).
Todavia, para que a mesma se desenvolva e consolide importa passar de
uma observação passiva, sem problema definido, com baixo controlo externo e
carente de sistematização, para uma observação ativa, sistematizada, balizada
por um problema e obedecendo a um controlo externo (Anguera et al., 2000 cit.
por Garganta, 2008).
Segundo Sánchez (2015), antes de realizar uma observação, devemos
ter em conta: “o que”, “quem”, “como” e “quando” observar. Sem perder a
perspetiva de “porquê?” e “para que” se faz, e a objetividade de tudo o que se
observa.
Segundo Anguera & Hernández-Mendo (2013), a metodologia
observacional trata-se da única metodologia científica que permite a recolha de
dados dos participantes (desportistas, treinadores, preparadores físicos, etc.) no
treino e em competição, a partir da captação direta (essencialmente visual, mas
também pode ser auditiva) da informação percetível que se pode obter através
dos nossos órgãos sensoriais e ajudando-nos com recurso à gravação que na
atualidade, e devido ao rápido avanço dos recursos tecnológicos, é o meio
habitual de acesso à informação (Anguera & Hernández-Mendo., 2013).
45
No âmbito desportivo em geral, é interessante destacar que as formas
mais utilizadas para observar os eventos competitivos são aquelas que
possibilitam uma visualização global dos mesmos, sejam elas de forma
instantânea, pela presença física do analista em competição, ou de forma
retardada, uma vez decorrido um certo tempo desde a ocorrência do evento,
para o qual se recorre à ajuda de uma gravação em vídeo. No caso concreto do
treinador – analista do rendimento, ambas as formas deverão ser interpretadas
como complementárias para desenvolver o seu trabalho, sendo utilizadas
convenientemente em função dos interesses do observador (Vales, 2015).
Mas, primeiro é necessário perceber que o jogo de futebol tem uma lógica
e uma ordem que precisamos de entender para compreender a sua dinâmica.
O estudo do jogo de futebol tem progressivamente requisitado a utilização
da metodologia observacional uma vez que esta permite a deteção de
sequências comportamentais e, por conseguinte, consubstancia um maior grau
de coerência e de significado com o jogo, induzindo uma utilização mais efetiva
por treinadores e preparadores (Castellano & Hernández-Mendo, 1999 cit. por
Barreira, 2013).
Passando para o processo operacional, Ventura (2013) partilha a sua
visão relativamente às fases em que o processo se divide: a) Preparação (onde
se define o que se quer observar; como e onde se vai observar; quem vai
observar); b) recolha da informação / observação (reporta à observação
propriamente dita); c) análise da informação / planeamento (depois de recolhida
a informação, é analisada e usada para planear o microciclo semanal e para
analisar a performance dos jogadores).
46
Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013).
Sánchez (2015) divide o processo de trabalho do analista em 5 fases: a)
captação da informação necessária; b) classificação da informação obtida; c)
análise da informação; d) aplicação e desenvolvimento da metodologia de
análise; e) entrega do relatório técnico ou vídeo informativo.
Segundo Garganta (2001), o processo de recolha, coleção, tratamento e
análise dos dados obtidos a partir da observação do jogo, assume-se como um
aspeto cada vez mais importante na procura da otimização do rendimento dos
jogadores e das equipas. Neste sentido, através dos denominados sistemas de
observação, os especialistas procuram desenvolver instrumentos e métodos que
lhes permitam reunir informação substantiva sobre as partidas.
Nos primórdios as observações realizavam-se ao vivo, os registos dos
comportamentos dos atletas e das equipas eram realizados a partir da técnica
denominada “papel e lápis”, com recurso à notação manual. Embora esta fase
inicial se tivesse pautado por um forte pendor acumulacionista, à vontade de
coligir uma enorme quantidade de dados parciais, sucedeu a de elaborar
instrumentos de observação (Garganta, 2001). Mais recentemente, com a maior
profissionalização e com mais meios financeiros disponíveis e com a aplicação
da tecnologia ao serviço do desporto realizaram-se novas investigações, tendo
a informática substituído as técnicas manuais, sendo possível recolher mais
informação e de forma mais rápida.
47
Não obstante o recurso a meios sofisticados, a proliferação de bases de
dados não garante, por si só, o acesso a informação pertinente para treinadores
e investigadores. Para contornar este problema torna-se imprescindível dar um
sentido aos dados recolhidos, explorando-os de forma a garantirem o acesso à
informação considerada importante (Garganta, 1997).
Sampaio (1997) cit. por Ventura (2013) indica-nos que a observação é
sistematizada em três vertentes predominantes, sendo que cada uma destas
apresenta caraterísticas distintas, com vantagens evidentes para quem observa.
Essas vertentes dividem-se em: a) observação direta; b) observação indireta; c)
observação mista.
Segundo Contreras & Pino (2000), a observação direta possibilita uma
análise in loco do jogo, ou seja, o observador desloca-se ao local onde se realiza
a competição, onde os dados são recolhidos em direto. De acordo com Sampaio
(1997) cit. por Ventura (2013), este tipo de observação revela-se fundamental
sempre que o treinador pretenda não só ter o conhecimento da forma como a
equipa adversária atua, como também possuir um conhecimento mais detalhado
sobre alguns dos fatores inerentes ao ambiente onde se desenrola a competição,
por exemplo, as condições de iluminação, o tipo de piso ou as atitudes do
público.
Segundo Contreras & Pino (2000), a observação indireta diferencia-se da
anterior, na medida em que o observador não se encontra fisicamente no lugar
onde se está a desenvolver o jogo. Segundo Ventura (2013), na observação de
tipo indireta, o observador não se desloca ao local da competição, tendo
possibilidade de realizar a análise dos registos dos vídeos das competições. É
efetuada uma análise mais sistematizada dos sistemas táticos, quer ofensivos
quer defensivos, das equipas a observar e ao mesmo tempo das caraterísticas
individuais dos jogadores. Neste tipo de observação são utilizados meios
tecnológicos, como por exemplo o vídeo, o DVD, o computador e softwares
informáticos. A observação indireta possibilita ao treinador / observador
complementar a informação recolhida através da observação direta. Com a
análise do vídeo do jogo, podem ser recolhidos alguns dados que escaparam
durante a observação direta. O recurso ao vídeo possibilita também que seja
48
realizada uma montagem / edição de vídeo com partes selecionadas do jogo
para posteriormente mostrar aos jogadores.
Outro tipo de observação é a observação mista, que recorre ao uso dos
dois tipos de observação anteriormente citados. Utilizando as duas observações,
pode complementar-se a observação em si, tornando-a mais completa e fiável.
É o tipo de observação mais rigoroso e o que permite uma melhor identificação
das caraterísticas do adversário (Ventura, 2013).
Na atualidade, as crescentes necessidades informativas, que são exigidas
pelas equipas técnicas, junto com os importantes avanços no âmbito científico
impulsionaram o aparecimento de um renovado conceito de análise do jogo,
caraterizado por uma maior concretização e especificidade uma marcada
orientação prática e utilitária (Vales, 2015). Segundo o mesmo autor e de acordo
com esta perspetiva, a AJ podia ser definida como um processo consistente na
recolha e avaliação das condutas coletivas e individuais desenvolvidas pelas
equipas e jogadores durante os jogos, em que tratam de identificar certas
regularidades das mesmas, com o objetivo de reconhecer a estrutura
organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a eficácia
operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de relatórios
técnicos.
De um modo mais concreto, na literatura especializada sobre a AJ
(Carling, Williams & Reilly, 2005; Nevill, Atkinson & Hughes, 2008; etc), é
relativamente frequente encontrar interessantes classificações cujo objetivo é
apresentar de uma maneira resumida as principais transformações operadas no
processo metodológico da AJ em futebol, identificando-se quatro formas
fundamentais de análise: análise visual, análise notacional, análise baseada em
vídeo e análise baseada em tecnologia informática (Vales, 2015). Podemos
observar as quatro formas fundamentais de análise acima descritas, no quadro
4.
49
Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado de Vales, 2015).
Na literatura especializada sobre análise do rendimento em desportos
coletivos, observa-se claramente uma preocupação crescente entre os
especialistas para que se estude, a partir de diferentes perspetivas de análise
Formas Caraterísticas Limitações
Análise Visual
Supõe a forma mais antiga e básica de análise
de jogo em futebol.
Baseia-se unicamente na habilidade e
experiência observacional e memorística do
analista, investigador ou treinador
Representa um modo de
análise subjetivo, influenciado
pelos preconceitos e
perceções pessoais do
observador.
A fiabilidade das análises é
reduzida, devido à não
utilização dos meios e
métodos específicos para o
registo dos acontecimentos do
jogo.
Análise
Notacional
Supõe uma evolução sobre o procedimento
anterior, ao ser menos dependente da
capacidade memorística do observador.
Baseia-se na anotação em tempo real (“papel e
lápis”), dos acontecimentos básicos que se
sucedem durante os jogos para a sua revisão e
análise posterior
Igual ao que se verifica na
análise visual. O facto de, se
analisar o jogo em tempo real,
pode comprometer a
fiabilidade e a precisão da
informação registada
Análise
baseada em
vídeo
Baseia-se em uma análise de jogo a partir de
uma gravação prévia do jogo, em que há a
possibilidade de ver várias vezes os principais
eventos do jogo permitindo levar a cabo uma
análise mais objetiva, precisa e fiável por parte
do treinador e/ou investigador.
A gravação dos eventos do jogo, uma vez
categorizados e avaliados, supõe uma fonte
interessante de feedback para os jogadores.
Se o vídeo do jogo não estiver
previamente editado e
estruturado em diferentes
categorias de sequências-
eventos, supõe um meio pouco
flexível e linear, obrigando o
observador a ver partes do
jogo pouco interessantes e
irrelevantes.
Análise
baseada em
tecnologia
informática
Supõe uma forma mais avançada, precisa e
objetiva de analisar o jogo, permitindo obter
informação do mesmo, tanto de natureza
qualitativa como quantitativa.
Permite o armazenamento de grandes
quantidades de informação, assim como uma
fácil e ágil organização e recuperação da
mesma, por parte do treinador e/ou
investigador.
Baseia-se numa gravação digital do jogo e
numa posterior transmissão do mesmo para um
programa informático especificamente
configurado para analisar os principais fatores
que influenciam o rendimento manifestado por
uma equipa ou jogador.
Requer um processo, às vezes
árduo, de aprendizagem e
familiarização com o software
por parte do analista.
A máxima exploração dos
recursos que oferecem este
tipo de tecnologias dependerá
da capacidade e do “talento”
do treinador e/ou investigador
para analisar aspetos
realmente relevantes do jogo,
assim como para interpretar a
informação obtida de um modo
correto.
50
relativamente à natureza e conteúdo do jogo, com o fim de incrementar o
rendimento competitivo das equipas e de melhorar a pertinência dos modelos de
treino aplicados na atualidade (Vales, 2015).
Entende-se que a informação recolhida por técnicas de anotação manual
ou mais sofisticadas, como as que se baseiam em tecnologia de vídeo ou
programas informáticos especializados para a recolha e para o tratamento dos
dados, permite aos treinadores e investigadores terem um conhecimento mais
profundo daquilo que sucede durante os jogos, assim como dispor de uma base
sólida de informação quantitativa e qualitativa para identificar áreas de melhoria
no rendimento (Carling, Williams & Reilly, 2005).
Garganta (2008) entende que se justifica abrir espaço à “abordagem de
índole qualitativa” em que a observação dos comportamentos pressupõe um
movimento de aproximação para descortinar o que se apresenta para lá da
aparência do “apenas visto” ou do “já conhecido”. Tal implica passar da perceção
espontânea à perceção especializada, discriminando informação relevante, para
passar do “ver” ao “conhecer”. Como alguém disse, podemos enganar-nos a
procurar algo, mas não devemos enganar-nos em relação àquilo que
procuramos (Garganta, 2008).
No âmbito do rendimento desportivo em geral, o estudo do jogo a partir
da observação do comportamento dos jogadores e das equipas não é algo
recente, havendo aparecido como produto da necessidade de incrementar o
grau de conhecimento sobre o jogo e nível de especificidade na hora de
implementar metodologias de treino cada vez mais congruentes com a realidade
analisada (Vales, 2015).
Com o objetivo de potenciar o rendimento dos jogadores e das equipas,
os clubes e treinadores podem atualmente contar com uma área, denominada
de observação e AJ, no âmbito do conhecimento da própria equipa, e do
conhecimento da equipa adversária, contemplando para isso, nas equipas
técnicas, intervenientes especializados denominados de analistas de jogo. A
necessidade de obter informação qualificada sobre o jogo, aumentando a
assertividade na intervenção do mesmo, provocou o aparecimento de um
departamento especializado numa análise multidimensional, na avaliação do
51
comportamento competitivo manifestado pelas equipas e pelos jogadores
durante os jogos (Vales, 2015).
Carling (2005) cit. por Vales (2015), indicou que as primeiras tentativas
sérias para a análise dos eventos e acontecimentos que ocorrem durante os
jogos, realizam-se nos finais da década de 50, usando sistemas de anotação
manual para registar informação geralmente relacionada com a codificação da
atividade desenvolvida pelos jogadores em torno da bola, a partir da anotação
do tipo de ação executada (o quê?), do protagonista da mesma (quem?), do lugar
e momento em que ocorreu (onde? e quando?), e finalmente, da efetividade da
mesma (positiva? ou negativa?).
A análise do jogo deve permitir descrever a performance realizada em
contexto de jogo, codificando ações individuais, grupais ou coletivas, de modo a
sintetizar informação relevante para transformar, positivamente, o processo de
aprendizagem/treino (Carling et al., 2005). A performance nos jogos desportivos
é difícil de analisar e avaliar, muito particularmente nos jogos desportivos
coletivo, pois trata-se não apenas de quantificar comportamentos, mas
sobretudo de os qualificar (Garganta, 2008).
Segundo Garganta (2008), nos últimos anos tem-se assistido a uma
profusão de alternativas para analisar a prestação desportiva dos jogadores e
das equipas nos jogos desportivos, constatando-se que os autores vêm
recorrendo a estratégias diferenciadas, tais como a análise das denominadas
unidades de competição, a análise sequencial (Castellano, 2000; Prudente,
2006), a análise de unidades táticas/sequências de jogo (Garganta, 1997), a
análise de coordenadas polares (Prudente, 2006) e a análise de padrões
temporais (Borrie et al., 2002).
Mais recentemente, Perl (2004) cit. por Garganta (2008), apresentou
propostas e estudos baseados em redes neurais, partindo do pressuposto que a
performance desportiva pode ser descrita a partir da identificação de séries de
padrões espaciais e temporais que caraterizam situações (posições no terreno
de jogo), bem como de atividades (movimentos e tarefas dos jogadores).
Segundo Garganta (2001), os investigadores, com o intuito de proceder à
caraterização da atividade desenvolvida pelos jogadores e as equipas durante
52
as partidas, focalizaram, inicialmente, os seus estudos na atividade física
imposta aos jogadores, nomeadamente no que respeita às distâncias
percorridas.
O direcionamento das linhas de investigação foi ampliando o seu campo
de análise, evoluindo para a denominada análise do tempo-movimento, através
da qual se procura identificar detalhadamente, o número, tipo e frequências das
tarefas motoras realizadas pelos jogadores ao longo do jogo (Garganta, 2001).
A análise das habilidades técnicas tem sido outro dos campos explorados
na análise do jogo, contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos
resultados provenientes de estudos quantitativos, centrados nas ações técnicas
individuais levaram os analistas a questionar a pouca relevância contextual dos
dados recolhidos e a duvidar da sua pertinência e utilidade. Esta questão fez
sobressair a necessidade de se considerar a dimensão técnica em relação com
os condicionalismos táticos (Garganta, 2001).
A consciência de que a expressão tática assume uma importância capital
nos jogos desportivos (Garganta, 2001), fez com que a partir da segunda metade
da década de oitenta, a identificação de regularidades reveladas pelos jogadores
e pelas equipas, no quadro das ações coletivas, tivesse despontado enquanto
nova tendência de investigação (Garganta, 1997). Uma das tendências que se
perfilam prende-se com a deteção de padrões de jogo, a partir das ações de jogo
mais representativas, ou críticas, com o intuito de perceber os fatores que
induzem perturbação ou desequilíbrio no balanço ataque/defesa (Garganta,
2001).
3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis
para a caraterização do jogo e das equipas
A natureza dinâmica do jogo de Futebol é suscetível de acarretar uma
incompleta e imprecisa recolha e análise de diversos indicadores inerentes ao
jogo, dado que os observadores se encontram impossibilitados de ver e assimilar
a totalidade das ações que ocorrem no terreno de jogo (Carling & Court, 2013
cit. por Barreira, 2013). No sentido de ultrapassar esta limitação, a observação
53
sistemática e a AJ permitem descrever a performance evidenciada nas partidas
e propiciar o acesso à informação relevante acerca do confronto desportivo, em
vários âmbitos da performance como o físico, o técnico e o tático (Carling &
Court, 2013 cit. por Barreira, 2013).
Através da observação sistemática e da AJ procura-se uma aproximação
ao objeto que se pretende conhecer (Contreras & Pino, 2000 cit. por Barreira,
2013), o que requer lentes potentes e refinadas que possam, também, auxiliar
na modelação ou no prognóstico de tendências (Garganta, 2008).
A verdade é que o estudo do futebol é influenciado pelas várias áreas do
conhecimento. Suportado pelas palavras de Bangsbo cit. por Strudwick (2016)
refere que o futebol não é ciência, mas que a ciência pode melhorar o nível do
futebol. Também o filósofo Manuel Sérgio, no seu livro “Filosofia do Futebol”,
escreve que “quem só percebe de futebol, nada sabe de futebol”. Assim,
constatamos o contributo das várias áreas do saber para ajudar a explicar o jogo
de futebol.
Porém, estas perspetivas teóricas têm dado maior ênfase aos
comportamentos avulsos e ao produto do desempenho, em detrimento de uma
focagem nos processos que conduzem a determinados desfechos e que podem
levar à compreensão holística do jogo (Garganta, 2001 cit. por Barreira, 2013).
Torna-se assim imprescindível que, antecipadamente, os agentes do jogo
estejam identificados com padrões ou configurações típicos, resultantes das
interações dos jogadores e das equipas (Garganta, 2005 cit. por Barreira, 2013).
Assim, na ótica de Garganta (2013) cit. por Barreira (2013), o maior
desafio para observadores e investigadores em desporto passa por descortinar
o modo como as equipas geram e gerem os respetivos comportamentos, isto é,
qual a gramática da ação que cada equipa ou conjunto de equipas, numa ou em
várias competições, tende a operacionalizar, configurando padrões que, com
probabilidade superior ao acaso, induzem performances desportivas de sucesso.
Daí a importância que os eventos táticos que ocorrem durante as partidas de
futebol sejam apreendidos na sua globalidade, embora sem que se perca de
vista o impacto que as ações realizadas individual e localmente têm na
expressão da totalidade que o jogo representa.
54
Recorrendo à metodologia observacional, descrita no capítulo anterior,
pode observar-se os comportamentos das equipas e dos jogadores em treino e
em competição. O objetivo será identificar padrões de conduta, considerando os
objetivos perseguidos.
Centrámo-nos naqueles aspetos mais relevantes e que o analista tem que
ter em conta, para que o seu trabalho se aproxime da realidade. Portanto, é
importante que o analista tenha capacidade de perceção, isto é, ver através do
seu sentido da visão. É importante que consiga interpretar, traduzindo para o
pensamento aquilo que está a ver e por último, precisa de um conhecimento
prévio sobre aquilo que vê, já que o analista tem de conhecer o desporto que
analisa, caso contrário não será capaz de interpretar os diferentes conceitos,
assim como apresentá-los de uma forma compreensível à equipa técnica
(Pedreño, 2018).
De acordo com a impressão popular a ação do jogo no futebol é caótica,
contudo uma atenção mais cuidada permite considerar que cada equipa constitui
um sistema social numa escala pequena cujos componentes se relacionam
através de interações motoras ordenadas e estáveis (Lago & Anguera, 2003).
Ventura (2013) considera que o principal objetivo da observação e AJ é
obter informação pormenorizada e de qualidade, do funcionamento competitivo
da sua equipa, dos seus jogadores e dos adversários, com a finalidade de
controlar e operacionalizar o processo de treino, permitindo uma avaliação
acerca do processo desenvolvido em conjunto com os jogadores a nível
individual e coletivo.
De acordo com Garganta (1997), a análise da performance em futebol, a
partir da AJ, permite: a) interpretar a organização e as ações que concorrem para
a qualidade do jogo; b) planificar e organizar o treino, tornando os seus
conteúdos mais específicos; c) estabelecer planos táticos adequados face ao
adversário a defrontar; d) regular a aprendizagem e o treino.
Caixinha, entrevistado por (Ventura, 2013), defende que “os treinadores e
respetivas equipas técnicas esforçam-se por desenvolver um trabalho exaustivo
de caraterização das suas equipas e respetivos adversários, tendo como objetivo
controlar e conhecer o maior número possível de variáveis que possam
55
influenciar o rendimento desportivo”. Também no livro “Observar para ganhar”
de Ventura (2013) está um testemunho do treinador Sérgio Conceição: “Desde
sempre, e hoje em dia cada vez com maior insistência, as situações que
acontecem durante um jogo de futebol e os pormenores que podem levar ao
desequilíbrio de alguma equipa, parecem influenciar a vitória ou a derrota nesse
mesmo jogo. Neste sentido, o treinador procura cada vez mais, ter um
conhecimento profundo sobre a própria equipa e sobre a equipa adversária, de
forma a durante a semana trabalhar a equipa da melhor maneira para que no dia
do jogo esteja mais preparada para alcançar o nosso objetivo, ou seja, a vitória.
Parece então de extrema importância, o treinador rodear-se de uma boa equipa
de scouting, que lhe forneça informações pertinentes nessas vertentes, para que
este possa potenciar todo o seu trabalho.”
3.5. Conceptualização
Scouting
Antes de se abordar o scouting como uma prática e um processo, parece
pertinente deixar claro o significado objetivo da expressão. Entendido de um
modo generalista, pode dizer-se que se trata do “ato ou efeito de observar;
consideração atenta de um facto para o conhecer melhor”. Salta à vista a ideia
de que se trata de um processo que envolve uma observação de algo, tendo
como objetivo conhecer mais pormenores sobre esse facto (Ventura, 2013).
Para Pedreño (2018) o Scouting é um processo desempenhado pelos
analistas que permite recolher informações e manipular os dados de diferentes
parâmetros, obtidos durante os jogos e durante os treinos da própria equipa, da
equipa adversária ou de jogadores, mediante utilização de ferramentas
específicas para posterior elaboração de um plano de atuação.
Para Sanchez (2015), a figura de scouting está mais orientada para a
deteção de jogadores e posterior captação. A análise está mais desenvolvida e
é mais uma função dos analistas táticos e pessoal destes departamentos que
centram o seu trabalho no acompanhamento e posterior análise de adversários
e das próprias equipas. Segundo o mesmo autor, o scouting realiza-se sobre
uma perspetiva de análise individual dos jogadores e realiza-se pelos
56
denominados scouters. Para este autor, generalizar, considerando o scouting
tudo e todos os que têm relação com a análise é um erro, pois o scouting realiza-
se sobre os jogadores a nível individual e pelos scouters que não são outras
pessoas que os antigos olheiros.
Ventura (2013) refere que o scouting não serve só para observar e
analisar as equipas adversárias. Também existe o trabalho de scouting no que
respeita à análise individual de jogadores e na análise comportamental dos
árbitros. Silva (2006), reforça isto mesmo, afirmando que os treinadores
consideram o scouting importante para selecionar e recrutar jogadores para as
suas equipas.
Desta forma podemos ficar a entender a complementaridade das
diferentes missões e as diferenças entre funções. Para uns o scouting representa
tudo e é depois subdividido. Para outros scouting e análise moram em lados
distintos.
Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura (2013), adaptado por Pereira (2017).
Scouter e Analista
O analista do jogo, o “scouter” ou ainda o gabinete de scouting possuem
no futebol dos dias de hoje, uma presença indispensável nas equipas técnicas
cujos objetivos passam pela necessidade de render ao alto nível (Ventura, 2013).
O mesmo autor, após entrevistar um conjunto de treinadores portugueses,
escreve dizendo que a observação e análise do jogo é um dado importante e
que deve ser utilizado pelo treinador no seu trabalho de preparação da equipa.
57
Garganta entrevistado por Pedreño (2018) explica que o scouting, “numa
primeira fase era utilizado como um processo de ir espiar, observar e explorar
dados sobre o adversário. Mas scouting, se formos à raiz da palavra, tem a ver
com ir buscar pistas, pistas que vão permitir tomar as decisões mais adequadas
para treinar e jogar. Depois, como vamos operacionalizar o nosso modelo ou
conceção de jogo, mas também tendo em conta quem vamos enfrentar. Assim,
quando se restringe o termo de análise do adversário, é uma forma de
reducionismo também, porque para mim Scouting é tudo o que tenha que ver
com aquilo que podes buscar, para melhorar o teu processo de treino, a tua
tomada de decisões e o teu rendimento nos jogos”.
Segundo Pedreño (2018) o analista é o profissional responsável por
funções relacionadas com a análise da própria equipa e também da equipa
adversária e trabalha com uma metodologia de trabalho definida. Já, o scouter é
a pessoa responsável pela análise individual de jogadores, pelo conhecimento
do mercado e edição de relatórios para o diretor desportivo e para o treinador.
Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), explica que as pessoas que
se dedicam à análise utilizam três termos: “Game analysis”, para referir-se à
análise de jogo em geral, “Match analysis”, que se trata da análise da competição
e, “notational analysis”, que é algo mais ligado ao registo de dados. Para
Garganta, entende mais o analista enquanto um interpretador, o observador do
jogo e dos treinos e deve ser muito competente no registo não só de dados mas
também saber interpretar essa informação ao longo da temporada para
encontrar padrões, sejam eles positivos ou negativos, quer da nossa equipa
como das equipas adversárias.
Segundo o mesmo autor, o analista deve:
Possuir conhecimento de Futebol em todos os seus níveis: tática, técnica,
psicológica, metodologia, preparação física e sociologia;
Deve ser conhecedor da categoria em que compete a equipa e dos
jogadores adversários;
Possuir conhecimento do plantel, características técnico-táticas e
psicológicas dos futebolistas;
58
Ser consciente do modelo de jogo pretendido pelo treinador principal. O
trabalho de analista deve estar sujeito ao treinador e à aquisição e
regeneração do modelo de jogo da equipa;
Ter a capacidade para utilizar corretamente os meios tecnológicos:
câmara de vídeo, software informático especifico de AJ, aplicações de
edição de vídeo, etc.;
Ser um bom comunicador, o que permitirá que as suas informações
cheguem com clareza ao corpo técnico;
Ter capacidade e conhecimentos suficientes para participar na criação da
estratégia operativa propondo tarefas e soluções à equipa técnica para
contrariar e superar os pontos fortes e débeis do adversário;
Ter capacidade para quantificar estatísticas, contextualizando sempre
com o modelo de jogo, ou seja, contrastar informação quantitativa com a
informação qualitativa;
Ser uma pessoa regular no trabalho, renovar conhecimentos e estar
sempre aberto a novas mudanças à sua volta;
Ser consciente de que o seu trabalho surge em função do treinador e da
equipa. Ou seja, está intrínseco ao treinador;
Ter consciência de que analisar não supõe apenas criticar, mas também
reforçar comportamentos desejados junto dos jogadores.
Sanchez (2015) considera que o analista é um profissional capaz de
identificar padrões que estruturam os modelos de jogo, pontos fracos e pontos
fortes de cada equipa. Já Vales (2015) refere que o observador deve ter um perfil
semelhante ao de um treinador, com importantes conhecimentos e experiência
no treino de equipa e análise tática do jogo, assim como uma elevada
capacidade para manusear softwares informáticos. Acrescenta ainda que de
uma forma resumida o observador pode ser definido por “uma pessoa
especialista em futebol, com conhecimento e experiência no manuseamento de
certos recursos tecnológicos”.
O treinador Marcelino García Toral entrevistado por Pedreño (2018)
explica: “não tenho dúvidas que o analista tático deve ser uma pessoa com
conhecimentos do desporto que analisa. Mas mais que isso, deve ser consciente
59
de qual o seu papel e ter a capacidade de adaptar-se às exigências do treinador
e ao modelo de jogo que impera na sua equipa, saber em que aspetos deve focar
a sua atenção e saber utilizar os programas informáticos que normalmente o
clube disponibiliza para fazer o seu trabalho, no menor tempo e com a maior
eficácia possíveis”.
No entanto, é preciso salientar que a observação não é um dom natural.
Como foi escrito nos capítulos anteriores, para ver é preciso ter um
conhecimento prévio, uma compreensão acerca daquilo que vamos observar.
Por isso, o observador terá de ser uma pessoa altamente qualificada, com um
grande conhecimento, para poder identificar acontecimentos relevantes.
No seguimento, Pedreño (2018), afirma que o trabalho desenvolvido pelo
scouter traz as seguintes vantagens: a) conhecimento do mercado de jogadores;
b) análise e avaliação de jogadores para possível incorporação; c) edição de
relatórios para apresentar ao treinador, diretor desportivo e coordenador da
formação do clube;
Segundo Pereira (2017), existem ainda outros dois intervenientes com
preponderância na observação e na AJ sendo eles o investigador que procura
analisar o jogo com a finalidade de construir modelos gerais explicativos do
rendimento competitivo tendo como base a identificação, hierarquização e
caracterização dos distintos fatores que o determinam e o treinador que procura
construir um modelo que permita caraterizar a própria equipa, a equipa
adversária e os jogadores identificando padrões, aspetos fortes e fracos quanto
ao jogo das equipas.
Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores
Relativamente ao domínio do recrutamento e à prospeção de jogadores,
tem se como objetivo a prospeção de mercado no que respeita à seleção e
deteção de talentos. Hoje em dia, é habitual os clubes terem nos seus quadros
técnicos, pessoas qualificadas que têm por missão observar e identificar talentos
que possam vir a interessar ao clube. Esta tarefa de prospeção é feita para a
equipa principal, e aos poucos, os clubes começaram a alargar também às suas
equipas dos escalões de formação (Ventura, 2013). O mesmo autor refere que,
60
atualmente, os clubes procuram, cada vez mais cedo, detetar os potenciais
talentos e anteciparem-se à concorrência. Este processo de recrutamento não
se resume apenas ao país em que o clube se encontra, uma vez que é alargada
ao resto do Mundo.
Os clubes definem criteriosamente todos os aspetos em que os atletas
observados se devem enquadrar, quer a nível físico, técnico, tático, psicológico
e social (Ventura, 2013). O mesmo autor escreve-nos o testemunho de
Adriaanse (2006), quando este refere que a prospeção deve ser realizada de
acordo com o modelo de jogo adotado pelo treinador, para que os jogadores que
possam vir a ser contratados pelo clube apresentem caraterísticas que se
enquadrem nesse modelo de jogo. Também Paulo Bento, quando entrevistado
por Ventura (2013), explica: “na prospeção, eu vou à procura de jogadores para
a minha forma de jogar. Tenho definido os elementos que acho necessário para
ir à procura desses jogadores, ou seja, em termos técnicos, táticos, físicos e
psicológicos”.
Para Pedreño (2018), o scouting de jogadores individuais é muito
importante, tanto ao nível dos escalões de formação como no alto rendimento.
No alto rendimento, é necessário prever que necessidades pode ter a equipa
para encarar o futuro, e ir moldando os plantéis com base nas necessidades do
clube e do treinador. Para o treinador é necessário ter uma boa base de dados
de jogadores, para que em qualquer momento se busque um jogador com
determinadas caraterísticas.
Observação e Análise da equipa adversária e da própria
equipa
Face à necessidade de melhor se perceber os constrangimentos que
promovem o sucesso desportivo, a observação e análise da performance, e
particularmente a análise do jogo, é reconhecidamente, uma valência com
aplicações fecundas no quadro dos jogos desportivos (Garganta, 2008).
61
Nos últimos anos, com a aplicação de diversos recursos tecnológicos no
âmbito do desporto de alto rendimento, o trabalho de AJ ganhou popularidade e
reconhecimento entre os treinadores de elite (Vales, 2015).
O scouting como observação das equipas adversárias serve para analisar
as caraterísticas dessas equipas, tentando identificar padrões de conduta
coletivos, que possam ajudar o treinador a preparar da melhor forma o jogo.
Quanto maior for o conhecimento do adversário, mais fácil e mais eficaz se torna
o trabalho para o treinador (Ventura, 2013).
Neste âmbito, o scouting, segundo Vales (2015), entende-se como a
função desenvolvida por uma parte do organigrama técnico do clube, com a
responsabilidade de estabelecer um reconhecimento prévio das caraterísticas
do jogo de determinadas equipas ou jogadores adversários. O scouting centra a
sua atenção nas equipas adversárias contra as quais se terá que competir no
futuro, com a ideia de se tentar encontrar possíveis regularidades nos seus
comportamentos desportivos, que nos permitam antecipar planos tático-
estratégicos com o fim de competir com o máximo de garantias de êxito
desportivo. Assim, para que os relatórios técnicos relativos à AJ da equipa
adversária surtam os efeitos desejados, será necessário considerar que a
informação que conste nos mesmos seja a mais detalhada possível,
descrevendo as caraterísticas principais do seu jogo, tanto a nível coletivo como
individual, assim como as situações do jogo em que estas se manifestam com
uma maior claridade.
Segundo Pedreño (2018), o trabalho que o analista pode desenvolver
sobre a equipa adversária abrange os seguintes items:
Análise da dinâmica de jogo da equipa adversária (quatro momentos de
jogo e ações de bola parada);
Avaliação e recolha de informação do plantel;
Análise do sistema de jogo mais utilizado, suas variantes e as
caraterísticas que o definem;
Organização por linhas (comportamentos padrão intersectorial e
intrassectorial);
Detetar pontos débeis e pontos fortes;
62
Criação de um plano estratégico semanal, estratégia operativa;
Analisar possíveis condicionantes externas na disputa do jogo (terreno de
jogo, público, meteorologia);
Edição de vídeos, animações e apresentação de um vídeo sobre o
adversário a todo o plantel.
Contudo, Lago (2009) refere que o alvo principal da AJ é identificar as
forças da sua equipa, forças essas que podem ser desenvolvidas. Ao mesmo
tempo, as suas fraquezas devem ser trabalhadas e colmatadas.
O ex selecionador nacional e também treinador do Sporting Clube de
Portugal, Paulo Bento, entrevistado por Ventura (2013), refere que a AJ deve ser
algo que se faz, seja em relação à própria equipa, seja em relação ao próprio
adversário, de uma forma permanente.
Pedreño (2018) explica que “se queres jogar como treinas, tens de
conhecer como jogas e como jogam as equipas adversárias, para treinar com
base nisso e estar melhor preparado para a competição”.
Segundo Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), a mudança
produzida na forma de ver e perspetivar o treino, e que depois teve repercussões
no jogo, contribuiu de alguma forma para que a figura do analista ganhasse
importância. Quando começamos a entender que o treino do futebol deve ser,
treinar ideias para jogar futebol, a necessidade de ver se as ideias com que
treinamos e jogamos são coerentes e congruentes com as que definimos no
início do processo, é cada vez maior, e então ganha importância a figura do
analista como interpretador. O mesmo autor, entrevistado por Pedreño (2018)
explica que fez análise das equipas adversárias, mas o mais importante era
perceber como queríamos jogar. A preocupação é tentar mapear o jogo,
tentando definir as caraterísticas em organização ofensiva, defensiva, transições
e bolas paradas. Isto é feito por toda a gente. Mas, o que consideramos
importante é ir buscar subindicadores específicos da nossa forma de jogar e da
forma de jogar do adversário, que nos permita tomar decisões para que
possamos jogar como queremos.
Nós entendemos que estar bem informado acerca das forças e fraquezas
adversárias é extremamente importante. Mas antes de olhar para fora, devemos
63
olhar para dentro e perceber o que estamos a fazer corretamente e
incorretamente. Depois de identificadas as nossas potencialidades e as nossas
debilidades então entendemos que devemos começar a procurar saber o que se
passa no nosso oponente, no sentido de prepararmos um plano para conseguir
neutralizá-los e em simultâneo para conseguir explorar os seus pontos fracos.
Emery cit. por Pedreño (2018) sugere: “Há que ter sempre em conta o
nosso adversário, já que esse rival pode condicionar em um dado momento o
teu estilo e a tua personalidade. Em 70% queremos ser nós e em 30% temos
que adaptar-nos aquilo que a equipa adversária nos pode oferecer. Mas entendo
e entendemos o futebol como um todo”.
Já Toral, entrevistado por Pedreño (2018) afirma: “Bem, uma coisa é
conhecer o adversário e outra muito distinta é adaptar-se a ele. Eu acredito que
a equipa deve ter o seu estilo próprio, seus próprios conceitos tanto a nível
ofensivo como defensivo e deve ter muito em conta qual o adversário que
enfrenta. Nesse sentido, nós consideramos importantíssimo a análise do
adversário e saber como defende e como ataque, onde vemos que é vulnerável
e onde acreditamos que é potente, para que nós, desde os nossos próprios
conceitos apliquemos os detalhes que nos permitam contrariar o adversário. Não
mudamos a nossa ideia geral de jogo, não mudamos o nosso sistema, mas
incidimos mais em aqueles aspetos do jogo que acreditamos que nos podem
ajudar a fazer dano no rival, por exemplo, se jogamos contra uma equipa que
defende mal as situações longe da baliza decidimos incidir mais em transições,
se o adversário nos cria muitos problemas pelas alas, buscamos soluções para
contrariar isso, não mudamos marcações, nem fazemos grandes mudanças
sobre a nossa organização”.
Segundo Pedreño (2018), o trabalho desenvolvido junto da própria equipa
traz as seguintes vantagens:
Analisar comportamentos táticos da equipa e análise da competição. O
objetivo é a busca de possíveis pontos fortes e débeis, para potenciar tudo
aquilo que fizemos bem construindo e reconstruindo o nosso modelo de
jogo e minimizar aqueles aspetos que fazem a equipa vulnerável;
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Avaliação e análise do rendimento físico, técnico e tático da equipa ou de
jogadores em concreto;
Analisar atitudes psicológicas, tanto individuais como coletivas, para
colocá-las à disposição da equipa técnica e até, em algumas situações,
editar vídeos com a ajuda de um especialista para motivar ou trabalhar
diferentes aspetos psicológicos do futebolista;
Análise dos treinos para avaliar o rendimento e atitudes da equipa, e
autoavaliar as tarefas da equipa técnica.
Depois de recolhidas informações sobre o adversário e feitas as análises
da própria equipa e da equipa adversária, passamos a um plano operativo. De
acordo com Pedreño (2018), a estratégia operativa ou plano estratégico deve
ter: a) informação sobre o modelo de jogo predominante; b) pontos fortes e
pontos débeis do adversário; c) análise da própria equipa; d) ações de bola
parada do adversário, tanto ofensivas como defensivas; e) plano estratégico a
desenvolver; f) desenho da semana de treino.
Estratégia e Tática
No futebol, os pressupostos organizativos da competição determinam
que, os jogadores estejam agrupados em duas equipas numa relação de
adversidade, denominada de rivalidade desportiva. O objetivo central das duas
equipas é de lutarem pela conquista da posse da bola, com o intuito de a
introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e, evitá-los na sua
própria baliza, com vista à obtenção da vitória. Durante o confronto, os jogadores
defrontam-se de forma direta e deliberada, procurando que as suas ações e
inter-ações prejudiquem, a todo o instante os adversários e, concomitantemente
evitando serem prejudicados por estes. Nesta perspetiva, a aproximação mais
importante para se desvendar e compreender a lógica do jogo, deriva da análise
dos aspetos inerentes às diferentes contextualidades situacionais que a cada
momento do jogo emergem. A constante variação situacional observada é
proporcionada por decisões e ações motoras desenvolvidas numa dinâmica de
ordem estratégica e tática. (Castelo, 2009).
65
Segundo Castelo (2009), partindo desta perspetiva, o primeiro problema
que se coloca no jogo de futebol é, de natureza percetiva (informação) com
caráter: a) estratégico, na medida que refere os propósitos e os objetivos gerais
da equipa, como corpo coletivo numa dada competição; b) tático, solicitando
intervenções imediatas e prementes para cada instante do jogo, a partir das
quais, se influencia a emergência de novas configurações dinâmicas.
Garganta (1997) já havia dito que, no caso do futebol, apesar da
dificuldade em determinar quais são os fatores de rendimento que têm um maior
protagonismo na prestação individual e coletiva na competição, observa-se um
maior consenso entre os especialistas, destacando a dimensão tático
estratégica, ocupando esta o núcleo central do rendimento.
Vales (2015) explica que este protagonismo dado à dimensão tático
estratégica justifica-se se atendermos, por um lado, ao caráter situacional e
aberto dos distintos episódios do jogo, em que os jogadores implicados deverão
desenvolver uma importante atividade cognitiva e estratégica orientada
fundamentalmente para facilitar uma correta e inteligente adaptação às
situações mutáveis do mesmo. Por outro lado, a importância da faceta tático
estratégica do jogo também se justifica se contemplarmos este fator de
rendimento como um elemento que coordena e aglutina os esforços e
capacidades individuais dos jogadores que formam uma equipa, orientadas a
tentar combater e neutralizar as ações desenvolvidas pela equipa adversária na
busca do êxito.
O futebol, enquanto jogo desportivo coletivo em que existe cooperação e
oposição exige uma permanente interação entre os jogadores. As equipas, a
partir desta interação entre jogadores, comportam-se de forma dinâmica, sendo
possível identificar alguns padrões de ação quer individuais, quer coletivos. Para
além de tudo isto, no jogo verifica-se ainda a predominância de julgamentos e
decisões, efetuadas em função de um contexto instável e incerto. Assim, importa
desenvolver competências que valorizam as capacidades cognitivas que
orientam a tomada de decisão, julgando que o sucesso ou insucesso em cada
ação individual ou coletiva são determinados em grande parte pela adequação
ou não às circunstâncias do momento.
66
Tal como refere Garganta (2006), “o que faz o jogo é a transformação da
causalidade em casualidade, ou seja, aproveitar o momento; e quem ensina a
aproveitar o momento são a estratégia e a tática”.
Os conceitos de estratégia e de tática, não pertencendo exclusivamente
ao universo do desporto, têm a sua origem em fenómenos sociais que se
caraterizam pela conflitualidade de interesses e objetivos. Vemos muitas vezes
estes termos referidos em áreas de atividade humana como a política, a
economia e o meio empresarial, tendo sido, na arte e na ciência militar que mais
profusamente se desenvolveram (Garganta, 1997).
Na relação entre estratégia e tática existe uma distinção enquadrada
temporalmente, sendo que a estratégia se encontra associada com processos
cognitivos mais elaborados, uma vez que a mesma sofre um processo reflexivo
sem constrangimento de tempo, enquanto por outro lado a tática é distinguida
pela sua operacionalização sob constrangimentos temporais (Gréhaigne, 1999).
Também Riera (1995) cit. por Garganta (1997) afirma que a estratégia
representa o que está previsto antecipadamente, enquanto a tática é a
adaptação instantânea da estratégia às configurações do jogo e à circulação da
bola, logo à oposição. A tática constrói-se no decurso da ação modificando,
segundo os determinismos e as variações do contexto, a perceção da
informação ou a conduta.
Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) concluiu que existem três
características principais que são outorgadas à estratégia: a) a intenção de
conquistar o objetivo principal – é variável em função das características da
competição (obtenção de uma medalha, não descer de divisão, etc.); b) a
planificação prévia da atuação a curto, médio e longo prazo – o treinador ou o
atleta planeiam as suas atividades tendo em conta a sua carreira, a época
desportiva ou a competição seguinte, por exemplo; c) a abordagem da totalidade
dos aspetos que exercem influência – a planificação estratégica deve incluir
todos os elementos relevantes que influenciam o rendimento desportivo (e.g.,
seleção de jogadores, tipo de treino, alimentação).
Por sua vez, Garganta (1997), considera que, no conceito de tática
vincam-se três aspetos característicos: a sua ligação ao jogo, isto é, ao contacto
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direto entre os opositores e os companheiros; o seu carácter de execução para
tornar operativa a estratégia, à qual cabe a conceção e direção; e a sua estreita
dependência da estratégia. Castelo (1994) cit. por Sarmento (2012) acrescenta
ainda que a tática consubstancia a base de resolução dos problemas
metodológicos que surgem no terreno do jogo, constituindo-se por todos os
conhecimentos suscetíveis de darem uma determinada orientação às diferentes
ações (individuais/coletivas, ofensivas/defensivas) da equipa relativamente à
realização dos objetivos pré-definidos.
Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) afirma que nos desportos de
oposição, a tática representa o fator que estabelece o elo entre a estratégia e a
técnica desportiva. O autor apresenta três expressões que contribuem para a
definição do conceito de tática: a) objetivo parcial – na tática caraterizam-se por
serem objetivos imediatos e limitados, mas balizados pelo objetivo principal e
estratégico (e.g., driblar o adversário, ganhar a posse da bola); b) combate - a
essência da tática é a luta, o combate. As decisões são imediatas, uma vez que
dependem das situações e intenções constantemente alteráveis do(s)
oponente(s) e do(s) companheiro(s). A rapidez é essencial para vencer o
combate, pelo que a previsão, a antecipação e a intuição acerca do
comportamento do adversário assumem uma importância vital neste contexto; c)
oponente – a atuação tática é determinada, em grande parte, pela atuação do
adversário, de modo que se devem ter em conta os fatores vincados à atuação
do adversário e sua situação temporal no espaço, numa perspetiva antagonista
(e.g., tempo que falta, número de cartões, resultado atual, zona do terreno de
jogo).
Garganta (1997) e depois mais tarde Sarmento (2012) destacam alguns
aspetos essenciais que consideram passíveis de delimitar a noção de tática: a)
o conceito de tática expressa os níveis de relação intra equipa segundo os quais
se pode desenvolver – a tática individual e a tática coletiva; b) o conceito de tática
é referido como possuindo uma dimensão espácio-temporal de realização,
traduzida pela sua subordinação à estratégia e pelos constrangimentos espácio-
temporais das ações de jogo; c) a tática não traduz, apenas, uma organização
das variáveis físicas (tempo e espaço) do jogo mas implica também, e sobretudo,
68
uma organização informacional, pelo que nos jogos desportivos coletivos não
devem ser consideradas, somente, as distâncias métricas, mas também o
espaço de interação e a componente decisional; d) o conceito de tática
transcende as missões e tarefas específicas de cada jogador e pressupõe a
existência de uma conceção unitária da equipa para tornar o jogo mais eficaz; e)
A cultura tática constitui um guia de escolhas na ação, referenciado ao conjunto
de valores e perceções que decorrem do corpo de significações criado
(princípios, regras e modelos de jogo).
No contexto desportivo, a estratégia e a tática são conceitos que
caminham lado a lado, e de tal modo que podemos constatar uma utilização,
cada vez mais frequente, destes dois termos em justaposição, falando-se da
componente estratégico-tática (Garganta, 1997)
De acordo com o mesmo autor, estas duas dimensões não dependem do
livre arbítrio. Sendo a tática a aplicação da estratégia às condições específicas
do confronto, no decurso do jogo aquela dimensão exprime-se através de
comportamentos observáveis, que decorrem de um processo decisional
metódico regulado por normas, que pressupõem conhecimento, informação e
decisão (Garganta, 1997).
O nosso entendimento é suportado também na ideia de Gréhaigne (1992)
cit. por Sarmento (2012), que considera que a estratégia representa o que está
previsto antecipadamente enquanto a tática é a adaptação instantânea da
estratégia às configurações do jogo.
Garganta (1997) destaca que a essencialidade estratégico-tática do
futebol decorre a partir de um quadro de referências que contempla: a) o tipo de
relação de forças (conflitualidade) entre os efetivos que se confrontam, ou seja,
entre as equipas; b) a variabilidade, a imprevisibilidade e aleatoriedade do
contexto em que as ações de jogo decorrem; c) as caraterísticas das habilidades
motoras, que os futebolistas utilizam, para agir num contexto específico.
Modelo de jogo
Apesar de entendermos que a análise de jogo dos adversários seja
importante e nos dê um contributo importante para reduzirmos a
69
imprevisibilidade e para evitarmos ser surpreendidos, entendemos que se deve
atribuir maior importância à análise de jogo da própria equipa. Assim, faz sentido
haver uma maior preocupação com o nosso modelo de jogo, com o nosso “jogar”.
Segundo Queiroz (1986) cit. por Pimenta (2017), o modelo de jogo deve
conter, de forma metódica e sistemática, um conjunto de ideias, de como se
pretende que o jogo seja “jogado”, definindo de modo claro as tarefas e os
comportamentos técnico-táticos a exigir e definir junto dos jogadores.
Segundo Garganta & Pinto (1989) cit. por Pimenta (2017), o modelo de
jogo é a forma de jogar concebida pelo treinador, na qual os aspetos que
condicionam a estratégia da equipa devem estar inseridos, com vista a
concretizar o objetivo final – a vitória. Esta forma de jogar é constituída por
princípios que guiam o comportamento dos elementos que constituem a equipa,
podendo ser organizados em diferentes fases do jogo e que se relacionam e
influenciam entre si para criar uma identidade coletiva.
Assim, entendemos que o modelo de jogo deve cumprir com um conjunto
de orientações para os jogadores, para que estes consigam resolver os
problemas encontrados em jogo. O modelo de jogo não deve ser fechado nem
estanque, estando constantemente a ser renovado, a partir da reflexão do
treinador, da equipa técnica e jogadores.
Segundo Pimenta (2017), a definição de um modelo de jogo tem muito
que ver com a capacidade do treinador e da equipa técnica através de uma
conjugação lógica entre as suas diferentes fases do jogo associados aos seus
princípios respetivos, que são determinantes para a operacionalização de um
modelo de treino lógico e integrado.
Segundo Oliveira (2004), na criação de um modelo de jogo, isto é, na
criação de um modelo de jogo adotado para uma equipa deve-se ter em
consideração alguns aspetos que interagem:
a) A conceção de jogo do treinador é formada pela organização das
respetivas ideias de jogo, as quais vão permitir criar um modelo de
jogo, promover uma operacionalização e gerir essa operacionalização;
b) As capacidades e caraterísticas dos jogadores que constituem a
equipa devem ser aspetos importantes na criação de um modelo de
70
jogo. O treinador tem que ter consciência que treinar jogadores
seniores não é a mesma coisa do que treinar jogadores em formação,
nem treinar jogadores de seleção é a mesma coisa do que treinar
jogadores de divisões secundárias. E também que treinar jogadores
cuja conceção de jogo se identifica com o treinador não é a mesma
coisa que treinar jogadores cuja conceção de entendimento do jogo
seja diferente;
c) Os princípios de jogo podem ser considerados como as caraterísticas
que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de jogo, isto é,
são padrões de comportamento tático-técnico que podem assumir
várias escalas mas são representativos do modelo de jogo adotado,
independentemente da escala de manifestação;
d) As organizações estruturais (próximo capítulo) são as disposições
iniciais dos jogadores em campo;
e) A organização funcional é a forma de manifestação do modelo de jogo,
ou seja, é o produto da criação que a interação entre a conceção de
jogo do treinador, os princípios e os subprincípios que o constituem, a
intervenção ativa dos jogadores no modelo e as diferentes estruturas
que esse modelo pode assumir.
No futebol diz-se, frequentemente que conforme se quer jogar assim se
deve treinar, o que sugere uma relação de interdependência e reciprocidade
entre a preparação e a competição. Esta relação é consubstanciada por um dos
princípios do treino, o princípio da especificidade, que preconiza que sejam
treinados os aspetos que se prendem diretamente com o jogo (estrutura do
movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, etc), no sentido de viabilizar
a maior transferência possível das aquisições operadas no treino para o contexto
específico das partidas (Garganta & Gréhaigne, 1999).
Apesar de muito se especular a propósito dos múltiplos fatores que
concorrem para o êxito em futebol, continua a ser verdade que o treino constitui
a forma mais importante e influente de preparação dos atores para a competição.
Por tal motivo, o processo de construção das equipas e de preparação dos
71
jogadores de futebol mobiliza uma significativa concentração de esforços, por
parte de todos quantos procuram, insistentemente, apurar meios e métodos de
treino, de modo a induzir o êxito desportivo e a torna-lo cada vez mais
consistente (Garganta, 2015).
Neste sentido, o treino será sempre, por definição, a recusa do destino,
da sorte e do azar (Garganta, 2015).
Equipa, Sistema de Jogo
Compreendidos os conceitos de estratégia e tática, passamos a outros
conceitos, tal como o conceito de equipa e a sua funcionalidade competitiva.
Vales (2015) resume então os traços essenciais de natureza coletiva nos
seguintes pontos: a) caráter unitário, no sentido em que uma equipa,
representada por um conjunto de jogadores que a constituem, se comporta
durante os jogos como um superindivíduo que atua de forma solidária tanto
desde o ponto de vista ideológico como factual; b) caráter complexo, no sentido
de que uma equipa exteriorizará, durante o jogo, um conjunto de relações
internas cuja expressão global não poderá ser representada pelo somatório das
suas expressões individuais, mas sim por uma nova dimensão que emerge das
interações que se produz entre os seus elementos constituintes; c) tipologia
mista, no sentido em que uma equipa expressa, durante os jogos,
comportamentos que têm como base métodos de raciocínio que se
complementam.
Compreendido o conceito de equipa é necessário entendermos o conceito
de sistema de jogo. A construção dos sistemas de jogo, no futebol, surge pela
necessidade de coordenar as ações dos jogadores que formam uma equipa, com
o objetivo de proporcionar-lhes um sentido unitário, em que os interesses
individuais se subordinam aos coletivos para alcançarem o sucesso (Vales,
2015).
A existência de uma organização interna, no seio de si mesmo (sistema
de jogo), estimulará e facilitará o aparecimento de novas propriedades
significativas dentro do grupo. No entanto, no nosso ponto de vista entendemos
que para estudar e conhecer adequadamente os sistemas de jogo será
72
necessário evitar cair em interpretações excessivamente formalistas e
reducionistas do jogo, fundamentadas numa visão estática do mesmo, a partir
do qual os sistemas são conceptualizados como simples dispositivos posicionais
adotados pelos jogadores de uma equipa no decorrer da competição, deixando
para segundo plano outros aspetos de caráter mais funcional e dinâmico
relacionados com a organização interna do mesmo (Vales, 2015).
Sánchez (2015) explica-nos que o sistema de jogo nunca foi considerado
o fim em si mesmo, mostrando-se como a única opção, rígido e imutável,
devendo ser e mostrar-se como algo flexível e que está ao serviço da equipa e
não, por contrário, escravizando o coletivo e limitando o excesso de jogo de
muitos jogadores que têm necessidades diferentes dos restantes.
Castelo (2009) explica que a ênfase dada aos sistemas de jogo é
exagerada quando por si só, se procura explicar a lógica e a racionalidade do
próprio jogo. Este facto espelha o desinteresse ou a incapacidade em atender a
outros aspetos como são o caso dos métodos de jogo, dos princípios de jogo,
dos fatores coletivos de jogo, do plano estratégico – tático da equipa para um
certo confronto, etc.
Com o passar dos anos entendeu-se isto mesmo, que o formato tático ou
distribuição espacial, adotado por uma equipa durante o jogo, tem um poder
explicativo limitado e que será portanto a análise dos aspetos de natureza mais
funcional e procedimental, como os métodos de jogo ofensivos e defensivos,
utilizados preferencialmente por uma equipa e a distribuição das tarefas entre os
jogadores, que deverá atrair a atenção do treinador – analista para efetuar uma
correta avaliação do comportamento coletivo manifestado pelos jogadores
durante os jogos (Vales, 2015).
Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo
A primeira pergunta que se coloca antes de abordarmos o que é realmente
o processo ofensivo e defensivo ou segundo outros autores a fase ofensiva e
defensiva, é importante que consigamos responder à seguinte questão:
“Podemos separar o jogo em fases?”
73
A resposta é claramente “não”. Segundo Sánchez (2015) o jogo é um todo
que compreende fases, subfases, etc. Mas os analistas têm que separá-lo e
analisá-lo segundo as fases em que estão desenvolvidos os modelos de jogo
das equipas em geral. Segundo o autor, o motivo pelo qual os analistas
fragmentam o jogo prende-se com o facto de entenderem que assim podem
aprofundar mais e dessa maneira conseguem identificar os padrões de jogo e o
modelo de jogo em si.
Garganta, quando entrevistado por Pedreño (2018) explica que o termo
”interpretação” se afigura mais ajustado do que “análise”. Para Garganta, análise
é algo muito analítico, parece que há que dividir para entender, e na perspetiva
dele é justamente ao contrário, há que juntar, o jogo deve ser entendido cada
vez mais como um todo e quando vamos dividir devemos encontrar estratégias
para que o jogo não se empobreça.
Castelo (2003) cit. por Sarmento (2012) considera que, nesta relação
adversa, o jogo se desenvolve segundo um quadro de luta permanente pela
posse de bola, que consubstancia duas fases fundamentais do jogo: o ataque
(processo ofensivo), que é determinado pela posse de bola, e a defesa (processo
defensivo), que corresponde à procura da sua posse.
Castelo (2009) afirma que só o processo ofensivo contém em si uma ação
positiva, ou por outras palavras, um fim positivo, pois só através deste o jogo
pode ter uma conclusão lógica em direção do seu objetivo – o golo. É para este
objetivo que os jogadores das duas equipas, aquando de posse de bola,
direcionam as suas intenções e o significado das suas ações. Segundo o autor,
quando determinada equipa está de posse de bola, para além de poder
concretizar o objetivo do jogo – o golo, terá as condições básicas para: a)
controlar o ritmo específico do jogo; b) criar condições para surpreender os
adversários; c) privar os adversários da posse da bola e, d) concretizar a
recuperação física de companheiros.
O mesmo autor refere ainda que cada equipa funciona como um sistema,
procurando aplicar o seu modelo de jogo, impondo-o ao adversário, assumindo
uma forma de iniciativa, controlo e gestão do jogo, às quais a equipa adversária
contrapõe o seu modelo (estrutura, métodos e princípios).
74
Castelo (2009) refere que após a recuperação da posse da bola, o objetivo
fundamental da equipa é o de progredir em direção à baliza adversária. A
maximização destes objetivos pressupõe: a) instabilizar a organização da equipa
adversária, procurando desta forma desequilibrar a organização defensiva; b)
orientar as ações de jogo numa direção definida, ou seja, que a maioria das
decisões e ações tático – técnicas individuais e coletivas, realizadas pelos
jogadores em processo ofensivo, sejam direcionadas para a baliza adversária;
c) criar condições para a obtenção do golo, ou seja condições propícias à
culminação positiva do ataque.
Por outro lado, o processo defensivo, que contém em si uma ação
negativa, pois, a equipa nestas circunstâncias, não poderá, em condições
normais, concretizar o objetivo do jogo. Assim, este processo deverá ser
encarado como uma forma organizacional, sendo logo abandonado quando se
recupera a posse da bola (Castelo, 2009).
Para o mesmo autor, a fase defensiva consubstancia-se na base de ações
denominadas de marcação, com caráter individual e coletiva, as quais em última
análise, traduzem quatro aspetos fundamentais: a) anular as ações individuais e
coletivas dos atacantes, independentemente destes terem ou não a posse da
bola; b) vigiar e ocupar espaços vitais de jogo, em especial, aqueles que
favorecem o desenvolvimento do processo ofensivo, a criação de situações de
finalização e, mais importante de todas, a possibilidade de finalização com
elevadas probabilidades de êxito; c) retirar parte da iniciativa do ataque do
adversário, ripostando constantemente às suas investidas; d) objetivar uma
visão construtiva das ações de marcação, com o intuito de potenciar as
condições de eficácia do processo ofensivo subsequente.
Ainda Castelo (2009) resume que os objetivos principais do processo
defensivo são: a recuperação da posse da bola e a defesa da baliza. A efetivação
destes objetivos é suportada pela restrição do tempo e do espaço disponível dos
atacantes, mantendo-os sob pressão e negando-lhes a possibilidade de
poderem progredir no terreno de jogo.
75
Após estarem devidamente esclarecidos os conceitos de processo
ofensivo e defensivo, estamos agora em condições de procurar entender cada
um dos momentos de jogo.
Oliveira (2004) mencionou que o momento de organização ofensiva é
caraterizado pelos comportamentos que a equipa assume aquando da posse de
bola com o objetivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar
golo.
Já o momento de organização defensiva, segundo Oliveira (2004),
carateriza-se pelos comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a
posse da bola com o objetivo de se organizar de forma a impedir a equipa
adversária de preparar, de criar situações de golo e de marcar golo.
Não obstante, e tendo em conta o jogo de dinâmicas interaccionais e de
relações de comunicação constantes, cremos, com Sarmento (2012), que o fluxo
do jogo não se esgota nestas duas grandes fases. Garganta (2005) cit. por
Sarmento (2012) considera, a este propósito, ser nas articulações do sistema,
ou seja, nas interações constantes entre os seus elementos, que se cria a sua
identidade, e é também nelas e através delas que se criam condições para a
manter ou alterar em função das circunstâncias e das respetivas debilidades e
mais-valias dos intervenientes. Podemos apurar a importância das fases ou
momentos que mediam as duas já apontadas, e das dinâmicas que se possam
estabelecer aquando da passagem de uma para a outra.
Neste sentido, as ações dos jogadores, entendidas de forma coletiva, só
adquirem significado em função de três momentos fundamentais do jogo: a
posse de bola (ataque), a posse da bola por parte da equipa adversária (defesa)
e a mudança da posse de bola (transição) (Cerezo, 2000).
As transições são momentos em que se procura a alteração rápida e
eficaz de comportamentos e atitudes com o intuito de surpreender o adversário,
aproveitando a sua desorganização ou retardando ao máximo a sua
organização. Surgem no momento em que se conquista a posse de bola (defesa-
ataque) e no momento em que se perde a posse de bola (ataque-defesa), em
que é necessário mudar o sentido do fluxo de jogo tão depressa quanto possível
(Garganta, 2006 cit. por Sarmento, 2012).
76
O momento de transição ataque-defesa é caraterizado pelos
comportamentos que se devem assumir durante os segundos após se perder a
posse de bola. Estes segundos revelam-se de particular importância uma vez
que ambas as equipas se encontram momentaneamente desorganizadas para
as novas funções que têm que assumir, como tal ambas tentam aproveitar as
desorganizações adversárias (Oliveira, 2004). Por sua vez, o momento de
transição defesa-ataque é caraterizado pelos comportamentos que se devem ter
durante os segundos imediatos ao ganhar-se a posse da bola. Estes segundos
são importantes porque, tal como na transição ataque-defesa, as equipas
encontram-se desorganizadas para as novas funções e o objetivo é aproveitar
as desorganizações adversárias para proveito próprio.
Apesar da recuperação da posse da bola ser uma condição indispensável
para o desenvolvimento do processo ofensivo, este começa antes da
recuperação da mesma, uma vez que os jogadores da equipa que não
intervierem diretamente na fase defensiva, ou seja, que não participam nas
ações cujo intuito é a recuperação da posse da bola, devem preparar
mentalmente a ação ofensiva, na procura de espaços vazios que possam ser
utilizados para a realização do ataque, o que implicará um aumento da
preocupação dos seus adversários diretos com a defesa da sua própria baliza
em detrimento da sua preocupação relativamente ao ataque da baliza adversária
(Castelo, 1996 cit. por Sarmento, 2012). Castelo (2009) explica-nos também, que
por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda de posse de
bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo ofensivo,
devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e vigiando: a)
espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para o
empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar
continuidade ao processo ofensivo da sua equipa.
Assim, e seguindo a mesma lógica, Pedreño (2018) afirma que é
impossível entender o comportamento de uma equipa em transição defensiva
sem analisar a fase ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário
seria cair num reducionismo em um desporto complexo como é o futebol.
77
Tendo em conta a fluidez e continuidade inerentes a este jogo, não parece
viável que uma equipa se encontre, apenas e de forma separada, num destes
processos (ofensivo / defensivo), pois, nesse caso, estaria, tão-só, na posição
de reagir e nunca na de agir ou pré-agir (Barreira, 2006 cit. por Sarmento, 2012).
Racionalização do espaço de jogo
No ambiente futebolístico, a racionalização do espaço de jogo representa
um dos aspetos de natureza tático – estratégica que mais interesse desperta
entre os estudiosos, adeptos e meios de comunicação especializados. Em
função do marco situacional em que se desenvolve o jogo, o das próprias
preferências táticas dos treinadores, pode observar-se uma certa variabilidade
nas configurações posicionais utilizadas pelas equipas para ocuparem de forma
equilibrada e racional o terreno de jogo. Será o facto de estar ou não em posse
de bola, o principal fator a ter em conta por parte das equipas para a adoção de
um ou outro formato posicional. Assim, quando uma equipa se encontra com a
posse da bola, buscará distribuições espaciais orientadas para a criação e
exploração de espaços livres que incrementam as possibilidades de eficácia das
suas ações individuais e coletivas. Por contrário, quando se encontra sem a
posse da bola, esta tenderá a restringir, ocupar e controlar os espaços desejados
pelo adversário para desenvolver o seu jogo ofensivo (Vales, 2015).
Castelo (2009) explica que as equipas quando em processo ofensivo
procuram expandirem-se, sempre que possível e, em simultâneo, em torno de
dois eixos fundamentais: largura e profundidade. Ao utilizar ajustadamente o
espaço de jogo disponível, estas ligações têm como objetivo fundamental,
desenvolver e gerir espaços efetivo de jogo, que aumentem as dificuldades
inerentes às ações de marcação, por parte dos defesas relativamente aos
atacantes. Pelo contrário, as equipas quando em processo defensivo procuram,
essencialmente, assegurar a concentração de caráter posicional da equipa nas
zonas próximas da bola, de forma a concretizar uma recuperação rápida dessa,
e sempre que possível o mais longe da própria baliza.
Fundamentalmente, toda a distribuição espacial dos jogadores sobre o
terreno de jogo deverá responder a dois critérios táticos básicos: racionalidade
78
e equilíbrio, que estarão determinados essencialmente pela amplitude
ocupacional ou grau de ocupação transversal do terreno de jogo e pela
profundidade ocupacional ou grau de ocupação longitudinal do mesmo (Vales,
2015).
Sánchez (2015) reforça isso mesmo que há que observar estes dois
conceitos mas junta um terceiro: “Tendo em conta o fator da ocupação espacial
e racional do terreno de jogo, há que observar três conceitos que são
determinantes para os analistas táticos, que são: a disposição em função do eixo
transversal, que gera amplitude ao bloco; a sua disposição em função do eixo
longitudinal que dota a equipa de profundidade e por último a sua dinâmica
posicional em função da zona ativa da bola, que nos determinará se se
manifestam posicionamentos com maior concentração em torno da bola. Todas
elas em ambas as fases do jogo.”
Considerando o grau de flexibilidade e variabilidade que apresentam os
posicionamentos de uma equipa em relação às fases do jogo, podemos
identificar dois tipos: a) dinâmicas posicionais fixas, que são aquelas em que a
distribuição dos jogadores aparece inalterável durante as fases ofensiva e
defensiva do jogo. Os jogadores têm raios de ação limitados no momento de
desempenhar as suas missões técnico-táticas, assim como uma maior
preocupação para manter o próprio equilíbrio; b) dinâmicas posicionais variáveis,
que se produzem quando se observam diferenças significativas no formato
posicional da equipa nas diferentes fases ofensiva e defensiva. Contempla-se
dinamismo e mobilidade dos jogadores em função das exigências relativas a
cada uma das fases (Vales, 2015).
Para o autor, o modo como cada equipa gere a sua relação com o espaço
de jogo supõe um dos principais indicadores que revelará a identidade da sua
filosofia de jogo e as suas verdadeiras intenções tático – estratégicas na
competição. Também Vales (2015), numa aproximação à análise da
componente funcional, sugere que as equipas de futebol, desde uma perspetiva
funcional, podem ser classificados como: a) funcionalmente ativos, quando estas
desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos orientados para
tomarem iniciativa e o controlo do jogo, impondo um ritmo alto e continuo tanto
79
na fase ofensiva como defensiva do jogo; b) funcionalmente reativos, quando
desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos baseados na
cedência da iniciativa e controlo do jogo à equipa adversária, impondo um ritmo
descontínuo e em função do adversário.
Métodos de Jogo
Os métodos de jogo representam um dos aspetos centrais que
caraterizam a componente funcional dos sistemas de jogo e fazem referência a
uma forma geral de organização das ações coletivas de uma equipa, em que se
estabelecem princípios orientadores do ataque e da defesa (Vales, 2015).
Para Castelo (1994) cit. por Vales (2015), os objetivos que se perseguem
com a implementação dos métodos de jogo podiam resumir-se nos seguintes
pontos: a) estabelecer os princípios orientadores de organização do ataque e da
defesa dentro do sistema de jogo preconizado pela equipa, procurando a
racionalização dos comportamentos técnico – táticos individuais e coletivos em
função das situações momentâneas de jogo e dos seus objetivos táticos; b)
estabelecer um ritmo de jogo definido, ou seja, variar a sequência e a velocidade
de execução dos procedimentos individuais e coletivos, tanto ofensivos como
defensivos; c) ajustar constantemente a organização dinâmica da equipa na
criação de condições mais favoráveis em relação ao número, espaço e tempo,
para que se alcancem os objetivos do ataque e da defesa.
Para Sánchez (2015) todas as equipas apresentam um método na hora
de desenvolver o seu jogo com ou sem bola. Este método tem princípios pelos
quais se regem em cada uma das fases do jogo. (…) O método de jogo também
dota a equipa de capacidade para ajustar a organização coletiva e criar e
desenvolver situações benéficas quanto ao espaço, número de jogadores e
tempos dentro do jogo, com o objetivo de conseguir o resultado desejado na fase
ofensiva e defensiva. Também lhes dá a capacidade de desenvolver um ritmo
de jogo, alterando a intensidade e o ritmo de jogo, aumentando a velocidade de
execução nas ações coletivas e individuais em cada uma das fases do jogo.
80
Métodos de Jogo Ofensivo
Ao analisarmos os métodos ofensivos desenvolvidos e afinados durante
o processo evolutivo do jogo de futebol, observa-se que estes passaram de um
jogo mais individualizado com caráter vertical e direto em direção da baliza
adversária, na qual a profundidade do jogo é o seu elemento estrutural mais
importante, para um processo ofensivo mais equilibrado no sentido de um
aproveitamento mais racional dos dois vetores do jogo: a largura e a
profundidade. Assim, podemos estabelecer três formas base, através das quais,
se expressam os diferentes métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque
rápido e o ataque posicional (Castelo, 2009).
Segundo o mesmo autor, os métodos ofensivos visam uma coordenação
eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma a criar as
condições mais favoráveis para concretizar os objetivos do ataque, em
consonância com os objetivos do jogo – o golo. Para atingir este objetivo, os
métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspetos,
concretizar os seguintes: a) desequilibrar a defesa adversária; b) elevar o ritmo
ofensivo; c) utilizar o espaço de jogo em largura e profundidade; d) verticalizar
as ações de jogo; e) aplicar formas superiores de organização ofensiva; f)
simplificar o processo ofensivo; g) utilizar o ataque de segunda vaga; h)
aproveitar as fases de transição defesa – ataque; i) fomentar elevados níveis de
prontidão.
Vales (2015) menciona que no conjunto dos princípios orientadores
relativamente às movimentações que se observam ao longo do processo
ofensivo, e que dão corpo aos ditos métodos de jogo, podiam concretizar-se nos
seguintes fatores: a) orientação predominante dos deslocamentos da bola e dos
jogadores até à baliza adversária ou espaços onde há menor concentração por
parte do adversário; b) criar instabilidade na organização defensiva adversária
em qualquer das fases do processo ofensivo (construção – finalização); c)
facilitação de maior número de opções de finalização para as ações ofensivas;
d) manter o equilíbrio defensivo, no caso de uma perda de bola inesperada.
Ofensivamente, o modo como se produzem as movimentações
manifestadas por uma equipa, desde o momento em que recupera a posse de
81
bola até ao momento em que finaliza ou tenta finalizar a ação ofensiva,
determinará uma estruturação do seu jogo ofensivo que se ajustará em maior ou
menor medida a algum dos diferentes tipos de métodos de jogo ofensivos (Vales,
2015). Podemos observar isto no quadro 5.
Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T - tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015).
Segundo Sánchez (2015) os métodos de jogo ofensivo estruturam-se da
seguinte forma: a) ataque posicional / ataque combinativo, em que as equipas
desenvolvem o seu jogo através da progressão da bola a partir da posse da bola,
com o controlo da mesma. Obter amplitude propiciando uma distribuição
espacial grande no ataque. Sempre com linhas avançadas e com contínuos
apoios que lhes permitam receber nas costas das linhas de pressão adversária.
Neste tipo de ataque a participação dos jogadores envolvidos é massiva e de
alta concentração já que necessitam de um jogo muito elaborado; b) ataque
CONTRA – ATAQUE
T Ritmo elevado: passagem rápida entre a fase ofensiva inicial e a final (elevada
velocidade de circulação e progressão)
E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e dos jogadores
(jogo sobre o eixo longitudinal)
M Simplicidade construtiva: Reduzido número de passes – Progressão do jogo,
enviando ou transportando a bola até aos sectores de finalização
N Participação baixa: Participação de um número reduzido de jogadores no seu
desenvolvimento
ATAQUE RÁPIDO
T Ritmo elevado: Passagem rápida da ofensiva inicial até à final (velocidade de
circulação moderada e elevada velocidade na progressão)
E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo
sobre o eixo longitudinal)
M Simplicidade construtiva: Jogo largo, mais remates – Progressão do jogo, enviando
a bola até aos sectores de finalização
N Alta participação: Participação de um elevado número de jogadores no seu
desenvolvimento (quem lança a bola para a frente + quem finaliza)
ATAQUE POSICIONAL
T Ritmo moderado: Passagem gradual da fase ofensiva inicial até à final (velocidade
de circulação elevada e velocidade moderada na progressão
E Lateralidade: Orientação divergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo
sobre o eixo longitudinal e transversal)
M Complexidade construtiva: Grande preparação e elevado número de passes -
Progressão no jogo, com trocas de bola entre jogadores
N Participação massiva dos jogadores: Participação de um elevado número de
jogadores no seu desenvolvimento.
82
direto, em que as equipas apresentam um ritmo de jogo muito alto.
Relativamente à ocupação racional do espaço do terreno de jogo, a verticalidade
está no seu expoente máximo e a orientação do jogo passa por passes longos,
em função do eixo longitudinal, apresentando grande profundidade. A dificuldade
na elaboração do jogo é mínima e considera-se simples e a participação é alta,
embora nas zonas ativas da bola não seja necessário; c) contra – ataque em que
há um ritmo de jogo ofensivo muito alto, com predomínio da orientação através
de passes longos e distribuição dos jogadores sobre o eixo transversal, o que
leva a uma equipa muito profunda e vertical. A caraterística do seu jogo, em
função da complexidade do seu modo de jogar é simples, com um escasso
número de passes entre o início e a finalização das jogadas. A participação de
jogadores no seu desenvolvimento também é reduzida.
Métodos de Jogo Defensivo
Ao analisarmos a evolução dos métodos defensivos ao longo dos tempos,
observamos a alteração dos elementos estruturais, a partir dos quais o processo
defensivo se ancorou e, naturalmente, se organizou. Com efeito, numa primeira
fase, o elemento mais importante seria o adversário direto, através do qual se
desenvolveu os métodos defensivos individuais (o um contra um). Mais tarde,
com o intuito de racionalizar, de forma eficaz o espaço de jogo, estabeleceu-se
que este seria o elemento estrutural mais importante. Assim, desenvolveram-se
os métodos defensivos à zona, bem como os de caráter misto (o todos contra
um). Por último, ao assumir-se que a bola, incluindo o seu possuidor, bem como
os colegas com quem este poderá relacionar-se tática e preferencialmente,
desenvolveram-se os métodos zona pressionantes. Resumidamente, passou-se
da marcação individual, para o espaço, terminando na bola, como elementos
centrais de organização defensiva na atualidade (Castelo, 2009).
Segundo Castelo, neste âmbito, podemos estabelecer três formas base,
através das quais se expressam os diferentes métodos de jogo defensivo: o
método individual, o método à zona, o método misto e a zona pressionante que
decorre da evolução do método à zona.
83
O mesmo autor explica-nos que os métodos defensivos visam uma
coordenação eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma
a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objetivos da defesa, isto
é, a recuperação da posse da bola e proteção da baliza. Para atingir estes
objetivos, os métodos de jogo defensivo procuram dentro de um largo número
de aspetos, concretizar os seguintes: a) estabilidade defensiva; b) desenvolver
uma iniciativa constante; c) elevar o ritmo defensivo; d) direcionar os atacantes
para espaços menos perigosos; e) recuperação defensiva marcando jogadores
e espaços vitais de jogo; f) manter uma elevada concentração defensiva; g)
modelar as condições de recuperação da posse da bola; h) redimensionar
constantemente o nível de organização defensiva; i) ter sentido construtivo.
Defensivamente, tal como ocorria durante a fase ofensiva, desde o
momento em que uma equipa perde a posse da bola no decorrer do jogo, até ao
instante em que consegue recuperá-la novamente, deverá adotar uma forma
geral de organização ou método de jogo defensivo que direcione
convenientemente as ações dos jogadores com o objetivo de dificultar ou impedir
que o adversário alcance os objetivos do jogo relativamente ao processo
ofensivo (Vales, 2015). Os diferentes métodos de jogo defensivos estão
apresentados no quadro.
Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009).
DEFESA
INDIVIDUAL
DEFESA - ZONA DEFESA MISTA ZONA
PRESSIONANTE Potencia o “um contra
um” – igualdade numérica
Fomenta o princípio da contenção
Grande responsabilidade individual
Elevado nível de resposta física
Elevado nível de atenção seletiva
Potencia o “todos contra um”
Cada defesa é responsável por uma zona
Estabelece-se uma organização por linhas defensivas
Ações de entreajuda e solidariedade
Introduz a “defesa em linha”
Sintetiza o método individual e zona
Marca o atacante de uma para outra zona
Reforça as ações de cobertura defensiva
Marcação rigorosa ao atacante com bola
Reduz o espaço efetivo de jogo
Potencia a marcação a atacantes e espaços de jogo
Modela as condições de recuperação da bola
Aumento da concentração defensiva
Comunicação verbal entre jogadores
84
Outros autores como, Vales (2015) e também Sánchez (2015) classificam
a fase defensiva em quatro grupos: defesa posicional ou organizada em
contenção, defesa posicional ou pressionante, defesa posicional ou organizada
de forma mista, defesa circunstancial.
Segundo Sánchez (2015) na defesa organizada em contenção, o ritmo de
jogo é baixo, sem pressão; a equipa distribui-se pelo espaço de forma baixa, com
um bloco mais recuado, mostrando um posicionamento de expetativa face ao
adversário, correndo poucos riscos, havendo a participação de todos os
jogadores. Na defesa organizada de forma pressionante o ritmo de jogo e
intensidade aumentam, defendendo num bloco mais alto, com pressão alta após
a perda de bola e também na saída de bola, reduzindo os espaços, com grande
concentração de jogadores nas zonas próximas da bola, havendo a participação
de todo o bloco. Na defesa organizada de forma mista o ritmo de jogo é
moderado, as equipas organizam-se num bloco médio cedendo o meio-campo
ofensivo para o adversário, mantendo-se em contenção até à linha de criação do
adversário, zona onde iniciam a pressão intensa, havendo a participação de todo
o bloco. Por último, na defesa circunstancial, temporizam após a perda de bola,
havendo apoios defensivos e maior densidade na zona onde perderam a bola,
reorganizando-se assim defensivamente, havendo a participação parcial
principalmente pelos jogadores que estão perto da bola.
Processo de treino - meio para atingir o jogo idealizado
Atualmente confunde-se muitas vezes o “jogar bem”, expressão muitas
vezes utilizada por comentadores na TV, na rádio e em outros meios de
comunicação e inclusivamente por alguns treinadores, com aquelas equipas
que, em organização ofensiva, jogam com alguns conceitos como: passes
curtos, apoios permanentes, circulação rápida da bola, etc. Isto é o que se chama
de jogo combinativo ou posicional. Mas como é possível que se diga que uma
equipa joga bem ou mal analisando somente uma fase do jogo? Isto, segundo
Pedreño (2018) também é cair no reducionismo analítico em que se baseia a
análise de um todo em só uma das partes, deixando de lado as relações e
interações entre as partes.
85
Também se diz frequentemente que uma equipa dominou a outra ou
controlou o jogo, em função da posse de bola que essa equipa tem. Cai-se no
erro de analisar essa posse de bola quantitativamente, sem analisar a qualidade
dessa posse de bola. Assim, uma equipa que tem a posse de bola no seu meio-
campo, que não tenta superar linhas adversárias, não desorganiza
defensivamente o adversário e que se sujeita a perder a bola em zonas onde
pode ficar exposto, domina o jogo? (Pedreño, 2018). Para o autor, o domínio do
jogo, é uma questão de domínio de espaços, que se pode ter através da posse
de bola ou sem ela. Através da posse de bola, posso submeter a equipa
adversária, criando situações de superioridade posicional nas zonas que me
interessam em função das forças da própria equipa e das debilidades do
adversário. Se conseguir este domínio de espaços com bola e se progredir
estarei dominando o jogo, porque serei capaz de criar situações de finalização
que me permitam obter vantagem no marcador. Por outro lado, o domínio do
jogo, sem posse de bola, deve ser entendido como a execução da organização
defensiva com eficácia, impedindo em primeiro lugar, a progressão da equipa
adversária, obrigando o adversário a progredir por onde nos interessa e
defendendo a baliza corretamente com o objetivo de explorar os espaços
deixados nas costas.
Portanto, existem várias formas de jogar futebol e de conseguir
resultados, do mesmo modo que existem várias maneiras de treinar. Não
obstante, no treino do futebol trata-se de gerar uma harmonia ou sintonia entre
todos, uma equipa, e um projeto. Uma equipa é um concerto de cumplicidades,
expressas na vinculação a uma visão, a um modelo, a um ideal. Desta feita, o
treino não é algo para consumir, mas para assumir, o que implica cultivar
comportamentos e, sobretudo, atitudes (Garganta, 2015).
O que faz um método afigurar-se mais pertinente pode ser a sua
adequação à personalidade do treinador e dos jogadores, bem como à sua
cultura específica do clube onde o trabalho se desenvolve. O treinador deve
tomar partido, elegendo a sua visão, o seu método, o seu caminho, tomando
consciência de que os métodos são bons quando os seus utilizadores
reconhecem o respetivo alcance e limites e não a sua omnipotência. Todos os
86
métodos encerram prós e contras e, portanto, a opção por uns ou por outros
deve obedecer a razões pensadas e ponderadas. Neste contexto, o treinador
assume-se como figura nuclear, pois a ele compete gerar e gerir todo o processo
de preparação desportiva (Garganta, 2015).
Segundo Mesquita (2000) cit. por Pimenta (2017), o exercício de treino é
uma ferramenta utilizada pelo treinador para comunicar as suas ideias e
intenções, sendo este um momento-chave para a aquisição dessas ideias por
parte dos jogadores. Essa intenção deve ter suporte nos conteúdos de treino e
na ideia de jogo pretendida pelo treinador.
Os exercícios devem ser direcionados em função dos comportamentos
desejados nos diferentes momentos do jogo. O processo de ensino-
aprendizagem/treino pretende criar conhecimentos específicos/imagens
mentais, que permita ao jogador e à equipa agir nos diferentes momentos do
jogo, perante os problemas criados, em função de uma ideia coletiva de jogo, o
modelo de jogo da equipa (Oliveira, 2004).
Para que o treino e as situações nele apresentadas sejam realmente
específicas, é necessário que haja uma permanente interação entre os
exercícios propostos e o modelo de jogo adotado pela equipa e os respetivos
princípios que lhe dão corpo e sentido. A operacionalização do conceito de
especificidade condiciona o formato do processo ensino-aprendizagem/treino,
mas também, obrigatoriamente, a intervenção nesse formato. Isto é, para que o
conceito de especificidade seja atingido durante o treino, não basta que os
exercícios propostos sejam potencialmente específicos, é necessário uma
intervenção interativa do treinador com o exercício e com os jogadores para que
ela aconteça (Oliveira, 2004).
A singularidade do processo prende-se com a relação de que tudo o que
é realizado deve estar em completa sintonia com o modelo de jogo da equipa e
com o conceito de especificidade. Desta forma, em todos os momentos, os
exercícios propostos devem ter estas referências. Um exercício pode ser
completamente adequado para uma equipa, porque requisita sistematicamente
comportamentos que o respetivo modelo pretende, como tal estão a
proporcionar a criação de adaptações e conhecimentos específicos/imagens
87
mentais importantes para a equipa e para o jogador. Por outro lado, se um
exercício proporcionar repetidamente comportamentos não adequados ao
modelo pretendido, as adaptações criadas vão ser prejudicadas ao
desenvolvimento dos conhecimentos específicos/imagens mentais desejados
(Oliveira, 2004).
Assim, o processo de ensino-aprendizagem/treino deve promover a
criação de hábitos relativos aos comportamentos desejados para as diferentes
escalas dos momentos de jogo. Para que esses hábitos sejam criados, existe a
necessidade de cumprir um princípio pedagógico que Frade (1989) cit. por
Oliveira (2004) denominou de propensão.
O princípio da propensão salienta a necessidade de criar exercícios cuja
densidade dos comportamentos que se pretende evidenciar ocorram com
elevada frequência. Este princípio vai permitir que determinado comportamento
seja requisitado de uma forma muito superior à do próprio jogo, provocando a
criação de imagens mentais/conhecimentos direcionados para o pretendido
transformando-as em hábitos. Assim, quando se pretende ensinar/treinar
determinadas ações, comportamentos ou relação de comportamentos de forma
a se transformarem em imagens mentais/conhecimentos específicos, é
necessário criar exercícios em que esses comportamentos sejam requisitados
com uma grande densidade, permitindo que, posteriormente, em jogo, a situação
seja reconhecida inconscientemente pelo jogador e este tenha capacidade para
agir rápida e eficazmente. Desta forma, os exercícios são meio pela qual o
processo de ensino-aprendizagem/treino ganha consistência e coerência
(Oliveira, 2004).
Como já foi escrito nos capítulos anteriores, na temporada 2017/2018 a equipa
foi liderada por três equipas técnicas diferentes. Com a mudança de equipa
técnica, normalmente, ocorrem alterações nas ideias de jogo, no modelo de jogo
e também no modelo de treino.
No capítulo referente ao “enquadramento” e no subcapítulo “modelo de jogo e
processo de treino” abordámos o modelo de jogo utilizado por cada equipa
técnica. Todas as equipas técnicas procuravam criar exercícios, na sessão de
treino, que possibilitassem a criação de representações mentais nos atletas
88
promovendo a preparação dos mesmos para enfrentarem situações
semelhantes que pudessem ocorrer em competição.
4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA
Do saber ao fazer vai um longo caminho, talvez tão longo como do fazer
ao saber (Caraça, 1997 cit. por Garganta, 2001). Assim, parece claro que todo o
progresso da ação beneficia o conhecimento, tal como todo o progresso do
conhecimento beneficia a ação (Morin, 1990 cit. Garganta, J., 2001).
Do iniciar um estágio cheio de expetativas e ilusão, até ao encontro de um
contexto real, longe do ideal (expectado) foi um instante. É um facto que, desde
início, sempre soube que estava fora da minha zona de conforto. E por isso,
entendi que me encontrava num estágio de aprendizagem em que “sabia que
não sabia”, considerando-me um “consciente incompetente”. Mas a minha
vontade e a minha ambição, conduziu-me num percurso curvilíneo entre o
“consciente incompetente” e o “consciente competente”. Foi traçado um longo
caminho, com muitos horas e dias de trabalho, empenho e dedicação, bem como
algum tempo de reflexão e leitura sobre “o que”, “como” e “quando” observar.
Como foi descrito em capítulos anteriores, no âmbito deste estágio, tive a
oportunidade de integrar o gabinete de scouting da AAC/OAF. Pretendia-se que
observasse e analisasse as equipas adversárias. Importava portanto perceber o
que era um gabinete de AJ, “o que” tinha de fazer, “como”, “quando” e “porquê”.
Para Vales (2015) o processo de observação e análise do jogo é um
processo que consiste em recolher e examinar comportamentos coletivos e
individuais desenvolvidos por equipas e jogadores durante os jogos, tratando de
identificar certas regularidades nas mesmas, com o objetivo de reconhecer a
estrutura organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a
eficácia operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de
relatórios técnicos.
Também Vales (2012) cit. por Pereira (2017), refere que o analista, para
desenvolver as suas tarefas, deve ter bem presente uma estratégia de
intervenção, sabendo o que quer analisar, como vai ser realizado esse processo
e como essa informação recolhida vai ser transcrita, apresentada e aplicada à
89
programação e ao ajuste do modelo de jogo e de treino para melhorar o
rendimento competitivo da equipa.
É importante determinar o que se vai analisar e quais os motivos para
fazê-lo. Vale a pena ter em mente o conhecido ditado: “nem tudo o que conta
pode ser contado e nem tudo o que pode ser contado conta” (Carling, Williams
& Reilly, 2005).
Ventura (2013) partilha a sua visão relativamente às fases em que o
processo de scouting se divide: a) Preparação (onde se define o que se quer
observar; como e onde se vai observar; quem vai observar); b) recolha da
informação / observação (reporta à observação propriamente dita); c) análise da
informação / planeamento (depois de recolhida a informação, é analisada e
usada para planear o microciclo semanal e para analisar a performance dos
jogadores).
Estando conscientes do facto de ser a própria estrutura e cultura
organizativa do clube a determinar a metodologia de trabalho a seguir por um
departamento de AJ, começámos por definir uma estratégia de trabalho,
concretizando a estrutura interna e funções de cada elemento. Considerando
que o departamento era constituído apenas por 2 elementos (um analista e um
scouter) a divisão das tarefas tornou-se muito fácil.
Considerando que o único analista era eu, todos os procedimentos de
preparação, recolha de infomação, armazenamento e gestão da informação,
análise da informação e a devida transmissão da informação eram realizados
por mim.
Habitualmente diz-se que para encontrar algo, há que procurá-lo. No
contexto da observação e análise do jogo, a lógica é inversa, ou seja, primeiro
encontra-se (configura-se) as categorias e os indicadores e só depois se procura
e se afere as suas formas de expressão no jogo (Garganta, 2001).
Teodorescu (1984), Castelo (1994, 1996), Pacheco (2005) cit. por Ventura
(2013), referem que o conhecimento das caraterísticas da equipa adversária
passa pela recolha de dados, utilizando as seguintes fontes de informação: a)
observação direta: aprecia-se o método de jogo ofensivo e defensivo,
particularidades da performance (físico-motora, técnico, psicológico), a
90
qualidade dos jogadores titulares (equipa-base), a qualidade dos jogadores
suplentes, o comportamento disciplinar e a qualidade do treinador adversário na
orientação da equipa; b) observação indireta: recurso à análise de vídeo e registo
das principais caraterísticas da equipa adversária; c) comentários da imprensa
desportiva; d) registos do próprio treinador, sobre o desempenho das equipas
adversárias em jogos anteriores; e) recolha de informações com treinadores que
já defrontaram a equipa que nos interessa analisar; f) recolha de informações
através de jogadores da própria equipa que já tenham jogado ou que residam na
área geográfica da equipa a observar.
Segundo Luz & Pereira (2011), citados por Ventura (2013), para José
Mourinho e a sua equipa técnica, a recolha de informação sobre o adversário,
não se resume à observação dos jogos deste. É sim complementada através de
outras formas, como por exemplo: notícias veiculadas nos jornais, com a
observação de treinos e até com telefonemas a pessoas próximas do clube
adversário.
Também, para os treinadores entrevistados por Ventura (2013), existem
várias fontes de informação a que eles podem recorrer de forma a conseguir
recolher o máximo de informação sobre a equipa adversária. Entre essas fontes
temos: a) jornais; b) vídeo; c) internet; d) diálogo com os jogadores e, e) diálogo
com colegas treinadores.
Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura, 2013).
Segundo Garganta (2001) cit. por Ventura (2013), para se obter o melhor
conhecimento das particularidades da equipa adversária através da observação
direta deverá ter-se em consideração os seguintes fatores: a) desenvolvimento
da fase ofensiva; b) desenvolvimento da fase defensiva; c) desenvolvimento da
91
transição defesa-ataque; d) desenvolvimento da transição ataque-defesa; e)
esquemas táticos (bolas paradas – fragmentos constantes do jogo).
Assim, quando iniciámos a observação dos jogos, definimos bem o que
pretendíamos descobrir, pois durante o jogo, há tanta, mas tanta informação,
relevante e irrelevante e é fundamental que o analista possua a capacidade para
se focar naquilo que é pertinente, para que consiga identificar aquilo que
pretende.
O microciclo de trabalho começava na recolha de informação acerca da
equipa adversária. Realizávamos a recolha em jornais desportivos e também em
jornais locais, na página online da Liga Portuguesa de Futebol, na página online
zerozero e também nas redes sociais.
Para além de analisar informações disponíveis pela imprensa,
observámos os vídeos dos últimos três a quatro jogos realizados pela equipa
adversária. A acrescentar a este trabalho, durante o primeiro terço da época
foram reunidas condições para que realizássemos observação in loco a pelo
menos um dos últimos três jogos do nosso próximo adversário.
Quando realizamos a observação in loco temos de ter presente algumas
situações. Devemos chegar ao campo/estádio com algum tempo de
antecedência, sempre cerca de 45 minutos antes do início do jogo. O scouter e
o observador devem ser discretos, passando despercebidos. Devem possuir
sempre câmara fotográfica. Os telemóveis atuais já contam com boa capacidade
e definição e podem ser uma boa ajuda quer para tirar algumas fotografias quer
para filmar. Contudo, se o clube adversário permitir, podemos levar uma câmara
de filmar, sempre que entendermos que estarão reunidas as condições para
proceder à filmagem. O telemóvel possui ainda a aplicação de gravador de voz,
o que pode tornar-se muito útil para as observações. O relógio com cronómetro
é outro objeto essencial para acompanhar o tempo de jogo. Pedir no balcão de
imprensa ou na bilheteira para esse efeito a ficha de jogo, com informação dos
nomes e número dos jogadores que compõem o onze inicial mas também os
suplentes.
Para além de observarmos pela primeira vez a equipa adversária, a
observação in loco permite-nos perceber o envolvimento, sempre que essa
92
equipa jogava em casa. A observação in loco era claramente importante para
percebermos qual o momento da equipa, com a relação da equipa com os
adeptos, como é que os adeptos reagiam na adversidade e com o resultado
favorável. Para além disso, era um momento em que nós percebemos qual o
estado do relvado e quais as dimensões do campo.
Para além da observação in loco, observámos e analisámos os vídeos
dos últimos três a quatro jogos de cada equipa adversária.
O recurso ao vídeo possibilita selecionar as partes mais importantes do
jogo. Numa análise mais profunda são necessárias avaliações mais complexas,
para detetar os comportamentos dos jogadores, reconhecer a estratégia utilizada
pela equipa adversária e, a identificação das situações táticas que produzem
oportunidades de golo (D’Orazio & Leo, 2010).
Luz & Pereira, 2011 cit. por Ventura, 2013 refere que José Mourinho
recorre ao vídeo como um aliado no seu trabalho. Inicialmente, serve-se do vídeo
para conhecer os adversários e preparar os exercícios adequados para usar no
treino. Os mesmos autores autores citam Rui Faria que disse que “os jogadores
realizam os exercícios com informação que resulta desse visionamento e do que
são as estratégias para o jogo. É um processo muito exaustivo e que permite
aos nossos jogadores terem um conhecimento profundo do opositor”.
Para Vales (2015) o recurso ao vídeo no âmbito do treino desportivo,
como recurso modelador de atitudes e comportamentos manifestados pelas
equipas e pelos jogadores durante os jogos e treinos, representa um instrumento
ao serviço dos treinadores. Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) reforça que
a observação de imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente
da realidade (competição e treino), têm uma grande influência na transformação
da mesma, ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o
objetivo de que estes sejam mais eficazes.
Mas, há que ter atenção às filmagens ou gravações que são utilizadas. A
gravação ou o jogo que chega a todos os telespetadores a partir da televisão
não é filmado da mesma forma ou da forma adequada para a realização da AJ.
Enquanto, que o jogo filmado pela TV foca-se muitas vezes no detalhe, isto é,
se a bola ultrapassou ou não a linha de golo, se houve ou não falta, se foi mão
93
na bola ou bola na mão e também em todo o ambiente e espetáculo em torno do
jogo, filmando os adeptos nas bancadas e até algumas coreografias, ou
passando ainda algumas repetições de alguns lances da partida, a filmagem
“técnica” que o analista precisa é uma filmagem corrida, sem pausas, em plano
aberto, com uma visão global. Por indicação da equipa técnica, a filmagem era
realizada a partir de uma zona central, o mais alto possível.
Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre SC Braga B e Gil Vicente FC.
Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B.
Como podemos observar, comparando as imagens, reparamos que na
filmagem TV a imagem aparece com mais “zoom”, ficando mais próxima. Desta
forma não conseguimos apanhar no mínimo 21 jogadores, considerando um dos
guarda-redes e todos os outros jogadores que se encontram em jogo.
94
Recolhidas as informações e realizadas as filmagens, passamos para a
observação e AJ. No momento de observar um jogo, segundo Pedreño (2018),
devemos distinguir entre aquilo que é analisável por ser um padrão de uma
equipa e aquilo que é próprio da natureza variável e imprevisível do jogo. De
acordo com o mesmo autor, os movimentos padrão de uma equipa são aquelas
ações que caraterizam uma equipa pela operacionalização das suas virtudes ou
defeitos (ações observáveis em vários jogos) e que levam a um comportamento
estável e que traduzem a organização da equipa. Por outro lado, os movimentos
caóticos do jogo são aquelas ações que surgem da própria natureza caótica do
jogo de futebol, entendido este caos como aquelas variações nas condições
inicias que podem supor uma grande mudança, impossibilitando assim uma
previsão a longo prazo.
Pretendíamos observar a organização ofensiva (como é que a equipa
adversária construía e desenvolvia o seu ataque), a transição defensiva (o que
faziam, instantes após ter perdido a posse de bola), a organização defensiva
(como é que se comportavam quando não tinham a bola, como defendiam, que
espaços existiam para que conseguíssemos desequilibrar), a transição ofensiva
(o que faziam, instantes após recuperar a bola) e os esquemas táticos (bolas
paradas ofensivas e defensivas). Esta observação tinha como objetivos
conhecer, para depois relatar os pontos fortes e fracos do próximo adversário.
Definidos “o que” vamos recolher e analisar, chega a altura de pensarmos
em “como” e “quando” vamos realizar as observações e as análises.
É importante referir que os treinadores, muitos deles, incorporam o
trabalho de AJ no seu plano semanal. E por isso, o trabalho realizado pelo(s)
analistas tem que adaptar-se à organização e rotinas definidas pela equipa
técnica.
Por exemplo, quando falamos da caraterização e análise da equipa
adversária, uma das particularidades está relacionada com o número de
observações que se fazem a essa equipa, de forma a ser possível caraterizá-la
a nível tático, técnico, físico e psicológico (Ventura, 2013).
Em relação ao número de jogos, Teodorescu (2003) cit. por Ventura
(2013) considera ser necessário observar o adversário entre duas a três vezes
95
para que os dados recolhidos tenham validade. Por sua vez, André Villas Boas
(2005), na altura integrava a equipa técnica de José Mourinho, entrevistado por
Pacheco (2005) e citado por Ventura (2013) afirma que “para a análise de um
adversário, necessitamos de quatro ou cinco jogos de observação, para
percebermos se aquilo que acontece é por acaso ou se se trata de movimento
padrão”.
Em estudos realizados nesta área, Lopes (2005) entrevistou dez
treinadores da Superliga Portuguesa e todos consideram que para obterem uma
ótima informação sobre o adversário é necessário realizar observações a quatro
jogos. Silva (2006) obteve resultados idênticos, embora no seu estudo os
treinadores dividam as observações do adversário em jogos efetuados em casa
e jogos efetuados fora. Assim recorria-se na mesma à análise de quatro jogos
do adversário (dois jogos fora e dois jogos em casa).
Segundo o autor parece haver recomendações no sentido de que a
observação do próximo adversário seja realizada tendo em conta as condições
em que o jogo contra essa equipa se vai disputar. No entanto, este procedimento
nem sempre é possível de concretizar, devido a limitações de tempo e de
recursos (Ventura, 2013).
Ventura (2013) entrevistou vários treinadores, entre os quais Ulisses
Morais, Paulo Bento e Domingos Paciência. Ambos os treinadores referem que
os últimos três jogos podem ser uma boa referência para analisar a equipa
adversária. Segundo Paulo Bento “uma equipa que tem rotinas bem definidas,
três observações podem ser suficientes”. Já Domingos Paciência entende que
se após as três observações ainda restarem dúvidas, então poderão realizar
mais uma observação. Paulo Bento sugere ainda “nessas três observações, que
haja duas que sejam feitas na condição em que vamos jogar com o adversário,
ou seja, se vou jogar em casa vou ver o adversário duas vezes fora”.
Para além dos fatores apontados, os treinadores devem ter atenção a
outras variáveis que podem influenciar o comportamento dos jogadores e das
equipas. Segundo Jones, James & Mellalieu (2004), variáveis como o local onde
o jogo se disputa (casa ou fora), o resultado do jogo (empate, derrota ou vitória),
96
a qualidade do adversário (forte ou fraco), a evolução do marcador e as
condições ambientais, são fatores que influenciam a performance no futebol.
De acordo com o estudo de Lago (2009), em função do local do jogo (casa
ou fora) e também em função do resultado as equipas podem mudar o seu estilo
de jogo, tendo por exemplo, maior ou menor posse de bola. Bloomfield (2005)
reforça que as equipas podem mudar o seu estilo de jogo em função do
resultado.
Assim, começámos a planificar os jogos da equipa adversária que
pretendíamos observar. Organizámos um documento, num ficheiro do excel que
facilitava a identificação do próximo adversário e dos jogos que podiam suscitar
mais interesse e relevância para observarmos, pelos motivos acima indicados.
Definimos que íamos observar entre três a quatro jogos de cada adversário.
Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s) adversários a observar.
Na tabela à esquerda, correspondente à 13ª jornada disputou-se o
AAC/OAF x Nacional da Madeira. Assinalado a vermelho temos o adversário
imediatamente a seguir, isto é, o FC Porto B, que defrontámos na 14ª jornada.
Igualmente na tabela correspondente à 13ª jornada, temos assinalado a cor de
laranja o adversário que defrontávamos na 15ª jornada, isto é o FC Famalicão.
Seguindo esta lógica, assinalado a amarelo está o Real FC que defrontámos na
16ª jornada e a verde está o SC Covilhã com quem jogámos na 17ª jornada.
Este documento ajudava-nos a organizar a nossa agenda para mais
facilmente definir que jogos devíamos observar, seja in loco, seja a partir de
vídeo.
Por exemplo, caso jogássemos em casa, pretendíamos observar pelo
menos dois jogos fora da equipa adversária. Tentámos ainda observar os últimos
jogos, tendo como objetivo perceber como é que a equipa adversária se
97
apresentou nos jogos mais recentes. Portanto, o objetivo era observar a equipa
adversária em situações semelhantes às que ia encontrar no jogo contra a nossa
equipa. Por isso, sempre que possível procurávamos ver também jogos em que
o nosso adversário teve um oponente com um modelo de jogo semelhante ou
com objetivos parecidos.
Vales (2015) explica-nos que quando se pretende analisar o jogo, é
necessário que o analista ou o investigador assuma que o fenómeno observado
representa uma atividade desportiva complexa, na qual tanto a magnitude como
a tipologia das ações desenvolvidas pelas equipas e jogadores durante os jogos,
estarão condicionadas em maior ou menor medida por uma série de fatores,
como o estilo de jogo assumido pelas equipas (iniciativa – expetativa), pelos
objetivos das equipas durante o jogo (manter, igualar, reduzir ou ampliar
resultado momentâneo), as contingências da própria competição (interioridades-
superioridades numéricas, condições climáticas e estado do terreno de jogo),
etc., que claramente deverão ser considerados para uma correta interpretação
dos dados e conclusões obtidas.
Por isso e não só, devemos considerar ainda que as semanas não são
todas iguais. Houve semanas em que fizemos três jogos (domingo, quarta-feira,
domingo, por exemplo) e houve semanas em que realizámos dois jogos
(domingo e sábado, por exemplo). Também existem diferenças no trabalho de
AJ, em período competitivo e no período não competitivo. Durante o período não
competitivo, vulgarmente chamada de “pré-época” realizámos alguns jogos de
treino. Contudo, o foco não estava nem nos adversários que defrontávamos
nessa altura nem estava apenas concentrado apenas no próximo adversário
(que iriamos defrontar em jogo oficial). Pretendíamos conhecer a nossa equipa,
o objetivo era entregar informação acerca da nossa equipa. Em simultâneo
existia um trabalho de observação com um foco mais geral, em todas as equipas
da Ledman Liga Pro, com especial atenção para os adversários que íamos
encontrar nos primeiros três a quatro jogos.
O treinador Carlos Brito, entrevistado por Ventura (2013) explica que no
início da época, as equipas adversárias merecem atenção e devem ser
observadas, porque podem existir mudanças: “No início da época, quanto maior
98
número de jogos conseguir ver, melhor. Tentamos sempre ir ver, até jogos
particulares, porque há jogadores novos, o treinador provavelmente é novo”.
Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que para além da
quantidade de jogos da equipa adversária a visualizar, parece-me muito
importante a qualidade dos jogos que se observam. O mais importante é ter a
preocupação de ir buscar jogos fora, em casa, com resultados favoráveis,
adversos e tendo em conta o nível do oponente.
Ventura (2013), após entrevista a vários treinadores conclui que todos os
clubes são tratados de igual forma e que todos merecem o mesmo cuidado, ou
seja, que tanto merece três observações o primeiro classificado da Liga, como
uma equipa de um escalão inferior. O autor afirma que por vezes podem é
suceder algumas incapacidades por parte do clube para realizar essas
observações, seja por falta de recursos humanos, seja por limitações financeiras,
incompatibilidade de calendário ou por falta de informação sobre o adversário de
menor dimensão. Em função das condições que o clube oferece, o número de
jogos que se observa da equipa adversária pode variar, ou seja, um clube que
tenha um departamento de scouting composto por vários observadores,
consegue mais facilmente observar três ou quatro jogos de cada adversário. Por
outro lado, num clube sem essa estrutura, e só com um observador disponível,
torna-se complicado conseguirem realizar esse número de observações,
acabando por realizar apenas uma ou duas observações sobre o adversário, o
que pode não ser o suficiente.
Em jeito de cooperação, foi criada uma plataforma onde a maior parte dos
clubes da Ledman Liga Pro depositavam os seus jogos. Só 5 equipas
participantes nesta competição é que não aderiram a este intercâmbio. Todos os
clubes participantes comprometiam-se a colocar os jogos, filmados em plano
aberto, até 48 horas pós-jogo. Esta plataforma permitiu-nos ter à nossa
disposição os jogos das equipas adversárias. Para além desta plataforma
disponhamos ainda acesso à base de dados do wyscout e mais tarde também o
instat o que nos possibilitava recolher mais informações acerca dos nossos
adversários, principalmente informação acerca dos lances de bola parada e
também informação acerca da análise individual dos jogadores.
99
Depois de realizarmos o download da informação e feita a observação,
realizámos os cortes de vídeo, com recurso ao software Longomatch, versão
1.1.1.19, que se trata de uma versão gratuita. À medida que ia realizando o
trabalho, categorizava os diferentes clips consoante o seu conteúdo
(organização ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva, transição
defensiva, bolas paradas ofensivas, bolas paradas defensivas, ações
individuais) que eram enviados para a equipa técnica sempre que solicitados.
Depois de categorizar os clips, era elaborado um vídeo, com recurso ao
software windows movie maker. O vídeo tinha cerca de vinte minutos com os
“lances” mais relevantes e pertinentes em cada um dos momentos de jogo e era
encaminhado para a equipa técnica.
Vales (2015) explica que, a equipa técnica em conjunto com o observador,
devem definir o que se pretende observar, de que forma se vai efetuar essa
observação, quando e onde se vai observar, a forma como essa informação
chega ao treinador e como este a vai utilizar. Neste sentido define: a) a
informação recolhida deve ser detalhada, precisa e relevante, com capacidade
para influenciar positivamente a tomada de decisão do destinatário (treinador);
b) deve mostrar de maneira objetiva as caraterísticas do jogo da equipa e/ou do
jogador observado; c) deve apresentar uma correta estrutura, para facilitar a
consulta dessa informação.
No vídeo que era enviado para a equipa técnica, cumpria com as
exigências e instruções da equipa técnica. Inicialmente era apresentada uma
informação geral do adversário: classificação, marcadores, resultados em casa
e fora, caraterísticas do público, treinador, estado do terreno de jogo, etc.
100
Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC Portugal B.
A figura 15 corresponde à informação com a classificação e últimos
resultados. Esta figura contempla a organização da equipa nos jogos anteriores,
bem como as substituições realizadas.
Depois era apresentado o onze provável, e até jogadores que tínhamos
dúvidas.
Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos fracos.
O exemplo do Sporting CP B não foi em vão. Analisar uma equipa B e
prever o seu 11 inicial foi uma tarefa muito complicada. Alguns dos jogadores
que estavam vinculados às equipas “B” que participaram na Ledman Liga Pro,
para além de jogarem neste campeonato, alguns deles disputavam ainda a
UEFA Youth League e ainda o Campeonato Nacional Sub19. Este jogo coincidiu
com uma participação do Sporting CP numa jornada da UEFA Youth League e
trouxe-nos algumas dúvidas quanto à presença de alguns jogadores,
101
principalmente médios e avançados. Algumas das dúvidas foram esclarecidas
mais perto do final da semana, à medida que nos chegavam mais algumas
notícias. Contudo, no momento em que entregávamos o vídeo para a equipa
técnica ainda não estávamos na posse de todas as informações, o que acontecia
no momento de entrega do relatório.
Por fim, nesse trabalho constavam sequências de vídeo acerca de:
a) Organização ofensiva da equipa adversária (saída de bola a partir do
guarda-redes, muitas das vezes em situação de pontapé de baliza; fase de
construção; fase de criação de situações de finalização; finalização propriamente
dita; se optam por desenvolver mais jogo exterior, se optam por um jogo interior,
se colocam jogadores entre linhas, explorando costas da linha dos médios
adversários);
Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.
Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.
102
Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.
Na figura 17 está uma dinâmica muitas vezes repetida na fase de
construção do FC Porto B. Na figura 18 podemos observar que na saída de bola,
a equipa do Real SC optou várias vezes por colocar a bola longa para o lateral
direito, aberto no corredor lateral direito. Na figura 19 podemos observar que a
equipa do SC Covilhã colocava 3 jogadores na área, em resposta a situações de
cruzamento.
b) Transição defensiva (como é que a equipa adversária se comportava
quando perdia a bola no sector ofensivo; como é que a equipa adversária se
comportava quando perdia a bola no sector intermédio; como é que se
comportava quando perdia a bola em sector defensivo), isto é, a zona onde se
perde a posse de bola pode ser determinante para que a pressão após a perda
de bola seja ou não eficaz;
Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.
103
Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.
Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.
Na Figura 20, depois do FC Porto B ter perdido a bola no sector ofensivo,
vão resultar muitos espaços entre linhas, onde podíamos ligar e acelerar jogo
para corredor contrário. Na figura 21, o Famalicão perdeu uma bola em sector
ofensivo e o adversário ficou com muito espaço para transportar. Por sua vez,
os 3 jogadores da linha defensiva, para tentarem temporizar, esperando ajuda
de mais colegas e também para não serem surpreendidos com uma bola nas
suas costas, decidiram correr para trás. Na figura 22, o Real SC vai perder a bola
no sector intermédio. Depois do SC Braga B explorar a profundidade, verificamos
que não houve o cuidado dos médios protegerem o espaço à entrada da área,
de forma a evitar o remate após cruzamento atrasado.
c) Organização defensiva (como pressionam na saída de bola, muitas das
vezes em situação de pontapé de baliza; se realizam ou não pressão ou definem
zonas pressionantes; se são mais agressivos nos corredores laterais ou no
104
corredor central; como se organizam quando se encontram num bloco “médio”;
como se organizam quando defendem mais próximos da sua baliza e como
procuram proteger a sua baliza face às investidas da equipa adversária; ou
ainda, como se organiza a linha defensiva perante bola coberta e bola
descoberta);
Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área.
Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco, com mais dois médios à frente.
105
Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e
poderem ocorrer espaços em profundidade.
d) Transição ofensiva (quais os jogadores-alvo, ou seja, quais os
jogadores mais solicitados e quais as caraterísticas desses jogadores; o que
procuram fazer quando recuperam a bola no sector defensivo; o que procuram
fazer quando recuperam a bola em sector intermédio; o que procuram fazer
quando recuperam a bola em sector ofensivo; existe algum comportamento /
ação que se repita, que possamos definir como padrão?), ou seja, a equipa
procura sair logo para o ataque após a recuperação de bola ou prefere jogar em
segurança mantendo a bola e começando a organizar?;
Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem a bola, optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário.
106
Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à
entrada da área.
Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de seguida havia vários jogadores a procurarem
apoiar e outros a procurarem desmarcar-se em rutura.
e) Ações de bola parada ofensiva (quer nos cantos, quer nos livres
laterais, tentamos saber quem pode executar?; qual a trajetória da bola?; onde
tentam colocar a bola, ou seja, se colocam ao primeiro poste, ao segundo, etc.;
quantos homens é que atacam a área; se existem mais jogadores próximos da
bola, ou seja, se existe uma forte possibilidade de haver um canto curto ou uma
jogada mais elaborada; quais as movimentações dos jogadores adversários; se
o adversário possui algumas referências ou jogador-alvo neste tipo de lances?;
se existem alguns sinais combinados; no caso do pontapé de baliza, devemos
saber se saem curto ou jogam mais longo e caso saíam curto se têm alguns
jogadores mais limitados para perceber como podemos condicionar ou
pressionar; No caso dos penaltis, tentamos fazer uma pesquisa sobre os
jogadores que batem habitualmente e informamos o treinador de guarda-redes,
entregando uma tabela com o local para onde batem os jogadores observados.
Devemos ter em conta as ações de bola parada ofensiva do adversário e
107
adaptar-nos a elas para decidir a nossa atuação para neutralizar o ataque
adversário;
Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna).
Porém há um jogador próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois jogadores à entrada da
área que podem oferecer outra solução.
Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do canto tem um braço levantado.
Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou “fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava
cinco jogadores na área e dois jogadores à entrada da área.
108
f) Ações de bola parada defensiva (quer nos cantos, quer nos livres
laterais tentamos saber como se organizam e como procuram fechar os espaços;
procuramos saber qual o tipo de marcação realizada, se defendem homem-
homem, se defendem à zona ou se defendem de forma mista; procuramos saber
quais os jogadores que desempenham funções de marcação e quem se encontra
em vigilância; qual o posicionamento inicial dos jogadores; procuramos saber
quantos jogadores ficam na barreira e à frente, ou seja, preparados para se
tornarem jogadores-alvo após recuperação de bola e com isso se procuram
lançar logo uma transição rápida; se deixam alguém junto ao poste; se os
jogadores saem da zona acompanhando o adversário, quando há a possibilidade
de ocorrer um canto curto; se o guarda-redes é ou não competente no jogo
aéreo; como se comporta a linha defensiva (livres laterais), se está mais recuada
ou mais subida.
Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa
segunda zona temos dois jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda um jogador
preparado para a transição ofensiva.
Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois
tinham dois jogadores a realizar marcação homem a homem.
109
Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um jogador à frente deles. E um jogador marcando
individualmente. Colocaram apenas um jogador na barreira.
Refletindo acerca da importância do trabalho de AJ e também acerca da
função do analista, fazia todo o sentido o analista participar numa reunião
técnica, com a equipa técnica, onde para além de partilhar o vídeo, explicaria
aquilo que observou, já que os cortes realizados são retirados de um
determinado contexto espacial e temporal, onde o que acontece antes tem clara
influência no ocorrido nos minutos seguintes. Daí a importância de não
fragmentar o jogo. Ou então, fragmentar após uma primeira observação para
perceber o todo.
Após a montagem do vídeo de vinte minutos e após passar essa
informação para a equipa técnica, procedíamos à montagem do segundo vídeo,
mais curto (cerca de oito a nove minutos), com imagens selecionadas e
trabalhadas (tal como os exemplos colocados anteriormente), de forma a
enfatizar algumas situações interessantes, para captar a atenção seletiva dos
jogadores aquando da visualização. Apesar das instruções e orientações da
equipa técnica serem as mesmas, tornava-se muito difícil conseguirmos
sintetizar a informação, escolhendo os melhores exemplos. Assim, fica claro que
era elaborado e entregue um vídeo à equipa técnica e era elaborado outro vídeo
que seria para mostrar aos jogadores.
Tal como refere Hernández (2006) cit. por Vales (2015), uma grande
abundância de informação poderá levar os jogadores e treinadores adjuntos a
um estado de paralisação ou bloqueio de ideias, incompatível com a obtenção
110
do melhor rendimento. Assim, é imprescindível que a informação seja o mais
curta e objetiva possível.
Também Rui Faria cit. por Ventura (2013) explicava que “os vídeos
mostrados aos jogadores nunca são longos, dez minutos no máximo, para não
criar fadiga mental. Sabemos por experiência própria que após dez minutos é
difícil manter os jogadores concentrados. Selecionamos ao máximo a informação
para os manter motivados”.
Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) refere que a observação de
imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente da realidade
(competição e treino), têm uma grande influência na transformação da mesma,
ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o objetivo de que
estes sejam mais eficazes.
Para Vales (2015), o desenvolvimento dos diversos meios tecnológicos
relacionados com a edição de vídeo, juntamente com a progressiva
especialização técnico-profissional dos treinadores, levou a que na atualidade a
análise videográfica do jogo se constitua um elemento presente nas sessões
preparatórias das equipas, quer para analisar de forma visual as caraterísticas
coletivas e individuais do próximo adversário, quer para ser utilizado como um
importante recurso de feedback nas suas diferentes versões: valorativo,
corretivo, afetivo, etc., para a própria equipa.
Em termos gerais, entende-se que a aplicação do visionamento deste tipo
de imagens por parte dos jogadores nas sessões preparatórias prévias aos
jogos, para além de ser um facilitador que os ajuda a enfrentar a competição com
maiores garantias, possibilitando-lhes o acesso a uma informação de tipo visual
facilmente assimilável acerca das caraterísticas mais importantes do próximo
adversário ou de aspetos chave a executar pela própria equipa durante o
próximo jogo, permitirá também desenvolver no jogador a capacidade para a
identificação e interpretação pessoal das diversas situações do jogo, fomentando
e estimulando as suas possibilidades de analisar ativamente o jogo de uma
forma mais autónoma (Vales, 2015).
Também ocorreram diferenças na organização e no microciclo de trabalho
referente à análise e mostragem do(s) vídeo(s) para os jogadores. Na função de
111
analista, soube sempre qual era a minha missão e adaptei-me sempre à
organização e rotina de cada equipa técnica.
A primeira equipa técnica, com a liderança de Ivo Vieira pretendia realizar
a mostragem do vídeo, numa sessão única, tendo o vídeo a duração máxima 8
a 9 minutos. A sessão seria realizada, normalmente à sexta-feira, ou seja (um a
dois dias antes da competição). Era o treinador principal o responsável pela
apresentação do vídeo. Com a segunda liderança, com Ricardo Soares, o vídeo
era da total responsabilidade do treinador adjunto, contudo a apresentação
muitas vezes era partilhada entre o treinador adjunto e o treinador principal.
Organizavam-se, dividindo em 3 sessões de vídeo: na primeira sessão, que era
realizada 2 dias antes da competição, era apresentada a organização ofensiva
da equipa adversária e a transição defensiva; na segunda sessão, 1 dia antes
da competição, era apresentada a organização defensiva e a transição ofensiva.
Por último, antes da palestra do jogo, no dia da competição, eram apresentados
os lances de bolas paradas ofensivos e defensivos. Após a saída de Ricardo
Soares e com a entrada do terceiro treinador, que foi Quim Machado, a
elaboração e a mostragem do vídeo ficou sob a minha responsabilidade, ou seja,
sob a responsabilidade do analista. No entanto, como é lógico, o treinador
principal interveio sempre que entendeu ser pertinente. Com Quim Machado
voltámos a organizar um vídeo numa sessão única, sendo a sessão de vídeo
realizada mais perto do final da semana.
Segundo Pedreño (2018), as duas propostas têm as suas vantagens e
inconvenientes, o que depende sempre da sua efetividade e capacidade do
treinador para levar os seus atletas a compreenderem como o modelo de jogo e
o seu plano estratégico têm coerência com as caraterísticas tático-estratégicas
do adversário. Na opinião do autor, a estratégia de dividir em vários momentos
de vídeo tem algumas vantagens, comparativamente com o vídeo único, pois
cada vídeo: a) é mais curto, não havendo necessidade de fornecermos toda a
informação naquele instante pois ainda haverá mais momentos de
apresentação; b) há coerência entre o plano visionado e o plano treinado, pois a
seguir à visualização do vídeo poderão passar a informação para a prática, no
treino.
112
O autor fala também da atenção necessária a ter com a duração do vídeo.
Como é sabido, o ser humano tem uma capacidade limitada para manter o seu
foco atencional. Assim, as conversas devem ser curtas. O autor recomenda que
o vídeo tenha seis a sete minutos, sendo que depois o treinador pode gastar
mais dois ou três minutos para explicar. Segundo o autor é importante que a
apresentação não vá para lá dos dez minutos.
Jémez (2012) cit. por Pedreño (2018) explica: “Temos que gerir a
informação necessária, nem muita nem pouca, para deixar-lhes no final um vídeo
de doze ou catorze minutos. A partir daí, creio que o jogador acaba perdendo a
atenção. Posso colocar um vídeo de meia hora, mas eu fui jogador e sei que a
partir dos quinze minutos um começa a soprar, o outro começa a tocar no
cotovelo do colega ao lado… e é normal”.
Fazendo uma reflexão acerca da mostragem, apresentação e
periodização deste trabalho, parece-nos fazer sentido ser o analista a ter voz
ativa na apresentação da equipa adversária, pois entendo que deve apresentar
o adversário, a pessoa que mais jogos observou, que mais estudou e que
analisou cada detalhe da equipa adversária. Todavia, é compreensível, que por
vezes, os treinadores pretendam filtrar ainda mais a informação, pois já têm em
mente algumas estratégias para neutralizar e atacar o adversário. Neste caso
devemos considerar que a apresentação – vídeo era primeiramente enviada à
equipa técnica e só era mostrada aos jogadores a posteriori.
Relativamente à periodização do trabalho. Penso que apesar da
informação partilhada ser melhor apresentada, transmitida e talvez por isso
também melhor interiorizada aquando da divisão em três sessões de vídeo,
também senti que a disponibilidade e vontade dos atletas para absorverem a
mensagem era substancialmente menor. Como é evidente, não há fórmulas
mágicas para o sucesso, pois todos estes treinadores já tiveram e continuarão
certamente a ter êxitos nas suas carreiras profissionais, contudo, também aqui
ficam apresentadas diferentes formas de gerir e transmitir a informação acerca
da equipa adversária.
O ideal é que essa estratégia seja partilhada e haja uma reflexão
partilhada entre equipa técnica e o analista. Quando assim é penso que faz
113
sentido delegar esta missão no analista. Porém, quando o analista não participa
nas reuniões técnicas e por esse motivo não reúne todas as informações e está
por isso incapaz de selecionar a informação mais importante e determinante,
então penso que faz sentido, a apresentação do vídeo ficar ao cuidado do
treinador principal ou de outro elemento da equipa técnica.
Sánchez (2015) escreve que há treinadores que preferem que a
exposição da análise seja realizada pelo próprio analista, enquanto outros
deixam a mesma para o treinador adjunto e outros preferem ser eles mesmos a
realizar a apresentação. Cada treinador tem a sua própria forma de gerir a
informação e de transmitir ao plantel.
Segundo Pedreño, o analista tático deve trabalhar com base no modelo
de jogo da própria equipa. Para isso deve conhecê-lo e estar sempre ao corrente
de tudo o que acontece no plano tático em torno da equipa e das decisões
tomadas pela equipa técnica.
Contudo, quando na estrutura existe apenas um analista, por vezes o
tempo torna-se escasso para realizar todas as tarefas solicitadas. Talvez por
isso, ou então por outros motivos, os treinadores não me envolveram nas
reuniões de planeamento e de definição, construção e renovação do modelo de
jogo. Contudo, entendo que estas reflexões e reuniões devem ser uma constante
quando existe uma estrutura preparada e com mais recursos humanos. Numa
estrutura com poucos recursos humanos, mesmo que o analista não integre as
reuniões de planeamento, penso que este deve ser abordado no sentido de
explicar aquilo que observou acerca do adversário e deve ser envolvido para que
o mesmo perceba e entenda o plano operativo para neutralizar e superar o
adversário.
Na perspetiva de Vales (2015), entende-se que tal como um treinador
deve ter talento e habilidade suficientes para liderar corretamente um projeto
desportivo orientado para a obtenção do rendimento, um treinador - analista
deverá ter também a capacidade para desenvolver de forma eficaz a tarefa de
interpretar e extrair significado operativo da informação recolhida, com o fim
dessa ser utilizada convenientemente pela equipa técnica. Por isso mesmo, e
com a intenção de fomentar um correto fluxo de informação entre ambas as
114
partes e de estabelecer linhas de feedback que possibilitem uma permanente
otimização da dinâmica de trabalho dentro dos departamentos de AJ, entende-
se oportuna a realização de reuniões periódicas entre o corpo técnico e o analista
– chefe.
Após a apresentação videográfica procedia à elaboração do relatório
(formato power point e convertido para pdf.).
Apesar de ainda hoje não existir um número importante de trabalhos
dirigidos especificamente às bases metodológicas para uma correta edição do
relatório técnico, as próprias necessidades informativas das equipas técnicas
das equipas de futebol provocaram, progressivamente e de uma forma
espontânea e intuitiva, que se fossem confecionando distintos modelos de
relatório, com orientações interessantes na forma e no conteúdo (Vales, 2015).
Embora saibamos que cada jogo é único, devido ao contexto competitivo,
aos estilos de jogo e aos jogadores participantes (que variam de jogo para jogo),
é comum aceitarmos que as fases, os objetivos, os princípios e os fundamentos
presentes são invariáveis e independentes da situação concreta em que se
manifestam. O facto de assumirmos que todos os jogos contêm uma estrutura
estável com fases, objetivos, princípios, etc., permitirá supor que será possível
construir um modelo de AJ universal, fundamentado em um conjunto definido de
parâmetros de análise consensual e aceite pela maior parte dos especialistas,
que facilite uma correta interpretação dos jogos e que possibilite ao treinador
conhecer e avaliar o conteúdo dos mesmos com uma maior profundidade (Vales,
2015).
Segundo o mesmo autor, a edição de relatórios técnicos pode ser
realizada em três âmbitos de atuação: a) relatórios técnicos sobre a própria
equipa, cuja estrutura de conteúdos estará orientada principalmente para a
avaliação dos pontos fortes e frágeis que apresenta o modelo de jogo da própria
equipa; b) relatórios técnicos sobre a equipa adversária, cuja estrutura de
conteúdos estará orientada para analisar a situação competitiva que apresenta
o próximo adversário tanto no que toca às circunstâncias (lesões, jogadores
castigados, jogadores novos que entraram, etc.), como informação acerca do
nível de jogo e rendimento manifestado nos últimos jogos disputados (% de
115
vitórias, estilo de jogo, principais individualidades, etc.). Este tipo de relatórios
caraterizam-se pela identificação das regularidades, pontos fortes e frágeis
caraterísticos do modelo de jogo das equipas adversárias; c) Relatórios técnicos
sobre jogadores, cuja estrutura de conteúdos estará orientada para a situação
socio-desportiva e caraterísticas funcionais de determinados futebolistas.
Geralmente, este tipo de relatórios realizados especificamente sobre um jogador
concreto têm como objetivo transmitir informação que reforce uma eventual toma
de decisão dirigida a uma futura contratação (Vales, 2015).
Como é sabido, o nosso foco e função prendia-se com uma análise
detalhada acerca do próximo adversário. O relatório realizado era constituído por
três partes:
A primeira parte era uma breve apresentação dos últimos jogos realizados
e de alguns dados estatísticos relevantes, bem como informação acerca
da equipa adversária nos últimos três a quatro jogos, indicando a forma
como se organizaram, e as substituições realizadas. A acrescentar a isso,
apresentava o 11 provável, tendo em consideração toda a informação
disponível até aquele momento;
Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes e pontos fracos.
A segunda parte do relatório consistia numa descrição dos
comportamentos e ações mais repetidas (padrões), nos vários momentos
do jogo e esquemas táticos, nos jogos observados;
116
Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.
Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.
Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.
117
Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas SL Benfica B.
Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SL Benfica B.
A terceira e última parte consistia numa análise individual, detalhada,
acerca dos destaques da equipa e uma análise mais superficial acerca
das outras individualidades, que tinham sido utilizados. Este trabalho era
feito em conjunto com o scouter da AAC/OAF pois reconhecia que ele
possuía um conhecimento mais amplo dos jogadores, pois acompanhava
a Segunda Liga há alguns anos.
Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual. Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã.
118
Em relação à fase de obtenção de informação quantitativa, é importante
reconhecer que o facto de se recolher e apresentar um grande volume de dados
não significará necessariamente que se esteja a facultar uma informação ótima
para o treinador, já que, dispor de uma grande quantidade de informação não
garante que se esteja bem informado.
Em segundo lugar, ainda sobre a informação quantitativa e sobre os
dados estatísticos e a sua interpretação, é imprescindível compreender que
quantidade não é sempre sinónimo de qualidade (por exemplo, a obtenção por
parte do jogador de um jogador de uma maior percentagem de êxito no passe,
comparativamente a outro colega de equipa, deverá ser avaliada, não
considerando apenas o seu valor numérico, mas tendo também em conta as
circunstâncias de direção, distância, espaço, etc., em que foram efetuados).
Assim, para se obter um resultado satisfatório do processo de análise
quantitativo de um jogo, será necessário levar a cabo uma interpretação dos
dados desde um ponto de vista tático, considerando as contingências do próprio
jogo (tipo de competição, dinâmica do marcador, simetria / assimetria do duelo,
etc)., assim como o plano de jogo assumido pelas equipas e as particularidades
de cada posição específica (Vales, 2015). Solé (2010) cit. por Vales (2015)
explica que no futebol, registar estatisticamente a execução de um passe
acertado por parte de um jogador, significa simplesmente que o passe se
realizou, mas não explica muito acerca da sua intencionalidade ou contexto tático
em que foi produzido.
Contudo, nos relatórios técnicos, são recolhidas algumas estatísticas que
segundo Vales (2015) são denominadas de estatísticas de resultado e de
classificação, em que se integram as diferentes hipóteses: a) história dos
resultados obtidos (número e percentagem de jogos ganhos, empatados e
perdidos); b) controlo do resultado do jogo (número e percentagem de jogos com
uma dinâmica de resultado predominante favorável, neutro ou desfavorável;
número e percentagem de jogos em que se consegue manter um resultado
favorável, dar a volta a um resultado desfavorável e não manter o resultado
favorável); c) classificação, jogando em casa ou fora, ou se preferirmos como
119
visitado ou visitante (classificação; número e percentagem de pontos
conseguidos; número de golos a favor e contra);
No relatório técnico, há sempre espaço para que o analista realize alguns
comentários técnicos, que consistem em informações qualitativas acerca da
caraterização da forma de jogar das equipas e jogadores adversários, tendo
sempre como objetivo descrever quais são as forças e debilidades da equipa
analisada. Importa salientar que devido à natureza complexa do jogo, é muito
difícil alcançar um grau de objetividade e consenso absoluto nas avaliações
técnicas realizadas pelos especialistas, sendo possível observar em
determinados momentos e situações que uma mesma ação seja valorizada de
forma diferente por diferentes especialistas creditados. Por outro lado, também
se considera importante recordar que a qualidade deste tipo de avaliação
dependerá consideravelmente das particularidades individuais (conhecimentos
futebolísticos, gostos pessoais, estado de saúde, etc), de cada um dos
especialistas no momento de emitir juízos e opiniões sobre o que estão a
observar (Vales, 2015).
Segundo o mesmo autor, na prática, o conjunto de comentários técnicos
que aparecem habitualmente no relatório podem ser classificados em quatro
categorias fundamentais:
a) Comentários técnicos gerais, que são utilizados para contextualizar as
condições em que decorre a partida, assim como a atualidade competitiva
da equipa analisada. De um modo mais concreto, este tipo de comentários
técnicos fazem referência ao contexto da partida (condições climatéricas,
ambientais e ao terreno de jogo; dinâmica de resultado da partida, ou seja,
se é favorável, desfavorável ou neutro; assimetrias nos duelos, ou seja,
se há superioridade ou inferioridade numérica), às contingências da
equipa analisada (classificação no momento; resultados recentes;
jogadores lesionados, castigados ou que tenham chegado de novo à
equipa) e também ao nome dos jogadores e da equipa técnica;
b) Comentários de análise acerca do jogo dinâmico, isto é, acerca da
caraterização de conteúdos do jogo de natureza coletiva, relacionados
com a gestão espacial no terreno de jogo e com a metodologia ofensiva
120
e defensiva desenvolvida pela equipa nas fases dinâmicas do mesmo. De
um modo mais específico podiam ser resumidos os seguintes aspetos:
Posicionamento e distribuição espacial; Organização ofensiva (método de
jogo predominante; identificação dos jogadores especialistas na
canalização e finalização do jogo; definição dos pontos fortes e débeis na
estrutura ofensiva, ou seja, na subfase de construção – criação de
situações de finalização e subfase ofensiva da finalização propriamente
dita); Organização defensiva (método de jogo predominante; tipo de
marcação; identificação dos jogadores especialistas na contenção e
recuperação da bola; definição dos pontos fortes e débeis da estrutura
defensiva, ou seja, na subfase defensiva de contenção e recuperação da
bola e subfase defensiva de evitar o golo.
c) Comentários de análise do jogo com bola parada, que fazem referência à
forma como as equipas se organizam nas diferentes ações ofensivas e
defensivas derivadas de incidências regulamentares do jogo: cantos,
pontapé de baliza, livres frontais, livres laterais, etc. Ofensivamente, neste
tipo de lances importa: definir as posições de partida e movimentos dos
jogadores nas diferentes situações de bola parada a favor; descrever as
trajetórias da bola; valorizar o grau de organização geral apresentado
nessas ações de bola parada ofensiva. Defensivamente importa:
determinar o tipo de marcação e posicionamento utilizado nas diferentes
situações de bola parada defensiva; valorizar de forma global o tipo de
atitude e grau de concentração dos jogadores.
d) Comentários de análise individual, relativos à definição das caraterísticas
do jogo mostradas por cada um dos jogadores analisados. Os conteúdos
acerca da análise individual podem resumir-se a: aspetos de tipo
posicional (definição das posições de base e raios de ação dos jogadores
participantes); aspetos de tipo funcional (descrição do perfil funcional do
jogador em termos condicionais, técnico-táticos e psicológicos; definição
de qualidades que devam ser destacadas e enaltecidas; resumo dos
principais pontos fortes e débeis a nível ofensivo e defensivo); aspetos
acerca da performance (definição do nível de regularidade no rendimento
121
individual; descrição da resposta competitiva em jogos de alta
dificuldade).
Segundo Vales (2015) e o modelo por ele proposto para a elaboração do
relatório técnico, o relatório técnico estava subdividido em 3 macro – categorias,
sendo a primeira uma categoria relativa ao estudo dos aspetos gerais do jogo,
relacionados com a atitude e aptidão global dos participantes, com referência
aos últimos resultados e golos, bem como ao estilo de jogo e rendimento global.
A segunda macro – categoria seria relativa ao estudo dos aspetos coletivos do
jogo, relacionados com a organização e rendimento manifestado pelas equipas:
gestão espacial e posicionamento, jogo ofensivo coletivo (dinâmico e com bola
parada) e também jogo defensivo coletivo (dinâmico e com bola parada). Por fim,
na terceira e última macro – categoria, relativa ao estudo dos aspetos individuais,
relacionados com a avaliação do rendimento do jogador.
Sobre a análise individual, alguns treinadores entrevistados por Ventura
(2013), entre os quais Carlos Azenha e também José Mota, referem que para
eles é importante conhecerem individualmente os jogadores da equipa
adversária. Carlos Azenha explica que “caraterizamos jogador a jogador (…)
Onde é que é forte, se remata bem, se cabeceia bem, se é agressivo no um
contra um, se dribla forte, se marca bem livres”. Já José Mota adianta que “temos
sempre aquela avaliação que se faz sobre este jogador, que tem uma
predominância maior sobre o próprio jogo, que pode conseguir resolvê-lo. Tem
de haver esse tipo de cuidado. Mesmo ao nível do vídeo, temos essa
preocupação, de focar as caraterísticas desse mesmo adversário”.
Em jeito de balanço e aproveitando as palavras de Castelo (2009), o
conhecimento geral e particularizado, da expressão tática coletiva e individual da
equipa adversária, tem por objetivo, por um lado, minimizar ou anular os seus
mais eficientes e, por outro, evidenciar as suas carências inerentes ao seu
modelo de jogo e de preparação (treino). Quando os jogadores são alertados
(individual e coletivamente) para as condições objetivas da futura competição e,
especialmente, para as particularidades deste ou daquele adversário
(combinações e esquemas táticos executados), a sua perceção encontra-se
favoravelmente influenciada, facilitando e acelerando uma intervenção
122
adequada. No entanto, há que ter presente, a possibilidade de variação
sistemática de resolução tático-técnica das situações de jogo realizada pela
equipa adversária. E quanto maior for a variabilidade de resolução tático-técnica
por parte da equipa adversária, mais difíceis e complexas serão os mecanismos
de deteção e identificação, reveladores dos índices pertinentes da situação.
Uma vez realizado todo o nosso trabalho, passando horas com o nosso
computador para analisar, organizar e preparar toda a informação, é o momento
em que todos esses dados chegam ao treinador e a toda a equipa técnica. O
treinador é a cabeça visível de tudo e é quem se aproveitará de toda a
informação recebida para transmitir aos seus jogadores e trabalhar com a equipa
durante a semana. Temos lhe fazer chegar a informação da melhor forma
possível, para que veja que fazemos bem o nosso trabalho e que o mesmo terá
uma grande utilidade. Não é melhor analista aquele que recolhe e transmite mais
dados, mas sim o que é capaz de apresentar a informação que o treinador
precisa de forma ordenada e coerente (Pedreño, 2018).
Entregue o relatório, o treinador ficava, a partir desse momento, com mais
ferramentas para preparar melhor o jogo, pensando nos melhores exercícios
para promover determinadas ações que nos podem colocar mais perto do
sucesso. Todo o trabalho desenvolvido pelo observador e pelo analista
possibilitam ao treinador conhecer profundamente o adversário. Por
consequência, dotado de maior informação, o treinador e a equipa técnica ficam
então responsáveis por pensar, planificar o microciclo ou seja a semana de
treino, sempre com o objetivo de alcançarmos o desempenho e resultado
desejados. Assim, depois de recolhida e transmitida a informação, compete ao
treinador selecionar a parte mais importante e que deve ser transmitida aos seus
jogadores.
Todas as tarefas da responsabilidade do departamento de AJ tinham de
estar resolvidas nos prazos estipulados pela equipa técnica, a fim de servirem
de referência ao treinador para que este preparasse os treinos prévios à
competição e para ajudá-lo a formular o plano de jogo (Valadés, 2002 cit. por
Vales, 2015). Na definição de prazos não houve muitas diferenças entre as
diferentes lideranças ao longo da época. Quase todos os treinadores pretendiam
123
ter o vídeo na sua posse até terça ou quarta-feira (sempre que o jogo se realizava
no sábado ou domingo). Já o relatório tinha de ser entregue até quinta-feira,
sempre que o jogo se realizava ao domingo.
Ventura (2013) entrevistou vários treinadores e na sua maioria referiram
que têm definido um microciclo “standard” de trabalho semanal. No entanto, este
em algumas situações da época pode não ser implementado, apontando três
fatores que podem condicionar a sua utilização: a) competição; b) fadiga; c)
adversário.
Segundo o mesmo autor, a competição pode influenciar a organização do
microciclo semanal em vários aspetos: i) devido à existência de mais de um jogo
por semana; ii) devido ao dia, hora e local do jogo poder condicionar o dia do
primeiro treino do microciclo seguinte; iii) devido à duração da semana em função
do calendário competitivo; iv) devido hoje em dia à grande preponderância das
transmissões televisivas na marcação do dia do jogo; v) devido à presença de
alguns clubes em competições europeias.
João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere: “se jogar no
norte domingo à noite, é muito complicado eu ter treino de manhã. Se for fazê-lo
à tarde, já estou a tirar umas horas ao tempo de recuperação que pretendo para
o próximo treino. Portanto nessas circunstâncias, darei a folga na segunda e
depois voltaremos na terça”.
Acerca do fator “fadiga”, que também pode influenciar a utilização do
microciclo padrão, António Conceição, entrevistado por Ventura (2013) afirma
que, se entender que os seus jogadores estão mais cansados e se estão perto
do jogo, poderá realizar ajustamentos a essa programação: “A nível do volume
de treino não. Isso é em função do que vou observando da minha equipa, se
estão cansados, se estamos perto do jogo, e ajusto”.
Acerca do fator “adversário”, o treinador Ulisses Morais, entrevistado por
Ventura (2013) refere que apesar da diferença entre o adversário seguinte e o
anterior, o microciclo semanal não altera, o que altera é o conteúdo do mesmo:
“Independentemente de o adversário ser bastante diferente do adversário
anterior, o nosso microciclo não altera. Alterar, se quiser, é alguns dos conteúdos
124
daquilo que podem ser os exercícios em que entendemos serem fundamentais
fazer uma repetição deles perante o adversário”.
Depois de transmitida a informação para o treinador e depois de este
considerar os vários fatores que podem influenciar na organização da sua
semana de trabalho, o treinador define como vai organizar o processo de treino.
Garganta (2000) cit. por Ventura (2013) refere que depois de garantida
coerência no processo de treino, tendo como objetivo o desenvolvimento de uma
determinada forma de jogar, baseada no modelo de jogo do treinador e na sua
conceção de jogo, as informações que o treinador tem sobre o seu oponente
podem vir a revelarem-se oportunas na elaboração de exercícios específicos no
treino, que visem contrariar os pontos fortes ou explorar os pontos fracos do seu
oponente.
João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere que, quando
prepara a semana de trabalho e consequentemente o plano de jogo, já
contempla o tipo de adversário que vai ter pela frente, criando exercícios
específicos para contrariar ou explorar os pontos fortes ou fracos desses
adversários: “Temos sempre em consideração o tipo de adversário que vamos
ter pela frente. Normalmente já temos antecipadamente um relatório
pormenorizado do adversário que temos pela frente. Identificámos aquilo que
nós achamos que numa eventual relação de forças pode ser um problema para
nós ou uma vantagem para nós. Tentamos delinear o trabalho também em
função disso, criamos objetivos, criamos exercícios que nos garantam que
vamos ao encontro desses objetivos”.
Em jeito de balanço e de pura reflexão, apesar de entender que o trabalho
realizado apresentava qualidade, considerei, ao longo do tempo, proceder a
algumas alterações. Isto deveu-se ao facto de ter observado situações que até
então me eram desconhecidas e por ter enriquecido o meu entendimento acerca
do jogo ao longo do tempo. Para além disso, por vezes, é necessário que o
analista se coloque constantemente no lugar do treinador e se questione acerca
da clareza da mensagem descrita no relatório técnico. Por vezes senti que, o
relatório podia não estar a ser totalmente esclarecedor e era necessário traduzir
a informação, coloca-la numa linguagem mais usual dentro da própria equipa
125
técnica, para que o leitor (treinador e equipa técnica) o pudessem compreender
de forma clara e objetiva.
Portanto, o grande objetivo é que o treinador fique na posse de um
manancial de informação que lhe permita preparar o jogo da melhor maneira
possível, tentando ao máximo explorar os pontos fracos do adversário e preparar
as melhores soluções para enfraquecer os pontos fortes. Com a informação
recolhida, o treinador tenta antecipar o que se irá passar durante o jogo, tirando
um pouco da imprevisibilidade do mesmo, melhorando e adequando o programa
de treino (Ventura, 2013).
Depois de analisada uma equipa, não há tempos de folga, pois outro
adversário se aproxima. Mas o momento alto e a maior alegria acontece, quando
conseguimos chegar a um golo após uma situação observada, identificada,
trabalhada e colocada em prática. Esse sucesso é a melhor energia e o melhor
combustível para virar a página e partir para o adversário que se segue.
Para além da análise do adversário também estava responsável por filmar
algumas sessões de treino e também os jogos. Para além de filmar, sempre que
possível tentava observar o jogo, sendo que foi extremamente difícil fazer ambas
as tarefas em simultâneo, já que por um lado, tentamos garantir a qualidade da
filmagem e em simultâneo procurava conseguir analisar as situações que
estavam a decorrer no preciso momento.
Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade de Coimbra e jogo fora.
126
Por duas vezes, primeiro aquando da saída da equipa técnica de Ivo Viera
e depois mais tarde de Ricardo Soares acabei por realizar tarefas de treinador
adjunto, ajudando os treinadores interinos Vítor Vinha e Vítor Alves. Apesar de
serem circunstâncias difíceis foi mais uma experiência que me enriqueceu do
ponto de vista profissional.
Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras.
Na semana após a saída de Ricardo Soares, para além de ter cooperado
e participado na planificação e na operacionalização do treino, estive ainda
presente no banco auxiliar durante o jogo. Honestamente, depois de estarmos
tão habituados a ver o jogo a partir de um plano superior, na função de analista,
senti imensa dificuldade em conseguir ler e analisar o jogo a partir do banco.
Tal como escreve Garganta cit. por Pedreño (2018) existem uma série de
aspetos a ter em conta que limitam a observação do jogo por parte dos
treinadores, tais como: a) campo visual restringido, já que o treinador, no banco,
tende a seguir a bola não se preocupando com o que está longe dele, não porque
não saiba do jogo, mas porque na competição, em situação de stress, fica
preocupado com os momentos críticos do jogo; b) posicionamento desfavorável,
pois a sua posição para observar o jogo não é a mais adequada, não
conseguindo ver o campo todo e todos os jogadores em todos os momentos; c)
limitação da memória humana; d) efeito das emoções; e) parcialidade, em que
127
as pessoas emitem juízos sobre algo, influenciados por uma impressão seja ela
positiva ou negativa.
Esta última nota serve para consciencializar todos acerca da
complexidade do jogo. Para o comum dos adeptos é tudo relativamente fácil. E
avalia normalmente o atleta e a qualidade do jogo pela intensidade ou falta dela.
Contudo, quem estuda o jogo e quem o analisa nem sabe bem o significado do
conceito de intensidade. Como profissional da área prefiro o conceito de
complexidade, e após esta época, depois desta oportunidade fantástica, que foi
acompanhar uma equipa profissional, pretendo deixar claro que o Futebol é um
desporto em que todos os aspetos táticos, técnicos, físicos e psicológicos se
manifestam em simultâneo em cada uma das ações de jogo, e por esse motivo
torna-se fundamental realizar a análise do rendimento, sendo este um meio de
avaliação do treino e da competição.
Por último, pretendemos reforçar o papel dos profissionais do treino e da
observação e AJ, que na sua maioria, acumulam horas e horas de empenho e
dedicação e têm uma vontade e uma ambição imensa, desejando com todas as
forças o êxito e o sucesso. Para nós, profissionais da observação e análise do
jogo, entendemos a nossa missão como um complemento para a tarefa do
treinador, contribuindo com conhecimento mais aprofundado acerca da própria
equipa e da equipa adversária.
128
5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Começando por confrontar aquilo que eram as minhas expetativas iniciais
com a realidade encontrada, naturalmente que tenho que começar pela ideia que
tinha, de poder integrar um gabinete de análise, uma equipa de trabalho,
metódica, organizada, competente e que tudo faria para conseguir dotar os
treinadores de informação precisa e determinante para que a Académica
estivesse mais próxima de conquistar os 3 pontos, em cada fim de semana. Mas
estava completamente enganado.
Contava que a esperada integração num gabinete de análise me pudesse
ajudar a melhorar o meu conhecimento profundo do jogo. Afinal, esse tinha sido
um dos principais objetivos que me fez procurar realizar o estágio neste ramo.
Mas foi uma utopia, afinal não existia gabinete, e eu dependia só de mim.
Segundo Ventura (2013), os departamentos de scouting são estruturas
que começam cada vez mais a ganharem o seu espaço nos clubes de futebol
profissional. Contudo, em clubes que vivem dificuldades financeiras não existe o
número de recursos humanos ideal. Ainda assim, segundo o mesmo autor, o
departamento deve ter um coordenador geral, ou seja, uma pessoa identificada
com o clube e que deve conhecer muito bem as normas de funcionamento e a
realidade do clube. Para além disso, o departamento deve estar dividido em duas
vertentes, a vertente da prospeção e a vertente da observação e análise do jogo.
Mas na realidade da AAC/OAF, não existia Coordenador Geral do
departamento de scouting. No entanto, a divisão do trabalho era realizada,
estando eu responsável por realizar as funções de análise e havendo uma
pessoa responsável pelas funções de prospeção para a equipa profissional.
Se é verdade que esta situação não terá ajudado na minha rápida
evolução e aprendizagem, pois não tive ninguém que me apontasse correções,
aspetos e estratégias de melhoria, também não é menos verdade que esta
situação me trouxe uma grande responsabilidade, e também uma experiência de
aprendizagem sustentada a partir do erro na primeira pessoa, que me obrigou a
ser autodidata, procurando informar-me acerca daquilo que devia fazer, como
devia fazê-lo, quando e porquê.
129
Outra situação, que me fez dar alguns passos atrás, foi a forma como é
visto o analista. Para a estrutura apesar de sentir que reconhecem importância,
no seio do clube entre outros funcionários, o analista não passa do “rapaz que
filma” e “que faz uns cortes”. Senti que o trabalho não é valorizado por ser um
trabalho que possa fazer a diferença entre empatar ou ganhar. Por contrário,
senti que a equipa técnica valoriza o trabalho do analista e pretendem que as
suas tarefas estejam concluídas o mais rapidamente possível. Porém, penso que
muitos treinadores não têm uma noção concreta do tempo e das horas de
trabalho envolvidas. E por este motivo, muitas vezes os pedidos de tarefas
sucedem-se, sem que muitas vezes os treinadores percebam o porquê das
tarefas não ficarem todas concluídas em um par de horas. Portanto, vive-se aqui
num confronto entre quem acredita muito e quem acredita muito pouco no
trabalho de observação e identificação de pontos fortes e fracos do adversário.
Um dos enormes constrangimentos foi o facto de acumular a função de
analista com a função de coordenador técnico da formação, coordenando os
escalões de iniciação entre sub10 e sub13 (cerca 100 a 120 atletas) da
Associação Académica de Coimbra-OAF. Senti que foi uma loucura ter exercido
estas duas funções, pois são totalmente incompatíveis. Contudo não tive
alternativa, pois enquanto funcionário (profissional), o convite que me
endereçaram para a coordenação antecedeu o convite para pertencer ao
suposto gabinete de AJ e para honrar o meu compromisso e para que
continuasse a ter a oportunidade de desenvolver o meu trabalho no âmbito do
mestrado, não podia de forma alguma deitar tudo a perder. Restava-me
desenvolver um elevado controlo emocional e gerir a minha vida com mestria.
Sabia que ia ser uma época com enorme volume de trabalho e prejudiquei a
minha saúde (poucas horas de sono, poucas refeições e muitas vezes pouco
ricas). A nível profissional, mais horas não significa maior produtividade e
qualidade no trabalho desenvolvido. Devido ao cansaço e fadiga mental, como
é evidente, cometi alguns erros, que outrora não teria cometido. E vários dilemas,
todos os dias pois era fundamental a minha presença a supervisionar os
treinadores que coordenava, a informar diretores de equipa / team manager’s, a
ajudar a desenvolver cerca de uma centena de crianças proporcionando-lhes
130
contextos ótimos de aprendizagem. Mas em simultâneo, era também
fundamental a minha presença junto à equipa técnica, no exercer das minhas
tarefas, o mais rapidamente possível. E eis que tenho que tomar decisões e gerir
prioridades. E o trabalho de coordenação ficou por fazer, naquele(s) dia(s).
Antes de decidir a área/ramo do meu estágio, refleti bastante acerca da
minha perspetiva de carreira. Desde 2009/2010, o primeiro ano em que comecei
a olhar e a sentir o futebol de outra perspetiva, no papel de treinador e formador,
que passei por vários projetos de formação, tendo oportunidade de conhecer e
treinar muitas crianças e jovens. Depois de tantos anos a treinar crianças senti
que estava na altura de começar a dar um rumo diferente à minha carreira. E no
âmbito do estágio, tive a oportunidade de trabalhar junto da equipa profissional,
o que me fez desenvolver uma ambição ainda maior.
E agora, não restam dúvidas, este desafio reforçou as minhas aspirações
e a minha identidade. Pretendia continuar no campo da AJ por mais uma época
e depois, gostava imenso de voltar ao treino, enquanto treinador adjunto.
Portanto, o objetivo é claro, continuar a aprofundar, a curto prazo, o meu
conhecimento acerca do jogo, procurar aprender o máximo possível neste
período. Continuar a recolher informação, observar, relatar.
Se pudesse viajar no tempo, e se tivesse mais disponibilidade, enquanto
analista, gostaria de participar nas reuniões técnicas, com a equipa técnica,
tentando perceber como tratam a informação e como a transportam para o treino
e como a filtram delineando uma estratégia. Isto seria uma experiência essencial
para o passo que queria dar em seguida: o voltar ao treino, enquanto treinador
adjunto.
Considerando as funções e qualidades que um observador deve possuir,
parece-nos óbvio que este deve contactar e dialogar diariamente com o
treinador, acerca das caraterísticas táticas do adversário. Apesar de estar no
gabinete imediatamente ao lado da equipa técnica, o facto de acumular funções
na instituição que representei e continuo a representar, fez com que não
estivesse 100% disponível para a equipa profissional. E este constrangimento
fez com que o meu raio de ação fosse menos pelo terreno e mais pelo gabinete.
Devido ao enorme volume de trabalho e ao facto do tempo “fugir”, senti que
131
talvez por isso, um ou outro treinador me dispensasse de algumas reuniões
técnicas, para poder finalizar o trabalho.
Tal como nos fala Ventura (2013), num clube que tenha um departamento
de scouting composto por vários observadores, consegue mais facilmente
observar três ou quatro jogos de cada adversário, organizando esses
observadores de acordo com o calendário. Por outro lado, num clube sem essa
estrutura, e só com um observador disponível, torna-se complicado conseguirem
realizar esse número de observações.
Fazendo uma reflexão, é evidente que entendo que a presença do
analista e do observador nas reuniões técnicas é fundamental. Contudo, tive que
organizar o meu dia-a-dia no sentido de completar todas as minhas tarefas, de
forma a garantir que a equipa técnica tinha ao seu dispor o conjunto de
informações (em relatório e em vídeo) suficientes para que pudessem maximizar
a qualidade do treino e o desenvolvimento do plano de jogo.
Também aqui, entendo que se estivesse a desempenhar só a função de
analista, a tempo inteiro, apesar de continuar a ser complicado realizar todas as
tarefas implícitas por ser o único analista na estrutura, estaria certamente ainda
mais disponível e seria mais vezes chamado para partilhar informações com a
equipa técnica, de forma pessoal. Devido ao enorme volume de trabalho e à
agenda sempre preenchida, muitas vezes não havia a transmissão da
informação de forma verbalizada, mas sim apenas através do relatório (escrito)
e a partir dos vídeos, devidamente editados.
Pessoalmente, foi uma experiência que também me fez mudar algo a nível
pessoal. O mundo profissional é um mundo de desconfiança e de incerteza.
Pouco estável, pouco confiável. Hoje colocam-te no topo e amanhã arrasam-te.
Hoje é verdade e amanhã tudo pode ser diferente. E isto traduz-se muitas vezes
numa cultura do “salve-se quem puder” que provoca sempre muita desconfiança
e pouca crença. Um ano a viver esta experiência, torna-me muito mais seguro e
confiante nas minhas capacidades mas também muito mais fechado e um pouco
mais contido nas palavras. Se sempre entendi ser um Homem prudente e
assertivo, hoje penso duas vezes mais antes de proferir algumas palavras. Se é
verdade que o futebol profissional me deixa uma pessoa muito mais ambiciosa,
132
determinada e pragmática, também não é menos verdade que o futebol
profissional me envolveu na sua desconfiança e incerteza.
Voltando ao campo da observação e AJ Ventura (2013) entrevistou o
treinador Carlos Azenha que lhe explicou: “Efetivamente a observação é
determinante, de forma a se perceber melhor o jogo, para entender o jogo. Mas,
de pouco vale, se não souber interpretar aquilo que observo”.
Já Vales (2015) escreve que para desenvolver adequadamente o
processo de análise de jogo ou para elaborar especificamente um relatório
técnico sobre uma equipa ou jogador, pressupõe-se estar na disposição de um
conhecimento geral e global da modalidade desportiva em questão. No caso do
futebol, para analisar corretamente o jogo deve considerar-se os seguintes
requisitos:
Em primeiro lugar, é necessário conhecer os traços diferenciadores do
futebol, como modalidade desportiva pertencente à família dos desportos
coletivos, com destaque para as suas particularidades morfofuncionais e
exigências operativas que derivam das mesmas em termos coletivos e
individuais;
Em segundo lugar, e uma vez destacados os elementos diferenciadores,
será necessário especificar com a maior precisão possível como é a
estrutura interna do modelo de rendimento no futebol de alta competição,
a partir da caraterização tanto dos aspetos contextuais como dos
procedimentos do jogo, com o objetivo de determinar quais são as
dimensões e os elementos de avaliação durante os jogos por parte dos
analistas;
Por último, e com o objetivo de descrever como se manifestam os tais
aspetos suscetíveis de análise durante os jogos, será também necessário
traçar as linhas mestras que caraterizam as tendências evolutivas do jogo
e estilos de jogo desenvolvidos pelas melhores equipas.
O treinador Marcelino García Toral cit. por Pedreño (2018) explica que:
“De nada serve que eu peça ao analista, por exemplo, situações incorretas da
defesa adversária e ele, ao não ter os conceitos que eu lhe estou a exigir me
133
forneça uma informação pouco clara e portanto inútil para transmitir aos
jogadores”.
Solé (2010) cit. por Vales (2015) entende que para se fazer um bom
scouting é necessário um alto nível de experiência por parte da pessoa que
realiza a tarefa observacional e, sobretudo um grande nível de conhecimento do
desporto em questão, pois sabe-se que perante o mesmo jogo a perceção dos
detalhes fundamentais do jogo variam segundo a qualidade do analista.
Fazendo uma reflexão acerca da minha intervenção, perante este
conjunto de exigências e requisitos eu senti-me perdido e reconhecia que era
tudo um Mundo novo para mim. Se é verdade que conhecia o jogo, percebia a
sua lógica interna e sabia caraterizá-lo. Por outro lado, não tinha um
conhecimento completo acerca dos regulamentos das competições nem possuía
um conhecimento anterior das equipas nem dos jogadores adversários. Para
além disso sentia que não olhava o jogo com os mesmos olhos dos meus
colegas da equipa técnica.
As minhas experiências anteriores, a maior parte delas centraram-se na
criança e no jovem atleta, em etapas de iniciação desportiva. Aquilo que eu
procurava no jogo era um enfoque maior no cumprimento dos princípios
específicos de jogo mas também nas ações tático-técnicas que suportavam
esses princípios. O meu foco não estava tão voltado para os macroprincípios,
para a organização coletiva, mas sim para o individual e para a resolução de
problemas em jogo em que participavam menos jogadores e muitas vezes
espaços de menores dimensões (como por exemplo situações de 1x1, 2x1, 2x2,
3x2, 3x3… 7x7).
Apesar de pensar que compreendia o jogo, de forma dinâmica, onde
existe interação dos diferentes momentos do jogo, em que existe transição entre
as fases ofensiva e defensiva e vice-versa, sentia que não tinha um
conhecimento aprimorado acerca dos aspetos a observar e relatar quando temos
a bola, quando não temos a bola, quando acabámos de perdê-la, quando
acabámos de recuperá-la e também nas ações de bola parada.
A experiência foi-me ensinando, fui absorvendo tudo o que a equipa
técnica pretendia nas conversas formais e informais que tínhamos, o que era ou
134
não era relevante, o que devia observar, o que devia relatar e aquilo que devia
ignorar ou omitir para não fornecer informação pouco ou nada pertinente. As
conversas com alguns elementos da equipa técnica foram ajudando no sentido
de perceber realmente o pretendido.
O contexto em que realizei o estágio foi um contexto muito particular.
Tratou-se de um ano difícil, em que houve a troca de equipa técnica por duas
vezes, ou seja, em que houve três líderes diferentes (Ivo Vieira, Ricardo Soares
e Quim Machado). Apesar da dificuldade natural que é trabalhar num contexto
de mudança e de instabilidade, olhando para dentro, é claro que não estávamos
felizes pois os resultados positivos nem sempre apareceram, mas olhando para
dentro, por se tratar de um ano particular, senti que isto também trouxe aspetos
positivos na construção de conhecimentos e competências, pois vivenciei formas
de trabalhar diferentes, ideias também diferentes, pensamentos e filosofias
também diferentes e uma maior ou menor preocupação com o estudo e análise
da equipa adversária atribuída por cada equipa técnica.
Naturalmente, que quando saiu Ivo Vieira e quando se deu a chegada de
Ricardo Soares, eu já tinha um conhecimento mais detalhado sobre “o que” devia
fazer, “como” fazer, “quando” fazer, “porque” fazer. Bem como tinha um
conhecimento acerca da informação pretendida pelos treinadores e equipa
técnica para que pudessem planear o microciclo de trabalho, em que se inserem
unidades de treino e o jogo, definindo a estratégia mais assertiva para podermos
alcançar o resultado desejado. Mas, pegando na situação da máquina do tempo,
e não tendo o propósito de tirar o mérito a nenhuma equipa técnica, gostava
muito de poder voltar para o início de época, ter novamente a oportunidade para
trabalhar com a equipa técnica de Ivo Vieira. Gostei imenso da ideia de jogo e
teria sido interessante ter partilhado funções com aquela equipa técnica noutras
circunstâncias, onde já possuísse maior conhecimento e já reunisse outras
competências. Gostava que os nossos trilhos se tivessem cruzado, estando eu
dotado de outros conhecimentos, capacidades e competências. Como é
evidente, não me arrependo absolutamente de nada pois ninguém nasce
ensinado e eu tive o espaço ideal para aprender. Mas receio não ter deixado
uma imagem tão positiva quanto aquela que possa ter deixado junto das outras
135
equipas técnicas, precisamente porque me encontrava numa fase introdutória de
aprendizagem. Talvez se os nossos caminhos se tivessem cruzado em Fevereiro
eu pudesse deixar um contributo ainda maior.
Outro aspeto importante foi o aprender a trabalhar com outros softwares
de edição de vídeo e também com o software que nos permitia categorizar o jogo
pelos seus momentos. Só a prática regular e o conhecimento dos critérios de
observação é que fizeram com que fosse aprimorando. Foi preciso tempo,
repetição e tentar perceber junto dos treinadores adjuntos se os documentos
estavam do agrado deles ou se devia mudar mais alguma situação.
Para a aquisição de qualquer técnica desportiva, o processo de análise
do rendimento competitivo requer o desenvolvimento de um programa exaustivo
de prática e treino por parte do treinador – analista (Carling, Williams & Reilly,
2005). A familiarização com o sistema e procedimento de codificação do jogo
(manual ou informatizado), o conhecimento profundo dos critérios de observação
e catalogação das condutas derivadas do jogo, juntamente com a capacidade
para manter um elevado nível de concentração e objetividade durante o decorrer
da partida, representam questões de grande importância suscetíveis de ser
treinadas para elaborar de forma eficaz e produtiva um relatório técnico (Vales,
2015).
Tal como acontece em outros âmbitos, a qualidade dos relatórios técnicos
melhorou quer na sua forma, quer no seu conteúdo, com o passar dos tempos.
Todavia, hoje é possível identificar alguns aspetos de melhoria que Vales (2015)
entende ser necessário melhorar e neste trabalho reforçamos esta ideia: a)
indefinição quanto aos parâmetros e condutas a analisar, circunstância que
provoca o aparecimento de informação irrelevante para explicar o conteúdo do
mesmo; b) estruturação defeituosa, com uma apresentação desordenada, facto
que dificulta a sua gestão para armazenamento e consulta rápida; c) ausência
de profissionais específicos, formados, para desenvolver este trabalho
informativo (treinadores – analistas); d) desconhecimento e falta de
acessibilidade a diferentes cursos tecnológicos como certos programas
informáticos para a gestão de bases de dados, edição de vídeo, etc., que
facilitam e melhoram a edição dos relatórios técnicos; e) escassa aplicabilidade
136
prática e utilidade da informação acumulada durante as análises dos jogos,
derivada de uma deficiente interpretação da mesma, de uma incapacidade para
transformar os dados registados em recomendações operativas.
Senti que melhorei o meu entendimento do jogo e também acerca da
informação que devia constar no relatório. Fui percebendo quais os parâmetros
e condutas que deviam ser analisadas, qual seria a estrutura do relatório que era
pretendida pelos treinadores. Com isto a informação transmitida começou a ser
mais relevante, contribuindo com uma maior aplicabilidade para prática.
Outra reflexão que deixo é acerca da forma como a análise é realizada.
Pedreño (2018) diz-nos que todo aquele que se preste a analisar o jogo, deve
fazê-lo observando o mesmo como um todo, um ciclo em que as ações em uma
fase ou subfase repercutem-se na fase seguinte, em que a ocupação dos
espaços e os comportamentos da equipa e do adversário no ataque determinam
o tipo de transição que realiza a equipa e como se reorganiza defensivamente.
Assim, temos que entender que apesar da recuperação da posse da bola
ser uma condição indispensável para o desenvolvimento do processo ofensivo,
este começa antes da recuperação da mesma. Castelo (2009) explica-nos
também, que por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda
de posse de bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo
ofensivo, devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e
vigiando: a) espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para
o empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar
continuidade ao processo ofensivo da sua equipa.
Também Pedreño (2018) afirma que é impossível entender o
comportamento de uma equipa em transição defensiva sem analisar a fase
ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário seria cair num
reducionismo em um desporto complexo como é o futebol.
Mas a verdade é que todo o procedimento levado a cabo pelos analistas
de jogo é algo analítico, fracionando o jogo em fases. E o jogo está todo ligado.
Não se pode fragmentar. Primeiro é preciso entender o seu todo e só depois
podemos tentar fragmentar, mas primeiro é necessário conhecer o todo. Apesar
de ser mais fácil de entender se há ou não comportamentos – padrão quando
137
fracionamos o jogo, observando as situações que se repetem mais vezes, há
que considerar que não há dois lances absolutamente iguais e as situações não
são exatamente iguais.
Com a pesquisa realizada no âmbito do relatório de estágio, percebi isto
mesmo e fiquei com algumas dúvidas acerca de qual a melhor estratégia para
uma correta análise da equipa adversária. Não basta dizer que a equipa
adversária cede espaços nas costas do lateral direito ou entre linha média e linha
defensiva, nos instantes após a perda de bola. É preciso perceber qual o motivo
pela qual resultam esses espaços. Será porque o lateral direito se projetou muito
no momento ofensivo. Será porque os médios aproximaram de zonas de
finalização e a linha defensiva ficou mais atrás? E será que isto é uma situação
padrão no momento ofensivo da equipa? Ou aconteceu apenas uma ou outra
vez, e apenas num jogo. E se aconteceu em apenas num jogo, qual foi a forma
distinta de como atacaram nesse jogo comparativamente com os outros?
É necessário perceber o todo. Ao analisarmos apenas os cortes de vídeo
realizados pelos analistas, podemos cair no erro que é perdermos o contexto
que nos faz entender os motivos pela qual as situações se sucedem.
Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que segundo uma
perspetiva sistémica, não é correto chamar análise. Se falamos de complexidade
estamos a ser incoerentes, estamos a ser demasiado analíticos. Na mesma
entrevista Garganta diz que quando alguém lhe pergunta se faz análise, costuma
responder que faz síntese de jogo, e é isso que tenta procurar, a informação
como um todo. Tem em consideração, por exemplo, quando uma equipa está
em transição defensiva, como é que atacou, onde estavam as linhas e o que
fizeram em função disso para começar a defender. Se quer privilegiar o contra-
ataque e vai fazer pressão alta, então não tem espaço nas costas, e então tem
que baixar o bloco para depois explorar os espaços. Portanto, para estudar a
defesa tem que estudar como atacavam antes, perceber que condições criaram
para que essa defesa ocorresse assim dessa maneira, porque o jogo está
conectado.
Refletindo ainda sobre a melhor maneira para analisar o jogo pergunto-
me ainda se devemos ou não categorizar da forma como habitualmente
138
categorizamos. Se existe outro procedimento mais assertivo e menos restritivo.
Se quando mostramos o vídeo devemos mostrar o vídeo aos jogadores, dividido
por momentos de jogo ou se devemos juntar os momentos, por exemplo de
organização ofensiva com transição defensiva e o de organização defensiva com
a transição ofensiva. Penso que faz todo o sentido mostrar o jogo mais ligado e
explicar que as situações acontecem por um determinado motivo.
Outra situação que refleti por várias vezes foi o facto de muitas vezes
analisar o que o adversário realizava, em qualquer uma das fases, sem ter em
consideração como é que o oponente desse jogo se organizava. Imaginem, o
próximo adversário da Académica OAF seria o FC Arouca. Mas eu tinha
realizado o trabalho de observação de 3 jogos, onde categorizei vídeos dos
últimos 3 jogos do FC Arouca. Vamos imaginar que num desses jogos o FC
Arouca jogou contra a equipa do Nacional da Madeira. O FC Arouca que estava
habituado a sair a jogar a partir de trás, nesse jogo não o fez pois esteve
altamente condicionado pelo Nacional. Contudo o padrão era saírem a jogar de
forma curta e apoiada. Agora colocamos mais um cenário hipotético, o FC
Arouca que era uma equipa habituada a pressionar na saída de bola da equipa
adversária, na partida contra o Nacional optou por defender mais atrás, mesmo
jogando em casa. E o seu padrão era pressionar, com uma zona pressionante
bem definida. E alteraram em função deste adversário.
Muitas vezes, quando se analisa o adversário e quando se tem um olhar
apenas e só para os vídeos categorizados, passa-nos ao lado o contexto de cada
situação e erradamente podemos admitir algo como padrão que só aconteceu
devido a um conjunto de circunstâncias. Por esse motivo, considero também que
tem de haver um outro procedimento em que conseguimos olhar o todo, não
fracionando, de forma a não perdermos informação fundamental para entender
a dinâmica do jogo.
Também Garganta, quando entrevistado por Pedreño explica algo
semelhante: “eu sou observador da minha equipa, se me centro única e
exclusivamente na nossa equipa também estarei errado porque há sempre duas
equipas a jogar”. “Por exemplo, uma das nossas intenções era que na primeira
fase de construção, em organização ofensiva, a bola tinha que sair pelas alas,
139
primeiro jogo exterior e logo buscamos jogo interior e variamos outra vez para
exterior. Mas eu vou ver o jogo e observo que a nossa equipa está saindo pelo
médio, e muitas vezes não se observou o que estava a acontecer e o porquê. O
adversário bloqueou-nos a saída por fora porque já nos tinha visto, pois também
nos analisa. Então, saímos pelo médio porque não tínhamos a possibilidade de
sair pelas alas”.
Portanto, como analistas táticos devemos entender o jogo como um todo.
Isto supõe ver o jogo várias vezes, se for necessário, prestando atenção ao
comportamento da equipa que analisamos em todas as fases. Uma vez feito
isso, já podemos fazer a análise nas suas fases, distinguindo, mas não dividindo,
separando mas não empobrecendo (Pedreño, 2018).
Segundo Menotti cit. por Sánchez (2015), todos os analistas têm um fim
comum, encontrar as debilidades da equipa adversária e encontrar as
possibilidades de como fazer-lhes dano e por contrário evitar que nos façam
dano. Quando já temos o nome do adversário que vamos analisar, quanto mais
jogos tenhamos para ver, mais real e verdadeiro vai ser o relatório. Devemos
tentar ainda que os jogos que analisamos sejam realizados dentro de um
contexto, o mais parecido possível com a realidade que iremos encontrar.
Apesar de várias caraterísticas já citadas neste trabalho acerca do
analista, há coisas que não se conseguem ensinar nos cursos de scouting e
manipulação de softwares. Para além de todas as caraterísticas já citadas, o
analista deve ser uma pessoa com profundo interesse em adquirir novos
conceitos, conhecer formas de trabalhar de outros analistas em outros clubes e
complementar o seu trabalho no dia-a-dia e melhorá-lo em função das
necessidades do treinador e da equipa, que ao fim ao cabo são os que devem
beneficiar e aproveitar a informação que lhes trazemos.
Terminada a época, foi-me endereçado o convite para continuar a
desempenhar a função de analista na época seguinte. Foi com muito orgulho
que vi o meu vínculo contratual ser renovado.
Já a pensar na próxima época há alguns documentos que pretendemos
melhorar. Um deles é o modelo-tipo que utilizamos nos relatórios. O modelo atual
apenas considera o sistema de jogo utilizado pela equipa nos vários jogos
140
anteriores. Apercebi-me que umas vezes colocava o sistema utilizado quando se
encontravam no momento ofensivo e outras vezes colocava o sistema utilizado
quando se encontravam no momento defensivo. Isto não era claro e podia gerar
algumas dúvidas na equipa técnica. Assim, quando apresentávamos o 11 que
tinham iniciado os jogos anteriores, passámos a mostrar o 11 que jogou e a
forma como se dispunham quando atacavam e quando defendiam.
Outra grande mudança foi o modelo passar a ser realizado no formato
“Google docs” utilizando a plataforma colaborativa da “Google – Drive”. Isto
permitia que, havendo o recrutamento de mais analistas, que foi uma
necessidade identificada várias vezes neste relatório, ou seja, se aumentassem
os recursos humanos no Departamento de Análise de jogo, podíamos trabalhar,
em simultâneo, de forma colaborativa no mesmo ficheiro. Isto facilita o trabalho,
não havendo necessidade de estar constantemente a enviar o que já havia sido
feito. Se é verdade que o modelo de relatório perdia bastante do ponto de vista
estético, não é menos verdade que a informação passou a estar mais organizada
e por isso mais percetível para o treinador e equipa técnica.
Estou certo que durante a próxima época também irei identificar um
conjunto de aspetos de melhoria. A experiência, a prática, a partilha de ideias
levam-nos a refletir acerca das nossas ações. E penso que a mudança já
significa isso mesmo, que houve reflexão e há vontade de melhorar.
141
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante
da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei
e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Ter a oportunidade de
trabalhar para a equipa profissional, da instituição/clube da minha cidade é por
isso uma honra e um privilégio.
O futebol é um desporto bastante mediático e é desporto com mais
impacto na nossa sociedade e na nossa cultura, sendo diariamente apresentado
e comentado por diferentes pessoas. Treinadores, investigadores desportivos e
espetadores comuns analisam e/ou emitem juízos na ânsia de explicar o êxito e
o fracasso de jogadores e equipas. E aqui começam a aparecer as primeiras
diferenças, já que enquanto o espetador comum, pouco informado e sem
formação científica e desportiva realiza análises parciais, subjetivas, envolvidas
pelo campo da emoção, os especialistas (treinadores e investigadores), através
de análises objetivas e imparciais analisam o jogo de forma cuidada, tentando
perceber os motivos pela qual se alcançou melhor ou pior desempenho.
Na missão de analista, profissional responsável por relatar a organização,
funcionalidade e dinâmicas do jogador e da equipa, uma das caraterísticas que
fundamentais é a sua capacidade de observar. Importa explicar que ver e
observar são coisas distintas. O comum dos adeptos, quando vai ao estádio, ele
vê o futebol mas não observa o jogo de futebol. Eles observam sobretudo a bola.
E ao observarem a bola perdem grande parte da informação. Portanto, o analista
tem que observar, tem que examinar com atenção, adquirir a informação e fazer
registos.
Numa altura em que todos falam de futebol, e todos parecem ser
detentores de um grande conhecimento sobre o jogo e em que os órgãos de
comunicação social dão imagem e voz a pessoas que nada sabem daquilo que
se realiza num plano mais técnico, é importante que, todos aqueles que estão
envolvidos pelo jogo transmitam mais acerca daquilo que é realizado. Na minha
opinião, os profissionais do futebol, têm o dever de procurar informar e aumentar
a cultura desportiva de todos. Só assim, podemos virar a página e podemos
142
passar a credibilizar mais o futebol, os jogadores, treinadores e
consequentemente, valorizar os profissionais da observação e AJ.
O futebol é uma modalidade com regras simples e de fácil entendimento
por todos. Mas é necessário alertar que apesar de ter regras simples, isso não
torna o futebol um jogo simples de ser jogado. Mas, é esta aparência simples
que fez com que houvesse maior resistência à mudança e aceitação de alguns
avanços.
Comparando o futebol com outros desportos da família dos jogos
desportivos coletivos, constatamos que os avanços chegaram tardiamente ao
futebol. Por exemplo, a existência de profissionais do staff técnico tais como o
preparador físico, recuperador de lesões, o médico especialista em medicina
desportiva, o psicólogo, fisioterapeuta, apareceram muitos anos antes em outros
desportos.
Ao compararmos o futebol com outros desportos coletivos, como o
basquetebol e o râguebi, constatamos que os avanços tecnológicos e não só
chegaram a modalidades como o râguebi e basquetebol muitos anos antes. Se
por um lado, podíamos perceber que no caso do basquetebol seria facilmente
explicado por ser um desporto de pavilhão, no caso do râguebi, as tentativas de
observação e análise do jogo também começaram a aparecer muitos anos antes.
A integração de especialistas da observação e análise do jogo também foi
algo que apareceu tardiamente no futebol comparativamente com outros
desportos. Contudo, começa a haver uma preocupação crescente no âmbito da
análise da própria equipa e na análise das equipas adversárias.
Atualmente, alguns clubes possuem departamentos de análise de jogo,
cujo objetivo é, acima de tudo, a otimização do modelo de jogo da própria equipa.
Mas também é importante para estudar e analisar a equipa adversária. Outros
clubes, apesar de não possuírem um departamento de análise de jogo, poderão
ter um ou outro elemento da equipa técnica que desempenhe essa função.
Outros clubes têm ainda uma pessoa “freelancer” que trabalha para o clube no
âmbito da observação e análise de jogo, mas que não integra diretamente a
equipa técnica.
143
Na atualidade, no futebol de rendimento, a necessidade de obter e
manter bons resultados num contexto competitivo caraterizado pela presença de
uma igualdade na performance entre as equipas, levou a que os treinadores
contemporâneos se preocupem cada vez mais por tentar ter controlo de cada
um dos fatores que possam influenciar o comportamento competitivo da sua
equipa e dos seus jogadores, e por consequência o resultado final dos jogos.
Devido à complexidade do jogo e ao aumento da velocidade e ritmo de
jogo verificado com o passar dos anos, importa referir que o jogador de futebol
deve entender e compreender o jogo bem como deve possuir uma grande
variabilidade no seu reportório, para que consiga tomar as melhores decisões,
encontrando soluções para os problemas encontrados no jogo.
Com o objetivo de melhorarem e ajudarem o atleta do ponto de vista
individual mas também no sentido de otimizarem os processos da equipa, a AJ
tem atualmente uma grande importância no dia a dia das equipas técnicas.
No nosso entendimento, a observação e AJ é vista como um complemento
para a tarefa do treinador. Na nossa rotina, a preocupação do analista é
transmitir de forma sintetizada, informações acerca da própria equipa e da
equipa adversária. A nossa missão é dotar a equipa técnica de informações de
grande valor, que lhes permitam preparar os planos de jogo e de treino,
explorando as nossas capacidades e as fragilidades do adversário.
Mas numa altura em que o acesso à informação está à distância de dois
ou três cliques, é também necessário perceber se a fonte é fidedigna e se a
informação é mesmo relevante. Também os avanços tecnológicos chegaram ao
futebol e trazem claras vantagens, tais como: a) o acesso mais rápido à
informação; b) utilização de softwares para categorização e edição do vídeo. É
verdade que estes avanços possibilitaram uma maior rentabilidade, isto é,
rentabilizam o tempo de trabalho e melhoram a qualidade do processo. Contudo,
importa alertar que, é fundamental a existência de um analista criativo e com
capacidade para gerir muita informação. Portanto, ter um grande domínio das
tecnologias não garante nada e é o conhecimento do jogo e a sua interpretação
que faz a diferenciação entre os analistas extremamente competentes e os
restantes. Desta forma, os clubes têm que estar preocupados em integrar
144
recursos humanos competentes na sua estrutura, capazes de analisarem e
interpretarem o jogo, no sentido de potenciar atletas e de otimizar o modelo de
jogo.
Surgida a oportunidade de desempenhar funções de analista na
AAC/OAF, para além de desempenhar uma missão fascinante tinha ainda uma
oportunidade única para me entregar mais ao jogo, aumentando o meu
conhecimento e entendimento sobre o mesmo. Foi-me entregue uma missão de
enorme responsabilidade e dei o meu melhor, todos os dias. O meu objetivo foi
contribuir da melhor forma possível para o sucesso do clube, não deixando nada
por fazer e tendo muito brio e rigor em todas as tarefas solicitadas
Sinto que alcancei os meus objetivos pessoais. Melhorei o meu
entendimento sobre o jogo e aprendi como trabalha e se organiza uma equipa
técnica. Apesar de não ter a oportunidade de estar presente nas reuniões de
planeamento, tenho total consciência que um treino não é só um treino. Todos
os exercícios são pensados de forma criteriosa, para promoverem contextos,
comportamentos e ações que poderão acontecer em jogo. E um trabalho de
análise será muito mais do que ver um ou mais jogos trata-se de um trabalho
apaixonante, que serve de complemento para o treinador e para a equipa
técnica. Um trabalho apaixonante, mas ao mesmo tempo muito exaustivo em
que há necessidade de investir muito tempo para que o trabalho apresentado
tenha qualidade.
Por reconhecimento e por sentir que valorizaram o meu trabalho, foi-me
renovado o meu vínculo contratual para desempenhar a função de analista na
época 2018/2019. Sinto-me orgulhoso mas sinto-me ainda mais realizado pois
direção da AAC/OAF encontra-se motivada para avançar com a criação de um
departamento de AJ, podendo mesmo avançar para o recrutamento de mais
analistas. É claro um motivo de orgulho pessoal mas é também um voto de
confiança ao qual quero retribuir com ainda mais paixão e com a minha
capacidade de trabalho.
Entendo que nós, os analistas, estamos a conquistar o nosso espaço e
que devemos ser cada vez mais participativos. Não podemos limitar-nos a
analisar e a cumprir com as tarefas solicitadas. Claro que para isto é necessário
145
ampliar os recursos humanos nos departamentos de AJ. Mas entendo que,
reunindo essas condições, o analista deve expor o seu ponto de vista,
prescrevendo e ajudando o treinador a implementar as tarefas, com o objetivo
de garantir maior especificidade ao trabalho.
Quero deixar ainda um apelo para que se continue a estudar o jogo,
sempre a partir de uma perspetiva holística. Futebol será sempre futebol, a sua
lógica interna permanecerá, mas constatamos que as suas exigências são
alteradas com o passar dos anos. O jogo tornou-se mais rápido, o jogador de
futebol atualmente defende, ataca e compreende o jogo no seu todo, podendo
desempenhar várias missões táticas específicas.
Enquanto analista mas também formando na área do Treino Desportivo,
reforço a importância da observação e da AJ. Acredito que todos nós temos o
dever de contribuir positivamente para a evolução do jogo e para um aumento
da cultura desportiva daqueles que nos rodeiam, e que também são apaixonados
por este jogo. Na nossa perspetiva é importante conhecermo-nos enquanto
equipa, conhecer o adversário e conhecer a competição.
Se conheces o teu adversário como a ti, não receies uma centena de
batalhas. Se te conheces, mas não conheces o adversário, por cada vitória
sofrerás uma derrota. Se não te conheces a ti nem conheces o adversário,
sucumbirás a cada batalha. (Sun Tsu).
146
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Vales, A. (1998). Propuesta organizativa de las perspectivas de análisis
de los deportes de equipo. Revista Entrenamiento Deportivo. 10 (3), 35-44.
Vales, A. (2015), Fútbol: Del análisis del juego a la edición de informes
técnicos. (3ª edição). MCSports. A Coruña
Ventura, N. (2013). Observar para Ganhar. O Scouting como ferramenta
do treinador. (1ª edição). Prime Books.
151
ANEXOS
Calendário de Pré-época dos adversários
152
Calendário da Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)
153
Calendário Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)
154
Grelha de sorteio –Taça CTT (Taça da Liga)
155
Calendário de Pré-Época
156
Exemplo de Microciclo
157
Exemplo de Plano de Treino
158
Exemplo de Plano de Treino
159
Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração
caraterísticas dos adversários
160
Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração
caraterísticas dos adversários (continuação)
161
Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração
caraterísticas dos adversários (continuação)
162
Organização – Jogo com o União da Madeira
Ida à Ilha da Madeira
163
Filmagem do treino
164
Exemplo de cortes de vídeo realizados com recurso ao software longomatch
(versão gratuita)
165
Preparação da câmara e de todo o material necessário para a filmagem do jogo
166
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
167
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
168
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
169
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
170
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
171
Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu
172
Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade
173
Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade
174
Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade
175
Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade
176
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
177
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
178
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
179
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
180
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
181
Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B
182
Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que
era apresentado ao plantel
Primeira imagem sobre a organização ofensiva e possibilidade de jogo interior
Segunda imagem acerca da organização defensiva, quando estavam
organizados num bloco médio – alto
183
Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que
era apresentado ao plantel
Imagem ilustrativa da forma como o SL Benfica B realiza a pressão na saída
de bola da equipa adversária.
Contra um outro adversário, na sua organização defensiva, quando a bola
chegava a corredor lateral e quando a outra equipa tentava atacar a
profundidade, resultavam sempre imensos espaços para poderem ligar curto,
com jogo interior.
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