Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011
MÍDIAS SOCIAIS E ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO
Maria Célia Furtado Rocha1
Gilberto Corso Pereira2
Resumo: Trata da apropriação de mídias sociais para a participação pública e da incorporação
da e-Participação como dimensão do e-Governo; faz algumas reflexões sobre a difusão do uso
de redes sociais on-line; apresenta questões relacionadas a limitações de plataformas on-line
desenvolvidas para dar suporte a processos participativos. Inspira-se em pensamentos de
Walter Benjamin para pensar esse uso das redes como possível meio de recuperação da
experiência coletiva.
Palavras-chave: PARTICIPAÇÃO PÚBLICA, CROWDSOURCING, CIDADÃO ON-
LINE.
Abstract: This paper addresses the use of social media for public participation and e-
Participation as a dimension of e-Government, offers some thoughts on the widespread use of
online social networks and it presents questions related to limitations of online platforms for
participatory processes. It draws on Walter Benjamin's thoughts to consider this network use
as a means of collective experience recovery
Keywords: PUBLIC PARTICIPATION, CROWDSOURCING, CONNECTED CITIZEN.
A Internet apresenta-se hoje como ambiente onde cooperação e participação tornaram-
se um fenômeno social: os participantes produzem e distribuem conteúdos com base em uma
cultura de comunicação aberta. Apesar das imensas possibilidades de utilização das chamadas
mídias sociais – blogs, wikis, redes sociais, ferramentas de troca de vídeos, ferramentas de
discussão, entre outras – verifica-se que não vêm sendo predominantemente utilizadas para
constituir espaços virtuais de interação capazes de incluir o cidadão como ator ativo na
tomada de decisões. Pelo contrário, em geral, elas têm sido utilizadas pelo Estado para um
tipo de comunicação unidirecional, que não incorpora os princípios de sociabilidade da nova
cultura tecnológica.
1 Doutoranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade
(IHAC/UFBa), Analista de TI da Cia. de Processamento de Dados do Estado da Bahia – PRODEB.
Economista, Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia. 2 Professor Associado do Depto. de Planejamento da Faculdade de Arquitetura da UFBa.
Arquiteto, Doutor em Geografia pela UNESP.
Em 2009-2010, a PRODEB – Cia. de Processamento de Dados do Estado da Bahia
coordenou o projeto de pesquisa “Internet e Interatividade para a Participação Pública”
(projeto 2i2p), que foi realizado em parceria com o LCAD da Faculdade de Arquitetura da
UFBa, com apoio da FAPESB/CNPq, no âmbito do Edital Bahia Inovação – 002/2008, na
modalidade Pesquisador na Empresa. Em suas atividades, o projeto constatou a existência de
obstáculos a essa interação relacionados ao uso de recursos comunicativos da interface
(usabilidade, acessibilidade e arquitetura da informação dos sítios Web). Também esses
motivaram o desejo de aprofundar a pesquisa.
O presente artigo é uma primeira reflexão do projeto de pesquisa “Cidadão em Rede:
de consumidor a produtor de informação sobre o território”, nova parceria da PRODEB com o
LCAD da Faculdade de Arquitetura/UFBa, agora amparada no protocolo de cooperação
tecnológica firmado entre SERPRO, PRODEB, UFBa e SERPRO em janeiro de 2011. O
projeto objetiva-se aprofundar a pesquisa exploratória desenvolvida pelo projeto 2i2p e
ampliar a compreensão das possibilidades de uso de mídias sociais para a construção da
cidadania, no contexto de uma cultura tecnológica, que contemple a participação pública em
eventos e ações tomadas sobre o território. O artigo aqui apresentado em muitos momentos
compila informações publicadas no blog que nasceu no projeto 2i2p (www.2i2p.ba.gov.br).
1. EXPLOSÃO DO CONTEÚDO E PARTICIPAÇÃO
Explosão de conteúdo criado pelo consumidor, remixado a partir de várias fontes,
criação da criação, narração a la Sherazade, agora sem a motivação da morte iminente,
produção de criadores não tão eminentes assim: hoje muitos querem compartilhar. O que os
motiva? Diz um estudo recente que das cinco motivações que levam as pessoas a compartilhar
conteúdo na Rede, três se relacionam a representações de si mesmas frente aos outros e à
auto-afirmação.
A pesquisa “The Psychology of Sharing” do The New York Times Customer Insight
Group (2011) envolveu entrevistas e observação de comportamentos e formas de compartilhar.
Identificou seis tipos de personas, segmentados em função da motivação emocional, a forma
como se deseja fazer a apresentação de si mesmo, o papel do compartilhamento na própria
vida e o valor atribuído ao fato de ser o primeiro a compartilhar aquela informação. Essas
personas vão do altruísta ao carreirista, do conectado ao seletivo.
O estudo dá, inclusive, conselhos e dicas sobre como influenciar o compartilhamento
de conteúdo, com foco sobretudo em negócios. Aqui estão alguns dos conselhos: apele para a
motivação dos consumidores em conectarem-se entre si mesmos – não apenas com a marca;
confiança é o custo de entrada para ter seu conteúdo compartilhado; seja simples: o conteúdo
será compartilhado e não será confuso; apele para o senso de humor; abrace o senso de
urgência; o e-mail é ainda o primeiro (THE NEW YORK TIMES CUSTOMER INSIGHT
GROUP, 2011).
O fenômeno da produção de conteúdo pelo usuário também leva a outros tipos de
investigação, em geral quantitativas, na expectativa de conhecer o perfil do consumidor-novo
produtor. Assim, por exemplo, descreve-se o perfil dos internautas brasileiros com o
propósito de conhecer, entre outras coisas, quem são os consumidores que geram conteúdo,
participam e se conectam a outros na Internet (eCMETRICS SOCIAL MEDIA SOLUTIONS,
2011). O mercado quer saber o que esses internautas buscam na Internet, focam nos
consumidores que agora emergem segundo os indicadores socioeconômicos do IBGE
(CLASSE C, 2011).
Até aqui a intenção é conhecer e classificar os pretensos consumidores, penetrar na
sua “psicologia”; fabricando tipos ideais, prever e agir para influenciar seu comportamento. O
mercado, não se pode negar, tanto quanto unhas, tem olhos aguçados.
Estudos com outro tipo de interesse como os de organismos que reúnem empresa,
terceiro setor, academia e entidades governamentais, caso do Comitê Gestor da Internet
brasileira – CGI.br (2010), têm revelado, por exemplo, o que cidadãos buscam em sites da
administração pública e como eles fazem para se comunicar através da Internet. A pesquisa
TIC Domicílios do CGI.br mostra que, em 2009, brasileiros do Nordeste e do Norte do país
utilizavam, em termos proporcionais, bem mais as redes sociais do que seus compatriotas do
Sudeste e Sul e que publicação em blog é menor no Nordeste do que em outras regiões do
país, conforme os mapas a seguir. O estudo destaca também o uso que o brasileiro da classe C
(segundo classificação do IBGE) tem dado à Internet como meio de comunicação. Os dados
sugerem a necessidade de mais estudos sociológicos para entender a diversidade de
comportamentos.
Fonte: CGI.br (2010) e Eletronet (2011).
Não temos notícia de semelhante preocupação em conhecer seus usuários por parte de
nossos governos estaduais e locais e pelos responsáveis por suas administrações, que de modo
geral parecem sempre mais focadas no ir-e-vir de seu dia-a-dia do que em observar os
resultados sociais gerados por suas atividades, e muito menos em levar em conta o ponto de
vista do cidadão. Isso a despeito do fato de as Nações Unidas já incorporarem a participação
pública como um elemento do e-Gov.
Com relação a isso, vejam-se os resultados da avaliação realizada pelas Nações Unidas
dos canais disponíveis em 2009 para a participação on-line dos cidadãos na administração
pública, em nível nacional, em diversos países (UNITED NATIONS, 2010). A e-Participação
foi um aspecto-chave avaliado por refletir o quanto os governos colocam os cidadãos no
centro dos e-serviços – participação que muda a dinâmica do relacionamento governo-cidadão
e que vai além do voto on-line. A pesquisa reconheceu a importância da e-Participação em
todos os seus aspectos – e-informação, e-consulta e e-tomada de decisão – e constatou a
tendência para escutar e engajar os cidadãos. Avaliou como governos estão interagindo com
cidadãos usando blogs, chats, SMS, Facebook, Twitter e outros. O relatório de pesquisa
concluiu que ferramentas da Web 2.0 e redes sociais criaram um novo ambiente que deve ser
incorporado no dia-a-dia dos políticos e tomadores de decisão.
A pesquisa observou os seguintes níveis de interação entre governo e cidadãos:
a) e-Informação: a avaliação determinou se o governo está provendo informações que
encorajem e se dá poder à participação dos cidadãos, o que incluiu avaliar a existência de
publicação on-line de políticas de e-Participação; calendário de fóruns de discussão on-line;
notificação eletrônica para alertar cidadãos que pretendem participar. Nesse aspecto a
Austrália obteve o maior escore, seguida de Japão, México e República da Coréia.
b) e-Consulta: a avaliação desse aspecto considerou os meios utilizados para capturar a
visão do cidadão, sua opinião, feedback e resposta a questionários on-line, chats, instant
messaging, blogs, etc. A maioria dos sites governamentais dos Estados Unidos realizam
pesquisa de satisfação do usuário, mas foi a República da Coréia que obteve o maior escore
neste item.
c) e-Decisão: avaliou-se em que medida os países estão comprometidos em envolver o
cidadão e em levar em consideração sua visão quando tomam decisões. A República da
Coréia liderou essa avaliação, sendo seguida pela Austrália e Cazaquistão. Uma curiosidade:
Apenas 9% dos países pesquisados permitem a submissão de e-petição para consideração pelo
governo. O Reino Unido é um dos líderes nesse meio, permitindo a cidadãos assinarem suas
petições e enviá-las diretamente ao Gabinete do Primeiro Ministro.
De modo geral, a República da Coréia obteve a melhor performance, seguida pela
Austrália, Espanha e Nova Zelândia. Observaram-se no Chile, Croácia, Chipre e Mongólia
boas práticas: ênfase na obtenção de feedback e inputs dos cidadãos e maior utilização de
blogs, fóruns de discussão, redes sociais, questionários.
A Europa dominou a lista dos 35 países considerados top em e-Participação (cerca de
50% dos países da lista), seguida pela Ásia (mais de 30% dos países da lista) e, depois, as
Américas e a Oceania. A África não se classificou na lista dos 35 melhores.
Para além dessas e outras iniciativas de administrações públicas, verifica-se que um
público cada vez mais on-line apropria-se das mídias sociais demonstrando vontade de abrir
espaço para amplificar sua voz e torná-la pública. Alguns têm demonstrado competência para
fazer-se ouvir, mobilizar energias, empurrar a “máquina” do governo para a ação.
Aqui citamos um caso relacionado à decisão política de grau mais elevado: trata-se
dos islandeses, que estão revendo sua Constituição, usando a Internet como ferramenta para a
discussão de artigos e outros pontos do texto proposto. A nova Carta está sendo escrita e
acompanhada pelos cidadãos através de mídias sociais.
Antonella Napolitano (2011), num post de 11 de julho, conta que há cerca de um ano
um fórum nacional reuniu milhares de pessoas selecionadas aleatoriamente para discutir a
criação do novo documento. A Assembléia Nacional produziu, então, um documento que se
tornou a base para o trabalho de um pequeno grupo (uma espécie de Assembléia
Constituinte), composto por 25 membros eleitos por voto popular. A partir de abril de 2011,
esse grupo começou a trabalhar nos artigos e a publicar seu trabalho em um site específico e
numa página do Facebook, onde se pode comentar essa produção. No final de julho o
Parlamento recebeu a versão draft do documento para revisão. O texto final será submetido à
aprovação dos cidadãos através de referendo.
O contato cotidiano da população com o trabalho do grupo responsável pela
elaboração da Carta foi também garantido por meio de outras mídias sociais: via Twitter,
YouTube e Flickr. Mas, como diz Antonella Napolitano, o alto grau de participação está
evidentemente relacionado com o nível de alfabetização digital dos islandeses, um dos mais
elevados do mundo.
Napolitano (2011) informa ainda que o WikiLeaks também desempenha papel
importante na evolução da transparência naquele país. Julian Assange, fundador do
Wikileaks, começou a trabalhar como consultor do governo islandês na implementação de um
projeto de lei conhecido pela sigla IMMI – Icelandic Modern Media Initiative, com o objetivo
tornar a Islândia um refúgio para jornalistas, ativistas e cada um que sofra problemas de
liberdade de expressão. A IMMI fornecerá uma série de vantagens em termos de proteção de
fontes e dos dados. Esse projeto deverá tornar-se lei em meados de 2012.
No Brasil, a despeito do crescente número de sites não governamentais voltados a
estimular a webcidadania (ver www.webcidadania.org.br), seja acompanhando ações dos
representantes eleitos (www.votenaweb.com.br), seja publicando sugestões, demandas e
reclamações (http://www.criticarbh.com.br/view/), não temos ainda registros dos impactos
devidos a esse tipo de atuação. Entretanto se sabe que será preciso muito mais do que usar a
Internet para a mobilização massiva e veloz – a frustração com os resultados práticos do
movimento Ficha Limpa comprova o quanto é difícil garantir os resultados dessas ações.
Assim também nos perguntamos qual será de fato o resultado de reclamações, demandas e
movimentações que partem de outras iniciativas nascidas na Rede. Qual o impacto do Eleitor
2010 (www.eleitor2010.com), site destinado a denúncias de eleitores elaborado na plataforma
open source Ushahidi, ela mesma nascida dos esforços que colocaram o conhecimento técnico
a favor de uma causa política relacionada aos conflitos após as eleições de 2007 no Quênia? E
qual será o resultado das demandas aportadas no Urbanias (www.urbanias.com.br) que acolhe
reclamações sobre tráfego, barulho e problemas dessa natureza na cidade de São Paulo? E o
projeto WikiMapa (http://wikimapa.org.br/), que começou no Rio de Janeiro com o objetivo
de estimular jovens moradores a mapear favelas e áreas de baixa renda e a compartilhar
informações georreferenciadas desses locais, utilizando, inclusive, o celular, como será que as
informações prestadas são apropriadas em prol de tais comunidades?
Bem, essas são questões que certamente só o acúmulo de estudos a seu tempo
responderão, o que não invalida nenhuma das iniciativas que despontam. Pelo contrário, é
provável que quanto mais seja melhor. Isso pode vir a ampliar e diversificar as possibilidades
de que pessoas assim mobilizadas venham a realizar seu desejo de influenciar positivamente a
administração pública em prol de uma melhor qualidade de vida dos direta e indiretamente
envolvidos. Pode ser que essas experiências on-line venham mesmo a acolher várias
dimensões da subjetividade em prol da constituição de um novo espaço público
multifacetado. Um espaço não circunscrito a interesses que definem identidades
particularistas, mas que possa mobilizar interesses em prol de questões políticas mais plurais.
Por exemplo, quantos poderão se interessar pelo movimento do Partido Pirata (2011) que em
seu manifesto subscreve posturas em prol da liberdade de criação na Rede, que não deixa de
ser uma das liberdades em geral?
Mas, por enquanto, quem saberá responder ou prever os resultados? O mais provável é
que casos mereçam ser analisados em suas particularidades, como disse Serge Proulx (2011)
ao comentar o Seminário do Laboratório de Política e Comunicação do CNRS, realizado em
Paris em abril de 2011. O Seminário, segundo Proulx, deu ocasião para a desconstrução de
idéias estereotipadas sobre uma suposta “revolução 2.0”. Ele acrescenta que tampouco se
deve propalar, de modo determinista, uma função libertadora da Internet, como fariam os
chamados “ciberutópicos” (PROULX, 2011).
Tratando especificamente do relacionamento entre governo e o cidadão através das
mídias sociais – governo aqui tomado talvez mais administração pública –, Catherine Smith
Howe e Gez Smith falaram do tema governo e o crowdsourcing, em Londres, durante Fórum
Future e-Democracy, em dezembro de 2010. Crowdsourcing, que segundo Wikipedia trata-se
de “modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários
espalhados pela Internet” (CROWDSOURCING, 2011), nesse caso significaria dar acesso e
ampliar a agenda de governo com a promessa de ouvir os cidadãos.
Nesse evento, Catherine desafiou a idéia difundida de que o crowdsourcing é sempre
bom: segundo ela, o público é reduzido ao mínimo denominador comum, o governo é lento e
não é bom em sociedade em rede. Por outro lado, o crowdsourcing não seria bom em efeitos
longitudinais nos casos em que o cidadão responde mais a tarefas presentes (como, por
exemplo, os efeitos da neve em Londres naquele dia). Não se deve supor, portanto, que o
crowdsourcing em si mesmo conduzirá a uma boa solução, ela diz (2i2p, 2011a).
Gez Smith, por sua vez, acha que pode funcionar e citou como exemplo consultas
públicas levadas a efeito no Reino Unido. Segundo ele, para o crowdsourcing cumprir sua
promessa, é preciso saber como colocar as questões; é preciso saber lidar e dar sentido aos
dados que são aportados pela audiência. O crowdsourcing não deve ser tomado como
deliberação em si mesmo, mas como parte dela – o que seria melhor, para ele, do que o
governo tomar a decisão por todos (2i2p, 2011a).
O governo, então – prossegue – deverá considerar algumas questões se pretende
utilizar o crowdsourcing: despender todo esforço necessário e responder aos cidadãos;
considerar o que se entende por crowdsourcing, pois há diversos conceitos sobre o mesmo;
facilitação pode ser melhor do que moderação (a moderação feita pelo governo muitas vezes
equipara-se à censura).
O que podemos dizer, a despeito das opiniões divergentes, é que o crowdsourcing se
estabeleceu com as ferramentas da Web 2.0 num modo exemplar de compartilhamento de
informações preciosas para ações socialmente relevantes, como se vê em práticas de
monitoramento difuso de catástrofes climáticas e ambientais – Haiti, Rio de Janeiro
(OPENSTREETMAP, 2011) e Fukushima (2i2p, 2011b). Esses são alguns exemplos do
fenômeno do qual órgãos e agências governamentais felizmente são capazes por vezes de tirar
proveito para prestar serviços à sociedade, caso do programa de prevenção contra riscos de
terremotos do USGS (http://earthquake.usgs.gov/), serviço geológico americano.
Mas voltemos às movimentações.
2. PLATAFORMAS PARA A AÇÃO COLETIVA
Num artigo interessante sobre o uso do Facebook e do celular nas revoltas africanas,
Giovanni Calia (2011) aponta uma qualidade dessa rede social on-line que a torna muito mais
próxima da revolução da telefonia móvel do que da web como plataforma autoral: sua
predisposição à criação de relações humanas em que o “conteúdo” é o próprio usuário.
Segundo ele, esta é a chave que levou habitantes de países como Egito ou Tunísia a fazerem
uso dessa ferramenta para se comunicarem nas revoltas recentes e na guerra em curso na
Líbia.
Em sua estratégia de penetração, o Facebook tem focado fortemente em telefones
celulares. Para Calia (2011), não devemos nos admirar de vê-lo investir mais e mais em
modelos de negócio que integrem telefonia móvel e serviços de redes sociais, nem de ver os
celulares e as redes sociais se tornarem as principais “armas” nas mãos das pessoas que estão
levando adiante as revoltas no Norte da África e no Oriente Médio.
O site da empresa Alexa (http://www.alexa.com/) informa, diz o post de Giovanni Calia
(2011), que o Facebook tornou-se a rede social de referência em muitos países do continente
africano, sendo que, em muitos deles, o número de usuários duplicou nos últimos 7 meses. O
Egito seria atualmente o primeiro país africano em número de usuários do Facebook (cerca de
6,8 milhões), seguido pela África do Sul (3,7 milhões), Marrocos (3,3 milhões) e Nigéria (3,0
milhões). É mesmo interessante visualizar a extensão do uso do Facebook e de outras redes
sociais no mundo inteiro no mapa apresentado por Vincenzo Consenza (2011).
Retornando às reflexões de Calia (2011) sobre a África, como o Facebook cresce tão
rapidamente nessas regiões? Nos últimos anos, ele diz, a África foi o mercado de telefonia
móvel que mais cresceu no mundo, a Nigéria, em particular, com um aumento de 100%. Os
investimentos feitos na África por países como a China e a Índia estariam levando à
diminuição dos custos da tecnologia, incentivando seu desenvolvimento e sua difusão. Outra
razão para esta difusão estaria no mercado de usados – muitos dos telefones descartados pelos
mercados europeus ou japonês, por estarem ultrapassados, são enviados a países não
desenvolvidos.
A ausência de uma infra-estrutura a cabo constitui-se um fator da exclusão digital. A
superação desse quadro passa, segundo Calia, pela telefonia móvel. Aplicações para celulares
permitiriam que as economias dos países africanos se desenvolvam mais rapidamente, como
foi o caso de serviços de comunicação via celular que contribuíram para o crescimento da
produtividade de comunidades rurais da Uganda ou os primeiros serviços de pagamento
através de celular, que se tornaram instrumentos preciosos para pequenos comerciantes da
África do Sul, do Senegal e do Quênia (CALIA, 2011).
Tratando-se de serviços de governo com uso de telefonia móvel, Susana Finquelievich
(2010) fornece exemplos na África e em outros países, em seu artigo “Del Gobierno al
Gobierno Conectado”.
Assim, as redes sociais tornam-se de fato não tanto uma maneira de conectar-se à
Internet na forma como fazemos hoje, mas um modo de entrar em comunicação com outros.
Algo parecido pode estar acontecendo na base da grande adesão de pessoas do Nordeste e
Norte do Brasil às redes sociais on-line, como mostrado no primeiro dos mapas apresentados
neste artigo. Outra evidência pode ser encontrada no uso dado Orkut por grupos de Salvador,
Bahia, para a divulgação e intercâmbio de informações sobre a capoeira (SERPA, 2010).
Uma questão que esse tipo de inserção no mundo digital nos coloca relaciona-se com o
tipo de interação que se experimenta predominantemente por essa via. Mais, tomando de
empréstimo a noção de modo de produção aberto do conhecimento (FALCÃO et al., 2005),
em que condições espaços constituídos por meio das mídias sociais facilitariam sua
associação a uma espécie de “modelo aberto de constituição da cidadania” e propiciariam a
criação compartilhada de conhecimento capaz de promover ações coletivas que almejem
alterar o contexto social e político?
A esse respeito, e com foco em plataformas on-line, vale à pena ver os primeiros
resultados do projeto de pesquisa “Web platforms and collective action: the complementary
roles of proprietary and non-proprietary platforms”, da Universidade de Westminster (2i2p,
2011c). Eles apontam para o fato de que redes sociais proprietárias como o Facebook não são
suficientes para grandes mobilizações de caráter político; são importantes para difundir
mensagens, mas devem ser complementadas por plataformas especialistas, adaptadas às
necessidades dos ativistas.
O projeto conduzido por Anastasia Kavada, do Communication and Media Research
Institute, aponta que grupos políticos vêem problemas na possibilidade de acesso a dados
pessoais por terceiros. Essas ferramentas também são limitadas para estabelecer conversação
entre pessoas que não são “amigos” mas que possuem interesses políticos comuns. (Será que
nesse ponto o Google plus, estruturado segundo a metáfora do círculo e oferecendo a
possibilidade de trazer informações sobre aqueles que o usuário escolhe seguir, levaria
vantagem – até quando – sobre o Facebook?)
Por sua vez, plataformas especializam-se em fornecer funcionalidades para a tomada
de decisão, discussão e edição colaborativa de documentos por grupos, como a aplicação open
source Crabgrass (http://crabgrass.riseuplabs.org/). Entretanto o limite de plataformas como
essas, diz o estudo, está no fato de não serem capazes de, sozinhas, difundirem a mobilização
política.
Algumas dessas plataformas incorporam funcionalidades para dar suporte ao processo
de participação via Internet: Infotoolkit (http://www.infotoolkit.org/) inclui a gestão das
comunicações de comunidades, e o ePart (http://www.epart.it/) permite o acompanhamento de
ações demandadas à administração pública italiana. O site Protect the Human
(http://www.protectthehuman.com/), da Anistia Internacional, por sua vez, aproxima
abordagens de redes sociais e de organização de grupos.
Contudo não é sem importância considerar as limitações que podem residir em
plataformas para a participação on-line, de acordo com os pontos de vista daqueles que as
desenvolvem. No seu blog, Caherine Smith Howe (2011) traz a opinião de Lawrence Lessig
em Code v2 , de 2005, sobre a existência de três gerações de arquiteturas de plataformas na
Internet: a primeira geração foi construída com objetivo não-comercial, por pesquisadores e
hackers, com foco na construção de uma rede; a segunda foi construída pelo comércio; e a
terceira poderia muito bem ser o produto do governo. Lessig já colocava a seguinte questão:
quais desses reguladores preferimos? Quais deles devem ser controlados?
À despeito da falta de transparência e controle sobre o código embutido no software
comercial, as pessoas estão criando espaços cívicos on-line – espaços que suportam a
motivação do usuário do tipo “eu quero falar com a minha comunidade” (HOWE, 2010) –
dentro das limitações das plataformas comerciais. Para tornar esses espaços cívicos
verdadeiramente abertos e democráticos, seria preciso que o governo começasse a pensar na
democracia on-line, e não apenas no seu próprio interesse em governar (HOWE, 2011).
3. COLABORAÇÃO E EXPERIÊNCIA
Sob as condições aqui comentadas, o consumidor dessas tecnologias digitais vem-se
transformado em produtor de informações, contribuindo desse modo para a elaboração de
renovadas narrativas, como de um outro modo antes se fazia (ou ainda se faz) pela narração
oral de histórias. Poder-se-ia dizer que a catedral, uma vez instalada no estúdio do amador,
como observou Walter Benjamin (1985) no ensaio em que trata da reprodução técnica da obra
de arte no início do século XX, foi hoje às ruas pelas mãos do novo cronista, que,
diferentemente do flâneur por ele retratado, já não quer se destacar do movimento, mas
potencializar a oportunidade de que sua visão particular da rua, da vizinhança, do lugar, venha
a se misturar a outras incontáveis narrativas, propiciando um uso cívico de espaços on-line
orientado por um modelo de cidadania aberta.
Refletindo aqui um pouco sobre esses espaços e a experiência tão cara hoje aos
usuários (e desenvolvedores) de tecnologias digitais, lembramos que Jeanne Marie Gagnebin
(1985) fala como a noção de experiência foi central nas reflexões de Benjamin, no prefácio
dos ensaios desse autor publicados pela Brasiliense em 1985 com o título Magia e técnica, ate
e política. Nos textos dos anos 30, considerados fundamentais, Walter Benjamin demonstra o
enfraquecimento da grande experiência coletiva com o passado, o “Erfahrung”, no mundo
capitalista moderno, em detrimento de um outro conceito, a “Erlebnis”, que se refere à
experiência vivida privadamente, característica do indivíduo solitário (GAGNEBIN, 1985).
Segundo Gagnebin, nesses textos, Benjamin esboça uma reflexão sobre a necessidade de
reconstrução da Experiência para garantir uma memória e uma palavra comuns, malgrado a
desagregação e o esfacelamento social vivido então. A reconstrução da experiência viria, pois,
acompanhada de uma nova forma de narratividade (GAGNEBIN, 1985, p. 9).
Uma vez perdido o elo com o passado e com a tradição, o fio e caminho da teia, ainda
assim Benjamin pensou que as histórias das culturas humanas se transmitem a partir da
linguagem onde se depositam as experiências. Em cada língua, a experiência de grupos e
comunidades deixa seus traços, que, em seus estudos, ele recolhe na forma de “fragmentos do
pensamento”. São trechos, citações, palavras que, como colecionador, Benjamin reunia e,
segundo Hannah Arendt (1987), os dispunha frente a frente, lado a lado, de modo que um
iluminasse o outro, dando vez e voz a uma nova possibilidade de interpretação.
Pensamos poder relacionar essa espécie de colagem em que Benjamin se empenhava
com o fenômeno da explosão de conteúdo que tratamos na primeira parte desse artigo. Por sua
vez, os espaços cívicos referidos por Catherine Howe e mesmo alguns sites aqui citados que
se propõem a ser “murais de reclamações” tratados como webcidadania talvez careçam de dar
espaço e permitir ao acaso o seu trabalho criativo, se pretenderem constituir-se num espaço de
práticas de criação compartilhada, assumindo características do que começamos aqui a
chamar de um modelo de constituição da cidadania segundo um modo de produção aberto do
conhecimento. Algo a se pensar é se as atuais características desses espaços on-line poderão
se configurar mais em estímulo do que obstáculo – em parte decorrentes da arquitetura dos
softwares utilizados – à promoção das interações sociais em movimento e ação social
efetivamente.
Práticas de criação coletiva, compartilhamento de idéias, criação com base em
citações, remixagem de fontes, narrativa das narrativas, commons entendido como algo que se
usa e se possui de forma coletiva, para ser detido e utilizado por muitas pessoas (LESSIG
apud FALCÃO, 2005, nota 19) – práticas permeadas de valores e de uma ética que funda
comunidades hackers e é compartilhada por tantas pessoas cuja atividade “tem algo de alegre
porque frequentemente tem origem na experimentação feita por diversão” (HIMANEN, 2007,
tradução nossa) – são possivelmente uma das mais bem-intencionadas iniciativas do presente.
Associadas a um novo modo de produção do conhecimento – difuso, contextualizado e
não planejado (FALCÃO, 2005) –, tais práticas permitiriam ao ativismo ir além de si mesmo
e dariam a oportunidade ao espaço cívico on-line como hoje conhecido constituir-se em um
nível mais alto de participação pública, pois grupos maiores de indivíduos teriam acesso a
conjuntos maiores de informação, conhecimento e compartilhamento de experiência. Quem
sabe assim, pudéssemos experimentar um modelo de cidadania com características de redes e
de grupos, onde Estado, governos e administração pública sejam nós de uma rede cuja
topologia venha a responder a demandas pela participação pública e democrática.
Referências
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