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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO DISCURSOUNIVERSITRIO EM PARNABA-PI: DESVENDANDO MITOS
Ricardo Rayan Nascimento Rocha1Pedro Lazaro dos Santos2
RESUMO
O objetivo deste artigo apresentar uma anlise sobre como o discurso dodesenvolvimento sustentvel se configura na fala dos estudantes e graduados de umcurso de Bacharelado em Turismo, evidenciando a produo discursiva e sua atividadeenquanto prtica social de construo da sociedade e a importncia de desconstruo dealguns mitos que giram em torno desse modelo econmico ambiental proposto peloRelatrio Brundtland. Para que a anlise do discurso fosse realizada, oito estudantes docurso de turismo e dois graduados do mesmo curso foram escolhidos para a composiode uma discusso em grupo focal. Dessa forma, para as anlises serem feitas, utilizou-seda abordagem terico-metodolgica faircloughiana e sua teoria social do discurso, quepercebe a lngua como parte associada vida social dialeticamente interconectada aoutros elementos sociais. Os dados foram analisados a partir da categoria analticaInterdiscursividade. A partir disso, percebeu-se que os discursos dos participantesexpressam concepes ideolgicas sobre desenvolvimento sustentvel por meio de
negociaes de fala, ao ponto de um discurso fortalecer o(s) outro(s) e, ao aconteceremarticulaes como estas, os participantes priorizam um fator que consideram como ocerne das questes ambientais: o modo de produo capitalista. Por meio destecontexto, relevante o fortalecimento de um debate srio, histrico e crtico, comomtodos de anlise, ao ponto de compreender os conflitos que instabilizam o meioambiente.
PALAVRAS-CHAVE: ANLISE DE DISCURSO CRTICA. DESENVOLVIMENTOSUSTENTVEL.BACHARELADO EM TURISMO. ATIVIDADE TURSTICA.
1Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Piau UFPI. E-mail: [email protected] em Lingustica Aplicada (UNICAMP). Professor Assistente do curso de Bacharelado em Turismo UFPI campus Ministro Reis Velloso (Parnaba). E-mail: [email protected]
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INTRODUO
A explorao do homem sobre a natureza, refletida nas problemticas
econmicas, sociais e ambientais, no existe somente a partir da realidade que o rodeia.
Desde a antiguidade clssica, dentro de uma noo de degradao da natureza, Plato
colocava o homem entre o que destri e corrompe, o mal e o bem, o que preserva e
til, configurando a relao de conflito homem x natureza, mediante o seu trabalho de
explorao dos recursos naturais existentes (ALMINO, 2003, p. 26).
No decorrer da crise ambiental e no alarme do mundo sobre o meio ambiente, no
qual pesquisadores, ambientalistas, governos e estados pesquisam e procuram uma
frmula de continuar o desenvolvimento desenfreado, porm, de forma no destrutiva,
surge o modelo desenvolvimento sustentvelpara conciliar a preservao ambiental e a
contnua produo do sistema vigente o capitalismo. Criado no Relatrio Brundtland
em 1987, esse termo foi definido como a prtica de atender as necessidades da atual
gerao, sem comprometer a capacidade das futuras geraes em prover suas prprias
demandas (VIZEU, MENEGHETTI e SEIFERT, 2013, p. 6).
Nesse sentido, a globalizao desse conceito na sociedade atual evidencia a
necessidade de ateno para com as problemticas ambientais, seja atravs da criao
de polticas pblicas na sua conteno, ou atravs de iniciativas sustentveis para a
proteo do meio ambiente, isto , o mundo atual antecedido por um vis anteposto nos
discursos chamados de sustentabilidade.
No contexto do turismo como atividade alternativa geradora de emprego e renda,
existe uma discusso terica tambm alinhada com as noes da sustentabilidade, pois
ao lidar com atrativos naturais ambientalmente frgeis, o turismo precisa se recriar
nessa nova lgica de cuidado com o meio em que se reproduz, ou como afirma Galeno
(2014, p. 11), importante frisar que o turismo no pode ser a alternativa para se
chegar a um desenvolvimento a qualquer custo.
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No entanto, atravs desse discurso globalizante que se tornou o desenvolvimento
sustentvel, interessante refutar sua noo em termos prticos devido instvel
discusso que se gera pela falta de materialidade de sua execuo na busca da proteo
do meio ambiente atravs da trade ambiental, social e econmica. Isto ocorre em
termos a-histricos, pois no existem anlises histricas (e sociais) sobre os processos
produtivos que corroboram/corroboraram para as atuais problemticas ambientais.
Todo esse processo de discusso ambiental na busca de se desenvolver o
ambientalmente correto recai sobre as produes dos discursos da sociedade como
forma de legitimao, que constri e desconstri na mesma intensidade que construda
e desconstruda pela linguagem, ou seja, a forma dialtica da lngua enquanto
instrumento de construo social. Como afirma Fairclough, este processo pode ser
analisado atravs de uma dialtica entre a linguagem e a estrutura social (2001, p.91),
ou seja, a globalizao do discurso do desenvolvimento sustentvel implcita e
explicitamente constri os discursos reproduzidos na sociedade, assim como ela
reconstri o desenvolvimento sustentvel, abrindo espao para novas possibilidades de
seus ideais na prtica social.
No local de estudo desta pesquisa, o curso de Bacharelado em Turismo da
Universidade Federal do Piau Campus Ministro Reis Velloso, os discentes possuem
uma grade curricular de ensino que comporta diversas reas e, dentre elas, o meio
ambiente tratado por meio de vrios vieses (sustentabilidade, educao ambiental,
desenvolvimento sustentvel, etc.). Por conta disso, os discursos dos estudantes esto
incrustados de concepes acadmicas sobre o que representa o desenvolvimento
sustentvel, at pelo fato de o curso ocorrer dentro do municpio de Parnaba/PI, cidade
que est inserida na rea de Proteo Ambiental APA Delta do Parnaba, um dos
maiores atrativos naturais da regio. Como iniciado, pontua-se que o objeto de estudo
desse trabalho engloba o discurso dos estudantes e dos graduados do curso vigente na
ocasio da pesquisa.
Assim, como resultado das reflexes preliminares realizadas anteriormente,
concebe-se pertinente questionar: Como o discurso do desenvolvimento sustentvel se
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configura na fala dos estudantes do curso de Bacharelado em Turismo da UFPI-
Parnaba?.
A pesquisa de que trata este artigo, que muito mais extensa e abrangente,
utilizou em sua metodologia o vis qualitativo de anlise do discurso crtica, conforme
explanada por Resende e Ramalho (2009), e abarcou as categorias analticas
Intertextualidade, Representao de Atores Sociais e Interdiscursividade. No entanto, o
presente artigo representa apenas um recorte da pesquisa e teve como categoria
analtica apenas a Interdiscursividade. Para a anlise dessa categoria, realizou-se um
grupo focal com oito estudantes e dois graduados do curso de Bacharelado em Turismo
referido (que tiveram seus nomes alterados), que foi registrado atravs de gravador
digital e teve sua transcrio posteriormente realizada. As falas transcritas tiveram sua
anlise complementada com pesquisas bibliogrficas/documentais sobre os temas
propostos e sobre os assuntos mencionados pelos participantes. Para fim de ilustrao,
algumas das falas esto reproduzidas adiante.
O questionamento-guia da pesquisa aparece a partir das indagaes realizadas
por conta dos equvocos do desenvolvimento sustentvel e como esse termo reflete-se
na produo discursiva da sociedade. Salienta-se tambm a importncia de analisar
como vem se propagando o termo do desenvolvimento sustentvel no meio acadmico,
em especfico, no curso de Turismo no qual os estudantes esto inseridos. Finalmente, a
motivao do trabalho tambm foi fruto do estudo e trabalho destes pesquisadores com
o referido curso.
HOMEM x NATUREZA
A superao de uma sociedade pela outra constri as relaes do homem e a
natureza atravs dos moldes de produo que os rege. Assim, de modo a fazer esse
recorte histrico, obriga-se recorrer s contribuies filosficas de Karl Marx e Friedrich
Engels, crticos do modo de produo capitalista e que, atravs de suas teorias,
implicitamente, apresentam uma contribuio acerca da relao entre o homem e a
natureza.
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Para Marx e Engels (1999, p. 7), as sociedades construram-se a partir da luta de
classes:
Homem livre e escravo, patrcio e plebeu, baro e servo, mestre de corporao ecompanheiro, numa palavra, opressores e oprimidos em constante oposio,tem vivido em uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarada, uma guerraque terminou sempre, ou por uma transformao revolucionria, da sociedadeinteira, ou pela destruio das classes em luta.
A decadncia do feudalismo refletiu no surgimento de novas relaes sociais
dentro da moderna sociedade burguesa, dando novas formas de dominao classistas:burguesia e proletariado. Essa moderna sociedade burguesa, como fala Marx, resultado
da ineficincia do modo de explorao feudal que no atendia mais aos anseios dos
novos mercados (MARX; ENGELS, 1999, p. 9). Dessa forma, a busca pela consolidao do
modo de produo capitalista no sculo XVIII na Revoluo Industrial, que se iniciou na
Inglaterra, acarretou profundamente mudanas nas relaes entre o homem e a
natureza, tendo aquele como dominador dos recursos naturais desta. Assim, superando
a manufatura, o vapor e a maquinaria ganharam espao na produo industrial,provocando a diviso do trabalho e agregando-a para a lgica do capital.
A partir da relao campo x cidade dentro do modo de produo capitalista, Marx
(1996, p. 113 apudFREITAS, 2012, p. 42), discorre que:
Com a preponderncia sempre crescente da populao urbana que amontoa emgrandes centros, a produo capitalista acumula, por um lado, a fora motrizhistrica da sociedade, mas perturba, por outro lado, o metabolismo entrehomem e terra, isto , o retorno dos componentes da terra consumidos pelo
homem, sob forma de alimentos e vesturio, a terra, portanto, a eterna condionatural de fertilidade permanente do solo. Com isso, ela destrisimultaneamente a sade fsica dos trabalhadores urbanos e a vida espiritualdos trabalhadores rurais. [...] E cada progresso da agricultura capitalista no s um progresso na arte de saquear o trabalhador, mas ao mesmo tempo naarte de saquear o solo, pois cada progresso no aumento da fertilidade por certoperodo simultaneamente um progresso na runa das fontes permanentesdessa fertilidade.
O distanciamento do homem sobre a natureza, dentro desse modo de produo,
reflete-se em uma alienao metabolicamente insustentvel dentro da lgica do capital.
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Freitas em A crtica marxista ao desenvolvimento (in)sustentvel recorre a outros
autores, complementando da seguinte forma:
Foster (2010) retoma o conceito marxiano de metabolismo homem-natureza(MARX, 1844) e salienta que, mediado pelo trabalho, o homem transforma anatureza e, nesse movimento, tambm se transforma. O trabalho um processoentre o homem e a natureza. Um processo em que o homem, por sua prpriaao, media seu metabolismo com a natureza. Ao mesmo tempo em que ohomem se diferencia da natureza pelo trabalho, torna-se alienado diante dotrabalho e em relao natureza (FREITAS, 2012, p. 43).
Marx tambm afirma que a natureza o corpo no orgnico do homem:
Dizer que a vida psquica e intelectual do homem est indissoluvelmente ligada natureza no significa outra coisa seno que a natureza estindissoluvelmente ligada com ela mesma, pois o homem uma parte danatureza (MARX, 1962, p. 62-81 apud LOWY, 2005, p. 21).
A noo do homem como anexo natural da natureza contribui na busca pela
superao dessa sociedade ao ponto de conceber assim, uma soluo para o
antagonismo entre o homem e a natureza (LOWY, 2005, p. 21). Engels, em seu textosobre o Papel do trabalho na transformao do macaco em homem, faz uma crtica ao
poder predatrio do homem sobre o meio ambiente:
Ns no devemos nos vangloriar demais das nossas vitrias humanas sobre anatureza. Para cada uma destas vitrias, a natureza se vinga de ns. verdadeque cada vitria nos d, em primeira instncia, os resultados esperados, masem segunda e terceira instncias ela tem efeitos diferentes, inesperados, quemuito frequentemente anulam o primeiro. As pessoas que, na Mesopotmia,Grcia, sia Menor e alhures destruram as florestas para obter terra cultivvel,
nunca imaginaram que eliminando junto com as florestas os centros de coleta eas reservas de umidade lanaram as bases para o atual estado desolador dessespases. Quando os italianos dos Alpes cortaram as florestas de pinheiros daencosta sul, to amadas na encosta norte, eles no tinham a menor ideia de queagindo assim cortavam as razes da indstria lctea de sua regio; previammenos ainda que pela sua prtica eles privavam de gua suas fontesmontanhesas durante a maior parte do ano (...). Os fatos nos lembram a todoinstante que ns no reinamos sobre a natureza do mesmo modo que umcolonizador reina sobre um povo estrangeiro, como algum que est fora danatureza, mas que ns lhe pertencemos com nossa carne, nosso sangue, nossocrebro, que ns estamos em seu seio e que toda a nossa dominao sobre elareside na vantagem que levamos sobre o conjunto das outras criaturas porconhecer suas leis e por podermos nos servir dela judiciosamente (ENGELS,1968, p. 180-191 apud LOWY, 2005, p. 22).
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De tal forma, o homem est, umbilicalmente, associado natureza dentre as
diversas formas de produo que as sociedades vivenciaram, porm, existe um
distanciamento visceral, como fala Marx, da natureza na qual o prprio homem
pertence.
Justifica-se esse recorte, historicamente falando, do papel do homem mediado
pelas relaes de produo em que se est inserido, para entender como se d seu
entrave com o meio ambiente na sociedade atual e o quo equivocado pensar na sua
relao harmoniosa com a natureza, proposta essa do desenvolvimento sustentvel, no
contexto neoliberal do mundo contemporneo.
A partir desse contexto apresentado e historicamente situado, importante
conceber a conflituosa relao do homem com o meio ambiente dentro do capitalismo,
devido aos contrastes gerados pela atividade de produo. Atravs dessas contradies
que surgem em um determinado momento, as potncias mundiais viram-se em um
alarme ambiental que precisava ser debatido enquanto problemtica a ser solucionada.
Agora, o meio ambiente colocado em pauta e o capital precisou se reproduzir: Surge
assim o desenvolvimento sustentvel.
O MITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
Nesta seo, apresentam-se algumas contribuies tericas com o propsito de
expor as fragilidades e equvocos da materialidade do desenvolvimento sustentvel
como aporte na salvao dos recursos naturais, na justia ambiental e na economia
desenfreada do mundo atual.
Embora existam variadas conceituaes de desenvolvimento sustentvel, a mais
aceita e difundida a do Relatrio Brundtland, em que definido como [...] o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade
das geraes futuras de suprirem suas prprias necessidades (CMMAD, 1991, p. 7 apud
FREITAS, 2012, p. 44). No entanto, existem considerveis desacordos entre estudiosos a
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respeito de como esse modelo ser operacionalizado e como a sustentabilidade pode ser
mensurada (BANERJEE, 2003, p. 81).
Falar de desenvolvimento sustentvel direta (ou indiretamente) remete
desacelerao da economia. Entretanto, essa noo desenvolvimentista proposta
atravs das abordagens economicistas que refletem nas polticas ambientais atuais
defendidas por muitos pases detentores desse modelo (SILVA, 2010, p. 19).
Banerjee (2003, p. 81) ainda complementa que essa definio de Brundtland no
se trata propriamente de uma, mas sim de slogans: Ela um slogane slogans, embora
bonitos, no fazem teoria:
Os discursos sobre a sustentabilidade esto se tornando crescentementecorporativos. Por exemplo, a Dow Jones recentemente lanou o ndice doGrupo de Sustentabilidade, depois de uma pesquisa sobre a fortuna de 500companhias. Uma corporao sustentvel foi definida como sendo aquela quetem como objetivo um crescimento ao longo prazo capaz de integraroportunidades de crescimento econmico, ambiental e social em suas estratgiascorporativas e de negcios (Dow Jones Sustainability Group Index, 2000 apudBANERJEE, 2003, p. 82).
A adequao do mercado mundial aos dogmas do desenvolvimento sustentvel
em nada compactua com a proteo ambiental, mas sim como estratgia de ser mais
uma meta a ser atingida, ou seja, mais um caminho ideolgico para o capitalismo se
reproduzir. Fernandes e Guerra reforam essa apropriao mercadolgica da
sustentabilidade com as seguintes contribuies:
Apesar do enquadramento do Desenvolvimento Sustentvel, como uma
descontinuidade estratgica, que transformaria os atuais fundamentoseconmicos, o discurso corporativo sobre este no surpreendentemente,promove a atividade empresarial na mesma linha, com exceo da produoverde, no sendo possvel observar nenhuma mudana radical nas vises demundo que a orientam. Como Robert Shapiro afirma, longe de ser uma questofundamentada na emoo ou na tica, o Desenvolvimento Sustentvel envolveuma lgica fria e uma racionalidade do mundo dos negcios (MAGRETTA, 1997apudFERNANDES e GUERRA, 2003, p. 83).
Alm dessa realidade que coloca em questionamento os pressupostos do
desenvolvimento sustentvel, faz-se necessrio recorrer a sua impossibilidade enquanto
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termos concretos de existncia. Foladori afirma que as impossibilidades de reverso da
crise ambiental esto nas relaes sociais e econmicas, historicamente contraditrias:
No se trata de existir ou no limites fsicos; para a prtica humana, o problemano esse, mas de contradies sociais que provocam diferenas de acesso natureza e que podem conduzir eventualmente, a catstrofes ambientais.Colocar dessa forma o problema significa considerar que as solues para asquestes ambientais no so tcnicas, como seriam se o problema fosse delimites fsicos. Ao contrrio, as solues so, em primeira instncia, sociais.Somente depois de resolver as contradies sociais, as alternativas tcnicasganham sentido (FOLADORI, 2001, p. 137 apudSILVA, 2010, p. 23).
Assim, pode-se traduzir que as catstrofes ambientais so tambm consequncias
das desigualdades sociais que impossibilitam o acesso equitativo das classes sociais para
com a natureza, tendo em vista que, a conduo dos recursos naturais advm do
trabalho de um grupo dominante e, assim, sua ao, atribui-se o poder de explorar o
meio ambiente.
Banerjee (2003, p. 86) afirma que a abordagem de Brundtland ao
desenvolvimento sustentvel, ao objetivar o crescimento econmico, a preservao
ambiental e a equidade, simultaneamente, pretende conciliar o inconcilivel. As
tomadas de decises dos ambientalistas, governos e organizaes internacionais buscam
minimizar as externalidades do crescimento econmico do que apresentar m aneiras
reais por qual o desenvolvimento deve acontecer.
Assim, o vis economicista tratado como ponto crucial na aplicao do modelo
de desenvolvimento sustentvel (conceito e operacionalizao), colocando em
contradio essa apropriao da natureza na equivocada defesa do meio ambiente sem
compromisso com a mudana nas crises ambientais atuais. Como pontua Banerjee
(2003, p. 89):
A apropriao da natureza e sua transformao em uma fonte de matrias-primas tem sido sempre parte da agenda ocidental de desenvolvimento. Aincorporao da natureza ao discurso da modernidade efetuou uma transiodesarticulada para os sistemas modernos de produo nos quais a natureza foiobjetivada e reinventada imagem do capital como um fator de produo(OCONNER, 1994) ou como produto nela mesma, para ser embalado, vendido econsumido, como pode ser visto na crescente popularidade do ecoturismo
entre os consumidores ricos.
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Nesse sentido, o turismo atravs do ecoturismo enquanto atividade econmica
alternativa e ator responsvel na potencializao de sua atividade em ambientes
naturais (e comunidades tradicionais), tambm reflete os preceitos do modelo de
desenvolvimento sustentvel na medida em que a globalizao do alarme mundial a
favor do meio ambiente implica em uma nova realidade em termos polticos, sociais,
econmicos e ambientais.
O DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ARTICULADO:
INTERDISCURSIVIDADE
Como um modo de observar como a conceituao do termo desenvolvimento
sustentvel se configura no discurso dos envolvidos no estudo, mais especificamente,
no mbito acadmico, fez-se um recorte de anlise com base na Teoria Social do
Discurso (FAIRCLOUGH, 2001), utilizando-se da categoria analtica Interdiscursividade.
As variadas concepes existentes nos discursos funcionam como a
representao do mundo atravs de suas perspectivas. Nesse sentido, Resende e
Ramalho (2009, p. 72, grifo no original) salientam que a heterogeneidade de um texto
em termos da articulao de diferentes discursos chamada de interdiscursividade. A
forma como o mundo significado nas falas, ou seja, nos momentos discursivos,
possibilita entender que inmeras foras ideolgicas corroboram posicionamentos
conceptivos de um texto.
Continuando com as contribuies de Resende e Ramalho:
A identificao de um discurso em um texto cumpre duas etapas: Aidentificao de que partes do mundo so representadas (os temas centrais) ea identificao da perspectiva particular pela qual so representadas. Asmaneiras particulares de representao de aspectos do mundo podem serespecificadas por meio de traos lingusticos, que podem ser vistos realizandoum discurso (2009, p. 72).
Com isso, pode-se justificar a escolha dessa categoria analtica como ferramenta
de anlise dos dados do objetivo do estudo desse trabalho, pois a partir da percepo de
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como os discursos so negociados, liderados e suas representaes sobre o mundo que,
inicialmente, a pesquisa ser direcionada.
Nessa categoria analtica, a anlise do discurso dos participantes do grupo focal,
de incio, reflete a dissociao entre o desenvolvimento sustentvel e o modo de
produo capitalista, onde esse o vilo ao ponto de no perm itir a existncia na
prtica daquele. Essa noo resultado, principalmente, da ausncia de uma proposta de
ruptura com o atual sistema vigente, tal como Banerjee afirma que ao invs de
representar a quebra de um paradigma terico, subsumido sob o paradigma
economicista dominante (2003, p. 76). Questionados sobre suas concepes acerca do
que representa desenvolvimento sustentvel, os discursos presentes convergem-se onde
os participantes, Rafael e Felipe, apresentam claramente essa viso:
Rafael: Da vem uma questo mais capitalista que se apodera da funo do desenvolvimento sustentvel que na verdade fazer com que as pessoas usemos recursos naturais existentes de uma forma que garanta que as futuras
geraes possam tambm usufruir no futuro.Junior: De formas a garantir, como o Rafael falou, enfim, um mundo melhor para
essas geraes futuras, s que vivemos em um modelo capitalista ondecirculam informaes muito rpido, onde existe um consumismoexacerbado, onde as pessoas pegam e consomem e no se importam com ooutro.Felipe: Como que falaram do capitalismo: O capitalismo um jogo demarketing, que ele sabe fazer o marketing para o desenvolvimento
sustentvel no acontecer, pois ele induz a voc comprar, comprar, comprar ejogar fora e no saber reutilizar esse jogar fora e eu acho que esseconhecimento do marketing deveria fazer com que o desenvolvimento
sustentvel exista.
Percebe-se que na fala do participante Rafael, o desenvolvimento sustentvel
vtima do capitalismo, sendo que o primeiro est inserido no segundo e que foi
concordado pela fala do participante Junior, porm, contribuindo com a percepo do
capitalismo no seu sentido de promover informaes ideolgicas (mdia) como fator de
promoo do consumo exacerbado. Por fim, a fala do participante Felipe em consonncia
com as falas anteriores, reforando a dissociao do capitalismo com o desenvolvimento
sustentvel, afirmando sua credibilidade na mesma mdia para tornar o
desenvolvimento sustentvel como algo tangvel e que, por conta do capitalismo, esse
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modelo conciliatrio entre a contnua produo e o meio ambiente no existe na
materialidade.
No entanto, Fernandes e Guerra (2003) refutam essa ideia ao ponto que
considera indissocivel a globalizao do desenvolvimento sustentvel dentro da noo
hegemnica do capitalismo no seu fim estritamente econmico.
Os ideais do desenvolvimento sustentvel, no sentido econmico, social e
ambiental, apresentam polticas e posicionamentos que partem estritamente do vis
econmico enquanto modelo desenvolvimentista e, por si s, equivoca-se ao ponto que
prope um modelo econmico/ambiental dentro do mesmo sistema que ocasionou as
atuais crises ambientais o modo de produo capitalista.
Continuando as anlises, nas falas dos participantes Henrique, Junior e Cesar, o
desenvolvimento sustentvel, embora seja apontado como um modelo de preservao
do meio ambiente, entendido como polticas que no tm como findar a poluio:
Henrique: Eu, s vezes, escuto as pessoas dizerem que no acreditam emdesenvolvimentosustentvel e eu at chego a dar um certo qu de razo a elas,
porque o desenvolvimentosustentvel, na verdade, no acaba totalmentecom a poluio ou at qualquer problema que seja, ele apenas reduz.Junior: E hoje ns sentados aqui, com essa luz ligada, com o arcondicionadofuncionando, isso j gera um fato que no nenhum pouco
sustentvel, ento no existe como eliminar totalmente os impactos.Cesar: Ento, se for analisar a palavra desenvolvimento, eu acho que algoque estpor vir ainda, est no campo das ideias, algum fala: Ah tem que ser
justo para todos oslados, tem que ser ambientalmente correto, causar o mnimode impacto, mas eu acho que isso no vai acontecer nunca, o mximo que se
pode acontecer desenvolver uma atividade que seja mais sustentvelconcordando com o Henrique que essa atividade pode minimizar o mximoque a atividade prope, que se for para preservar tudo, ningum existe,
qualquer atividade vai denegrir o meio ambiente.
Nas falas anteriores, os discursos dos participantes que contextualizaram sobre o
que desenvolvimento sustentvel, entendem que embora seja um modelo sistmico
que preserve o meio ambiente, ainda assim, ir gerar impacto negativo. Nesse contexto,
existe concordncia entre as trs falas e principalmente, liderana da fala do Henrique
sobre as outras.
Silva situa-se nas contribuies de Montibeller (2004) e Foladori (2001) acerca
das limitaes do desenvolvimento sustentvel da seguinte forma:
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Montibeller (2004), por sua vez, assume a mesma posio de Foladori (2001)ao captar que o desenvolvimento sustentvel representa uma mudana radicalda relao sociedade/natureza que passa pela economia e pela forma de fazerpoltica. O seu entendimento que, a longo prazo, o problema poder seramenizado, mas no resolvido na sociedade capitalista (SILVA, 2010, p. 21).
Ao se pensar na crise ambiental, percebe-se a carga de responsabilidade das
principais potncias mundiais com esse processo de explorao dos recursos naturais.
Nesse contexto, as falas dos participantes Sarah, Henrique, Felipe e Diego (Esses trechos
de fala tambm iro exemplificar a categoria analtica Representao de Atores Sociais
mais adiante) reforam a responsabilidade dos Estados Unidoscomo pas hegemnico e
poluidor do meio ambiente:
Sarah: O consumo de um cidado americano, j pensou se todas as pessoas domundoconsumissem como eles, como que seria, como a terra estaria?.Henrique: .O EUA e a China, os dois sozinhos so os maisresponsveis pormais de 50% dapoluio mundial.Felipe: Agora que chegou 2014, eles fizeram um plano de reduo deempresas queemitem gases de carbono, s por conta do processo da ECO92 del atrs.Diego: A ECO92 faz mais de 20 anos....
Como se pode perceber, o questionamento da fala da participante Sarah
corrobora as falas seguintes, tornando comum a noo de hegemonia americana sobre o
mundo e seus impactos negativo-ambientais. Conforme aponta Giddens (1991, p. 69
apudRESENDE e RAMALHO, 2009, p. 95), aglobalizao a intensificao das relaes
sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que
acontecimentos locais so modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas dedistncia e vice-versa.
Nesse sentido, os EUA, historicamente, corroboram o papel de querer dominar o
mundo atravs de seu imperialismo e isso se d nas tentativas de sustentar o seu poder
hegemnico, por meio de guerras e/ou pela propagao da noo de progresso e
desenvolvimento como aporte na invaso e tomada de pases em nome do poder e do
capital. Como citado, os EUA se recusaram a assinar a Conveno da Biodiversidade que
fez parte de um dos documentos mais relevantes do ECO-92, alm de refutar o acordo
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que se referia a reduzir a emisso de poluentes na atmosfera. A China, por sua vez, ocupa
o 2 lugar no sentido de abuso na poluio ambiental.
importante evidenciar o esteretipo de poder sobre o mundo que o EUA detm
nas concepes dos estudantes e graduados do curso de Turismo. Isso se d de uma
forma negativa, principalmente pelas crises ambientais que indiretamente revelam os
pases que se posicionam contra o alarme mundial sobre o meio ambiente. Porm,
refora a legitimidade das noes do desenvolvimento sustentvel na salvao da
natureza e, como j foi falada, essa noo est inclusa no mesmo sistema poltico-
econmico que o pas citado, a todo o momento, sustenta e reproduz.
Nos discursos seguintes, perceptvel como os participantes Diego e Joo
recorrem a uma relao conflituosa Homem primitivo x Sociedade atual:
Diego: Na minha viso de ecologicamente sustentvel, os ndios nativos do Brasiltinham umavida sustentvel, pois eles tinham tudo e viviam o dia a dia e nada deacumular.Joo: Ele tocou num ponto interessante... Ele disse que os ndios tinham uma aosustentvel, pois se for comparar com nossas aes hoje, eles eram sustentveis...
Mas sabemos que os ndios eram nmades, certo? Produziam, matavam, faziamcolheitas e quando a terra no dava mais, eles faziam o qu? Migravam para umarea e produziam um novo desmatamento para suprir suas necessidades, s quea o que se diferencia, pois eles produziam por conta de uma necessidadealimentar....
Historicamente, as tradies indgenas de uso da terra compreendem-se a partir
de um modo de subsistncia que tinha como finalidade a sua sobrevivncia, de seus
modos de vida e costumes locais e no possua um interesse de acmulo de recursos
naturais e nem de uso mercantilista, caracterstica essa que no corresponde
sociedade industrial capitalista, surgida em meados do sculo XVIII. As consideraes de
Marx sobre essa relao homem x natureza salienta que:
Dizer que a vida psquica e intelectual do homem est indissoluvelmente ligada natureza no significa outra coisa seno que a natureza estindissoluvelmente ligada com ela mesma, pois o homem uma parte danatureza (MARX, 1962, p. 62-81 apud LOWY, 2005, p. 21).
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Ou seja, umbilicalmente o homem est associado natureza a partir do momento
que a torna instrumento de trabalho, gerao de renda e fonte de realizao de seus
desejos, porm, os interesses trabalham unicamente em nome do acmulo de capital,
referenciando um dos dogmas das polticas neoliberais do capitalismo para com os
recursos naturais do meio ambiente.
Nesse sentido, os discursos dos participantes Diego e Joo representam o
contrassenso entre o modo de apropriao da terra pelos ndios e pela sociedade
industrial, onde este v o meio ambiente como fim de gerao de lucro e
desenvolvimento (progresso), enquanto aquele entendia os recursos naturais como
forma de sobrevivncia. Alm disso, um discurso concorda e reafirma o que o outro diz,
apresentando exemplificaes que legitimam a fala do participante Joo.
No decorrer da realizao do grupo focal, foi questionado sobre onde
aprenderam as noes de desenvolvimento sustentvel que foram apresentadas
anteriormente. Os discursos dos participantes, a todo o momento, refletem uma
concordncia entre as falas e principalmente, contradies quanto aplicao do
modelo de desenvolvimento sustentvel na preservao do meio ambiente.
Nesse sentido, a fala do participante Rafael apresenta uma contradio quando
opina sobre sua noo e aprendizado quanto ao desenvolvimento sustentvel:
Rafael: Bom, primeiro contato que eu tive foi na academia, acho que com oProfessorX, foi ele quem abriu a porta de muitos para conhecer o termo e essetermo vem se acumulando esses vrios meses que eu tenha estudado e quandoentrei no PET/UFPI3, me aprofundei no termo, comecei a pesquisar e fazeralgumas produes de artigos que me levou a ver e adescrer nessa noo de
desenvolvimento sustentvel.Porm, no trabalho, desenvolvemos algumaspesquisas e comprova que poderia sim, ser aplicada em algumas pequenascomunidades, de uma forma micro voc consegue implantar odesenvolvimento sustentvel. Recentemente, j desenvolvi duas outras
pesquisas dentro dessa rea e uma coisa que no cremos, mas vemos que dcerto, mas quais so os embargos e empecilhos... A prpria organizao dasociedade, a prpria poltica de incentivo, a falta de profissionais que queiramoficializar e colocar em prtica tudo isso. No mais, acho que um termo quedeve mais ser direcionado a novas geraes que esto se iniciando no Brasile no mundo tambm, uma questo mais de tica de proporcionar educao
3 O Programa de Educao Tutorial (PET) um programa do Governo Federal que mantm grupos deeducao tutorial em cursos de graduao de universidades pblicas de todo o Brasil. Esses grupos,
chamados de "grupos PET" se orientam, no desenvolvimento de suas atividades, pelo princpio entreensino, pesquisa e extenso.
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ambiental s crianas e aos jovens uma interao maior com acomunidade, com a natureza, afim de esse contato sirva de estmulo a eles
mesmos, desenvolverem tcnicas produtivas mais sustentveis.
Nos trechos que me levou a ver e a descrer nessa noo de desenvolvimento
sustentvel e Porm, no trabalho, desenvolvemos algumas pesquisas e comprova que
poderia sim, ser aplicada em algumas pequenas comunidades, de uma forma micro voc
consegue implantar o desenvolvimento sustentvel, fala que com seus estudos comeou a
perder a credibilidade quanto aesse modelo poltico-ambiental, mas que em uma viso
micro, ele acontece e complementa essa linha de raciocnio com o trecho uma coisa
que no cremos,mas vemos que d certo. Finalizando, no trechoNo mais, acho que um
termo que deve mais ser direcionado a novas geraes que esto se iniciando no Brasil e no
mundo tambm, uma questo mais de tica de proporcionar educao ambiental s
crianas e aos jovens uma interao maior com a comunidade, com a natureza, afim de
esse contato sirva de estmulo a eles mesmos, desenvolverem tcnicas produtivas mais
sustentveis, o participante apresenta uma explanao geral de perspectiva do
desenvolvimento sustentvel e que claramente, entra em contradio com os trechos
anteriores, sendo que para o participante, ora existe, ora no existe.
Nesse quesito, Fairclough pontua que:
As origens e as motivaes imediatas da mudana no evento discursivorepousam na problematizao das convenes para os produtores ouintrpretes, que pode recorrer de vrias formas [...] Tais contradies, dilemas eentendimentos subjetivos dos problemas em situaes concretas tm suascondies sociais em contradies e lutas estruturais nos nveis institucional esocietrio (FAIRCLOUGH, 2001, p. 56).
Tais contradies representadas no discurso do participante Rafael so resultado
das contradies existentes no dilogo acadmico e social sobre desenvolvimento
sustentvel, sendo que esses fatores partem principalmente da ausncia de empirismo
do modelo econmico/ambiental discutido, corroborando na sua conflituosa
explanao: ora positivo, ora negativo.
No discurso da participante Juliana, existe uma concordncia com o discurso do
participante Rafael, analisado anteriormente, no qual compactua o aprendizado sobre
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desenvolvimento sustentvel dentro do meio acadmico, especificamente, no curso de
Turismo:
Juliana: Tambm, na universidade, ... Quando eu fiz o curso tcnico, eu nuncaestudei a fundo desenvolvimento sustentvel. J aqui eu vi essa questo deeducao ambiental, de unidades de conservao, preservao do meio ambiente,mas a questo de sustentabilidade em si eu no tinha visto, mas quando entrei naacademia, comecei a ter mais contato com a ideia de desenvolvimentosustentvel, antes disso no me recordo.
Em especfico ao tema desenvolvimento sustentvel, discutido nesse trabalho, o
curso de Bacharelado em Turismo do Campus Ministro Reis Velloso CMRV da
Universidade Federal do Piau UFPI possui em sua grade curricular, as disciplinas
Educao Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel; e Biodiversidade Brasileira e
Ecoturismo. Alm de projetos de pesquisa e extenso como o PET-TURISMO que atuam
diretamente com noes de sustentabilidade associada ao turismo, difundidas pelo
alarme mundial atravs das discusses que deram criao ao desenvolvimento
sustentvel. Alm disso, apresenta outros campos de estudo que complementam e
agregam noo de desenvolvimento sustentvel. Vemos isso nos trechos educao
ambiental, de unidades de conservao, preservao do meio ambiente, embasando
uma noo geral de sustentabilidade.
Questionados sobre quem se beneficia com o desenvolvimento sustentvel, os
discursos dos participantes entraram em discordncia, gerando variadas perspectivas
sobre o termo. Junior: Eu acho que quem ganha muito com o desenvolvimento
sustentvel so as prpriasempresas, as prprias corporaes.
Em sua fala, o participante Junior afirma a apropriao desse termo pelas grandes
empresas que administram o meio ambiente. Nesse quesito, a fala do participante Rafael
discorda com a seguinte afirmao. Rafael: Mas isso o marketing sustentvel e no o
desenvolvimento sustentvel.
Essa discordncia parte do posicionamento no qual um discurso revela sua ideia
onde as corporaes apropriam-se do discurso da sustentabilidade para empreender,
enquanto que o outro entende essa apropriao como uma no definio do que de fato,
beneficia o desenvolvimento sustentvel. importante salientar que o participante
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Rafael, novamente, refora suas contradies na mudana discursiva sob a contradio
existente quanto aplicao no mundo desse modelo de desenvolvimento.
J os discursos dos participantes Cesar e Andre corroboram o pensamento de
Junior, discurso anterior que apresenta o real compromisso economicista das grandes
corporaes para com o meio ambiente:
Cesar: Quem que mais d patrocnio em editais? Natura, Petrobrs, etc.. Andre: Quem ganha mais com essa bandeira de sustentabilidade so as empresasde grande porte como a CORTEZ, a empresa que fez a estrada para a Pedra do Sal
tinha o ISO 14.001 (ISO da sustentabilidade), ganhou esse selo internacional porconta da MEGA (Empresa Alem) que a escolheu como a empresa maissustentvel para fazer o trabalho com a usina elica.
Fernandes e Guerra (2003) destacam sobre a reproduo desse discurso
corporativista do desenvolvimento sustentvel:
Os discursos corporativistas sobre a sustentabilidade produzem uma eliso quedesloca o foco da sustentabilidade global planetria para a sustentabilidade dasestratgias de crescimento das corporaes. O que acontecer se os problemas
sociais e do meio ambiente no resultarem em oportunidades de crescimentopermanece obscuro, se aceito o pressuposto de que a sustentabilidade globalpode ser alcanada atravs das trocas de mercado (BANERJEE, 2003, p. 83).
Essa apropriao da classe dominante sobre o discurso da sustentabilidade
recorre a uma problemtica da universalizao da noo de desenvolvimento
sustentvel a nvel global ultrapassando as especificidades de cada localidade a ser
inserido o modelo citado em nome da reproduo do capital. Alm disso, corporaes
como a Petrobrs e Natura, empresas citadas pelo participante Cesar, ganham o ttulo
sustentvel fortalecendo a noo economicista do termo e de como esse jargo
difundido a nvel nacional e internacional, quanto ao poder pblico e privado.
O slogan da sustentabilidade virou prefixo das empresas, questionando a real
efetividade do desenvolvimento sustentvel na proteo do meio ambiente. A empresa
mega Energia, citada na fala anterior, atua na contnua construo de uma Usina Elica
na Praia da Pedra do Sal, que faz parte do municpio de Parnaba/PI e alvo de muitas
controvrsias para com sua relao com os moradores da Praia, pois conforme a
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vivncia e observao desse local, os moradores ainda no possuem energia eltrica em
suas moradias. Da, faz-se o seguinte questionamento: Energia sustentvel para quem?
Em consonncia com o discurso do participante Andr, a empresa Omega Energia
discorre sobre seu compromisso socioambiental4:
O compromisso com a excelncia e sustentabilidade nos negcios tambm progressivo e atinge a seleo de fornecedores da Omega. A empresadefinitivamente prioriza a contratao de empresas com nveis avanados deISO (International Organization for Standardization) e com programas desegurana do trabalho, governana corporativa e qualidade de vida para seus
colaboradores, j que este contingente representa milhares de empregosgerados por seus empreendimentos pelo Pas.
Importante destacar como essa relao da empresa com a sustentabilidade entra
em conflito no discurso do participante a partir do momento em que essas grandes
corporaes so tidas como sustentveis somente pelo fato de possurem a International
Organization for Standardization - ISO da sustentabilidade, quando na verdade no
existe praticidade quanto s melhorias da comunidade local e preservao do
ambiente natural dos moradores da Pedra do Sal.Finalizando a categoria analtica Interdiscursividade, na qual existe reproduo e
reafirmao de uma fala pela outra, os trechos seguintes do discurso do participante
Joo apresentam uma opinio geral sobre quem se beneficia com o desenvolvimento
sustentvel, sendo evidente a legitimao ideolgica atravs da racionalizao e
universalizao, s quais Thompson afirma que relaes de dominao so
apresentadas como justas e dignas de apoio (1995, pp. 81-9 apud RESENDE e
RAMALHO, 2009, p. 50).
Joo: S pegando um gancho com os meninos que falaram em relao a empresasque se beneficiam com o DS, a vem aquela questo, isso lei de compensao:Por exemplo, a Petrobrs financiou ONGs locais com projetos, e bemmelhor que eles colaborem e terem essa compensao, pois se for parar praver, centenas de empresas que no ligam para o meio ambiente.
(Legitimao= Racionalizao).
4 PRINCPIOS DA SUSTENTABILIDADE. Disponvel em:
http://www.omegaenergia.com.br/sustentabilidade #sustentprincipios. Acesso em 19 de outubro de2014.
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Joo: Com essa questo deganhos, temos que ver o seguinte, tem que pensar quetodomundo, independente de ser empresariado, aluno e setor pblico,pois quem
ganha na verdade o ser humano e a natureza tambm. (Legitimao=Universalizao) .
Na fala do participante, o exemplo citado tem como papel apresentar
positivamente a participao de empresas/corporaes na luta pelo meio ambiente,
sendo que, mesmo que ela polua, seus impactos negativos so naturalizados caso a
empresa faa a justia ambiental atravs de financiamentos de projetos ambientais. No
outro trecho, existe uma generalizao do desenvolvimento sustentvel e sua ao sobre
o mundo, o ser humano e natureza.
No trecho Por exemplo, a Petrobrs financiou ONGS locais com projetos, e bem
melhor que eles colaborem e terem essa compensao, pois se for parar pra ver, centenas
de empresas que no ligam para o meio ambiente, existe uma legitimao por
racionalizao, que Thompson (1995, pp. 81-9 apud RESENDE e RAMALHO, 2009, p. 52)
conceitua como uma cadeia de raciocnio que procura justificar um conjunto de
relaes.
E no trecho Pois quem ganha na verdade o ser humano e a natureza tambm, o
participante universaliza os benefcios do desenvolvimento sustentvel. Thompson
(1995, pp. 81-9 apud RESENDE e RAMALHO, 2009, p. 52), atravs da legitimao por
universalizao fala em interesses especficos que so apresentados como interesses
gerais.
Nos discursos dos participantes Rafael e Cesar, existe uma discordncia sobre o
englobamento do desenvolvimento sustentvel e sua relao com o turismo:
Rafael: Desvincular o ambiente do desenvolvimento sustentvel, pois tem outrosaspectos.Por isso, o turismo um importante meio para regulamentar tudo isso etrazer ideias mais prticas.Cesar: Mas estamos inseridos no meio ambiente....
Na divergncia discursiva onde se prope um distanciamento entre o ambiental e
o social, Silva afirma que:
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Se tratarmos os problemas ambientais separadamente dos problemas sociais,agimos de forma ingnua. As causas da crise no se encontram na natureza,
mas nas relaes que a sociedade estabelece com ela, sendo, portanto, maisadequado pens-la em termos de questo socioambiental (2010, p. 20).
Essa noo de dissociao do desenvolvimento sustentvel do seu sentido
ambiental se d principalmente pelo fato de que o alarme ambiental do mundo concebe
suas problemticas desvinculadas do contexto social e econmico. Importante destacar
que o econmico, social e ambiental esto totalmente interligados de forma umbilical ao
ponto que o desequilbrio ou tentativa de resolver os impactos negativos de um fator
reflete nas mudanas dos outros.
GUISA DE CONCLUSO
Tem-se a necessidade de discusso do desenvolvimento sustentvel em nvel
acadmico e, principalmente, nos cursos de Turismo, haja vista o quo ideolgico pode
se construir um discurso com suas possibilidades, no fortalecimento de concepes.
Alm disso, entende-se como relevante a desconstruo do discurso do desenvolvimento
sustentvel enquanto aparelho ideolgico empresarial do mundo contemporneo e, em
especfico, na atividade turstica para construir concepes discursivas que findem
relaes de dominao, como por exemplo, comunidades tradicionais que recebem o
turismo e, com o discurso sustentvel, tm seu modo de vida local impactado
negativamente.
Dessa forma, conceber a imaterialidade do desenvolvimento sustentvel e
perceber que o cerne das problemticas ambientais advm do modo de produo
vigente pode resultar, possivelmente, em uma construo de sociedade que se proponha
a rupturas e transformaes, fator esse to distante da pauta ambientalista do mundo
contemporneo. O papel da academia, nesse sentido, fortalece o pensamento crtico e
transformador do pesquisador, para com sua responsabilidade social enquanto
vanguarda.
Embora o trabalho presente entenda a teoria social do discurso na sua
funcionalidade social e lingustica, a pesquisa presente buscou uma maior ateno para
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com as teorias sociais na sua articulao de anlise do discurso, enquanto a lingustica
no foi to aproveitada. Porm, reitera-se a sua importncia na identificao do discurso
enquanto linguagem que transforma e se constri socialmente.
Na categoria analtica interdiscursividade, conclui-se que os discursos dos
estudantes e graduados em Turismo participantes da presente pesquisa apresentam
marcas ideolgicas acerca do desenvolvimento sustentvel, atravs de negociaes na
fala, no qual um discurso lidera e corrobora na pronunciao dos outros. Ao acontecer
esse tipo de articulao, existe uma prioridade em discorrer na crtica ao modo de
produo capitalista, atravs da articulao de diversos pontos que problematizam o
consumo exacerbado e a globalizao desse modelo econmico/ambiental. Alm disso,
os discursos apresentados quando articulados, apresentam tangveis contradies ao
ponto de concordar e discordar ao mesmo tempo do que representa o desenvolvimento
sustentvel. Isso problemtico, pois reflete a prpria ausncia de materializao nos
dias atuais dessa conciliao entre economia, sociedade e meio ambiente em um
desenvolvimento s, como esse proposto.
A fim de concluso, os discursos que foram articulados, intertextualizados e
representados, possuem importncia no sentido de proporcionar uma reflexo geral
sobre o desenvolvimento sustentvel como fator que precisa ser discutido seriamente
na construo de polticas ambientalistas. necessrio que, de fato, se proponha barrar
as crises ambientais, mas principalmente, que se parta de uma anlise materialista-
histrica do que ocasionou/ocasiona os atuais mrtires do meio ambiente, ou seja, o
modo de produo atual, pois s assim existe o fortalecimento de um debate srio,
histrico e crtico para, assim, eliminar as contradies do capital, que a cada dia,
ideolgica e hegemonicamente, mercantiliza os ideais da sustentabilidade.
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SUSTAINBALE DEVELOPMENT IN ACADEMIC DISCOURSE IN PARNAIBA-PI: UNVEILINGMYTHS
ABSTRACT
The aim of this paper is to present an analysis on how discourse on sustainable development isrepresented in the speech of undergraduate students of a Bachelor of Science degree in Tourism,showing the discursive production and its activity as social practices in the construction ofsociety, and the importance of deconstructing some myths that surround such economical andenvironmental model as proposed by the Brundtland Report. In order to carry out a discourseanalysis, eight undergraduate students of the degree course and two already graduatedparticipants from the same course were chosen to make up a focus group discussion. In such away, Faircloughs theoretical and methodological approach alongside his social theory ofdiscourse was used so that language can be perceived as an associated part of social life and isdialectically interconnected to other social elements. Data were analyzed based on the categoryInterdiscursivity. After that, it was noticed that the discourses of the participants expressideological concepts about sustainable development through negotiating speech as much as onediscourse ends up strengthening other(s) and, when such articulations happen, participantsprioritize a factor that they consider as being central to environmental issues: the capitalistmode of production. Through such contexts, it is relevant to fortify serious, historical and criticaldebates as analysis methods so that conflicts that make environment unstable may be
understood.
KEYWORDS: CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS. SUSTAINABLE DEVELOPMENT. BACHELORDEGREE IN TOURISM. TURISTIC ACTIVITY.
REFERNCIAS
ALMINO, Joo. A Filosofia poltica do ecologismo. In: FERNANDES, Marciolina; GUERRA,Lemuel. Contra discurso dodesenvolvimento sustentvel. UNAMAZ. Belm, 2003.
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T i E t d & P ti (RTEP/UERN) M /RN l 3 (N E i l) 2014
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Referncia (NBR 6023/2002)
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