JUVENATRIX – Fanzine de Horror & Ficção Científica
ANO 31 – Número 227 – OUTUBRO 2021
JUVENATRIX – 31 anos – Desde Janeiro/1991 – total 5.230 páginas
“A morte é apenas o começo... de uma eterna vida de dor...” Editor – RR
Capa: Filme “Expresso do Horror” (1972)
Contra-Capa: “O Criador” (2021), HQ de Angelo Júnior (reprodução do álbum
“Dimensão do Delírio” # 5)
E-mail: [email protected]
Blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br
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Twitter: https://twitter.com/Juvenatrix
Instagram: https://www.instagram.com/juvenatrix/
Lançamento: 01/10/2021 – São Paulo/SP
Distribuição gratuita por e-mail através de arquivo PDF
METAL EXTREMO
Música: The Blessed Pestilence / Banda: Desaster (Alemanha) / Álbum: Angelwhore (2005)
Black death always crawls our neck. And the 14th century had seen. Pandemic spawned out at black sea. While Kaffa lay siege
to Khan Djam Bek's hordes. His soldiers fall one by one. The pest brings fast the end of war. The last he did was throwing
corpses over Kaffa's wall. The hawkers sail to Italy to spread disease we've never seen. To sell their wares and bringing death
from south to north of Europe. Blessed Pestilence. Insects fly my eyes. Raging suicide. My flesh needs grave. I fear. To rot in
isolation. The Blessed Pestilence. Black death execution. Cleansing evolution. A swarm of rats will fever bring, their fleas
infect the men of fear. The lords, the doctors, holy priests these cowards run at first. Breathing death infects your lungs. Signs
of dent plague on your body. Your time is over. Can't believe. Give in to fit this destiny. Lets start the triumph of death.
Mothers kill their child's to save from hard demise. Sadistic face of nature will lead you to your maker. Venomous blood runs
my veins. Suffocate the will to be. The pest soon takes it all. Most life would surely fall. The Blessed Pestilence. To decimate
the human race the fist of darkness in our face. Black death execution cleansing evolution. Triumph of death! Triumph of
death! Triumph of death!
DIVULGAÇÃO
Fanzine “Aaahhrte!” # 30 (Agosto 2021)
AAAHHrte é um zine-colagem de acontecimentos interessantes encontrados por aí. O objetivo é apenas prestigiar e divulgar
obras criativas, sem qualquer finalidade comercial. Distribuição gratuita. Editado por Wagner Teixeira.
http://partesforadotodo.blogspot.com/2021/09/aaahhrte-30.html
Pedidos: [email protected]
Fanzine: “Quadrinhos Independentes” # 171 (Setembro / Outubro 2021)
“Quadrinhos Independentes” – Foi lançada a edição 171 (Setembro / Outubro de 2021), editada por Edgard Guimarães,
com 32 páginas, formato meio ofício e impressão digital.
Conteúdo: quadrinhos, artigos, anúncios, ilustrações, seção de cartas dos leitores e divulgação de fanzines.
Acompanham os encartes “Leitores e Mercado de Quadrinhos” # 1 – “Mercado de Quadrinhos e a Situação Econômica
Mundial”, 24 páginas, de Daniel do Canto Oliveira Saks, e “Radioatividade QI” # 2, 4 páginas, de Marcos Freitas.
Contatos: A/C Edgard Guimarães – Rua Capitão Gomes 168 – Brasópolis/MG – CEP 37530-000
E-mail: [email protected]
Fanzine: “Turvo Zine” # 6 (2021)
Editor: Tadeu Ricardo (Recife/PE - Brasil). Formato 211 x 297 mm / 52 páginas. Assunto principal: Metal Extremo.
Contatos: [email protected]
CONTOS
A Mãe de Lizeth por Mich Graf
O descampado onde Maysa caminhava era coberto por grama seca que batia em seus tornozelos. Fazia algumas
semanas que não chovia, o que conferia à grama uma cor opaca. A garota andava de encontro à franzina amiga Lizeth, do outro
lado do campo, cujos cabelos escuros esvoaçavam feito um véu negro de uma noiva em luto. Lizeth não podia cortar os
cabelos – a mando de seu pai – e sempre vestia roupas um pouco maiores do que deveria. Maysa sabia que eram peças de
outras mulheres da família, que não se importavam de dar roupas umas para as outras de falecidas mulheres. Naquele dia,
Lizeth usava um longo vestido preto de viúva fechado até a base do maxilar, com renda preta nos punhos e nenhum detalhe
além dos botões prateados gastos, da garganta até a cintura. Apesar da aparência fúnebre, Lizeth não parecia viver o luto alheio
que a vestia.
Quando Maysa se aproximou dela, Lizeth sorriu sem abrir os lábios e estendeu as mãos para tomar as de Maysa entre
as suas; e este era o único contato físico que tinham. Lizeth era tímida e não parecia gostar de ser tocada em demasia.
Contrastando com a beleza sombria de Lizeth, Maysa possuía cabelos castanhos cacheados na altura de seus ombros, corpo
curvilíneo e macio – diferente do corpo anguloso e sem a maciez de carne cobrindo os ossos que Lizeth tinha –, estatura baixa
e maçãs do rosto sempre rosadas e cheias quando ela sorria. Os olhos de Maysa, quando o sol batia do jeito certo, tomavam a
cor do chocolate puro quando se derretia e era mais dada à leitura do que qualquer outro hábito. Os olhos de Lizeth eram dois
poços de piche e seu passatempo preferido era colecionar folhas e pétalas secas, deixando-as por semanas dentro dos livros de
Maysa para que secassem. Lizeth não possuía livros, pois não sabia ler.
— Eu trouxe as suas folhas secas. — Disse Maysa, sorrindo ao entregar para ela um papel dobrado ao meio recheado
de folhas de diversos tamanhos, todas sequinhas.
Lizeth as tirou do papel e olhou uma a uma atentamente, parecendo satisfeita e feliz. Ela nunca mostrava os dentes
quando sorria; não que tivessem algum problema, Lizeth só não gostava de deixá-los à mostra.
— E eu trouxe outras para você secar. — Ela respondeu, sempre em baixíssimo tom.
A voz de Lizeth beirava o silêncio, tão baixa era, mas Maysa adorava aquele timbre. Em sua casa, só se falavam aos
gritos e ela não se sentia bem. Ouvir Lizeth falar era como ouvir a quietude tomar forma de notas únicas. Lizeth a entregou
algumas folhas verdes e úmidas junto de pétalas coloridas, tirando-as do bolso de seu vestido fúnebre. Maysa as guardou no
livro que levava – não pretendia ler naquele dia, só guardar as folhas de Lizeth –, uma a cada cinco páginas.
— Eu achei uma coisa no meio das árvores quando estava vindo te ver. — Lizeth emendou, olhando para Maysa.
— O que?
Ela indicou que Maysa a seguisse e ela assim o fez. Caminharam em silêncio pelo descampado até chegarem nos
esqueletos em ruínas de uma casa que ruíra havia muitas décadas. Lizeth apontou para dentro, pelos restos de uma janela.
— Ali.
Maysa olhou e viu uma ossada espalhada pelo chão coberto de erva-daninha. Os ossos estavam brancos e ela não
sabia dizer do que exatamente eram. Maysa desviou o olhar no instante em que os viu, sentindo o coração disparar de medo.
Pelas presas no crânio esbranquiçado, parecia se tratar de algum leão da montanha.
— Eu tenho pavor à isso! Por que me mostrou? — Ela indagou Lizeth, falando com voz aguda de susto.
Lizeth encarava Maysa com uma expressão inabalável em seu rosto encovado.
— Eu queria te mostrar, só isso. — Lizeth respondeu.
— Que coisa estranha a se mostrar para os outros, Lizeth!
— Por que está tão brava?
A pergunta de Lizeth soara tão real, tão verdadeiramente sincera, que Maysa se sentiu culpada pela reação diante de
algo que, para Lizeth, era claramente comum.
— Desculpe, eu tenho medo. — Maysa confessou.
— Eu gosto de ossos. — Lizeth falou baixinho.
— O que você vê neles?
Lizeth pareceu ponderar se falava ou não, fitando a ossada dentro dos restos da casa. Ela engoliu em seco antes de
responder:
— Vejo a mamãe.
— A sua... mãe? — Maysa estranhou, pensando ter ouvido errado.
— Meu pai não me deixa vê-la sempre, só de vez em quando. E quando encontro coisas assim, eu me lembro dela.
— Ah, eu não tinha entendido. — Maysa se permitiu soltar uma risadinha aliviada. — Ela gostava de ossos também,
certo? E por que ele não a deixa ver sua mãe?
Um sorriso brincava nos lábios de Lizeth, indeciso sobre aparecer ou permanecer escondido.
— Acho que posso te mostrar a mamãe. Quer conhecê-la?
— Por que não? Vamos!
Maysa voltou a seguir Lizeth para longe do descampado feito um filhote de cachorro saltitante seguindo um corvo
taciturno. Ela seguiu Lizeth por quase um par de horas, andando por caminhos estranhos e solitários, cheios de restos de
vegetação e tocos de árvores – diferente do local arborizado e feliz onde Maysa morava –, com pequenas casas silenciosas e de
aspecto pobre. Entretanto, quando finalmente chegaram à casa de Lizeth, Maysa viu que era uma casa grande e inteira, mesmo
que não tivesse adornos ou jardins. Era de madeira escura e tinha dois andares largos, mas com poucas janelas. O entorno da
casa era completamente vazio, não tinha vizinhos ou árvores, só um cavalo magro que Maysa sabia ser do pai de Lizeth, o que
ele usava para puxar a charrete quando tinham de ir à cidade.
Lizeth apontou para a última janela do andar superior e Maysa seguiu o gesto, vendo uma janela entreaberta, diferente
das demais que permaneciam fechadas.
— É ali o quarto da mamãe. Temos que usar aquela escada ali — Lizeth apontou, por sua vez, para uma escada de
mão, medonhamente alta — para poder vê-la pela janela.
— Ai, isso não é perigoso? E se seu pai nos vir?
— Ele não vai. Está dormindo, toda tarde ele dorme por uma hora, mais ou menos.
— Está bem, você deve olhar primeiro, se ela me ver na janela ela vai gritar. — Maysa disse baixinho.
Lizeth deu uma risada contida, mordiscando o lábio inferior.
— A mamãe não vai ver você, bobinha. Vai, suba lá e a conheça, depois eu vou logo atrás de você.
Maysa concordou e ambas colocaram a escada abaixo da janela. Ela ajeitou as saias do vestido e pôs-se a subir com
cuidado. A todo instante, Maysa olhava para baixo, para o rosto ansioso de Lizeth, que a incitava a subir logo para que ela
também pudesse fazê-lo. Ela chegou ao topo da escada, abaixo da janela, e colocou os pés no último degrau. Maysa levou as
mãos à frente para separar as cortinas fechadas da janela aberta, segurando o batente da janela para que não caísse. Ela afastou
o tecido, esperando ver alguma senhora dormindo na cama, ou adoecida, e de fato a viu na cama. Um vestido azul-claro jazia
na cama, cobrindo ângulos estranhos e retos demais para uma pessoa, mesmo que a família de Lizeth fosse dotada de uma
magreza doentia. O lençol, por sua vez, cobria o vestido a partir da cintura e Maysa notou, com horror, o motivo de Lizeth se
lembrar da mãe ao ver ossadas.
Pois a mãe não passada disso, ossos anatomicamente arrumados embaixo do vestido como se ressonassem tranquilos
em um delicioso descanso da tarde. As mãos de Maysa estremeciam violentamente, assim como suavam frio.
— Você está vendo ela? Não se parece com o que vimos mais cedo? — Lizeth a perguntava esperançosa. — Não é
linda?
As palmas molhadas de suor de Maysa a fizeram perder a aderência nos batentes. Suas mãos escorregaram e seu
corpo se inclinou para trás sem equilíbrio. Em segundos a janela pareceu subir ao céu, distanciando-se rapidamente dela antes
que Maysa caísse no chão de terra seca.
Micro Contos por Wagner Teixeira
DURMA BEM
Acorda em desespero:
- Não não não!!!
- Está tudo bem. Foi só um pesadelo, eu estou aqui com você.
- Puxa, que pesadelo horrível. Mas, agora está tudo bem, com você aqui comigo. Vou voltar a dormir. Boa noite, Belzebu.
- Boa noite, amiguin.
BAQUE
O sangue que escorre de seu pescoço me deixa com vertigem. Sento no chão pra não vomitar. Não posso ver sangue, passo
mal. Por isso sempre preferi estrangular minhas vítimas.
NOBREZA
A filha caçula foi a última.
- Pode se revirar no caixão, vovô. Nossa nobre linhagem acabou.
CONFESSIONÁRIO
Padre, por favor, qual minha penitência por matar um padre? padre? padre? não vá ainda…
http://infernoticias.blogspot.com/
GALERIA DE ILUSTRAÇÕES
Adriano Siqueira (esquerda) / Maria Ferreira Dutra (direita)
Celso Moraes Faria (esquerda) / Rynaldo Papoy (direita)
CINEMA
Expresso do Horror por RR
“O seguinte relatório à Royal Geological Society pelo abaixo-assinado, Alexander Saxton, é um
relato verdadeiro e fiel dos eventos que aconteceram à expedição da Sociedade na Manchúria.
Como líder da expedição, devo aceitar a responsabilidade por seu término em desastre, mas deixo
ao critério dos honoráveis membros da Sociedade a decisão de onde reside a culpa pela catástrofe.”
– Professor Alexander Saxton.
Essa é a introdução narrada de “Expresso do Horror” (Horror Express, 1972), um clássico espanhol do cinema
fantástico bagaceiro, exibido à exaustão na televisão brasileira, geralmente nas divertidas madrugadas com monstros toscos e
roteiros exagerados na fantasia.
Foi dirigido por Eugenio Martin e estrelado pela famosa dupla dinâmica do Horror, os ícones ingleses Christopher
Lee e Peter Cushing, além de uma pequena participação de Telly Savalas (o detetive Kojak da série homônima da TV da
década de 1970).
Ambientado em 1906, o arqueólogo inglês Prof. Sir Alexander Saxton (Christopher Lee) é o líder de uma expedição
científica nas regiões geladas da China à procura de ossos e fósseis. Ele descobre uma misteriosa criatura presa na geleira, um
macaco pré-histórico de dois milhões de anos. Com o objetivo de transportá-la para a Europa Ocidental, ele utiliza um trem
transiberiano que viaja por longas distâncias.
Uma vez a bordo do “expresso do horror”, ele encontra o rival Dr. Wells (Peter Cushing), acompanhado pela
assistente veterana, a bacterióloga Srta. Jones (Alice Reinheart). Carismático e curioso, o cientista não mede esforços para
descobrir o que está dentro de uma grande caixa de madeira lacrada com correntes.
Porém, depois que a criatura (interpretada por Juan Olaguibel) desperta e escapa da caixa, vários assassinatos
violentos começam a ocorrer no trem, com as vítimas ficando cegas e com suas memórias e conhecimentos drenados dos
cérebros, chamando a atenção para uma investigação policial liderada pelo Inspetor Mirov (Julio Peña).
Entre outros passageiros ilustres ou misteriosos candidatos a vítimas fazendo parte do exército de zumbis controlados
pelo monstro devorador de mentes, estão o Conde polonês Maryan Petrovski (George Rigaud) e sua esposa Condessa Irina
(Silvia Tortosa), o padre fanático e não confiável Pujardov (Alberto de Mendoza) e a espiã internacional Natasha (Helga Line),
além do tirano cossaco Capitão Kazan (Telly Savalas), que interceptou o trem no caminho para tentar colocar ordem no pânico
entre os passageiros.
“Expresso do Horror”, como todos os filmes do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, tem alguns momentos
equivocados com situações pouco convincentes e eventuais furos no roteiro, mas certamente o que garante a diversão são os
ataques sangrentos do monstro ancestral tosco que se alimenta das informações dos cérebros de suas vítimas. E também a
presença de Christopher Lee e Peter Cushing, que sempre possuem uma química incrível em cena, nos diversos filmes que
fizeram juntos num período que vai principalmente do final da década de 1950 a meados dos anos 1970. Dessa vez trabalhando
mais em cooperação contra uma ameaça comum, sendo que na maioria de seus filmes eles estão em lados opostos. Tanto Lee
(falecido em 2015) quanto Cushing (morreu em 1994), ao lado de Vincent Price, Boris Karloff e Bela Lugosi, entre outros,
estão imortalizados na história do cinema de horror, com seus nomes eternamente associados ao gênero.
O filme foi lançado no Brasil em VHS pela “Videocast” e em DVD pela “Dark Side”. É conhecido também pelo título
original espanhol “Pánico en el Transiberiano”. Apesar de não creditado, é considerado o segundo filme adaptado da história
de ficção científica “Who Goes There?”, de John W. Campbell Jr., sobre uma criatura alienígena congelada que desperta e
sobrevive em hospedeiros, e que já tinha virado filme em 1951 com “O Monstro do Ártico” (The Thing From Another World),
que recebeu outras duas versões, “O Enigma de Outro Mundo” (1982) e “A Coisa” (2011).
Fahrenheit 451 por RR
“Temos todos de ser semelhantes. A única maneira de sermos felizes é se todos formos iguais. Por
isso que temos que queimar os livros.” – Capitão Beatty.
Ray Bradbury (1920 / 2012) é um cultuado escritor de Ficção Científica com várias de suas obras adaptadas para o
cinema. Uma delas é “Fahrenheit 451”, livro distópico escrito em 1953 e transformado em filme em 1966 pelo diretor francês
François Truffault, numa produção inglesa estrelada por Julie Christie e Oskar Werner.
Num futuro próximo, uma sociedade governada por um regime totalitário que não quer que os cidadãos tenham
liberdade de pensamento, impõe leis rígidas contra a leitura de livros e revistas, que segundo eles, causam a infelicidade das
pessoas. Então, nesse cenário opressivo, os bombeiros possuem uma função inversa, em vez de apagar incêndios, eles são
treinados para localizar livros escondidos e queimá-los.
Guy Montag (Oskar Werner) é um bombeiro que fala pouco e executa sua função com disciplina, recebendo elogios
do rígido Capitão Beatty (Cyril Cusack) para uma possível promoção, e despertando a ira do ciumento colega de trabalho
Fabian (Anton Diffring). Montag é casado com Linda (Julie Christie, de cabelo comprido), e sua vida é uma rotina sem
emoções, com sua esposa ingerindo drogas narcotizantes fornecidas pelo governo e sendo consumidora de programas estatais
patéticos de televisão que mantém as pessoas pacatas e obedientes.
Tudo começa a mudar depois que Montag conhece a professora de crianças Clarisse (também Julie Christie, de cabelo
curto), que é sua vizinha e sempre se encontram no trem monotrilho a caminho de casa. Clarisse faz parte de um grupo secreto
de pessoas que adoram livros e tentam se esquivar do controle opressivo do governo. O bombeiro passa então a questionar seu
trabalho e se aproximar da leitura, tendo que decidir entre sua vida monótona de cidadão disciplinado e obediente, ou lutar pela
liberdade se dedicando para que os livros continuem existindo.
“Fahrenheit 451” é uma crítica social sempre muito válida e atual, no sentido de evidenciar o quanto nocivo pode ser
qualquer regime político que queira controlar a liberdade de pensamento das pessoas e suas relações sociais. É também uma
declaração de apoio e admiração à literatura, aos livros e revistas que são indispensáveis no cotidiano da humanidade,
registrando informações, ideias e histórias para divertir, emocionar e passar conhecimentos.
Entre as curiosidades vale citar que os créditos de abertura são todos narrados, sem nada escrito na tela. O título do
filme é uma referência à escala de temperatura Fahrenheit, com o número 451 sendo a quantidade de graus onde o papel dos
livros incendeia (algo equivalente aos 233 graus Célsius, uma escala mais conhecida e utilizada). Na comunidade secreta das
chamadas pessoas-livros, onde seus integrantes escolhem um livro para decorá-lo com o objetivo de voltar um dia a ser
impresso num mundo mais livre, temos obras como “As Crônicas Marcianas”, do próprio Ray Bradbury, e “Histórias de
Mistério e Imaginação”, do cultuado escritor de horror Edgar Allan Poe.
Se eu fosse uma pessoa-livro, e pensando em nossa literatura fantástica nacional, escolheria para decorar o livro de
lobisomens “Jarbas”, de André Bozzetto Junior, uma overdose de horror sangrento e tripas dilaceradas, e certamente quando
fosse declamar o livro, teria que vomitar sangue.
Entre os filmes baseados em histórias de Ray Bradbury podemos citar “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro do Mar”
(1953), “Uma Sombra Passou Por Aqui” (1969), “Um Grito de Mulher” (1972), “No Templo das Tentações” (1983), “A
Ameaça Que Veio do Espaço” (1996) e “O Som do Trovão” (2005).
“Fahrenheit 451” foi lançado no Brasil em DVD pela “Silver Screen”. E em 2018 foi lançada uma nova versão, dessa
vez priorizando os elementos de ação, com direção de Ramin Bahrani e com Michael B. Jordan.
O Monstro de Frankenstein por RR
“Eu pretendo refutar as velhas teorias sobre a evolução da vida e a origem da força vital e
reformulá-las simplesmente em termos de química biofísica como ações e reações químicas
controladas por impulsos externos.” – Barão Frankenstein.
O cultuado estúdio inglês “Hammer” é conhecido principalmente por seus incontáveis filmes com atmosfera e
ambientação gótica, e pela exploração dos famosos monstros do cinema de horror, consagrados anteriormente pela produtora
americana “Universal”.
Sua série de filmes baseados na famosa história de Mary Shelley, “Frankenstein”, tem sete filmes no total: “A
Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (The Evil of
Frankenstein, 1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de
Frankenstein” (1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).
O terceiro filme da série foi dirigido por Freddie Francis e estrelado novamente pelo ícone Peter Cushing no papel do
“cientista louco” obcecado pela criação de vida artificial, a partir de um monstro formado por partes de cadáveres.
O Barão Frankenstein (Cushing) e seu jovem assistente Hans (Sandor Elès), estão envolvidos em experiências
bizarras de reanimação de um coração retirado de um cadáver recente, mas logo são descobertos por um padre (James
Maxwell) e são obrigados a fugir. O barão decide retornar, após dez anos de ser expulso, ao seu castelo próximo da cidade de
Karlstaad, onde reencontra seus antigos opositores, o prefeito do vilarejo (David Hutcheson) e o agora chefe de polícia
(Duncan Lamont).
O cientista insiste em continuar seu macabro trabalho após encontrar congelado numa geleira a criatura (Kiwi
Kingston) de suas antigas experiências, graças a ajuda de uma jovem mulher surda (Katy Wild), maltratada pelos aldeões, e
que auxiliou na fuga do cientista e seu assistente ao indicar uma caverna como refúgio da perseguição policial.
Retomando seus experimentos com a reanimação do monstro no laboratório do castelo através da captura de energia
elétrica de um raio de uma forte tempestade, o cientista é obrigado a utilizar os serviços de um hipnotizador ganancioso e
traiçoeiro, Zoltan (Peter Woodthorpe). Ele é o único capaz de controlar a mente da criatura, incitando-a depois a roubar
artefatos valiosos no vilarejo e atacar as autoridades, contra a vontade do Barão Frankenstein, gerando um conflito trágico
entre o cientista, seu monstro distorcido e os aldeões furiosos.
Para quem é apreciador do estilo, os filmes góticos da “Hammer” acabam sempre despertando grande interesse,
independente até do roteiro, graças aos elementos característicos comumente encontrados, sendo nesse caso o imponente
castelo sombrio e maltratado pelo tempo e abandono e o laboratório do “cientista louco” repleto de equipamentos bizarros.
A história desse “O Monstro de Frankenstein” desconsidera os eventos dos dois filmes anteriores, que por sua vez
possuem ligação direta. A decisão dos realizadores foi agora optar pela liberdade de criação artística nesse universo ficcional
do cientista e seu monstro.
Ao contrário do filme imediatamente anterior, “A Vingança de Frankenstein”, lançado seis anos antes, o visual da
criatura interpretada por Kiwi Kingston voltou para um estilo mais macabro, repleto de cicatrizes, remendos e deformidades,
lembrando um pouco o monstro interpretado pelo ator Boris Karloff nos filmes da “Universal”, explicado pelo fato do grande
estúdio americano ser o distribuidor do filme e por isso finalmente ter liberado os direitos sobre a maquiagem do monstro e dos
aparelhos científicos do laboratório.
Parte dos cenários do filme foram reaproveitados em “A Górgona”, também de 1964 e um dos melhores filmes da
produtora, dirigido por Terence Fisher e novamente com Peter Cushing, dessa vez contracenando com Christopher Lee.
“O Monstro de Frankenstein” foi lançado no Brasil em DVD pela “NBO”, que utilizou uma capa oportunista
evidenciando uma ilustração estilizada de Boris Karloff, em vez de mostrar alguma foto da criatura do próprio filme em
questão. De material extra, temos biografias do diretor Freddie Francis e dos atores Peter Cushing e Duncan Lamont.
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