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O Retrato de Dorian GrayTomás Pinto, 11º E

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Índice Oscar Wilde O esteticismo na escrita de Oscar Wilde As suspeições autobiográficas A homossexualidade de Oscar Wilde O prefácio Lord Henry Wotton «Strange Case of Dr. Jekyll and Mr, Hyde» Hamlet As características emocionais das personagens Filosoficamente falando O derradeiro paradoxo As críticas sofridas na época Glossário O Retrato de Dorian Gray (2009)

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Oscar Wilde Oscar Wilde foi talvez o mais importante

dramaturgo da época vitoriana. Criador do movimento dândi, que defendia o belo e o culto da beleza como um antídoto para os horrores da época industrial, Wilde publicou a sua primeira obra em 1881, a que se seguiram duas peças de teatro. A partir de 1887 iniciou uma fase de produção literária intensa, em que escreveu diversos contos, peças de teatro, como A Importância de se Chamar Ernesto, e um romance. Em 1895, foi acusado de homossexualidade e violentamente atacado pela imprensa, tendo-se envolvido num processo que o levou à prisão. Morreu em Paris em 1900.

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O esteticismo na escrita de Oscar Wilde

«Oscar Wilde foi um renitente apóstolo do movimento esteticista, que encontrou a sua expressão nas décadas de 80 e 90 do séc, XIX na Europa Continental, bem como em Inglaterra.

O esteticismo, ou «dandismo dos sentidos», caracterizava-se pelo culto da pose, a adesão indiscriminada ao prazer e uma atitude contemplativa em relação à vida, afirmando-se no espaço social como ostentação do requinte e busca de sensações exóticas. Celebrava o domínio da arte sobre a ação e, na arte, o culto da forma sobre o conteúdo. Na literatura, suprimia o debate de ideias em favor da elegância do estilo, da frase bem torneada, da esgrima de ditos espirituosos à semelhança das conversas de salão nos círculos mundanos. Consagrava longas e pormenorizadas descrições aos «ambientes» faustosos em que se moviam as personagens: mobiliário, vestuário, decoração.

Irónica resignação ao tédio civilizacional, o dandismo, segundo Baudelaire, triunfava sobre o decadentismo de fin de siècle:«O dandismo é o último lampejo do heroísmo no seio da decadência; como a queda de uma estrela moribunda, é glorioso, sem calor e cheio de melancolia.»»

Com Dorian Gray, podemos assim afirmar que o autor procura conceptualizar, através da implicação pragmática das ações do personagem, explorando os perigos do esteticismo, afirmando Richard Ellman, biógrafo de Oscar Wilde, que Dorian Gray é «o romance estético par excellence».

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As suspeições autobiográficas «Basil Hallward é aquilo que eu penso de mim; Lord Henry, o que o mundo pensa de mim; Dorian é o que

eu gostaria de ser noutra época, talvez.» “Esta afirmação de Oscar Wilde tem validado muitas das interpretações autobiográficas que se fazem de

“O Retrato de Dorian Gray”. Alguns críticos, não satisfeitos com o desdobramento do autor nas três principais personagens masculinas da obra, empenharam-se em lê-la como um roman à clef. Lançaram-se numa caça aos originais de Dorian Gray e Basil Hallward entre o círculo de amigos de Oscar Wilde, tomando o romance por aquilo que Wilde explicitamente pretendia que não fosse, a saber, uma imitação da vida.”

Assim, apenas podemos considerar a leitura autobiográfica como uma interpretação redutora das condições de produção do romance.

Podemos ver refutada, ou mesmo de algum modo suplantada a procura extensa de um sentido concreto pela apresentação de uma realidade de algum modo onírica, privilegiando o autor o hedonismo dos sentidos e o nefelibatismo. A valorização da arte em detrimento da vida. Inserindo-se num contexto sociocultural da escravatura, é exemplo desta realização abstrata o posicionamento da música, sendo este não só um elemento caracterizante do espaço como um recorrente meio para caracterizar a vida.

Deste modo, valida-se a perceção do esteticismo de Wilde. É possível identificar semelhanças entre o autor e o artista Basil. Em uma cena particularmente

marcante, o pintor diz que não quer que aquela obra (o quadro de Dorian) seja exposta, pois apesar de ser sua obra-prima, há muito de si nela.

Margarida Vale de Gato

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A homossexualidade de Oscar Wilde Apesar de não ser impressa de uma forma direta no romance e de poder ser

feita uma interpretação no sentido do esteticismo defendido pelo autor, é inegável que uma das forças motrizes das suspeições autobiográficas do romance se prendem à “condenável” particularidade do autor.

Parece apresentar-se então um cenário idílico, facilmente relacionável com outras situações na vida do autor, ao qual se podem ligar a relação entre Henry Wotton e o jovem Dorian Gray, fomentada pelo apartamento entre o Lord e a esposa, personagens com fortes traços narcisísticos.

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O Prefácio Em seu prefácio, Oscar Wilde fala sobre a arte e o artista. A arte é bela por si só, não é

moral ou imoral, o artista exprime nela aquilo o que ele é. Freud, em Escritores Criativos e Devaneios, faz uma discussão envolvendo o brincar da criança  e a fantasia dos adultos; os adultos geralmente reprimem suas fantasias, porém, uma parcela, os escritores criativos, assim como as crianças, as externalizam. Enquanto as crianças o fazem por meio da brincadeira, os escritores utilizam para tanto a criação literária. Segundo Freud, os devaneios dos outros tendem a nos causar repulsa, pois manifestam seu desejo de grandeza e invulnerabilidade. Entretanto, os desejos do artista, sendo morais ou não, ganham forma em sua obra e tornam-se algo belo. Tal beleza seduz o fruidor, permitindo que assuntos dolorosos, difíceis ou reprimíveis na vida real possam ser abordados e contemplados com prazer, é o que Freud chama de prêmio de estímulo (assunto tratado no livro sobre os chistes e em “Escritores criativos…”).

A cada linha do livro pode-se entender o que o autor quis dizer no prefácio. É possível perceber a angústia de Wilde, a luta em falar sobre sua homossexualidade e desejos considerados excêntricos.

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Lord Henry Wotton Assume alguma preponderância, pelas suas

características de algum modo divinas, contemplando de um pedestal o desenvolvimento progressivo de Dorian Gray na sua depravação.

Um arrogante aristocrata e um dândi decadente que defende uma filosofia de hedonismo auto-indulgente. Inicialmente, amigo de Basil, ele o negligencia pela beleza de Dorian. O personagem do espirituoso Lorde Harry é uma crítica da cultura vitoriana Fin de siècle – da Grã-Bretanha no final do século XIX.

Num sentido generalizado, Dorian não passa de uma própria experiência de Wotton, um jovem inocente que ele torna num ser que transcende os preceitos sociais, agindo de um modo inconsciente. O próprio Wilde afirma que Dorian Gray é uma personagem fictícia, que no entanto representa as ânsias e desejos do próprio autor, aquilo que gostaria de ser numa época não tão consternada pelo preconceito, onde o ímpeto e pecipitação de Dorian fossem inconsequentes.

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Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde

(Robert Louis Stevenson) Lançado 4 anos antes do retrato de Dorian

Gray, poderá ter sido um elemento de inspiração para Oscar Wilde, visto que encontramos uma forte ligação intercontextual entre ambos.

Assim, verificamos uma dualidade entre Jekylliana entre o homem bom e a imagem de si, que nos é demonstrada analepticamente, com o recordar do contrato satânico realizado por Dorian Gray.

«Verbalizara o louco desejo de ele próprio poder conservar-se jovem e de ser o retrato a envelhecer; de a sua própria beleza parecer imaculada e o rosto na tela suportar o peso das suas paixões e pecados, de a imagem pintada refletir as rugas do sofrimento e do pensamento, e de ele reter em si toda a viçosa graciosidade de que só então tomara consciência.»

É de denotar a semelhança da imagem com a imagem utilizada no diapositivo original.

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Hamlet (William Shakespeare) Novamente podemos encontrar uma clara

influência literária na escrita da obra. Verificamos uma ligação natural entre o grande teatro representado por Sybil Vane, culminando numa morte digna de ser escrita por este autor, de um modo quase irónico, sendo particular a ligação com a obra especificamente referida. Tem uma função conclusiva, sendo uma das principais marcas da dicotomia que é formada pelos dois Dorian resultantes do pacto satânico.

No romance, o paralelismo entre as histórias é muito próximo, atentando quase a um processo de encaixe relativa à proximidade entre Dorian Gray e Sybil Vane. Tal como no romance, o Príncipe Hamlet, um personagem também com traços narcisísticos, mostra-nos a sua paixão com Ofélia, que, com o fim da relação pelo seu suicídio, é vingada pelo seu irmão, o rei Laertes.

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As características emocionais das personagens

Um dos temas desenvolvidos no livro é a reflexão sobre as emoções da descoberta através da revelação dos seus perigos e do remorso que assombra as personagens, em especial Dorian Gray.

Isto pode até ser considerado na visão inicial que o próprio tem do retrato, sendo que o procura ver como uma afirmação da sua consciência.

Isto mostra claramente, por parte do autor, uma tentativa de mostrar um face obscura da sociedade, mostrando o erro e, por detrás de uma forte camada estética, um recheio moralista e social, algo desconforme com o hedonismo transversal à história.

« O cabelo brilhante do quadro irradiava à luz matinal. Os seus olhos azuis encontraram-se com os dele. Arrebatou-o uma sensação de infinita piedade. Já se alterara e havia de alterar-se ainda mais. O seu ouro desbotaria em cinzento. As suas rosas brancas e vermelhas morreriam. Por cada pecado que cometesse, uma nódoa tingiria e destruiria a sua beleza. Mas ele não voltaria a pecar. O retrato, alterado ou imutável, seria para ele o emblema visível da sua consciência . Resistiria à tentação.»

«Não tornaria a ver Lord Henry – ou, pelo menos, não daria ouvidos àquelas subtis e venenosas teorias que, no jardim de Basil Hallward, haviam desperto em si, pela primeira vez, a paizão por coisas impossíveis.»

Verificamos um debate e revolta interior contra as suas decisões, mostrando-se uma tentativa de racionalizar uma visão divina de submissão e de incapacidade de agir, limitado Dorian pela sua condição humana, que mais tarde, ao desaparecer, lhe permite agir inconsequentemente.

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Toda a indecisão verificada culmina na cedência de Dorian e que a transformação, marcando uma das bases fundamentais para a leitura do livro, mostrando as graves consequências das más decisões, bem como da fraqueza e dificuldade em alterá-las. Também verificamos a facilidade de acesso a uma vida de devassidão. Também por outro lado ilibando de responsabilidades o personagem visto que tudo isto parece quase fruto das circunstâncias, sem que qualquer tipo de culpabilização possa ser atribuída a Dorian.

«A eterna juventude, a paixão ilimitada, secretos e subtis prazeres, êxtases inomináveis e pecados inauditos, tudo isso lhe estava reservado. O retrato suportaria muito simplesmente o peso da vergonha.»

«Por momentos pensou em rezar para que cessasse a terrível simpatia que existia entre ele e o retrato. Alterara-se em resposta a uma preçe e talvez pudesse permanecer intocado em resposta a outra preçe.

E, todavia, quem com o mínimo conhecimento da vida desprezaria a oportunidade de permanecer sempre jovem, por mais fantástica que fosse essa oportunidade, ou ainda que pudesse engendrar terríveis consequências? Para além disso, poderia ele comandar o quadro? (...) Se o pensamento podia exercer a sua influência sobre um organismo vivo, não poderia também exercer influência sobre coisas mortas ou inorgânicas? Sim, não seria possível que, sem qualquer intenção ou desejo consciente, as coisas exteriores ao nosso ser vibrassem em uníssono com os nossos estados de espírito e paixões, que os átomos comunicassem com outros átomos num amor secreto de afinidades singulares?

Evidencia-se na passagem o recurso à interrogação retórica para a obtenção de expressividade.

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Filosoficamente falando... De um ponto de vista filosófico, podemos aqui encontrar duas correntes

filosóficas abordadas no ano transato relativas à ética, uma perspetiva Kantiana ou de uma perspetiva Milliana, havendo um julgamento da conduta ética individual ou de uma perspetiva autónoma, ou de uma perspetiva heterónoma.

Atendendo às bases estéticas na constituição do romance, podemos considerar claramente que se privilegia um estudo heterónomo em relação aos valores e à conduta moral das ações dos personagens.

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O derradeiro paradoxo É com um tom de algum modo suspeito e irónico que este livro encontra um

fim. Dorian, com uma busca extemporânea pela redenção encontra a sua morte.

A ironia trágica está presente quando Dorian, tentando livrar-se do quadro que lhe trouxe tanto sofrimento, não entende que a mutilação do quadro significaria a sua própria fisicamente, caindo como um velho mirrado e hediondo e voltando o quadro ao seu esplendor original

Denota-se com alguma clareza o esforço do autor em tornar o livro fechado e coeso, sendo bastante expressiva a utilização de referências a momentos iniciais da ação, com o objetivo de tornar o livro cíclico, afirmando mais uma vez a obscura mensagem moralista que vem sendo passada ao longo da narração.

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As críticas sofridas na época

A história de Dorian Gray foi originalmente publicada na revista Lippincott’s e sofreu vários cortes por parte dos editores de diálogos e ações que sugeriam relações homoafetivas. “Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo.” – foi a resposta de Wilde para as críticas que sua obra recebeu na época.

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A beleza, a verdadeira beleza, acaba onde a expressão intelectual começa. O intelecto é

já uma forma de exagero e destrói a harmonia de qualquer rosto.

Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray

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«Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios

pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo.

Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele.»

Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray

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Glossário Roman à clef (romance com chave): designa a forma narrativa na qual o

autor trata de pessoas reais por meio de personagens fictícios. Decadentismo: escola literária que se comprazia com os extremos do

simbolismo, nefelibatismo. Hedonismo - O hedonismo é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que

afirma ser, o prazer, o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, e seu mais célebre representante foi Aristipo de Cirene. O hedonismo filosófico moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas.

Dandismo - Moda cultural surgida no interior do Romantismo como reação aos sentimentos de frustração e ceticismo característicos do chamado mal do século, e que se traduziu numa atitude existencial de distanciamento e de refúgio num mundo esteticamente confortável e elegante.

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O Retrato de Dorian Gray - 2009

O Retrato de Dorian Gray é um filme britânico de fantasia e suspense, lançado em 2009. Foi dirigido por Oliver Parker, com roteiro de Toby Finlay e estrelando Ben Barnes e Colin Firth nos papéis principais.

https://www.youtube.com/watch?v=DgG1X-onBfc