MARUZIA DE ALMEIDA DULTRA
Memorial da Videoinstalação “Miradas”:
A vigilância perene na sociedade das visibilidades
Produto apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia.Orientadora: Profa. Dra. Karla Brunet
Salvador
2008
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MIRADAS
AGRADECIMENTOS
Erguer um sonho não é tarefa simples e não teria sido possível sem a rede cooperativa e afetiva que me acolheu e me impulsionou nos quatro anos de formação na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, minha querida “Facom”.
Agradeço a cumplicidade, clareza e motivação constantes da orientadora deste trabalho, Profª Drª Karla Brunet.
À Profª Drª Ivani Santana, em nome do Grupo de Pesquisa Poética Tecnológica na Dança, pelo aprendizado e experiência artística proporcionados na Iniciação Científica.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado da Bahia, pelo apoio financeiro à minha pesquisa de Iniciação Científica, base fundamental para este trabalho.
Aos mestres José Mamede, Clarissa Amaral, Sarah Roberta e Beatriz Ribas, que contribuíram de forma singular para minha constituição como jornalista e comunicóloga.
A Silvana Moura, em nome da equipe de Produção da TV Educativa da Bahia, pela compreensão e apoio às minhas atividades de pesquisadora.
Aos exímios colegas da Facom, que desbravaram comigo as tantas teorias acadêmicas em discussões que as tornaram vida.
A Laís Furtado, pela singela e imprescindível contribuição.
À equipe de trabalho, companheiros empenhados em concretizá-lo, em especial a Jailson Brito Jr e Hortência Nepomuceno.
A Diego Mascarenhas, por me iluminar o coração.
Aos meus pais e irmãos, pelo amor, carinho e cuidado – a quem dedico a realização deste trabalho.
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MIRADAS
“O interesse de toda a arte é fazer do mundo inteiro uma obra de arte”
(Richard Kriesche)
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MIRADASSUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 6
1.1 PESQUISAS ANTERIORES ........................................................................ 6
1.2 APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 6
1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 8
1.4 OBJETIVOS ................................................................................................. 8
1.5 RELEVÂNCIA E ATUALIDADE DO TEMA .................................................. 9
1.6 TÍTULO DA OBRA ..................................................................................... 10
2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 10
2.1 O CAMPO DA COMUNICAÇÃO ................................................................ 10
2.2 CIBERCULTURA ....................................................................................... 11
2.3 ARTE E TECNOLOGIAS ELETRÔNICA E DIGITAL ................................. 12
2.4 VÍDEOS ..................................................................................................... 13
2.5 CORPOREIDADE ...................................................................................... 15
2.6 VIGILÂNCIAS............................................................................................. 16
3. PRODUTO ................................................................................................... 17
3.1 ESTRUTURA DA OBRA ............................................................................ 17
3.2 OPÇÃO PELA INSTALAÇÃO .................................................................... 21
3.3 USO DO LOOP .......................................................................................... 23
3.4 OBRAS REFERENCIAIS ........................................................................... 24
3.5 ATUAÇÃO EM EQUIPE ............................................................................. 24
3.6 PRÉ-PRODUÇÃO ...................................................................................... 25
3.6.1 Locações ............................................................................................... 25
3.6.2 Figurino ................................................................................................. 25
4. PRODUÇÃO ................................................................................................ 26
4.1 ARGUMENTOS ......................................................................................... 26
4.1.1 Vídeo “Perene” ..................................................................................... 27
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MIRADAS4.1.2 Vídeo “Das Lupas, Lunetas E Solitárias” ........................................... 27
4.1.3 Vídeo “Trânsito” ................................................................................... 27
4.1.4 Vídeo “Video Loss” .............................................................................. 28
4.2 GRAVAÇÃO ............................................................................................... 28
4.2.1 Personagens: interação atores-argumentos ...................................... 28
4.2.1 A câmera: uma personagem ................................................................ 29
4.3 EDIÇÃO ..................................................................................................... 29
4.4 MODELAGEM 3D ...................................................................................... 30
4.5 TRILHA SONORA ...................................................................................... 31
5. RECURSOS MATERIAIS ............................................................................ 32
5.1 GRAVAÇÃO ............................................................................................... 32
5.2 MONTAGEM .............................................................................................. 32
5.3 MATERIAIS TÉCNICOS DA MONTAGEM ................................................ 34
6. FICHA TÉCNICA ......................................................................................... 38
7. INTERAÇÃO COM O PÚBLICO ................................................................. 38
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 41
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 43
VIDEOGRAFIA ........................................................................................... 45
FILMOGRAFIA ........................................................................................... 45
OUTRAS REFERÊNCIAS ARTÍSTICAS ................................................... 45
ANEXOS ..................................................................................................... 45
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MIRADAS1. Introdução
1.1 Pesquisas anteriores
A concepção da videoinstalação Miradas foi inspirada em pesquisas
desenvolvidas anteriormente1, que despertaram meu interesse pela
Comunicação Audiovisual realizada em ambientes para além da tela
contemplativa. Participando de trabalhos de criação coletiva, observei o
processo criativo do ponto de vista da imagem e atuei de forma transdisciplinar
para a concepção de projetos artísticos de telemática e robótica.
A partir dessas vivências, foi possível entender aspectos relevantes da
linguagem videográfica, que a assemelham/ diferenciam da linguagem
cinematográfica e que podem ser agregados às Artes Plásticas e Corporais.
Assim, culminou o desejo de realizar, como Trabalho de Conclusão de Curso,
um projeto em que convergissem os campos das Artes e da Comunicação.
1.2Apresentação
Miradas é uma videoinstalação virtual composta por vídeos exibidos num
ambiente computacional em 3D. Essas imagens simulam câmeras de
segurança do ambiente urbano e foram produzidas em videoperformances
realizadas em espaços coletivos da cidade de Salvador.
Tendo como tema a vigilância e o controle produzidos pelo uso das novas
mídias de visibilidade (micro-câmeras, webcams, câmeras digitais, câmeras de
celular, media players, sensores de presença, etc), a obra traz a estrutura de
1 Durante três anos, realizei pesquisa como bolsista PIBIC/ CNPq no Grupo de Pesquisa Poética Tecnológica na Dança, coordenado pela Profª Drª Ivani Santana, no Laboratório de Pesquisas Avançadas do Corpo (LaPAC), Escola de Dança/ UFBA. Nesse período, investiguei relações interativas entre dançarino, imagem, sensores de movimento e agente autônomo (robô).
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MIRADASvigilância do panóptico2 para explicitar os sistemas atuais de controle baseados
na geração de imagem.
Figura 1. O Panóptico, de Bentham.
Uma visibilidade constante, nos espaços públicos e privados, que torna o
indivíduo vigilante e vigiado. Nos vídeos instalados, o fruidor depara-se com
situações cotidianas de vigilância, nas ruas, ônibus e estabelecimentos
comerciais.
O contato do público com as imagens de vídeo acontece por uma tela
interativa, dentro da “torre central” do panóptico. Do lugar do vigilante, ele vê
sistemas de segurança ativados, que, na metáfora proposta pela instalação,
representam ambientes de prisão. Como o vigilante não pode ser percebido
pelos “aprisionados”, é estabelecida a sensação de uma vigilância perene,
provocando um incessante desconforto pelo sentir-se sempre vigiado.
2 O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural da composição: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada em largas janela que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo `as janelas da torre; outra que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito de contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia (...) cada ator está perfeitamente individualizado e constantemente visível. (FOUCAULT, 1999, p.165-166). Ver Figura 1.
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MIRADASO trabalho partiu do pressuposto de que a função do artista é reapropriar-se
dos aparatos tecnológicos para questioná-los do ponto de vista social, pondo-
os em discussão e à disposição da crítica pelos sujeitos sociais (MACHADO,
2007). Neste sentido, busquei novas formas de uso dos suportes técnicos
(computador, teclado, mouse e câmeras diversas) para a produção artística,
tendo como enfoque a criação videográfica.
1.3 Justificativa
Não imune às transformações sócio-culturais, a arte contamina-se
constantemente pela cultural digital na contemporaneidade. Do universo high
tech, surge o conceito de “artemídia”3, híbrido em sua própria terminologia. A
noção de convergência também se propaga, borrando cada vez mais as
fronteiras entre linguagens, objetos e artefatos.
Nesse contexto, emergem as novas mídias e, com elas, a vontade de artistas
em subverter os usos pré-programados pela lógica industrial de produção. Em
MIRADAS, essa reapropriação aconteceu com recursos tecnológicos como
câmeras de segurança e ambientes virtuais de interação.
Explorando o ponto de convergência entre os campos da Comunicação, das
Artes Plásticas, Cênicas e Performáticas, o trabalho contribui para a discussão
a cerca das possibilidades de hibridização da linguagem videográfica, condição
intrínseca do vídeo (DUBOIS, 2004) e potencializada na cultura digital.
1.4 Objetivos
Objetivo Geral:
Expor as novas formas de existência do corpo e da imagem, reconfigurados
por sistemas de vigilância reinventados com as mídias digitais.
3 Definido por Arlindo Machado (2007) como um campo fértil que diz respeito a produções artísticas que acompanham o desenvolvimento dos artefatos tecnológicos atuais.
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MIRADASObjetivos Específicos Práticos:
Proporcionar uma relação mútua de vigilância entre o público e a
obra;
Expor situações de vigilância imagética presentes nas sociedades
contemporâneas;
Despertar a atenção do público para os sistemas cotidianos de
controle através da imagem;
Ampliar as formas de produção artística possíveis com a cultura
digital.
Objetivos Específicos Teóricos:
Contribuir para o entendimento da arte como via para o despertar
crítico dos atores sociais;
Discutir as formas de vigilância programadas por meio dos recursos
tecnológicos nas sociedades contemporâneas;
Analisar o processo de realização da obra à luz do conceito de
“artemídia” proposto por Arlindo Machado (2007), a fim de pontuar as
especificidades encontradas.
1.5 Relevância e atualidade do tema
As tecnologias imagéticas e digitais têm ampliado as formas de vigilância, o
que pode levar a conseqüências sociais profundas de controle. Câmeras de
segurança por um lado “protegem”, mas por outro rastreiam constantemente o
trajeto e rotina dos transeuntes. Mapeamentos colaborativos podem ajudar a
delimitar zonas de violência numa cidade/ estado/ país, assim como ser
instrumento de criação de “zonas” de preconceito e isolamento. Com essas e
outras tantas potencialidades, os aparatos geradores de visibilidade
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MIRADASmultiplicam-se e popularizam-se cada vez mais, retroalimentando
positivamente o consumo visual desenfreado.
À imagem e semelhança dos Reality Shows da programação televisiva,
sistemas de segurança baseados na imagem são uma constante. Além dos
meios de transporte coletivos, estabelecimentos habitacionais e comerciais,
agora ambientes públicos também passam a ser monitorados. Em Salvador, o
quadro foi composto no início deste ano, com um investimento de um milhão de
reais na instalação de câmeras em locais que não foram revelados à população
para evitar a degradação dos equipamentos. (Ver Clipping no Anexo I)
1.6 Título da obra
A escolha do título “Miradas” foi feita a partir do binômio “Vigiar e punir”,
cunhado por Michel Foucault (1999) no livro que leva este nome. Em
português, o verbo “mirar” remete às idéias de alvo e armamento. A esta
palavra, pode ser agregada ainda o significado de “olhar”, da língua espanhola.
Esta associação relaciona os elementos temáticos da obra: a vigilância e a
imagem.
2. Referencial teórico
2.1 O campo da Comunicação
Segundo a classificação cunhada por Lúcia Santaella (2001) sobre o campo da
Comunicação, Miradas situa-se no “território dos códigos e mensagens”, já que
pretende discutir os processos poéticos e artísticos desenvolvidos com
aparatos tecnológicos na contemporaneidade. Mais especificamente, a questão
tratada por este trabalho localiza-se na interface dos códigos com o “território
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MIRADASdos meios e modos de produção”, pois tem como evidência primordial a
influência dos recursos de produção artística na forma de fazer do artista.
Estreitando ainda mais a área investigada nesta pesquisa, encontra-se a
artemídia, uma extrapolação do mero uso dos recursos tecnológicos. Nela os
artistas buscam subverter a funcionalidade dos instrumentos ao produzirem
suas obras, a fim de por em questão a lógica industrial produtiva que permeia
tais aparatos.
Assim, concebi Miradas questionando aspectos da realidade social e buscando
reinventar as mídias, para escapar às programações de uso previstas para
esses artefatos tecnológicos. Dessa forma, a obra estabeleceu uma
metalinguagem da sociedade midiática, trazendo para discussão os sistemas
de regulamentação e controle.
2.2 Cibercultura
A convergência das telecomunicações com a informática provocou, e ainda
provoca, reconfigurações em âmbitos diversos da sociedade. Novas práticas
sociais, comunicacionais, políticas, artísticas, culturais e éticas passaram a ser
delineadas a partir da década de 70 com o advento das novas tecnologias da
informação e comunicação (TICs).
Neste contexto, surge o conceito de cibercultura, definida por Lemos (2003)
como “a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a
sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônica”. No
entanto, o autor alerta para que não se adote a partir do termo um
determinismo tecnológico, já que o prefixo cyber derivou de cybernetics (do
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MIRADASgrego, kubernetes)4, termo cunhado por Nobert Weiner para designar o campo
do controle e da teoria da comunicação.
As novas formas de apropriação social-midiática, de acordo com Lemos (2003),
são regidas pelas leis da reconfiguração das relações (e não substituição ou
aniquilamento); liberação do pólo de emissão, que permite a multivocalidade,
compartilhamento de informações e opiniões, ampliando as possibilidades de
debate; além da conectividade generalizada, que reconfigura espaço e tempo,
pondo em relação indivíduos que estão só, mas não isolados. Ainda segundo
este autor, esta é uma fase pré-histórica do fenômeno dinâmico chamado
cibercultura.
2.3 Arte e tecnologias eletrônica e digital
Da perspectiva artística, podem ser destacadas as (re)apropriações de
recursos eletro-eletrônicos e digitais, além das experimentações entre artistas e
destes com o público na rede telemática (PRADO, 2003). Antes disso, no
entanto, como ressalta Couchot (2003), a fotografia representou um marco
para a arte. A partir da técnica fotográfica, foi possível uma revolução na
pintura, que deixou de ter a demanda da figuração, passando ao
desenvolvimento de outros estilos pictóricos. Também por conseqüência da
fotografia, foi criado o cinema, que passou a desenvolver sua própria
linguagem e foi responsável por reflexões acerca das novas demandas
perceptivas do espectador em relação às obras artísticas e ao próprio mundo
(BENJAMIN, 1985).
4 “A relação do kubernetes com o controle da embarcação pressupõe interatividade com o meio ambiente. Ficam latentes, no próprio termo, dicotomias entre possibilidades antagônicas relativas aos jogos de poder e ideologias coexistentes no uso da técnica: libertação/ controle; democracia/ totalitarismo, igualdade/ sectarismo. Tomando esse aspecto, "ciber" é a palavra ideal para dar conta de histórias onde os personagens vagam por espaços informacionais eletrônicos lutando pela privacidade dos netizens, mostrando falhas de segurança dos sistemas, impedindo a censura e a violação dos direitos dos cidadão, ou mesmo caçando ou roubando o bem mais precioso nesses cenários futuros: a informação.” (LEMOS, 2003, p. 1)
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MIRADAS2.4 Vídeos
Com o advento da imagem eletrônica, um outro marco à vida social vem à
tona, a televisão, e com ela surgem outras possibilidades de tratamento da
imagem, como transmissão contínua e doméstica. A partir do desenvolvimento
de dispositivos de gravação magnética da imagem (os videotapes), a produção
imagética foi tornando-se cada vez mais popularizada, com o então chamado
vídeo.
Algumas características deste suporte podem ser consideradas como
responsáveis por sua propagação: baixo custo de produção; liberdade no
tratamento plástico da imagem; independência do processo de revelação e
sonorização. Segundo Ivana Bentes (2007), em ensaio publicado sobre a
videografia brasileira:
O vídeo iria permitir ao autor percorrer e controlar, com custos e tempo reduzidos, todas as etapas de produção da obra, de forma não especializada, da criação à realização. Essa participação do cineasta e do artista plástico em todos os processos de realização da obra marcou todo o moderno cinema autoral e teria sua continuidade no novo meio (BENTES, 2007, p. 235)
Originada de videre (do latim, “eu vejo”), o vídeo é considerado por Dubois
(2004) como um elemento que tem a existência condicionada ao tempo, ou
seja, não há como existir sem a exibição, já que não possui a materialidade do
negativo da fotografia, nem da película do cinema. No vídeo, a imagem é
codificada, seja por sinal magnético ou digital; não há como acessar a
existência da imagem sem a reprodução do material videográfico (fita vhs, cd,
vcd, svcd, dvd, fitas digitais ou arquivos de imagem in loco, isto é, armazenada
no computador).
Um outro aspecto, este trazido por Machado (1988), é que o vídeo tem como
característica fundamental o hibridismo, por situar-se entre o cinema e a
televisão. Deste fato, surge, o que para alguns configuraria um conflito, mas
que nada mais é do que a linguagem videográfica, uma exploração – e, em
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MIRADASseguida, extrapolação – das características do próprio suporte. Desta forma,
segundo Machado, existiriam elementos fundamentais na concepção
videográfica, antes, vale ressaltar, da criação dos recursos digitais.
Naquela época, o vídeo caracterizava-se por uma imagem de baixa resolução
– granulosa e mosaicada; fluida, ruidosa, manipulável. Este fator limitava a
quantidade de informações na tela, já que havia pouca definição dos detalhes e
pouca profundidade de campo, indicando, portanto, o uso do primeiro plano,
poucas personagens e/ou objetos, espaços pequenos (de preferência
interiores) e cenários sintéticos. A decomposição analítica dos motivos delineou
a tendência à metonímia (pelo recorte imposto pela tela) e à metáfora, através
da associação de elementos materiais para se atingir uma idéia abstrata.
Outras tendências que se delinearam foram a circularidade, com ausência de
narrativa e de unidade temporal (dando autonomia ao espectador e
entendendo o vídeo como processo, e não como produto), e as metamorfoses
– transformações, anamorfoses e distorções das imagens aproveitando seu
caráter de fluidez.
Com os adventos digitais, as características do vídeo associadas à baixa
qualidade da imagem mudam; permanecem, porém, os hibridismos próprios do
vídeo. A partir da manipulação de bits e bytes através da interface
computacional, mais uma ruptura emerge no campo das artes.
Artistas experimentam um novo mapa de possibilidades, que não apenas
multiplica as formas de produção, como também propicia a experiência de
conexão entre pontos remotos, numa sensação de tempo-presente. Esse
rompimento do constrangimento espaço-temporal é um estímulo para artistas
desenvolverem novas formas de fazer artístico, que acompanhem as rupturas
trazidas pelas novas mídias.
Seguindo a linguagem da videoarte, de extrapolar o uso da tela do vídeo, as
videoesculturas e videoambientes, como denomina Sylvia Martin (2006),
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MIRADASpassaram a apresentar cada vez mais a proposta de interagir com o público, o
que foi em muito potencializado pelas possibilidades computacionais. Esses
sistemas interativos criados, segundo Couchot (2003), apresentam a
característica de elementos (público, máquina, informações digitais) com
“temporalidades” distintas, mas que se intercruzam na proposta artística de
interação.
2.5 Corporeidade
Para Baitello Jr (2006), a exploração do mundo atual, de culto à imagem,
acontece apenas através do olhar, desconsiderando a exigência de prontidão
proprioceptiva e a subseqüente complexidade corporal. Ao contrário do que o
autor diz sobre uma “invisibilidade corporal” conseqüente das vivências
corpóreas advindas das tecnologias computacionais, Murray (2003) admite a
emergência de novas demandas perceptivas de um corpo ativo. Esta nova
percepção tanto acompanha a concepção de obras dialógicas, quanto instiga
sua criação.
Neste sentido, é importante ressaltar as discussões trazidas por Czegledy e
Kunst (2001) sobre os “corpos digitalizados”, como denominam. Para esses
autores, as imagens digitais foram e são responsáveis por novos
entendimentos de corpo, já que explorar minunciosamente o corpo, na área
médica por exemplo, não significa mais dissecá-lo com bisturis e outros
instrumentos.
A noção de profundidade corpórea avançou com a visualização de tecidos e
células pelo microscópio, e é reconfigurada pelos exames cada vez mais
sofisticados e menos invasivos. Desta forma, o corpo informatizado pode ser
conhecido e controlado à distância. Como analisa Priscila Arantes (2004), a
sociedade disciplinar5 descrita por Michel Foucault não é mais uma avaliação
5 Para Foucault, o corpo é a primeira instância para o exercício do poder. Por isso ele passa por um processo de disciplinarização, até que sirva ao Estado sem causar danos e
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MIRADASsuficiente, sendo necessário acrescentar a noção de “sociedade de controle”6
cunhada por Gilles Deleuze.
À luz desses conceitos, o trabalho expõe as novas formas de existência do
corpo reconfigurado por sistemas de vigilância capazes de acompanhar os
caminhos percorridos por ele para protegê-lo e/ou controlá-lo. Um corpo que
não é passivo, nem maquínico, que vem encontrando novas formas de
existência, adaptação e resistência numa era digitalizada.
2.6 Vigilâncias
O modelo do Panóptico é adotado como metáfora para a estrutura de
monitoramento tecida através dos dispositivos contemporâneos de segurança.
Uma vigilância que já era programadamente perene torna-se cada vez mais
sofisticada. Imagens armazenadas, câmeras ativadas por sensores de
presença, dispositivos de localização espacial – estes e outros artefatos
contribuem para o crescente controle de presença dos transeuntes, anônimos
ou não, todos “visibilizados” por sistemas traçados para monitorar.
“O princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções –
trancar, privar de luz e esconder – só se conserva a primeira e suprimem-se
as outras duas. A plena luz do dia e o olhar de um vigia captam melhor que
a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha. (...) um
estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja
permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; que a
perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício.”
(Michel Foucalt sobre o Panóptico, em “Vigiar e Punir”)
prejuízos ao sistema.6 A partir de adventos como chips pré-programados e a telemática, a sociedade tem sua
dinâmica de controle reconfigurada – dispersa em rizomas, mas mundialmente conectada.
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MIRADAS3. Produto
3.1 Estrutura da obra
Miradas é uma videoinstalação virtual composta por quatro vídeos instalados
num ambiente computacional modelado especificamente para a obra. O
espaço ocupado pelo fruidor, chamado de “torre central”, possui uma catraca
giratória unidirecional, onde este objeto de passagem e delimitação configura,
em sua materialidade, um ambiente de confinamento, e em sua função, um
ambiente de segurança. A rotação da catraca é forçada pelo contato do fruidor
com a parte central da torre (Figura 2).
Figura 2. Vista superior do ambiente.
O deslocamento do fruidor no ambiente acontece através da manipulação do
mouse. O movimento de “rastejamento” lateral do aparelho corresponde ao
olhar do fruidor; o clique no botão esquerdo, movimenta-o para frente, no botão
direito, para trás.
Em cada quadrante, o fruidor pode ver as imagens exibidas em formas
diversas. O primeiro ambiente da navegação contém imagens de “Perene”,
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MIRADASvideoperformance realizada em ônibus da cidade (Figura 3). O vídeo está
“projetado” como se estivesse numa grande tela. Esta escolha foi feita para
situar inicialmente o navegador, fornecendo mais informações visuais na
exibição nos quadrantes seguintes.
Figura 3. Primeiro quadrante: vídeo “Perene”.
O segundo vídeo, “Trânsito”, é um mosaico composto por imagens de escadas
em espaços públicos é exibido numa superfície que possui relevos
semelhantes a dobraduras em papel (Figura 4). Esta foi a saída que utilizamos
para dar profundidades diferentes a esse vídeo e quebrar os pequenos quadros
que o formam. A idéia original, no entanto, era que ele estivesse projetado
numa escada modelada a partir do desenho “Relatividade”, de Escher (Figura
5). Essa obra, assim como tantas deste artista, tem como princípio fundamental
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MIRADASa construção de espaços arquitetonicamente impossíveis. Para tanto, seria
necessário “rodar” um arquivo de vídeo em cada face do objeto (a escada
modelada), o que inviabilizaria a navegação por demandar muita memória
virtual do computador.
Figura 4. Segundo quadrante: vídeo “Trânsito” em “tela com dobraduras”.
Figura 5. “Relatividade”, de Escher (1953), e modelagem em 3D do desenho (à direita).
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No terceiro quadrante, a videoperformance “Das lupas, lunetas e solitárias”
feita numa situação de confinamento, foi exibida em cubos suspensos em
diferentes alturas, além da tela maior. Como a edição deste vídeo primou pelo
uso de recortes na imagem, o aspecto xadrez do vídeo foi acentuado (Figura
6).
Figura 6. Terceiro quadrante: vídeo “Das lupas, lunetas e solitárias”.
O último quadrante, “Video loss” é composto por imagens do monitor de
segurança de um mercado e por gravações de uma videoperformance
realizada no estabelecimento. Além de uma grande projeção, como no
quadrante anterior, este possui monitores de TV empilhados uns sobre os
outros exibindo o mesmo vídeo. A princípio estes monitores eram móveis e
podiam ser empurrados pela catraca e pelo fruidor. No entanto, desistimos
desta mobilidade por perceber que ela causava algumas falhas na exibição das
outras imagens por questões de execução do software7.
7 O software utilizado foi o Blender, veja na seção Modelagem 3D mais explicações.
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Figura 7. Quarto quadrante: “Video loss”.
3.2 Opção pela instalação
A videoinstalação é o formato escolhido para a elaboração do produto porque
agrega à perspectiva audiovisual uma pesquisa plástica, de ambientação do
vídeo, e não somente a exibição deste. Essa foi uma convergência iniciada há
mais de 40 anos por Nam June Paik e que fez emergir a chamada “videoarte”.
Considerada por Machado (2007) como precursora da artemídia, a videoarte
caracteriza-se por explorar a fisicalidade do suporte vídeo na realização da
obra. As TVs de Paik (Figura 8) são alguns dos exemplos em que a disposição
e a própria tela da TV são usadas como aquários em que circulam peixes (TV
Fish), espaço de sobrevivência de flores (TV Garden) ou como relógios (TV
Clock).
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Figura 8. TV Fish (detalhe, 1979), TV Garden (1974), TV Clock (1982), de
Nam June Paik.
Outros elementos a serem explorados na videoinstalação são a imersão e
interação com o público participante, agora não considerado somente
espectador, mas agente na obra. A perspectiva de uma obra imersiva e
interativa é trazida por Janet Murray (2003) para dizer sobre a realização
artística que leva em conta um arrebatamento sensorial mais profundo do
vivenciador da obra e que gera uma demanda de atenção específica por parte
deste.
'Imersão' é um termo metafórico derivado da experiência física de estar submerso na água (...) a sensação de estarmos envolvidos por uma realidade completamente estranha, que se apodera de nossa atenção, de todo nosso sistema sensorial. Num meio participativo, a imersão implica a fazer as coisas que o novo meio torna possíveis. (MURRAY, 2003, P.102)
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videoinstalação
MIRADASA autora utiliza os termos para os ambientes virtuais de simulação. Sobre este
tipo de estrutura, Oliver Grau (2008) traz a idéia de “espaços imagéticos”, que
enclausuram e causam a sensação de imersão através de multiprojeções que
agregam imagens e fruidores8.
Como possibilidade de transposição dos conceitos de imersão e interação para
a obra, foi criado um ambiente imagético que simulasse o Panóptico, com
vídeos projetados no lugar das “celas”.
Apesar da minha experiência na criação de ambientes interativos e na
realização de vídeos (em especial videodança), este trabalho instigou reflexões
no meu modo de conceber e realizar artisticamente, na medida em que
demandou novas funcionalidades aos suportes técnicos. Um desafio na
execução do Miradas foi investigar formas de subversão dos artefatos
tecnológicos que se está habituado a usar convencionalmente: projetor de
imagem, sensores de movimento, computador, softwares e câmera de vídeo
digital. Estas reapropriações foram condizentes com o conceito da obra de que
novas possibilidades de vigilância emergem com as novas mídias, sendo
demonstrações metalinguísticas do tema então discutido.
3.3 Uso do loop
A intenção de exibir os vídeos em loop influenciou na concepção dos vídeos. O
primeiro elemento a ter interferência na edição foi a duração de cada vídeo.
Com tempo mínimo de um minuto e máximo de cinco, prezei pela síntese em
cada um deles para que o fruidor pudesse dedicar a atenção aos detalhes das
imagens e na ambientação.
Além de terem curta duração, os vídeos foram editados de forma a terem uma
circularidade. No vídeo do ônibus, por exemplo, após o início da exibição não
8 Essa estrutura é chamada de “C.A.V.E”, uma abreviação de Computer-Aided Virtual Environment que faz menção ao Mito da Caverna, de Platão. A sigla também pode ser traduzida como Cave Automatic Virtual Environment.
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MIRADAShá como identificar onde o vídeo começa, pois ele possui três momentos de
fade que se assemelham ao fade inicial. Já no vídeo do mercado, o início e o
final complementam-se, trazendo sempre como conseqüência o loop.
3.4 Obras referenciais
Como referência artística para a exploração da linguagem videográfica, este
trabalho adotou os videoartistas Robert Cahen9, pelo uso da tela como
exploração do detalhe e de texturas, e Eder Santos10, pela linguagem
experimental desenvolvida na repetição e na cadência associativa entre
imagem e tempo.
Outras referências visualis importantes para o trabalho foram as construções
impossíveis de Escher. Além delas, a releitura da proposta de Escher feita no
“Hallucii” (2006), que, assim como o Miradas, aborda a questão da vigilância
através da imagem. O vídeo-animação é de Goo-Schun Wang e foi produzido
no MFA Computer Art, School of Visual Arts.
3.5 Atuação em equipe
O trabalho exigiu o desenvolvimento de diversas funções: figurino,
performance, ambientação 3D, trilha sonora, além da captura e tratamento de
imagem. Por isso optei por trabalhar em equipe, atribuindo tarefas a pessoas
que já atuavam em cada uma das áreas demandadas.
Cada etapa do trabalho foi feita com muita responsabilidade por parte de todos,
mesmo não havendo remuneração financeira. Acredito que não teria sido
possível realizar Miradas sem a participação de um grupo colaborativo e
consciente de suas funções.
9 Obra de referência: “Sete visões fugidias” (1995).10 Obra de referência: “Janaúba” (1993).
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videoinstalação
MIRADAS3.6 Pré-produção
3.6.1 Locações
O Mercadinho de Ondina foi escolhido como locação por possuir um sistema
de segurança com quatro câmeras espalhadas pelo estabelecimento. Como é
um mercado de bairro, o acesso para gravação foi mais fácil do que numa casa
comercial de maior porte. No dia da gravação, uma das câmeras estava fora de
circuito, exibindo a expressão “video loss”, que acabou sendo aproveitada na
narrativa e roteiro de edição deste vídeo.
O confinamento foi feito em dois espaços do Solar D’Unhão: um canto formado
por muros de pedra e uma escada que tinha grades como degraus. O efeito
quadriculado causado por estes degraus foi um elemento que enriqueceu
bastante essa videoperformance.
As imagens da escada foram feitas em diversos ambientes da Estação de
Ônibus da Lapa. Este lugar foi escolhido por exatamente conter desenhos de
luz diferenciados, que trariam diversidade para as imagens sem que fosse
preciso nos deslocarmos muito com o equipamento de filmagem. Além disso,
essa estação é um dos possíveis locais com câmeras instaladas do sistema
público de segurança.
Ainda pensando na vulnerabilidade que teríamos por portar câmeras filmadoras
em gravação, escolhemos linhas de ônibus menos concorridas na cidade
(Sabino Silva – Praça da Sé e Pituba – Campo Grande).
3.6.2 Figurino
Após definidas as locações, o passo seguinte para operacionalizar as
gravações foi conceber o figurino. Decupei, juntamente com a figurinista Carol
Diniz, as locações e os conceitos de cada vídeo para analisar as composições
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videoinstalação
MIRADASmais adequadas para as imagens. Os principais pontos analisados foram as
relações das roupas com as cores e luz do ambiente, além das possibilidades
que a câmera e a edição permitiriam interferir na coloração e textura do
figurino. Devido ao baixo orçamento, as roupas foram compradas em brechó e
customizadas para se atingir os objetivos do figurino.
Para a gravação do mercado foram escolhidos tons de cinza, a fim de
contrastar com o colorido das prateleiras e, assim, destacar os atores. Para o
confinamento, a opção foi por despir o tronco superior do ator e usar uma calça
xadrez com pequenas partes brancas que pudessem “estourar” quando em
exposição à luz. O figurino do ônibus e da escada, feito para o mesmo
personagem/ ator, prezou por uma estampa que se destacasse do trivial. No
entanto, percebemos que, para as imagens feitas nos ambientes internos
(escadas), um tom forte de cor teria sido mais evidenciado na gravação.
4. Produção
4.1 Argumentos
A partir do tema definido para a videoinstalação Miradas (“A vigilância perene
na sociedade das visibilidades”), defini o argumento de cada vídeo, transcritos
a seguir.
4.1.1 Vídeo “Perene” (3’28’’)
Mote: Quebra da linearidade temporal. Espaço único, de trânsito, visto por
diversos ângulos a todo tempo. Um veículo de transporte coletivo monitorado
por câmeras de segurança é cenário para um personagem que está dentro do
ônibus sem a condição de passageiro. Este fato apaga a característica de
mobilidade desse ambiente, trazendo uma situação de permanência.
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videoinstalação
MIRADASComo parte do figurino, o personagem traz um guarda-chuva, símbolo de
situação circunstancial. Esse elemento, no entanto, aparece de forma
deslocada no vídeo, sendo usado num ambiente fechado. Outra
descontextualização apresentada é o fato de se estar presente dentro do
ônibus enquanto este encontra-se parado, fora de seu itinerário. Um conjunto
de câmeras observa tudo, demarcando os limites deste espaço: mostrando que
pessoas passam e o personagem fica.
4.1.2 Vídeo “Das lupas, lunetas e solitárias” (1’18’’)
Mote: Performance confina o ator por trinta minutos num espaço. A tela será
utilizada para a construção de um espaço enjaulado. A noção de fragmentação
será trazida pelo recorte de cenas para composição por sobreposição e pela
localização caótica que será dada a esse corpo confinado através da edição. O
figurino xadrez também aponta para a idéia de partição.
Em ritmo frenético, o corpo confinado move-se de forma não-linear tanto no
ambiente de gravação, como no espaço da tela: os recortes de cena são
usados em composição variável, mas sempre trará um visual de divisão de
quadros, de um xadrez.
4.1.3 Vídeo “Trânsito” (1’)
Mote: Quebra da linearidade espacial. Espaços impossíveis compostos por
escadas e caminhos constituem o ambiente de aprisionamento em que uma
das “paredes” é sempre o olhar da câmera.
O ambiente é um paradoxo entre mobilidade e fixidez, já que o personagem
transita e as peças desse espaço são mutáveis (variam com o tempo), no
entanto não há como o personagem se deslocar para outro ambiente. O
personagem sobe a escada em um quadrante e, no ambiente do outro
quadrante, continua subindo ou mesmo desce, com uma trajetória sempre
restrita ao espaço da tela.
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MIRADAS 4.1.4 Vídeo “Video Loss” (5’)
Mote: Hábitos cotidianos e íntimos expostos em público. A história é
“sintonizada” num monitor de câmeras de segurança, que se assemelha ao
mosaico oferecido em programas de Reality Show pelos canais fechados. A
imagem capturada por essa “antena pirata” mostra a “intimidade” de dois
personagens que se encontram num espaço social coletivo.
São narrativas paralelas que têm em comum o surrealismo da relação
comportamento/ lugar. A dinâmica das ações, entretanto, é distinta: enquanto
um personagem consome caoticamente produtos alimentícios e de higiene
pessoal, o outro arruma metodicamente uma “mesa” de café da manhã.
Cada um dos comportamentos tem o seu fim relacionado às normatizações
sociais. O metódico, “bem comportado”, dirige-se ao caixa para registrar os
produtos consumidos e encontra uma postura de aceitação do funcionário do
mercado. O consumidor caótico, agente da desordem, é olhado com
estranhamento por outros clientes do estabelecimento. Ambos os desfechos
apresentam uma tensão criada pela imagem lentificada e em close.
4.2 Gravação
4.2.1 Personagens: interação atores-argumentos
As gravações seguiram as indicações do argumento de cada “ambiente”.
Conversei com os atores sobre o propósito de cada vídeo, mas não
delimitamos as ações de cada personagem. Neste sentido, cada gravação foi
surpreendente porque as performances foram incrementadas de forma singular
por cada ator, a partir das orientações prévias.
A opção por não termos uma direção de atores foi tomada em conjunto com os
participantes. Segundo eles, os quatro atores possuíam um perfil de atuação
que se desenrolaria de forma positiva em propostas menos cristalizadas.
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videoinstalação
MIRADAS 4.2.1 A câmera: uma personagem
Foram feitas duas videoperformances em ambiente fechado, captura de
imagens cotidianas produzidas por câmera de segurança, além de gravação de
intervenções performáticas em espaços públicos que possuem esses
dispositivos.
Em alguns momentos, como na simulação de câmeras de segurança em
“Trânsito” e “Perene”, a câmera na mão foi utilizada como um recurso
facilitador de locomoção. Já na gravação feita no mercado, a performance de
câmera móvel foi mais um elemento de interação. Os closes nos atores e
objetos deste espaço, além do acompanhamento de cada personagem, foram
possíveis graças à mobilidade da câmera. Vale destacar que essa performance
de câmera foi propositalmente mantida no registro das imagens das câmeras
de segurança do mercado.
4.3 Edição
A gravação das imagens foi fundamental para a criação dos roteiros de edição.
Antes disso, existiam linhas gerais do que seria cada vídeo, mas o material
gravado enriqueceu bastante cada esboço. Talvez o maior exemplo disso seja
o vídeo “Das lupas, lunetas e solitárias”, que seria um estado monótono de
prisão, com o ator concentrado num canto de parede, e que acabou ganhando
dinâmica e movimento sem que se perdesse a sensação de agonia e prisão.
A edição do material gravado foi feita a partir dos princípios de composição
propostos por Dubois (2004): mixagem (uso de janelas de imagem);
sobreposição (fusão de múltiplas camadas) e seqüência de planos. A ênfase foi
dada nos dois primeiros tipos, que são característicos da videoarte, enquanto o
modo seqüencial é típico de obras documentais.
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videoinstalação
MIRADASVale ressaltar que, em contraposição à linearidade narrativa de um dos
quadrantes do mosaico de “Video loss”, todos os outros apresentam uma
dinâmica caótica que se desliga da história apresentada.
4.4 Modelagem 3D
A modelagem do ambiente foi feita pelo programador gráfico Jailson Brito Jr, no
software livre Blender11. Apesar de existirem ferramentas comerciais
equivalentes, optamos por ele pela questão ideológica de propagar e divulgar o
uso de tecnologias livres. Utilizamos uma versão experimental12 do programa,
que acrescenta a possibilidade de compor a textura do ambiente com vídeos.
Além disso, escolhemos uma versão para o sistema operacional Linux, tendo
em vista que o produto modelado apresentou melhor desempenho nele. Desta
forma, mais uma vez o trabalho não dependeria de licenças comerciais de uso.
Inicialmente utilizamos o teclado para a navegação e a possibilidade do olhar
movimentar-se em plongée e contra-plogée, mas observamos que estas
opções não favoreciam a navegabilidade. Para compensar a restrição desses
movimentos, utilizamos uma “lente grande angular” para aumentar o campo de
visão do olhar subjetivo no ambiente.
Sobre as texturas do ambiente, correspondentes à “pintura” das paredes, chão
e catraca, percebemos a importância de oferecer ao público referências
geométricos que indicassem o deslocamento dentro desse espaço. Desta
forma, optamos por sinalizar a catraca com uma seta que apontasse para o
lado de giro dela. Para o chão, escolhemos círculos circunscritos, que
funcionaram para nosso objetivo e compuseram esteticamente a instalação.
Para o teto, cogitamos utilizar um mapa de satélite da cidade de Salvador;
porém o teste nos mostrou um excesso de informação visual que não compôs
11 Disponível em http://www.graphicall.org/builds/index.php 12 As versões experimentais são não-oficiais e implementam novas ferramentas ou facilidades
de uso das ferramentas já existentes; são disponibilizadas para teste e compartilhamento de experiência entre usuários do software e programadores.
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MIRADASo ambiente de forma satisfatória. Decidimos não utilizar texturas nesta parte
(Figura 9).
Figura 9. Ambiente sem texturas (vista superior e diagonal).
A dinâmica da catraca foi pensada de forma a propiciar a sensação de
confinamento e involuntarismo no público. Por isso ela possui um circuito
giratório unidirecional e sensível ao “toque” do fruidor. Toda vez que o cursor
encosta no centro da catraca, ela gira até que o navegador saia desta posição.
Para rever o vídeo anterior, é preciso dar a volta completa no ambiente.
A montagem dos vídeo no ambiente foi orientada pelas concepções de imersão
e interação propostas por Murray (2003) e Grau (2008), proporcionando ao
vivenciador da obra novas sensações e requisitando dele atenção na medida
em que explora o ambiente de Miradas.
Nesta obra, entende-se que a proposta de superação do plano no vídeo é
alcançada através da exploração da relação entre “multiprojeções” dispostas e
interconectadas por suportes físicos da instalação.
4.5 Trilha sonora
A composição da trilha sonora foi feita posteriormente à edição das imagens. A
experiência foi inédita para mim, pois em todas as edições que fiz
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MIRADASanteriormente, as imagens foram montadas tendo como referência o áudio.
Esta forma de trabalho foi uma decisão tomada em conjunto com os músicos,
com o objetivo de criar uma trilha sonora conjunta para a instalação.
Desta forma, os músicos compuseram uma trilha para cada vídeo, que podem
ser ouvidas separadamente ou em composição. Um elemento singular nesta
forma de produção foi deixar em cada trilha alguns momentos de silêncio ou de
som menos intenso para tornar os arranjos das outras trilhas mais perceptíveis.
Na instalação, a distinção entre os áudios acontece pela aproximação do
fruidor em cada quadrante, pois o som está distribuído de forma tridimensional.
5. Recursos materiais
5.1 Gravação
As gravações de “Trânsito” e “Perene” foram feitas com câmera pessoal
(Handycam Sony HC-30 1CCD Mini-DV), devido ao grau de exposição das
locações escolhidas. As restantes, foram realizadas com equipamentos do
Laboratório de Fotografia (tripé) e do Laboratório de Vídeo e TV (Câmera JVC
3CCD Mini-DV) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia.
5.2 Montagem
A apresentação presencial foi viabilizada pela parceria entre a Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia e o Circuito Sala de Arte. Esta
empresa tem como objetivo promover atividades de intercâmbio entre a
universidade e o circuito na Sala de Arte – Cinema da UFBA (localizada no
Pavilhão de Aulas do Canela – PAC). A montagem aconteceu no dia 23 de
novembro de 2008 (Figura 10).
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MIRADAS
Figura 10. Montagem na Sala de Arte – Cinema da UFBA (geral e detalhe).
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MIRADAS5.3Materiais técnicos da montagem
- 01 Computador laptop com sistema operacional Linux – distribuição Ubuntu
8.04 LTS Desktop Edition 32 bits, e configuração: Processador DualCore
1,8GHz; Memória RAM 2GB; Placa de vídeo aceleradora 3D;
- Arquivos com o ambiente modelado de Miradas;
- 01 Projetor;
- 01 Headphone;
- 01 Caixa amplificadora de som;
- 02 câmeras filmadoras (para registro);
- 02 câmeras fotográficas (para registro);
- Banner on-line de divulgação da montagem do projeto na Sala de Arte (Figura
11);
- Cartazes de divulgação da montagem do projeto na Sala de Arte (Figura 12);
- Endereço eletrônico no servidor da UFBA (http://www.miradas.facom.ufba.br);
- Postais de divulgação da versão on-line do trabalho (Figura 13).
Figura 11. Banner on-line de divulgação da montagem.
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MIRADASFigura 12. Cartaz de divulgação da montagem.
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MIRADASFigura 13.1. Postais de divulgação da versão on-line do trabalho.
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MIRADASFigura 13.2. Postais de divulgação da versão on-line do trabalho.
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MIRADAS6. Ficha técnica
Concepção e Imagens: Maruzia Dultra.
Orientação de Pesquisa: Karla Brunet.
Performance: Amós Heber, Camilo Domingues, Jhoilson de Oliveira, Victor
Cayres.
Assistência de Câmera: Diego Mascarenhas.
Figurino: Carol Diniz.
Computação Gráfica: Jailson Brito Jr.
Música: Heitor Dantas, Jailson Brito Jr.
Rede: Jerônimo Bezerra.
Assessora de Produção: Hortência Nepomuceno.
Apoio: Circuito Sala de Arte, Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia (Facom/ UFBA), Mercadinho de Ondina, Museu de Arte
Moderna da Bahia (MAM).
7. Interação com o público
O endereço http://www.miradas.facom.ufba.br hospeda a obra e disponibiliza
ao público a visitação através da internet (Figura 14). Para tanto, é necessário
fazer o download dos arquivos, que estão compactados numa pasta com
351MB. Nesse pacote é disponibilizado também o Microsoft Visual C++ 2008
SP1 Redistributable Package (x86) que deve ser instalado na máquina para
execução do Blender no Windows (o arquivo está nomeado como
“instale.exe”). A configuração mínima do computador para rodar a
videoinstalação Miradas deve ser a seguinte: Processador DualCore 1,8GHz;
Memória RAM 2GB; Placa de vídeo aceleradora 3D, além do sistema
operacional Linux.
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Figura 14. Página do Miradas na web.
O lançamento do site foi feito no dia 23 de novembro deste ano, na Sala de
Arte – Cinema da UFBA, e contou com a videoinstalação montada para a
navegação dos fruidores num computador com Linux na distribuição Ubuntu
8.04 LTS Desktop Edition 32 bits. do A imagem resultante das navegações foi
projetada em tempo presente para que as outras pessoas na sala pudessem
acompanhar a experiência do navegador (Ver DVD em anexo com o registro da
interação entre o público e a obra).
A receptividade do público presente no lançamento foi satisfatória. Todos
tiveram curiosidade em experimentar a navegação e muitos quiseram entender
como foi a montagem do ambiente virtual. O comentário de alguns fruidores
encontra-se disponível em www.videoinstalacaomiradas.blogspot.com (Figura
15). Sobre a navegabilidade, foi possível perceber uma dificuldade inicial
acentuada de alguns fruidores, superada depois de um tempo de acomodação
na dinâmica do sistema. No entanto, outras pessoas com experiência em
games e videogames apresentaram muita destreza na navegação.
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Figura 15. Blog para registro das experimentações na montagem.
A utilização de um mapa localizador, na base inferior esquerda da tela de
navegação, com a visão superior do ambiente foi fundamental para auxiliar os
fruidores. Uma seta vermelha representa o navegador e se move de acordo
com a navegação. A princípio colocamos uma figura em preto e branco para
simular o ambiente no mapa; porém, para tornar o ícone de localização mais
intuitivo, utilizamos um mapa com as imagens correspondentes do Miradas
(Figura 16). A observação destes aspectos nos levou a avaliar a acessibilidade
de navegação como adequada. Vale destacar que, antes da apresentação
pública presencial, foram feitos três testes de navegação com usuários que
desconheciam a estrutura da obra.
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Figura 16. Mapas de localização: melhoria no nível de navegabilidade.
8. Considerações finais
Por acreditar que o papel do profissional de comunicação é experimentar as
formas de comunicar a realidade, optei pelo formato da videoinstalação para
tratar de um tema preponderante na atualidade: sistemas de vigilância que nos
rastreiam de forma quase invisível. Um paradoxo, em meio à geração de tantas
imagens, que me instigou como jornalista, videoartista e cidadã a discutir,
refletir e criar algo que sirva como alerta para a sociedade.
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MIRADASMiradas possui o diferencial de ser um experimento de circulação em diversos
ambientes e públicos, já que pode ser acessado através da rede mundial de
computadores. Pretendo dar continuidade à pesquisa sobre as relações entre o
audiovisual e a vigilância como projeto de Mestrado, para complexificar o
presente trabalho. Uma das perspectivas futuras é agregar novos elementos à
obra, como, por exemplo, a exploração da auto-imagem do público através da
webcam.
Minha admiração e dedicação ao vídeo e à linguagem audiovisual
proporcionaram-me a oportunidade de maturar algumas questões a respeito
deles. A partir da trajetória acadêmica e artística que culminou neste trabalho,
posso dizer que a comunicação recria a todo momento a realidade, ao mesmo
tempo em que faz parte dela. E nesta rede, que é truncada, mas também é
fluida, encontra-se o audiovisual, compondo mundos possíveis com
construções que nos pareciam impossíveis.
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MIRADASBibliografia
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MIRADASVideografia
Hallucii, Goo-Schun Wang, 2006.
Janaúba, Eder Santos, 1993.
Sete visões fugidias, Robert Cahen, 1995.
TV Clock, Nam June Paik, 1982.
TV Fish, Nam June Paik, 1979.
TV Garden, Nam June Paik, 1974.
Filmografia
Caché, Michael Haneke, FRA/AUS/ALE/ITA,2005.
Cubo (Cube), Vicenzo Natali, CAN, 1997.
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Relatividades, Maurits Cornelis Escher, 1953. Desenho.
Anexos
Anexo I: Clipping do tema em 2008.
Anexo II: Protótipos da Videoinstalação Miradas.
CD: Videoinstalação Miradas.
DVD: Vídeos da instalação e registro da participação do público no dia da
montagem (fotos e filmagem).
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