Download - Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

Transcript
Page 1: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA

ANZEIGE

ANZEIGE ANZEIGE

G

raças a Deus, tudo correubem: os Jogos Olímpicosde Verão de 2016 no Riode Janeiro se passaram eos paraolímpicos,

também. Durante meses, um mar depessimistas previa uma catástrofe, masela não aconteceu. Ao contrário, os jo-gos transcorreram de forma pacífica e,antes de tudo, não houve atentados porterroristas islâmicos – uma preocupa-ção que pairava no ar como uma espadade Dâmocles durante os dias destegrande evento esportivo. A parte de al-guns detalhes insignificantes, todos oslocais de competição se apresentaramem condições excelentes, comotambém foi o caso das hospedagens naCidade Olímpica, para os atletas e asgrandes comitivas das respectivas fede-rações olímpicas. É verdade: os brasilei-ros podem se orgulhar de tudo o que foirealizado no Rio de Janeiro antes e du-rante os jogos!

Assim aconteceu o que o ex-prefeitodo Rio de Janeiro, Eduardo Paes, não secansava de afirmar: “Nós vamos conse-guir!” Então agora é tempo de respiraraliviado! Adicionalmente a isso, pesqui-sas do setor de turismo mostram que omaior evento esportivo deste ano teveefeitos muito positivos para que se con-hecesse melhor o 5o maior país do mun-do – isto também é um sucesso! Mas co-mo o próprio Brasil lida com tudo isso?Será que os brasileiros simplesmenteestão aliviados que finalmente agora tu-do passou? Ou poderá o país, atravésdisso, ganhar nova vitalidade e recupe-rar uma autoconfiança maior? Afinal,sempre foi esta a alegação do então pre-sidente Luís Inácio Lula da Silva (de2003 a 2011) para que se realizassem noBrasil tanto a Copa do Mundo de 2014como também os Jogos Olímpicos de2016. Este duplo desafio de primeira or-dem deveria ocasionar um grande au-mento de prestígio do Brasil.

É bem verdade que o Brasil precisa deum novo começo, tanto a nível econôm-ico como político. No setor da econo-mia, a deposta ex-presidente DilmaRousseff manteve a concepção de seuantecessor Lula, ou seja, uma combina-ção de uma ascensão econômica atravésdas exportações com um consumo in-terno subsidiado pelo governo. Porém,o esfriamento da economia mundial,que persiste há alguns anos, tirou destemodelo econômico os seus fundamen-tos principais. Não houve uma reaçãopolítica adequada por parte do governo,e assim, o Brasil entrou em uma criseeconômica de tamanho considerável,com taxas de crescimento cada vez me-nores, desemprego alto e uma inflaçãoacelerada.

Esta crise ainda não passou e os seusefeitos negativos poderão até aumentarnos próximos meses. O novo presidenteMichel Temer, no entanto, formou umtime de especialistas competentes comampla experiência prática de governo.Assim, o ex-presidente do Banco Cen-tral Henrique Meirelles se tornou mi-nistro da Fazenda e José Serra, ex-go-vernador do estado de São Paulo, assu-miu o Ministério das Relações Exterio-res. O cargo mais importante do Mi-nistério da Agricultura ficou com BlairoMaggi, um dos empresários agrícolasmais bem sucedidos da América Latina,mesmo sendo questionado por boa par-

te do lobby ecológico do Brasil, que seencontra em plena ascensão.

Igualmente desgastante e dolorososerá a luta que o Brasil tem que travarcom as consequências do escândalo decorrupção em torno da empresa estatalpetrolífera Petrobras. No maior caso depropinas que o país já presenciou, in-vestiga-se agora também o próprio Lu-la, até hoje o político de mais prestígiodo Partido dos Trabalhadores (PT). Oescândalo também deuorigem à queda de sua co-lega de partido e sucesso-ra na presidência, Rous-seff, bem como a de ou-tros grandes nomes doPT, que chegaram ao po-der através do próprioLula a partir de 2003.

A história brasileiraconheceu casos espeta-culares de corrupção. Oque, afinal, é tão especialno escândalo da Petro-bras? Será o volumeimenso – afinal, trata-se de pelo menos3 bilhões de dólares - ou a dimensão daparticipação de grande parte da elitepolítica e econômica do país neste la-maçal? Ou será por ser a primeira vezque um escândalo desta proporção éapresentado à população e investigadopublicamente? Seja como for, o juiz re-sponsável pelo caso Sergio Moro – foi ojurista de Curitiba que iniciou todo esteprocesso – se orienta em nada menosdo que a campanha italiana “mani puli-

te” (mãos limpas) que foi responsável,na época, pela queda de boa parte doestablishment político da Itália.

E assim, no Brasil ainda há muito aacontecer. O demorado e doloroso im-peachment de Rousseff e a posse de Mi-chel Temer como presidente da repúbl-ica deixaram feridas profundas. Temernão só foi vice-presidente de Rousseff,deposta por decisão parlamentar, comotambém se aliou ao PT com o seu par-

tido de meio direita, o PMDB, tanto emnível federal como estadual.

Assim não é de se estranhar que oseleitores nas eleições comunais noinício deste mês preferiram votar noscandidatos do partido conservadorPSDB. Estes conseguiram até eleger oseu candidato para prefeito de São Pau-lo, João Dória, no primeiro turno – umterremoto político de primeira ordem.O PT foi o grande perdedor das eleiçõ-es, mas também o candidato de Temer à

sucessão de Eduardo Paes para a prefei-tura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, nãoteve sucesso. É previsto um governo detransição liderado pelo presidente Te-mer até 2018. Nas próximas eleiçõespresidenciais, porém, ele não pode secandidatar. No mais tardar será em 2018que o Brasil poderá ganhar um recome-ço político, pelo qual especialmente osjovens brasileiros anseiam comurgência. O ex-presidente Lula porém

não quer saber de nen-huma renovação: nãocansa de repetir quequer se candidatar nova-mente. Mas isto talvezseja impossível por mo-tivos judiciais, a não serque todos os processoscontra ele sejam arqui-vados.

Uma coisa está certa:o Brasil terá dias melho-res pela frente, apesarde os experts preveremsó para o ano de 2018 a

luz no fim do túnel. Hoje em dia, já nãoexistem mais os preços fantasiosos eexagerados da década passada, o quetorna o Brasil muito atrativo novamen-te para empresas alemãs dos ramosmais diversos. Assim, o EncontroEconômico Brasil–Alemanha 2016 naTuríngia acontece em boa hora.

O conteúdo desta edição – incluido um PDF navegável em português – encontra-se em: www.weltde/brasilien

JuntosPODEMOS

conseguir ATÉ AS ELEIÇÕES DE 2018, MICHEL

TEMER TEM A RESPONSABILIDADE

DE CONDUZIR UM GOVERNO DE

TRANSIÇÃO.MUITOS VEEM NA

PRÓXIMA SUCESSÃO PRESIDENCIAL

UMA NOVA CHANCE PARA O PAÍS

A união faz a força: as alemãs Kira Walkenhorst (à esq.) e Laura Ludwig ganham medalhas de ouro na decisão do vôlei de praia contra a dupla brasileira Agatha e Bárbara

PA

/ D

PA

/ M

AR

VIN

IB

O G

ÜN

R

2 Pé no Chão O Brasil não é umanação com êxito em todas as áreaseconômicas. No setor agrário, noentanto, o país tem garantido umaverdadeira história de sucesso.

3 Herança em tinto e brancoSaúde!Brasileiros descobrem cadavez mais o vinho nacional emostram que há muito potencialescondido nas vinícolas brasileiras.

4 Amazonas para aventureiros Viajar de barco pelo Rio Amazonasé uma experiência única. Quemparte de mente aberta faz do rio aprópria rua.

6 Longe da poluiçãoA costa brasileira está cheia de ilhasbelíssimas. Algumas são verdadei-ros paraísos isolados cheios dehistória.

7 Relíquias naturais em BerlimNo século XIX o pesquisador Fried-rich Sellow estudava espécies brasi-leiras. Pouco conhecido, seu trabal-ho tem valor imensurável.

8 Ilustre anfitriãPequena no tamanho mas giganteem seu valor cultural e intelectual.Conheça Weimar, cidade escolhidapara sediar o Encontro EconômicoBrasil-Alemanha.

CONTEÚDO

O tradicional Encontro Econômico

Brasil-Alemanha acontece este ano

de 16 a 18 de outubro na cidade de

Weimar, no estado da Turíngia. O

evento é uma realização da Federa-

ção das Indústrias Alemãs (BDI) em

parceria com a Confederação Na-

cional da Indústria (CNI). O encon-

tro também tem o apoio do Mi-

nistério Econômico da Turíngia e da

Câmara de Comércio e Indústria

Brasil-Alemanha (AHK), em São

Paulo. Diversos painéis e workshops

irão abordar temas políticos e

econômicos, além tratarem sobre o

potêncial de negócios entre os dois

países. Durante os três dias de

evento, são aguardados centenas

de participantes das áreas econôm-

ica e política na cidade anfitriã.

O 34o

Encontro Econômico Brasil-Alemanha

POR HILDEGARD STAUSBERG

O Brasil precisa urgente de renovação política

e econômica. Com o apoio de um time

experiente, o presidente Michel Temer aposta

no pragmatismo para conduzir o país

Page 2: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

AV 217.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-002 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 20162 BRASIL & ALEMANHA

Brasil num piscar

de olhos

Área: 8,5 milhões de km2

(5° maior país do mundo)

Capital federal: Brasília

Língua oficial: português

Moeda: Real (R$),

1 R$ equivale a 100 centavos

Atual taxa de cambio: 1 Euro =

3,51 Reais (outubro de 2016)

População: com 202,6 milhõ-

es de habitantes (2014) o Brasil

é o país mais populoso da

América do Sul e o 5° do mundo

Cidades: as cidades mais

populosas são São Paulo (11,9

milhões), Rio de Janeiro (6,47

milhões), Salvador (2,92 milhõ-

es), Brasília (2,91 milhões) For-

taleza (2,59 milhões) e Belo

Horizonte (2,5 milhões)

Fauna e flora: O Brasil possui

em seu meio ambiente a maior

biodiversidade do planeta.Em

suas florestas abriga apro-

ximadamente 524 espécies de

mamíferos, 517 de anfíbios,

1.677 de aves e 468 de répteis.

Além disso, dentre essas for-

mas de vida, grande parte é

endêmica, ou seja, existem

apenas em território brasileiro.

São 131 espécies de mamíferos,

294 de anfíbios, 191 de aves e

468 de répteis exclusivos do

Brasil. Dono das maiores reser-

vas de água doce e de um terço

das florestas tropicais que

ainda restam no mundo, o Bra-

sildetém 20% de toda espécie

animal e vegetal do planeta e

possui sete biomas: Amazônia,

Cerrado, Caatinga, Mata

Atlântica, Pantanal, Costeiro e

Pampa.

Residência alemã no Rio:

tradição e hospitalidade

Em 1961 Brasília, uma cidade

totalmente planejada, tornou-

se a capital do país e tirou do

Rio de Janeiro este título gla-

moroso. Não são poucos os que

acham que a cidade do Pão-de-

Açúcar levou algum tempo para

se recuperar deste choque e da

consequente perda de prestígio.

Mesmo assim, alguma coisa

dos tempos de glória da velha

capital ainda se preservou.

Muitas propriedades e casarões

de um passado diplomático

ainda estão de pé no Rio de

Janeiro. Já o Consulado Geral

da Alemanha tem os seus

escritórios, em conjunto com o

seu pendente francês, na “Casa

Europa”, no centro do Rio.

Porém, a velha residência do

antigo embaixador alemão e do

atual cônsul geral da Alemanha

tem preservado as suas

características, sendo conside-

rada um importante ponto de

encontro para a Alemanha no

Brasil, mesmo tendo sido tem-

porariamente confiscada du-

rante a Segunda Guerra Mundi-

al. Mais ainda: a “Residência

Alemã” tornou-se um impor-

tante lugar de diálogo entre

alemães e brasileiros no Rio de

Janeiro. “Realmente em todos

os níveis”, diz Klaus Zillikens,

novo cônsul geral alemão na

metrópole carioca. “

O tesouro imobiliário oferece

não somente uma vista espeta-

cular da cidade do Rio de

Janeiro, mas também atua

como cartão de visita da hospi-

talidade alemã no Brasil.

A Câmara do Comércio Exte-

rior da Alemanha realizou há

alguns anos, com alta sensibili-

dade pelo local, abrangentes

trabalhos de restauração, que

melhoraram sensivelmente a

funcionalidade da casa.

“O presidente da Alemanha e a

chanceler Merkel nos visitaram

durante a Copa de 2014 e se

sentiram visivelmente à von-

tade“, lembra o então cônsul-

geral, Harald Klein. ako

DE

UT

SC

HE

RE

SID

EN

Z /

R. W

AL

LA

CE

M

esmo que para muitas empre-sas alemãs no Brasil a situa-ção econômica atual seja de

tempos difíceis, o “think tank” (algocomo uma fábrica de ideias e pensa-mentos) número um do Brasil e daAmérica Latina, a Fundação GetúlioVargas (FGV), ainda vê boas possibili-dades de negócios nos principais ra-mos da economia, aos quais tambémpertencem a indústria agrária e de ab-astecimento.

Aqui no Brasil se encontra, ao ladodos Estados Unidos, uma das econo-mias mundiais mais orientadas àcompetitividade e à exportação domundo! Para estes e muitos outros ra-mos de negócios, o país agora está sereabrindo. “A participação na expan-são e na modernização de aeroportos

regionais, de usinas-elétricas comotambém dos grandes atacadões degrãos, é prioridade para o governo,atualmente”, explica o diretor da FGVde São Paulo, Antônio Aidar e com-plementa:” Isso também inclui a ma-nutenção de rodovias interestaduais.Mesmo nas várias áreas da agricultura– como na indústria açucareira, porexemplo – investidores são muitobem-vindos.”

Entender o Brasil cada vez melhor eapontar o seu potencial social específ-ico faz parte, de forma bem ciente, daagenda da FGV, que sempre se encon-tra em estreita cooperação com insti-tuições estaduais ou mesmo com ospróprios governos federal e estaduais.A sua posição de destaque também sedeve a sua tarefa de pesquisar e patro-cinar em todas as áreas que ajudam nocrescimento econômico e social doBrasil. O seu presidente Carlos Ivan Si-

monsen Leal, que recentemente inau-gurou em Colônia o primeiro es-critório da fundação no exterior, en-tende como prioritária a transferênciado know-how e da tecnologia europeia eem especial da Alemanha. A FGV Euro-pe já está cooperando de forma estreitacom a Koelnmesse GmbH.

“Em nosso parque de exposição aquiem Colônia, as empresas brasileirascostumeiramente estão muito bem re-presentadas em todos os campos im-portantes de negócios. Os expositoresbrasileiros e os visitantes do ramo sãoespecialmente atraídos à grande forçade demanda e à alta internacionalidadeda Koelnmesse”, diz Gerald Böse, pre-sidente do conselho da KoelnmesseGmbH.

Afinal, a Fundação Getúlio Vargas,com a sua sede no Rio de Janeiro, estáligada à Koelnmesse, uma das maioressociedades de feiras da Alemanha,

através da parceria intermunicipalexistente entre as cidades de Colônia edo Rio e, autoconfiante, a cidade da ca-tedral histórica nas margens do rio Re-no se autodenomina a “terra latina dorio Reno”, o que a ajudou na chegada eno estabelecimento de muitas empre-sas brasileiras nos últimos anos.

Foi por tudo isso que Cesar CunhaCampos, diretor da FGV Projetos ecoordenador do conselho representa-tivo da FGV Europe, escolheu a cidadede Colônia para ser o centro da insti-tuição na Europa. “Pela proximidade àBruxelas e pela afinidade entre a nossaterra e a América Latina não só esta-mos vendo o enorme potencial destelocal, mas com ele também queremosinterligar o Brasil à Alemanha e à Eu-ropa de forma ainda mais estreita,também em áreas-chaves como a urba-nização, a infraestrutura ou a bio-tecnologia.”

Conhecimento para o progressoA Fundação Getúlio Vargas tem a tarefa de aproximar o Brasil de investidores e mostrar grandes oportunidades de negócios

INVESTIDORES SÃO

MUITO BEM-VINDOS

EM DIFERENTES

ÁREAS DA

AGRICULTURA.

A DO AÇÚCAR

É UMA DELAS

ANTONIO AIDAR,

Think-Tank Fundação Getulio Vargas

POR ALBERT KOCK

O

Brasil expandirá a suaposição de destaque nomercado agrário mundi-al. Além disso, o gigan-tesco pais sul-america-

no com seus quase 210 milhões de ha-bitantes oferece ainda boas chances denegócios nas áreas da infraestrutura ede tecnologias do meio ambiente.

Em 2015 o setor do agronegócio, de-nominado agrobusiness, cresceu em 2%.Para o ano corrente no entanto é espe-rado um declínio na colheita de óleosessenciais e de grãos, o que não deveinterferir tanto assim no resultado fi-nal do volume das exportações, dife-rentemente das oscilações da moedado país, o real. Nos últimos anos a que-da da moeda ocasionou um forte au-mento na exportação de soja, café,açúcar e outros produtos agrícolas.

O processo de impeachment contra apresidente Dilma mudou estatendência: nos primeiros meses desteano o real valorizou-se 23% em relaçãoao dólar. Mesmo assim, no primeiro se-mestre o Brasil pôde faturar 45 bilhõesde dólares nas exportações de produ-tos agrícolas. Isso corresponde à meta-de do total dos recebimentos obtidosnas exportações. Apesar do consumodoméstico ter se nivelado ao ano de2010, o setor agrário conseguiu mantera balança comercial favorável em 24bilhões de dólares.

O avanço do Brasil à primeira posi-ção no agrobusiness não será paradonem pelas instabilidades das condiçõesclimáticas, nem pelos preços estagna-dos no mercado mundial, situação estaque deve se manter durante um bomtempo. Hoje em dia, o Brasil já é o se-gundo maior exportador de soja e demilho, atrás apenas dos Estados Uni-dos. Além disso, o país cobre 44% dademanda global pelo café de alto níveldo tipo arábica.

A Organização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico (OCDE)e a Organização das Nações Unidas pa-ra a Alimentação e a Agricultura (FAO,sigla em inglês) preveem que o gigantesul-americano terá conquistado o topodo mundo já em 2024. Os EUA entãocairão para 2o lugar na produção de so-ja. Além disso, o Brasil duplicará as su-as exportações de algodão e avançaráao 2o lugar, atrás dos EUA. No mercadodo açúcar o país deve conquistar umaparticipação do mercado mundial de41%. Os fatores principais para a ascen-são do Brasil serão os aumentos daprodutividade e a expansão de sua áreade plantio, criticada por muitos ativis-tas ecológicos. O cliente mais impor-tante provavelmente será a China.

O setor brasileiro do agrobusinessoferece, não só a empresas nativas co-mo também estrangeiras, oportunida-des de negócios de primeira linha. Estepotencial enorme de desenvolvimentotambém foi visto pelas grandes empre-sas atuantes no mercado internacio-nal. Para as empresas alemãs tambémhá muitas chances neste setor que estáa pleno vapor, mas infelizmente atéagora poucas foram aproveitadas.

O que pode virar um obstáculo parao desenvolvimento do setor agráriobrasileiro são as condições precáriasda infraestrutura do país. Nas últimasduas décadas, o Brasil investiu por me-dia apenas 2,2 % de seu PIB nesta áreaenquanto a China, em contrapartida,investiu 8,5%. O novo governo de tran-sição de Michel Temer reconheceu aseriedade da situação e preparou umgrande projeto visando melhorias nainfraestrutura, tendo em vista tambéma necessidade de encher os cofres

públicos. É interessante notar que logoa China foi o país escolhido para aapresentação, no início de setembrodeste ano, dos projetos de infraestru-tura brasileiros mais importantes. Até2019 deverão ser iniciados projetos novalor de 269 bilhões de dólares, deacordo com as previsões do ministroda Fazenda, Henrique Meirelles. Noentanto, ele se mostrou consciente queestas pretensões dificilmente se reali-zarão em tão pouco tempo. “É impor-tante demonstrar as gigantescas di-mensões de oportunidades em nossopaís”, constata.

90,6 bilhões de dólares americanosdo pacote vão para os setores dopetróleo e do gás natural, 65,5 bilhõesde dólares para o setor da energia, 43,6bilhões para as empresas de telecomu-nicações e 26,6 bilhões para a manu-tenção e a melhoria das rodovias. 10,9

bilhões serão investidas no abasteci-mento de água e nas redes de esgoto emais 10,1 bilhões nas redes ferroviárias.As demais áreas de investimento serãoos sistemas de transito urbano, os por-tos marítimos, fluviais e aéreos, comotambém a colheita de lixo e a recicla-gem. Além da entrega de concessões,muitas privatizações abrangentes es-tão previstas. A Fraport, operadora doaeroporto de Frankfurt, anunciou me-ses atrás o seu interesse em adquirirconcessões de alguns aeroportos brasi-leiros.

A Caixa Econômica Federal e oBNDES – Banco Nacional para o De-senvolvimento Econômico e Social –combinaram disponibilizar meios dealto valor para o financiamento deprojetos na área da infraestrutura. Háum novo regulamento que prevê quesó podem ser comercializados produ-tos para os quais anteriormente tenhasido dado uma autorização ambiental.Além disso, o governo pretende dimi-nuir em breve os obstáculos burocrát-icos neste setor. Mas há também em-presas que veem a necessidade deatuarem com mais transparência. Aempresa americana General Eletric,por exemplo, declarou não se utilizardo “jeitinho brasileiro” na gestão dosnegócios e, desta forma, agir dentrodas regras e normas do setor sem fazeruso da corrupção ou de truques pararesolver os problemas.

No setor energético brasileiro, assoluções para a produção de energiasustentável tem cada vez mais um pa-pel importante. As fontes de energiaeólica brasileiras produzem atualmen-te 9,3 giga watts (GWe) de energiaelétrica em aproximadamente 200 par-ques. A porcentagem da energia eólicana produção total de energia do Brasilcorresponde a quase 4%. Outros 3,4GWe estão em construção e para 3,9GWe foram concedidas concessões.Até 2024, o Ministério de Minas eEnergia conta com uma extensão dacapacidade de geração de energia para24 GW.

Pelas estimativas do ministério, oBrasil será um dos 20 países líderes nosetor de geração de energia solar até2018. Até o ano de 2024, a produção po-deria aumentar para 8,3 GWe, dasquais 7 GWe seriam produzidas de for-ma centralizada e os restantes 1,3 GWde forma descentralizada. Até 2050 aporcentagem das casas abastecidas porenergia solar terá aumentado para 18%.Em dezembro de 2015, o ministério ra-tificou um documento para a promo-ção de energias sustentáveis produzi-das pelos próprios consumidores, oque deve ajudar a alcançar uma capaci-dade de geração total de 23,5 GWe até oano de 2030.

O Plano Nacional de SaneamentoBásico (PNSB), denominado Plansap,prevê até 2033 investimentos na ordemde 115 bilhões de dólares para os proje-tos nas áreas de abastecimento deágua, de esgoto, de tratamento e puri-ficação da água e de colheita de lixo.Nisso, os setores de gerência de plane-jamento e aconselhamento exercemum papel importante. 16% dos brasilei-ros não estão abastecidos através dosserviços de água potável e quase a me-tade da população está sem tratamen-to de esgoto. Além disso, muitos canosapresentam vazamentos, o que fazcom que grandes quantidades de águapotável seja desperdiçadas.

É especialmente nesta área que seoferecem oportunidades de negóciomuito interessantes aos empresáriosalemães, uma vez que ocupam os pri-meiros lugares na área de tecnologiassustentáveis de água na Europa e sãoos primeiros no setor de reciclagem.

Ainda se podeCONTAR

com o BrasilO país é hoje uma superpotência no setor

agrícola. Já o setor energético aposta na

produção renovável e traz boas chances

para parceiros alemães

AF

P/G

ET

TY

IM

AG

ES

Soja, algodão, café e açúcar: mais áreas para plantação e alta produtividade colocam o Brasil no topo do agronegócio

AF

P /

GE

TT

Y I

MA

GE

S

POR PETER RÖSLER

Page 3: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

U

ma caipirinha antes da re-feição? “Mas é claro” dizChrista, e como ela já mo-ra há dois anos no Rio, istodever ser verdade. Os de-

mais clientes dentro da churrascariamovimentada também parecem concor-dar. E acompanhando a carne assada, oque vai ser? “Caipi!”. A carne tem umgosto maravilhoso, a caipirinha é sensa-cional, mas talvez um copinho de vinhoteria sido agradável também.

Afinal, até os primeiros monges pro-duziram o seu vinho aqui, embora os je-suítas tiveram que descobrir, já noséculo XVI, que o clima tropical úmidonão é ideal para videiras. Durante muitotempo foram os países vizinhos que do-minaram o mercado. As cordilheiras dosdois lados dos Andes, no Chile e na Ar-gentina, oferecem ótimas condições deplantio para uvas vermelhas e os doispaíses têm uma indústria vinícola de al-ta tecnologia. Mas acontece que os bra-sileiros gostam mesmo é do vinho bran-co ao estilo europeu. De preferênciasuave e filigrano em vez de pesado e for-te. Por isso redescobriram os seuspróprios vinhos.

Lá no norte, no vale do Rio São Fran-cisco, faz muito calor e muitas vezes hánuvens úmidas cobrindo tudo que é ver-de. Muito bom para a floresta, ruimporém para as suas videiras, que são ata-cadas por míldio e mofo. Embora o cli-ma seja tão estável que pode-se colhertrês vezes ao ano, as videiras precisamde fases de descanso, senão se esgotamrapidamente.

Mas pode-se melhorar essa situaçãocom métodos agrícolas certos. O vinhode Santa Maria se chama “Parallel 8” eassim faz, de forma autoconfiante, alu-são à sua localização, no oitavo grau delatitude. No nosso lado do globo seria amesma coisa se quisesse plantar o nosso“Silvaner” em plena Costa do Marfim.Mas o vinho, na maioria das vezes, é aexceção na escolha da bebida no Brasil ea grande maioria das videiras se encon-tra bem longe de Copacabana e da MataAmazônica.

As melhores regiões se localizam bemao sul, na serra gaúcha, com o climaameno nas montanhas e convive, aomesmo tempo, com o frescor do Ocea-

no Atlântico. É neste clima medi-terrâneo que se produz 85% do vinhobrasileiro. Há pequenas vinícolas nasquais os turistas gostam de fazer umavisita. Eles compram o vinho para o seuuso próprio e se for ofertado um petiscodurante a compra, tanto melhor. Costu-ma servir-se, também, uma boa pastaporque os ancestrais de muitos dos viti-cultores vieram ao Brasil de navio, queàs vezes tinha partido de Genova ou deTrieste, na Itália.

É através das videiras que se podeidentificar ainda hoje as ondas deimigrantes. Ao fim do século XIX, vier-am imigrantes do norte da Itália. O cli-ma e os vales rochosos os lembraram decasa, e estes, como muitos outros, tin-ham fugido do desemprego e da pobrezaem sua pátria. Cada um deles ganhouum pedaço de terra do governo do Brasile já trazia consigo mudas de videira. Ovinho brasileiro Barbera tem a sua ori-gem na região italiana de Piemonte, já oTroldego vem de Trentino. Imigrantesalemães traziam o Riesling e osespanhóis, o Tempranillo, já o TourigaNacional veio de Portugal.

Há no Brasil 89.000 hectares de vin-hedos ao total, isto em tamanho é pare-cido com a Alemanha, mas há somente1.162 vinícolas no país, contra as 30.000nos vales dos rio Reno na Alemanha. Ár-eas vastas da vinicultura estão nas mãosde sociedades cooperativas e nomes im-portantes da sociedade que têm o capitalnecessário para os investimentos. Umaempresa como a Miolo, por exemplo, fi-nanciou as suas grandes modernizações

com o apoio do famoso enólogo MichelRolland e hoje produz um dos melhoresvinhos do país. “Vinicultores como elemudam o jeito da vinicultura no Brasil.”,diz a diplomada em vinho portuguesaAlessandra Esteves, que observa muitode perto o ramo da vinicultura em seupaís: “Vinhos Bio, vermelhos complexos,porém suaves - aí tem muito espaço paramuita coisa acontecer”, diz ela.

Naturalmente há também os tiposmais tradicionais de vinho, como o Sau-vignon Blanc e o Chardonnay. O Brasildegusta os seus vinhos sem medo de fa-zer contatos novos. Os homens brasilei-ros, por exemplo, consomem mais vin-ho rosé do que as mulheres. País de ma-chos? Nada disso. É verdade que as pes-soas só bebem dois litros de vinho porano no Brasil, enquanto na Alemanhasão vinte litros, mas a cada ano estenúmero aumenta, mesmo que haja umimposto alto para produtos do exteriorneste país de 200 milhões de pessoas.Especialmente pessoas bem abastecidase cultas da classe média gostam de umbom copo de vinho, em números são 21milhões de clientes potenciais.

Na Europa, são os britânicos os maio-res fãs.” Eles bebem 40% da nossa ex-portação”, alegra-se Ana Sofia Oliveira,consultora portuguesa em marketing devinhos. As taxas de crescimento da ex-portação estão a várias centenas porcento e são em especial as imagensexóticas do samba e das festas na praiaque fazem sucesso na Inglaterra.

Na Alemanha, onde cada segundovinho é derivado de plantio caseiro, ascoisas não acontecem tão rapidamente.“39° no ranking da importação”, dizErnst Büscher, porta-voz do InstitutoAlemão de Viticultura, “Preço médio, €4,64 por garrafa.” É bem mais do que os€ 2,30 que são pagos em média por umagarrafa nacional. Agora, ele vai lá, deóculos, conferir mais uma vez aestatística, mas não sabe dizer a quanti-dade de vinhos brasileiros que se conso-mem na Alemanha: “Menos de 100.000litros não entram na estatística”.

Tanto faz, os brasileiros gostam deseu vinho, ainda mais quando ele é umpouco espumante. Duas de cinco garra-fas compradas são de champanhe, umabebida que já está muito bem aceita naAmérica do Sul. O que combina com oclima: vinho espumante precisa de uvascom bastante acidez e isto ocorre quan-do ainda estão um pouco prematuras.Pouco antes da colheita, porém, no Bra-sil começa a época de chuva, quando étarde para a colheita. Então: colherantes, produzir o espumante e festejar.

Veneto, terra de muitos vinicultores,por sinal também é a terra do Prosecco,cuja videira Glera serve de base paramuitas marcas brasileiras de cham-panhe, como é o caso do Riosecco, atualcampeão de vendas, mas também sãoapreciados o Rieslang ou o Chardonnay.A produção subiu de oito a 18 milhões delitros nos últimos dez anos e as pessoasos bebem em todas as situações: napraia, no sol, ou para acompanhar a mo-queca que contém filés de peixe maciosao molho de limão, molho de pimenta eleite de coco. O Aurora Sparkling Mosca-to, degustado junto com ela, possui leve-mente um gosto de condimentosorientais e flores e tem apenas 7,5% deálcool. Com isso, a caipirinha não temcomo competir.

Uma herança FRUTÍFERANo Brasil não se

produz vinho! Claro

que sim! E dos bons

por ter uma produção

diferenciada. Apesar

de não estar entre os

grandes nomes da

exportação, o país

mostra um grande

potencial

Desde 1875 MonteBelo do Sul , naSerra Gaúcha, jáera produtora devinhos da região

GE

TT

Y I

MA

GE

S (

2)

Saúde! Brasileiros são cada vez mais admiradores do vinho nacional

GE

TT

Y I

MA

GE

S /

CU

LT

UR

A R

F

POR MATTHIAS STELZIG

AV 317.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-003 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 2016 BRASIL & ALEMANHA 3

Soro contra veneno em teste

Depois de 15 anos de pesquisas,

um soro contra veneno de

abelhas entra em fase de testes

em humanos no Brasil. Ele foi

desenvolvido por pesquisadores

da Universidade de Botucatu,

em São Paulo. Quem for picado

por abelhas na região paulista,

pode testar o soro e

evitar complicações. Se for com-

provada a eficácia do remédio,

serão planejados testes mais

abrangentes. Segundo Rui Se-

abra Ferreira Jr., médico pesqui-

sador da universidade, somente

depois de comprovada a

eficácia, o soro poderá ser regis-

trado como medicamento.

De acordo com o Ministério da

Saúde, cerca de 15 mil pessoas

são picadas por abelhas todos

os anos. Entre os casos, cerca de

40 terminam em morte.

ANZEIGE

Uma publicação da redação de temas especiais do jornal alemão „Die Welt“

Diretora de Redação : Astrid Gmeinski-Walter (V.i.S.d.P.) Redação: Jochen Clemens Tradução: Roland Wagner

Colaboradora: Dayse Koschier Diagramação e Produção: Walter Lendl Anúncios: Silvana Kara

Marketing Nacional: Alexander Kühl – [email protected]; Philipp Stöhr – [email protected]

Editora: WeltN24 GmbH Impressão: Axel Springer SE, Axel-Springer-Straße 65, 10888 Berlin

Data de fechamento: 13 de outubro Data de publicação: 17 de outubro

EXPEDIENTE

Page 4: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

AV 417.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-004 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

4 BRASIL & ALEMANHA

ANZEIGE

Novo olhar cinematográfico

para a terra de Conselheiro

O sertão não é apenas uma das

muitas paisagens brasileiras.

Um semideserto sem fim, às

vezes castigado por secas

extremas, ele é algo como um

mito, símbolo para condições

extremas de vida e objeto de

incontáveis livros e filmes. Um

destes filmes é “O mar de

Antônio Peregrino”, de Mendel

Hardeman, que conta a história

de Canudos, aquela cidade

utópica no sertão, fundada por

antigos escravos, agricultores e

índios sob a égide do Antônio

Peregrino e destruída pelo

exército. Mais tarde, também as

profecias do “santo” Antônio

Conselheiro foram cumpridas

quando este previu que o deser-

to viraria mar: em 1969 chuvas

diluviais castigaram a região e

nas águas afundaram-se casas

e tudo que as pessoas possuíam.

Os sertanejos, porém, se recusa-

ram a deixar a sua terra.

A história dramática renderia

um filme de ação com muitas

cenas emocionantes mas, ao

invés disso, o diretor Mendel

Hardeman prefere mostrar

com seu documentário as

esperanças e sonhos, assim

como a amargura e a fé no

destino das pessoas dali. As

suas lembranças da enchente

são igualmente captadas, assim

como a música e a profunda

religiosidade que acompanham

as pessoas no cotidiano. Muitas

vezes, veem-se imagens suges-

tivas da paisagem, da vastidão

imensa dessa terra com as suas

auroras e crepúsculos espetacu-

lares. Notável não é apenas este

filme poético fora do comum.

É também a maneira como

foi feito. Ulrike Wiebrecht

E

sse rio é minha rua“, diz a le-tra de uma conhecida can-ção escrita pelo compositoramazônico Ruy Barata, no fi-nal da década de 70. Na

composição, o poeta brasileiro fala so-bre o cotidiano do „caboclo amazônico“.São os nativos da região que vivem enavegam diariamente pelo Rio Amazo-nas. Eu também passei boa parte deminha infância viajando por esse rio eainda me lembro com alguma nostalgiaquando pegávamos aquele grande barcotodos os anos durante as férias escolaresrumo à casa dos meus avós. Na minhaimaginação infantil era um barco real-

mente muito grande. De qualquer for-ma, uma viagem de carro ou ônibus nun-ca vinha ao caso, pois o trajeto de barcoera a única opção que tínhamos pra che-gar à casa dos parentes, na região doBaixo Amazonas. Pra ser sincera issonunca me incomodou enquanto criança.

Quase 40 anos após o lançamento damúsica que retrata o dia a dia do cabocloe quase 25 anos desde as últimas fériasna casa dos meus avós, o Rio Amazonase seus afluentes seguem como impor-tantes estradas fluviais para muitas pes-

soas. Para a maioria delas, viajar todo diade barco nem sempre tem a ver com di-versão, mas sim com uma necessidadecotidiana. Talvez por isso a ligação entrehomem e rio seja tão forte na RegiãoAmazônica. Algumas pessoas não ape-nas vivem às margens do Amazonas,mas fazem dele o próprio ganha-pão.Meu pai, por exemplo, cresceu tão fasci-nado com a vida por entre os rios que,anos mais tarde, virou um maquinistaem embarcações de passageiros. Porconta disso, vi minha infância marcadapor longas viagens de barco todos osanos. Hoje me vejo como alguém de sor-te por ter crescido em uma região tão ri-ca de cultura e belezas naturais.

Se no passado a região banhada peloAmazonas era uma rota fluvial basica-mente de nativos, hoje o transporte depassageiros pelos rios vive um momentobem diferente: nos últimos anos cadavez mais turistas brasileiros e interna-cionais querem explorar o fascínio doRio Amazonas a bordo de um barco depassageiros. É claro que a internet é umadas grandes responsáveis por essa mu-dança, pois hoje em dia fica muito maisfácil ter acesso às informações básicassobre a região. Lembro, por exemplo,que há 20 anos raramente víamos turis-tas mochileiros em barcos de passagei-

ros. Hoje, viajar pelo Amazonas significaquase um „must“ pra quem desejaconhecer o norte do Brasil. Mas por queserá que sair de barco pela Amazônia setornou uma viagem tão desejada entreturistas? Vou levar em conta minhas ori-gens e arriscar a seguinte resposta:quem tem um pouco mais de tempo e,sobretudo, sede de natureza e cultura,pode fazer de uma viagem como essauma experiência inesquecível. Menteaberta é a única condição para umaaventura emocionante. Há muito paraver e descobrir.

Quando se fala em viajar pelo Amazo-nas, uma das opções mais escolhidas temsido a rota fluvial entre as cidades deBelém do Pará, onde por coinscidênciaeu nasci, e Santarén. Belém, a capital doestado do Pará, com quase 1,5 milhões dehabitantes, pode ser uma porta de entra-da para a Região Amazônica por conta daboa ligação terrestre e aérea com outrascapitais do país. Já a cidade de Santarém,conhecida como „Pérola do Tapajós“ de-vido o espetacular encontro das águas doRio Amazonas com as do Rio Tapajós, é arecompensa depois de uma viagem debarco que dura quase três dias. A cidadeoferece aos viajantes um paraíso naturalchamado "Alter-do-Chão" e conhecidocomo "Caribe Amazônico" pela beleza desuas águas.

A partir de Belém é possível iniciar aviagem com o barco de passageiros empelo menos dois dias diferentes da se-mana. Antes da partida, recomenda-sereservar alguns dias para conhecer o quehá de melhor na cidade. Em 2015 Belémrecebeu o título internacional de CidadeCriativa da Gastronomia concedido pelaUnesco. As especialidades podem ser fa-cilmente desgustadas no conhecidoMercado Ver-o-Peso. Ainda que o viajan-te faça uma passagem bem rápida pelacidade, a visita ao mercado é pratica-mente um programa obrigatório.

Uma das minhas recomendaçõesgastronômicas é a combinação açaí, ofruto típico da floresta amazônica con-sumido em forma de sopa, com pedaçosde pirarucu frito, um peixo típico daAmazônia. Soa muito exótico? Não sepreocupe. É difícil se arrepender daexperiência. Do Ver-o-Peso é possível ircaminhando até os diferentes portos flu-viais para comprar os tickets de viageme obter informações sobre a saída paraSantarém. De cara já é possível percebero lado incomum e especial da viagem. Osbilhetes, por exemplo, são vendidos di-retamente nas redondezas do porto flu-vial. Quem espera encontrar umescritório com agentes de viagens espe-cializados pode esquecer o assunto. Aquitrata-se de comunicação espontânea ecapacidade de negociação. Vendido ofi-cialmente a 150 reais, em média, o preçoda passagem é negociável e pode sairainda mais barato para o comprador. Fa-lo por experiência própria.

A viagem de barco até Santarém duracerca 2,5 dias com algumas paradas. Obilhete comum permite ao passageiro

dormir em uma rede trazida por elemesmo e que pode ser pendurada, compoucas exceções, em quase todos osespaços da embarcação. Quem achar arede de dormir uma ideia descon-fortável, pode optar por um camarote deviagem que oferece de duas a seis camasvendidas separadamente. É importantesaber, no entanto, que o camarote de umbarco de passageiros que navega peloAmazonas tem pouco em comum com asluxuosas cabines de viagens oferecidapelos cruzeiros internacionais. A des-vantagem dessa opção é também o fatode oferecer uma experiência mais limi-tada da viagem, já que o passageiro terámuito menos oportunidade de interagircom os outros viajantes nas redes, o que,ao meu ver, é um dos pontos altos daexperiência cultural pelo Amazonas.

Redes de dormir aglomeradas uma porcima das outras formam um colorido in-teressante nos barcos e já se tornou pra-ticamente uma marca registrada do RioAmazonas. Ainda lembro muito bem co-mo era gostoso dormir no barco quandoeu era criança. O vento frio que vem dorio traz uma temperatura agradabilíss-ima durante as noites de viagem.

De Belém os barcos saem de diferen-tes portos localizados nas proximida-des do complexo do Ver-o-Peso e na Ci-dade Velha. A partida acontece geral-mente às 19 horas, mas quem escolhe a

Uma aventurpelas águas

AMAZONA

Uma viagem pelo Rio Amazonas

muito mais do que um encontr

natureza, diz nossa autora que

região. Aqui ela compartilha suas

de infância e dá dicas de como

própria rua para uma incrível jornada

Casinhas de madeira (foto) muito simples são imagens frequentes pelo Rio Amazonas e seus afluentes. Conhecidos como ribeirinhos, os mor

Ponto de partida para a aventura: o entorno do Ver-o-Peso, no centro de Belém, e aCidade Velha concentram a maioria dos portos fluviais para barcos de passageiros

GE

TT

Y I

MA

GE

S/B

ER

NA

RD

RO

US

SE

L

Golfinhos de gua doce, conhecidosmaiores atrações do Rio Amazonasclaramente dos golfinhos „Flippe

Entre as espécies exóticas que podem ser vistas durante aviagem está o belo araçari-castanho, um parente do tucano(Acima). Redes de dormir são um utensílio essencial (Abaixo)

GE

TT

Y I

MA

GE

S /

MA

RIO

TA

MA

POR DAYSE KOSCHIER

LIG

HT

RO

CK

ET

VIA

GE

TT

Y I

MA

GE

S /

WO

LF

GA

NG

KA

EH

LE

R

Page 5: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

AV 517.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-005 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 2016 5

ANZEIGE

Um passado misterioso

entre São Paulo e Berlim

“Querido Sérgio”, lê-se numa

folha que foi evidentemente

escrita em dezembro de 1931,

em Berlim, e reaparece em um

livro antigo. É com este achado

misterioso que começa o ro-

mance “Meu Irmão Alemão”, do

famoso cantor Chico Buarque

de Hollanda, lançado em 2014.

No livro trata-se de seu meio

irmão alemão, filho “ilegítimo”

de seu pai Sérgio de Hollanda,

um intelectual que atuou na

capital alemã nos anos 20. Sem

sucesso, o pai tentou trazer o

filho bastardo várias vezes ao

Brasil, mas foi impedido pelos

nazistas. Depois disso a família

nunca mais falou no assunto,

mas a história nunca saiu da

cabeça do autor. Ele começou

uma busca exaustiva pelo ir-

mão que o levou à cidade de

São Paulo nos anos 60 e 70, na

época da ditadura militar. Em

seu romance, Chico Buarque

mistura realidade e ficção de

forma inteligente e muitos

fatores estão de acordo com a

sua própria biografia. Esconde,

porém, que ele mesmo é um

dos cantores e compositores

mais famosos do Brasil.

Um importante intérprete da

Bossa Nova hoje com mais de

70 anos de idade. Ulrike Wiebrecht

PA

/ D

PA

/ B

RA

INP

IX P

ON

TE

S

viagem de rede deve chegar pelo menosduas ou três horas antes da saída mar-cada e garantir um bom lugar. Refeiçõesa bordo são vendidas separadamenteentre 3 e 10 reais. Tudo bem simples. Nocafé da manhã, por exemplo, o passagei-ro terá café com leite, pão e queijo. Jáno almoço e jantar serão servidos quasesempre feijão, arroz, carne vermelha,frango e algum outro acompanhamen-to. Quem preferir um cardápio mais va-riado durante a viagem deve trazer a co-mida de casa.

A noite cai, os passageiros já estão abordo e a embarcação devidamente ab-astecida. É hora de partir. A medida emque o barco se afasta da capital só épossível ver água e céu pois a primeiraparte da viagem fica por conta da traves-sia da Baía do Guajará, que banha Belém.Quem já garantiu o lugar da rede, podeapreciar a bela vista noturna do rio. Via-jantes nativos passam o tempo no bar daembarcação, onde jogam cartas ou simp-lesmente conversam de forma descon-traída. Moradores da região geralmentesão pessoas muito abertas para bate-pa-pos descontraídos durante a viagem debarco. Uma interessante experiênciacultural para turistas.

No dia seguinte, quando o sol já estábrilhando, e a vida no barco segue, a pai-sagem que se vê de dentro do barco éainda mais única e fascinante com seus

caminhos flutuantes. Por entre os aflu-entes do Rio Amazonas, os quais nativosgeralmente chamam de "furos" ou"estreitos" é possível ter uma vista ain-da mais exuberante da floresta. Papagai-os, tucanos, colibris, pequenos macacose outros animais podem muitas vezesser observados enquanto navegamos. Asensação é de que ainda há naturezaquase que intocável em algum lugar doplaneta.

Lembro-me que uma das coisas quemais gostava de fazer era observar oschamados golfinhos de água doce. Nós,da Região Amazônica, os chamamos de"boto". Do barco podemos observar co-mo eles pulam em pares numaespontânea acrobacia. É como se quises-sem nos dizer algo. Penso que uma via-gem de barco sem a saudação dos botosnão seria completa. Aliás, há muitos mi-

tos e histórias em torno deles. Minha vósempre dizia que botos podem enfeitiçarmulheres jovens e levá-las para o fundodo rio. Nunca tive medo. Aliás, sempreachei divertido observar esses simpát-icos animais bem lá da minha rede.

No caminho também vemos pequenasvilas formadas por palafitas de madeiraonde vivem os chamados "ribeirinhos".São famílias de pescadores e agriculto-res geralmente com bastante filhos.Muitos cultivam árvores de açaí ou plan-tações de mandioca para venda esubsistência. Desde criança sempreachei a interação entre passageiros e ri-beirinhos um momento muito especialdesse tipo de viagem. Assim que perce-bem a aproximação do barco, eles seaproximam com suas pequenas canoas aespera de roupas, calçados e alimentosjogados pelos passageiros em forma depequenos pacotes. Uma velha tradiçãopor essas bandas. Eu gostava de acenarpara as outras crianças em cima de suaspequenas canoas e desejava um dia po-der remar com tanta maestria como fa-ziam aqueles meninos.

Turistas de todo o mundo estão cadavez mais interessados em observar co-

mo vivem populações tradicionais daAmazônia como os ribeirinhos. Duranteas paradas em pequenas cidades comoBreves, Prainha e Almeirim é comumque eles venham até o barco vender fru-tas e especialidades da região. Esse é ocotidiano quando se navega pelo Amazo-nas. Depois de duas noites no barco,chega-se a Santarém, a terceira maior ci-dade do Pará com quase 300 mil habi-tantes. Ali, a água barrenta do Rio Ama-zonas encontra o afluente Tapajós de ág-uas cristalinas e esverdeadas provocan-do um fenômeno natural exuberante on-de as cores quase não se misturam. San-tarém foi fundada por colonizadoresportugueses e está localizada exatamen-te entre Belém e Manaus, capital do Es-tado do Amazonas. A cidade de San-tarém é portanto um centro econômicoestratégico da região.

A razão pela qual turistas brasileirose estrangeiros cada vez mais estãoatraídos pelo lugar é, no entanto, outra:cerca de 30 quilômetros de distância docentro da cidade encontra-se Alter-do-Chão, um paraíso natural de águas cris-talinas e areia branquíssima. O lugar já éconhecido como um dos mais belos pa-

raísos naturais do Brasil. Se a viagem debarco for marcada por alguns momen-tos de desconforto, a magnífica vista doLago Verde logo será motivo pra enten-der porque tudo valeu a pena. Já a en-cantadora Ilha do Amor é considerada apraia mais bonita de "Alter", como cha-mam os moradores nativos da região.Trata-se de uma praia lindíssima forma-da como pintura por um banco de areiabem no meio das águas cristalinas doTapajós. Com um pouco de sorte, podese chegar a pé na ilha entre os mesesagosto e dezembro. O pôr do sol desselugar foi o mais bonito que já vi em todaa minha vida. Diferentemente de San-tarém, que ainda dispõe de limitada in-fraestrutura turística, Alter-do-Chãoestá melhor preparada para receber visi-tantes. Na última visita que fiz à Pérolado Tapajós percebi que cada vez maisviajantes estrangeiros decidem passarmais tempo por ali. Quem conhece o pa-raíso Alter-do-Chão certamente enten-de o motivo da longa estadia. Para quemquer viver a Amazônia em todo o seufascínio deve fazer, como escreveu RuyBarata, do rio a sua rua. Uma rua muitoespecial.

ventura águas do

MAZONAS

Amazonas pode ser

encontro com a

autora que nasceu na

tilha suas memorias

como fazer do rio a

incrível jornada

moradores desses pequenos povoados vivem geralmente da pesca e da agricultura que a floresta proporciona

GE

TT

Y I

MA

GE

S /

KIM

SC

HA

ND

OR

FF

Centro comercial de Santarém: localizada entre as capitais Belém e Manaus, a terceiramaior cidade do Pará desenvolveu-se como um importante centro econômico da região

LIG

HT

RO

CK

ET

VIA

GE

TT

Y I

MA

GE

S/W

OL

FG

AN

G K

AE

HL

ER

conhecidos como „boto„ são uma das Amazonas. São dóceis e se diferem „Flipper“ de águas salgadas

O Arapapá ou socó-dorminhoco(acima) é uma das espéciesque pode ser observada pelos rios amaznicos. Abaixo um-movimentado mercado de peixe na região amazônica

GE

TT

Y I

MA

GE

S

LIG

HT

RO

CK

ET

VIA

GE

TT

Y I

MA

GE

S /

BR

AZ

IL P

HO

TO

S

Dayse Koschier nasceu em Belém

do Pará, filha de pais com origens

ribeirinhas. Estudou jornalismo, é

mestra em Comunicação e Cul-

tura pela Bauhaus-Universität

Weimar e há sete anos vive em

Berlim. É fascinada por viagens

pelo mundo, mas nao esquece da

infância pelo Rio Amazonas.

A

AutoraPR

IVA

T

GE

TT

Y I

MA

GE

S

Page 6: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

O

Pão de Açúcar, a estátuado Cristo, o novo Museudo Futuro e a vida no-turna no bairro da Lapapodem ser muito emo-

cionantes – mas quem percorre o Riode forma excessiva, após alguns dias,só sente cansaço e fica com vontade deestar numa ilha deserta. Mas não háproblema: a apenas uma hora dedistância da metrópole, a Ilha de Pa-quetá espera pelas pessoas que bus-cam sossego. Bem do centro do Rio, naPraça XV, partem as pequenas balsas eos catamarãs e, pouco depois, bilhetecomprado na mão, troca-se a poluiçãodo centro com o seu trânsito pesadopela brisa fresca da água, calmamenteatravessando a Baía de Guanabara, en-quanto o Corcovado fica cada vez maisdistante, e por fim, desembarca-se noporto encantador de Paquetá.

Aqui na ilha, as pessoas realmentedeixam a cidade grande para trás e, aoinvés de carro, por aqui se anda de bi-cicleta, de riquixá e em carroças puxa-das a cavalo pelas ruas sem asfalto.Mais tarde, nas ruas de areia, só se an-da a pé. À esquerda e à direita veem-semansões cor de rosa no estilo colonialque já tiveram tempos melhores. Aolado delas há mangueiras, palmeiras eas flores de natal, também conhecidascomo bico de papagaio, vermelhas co-mo fogo e de dois metros de altura,que proporcionam um festival de co-res, enquanto que na praia, por entreos botes dos pescadores, rochas re-dondas surgem da água parecendo ba-leias arcaicas. Tudo por aqui é muitofotogênico, como se alguém o estives-se preparado para servir de cenário deum comercial da Bacardi.

Mas este comercial não será rodadotão cedo, como também é verdade queé muito raro os belos e os ricos do Riose perderem por aqui. Por que Paquetánão virou um segundo hotspot li-torâneo, os espectadoresatentos dos últimos Jo-gos Olímpicos podemresponder: lembram-sedas imagens de uma ilhade Guanabara bastantesuja que estressou os at-letas náuticos daquelesjogos, e, realmente, estabaía mau cheirosa nãoatrai banhistas exigen-tes.

A ilha serve bem paraum passeio de um dia,mas para um bom banhode mar prazeroso deve-se procurar em outrosarquipélagos, como porexemplo na Ilha Grande.Das cerca de 365 ilhasconcentradas na CostaVerde, o chamado litoralverde no sul do estado doRio de Janeiro, a IlhaGrande não só é a maior,mas também a mais belae a mais interessante.Oferece mais de cempraias e, adicionalmentea isso, morros de mais demil metros de altitude euma mata atlânticaautêntica. Fora do vilare-jo principal, na Vila doAbraão, pode-se aindater sensações de Robin-son Crusoé, especial-mente quando se camin-ha pelas muitas trilhasda ilha, que não somentelevam ao Pico do Papa-

gaio com os seus 900 metros, mastambém a praias desertas. As condiçõ-es para a natação e as práticas de surf emergulho se apresentam comoparadisíacas. Mal pode-se imaginarque a ilha, não muito tempo atrás, foium inferno para muitas pessoas! Cri-minosos, comunistas, intelectuaisconsiderados perigosos pelo governo -incontáveis pessoas foram mantidaspresas na Ilha Grande antigamente.Entre estas encontra-se o ornitólogoalemão Helmut Sick, que tinha partici-pado em 1939 de uma expedição aoBrasil e que ficou no país quando a Se-gunda Guerra Mundial se iniciou. Maistarde, quando o Brasil declarou guerraà Alemanha, foi considerado inimigopolítico e teve que passar três anosnessa ilha penitenciária.

Até 1994 a Ilha Grande foi umacolônia para presidiários, depois co-meçou a sua carreira turística. Recu-perou rapidamente a sua desvantagemdiante de outros pontos turísticos e,desde que se descobriu o quanto ela ébela e selvagem, fica cheia durante aalta estação. Nesta época, os barquin-hos que partem de Angra dos Reis fi-cam superlotados, como também, assuas pousadas bonitas e alegres.

A mesma coisa vale para outras ilhasdo Brasil, como por exemplo, a IlhaBela, no litoral de São Paulo, que rece-be centenas de paulistas aos fins de se-manas, ou para a ilha de Santa Catari-na, que se parece com um pingente aolado da cidade de Florianópolis, locali-zada no estado sulista de Santa Catari-na. Com mais de 4002m ela é uma dasmaiores ilhas do país e nela se chegaconfortavelmente via ônibus de linhaou de taxi a partir do centro da cidade.

Além dos quilômetros de praiasbrancas e compridas, a ilha atrai o tu-rista também pelos seus vilarejos mui-to bonitos. Há quem se encante com aromântica Lagoa da Conceição, já ou-tros preferem a Barra da Lagoa com oseu ambiente hippie, outros ainda sedecidem pela tranquila Armação com a

sua igreja do século XVIII. O hotspot dos surfistas – na maioria argentinos –no entanto é o Morro das Pedras.

Porém, uma vegetação tropical compalmeiras não é encontrada aqui. Esta– e uma boa dose de coisas exóticas –as pessoas acham na Ilha de Tinharéna Bahia, o estado federal mais africa-no do Brasil. Enquanto turistasestrangeiros cansados gostam de tiraruns dias de férias por aqui após umavisita à cidade de Salvador, muitos ou-tros brasileiros passam as suas fériasde verão inteiras na ilha. Tanto é que omovimento é intenso entre os mesesde novembro e fevereiro no pequenovilarejo central, Morro de São Paulo,quando uma lancha ou um catamarãatracam um atrás do outro.

Do porto a caminhada segue a pé pe-la ilha, que não há carros, para a Pri-meira, Segunda ou Terceira Praia, co-mo se chamam os endereços dos re-spectivos albergues e pousadas. Há umgrande número de pousadas relativa-mente bem equipadas, restaurantescom frutos do mar e bares com músicaao vivo em frente ao mar. Na Quarta eQuinta Praia, onde não há mais bares eo mundo parece ter acabado, pode-setirar toda a roupa, relativamente inco-mum na vida brasileira, pois só haveráa companhia das palmeiras que nestecalor tropical balançam as suas folhas.

Há ainda mais calma nas ilhas vizin-has de Cairu e Boipeba. Já o nome daúltima – na língua dos índios Tupi sig-nifica algo como “cobra rasteira” e serefere à tartaruga marinha – deixa agente imaginar que se trata de umecossistema com uma grande varieda-de de espécies, incluindo espécies ma-riscos e peixes, estrelas-do-mar e tar-tarugas.

A tudo isto se junta um recife de co-rais próximo à ilha, manguezais e prai-as de coqueiros magníficos. Por maisbonito que seja, mesmo assim a ilhanão se compara com a mais prestigia-da ilha de proteção ambiental que éFernando de Noronha, localizada a 350

km ao leste do continen-te e que na verdade é umarquipélago de 21 ilhas,das quais, porém, só umaé habitada. Após deixarde ser uma ilha exclusivapara prisioneiros, ela foi,durante um tempo, umponto turístico favoritopara insiders. Hoje em diadeve-se temer peloequilíbrio ecológico por-que todas as pessoas, queconseguem pagar os pre-ços elevados daqui, que-rem visitar a ilha um dia.

E isto não somentepor causa dos golfinhosque pinoteiam na águaao nascer do sol na Baíados Golfinhos, mastambém pelas ótimascondições de mergulho,que em outros lugares domundo só podem sersonhadas, devido as suasincontáveis espécies depeixes e corais que sãodescobertos entre os de-stroços de navios naufra-gados. E ainda há as prai-as com as suascaracterísticas eróticas:onde mais existem moti-vos para tirar ótimas fo-tos como o Morro do Pi-co em forma de falo, comos seus 300 metros, ou omorro gêmeo, o MorroDois Irmãos, que lembraseios femininos?

Longe da fumaça e perto do PARAÍSOA costa brasileira está repleta de ilhas sedutoras. Quanto mais isoladas, mais naturais e cheias de história elas são

Quem quer evitar o cansaço com trilhas e caminhadas, pode relaxarem uma da praias que parecem mais um quadro pintado

GE

TT

Y /

LO

NE

LY

PL

AN

ET

IM

AG

ES

/ A

LD

O P

AV

AN

POR ULRIKE WIEBRECHT

A Ilha de Boipeba próxima à Salvador da Bahia: trilhas por entrecoqueiros e manguezais são uma das atrações do lugar

GE

TT

Y /

AW

L I

MA

GE

S R

M /

MA

RK

HA

NN

AF

OR

D

Ilha Grande, um dos tesouros do Rio de janeiro (à esq.) Em Paquetá, a carroça substitui o uso do carro sem pressa (ao meio). A bonita Baía de Guanabara (à dir.) infelizmente castigada pela poluição

GE

TT

Y /

LO

NE

LY

PL

AN

ET

IM

AG

ES

/ A

LD

O P

AV

AN

GE

TT

Y /

RU

Y B

AR

BO

SA

PIN

TO

GE

TT

Y /

SA

MB

AP

HO

TO

/ C

AS

SIO

VA

SC

ON

CE

LL

OS

AV 617.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-006 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 20166 BRASIL & ALEMANHA

ANZEIGE

Cigarro eletrônico continua

proibido. Na teoria

O cigarro eletrônico continua

proibido no Brasil e sua impor-

tação é considerada infração

sanitária sujeita a multa. Pelo

menos na teoria. Qualquer um

consegue comprar o produto na

internet e o „acessório“ ganha

cada vez mais popularidade,

mesmo que de maneira clandes-

tina. De fato, a proibição da

Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa) parece ser

apenas coisa do papel, já que

o combate à comercialização

do produto esbarra no mesmo

problema do controle ao con-

trabando de cigarros e bebidas:

falta de pessoal na alfândega

para fazer o controle. Enquanto

isso, o cigarro eletrônico ganha

silenciosamente uma certa

tolerância.

Page 7: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

L

ivros, caixas de arquivos depapelão e ficheiros enchematé o teto as estantes do altosalão situado na parte de trásdo prédio do prestigiado Mu-

seu de História Natural de Berlim. Emuma das mesas está sentado um cientis-ta brasileiro. Ele percorreu o longo ca-minho do Brasil a Berlim, esperandoencontrar nos arquivos respostas às su-as perguntas. É Friedrich Sellow que lheinteressa, o desconhecido pesquisadoralemão que foi ao Brasil em 1818 e ali vi-veu até 1831, enviando caixas e caixas debens científicos das ciências naturaispara Berlim, entre eles um sem númerode espécies até então desconhecidas naEuropa.

No Brasil, Sellow é alguém que seconhece, afinal o cientista nascido emPotsdam foi um dos primeiros que via-jou pelo país, medindo e documentandotudo em suas expedições. E já que agrande maioria de suas anotações e co-leções estão na Alemanha, não é estran-ho à Sabina Hackethal receber a visitade brasileiros. “Sellow”, diz ela, “foi umdocumentarista importante. O conjun-to de seus documentos recolhidos noBrasil é uma das peças mais importan-tes do nosso museu”. Desde 1978 elacuida com muita dedicação da preser-vação e catalogação do legado do pes-quisador, que encontrou uma mortetrágica no exercício do seu trabalho,considerado uma predestinação por elemesmo. “Quem se interessa pelo Brasil,não pode ignora-lo,” conclui ela.

Mas quem foi este homem, pelo qualse procura inutilmente no rol dos famo-sos pesquisadores e historiadores? Nas-cido em 1789, filho de um jardineiro dofamoso castelo Sanssouci, em Potsdam,cresceu junto com a botânica. Aos seteanos, com a morte de seu pai, foi colo-cado por sua mãe em um internato naregião de Oberlausitz. Durante doisanos e meio permaneceu neste lar paracrianças missionárias extremamentereligioso e, onde lia, na biblioteca, liv-ros com descrições de viagens demissionários, o que deve ter sido a suainspiração: o jovem Friedrich, foi dito,dormia no chão, lavava-se durante o in-verno gelado ao ar livre, comia peixecru e aves recém abatidas. Talvez tenhafeito isso para se fortalecer, uma vezque já havia se decidido a viajar a terrasdistantes um dia.

Sellow, que naquele tempo ainda sechamava “Sello” – não se sabe porqueele próprio adicionou um “w” ao seunome - foi trazido de volta a Potsdam.Depois da conclusão do ginásio ele pas-sou a estudar jardinagem com o tio emais tarde recebeu um posto de ajudan-te no Jardim Botânico Real em Berlim.Ali foi promovido pelo botânico CarlLudwig Willdenow, que o enviou em1810 para uma especialização em Paris,o antigo centro de pesquisas na área dasciências naturais. Em sua bagagem le-vou uma recomendação de Wilhelmvon Humboldt ao seu famoso irmãoAlexander, com o pedido de que rece-besse este jovem ávido por conheci-mento.

Alexandre von Humboldt cuidou pes-soalmente para que o jovem Sellow pu-desse estudar no “Jardin des Plantes” e,

dois anos mais tarde, pudesse prosse-guir sua formação na biblioteca de SirJoseph Banks em Londres. Quando seapresentou a oportunidade, através deum dinheiro emprestado na Inglaterra,Sellow engajou-se em uma viagem depesquisa e em 1814 chegou ao Rio deJaneiro, então capital do Reino do Bra-sil. Após um ano de sua chegada, já como adicional “w” ao seu nome, enviou omaterial cientifico recolhido à Inglater-ra para saldar sua dívida. Quando opríncipe Maximilian zu Wied-Neuwiedviajou para a América do Sul em 1815,contratou Sellow, que agora já falavaportuguês. “Nós encontramos (...) nospântanos duas espécies de ninpheas flo-rescendo em branco (...) também umaalisma alta em flores brancas, (...). Nãofoi fácil retirar a linda planta destepântano profundo: o senhor Sello caiufundo para dentro das águas lamacen-tas e escuras; eu não tive melhor desti-no quando tentei me aproximar dospássaros do pântano.” Assim o príncipeé citado em uma de suas declarações nolivro “Exploração do Brasil - A viageminacabada de Friedrich Sellow”. Estelivro ilustrado magnifico éreminiscência e documentação ao mes-mo tempo. Lançado por Sabie Hacke-thal, em conjunto com experts, é o pri-meiro em alemão sobre os tempos pri-mordiais da exploração do Brasil, colo-

cando as viagens de Sellow também emcontexto com outras expedições.

Sellow contribui significativamentepara o sucesso da expedição, o que o le-vou ao recebimento de um apoio finan-ceiro da Academia das Ciências de Ber-lim. Ele atravessa a floresta tropical dacosta e penetra com muito sacrifício emregiões grandes e desconhecidas. Emmuitas de suas expedições Sellow éacompanhado por Ignaz von Olfers, umcientista e diplomata prussiano. Osdois rapidamente se tornam amigos pa-ra toda a vida e realizam juntos viagensàs vezes perigosas a vilarejos indígenasdas tribos Purí, Coropó, Coroado e Bo-tocudos. Em todos estes anos Sellowescreve 71 diários, escritos em letrasminúsculas e para muitos de difícil lei-tura. Nenhuma poesia, quase nenhumadescrição emocional ou de caráter pes-soal, ao invés disso, só fatos científicos.“Sellow até mediu os caminhos e as tril-has ao marcar os passos dos cavalos”,diz Sabine Hackethal. Entretanto os ca-derninhos de bolso guardam um tesou-ro único e valioso - juntamente com omaterial dos dados científicos se en-contram desenhos precisos e de altonível artístico de plantas, animais, dosnativos e das paisagens, como tambémpalavras (hoje em sua maioria já extin-tas) de línguas indígenas e as suas tra-duções.

Sellow envia 23 transportes de mate-rial com 151 caixas no total. Os minis-tros Altenstein e Alvensleben são sóelogios pelo empenho e entusiasmo deSellow e escrevem em um memorandoenviado ao rei Frederico Guilherme III:“O seu trabalho é uma grande contri-buição que muito acrescenta ao nossoacervo”, está ali noticiado. Em seguida,os ministros relacionam os tesouroscontidos no material enviado: 276mamíferos, 4945 pássaros, 638 caran-guejos e mariscos, 250 moluscos, 92garrafas com animais em álcool, muitosobjetos preparados anatomicamente, 23caixas de minerais...e vestimentas dosíndios”. Adicionalmente, entre outros,“duas caixas com plantas vivas, ...8 con-volutos de plantas secas...”

Sellow e Olfers recolheram por voltade 12.500 espécies botânicas quetambém foram catalogadas quase porinteiro. Apesar dos danos e perdasocorridas durante a Segunda GuerraMundial ainda existem hoje mais de1500 objetos no Museu Botânico de Ber-lim. Não há mais indicações exatas dos

locais onde o material foi encontra-do, embora se saiba que Sellow ostinha anotado. Na concepção dosmuseus do século 19, diz SabineHackethal, “esta não foi considera-da uma informação importante e,por isso, estas indicações se perde-

ram.” Eis porque hoje em dia, abaixodos objetos das exposições e das cole-

ções, só se encontra uma indicação àfonte: “Sellow, Brasil”.

Após percorrer o Brasil incessante-mente durante 17 anos, Sellow queriavoltar a Berlim para avaliar a sua cole-ção e os seus desenhos. Antes dissoporém, queria medir o Rio Doce. Umdecisão trágica, já que ele parece ter fa-lecido nas realizações deste trabalho.As condições exatas de sua morte nun-ca foram esclarecidas. Seus objetos detrabalho foram encontrados à margemdo rio.

Os diários de Sellow foram guarda-dos pelo seu amigo fiel Olfers que maistarde se tornou diretor geral dos mu-seus de Berlim e que também não tevetempo de catalogar e publicar osdiários. Assim, eles só foram descober-tos após a sua morte entre os seus bensdeixados. Devido ao desconhecimentodo seu valor e do nome do pesquisador

Sellow, estes documentos foram enca-minhados para os setores dos museusque eram os mais adequados para o re-cebimento dos escritos, como porexemplo, a geologia, a mineralogia e azoologia. Quase 150 anos depois, elesforam transcritos e avaliados. “Doisanos foram necessários para este tra-balho”, diz Sabine Hackethal. “São do-cumentos marcantes, ainda mais pelosdesenhos e retratos.” Os diários for-mam o cerne do livro ilustrativo que elaeditou junto com seus colegas em 2013,para homenagear Friedrich Sellow.

Ao lado da sua morte prematura háuma circunstância trivial que contri-buiu para o desconhecimento sobreSellow: não há nenhuma foto e nenhumretrato dele. O único desenho dele éum rápido esboço feito à pena pelopríncipe zu Wied, que mostra vultos dehomens vestidos à caráter montados acavalo. Um deles, o que tem o rosto vi-rado, deve ser Sellow. Assim, o homemque explorou o Brasil a serviço daPrússia continua sem rosto, sendo ape-nas um vulto em segundo plano. Suaobra porém continua viva e para quema aprecia, abre-se uma janela extraor-dinária para um mundo que já se foi hámuito tempo.

Uma janela paraOUTROS

mundosEm nome da Prússia, o alemão Friedrich

Sellow tornava-se no passado um importante

pesquisador de espécies naturais do Brasil

O pesquisador Sellow chegou aenviar cerca de 12.500 espécies

botânicas para a Alemanha, entreelas muitas espécies de borboletas

MUSEUM FÜR NATURKUNDE BERLIN /

HISTORISCHE BILD- UND SCHRIFT-

GUTSAMMLUNGEN

A aquarela de Friedrich Sellowmostra „Pai Gotinho“, um nativoque acompanhava a expedição

MF

N /

HB

SB

Muitos caminhos levavam o pesquisador até os povos indígenas. Na ilustração elemostra o interior da cabana com uma rede e objetos do cotidiano indígena

MF

N /

HB

SB

AV 717.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-007 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 2016 BRASIL & ALEMANHA 7

ANZEIGE

Um pequeno motor na

savana brasileira

Com um tamanho minúsculo,

mas com capacidade de fazer

muito barulho: pesquisadores

alemães da Senckenberg-Ge-

sellschaft, em Frankfurt am

Main, acabam de descobrir uma

espécie de rã na savana brasi-

leira nunca antes identificada.

O anfíbio mede apenas 12 milí-

metros e possui as cores amare-

la e laranja na região das costas.

No entanto, a característica

mais marcante dessa espécie

fica por conta do curioso ruído

que ele faz, o qual lembra muito

o de um pequeno motor. Cientis-

tas o batizaram imediatamente

de „motorzinho“.

Para identificar a nova espécie,

pesquisadores analisaram mais

de 2 mil tipos de ruídos diferen-

tes para comparar o anfíbio

da família Pseudopaludicola-

Pfeiffrösche com outros tipos de

rãs. Após a análise ficou claro:

„Motorzinho“ é uma nova desco-

berta. Além dele, cientistas

também identificaram uma

outra espécie, subindo para 20

o número de novos anfíbios da

família, segundo a divulgação

recente do periódico especializa-

do „Herpetological Journal“.

DP

A /

SE

NC

KE

NB

ER

G-G

ES

EL

LS

CH

AF

T

POR JOCHEN CLEMENS

Page 8: Juntos PODEMOS conseguir - brasil.epaper.cloud · OUTONO 2016 EDIÇÃO ESPECIAL BRASIL & ALEMANHA ANZEIGE ANZEIGE ANZEIGE G raças a Deus, tudo correub em: os Jogos Olímpicos de

V

ocê quer ir a pé da casa deGoethe à de Schiller? Emtrês minutos você podechegar lá. Do castelo da ci-dade ao museu Bauhaus?

Pela Rittergasse, em seis minutos. E sevocê quiser ir do Teatro Nacional Ale-mão à igreja de São Pedro e Paulo, preci-sará de apenas dois minutos. Supondo,porém, que você não pare pelo caminho,porque aí é que está o problema: quemnão reside em Weimar, cidade anfitriãdo Encontro Econômico Brasil-Aleman-ha deste ano, e não está acostumadocom as inúmeras atrações turísticasdesta cidade, vai achar impossível nãose encantar com elas. Com os seus 25museus extraordinários, exposições,vários castelos, jardins e parques, podeacontecer ao visitante que ele mudeespontaneamente o seu itinerário.

No ano de 1999, a cidade de Weimarfoi oficialmente declarada capital cultu-ral da Europa e, certamente, com seus65 mil habitantes, a 4a maior cidade doestado da Turíngia ainda merece estetítulo. É difícil encontrar em qualquerlugar da Alemanha tantos testemunhosde épocas distintas em espaço tão redu-zido, como também é verdade que ogênio do espírito alemão aqui se vê con-frontado com o nível mais baixo dahistória alemã: testemunhosarquitetônicos do regime nacional-so-cialista como o Gauforum e em especialo memorial do antigo campo de concen-tração de Buchenwald, localizado nasproximidades no morro Ettersberg, on-de, durante a ditadura nazista, morre-ram mais de 56 mil presos e, depois, en-tre 1945 e 1950, mais 7 mil pessoas emum campo especial soviético, o que de-monstra como a cultura e a barbárie po-dem estar tão perto uma da outra. Natu-ralmente pertencem à herança culturalda cidade as obras clássicas de Goethe,Schiller, Wieland e Herder, comotambém a tradição do estilo Bauhaus e aAssembleia Nacional de 1919, da qual seoriginou o nome da República de Wei-mar, estão presentes na história da cida-de localizada no rio Ilm. Em Weimar

também se encontram tesouros da artedos séculos 16 e 17. Johann SebastianBach trabalhou de 1708 a 1717 na cortedo Duque Guilherme Ernst e outroscompositores importantes como Ri-chard Wagner, Franz Liszt ou RichardStrauss também trabalharam nesta ci-

dade no século XIX, assim como o filo-sofo Friedrich Nietzsche e os pintorespaisagistas da escola de pintura de Wei-mar. Personalidades célebres do mundoartístico como Harry Graf Kessler eHenry van de Velde alcançaramimportância supra regional a partir deWeimar.

Quem estuda por aqui, seja na Uni-versidade Bauhaus ou na Academia deMúsica Franz Liszt, por exemplo, poderealizar as suas pesquisas diretamenteneste patrimônio cultural da humanida-de. Com as suas localizações nas cida-des de Weimar e Dessau, a Bauhaus, omais influente centro de educação paraarquitetura, arte e design do século XX,é portador deste título da UNESCOdesde 1996. Dois anos mais tarde a Wei-mar Clássica também foi declarada pa-trimônio mundial e, em 2001, as NaçõesUnidas declararam “patrimônio culturalda humanidade” as obras póstumas deJohann Wolfgang von Goethe, guarda-das no arquivo Goethe e Schiller da ci-dade. A estes documentos do pa-trimônio mundial pertencem também,desde 2015, escritas iniciais da ReformaLuterana, das quais boa parte se encon-tra na Biblioteca Duquesa Anna Amáliaque é, com o seu salão em estilo rococó,uma atração turística obrigatória, mes-mo para viajantes não- bibliófilos.

Weimar foi, de 1552 a 1918, a cidade ca-pital e residência do ducado de Saxônia-Weimar, tornou-se grão-ducado em 1815e foi, em 1816, a primeira cidade da Ale-manha a se dar uma constituição. Istoaconteceu durante o domínio do duqueCarl August (1757-1828), consideradomuito tolerante e esclarecido. Sob a suaregência e a de sua mãe Anna Amália, acidade teve papel de destaque como lu-gar das artes e da educação. Esta épocaestá presente até os dias de hoje. Um dostestemunhos mais importantes da Wei-mar Clássica é a casa de Goethe, na Frau-enplan, na qual morou durante quase 50anos até a sua morte. Também a casa de

jardim que o duque comprou para o poe-ta, para que este ficasse ligado à Weimar,é hoje um lugar de peregrinação literária.O mesmo se pode dizer da casa de Fried-rich Schiller, na qual os últimos grandesdramas do poeta, como “Messina” e“Wilhelm Tell”, foram escritas.

O castelo da cidade foi até 1918 localde governo e morada dos duques e grão-duques. Hoje, dentro da galeria Cra-nach, encontram-se coleções de arte im-portantes: os quadros da oficina Cra-nach abrangem obras da autoria de Dü-

rer e de seus contemporâneos, comotambém as obras do classicismo, do ro-mantismo alemão e do impressionismofrancês. Os salões clássicos do casteloresidencial antigo contam entre os maisbonitos da Europa e a sua localização noparque ao lado do rio Ilm só se podedescrever como magnífica. Não é de seestranhar que este parque teve em Goe-the um dos seus co-criadores e quetambém pertence ao patrimônio cultu-ral da humanidade da Unesco.

Percebe-se os ares do passado na ci-dade, em especial na praça principalcom o prédio da prefeitura e o famosoHotel Elephant. A história da atual pou-sada de luxo teve início no ano de 1669 ereflete o destino histórico de Weimar.

A alguns metros à frente, o museuGingko honra a “árvore do milênio”.Menos exótico, mas também de formaespetacular, a região mostra o seu ladoculinário. Degustar uma autêntica“Bratwurst” da Turíngia está entre as“top ten” em uma viagem a Weimar.

“Aqui me sinto bem”, dizem que Mar-tin Lutero falou durante a sua estadiaem Weimar entre 1518 e 1540. A Reforma,cujo jubileu de 500 anos será festejadaem 2017, também marcou esta cidade si-tuada às margens do rio Ilm e, emboraWeimar não conste entre as cidades lu-teranas mais importantes, as ligações doreformador à cidade são mais estreitasdo que comumente se pensa. Durantesuas visitas, Martin Lutero pregava mui-tas vezes na igreja municipal, onde hojeo tríptico de Lutero, pintada por LucasCranach, lembra a Reforma.

A pátria espiritual de Lutero no en-tanto sempre foi, sem sombra de dúv-ida, a cidade de Erfurt, que foi, com oseu mosteiro e a sua universidade, desuma importância na vida e obra destemonge valente e questionador. Em Er-furt, a atual capital da Turíngia, até osdias de hoje se encontram sinais visíveisda vida de Lutero e ela está a apenas 20minutos de Weimar, via carro ou trem.

Uma célebre ANFITRIÃMartin Lutero não foi a única personalidade histórica a encantar-se com a estadia em Weimar.

Com uma imensa herança cultural e intelectual, a pequena cidade atrai turistas do mundo inteiro

Para respirar o passado: o Centro Histórico de Weimar com a prefeitura e o tradicional Hotel Elephant é ponto de encontro para os turistas na cidade

PIC

TU

RE

AL

LIA

NC

E/ C

HR

OM

OR

AN

GE

/ M

ON

IKA

WIR

TH

Patrimônio da Humanidade: o parque às margens do rio Ilmcom o Castelo da Cidade (acima).Monumento com os dois célebres

escritores que fica naPraça do Teatro(abaixo)

PIC

TU

RE

AL

LIA

NC

E /

AR

CO

IM

AG

ES

/ P

. S

CH

ICK

ER

T

AV 817.10.16 Montag, 17. Oktober 2016 DWBE-VP2Belichterfreigabe: --Zeit:::Belichter: Farbe:

??/DW/DWBE-VP217.10.16/1/DWBE-VP2-008 WLENDL 5% 25% 50% 75% 95%

+

DIE WELT OUTONO 20168 BRASIL & ALEMANHA

Martinho Lutero sob

as palmeiras

Foi em 31 de outubro de 1517 que

Martinho Lutero pregou as

suas 95 teses na igreja do cas-

telo de Wittenberg e que mar-

cou o início da Reforma Pro-

testante, influenciando de for-

ma decisiva a própria Aleman-

ha e o resto do mundo. Este

jubileu de 500 anos também

será festejado no Brasil, embo-

ra seja um país de maioria

católica.

„Igreja sem-

pre em refor-

ma“, é assim

que se cha-

ma o projeto

de autoria de

dois pro-

fessores

renomados

de teologia,

o alemão

Christopher Spehr, da Univer-

sidade de Jena e o brasileiro

Claus Schwambach, da Facul-

dade Luterana de Teologia de

São Bento do Sul - RS. Desde

2012 promovem anualmente no

Brasil congressos referentes à

pesquisa da vida de Lutero.

A Igreja Protestante Luterana

foi fundada no Brasil por imig-

rantes alemães no século XIX.

Hoje em dia conta com cerca de

um milhão de membros e está

muito presente no estado do

Rio Grande do Sul.

Também há muitas comuni-

dades luteranas nos estados

do Paraná, de Santa Catarina,

do Espirito Santo e de São

Paulo (foto) e o estado do Rio

de Janeiro vai até promover,

em 2017, um dia de encontro

das igrejas.

PIC

TU

RE

AL

LIA

NC

E /

CH

RIS

WA

LL

BE

RG

ANZEIGE

S

anta Catarina se autodenomina a“Alemanha do Brasil”, uma vezque cerca de um terço da popula-

ção do estado no sul do país tem raízesalemãs. Em setembro do ano passado, oEstado Livre da Turíngia fechou uma par-ceria com o Estado de Santa Catarina,por ocasião da visita de uma delegação deempresários e cientistas da Turíngia, li-derada pelo ministro da economia e dasciências, Wolfgang Tiefensee (cristão-de-mocrata). Agora, o contrato de parceriajá está pronto e será assinado no Encon-tro Econômico Brasil-Alemanha desteano na cidade de Weimar.

A cidade mais conhecida deste estadobrasileiro pelos alemães certamente éBlumenau. Os turistas a visitam pelassuas casas construídas em estilo alemão

típico e tradicional e também por ocasiãoda “Oktoberfest”, que atrai mais de 600mil visitantes anuais e é tida como a se-gunda maior festa popular do Brasil.Santa Catarina tem, no entanto, muitomais do que folclore a oferecer: o sul doBrasil, incluindo Santa Catarina, é consi-derado, ao lado de São Paulo, o coraçãoindustrial do país. Este estado, que temapenas 1,1 % do território brasileiro e commenos de 7 milhões de habitantes corres-ponde a cerca de 3% da população do Bra-sil, possui o 5° maior parque industrial dopaís, no que se refere ao número de emp-regados (476 mil) e de empresas (43 mil).As empresas de destaque atuam nos ra-mos dos eletrodomésticos, da metalurgiae da engenharia, mas há também mais de1600 empresas nas áreas da alta tecnolo-

gia, que se concentram em Blumenau, emFlorianópolis e na maior comunidade doestado – Joinville, com mais de 500 mil-habitantes. A capital Florianópolis, porsua vez, é um ponto principal para em-presas inovadoras do Brasil. Nesta parce-ria com a Turíngia, a economia terá o pe-so principal mas, ao mesmo tempo, estacooperação deverá influenciar as ativida-des das áreas das ciências, da cultura e dosocial, já que na área acadêmica e univer-sitária planeja-se um intercâmbio entreestudantes da escola técnica da cidade deSchmalkalden e da Universidade da re-gião de Joinville. A Willy Brandt Schoolda Universidade de Erfurt anunciou quequer formar uma cooperação na área depolíticas públicas com a Universidade deSão Paulo (USP). USI

“Alemanha do Brasil”Estado alemão da Turíngia assina acordo de cooperação com Santa Catarina

PICTURE ALLIANCE / DANIEL KALKER

POR UWE SAUERWEIN