Muitos autores afirmam que a lgica estuda apenas demonstraes e
que estas so do domnio do apodctico, da verdade cientfica, ao passo
que a argumentao pertence ao domnio do verosmil. Deste ponto de
vista, a lgica seria limitada porque deixaria de fora a argumentao,
detendo-se apenas na demonstrao. Contudo, esta ideia no
correcta.
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evidente que as demonstraes no so argumentos. Mas as
demonstraes so modelos tericos de argumentos; so uma das formas que
a lgica tem de estudar a argumentao.
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Tenha ateno ao seguinte exemplo: Como seria possvel que os
cpticos tivessem razo? Isso absurdo. Se eles tivessem razo, nada
poderia ser conhecido com segurana no poderamos saber coisa alguma,
a dvida seria universal. Mas nesse caso, os prprios argumentos dos
cpticos no poderiam ser aceites.
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A lgica permite compreender melhor este argumento, exibindo a
sua forma lgica; para isso, formula-se o argumento na sua forma
cannica, elimina-se o rudo e explicitam-se as premissas implcitas:
Se os cpticos tivessem razo, nada poderia ser conhecido. Se nada
pudesse ser conhecido, os argumentos dos cpticos no poderiam ser
aceites. Se os argumentos dos cpticos no pudessem ser aceites, eles
no teriam razo. Logo, se os cpticos tivessem razo, no teriam
razo.
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A lgica permite demonstrar que esta forma argumentativa vlida,
isto , que o argumento dado tem uma forma vlida. Logo, argumentos e
demonstraes no so domnios diferentes de estudo; as demonstraes so
instrumentos para estudar a argumentao. Consequentemente, a ideia
de que a lgica seria limitada porque se dedica exclusivamente a
estudar a demonstrao, deixando de fora a argumentao, falsa.
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A desejada distino entre a demonstrao, que seria do domnio do
evidente ou apodctico, e a argumentao, que seria do domnio do
provvel ou verosmil, est errada. Por um lado, pode-se demonstrar a
validade de argumentos do domnio do verosmil; por outro, h
argumentos do domnio do apodctico que no se podem demonstrar.
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As confuses nas quais se baseia a pretensa distino entre
argumentao e demonstrao podem ser esclarecidas com duas distines
correctas e operativas: a distino entre a verdade das afirmaes e a
validade da argumentao, por um lado, e a distino entre argumentos
dedutivos e no dedutivos.
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A validade uma propriedade dos argumentos e no das premissas e
concluses dos argumentos. por isso que h argumentos evidentes,
concretos com premissas meramente provveis: argumentos dedutivos
vlidos demonstrveis com premissas morais, estticas, religiosas,
etc., cuja verdade disputvel. Exemplo: Se o aborto no fosse
permitido a mulher no teria liberdade sobre o seu corpo. O aborto
permitido. Logo, a mulher tem liberdade sobre o seu corpo.
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E tambm por isso que h argumentos meramente provveis, isto ,
no- dedutivos, com premissas concretas, isto , premissas que
exprimem verdades lgicas, matemticas, cientficas, etc., que no so
objecto de disputa. Exemplo: Os dinossauros so uma espcie extinta.
Logo, no existiro mais dinossauros no planeta Terra.
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Por retrica pode-se entender um conjunto de regras que tm por
objectivo tornar mais clara a expresso dos argumentos; este sentido
de retrica coincide com o que hoje se chama lgica informal. Mas por
retrica pode entender-se outra coisa: a arte de persuadir
independentemente da validade dos argumentos.
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Tanto a lgica informal como a retrica tm em conta o auditrio,
mas de modos distintos.
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Do ponto de vista da retrica qualquer argumento que convena um
auditrio bom, pois a persuaso a nica medida da argumentao. Mas
evidente que as piores falcias podem persuadir muitos auditrios, e
nem por isso deixaro de ser falcias, ainda que sejam falcias
persuasivas (alis, por definio, uma falcia um argumento invlido que
persuasivo porque parece vlido, e portanto a retrica incapaz de
explicar o prprio conceito de falcia).
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Para a lgica informal, pelo contrrio, o auditrio importante mas
no determina s por si a validade ou invalidade da argumentao. O
auditrio importante na lgica informal porque, por exemplo, ao
argumentar a favor de uma dada ideia temos de escolher premissas
que consideremos verdadeiras e que sejam aceitveis para o nosso
auditrio; caso contrrio estaremos a falar apenas para quem j aceita
as nossas ideias
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por isso que o seguinte argumento mau: O aborto no deve ser
permitido porque o assassnio de inocentes. Este argumento mau
porque quem no aceita a concluso (O aborto no deve ser permitido)
tambm no aceita a premissa (O aborto o assassnio de inocentes). A
argumentao criativa a arte de mostrar que h argumentos vlidos a
favor de X que partem de premissas que quem contra X est disposto a
aceitar. E esta arte no se adquire com o estudo da retrica, mas sim
com o estudo da lgica informal.
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gora, Atenas
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A Retrica surgiu na antiga Grcia, ligada Democracia e em
particular necessidade de preparar os cidados para uma interveno
activa no governo da cidade. "Rector" era a palavra grega que
significava "orador", o poltico. No incio esta no passava de um
conjunto de tcnicas de bem falar e de persuaso para serem usadas
nas discusses pblicas. A sua criao atribuda a Crax e Tsis (V a.C),
tendo sido desenvolvida pelos sofistas que a ensinaram como
verdadeiros mestres. Entre estes destacam-se Grgias e
Protgoras.
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Os sofistas adquiriram durante o sculo V a.C., grande prestgio
como professores de Retrica. A Retrica era antes de mais o discurso
do Poder ou dos que aspiravam a exerc-lo. "O orador, escreve Chaim
Perelman, educava os seus discpulos para a vida activa na cidade:
propunha-se formar homens polticos ponderados, capazes de intervir
de forma eficaz tanto nas deliberaes polticas como numa aco
judicial, aptos, se necessrio, a exaltar os ideais e as aspiraes
que deviam inspirar e orientar a aco do povo."
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Na Grcia Antiga, os sofistas foram os mestres da retrica e da
oratria. Eram professores itinerantes que ensinavam a arte de bem
falar aos cidados interessados em dominar melhor a tcnica do
discurso. Ensinavam a aret poltica (virtude poltica), com excepo de
Grgias. Interessavam-se pela antropologia, pela evoluo do homem, da
sociedade e da civilizao. Pretendiam ser capazes de dissertar sobre
todos os temas e de responder a todas as perguntas. Recusavam a
existncia de uma verdade absoluta, tinham uma viso relativista e
subjectivista da vida. Assumiam uma atitude empirista e cptica
quanto origem e possibilidade do conhecimento.
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Este primado da aco em detrimento do pensamento, leva a maioria
dos sofistas, a desprezarem o conhecimento daquilo que discutiam,
contentando-se com simples opinies, concentrado a sua ateno nas
tcnicas de persuaso.
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Scrates e o seu discpulo Plato opem- se retrica como persuaso
do justo e do injusto, mesmo o orador no conhecendo o assunto em
questo. Opunham-se retrica entendida deste modo, porque a
argumentao servia, no seu entendimento, para alcanar a
verdade.
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Foi sobretudo contra este ensino que se opuseram Scrates e
Plato. Ambos sustentaram que a Retrica era a negao da prpria
Filosofia. Plato, no Grgias e no Fedro, estabelece uma distino
clara entre um discurso argumentativo dos sofistas que atravs da
persuaso procura manipulao os cidados, e o discurso argumentativo
dos filsofos que procuram atingir a verdade atravs do dilogo, pois
s esta importa.
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Aristteles foi o primeiro filsofo a expor uma teoria da
argumentao, nos Tpicos e na Retrica, procurando um meio caminho
entre Plato e o Sofistas, encarando a Retrica como um arte que
visava descobrir os meios de persuaso possveis para os vrios
argumentos. O seu objectivo o de obter uma comunicao mais eficaz
para o Saber que pressuposto como adquirido. A retrica, torna-se
numa arte de falar de modo a persuadir e a convencer diversos
auditrios de que uma dada opinio prefervel sua rival
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Na Idade Moderna, a retrica continuou a desfrutar ainda de
algum prestgio nos pases catlicos, recorde-se a este respeito o
notvel orador que foi Padre Antnio Vieira. A tendncia do tempo era
todavia outra. A Retrica como arte argumentativa comeou a ser
completamente desacreditada. Descartes reafirma o primado das
evidncias sobre os argumentos verosmeis. Na mesma linha, se
desenvolve o discurso cientfico. No se trata de convencer ningum,
mas de demonstrar com "factos", "dados", "provas" a Verdade (nica e
irrefutvel).
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No sculo XX a Retrica volta a ser retomada, em consequncia do
generalizao das teses relativistas e o descrdito das
ideologias.
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A publicidade raramente ensina alguma coisa. Ela somente o
martelamento infinito destinado a gerar capitais.
(TOSCANI,1996,p.49). Lutando contra esse martelamento, Toscani,
responsvel por todo o material publicitrio da Benetton, inovou
criando o que poderia ser intitulado como frmula da propaganda
Benetton: unir questes sociais venda de produtos, ao invs de
sobrecarregar o seu pblico com a repetio.
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Persuadir consiste em convencer um auditrio a aceitar a tese do
orador sem recorrer violncia. Neste caso estamos perante o bom uso
da retrica que se preocupa com critrio ticos a que deve obedecer a
forma e contedo do discurso argumentativo busca da verdade e o
respeito pelo outro.
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Manipular significa um uso abusivo da argumentao com o
objectivo de levar o auditrio a aderir acrtica e involuntariamente
s teses propostas pelo orador, estamos no reino do mau uso da
retrica, cujo objectivo argumentar para ludibriar, em funo dos
interesses do orador. A manipulao pode ser feita ao nvel dos
afectos e/ou das informaes dadas nas modernas sociedades
democrticas, a manipulao constitui um perigo real que preciso
combater.
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ASSIM importante estabelecer limites e critrios ticos persuaso
para que se no resvale para a manipulao. necessrio que exista um
uso tico da retrica. toda a argumentao filosoficamente aceitvel
deve ser regulada pela procura da verdade, tendo por finalidade o
efectivo reconhecimento da realidade.
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"Eu nunca aprendi nada na minha vida atravs de qualquer homem
que tenha concordado comigo. Dudley Field Malone Este PowerPoint
foi baseado em textos de Desidrio Murcho e Carlos Fontes.