PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC SP
Katia Regina Gonalves Mori
A solidariedade como prtica curricular educativa
DOUTORADO EM EDUCAO: CURRCULO
SO PAULO
2013
PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC SP
Katia Regina Gonalves Mori
A solidariedade como prtica curricular educativa
DOUTORADO EM EDUCAO: CURRCULO
Tese apresentada Banca Examinadora da
Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo, como exigncia parcial para a
obteno do ttulo de DOUTORA em
Educao: Currculo, sob a orientao do
Prof. Dr. Alpio Mrcio Dias Casali.
SO PAULO
2013
Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou eletrnicos.
Assinatura:
Local e data:
BANCA EXAMINADORA
Aos meus filhos, Sophia e Rodrigo, pelo amor de uma vida inteira...
AGRADECIMENTOS
Ao Alpio Casali, pois, entre tantos tropeos, excitaes, arguies, conquistas,
orientaes, provocaes... tecemos amizade, conhecimento, tese. Pelo meu contentamento
de ter compartilhado este trabalho por dentro com voc, meu melhor exemplo de que a
solidariedade prtica educativa. Muito obrigada!
Ao Fernando Jos de Almeida e Mozart Neves Ramos, pela amizade, pelas conversas
instigantes e incentivos constantes.
Ao Mario Sergio Cortella, por ter me convencido a enfrentar o desafio do doutorado
e tantos outros, sempre to presente, to provocador, to pertinente.
Ao Jos Srgio Fonseca de Carvalho e Maria Nieves Tapia, mestres da minha vida e da
minha vida acadmica, por quem zelo um enorme carinho, respeito e admirao.
Aos professores doutores da banca de qualificao, Branca Jurema Ponce e Paulo
Roberto Padilha, pela contribuio atenciosa e valorosa.
Ao Francisco Josivan de Souza, amigo to estimado e revisor desta tese.
Ao Instituto Faa Parte, por quase uma dcada de aprendizagem, parceira,
conhecimento, vida. Sem essa experincia e sem esse apoio esta tese no existiria.
s Escolas Solidrias que participaram diretamente desta pesquisa, em especial aos
seus diretores, coordenadores pedaggicos, professores e comunidade, que trouxeram as
contribuies essenciais e tornaram possvel a realizao desta pesquisa.
CAPES, pelo financiamento parcial da pesquisa.
A cada um dos meus amigos e amigas que me acompanharam, me inspiraram,
compartilharam conhecimento e trouxeram conforto e confiana para que eu pudesse seguir
adiante. Em especial, Miro, Silmara, Nice, Cris Murachco, Nany, Rodrigo, Miguel, Quique,
Dbora, Ana Lcia, Marcelo, Juliana, Rosngela, Letcia, Telma, Roberta, Ernandes e Gilberto.
minha famlia, em ateno especial aos meus pais, com todo o meu amor, Leda e
ao Z Mori, em nome dos quais agradeo aos demais.
Ao Renato, por compartilhar cada dia, cada fraqueza, cada alegria... Por causa do seu
esmero foi possvel realizar mais este sonho, juntos.
A solidariedade como forma de conhecimento
o reconhecimento do outro como igual
sempre que a diferena lhe acarrete inferioridade,
e como diferente, sempre que a igualdade
lhe ponha em risco a identidade.
Boaventura de Souza Santos
RESUMO
A solidariedade como prtica curricular educativa
Katia Regina Gonalves Mori
Esta pesquisa analisa a solidariedade como prtica curricular educativa
e tem como objetivo compreender, por um lado, em que medida a
solidariedade pode ser inerente s prticas curriculares e quais so as
atividades que mediatizam a sua aprendizagem; por outro, contribuir para o
debate acerca da qualidade da educao uma vez que ultimamente tem-se
compreendido de maneira dicotomizada o conhecimento cognitivo e a
formao para a cidadania. O referencial terico est aportado, sobretudo, nos
conceitos de alteridade (Lvinas), tica (Dussel), compromisso poltico (Freire)
e conhecimento emancipao (Santos). O universo da pesquisa est
circunscrito a quatro escolas do Estado de So Paulo, com representatividade
das principais redes de ensino (rede pblica estadual e municipal, escola
particular e profissionalizante). Trata-se de uma pesquisa de anlise qualitativa,
cujos dados foram obtidos mediante questionrios e entrevistas semi-
estruturadas. Participaram, como sujeitos da pesquisa, coordenadores
pedaggicos, professores e comunidades atendidas pelos projetos solidrios
desenvolvidos pelas escolas participantes. Esta pesquisa permitiu constatar
que existe diferena tanto na compreenso quanto no desenvolvimento de
prticas pedaggicas que visam ensinar solidariedade, fato este que sugeriu o
desenvolvimento e a proposio de uma tipologia especfica do conceito para o
campo da educao, a saber: solidariedade curricular assistencialista;
discursiva; funcionalista-participativa; e crtica-emancipadora. Esta tese visa
contribuir para o debate acerca da qualidade da educao pensada pela
perspectiva da solidariedade enquanto conhecimento e valor fundamental para
a constituio de uma sociedade que se queira plural e justa.
Palavras-chave: currculo; solidariedade; voluntariado educativo; tica; qualidade da educao.
ABSTRACT
Solidarity as a curriculum educative practice
Katia Regina Gonalves Mori
This research analyzes solidarity as a curricular practice and aims to
understand two particular points. First, the extent to which solidarity should be
inherent to curricular practices and which are the activities that emphasize its
teaching process. Secondly it seeks to contribute to the debate about the quality
in education, which lately has been understood under two dichotomized
functions: cognitive knowledge and preparing for citizenship. This is a research
on qualitative analysis field and its theoretical framework is based upon the
concepts of otherness (Levinas), ethics (Dussel), political commitment (Freire)
and knowledge emancipation (Santos). The research took place in four schools
of So Paulo metropolitan area, which represent the most important school
systems (public, private and vocational schools). For data collection a
questionnaire and semi-structured interviews were undertaken whose results
were recorded and transcribed. The research informants were, educational
coordinators, teachers and people from the community attended by schools
under solidarity projects. This research allowed to realize that there is much
variety in understanding how to develop pedagogical practices of solidarity, and
this fact led to the development of a specific typology of solidarity practices in
education: assistencialist; discursive; functional-participative; critical-
emancipatory. This thesis seeks to contribute to the debate about the quality of
education designed from the perspective of knowledge and solidarity as a
fundamental value for the constitution of a society which wants to be plural and
fair.
Keywords: curriculum; solidarity; service-learning; ethics; quality of education.
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................... 12
1. Apresentao .......................................................................................................... 13 2. Contextualizao .................................................................................................... 18 3. O problema, a hiptese e os objetivos da pesquisa ............................................. 20 4. A metodologia qualitativa....................................................................................... 23
CAPTULO I
PERCURSO METODOLGICO ...................................................................................... 27
1. Apresentao das escolas da pesquisa ................................................................ 31
1.1 Escola1 Escola da Rede Pblica Municipal de Ensino ................................. 32 1.2 Escola2 Escola da Rede Pblica Estadual de Ensino .................................. 40 1.3 Escola3 Escola da Rede Privada ................................................................. 45 1.4 Escola4 Escola da Rede Particular Profissionalizante ................................. 51
2. Seleo das escolas ............................................................................................... 54
3. Selo Escola Solidria .............................................................................................. 56
4. Instituto Faa Parte ................................................................................................. 60
5. A coleta de dados ................................................................................................... 63
CAPTULO II
O CONCEITO SOLIDARIEDADE .................................................................................... 73
1. O princpio solidariedade: da mitologia ao solidarismo ...................................... 75
2. A solidariedade na formao da sociedade .......................................................... 81
3. A solidariedade enquanto conhecimento, em Boaventura de Sousa Santos ..... 88
4. Solidariedade e alteridade, em Emmanuel Lvinas .............................................. 93
5. Solidariedade e tica, em Enrique Dussel ............................................................. 97
6. Solidariedade e conscincia poltica, em Paulo Freire....................................... 101
7. A solidariedade como conhecimento-emancipao, alteridade, tica e conscincia poltica .............................................................................................. 105
CAPTULO III
CURRCULO E SOLIDARIEDADE ................................................................................ 117
1. O conceito de currculo ........................................................................................ 117
2. Currculo, experincias de aprendizagem e solidariedade ................................ 120
3. A solidariedade e o saber compartilhado ........................................................... 124
4. Currculo, solidariedade e prtica educativa ...................................................... 127
5. A solidariedade e o currculo nacional ................................................................ 131
6. O currculo e qualidade da educao .................................................................. 137
CAPTULO IV
A SOLIDARIEDADE COMO PRTICA CURRICULAR EDUCATIVA ............................. 144
1. Aprendizagem e servio solidrio: denominaes e principais
caractersticas. ...................................................................................................... 149
2. Uma tipologia da solidariedade enquanto prtica curricular educativa............ 153 2.1. Solidariedade assistencialista ......................................................................... 155 2.2. Solidariedade discursiva ................................................................................. 159 2.3. Solidariedade funcionalista-participativa.......................................................... 164 2.4. Solidariedade crtica-emancipadora ................................................................ 169
3. A solidariedade no ambiente escolar e na organizao curricular ................... 183 3.1 A solidariedade no ambiente escolar................................................................. 183 3.2 A solidariedade na organizao curricular interdisciplinaridade ...................... 189
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 195
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................... 201
APNDICE .................................................................................................................... 214
ANEXO .......................................................................................................................... 220
LISTA DE SIGLAS
CONSED Conselho Nacional dos Secretrios de Educao
CPE1 Coordenador Pedaggico Escola 1
CPE2 Coordenador Pedaggico Escola 2
CPE3 Coordenador Pedaggico Escola 3
CPE4 Coordenador Pedaggico Escola 4
CE2 Comunidade Escola 2
CE3 Comunidade Escola 3
ExCE1 Ex-coordenador Escola 1
PE1 Professor Escola 1
PE2 Professor Escola 2
PE3 Professor Escola 3
PE4 Professor Escola 4
ECA Estatuto da Criana e do Adolescente
ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministrio da Educao
OEI Organizao dos Estados Iberoamericanos
ONG Organizao No-Governamental
PEA Programa de Escolas Associadas da UNESCO
PCN Parmetros Curriculares Nacionais
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PNEDH Programa Nacional de Educao em Direitos Humanos
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PPP- Projeto Poltico Pedaggico
SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial
UNDIME Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Ensino
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura
UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia
12
INTRODUO
13
1. Apresentao
Comecei a me formar educadora em 1992, quando ingressei no curso
de graduao da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo. Entre
as oportunidades vivenciadas, duas delas influenciaram as minhas escolhas e
o percurso de minha carreira. A primeira foi ter ingressado no Ncleo de
Pesquisa da Escola do Futuro (1995-1997)1, pois despertou o meu interesse
pela aplicao das Tecnologias da Informao e da Comunicao (TIC) na
escola. De 1999 a 2001 trabalhei com projetos sobre o uso do computador na
sala de aula e fiz o mestrado na linha de Novas Tecnologias aplicadas
Educao, defendido em 2004, pela PUC-SP.
A segunda foi a experincia de ter sido voluntria no Centro de Estudos
e Informaes Crecheplan, atualmente Instituto Avisa L2, com a equipe
pedaggica coordenada por Regina Scarpa. O trabalho intensificou o meu
interesse pelos estudos. Eu sentia a necessidade de melhorar meu repertrio e
conseguir ajudar creche tanto na interveno direta com os alunos quanto
nas reunies pedaggicas que acompanhava uma vez por ms. Assumi um
compromisso de formao que transcendia a vida acadmica e com isso o meu
rendimento melhorou. Minha motivao para os estudos no era mais somente
1 O NAP Escola do Futuro/USP inaugurou suas atividades em 1989, sob a coordenao
cientfica do Prof. Dr. Fredric M. Litto. A partir de janeiro de 1993 instituiu-se como um Ncleo de Apoio Pesquisa, passando a intitular-se Ncleo das Novas Tecnologias de Comunicao Aplicadas Educao Escola do Futuro/USP (NAP EF/USP). Trabalhei diretamente em um dos projetos, o Grupo de Cincias via Telemtica, coordenado pelo Prof. Dr. Nelio Bizzo. (ESCOLA DO FUTURO, 2013)
2 Em 1986 foi fundado o ento Crecheplan por um grupo de profissionais que atuavam em
creches. A partir de 1999 ele passou a se chamar INSTITUTO AVISA L - Formao Continuada de Educadores, uma organizao no-governamental que tem como objetivos contribuir para a qualificao e o desenvolvimento de competncias dos educadores que atuam em instituies educacionais e atendem a crianas de baixa renda; oferecer suporte tcnico para ONGs, agncias governamentais, escolas de Educao Infantil e Ensino Fundamental; atuar como centro de produo de conhecimento em Educao por meio de site na Internet, com produo de vdeos de formao e publicaes; e contribuir para a formulao e implementao de polticas pblicas que resultem em educao de maior qualidade. (AVISA L, 2013)
14
conseguir boas notas, mas me preparar para lidar com as vrias situaes
enfrentadas na creche: o planejamento da atividade, a negociao de conflitos,
a contao de histrias, o acompanhamento das discusses pedaggicas, a
falta de recursos, o problema da desapropriao do imvel e fechamento da
creche (devido construo da Av. Roberto Marinho, na zona sul da cidade de
So Paulo), entre outros.
Passados aproximadamente cinco anos aps a minha graduao,
recebi um convite para trabalhar em um Instituto3 recm-fundado que tinha
como foco estimular o voluntariado por meio da educao. At ento, tinha
optado por seguir pelo caminho do uso das TIC na educao e minha nica
experincia no terceiro setor tinha sido no Crecheplan, que havia se tornado
meu nico referencial, tanto de atuao no terceiro setor, quanto de
voluntariado na educao.
Naquela poca, incio dos anos 2000, o pas vivia um chamado
intensivo da comunidade para o trabalho voluntrio, quando o Programa
Comunidade Solidria, coordenado pela Dra. Ruth Cardoso, no governo
Fernando Henrique Cardoso, estimulava o fortalecimento da sociedade civil e
influenciou a criao de centros, institutos e programas de voluntariado pelo
Brasil. O assunto ganhou notoriedade com a cobertura da mdia, dividindo
opinies da populao e de especialistas. Minha percepo sobre voluntariado
tambm era dicotmica, pois, por um lado, eu desconfiava do estmulo ao
trabalho voluntrio, que mais parecia uma manobra poltica para que as
pessoas trabalhassem gratuitamente para resolver problemas sociais que
deveriam ser de responsabilidade do Estado, ou seja, uma prtica para
apaziguar a sociedade e manter as relaes de poder cada vez mais
fortalecidas (GADOTTI, 2008; DEMO, 2002; GENTILLI e SILVA, 1994); por
outro lado, eu tive efetivamente uma experincia positiva na graduao que
no representava essa maneira de compreender o voluntariado4. Sendo assim,
decidi conhecer a proposta do Instituto e soube que a inteno era a de 3 Instituto Faa Parte, apresentado no Captulo I.
4 No Crecheplan pude contribuir socialmente, aprendi que poderia intervir e ajudar a melhorar
uma realidade difcil. Sabia que no estava substituindo o papel de nenhum funcionrio da educao com o meu trabalho, pois isso era conversado com a gestora da instituio; aprendi a enxergar o outro, a pensar em o que poderia fazer para contribuir para o desenvolvimento do currculo e do planejamento pedaggico.
15
estimular a prtica do voluntariado jovem, similar que eu tinha vivido, e que a
base conceitual de voluntariado seria criada a partir de dois alicerces: 1) de
compromisso social sem a substituio do estado ou a desonerao do
empregador e 2) ser uma experincia de formao pessoal e social para o
jovem.
O Instituto (presidncia, conselho consultivo e equipe executiva) era
constitudo de forma bastante ecltica: empresrios, universitrios, pessoas
ligadas ao terceiro setor, pesquisadores, pensadores e educadores, como Frei
Betto e Antonio Carlos Gomes da Costa. A oportunidade de aprender com essa
experincia, ainda que em meio a tenses ideolgicas que a prpria
configurao do grupo sugeria (ainda que pequeno, com boa
representatividade da sociedade civil), me instigou a aceitar o desafio.
O primeiro material analisado para fundamentar conceitualmente o
voluntariado foi apresentado por Frei Betto em uma das oficinas de estudo.
Tratava-se de uma pesquisa desenvolvida por uma brasileira na Itlia
(SBERGA, 2001) sobre como o voluntariado pode ser uma ferramenta
pedaggica pela qual os alunos podem ser estimulados a diagnosticar um
problema social real, planejar uma ao de interveno e atuar diretamente na
comunidade, conceito esse chamado de voluntariado educativo5. Antonio
Carlos Gomes da Costa trouxe o conceito de protagonismo juvenil, no qual o
jovem visto como um protagonista na resoluo de problemas sociais reais
identificados com a escola, buscando-se desenvolver, alm das habilidades
cognitivas, a conscincia de que a realidade pode ser transformada. Assim,
estabelece-se uma relao mais direta da escola com a comunidade e se
prope a contextualizao do currculo, partindo de um problema local para
propiciar a formao crtica e, sobretudo, solidria.
Com esses estudos aprendi que o voluntariado no pode ser
compreendido como uma atividade que desonera o Estado ou o empregador,
pois essa percepo o afasta da construo de um estado democrtico. No
entanto, responsabilizar-se pela vida em comunidade de maneira voluntria
5Ver captulo IV, A solidariedade como prtica curricular educativa.
16
pode ser uma experincia positiva6, na medida em que permite melhor
compreenso sobre a co-responsabilidade e o prprio funcionamento do poder
pblico.
Sobre o aspecto da formao, o comprometimento voluntrio para se
resolver problemas sociais reais pode despertar a conscincia social e o
interesse pela atitude poltica. A aproximao permite conhecer, entre outras
coisas, como a sociedade se organiza e quem deve ser cobrado para que a
ordem seja (re)estabelecida. Esta concepo de voluntariado despertou o meu
interesse em contribuir para a construo da base conceitual do Instituto e, por
extenso, para a formao de jovens que pudessem ter ainda uma viso
distorcida, assistencialista, exploratria da prtica voluntria. Enquanto
coordenadora de contedo do Instituto, participei do desenvolvimento dos livros
publicados e do principal projeto, o Selo Escola Solidria7, o que me
possibilitou entrar em contato direto com milhares de gestores de escolas
pblicas ao longo de nove anos de trabalho, por todo o pas, em momentos
como os de visita s escolas, palestras, eventos de entrega e lanamento de
alguma edio do Selo Escola Solidria, entre outros.
Nas centenas de palestras introdutrias sobre o conceito, que proferi
em atividade pelo Instituto, inicivamos a construo terica a partir da
seguinte formulao: se concordarmos com o artigo segundo da LDB 9394/96,
o qual define que a educao deve ser inspirada nos ideais de solidariedade
humana e deve ter por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho
(grifos meus), como oferecer esta educao? Como preparar os alunos para o
exerccio da cidadania?
Estas perguntas despertavam um interesse unnime. A resposta era
construda a partir da pedagogia de John Dewey e Paulo Freire, entre outros.
Aos poucos, a necessidade de se criar experincias da deciso e da
6 Haja vista, por exemplo, a doao de sangue: em todo o mundo, ela s pode ser exercida
voluntariamente. O sangue humano no produzido sinteticamente, no pode ser comercializado (vendido ou comprado) e a sade pblica depende de um banco de sangue abastecido.
7 Apresentado no captulo I, Percurso Metodolgico.
17
responsabilidade (DEWEY, 1979) e de se criar um currculo vivo,
contextualizado, crtico (FREIRE, 1996) era trazida ao primeiro plano.
Ao longo de todo o percurso pude perceber que tais reflexes faziam
sentido para escolas de diferentes condies regionais, sociais,
administrativas, econmicas. O desenvolvimento de experincias de
protagonismo juvenil, onde o jovem pudesse trabalhar em projetos socais reais,
era compreendido como uma das possveis estratgias para se buscar a
qualidade da educao pretendida e guiada pela compreenso do texto da
LDB.
No entanto, pude perceber tambm que a unanimidade sobre
considerar tais questes fundamentais para a formao inicial trazia consigo
divergncias intrnsecas prpria concepo conceitual. Como pontua
Carvalho, citando Azanha (CARVALHO, 2013), h diferenas na compreenso
do que seja formar para a cidadania. Da mesma forma, deve haver diferenas
para o que ser solidrio. A unanimidade aparente pode responder a
intenes diversas, revelando um tenso jogo de poder entre manter o status
quo, por meio do reforo de uma postura acomodada de cidadania, ou propor
uma educao crtica, que visa emancipao. As contradies e a riqueza da
diversidade sentidas ao longo desses anos me motivaram a voltar academia,
a um Programa de Doutorado em Educao: Currculo, para procurar
compreender a educao enquanto qualidade de formao para a
solidariedade e a cidadania8.
8 Impulsionados por outra concepo de contribuio para a qualidade da educao, a diretoria
do Faa Parte e parceiros fundaram o Todos Pela Educao, em 2006 organizao social que visa concentrar seus esforos no estabelecimento, acompanhamento e desenvolvimento de programas para o cumprimento de metas estabelecidas de qualidade relacionadas ao fluxo, desempenho e gesto de processos e recursos para a educao bsica.
O Faa Parte mantm suas atividades, porm com atuao reduzida. O Selo Escola Solidria foi encerrado em sua quinta edio. Em nota, o Instituto informou que em 2013, ao completar 10 anos, sero reconhecidas as escolas que participaram de quatro ou das cinco edies.
18
2. Contextualizao
Vivemos um momento marcado por avanos cientficos e tecnolgicos
que mudaram as relaes de tempo, espao, produo e convvio. Nunca
antes o mundo havia experimentado a convivncia planetria, o recebimento
da informao em tempo real, o estar de maneira virtual. Esta configurao
incita novos arranjos. Nunca antes na histria a humanidade teve acesso a
tantos conhecimentos, tcnicas, informaes e ferramentas de maneira to
disponvel. No entanto, tais caractersticas tm propiciado o desenvolvimento
humano9?
Segundo um estudo desenvolvido pelo psiclogo evolucionista da
Universidade de Harvard, Steven Pinker (2012), a humanidade tem
abandonado as prticas de sacrifcios humanos e mtodos cruis de execuo
como a fogueira, a crucificao e a empalao, comuns na idade medieval, e
adotado uma postura mais pacifista nos ltimos sculos. Ele demonstra a
queda no nmero de mortes por guerras, genocdios, terrorismo, que o autor
atribui ao fato de o homem ficar mais inteligente, utilizando a variao mdia do
teste de raciocnio lgico para comprovar sua hiptese. No entanto, em sua
obra Como a mente funciona (Idem, 1999), atribui inteligncia humana o fato
do homem buscar estratgias de sobrevivncia. A primeira delas identificada
na teoria da Evoluo das Espcies, de Charles Darwin, foi a de estabelecer
um relacionamento cooperativo, baseado na reciprocidade mtua, para a
proteo do grupo e da espcie10.
Se considerarmos esses trs fatores, o acesso ao conhecimento
culturalmente acumulado de forma mais intensa pelo uso das TICs, a
globalizao (comunicao, produo e consumo) e que o homem busca a
sobrevivncia, a tendncia de no extermnio pode estar na complexidade
dessa relao, uma vez que os interesses ligados prpria subsistncia
depende de conexes planetrias, acordos geopolticos e econmicos, e
9Desenvolvimento humano, compreendido nesta pesquisa como um processo de ampliao
das escolhas das pessoas para que elas possam, por si, criar as oportunidades para serem aquilo que desejam ser (MORI; CASADEI, 2012).
10 Ver Captulo III, Currculo e Solidariedade.
19
sofrem a influncia do predomnio da cultura hegemnica, que continua
tensionando as relaes num jogo de interesses que favorece a desigualdade
social, a fome e a pobreza absoluta, produtos desse sistema poltico, ainda
perverso.
Para Pedro Demo, o desenvolvimento humano est apoiado em dois
pilares fundamentais: o instrumento (produo econmica) e o fim (cidadania).
Neste sentido, o processo educativo pode tender tanto para os fins de consumo
como para os meios de uma formao crtico emancipadora. Ele se constitui a
partir de dois movimentos: o formal, constitudo do manejo da linguagem, dos
meios, da tecnologia, das formas; e o poltico, que diz respeito capacidade
do sujeito se fazer e fazer histria. Ainda que, como ressalva o autor, no se
possam segregar as duas coisas, pois elas no so duas coisas, so as faces
do mesmo todo (DEMO, 1996, p. 14).
O conhecimento e a instruo podem trazer a capacidade de produo,
de insero social, de consumo, mas tambm a competitividade, a explorao,
a manuteno do status quo. Para que isso no ocorra, a aquisio de renda
deve ser compreendida como meio, no como fim, pois preciso considerar a
qualidade da vida em sociedade, o respeito, a convivncia, a liberdade num
processo educativo humanizador.
No entanto, quando analisamos a tendncia educacional dos ltimos
anos, vemos que a busca por qualidade tem sido pautada apenas na aquisio
formal do conhecimento, e no na formao humanizadora. Um dos principais
fatores para esse movimento pode ser atribudo incorporao de testes
padronizados de conhecimento para mensurar a qualidade da educao
oferecida no sistema pblico de ensino. Se, por um lado, essa medida tenha
contribudo para que seja possvel conhecer a qualidade formal da educao,
por outro, a apropriao que se tem feito dos resultados tem reduzido o
conceito de qualidade da educao esfera da instrumentalizao, da
aquisio de conhecimentos tcnicos, formais.
A divulgao de um ranking das escolas, promovendo uma disputa
centrada no bom rendimento no exame e no na qualidade da aprendizagem
dos alunos, pode ser um dos exemplos dessa m apropriao. Alm disso, a
adoo dos testes como principal ou nico parmetro de qualidade para
20
determinar polticas pblicas que priorizem aes para melhorar o desempenho
das escolas pelo estado e, por outro lado, as escolas adequarem o currculo de
forma a melhorar a desempenho nos exames, limitando as prticas curriculares
ao desenvolvimento de atividades que venham a impactar nos resultados,
podem ser outras duas medidas que estejam promovendo o esvaziamento do
conceito de qualidade da educao (FRIGOTTO, 1994).
O objetivo tende a deixar de ser a formao do sujeito histrico-crtico
para ter o fim em si mesmo, o que descaracteriza a prpria educao, que no
se limita a instrumentalizao e metodologia, mas abrange a qualidade formal e
poltica ao mesmo tempo. Neste sentido, esta pesquisa pretende retomar o
conceito de qualidade a partir da formao social, humanizadora, sem
descartar, no entanto, a aquisio e desenvolvimento do conhecimento crtico,
criativo, que favorece a emancipao.
3. O problema, a hiptese e os objetivos da pesquisa
Segundo a coluna de opinio pblica assinada por Juan Carlos
Tedesco no peridico espanhol para docente intitulado Escuela (TEDESCO,
2013), a ONU divulgou recentemente uma declarao sobre educao e
desenvolvimento social, onde denomina as competncias relacionadas
formao tica e solidria como habilidades brandas, em contraponto s
habilidades duras, relacionadas ao aspecto cognitivo. Na mesma perspectiva,
a avaliao externa padronizada, feita em larga escala para avaliar os
sistemas educacionais considera o resultado de testes padronizados em
leitura (portugus) e matemtica como parmetro para determinar as notas das
escolas e tem definido o currculo daquelas que buscam por melhores
resultados. Em alguns estados, o governo oferece aos professores que
atingem as metas estabelecidas bonificaes salariais11 e a cobertura da mdia
11
Segundo informaes divulgadas pelo Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais da Fundao Victor Civita (CIVITA, 2011), sete estados implantaram esse sistema: Amazonas, Cear, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo e So Paulo.
21
nacional e local se encarrega de fazer o ranqueamento das escolas de acordo
com os resultados obtidos. Em meio a esse processo, se, por um lado, h
ganhos no acompanhamento do sistema educacional, os efeitos colaterais
tm se mostrado perversos, como a reduo do currculo, por exemplo, que
passa a ser restringido preparao para os testes. O impacto dessas
medidas e tendncias na compreenso da qualidade da educao recai,
inclusive, sobre a desvinculao da construo do conhecimento tcnico-
cientfico formao tica, solidria. o prprio Tedesco (2013) que afirma:
Se houver a separao entre as chamadas cincias duras e as cincias brandas, haver a preparao do terreno para o
divrcio entre a dimenso cognitiva da tica e da vida emocional das pessoas, o que impede que os alunos, e a sociedade como um todo, percebam a complexa realidade da vida cotidiana que integra aspectos cientficos, sociais e ticos.
A dicotomizao distancia a escola de oferecer uma formao para a
cidadania, prestando-se a centrar seus esforos na preparao dos alunos aos
testes, ao bom desempenho escolar apenas, descartando a formao para a
cidadania. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL, 1996),
em seu artigo 2, define que a educao, dever da famlia e do Estado,
inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Tais princpios
permeiam os parmetros e referenciais curriculares de educao. No texto de
introduo aos Parmetros Curriculares Nacionais, o preparo para o exerccio
da cidadania aponta para a
relevncia de discusses sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categrica de formas de discriminao, a importncia da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de insero sociopoltica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se como espao social de construo dos significados ticos necessrios e constitutivos de toda e qualquer ao de cidadania. (BRASIL, 1997, p. 27)
22
V-se aqui que a educao bsica deve estar fundamentada nos ideais
de solidariedade e tica na cidadania e deve assumir o compromisso de
integrar atividades que permitam aos alunos vivenciar a interveno social e
poltica, dando sentido ao emprego dos conhecimentos tcnicos e cientficos.
Este o problema assumido para esta tese.
Para Carvalho (2013, p. 47-48), ensinar as virtudes pblicas uma
questo formulada h sculos, desde Plato. No entanto, tais virtudes, como a
solidariedade, podem de fato ser ensinadas? Considerando que o processo
formativo deve estar fundamentado nos ideais de solidariedade e deve assumir
o compromisso de integrar atividades que permitam aos alunos vivenciar a
interveno social e poltica, o que esta tese se prope a investigar : se e
como esta formao, articulada entre a preparao para a vida produtiva
(conhecimentos cientficos e tcnicos) e a educao para a solidariedade
(sobretudo a formao tica e cvica), est acontecendo.
A presente pesquisa assume a seguinte hiptese: a experincia de
solidariedade pode contribuir com a prtica curricular, retomando, sobretudo, a
formao social e poltica como condio inerente ao processo educativo, para
alm da aquisio formal dos conhecimentos culturalmente acumulados.
Para isso, o objetivo desta pesquisa estudar, segundo uma
distribuio de amostragem definida qualitativamente, que contribuies,
avanos, ganhos ou retrocessos podem ser percebidos nas e pelas escolas
investigadas quanto ao desenvolvimento da solidariedade enquanto prtica
curricular educativa. Tal abordagem visa construir referenciais que tenham por
princpio e fim a solidariedade e contribuam para a formao para a cidadania e
a construo de uma sociedade democrtica.
So objetivos especficos desta pesquisa:
- contribuir para o debate acerca da solidariedade no mbito da
educao, definindo-a conceitualmente;
- buscar compreender em que medida e como a experincia da
solidariedade pode contribuir com o desenvolvimento da prtica
curricular; e
23
- buscar compreender em que medida e como a experincia da
solidariedade na escola pode ser considerada inerente prtica
curricular.
Pretende-se, como resultado desta pesquisa, contribuir para o debate
acerca da educao de qualidade, retomando, sobretudo, a formao social e
poltica como condio inerente ao processo educativo, para alm da aquisio
formal dos conhecimentos culturalmente acumulados, compreendendo a
solidariedade como prtica curricular educativa.
4. A metodologia qualitativa
Por suas caractersticas intrnsecas, o tema solidariedade12 requer uma
pesquisa de anlise qualitativa.
Para desenvolver este estudo, foi realizada uma pesquisa de campo
junto a quatro escolas, trs da cidade de So Paulo e uma de So Caetano do
Sul, no Estado de So Paulo13.
O estudo qualitativo ganhou espao entre as cincias sociais e
humanas, pois permite a adequao realidade de cada pesquisa, de acordo
com o seu interesse, diferenciando-se em forma e mtodo. Depender do
pesquisador significa que as concepes, valores e conjunto de significados e
objetivos variam caso a caso (CHIZZOTTI, 2008).
12
Fiz um levantamento junto ao Banco de Teses da CAPES (http://capesdw.capes.gov.br) sobre os trabalhos cientficos relacionados ao tema solidariedade. Ao todo foram encontradas 589 ocorrncias. Visando conhecer a produo mais recente, fiz um recorte considerando os ltimos cinco anos (de 2007 a 2011) e encontrei 227 ttulos. Nesta amostragem, observou-se uma maior ocorrncia dos enfoques sociolgico, filosfico, teolgico, econmico, poltico e de direito. Foram encontradas 45 pesquisas no tema da educao. H pesquisas nas reas de educao superior, educao do campo, educao no formal, educao profissional, educao especial, formao de professores, direitos humanos, sade, arte, literatura, educao fsica, novas tecnologias, entre outros, vinculadas aos saberes ticos, tcnicos, pedaggicos, comunicacionais, de gesto, entre outros. Pode-se perceber uma tendncia em se considerar a solidariedade como fator de promoo de um ambiente colaborativo de aprendizagem. Uma delas trata da questo da solidariedade visando a formao em valores. uma pesquisa qualitativa, terica, ou seja, no h pesquisa de campo, e se props a elaborar o conceito principalmente pela teoria da complexidade e a tica.
13 As escolas sero apresentadas no captulo I, Percurso Metodolgico.
http://capesdw.capes.gov.br/
24
A anlise qualitativa permite o envolvimento com o tema, respeitando
as particularidades e diversidades que o estudo sobre as relaes sociais
merece. O pesquisador torna-se um ator durante o processo, na medida em
que participa, interage, acompanha, recorta, compreende e interpreta os dados
de acordo com suas inquietaes.
H uma interao direta entre o objeto e a subjetividade do sujeito. O
conhecimento, portanto, no se reduz a um rol isolado de dados, pois o
pesquisador pode considerar os fenmenos que influenciam o objeto.
Os pesquisadores que adotaram essa orientao se subtraram verificao das regularidades para se dedicarem anlise dos significados que os indivduos do s suas aes, no meio ecolgico em que constroem suas vidas e suas relaes, compreenso do sentido dos atos e das decises dos atores sociais ou, ento, dos vnculos indissociveis das aes particulares com o contexto social em que estas se do. (CHIZZOTTI, 1991, p. 63)
Em cincias humanas, os fatos no so estanques, uma vez que os
objetos de estudo pensam, agem e reagem, assim como o pesquisador, que
igualmente exerce influncia durante a pesquisa (LAVILLE; DIONNE, 1999, p.
33).
A complexidade do conceito e as restries exigidas pela metodologia
cientfica fizeram da tese, seus recortes e instrumentos, um desafio constante,
que me propus a enfrentar mesmo diante das dificuldades da mensurao de
resultados.
O erro tpico cometido nas pesquisas sociais refere-se tendncia de reduzir o relevante ao testvel. [...] Seria uma distoro grosseira imaginar inexistente ou irrelevante aquilo que no conseguimos captar de modo experimental. Se h uma falha, ela estaria no mtodo de captao, no na realidade. , pois, uma violncia contra a realidade pressupor que s interessa sua face emprica. Diria inclusive que, na realidade social, raramente o mais relevante
coincide com o mais testvel. (DEMO, 1985, p.9)
25
Para desenvolver este estudo, optei por fazer uma pesquisa terica e
emprica14, analisando escolas de diferentes redes de ensino e contextos,
buscando compreender a prtica curricular.
Esta tese est organizada de acordo com a seguinte estrutura: o
Captulo I traz o percurso metodolgico e apresenta quais foram os critrios
utilizados para a escolha das escolas participantes da pesquisa, os
instrumentos de coleta de dados, como eles foram empregados e as escolas;
os Captulos II e III so tericos, sendo que o primeiro deles traz uma
construo terica sobre o conceito de solidariedade e o segundo diz respeito
solidariedade no contexto da educao, fundamentalmente no currculo da
educao bsica; e o Captulo IV apresenta os dados e os analisa, costurando
o que pode ser observado e aprendido com os sujeitos da pesquisa luz dos
tericos aportados neste estudo.
14
Esta pesquisa foi submetida ao Cdigo de tica, nmero CAAE 14483113.5.0000.5482.
26
CAPTULO I
27
PERCURSO METODOLGICO
A inteno de fazer uma pesquisa que resgatasse elementos para
elucidar e compreender questes relacionadas solidariedade como prtica
educativa e, portanto, prtica curricular, foi amadurecendo ao longo do trajeto
da pesquisa, na medida em que se desenvolvia o estudo terico sobre a
solidariedade e o currculo. Os autores escolhidos para embasar teoricamente
esta pesquisa (captulos III e IV) tm como ponto de convergncia a
abordagem humanizadora da educao, a formao tica e emancipadora
como paradigma orientador de educao.
Procuramos, com esta pesquisa, identificar como escolas de diferentes
contextos socioeducativos definem solidariedade, como ensinam seus alunos a
serem solidrios e como a adotam na prtica curricular.
Na investigao, nosso olhar centrou-se nos principais aspectos, tanto
nos momentos das entrevistas como nos contatos abertos com as escolas,
luz do referencial terico, que foi construdo junto com o acompanhamento nas
escolas, buscando encontrar pontos de convergncia, divergncia ou
complementao que pudessem servir de guia para alocar os diferentes
aspectos mais frequentemente nas falas dos sujeitos da pesquisa, como
blocos, indicadores das subcategorias de anlise.
O objetivo desta manipulao propiciar uma apreciao dialgica
entre as falas dos atores com as observaes e impresses colhidas junto s
escolas e s consideraes dos pesquisadores, luz dos autores
selecionados.
Nas consideraes finais desta pesquisa buscamos desenvolver
provisoriamente algumas reflexes quanto prtica curricular, vasta
compreenso sobre solidariedade, formao para a cidadania, visando
colaborar para o debate acerca da qualidade da educao real e desejada.
Para a coleta de dados foram utilizados trs recursos: a aplicao de
um questionrio para um mapeamento inicial, as entrevistas semi-estruturadas
28
e o acompanhamento s escolas em um processo investigativo que se
estendeu durante o ano letivo de 2012 at o incio de 2013.
No transcorrer da coleta de dados, procuramos fazer com que os
participantes se sentissem beneficiados, seguindo alguns critrios: a)
desenvolver a pesquisa junto a escolas que responderam voluntariamente ao
questionrio; b) as entrevistas foram negociadas previamente com cada
participante; c) as entrevistas foram gravadas e transcritas a posteriori,
procurando no desviar a ateno nem do pesquisador, nem do participante; e
d) no caso dos eventos solidrios na escola, a participao foi realizada de
acordo com a proposta sugerida pela escola, respeitando o universo de
atuao de cada uma delas.
Para que esta pesquisa atingisse o objetivo de estudar a solidariedade
enquanto prtica educativa, procuramos selecionar um pequeno universo de
escolas distintas entre si e que apresentassem o desejo, demonstrassem o
interesse em serem escolas que oferecem uma educao como prtica
solidria. Neste sentido, procuramos escolas que apresentassem as seguintes
caractersticas: a) serem escolas que participaram ou receberam o Selo Escola
Solidria, ao menos nas trs ltimas edies (2007, 2009 e 2011); b)
comporem, entre si, uma diversidade de escolas de diferentes redes
administrativas (rede pblica estadual, municipal e particular); c) serem de
realidades socioeconmicas distintas; d) apresentarem entre si diferenas em
relao ao nvel de ensino trabalhado (Ensino Fundamental I, Ensino
Fundamental II, Ensino Mdio e profissionalizante); e) terem atividades
solidrias previstas no Projeto Poltico Pedaggico da escola.
Para se chegar a essas escolas, adotamos como medida inicial uma
pesquisa no banco de projetos, disponvel na web, que apresenta as escolas
que j receberam o Selo Escola Solidria e seus projetos15.
Para partir de um universo de 23.690 escolas, fizemos inicialmente o
recorte por localidade. No Estado de So Paulo, onde desenvolvemos esta
15
A justificativa da seleo das escolas ser apresentada ainda neste captulo. Basicamente, o Selo Escola Solidria rene, em um nico banco de dados, milhares de prticas curriculares de escolas de todo o Brasil, da rede pblica e particular, que trabalham com atividades e projetos voltados para a formao acadmica e cvica de forma articulada.
29
pesquisa, 4.403 escolas receberam o Selo Escola Solidria, sendo 2.179 da
rede estadual, 1.256 da municipal, 967 so particulares e 1 federal.
No entanto, uma vez que decidimos desenvolver a pesquisa
presencialmente, optamos por reduzir o nosso universo de pesquisa para as
escolas da cidade de So Paulo (557 escolas) e regio do chamado ABC
paulista, composta pelas cidades de Santo Andr, So Bernardo do Campo e
So Caetano do Sul (145 escolas). Assim, o nosso universo de escolas passou
para 702 instituies. Como ainda o recorte inviabilizava a pesquisa, um
segundo critrio foi adotado: selecionar escolas que tivessem participado das
trs ltimas edies do Selo Escola Solidria, visando encontrar aquelas que
tivessem inserido a proposta na prtica curricular h mais de cinco anos e que
tivessem participado das edies mais recentes do Selo Escola Solidria.
Assim, chegamos a 53 escolas, sendo 48 na cidade de So Paulo (37 da rede
particular, 6 da rede pblica estadual, 3 da rede pblica municipal e 2 do ensino
tcnico e profissionalizante) e 5 na regio do Grande ABC (sendo 3 em So
Caetano do Sul, 1 da rede municipal e 2 particulares, 1 municipal em So
Bernardo do Campo, da rede particular).
Para essas escolas foi enviado um email de apresentao do projeto
da pesquisa e o questionrio. Quinze escolas responderam voluntariamente
dentro do prazo de um ms solicitado. A partir da anlise da resposta ao
questionrio, chegamos s quatro escolas participantes, trs da cidade de So
Paulo e uma cidade de So Caetano do Sul. Os critrios utilizados para a
seleo destas escolas foram: 1) garantir, na mostra final, escolas de todas as
redes de ensino; 2) nmero de participao em edies do Selo Escola
Solidria; 3) ter respondido ao questionrio de forma completa e adequada; 4)
aceitar participar voluntariamente da pesquisa.
O primeiro contato foi estabelecido por email, para informar escola
que ela estava dentro do perfil ideal para seguir na pesquisa, caso tivesse
disponibilidade e interesse. As quatro escolas aceitaram continuar no processo,
o que nos levou a agendar a primeira reunio para conhecer as escolas. A
partir da, com a pesquisa apresentada e aprovada, agendamos as entrevistas
semi-estruturadas com os sujeitos indicados pelas escolas.
30
A Escola1 fica localizada em So Caetano do Sul, municpio da
mesorregio metropolitana de So Paulo16. A populao aferida em 2009 foi de
152.093 habitantes e a rea total da cidade de 15,3 km, o que resulta numa
densidade demogrfica de 9.430,8 habitantes por quilmetro quadrado. (SO
CAETRANO DO SUL, 2012)
a cidade com o melhor IDH do Brasil (PNUD, 2000) e tambm est
em 47 posio em relao ao PIB das cidades brasileiras (IBGE, 2010a). A
taxa de alfabetizao do municpio de 99,67%, sendo uma das trs cidades
do Estado de So Paulo17 que recebeu o Selo Municpio Livre de
Analfabetismo, conferido pelo MEC para cidades que atingiram mais de 96%
de alfabetizao. A rede de escolas municipais atende aproximadamente a
13.000 alunos em 19 escolas de Ensino Fundamental e Ensino Mdio. Em
2007, a Prefeitura municipalizou 10 escolas de Ensino Fundamental, somando,
portanto, mais 6,5 mil alunos, aproximadamente. Alm disso, nove escolas da
rede estadual instaladas em So Caetano recebem investimento da Prefeitura
para sua manuteno e modernizao. Quanto gesto, Paulo Pinheiro, do
Partido do Movimento Democrtico Brasileiro (PMDB), o atual prefeito e o
Secretrio Municipal de Educao o Professor Daniel Belluci.
As Escolas 2, 3 e 4 ficam na cidade de So Paulo, que possui a rede
de ensino com o maior nmero de escolas do Brasil, tanto da rede municipal
quanto da estadual, constituda por 2.725 estabelecimentos de Ensino
Fundamental, 2.998 unidades pr-escolares, 1.199 escolas de nvel mdio e
146 instituies de nvel superior. Ao total, so 2.850.133 matrculas e 153.284
docentes registrados (WIKIPEDIA, 2013). A cidade atingiu exatamente a meta
projetada para o IDEB, de 5.1 em 2011. O ndice mede a proficincia em lngua
portuguesa e matemtica, cruzando com o fluxo adequado de alunos por srie.
Segundo o IBGE (2010b), a populao de So Paulo, aferida em 2010,
de 11.253.503 habitantes, sendo que 99,1% da populao urbana e 37,1%
da populao tem idade inferior a 24 anos. A taxa de analfabetismo 4,9%
16
A cidade de So Caetano do Sul compe o ABC paulista, formada ainda pelas cidades de So Andr e So Bernardo do Campo.
17 Alm de So Caetano do Sul, tambm receberam o Selo Municpio Livre de Analfabetismo
as cidades de guas de So Pedro (2,94%) e Santos (3, 56%).
31
entre a populao de 15 anos ou mais. Em 2013, o governador do Estado
Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e o
Secretrio Estadual de Educao de seu mandato o Professor Herman
Voorwald. J na cidade de So Paulo, o prefeito do Partido dos
Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, Ex-Ministro da Educao (entre julho
de 2005 e janeiro de 2012, nos governos de Luiz Incio Lula da Silva e Dilma
Rousseff), e o Secretrio Municipal de Educao o professor Csar Callegari,
cujo ltimo cargo assumido foi o de Secretrio de Educao Bsica no atual
governo federal (Governo Dilma Rousseff).
1. Apresentao das escolas da pesquisa
Escola 1 Escola da Rede Pblica Municipal de Ensino
Localizao: Bairro Mau, So Caetano do Sul, So Paulo. Dependncia administrativa: rede pblica municipal Ano de fundao: 1967 Nmero de professores: 160 Nmero de alunos: 2.400 Nvel de ensino: Ensino Fundamental I e II, Ensino Mdio Regular e Tcnico. Mdia no IDEB para Ensino Fundamental I em 2011: 7,2. Mdia no IDEB para Ensino Fundamental II em 2011: 5,7. Mdia no ENEM em 2011: 618,27 Selo Escola Solidria: 2003, 2005, 2007, 2009, 2011. Escola-membro do Programa de Escolas Associadas UNESCO PEA18 desde 2003.
Escola 2 Escola da Rede Pblica Estadual de Ensino
Localizao: Parque Naes Unidas, Jaragu, So Paulo. Dependncia administrativa: rede pblica estadual Ano de fundao: 1988 Nmero de professores: 32 Nmero de alunos: 887 Nvel de ensino: Ensino Fundamental I Mdia no IDEB para Ensino Fundamental I em 2009: 5,7. Mdia no IDEB para Ensino Fundamental I em 2011: 5,7. Selo Escola Solidria: 2005, 2007, 2009, 2011.
18
O PEA Programa das Escolas Associadas da UNESCO ser apresentado mais frente, neste Captulo.
32
Escola 3 Escola da Rede Particular
Localizao: Alto de Pinheiros So Paulo So Paulo. Dependncia administrativa: rede particular Ano de fundao: 1953 Nmero de professores: 250 Nmero de alunos: 2.953 Nvel de ensino: Educao Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Mdio Selo Escola Solidria: 2003, 2005, 2007, 2009, 2011.
Escola 4 Escola da Rede Particular tcnica e profissionalizante
Localizao: Ipiranga, So Paulo, So Paulo. Dependncia administrativa: rede SENAI Ano de fundao: 1949 Nmero de alunos: 431 Modalidade de Ensino: Educao Profissional e Tcnica Selo Escola Solidria: 2005, 2007, 2009
1.1 Escola1 Escola da Rede Pblica Municipal de Ensino
Localizada no Bairro Mau, na cidade de So Caetano do Sul, a
Escola1 foi fundada em 1967. Em 1978, ela passou a ser uma autarquia, mas
voltou a ser incorporada rede municipal em 2004. A escola possui 160
professores e 2.400 estudantes; esse grupo que compreende alunos do
Ensino Fundamental I e II, Ensino Mdio regular e tcnico est dividido em
trs perodos letivos. Pelo ensino tcnico, com durao de trs semestres, a
escola oferece cursos como: Secretariado, Publicidade, Informtica,
Contabilidade e Administrao. O trabalho realizado pela escola visa promover
a potencialidade e o talento dos alunos, integrando a educao ao trabalho e
prtica social, para o exerccio da cidadania.
A Escola1 obteve mdia 6,7 no IDEB em 2009 e 7,2, em 2011, para
alunos das sries iniciais do Ensino Fundamental. O resultado superior
mdia nacional para os anos iniciais do Ensino Fundamental para 2011 (4,0) e
ultrapassa a meta nacional para 2021 (6,0).
33
Seu rendimento foi abaixo do esperado para o Ensino Fundamental II,
tendo 6,7 em 2009 e 5,7 em 2011. Mesmo assim, a escola est acima da
mdia nacional prevista para 2011 (4,1). Ainda em 2011, a nota tirada no
ENEM foi de 618,27 pontos e cresceu em relao ao ano anterior, quando os
alunos conquistaram nota 589,89 a nota mdia entre as escolas do Pas com
participao superior a 75% dos alunos no ENEM foi 599 pontos. (SO
CAETANO DO SUL, 2012)
A direo v a formao dos professores como um dos fatores que
contribui para a qualidade do ensino. Todos os professores tm formao
superior e lecionam na disciplina em que so formados, sendo que
aproximadamente 20% so mestres. Alm disso, a rotatividade baixa, a
maioria trabalha h mais de dez anos nessa escola, como afirma CPE119: aqui
os professores so participativos, elitizados, bem formados, ns temos dez,
doze mestres... Todos so formados na rea que est dando aula. Isso
fundamental para a qualidade da escola. Outra questo fundamental que o
professor seja formado na rea em que ele atua.
A Escola1 tem como misso promover a potencialidade e o talento dos
alunos, integrando a Educao ao Trabalho e Prtica Social, para o
verdadeiro exerccio da cidadania e preparao para o mundo produtivo. Os
valores declarados no Projeto Poltico Pedaggico so: respeito sincero ao ser
humano; responsabilidade nas aes; solidariedade; tica; profissionalismo;
esprito de equipe; integridade e honestidade.
A Escola1 uma escola-membro do PEA Programa de Escolas
Associadas da UNESCO, apresentado a seguir, e desde ento se organiza
segundo o Plano Pedaggico anual do calendrio internacional proposto pela
UNESCO e os quatro pilares da educao: aprender a conhecer; aprender a
fazer; aprender a ser; e aprender a conviver. Na escola, o planejamento
pedaggico seguido de acordo com o tema sugerido pelo PEA e os projetos
solidrios desenvolvidos pela escola so repensados de acordo com essa
temtica.
19
CEP1 Coordenador Pedaggico da Escola1.
34
A seguir, apresentamos os quatro principais projetos desenvolvidos
pela Escola1:
Projeto 1: PEA Programa de Escolas Associadas da UNESCO20
O PEA foi criado para estender os objetivos da UNESCO, no ps-
guerra, pelo princpio de educao para a paz. Embora o Brasil tenha
participado de sua criao, somente em 1997 o Programa se efetivou e, desde
ento, o nmero de escolas associadas quase triplicou, chegando a 221
escolas, das redes pblicas e particulares, dos estados de Alagoas, Amazonas,
Bahia, Cear, Esprito Santo, Gois, Maranho, Minas Gerais, Par, Paraba,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e So Paulo e do Distrito
Federal. (PEA, 2013)
O objetivo do PEA criar uma rede internacional de escolas que
trabalhem pela ideia da cultura da paz. Atualmente, a rede formada por
escolas em mais de 130 pases. O Programa consiste, basicamente, no
estmulo a projetos ligados a um tema central, proposto pela UNESCO
anualmente21.
Cada uma delas recebe um certificado internacional de escola membro
e tem o direito de utilizar a logomarca. Elas ainda podem receber materiais
eventual ou periodicamente produzidos pela UNESCO e participar de
concursos internacionais lanados com frequncia pela prpria UNESCO ou
outras instituies a ela ligadas. O principal benefcio participar de uma
comunidade que trabalha pelo mesmo objetivo, troca informaes, compartilha
projetos e ideais. Isso catalisa os esforos e repercute nas escolas, em todas
20
Entre os principais parceiros do PEA e da UNESCO est o Instituto Faa Parte.
21 Anos Internacionais (UNESCO, 2013):
2013 - Ano Internacional da gua e da Matemtica do Planeta Terra 2012 - Ano Internacional das Cooperativas (Resoluo 64/136) 2011 - Ano Internacional da Qumica e Florestas 2010 - Ano Internacional para a Aproximao das Culturas e da Biodiversidade 2009 - Ano Internacional da Reconciliao, Astronomia e do gorila 2008 - Ano Internacional do Planeta Terra e Lnguas 2005 - Ano Internacional do Desporto e Educao Fsica 2004 - Ano Internacional para a Comemorao da luta contra a escravido e sua abolio 2003 - Ano Internacional da gua doce
35
as suas formas de trabalho pedaggico pela cultura de paz. No h
investimentos de qualquer ordem, quer seja por parte da UNESCO, quer seja
por parte das escolas.
Todo ano, a Escola1 segue o calendrio proposto pela UNESCO como
eixo temtico para realizar as atividades pedaggicas. O projeto das
cooperativas, em 2012, teve como objetivo geral desenvolver aes
educacionais para propiciar a construo de uma nova mentalidade nos alunos
pelo princpio do cooperativismo. Como objetivo especfico, pretendeu-se
construir com os alunos o conceito de cooperativa, intensificar o interesse e a
mobilizao dos jovens em relao s cooperativas, sensibilizar a comunidade
em prol do papel das cooperativas, criar situaes prticas de aprendizagem
para que se pudessem atuar no meio em que vivem e estruturar um frum
entre alunos, professores e a comunidade.
Como meta, pretendeu-se desenvolver os projetos com todos os
alunos da escola, trabalhar os contedos conceituais, procedimentais e
atitudinais, relacionados, sobretudo, s disciplinas de Biologia, Qumica,
Histria, Geografia, Filosofia, Matemtica, entre outras, para entender os
elementos indispensveis para a compreenso global e organizar um frum de
fechamento com a comunidade.
Reunies com a participao de professores de todas as disciplinas,
coordenadores, direo, alunos, pais e colaboradores foram feitas para
organizar o projeto.
Entre as atividades desenvolvidas constava a participao dos alunos
em visitas a cooperativas da regio do ABC Paulista, incluso do tema na
gincana solidria do Ensino Mdio, construo de um trabalho acadmico por
parte dos alunos, bem como vdeos e fotos das cooperativas. Esse trabalho foi
armazenado num blog que os alunos apresentaram para os professores;
continuidade do projeto cientista solidrio, que inclui a produo de sabo e
detergente para a distribuio em instituies de cunho social; campanhas de
esclarecimentos sobre a importncia das cooperativas para a comunidade.
36
Todos os projetos, a gente faz questo, esto direcionados para o ano
internacional das cooperativas. A gente tem um projeto e no final do ano eles
tm que apresentar um TCC, afirma a escola.
Em relao aos resultados, espera-se no Plano Pedaggico do projeto
da UNESCO que o trabalho entre os professores seja mais colaborativo, que
eles estejam abertos aprendizagem e menos resistentes a mudanas e
inovaes. Por parte dos alunos, espera-se uma postura mais atenta,
participativa e crtica. A comunidade tambm convidada a participar de
diferentes maneiras, entre as atividades especficas dos projetos e por meio
dos fruns organizados como espaos democrticos de ideias,
aprofundamento da reflexo, formulao de propostas e troca de experincias.
Projeto 2: Gincana Solidria
A Gincana Solidria uma atividade que acontece desde 1989, todos
os anos, e envolve praticamente todos os alunos do Ensino Mdio e tambm
alunos do Ensino Fundamental. O projeto interdisciplinar, sendo o tema
gerador o proposto pelo calendrio internacional da UNESCO, do qual
participam, praticamente, todas as disciplinas.
A Gincana comea no incio do ano letivo. curricular, sendo que no
h atribuio de notas. No incio do ano so oferecidas aulas especiais,
coletivas; h mostra de vdeos e materiais produzidos nas edies anteriores.
So convidados especialistas para debater sobre o tema da Gincana do ano
vigente. Alm disso, so apresentadas todas as atividades que podero ser
desenvolvidas e os alunos so divididos em grupos que variam entre 5 ou 6
turmas (de 150 alunos, aproximadamente), para poderem se organizar e fazer
o planejamento tanto das atividades, quanto do contedo que tero que
estudar para a realizao das tarefas. As pesquisas so orientadas pelos
professores, que do subsdios, orientam, avaliam, trabalham os contedos
escolhidos durante as aulas e tambm em atividades nos laboratrios. Todo
esse processo dura, em mdia, trs meses.
37
A etapa seguinte um frum pblico, do qual participam os alunos, os
professores e a comunidade. Nesse momento, tanto a pesquisa quanto as
atividades so discutidas com todos.
A ltima fase compreende a realizao das tarefas da Gincana. Tudo
feito pelos alunos, com material reciclado que precisam coletar ao longo do
ano. Entre as atividades, destacam-se a campanha de arrecadao de
alimentos e produtos de higiene junto comunidade e a campanha de doao
de sangue, que juntas somam pontos para a equipe responsvel.
No dia da Gincana, h uma prova de conhecimentos gerais organizada
pela direo e professores da escola, da qual participam os alunos
selecionados pelos grupos e um pai convidado. Para animar e envolver os
alunos que esto apenas acompanhando os resultados da prova de
conhecimentos gerais, o grupo precisa criar um hino de torcida (letra e msica),
um mascote (personagem com fantasia) e um banner de fundo (com
aproximadamente 7 metros de altura por 2 de largura).
Alm disso, o grupo precisa criar uma pea de teatro sobre o tema
gerador que ser apresentada no dia da Gincana: roteiro, figurino, cenrio,
texto, direo, trilha sonora e uma apresentao de dana (ritmo e tema livres).
Ao final, a equipe vencedora recebe o ttulo de campe do ano.
Toda a ligao da Gincana Solidria est imbricada na questo do
trabalho solidrio. um espao de trabalho colaborativo, onde os alunos
precisam negociar a realizao de tarefas como relacionadas a pesquisa,
teatro, dana, tudo relacionado ao tema que eles tm que desenvolver.
Projeto 3: Cientista Solidrio
A escola compreende que, entre os maiores desafios da aprendizagem
de cincias e tecnologia no Ensino Mdio, est a aprendizagem individual e
coletiva do aluno para a iniciao cientfica. Para a escola, o aprendizado das
cincias, alm de promover aprendizagem do conceito e a capacidade de
utilizar frmulas, pretende desenvolver atitudes e valores por meio da prtica
de atividades, tais como discusses, leituras, observaes, experimentaes e
projetos cientficos. A ideia desafiar o aluno para o jogo do conhecimento
38
cientfico, que deve desenvolver seu interesse pela pesquisa e sua capacidade
de raciocnio e autonomia.
Neste sentido, o projeto tem como objetivo ampliar as aquisies das
habilidades por meio da iniciao cientfica; promover aes que permitam ao
aluno vivenciar estudos cientficos em ambientes colaborativos e solidrios,
buscando projetar suas aes no campo do desenvolvimento social; gerar
novas formas de participao do cientista social com compromisso tico e
solidrio com a cidadania, promovendo a sade, a preservao do meio
ambiente, a incluso social e, ainda, gerar qualidade de vida para todos;
introduzir na rotina escolar a experimentao cientfica em laboratrio;
aprimorar as tcnicas da pesquisa cientfica, referendando-as como
instrumento legtimo da aprendizagem; promover aes articuladas entre os
alunos da escola com alunos do Ensino Mdio do Brasil e do mundo, por meio
das tecnologias; selecionar e utilizar ideias e procedimentos cientficos (leis,
teorias, modelos) para a resoluo de problemas, selecionando procedimentos
experimentais.
O projeto tem como meta promover aes no contraturno, ampliando a
permanncia do aluno no Ensino Mdio, de forma a incentivar a pesquisa
cientfica e a solidariedade. Alm disso, pretende responder demanda de
alunos com problemas de aprendizagem (alunos da escola e de outras escolas
da comunidade), elaborar aes de conscientizao das pessoas quanto ao
uso proposital e enganoso de conhecimentos das cincias e criar eventos que
discutam questes sobre, por exemplo, a relao entre o meio ambiente, o
consumo exagerado e a funo dos cientistas.
O grupo de estudos de monitoria com alunos de outras escolas
acontece aos sbados. A proposta estudar contedos curriculares, produzir
redao, elaborar artigos, entre outras atividades. O desenvolvimento do
pensamento crtico estimulado quando os jovens so provocados a agir como
detetives, procurando em jornais, TV, filmes e demais produtos, afirmaes
ou aes que, deliberadamente, usam os conhecimentos da cincia para
enganar o consumidor.
H trs anos, sob nova coordenao, o projeto foi reorganizado e teve
uma continuidade com um grupo de alunos e professores das disciplinas de
39
Qumica, Matemtica e Sociologia, tendo como objetivo a aprendizagem de
conceitos de Qumica e Matemtica relacionados questo da solidariedade,
abordada na disciplina de sociologia. Os alunos, junto com o professor, utilizam
o laboratrio da escola para a confeco de sabo, sabonetes, shampoo, entre
outros produtos, para fazer aulas experimentais de Qumica. Posteriormente,
eles calculam o preo (utilizando os conhecimentos de Matemtica) e, por fim,
parte dos produtos levada pelos alunos e outra doada para instituies por
eles escolhidas. Esse trabalho final acompanhado pelo professor de
Sociologia.
Conceitos de Qumica, tais como mistura, soluo (slida, lquida,
gasosa, molecular, inica) reaes, disperses, o processo de dissoluo,
coeficiente de solubilidade, cidos e bases, entre outros, so estudados. Em
Matemtica, so trabalhados conceitos como o de porcentagem, matemtica
financeira, clculo de preo, noo de custo fixo, noes de estatstica. Em
relao s questes sociais, so trabalhadas e desenvolvidas noes de
participao social.
Projeto 4: Projeto Mais Vida
O projeto uma parceria entre a Escola1 e o Parque Botnico e Escola
Municipal de Ecologia Presidente Jnio da Silva Quadros. O Parque foi
fundado em 25 de abril de 1992 e uma referncia em educao ambiental
para a cidade e a regio. Ocupa uma rea de 23 mil metros quadrados, com
exposio de espcies da fauna (aves e peixes) e flora (plantas ornamentais,
medicinais, txicas, carnvoras, frutferas, rvores nativas e exticas)
brasileiras. Abriga tambm a Sementeira Municipal, que produz mudas para
abastecer os jardins, parques e paisagismo da cidade.
O projeto comeou em 2000, quando a ento coordenadora dos
projetos solidrios, numa visita ao parque, soube que eles gostariam de
receber alunos das escolas municipais para visitao, mas no podiam faz-lo
por falta de monitores. Naquela ocasio, ela teve a ideia de oferecer ao parque
que alunos do Ensino Mdio poderiam se interessar por trabalhar
voluntariamente no contraturno escolar e a proposta foi bem recebida.
40
O projeto comeou com a capacitao dos alunos e a organizao do
trabalho. Cada aluno participante se responsabilizava por duas horas de
monitoria direta ao pblico, alm da participao dos encontros de capacitao
e planejamento das atividades.
A abertura do parque para visitas monitoradas possibilitada pela
parceria foi to bem recebida pela Secretaria Municipal de Educao que
incluiu a visitao no roteiro das EMEIs (Escola Municipal de Educao Infantil)
e EMIs (Escola Municipal Integrada) da cidade. Conforme a necessidade das
escolas, atividades ldicas, prticas e criativas, para melhorar o
aproveitamento das visitas, foram desenvolvidas pelos prprios alunos com a
orientao da coordenadora pedaggica do Parque e a coordenadora da
escola.
Entre as aes desenvolvidas como desmembramento desse projeto,
destaca-se o grupo de teatro e o Encontro de Educadores Ambientais que
reuniam educadores, estudantes, profissionais e especialistas da rea
ambiental para trocar informaes e experincias sobre preservao de
recursos naturais da cidade de So Caetano do Sul e do Estado de So Paulo.
Tambm foi criada uma brinquedoteca no parque com materiais de
sucata arrecadados pela escola numa grande campanha promovida pelos
alunos voluntrios. O objetivo da brinquedoteca era o de ser um espao ldico
de aprendizagem e entretenimento, alm de oportunizar o desenvolvimento de
atividades dirigidas, inclusive nos dias chuvosos. Ao final do ano, os voluntrios
envolvidos recebiam um certificado pela participao no projeto. Os que
continuavam, capacitavam os que estavam ingressando e, nessa configurao,
o projeto se estendeu por oito anos, at a sada da coordenadora da Escola1.
Hoje, o projeto consta da proposta pedaggica, mas est hibernando,
segundo o coordenador pedaggico.
1.2 Escola2 Escola da Rede Pblica Estadual de Ensino
A Escola2 foi construda em 1988, ainda com nome provisrio, para
atender o crescimento da demanda de alunos, pois s havia uma escola no
local e estava superlotada. Esse excedente de alunos comps o seu corpo
41
discente. Foram convidados professores que residem na regio para formar o
quadro de professores.
Quando inaugurada, a escola contava com quatro salas de aula,
banheiros masculino e feminino para os alunos e professores. A diretoria, a
secretaria e os professores dividiam a mesma sala. Havia tambm a cozinha,
que a mesma at hoje.
Em 1990, a escola foi nomeada em definitivo, uma homenagem ao
fundador de uma empresa da regio que colabora com esta escola. Com o
crescimento da demanda, em 1991 a escola teve que ser ampliada. Foi
construda uma sala, ocupando parte do ptio. Em 1996, com a reorganizao,
a escola passou a funcionar em dois perodos; antes, funcionava em quatro
perodos, atendendo apenas a alunos das sries iniciais (Ciclo I).
A escola atende a quase 900 alunos e tem um quadro de 32
professores. Segundo a Coordenadora Pedaggica (CPE2), todos so
formados e baixa a rotatividade, o que compreendido como um dos fatores
de qualidade da execuo do projeto pedaggico: ns temos 32 professores,
pelo menos 20 tem ps. A maioria dos professores j da casa e esto aqui h
algum tempo. Digamos que 20 professores j esto aqui h muito tempo. [...]
Nossa rotatividade muito pequena e isso garante um padro de qualidade
melhor na educao oferecida. Quanto s instalaes, na parte externa da
escola h uma quadra poliesportiva, atualmente reformada, sala de Educao
Artstica, jardim, horta, playground, uma casinha do conto feita de madeira de
reflorestamento e uma grande parte do terreno acidentado, com rvores de
diversas espcies, sendo que a grande maioria so eucaliptos.
Sobre a comunidade, constatou-se que as famlias, em mdia, residem
no bairro entre 2 a 10 anos e algumas entre 10 e 15 anos. Um grande nmero
da comunidade atendida pela escola mora nos apartamentos do CDHU e
conjuntos habitacionais cedidos pelo Governo do Estado e pela Prefeitura
(movimento iniciado em 1990), alm de 38% possurem casa prpria e 22%
viverem de aluguel.
Quanto mdia de renda familiar: 30% esto desempregados; 10%
ganham at quinhentos reais por ms; 20% recebem mais de mil reais por
42
ms; e 40% ganham at mil reais. Em relao escolaridade: 60% possuem o
Ensino Mdio completo; 30%, o Ensino Fundamental completo; 5% possuem
Ensino fundamental incompleto; e 5%, ensino superior22.
A Escola2 tem como misso construir uma sociedade mais justa,
autntica, solidria e saudvel, na qual os sujeitos sejam mais conscientes dos
acontecimentos gerais. Entre seus objetivos, destaca-se assegurar ao
educando a formao para o exerccio da cidadania e fornecer-lhe meios para
progredir em estudos posteriores; proporcionar o conhecimento do ambiente
natural e social, do sistema poltico, da tecnologia, da arte, do esporte e dos
valores em que se fundamenta a sociedade; fortalecer os vnculos de famlia,
dos laos de solidariedade humana e de tolerncia recproca em que se
assenta a vida social; incentivar a elaborao e implementao de projetos que
possibilitem o aperfeioamento da ao educativa; buscar a interao entre
escola e comunidade de forma contnua, favorecendo a compreenso dos
fatores polticos, sociais, culturais e psicolgicos que se expressam no
ambiente escolar, ficando demarcada pelas atribuies e responsabilidades.
Vale pontuar que a escola est situada na regio de Perus, onde a
questo dos aterros sanitrios23 marcante. O Aterro Bandeirantes se localiza
no sentido SO do Distrito de Perus, j na divisa com o Distrito do Jaragu, local
caracterizado por grandes trechos de reas protegidas do Parque do Jaragu a
oeste e do Parque Estadual da Serra da Cantareira, a leste.
Com uma rea total de 1.400.000m, o Aterro Bandeirantes est
desativado desde maro de 2007, tendo operado durante 28 anos e recebido,
at 2006, cerca de 36 milhes de toneladas de resduos. Nesse perodo,
recebia metade de todo o lixo produzido diariamente em So Paulo. (CALIXTO,
2012)
Esse trabalho j valeu Prefeitura de So Paulo, uma das
participantes do projeto, o equivalente a 800 mil toneladas de crditos de
22
Fonte: Projeto Pedaggico da escola.
23 Aterros sanitrios so locais para onde os resduos slidos urbanos podem ser destinados.
Diferentemente dos lixes (depsitos a cu aberto), nos aterros sanitrios existe toda uma preparao do solo para que no haja contaminao do lenol fretico e das reas de entorno, assim como o monitoramento do ar para que sejam verificadas as emisses de gases provenientes dos resduos ali enterrados.
43
carbono, de acordo com as normas do Protocolo de Quioto (acordo para
reduzir a emisso de gases de efeito estufa), que deve render aos cofres
municipais quantia prxima R$ 40 milhes (PEDROZO, 2008).
No entanto, a populao local no participou do processo decisrio dos
investimentos, recebendo uma parte nfima dos benefcios gerados pelos
contratos: alguns parques revitalizados, alguns mutires de limpeza urbana e
uma cota de energia eltrica. Alm disto, em alguns casos, a populao foi
pressionada a deixar os permetros de interveno dos projetos quando se
encontraram no caminho dos projetos urbano-ambientais (RIZZI, 2011).
O principal projeto desenvolvido pela Escola2 o Projeto Reciclar. O
projeto comeou para se resolver um problema interno da escola. Aps o
recreio, percebia-se que o ptio ficava muito sujo. Mesmo disponibilizando
cestos por todo o ambiente, o lixo era jogado no cho e, por causa disso,
muitos pombos comearam a aparecer.
Buscando resolver tal situao, a coordenao da escola comeou a
conversar com os alunos, mostrando que jogar o lixo no cho no estava certo
e ainda ajudava na proliferao dos pombos, que transmitem doenas.
Aproveitando o momento, a escola comeou a trabalhar de fato a questo do
lixo como um projeto interdisciplinar. A conscientizao comeou com a
exibio da srie O mundo de Valentina24, que trata de questes referentes ao
desenvolvimento sustentvel, consumo consciente, destino do lixo, a vida dos
catadores, a reciclagem e a reutilizao, os aterros sanitrios, entre outros
temas.
As professoras de todas as sries foram estimuladas a incluir, de
acordo com a srie/ano, uma atividade curricular referente reciclagem, de
acordo com o contedo que estivessem desenvolvendo. No 1 ano, os alunos
fizeram listas dos materiais que podem ser reciclados, o que colocar em cada
cesto colorido, confeccionaram cartaz ilustrando o que aprenderam com
24
O Mundo de Valentina uma srie de televiso exibida pela Rede Globo, durante a programao do Fantstico, em junho de 2007. Foram 5 episdios onde o casal de jornalistas Gabriel Moojen e Fran Zanon tentou descobrir como seria o mundo da filha deles, a Valentina, quando ela fizer 36 anos, a idade do pai. A srie trata de meio ambiente e das questes da gua, do lixo, do clima, dos alimentos e do consumo. A srie pode ser assistida na Internet, em vrios canais disponveis no Youtube. (O MUNDO DE VALENTINA, 2013)
44
pequenos textos de produo oral com destino escrito; nos 2 anos, fizeram um
painel "Voc sabia..."; os alunos do 3 ano produziram folhetos explicativos
para distribuir para a comunidade com informaes sobre a importncia da
reciclagem; o 4 ano elaborou snteses, resumos e pesquisas diversas; e o 5
Ano produziu um jornal mural.
Para destinar corretamente o material arrecadado com a reciclagem, a
escola fez uma parceria com uma cooperativa do bairro, que passou a recolh-
lo toda semana. As famlias foram incentivas a separar o lixo em casa e trazer
para a escola, contribuindo com a cooperativa e tambm a educao das
crianas. Com o desenvolvimento do projeto, percebe-se na escola uma melhor
limpeza do ptio aps o recreio. A comunidade est, aos poucos, aderindo ao
projeto e a escola j virou ponto de coleta seletiva do bairro. A cooperativa
reconhece a relevncia do projeto, uma vez que depende da doao das
escolas da regio como principal fonte de entrada de material, portanto, de
renda.
Entre os objetivos da escola em desenvolver esse projeto est a
inteno de se trabalhar com situaes de aprendizagem pensadas a partir de
propostas de interveno na realidade. Segundo o Plano Pedaggico, a escola
busca desenvolver estratgias onde os alunos possam compreender as
consequncias ambientais de suas aes nos locais onde estudam e
convivem, considerando que a soluo dos problemas ambientais deve ser em
mbito local. O projeto envolve a comunidade escolar (professores, alunos,
pais, funcionrios e direo) e a comunidade (empresas, cooperativas,
organizaes sociais e vizinhos), criando um clima de trabalho colaborativo,
baseado na responsabilidade e na solidariedade.
Entre os principais objetivos, destacam-se:
possibilitar aos alunos oportunidades para que modifiquem
atitudes e prticas pessoais, adotando posturas na escola, em casa e em sua
comunidade que os levem a interaes de cuidado e ateno com a sociedade;
observar e analisar fatos e situaes sobre os tipos de lixo do
ponto de vista ambiental, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de
atuar para se produzir menos lixo;
45
instrumentalizar os alunos na compreenso da realidade e na
busca de solues para questes sociais, possibilitando participar dos
problemas fundamentais e urgentes da vida social; e
conscientizar o aluno para a necessidade de pensar na questo
do lixo, na reciclagem, nos comportamentos responsveis de PRODUO" e
"DESTINO" do lixo, na escola, casa e espaos em comum.
1.3 Escola3 Escola da Rede Privada
A Escola3 est situada em um bairro nobre da regio oeste da cidade
de So Paulo e ocupa uma rea de 50 mil m. O atual terreno foi doado em
1953 pela Light de So Paulo. Nessa poca, o bairro era cortado por estradas
de terra e o terreno, localizado na vrzea do Rio Pinheiros, era pantanoso e
isolado, cercado por pastos.
A Escola3 funciona em meio a extensos jardins e reas abertas
destinadas a quadras esportivas e ptios. Possui seis salas de aula para a
Educao Infantil, duas salas especiais de uso comum e um ateli. Para os
alunos do Ensino Fundamental I e II so trinta salas de aula, dez salas
especiais, dois laboratrios de Cincias, duas salas de Msica e duas salas de
Artes (espao em expanso com a reforma do campus). Os alunos do Ensino
Mdio e EJA (Educao de Jovens e Adultos) contam com dezoito salas de
aula. H tambm laboratrios de Qumica, Fsica e Biologia.
Possui um teatro com at 900 lugares (que tambm atende ao pblico
em geral25), biblioteca26 com aproximadamente 33 mil volumes (que dispe de
sales para leitura individual e trabalho em grupo, alm de computadores para
consulta ao acervo e pesquisa na Internet), Centro de Tecnologias27 (com seis
25
Concebido por J. C. Serroni e Edson Elito, um espao mltiplo: a parte frontal e as laterais so mveis e possibilitam um espao cnico de variadas formas: palco italiano, palco elisabetano, arena completa, semi-arena, passarela. Alm da flexvel sala de espetculos, que pode comportar de 500 a 900 lugares, o Teatro abriga ampla rea para coquetis e exposies, uma sala de ensaios e camarins.
26 Com um acervo permanentemente atualizado, conta com obras literrias, cientficas e de
referncia, disposio dos professores, funcionrios e alunos. Alm disso, assina jornais e revistas nacionais e estrangeiras, mantendo a hemeroteca sempre atualizada.
27 No total so cerca de 200 computadores utilizados para aulas, projetos, pesquisas e
trabalhos escolares.
46
salas multimdia), laboratrios (de Cincias, Qumica, Fsica e Biologia), campo
de futebol oficial gramado, ginsio de esportes (com palco, quadras e
arquibancadas), pista de atletismo, miniginsio coberto, onze quadras
polivalentes para prtica de futebol de salo, vlei, basquete e handebol, dojo,
anfiteatro com 200 lugares, capelas28, playgrounds e abundante rea verde.
As principais atividades e projetos solidrios desenvolvidos pela escola
so:
Projeto 1: Ao Comunitria no Ensino Fundamental II
No Ensino Fundamental II os alunos passam a participar de atividades
voluntrias mantidas pelo Projeto Social da escola. Na 5 srie, no 6 ano, essa
colaborao ainda eventual. A partir da 6 srie, os voluntrios se envolvem
com todo um projeto, assumindo o compromisso de frequent-lo at a
concluso.
Em 2011, os alunos participam das seguintes frentes de trabalho:
5 srie: Centro de Educao Infantil Santa Luzia e Centro de
Educao Infantil Vila Nova (faixa etria das crianas atendidas: de
0 a 6 anos)
6 srie: Centro da Criana e do Adolescente - CCA (faixa etria das
crianas atendidas: de 6 a 10 anos) e Escola Alfredo Paulino (faixa
etria das crianas atendidas: de 8 anos)
7 e 8 sries: CCA Bom Jesus Projeto
Cincias/Portugus/Francs (faixa etria atendida: de 7 a 13 anos),
Escola Alfredo Paulino Projeto de acompanhamento escolar (faixa
etria atendida: 8 anos), CCA Curso de Robtica (faixa etria
atendida: de 11 a 14 anos) e Aldeia Indgena Projeto
Histria/Geografia/Artes (faixa etria atendida: de 2 a 12 anos).
8 srie: Ca
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