Johanna Lindsey
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MALLORY 09
Disponibilização/Tradução: Denise Ferreira
Revisão: Edith Suli
Revisão Final: Danyela
Formatação: Gisa
PPRROOJJEETTOO RREEVVIISSOORRAASS TTRRAADDUUÇÇÕÕEESS
Quando a jovem filha de Sir Anthony Malory é sequestrada do Hyde Park em Londres, o sequestrador
erroneamente manda a nota de resgate ao lar do irmão de Sir Anthony, James. Mas com James e sua esposa,
Georgina, no Caribe, a nota é recebida por seu hóspede, o irmão mais novo de Georgina, Boyd Anderson. Na
busca pela menina com Anthony, o notório, e bonito capitão americano tem toda a intenção de fazer pagar ao
temerário bandido, mas dificilmente esperava encontrar à deliciosa Katey Tyler, recente passageira de seu
navio, no centro do complô.
Depois da morte de sua mãe, a vivaz Katey Tyler abandona a tediosa cidadezinha de Gardener, Connecticut,
a procura de aventuras e romantismo, em um grande giro turístico pela Europa. Uma noite na estalagem em
que se hospeda, escuta uma penosa choramingação no quarto contíguo e acha uma garotinha atada e
amordaçada. Depois de libertar a pequena, acha melhor levá-la de volta a sua família, em Londres. Mas
Katey não esperava ser capturada por um alto e bonito americano e que a culpassem de sequestrar à menina
que resgatou.
Mas Katey desperta a atenção de Boyd Anderson, e não sabe que vai experimentar mais aventura e paixão
que uma dama encontraria em uma viagem, e que ao conhecer os Malory sua vida nunca mais voltará a ser
aborrecida.
Uma grande quantidade de surpresas espera Katey, da alarmante verdade sobre a curta vida de sua mãe até
incluir um homem que ganhará o afeto de uma mulher com todas as razões para desprezá-lo; mas quem pode
resistir à sedução e a paixão que lhe oferece.
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Prólogo
"Saindo de casa para visitar sua família".
Boyd Anderson encontrou algo claramente penoso nessa frase. Mas certo. Nos
últimos oito anos, cada vez que navegou para Bridgeport, Connecticut, com a esperança de
encontrar em casa e fazer uma visita a um de seus quatro irmãos mais velhos, nenhum
deles estava alguma vez ali. Viu-se obrigado a navegar a outros portos para encontrá-los.
Todos eles capitães, os irmãos de Boyd navegavam ao redor do mundo, mas
estavam acostumados a voltar para casa ansiosamente porque sua única irmã, Georgina,
estaria ali os esperando. Mas Georgina se casara com um inglês, Lorde James Malory, e
agora vivia do outro lado do oceano de Connecticut, e era ali aonde Boyd tinha que
navegar se queria vê-la. Essa não era uma boa razão para que Boyd se expusesse a
possibilidade de assentar-se ele mesmo em Londres?
Ainda não tomou uma decisão definitiva, mas se inclinava perigosamente por esta
opção devido a um bom número de razões, mas sobre tudo porque o clã Anderson ia a
Londres, aonde sua irmã vivia, com mais frequência do que retornavam a casa. E Georgina
não era o único Anderson que se havia aparentado com o clã Malory. O irmão mais velho
de Boyd, Warren tinha surpreendido à família fazendo o mesmo ao casar-se com Lady
Amy Malory. Embora Warren ainda navegasse no mínimo a metade de cada ano, levando
a sua família com ele, ele passava a outra metade em Londres de modo que seus meninos
pudessem conhecer seus muitos primos, tias e tios, tias avós e tios avós, e seus avós.
Criar raízes seria uma grande mudança na vida de Boyd. Significava deixar o mar
para sempre depois de ter navegado desde que tinha dezoito anos de idade. Agora tinha
trinta e quatro. Seu navio, o "Oceanus" se convertera em seu lar por quinze anos! Ninguém
sabia melhor quanto teria preferido uma casa que não se balançasse.
Também estava considerando deixar o mar por outras razões. Ao ver a Georgina e a
seu irmão Warren felizmente casados com membros do clã Malory, Boyd desejara cada
vez com mais ardor esse tipo de felicidade para ele. Isso não significava casar-se com uma
mulher Malory, mesmo se restasse alguma em idade casadoura. Infernos, não. Isso
significaria enfrentar com uma sólida parede de opositores Malory, o que não era
apetecível. Mas ele desejava uma esposa. Estava preparado. E se sua associação com o clã
Malory lhe tinha ensinado alguma coisa, era que o casamento podia ser uma coisa
maravilhosa. Era só que não encontrou ainda à mulher correta.
Estava muito cansado de relações efêmeras e intrascendentes com mulheres. Seu
irmão Drew podia ainda adorar ter um amor em cada porto, mas Drew era uma pessoa
despreocupada que facilmente formava pequenos vínculos e dessa forma tinha mulheres
para as quais retornar ao redor de todo mundo!
Mas isso não era fácil para Boyd. Não gostava de fazer promessas que não manteria,
nem tomar decisões apressadas, ao menos não quanto às importantes como escolher à
futura senhora de Boyd Anderson. E não gostava de distribuir seus afetos entre muitas
mulheres. Seria ele um romântico? Não sabia, mas compreendia que paquerar um variado
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ramalhete de mulheres não o satisfazia quando parecia agradar a Drew. O que na verdade
desejava era ter uma mulher a seu lado pelo resto de sua vida.
E sabia por que não estava nem sequer perto de encontrá-la. Viajando tanto como o
fazia, realizava breves e impessoais cortes. Precisava passar mais tempo com uma mulher
que o atraísse, conseguir conhecê-la realmente. Mas quando um marinheiro passava mais
que alguns dias em algum porto? Se ele se assentasse em Londres, teria todo o tempo que
necessitasse para encontrar a essa mulher especial destinada só a ele. Estava ali fora. Ele
sabia. Só precisava estar em um lugar o suficiente para encontrá-la e cortejá-la.
Boyd dirigiu o olhar para os moles cheios e ao povoado de Bridgeport ao longe e
sentiu uma pontada de tristeza. Esta poderia ser a última vez que estaria ali. A grande casa
em que os Anderson cresceram estava vazia desde que Georgina se fora. Tinha amigos e
vizinhos a quem ele tinha conhecido toda a vida e sentiria saudades, mas a família se
encontrava onde o coração estava, e Georgina foi o coração de sua família desde que seus
pais morreram.
O capitão de Boyd, Tyrus Reynolds, uniu-se a ele no trilho. Boyd não capitaneava
seu navio e nunca o fez. Sua família pensava que era de espírito muito livre para querer
tomar esse tipo de responsabilidade, embora sempre tivesse navegado com seu navio. Ele
nunca os tinha feito desentender-se dessa noção, embora não fosse correta.
- Se não tivesse tanta pressa por chegar à Inglaterra - queixou-se Tyrus, - poderíamos
ao menos nos ter desviado um pouco para um dos portos sulinos, para um carregamento
de algodão em lugar de receber passageiros a bordo.
Boyd sorriu abertamente para o homem mais velho a quem chamava amigo assim
como também capitão. Boyd estava a uns seis pés por debaixo dele, mas Tyrus era muito
mais baixo e tinha um temperamento resistente.
- Não considera um grupo de passageiros um bom carregamento? - perguntou Boyd.
Tyrus bufou.
- Quando tenho que entretê-los durante toda a viagem? E lutar com suas queixas! O
rum e o algodão não se queixam.
- Mas obtemos o mesmo lucro, se todas as cabines estão cheias. E não é a primeira
vez que recebemos a bordo passageiros. Só está de mau humor porque se lembra da última
vez quando aquela avó esteve tentando seduzi-lo com todas suas forças.
Tyrus gemeu.
- Não me lembre isso. Nunca lhe mencionei, mas na verdade conseguiu entrar
dentro de minha cabine e foi diretamente para minha cama. Levei um susto quando
despertei e a encontrei encolhida a meu lado.
Boyd estalou em risadas.
- Espero que não se tenha aproveitado dela.
O bufido do Tyrus foi muito mais significativo desta vez. Boyd fez que olhava para
outro lado para que Tyrus não observasse seu franco sorriso. Maldição desejaria ter visto
isso, mas simplesmente imaginá-lo fez querer rir outra vez.
Os olhos de Boyd ficaram cativados por umas brilhantes cores lavanda e rosa no cais
inferior se fixaram na mulher alta que vestia uma saia lavanda e uma blusa rosada. As
mangas da blusa estavam arregaçadas. Era pleno verão e definitivamente um dia quente.
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Com a frente de seu braço, a mulher passou uma mão sobre sua face, expulsando o
gorrinho de sua cabeça. Tinha o cabelo negro, mas ele já o tinha visto na longa trança que
lhe caía por suas costas. Desejou que ela se virasse em lugar de simplesmente lhe dar uma
vista de sua parte posterior, que não era nada desprezível. O gorrinho caiu a seu ombro,
enganchou-se pelas fitas de seda atadas ao redor de seu pescoço, mas ela não se
incomodou em acomodá-lo em sua cabeça porque estava fascinada no que fazia.
Estava assombrado. Ela alimentava às gaivotas e a cada outra ave na área que
notasse a comida que levava na cesta em seu braço. Não havia nada de mal nisso. Ele
mesmo alimentava às aves e outros animais selvagens em algumas ocasiões. Mas o fazia
em no de um mole cheio!
Um bando de aves a rodeava, e continuavam chegando mais. Estava se tornando um
estorvo. As pessoas tinham que passar seu bando. Alguns se detiveram brevemente a
observá-la, felizmente, sem bloquear sua paisagem. Um carregador experimentou
afugentar as aves para tirá-las de seu caminho, mas elas se aproximaram mais a sua
benfeitora. O carregador lhe disse algo. Ela se virou e lhe sorriu. E Boyd ficou encantado
pela vista frontal dela.
Não era exatamente bonita. Mas para seus olhos era deliciosa. Jovem,
provavelmente no início dos vinte. A pele ligeiramente bronzeada pelo sol do verão, um
rosto esbelto, belo, e covinhas quando ela sorria. E tinha muito busto. Meu Deus, curvas
essas que usualmente só apareciam em seus sonhos mais agradáveis!
- Feche a boca, moço, está babando - observou Tyrus.
- Talvez teremos que adiar nossa partida.
Tyrus seguiu seu absorto olhar.
- Demônios se o faremos, e, além disso, acredito que é um de nossos passageiros. Vi-
a no convés mais cedo. Irei comprovar com Johnson se quiser. Ele registrou aos
passageiros para esta viagem.
- Por favor, faça isso - aceitou Boyd sem afastar a vista dela. - Se disser que sim, terei
que beijá-lo.
- Assegurar-me-ei de não lhe mencionar isso - comentou Tyrus, rindo-se enquanto se
afastava.
Boyd continuou observando a jovem, desfrutando da vista. Que ironia tão grande
que acabasse de pensar na necessidade de encontrar uma esposa e aqui estava uma
candidata perfeita. Era o destino? E demônios, ela tinha algumas curvas notavelmente
deliciosas.
Tinha que conhecê-la. Se não era uma passageira, então possivelmente teria que ficar
e deixar que o "Oceanus" navegar sem ele. E se era uma passageira, tinha o pressentimento
de que ia ser a viagem mais agradável de sua vida. Mas não desceria ao mole ainda. Junto
com a excitação que sentia vinha um pouco de nervosismo. O que ocorreria se só era doce
aos olhos? O que aconteceria se tivesse um mau temperamento? Meu Deus, isso seria
muito cruel. Isso não poderia ser assim. Alguém que se tomava o tempo para alimentar às
aves selvagens tinha que ter um pouco de compaixão. E a compaixão usualmente ia de
mãos dadas com bondade e uma boa disposição. É óbvio que era assim, reconfortou-se a si
mesmo. Condenação! Não esperaria acertar à primeira, não é verdade?
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Ela deixou de lançar comida às aves. Ele, também ouviu um som que chamou sua
atenção a outro lugar. De sua posição no navio, pôde ver um pássaro ferido descansando
sobre a parte superior de uma pilha alta de caixas de madeira. Tinha-o notado ali mais
cedo, mas não
percebera estava ferido ou ele teria descido para recolhê-lo e ver se Phillips, o médico de
bordo, podia ajudá-lo antes de sua travessia.
Boyd gostava dos animais, e sempre tentava ajudar aos necessitados. Quando
menino, havia trazido para casa a cada animal perdido que encontrou, muitos para
exasperação de sua mãe. Aparentemente esta jovem era de temperamento parecido, já que
agora ia em busca do pássaro que emitia gorjeios de dor. Boyd acreditava que o pássaro
causava revoo porque estava tratando de descer até a comida que ela pulverizava e não
podia. Duvidava que a jovem pudesse ver o pássaro de sua localização no mole, mas ela já
estava rodeando as caixas de madeira, buscando-o, até que finalmente ergueu o olhar.
Boyd se apressou até os moles. Sabia que ela ia tentar subir por essas caixas de
madeira para alcançar à ave, o que seria perigoso. As caixas de madeira estavam
empilhadas a grande altura, pelo menos o dobro de sua altura, e em lugar de estar
amarradas quando deveriam, estavam empilhadas em uma pirâmide, com as maiores ao
fundo para que a pilha tivesse menos probabilidade de perder o equilíbrio.
Boyd chegou muito tarde. Ela já subiu a terceira caixa de madeira, seus dedos
colocados na beira, e tinha alcançado ao pássaro. Agora tentava persuadi-lo com rogos a
entrar na cesta.
Boyd controlou sua língua, assustado de que se dissesse algo, ela se distraísse e
cairia. Pela mesma razão, não tentou subir e tirá-la bruscamente. Mas não estava disposto
a deixar que se machucasse. Não se iria até que estivesse no chão, outra vez, sem nenhum
ferimento.
O pássaro, atraído com enganos pela comida da cesta, finalmente entrou nela. A
jovem tinha conseguido subir com o cesto pendurado no braço, mas agora que a cesta
tinha a um ocupante vivo, não ia ser tão fácil descer. Ela devia ter notado isso porque
desceu o olhar para seus pés.
- Não se mova - gritou Boyd. - Me dê um momento e tomarei essa cesta por você,
então a ajudarei a descer.
Ela voltou sua cabeça e olhou para baixo para ele.
- Obrigada! - Respondeu ela, deslumbrando-o com seu sorriso. - Não tinha idéia de
que isto ia ser muito mais difícil do que a princípio parecia.
Ele usou um barril pequeno e vazio quando um ponto de apoio para alcançar o topo
da primeira caixa de madeira. Não precisou ir um pouco mais alto para tomar a cesta das
mãos dela, logo simplesmente saltou de retorno até deixá-la a um lado. Mas ela não
esperou por sua ajuda. Ela baixava pela segunda caixa de madeira quando escorregou e
veio abaixo. Boyd se moveu rapidamente e a apanhou entre seus braços.
Seus olhos se abriram com surpresa. Também os dele. Que bênção tão inesperada.
Ele parecia não poder mover-se. Baixou o olhar para as profundidades de uns escuros
olhos verdes esmeralda. Meu Deus, seus olhos o tinham enganado. Era muito mais bonita
de perto. E ao sustentá-la encolhida em seus braços dessa forma, com os dedos de uma
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mão tocando um de seus seios e o braço envolto ao redor de seu traseiro, seu corpo
respondeu, e o único em que podia pensar era em beijá-la.
Enervado por desejar a uma mulher de uma maneira tão intensa e rapidamente,
desceu-a imediatamente. Longe dele.
Ela endireitou sua saia de cor de lavanda antes de voltar o olhar para ele.
- Muito obrigada, senhor. Isso foi aterrador.
- Não foi nada.
Com uma acolhedora inclinação de cabeça ela se apresentou.
- Sou Katey Tyler.
- Boyd Anderson. Possuo o "Oceanus".
- De verdade? Bem, possuo uma das cabines nele, ao menos até que cheguemos a
Inglaterra. - Ela sorriu abertamente.
Meu Deus, essas adoráveis covinhas outra vez. Seu corpo não se acalmava. Estava
surpreso de que inclusive fosse capaz de conversar, se a isso lhe pudesse chamar assim.
Que diabos lhe tinha levado a mencionar que era o dono do navio? Ele nunca fizera isso!
Cheirava a jactância ou tentar causar uma impressão muito boa.
- É Katey diminutivo do Catherine? - perguntou ele.
- Não, a minha mãe gostava das coisas simples. Disse que era melhor deixar de lado
Catherine já que sabia que no final me ia chamar Katey, e me chamou dessa forma.
Ele sorriu. Parecia-se com uma Katey de certa forma. As mangas enroladas, o cabelo
recolhido em um penteado informal, escalando caixas de madeira no cais! Boyd teve um
muito, mas muito forte sentimento de ter encontrado a sua futura esposa.
- Levarei a ave - propôs Boyd. - Nosso doutor pode atendê-la.
- Que idéia tão perfeita! Acho que quebrou a asa direita. Ia procurar a um moço que
gostaria de cuidar dele.
O sorriso de Boyd se fez mais marcado. Era bela e tinha um coração compassivo.
-Não lhe posso dizer como estou contente, senhorita Katey Tyler, de que vá navegar
conosco.
Ela piscou com certa indecisão.
- Obrigada. Você não pode imaginar quanto estive esperando com antecipação isto.
Oh!
De repente ela se foi correndo. Boyd deu a volta e a viu correndo para um menino
que vagava pela beira do mole. Devia ter uns poucos anos. O menino se agachava
temerariamente, olhando a água, e corria o perigo de cair. Mas agora estava em mãos da
Katey que percorria com o olhar os arredores, provavelmente procurando os pais do
menino, e em um instante ela entrou na multidão.
Boyd começou a segui-la, mas desistiu de fazê-lo. Ela poderia pensar que estava
muito ansioso. Tinha parecido alarmada quando expressou seu prazer de navegar com ela.
Foi muito direto, possivelmente até incorreto? Bem, ele não estava exatamente acostumado
às formas de cortejar. Mas estava seguro que podia ser tão encantador quando seu irmão
Drew se se propunha.
Depois dos muitos sarcasmos do Phillips a respeito de como desperdiçava suas
habilidades médicas em um saboroso sanduíche, Boyd retornou ao convés. A rampa de
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abordagem do navio ainda não foi levantada; os últimos fornecimentos ainda estavam
sendo carregados. E Katey Tyler estava a bordo.
Seus olhos, e logo seus pés, dirigiram-se diretamente para ela. Estava em pé na
amurada perto da rampa, e contemplava o povoado como ele fez mais cedo. Deteve-se
logo atrás ela.
- Reencontramo-nos.
Ele a tinha sobressaltado, possivelmente com o tom rouco de sua voz. Ela se virou
tão velozmente, que se chocou contra ele. Estava parado tão perto, cheirando o perfume a
lilás de seu cabelo, que ela não pôde evitar a colisão. Ruborizou-se enquanto tentava
afastar-se mas não pôde com o corrimão atrás dela. Resistente a perder o contato, Boyd
retrocedeu um passo para lhe dar seu espaço.
- Não provém de Bridgeport, não é verdade? - disse ele.
- Como soube?
- Porque sou de Bridgeport. Acredite-me, se você tivesse vivido aqui, eu teria
retornado a casa mais frequentemente.
Suas palavras e seu sorriso poderiam ter sido muito atrevidos porque estava
obviamente sobressaltada. Ela desceu o olhar, então começou a voltar-se para o mole, mas
alguma outra coisa atraiu sua atenção.
- Quem teria pensado que seriam tão problemáticas. - Comentou uma jovem de
cabelos cor cenoura enquanto se aproximava deles, segurando em cada mão a umas
crianças de poucos anos. - Vamos ter que estar pendentes delas se as subirmos outra vez a
coberta.
Katey se inclinou e tomou a uma das meninas e o colocou em seu quadril, quem
começou a brincar com seu cabelo. Boyd não podia distinguir se o nenê era um menino ou
uma menina.
- Não é uma má idéia, Grace. Nesta idade são muito curiosas - assinalou Katey.
- Bem, aqui, dêem-me, pô-las-ei embaixo da coberta antes que naveguemos.
- São seus? - perguntou Boyd logo que a outra mulher partiu com as duas meninas.
Ele estava brincando, mas Katey lhe dirigiu um olhar carrancudo em seu bonito
rosto. Então seus olhos se abriram e disse:
- Sim! Na verdade, não me ocorreu mencioná-lo, mas estou casada e em caminho a
me encontrar com meu marido na Inglaterra. Deveria ir e ajudar a minha criada. Esses dois
podem ser uns diabos.
Foi embora correndo. Boyd ficou aí parado, aniquilado.
Tyrus se aproximou dele, golpeando ruidosamente uma mão em seu ombro.
- Não é sempre o mesmo? As boas já estão casadas.
Boyd negou com a cabeça e gemeu. Ia ser uma viagem longa.
CAPÍTULO 1
Londres, Inglaterra, 1826
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A nota foi entregue por um menino desalinhado que ignorava que se encontrava na
casa equivocada. O engano não era culpa dele. Não lhe tinham informado que em Londres
existiam muitas casas que pertenciam aos Malory. Ele se dirigiu à primeira que lhe
indicaram, agradado pelo fato de que logo teria umas quantas moedas em seu bolso. E tal
como lhe instruíram foi correndo antes que Henry pudesse interrogá-lo.
Henry e Artie, duas velhas e perebentas focas, compartilharam o trabalho de
mordomo na casa do James Malory desde que deste se retirou de sua vida no mar e ambos
se retiraram com ele. Mas recentemente James havia tornado por pouco tempo ao mar,
para resgatar a seu cunhado Drew Anderson, que se tinha metido em uma embrulhada,
quando - segundo um de seus tripulantes que tinha conseguido escapar-, piratas tinham
capturado seu navio no porto londrino! Com ele a bordo! Henry e Artie tinham jogado
uma moeda a cara ou coroa que para ver quem navegaria com o James para o resgate.
Henry tinha perdido.
Henry lançou a nota sem lê-la sobre uma montanha de cartas e convites que
enviavam algumas pessoas que desconheciam que os Mallory deste ramo particular da
família não estavam em sua residência. Um mordomo comum nunca teria deixado que a
bandeja sobre a mesinha do vestíbulo transbordasse de convites e cartas. Mas nos oito anos
desde que Henry e Artie compartilhavam o trabalho, nenhum deles tinha aprendido como
ser um correto mordomo.
Essa tarde quando Boyd Anderson retornou à casa Malory em Berkeley Square,
encontrou a nota em sua bandeja, junto com algumas outras cartas que deslizaram da
grande pilha junto a ela. Usualmente ele não tinha sua própria bandeja em casa de sua
irmã Georgina, mas isso se devia a que usualmente suas visitas eram de uma ou duas
semanas, nunca duravam várias semanas como esta visita. Nem tampouco era a primeira
vez que o correio da Georgina se confundia com o seu.
Apesar de pensar muito nisso em, Boyd ainda não tomava a decisão de instalar-se
na Inglaterra. Mas essa não era a razão pela qual ainda estava ali. Não tinha retornado ao
mar porque estava fazendo a sua irmã um favor. Embora Georgina se havia aparentado
com a grande família Malory e a qualquer de seus numerosos parentes por afinidade teria
dado muito gosto encarregar-se de suas crianças enquanto ela estava fora, a filha de sete
anos da Georgina, Jacqueline, negou-se a unir-se a seus jovens irmãos gêmeos na casa de
campo de sua prima Lady Regina Éden, porque não queria estar longe de sua melhor
amiga e prima, Judith. Os outros Mallory em Londres poderiam ter cuidado dela, mas já
que Boyd se hospedava em sua casa londrina, Georgina lhe pedira que vigiasse ao
Jacqueline até que retornasse da navegação.
Teria preferido acompanhá-los no resgate. Isso teria sido algo muito bom com o que
incomodar a seu irmão Drew. Mas ele, em realidade, fez a Georgina outro favor, ao não
continuar insistindo em ir, já que seu marido não se dava bem com nenhum de seus
irmãos, incluindo a ele. Esse homem nem sequer se dava bem com seus próprios irmãos. E
não havia forma de que ele e James Malory não se enfrentassem a golpes se terminassem
juntos em um navio. Além disso, o olhar na cara de James quando Boyd tinha sugerido os
acompanhar, Boyd estava contente de ter uma desculpa para ficar depois de tudo.
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- Todos sabemos, onde Jack preferiria ficar. - havia Georgina comentado. - Salvo que
Roslynn sugeriu que poderia estar grávida outra vez, pelo que neste momento necessita
paz e tranquilidade em seu lar, o que não seria o caso com o Judy e Jack em casa. Quando
estiver preparado para navegar será o suficientemente oportuno deixá-la ali.
Roslynn Malory acabou não estando grávida. Boyd terminou não navegando
quando esperava. E Jack, quando seu pai a tinha renomado em seu nascimento, era
suficientemente feliz onde estava, já que conseguia visitar sua prima Judith com tanta
frequência quando gostava.
De qualquer maneira, Boyd não estava exatamente preocupado por Drew. Georgina
se tinha preocupado bastante por todos eles. Mas Boyd conhecia muito bem a seu irmão e
não tinha dúvida que sairia bem sem importar o problema no qual se envolvera, muito
antes que Georgina e seu marido chegassem para ajudá-lo. Demônios, considerando
quanto tempo estavam fora, começava a suspeitar que nem sequer tinham conseguido
alcançar o navio do Drew!
Georgina não esperara que Boyd ficasse tanto tempo em Londres. Ninguém, nem
sequer ele mesmo o esperara. Mas quando seu navio, o "Oceanus", retornou de sua curta
travessia, em lugar de partir com ele, enviou-o fora outra vez. E pensou muito mais em
deixar de navegar para sempre.
O negócio familiar dos Anderson, a naval Skylark, agora contava também com um
escritório em Londres. Embora sua família tivesse evitado a Inglaterra por longos anos
devido à velha guerra e o rancor que tinha surgido dela, estavam outra vez firmemente
arraigados no comércio com os ingleses. De fato, agora que a Inglaterra era a central para
todas suas rotas recém adquiridas, o escritório londrino tinha crescido grandemente nos
últimos oito anos. Boyd não podia imaginar-se assumindo o controle dela.
Ficar na Inglaterra? Deus, por que não o fez ainda? Porque por estranho que
parecesse, amava o mar. E odiava o que lhe fez.
Georgina o tinha iniciado na sociedade londrina mais de uma vez em suas visitas.
Inclusive tinha um armário com um guarda-roupa mais apropriado para um cavalheiro na
casa dela, especialmente para suas estadias londrinas, já que os ingleses vestiam com um
pingo de elegância extra a dos marinheiros! Não levava as gravatas com excessivos
vincados ou os punhos de camisa em forma de laço como alguns faziam. De fato, seguiu o
exemplo de seu cunhado James,… camisa de boa feitura, e o pescoço aberto. E tinha
algumas jaquetas de veludo com as quais vestir-se - para os acontecimentos sociais de
noite.
Em sua longa visita tinha recebido convites para bailes e soirées dos conhecidos da
Georgina que sabiam que ainda estava na cidade, e ocasionalmente os aceitou. Não
procurava desesperadamente uma esposa, mas se a mulher correta aparecesse, esse seria o
incentivo para assentar-se. Ele tinha pensado que já a encontrou. Katey Tyler teria sido a
mulher perfeita para ele se ela não estivesse já casada!
Deus, como a deixou penetrar em sua mente uma vez mais? A primeira vez que
acontecera, levou dias e uma boa rajada de bebida para poder tirá-la de novo. Mas só por
pouco tempo. Ela rondava em seus pensamentos a maior parte do tempo. Sabendo que
não podia tê-la devido a já ter um marido o fazia desejá-la até mais! Não podia deixar claro
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o que havia em Katey Tyler que o fez retorcer-se durante a viagem. Tendo em conta que
não era o tipo de mulher que cativava seus olhos.
Em primeiro lugar era muito alta, de fato era algumas polegadas menor que ele. Ele
preferia sentir-se alto no referente a suas mulheres, e a senhora Tyler não o fez sentir-se
assim quando paravam frente a frente. Mas isso não tinha importância. Um olhar a suas
exuberantes e abundantes curvas e nada mais tinha importância.
Ela poderia falar muito sobre nada em especial. Isso era uma façanha notável. Até
mais notável, ele não o tinha achado nada incômodo! Suas covinhas frequentemente
faziam parecer que estava sorrindo mesmo que não o fizesse. E ela se contradizia muito, o
que podia ser realmente confuso, mas ele em realidade achou isso muito cativante. Fazia
ela parecer fascinantemente distraída. Seu nariz era magro, quase fino, suas sobrancelhas
bem finas, sua boca... não podia pensar em sua boca sem se desesperar.
Nenhuma mulher o tinha afetado tanto como esta antes, ou permaneceu em seus
pensamentos por tanto tempo.
Entretanto, Gabrielle Brooks tinha capturado seu interesse. Que alívio foi, saber que
não era um caso perdido depois de tudo! Ela podia ter banido Katey de sua mente, bem,
essa foi originalmente sua esperança. Gabby tinha chegado a Londres quase ao mesmo
tempo que ele e se convertera em hóspede da Georgina e James porque seu pai, um velho
amigo do James, tinha-lhe pedido que a patrocinassem para a temporada.
Uma coisa bonita, Gabby poderia ter feito que seus pensamentos se voltassem para
matrimônio se Drew não se tivesse fixado nela. Não é que seu despreocupado irmão
tivesse a intenção de colocar os grilhões, como o fez o inglês. Mas também Gabby parecia
fascinada com o Drew, assim é que Boyd deixo de pensar nela quando sua possível esposa.
Além disso, era a filha de um pirata, como resultou ser ela também, e Boyd teria dado
muito trabalho deixar passar esse simples fato. Os piratas eram os Nêmeses dos
marinheiros honestos.
Ele percorreu com o olhar os dois convites em sua bandeja que de fato estavam
dirigidos a ele e cuidadosamente afastou os outros quatro que estavam dirigidos a sua
irmã. Abriu a nota dobrada porque não sabia para quem ia dirigida. Teve que lê-la duas
vezes antes de entender o que significava. E então subiu as escadas gritando o nome de
sua sobrinha.
Quando encontrou Jacqueline em seu quarto, a cor voltou para suas faces e seu
coração lentamente retornou a sua pulsação normal. Ele leu a nota outra vez.
"Tenho a sua filha. Comece a reunir sua fortuna se quer recuperá-la. Informarei o
lugar de entrega".
Boyd guardou de um golpe a nota em seu bolso, decidindo que obviamente foi
entregue à casa equivocada. Perguntou-se se algum dos vizinhos da Georgina tinha filhas.
Não sabia, mas ele teria que levar essa nota às autoridades.
- O que se passa, tio?
Percorrendo com o olhar a expressão desolada do Jack, Boyd respondeu:
- Poderia lhe perguntar o mesmo.
Ela começou a encolher os ombros, mas então suspirou e disse:
- Judy monta seu primeiro cavalo hoje em Hyde Park. Não um pônei, o tio Tony
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comprou a ela um autêntico cavalo.
- E não foi convidada a observar? - adivinhou ele.
- Sim, mas achei que só o tio Tony deveria compartilhar isso com ela. Esteve
esperando isso com expectativa.
Boyd conseguiu reprimir um sorriso. Sua sobrinha tinha só sete anos, mas algumas
vezes o assombrava com seu profundo entendimento e sua consideração para com outros.
Obviamente desejava estar no parque observando a sua melhor amiga montar seu
primeiro autêntico cavalo, mas em lugar disso teve em conta os sentimentos do pai da
menina.
Boyd estava informado da excursão e tinha temido que Jack se sentisse ignorada. De
fato tinha considerado comprar para ela também um cavalo, mas então percebeu que sua
irmã poderia ter um ataque se o fizesse. Embora foi a provável reação do James o que lhe
fez desistir da idéia.
Se Sir Anthony estava esperando com expectativa ver a excitação de sua filha ao
montá-la em seu primeiro cavalo, James provavelmente o esperava com a mesma emoção.
- Além disso - acrescentou Jacqueline. - Judy vem de visita esta noite para passar o
fim de semana, assim escutarei...
Ela não terminou a frase porque Henry entrou precipitado e completamente sem
fôlego, como se tivesse subido correndo as escadas tal como Boyd o fez. Sem dizer o que
havia lhe trazido acima com tal pressa, deu uma olhada à menina da casa e logo indicou a
Boyd de que saísse ao corredor. Henry sabia que as crianças pequenas tinham orelhas
grandes, e esta era uma coisa em que devia estar absolutamente seguro de que Jack não
escutasse sem intenção.
- Um mensageiro acaba de vir de parte de Sir Anthony - sussurrou Henry
urgentemente na orelha de Boyd. - Pediu que cada homem da casa vá e o ajude a procurar
a sua filha, ela desapareceu no parque.
- Por todos os infernos - disse Boyd, e acompanhou Henry escada abaixo antes de
mostrar ao lobo do mar a nota.
Agora tinha sentido. A nota não foi entregue à casa equivocada nessa rua,
simplesmente na casa Malory equivocada, o que era frequente com oito diferentes
residências Malory na cidade.
- Não vai ser necessário fazer uma busca - disse Boyd com desagrado. - Mas preciso
levar esta nota a Sir Anthony imediatamente.
- Demônios, o capitão ficará furioso por não ter podido estar aqui para ajudar.
Boyd não duvidou que o capitão ao que Henry se referia era James Malory. Os dois
irmãos mais novos Malory eram muito próximos, tal como Boyd era próximo ao Drew e
Georgina, sendo eles os três últimos em nascer em sua família.
- Nesse caso terei que representá-lo - disse Boyd saindo precipitadamente da casa.
CAPÍTULO 2
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A viagem em carruagem foi aterradora. Era uma velha carruagem e os assentos nem
sequer tinham estofamento. Possivelmente o tivessem quando a carruagem era nova, mas
faz quantos séculos depois disso? Ambas as janelas estavam abertas aos elementos.
Qualquer vidro que poderia ter estado ali fazia muito tempo que se havia quebrado e
retirado.
Um simples tecido foi cravada com tachinhas sobre cada abertura para ao menos
impedir que entrasse o vento, assim como também deixava fora a maior parte da luz do
dia. Ao menos não havia probabilidade de congelar-se já que estavam a princípios de
outubro. Judith estava agradecida por ter uma coisa menos a que temer.
Ainda assim não tinha chorado. Seguia dizendo-se a si mesma que era uma Malory e
os Mallory eram feitos de uma matéria mais forte. E, além disso, seus olhos lhe arderiam se
chorasse. Sabia que o fariam. E suas mãos estavam atadas assim não poderia enxugar as
lágrimas. Mas era difícil retê-las e não derramá-las.
O que começou como um dia emocionante se convertera em um pesadelo dos que
nunca tinha imaginado. Estava alardeando no parque. Não queria que seu pai se
preocupasse de que o cavalo que lhe tinha comprado fosse muito grande para ela, ou que
ela não pudesse manipulá-lo corretamente.
Era uma formosa égua, um cavalo magro de só dois pés mais alto que seu pônei. E
tinha bom balanço no assento. Seu pai lhe tinha comprado uma sela normal, não uma sela
de mulher, e lhe havia dito que faltavam a ela alguns anos mais em frente antes de que
precisasse aprender a montar como uma dama. Ela só queria ver com quanta rapidez
correria a égua e lhe provar que não precisava preocupar-se com ela.
Mas seu breve recurso a tinha levado por uma curva no caminho, longe donde seu
pai tinha estado parado observando-a e fora de sua vista. Já tinha reduzido a velocidade
da égua para dobrar e retornar quando foi arrancado bruscamente dela. A égua recebeu
umas palmadas e se afastou com velocidade, e Judith foi arrastada através da grossa
folhagem ao lado do caminho com uma mão sobre sua boca para evitar que gritasse.
E além disso uma voz a tinha ameaçado:
- Faz qualquer ruído, e lhe cortarei a garganta e jogarei seu cadáver aos arbustos.
Não fez nenhum ruído. Pelo contrário se desmaiou.
Quando despertou, suas mãos estavam atadas, seus pés estavam atados, e sua boca
amordaçada. Cair do assento ao duro chão a tinha despertado.
Não tentou levantar-se para retornar ao assento, não pensou que poderia arrumar-se
e o medo tomou seu lugar. Sabia que a carruagem corria imprudentemente já que seu
corpo pequeno era ricocheteado por todo o sujo piso. Aonde fosse que a estivessem
levando, tinha a certeza de que nunca conseguiria chegar. A carruagem ia dar tombos e
romper-se com ela dentro.
Mas eventualmente parou sem contratempos e a porta se abriu. Imediatamente lhe
arrojaram algo, uma capa ou uma manta que a cobriu, sem lhe dar nenhum tempo para
ver quem estava ali. Foi envolta com a capa de tal forma que estava coberta até a mais
mínima polegada antes que a arrastassem do piso pelos pés, logo o vento a golpeou
enquanto a deixavam cair sobre um ombro ossudo para ser conduzida a alguma parte.
Ainda não tinha visto quem a tinha raptado, mas a voz que a tinha ameaçado, um
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tanto rouca, tinha mostrado que era a de uma mulher. Mas isso não diminuiu o medo de
Judith.
Nesse momento ouvia sons, muitos, e vozes, até um pouco de risada. E o aroma de
comida era forte, fazendo que se desse conta de como estava faminta. Mas Judith mais
tarde compreendeu que se desvanecera, como se já tivessem passado um portão ou uma
cozinha ou um refeitório e estes ficassem atrás. Não podia ver nada através da capa, mas
podia deduzir que a levavam escada acima. A pessoa que a conduzia começou a respirar
mais pesadamente pelo excessivo esforço.
Uma porta foi aberta. Chiou. E só então a colocaram em algo suave. Uma cama? Não
lhe tiraram a capa. Tentou rebolar para tirá-la e assim poder ver outra vez.
- Para com isso. - Grunhiu-lhe uma voz. - Fica quieta, calada, e não sairá ferida.
Ficou quieta. E já estava em silêncio. E a porta voltou a abrir-se, mas não a deixaram
sozinha. Alguém mais tinha chegado.
- Pensei que fosse você quem se movia às escondidas até o quarto da taverna. -Disse
um homem com um tom acusador. - Onde demônios esteve, mulher? Quando me arrastou
até aqui para visitar sua tia, não disse que desapareceria por um dia inteiro. Despertei para
saber que saíra esta manhã. O que devia pensar, né?
Ele se tinha aproximado da cama enquanto falava, mas retrocedeu logo ofegando e
virou para grunhir à mulher.
- O que é isso?
- Essa é sua fortuna. - Disse ela com uma risada abafada.
Arrebataram-lhe a capa. A luz do abajur no quarto a cegou por um momento, mas
logo que seus olhos se adaptaram, Judith ficou olhando com olhos muito abertos a um
homem alto de olhos celestes e brilhante cabelo de cor cenoura. Não era nem feio nem de
aparência agradável. Estava vestido decentemente, também, como a maioria da classe
abastada. E observou que seu rosto se tornava pálido enquanto ficava olhando com o olhar
fixo. Estava assustada, mas por alguma razão o homem parecia estar ainda mais assustado
que ela.
Ele voltou sua expressão horrorizada para a mulher.
- Seu cabelo? Seus olhos? - Ele se engasgou. - Achou que não reconheceria a quem
pertence?
- Achou que trataria de escondê-lo?
- Perdeu a cabeça, não há outra desculpa. - exclamou ele. - Olhe este nariz torto.
Acreditava que nasci com ele? Olhe estas cicatrizes em meu rosto! Sabe quantos ossos de
meu corpo quebrou esse homem? Tenho sorte de estar com vida depois da surra que me
deu, e você rouba a sua filha? Como pôde fazer isto? Por quê?
- Cada vez que toma umas doses tenho que escutar você choramingar sobre a
fortuna que devia ter sido tua. Bem, deveria estar contente de que finalmente estou de
acordo com você. Tem meu apoio, deve ser tua, nunca deveria ter ido à mãos de uma tola
jovenzinha, depois de casar-se em uma família rica. Assim volta para casa onde pertence, a
nós.
Geordie Cameron negou com a cabeça incredulamente. Ele realmente nunca tinha
lamentado casar-se com essa mulher até agora. Tinha-a contratado para fazê-la
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administrar sua primeira loja em Edimburgo, já que ele ignorava tudo sobre o
funcionamento de uma loja. Tinha terminado sucumbindo a seus flertes e lhe pedira que se
casasse com ele. Era de classe baixa, mas naquele momento de sua vida não se importou.
Ele poderia ter feito algo como isso naquele tempo. Em realidade, tinha tentado obrigar à
mãe dessa menina a casar-se com ele. No final, Roslynn o fizera mudar de parecer com sua
generosidade.
- O que um homem diz quando está como um gambá, não é usualmente o que pensa
quando está sóbrio. Renunciei a essa fortuna faz anos. Meu tio avô tinha todo o direito de
dar a quem quisesse, e minha prima era seu parente mais próximo, assim que a deu a ela.
Ele nunca me teria dado uma parte , me odiando como o fazia.
- Ainda assim, dever-te-ia...
- Cale-se, mulher, e me escute. Estou lhe dizendo isso porque perdeu a cabeça.
Minha prima Roslynn me deu o meio para abrir nossas lojas. Deu-me dez mil libras, as
quais foram deslizadas em minha valise sem que eu soubesse, sem esperar um
agradecimento por isso. Foi o suficiente para abrir três de nossas lojas, e nos mantiveram
bastante bem. Não somos ricos, mas tampouco nos falta o dinheiro. E assim é como a
recompensamos?
- E acha que perdi a cabeça quando acaba de dizer à moça quem sou?
- Você o fez no momento que mencionou essa maldita fortuna em relação a sua mãe.
Ela resfolegou, e logo murmurou:
- Tomei certas precauções para esconder aonde estamos. Até roubei uma velha
carruagem esta manhã antes de sair para Londres, só em caso de que pudessem notar que
partia precipitadamente. Mas ninguém me viu. Foi tudo muito fácil. Tinha o plano de
entrar em sua casa, mas enquanto vigiava, a moça bonita saiu com seu pai. Assim pelo
contrário, segui-os ao parque, um lugar muito melhor para um ataque, pensei, até que me
dava conta de que o homem não permitia que se separasse de sua vista. Estava a ponto de
partir quando ela caiu em minhas mãos.
- Não me interessa como o fez, quero escutar quando o desfará. Levará ela de volta.
- Não. - Respondeu ela rotundamente. - Já é muito tarde para isso. Antes de
abandonar Londres, fiz os preparativos para que a nota seja entregue esta noite,
comunicando aonde deveriam levar o resgate. A estas horas já a terão recebido. - Mas
então lhe sorriu. - É a melhor coisa que alguma vez me tenha ocorrido, homem, não há
quem o negue. E agora lhe estou pagando isso nos fazendo mais ricos do que umas
quantas lojas poderiam fazer. Então o que importa se tivermos que partir do país por isso?
- Acrescentou ela com indiferença. - Esse é um pequeno preço que pagar por uma fortuna.
Consulta-o com o travesseiro. Verá que estou certa de manhã.
Então levantou nos braços à menina e a colocou no piso, na esquina do quarto para
que assim pudessem recuperar sua cama. Geordie imediatamente agarrou dois
travesseiros da cama assim como também a manta e as pôs ao redor da menina para pô-la
mais cômoda. Sua esposa riu dele. Ele apertou os dentes, esperando que o sono de uma
noite lhe fizesse ver o engano que ela tolamente tinha cometido. Não gostou de pensar na
possibilidade de enviar a prisão a sua esposa para salvar a vida a ambos. Pois não tinha
nenhuma dúvida que o que ela tinha começado ia ser a causa de suas mortes nas mãos de
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Anthony Malory, se a moça não era devolvida imediatamente.
- Por favor, por favor, diga a seu pai que eu não tive nada que ver com isto. -
Sussurrou à menina enquanto a cobria gentilmente. - Não foi minha idéia, juro.
- O que é o que estas murmurando? - exigiu sua esposa.
- Nada, querida.
CAPÍTULO 3
Um miado despertou Katey Tyler pela segunda vez nessa noite. Um gato? Um bebê?
Era difícil de determinar exatamente o que fazia esse ruído, mas era muito irritante, e
parecia vir do quarto diretamente junto ao dela. Sua cama limitava com a parede que
dividia os quartos, por um momento considerou o tentar mover a cama e afastá-la o mais
possível da fonte do ruído, mas era uma cama grande e não acreditava poder movê-la sem
despertar a todos outros no andar.
Tinham atracado a essa estalagem nos subúrbios do Northampton muito tarde na
noite anterior. Não estava muito cheio assim é que Katey podia alugar também um quarto
para sua camareira, Grace. Agora desejava que esse não tivesse sido o caso, porque se
Grace estivesse ali, juntas teriam podido mover a cama.
O melhor a fazer, seria levantar-se e ir investigar o som. Depois de tudo, não havia
Katey vindo à Inglaterra para ter aventuras? Bem, não exatamente a Inglaterra, já que era
meramente a primeira parada em sua volta ao mundo. Mas o objetivo de sua viagem era
ver e fazer coisas novas e pôr alguma excitação em sua vida. Aventura, excitação, talvez
até um pouco de romance se tivesse sorte.
Do último tinha obtido mais do esperado em sua travessia no "Oceanus" da América
do Norte a Inglaterra, ou o teria tido se ela não tivesse entrado em pânico e se apresentasse
com uma identidade que não era realmente a sua para assim evitar o avanço dos homens
ao fazer-se passar por uma mulher casada. Ela acabava de iniciar sua grandiosa excursão e
não queria que terminasse imediatamente por sua atração pelo primeiro homem de
aparência agradável com o que se encontrasse.
E essa foi uma possibilidade muito forte ao conhecer Boyd Anderson. Quando ele a
tinha segurado em seus braços ali no mole em Bridgeport, Connecticut, salvando a de uma
desagradável queda das caixas de madeira sobre as que subiu, havia-se sentido
tremendamente sobressaltada. Mas quando lhe sorriu! Meu Deus, havia-se sentido tão
estranha por dentro que se assustou, pelo que se alegrou de encontrar a primeira desculpa
para afastar-se correndo.
E ainda não se acalmara desse encontro, quando um pouco mais tarde ele se
aproximou dela na coberta de seu navio. O que sabia ela a respeito dos homens, depois de
tudo? Ter três propostas de matrimônio de homens mais velhos em seu povoado não a
tinham preparado para alguém como Boyd Anderson. Mesmo que tivesse a um moço de
dezesseis anos de idade saindo em perseguição de sua carruagem quando deixava
Danbury com sua mãe, não lhe tinha gerado mais sentimentos que diversão. O menino a
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tinha seguido por toda parte durante sua breve viagem de compras à cidade, mas não
havia dito uma só palavra até que o deixaram. Nesse instante gritou atrás dela que ele
seria um bom marido! Então, só tinha doze anos de idade e não fez mais que rir
bobamente enquanto sua mãe revirava os olhos.
Mas Boyd Anderson com seu cabelo encaracolado, de ouro e café, e esses olhos café
escuro que tão facilmente a tinham fascinado, era o homem mais bonito que alguma vez
tinha visto. E se ele não se aproximara dela outra vez no convés, tão pouco tempo depois
de seu primeiro encontro, de que maneira tão diferente poderia ter-se desenvolvido sua
viagem. Mas ele o fez. Mais ainda, aproximou-se tanto que a roçava, afligindo-a com sua
masculinidade. E então aquele novo sorriso, tão sensual, roubou-lhe o fôlego e lhe
produziu uma miríade de sensações novas tão instáveis que fez que entrasse em pânico.
Assim não foi estranho, que se jogasse sobre a idéia que lhe desse,quando sua camareira se
aproximou com os dois meninos que escoltavam a Inglaterra, e ele meio em brincadeira
lhe perguntou se eram seus.
Ele não se aproximou dela outra vez, assim fingir que estava casada tinha servido a
seus propósitos. Tinha evitado que fizesse mais avanços. Mas, Oh, que excitante foi isso!
Saber que se sentia atraído por ela, vê-lo em seus olhos, em sua expressão, cada vez que
estava perto dela. Seu controle foi especialmente admirável porque ele teve a aparência de
um paiol de pólvora de paixões!
Pensar nisso não lhe permitiu voltar a adormecer, mas isso não era incomum. Ela
lamentou ter entrado em pânico quando um homem de aparência tão agradável e
masculina como Boyd tinha expresso interesse nela, mas por isso é que veio a essa viagem:
pela aventura e a experiência. Na próxima vez que se encontrasse com as atenções de um
homem de aparência agradável, saberia como dirigir a situação.
O desagradável barulho se iniciou outra vez. Se estivesse em casa, imediatamente
teria averiguado o que acontecia. Não podia suportar pensar em animais feridos, famintos,
ou vítimas de abuso. Tinha açoitado ao agricultor Cantry por todo o povoado, uma vez,
com a própria vara deste, logo que a tirou de sua mão quando o apanhou usando-a em seu
cavalo. Os cervos comiam maçãs de sua mão, tinham tal confiança nela. E os gatos de seu
vizinho deixavam regularmente ratos em seu alpendre como presente.
Outra vez o som chegou até os ouvidos de Katey. Finalmente ela afastou os lençóis,
vestiu o robe que deixou no pé da cama, e estava fora da porta antes até de havê-la
assegurado. Estava a ponto de bater na porta do outro quarto mas se deteve bem a tempo.
Realmente não queria despertar ninguém mais somente porque seu sono foi perturbado.
Ela puxou seu cabelo muito negro debaixo do robe enquanto pensava o que fazer.
Provavelmente era simplesmente um gato apanhado em um quarto vazio. Esta seria a
segunda vez que lhe acontecia durante a viagem, se esse fosse o caso. Estava bem
avançado o verão quando chegou a Inglaterra, agora era quase outono, e os donos de
estalagens deixavam as janelas abertas, inclusive nos quartos vazios para mantê-los
afrescos tanto como pudessem antes que o clima se tornasse muito frio. Assim, os gatos de
rua encontravam seu caminho ao interior através dessas janelas abertas à procura de
comida, e logo esqueciam como sair e causavam grande rebuliço por esse motivo.
Experimentar se a porta estava aberta, dir-lhe-ia rapidamente se o quarto estava
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ocupado. Se estivesse trancada, teria que considerar descer a escada para queixar-se ao
hospedeiro. Se se abrisse, o ruidoso gato provavelmente sairia correndo a toda pressa ao
corredor, e seu problema estaria solucionado.
A porta se abriu quando virou a maçaneta. Ela a empurrou o suficiente para que o
gato saísse correndo, mas nenhum gato apareceu. Havia um resplendor laranja no quarto
como um fogo extinguindo-se, ou um abajur baixo, o que indicou que o quarto estava
ocupado por pessoas em vez de gatos perdidos.
Ela fechou a porta silenciosamente, envergonhada por ter aberto a porta do quarto
de alguém. Entretanto, não se moveu. O que tinha provocado o barulho? Um bebê? Essa
foi sua outra idéia. Possivelmente os pais estavam tão acostumados ao som que não
despertava. Mas ali estava outra vez, esse gemido, e estranhamente, soou mais
desesperado agora.
Só daria uma pequena olhada, disse-se a si mesmo enquanto reabria a porta e
colocou a cabeça pela abertura para investigar o interior do quarto. Havia um abajur com
uma chama tão exígua que poderia apagar-se de um momento a outro. Ali estava a cama,
ocupada por um par de pessoas debaixo dos lençóis, roncando suavemente.
Procurou velozmente uma cesta no chão que pudesse conter um bebê, e se o
encontrasse, despertaria aos pais para que se encarregassem dele. Mas o que encontrou foi
um par de grandes olhos que se cravavam nos seus, olhos que pareciam lhe suplicar,
pertenciam a uma criança que estava amordaçada e sentada no chão em um canto do
quarto. Não podia afirmar se era menino ou menina nem podia ver se suas mãos também
estavam atadas já que uma manta as cobria, mas suspeitava que estavam, porque não fazia
nenhum esforço para tirar a mordaça.
O inteligente seria descer correndo as escadas para pedir ajuda. Mas Katey não se
preocupou em ser sensata. Tinha que tirar a criança dali. Mais tarde se preocuparia sobre
se tinha direito a interferir ou não. Uma visita ao magistrado local esclareceria isso, e se a
criança fosse devolvida a seus pais, talvez o magistrado pudesse infundir o suficiente
medo neles para evitar que maltratassem a seu filho outra vez.
Esse mau trato a enfureceu e a levou diretamente através do quarto sem pensar nas
duas pessoas dormindo na cama. Mas quando alcançou ao menino e tirou a manta,
revelou o longo cabelo acobreado de uma menina, Katey viu que o mau trato era muito
pior do que tinha pensado. Não só estava a garota presa de mãos e pés, mas sim uma
longa tira de tecido também a assegurava ao lugar já que tinha um extremo preso ao redor
de seu tornozelo e o outro atar ao redor de uma dos pés da cama. Por isso é que ela não
tinha tentado rebolar ou rodar para sair dali.
Katey rapidamente desatou a longa tira de tecido e recolheu à garota. Agora estava
mais atenta às pessoas na cama que poderiam despertar de um momento a outro.
Sussurrou um "Shh" à menina em caso que não compreendesse que a estavam resgatando
e fizesse ruído outra vez, Katey andou na ponta dos pés fora do quarto e conseguiu fechar
a porta atrás delas sem ter de deixar no chão à menina. Então correu para seu quarto,
colocou à garota na única cadeira do quarto, rapidamente fechou sua porta, e acendeu um
abajur, assim poderia ver o que estava fazendo antes de começar a soltar as cordas.
As cordas eram tiras de tecido áspero, com nós que estavam muito apertados para
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soltar-se, pois aparentemente a menina se esforçara em soltar-se. Mas Katey viajava
preparada para os contratempos menores e as emergências.
Usualmente deixava os baús de roupa maiores atados em sua carruagem de aluguel
se só fosse ficar por pouco tempo em um lugar, seu cocheiro passava a noite em seu
interior para protegê-los. Por isso levava uma mala de mão com mudas de roupa interior,
um vestido de viagem adicional, e uma pequena caixa de costura.
Trouxe as pequenas tesouras da caixa de costura e cortou rapidamente as ataduras
da menina. Mas uma vez libertada, a menina se dirigiu diretamente ao urinol do canto do
quarto, tropeçou e tropeçou todo o caminho sem dúvida porque suas extremidades
estavam intumescidas por estar presas por tanto tempo. Pobre menina! Não era estranho
que tivesse emitido tais ruídos lastimosos.
Katey se voltou de costas para dar à garota um momento de privacidade. Abriu a
cesta do lanche que ela e Grace tinham começado a levar desde que tiveram que passar a
noite com fome porque tinham atracado a uma estalagem muito tarde para jantar.
- Tem fome? - perguntou ela enquanto tomava pão e cortava uma rodela de queijo.
- Estou esfomeada.
- Bem, venha se sentar aqui. Não é nenhum festim e está um pouco seco, mas...
- Muito obrigada - interrompeu-a a menina, lhe arrebatando da mão o pão.
- Se esperar um momento, preparar-lhe-ei um prato.
- Não aguento a vontade - disse a garota com a boca cheia. - Realmente, isto está
bem.
Katey franziu o cenho.
- Quando comeu por última vez?
- Esta manhã. Ou foi ontem pela manhã? Não sei que horas são.
Nem Katey. Podiam estar perto do amanhecer pelo que ela podia saber. Com as
cortinas do quarto fechadas, não podia distingui-lo. Mas agora fixou um olhar horrorizado
na moça.
- Como puderam lhe fazer isto seus pais? Procedeu tão terrivelmente mal?
- Meus pais nunca me tratariam assim - disse a garota, seu tom quase ofendido. Mas
fez uma pausa quando viu um bolo na cesta e o agarrou antes de continuar, - se você se
referir ao casal da outro quarto, nunca os tinha visto antes em minha vida.
Katey achou isto altamente incerto e ia dizer isso mas controlou sua língua. A
menina estava desesperadamente faminta, comendo tudo o que via. Foi amarrada e
deixada no frio chão para dormir. Se os do lado eram seus pais, mereciam alguns tiros.
- Então como chegou ali?
A moça se sentou na cadeira junto à mesa e comeu com menos pressa. Katey via
agora que era excepcionalmente bela. Seu cabelo de ouro solar estava com mechas de
cobre, e embora estivesse despenteado, ainda estava limpo e brilhante. E seus olhos eram
de um precioso tom azul sombrio. Tinha uma equimose em uma face. E embora o vestido
de equitação em veludo rosado que tinha vestido estivesse sujo com pó e o que se parecia
com uma teia de aranha enganchada à saia, não era uma roupa velha. O material tinha o
brilho de um tecido novo, e se ajustava perfeitamente, pelo que devia ter sido feito
especificamente para ela, o que queria dizer que devia ser rica.
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Nesse momento a doce voz da menina interrompeu seus pensamentos.
- A mulher me desmontou de meu novo cavalo e disse que me cortaria a garganta e
deixaria meu corpo nos arbustos se fizesse qualquer ruído. Não sei por que não lembro o
que aconteceu depois disso, mas como despertei, estava amarrada no piso de uma velha
carruagem de aluguel. E então me trouxeram a esse quarto.
- Sequestraram-lhe! - Katey ficou sem fôlego.
- A mulher o fez. O homem parece que é um parente de minha mãe, e lembro uma
conversa a respeito de um primo que deu a ela uma boa quantidade de problemas antes
que eu nascesse. Mas não foi sua idéia me trazer aqui. Ele quis me levar diretamente de
volta a Londres. Parecia muito assustado de meu papai e do que lhe faria. Mas a mulher se
recusou a deixar ir. Quer a fortuna que acreditam lhe darão por mim. E ela pareceu ter a
palavra final.
Katey começava a ter algumas dúvidas agora que sabia que havia um parente
envolvido. Ele não teria deixado que a menina fosse seriamente ferida, não é? Não
obstante, tinha a mantido amarrada e inclusive não a tinha alimentado!
Ela percorreu com o olhar à menina outra vez, quem ainda enchia de comida sua
boca, e suas dúvidas se desvaneceram. Como se atreveram a maltratar a esta menina!
- Assegurar-me-ei pessoalmente que chegue a casa - prometeu Katey com um
reconfortante sorriso. - Meu próximo destino é Londres. Sairemos logo ao amanhecer.
- Por favor, poderíamos ir agora? - Interrompeu a menina, sua expressão se encheu
de medo. - Não quero que me apanhem outra vez. Ouvi-os dizer que o ferrolho na porta
estava quebrado, quando me amarraram à cama, assim é que saberão que alguém me tirou
dali, que não o poderia fazer por mim mesma.
- E procurarão nas cercanias - concluiu Katey com um assentimento. - Muito bem,
sairemos agora.
CAPÍTULO 4
A camareira de Katey, Grace Harford, resmungava a respeito de viajar pela estrada
antes do amanhecer. Muito consciente do hábito da Katey de embelezar acontecimentos
comuns com dramáticas histórias, não acreditou em nenhuma palavra da explicação da
Katey de por que deixavam a estalagem tão antecipadamente, acompanhadas por uma
garotinha. Acaso não tinham escoltado aos sobrinhos do vizinho da Katey até a Inglaterra?
Não lhe pediu acaso, um hospedeiro em Escócia a Katey que escoltasse a seu jovem filho
até sua mãe em Aberdeen ao escutar que ela se dirigia para lá? As pessoas olhavam a
Katey Tyler com seus grandes olhos verdes, volumosas faces, e seu belo sorriso e
instantaneamente confiavam nela, inclusive confiavam suas crianças. Judith Malory, como
a garota se apresentou, era simplesmente outra criança que foi confiada aos cuidados da
Katey para uma viagem, e era por isso, pelo que Grace estava preocupada.
As pessoas tinham carinho por Katey logo que a conheciam, mas Katey não estava
segura do por que. Nem sequer uma vez pensou que era porque fosse bonita. Sua mãe foi
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uma beleza com seu cabelo negro como o carvão e olhos verdes esmeraldas. Mas embora
Katey se parecesse a ela, ninguém lhe deu muita importância à sua aparência enquanto
crescia, assim que ela tampouco o fez. Em sua opinião, sua donzela com sua multidão de
sardas e o cabelo vermelho encaracolado era mais atraente à vista.
Katey era bastante alta com seus cinco pés e nove polegadas. Quando seu pai
morreu, tinha dez anos de idade, e já era tão alta como ele, e cresceu ainda mais depois
disso. Resultou ser cinco polegadas mais alta que sua mãe. Adeline tinha afirmado que
Katey obteve sua estatura de seu lado da família, porque seu próprio pai foi muito alto.
Agora Katey poucas vezes pensava em sua altura e só se sentia desconfortável
quando estava perto de um homem mais baixo que ela, mas isso não ocorria
frequentemente. O que a incomodava mais que sua altura eram suas curvas. Tinha ouvido
os homens descrevê-la como uma fina e corpulenta fulana. Muitas vezes tinha apanhado
aos homens cravando os olhos em seu amplo peito. Inclusive os anciões do povoado!
Mas, além disso, Katey se tinha sentido a gosto no diminuto povoado de Gardener,
era extrovertida e sempre estava disposta a dar uma mão se alguém o necessitasse. Até os
desconhecidos se aproximavam dela. Podia estar em pé em meio de uma multidão de
pessoas mas um estranho se aproximaria e pediria orientações a ela e ignoraria a outros,
embora não muitos estranhos tivessem atravessado esse diminuto povoado.
Mas o mesmo poderia dizer-se de seus vizinhos em Gardener. Frequentemente se
aproximavam dela porque era acessível, amigável, e se não podia ajudar com algo,
usualmente conhecia alguém que podia. E acrescentava um pouco de excitação a sua vidas
com os contos que narrava.
Katey não se surpreendia nem um pouco que Grace tivesse chegado à conclusão de
que era simplesmente outra de suas histórias. Cinco anos mais velha que Katey - ela
acabava de completar os vinte e dois anos-, Grace tinha chegado a viver com os Tylers dez
anos atrás e se tornara insubstituível como camareira, governanta e amiga. Mas era
teimosa em suas opiniões, assim Katey não tentou convencer a sua camareira do contrário.
Simplesmente se recostou nos assentos da carruagem com destino a Londres, e sorriu para
si mesma saboreando pela primeira vez a emocionante história que lhe tinha contado que
era de fato verdadeira.
Judith estava surpreendida, entretanto, e logo que a criada se afundou no assento à
frente delas e voltou a dormir, a garota murmurou ao ouvido de Katey.
- Por que não acreditou?
- Não tem que sussurrar - respondeu Katey. - É das pessoas que dorme
profundamente. Sacudindo-a é a única maneira em que a acorda. Nem sequer gritar serve.
Mas sobre porque não me acreditou, bem, é um pouquinho complicado por minha própria
história em sim.
- Não estou cansada - disse Judith como a estimulando a contar a história.
Katey sorriu abertamente à garota.
- Muito bem, onde começar? Cresci no lugar mais aborrecido do que se possa
imaginar. Não era um povoado em si, só uma vila. Não havia lojas além do armazém que
minha família possuía. Não havia estalagem, nenhuma taverna. Tínhamos uma costureira,
quem trabalhava em sua casa, e um agricultor que se interessara pela carpintaria e vendia
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móveis fora de seu celeiro. Oh, e tínhamos um açougueiro, embora ele não fosse em
realidade um açougueiro, simplesmente um caçador que mantinha à fauna local fora do
povoado.
Judith, com os olhos muito abertos agora pelo interesse, perguntou:
- Os animais vagavam pelas ruas?
- Oh, sim. Não era tão perigoso como acha, embora há um ano, um alce destruiu
ligeiramente a cerca da senhora Pellum. Provavelmente se tivesse ido pacificamente se ela
não tivesse tentado persegui-lo com sua vassoura. Mas nenhum povoado poderia ser
menor que Gardener. Se alguém necessitava de um doutor, ou um advogado, deviam
seguir a estrada para chegar ao povoado do Danbury a vinte milhas de distância.
Nenhuma nova família se mudou a nosso povoado em alguma ocasião, e os meninos se
vão logo que são suficientemente maiores para fazê-lo.
- Foi isso que você fez? -Bisbilhotou Judith. - Ir embora como os meninos quando
eram crianças?
- Não logo como teria gostado. Minha mãe estava ali, verdade, e nunca me ocorreu ir
sem ela. Não tinha a ninguém mais senão a mim depois que meu pai morreu. Bem, tinha,
mas sua família a tinha repudiado, assim já não contaram como família mais.
- Por que fizeram isso?
Katey encolheu os ombros.
- Escutei-a dizer, que eram ricos aristocratas, com muita influencia na alta sociedade.
Recusaram-se que se casasse com meu papai simplesmente porque era americano. Bem,
possivelmente também porque era um comerciante. "Vivia do comércio" foi como o disse
minha mãe. Aparentemente desaprovaram isso também.
Judith não estava surpreendida.
- É um tipo de esnobismo comum entre a classe abastada. Muitos deles olham por
cima do ombro a quem se dedique ao comércio.
- Fazem-no? Bem, isso soa como um terrível e estreito pensamento para mim. Se
meu papai não tivesse sido dono da loja, nunca teria ido a Inglaterra em primeiro lugar,
não teria conhecido a minha mãe, e como suporá, nunca teria nascido!
Judith lhe deu um olhar que dizia claramente, "por favor não fale comigo como se
fosse uma menina". Katey quase explodiu em risada. A "garotinha" realmente parecia
maior que sua idade.
- Devia abrir uma loja? -perguntou Judith depois.
- Não, duvido que alguma vez tenha considerado essa idéia. Para sua informação,
em casa tinha todos os fornecedores que necessitava para a loja no povoado próximo do
Danbury, mas nunca vendeu nada interessante, só o que os agricultores locais
necessitavam e produziam. Ele veio aqui a Inglaterra para ver se encontrava algo mais
exótico que vender e encontrou a minha mãe em lugar disso. Assim é que ela fugiu com
ele, queimou suas pontes se poderia dizer, e nunca mais voltou a ver sua família inglesa
outra vez.
- Pensei que reconhecia seu sotaque. - Judith lhe sorriu abertamente. - Agora tenho
parentes americanos. Mas por que sua mãe não retornou a seu lar na Inglaterra quando
seu pai morreu?
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Katey suspirou. Isso era o que sempre quis que fizesse sua mãe, tinha trazido à luz o
assunto ao menos uma vez cada ano, nos últimos doze, desde que seu pai morreu, mas
Adeline Tyler desprezava a sua família por lhe dar as costas, e se recusou redondamente a
pôr outra vez os pés na Inglaterra. Além disso, assumiu o controle da loja e na verdade
desfrutava do trabalho. Foi como mais uma bofetada no rosto para os Millards, seus
parentes ingleses, que ela em pessoa estivesse no "comércio". Não é que sua família soube
alguma vez disso, já que não se comunicava com nenhum deles, mas parecia que sentia
uma silenciosa e oculta satisfação com a idéia.
Para a curiosa menina sentada em frente a ela, Katey disse:
- Quando a família de minha mãe a repudiou, ela mais ou menos os repudiou,
também. E acredito que desprezava a Inglaterra por isso.
Judith assentiu com a cabeça.
- Mas o que tem tudo isto que ver com que sua criada duvidasse do que contou?
Katey riu baixo. Tinha pensado que a menina se esquecera disso, mas como não era assim,
Katey perguntou a ela.
- Alguma vez esteve tão aborrecida de que cada dia passasse depois do outro, sem
ter lembranças que valham a pena rememorar?
- Nunca - respondeu Judith instantaneamente.
- Então teve sorte, porque assim foi como transcorreu minha vida em Gardener. E
não fui a única que despertava cada dia com nada mais que esperar com expectativa. Os
aldeãos que ficavam eram todos anciões, e todos eles levavam uma vida sem
contratempos. Parecia que isso não lhes importava, mas se algo excitante ocorria,
certamente desfrutavam escutando sobre isso. Assim uma ou outra vez lhes dava algo
excitante para escutar.
- Mentia-lhes?
Katey piscou. A menina não só era bela, era inteligente e muito perceptiva. E embora
Katey nunca tivesse sonhado discutir coisas a respeito de si mesma com uma
desconhecida, sentiu um vínculo incomum com a moça, provavelmente porque
compartilharam a primeira e autêntica aventura da Katey em sua grandiosa viagem.
- Caramba, nunca pensei nisso como em mentir. Meramente criei pequenos
acréscimos, fortuitos, mais "reais" sobre coisas que presenciei. Por exemplo, quando notei o
gato da senhora Cartley no alto de seu telhado, parecia como se o gato obstruiu aí, e estava
muito assustado para descer. E como amo aos animais, não podia deixá-lo á em cima.
Sabia que os Cartleys não estavam em casa porque foram visitar sua filha em Danbury
aquela manhã e não retornariam em várias horas mais. Assim fui e escalei a grade da
senhora Cartley para poder subir a seu telhado, mas quando consegui subir lá, o gato se
fora!
- Recuperou a coragem para saltar?
- Não. - Katey riu baixo. - Desceu da mesma forma que "subiu", com uma escada!
Esqueci-me de que o senhor Cartley estava reparando seu telhado desde inícios dessa
semana. E deixou a escada apoiada contra a parte traseira de sua casa. A excitação se
acabou, e a situação era muito insípida. Assim em lugar de mencionar isso à senhora
Cartley mais tarde, disse-lhe que seu gato subiu em cima do nosso telhado, o qual é muito
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mais alto, por ser nossa casa de dois andares, e que minha criada arriscou a vida e suas
extremidades para subir pelo velho carvalho junto a nossa casa para salvá-lo. Grace foi
nomeada Heroína do Mês, o que não a importou nem um pouco, e deu a todos algo mais
de que falar em lugar do clima.
- Isso soa como meu primo Derek que assegurava que o peixe que apanhou neste
verão tinha dois pés de comprimento, mas sua esposa nos disse mais tarde que era de só
seis polegadas. Era mais interessante escutar que era um peixe gordo, mas foi certamente
engraçado quando nos inteiramos que não era suficientemente grande para pegá-lo. Esse
tipo de histórias são as que você conta?
- Semelhante mas não exatamente. Para que compreenda, eu tinha mais ou menos
sua idade quando comecei a me pôr "criativa" algumas vezes em descrever o que via ou
para. Tive uma grande desilusão esse ano. Pensei que iria à escola em Danbury, onde
finalmente poderia conhecer algumas outras crianças de minha idade, ainda que isso
significava montar por horas a meu pônei, de ida e volta. Mas um velho professor se
retirou a Gardener um ano antes, e minha mãe o convenceu de que me desse aulas em vez
disso. Assim é que como vi um desconhecido roubando tomates da horta de minha mãe
enquanto eu ajudava a fazer os pãezinhos para o jantar, limitei-me a observar, se ele estava
tão faminto para roubar não era eu quem impediria mas como minha mãe retornou à
cozinha, acreditava que me culparia pelos tomates perdidos, já que sabia que eu estava
aborrecida por ficar em casa, assim é que lhe disse que afugentei a um ladrão com o pau
de macarrão que estava usando.
- Você ajudava na cozinha? -Comentou Judith. - Desejaria poder fazer isso, mas
nosso cozinheiro só me dá um doce e me diz que vá.
Katey se divertiu de que a menina estivesse mais interessada na cozinha que no
ladrão.
- Só tivemos uma criada, Grace - lembrou Katey, apontando com a cabeça para sua
adormecida companheira. - Assim é que todos ajudávamos nas tarefas.
- Na verdade sua mãe se daria conta que faltavam tomates? - perguntou Judith.
- Oh, sim, sabia exatamente quantos tomates estavam em sua plantação e quantos
exatamente estavam preparados para colher. Amava a sua horta. Eu, também, agora que
penso nisso. Passei um bom número de horas com ela em nosso pátio traseiro.
A menina não notou a melancolia que se abateu em Katey com essas lembranças.
Meu Deus, tinha saudades de sua mãe. Foi um acidente tão estúpido o que levou sua vida
no inverno passado, um mero escorregão em um pouquinho de gelo. Judith suspirou
junto a ela.
- Essa é outra coisa que não temos, legumes semeados em uma horta. Meu tio Jason
tem montões de estufas em Haverston, e uma fazenda no campo, só para poder cultivar
neles todo o ano. Pelo contrário, nós temos jardins em nossa casa na cidade, mas só têm
flores. Cook compra toda nossa comida no mercado.
Era estranho que uma menina visse suas tarefas com inveja, outra as poderia ver
como um trabalho, e ainda outras pessoas as veriam como uma forma de romper a
monotonia.
- Assim é que mentiu a sua mãe? - disse a menina francamente.
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Katey se ruborizou, ao ouvir o desse modo.
- Tive que lhe contar sobre o ladrão. Ele foi muito real. Somente não queria que
soubesse que fiquei lá e não fiz nada para detê-lo. Mas isso causou tal comoção no
povoado que os homens saíram a caçar a esse ladrão por dias inteiros. Dava-lhes algo do
que falar por quase a metade do ano. Deveria ter visto como injetei "vida" neles, se souber
o que quero dizer. Assim é que embora minha mãe me desse uma terrível reprimenda por
arriscar a vida e me advertiu de que nunca mais fizesse outra vez uma coisa tão tola,
aprendi alguma outra coisa desse incidente. Aprendi a remover o aborrecimento de nossas
vidas, embora só por um momento.
- Assim frequentemente embeleza os acontecimentos dos que é testemunha? -
interrogou Judith.
- Sim, costumo "criar" excitação como por arte de magia - disse Grace com um
bocejo, enquanto se sentava direita em frente a elas.
- Não frequentemente - disse Katey a sua criada.
- O suficientemente frequentemente para me converter na heroína do povoado -
resmungou Grace.
- Desfrutou de ser a heroína... Outro motivo havia para que o povoado inteiro
chorasse quando partia. E a mim meramente agitavam as mãos e me diziam adeus.
Grace riu muito.
- Muito bem, desfrutei dessa parte.
- Não posso imaginar o que deve ser, não ter algo excitante com o que passar o
tempo - comentou Judith. - Em minha família, sempre há algo interessante ocorrendo. Por
exemplo, meu tio James e minha tia George partiram no mês passado para perseguir uns
piratas. E ao final do verão meu primo Jeremy se casou com uma ladra que acabou sendo a
filha perdida de uma baronesa.
Katey piscou. Inclusive Grace a observava com a dúvida refletida em seus olhos,
para logo dirigir um olhar a Katey que lhe dizia: " Tão rápido adquiriu seus maus hábitos
esta jovenzinha?" E de fato soava como se a menina estivesse embelezando sua história.
Katey estava a ponto de rir, mas então Judith acrescentou:
- Veio aqui para conhecer seus parentes ingleses?
Katey ainda não estava certa. Esse era um assunto do qual não queria discutir. Teve
toda a intenção de fazê-lo durante a viagem e o esperara com emoção. E quando chegaram
a Inglaterra, dirigiu-se imediatamente ao Havers, o qual, segundo sua mãe, era o povoado
mais próximo à fazenda familiar dos Millard em Gloucestershire. Mas uma vez ali,
abruptamente mudou de idéia.
-Fez isso - respondeu Grace à garota, - mas não teve a coragem para bater a sua
porta e nos dirigimos a Escócia em lugar disso.
- Não é a causa de que tenhamos vindo - refutou Katey, incomodada pela franqueza
de sua criada. - Simplesmente era algo que devíamos fazer enquanto estávamos aqui, e
agora é algo que podemos fazer em outra ocasião ou possivelmente nunca. Provavelmente
nem sequer sabem que existo. Além disso, já tínhamos planejado ir de excursão a Escócia.
- Como pode não desejar conhecer sua família? - perguntou Judith assombrada.
- Repudiaram a minha mãe. Nunca pude entender como se desentenderam de tudo
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com sua própria filha. Foi algo muito cruel, e não estou segura de querer estreitar uma
relação com pessoas como essas.
Judith assentiu com a cabeça, mas Grace dirigiu seu olhar fora da janela, e
repentinamente disse:
- Talvez devesse se animar um pouco. Há um condutor imprudente que vem
baixando pela estrada, e o senhor Davis não percebeu, talvez ele não seja capaz de mover-
se a tempo para evitar uma colisão.
Judith olhou com cuidado fora da janela e empalideceu.
- É ela! A mulher que me raptou está conduzindo essa carruagem.
- Então, a história da Katey era certa? - exclamou Grace, percorrendo com o olhar da
Katey a Judith.
- Sim, era - respondeu Katey.
- Bem, tal parece ser que diminui a velocidade - comentou Grace, vigiando a
carruagem que se aproximava. - Acredito que quer falar conosco.
Katey apertou os lábios.
-Também eu gostaria de falar com ela, mas terei que me privar de lhe dizer o que
penso. É mais importante que a levemos a casa com sua família. - Então Katey se dirigiu à
menina e lhe disse:
- Se agache assim não poderá vê-la se tratar de olhar pela janela. E não se preocupe.
Não deixaremos que se aproxime outra vez de você.
CAPÍTULO 5
Boyd nunca tinha visto sir Anthony Malory tão contrariado como o esteve no dia
anterior em Hyde Park. Quando Boyd o encontrou, o homem estava fora de si pela
preocupação. Mas o esperava porque alguns dos criados do Anthony com quem se cruzara
lhe haviam dito quão angustiado estava o homem. Tinham encontrado o cavalo de sua
filha no outro lado do parque e temiam que estivesse atirada em alguma parte entre os
arbustos, ferida ou morta.
Malory nem sequer deu uma oportunidade a Boyd para lhe dizer que tinha notícias.
Virtualmente o arrancou fora de sua sela quando este se dirigiu a ele, ergueu-o sobre seus
pés pelas lapelas da jaqueta e o sacudiu. Malory era quase seis polegadas mais alto que
Boyd, pelo que era muito capaz de fazer isso.
- Onde estão os homens que se supunha que traria? - Tinha gritado Anthony a Boyd.
- Sei infelizmente bem que meu irmão tem pelo menos meia dúzia de lacaios em sua casa.
Normalmente Boyd não permitiria que o maltratassem dessa forma e já estaria nesse
momento dando uns quantos murros. Era um mau hábito que havia desenvolvido como o
mais jovem de cinco irmãos, era raro conseguir triunfar sobre eles a menos que usasse os
punhos. Mas na verdade sentia por este homem, sabia o que era temer por um membro da
família. James, o irmão do Anthony foi o responsável pela preocupação de Boyd pela
Georgina. Tinha lhe perdoado faz tempo. Quase.
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Só porque compreendia o que o homem estava passando, Boyd não tentou explicar
nada a Anthony, simplesmente pôs a nota em sua cara. Procurou não cair a terra quando
Anthony o soltou abruptamente. Logo observou cautelosamente como Anthony lia a nota.
De repente Anthony parou de gritar, e uma calma estranha desceu sobre ele. Bem,
não tão estranha. Enquanto que a maioria dos Andersons gritavam com força quando
estavam zangados, os Mallory tendiam a reagir de forma contrária. Quando estavam
calmos era o momento de preocupar-se.
- Dinheiro? - Havia dito Anthony, enquanto relia a nota. - Assustam a minha filha e
quase me levam a loucura por dinheiro? Podem ter todo o maldito dinheiro que queiram,
mas em troca terei suas peles.
Essa foi a primeira reação do Anthony à nota. Mas isso foi ontem. Levou o resto do
dia para conseguir que sua esposa deixasse de chorar com a convicção que Judith estaria
bem, agora que sabiam que não caíra de seu cavalo ou que estava gravemente ferida. Mas
enquanto isso era terrível esperar a chegada da próxima comunicação dos raptores, e Boyd
escolheu esperá-la na casa do Anthony.
Boyd lhes tinha explicado:
- É por minha sobrinha, Jacqueline, não quero que saiba nada até que sua filha esteja
segura em casa, e em lugar de lhe mentir, preferiria evitá-la. Se não for um aborrecimento
para vocês ficarei esta noite.
Então Anthony já estava a caminho da loucura, porque era sua maneira de enfrentar
a espera. Saltou o jantar pois não podia pensar em comida. Tampouco podia Boyd, e como
várias garrafas mais foram entregues ao salão, tomou uma para ele.
Nunca encontrou seu caminho para uma cama. Deitou-se em um dos numerosos
sofás no salão de Sir Anthony. Na manhã seguinte, vozes o despertaram de um agradável
sono sobre ela.
Sonhar era o único momento em que seus pensamentos sobre a Katey Tyler eram
agradáveis, e deste sonho era suave em lugar de apaixonado. Ele estava em um campo de
margaridas perto de sua casa em Connecticut. Encontrou um cervo ferido ali uma vez.
Agora em seu sonho era uma gaivota o que encontrou, ele sempre associaria a essa ave
com a Katey. E ele se agachou para examiná-la quando a viu aproximar-se devagar,
vestida de rosa e lavanda, o sol brilhava ao redor dela.
Ela tinha um coelhinho pequeno na curva de um braço e um esquilo apoiado no
ombro. Os esquilos poderiam ser selvagens, mas ele soube que esta não a feriria. Sua
compaixão para com os animais foi a primeira coisa sobre ela que lhe havia tocado o
coração.
Seus sonhos revoaram de uma cena a outra sem ritmo nem razão, e agora eles
estavam repousando lado a lado nesse campo, segurando as mãos. Uma paz profunda o
encheu porque ela era sua, não importava quão brevemente. Apoiou-se contra ele. Com o
sol atrás dela mal podia ver seu rosto, mas ele sentia seus suaves lábios em sua face.
O sonho poderia ter se convertido em erótico se tivesse continuado. Seus sonhos
normalmente eram sensuais e apaixonados quando ela estava neles, e isso ocorria muito
frequentemente. Quando ele estava acordado, seus pensamentos sobre ela o frustravam
porque estava fora de alcance, era uma mulher casada. E ele desejava a morte que ficasse
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fora de sua mente e seus sonhos.
Tinha-lhe feito passar duas semanas desejando o inferno nessa viagem faz um mês e
meio atrás. Ela não teve nenhuma idéia de quanto a desejara. Mas só porque já estava
felizmente casada e em via de encontrar-se com seu marido, ele se tinha retirado. Isso foi
uma das coisas mais difíceis que alguma vez fez. Realizou seu melhor esforço para evitá-la.
Um fato não muito fácil a bordo de um navio. Mas embora não esperasse vê-la de novo,
simplesmente não podia esquecê-la. Tão forte foi sua atração, sua personalidade, seu
bonito rosto, seu sorriso, seu corpo delicioso...
Foi à voz de Jeremy Malory que o arrancou de seu sonho e despertou. O filho mais
velho de James, Jeremy, tinha o cabelo negro e os olhos azul cobalto que só uns quantos
Mallory possuíam. Ele não se parecia em nada a seu pai, que era loiro e de olhos verdes,
pelo contrário era a viva imagem de seu tio Anthony, o que era uma fonte de diversão para
a maioria de sua família.
O moço explicava:
- Danny e eu chegamos em casa da nossa lua de mel esta manhã. Pode imaginar
minha surpresa quando imediatamente nosso mordomo me levou à parte, não queria
inquietar a minha esposa, e me contou que recrutou todo o pessoal desde ontem. Depois
me entregou isto. Foi colocado debaixo de uma grande pedra em nossa escada de entrada.
"Isto" era uma nota que Jeremy entregou ao Anthony. Aparentemente, a espera tinha
terminado.
- Foi entregue em uma casa equivocada? - Adivinhou Boyd enquanto se sentava e
estirava seus membros. - Esta gente obviamente não conhece sua família muito bem.
- Bom dia, ianque - saudou-o Jeremy, acrescentando: - Se conhecessem bem a nossa
família, nunca teriam feito isto.
- Bom ponto - aceitou Boyd.
A família Malory não era muito grande, nem muito rica nem possuía muitos títulos.
Os dois irmãos mais jovens, James e Anthony, foram uns malandros em sua juventude,
nunca perderam um duelo, fosse com punhos ou pistolas, também eram conhecidos por
ser bastante letais. Bastava citar a frase: "Não se volte contra um Malory pois o lamentará
muito".
Anthony não prestava atenção aos dois homens mais jovens enquanto observava a
nota, logo a jogou sobre a mesa em frente de Boyd.
- Amanhã? Realmente acreditam que posso conseguir uma fortuna em um dia?
Tiraria meu banqueiro de sua cama se fosse necessário.
Boyd recolheu a nota. Era muito mais detalhada que a primeira nota. Mencionava o
lugar, a hora, a data, e, por último, que o pagamento devia ser entregue por alguém que
não fosse um membro da família, e que Anthony não devia envolver-se ou estar perto do
lugar do intercâmbio. Isto estava indicado duas vezes. Eles poderiam não conhecer bem à
família, mas parecia que conheciam o Anthony Malory. Havia também várias faltas de
ortografia, embora isso não fosse necessariamente pertinente.
- Sabe quanto dinheiro querem? - perguntou Jeremy a seu tio.
- Uma fortuna é uma fortuna. Não porei preço à vida de minha filha.
- Correto - assentiu Jeremy. - A quem vais enviar para o intercâmbio?
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- Eu irei - ofereceu-se Boyd imediatamente.
Ignoraram-no ou possivelmente não o escutaram. Estava limpando a garganta para
dizê-lo mais forte quando Anthony disse:
- Enviaria ao Derek, mas está visitando seu pai em Haverston esta semana.
- Que tal Tio Edward? - sugeriu Jeremy.
- Não, meu irmão está no norte por negócios.
- Não há razão porque... - tentou novamente Boyd, mas foi ignorado outra vez.
- Suponho que poderia enviar pelo Derek. Há tempo suficiente para que volte para
Londres antes desta noite.
- Não precisa fazer isso - disse Jeremy. - Eu irei.
Anthony resfolegou a seu sobrinho.
- De longe se parece comigo. Não vai.
Jeremy sorriu abertamente, mas logo disse:
- Bem, maldição, onde está meu pai quando se...
Boyd ficou em pé muito aborrecido, interrompendo ruidosamente desta vez.
- Algum dos dois ouviu uma palavra do que disse? Sou absolutamente capaz de
dirigir isto.
Anthony o olhou fixamente por um momento, então negou com a cabeça.
- Sem ofender, ianque, mas ouvi dizer que é uma pessoa muito impetuosa.
- O fato de que me tenham provocado várias vezes nos últimos minutos e não tenha
perdido minha prudência, fala por si mesmo, não é certo? Além disso, tomei muito carinho
por sua filha desde que Jack está debaixo de meu cuidado.
- Chamou a minha irmã Jack? - disse Jeremy com uma sobrancelha levantada. -
Pensava que você e todos seus irmãos odiavam o nome que meu pai lhe pôs.
- Não, só odiamos a seu pai - disse Boyd com um sorriso tenso nos lábios.
Jeremy riu entre dentes. Boyd não sentiu diversão.
- Olhem, posso ser o mais jovem dos irmãos Anderson, Anthony, mas tenho trinta e
quatro anos de idade e inclusive seu próprio irmão confiou em mim o cuidado de sua
filha. Esta nota diz que não pode fazer o intercâmbio pessoalmente, e estou certo que não
vai permitir que vá sua esposa ou confiar a situação a um criado ou alguém que não
conheça.
O resto de sua família parece estar fora da cidade. Assim estou me oferecendo.
Gostaria muito de pôr meu punho em quem quer que fez isto, e me acredite, alegrar-me-á
te ajudar a rastreá-los, mas primeiro acredito que trazer Judith segura para casa é o mais
importante.
Jeremy apontou à nota que Boyd tinha colocado outra vez na mesa.
- O lugar da reunião é o primeiro cruzamento ao sul da cidade do Northampton.
Sabe sequer onde está Northampton?
- Não, mas mesmo nós os ianques sabemos seguir indicações - respondeu Boyd
secamente.
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CAPÍTULO 6
Katey fez com que se detivessem uma vez que Judith se escondera debaixo de uma
manta no chão. Não foi questão de escolha. A carruagem da mulher quase os tirou do
caminho em seu esforço para obrigá-los a deter-se. Então desceu do assento do condutor e
se deteve junto ao deles, dar palmadas na traseira pelo vento, com aspecto selvagem e
procurando furibundamente algo.
- Que pensa? - disse Katey indignada à mulher através da janela que tinham aberto. -
Quase causa um acidente! Se está tratando de nos roubar, dê-se por avisada, tenho uma
pistola em minha mão neste preciso momento.
Realmente não tinha uma pistola, mas deveria tê-la, e estava decidida a comprar
uma no povoado seguinte ao que chegassem.
Não obstante a advertência agarrou a maçaneta da porta no caso da furiosa mulher
tentar abri-la bruscamente. Mas pareceu acreditar sobre a pistola e rapidamente perdeu
sua beligerância. Em lugar disso começou a choramingar sobre uma filha ingrata,
voluntariosa, mentirosa, com cabelo acobreado e os olhos muito azuis, que se tinha
escapado de casa.
E para assegurar-se de que duvidassem da menina se lhe estavam ajudando a
escapar, acrescentou:
- Conta histórias fantásticas, sempre o faz. Logo que sei como lhe acreditar eu
mesma. Viram-na vocês?
Katey acabava de retornar de Escócia assim é que reconheceu o sotaque da mulher
com bastante facilidade. Mais tarde riria porque sua mãe tivesse podido dizer o mesmo
sobre ela muitas vezes.
A suas costas, Grace inclusive sussurrou:
- Soa como você, não é assim?
Katey, ainda muito zangada para sentir diversão, ignorou a sua criada. Obviamente,
não tinha ocorrido à mulher de que se tivessem à menina, saberiam que ela mentia no
ponto de ser a mãe, simplesmente porque o sotaque da menina não era absolutamente
escocês.
Em uma tentativa de tirá-las dali logo depois, Grace tirou seu nariz fora da janela e
disse à mulher:
- Não vimos a nenhuma menina, mas boa sorte em sua busca. - Logo, gritou a seu
condutor. - Senhor Davis, siga adiante.
Mas algumas milhas mais adiante, Grace olhou pela janela outra vez e disse:
- Deveria me haver mantido fora disto. Reconheceu-me.
- De onde?
- Da estalagem. Cruzamo-nos no corredor ontem à noite. Desci a escada para ver se
podia encontrar algo que comer na cozinha. Não quis incomodá-la por nosso cesto do
lanche, em caso de que já estivesse dormindo. Pude ver algo de suspeito em seus olhos ali
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atrás, no caminho como lhe falei. Percebeu que estávamos na mesma estalagem que ela
ontem à noite. E não se afasta.
Katey franziu o cenho e entrecerrou os olhos para olhar pela janela, e então ofegou:
- Meu Deus, está-nos seguindo? Isto saiu de controle, não é?
Grace encolheu os ombros e sorriu.
- Não me preocupa isso. Está sozinha. Se o homem com quem disse que viajava
estava com ela, estava fazendo um bom trabalho escondendo-se em sua carruagem. E nós
temos ao senhor Davis conosco. Paga-lhe bastante para que mova o traseiro e se
encarregue de qualquer problema desse tipo. O que pode fazer ela?
- Eu não contaria com a ajuda do senhor Davis - disse Katey enquanto se recostava
contra o assento outra vez. - Advertiu-me como os contratei a ele e sua carruagem que se
queria guardas, deveria contratar alguns. Não é um tipo valente. Não lhe importou dormir
com os baús, mas me perguntei mais de uma vez se na verdade tentaria impedir que
alguém os levasse.
- Que tenha dormido perto deles foi o suficientemente dissuasivo para evitar que
alguém colocasse o nariz.
- Suponho, mas me assegurarei de que tenhamos um autêntico guarda antes de
começar nossa viagem pelo Continente. Com respeito a isso, penso em comprar nossa
própria carruagem antes que partamos rumo à França.
Grace riu muito.
- Me alegro de que esteja acostumando-se a ser rica.
Katey se ruborizou ligeiramente. Tinha-lhe tomado certo tempo acostumar-se a ser
rica. Sua família tinha vivido suficientemente cômoda, mas possuir a única loja em um
povoado pequeno certamente não lhes tinha enriquecido. Sua mãe nunca tinha
mencionado a herança que recebeu de seu pai, quem morreu pouco depois de que ela
deixasse a Inglaterra, antes que tivesse a possibilidade de apagar a de seu testamento. Ela
não esperara esse dinheiro e não o desejou, assim nunca o havia tocado.
Katey só se inteirou da herança depois de que sua mãe morreu. Ainda estava
comovida pela morte do Adeline quando o advogado de Danbury veio lhe contar sobre a
grande quantidade de dinheiro sem usar que tinha custodiado todos esses anos.
Profundamente angustiada, a Katey simplesmente não tinha se importado. Mas então sua
vizinha, a senhora Pellum, deu refúgio a duas jovens sobrinhas quando seus pais
morreram, e buscava desesperadamente a alguém para as escoltar a Inglaterra, afirmando
que era muito velha para criar meninas pequenas outra vez, mas que sua irmã mais nova
na Inglaterra estaria feliz de tê-las.
E foi então que Katey percebeu que ela já não tinha que viver em Gardener. Aceitou
escoltar às sobrinhas de três e quatro anos de idade da senhora Pellum a Inglaterra. E
como Katey não planejava retornar jamais a Gardener, desfez-se da maior parte de suas
posses, incluindo a loja e a casa. Além de suas roupas, tudo o que tinha empacotado eram
algumas pequenas lembranças de sua mãe para levar consigo.
Despediu-se de todos. E embora tivesse querido a muitos de seus vizinhos em
Gardener, não era especialmente próxima a nenhum deles. Se Grace, sua criada, não
tivesse concordado viajar ao estrangeiro com ela, teria sido a única pessoa de Gardener a
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quem Katey sentiria saudades horrivelmente.
Judith não interveio enquanto as escutava, mas como fazem os meninos, enganchou-
se a um comentário e perguntou:
- Você não ficará na Inglaterra?
- Céus, não, é simplesmente o começo de uma grande viagem para nós.
Navegaremos a França depois, e pensando melhor, provavelmente deveria esperar que
chegássemos ali para comprar uma carruagem, assim não teremos que embarcá-la.
- Não faça isso - disse Judith. - As carruagens francesas são bonitas, mas não são
muito cômodas. Se você for viajar uma grande distância, quererá uma carruagem inglesa.
- E você como sabe de coisas como essa, menina? -perguntou Grace com uma grande
risada.
- Minha mãe encomendou uma e em uma semana a achou tão incômoda que o
enviou a meu tio Jason para usar como decoração em um de seus jardins. Meu pai riu e riu
sobre isso, o que fez que minha mãe se incomodasse muito com ele. É a maçã da discórdia
para ela, que não tem nada em que gastar seu dinheiro, porque lhe compra tudo o que ela
alguma vez pudesse querer.
- Mas por que lhe divertiu que não ficasse com a carruagem? - perguntou Katey.
- Foi porque terminasse sendo uma peça de jardim tão cara o que ele achou tão
engraçado!
Katey sorriu à garota.
- Bem, estou certa de que nem todas as carruagens francesas são tão incômodas
como o de sua mãe foi, mas obrigado pela advertência.
A menção da palavra "advertência" fez que a menina oferecesse seu próprio aviso.
- Essa mulher poderia ter uma arma.
A expressão de Katey se tornou séria outra vez.
- Sei. Mas breve eu também terei uma, logo que alcancemos a seguinte aldeia.
Provavelmente terá fome outra vez. Esperemos que nossa perseguidora tome um caminho
diferente assim podemos nos deter para tomar o café da manhã.
Fizeram escala na seguinte aldeia, e como Katey retornou à carruagem com uma
pistola pequena metida em sua bolsa, já sabia que ainda eram observadas.
- Pensa que é esperta, que não sabemos que está ali - disse Grace quando Katey se
reuniu com elas. - Definitivamente nos está vigiando.
Katey se sentou antes de observava com atenção a velha carruagem ao outro lado da
rua, com a mulher parada atrás dela, tentando ser discreta enquanto olhava às escondidas
a seu redor.
- Deveríamos confrontá-la.
- Não faça isso! - disse Judith alarmada. - Não poderia suportar se saísse ferida por
mim.
Katey pensou por um momento, e disse:
- Preocupa-me que nos possa deter outra vez em um lance deserto da estrada e faça
algo temerário. - Katey realmente não queria ter que usar na verdade sua pistola nova. –
Também imagino uma corrida louca e perigosa através das ruas de Londres quando nos
aproximarmos a sua casa e ela esteja se desesperada por nos deter.
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- Deveria saber que imaginaria algo assim - resmungou Grace entre dentes com
desagrado.
Katey ignorou sua criada e continuou:
- A mulher tola obviamente não nos acreditou e está certa de que a temos e a
levamos de volta a sua família. Assim que a forma mais fácil para convencer a de que está
mal encaminhada é que não viajemos imediatamente a Londres.
- Quer alugar um quarto na estalagem e esperá-la? - adivinhou Grace.
- Isso seria o ideal, mas como vamos fazer entrar Judith quando a mulher nos
observa tão de perto? Precisamos perdê-la primeiro, e a única maneira de fazer isso é
convencer a de que se engana. Este povoado não está suficientemente afastado da estrada
principal para que pense que não nos encaminhamos a Londres. Mas se parecesse que
voltamos sobre nossos passos...
- Ao norte? - interveio Grace.
- Sim, talvez inclusive de volta ao Northampton, dado que não é tão longe daqui. Sei
que isso é sair de nosso trajeto, mas é mais provável que pense que desperdiça seu tempo e
leve sua busca a outra parte se nos vê indo na direção oposta de Londres.
- Não é uma má idéia - admitiu Grace.
- Sei - disse Katey, contente consigo mesma. - Inclusive podemos encontrar um
quarto em uma estalagem diferente e ter um bonito almoço no quarto enquanto passamos
algumas horas, só para estar seguras de que já não está na área. Eu gostaria de lhe dar
tempo de abandonar a estrada, assim não nos topamos com ela outra vez mais tarde. E
ainda teremos tempo em abundância para levar a casa Judith antes de anoitecer.
- Isso assumindo que não nos seguirá todo o caminho de volta ao Northampton.
- Bem, averiguemo-lo.
Implementaram o novo plano, voltando por onde tinham vindo. Grace vigiou de
perto a rota detrás delas. Era decepcionante ver que a escocesa não se deu por vencida
ainda. Ainda estava lá atrás, embora a uma maior distância. E então foi um alívio vê-la
deter um cavaleiro em sua mesma direção.
Grace fechou a cortina sobre a janela e se recostou em seu assento com um sorriso.
- Está começando a duvidar. Tal parece que começa a deter outros para lhes
perguntar se viram a garota. Em pouco tempo poderíamos perdê-la de vista.
CAPÍTULO 7
- Está bem, ianque - disse Anthony, - vou confiar em você para que realize o
intercâmbio, mas não vou estar longe em caso de que algo saia mau.
Boyd estava realmente agradado de que Anthony Malory confiasse nele. Talvez
fosse porque sua família ainda o via como "o irmão mais novo", como um briguento que
rapidamente se enredava em qualquer briga. Enquanto seus irmãos cresciam, eles
falharam em notar que também o fizera. Sim, ainda dava boas-vindas a qualquer
possibilidade de demonstrar suas habilidades, mas era muito menos impulsivo do que
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alguma vez fora. Sentia-se agradecido de que um Malory, e mais ainda um que em
realidade admirava, reconhecesse que era capaz de dirigir uma situação tão tensa e
importante como esta.
Anthony não ia esperar até amanhã para que acontecesse o intercâmbio, quando
podia tentar encontrar a sua filha hoje. Depois de tudo Northampton estava há tão
somente umas quantas horas de rápida cavalgada. Eles poderiam ir ali e procurar em todo
o povoado, antes que caísse a noite. Não era que fossem fazer algo tão óbvio. Não sabiam
quantas pessoas estavam envolvidas na chantagem, e não podiam correr o risco de que os
criminosos estivessem observando, à espera de uma busca desse estilo, ou controlando os
caminhos. É por isso que Anthony, Jeremy e Boyd, deixaram Londres em carruagem
Amarraram três cavalos na parte traseira, em caso de que precisassem mover-se
mais rápido. A carruagem esconderia ao Anthony, quem seria, conforme assumiram,
reconhecido, e ao Jeremy, por sua grande semelhança a Anthony. Boyd se manteve
afastado deles enquanto definiam os distintos planos.
- Seriam estúpidos se arrumassem um encontro em algum lugar perto de seu
próprio povoado - especulou Anthony, - assim realmente duvido que vivam em algum
lugar próximo ao Northampton, o que elimina o procurar de porta em porta. Mas devem
estar escondendo ao Judy em alguma casa abandonada ou um celeiro, em algum lugar
onde possam manter Judy sem que alguém a note.
- Acham que a tenham metido às escondidas em alguma estadia? - perguntou Boyd
- Pode ser - respondeu Jeremy, - é pequena, poderia fazer-se, assim não deveríamos
descartar essa possibilidade.
- Se estamos discutindo todas as possibilidades, poderiam tê-la feito entrar em
qualquer lado, se a ameaçaram para que se mantivesse calada - apontou Boyd. - Faria o
que lhe dissessem ou é o suficientemente valente para gritar por ajuda?
Anthony golpeou a parede da carruagem com seu punho.
- Provavelmente está muito aterrorizada para fazer algo.
Jeremy tentou ignorar o arrebatamento emocional de seu angustiado tio e disse a
Boyd.
- É tão valente como minha irmã Jack, e muito inteligente para fazer algo idiota. Por
que não checa você as pousadas? Realmente não acredito que sejam tão estúpidos para
usar uma estalagem onde outras pessoas poderiam fixar-se neles, mas devemos cobrir
todas as possibilidades. Meu tio e eu vamos percorrer os arredores, e procurar casas
abandonadas
- No caso de não serem estúpidos, mas não estou de acordo - disse Boyd. - Se
fizeram isto. São completamente estúpidos. Mas sei o que tenho que fazer, e onde me
tenho que encontrar com vocês para lhes contar meu progresso, assim me encarregarei
agora e começarei com a busca. Com sorte terei algumas notícias para quando entrarem na
cidade.
Pararam tempo suficiente para que Boyd subisse no seu cavalo e se fosse. Por muito
que desejassem, não podiam ir todos em cavalgada para o Northampton. Isso atrairia a
atenção. A carruagem iria a uma velocidade normal, enquanto que Boyd chegaria à cidade
uma ou duas horas antes.
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Pensando no que ia fazer às pessoas que tinham planejado isto, se lhes punha suas
mãos em cima, Boyd não viu a furiosa mulher que o freou no meio do caminho.
Ele virtualmente não se moveu ao redor do antigo veículo, pensando que a mulher
não deveria estar dirigindo se não sabia frear sem bloquear todo o caminho.
- Espere - gritou-lhe a mulher, - estou procurando a minha filha. Fugiu outra vez de
casa, viu-a?
Boyd não se deteve, mas lhe respondeu:
- Não vi nenhuma outra mulher além de você.
- Ainda não sou tão velha para ter uma filha adulta - disse-lhe em um tom ofendido.
Estava acabando a paciência de Boyd. Já o detiveram duas vezes para lhe pedir
informação, que não sabia dar. Ele mesmo estava seguindo orientações.
Então simplesmente disse:
- Não vi nenhuma espécie de mulher hoje. Bom dia. - E seguiu seu caminho.
Foi a um bom ritmo depois disso, passando outros veículos que iam na mesma
direção, escapando daqueles que iam para o sul. Mas uns vinte minutos depois um ruivo o
deteve em seu caminho e lhe gritou:
- Viu a uma mulher escocesa escondendo-se por este lado?
Boyd não respondeu, simplesmente apontou seu punho detrás dele e seguiu adiante.
Se alguém mais voltasse a detê-lo simplesmente deixaria que falasse a pistola guardada em
seu bolso.
CAPÍTULO 8
Geordie Cameron estava aterrorizado. Deveria simplesmente ir para casa e deixar
que sua esposa, Maisie, se arrumasse sozinha. Se alguma vez retornava a Escócia,
encontraria um divórcio esperando-a, ou uma cela da prisão.
"Consulta-o com o travesseiro, havia-lhe dito?" Desejava que ela o tivesse consultado
com o travesseiro, assim teriam podido acordar na manhã e levar a casa à menina e nunca
fazer uma coisa tão estúpida outra vez. Esse era o único resultado que lhe permitiria
perdoar ao Maisie. Mas despertou para encontrar um quarto vazio e uma nota riscada de
que a menina tinha escapado.
"Bom, bom para ela", foi seu primeiro pensamento, embora não pudesse imaginar
como o teria feito depois que Maisie a amarrara à cama, mas esperara que esse fosse o fim
do assunto.
Empacotou sua bolsa, encontrou-se com seu condutor e sua carruagem estava
esperando-o onde deveria, e perguntou ao hoteleiro onde estava sua esposa. O homem não
a tinha visto, mas em um estado de ânimo fofoqueiro mencionou que alguém veio
procurar uma carruagem roubada. E então foi quando o medo retornou.
Temia que sua esposa tivesse ido atrás da garota outra vez, e se a encontrasse, que
continuasse com seus planos de extorsão. Então Anthony Malory encontraria Geordie e o
mataria. Não podia visualizar nenhum outro resultado a menos que ele pudesse encontrar
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a Maisie primeiro.
Pediu emprestada uma sela para um dos cavalos de sua carruagem, achando que
poderia alcançar ao Maisie muito mais rápido dessa forma. Atravessar Northampton o
atrasou um pouco, porque a estalagem em que ficaram estava na rota norte, fora da
cidade. Mas a cidade não era tão grande como deveria ser, depois que um incêndio tinha
destruído a maior parte em 1675, permitindo que as ruas fossem alongadas durante a
reconstrução.
O sul era a única direção em que podia pensar ir. A menina viajaria nessa direção
para retornar a Londres. Tinha a esperança de que não se pusera a caminho seguindo a
estrada a pé. Maisie a encontraria com demasiada facilidade desse modo. Mas poderia ter
conseguido uma carona se fosse suficientemente esperta para pedir a alguém. Era uma
rota muito transitada, especialmente de manhã quando os produtos estavam sendo
levados ao mercado. Inclusive poderia estar já de volta em casa. Podia ter esperanças.
Era Maisie a quem tinha que encontrar e arrastar para casa. Não era que não
quisesse levar a filha de Roslynn a casa se conseguisse encontrá-la. Mas só o justo para não
estar em um lugar perto dos Malory. Uma boa quantidade de viajantes estava em
caminho. Não perguntou a todos, mas aos poucos que deteve seguiram dirigindo-o ao sul.
Maisie estava cansada, aparentemente, segundo um agricultor.
Mas então o tráfego baixou a velocidade. Passou várias rotas que se afastavam em
outras direções. Começou a perguntar-se se ia ainda na direção correta. Esta rota
continuava até Londres? Não podia lembrar-se de sua anterior e única visita a Inglaterra.
Não encontrou ninguém a quem perguntar na última meia hora. Mas então viu outra
carruagem dirigindo-se em sua direção e foi rapidamente para ela.
O condutor de Anthony Malory tinha recebido instruções de não deter-se por
ninguém, e tinha tido que ser desagradável algumas vezes, para evitar baixar a velocidade.
Mas deste viajante novo era persistente e cavalgou junto à carruagem por um momento
para perguntar:
- Viram vocês a uma escocesa? Ela conduzia uma carruagem, suponho, a menos que
tenha roubado um cavalo. - Então apesar de seu grito a carruagem seguiu andando. -
Poderiam sequer dizer que não, homem!
Anthony descerrou bruscamente um lado da cortina da carruagem, reconhecendo
vagamente essa voz. Acabava de divisar o cabelo vermelho cenoura quando perguntou e
continuou seu caminho pela estrada. Isso foi suficiente para que batesse o teto para deter o
condutor. Geordie Cameron no mesmo povoado que as pessoas que sequestraram a sua
filha? O mesmo homem que tinha chegado a extremos para roubar a fortuna de Roslynn
há oito anos? Coincidência? Não havia uma maldita probabilidade.
Ele se lançou da carruagem antes de que se detivesse completamente. Geordie
estava ainda o bastante perto para que Anthony nem sequer se incomodasse em tomar seu
cavalo, amarrado à parte posterior da carruagem. Simplesmente o perseguiu e quase o
alcança. Mas Geordie ouviu algo que lhe fez olhar para trás. E ao ver o único homem que
esperara nunca ver outra vez avançando ameaçadoramente sobre ele...
Geordie gritou, cravou os calcanhares em sua montaria, e se internou no bosque ao
lado da estrada. Aborrecido por não apanhá-lo por meras polegadas, Anthony voltou
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correndo para sua própria montaria.
Jeremy estava fora do compartimento de passageiros então e já tinha desatado o
cavalo e inclusive entregou as rédeas ao Anthony. Ao presenciar a perseguição se limitou a
perguntar:
- Quem é?
- Um homem morto - respondeu Anthony enquanto montava e virava para lhe dar
caça. - Só que ainda não sabe - acrescentou antes que ele, também, desaparecesse no
bosque.
Sua montaria era um puro sangue. Geordie montava um cavalo de tiro. Não levou
muito tempo alcançá-lo, tombar o de seu cavalo, e atirá-lo ao chão.
Anthony apeou lentamente, agora que tinha a seu homem. Geordie tinha o olhar
fixo nele, apavorado, enquanto tentava retroceder a toda pressa.
- Um momento! - Gritou Geordie. - Deve me ouvir! Não fui eu!
Era um engano dizer essas palavras, porque soavam a culpabilidade. Anthony se
agachou para aproximar Geordie de seu punho.
- Oh, meu Deus, não meus dentes outra vez. Espere!
Geordie cobriu seu rosto com ambos os braços. Anthony lhe chutou o flanco. Os
braços caíram com um gemido. Usualmente não chutava a um homem quando estava no
chão, mas deste verme patético não merecia as regras dos cavalheiros.
Anthony se ajoelhou sobre uma perna para agarrar um punhado de cabelo vermelho
antes de perguntar:
- Onde está ela?
- Não sei. Juro!
Seu punho se estrelou contra ao rosto do Geordie pela segunda vez.
- Resposta equivocada, Cameron.
- Meu nariz! - Geordie gritou enquanto tentava conter o sangue que emanava a
jorros dele. O rompeu outra vez!
- Pensou que sairia caminhando daqui? - Perguntou Anthony. Sua voz estava
tranquila, ainda quando acrescentou: - Vou necessitar de uma pá quando tiver terminado
contigo.
- Pergunte a ela! Dirá que não fui eu!
- Que pergunte a quem?
- A sua filha. Não, não me bata outra vez! Foi minha esposa quem a tomou. Trouxe-
me até aqui para visitar sua tia, ou disse isso. Então desapareceu o dia inteiro e voltou com
sua filha. Está louca, e disse isso. A moça sabe que não tive parte em nada disto.
- Então onde está ela?
- Teria levado a sua casa com vocês esta manhã, mas escapou por sua conta! Não
estou aqui a procurando, ando procurando a minha esposa para estar seguro de que não a
encontre outra vez.
- E o que deu a sua mulher a idéia para fazer isto?
Geordie empalideceu outra vez.
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CAPÍTULO 9
- Estou esperando a minha sobrinha e seus criados. Não chegaram ainda? - Boyd
descreveu ao Judith ao hospedeiro, acrescentando: - É uma menina notavelmente bela. Se
você a visse, nunca a esqueceria.
Esta era só a segunda estalagem em que Boyd entrava, e ainda tinha muito terreno
por cobrir.
Tinha alugado um quarto só para obter a simpatia do homem. E já tinha algumas
pergunta mais prontas para o hospedeiro se por acaso o homem respondesse
negativamente à história de sua sobrinha. Boyd tinha sugerido que podiam ter levado
Judith através da porta principal de uma estalagem, mas realmente não pensou que fosse
assim.
Por isso não esperava escutar.
- Sim, senhor, a segunda porta, escada acima. Logo ao lado da sua.
Depois de que Boyd se recuperou da surpresa, perguntou:
- Quantos criados a acompanham em deste momento? - Fê-lo soar como se esperasse
uma quantidade extravagante, mas em vez disso esperava averiguar quantas eram as
pessoas com as quais se teria que enfrentar quando resgatasse Judith.
- Somente duas mulheres chegaram com ela, senhor. Se havia outros criados, não
requereram quartos para eles.
Boyd inclinou a cabeça para agradecer ao homem. Usualmente este tipo de sorte
nunca aterrissava em seu regaço. E agora tinha que tomar uma decisão. Esperar uma hora
até que chegasse Anthony ao povo para lhe dizer que encontrou ao Judith e que sabia
onde a retinham, ou a tirava ele mesmo dali? Agradeceriam mais tarde, já estava a meio
caminho das escadas quando Jeremy o chamou.
Boyd esperou que o moço o alcançasse antes de lhe perguntar:
- O que está fazendo aqui?
- Tendo sorte. A primeira estalagem que revisto e aqui está - logo Jeremy riu
entredentes.
- Em realidade, reconheci seu cavalo.
- Achei que tínhamos chegado a um acordo de que não mostraria sua cara por aqui
porque se parece muito com seu tio?
- Relaxe, ianque. Acabou-se ou em sua maior parte. Minha prima conseguiu sair
dessa confusão por sua própria conta. - Jeremy lhe explicou o que Geordie Cameron tinha
confessado. - Assim é que o tio Tony está procurando o sul da estrada principal onde nos
topamos com o Cameron. Ele me enviou ao norte a fazer o mesmo.
- É por isso que sua voz soa rouca?
Jeremy assentiu com a cabeça.
- Considerando o inteligente que é minha prima, se ela não tivesse tido a sorte de
encontrar uma carruagem que a levasse em vez de fazer sozinha a árdua viagem, seria
como um patinho entrando no bosque cada vez que alguém se aproximasse dela. Mas não
obtive resposta a meus gritos, assim provavelmente esteja mais ao sul. Tio Tony gostaria
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que ficasse aqui por hoje no caso de enviar notícias.
Boyd franziu o cenho.
- Diria que estamos em meio "no caso". Dela está aqui.
- Quem?
- Quem acha?
- Não fique irritado agora - disse-lhe Jeremy. - Acabo de lhe dizer que ela escapou.
- E acabo de descrever a Judith ao hospedeiro. Ele disse que se hospedou aqui.
- Sinos do inferno, o escocês mentiu?
- Por que diria a verdade? - refletiu Boyd
- Porque meu tio ia arrancar lhe as extremidades pela raiz.
- Uma boa razão para mentir, se me perguntar isso.
- Por todos os infernos. - Então Jeremy revirou seus olhos. - Espera um momento.
Somente porque esteve aqui não significa que ainda o esteja. Ou seja que é aqui onde a
mantinham e de onde escapou.
Boyd assentiu com a cabeça, aceitando essa possibilidade.
- Fácil de confirmar, desde que me disseram no quarto onde esta ela. Vamos, vamos
ver se ainda há alguém ali.
Detiveram-se fora do quarto. Boyd estava a ponto de experimentar a porta quando
ambos escutaram do outro lado dela.
- Estou esfomeada outra vez.
Jeremy imediatamente tirou bruscamente Boyd para o corredor.
- Por todos os infernos - vaiou. - Essa era a voz de minha prima.
- Escute - replicou Boyd agora com a pistola na mão. - Faremos isto com o menor
risco para Judy.
- Então guarda isso. É bom com os punhos. Não necessita brandir uma arma que os
levaria a disparar a deles.
Boyd esteve de acordo.
-Minha idéia era assustá-lo o suficiente para impedir qualquer ação de sua parte,
mas tem razão. Segundo o hospedeiro, são simplesmente duas mulheres que estão com
Judy, assim uma arma não será necessária.
- A esposa do Cameron? Ao parecer o escocês mentiu depois de tudo.
- De qualquer maneira, só temos a duas mulheres com as que tratar no momento,
deste é o plano - disse Boyd baixando a voz. - Chutarei a porta. Agarra a sua prima e a leva
a seu pai. Não se detenha por nada. Há muito dinheiro envolto nisto, não sabemos quantos
brutos contrataram para ajudar e onde poderiam estar situados perto do povoado.
Encarregar-me-ei de quem quer que seja que fique no quarto e os entregarei ao oficial de
polícia antes de te alcançar.
- Shh - disse Jeremy como a porta que estiveram pensando atirar abaixo começava a
abrir- se.
Deram as costas à porta. Enquanto Boyd tentava dar a aparência de estar
procurando a porta de seu quarto, escutou a voz de uma mulher que dizia.
- Não demorarei muito em conseguir um pouco de comida. Fecha a porta.
A risada abafada de uma mulher se escutou do interior do quarto.
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- Se preocupa muito, Grace.
A mulher que ia conseguir comida nem sequer lançou um olhar em direção ao
corredor. Simplesmente partiu para as escadas e então desapareceu de vista.
- Agora seria um bom momento para tirar Judy, enquanto há uma pessoa menos
com a que possa lutar - disse Boyd.
Não teve que chutar a porta. Chegaram a ela antes que a fechassem por dentro e
entraram juntos violentamente ao quarto. O elemento de surpresa funcionou bem.
Jeremy foi diretamente para sua prima. Ela começou a dizer seu nome
entusiasmada, mas lhe pôs uma mão sobre a boca como precaução para que guardasse
silêncio, e segundos depois a tinha levantado em seus braços e se foi.
E deixou Boyd cravando incredulamente os olhos ao ocupante do quarto. Do mesmo
modo, lhe devolveu o olhar. A mulher de seus apaixonados sonhos, supostamente uma
mãe com filhos apropriava-se de outras crianças que tinha roubado? Tinha sequestrado à
filha do Anthony Malory. Ele a agarrou e, lhe pondo uma mão sobre a boca, tirou-a fora
dali e a levou a quarto ao lado.
CAPÍTULO 10
- Nenhuma só palavra - disse Boyd à mulher em seus braços. - Se a ouvir mesmo que
seja respirar, amordaçá-la-ei.
Ainda não tinha retirado a mão de sua boca. Quando se deu conta desse detalhe
soube que estava com problemas. Deveria soltá-la e pôr um pouco de distância entre eles.
Sua mente poderia esclarecer-se então. Não estava certamente clara agora. Mas não
suportava tirar suas mãos dela ainda.
A senhora Tyler em pessoa, já não um sonho. Estivesse sonhando ou acordado tinha
enchido sua mente ao ponto de tornar uma moléstia cada vez que tinha pousado seus
olhos nela. Mas isto era real. E não era a jovem cheia de vida e bondosa mulher que
acreditava que era ela.
- Aquelas crianças que navegaram com você, não eram suas, não é verdade?
Roubou-os, não é assim?
Não a deixou responder. Não acreditava que pudesse suportar um montão de
desculpas de sua parte. Terminaria por acreditar algo que lhe dissesse, e teria que deixá-la
ir com uma desculpa e um sorriso. Mas ela começou a retorcer-se contra ele. Oh Deus…
Ele caminhou através do quarto arrastando-a com ele, e chutou uma cadeira para o
centro do quarto. Ele a sentou, então se inclinou, pondo seu rosto perto do dela.
- Não pode imaginar o perto que estou de violá-la. Levante-se dessa cadeira e o
considerarei um convite.
- Está cometendo um grande...!
Rapidamente pôs um dedo sobre seus lábios. Havia suficiente advertência em seus
olhos e ela nem sequer tentou terminar o que começou a dizer, apesar de zangada que
soava.
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- Preciso ser mais explícito do perto que está de terminar em minha cama? -
Perguntou-lhe enquanto tirava seu dedo. - Ou era isso um convite?
Ela sacudiu sua cabeça para ele sem romper o virulento olhar que tinha fixado em
seu rosto. Ela tinha olhos grandes, formosos, cor esmeralda, escuros, furiosos. Acreditava
ela que lhe importava isso?
Ele se endireitou e a olhou.
- Não tentará levantar-se?
Ela sacudiu suavemente a cabeça.
- Desilude-me. Se estivesse pensando claramente, não teria advertido, e então agora
poderíamos estar pulando nessa cama. Essa é uma opção ainda. Continue e levante-se. Por
favor.
Ela não moveu nem um músculo. Ele chiou seus dentes. Não estava seguro de com
quem estava mais zangado, se com ele mesmo ou com ela. As regras da decência poderiam
suspender-se. Ela era uma criminosa depois de tudo. Mas ainda não podia levar vantagem
desse fato, apesar de formosa que era, apesar do muito que a desejava.
Estava vestida com um simples vestido celeste. Com mangas longas e pescoço alto.
Não tinha nada de sensual, exceto que abraçava as curvas deliciosas de seu corpo. Seu
longo cabelo negro estava amarrado em uma grosa trança em suas costas. Era como o
tinha usado no navio. Tinha-o assegurado a seu cinturão para contê-lo. O pensava que fez
isso pelo vento feroz do oceano, mas ela se riu em um dos jantares compartilhados com ele
e o capitão e lhes comentou que era para não sentar-se sobre ele. E por que não se fazia
algum desses elaborados penteados que as outras mulheres usavam? Porque ela não era
como as outras mulheres.
Rodeou-a e se colocou atrás dela para tratar de finalizar a tentação visual na qual o
estava pondo. Não ajudou absolutamente. Por que demônios a trouxe aqui? Ainda não
podia pensar claramente. Deveria tê-la levado diretamente ao cárcere. Deveria ao menos,
ter chamado ao magistrado local. Não se moveu para fazê-lo. A idéia de Katey Tyler no
cárcere o deixou frio.
Ele podia ir-se com ela, tirá-la da Inglaterra. Possuía um navio. Seria suficientemente
fácil de fazer. E logo o que? Desfrutá-la por uma semana ou duas, e logo deixá-la descer
em algum porto em outro continente? Assim ela poderia voltar para seu negócio de roubar
meninos, em qualquer outro lado? Quando pensou em Roslynn Malory chorando todo o
dia pelo bem-estar de sua filha, soube que não podia fazê-lo.
Então que demônios ia fazer com ela? Soube que estava evitando o inevitável.
Não se tinha movido o suficientemente longe dela. Captou sua essência, unicamente
dela, um pouco floral, um pouco de especiaria como o bolo de maçã quente, um pouco
pista terrestre.
Fechou seus olhos, brigando contra a urgência de tocá-la novamente. Perdeu.
CAPÍTULO 11
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Katey não tinha medo ainda. Deu-se conta que Judith reconheceu e se mostrou
encantada de ver o jovem que a tinha levado fora dali, por isso não estava preocupada com
a menina. E instantaneamente tinha reconhecido ao homem que a tinha metido sem razão
neste outro quarto. Boyd Anderson, o dono do "Oceanus". Como poderia esquecê-lo? Ele
foi o primeiro homem de aparência agradável que alguma vez mostrou interesse nela, em
realidade, o primeiro homem realmente de aparência agradável que ela alguma vez tinha
conhecido, mas o que estava fazendo ele aqui?
Assombrou-se tanto de vê-lo entrar violentamente em seu quarto como tinha
pensado que nunca voltaria a vê-lo outra vez. Mas obviamente pensava que ela era
culpada do sequestro de Judith, e por isso a estava tratando como a um criminoso comum!
Ia realmente envergonhar-se e merecidamente quando o corrigisse de seu engano se
tivesse a oportunidade de fazê-lo.
Enfureceu-a que a ameaçasse para que guardasse silêncio. Retê-la-ia em realidade?
Mas primeiro lhe daria sua explicação, certamente e depois o que ocorreria se não lhe
acreditasse? Parecia estar certo de que ela era culpada, e estava bastante furioso por isso. O
que ocorreria se a detivesse em vez de acreditar nela?
Ela tremeu.
"Ai de mim", desejou que ele não tivesse mencionado isso. Não tinha um
pensamento claro em sua mente nesse instante. E nesse momento se deu conta,
incredulamente, que ele a estava tocando! Afastou-lhe a mão com um golpe, mas esta
retornou com uma carícia a sua face outra vez. Seus dedos se dirigiram para seu pescoço.
Aspirou ar e o reteve, esperando... esperando...
Ele fez com que ela jogasse a cabeça para trás. Estava em pé tão perto trás dela que a
parte traseira de sua cabeça tocava a fivela do cinto de suas calças. E ele a olhava de cima
com tanto calor em seus olhos escuros.
- Não pode imaginar-se quanto...
Deteve a si mesmo. Afastou sua vista do rosto dela e ficou olhando o céu limpo.
Katey aproveitou o momento para escapulir-se fora da cadeira. Não tinha a intenção de
atirá-la, mas estava feliz de ter essa pequena barreira sobre o chão entre eles quando
começou a lhe dizer raivosamente.
- Arrasta-me até aqui dentro, ameaça-me, e logo faz avanços impróprios! Se não o
conhecesse, Boyd Anderson, estaria gritando neste momento. Essa é ainda uma opção!
Como se atreve a me tratar tão arrogantemente?
Ele levantou a cadeira e a deixou a um lado sem afastar a vista dela. Esses olhos
escuros tão expressivos vagavam lentamente por suas curvas de tal maneira que seu
estômago na verdade revoou. Ela lembrada momentos como esses em seu navio. Tantas
vezes o tinha apanhado cravando seus olhos nela como agora como pensava que ela não se
dava conta. Grace lhe havia dito que ele estava tendo pensamentos carnais sobre ela.
Tinha-os tido então, e os tinha agora. Mas agora não tentava escondê-los!
- Me ocorreu que suas atividades aqui mudam tudo. - Disse em um tom baixo,
rouco. – É muito mais sofisticada do que pensei, não é assim Katey?
Quando seus olhos retornaram aos dela, não pôde evitar ruborizar-se porque
compreendeu o que ele insinuava. Que seu rubor pudesse lhe fazer pensar que ele estava
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certo, não lhe ocorreu. Mas ele se apressou cortando o espaço entre eles. Muito rápido.
- Sabe quantas vezes sonhei com o momento de tê-la a sós assim? - disse-lhe,
cavando suas mãos no rosto dela.
Por um breve momento, Katey ficou fascinada por sua carícia. Foi terna, foi
romântica, e ele não era o único que teve tais sonhos desde que se conheceram. Estava a
ponto de beijá-la. Soube, no mais profundo, sabia que estaria perdida se o fizesse, porque
ela o desejava também! Ele a excitou de uma maneira desconhecida, e ela obviamente não
estava mais preparada para lutar com isso do que estava em seu navio, era ainda mais
emocionante do que pensava.
- Estou quase alegre de que tenha mostrado suas próprias cores - continuou ele.
Isso rompeu o feitiço. Ainda a acusava de algo que não fez, e pensava que poderia
tomar liberdades por isso?
" Detenha-o!", disse-se, e lhe pegou nas mãos afastando-as.
Mas suas mãos não foram muito longe. Foram diretamente a seus quadris em lugar
disso. E antes que pudesse pensar em afastar um passo longe, puxou-a aproximando-a
dele. Ela ficou sem fôlego e colocou ambas as mãos sobre seu peito para afastá-lo a trancos,
mas não sortiu efeito! Enquanto o empurrava, não pôde evitar notar quão duro e
musculoso era seu peito, o calor que sentia ao pressionar-se contra esse corpo tão grande.
Desesperada por deter as calorosas sensações que a afligiam, lhe disse:
- Vou lhe dar um murro! Foi advertido.
- Não faça isso, querida. Não quero que machuque a mão.
A contra gosto, deixou-a ir. Mas a olhava divertido! E enquanto a soltava muito
cuidadosamente para que ela não caísse para trás, sua diversão aguçou sua fúria.
- Que amabilidade a sua, mas isto foi muito longe. O que está fazendo aqui? Judith é
uma Malory, não você!
Suas últimas palavras saíram de sua boca como um grito, estava tão sobressaltada,
que a calma resposta dele foi um sussurro em comparação.
- Não, não o sou, mas tenho tanto uma irmã e um irmão, que são aparentados com
essa família.
Isso a surpreendeu. Mas também lhe lembrou do que a estava acusando, porque
seus olhos se estreitaram enquanto a contemplavam.
- Como pôde fazer isto? - exigiu-lhe. - Sabe com quem se colocou? Os Malory jamais
esquecem uma afronta. Não posso acreditar que ainda sabendo-o revolveria o ninho de
vespas.
Suas costas ficaram rígidas.
- Por que não pensa no que acaba de dizer? Não pode acreditá-lo porque não é certo!
Não tomei parte nisso.
- Então explique o que estava fazendo nesse em quarto com Judith.
- Oh! Finalmente me pergunta o que deveria me ter perguntado desde o começo? -
disse-lhe ela mordazmente. - Estava-a ajudando! Estava a caminho de volta à Escócia
quando...
- meu Deus! - Interrompeu-a, sua expressão agora era tão incrédula como seu tom. -
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É a esposa do Geordie Cameron, não é?
- Quem?
Mas ele não a ouvia e dizia para si mesmo:
- Agora tem sentido. Ele inclusive disse que esta foi sua idéia.
- Quem? - perguntou ela outra vez, mas outra vez ele não pareceu escutá-la.
- Tem um minuto para explicar-se. Me diga que é inocente, que foi obrigada, que foi
convencida de que ninguém sairia ferido disto.
Estava-lhe dando uma lista de desculpas entre as quais escolher se por acaso ela não
tinha nenhuma para lhe dar? Estava sendo simplesmente sarcástico? Ou estava esperando
em realidade que lhe pudesse lhe dar uma boa razão para deixá-la ir?
- Resgatei a Judith - disse-lhe rapidamente. - Ela o confirmará.
Isso deveria ter sido suficiente para fazê-lo começar a desculpar-se. Ao menos
deveria lhe causar alguma dúvida. Mas podia deduzir por sua expressão que o havia dito
muito tarde, não acreditava nela.
- Convenientemente para você, ela não está aqui corroborar isso, não é assim? -disse
ele de modo breve. - Mas me deixe lhe dizer o que é óbvio. Mantinha ao Judith em um
quarto fechado. Ouvimos seu cúmplice lhe lembrar de jogar o cadeado à porta quando ela
saiu. Se você a tivesse resgatado, está-la-ia levando a casa agora mesmo, não retendo-a no
mesmo povoado onde arrumou para intercambiá-la pela fortuna que exigiu.
Katey engoliu a saliva. Isso soava tão, tão incriminatório!
- Bem, antes de que faça algo impulsivo, vamos procurar a Judith - sugeriu-lhe ela
razoavelmente. - Assumo que acreditará na menina quando lhe disser que a arrebatei
dessas pessoas que a tinham ...
- Jeremy estará de volta aqui para me dizer isso se esse fosse o caso. Agora, dou-lhe
uma oportunidade para me dizer algo plausível. Não o tem.
A estas alturas Katey perdeu toda paciência com ele.
- Finge simplesmente ser torpe ou é assim realmente? Por que retornariam aqui?
Judith já haverá dito a seu parente que a ajudei. Ele não vai assumir como você que tenho
culpa em algo. Certamente já sabe a verdade e pensará que também sabe você. Então por
que retornaria aqui? Ele não sabe que está sendo ridiculamente teimoso me retendo. Mais
que tudo, ele assumirá que me agradeceu por minha ajuda e que logo o alcançará.
- É a sobrinha de minha irmã que roubou, a prima do Jeremy, e seus pais estiveram
loucos de preocupação faz já dois dias. Jeremy não vai demorar-se nem um só minuto em
levá-la diretamente a casa para sua família. Vamos.
CAPÍTULO 12
O primeiro pensamento aterrador de Katey enquanto Boyd a arrastava escada
abaixo, foi que a levava ao cárcere. Ele murmurou algo sobre deixar que as autoridades as
prendessem, que ele não podia confiar em seus instintos no que concernia a ela. Assim que
o único que lhe ocorreu gritar foi.
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- Espere! Espere!
Ele não o fez. Isto confirmou ainda mais suas suspeitas. Disse ao hospedeiro que
olhava com os olhos abertos quando passou em frente a ele:
- Pesquei-a saindo furtivamente de meu quarto. Estou surpreso de encontrar ladrões
em uma formosa cidade como esta.
Katey sufocou um grito ante aquela acusação, mas Boyd não se deteve, portanto não
pôde dizer ao hospedeiro de quem em realidade era a culpa. Empurrou-a diretamente
através da porta, seu cavalo tinha que estar por ali.
Lançou-a sobre a montaria, sem muita delicadeza. Com suas mãos fora dela por um
momento, começou a deslizar sobre o cavalo pelo outro lado, mas Boyd se montou
rapidamente detrás dela.
Com os braços de Boyd de cada lado quando ele recolheu as rédeas, sentiu-se como
se estivesse enjaulada.
Um sentido profundo de raiva caiu sobre ela. " Obstinado, arbitrário, acreditar…
que... ele... sabe tudo, descarado!" Ela clamou a si mesma. E pensar que tinha gostado dele!
Muito! Quantas vezes em viagem junto a ele, esteve tentada a lhe dizer a verdade, que
realmente não estava casada. Há! teve razão de manter sua língua calada.
Mas agora não a manteria.
- Deveria ter começado por fazer isto para começar - gritou-lhe ela. - Em lugar de me
deter contra minha vontade. E não se surpreenda se você for quem termine no cárcere,
Senhor todo-poderoso! Quando lhe disser ao magistrado como me fez prisioneira nesse
quarto, maltratou-me e acusou falsamente, veremos quem ri melhor.
- Então me alegro de que não nos dirijamos para lá.
Soava divertido, como se estivesse seguro de que suas palavras fossem desesperados
esforços para perpetuar suas mentiras, mas se tivesse estado prestando atenção em lugar
de estar destrambelhando contra ele, se daria conta de que galopavam fora da cidade e que
nesse momento estavam reduzindo a velocidade, a um passo menos exaustivo. Ela franziu
o sobrecenho, olhando fixamente para diante da familiar estrada.
- Então aonde me leva?
- A Londres. Foi sua idéia - lembrou-lhe ele.
Ela abriu a boca.
- Nunca disse que deveríamos ir a Londres. Disse que deveríamos encontrar Judith!
- E ela estará em casa. Adverti-lhe que Jeremy não perderia tempo ao devolvê-la a
seus pais. Estarão em Londres muito antes que possamos alcançá-los.
- Meu Deus, não posso acreditar que esteja chegando a este extremo escandaloso! -
Exclamou. - Tudo o que tinha que fazer era me escutar.
- Fiz isso - disse soando zangado novamente, - mas tudo o que tem feito é proclamar
sua inocência quando a apanhei com as mãos na massa! Isso, doçura, não funciona. Assim
que qual é a verdade? Separou-se do Cameron, não é certo? Transladou ao Judith sem
dizer-lhe, discutiu com ele? Decidiu ficar com toda a fortuna para si mesma?
Katey olhou incredulamente ante ela, ouvindo novas acusações que eram tão
absurdas que não mereciam ser respondidas.
- Se simplesmente usasse sua cabeça para o que se supõe que é - respondeu ela, -
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compreenderia como são ridículas todas essas acusações.
Ele se apoiou contra suas costas para dizer:
- Não posso pensar corretamente quando está ao alcance de minha mão, como a
única coisa em minha mente é levá-la à cama mais próxima, assim não me atrevo a confiar
em sua palavra, Katey Tyler. Sinto muito.
Ela ofegou trabalhosamente. Não só suas palavras a afetavam. Também o fazia seu
peito apertado contra ela, seus fortes braços rodeando-a, e sua febril respiração contra sua
orelha. O calafrio que atravessou seu corpo não tinha nada que ver com o ar outonal
contra seu rosto.
Levou vários minutos para pôr seus desejos debaixo do controle e obter a força
suficiente para dizer:
- Não chama a esta distância estar "ao alcance da mão"?
- Notou-o, não é certo? - Ele riu entre dentes. - Mas não há nenhuma cama próxima,
assim penso que posso me refrear o bastante para levá-la aonde estão os Malory. O pai de
Judith pode dirigir isto e decidir o que fazer com você.
Não foi só seu esforço de não terminar essa declaração. Mas sim também o sentiu
ficar rígido, como se tivesse compreendido de repente algo que deveria ter tido em conta
antes. É óbvio que ele já tinha admitido que não estava pensando claramente.
- O que? - exigiu ela quando olhou atrás para ele. - passou por cima algo importante?
Como o que não tem nenhum direito de me levar a qualquer lugar?
Em lugar de lhe responder, seus olhos caíram sobre sua boca.
- Poderia querer manter seus lábios fora de minha vista, Katey. Realmente. A menos
que...?
- Entendo! - exclamou ela, e virou a cabeça.
O vento frio lhe bateu novamente no rosto devido ao passo que levavam. Mas acaso
não se obscureceram as nuvens sobre suas cabeças? ia chover, estava segura disso, e ele
estava levando-os aloucadamente pela estrada a cavalo!
- Isto é absurdo - resmungou ela. - Dirigia-me a Londres, mas não a cavalo! Exijo que
retornemos pra recolher minha carruagem e a seu condutor. Minha criada vai se pôr
frenética quando não puder me encontrar. E minha roupa! Não estou vestida para viajar
assim!
- Alguma vez fica quieta?
- Alguma vez ouve o que lhe digo? - Respondo-lhe. - Não estou vestida para andar a
cavalo assim. Minhas saias...
- Envolva-as debaixo de suas pernas - sugeriu-lhe. Mas se apertou ainda mais perto
dela, apoiando-se em seu ombro para ver o que se estava queixando. - Lindas panturrilhas.
Tinha o pressentimento de que seriam assim.
- Guarde seus olhos para você! - replicou ela zangada, ruborizando-se, e o empurrou
longe dela.
- Estou tratando!
Meu Deus, quase riu. Se não tivesse estado tão furiosa com ele, provavelmente o
teria feito.
Que estrangeiro malicioso estava resultando ser. Essa sua luxúria estava presente na
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viagem, mas embora fosse consciente dela, ambos tiveram que pretender que não existia.
Seu suposto estado matrimonial tinha servido como uma firme barreira que os tinha
ajudado a obtê-lo. Essa barreira se desmoronou hoje e ele se tornou completamente audaz.
Ela envolveu sua saia firmemente debaixo de suas coxas de ambas as pernas, mas
isso não ajudou com o vento.
- Ainda tenho frio - queixou-se ela. - Eu estou bloqueando a maior parte do vento,
assim não sabe quão frio está. Necessito de minha jaqueta. Não, necessito de minha
carruagem! Não há absolutamente nenhuma razão para fazer esta viagem desta maneira
quando tenho uma carruagem em perfeito estado a menos de dez minutos de viagem de
volta para trás.
-Não - disse ele simplesmente.
- Por que?! - gemeu.
- Porque não vou deixá-la fora de minha vista. Realmente acredita que confiaria em
seu cocheiro para que nos levasse aonde lhe indicasse? Em pouco tempo mandaria a
alguém a contatar com o resto de seus cupinchas.
Ela rilhou seus dentes.
- Lembre-se de minhas palavras, vai chover. Olhe o ceu se não me acredita.
Ele esboçou um sorriso.
- Neste país quando não parece que vai chover?
- Está dizendo que não vai passar?
- Duvido. Esteve assim toda a manhã e não choveu ainda.
- Ainda tenho frio.
Ele apoiou seu peito novamente contra ela para lhe dizer sugestivamente:
- Bem, poderia virar-se para me dar o rosto. Garanto-lhe que a esquentarei muito
rapidamente. Ou poderia vestir minha jaqueta.
- Tomarei a jaqueta.
Ouviu um suspiro quando se afastou dela outra vez. Um momento depois, sua
jaqueta lhe cobria os ombros. Katey não o agradeceu, mas sim a pôs rapidamente. Ela,
entretanto, desejou que esta não cheirasse como ele. Fez ela sentir como se estivesse
rodeada por seu calor.
Passaram uns minutos de silêncio enquanto se encolhia profundamente nesse calor.
Suas pernas estavam descansando sobre as dele, sentada diante dele na sela. Seus braços a
seu redor a abraçaram, também, mais forte até que sentiu como se ele a estivesse
sustentando realmente em seus braços. Ele, ele, ele. Deus! Ela precisava pensar em algo
mais!
- Quando mencionou aos Malory há um momento não disse o que ia passar - disse
ela.
- Simplesmente me ocorreu que não precisa preocupar-se com nenhum magistrado,
querida. Embora precise preocupar-se com Anthony Malory.
Revirou os olhos. Na verdade acreditava em sua culpabilidade, enquanto que ela
estava segura que não tinha nada que temer do pai de Judith. Boyd ia ser quem teria que
responder por seu engano, e ela saboreou isso. Mas isso era assumindo que Judith
pensasse em mencionar a parte da Katey nesta pequena aventura, e se ela não o tivesse
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feito, se permitiria a Katey falar primeiro com a menina antes de... antes do que?
- Esta não é a primeira vez que insinua que lhe deve temer aos Mallory. Quais são
eles?
- Uma das famílias mais poderosas deste reino, defensora acérrima da família. Fere
um e terá ferido a todos. O pai de Judy, bem, deu-lhe uma surra a seu marido, Geordie, tão
severa, que duvido alguma vez se veja igual a antes. Ele estava tão fora de si com a
preocupação, que cortará cabeças antes de começar a perguntar.
Katey ficou direita.
- Já lhe disse, não conheço essa pessoa, Geordie. E Judy é muito doce para ter um pai
como o que está descrevendo, assim deixe de tentar me assustar.
Ela sentiu como ele encolhia os ombros quando respondeu:
- Não diga que não o adverti. Não é provável que Anthony lhe ponha uma mão em
cima. Não insinuei isso. É uma mulher, além de tudo. Mas pode assegurar-se que passe o
resto de sua vida atrás das grades. De fato, meu primeiro pensamento quando a encontrei
colocada até o pescoço nisto era resgatá-la.
Ela decidiu agradá-lo perguntando:
- Suponho que quer dizer da prisão?
- Sim. Em troca poderia tirá-la do país. Essa ainda é uma opção. Acredita que
poderia esforçar-se em me convencer de fazê-lo?
Ela resfolegou. Deveria ter sabido que não estava sendo sério, que seus pensamentos
tinham tomado um giro sensual.
- Isso não merece uma resposta.
- No final do dia pensará de outra maneira.
- No final do dia - respondeu ela zangada, - estará sobre seus joelhos rogando meu
perdão, e não o darei, prometo. De fato, se alguma vez voltar a vê-lo depois de hoje, terá
sorte se não disparar em você. Você, senhor, é um… mula teimosa!
Ela ouviu sua risada.
- Mas ainda assim gosta, não é assim, doçura?
- Oh! - Não lhe ia dizer outra palavra. Homem odioso. Mas ele o lamentaria!
Começou a chover. Gotas grandes. Ela sorriu afetadamente por dois minutos
inteiros, até que ficou realmente molhada.
- Agora olhe o que fez! - disse acusadora.
- Sinto muito, mas eu não convoquei deste aguaceiro.
- Estou-me congelando!
- Nada disso - disse ele, mas seus braços se fecharam um pouco mais
hermeticamente ao redor dela.
- Vou morrer e será sua culpa. Disse-lhe que ia a Londres. Poderíamos estar viajando
em minha formosa e quente carruagem! Mas, não, não podia ser sensato sobre isto, não é
certo?
Espirrou para reforçar seu ponto. Não era um espirro fingido, mas não era um
verdadeiro sinal de que estivesse pegando um resfriado. As gotas de chuva se reuniram na
ponta de seu nariz, lhe fazendo cócegas e provocando o espirro.
Mas foi suficiente para fazê-la perguntar:
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- Suponho que não conhece algum refúgio próximo?
Ela pestanejou. Ia ser sensato? Um pouco tarde, mas ainda...
- Acontece que há um povoado pequeno aproximadamente a dez minutos daqui.
Mal acaba de passar o caminho para ele. Retroceda. Há uma estalagem ali.
Ele deu a volta. Tomou a cavalo menos de cinco minutos alcançar o povoado em que
ela se deteve essa manhã, então ele tinha levado sua montaria rapidamente para tirá-los
mais rápido da chuva.
Apontou a estalagem quando estavam no centro do pequeno povoado em caso de
que não a tivesse notado ainda. Ele os levou diretamente ao interior, deixando-a diante da
lareira, no quarto comum, para começar a esquentar-se, enquanto ele pagava por um
quarto onde poderiam esperar que a tormenta passasse.
Ela realmente não tinha frio. A chuva poderia ter trazido um pouco de frio ao ar,
mas o clima ainda não era em nada invernal. Meramente havia tentado que Boyd se
sentisse culpado, não é que acreditasse que ele fosse capaz de sentir remorso. Ainda. Mas
ele o sentiria quando averiguasse finalmente o engano colossal que tinha cometido.
Ela manteve um olho sobre ele enquanto aproximava suas mãos ao fogo.
Desgraçadamente, ele também mantinha um olho sobre ela. Suspirou. Não haveria
nenhuma possibilidade de deslizar fora por uma porta lateral sem que o notasse... ainda.
Pensou em fazer uma cena agora que estavam de novo rodeados de outras pessoas.
Convocar um oficial poderia resolver de qualquer maneira, entretanto. Sem seus criados
aqui para verificar sua história, poderiam acreditar em Boyd pelo contrário, e poderia
terminar depois de tudo no cárcere. Decidiu não arriscar-se a isso. Além disso, devia voltar
para o Northampton, recolheria suas coisas e seus criados, e deixaria atrás o que se
converteu em uma aventura ridícula.
- Me siga - disse ele, enquanto tomava seu braço para escoltá-la enquanto subiam. -
Se esta chuva não se detiver dentro de uma hora, verei se posso encontrar uma carruagem
de aluguel para o resto da jornada.
Concessões? Assim podia fazê-las? Mas devia pensar em carruagens antes de fazê-
los galopar fora do povoado maior de Northampton. Não era provável que encontrasse
uma para alugar aqui. Mas não mencionou isso. Algo que os separasse o suficiente tempo
para que escapasse, estaria de acordo com isso.
Com esse fim, disse-lhe assim que a fez entrar no quarto.
- Estou faminta.
Ignorou-a e foi direto à lareira para acendê-la. Desejou que ele se esquecesse que lhe
havia dito que se estava congelando. Ele estava tão resolvido!
Chateada, lhe disse:
- Escuta-me? Tenho fome.
Ele a olhou por cima de seu ombro.
- De verdade?
- Sim, de verdade. Não comi desde ontem - mentiu ela, para reforçar sua mentira
acrescentou: - Minha criada ia conseguir comida justo quando irromperam em meu quarto.
Ele conseguiu acender o fogo antes de ficar em pé, limpou suas mãos, e disse:
- Bem, verei de conseguir que nos enviem alguma comida e possivelmente um
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banho quente, também. Seque-se enquanto vou, mas afaste-se dessa cama, por todos os
demônios. Está claro?
- Não disse que estava cansada - brincou.
Ele a olhou fixamente até que um leve rubor apareceu em seu rosto. Compreendeu o
que ele quis dizer. Tinha-a mencionado a "ela" e à palavra "cama" na mesma frase tantas
vezes que era difícil esquecer quanto queria colocá-la em uma.
- Está claro. - Viu-se forçada a dizer.
Passou uma mão por seu cabelo úmido e olhou a confortável cama.
- Esta é provavelmente uma má idéia - disse Boyd em um meio gemido. –
Simplesmente deveríamos esperar no térreo que passe a tormenta. Também podemos
conseguir a comida ali embaixo.
Isso não a ia ajudar a escapar dele!
- Você espere no térreo - disse ela rapidamente. - Eu tomarei esse banho quente que
mencionou. Com certeza. Me impedirá de pegar um resfriado.
Ele a olhou fixamente por um longo momento antes de assentir e abandonar o
quarto, fechando a porta atrás dele. Ela imediatamente ouviu o som de uma chave na
fechadura e chiou seus dentes com exasperação. Bem, não era nenhuma maravilha pela
qual ele tinha concordado tão disposto. Sabia malditamente bem que a prenderia com
chave!
Mas Katey não esbanjou tempo examinando outras opções. O quarto tinha duas
janelas que davam para a rua, e a rua estava vazia devido à chuva. Uma dessas janelas
inclusive estava diretamente em cima do telhado do alpendre na frente da estalagem. E
não seria tão alto se ela se balançasse no ar desde esse coberto.
Dez minutos mais tarde Boyd estava em pé ante essa mesma janela que Katey
deixou aberta em seu escapamento. Embora ele tivesse dado uma moeda a um dos lacaios
da estalagem para que conseguisse um estábulo para seu cavalo, ele podia ver desde sua
posição que o cavalo não estava onde o deixou e tinha o pressentimento que Katey tinha
conseguido chegar primeiro a ele. Menos mal.
Logo que saiu do quarto e da presença da Katey, começou a ter dúvidas sobre sua
relação com o sequestro de Judith. Não se sentia bem pontuando a de criminosa. Era
amistosa com os animais, por todos os céus! E com esse pensamento começou a pensar que
ele desejava que fosse culpada. Estava tanto tempo em sua mente, algo tão indigno
sobretudo por uma mulher casada, devia tirá-la a de sua mente. Mas se ele estava
desculpando-a e ainda ela fosse realmente culpada como o pecado, ele não ia persegui-la.
Judith estava agora segura. E ele realmente não poderia suportar o pensamento da Katey
Tyler no cárcere.
CAPÍTULO 13
Katey montou de retorno a Northampton apesar da chuva. A metade do caminho
para seu destino cavalgou pela chuva. Embora a via diante estivesse completamente seca,
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o sólido banco de nuvens não limpava. E enquanto as nuvens não estavam tão negras
como o estavam mais ao sul, ainda podia dirigir-se ao norte e empapá-la outra vez. Mas
essa era a menor de suas preocupações.
As nuvens da tormenta provavelmente faziam parecer o dia mais tarde que o que
era, mas o dia ainda não se fora. Não havia forma de que ela reunisse a seus criados e seus
pertences ou alcançar Londres antes do anoitecer. Temia viajar através dessa mesma
estrada principal porque não queria arriscar-se a topar-se com Boyd novamente.
Ela o tinha atrasado tomando a seu cavalo, assim já não esperava o ter atrás dela.
Embora tampouco esperava que se rendesse e fosse a casa. Era muito teimoso para isso.
Mas ele não a encontraria em Northampton outra vez. Deixaria a seu cavalo ali para que
ele o encontrasse, não é que não tivesse um pouquinho de culpa por tomá-lo depois do que
tinha feito, mas já não o necessitaria mais uma vez que chegasse à carruagem para dirigir-
se para outra direção.
Fez que mais de um olhar se levantasse quando entrou no povoado, molhada e suja,
levando uma jaqueta de homem. Seu cabelo se soltara e não perdeu tempo em deter-se e
trançá-lo. Provavelmente deveria tê-lo feito. Atraía muitos olhares curiosos, entretanto isso
poderia ser porque suas panturrilhas estavam à vista. Envergonhada, desmontou para
cobrir apropriadamente suas pernas.
Conduzindo o cavalo atrás dela, Katey passou pelo mercado do povoado, o qual lhe
lembrou simplesmente como estava faminta agora.
O mercado definitivamente fechava à noite, não era que não tivesse algumas moedas
para comprar outra coisa. Mas alguns clientes ainda faziam suas compras, e havia uma
mulher gritando ao vendedor de frutas parada justo por onde passava Katey.
- Só me aponte com o dedo o cais mais próximo, vá!
- Já lhe disse a você, mulher tola, não temos cais!
- Já o entendi que não têm nenhum, mas que caminho sigo para o povoado mais
próximo que o tenha? Não lhe disse que meu marido está tratando de me matar? Tenho
que deixar o país, entende?
Katey deteve seus passos. Não só estava escutando uma briga de gritos. Era essa a
mesma mulher escocesa, que Grace, Judith e ela passaram meia amanhã tratando de
perder? Com a mulher a suas costas, não podia estar segura. Mas tendo sido duas vezes
acusada por Boyd de ser a esposa do Geordie Cameron, agora tinha um nome para pôr ao
sequestrador de Judith. E aqui estava a mulher escocesa tratando de escapar de seu
marido, o que lhe fez pensar no que Boyd tinha mencionado sobre a surra que deu
Anthony Malory a Geordie Cameron até deixá-lo sem sentido pelo que a esposa do
homem fez.
Então Katey não o duvidava, pelo que deteve um menino que passava correndo a
seu lado e lhe sussurrou que fosse procurar o oficial de polícia. Deteria a senhora Cameron
até que chegasse, e já estava o bastante zangada para não se importar como o faria. A
mulher tinha roubado e maltratado a uma criança. Tinha-as açoitado por toda
Northampton e toda a área tentando recuperá-la, e se não fosse por ela, as lembranças que
tinha Katey de Boyd Anderson não estariam completamente arruinadas agora. A mulher
não se afastaria depois de todos os problemas que tinha causado sem retribuição se Katey
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pudesse evitá-lo.
Ela se aproximou da mulher detrás.
- Senhora Cameron?
A escocesa imediatamente se virou. Katey quase riu de como rápido o vendedor de
frutas se foi em direção oposta para escapar de qualquer perseguição. E Katey não teve
problemas em reconhecê-la. Seu cabelo estava em selvagem desordem, seus olhos também
tinham um olhar selvagem.
- Como é que sabe meu nome, né? - Demandou ela com o mesmo tom beligerante
que havia usado com o vendedor de frutas. - Da estalagem? Pagamos por esse quarto,
embora deveriam nos ter devolvido nosso dinheiro, a maldita fechadura da porta estava
quebrada!
Katey percebeu que a mulher não a reconheceu, mas isso não a assombrou. Suas
roupas molhadas e desalinhadas, com o cabelo molhado e açoitado pelo vento, Katey não
se parecia nada como de manhã, de fato, via-se tão grosseiramente sujada como a escocesa.
- Não sou da estalagem.
Katey, entretanto não esclareceu quem era. Precisava deter a mulher até que
chegasse o oficial de polícia, e entabulando uma conversa parecia a melhor maneira de
fazê-lo.
A senhora Cameron a olhou de esguelha.
- Então de onde a conheço? Parece-me familiar, esqueça-o. Se pode me dizer por
qual caminho está o cais mais próximo, o agradeceria. De outra maneira, encontrarei a
alguém que possa.
O bom senso sugeriria encaminhar-se à costa mais próxima. Katey meramente disse:
- Temo-me não poder ajudá-la com isso. Não estou familiarizada com esta parte do
país.
A escocesa bufou com impaciência.
- Então não tenho tempo para perder conversando, que tenha bom dia.
Interessante como o havia dito, como se suas palavras fossem as únicas que
importavam. E já estava olhando a seu redor em procura de alguém a quem acossar com
suas exigências de guia.
Mas Katey necessitava que seguisse falando. Preferia esperar para acusá-la até que
chegasse a prendê-la o oficial de polícia.
- Qual é sua pressa?
- Nenhuma de...
Katey a interrompeu.
- Na verdade ouvi dizer ao comerciante de frutas que está fugindo de seu marido
que está determinado a matá-la? Esse é totalmente um exagero.
- Essa é a maldita verdade, mulher. Deram-lhe uma surra que o deixou idiota da
cabeça. Apenas o reconheci. E agora ele quer desforrar comigo.
- Desforrar do que?
- De que fosse culpado por algo que eu fiz. Perseguiu-me pela estrada, isso fez,
jurando que me mataria antes que Malory me pusesse as mãos em cima como fez com ele.
Agora bem, isso não é assunto seu, e se faz tarde. Geordie chegará ao povoado em
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qualquer momento.
Ela começou a afastar-se. Katey olhou ansiosamente atrás dela, mas ainda não havia
sinal do oficial de polícia ou do menino que ela tinha enviado em sua busca.
- Espere senhora Cameron. Pareço-lhe familiar porque me topei com você mais cedo
hoje. Estava procurando a sua filha, o que ambas sabemos que foi uma mentira. Não tem
mais filha do que eu tenho.
A senhora Cameron deu meia volta. Com expressão momentaneamente
assombrada, mas rapidamente mudou por irritação enquanto apontava com um dedo ao
ombro da Katey.
- Então foi você quem a roubou? Agora teria minha fortuna se não fosse por você.
Onde está ela?
- De retorno a sua família, onde você não colocará mais suas sujas mãos nela outra
vez. A polícia está em caminho para aprendê-la. Realmente pensou que se sairia com a
sua?
Katey se preparou para impedir que escapasse. Mas a senhora Cameron em
realidade se pôs prudente. E surpreendeu a Katey dizendo.
- Ouça, não é má idéia. A prisão seria um bom lugar para me esconder do Geordie,
agora que penso nisso.
Katey pensava que Geordie Cameron devia estar como um estúpido para casar-se
com essa mulher, mas se realmente havia alguém louco, era ela.
- Vamos então. - Continuou a senhora Cameron, e até agarrou o braço a Katey
levando-a com ela. - Encontremos a esse polícia, né? Necessitarei a alguém que diga que
sou culpado. Não haverá forma de que o oficial de polícia me acredite se eu o disser.
Isso era duvidoso, mas Katey já se esperava ter que fazer as acusações. O que não
esperou é que a mulher insistisse nisto, e ser ela a que se dirigisse a eles ansiosamente à
delegacia.
E algo bom fez, desde que Katey deteve o menino lançando no final da quadra e o
enviara a procurar o polícia. Uma moeda o convencera de fazer o que lhe pedia, porque
sem uma, ele simplesmente eria ignorado sua petição!
Ainda tinha suas suspeitas sobre os motivos da escocesa. Ela podia preferir a prisão
a enfrentar a fúria de seu marido? Aparentemente sim. Mas o que deveria ser suspeito pelo
contrário era porque a senhora Cameron insistia em que fosse com ela.
CAPÍTULO 14
Katey estava sentada sobre o catre com suas pernas recolhidas, apoiando seu queixo
sobre seus joelhos e os lábios torcidos com azedume. Estava criando em sua mente uma de
suas histórias, sobre Boyd Anderson caminhando para a forca. Suas mãos não estavam
atadas, mas ele não podia responder pela mordaça, mas podia removê-la o suficiente, ele
poderia? Muito bem, ela teria que lhe atar as mãos, já que não tinha interesse em ouvir o
que tinha para dizer.
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Ela demorou abrindo o alçapão embaixo dele. Saboreando o momento. Entretanto,
ele não se via assustado. Vendo-se infelizmente teimoso, em realidade, justamente como a
última vez que o tinha visto. Talvez porque estava confiante de que não seria pendurado
por estupidez, pelo que estava confiante. Por isso ela se pôs na cena, deixar que a visse,
então saberia que tinha algo pelo que preocupar-se.
- Ah, então aqui esta. -Disse-lhe Grace secamente. - Deveria ter sabido. Busquei-a
por todos lados. Por que não me ocorreu procurar no cárcere?
Katey olhou de esguelha à porta da cela que estava fechada atrás de sua criada.
Grace havia desenvolvido um sarcástico senso de humor.
- Alegra-me que veja humor nisto - disse Katey sarcástica.
- Soei divertida? Sério? Asseguro-lhe que não o estou. Asseguro-lhe que estou
bastante aborrecida. Os filhos de Deus não deveriam terminar desta maneira.
E foi assim exatamente como se sentiu Katey, até que ela começou pendurar a Boyd
Anderson em sua mente. Dispensando-lhe um pouco de castigo, até que em sua
imaginação, desfeito-se e acalmado um pouco sua irritação. Sabia muito bem que Grace e
ela estariam em Londres agora se não fosse por sua teimosia. Certamente não teria que ter
estado em Northampton e encontrar-se com Maisie novamente e terminar no cárcere por
isso.
Mas agora Grace estava ali, e certamente sua idêntica versão dos fatos convencera à
polícia que ela era inocente.
- Agora que chegou, podemos seguir nosso caminho, então deixemos isto.
- O que a fez pensar nisso? - Interrompeu-a Grace bruscamente. - Não, estou me
unindo. Aparentemente, sou um membro de seu bando de sequestradores.
Certamente isso não era o que Katey esperava ouvir.
- Isto é tão ridículo. Pensei que conosco lhes dizendo exatamente a mesma coisa...
- Fizemo-lo? - Interrompeu-a Grace. - Ou se pôs "criativa"?
- Não fiz isso! - disse Katey dignamente.
- Pois bem, o oficial de polícia não me perguntou muito, mas por que ainda não fez
sua declaração para encontrar a forma de a tirar daqui?
- Fiz isso. - Replicou com um pequeno grau de triunfo. - O senhor Calderston, nosso
carcereiro, nem sequer me acreditou.
- Deveria ter adivinhado - disse-lhe Grace. - Com certeza tirou a porta que lhe
impedia de partir.
Katey se encolerizou. Foi uma irritação impressionante para variar. Grace até se via
arrependida por esse último pequeno sarcasmo.
- Por pouco.
Enquanto a criada se mantinha momentaneamente silenciada, Katey explicou:
- Não fui libertada ainda pela família a que pertence Judith. São aparentemente
muito conhecidos no país. O senhor Calderston reconheceu seu nome imediatamente e me
disse que não se atrevia a deixar ir até que o ouvisse de um representante da família.
- Assim esteve aqui dentro toda a tarde? - Perguntou Grace incrédula enquanto se
sentava no catre ao lado de Katey. - Estava segura que não me encontrei contigo por
minutos, que...
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- Não perguntou ao hoteleiro?
- É óbvio que sim.
- Então deveria ter pensado imediatamente em procurar aqui. Viu como me
expulsaram para fora.
Não lhe disse isso ele?
- Ele provavelmente devia fazê-lo, mas não estava ali no momento que descobri que
não estava no quarto. Sua esposa estava na recepção, mas assegurou não ter visto você.
- Bom, nem sequer estava em Northampton. Esse maldito americano que devia
resgatar a Judith estava determinado a me levar de volta a Londres para que respondesse
ante os Mallory, e para fazer isso me raptou! Se não tivesse subido por uma janela para
escapar dele...
Grace saltou da cama e disse rigidamente.
- Agora sei que está fiando uma de suas histórias. Tendo tudo isto em consideração,
apreciaria a verdade, agora mesmo!
Katey não se deu por achada. Pelo contrário, Grace sim que estava grandemente
ofendida. Não fizeram nada mau, mas estavam sentadas ali na prisão as duas. E Katey
tinha tecido muitas historias em sua vida, dando à Grace razão para duvidar.
Katey suspirou.
- Essa é a verdade. O homem meteu na cabeça que sou culpada, pelo contrário não
Se importou com o que lhe dissesse eu. Mas ao menos escapei dele. E o senhor Calderston
me assegurou que não terei que esperar. Está consultando com sua irmã se pode nos alojar
fora daqui. Soou mais confiante do que parecia.
- Suponho que em um quarto com ferrolho e chave?
- Bom, provavelmente. Mas ao menos estaremos em um quarto mais cômodo que
uma cela de cárcere.
Em realidade, não era uma cela de cárcere muito horrível. O ar fresco entrava pelas
grades da janela, não cheirava mal. Até tinha piso de madeira. Os insetos se moviam pelas
gretas, por isso Katey mantinha suas pernas subidas catre, mas ainda assim, era melhor
que um piso sujo.
- Por que o ianque está envolvido? -Disse Grace enquanto se movia para sentar-se
novamente ao lado de Katey. - Entendi que a menina está de caminho a Londres com um
membro de sua família e sua família é inglesa.
- Não, acredito que estava dormindo na carruagem como Judith mencionou que
tinha parentes americanos também, e deste era um deles. Até o conhece. Foi a que me
advertiu no "Oceanus" que fosse cautelosa com ele, sensatamente advertiu que estava
excessivamente cativado por mim.
- Anderson? -disse Grace incredulamente. - O dono desse navio? Mas ele estava
cativado por você. Nunca tinha visto um homem mais interessado em uma mulher por
isso era óbvio que tivesse pensamentos carnais com você. É o último homem que
duvidaria de você. Então por que o fez?
- Suponho que é porque como via todo este assunto, eu mantinha à menina
encerrada em um quarto, no mesmo povoado aonde seus sequestradores a tiveram
capturada.
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- Mas certamente ela terá esclarecido que já foi resgatada por nós.
- Estou segura que o teria feito, mas outro de seus parentes a levou sem lhe
perguntar o que lhe passara. Boyd quem estava junto comigo saltou a uma conclusão
equivocada.
- Não lhe explicou?
- É óbvio que sim, mas ele meteu na cabeça que eu era uma criminosa.
- Mas gosta!
- Isso poderia ser parte do problema.
- Que se retorcido em seus pensamentos? -Grace se sobressaltou-. Claro! Pendura a
seus inimigos, joga a seu amigos em prisão. Tem perfeitamente sentido!
O sarcasmo de Grace estava de volta. Katey lhe disse:
- Não, acredito que sentiu que era muito parcial a meu favor. Murmurou algo de
deixar às autoridades que fizessem acusação, murmurando que não confiava em seus
próprios instintos no concernente a mim.
Ele havia dito algo mais, mas não o ia repetir a sua criada , a prazenteira revoada
que isso lhe causava cada vez que o lembrava. "Não posso pensar corretamente quando
está ao alcance de minha mão, como a única coisa em minha mente é levá-la à cama mais
próxima, assim não me atrevo a confiar em sua palavra, Katey Tyler. Sinto muito".
- Que amável de sua parte. - Disse Grace. - Mas não o vejo aqui sentado no cárcere
lhe fazendo companhia enquanto esperamos que se esclareça algo sobre os lordes ingleses,
quem, por certo não olham favoravelmente aos americanos e que provavelmente não
apurarão em esclarecer esta injustiça.
Grace teve um encontro com um nobre inglês em um de seus primeiros dias em
Londres. O homem a tinha empurrado a um lado quando ela estava subindo a um cavalo
que tinha alugado, tinha tirado ele debaixo dela, figurativamente falando, depois ele disse
algo condescendente a respeito de que ela esperaria por outro melhor. Grace tinha
desdenhado à aristocracia depois, apesar de ser o único acidente com as classes superiores
até agora.
Katey se sentia obrigada a assinalar.
- Até agora conhecemos a gente muito amistosa na viagem, tanto na Inglaterra como
na Escócia.
- Nenhum era um lorde.
- Certo mas não pode colocá-los a todos no mesmo cesto só porque um foi rude com
você, especialmente quando todos outros foram amáveis e úteis. Até o senhor Calderston,
desculpou-se três vezes por não poder deixar ir.
- Porque tem razão. - Resmungou Grace e logo suspirou. - Espero que ao menos
estejam procurando essa escocesa. Detesto pensar que os que resgataram a essa menina
estejam no cárcere enquanto ela está correndo por aí.
- Oh, ela está aqui conosco. Ninguém lhe disse isso? Ou talvez deveria dizer, ela se
assegurou de que estivéssemos aqui com ela!
Katey explicou o que aconteceu como ela retornou ao povoado e se topou com o
Maisie Cameron, e terminou lhe dizendo:
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- Não tinha concluído de dizer ao senhor Calderston sobre toda a aventura quando a
senhora Cameron me apontou com o dedo, me chamando mentirosa, e disse que tudo foi
minha idéia. Queria ir a prisão para escapar de seu marido mas estava suficientemente
zangada comigo por arruinar seus planos para querer um pouco de vingança também.
Grace ergueu uma ruiva sobrancelha.
- Por que não estou surpreendida? Sabia que essa mulher não estava bem da cabeça.
Katey assentiu com a cabeça.
- Uma candidata para o manicômio como disse o senhor Calderston, mas não a
culpo a ela por dizer o que disse. É a culpa de Boyd Anderson porque não estamos
dormindo em um encantador hotel em Londres esta noite.
- Odeio mencionar, mas isto já não é uma aventura. É uma tragédia.
- Não é nada pelo estilo. Só se tornou em um inconveniente e uma pequena demora
é tudo.
- Um grosseiro engano de justiça - insistiu Grace.
Era difícil estar em desacordo com isso. Mas Katey replicou:
- É bastante aborrecido, e estou tão zangada como você.
- Poderia tê-la tomado por tola.
- Mas o senhor Calderston me assegurou que não leva tanto tempo chegar a Londres
a cavalo, e enviou um homem à casa dos Malory para que isto se esclareça. Poderíamos
estar em liberdade nesta noite.
Ambas souberam que isso não ia ocorrer. Já estava escuro. Embora o homem
alcançasse Londres esta noite, era pouco provável que retornasse imediatamente ao
Northampton. Não tinha nada contra ele, depois de tudo, não passaria nada se um par de
americanas se apodrecia ao passar a noite no cárcere.
O senhor Calderston mudou-as à casa de sua irmã, mas isso não deteve o Grace com
suas queixas, especialmente quando seu quarto resultou ser mais pequeno que a cela do
cárcere!
Um de seus resmungos e brigas eram mais que suficiente, assim Katey tratou de
controlar sua ira. Não era comum nela sentir ira. Estava mais acostumada a alegrar a
outras pessoas e as entreter, por isso compartilhava sua gratamente embelezada versão da
história "Pendurando a Boyd Anderson" com a Grace essa noite para passar o tempo.
Mas como finalmente deixaram de esperar serem postas em liberdade essa noite,
apagaram o abajur para dormir um pouco, todas essas emoções que perturbavam Katey no
dia a apanharam de noite impedindo de dormir, olhando o escuro céu limpo.
Cólera, dor... como pôde Boyd Anderson tratá-la como a uma criminosa qualquer?
Conhecia-a! Não eram estranhos! Cruzou um oceano com ele, pensava que era uma
mulher casada com dois filhos, bom, não, acreditava que também tinha roubado a essas
meninas. Mas essa era uma hipótese de sua parte, baseado em seu argumento de que ela
tinha sequestrado a Judith!
Ela imaginava como se sentiria horrível quando descobrisse a verdade. Mas isso não
a ajudaria para acalmar seus feridos sentimentos. O problema era, que o odiava por
abandoná-la e tratá-la como o fez nesse dia, e suas outras emoções lhe estavam causando
uma dor no peito e as lágrimas chegaram a seus olhos. E o odiou por fazê-la sentir tão
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confusa.
Ela voltou a pendurá-lo em sua mente e abriu o alçapão desta vez e depois chorou
até ficar adormecida.
CAPÍTULO 15
Katey descobriu que adquirir uma cômoda carruagem inglesa, ao menos uma nova,
como Judith Malory tinha sugerido, não era algo que se obtivesse em um dia. O homem do
primeiro lugar de venda de carruagens que tinha visitado havia dito três semanas. O
segundo construtor de carruagens lhe disse que podia fazer a um para ela em um mês. Ele
tinha uma lista de espera!
Era suficientemente mau que todos os navios de passageiros que iam ao continente
nos próximos dias tivessem suas listas cheias já. O melhor que Katey pôde fazer foi
comprar passagens para dois em um navio que navegava até a semana entrante. Ainda
estava desgostada por isso, assim é que ela não ia atrasar se mais em deixar Londres para
adquirir uma carruagem nova. Tudo era culpa de Boyd Anderson. O senhor Calderston
não as soltou até ontem pela tarde, desfazendo-se em desculpa como por fim o homem que
ele tinha enviado a Londres retornou e disse que os Mallory certamente tinham
corroborado a versão da Katey sobre os acontecimentos.
Em caminho de volta a seu hotel londrino, Katey disse à Grace.
- Acredito que voltaremos para nossa idéia original e compraremos uma carruagem
depois de chegar a França.
- Não pensa que nos toparemos com o mesmo problema ali? - perguntou Grace.
- Sim, mas ao menos podemos começar a viajar pelo país enquanto esperamos.
Grace assentiu com a cabeça.
- Então qual é o seguinte ponto na lista antes que partamos? Um guarda-roupa
novo? Contratar a um cocheiro para uma carruagem que ainda não tem?
Katey ergueu uma sobrancelha ante o tom sarcástico de sua criada. Seu estado de
ânimo era péssimo. Odiava depender dos horários de outras pessoas. Queria deixar a
Inglaterra nesse instante, não na semana próxima. Também, desejava comprar uma
carruagem no dia de hoje, não no próximo mês. Por um breve momento pensou em
comprar seu próprio navio assim não teria
que tratar com o horário de alguém mais e só poderia apegar-se ao dela. Mas não queria
imaginar quanto tempo tomaria construir um navio!
Ela só havia meio brincado no dia de ontem quando disse à Grace que não sairiam
por seis dias mais e terminou seu palavreado com:
- Só deveria comprar um navio assim não nos encontraríamos com atrasos como este
outra vez.
Grace tinha revirado seus olhos e tinha respondido:
- Comprar uma carruagem é uma boa idéia, comprar um navio não é. Não
navegamos ao redor do mundo. Só necessitamos que um navio chegue ao continente
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seguinte .
- E logo ao seguinte.
- Sim, sei mas quantos meses depois seria isso? - Perguntou Grace. - Disse que cruzar
a Europa por terra leva um longo tempo. Além disso, não há tantos continentes para ver
ou há?
Não importa o tipo de educação que Grace tivesse recebido em Danbury, esta não
tinha incluído geografia. Admitia com facilidade que só permaneceu na escola pelo tempo
suficiente para aprender a ler e escrever. A educação da Katey, pelo contrário, foi bastante
mais extensiva, mas se seu tutor foi diligente em lhe ensinar sobre o mundo, ela não teve
livros infantis ilustrados que lhe mostrassem do que falava, assim é que era difícil para ela
imaginar como tão diferentes eram a Europa e África da América. Seu tutor só lhe deu a
ela um esboço do que se estendia no horizonte, deixando-a com a inquietação de ver tudo
por si mesma. Sabia pelas conversas com seu tutor da conveniência de navegar de país a
país em vez de viajar por terra.
- É uma lástima que não possamos alugar um navio - suspirou Katey ao terminar a
frase.
Grace se tinha rido muito.
- Que estranho! Esperar ao seguinte navio para sair com destino ao porto que você
quer ir, é só um inconveniente pequeno, um preço ínfimo para pagar por ver o mundo.
Mas Katey sabia com certeza que a paciência não era um de seus pontos fortes.
- Pois bem, o que sabe sobre o guarda-roupa novo? - propôs Grace.
- Para que necessito um guarda-roupa novo? Já levo comigo baús cheios de roupas
que não uso, assim, porque compraria mais?
- Porque só tem roupas de casa que usava em Gardener. Não tem um só vestido
bonito nem elegante. O que ocorre se convidam para um jantar elegante ou...
- Convidada por quem? - riu Katey muito. - Não conhecemos tipo de pessoas que
dão jantares seletos.
- Poderia. Ao menos deveria estar preparada. Ou rechaçaria convites somente
porque não tem nada adequado para vestir?
Katey lhe concedeu esse ponto.
- Suponho que não importaria ter ao menos um vestido de noite, verdade? E desejo
conseguir outro vestido de viagem. Poderia haver tempo, pois, se encontrarmos a uma
costureira hoje. Muito bem, diga ao cocheiro que dê a volta. Acho que notei algumas lojas
na rua que deixamos atrás.
Grace falou com condutor, mas depois de voltar a sentar-se disse:
- Agora que temos isso fora de nossa lista de assuntos pendentes, vai visitar a
menina, para assegurar-se de que ela chegou bem em casa?
- Não sei, de verdade, acredito que não. Não estou contente com o fim desta
pequena aventura, assim espero esquecê-la logo. Entretanto ela era uma menina
encantadora. Ao menos lhe enviarei uma nota para...
- Covarde.
Katey ficou rígida.
- Desculpa?
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- Ouviu-me bem. Teme ir a qualquer lugar perto da casa Malory porque assim
terminará encontrando-se com "ele" outra vez.
- Está realmente equivocada. Eu gostaria de me topar com Boyd Anderson outra vez
assim posso dar um bom uso a essa pistola que comprei o outro dia.
Grace bufou.
- Não lhe dispararia.
- Pendurei-o, não é verdade?
Grace explodiu em risadas, mas quando se acalmou, disse com um sorriso
carinhoso:
- O que faz nesses pequenos contos que cria é como sonhar acordada em voz alta,
Katey. Uma fantasia pura como essa não tem capacidade no que realmente faria se na
verdade se apresentasse a oportunidade. Mas foi engraçada a forma como o pendurou.
Pena que só fosse sua imaginação ficando intensa.
- Não sei por que continua pensando que sou incapaz de sentir raiva e que seja a
única que consegue experimentar essa emoção. Estava furiosa por todo o incidente.
- Talvez, mas evita o ponto.
- Pode ser por que não quero discutir? - apressou-se em responder.
- Quis dizer sobre a menina. Enviar uma nota sem esperar uma resposta não vai
dizer-lhe se chegou sem nenhum dano a sua casa. O que ocorre se não foi em realidade um
parente quem se escapuliu com ela esse dia? O que ocorre se Anderson foi um dos
sequestradores e te levou em um tris só para distraí-la assim não suspeitaria do que
realmente estava ocorrendo? O que ocorre se Judith não chegou a casa?
Katey riu agora.
- Escutou muitos de meus contos!
- Falo a sério.
- Então escolhe um assunto que não seja tão absurdo. O "Oceanus" lhe pertencia. E
durante a travessia lhe ouvimos mencionar que era só um navio de tantos que pertencem
à companhia naval que sua família possui. Esse homem não é pobre, Grace.
- Nem o é você, mas isso não o impediu de apontá-la com o dedo, não é verdade?
Essa declaração teve alguma validez.
- Muito bem, assegurar-me-ei de que tenho uma confirmação quando minha nota for
enviada. Estive supondo que tudo está bem com relação à Judith. Mas não tenho que ir até
a residência Malory por mim mesma para fazer isso.
- Suficientemente justo - disse Grace. - Só não queria que deixasse algum cabo solto
aqui por certo, teremos tempo antes que tenhamos que navegar para outra excursão
no Gloucestershire.
- Não - disse Katey imediatamente. - Na verdade, estava pensando em um agradável
passeio por carruagem ao longo da costa sulina, possivelmente até o Dover, ou talvez até a
Cornualha assim não perderemos o tempo. Não tivemos a oportunidade de visitar os
condados sulinos antes que fôssemos a Escócia.
Grace cruzou os braços, mostrando-se teimosa, antes de dizer:
- Não cumpriria com meu dever se não mencionasse que talvez nunca retorne a
Inglaterra uma vez que saiamos daqui. Poderia chegar à Itália e decidir que esse é o país
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onde quer pôr raízes. Já disse que a Escócia seria um lugar bonito para viver, assim é que
sei que vai considerar todos esses países aonde vamos procurando um lugar onde assentar
quando terminar de ver o mundo. Assim é que pensa sobre isso - continuou Grace. - Sabe
que terminará lamentando não ter se esforçado mais em conhecer a família de sua mãe
quando estivermos do outro lado do mundo.
CAPÍTULO 16
Katey devia ter se dado conta que enviar uma nota a casa de Judith produziria
muito mais que uma simples resposta. Quando a criada do hotel chegou a sua porta para
lhe dizer que um visitante a estava esperando no vestíbulo do hotel, quase enviou de volta
à garçonete com a desculpa de encontrar-se indisposta.
Temia que fosse Boyd. Podia ser que ele estivesse em casa da família Malory quando
chegou seu mensageiro e que o seguisse caminho de volta até seu hotel. Não queria vê-lo
de novo. Jamais. Nem sequer para ver sua atitude servil e de joelhos agora que acabara de
dar-se conta de quão equivocado estava. Mas, ainda assim, seguiu à criada enquanto
desciam as escadas, negando-se a acreditar que seu pressentimento tinha algo que ver com
a emoção que lhe produzia pensar em voltar a vê-lo.
Não teve nem a oportunidade de sentir alívio ou decepção, quando viu que seu
visitante não era Boyd Anderson. Ficou muito surpreendida, ao ver o homem que a
esperava em pé. Era incrivelmente bonito e isso não tinha nada que ver com o amável
sorriso que lhe dirigia. Era muito alto, de corpo esbelto e bem formado, que encaixava
perfeitamente com sua estatura. Era o tipo de homem ao qual um alfaiate adoraria fazer
um traje. Vestia elegantemente um casaco e calças justas de cor café claro, e trazia um
lenço muito bem amarrado sem extravagância. Suas roupas eram de fina feitura mas
simples. Seu cabelo negro azeviche descia onduladamente apenas um pouco debaixo de
suas orelhas, seus olhos tinham uma leve inclinação e com a mais formosa cor azul cobalto.
Percebeu que eram os mesmos olhos dos Malory!
Tinha que ser um membro desta família, e como apenas se tinha topado com Jeremy
Malory antes que se fosse a toda pressa, naquele dia, com Judith, deu-se conta que poderia
ser ele. A semelhança era muito próxima no que podia lembrar, embora ela tivesse jurado
lembrá-lo mais jovem. Não é que esse homem fosse velho. Supunha que teria quase trinta
anos ou um pouco mais.
- Senhora Tyler? Sou Anthony Malory, o pai de Judith. - Tomou sua mão e a
estreitou amavelmente.
Bem, não o esperava! Era o homem com o qual Boyd tinha tratado de assustá-la?
Que disparate!
Devolveu-lhe o sorriso.
- Me chame Katey. Espero que Judith recuperou-se desse assunto tão desagradável?
- Graças a você. Sim. Não pode imagina como agradecidos estamos minha esposa e
eu por sua colaboração. Você é uma jovem notável, Katey.
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Ela não pôde evitar ruborizar-se.
- Só fiz o que qualquer um teria feito.
- Está enganada. A maioria das pessoas se ocupam só de seus assuntos. Você viu
uma menina que necessitava de ajuda e foi a seu resgate. Minha filha está cativada por sua
pessoa. Não faz mais que falar de você desde que chegou em casa.
Katey sorriu.
- Mas sou eu quem está cativada por ela. É tão inteligente para sua idade. Quando
me dei conta estava tratando ela como uma adulta!
Ele deixou escapar um sorriso.
- Ela produz esse efeito em todos! E está ansiosa por vê-la de novo. Minha esposa,
Roslynn, vai celebrar um pequeno jantar familiar esta noite e nós gostaríamos que nos
acompanhasse.
Katey esteve a ponto de rir, lembrando sua conversa com Grace essa manhã. Nunca
cruzou sua mente que nesse mesmo dia teria que dizer que não tinha nada por que ficar!
Mas tinha que dizê-lo. A família Malory eram nobres ingleses. Provavelmente se
apresentavam vestidos muito elegantemente!
- Vou ter que recusar o convite. Não tenho nada apropriado para vestir para um
jantar de gala em Londres.
Anthony riu e disse:
- O que ansiamos é sua presença não ver seu guarda-roupa. E Judith se sentirá
devastada se você não for. - Logo graciosamente disse: - Ponha um saco se for necessário,
prometo-lhe que a minha família não se importará. Assim não tem desculpa. Enviarei uma
carruagem dentro de algumas horas.
O que podia dizer Katey para negar-se? Anthony Malory era um homem teimoso,
mas muito agradável, e lhe encantaria voltar a ver Judith, de modo que timidamente
esteve de acordo. Grace, é óbvio, tinha que lhe dizer ao menos três vezes, disse-lhe isso,
enquanto desenterravam o melhor vestido de Katey. Longe de ser um saco, era um capote
simples rosado com botões de madrepérola. Quando Katey a pôs e Grace lhe arrumou o
cabelo em uma trança que pendia sobre seu ombro, sentiu-se mais tranquila para
participar do jantar em casa dos Malory. E rapidamente se pôs a caminho para a elegante
casa urbana em Piccadilly.
Essa foi outra surpresa. Da rua, a casa citadina dos Malory parecia tão pequena, mas
era imensa em seu interior. Provavelmente era três vezes maior que sua casa em Gardener.
E tão impactante! Batentes dourados, candelabros de vidro, mármore brilhante no piso do
vestíbulo. Por toda parte se viam detalhes elegantes. Katey se sentiu completamente
desconectada. Estas pessoas eram ricos aristocratas. Que diabos estava fazendo ali?
Mas não pensou muito nisso. A idéia que tinha Anthony Malory de " pequeno" lhe
parecia grande a Katey, entretanto um mordomo a conduzia até uma sala cheia de pessoas,
que lhe diziam obrigado. Inclusive o mordomo lhe agradeceu!
Katey observou que Roslynn Malory não estava vestida tão elegantemente como as
outras mulheres da sala. Sir Anthony provavelmente lhe tinha falado sobre o tolo assunto
da "roupa", com o qual teve que lutar quando convidou a Katey para jantar, de modo que
ela decidiu vestir-se simplesmente com uma saia e uma blusa. Esse esforço adicional por si
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só fez Katey sentir-se bem-vinda, mas o abraço que lhe deu Roslynn a relaxou
completamente.
Anthony a saudou calorosamente, mas Roslynn a levou de novo ao vestíbulo para
ter um momento em privado.
- Alegra-me muito que Tony a tenha convencido de nos acompanhar esta noite.
Disse-me que você estava um pouco resistente. - Katey se ruborizou, mas Roslynn riu e lhe
disse. - Só brincava querida. Só quero que sinta que é bem-vinda. Espero que aceite nossa
hospitalidade por muito mais que só esta noite, mas podemos falar disso depois. Antes
que Judy desça, acho que gostaria de saber muito mais a respeito deste desafortunado
incidente, conforme o entendemos. Meu primo Geordie Cameron sempre ambicionou
possuir fortuna, sabe?
- Assim em realidade foi seu primo quem golpeou seu marido?
- Não se surpreenda por isso. Em realidade, não é a primeira vez. Antes de me casar
com o Tony, Geordie tratou de me sequestrar várias vezes. Sabia que o estava tramando. Ia
me obrigar a me casar com ele, de modo que pudesse apoderar-se da fortuna que herdei
de meu pai, e não lhe
importava o que tivesse que fazer para obtê-lo. Tony pôs freio a isso, e estávamos seguros
de que não nos causaria mais problemas! E Geordie se sentia bastante mau nesse então, de
maneira que Tony poderia culpá-lo por tudo isto. Eu não. Inclusive hoje recebi dele uma
nota oferecendo desculpas e nos assegurando que sua esposa não nos criará mais
problemas de novo, embora já soubéssemos. O homem do Calderston explicou, quando
veio aqui a inteirar-se da história do Judy a respeito do que aconteceu, que Maisie
Cameron e seu sequestradores tinham sido presos.
Katey se deu conta imediatamente de que os Malory não sabiam que ela foi acusada
de ser uma delas e que estava detida por algum tempo devido a isso. Começou a falar do
assunto, mas rapidamente mudou de opinião. Judith estava segura em sua casa e os
Malory se sentiam aliviados e agradecidos por sua ajuda. Não precisavam inteirar-se de
que ela tinha sofrido mais consequências por causa disso.
Um pequeno grito de alegria interrompeu seus pensamentos. Viu Roslynn girar seus
olhos, logo virou-se para ver por que. Judith estava descendo pelas escadas para eles e a
menina se aferrou a Katey com um grande abraço.
- Veio! Estou tão feliz. Meu papai me enganou dizendo que era possível que não
viesse. E está tão formosa com esse vestido.
Katey sorriu.
- Se soubessem a pouca roupa que tenho? Olhe, está fantástica. Não me disse que
era a menina mais linda da Inglaterra.
Judith mostrou um amplo sorriso pelo cumprimento, entretanto Katey não duvidava
que fosse certo. A menina tinha o singular cabelo dourado acobreado de sua mãe e os
exóticos olhos azuis de seu pai, e ambos os pais tinham uma aparência surpreendente.
Katey se imaginava que Judith ia ser muito bonita quando crescesse. Inclusive agora, cheia
de um feliz encanto, era radiante como um anjo.
- Conheceu a alguém? - Perguntou Judith, e antes de que Katey pudesse responder,
disse:
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- Venha comigo, assegurar-me-ei de que o faça.
A menina não se desprenderia de seu lado. E como uma perfeita anfitriã, para o que
provavelmente estava sendo preparada para converter-se algum dia, apresentou a Katey a
seus familiares e logo um comentário a respeito de cada pessoa.
Seu tio Edgard e sua tia Charlotte estavam ali. Também viviam em Londres. Seu
primo Jeremy e sua nova esposa, a ex-ladra, sussurrou Judith, também viviam em
Londres, e acabavam de retornar de sua lua de mel.
Katey estava um pouco tensa enquanto era apresentada a esse jovem bonito, o
impetuoso sujeito que tinha escapado a toda pressa com Judith nesse dia em
Northampton. Seria melhor que ele ficasse o suficiente para conhecê-la então, o que lhe
teria evitado o familiarizar-se com o interior de uma cela da prisão.
- Lamento que não nos tenhamos conhecido há uns dias - mencionou Jeremy,
apresentando desculpas, enquanto tomava a sua mão. - Mas estou certo que Boyd explicou
por que era imperativo que levasse ao Judy imediatamente a casa.
- Oh! Ele o explicou - respondeu Katey, e se sentiu contente de não soar sarcástica.
Em realidade, mais ou menos esperava encontrar-se com Boyd na casa dos Malory.
Sentia-se decepcionada de que não estivesse ali. Não é que já tivesse decidido o que lhe
diria em caso de que se apresentasse. Sabia que teria sido algo impactante.
O que, também, seria a razão pela que não se encontrava entre os assistentes, ela não
demorou para dar-se conta que a família de Judy nem sequer tinha caído na conta de seu
engano.
Como poderiam se pelo menos ele mesmo tivesse confessado tudo? Ele obviamente
não tinha mencionado esse assunto tão espinhoso. Provavelmente acreditava, que os
Malory nunca a conheceriam, assim não existia razão para que contasse nada. Ela não
desejava escurecer a noite mencionando suas tolas acusações.
Ao estar frente a Jeremy, Katey, também, podia dizer sinceramente que nunca tinha
conhecido a um homem mais bonito, mas ainda estava um pouco contrariada com ele.
Agora podia ver porque por um instante pensou que Anthony podia ser Jeremy quando o
viu no hotel. O pai de Judy se parecia tanto ao jovem Malory que poderia ocorrer que
Jeremy era o filho ou o irmão de Anthony, se não soubesse já que era primo de Judy.
Mas a esposa de Jeremy, Danny, era tão formosa, que Katey quase perdeu o fôlego
ao conhecê-la! Usava um vestido de seda cor esmeralda e seu cabelo era branco como a
neve, tinha-o um pouco curto pelos os cânones da moda atual, mas tinha umas feições
deliciosas. Katey estava certa que nunca tinha conhecido uma mulher tão formosa como
Danny Malory, mas quando apresentaram a Derek, o primo de Judith, e a sua esposa,
Kelsey, teve de mudar de opinião, e começou a perguntar-se como podia haver tanta gente
tão surpreendentemente de aparência agradável em uma só família.
Além disso, todos estavam vestidos surpreendentemente. Danny em cor esmeralda,
Kelsey e Charlotte em veludos escuros, inclusive os homens levavam jaquetas e lenços com
bordados. E nem sequer se tratava de um assunto formal! Se todos não fossem tão amáveis
e se mostrassem sinceramente agradados por sua presença, estaria de causar muita pena
por levar um simples vestido de algodão, que parecia por fora em meio de tantas
indumentárias elegantes e jóias deslumbrantes. Mas não lhe ocorreu pensar nisso até mais
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tarde, porque apenas lhe deram tempo de notá-lo com sua entristecedora conversa.
- Seu filho, Brandon, é o Duque do Wrighton, sabe? - Disse-lhe Judith, depois que ela
afastou Katey de Derek e sua encantadora a esposa.
Essa informação não significava absolutamente nada para a Katey. Seu tutor tinha
nascido nos Estados Unidos e nunca lhe ensinou os diferentes níveis da nobreza inglesa.
Um nobre era um nobre para ela, nada mais.
- Nunca imaginaria, mas Derek conheceu Kelsey em um bordel - continuou Judith
com outro suspiro, e logo acrescentou: - Não é o que está pensando. É uma história
bastante interessante, o que ela estava fazendo ali.
Katey não poderia imaginar não, em realidade, não poderia! Mas os segredos que
esta menina lhe estava revelando definitivamente eram mais do que escandalosas, coisas
que Judith nunca saberia se tivesse a sua idade. Ladrões e bordéis, e, também não tinha
mencionado a piratas? Com segurança estes aspectos incomuns das vidas de alguns
membros da familiar Malory não eram de conhecimento público, assim por que os estava
compartilhando com ela?
- Não o diria a ninguém mais - disse Judith, parecendo ler a mente de Katey. - Você é
especial.
Katey se ruborizou muito. Era um dos melhores cumprimentos que lhe disseram
alguma vez. Mas se perguntava o por que das percepções inexplicáveis da menina.
- Não o sou, mas por que o diz? - Perguntou.
Judith encolheu os ombros.
- É estranho, mas tenho a sensação de que sempre nos conhecemos.
Isso realmente era estranho, porque Katey também sentia grande afinidade pela
menina. Certamente Judith lembrava a ela com a mesma idade, com sua amabilidade, sua
curiosidade, e suas mil e uma perguntas!
- Talvez se deve porque falamos muito de como nos conhecemos, e logo em sua
carruagem - sugeriu Judith. - Jamais falei tanto desse modo a ninguém, que não fosse de
minha família.
Katey sorriu e percorreu com o olhar a sala.
- E por certo que tem uma grande família.
Judith riu ao ouvir isso; era um som que lembrava a Katey quão jovem era.
- Aqui nem sequer estão a metade! Acredito que há algo como seis casas Mallory só
em Londres, embora seja possível que queira perguntar a respeito a minha mãe. Mas
inclusive essa não é toda minha família.
Era algo difícil de entender para Katey. Foi uma menina só, sem tias nem tios nem
primos, nem sequer avós ao menos nenhum que ela soubesse.
Devia ser agradável, pensou, ter tantos familiares. E talvez deveria retornar a
Gloucester e desta vez de verdade bater na porta da família Millard.
Pouco depois se anunciou o jantar. A mesa era muito grande, dando a Katey a idéia
de quantos familiares ocasionalmente caberiam nela. Com apenas dez deles presentes esta
noite, Roslynn sentou o grupo em um extremo da longa mesa, colocando a Katey entre
Anthony e Judith, enquanto se sentava em frente a eles.
Não houve uma só pausa entre as conversas, o que abrangeu desde corridas de
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cavalos até os méritos do novo cavalo de Derek, as damas opinaram sobre as últimas
tendências na moda que indicava cinturas mais baixas. Charlotte gostava do novo estilo,
enquanto que as outras três mulheres ainda estavam a favor da comodidade do estilo
imperial francês.
Quando Charlotte pediu sua opinião a Katey, teve que admitir:
- Temo que o mais perto que estive de uma costureira em cinco anos é a visita que
acabo de fazer a uma esta manhã. Pedi um vestido de noite e aceitei seu conselho. Disse-
me que só faria vestidos no novo estilo com a cintura mais baixa.
- Que grosseiro de sua parte - disse Kelsey.
- Com certeza foi uma harpia - acrescentou Danny. - Sei como trabalham esses
comerciantes. Só querem que diga a seu amigas em onde comprou sua última aquisição.
- Não importa - tratou de lhes assegurar Katey. - vai demorar cinco dias fazendo esse
vestido. Não tive tempo de procurar outra costureira.
- Isso é ridículo! Não demora tanto a confecção de um vestido - disse Roslynn. - Com
certeza estava procurando uma desculpa para lhe cobrar mais. Amanhã enviarei a minha
costureira. Far-lhe-á tantos vestidos quanto deseja em qualquer estilo que prefira, e além
disso, muito rapidamente.
- Obrigado, mas não é necessário. Vou de viagem, de modo que não necessito
muitos vestidos. E meu navio sai na próxima semana.
- Retorna aos Estados Unidos? - Perguntou Anthony.
- Não, não tenho mais família lá, assim duvido que retorne.
-Tem família aqui na Inglaterra, só que não deseja visitá-los - interrompeu Judith.
Devido a isso, Katey se ruborizou um pouco, Roslynn repreendeu discretamente a
sua filha.
- Guarde silêncio, querida, essa é informação pessoal. Katey explicará se for esse seu
desejo. Não o diga por ela.
O lábio inferior de Judith tremeu levemente, o que fez que Katey saísse em sua
defesa.
- Não há problema, na verdade. Tenho familiares aqui, mas nunca os conheci, e não
acreditava ter o tempo necessário para visitá-los antes de zarpar a França. Mas já que não
pude obter uma passagem para antes da próxima semana. - Fez uma pausa para sorrir à
menina e apertou sua mão por debaixo da mesa. - E depois de nossa discussão, Judith,
estive reconsiderando lhes fazer uma visita, e agora que vou permanecer um pouco mais
na Inglaterra, provavelmente o farei. Mas sua mãe tem razão, é melhor que não fale disso.
Disse muito para um assunto que não desejava explicar! Mas os Malory entenderam
a insinuação.
E Anthony mudou de assunto perguntando:
- Qual é o motivo de sua viagem a França? Vai às compras?
- Não, é o país seguinte em meu tour.
- Quantos países planeja visitar? - Perguntou Edward.
-Todos - respondeu Katey. - Na realidade vou dar a volta ao mundo.
- O mundo todo? - Disse Jeremy quase afogando-se com o bocado que estava
comendo - Caramba, a maioria das pessoas só quer viajar pelo continente, mas você quer
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ver o mundo todo?
- Por que não? - Perguntou Katey. - É algo que desejei fazer depois de passar toda
minha vida em um pequeno povoado. Agora que não há nada que me detenha, eu gostaria
de conhecer o resto do mundo.
- Não se surpreenda tanto, querido - disse-lhe Anthony a seu sobrinho. - Todos têm
metas diferentes. E a da Katey é uma grandiosa.
Katey sorriu.
- Não posso me demorar muito. Embora haja passado mais de um mês desde que
cheguei dos Estados Unidos até agora. De modo que não posso permanecer tanto tempo
no mesmo lugar, por isso é que estou aborrecida com as datas de embarque. Já deveria
estar partindo da França, não na próxima semana.
- Já que está atrasada, podemos convidá-la a ficar conosco até que zarpe seu navio? –
Perguntou Roslynn. - Isso é o mínimo que podemos fazer depois que você resgatou Judy.
- Sim, por favor fique, Katey - acrescentou Judith muito esperançada.
- Obrigada, mas se a visita a minha família sai como o espero, provavelmente terei
que passar o resto de minha estadia na Inglaterra com eles. Se mudar algo pô-los-ei a par.
Mas não têm que me agradecer por ajudar Judith. Foi uma aventura para mim, de maneira
que, sou eu quem tem que lhes agradecer!
Dirigiram-se à sala de jogos, depois do jantar. Katey entrou um pouco atrasada
depois de refrescar-se alguns minutos. Ao observar melhor a casa, surpreendeu-se uma
vez mais por sua opulência. Possivelmente a família Millard, que também era da
aristocracia, vivia assim? Essa era a classe de riqueza, a qual sua mãe renunciou por amor?
Por uns instantes se deteve debaixo da soleira do salão de jogos. Observou aos
Malory, rir e brincar, era tão óbvio o amor que compartilhavam. Que família tão
maravilhosa, e tão afortunados de se ter o um ao outro. Desejava não sentir-se tão fora do
lugar entre eles, apesar de serem amáveis com ela, mas não podia evitá-lo. Faziam com
que sentisse saudades de sua mãe.
Grace tinha razão, devia conhecer a família Millard antes de partir da Inglaterra.
Nunca se perdoaria se não o fizesse. É possível que um deles se parecesse com o Adeline
ou tivesse uma personalidade similar. Santo Deus, como desejava descobrir que tinha um
parente que se parecesse com sua mãe.
- Quem é? - Perguntou uma voz grave atrás dela.
Katey girou e não pôde evitar a rajada de temor que atravessou seu corpo ao ver um
alto homem loiro, parado ali, olhando-a penetrantemente, vestido com uma camisa branca
aberta no pescoço, calças justas, botas até o joelho e cabelo até os ombros, parecia muito
mais fora do lugar na casa da família Malory que ela. Mas algo mais a respeito desse
homem lhe fez conter o fôlego. Seu aspecto era completamente ameaçador, quase como se
fosse único, quê diabos era? Um brilho dourado em sua orelha lhe deu a resposta. Parecia
um pirata!
CAPÍTULO 17
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- James, pelo amor de Deus, poderia nos ter dado algum tipo de aviso - disse
Anthony ao recém-chegado. - Quando retornou à cidade?
- Esta tarde.
Muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Jeremy atravessou como um raio o
salão e envolveu ao alto e loiro homem em um abraço de urso. Isso certamente teria posto
em apuros a um homem menor, mas não a este, o que era uma boa coisa, já que ele não
estava sozinho. Entrando no salão logo atrás dele estava uma mulher e uma menina.
Katey se pôs a um lado. O homem grande podia ter um aspecto francamente
ameaçador, mas obviamente não o era, e até mais evidente, era outro membro da família
de Judith. Judith também cruzou como um raio o salão, mas ela abraçou à garotinha que
tinha entrado com seus pais e puxou ela a um lado para começar a sussurrar em seu
ouvido.
A mulher que tinha entrado com eles, bom Deus, outra beleza! Abria passagem pelo
salão, abraçando a todo mundo, como se não os tivesse visto em meses. E talvez esse
fosse o caso, pensou ela, quando ouviu que Anthony questionava ao homem loiro
chamado James.
- Como esteve a viagem? - perguntou ele. - Pôde encontrar Drew?
- Sim, e Gabrielle Brooks estava com ele como suspeitávamos. Só que não
imaginamos que fosse ela quem sequestrou seu navio.
- Na verdade o roubou? Como?
- Teve um pouco de ajuda da leal tripulação de seu pai. Estava desesperada. Eles
haviam lhe trazido a notícia de que seu pai era mantido prisioneiro por um bando de
piratas que estavam acostumados a ser sócios deles.
- Mas por que o roubou? Não era Drew sua escolta enquanto ela estava aqui em
Londres- Perguntou Anthony. - Bastava com que lhe pedisse que a levasse ao Caribe, não?
- Não lembra aquele escândalo sobre Gabby que circulou antes que ela se fosse? -
Lembrou-lhe a esposa de James a Anthony. - Drew foi o responsável, assim ela não estava
de humor para lhe pedir nada nesse momento.
- Ah, uma mulher zangada com intenções de vingança - adivinhou Anthony com um
sorriso conhecedor. - Realmente compreendo.
- Pensei que assim seria. - Disse-lhe James secamente. - Mas já tinham arrumado
suas diferenças quando os encontramos.
- Assim Drew não precisou ser resgatado depois de tudo?
- Para nada. Mas o pai do Gabby sim, e essa foi uma briga grandiosa, tenho que
dizê-lo, tirá-lo daquele ninho de piratas. Lamento que tenha perdido a diversão, velho.
Teria desfrutado dela.
- Retornou Drew com você? - Perguntou Roslynn.
- Não, ele permanecerá no Caribe por algum tempo. Assistimos a seu casamento
antes de retornar a casa.
Anthony riu.
- Não me diga, mais piratas em sua família?
Ao dizer isso obteve um olhar furioso do belo loiro e Katey abruptamente mudou de
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opinião.
James Malory era absolutamente ameaçador. Podiam matar os olhares?
- Não seja imbecil, são também sua família - respondeu-lhe James.
Ou Anthony era muito valente ou simplesmente não notou o olhar furioso do outro
homem, porque com um grande sorriso respondeu:
- Lamento diferir, velho. Você é o que tem cinco cunhados bárbaros, não eu.
- E nossa sobrinha graças a seu matrimônio é uma delas - assinalou James.
- Por todos os infernos, esqueci-me disso. - Resmungou Anthony, logo pôs um braço
ao redor dos largos ombros de seu irmão para guiar James até Katey. - Bem, venha e
conheça a heroína de Judy. Se inteirou do que aconteceu? Sei que Judy foi correndo ver
Jack um dia depois que retornou casa.
- Sim, Jack nos contou tudo ao respeito em menos de dez segundos. Mal tínhamos
entrado pela porta! Mas você sabe como entrelaça todas suas frases quando se entusiasma.
- Certamente. - Anthony revirou seus olhos. - Judy faz o mesmo. Ela não tirou esse
hábito de mim! Juro que nunca fomos assim entusiastas quando tínhamos essa idade.
- Não éramos meninas. - Foi divertida resposta do James. Mas depois em uma nota
mais sóbria, ele acrescentou: - Lamento não ter estado para ajudar, Tony.
- Não há de que preocupar-se, velho. Seu filho e seu cunhado lhe substituíram com
agrado. Tudo terminou, graças a Deus, assim não há nenhuma necessidade de mencioná-
lo mais.
Quando alcançaram Katey, Anthony fez as apresentações. Embora James Malory
não
fosse mais alto que ela, quando a abraçou com esses maciços braços. Em realidade a
abraçou! Sentiu-se muito pequena.
- Estamos em dívida com você - disse-lhe James. - Ajudou a minha querida sobrinha,
que é também a melhor amiga de minha filha. Se alguma vez necessitar de algo, Katey
Tyler, algo de qualquer tipo, venha a mim.
Ela não duvidou de sua sinceridade. E teve o pressentimento do que "algo".
Realmente queria dizer algo, embora fosse do tipo perigoso.
Sua esposa, George, uniu-se para acrescentar seu agradecimento. E escutando-os a
eles, Katey teve a impressão de que enquanto James Malory facilmente poderia ser um
perigo para algumas pessoas, seus amigos e sua família certamente não tinham nada que
temer dele, e Katey acabava de colocar-se no último grupo, o que desvaneceu essa breve
parte de nervosismo que sentiu por sua chegada.
Uma pessoa mais tinha chegado com o James e sua família, mas ele se demorou em
entrar pela porta. Infelizmente se moveu furtivamente atrás de Katey. Se ela tivesse tido
simplesmente um pequeno aviso, não teria ficado como uma idiota.
- Senhora Tyler?
Ela deu meia volta para confrontar Boyd Anderson. Com a maior parte de desdém
que alguma vez tivesse reunido, repreendeu-o:
- Ah, quem mais senão o homem que converte inocentes em criminosos. É uma
vergonha que os Mallory tenham que chamar parente a um canalha como você.
Envergonhado, ele respondeu:
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- Vim para me desculpar por não acreditar em você.
- Desculpa negada. -Respondeu ela friamente. - Agora afaste-se.
- Por favor.
- Surdo além de estúpido? - Interrompeu-o ela sem piedade. - Então me deixe ver se
posso fazê-lo entender. Você poderia suplicar de joelhos, e daria no mesmo. Você, senhor,
é um idiota!
Ele ficou de joelhos. Ela bufou, tirou sua pistola, e disparou. Falhou, é óbvio, mas foi
lindo ver que parecia espantado.
Infelizmente, tudo isso só ocorreu em sua imaginação depois de tudo e não em um
salão cheio de uma dúzia de testemunhas. Boyd a assombrou. Ela se virou para enfrentá-lo
com um suspiro. Estava vestido mais elegantemente que a última vez que o tinha visto,
com uma jaqueta negra feita à medida que se ajustava a seus largos ombros, uma gravata
branca em forma de laço atada a seu pescoço, seus cachos castanhos dourados
desarrumados. Mas a vista de deste homem de aparência agradável não lhe roubou o
fôlego; em lugar disso seu instinto de autoconservação passou por cima de seu bom senso,
e ela despertou.
- Não me fale! Nem sequer se atreva a aproximar-se de mim. Em realidade...
Ela recorreu a Sir Anthony, que tinha agora o cenho franzido enquanto percorria
com o olhar a um e a outro. Sentiu um rubor colorindo suas faces porque os Mallory, não
puderam mais que escutá-la ser tão brusca com seu parente. Simplesmente não podia ficar
mais ali.
- Sinto muito, mas tenho que ir imediatamente - disse ela a seu anfitrião. - Obrigada
por sua hospitalidade. Não lhe deu a oportunidade de responder, só se deteve um
momento em seu caminho para a porta, o suficiente para inclinar-se e abraçar ao Judith e
lhe murmurar ao ouvido:
- Far-lhe-ei uma nova visita antes que vá, mas agora mesmo devo ir.
Quase alcançou a porta principal, mas Boyd lhe vinha pisando nos calcanhares. Sua
mão em seu braço a deteve brevemente e a ameaçou a confrontá-lo.
- Katey, deve deixar que me explique.
- Tire sua mão de mim! - Ela ficou com o olhar fixo em sua mão até que Boyd a tirou,
então acrescentou: - Não desejo outra coisa mais que ignorá-lo, o que vai ser muito fácil de
fazer.
- Poderia, por favor, me escutar por um…...
- Como escutou a mim? Arrastou-me através do campo contra minha vontade em
meio de uma tormenta, poderia acrescentar. Maltratou-me, prendeu-me em um quarto,
tudo sem sequer me escutar uma vez!
- Talvez não a maltratei o suficiente, já que conseguiu escapar - disse-lhe ele com
frustração. - Podia tê-la amarrado naquele quarto, mas não o fiz.
Ela ficou sem fôlego indignada.
- De verdade acredita que isso o exonera? Não posso acreditar que ainda estou
falando com você, mas não mais. Entretanto, dar-lhe-ei exatamente a mesma cortesia que
me deu. Tudo que diga cairá em ouvidos surdos. Não é assim como foi?
Estava contente de ver que ao menos um leve matiz de cor tingia suas faces, mas isso
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foi tudo o que ela ficou a ver. Virou-se e se apressou a sair pela porta. Ouviu que ele a
chamava por seu nome outra vez, gritando-o em realidade, mas ela não se deteve e até
desceu correndo as escadas exteriores. A carruagem que Anthony tinha enviado para que
fosse buscá-la ainda estava em frente da casa, e em um momento mais estava em seu
interior, a caminho de volta a seu hotel.
CAPÍTULO 18
O primeiro instinto de Boyd enquanto permanecia em pé na porta e observava Katey
afastar-se foi segui-la, mas James tinha enviado sua carruagem a casa e não retornaria por
várias horas. Edward tinha o hábito de fazer o mesmo. Como Piccadilly era uma rua de
muito trânsito, a família preferia não aumentar a congestão deixando seus veículos na
sarjeta.
A carruagem de Derek era a única que ficava, e enquanto que provavelmente não
duvidaria em levar a um Malory em qualquer lugar que ele ou ela pedisse, sem dúvida
quereria permissão antes de partir com um Anderson. E então não poderia alcançar a
carruagem, que já se perdia ao longe. Mas Boyd sabia que alguém dentro da casa do
Anthony tinha que saber onde ficava Katey porque ela foi convidada a ficar.
Ele se tinha informado de que ela era inocente das acusações que lhe tinha atribuído
logo que retornou a Londres. Qualquer um que não tivesse sua mente e seu corpo
nublados pelo desejo como Boyd, provavelmente teria acreditado nela imediatamente, já
que estava dizendo a verdade. Mas ele foi diretamente à casa de Anthony para assegurar-
se de que Judith estava em casa.
Mal entrou na sala, Jeremy, ainda ali e sentado com Judith em um sofá, disse-lhe:
- Sabe o que é ser repreendido por uma menina de sete anos de idade que é muito
esperta para lhe deixar ser condescendente?
E Judith chiou:
- Só queria agradecer a Katey apropriadamente. Você também quereria, se alguém
tivesse arriscado sua vida para salvá-lo. Poderia me ter levado de volta por só alguns
minutos para fazê-lo. Mas teve milhas de distância antes de sequer me escutar!
Jeremy dirigiu a Boyd um olhar de " vê?". Entretanto, para sua jovem prima, disse:
- Então teria tomado mais que uns minutos, não, gatinha, se já estávamos tão longe?
Mas averiguarei onde se hospeda quando ela chegar a Londres e a levarei para visitá-la eu
mesmo, assim pode lhe agradecer corretamente. Eu quero lhe agradecer também.
Caramba, toda a família está em dívida com ela. Assim é que deixa de preocupar-se por
isso, ela receberá nossa gratidão.
Mas Judith perguntou a Boyd diretamente:
- Agradeceu-lhe ao menos antes de ir?
Boyd não soube como se arrumou para dizer uma só palavra, de tão aturdido como
estava, mas disse a modo de desculpa:
- Estava tão sobressaltado por sua beleza, que poderia haver me esquecido.
Jeremy revirou os olhos ao ouvi-lo, mas Boyd rapidamente continuou:
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- Mas pode estar segura de que ajudarei a encontrá-la para retificar esse descuido.
- Fará isso? - A menina lhe sorriu com alegria, afundando a faca ainda mais fundo.
Ele se foi rápido, antes que pudessem notar como se sentia culpado. Inclusive
pensou em cavalgar de retorno ao Northampton essa noite, mas duvidava que Katey ainda
continuasse ali. Além disso, sentia que lhe andaria procurando logo que chegasse à cidade,
com uma arma, ou um pau, ou um guarda-sol para quebrá-lo sobre sua cabeça. E seria
mais fácil para ela encontrá-lo que para ele achá-la a ela, já que o poderia localizar através
dos Malory.
Mas isso não o impediu de começar sua busca, quase. Tinha que emendar seu
engano, de alguma forma. Não havia dúvida disso. E se merecia algo que ela queria lhe
lançar, é óbvio. Como compensar algo sobre isso, como? Mas uma crise do Skylark" fazia
erupção ontem pela manhã e isso consumiu uma grande quantidade de seu tempo. Um de
seus navios tinha jogado água até o porto depois de danificar-se em uma terrível tormenta.
Tiveram que ordenar-se grandes reparações. O carregamento se malogrou e teve que ser
descartado. Não podia jogá-lo simplesmente no Tâmisa.
E nesse momento Georgina e James retornaram à tarde e ele passou o resto de dia
com eles, escutando a respeito da pequena aventura do Drew.
Várias vezes esteve a ponto de contar a sua irmã sobre seu engano garrafal. Mas ele
não pôde resignar-se a arruinar a volta a casa da Georgina, e além disso, ele ainda
esperava encontrar Katey e arrumar as coisas com ela antes de que sua família se
inteirasse.
Agora, tinha que retornar a um salão cheio de Mallory que tinham ouvido o que
Katey lhe disse. Ela não o havia dito cuidadosamente. E viram ela ir-se por sua causa. Já
teria contado? Não, teriam saltado sobre ele imediatamente à procura de uma explicação
se o tivesse feito. Mas quereriam uma agora. Estava surpreso que não o tivessem seguido
até a porta principal para obtê-la.
De fato, quando voltou para a casa e fechou a porta, viu James e Anthony parados
no portal da sala. Observando-o. Esses dois não o deixariam ir-se sem confessar tudo se a
idéia lhes tivesse ocorrido. Se não estivesse pensando averiguar onde se alojava Katey,
poderia tê-lo tentado de qualquer modo, porque retornar a essa sala se parecia com
caminhar para uma guilhotina com seu nome gravado nela.
Boyd passou entre os dois Malory a quem mais admirava por sua habilidade
superlativa no ringue. Só tinha experimentado essa habilidade por si mesmo uma vez,
quando ele e seus quatro irmãos tinham tentado dar uma surra ao James por ter anunciado
escandalosamente a um salão cheio de pessoas que ele tinha arruinado a sua irmã, não
com essas palavras exatas, mas os nativos de Nova a Inglaterra podiam ler entre linhas tão
bem como qualquer outro.
Tinham tentado ser justos, atacando James um de cada vez. Simplesmente não tinha
funcionado. Mas James lhes deu muitas desculpas aquele dia para esquecer-se da justiça, e
verdadeiramente, foram necessários os cinco para finalmente o derrubar. Ele era assim tão
bom com seus punhos.
Cada olho no salão se voltou para Boyd quando ele regressou à sala. A maioria
esperou pacientemente uma explicação, esperando que a oferecesse voluntariamente. A
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decepção de Judith ultrapassou sua paciência.
Abatida, lhe perguntou:
- Não ajustou tudo e a trouxe de volta?
Na verdade esperava que o fizesse? Tão simples, a forma como uma criança via as
coisas. "Ajeite isso. Tudo será melhor". Desejou que fosse tão simples.
Ele negava com a cabeça para Judith quando sua irmã disse:
- Boyd, me diga que não insultou a essa jovem.
Ele resmungou.
- Depende de como define insulto.
- Bárbaro até o maldito final, né? - adivinhou James.
- Não comece - disse Georgina a seu marido, então perguntou a seu irmão mais
cuidadosamente: - Assumo que nesse dia ocorreu mais do que sabemos?
Mas Anthony não estava de humor para alongar o assunto e com mordacidade
perguntou:
- O que fez, ianque, para zangá-la tanto que não quer estar no mesmo aposento que
você?
" Como o expressou Katey?"
- Maltratei-a, prendi-a...
- O que?
A pergunta caiu sobre ele de cada direção da sala porque ninguém na verdade o
tinha ouvido, já que tinha resmungado muito baixo. E possivelmente não era sábio ser tão
direto.
Ele limpou voz e disse:
- Não acreditei nela quando me explicou por que estava ali.
- Em Northampton? - Perguntou Georgina.
- Não, na estalagem onde a encontrei com Judith - corrigiu ele.
Ao que James começou a rir.
- Acusou-a de ser culpada, não? Posso ver por que lhe incomodou isso.
E como Boyd não o negou, Jeremy chiou:
- Caramba, ianque, disse-lhe o que Cameron alegou, que era sua esposa...
- Sei - interrompeu-o Boyd. - Mas encontramos Judy naquela estalagem cativa atrás
de uma porta fechada em lugar de caminho a sua casa. O que me fez começar a duvidar da
história do Cameron. Inclusive estava de acordo em que devia mentir para fazer com que
Anthony deixasse de lhe dar murros.
- Isso não terminou - interveio Anthony, o que lhe obteve um cenho franzido de sua
esposa por soar tão presumido sobre isso.
- Bateu em meu pobre primo por nada - repreendeu-lhe Roslynn. - Judy confirmou
que não teve nada que ver.
- Me permita discordar, querida minha. Sua choramingação de anos de que não
obteve sua fortuna foi o que deu a sua esposa a idéia, assim em última instância teve
culpa. Que não fosse sua idéia é a única razão pela que não está morto.
Roslynn bufou, obviamente em desacordo com esse argumento. Boyd na verdade
começou a relaxar um pouco sua guarda, com a atenção das pessoas derivando a outro
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lugar. Mas então apanhou o olhar inquietante de James fixo nele, e infelizmente, esse
Malory era extremamente perceptivo.
Já sem humor, James disse:
- Espera um maldito momento. Se não acreditou, e ela ainda está zangada com você
me diga que foi tão incompetente como acho que é e não prosseguiu com suas suspeitas.
Boyd suspirou.
- Fui muito competente.
- Oh, meu Deus - replicou James, adivinhando. - Meteu no cárcere à jovenzinha.
- Não, essa não foi uma opção, ainda quando me ocorreu que poderia ser a esposa
do Cameron. Mas tentei arrastá-la de retorno a Londres comigo, sem sua permissão. Ia
trazê-la diretamente aqui, assim Anthony podia decidir o que fazer com ela. Mas nos
apanhou uma tormenta, e como encontramos um refúgio, ela escapou.
Logo depois de um momento de silêncio comovido, todo mundo arrancou com
diversos graus de incredulidade e censura, tudo dirigido aonde correspondia, e tanto que
Boyd mal apanhou uma palavra disso. Foi na verdade um alívio assombroso já não ter que
manter oculta essa culpa. E como finalmente ouviu algo que podia responder, não estava
dirigido a ele.
- Como diabos vamos compensar isto? - perguntou Anthony a sua esposa.
- Não é seu engano - assinalou Boyd.
Roslynn lhe falou bruscamente:
- Diabos se não é. É parte desta família.
Embora o tivesse dito encolerizada, as palavras do Roslynn foram música para seus
ouvidos. Os homens Malory ainda o tratavam quase exclusivamente de uma forma
descortês, como também se tratavam entre eles. Simplesmente era seu costume. Era hora
de que aceitasse que em realidade formava parte desta família. Georgina se tinha
encarregado disso, e também Warren, porque ambos estavam felizmente casados com o
Mallory.
Assim Boyd tomou uma folha do livro de Judith e disse:
- Arrumá-lo-ei. Não tenho nem idéia de como o farei ainda, mas o arrumarei.
CAPÍTULO 19
- Retornou cedo - disse Grace quando Katey entrou no quarto.
- Ele estava lá assim saí.
Não tinha que esclarecer quem era "ele".
- Ainda assim, deu-lhe seu castigo, não? Antes de partir ? - A careta de desgosto da
Katey foi suficiente para que Grace chegasse a uma conclusão. - Não o fez? Juro, Katey
Tyler, que não a criei bem.
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Katey bufou enquanto se deixava cair na cadeira mais próxima.
- Não me "criou" para nada. E ele me tomou de surpresa ou lhe haveria dito bastante
mais do que lhe disse ou possivelmente não. Havia demasiada gente ali para meu gosto
para me comportar como uma bruxa como ele merecia.
- E agora perdeu sua oportunidade.
Katey tomou um momento, mas depois ela começou a rir muito.
- Perdi a oportunidade de me comportar como uma bruxa? É isso no que nos
estamos convertendo?
Grace sorriu abertamente, embora um pouco timidamente:
- Isso soou terrível, não é verdade? Mas uma reprimenda pode ser dita cortesmente.
Tem a delicadeza para isso, minha menina, sei que sim. E na verdade ficará engasgada na
garganta se esse homem pelo menos não for pendurado.
Ambas riram agora. Mas logo Katey suspirou e recostou sua cabeça no espaldar da
cadeira, fechando os olhos. E Grace voltou a empacotar a roupa que Katey poucas vezes
usava já. A criada estava dando uma boa limpeza nelas e engomado antes de fazer-se ao
mar outra vez.
O problema era que provavelmente Katey, ainda teria uma probabilidade de
"pendurar" a Boyd, por assim dizê-lo, também para falar, e ela já não estava segura de
querer isso. Os Mallory sabiam aonde se hospedava. Ele poderia facilmente obter essa
informação de Sir Anthony Malory. Inclusive poderia visitá-la na manhã para lhe dizer
algo que estivesse a ponto de lhe dizer essa noite.
Katey tinha chegado à conclusão de que não queria escutá-lo. E realmente tampouco
queria voltar a vê-lo. Castigá-lo não serviria de nada. Ele agora sabia que deveria ter
acreditado nela. Ele quereria desculpar-se, sem dúvida. Não tinha intenção de perdoá-lo
por sua espantosa arrogância. Em realidade, preferia que se derrubasse na culpa.
Disse outro tanto à Grace.
-Produzir bolhas em suas orelhas lhe dará uma oportunidade para desculpar-se, e
uma vez que ele faça isso, sentir-se-á exonerado. Se o perdoar ou não, considerará que
corrigiu o problema com uma desculpa e se esquecerá do assunto. Mas se ele alguma vez
tem essa oportunidade, então a culpa alguma vez desaparecerá, não é assim?
- Essa é uma grande maldade vindo de você, Katey Tyler - disse Grace sorrindo
abertamente outra vez.
- Seriamente acha isso? - Katey assentiu com a cabeça e tomou a decisão. - Então
vamos sair na primeira hora na manhã assim ele não terá oportunidade de me encontrar.
Grace revirou seus olhos.
- A essa excursão aos condados do sul?
- Não, ao Gloucester.
A decisão imprevista de Katey certamente fez Grace feliz. Katey, por outra parte,
experimentou mariposas no estômago antes de partir do hotel a manhã seguinte. Não
estava segura do por que ultimamente se havia sentido tão indecisa de conhecer seus
parentes. Era algo que esperara com ansiedade por muito tempo. E eles podiam recebê-la
com os braços abertos. Mas de algum jeito tinha na mente que não seria assim.
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As decisões improvisadas nem sempre funcionavam, mas algumas vezes sim. Grace
e ela não tiveram que ir a procura de uma carruagem para que as tirasse de Londres. A
mesma carruagem e condutor que foi enviado ontem à noite pela Katey estava ali outra
vez nessa manhã, e ao vê-las, o condutor rapidamente se lançou de seu assento para abrir a
porta.
Grace estava suficientemente impressionada quando perguntou ao homem.
- Não me diga que você esteve aqui toda a noite?
- Não, senhora, mas agora meu trabalho é levar as senhoras em qualquer lugar que
gostem de ir até que se façam ao mar. Ordens de Sir Anthony.
Essa foi uma surpresa agradável, não ter que preocupar-se com conseguir um
transporte para a viagem a Gloucestershire. Katey enviou ao condutor até a porta da casa
de Sir Anthony para recolher seu casaco, também, de caminho para fora de Londres. Ela o
deixou esquecido a última noite quando tinha saído correndo tão rapidamente e não tinha
outro que fosse tão abrigado e cômodo para viajar. Teria ido à porta ela mesma, mas
duvidava que alguém além dos criados estivesse levantado essa hora. Estava equivocada.
Judith desceu saltando as escadas de entrada da casa, quando escutou ao condutor
mencionar o nome da Katey na porta, e não duvidou em entrar no veículo e desabar-se
pesadamente no assento junto à Katey. Katey não teve coração para repreendê-la
duramente. A carruagem podia ter estado vazia. Simplesmente tinha enviado o condutor
para recolher seu casaco. Uma garotinha não deveria meter-se em um veículo se não sabia
que estava ocupado.
Em lugar disso Katey lhe disse:
- Sempre se levanta assim tão cedo?
- Sempre recupera suas coisas assim tão cedo? - Judith contrapôs com um sincero
sorriso.
-Vou sair de Londres - respondeu Katey a maneira de explicação. - Assim este é o
único momento que tenho para recolher meu casaco. Vou visitar minha família em
Gloucestershire depois de tudo, antes de deixar a Inglaterra.
- É aí onde seus parentes vivem?
- Sim, por quê?
- Haverston está ali, a fazenda do marquês.
- Quem é esse?
- Meu tio Jason. Ele é o chefe da família. Lembra que lhe mencionei seus jardins?
- Oh, sim, o jardineiro.
Judith riu tolamente.
- Acredito que gostaria de ouvir que o chamam dessa forma. Ele ama suas flores.
- Não é ali onde está enterrada aquela carruagem francesa? - Perguntou Grace com
um sorriso aberto.
- Com efeito. Deveria vê-lo! Ele o arrumou belamente em uma de suas estufas.
- Duvido que cheguemos perto de onde vive seu tio, Judith. Gloucestershire é um
condado grande. E não temos tempo de sobra para desvios. Nosso navio zarpará em
quatro dias. Por isso vamos diretamente à estalagem do povoado em Havers onde
ficaremos antes de... Agora o que? - perguntou Katey enquanto os olhos azuis da menina
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se aumentavam.
- Haverston está junto a esse povoado! - Exclamou Judith. - OH, isto será perfeito.
- O que o será?
- Se ficarem em Haverston.
Katey negou com a cabeça imediatamente.
- Não poderíamos. E não há necessidade, realmente. Só vamos estar ali uma noite ou
duas.
- Mas necessitamos que fique - disse Judith seriamente.
Katey franziu o cenho.
- O que quer dizer com isso?
- Houve realmente um grande alvoroço ontem à noite depois de que se foi. Estou
certa que imagina. Nenhum de nós sabia o que fez Boyd até então. Meus pais estavam
tratando de pensar alguma forma de compensá-la. Isto não será suficiente, mas estou
segura que os faria sentir muito melhor se aceitar nossa hospitalidade enquanto está em
Gloucestershire. Simplesmente tem que aceitar.
Isso era tão ridículo, pensava Katey, quando Judith continuou:
- A casa ali é grande e confortável, gostará. E é bom ter amigos na esquina quando
está por enfrentar aos leões.
Katey requereu de um momento para entender o que Judith quis dizer, e depois
estalou em risada. Judith devia ter lembrado o que Grace havia dito a Katey, que não tinha
a coragem para apresentar-se ela mesma a seus parentes. Os "leões" eram a família a que
nunca tinha conhecido, e os "amigos" a seu lado eram os poderosos Mallory. Era incrível
que uma menina pensasse essas coisas, mas Katey se estava acostumando a ser
surpreendida por ela. Tudo estava na educação, supunha. Judith era da nobreza, mas
obviamente não estava restringida a seu preceptora e as babás que a tratavam como uma
menina. Passara a maior parte do tempo com adultos que a respeitavam e a amavam.
Ainda assim, não eram os Mallory que lhe deviam algo.
- Não posso aparecer de repente na porta de seu tio.
- Claro que pode se estiver com você.
- Não acredito que seus pais vão a...
- Se eles nos acompanhassem também, ao menos minha mãe. - Interrompeu-a Judith
outra vez. - Meu papai estará fora o resto do dia. Mas não se preocupe, não a atrasaremos.
Não tem que nos esperar. Temos mais de uma carruagem e lhe alcançaremos no caminho.
E com isso arrumado, ao menos na mente do Judith, a garotinha voltou depressa
para sua casa antes de que Katey pudesse pensar em mais raciocínio para recusar-se.
Uma vez estando em caminho Grace lhe perguntou:
- Pensa que na verdade virão?
- Claro que não. Simplesmente são ilusões de uma menina. Sua mãe não vai sair
correndo do país só para nos brindar alguma hospitalidade. A idéia é ridícula. Além disso,
ela provavelmente ainda está na cama.
- Que pena. Gostaria de ver aquela carruagem coberta de flores.
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CAPÍTULO 20
Ninguém, ao menos nenhum dos adultos conheciam seu desejo de desculpar-se com
Katey, incomodou-se em dizer a Boyd que ela foi convidada ao Haverston. Teve que
inteirar-se por Jacqueline, porque Judith não pensaria em deixar a cidade sem dizer a sua
melhor amiga aonde e por que. Mas não se inteirou suficientemente logo, o que não lhe
deixou outra alternativa que cavalgar a toda velocidade para o Haverston, mas ainda
assim lhe seria impossível chegar antes que escurecesse.
Podia ter chegado muito antes se não tivesse ido ao hotel da Katey de manhã.
Embora o empregado lhe informasse que ela tinha registrado sua saída mais cedo, Boyd
não acreditou nele. Ninguém lhe tinha mencionado ontem à noite que Katey deixava a
Inglaterra imediatamente. Ele pensou que teria pedido ao pessoal do hotel que lhe
dissessem, se ele fosse visitá-la, que tinha partido. Sabia que estava zangada com ele e que
não queria vê-lo. Depois de ter esperado obstinadamente no vestíbulo do hotel, esperando
uma olhada dela ao vê-la passar, foi.
Zangado consigo mesmo por não vê-la, chegou à conclusão de que mudou de hotel
para não vê-lo. Depois de procurá-la em outros hotéis dos arredores, ele ainda não a podia
encontrar.
Quando finalmente retornou à casa da Georgina, foi um alívio para ele inteirar-se
que simplesmente foi ao Haverston. Conhecia a maneira de chegar ali porque o tinham
convidado em muitas ocasiões a ancestral fazenda Malory nos últimos anos. Sobretudo
como todo o clã Malory, incluída sua irmã, reunia-se em Haverston pelo natal.
Boyd teria achado a cavalgada agradável devido às cores vibrantes do outono que
salpicavam a paisagem e com a temperatura um tanto temperada, mas o clima se tornou
asqueroso, lançando um pano mortuário cinza sobre algo que se via através do aguaceiro.
Essa tarde em vários pontos chovia tão forte que até era difícil distinguir o caminho em
frente a ele.
Estava completamente empapado quando chegou. O mordomo lhe disse que a
família ainda estava jantando enquanto conduzia a Boyd diretamente ao andar de cima
para secar-se e mudar de roupa. O mordomo não lhe deu outra opção, assim Boyd teve
que controlar com muita dificuldade sua impaciência de ver Katey. Entretanto, pediu que
não informassem de sua chegada. Depois de sua última reunião com a Katey Tyler, não
tinha nenhuma dúvida que ela convenientemente desapareceria com alguma desculpa se
lhe avisassem que estava ali. Não levou muito tempo para trocar de roupa e correr escada
abaixo.
Ainda tinha o cabelo um pouco úmido assim como suas botas. Só guardara em sua
mala de mão algumas roupas adicionais antes de sair precipitadamente de Londres, assim
não levava jaqueta, já que a única que tinha trazia-a posta na cavalgada e se tinha molhado
com o aguaceiro. Ele sabia que estava vestido muito informalmente, com sua camisa
branca, de mangas longas e seus calças negras para um jantar em Haverston, mas isso não
ia mantê-lo a distância.
Quando alcançou a sala de jantar, não se moveu da porta, ainda quando a família o
notou e iniciou suas saudações. Katey estava ali, e não ia deixar que se fosse correndo
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outra vez. Provavelmente tinha notado que ele estava bloqueando a porta como se fosse
uma barricada, lhe impedindo qualquer escape, porque ela o percorreu brevemente com o
olhar antes de ignorá-lo e continuar comendo.
Bem, ao menos ela não estava pensando em sair correndo, ou até tentando-o. Isso
deveria ter sido um alívio. Não o era. E era incapaz de ignorar a da mesma maneira. De
fato, não podia afastar a vista dela.
Ela vestia uma blusa branca com uma delicada gola bordada que estava abotoada a
grande altura do pescoço. Seus amplos seios se impulsionavam para frente contra a blusa.
Diabos, seus seios encheriam algo suficientemente amplo que ela usasse.
" Tira os olhos de seus seios!" grunhiu-se assim mesmo.
Seu cabelo estava recolhido em uma longa trança que a favorecia, mas hoje a cauda
da trança não estava presa a seu cinturão. Em lugar disso sua trança estava estendida
sobre seu ombro com a cauda descansando em seu regaço. A grossa tranca negra azeviche
contrastava sobriamente com sua delicada blusa branca. E suas faces rosadas...
Ele se deu conta abruptamente de que ela se ruborizava. Saberia o por que a estava
olhando? Não acreditava ter a força para tirar seus olhos dela, ainda que fosse para
terminar com seu desconforto ou saudar seus parentes por afinidade. Se lhe dessem a
escolher, podia observá-la para o resto de suavida.
Mas não podia continuar em pé, bloqueando a porta. Jason Malory, terceiro
Marquês do Haverston, estava à cabeça da longa mesa da sala de jantar e, saudando Boyd
como a outro membro da família, e lhe pedindo que tomasse assento enquanto o fazia
gestos a um dos lacaios para que lhe trouxesse um prato. Os dias em que os Mallory
ficavam em guarda a um lado de um aposento para enfrentar-se contra os Andersons ao
outro lado, já não existiam.
Esta era simplesmente uma pequena reunião. Além de Judith e sua mãe, que por
alguma razão haviam trazido Katey a Haverston, Jason e sua governanta, Molly, estavam
ali, sentados juntos a um extremo da longa mesa. Molly era para falar a verdade, a esposa
do Jason e a mãe de Derek, embora ninguém mais que a família sabia isto, e até onde Boyd
sabia, Molly insistia em mantê-lo desse modo.
Boyd se perguntou se a tinham apresentado a Katey como governanta. Isso
realmente não lhe interessava. Sua principal preocupação era que Katey ficasse na sala o
suficiente desta vez para que escutasse sua desculpa.
Com essa finalidade, ele tomou assento frente a ela, o qual se o localizava ainda
bastante perto da porta para impedir que ela escapasse da sala. Alguém mencionou algo a
respeito da chuva quando um trovão soou ao longe. Vagamente ouviu o comentário, ou o
trovão. Ainda tinha os olhos cravados em Katey, desejando que o olhasse. Mas não o fez.
Até onde lhe concernia, ele nem sequer estava na sala.
O que era como tinha que ser, supôs ele. Ela era uma mulher casada, além de tudo.
Ela não deveria prestar sua atenção a solteiros com a exceção de uma cortesia comum, mas
nem isso deveria lhe dar. Bem, claro que não, ainda estava furiosa com ele. E onde diabos
estava seu marido?
Ele tinha assumido que ela se encontraria com esse bastardo sortudo na Inglaterra,
mas em realidade nunca o tinha mencionado, só que ia a caminho para encontrar-se com
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este. Era essa a razão dessa viagem mundial que Judith tinha mencionado nos planos da
Katey? Seu marido estava em um país diferente?
Boyd esperava que não, porque no profundo de sua mente esperara enfrentar-se com seu
marido em algum momento, por seu tratamento arrogante para com ela. Na verdade, teria
dado as boas-vindas a isso. Necessitava que algo o aliviasse de sua culpabilidade. O
perdão da Katey não o faria, mas pelo contrário uma surra de seu marido não, não
ocorreria. Ele não admirava aos pugilistas, ele mesmo era um avantajado nesse esporte. Só
podia imaginar quanto mais culpa sentiria se golpeava até a inconsciência ao marido dela.
Boyd reprimiu um amargo sorriso. A quem zombava? Se fosse ganhar a qualquer
homem ensanguentado, apreciaria muito que fosse a um que poderia reclamar a Katey
como sua esposa.
Sua frustração igualava a sua impaciência. Queria desculpar-se imediatamente, mas
não o podia fazer. Necessitava primeiro estar a sós com Katey. Não podia explicar muito
bem na mesa as razões do que fez em Northampton, não quando essas razões implicavam
seus sentimentos luxuriosos por ela. Era uma mulher casada. Sem dúvida alguma ela
entendia.
- Onde está seu marido, senhora Tyler? - falou pelos cotovelos com um sotaque de
frustração.
Ela deu-lhe uma olhada, mas só para levantar uma sobrancelha e lhe perguntar com
fingida curiosidade.
- Qual de todos?
Ele se sobressaltou. Não podia negar que merecia isso. Simplesmente um engano
mais pelo que precisava desculpar-se, quando acreditou que era a esposa do Cameron.
Mas Katey não estava interessada em sua resposta. Com seus olhos novamente em
sua comida, ela confessou:
- "Não" tenho marido.
Incrédulo, ele perguntou:
- Perdeu-o?
Ele estava a ponto de dar suas condolências quando lhe respondeu:
- Nunca tive um para perder. Nunca estive casada.
Duas coisas o afligiram ao mesmo tempo. Um sentimento de alívio o embargou. Sua
consciência podia deixar de julgá-lo por desejar a uma mulher casada. Estava disponível!
Mas então lembrou o inferno que tinha atravessado naquela viagem com ela porque
se vira forçado a guardar distância, porque acreditara que era uma mulher felizmente
casada e a mãe de duas pequenas meninas. E que tão diferente teria sido seu encontro em
Northampton se seu matrimônio não tivesse interferido entre eles.
As possibilidades o aturdiram. E mais, poderia ter feito amor com ela nesse mesmo
dia! E ele não a teria arrastado para confrontar a fúria dos Malory, não é? Com sua mente
limpa de seu desejo por ela, ele a teria visto como a doce e encantadora jovem que era. Não
teria tido problemas acreditando nela então. Mas isso não foi possível porque lhe tinha
mentido que estava casada. Seu estado de ânimo se obscureceu quando começou a
perguntar-se se havia dito essa mentira para mantê-lo a distância dela. Seu tom teve um fio
cortante de fúria quando lhe perguntou:
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- Então por que usou o nome de senhora Tyler?
- Por conveniência. Usava essa aparência como um manto de amparo, para manter à
distância atenções não desejadas. Funcionava muito bem - acrescentou ela com ar
satisfeito, e o olhou às escondidas para ver sua reação.
Boyd com o rosto aceso, disse:
- E as duas meninas?
Ela deixou de fingir uma fascinação por seu prato e ergueu a cabeça para cravar seus
olhos diretamente nele.
- Não eram minhas. Supôs que o eram. Eram as sobrinhas de minha vizinha. Ela
necessitava que alguém as escoltasse a um parente na Inglaterra. Esse foi o ímpeto que
necessitei para começar meu tour mundial.
As outras pessoas na mesa seguiam a conversa, percorrendo o olhar de um lado a
outro, da Katey a Boyd. Jason lhes lembrou que não estavam sozinhos na sala quando ele
perguntou:
- Soa como se vocês dois se conhecessem de alguma outra parte.
Boyd arrancou os olhos da Katey o tempo suficiente para percorrer com o olhar ao
Malory mais velho.
- Foi uma passageira em meu navio durante minha última viagem pelo Atlântico.
Isto fez Roslynn ficar sem fôlego.
- Conhecia-a e ainda assim achou que era culpada?
- Não a conhecia - disse exasperado. - Mal falamos durante a viagem.
- Falamos o suficiente - discordou Katey.
- De nada muito pessoal - devolveu Boyd o disparo, retornando seu olhar a ela.
- Falamos o suficiente para que eu chamasse "sua" atenção e se fixasse em mim.
- Oh, meu... - começou Molly, logo se esforçou em mudar o assunto. - Possivelmente
deveríamos postergar a conversa e segui-la na outra sala durante a sobremesa?
Com essa sugestão os Mallory saíram em fila da sala de jantar. Mas Boyd não os
seguiu. Katey não se moveu tampouco. Ainda estavam muito ocupados fulminando-se
com o olhar o um ao outro para notar que agora estavam sozinhos.
CAPÍTULO 21
- Era tão transparente? - perguntou Boyd.
Era como se os dois minutos de silêncio tivessem transcorrido lentamente enquanto
se cravavam os olhos um no outro através da mesa, esquecidos de todo o resto na sala de
jantar. Katey não esperara encontrar-se com ele em Haverston. Quando Judith e sua mãe
tinham alcançado sua carruagem e tinham conduzido elas para a fazenda ancestral,
Roslynn tinha mencionado que Anthony poderia reunir-se com elas se não se atrasasse em
Kent, onde seu irmão Edward o tinha enviado por um negócio, mas ela não havia dito
nada sobre Boyd.
E ali estava ele repentinamente, em pé na porta, com seu cabelo molhado, com seus
olhos marrons sombrios olhando-a atentamente, lhe roubando o fôlego. Não esperara
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sentir outra vez aquela rajada de emoção que experimentava somente ao tê-lo perto, mas
ali estava também, e tinha que controlar-se imediatamente ou faria o ridículo em sua
presença.
A chuva torrencial tinha adiado sua visita aos Millards. Em lugar disso ela passou
uma tarde agradável com os Mallory, que arrumaram para relaxar sua tensão e as
mariposas que revoavam em seu estômago, com seu engenho divertido e brincadeira fácil.
Foi um começo fresco e do melhor essa manhã, e esperava que ao ir dormir pudesse
afastar o temor que sentia ultimamente. Tinha tanto medo de que seu encontro com a
família de sua mãe saísse mal, todas suas esperanças morreriam ali, e ela tinha grandes
esperança de que estas pessoas pudessem encher o vazio que deixou sua mãe em seu
coração. Por outra parte se a reunião saísse bem, estaria tão feliz que até poderia atrasar
sua partida a França. Mas não tinha idéia de como resultaria essa reunião até que
acontecesse.
Certamente não tinha planejado esta reunião com Boyd, não depois de que mais ou
menos decidisse deixar que se derrubasse na culpabilidade de nunca conseguir desculpar-
se com ela. Mas havia duas caras da moeda. Ignorar sua desculpa funcionaria mais que
bem, supôs ela. Não ia deixar que o homem se livrasse do assunto. Se acreditava que o
perdoaria pelo que fez, estava equivocado.
Agora, em resposta a sua pergunta de que se ele era transparente, lhe disse:
- Bom, em realidade não. Minha criada chamou minha atenção ao me dizer que
estava mais interessado em mim do que deveria. "Tem pensamentos carnais" assim foi
como ela o disse.
Nunca poderia ter adivinhado por mim mesma o porquê de todos esses olhares
intensos, se...
- Já entendi ao que se refere. - Seu gemido soou quase agonizante.
O gemido lembrou a Katey esses dias a bordo de seu navio e como foi emocionante,
saber que ele a desejava. Tinha-lhe dado uma de suas íntimas lembranças, sua primeira
experiência de ser desejada por um homem excepcionalmente de aparência agradável. E
logo ele o arruinou. Agora pelo contrário, passara a ser uma de suas piores lembranças.
Sobre a qual valia a pena chorar.
- Por que simplesmente não dispara em mim e terminamos isto de uma vez? -
continuou ele.
- Prefiro pendurá-lo.
Ela não quis dizer isso, acabava de escapar. Quando dissera à Grace se riram, já que
se tinha convertido em uma piada entre elas. Mas nesse momento não tinha nada de
divertido.
- Claro. - Esteve de acordo ele. - Não é tão sujo. Uma mulher haveria...
- Não tome isto tão à ligeira! - Ela ficou em pé enquanto o dizia, sua expressão era
tão feroz como seu tom de voz. - Nem sequer sei porque estou falando com você.
Comportou-se como um idiota. Não fui suficientemente eloquente para influir um motivo.
Não há nada mais que precisemos dizer a respeito.
- Não chegamos nem ao fundo do assunto! - Protestou ele. - Por favor, toma assento.
- Não acredito. Se por acaso ainda não lhe ocorreu, nada do que diga fará uma
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diferença. Por que não economiza aos dois a vergonha?
- A explicação que tenho não é apropriada para ouvidos inocentes.
Lançou-lhe isso de repente e assim foi como o sentiu, ficou nervosa. Ia falar lhe de
seu desejo outra vez? Possivelmente deveria sentar-se depois de tudo. Seus joelhos
trêmulos insistiam nisso!
-Supus que o entenderia - seguiu ele. - Mas me arrastou fora da água com sua
confissão de que não tem marido. O que me deleita mais do que imagina, mas estava
seguro de que uma mulher casada entenderia o que é desejar tanto a alguém que se nubla
a mente e se nega o bom juízo.
- Essa é sua desculpa? O que me disse esse dia? Isso de que não podia pensar
corretamente se me tinha perto? Quando "está ao alcance de minha mão". Assim foi como
o disse? Mas espera, isto fica melhor. Porque não podia controlar seus pensamentos
carnais, era preferível, a seu parecer, me arrastar até Londres e me atirar aos lobos, o que
sabia que ocorreria. Perdi a meu condutor por ti. Minha criada está ainda aborrecida. E
para o cúmulo...
Ele a interrompeu com uma careta de dor
- Se lhe servir de consolo, logo que a deixei naquele quarto, pondo alguma distância
entre nós naquele dia, meu instinto me golpeou como um pontapé. Não poderia acreditar
que machucasse a uma menina.
- Pode, por que nunca o faria! Mas, não, isso não ajuda nem um pouquinho, Boyd
Anderson. Do que lhe servem os bons instintos se não faz bom uso deles?
- Então me diga, como podia confiar em meus instintos nesse momento, quando
meu primeiro instinto ao encontrá-la ali, e pensar que era culpada, foi correr com você?
Disse-lhe isso. Pensou que estava brincando? Meu primeiro pensamento foi salvá-la de ser
presa, que saísse do país furtivamente se fosse necessário.
Isso teria sido preferível, tomando tudo em consideração, mas ela não o disse em
voz alta e em vez disso perguntou:
- Então por que não o fez?
Frustrado ele passou uma mão pelo cabelo úmido.
- Porque sou um homem honesto e o crime me horroriza. Fui testemunha direta pelo
que sofriam os pais de Judith, e não se pode fazer passar às pessoas por essa classe de
inferno emocional e não pagar um preço por isso. E temia que ajudando-a a escapar não
resolveria nada, que voltaria a fazer o mesmo outra vez em algum outro país. Apesar de
tudo até me ocorreu ajudá-la a escapar. Soube então que não pensava racionalmente.
Ela se esticou:
- Assim demos todo um rodeio para voltar ao mesmo ponto? Sua desculpa é que não
pode pensar claramente quando estou perto de você? Você, senhor, simplesmente não
pensa!
- Demônios Katey, não tem a menor ideia do que é desejar a alguém tanto como
desejo a você!
Ela soltou o fôlego bruscamente.
- Tampouco quero sabê-lo.
Não podia acreditar que se arrumasse para dizer isso a ele, quando tomava cada
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gota de vontade que tinha para ignorar o que essas palavras lhe faziam. Ele ainda a
desejava! A fúria dela nem sequer o desconcertava.
- Bem, vai escutar isto - continuou ele com um olhar teimoso. - Esteve em minha
mente desde o dia em que a conheci. Depois que nossa viagem juntos terminou, ainda
então não podia tirar você de meus pensamentos. Deveria, mas não o pude fazer. Estava
inclusive em meus sonhos. Não esperava voltar a vê-la. E depois ali estava em carne e
osso, e em tudo o que podia pensar era em beijá-la, pôr as mãos em cima...
" Detenha-o!" Suas faces se tingiram de cor enquanto uma grande onda de calor lhe
percorreu o corpo. Mas tinha o olhar cravava em sua boca. Havia dito que quis beijá-la. E
não podia arrancar os olhos dele. Que diabos estava ocorrendo a ela?
- Lamento-o - continuou ele. - Realmente esperava que pudesse compreender ao
menos um pouco, mas me dou conta que não pode, já que nunca experimentou nada nem
remotamente semelhante, não é assim?
- Não espera que responda a isso, não? - perguntou ela indignada.
Ele começava a ver-se desanimado. Afastou a vista dele. Estava consternada de que
uns vestígios de remorsos a estivessem assaltando. Somente porque ele parecia miserável?
Supunha-se que tinha que parecer miserável!
- Com risco de a fazer ruborizar novamente, tenho que dizer uma última...
Ela ficou rapidamente em pé e rapidamente o interrompeu:
- Se mencionar seu desejo por minha outra vez, prometo-lhe, esta conversa termina
aqui mesmo.
Ele suspirou.
- Simplesmente ia dizer que por causa de meu... pois bem, pelo que sentia, temi
acreditar algo que me dissesse, certo ou falso, porque queria que fosse inocente. E estava
furioso porque estava seguro de que não era. Mas sabia infelizmente bem que não havia
forma de que confiasse em meu próprio julgamento. Tive que deixar a alguém mais para
que fizesse acusação do assunto.
Ela lembrou as desculpas que lhe tinha sugerido para que usasse aquele dia, mas
todas elas se baseavam na premissa de que ela era culpada e justamente com o objetivo de
não implicá-la no sequestro de Judith. Isso confirmava que ele acreditava culpada nesse
dia enquanto estava com ela. Aparentemente, ele não começou a ter nenhuma dúvida até
que se afastou dela.
Katey deteve esses pensamentos abruptamente. Estava agora procurando uma
desculpa para perdoá-lo?
Ela se moveu ao redor da mesa, mas como ele ficou em pé, ela deu a volta para
poder chegar à porta, assustada de que ele tentasse detê-la. Até lhe segurou em alto uma
mão para mantê-lo a distância, não é que lhe servisse de muito se ele estivesse resolvido a
retê-la ali. Ela poderia ser alta, mas Boyd Anderson era magro, de músculos fortes. Não
tinha que perguntar sobre quem ganharia essa pequena batalha.
- Escutei-o - disse-lhe ela quando se deteve no portal. - Agora me conceda a mesma
cortesia. Em poucas palavras culpas a seus "sentimentos" por seu desprezível
comportamento para comigo. Encontro essa razão inaceitável. Entendo que o lamente,
bem, realmente não o disse, mas...
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- É óbvio que o lamento!
- Também eu - continuou ela, franzindo o cenho só um pouco por havê-la
interrompido. - Quando é, lamentá-lo nem sempre ajuda . Esta é uma dessas vezes. Tinha
outras opções. Mas escolheu o caminho mais fácil.
- Que outras opções? - Seu tom soava frustrado outra vez.
- Podia ter enviado alguém atrás de Jeremy. Podia me ter mantido na estalagem,
nesse cômodo quarto até que retornassem com a verdade, em lugar de me tirar em meio
de uma tormenta!
- Quando estava assim tão próximo de me deitar com você?
Não havia nem sequer um mínimo espaço entre o polegar e o dedo que segurava em
alto, o que causou nela uma nova onda de calor que arrasou suas faces.
- Ao menos podia esperar que minha criada retornasse. Ela teria confirmado tudo...
-Exatamente Katey. Não podia esperar um momento mais. Mas deixei você ir. Isso
deveria valer algo.
Ela ficou sem fôlego.
- Com um demônio se o fez, escapei de você! E pude me haver desnucado fazendo
isso, sabe. Sair subindo janelas, escapar e atravessar tetos escorregadios pela chuva... me vê
como uma menina que se diverte em fazer essas coisas?
- Não queria chegar tão longe Katey. Podia tê-la alcançado facilmente, mas optei por
não fazê-lo. - Ele pareceu bastante orgulhoso de si mesmo. - Judy estava a salvo, então
deixei você ir.
- Oh, já vejo. Assim em lugar de me arrastar o resto do caminho até Londres onde
me teria posto atrás das grades, deixou-me escapar a fim de que pudesse topar com o
Maisie Cameron e pudesse ir parar no cárcere de qualquer forma, logo depois de que ela
delirasse como uma lunática e...
- Espero que esteja mentindo - interrompeu ele.
- Você gostaria disso, não?
- Katey! - disse ele como advertência.
Ela bufou.
- Já não está em posição de me ameaçar, e será melhor que deixe isso presente. Não
obterá nenhuma informação de mim que não queira lhe dar voluntariamente. Mas não é
nenhum segredo. Se não me tivesse arrastado à força de Northampton, teria estado a salvo
em minha carruagem, sentada com conforto e cômoda, e nunca me teria topado com
Maisie Cameron outra vez. As autoridades a teriam alcançado suficientemente rápido, já
que tinha mais medo de seu marido que de terminar atrás das grades. Não precisava ser
eu a que a levasse até o oficial de polícia.
- Então por que o fez?
- Porque ali estava ela frente a mim quando retornei ao Northampton, e porque era o
correto a fazer. Mas Maisie sabia que eu tinha frustrado seus planos, e enquanto que ela
estava encantada de ser encarcerada para livrar-se da fúria de seu marido, também lhe deu
muito gosto ajustar contas comigo me acusando de todo o complô tal como o fez você!
- Bom Deus - disse Boyd, ficando realmente doente do estômago. - Não tinha idéia,
Katey.
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Ela o olhou com o cenho franzido.
- Não é aqui onde deveria se sentir satisfeito? Não era isso o que tinha planejado
para mim depois de tudo? Que eu terminasse na prisão? Assim como também, minha
criada e meu condutor, o qual, a propósito, abandonou-me.
- O oficial de polícia tampouco acreditou em você?
- Oh, acreditou-me. Mas não podia deixar-me ir sem obter a autorização primeiro
dos Malory. Seu sobrenome é bem conhecido no norte. Não foi senão quase meio-dia do
dia seguinte, quando seu homem retornou com a informação obtida do Judith, que fomos
finalmente liberadas.
- Katey, não pode imaginar como estou de causar pena.
Ele o disse com grande sentimento. Ela não duvidou que o dizia de coração. Mas era
muito tarde para desculpas.
- Não, não posso - disse ela. - Nem me importa sabê-lo. Acha em realidade que umas
quantas palavras, não importa quão sinceras, vão fazer que me esqueça da cólera e a
humilhação que senti ao ser tratada como a um criminoso comum, tudo por que ajudei a
uma garotinha necessitada?
- Pelo amor de Deus, deve me permitir que te compense de alguma forma. - Seus
olhos adquiriram um brilho enquanto uma idéia lhe ocorria. - Disse-me que perdeu a seu
cocheiro? Levarei-te aonde queira ir o tempo que queira!
Ela voltou seus olhos para o céu.
- Já substituí a meu cocheiro. Chama a isso compensação? Dá-me algo que já tenho?
- Katey, me ajude um pouco aqui! - Disse ele com exasperação. - Deve haver algo
que queira ou necessita no qual possa ajudar você.
- Há algo que tem...
Ela se deteve abruptamente. Subir a seu navio, a idéia soou como uma explosão
como ele mencionou levá-la a qualquer parte, isso estava fora de consideração. Ele podia
estar arrependido, mas não o suficiente para lhe oferecer seu navio, até se ela estava
disposta a pagar por ele. Além disso, o inconveniente de planejar seu tour mundial eram
os horários de navegação, era simplesmente aborrecido.
Mas ele repentinamente a estava observando com um olhar sensual. O calor intenso
em seus olhos quase a paralisou. Que diabos lhe havia dito ela?
Ela respirou ar bruscamente.
- Oh, bom Deus, está tão fora do limite que me parece impossível! Não havia nada
inapropriado no que estava a ponto de dizer.
- Então o que eu tenho que...?
- Nada! - Respondeu ela bruscamente pelo giro que tomou a conversa. - Perdi o fio
da conversa. Não posso lembrar o que ia dizer. Assim não volte a mencioná-lo.
Seu suspiro foi sincero. Ela o sentiu até os dedos dos pés, e o calor ainda estava em
seus olhos escuros.
Ele saltou cruzando o espaço entre eles e a atraiu com força para ele. Seu beijo foi tão
quente como o foram seus olhos, tal e como ela tinha imaginado que seria. E ela não o
deteve. Oh, não, ela envolveu seus braços ao redor dele. Esses sentimentos de emoção e
desejo que tinha sentido naquele quarto do Northampton quando ele a havia tocado,
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estavam de volta, agitando seu interior, fazendo que ela...
- Não é hábil para mentir - observou Boyd.
Ela pestanejou afastando a breve fantasia. Ruborizando-se por ter pensamentos tão
comprometidos agora, com ele em pé justo em frente a ela começou a divagar.
- Sou assombrosamente hábil nisso. Sobressaio-me. Estaria bastante surpreso, não é
que isso importe o mínimo. E lhe dei mais tempo do que merece. Tenho que me levantar
cedo de manhã para concluir meus assuntos aqui, assim vou para a cama. Estenda meu
boa noite aos Malory, se puder.
- Katey...
Ela chiou quando ele tratou de alcançá-la, porque o beijo que acabava de lhe dar
estava muito fresco em sua memória. Ela escapou pelo vestíbulo e subiu diretamente as
escadas. Provavelmente lhe poria as mãos em cima em uma tentativa para detê-la, e lhe
deixaria confundindo-a mais do que podia resistir por uma noite. Bom Deus, estava
tagarelando como uma louca!
Foi seu olhar ao final de sua frase, o que a fez compreender exatamente o que ele
estava pensando e desejando fazer a ela. E em sua mente ela deixou! E como diabos ia
dormir agora, quando já se imaginou o final desse encontro, se esse homem merecesse ser
perdoado?
CAPÍTULO 22
Embora as pessoas em Gardner não socializavam muito além dos domingos e nos
dias de festa, a mãe de Katey lhe tinha ensinado os pontos mais delicados da boa etiqueta
como a tinham ensinado a ela anos atrás, e fazer visitas às pessoas quando chovia estava
na lista
como uma das coisas que não se deviam fazer. Jogar água de chuva nos vestíbulos das
pessoas e deixar um atalho de rastros molhados e enlameados com o passar no fino
atapetado era uma forma segura de nunca mais receber um convite. Não era porque as
casas em Gardener tivessem alguns finos tapetes, Adeline assim o havia dito.
Quando Katey foi até sua janela na manhã seguinte, não viu uma garoa, mas sim um
aguaceiro em toda regra. A chuva que tinha caído desde o dia anterior continuava sem
mostrar sinais de diminuir. Esperou uma hora, depois se estendeu a duas, finalmente
adiou a visita que faria aos do Millards para outro dia. Até quando ela e Grace voltassem
para Londres amanhã de noite para navegar ao dia seguinte, poderiam permitir o luxo de
perder outro dia em Haverston, e ainda estava em sua mente a possibilidade de cancelar
sua partida da Inglaterra se a reunião com os Millards saísse como ela esperava.
Ontem, quando chegara a Haverston, estava impressionada. A casa de Sir Anthony
tinha brilhado por sua elegância, mas a fazenda do marquês era uma verdadeira mansão!
Literalmente se estendia ao longo de acres de terra e era muito grande para brilhar: a luz se
perdia em enormes aposentos. Mas a residência do marquês tinha calidez… com sofás tão
ricamente atapetados que Katey tinha medo de sentar-se neles, chaminés duas vezes
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maiores que as de tamanho normal, pinturas pendidas das paredes empapeladas que eram
maiores que ela! Judith a tinha levado em um breve percurso que durou uma hora e
inclusive nem cobriu a metade da mansão.
Entretanto ainda não tinha visitado as estufas, para ver a carruagem que foi
convertida em um adorno de jardim. Judith estava guardando essa visita para depois do
jantar na noite anterior, quando os abajures estivessem acesos para que pudesse apreciá-lo
melhor, mas Katey tinha fugido para seu quarto depois do jantar por culpa de Boyd.
Decidiu vê-lo agora antes de tomar o café da manhã. Não ia esperar que parasse de
chover já que não dava sinais de fazê-lo logo. A maioria das estufas estavam no exterior.
Judith não tinha exagerado sobre o amor que Jason Malory tinha pelas coisas que cresciam.
Todas elas eram grandes e a maioria construídas de vidro, e Katey só teve que mencionar a
"carruagem" a um criado para que a guiasse ao lugar indicado.
Ele se ofereceu para lhe trazer um guarda-chuva. Mas ela não queria esperar assim
declinou, já que o caminho não estava tão longe da casa. Mas antes que alcançasse a
entrada da estufa estava rindo de como se empapou rápido. Entretanto, não tinha frio.
Dentro da estufa estava quente e úmido. O atalho deixava com o passar da rica folhagem
alguns vasos com plantas, alguns gradeados, outros até pendiam das vigas do teto, mas
muitos estavam simplesmente plantados no rico solo debaixo dos pés.
Ela diminuiu o passo quando viu a carruagem em frente a ela, estava com os olhos
muito abertos e sentindo-se maravilhada outra vez. Jason até tinha pendurado dois lustres
em cima da carruagem, em uma estufa! Chegou justo para encontrar um dos criados
acendendo as luzes.
Isso sim que era extravagante e o disse ao homem.
- Durante o dia?
O velho riu entredentes.
- Só em dias escuros como este, senhorita.
Katey se sentou em um dos bancos que foram colocados perto da carruagem. O
criado logo terminou sua tarefa e a deixou sozinha ali. A carruagem era um espetáculo
incrível. As rodas foram retiradas, fazendo-o parecer como se estivesse plantado na terra!
As flores e os arbustos o rodeavam. Mas certamente não necessitava nenhuma luz extra.
Inteiramente pintado em branco e ouro, provavelmente cegava quando o sol entrava
através das janelas. Mas lustres lhe davam um brilho único, fazendo-o parecer quase
etéreo, e evocando contos de fadas.
Sentiu que os nervos de seu estômago se assentavam. Até sua agitação de no ontem
à noite anterior se desvaneceu. O cenário era tão pacífico, que sentiu algo dessa paz
percorrendo-a.
Ela nem sequer ficou rígida ou saltou para ir-se quando Boyd se sentou a seu lado. A
conversa de ontem à noite tinha despertado algumas emoções poderosas nela, mas não
estava irritada o mínimo por sua presença enquanto o olhava, pensou, " por que tem que
ter aparência tão agradável?" Estava vestido como usualmente se vestia em seu navio, com
uma camisa de gola aberta e uma jaqueta desabotoada. Não estava enfeitado na moda com
uma gravata mas ainda assim, suas roupas ficavam esplendidamente, muito
esplendidamente, envolvendo seu magro e musculoso corpo.
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- Assim a chuva não lhe incomoda depois de tudo? - perguntou.
Ela limpou a água da chuva que tinha no rosto usando como lenço as mangas de sua
blusa, mas as gotas de chuva ainda se aferravam a sua trança, molhando e salpicando em
qualquer parte de seu vestido verde lima. E viu que ele estava igualmente molhado como
ela, e que ainda não secara o rosto. Ela teve a urgência de lhe secar as gotas de chuva de
suas faces com a língua.
Ruborizou-se imediatamente pela direção que estavam tomando seus pensamentos
mas ele provavelmente pensou que era pela pergunta que fez. Ela se esforçou em manter
seu tom coloquial, como ele.
- Não quando é minha decisão sair nela.
Ele sorriu abertamente.
- Entendo.
- Não é tão estúpido depois de tudo? - disse-lhe ela lhe devolvendo o sorriso.
Bom Deus, estava brincando com ele? Certamente se sentia melhor que lhe gritar,
mas aonde se foi sua irritação? Não o tinha perdoado nem um pouquinho. Era talvez pelo
lugar? Que a fazia sentir como se estivesse em um conto de fadas ou em uma de suas
fantasias onde Boyd Anderson frequentemente aparecia.
- Pensei que estaria visitando seus parentes esta manhã. Não esperava encontrá-la
ainda aqui.
- Como soube que visitaria meus parentes?
- Perguntei a Roslynn. Prefiro não deixar as coisas ao azar quando se trata de você.
Ela se ruborizou outra vez, e de repente sentiu calor em todo o corpo. Para começar,
lembrava porquê lhe havia dito que era casada. Ele a inquietava em um nível que ela
desconhecia. Tinha lhe revelado seus sentimentos, melhor dizendo, seus desejos, quando
ele pensava que ela era um criminoso. E não tentava escondê-los agora que a conhecia
melhor, porque sabia que ela não estava realmente casada. Poderia ela resistir a seus flertes
desta vez? Ou ainda se sentia muito atraída por ele para desfrutar de só um pouco de
romance e logo seguir adiante?
- O gato comeu sua língua, Katey?
Ela pestanejou afastando aquelas idéias.
- Não sairei em visitas com esta chuva. Posso esperar até amanhã.
Ele sorriu e lhe lembrou.
- Acaba de admitir que a chuva não a incomoda. Atrevo-me a esperar que não estava
disposta a deixar Haverston sem voltar para ver-me outra vez?
Ela o olhou.
- Nem por casualidade. Nunca conheci a família de minha mãe, assim quero que esta
primeira visita seja perfeita.
- Ah, entendo. Fez-lhes saber que se atrasaria?
- Inclusive não sabem que estou na Inglaterra.
Ele ergueu uma sobrancelha.
- Vai informá-los que se encontra na área antes de aparecer à sua porta?
- Para que empacotem suas coisas e partam?
Era evidente que ela não havia dito isso em brincadeira, o que fez a Boyd franzir o
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cenho.
- Por que diz isso?
Nunca tinha mencionado os Millards a ele. Certamente não tinham surgido em
qualquer de suas conversas a bordo de seu navio.
E não queria lhe explicar a situação agora, assim lhe disse:
- É a família de minha mãe, mas a repudiaram quando ela se casou com meu pai e se
mudou para a América. Talvez não queiram me conhecer. De fato, quase não vim para
conhecê-los.
Ele começou a tratar de alcançar sua mão. Teria sido uma coisa natural que ele o
fizesse, se tivessem seguido sendo amigos e se entre eles não estivesse o engano que ele
tinha cometido.
Boyd pôs sua mão debaixo de seu joelho, mas ela soube o que ele quase estava por
fazer, e que essas cálidas e cintilantes sensações a estavam invadindo novamente. Que
diabos?
- Considerou que talvez eles não estejam agora em sua residência? - inquiriu ele.
- Detivemo-nos em Havers de caminho aqui e fizemos averiguações em várias lojas.
Os Millards estão aqui.
- Você gostaria de ter uma escolta? Estaria encantado de acompanhá-la. Apoio moral
se por acaso necessita disso.
Estava simplesmente tratando de emendar-se ou de verdade lhe estava oferecendo
seu apoio? Era difícil de determinar o que estava em sua mente além da luxúria, que era
fácil de reconhecer nele. Mas em seus olhos não havia nada disso, ele estava sendo cordial
e agradável.
Katey gemeu em seu interior, em que estava pensando? Não importava quando era
seu comportamento agora, ela o tinha visto no pior de sua arrogância e teima, surdo para
escutar razões, e ela teve que sofrer isso e um pouco mais desde que foi culpada por ele.
Talvez ele não a tinha posto no cárcere, mas não teria terminado ali se não a tivesse tirado
de Northampton aquele dia à força.
Ficou em pé abruptamente.
- Obrigado, mas isto é algo que tenho que fazer a sós. E acredito que já estou pronta
para o café da manhã.
Ele disse seu nome, mas ela se apressou a sair dali sem deter-se. E tampouco se
deteve no salão do café da manhã se tivesse estado vazio, porque escutou que Boyd vinha
perseguindo-a.
Mas não estava vazio.
Era um salão menor, mais informal que o dos jantares e tinha uma parede com
janelas que apanhavam o sol da manhã quando não estava nublado como o dia de hoje.
Dispôs-se uma mesa de bufê. Judith e sua mãe já estavam sentadas à mesa e Katey tomou
assento entre elas. Mantê-la-ia afastada de trocar mais palavras em privado com Boyd no
momento, e estava determinada a tratar que assim continuasse pelo resto de sua visita ali.
CAPÍTULO 23
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Katey perdeu o almoço, mas se deu conta, que era bastante idiota tratar de evitar
Boyd. Já que ele estava espreitando-a furtivamente, pelo menos isso é o que parecia, não
podia se virar sem encontrá-lo perto. De algum modo ele conseguiu que aceitasse jogar
uma partida de xadrez. Boyd encontrou sua veia competitiva? Ela foi incapaz de esmagá-
lo com palavras assim o ia demolir com um jogo de mesa?
Resultou ser uma experiência agradável que durou quase toda a tarde. Judith estava
em pé a seu lado e sussurrava movimentos que ela poderia fazer. Boyd acusou Katey de
fazer armadilhas por esse motivo!
- Quem está jogando contra mim? - Perguntou ele em um momento dado. - Você ou
Judy?
- Pondo-se nervoso? - sorriu Katey afetadamente quando capturou a seu segundo
cavaleiro, deixando-o sem movimento para a vingança a menos que ele quisesse perder
sua rainha, também. - Judith simplesmente está me confirmando que minha estratégia está
funcionando. Ela e eu parecemos pensar igual.
Olhando da Katey a Judith, ele exclamou:
- Meu Deus, vocês duas inclusive sorriem igual. O que há sobre me ajudar a mim
pelo contrário, Judy? Sou eu quem está perdendo aqui.
A menina riu bobamente, mas ficou justamente onde estava. E Boyd demonstrou
que não era absolutamente perdedor quando capturou à rainha da Katey quatro
movimentos mais tarde. E isso acabou essa partida. Quando a rainha se vai, toda a
esperança se vai com ela.
Boyd jogava tão agressivamente! Katey não estava acostumada a isso. Todas suas
anteriores partidas de xadrez foram com sua mãe, e jogavam devagar como uma agradável
forma de passar o tempo. Mas ela não deveria ter se surpreendido pelo estilo de jogar de
Boyd.
Ela se deu conta de sua natureza agressiva no primeiro dia que o encontrou quando
foi tão óbvio que ele ia persegui-la. O homem a tinha arrasado então, tanto que teve que
pôr fim a isso inventando um marido. Tinha achado que poderia responder a flertes desse
tipo com tempo, mas ao que parecia não, pelo menos não com Boyd.
Mas no momento sua agressividade se centrava no jogo, e Katey estava desfrutando
muito para dá-lo por finalizado. Ele ganhou o primeiro jogo e eles começaram outro
imediatamente. E ele continuou com sua maneira de distrai-la e impedi-la de concentrar-
se, tudo deliberadamente. Havia muita risada, e compreendeu depois que não deveria ser
dessa forma. O xadrez era um jogo sério, mas ele o tinha convertido no mais divertido que
Katey tivesse jogado alguma vez.
Ela não o demoliu exatamente só ganhou um jogo de três, mas suas derrotas foram
extremamente difíceis, assim os jogos foram suficientes para satisfazê-la.
- Quem a ensinou a jogar? - perguntou ele finalmente quando guardaram as peças
de xadrez.
O jantar foi anunciado, e ele ofereceu seu braço para escoltá-la à sala de jantar . Ela
tomou seu braço sem pensar, muito relaxada em sua companhia para lembrar que não
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deveria estar tocando-o.
- Minha mãe - disse. - Nós jogávamos uma ou duas vezes à tarde cada semana.
- Perdia tão facilmente com ela?
Ela lançou uma risada.
- Você chama fácil a isso? Quase ganhei os três jogos!
- Quase, nunca conta... exceto assim.
Ele demonstrou o que era um "assim" quando a empurrou ao flanco da porta, fora
da vista de qualquer um no vestíbulo, e a apanhou ali com um braço a cada lado dela, suas
costas contra a parede. Judith tinha se deslocado em frente. Eles estavam agora sós no
aposento. E embora ele não estivesse tocando-a realmente, ela se deu conta que ele o faria
a qualquer momento.
- Não - disse ela. "Ou não é assim?" Ela fixou o olhar em sua boca, esperando
ofegante seu beijo quando ele muito devagar se aproximou mais a ela.
- Katey?
Era Judith que chamava do vestíbulo para ver o que estava demorando-a. Boyd
suspirou e se afastou dela. Então ele voltou a pôr sua mão em seu braço e continuou
escoltando-a à sala de jantar como se quase não a tivesse beijado.
Katey receava. Acreditava ele que o tinha perdoado? Ele parecia estar atuando como
se certamente fosse uma conclusão previsível. Nem uma vez hoje lhe tinha mencionado
seu pesar, mas tampouco ela tinha mencionado alguma vez o incidente, pudesse que ele
apoiasse suas presunções nisso. Ele fazia presunções muito facilmente, lembrou-se ela,
inclusive algumas ridículas.
- Boyd - começou ela.
Mas já tinham chegado à sala de jantar, e o que haveria dito, não o podia fazer agora
com os Mallory já reunidos. Mas ele disse algo mais:
- Sente-se perto de mim - murmurou.
Katey retirou sua mão de seu braço e simplesmente disse:
- Não - enquanto se dirigia ao assento junto a Judith, em lugar dos dois assentos
vazios no outro lado da mesa. Ela viu que Boyd franzia o sobrecenho ligeiramente
enquanto tomava um desses assentos em frente dela. Isso era uma pena. Ele precisava
lembrar o que lhe havia dito ontem à noite e nesta mesma sala, e agora que eles
retornavam a ela, possivelmente o teria feito. Simplesmente porque fora algo sociável com
ele hoje por causa dos Mallory não significava que algo tinha mudado.
Ela jurou ignorá-lo o resto da noite. Isso lhe daria um ponto. E teria funcionado bem
se seus olhos não se dirigissem tão frequentemente a ele. Assim Katey começou uma
conversa com Jason Malory, para manter sua atenção fora de Boyd.
Ela não teve a coragem ontem à noite para perguntar a Jason por seus vizinhos. O
homem grande a tinha intimidado muito com seus olhares sérios e reticentes ontem. Ele
era loiro e de olhos verdes como seus irmãos James e Edward. Só Anthony tinha a
aparência cigana. Judith tinha tentado lhe assegurar que Jason era só um tirano no que se
referia a seus irmãos, que ele era como um urso grande, carinhoso com o resto da família.
Se isso era verdade ou não, ele estava muito mais amistoso hoje, tinha-lhe falado várias
vezes, e inclusive estava em pé com seu braço ao redor de Judith e olhou o jogo de xadrez
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durante algum tempo.
Assim lhe perguntou o que ele poderia lhe dizer sobre a família Millard.
Desgraçadamente, não era muito.
- Eles nunca foram muito sociáveis aqui no condado - disse-lhe, então acrescentou
com uma careta.
- Não é que tenhamos tido um torvelinho social por aqui. Mas tampouco faziam
parte do círculo de Londres. Eu tampouco, mas todos meus irmãos mais jovens o eram, e
não lembro que mencionassem que os Millards fossem parte dessa multidão. Eu penso que
os Millards preferiam Gloucester, pelo menos isso foi o que eu ouvi, provém sua avó
Sophie, antes de que casasse com o conde, assim eles fazem a maior parte de sua vida
social nessa cidade.
- Você conheceu minha mãe, Adeline?
- Receio que não lembro ter conhecido a Lady Adeline. Havia um rumor de que ela
se casara com um barão no Continente. Não é assim?
- Não.
- Vagamente lembro ter visto sua irmã mais velha, Letitia, em Havers de vez em
quando, quando eu era muito mais jovem. Realmente, agora que penso nisso, via-a ali
muito frequentemente. Parecia que cada vez que ia ao povoado, ela estava lá, fazendo
algum tipo de compras ou outra coisa. Era uma moça amistosa. Sempre se detinha para ter
umas palavras comigo.
- Detinha-se?
- Sim, acontece que se me encontrar com ela nestes dias, ela me desprezará
completamente. Seja pela razão que for, nunca se casou. Tornou-se bastante desagradável,
ou isso parece ser o acordo geral. Estranhamente, tenho poucas lembranças da moça
amistosa, mas da amargurada me lembro claramente. Suponho que uma pessoa
desagradável tende a permanecer na mente de alguém.
Essa pouca informação era muito mais do que alguma vez a mãe da Katey lhe deu,
inclusive os nomes de seus parentes. "Meu pai ou o conde ou minha mãe" eram quando
Adeline sempre se referiu a eles, e nunca mencionou a uma irmã! E Katey os conheceria
amanhã. No melhor dos casos.
CAPÍTULO 24
Katey não tinha planejado levar Grace com ela à fazenda Millard. Sua criada tinha
tal forma de ter atenção cravando a coragem da Katey com seus comentários sarcásticos, o
que aguilhoava Katey a demonstrar a sua criada que estava enganada, ou acrescentando
mais nervosismo ao que já estava acossando-a. Mas a aparição de Boyd em Haverston
fazia mudar de parecer com a Katey em deixar ao Grace. Retornar à fazenda do marquês
depois de sua visita aos Millards só para recolher a sua criada era o pior dos dois maus
com Boyd ainda ali.
Mas Grace a surpreendeu. Ela mal disse uma só palavra na breve viagem em
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carruagem ao lar dos Millard. Haverston estava no país em um lado no pequeno povoado
do Havers, e os Millards viviam do outro lado nos subúrbios. A viagem em carruagem
entre as duas fazendas durava menos de vinte minutos. Pareceu estranho a Katey que com
tal proximidade as duas famílias não se conheciam melhor, mas como Jason havia dito,
essa parte do Gloucestershire não era conhecida por suas reuniões sociais.
- Esperarei aqui na carruagem - disse Grace quando se detiveram no caminho diante
da majestosa casa nobre. - Só não se esqueça que estou aqui fora se planeja ficar muito
tempo.
A reticência do Grace foi quase evidente agora. Virtualmente tinha empurrado esta
visita pela garganta da Katey, mas agora estava obviamente tão preocupada com o
resultado quando a mesma Katey. Se não resultasse bem, Grace poderia culpar-se a si
mesma.
Mas isso estava só na mente da Katey quando se deteve ante a porta principal da
grande casa nobre. A fazenda não era tão grande quando Haverston, mas era imponente, e
na vanguarda de sua mente estava um medo que nunca tinha conhecido. Não, não era
assim. Havia sentido o mesmo medo na primeira vez que veio ao Havers. Nesse então
sucumbiu a ele e nem sequer tinha chegado tão longe, diretamente à porta de seus
familiares. Estava a ponto de dar-se por vencida outra vez, dar meia volta e sair correndo
em qualquer outra direção que esta...
- Posso ajudá-la em algo, senhorita?
A porta se abrira. Um homem mais velho estava em pé ali em uma espécie de
meticuloso traje negro que usualmente tinham posto os criados. O mordomo dos Millards?
Não, o mordomo de sua família. Maldição, era sua família que vivia aqui. Poderiam ter
repudiado a sua mãe, mas isso não negava a ela ser parte deles. E esse repúdio tinha
ocorrido faz muito tempo. Adeline poderia nunca havê-los perdoado por isso, mas talvez
sua família agora se arrependesse de suas ações. E Katey nunca saberia de uma maneira ou
outra se não lhes dissesse quem era ela.
- Sou Katey Tyler.
O olhar do mordomo estava completamente em branco. Não reconheceu para nada
o sobrenome Tyler. Bem, possivelmente ele era novo na casa familiar, ou o mais
provavelmente, talvez a família não discutisse assuntos pessoais com seus criados. Ou
talvez um sobrenome como Tyler simplesmente não poderia ser lembrado vinte e três anos
depois.
- Eu gostaria de falar com a senhora da casa, se estiver disponível.
- Entre, senhorita. - Ele estendeu um braço. - Este vento é um pouco frio.
Não tinha notado o vento até que ele o mencionou. A chuva tinha parado em algum
momento na noite anterior, mas um sólido banco de nuvens evitava que o sol brilhasse
essa manhã.
O mordomo a conduziu a um aposento grande mobiliado como uma sala. Que a
tivessem deixado entrar significava que sua avó devia estar na casa. E seu delicado
estômago piorou. Um incômodo sentimento que se mesclava com uma grande medida de
temor que se apertava a sua garganta com emoção. Esta era a casa em que sua mãe tinha
crescido! Teria se sentado ela nesse sofá de brocado marrom e rosa? Haveria ela
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esquentado suas mãos nessa lareira? Quem era o homem no retrato que estava em cima do
suporte de madeira de cerejeira? De cabelo castanho e aspecto distinto, ele não era alto,
mas era realmente bonito. O pai do Adeline? Seu avô? Um antigo ancestral?
Meu Deus, quanta história familiar devia haver nessa casa! E as histórias. Contariam
a ela? Compartilhariam suas memórias?
- Minha mãe está dormindo. Ela não esteve sentindo-se bem. Posso ajudá-la?
Katey deu meia volta. A mulher era de idade amadurecida com cabelos de um
castanho descolorido e olhos esmeraldas. Os olhos da Katey. Os olhos de sua mãe. Já podia
sentir uma emoção que lhe umedecia os olhos. Esta tinha que ser sua tia. Tinha só uma
vaga semelhança facial com Adeline, mas esses olhos...
- Letitia?
A mulher franziu o cenho. Isto mudou sua aparência dramaticamente, somando
uma severidade que era na verdade intimidante. Pelo menos Katey achou assim. Alguém
mais não poderia ficar impressionado de todo, mas esta era a tia de Katey, um de seus
poucos parentes, e a mulher ainda não sabia isso.
- É lady Letitia - corrigiu-lhe a mulher com uma pesada dose de condescendência,
como se ela estivesse certa que falava com alguém que estava muito abaixo de sua classe.
- Conheço-a?
- Não, não ainda. Sou Katey Tyler.
- E?
Não havia braços abertos. Nenhum grito de felicidade. Nem lágrimas festivas de
boas-vindas. Como o mordomo, sua tia não reconheceu o sobrenome Tyler.
Katey estava certa que os Millards ao menos lembrariam o nome do homem a quem
se recusaram permitir que entrasse na família. Certamente as duas irmãs deveriam ter
discutido sobre seu pai em algum momento. Não havia muita diferença de idade entre
elas, possivelmente cinco ou seis anos. Mas Katey fazia hipóteses baseadas em pouca
informação.
E a melhor maneira de chegar ao fundo de tudo, antes que sua coragem a
abandonasse completamente, era dizer:
- Sou sua sobrinha. Adeline era minha mãe.
A expressão da Letitia não mudou. Nenhum pingo. Mas já estava distorcida
azedamente, aparentemente porque tinha pensado que estava lutando com alguém de
classe baixa.
- Fora daqui.
Katey se perguntou se tinha escutado bem. Sem dúvida alguma estava enganada.
Mas se não fosse assim, possivelmente a idéia da jovem Judith poderia ser útil depois de
tudo. Algo valia a pena tentar nesse momento, se não houvesse nada de mau com suas
orelhas.
- Vim que uma longa viagem para conhecê-la - disse Katey, era difícil ignorar o
desespero em seu tom de voz. - Os Mallory de Haverston foram suficientemente amáveis e
me...
- Como se atreve a mencionar a esses fofoqueiros! - Interrompeu-a Letitia, elevando
a voz com irritação. - Como se atreve a assumir que aqui encontraria boas-vindas, pequena
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bastarda! Saia daqui!
Katey mordeu os lábios para evitar que lhe tremessem. Entretanto não podia deter
as lágrimas, ou a dor que cresceu até sufocá-la. Saiu correndo dessa sala e dessa casa.
CAPÍTULO 25
- Como que zarpou! - gritou Katey ao carregador de mole que acabava de lhe dizer
que tinha perdido seu navio.
- Soltou as amarras com a maré matutina. - O homem disse lhe dando só uma olhada
para onde estava ela enquanto carregava caixas dentro de uma carruagem.
Ele era o único que estava em pé perto do ancoradouro a quem podia perguntar, e
ao encontrar o ancoradouro vazio, não estava exatamente em um estado mental de calma.
- Por que não fui informada disso! por que não estava isso impresso
nestas passagens?
- Olhou as passagens?
Ela fechou de repente sua boca e se foi. Não, ela não tinha examinado de perto as
passagens. Não estava acostumada a navegar. Só navegou uma vez antes! E não podia
acreditar que tivesse perdido seu navio!
- Na verdade se foi? - perguntou Grace com vacilação quando Katey subiu na
carruagem. A vacilação provinha de ouvir a porta fechar-se de um golpe deixando fora a
gritaria.
- Sim.
- Se faz só uma hora que o sol acaba de sair. Quão cedo precisávamos estar aqui?
- Muito cedo. Agora me dou conta do por que o homem das passagens mencionou
que podíamos abordar a noite anterior para navegar. Ele não devia fazer soar como uma
mera opção. Ele devia nos dizer que era a única opção.
Grace se recostou com um suspiro.
- Então vamos retornar a bilheteria?
- E a outro longo atraso? Acredito que não. Vou encontrar Boyd Anderson em lugar
disso.
- Para que?
- Para render seu navio.
Grace começou a rir. Katey não o fez. Quando a criada notou isso, lhe disse:
- Não estava brincando?
- Não, não estava. Ele virtualmente me rogou em Haverston que lhe desse uma
forma para emendar-se. E não falo de exigir o uso de seu navio sem recompensa. Disse
rendê-lo, não é assim?
- Sim, mas não pode render um navio e sua tripulação inteira ao primeiro aviso.
- Posso se lhe pertence.
- Aposto que ele não aceitará a algo parecido - predisse Grace.
Katey lembrou a expressão de Boyd quando tinha suplicado a ela que o deixasse
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fazer algo, algo, para emendar as coisas com ela.
- Aceito a aposta.
Tinham retornado a Londres suficientemente cedo ontem para recolher as roupas
que empacotaram e enviado a um hotel novo. O seu não tinha nenhum quarto disponível.
Tinha saído tão cedo pela manhã do Gloucestershire que não pensou a respeito de reservar
seu quarto por outra noite a sua volta. Mas ao menos o dependente do hotel tinha mantido
seus pacotes por ela e a tinha guiado a outro hotel.
Supôs que tinha que começar a prestar mais atenção a estes detalhes se continuasse
com sua viagem ao redor do mundo. Horários de navio, carruagens, reservar quartos de
hotel, coisas que dava por sentado, bom, coisas das que ela não estava habituada ainda a
arrumar. Tinha-feito isso bem até que deixaram a Escócia, mas então não toparam com
qualquer obstáculo nessa agradável viagem, tudo isto a fez acreditar que tudo continuaria
normalmente em lugar de ir parar ladeira abaixo.
Katey suspirou. Sabia que estava deixando que o que aconteceu em Gloucestershire
afetasse seu ponto de vista em todo o resto. Estava aborrecida. Bem, mais que isso mas ia
ter que deixá-lo atrás. Essa horrível impaciência, a irritação que vinha com isso, a dor,
essas coisas eram tão desconhecidas para ela, e que não lhe agradavam como a faziam
sentir-se.
Não tinha contado à Grace palavra por palavra a breve entrevista com sua tia. Deus,
sua mãe teve razão. Realmente os Millard eram uns esnobes da pior classe, e isso foi tudo o
que havia dito a sua criada. Estava muito ferida para querer discutir isso.
Nunca antes em sua vida a tinham chamado por um nome tão horrível. Sabia que
poderia ser usado em um ofensivo e sujo modo, que implicava ilegitimidade, o que não era
seu caso. Bem, sua tia a tinha chamado bastarda só para demonstrar que tão pouca
importância tinha ela em seus pensamentos. Ainda assim doía. Doía-lhe ainda mais pelas
esperanças que teve, a crença que ainda tinha uma família tinha fracassado
catastroficamente.
Queria ir para longe, longe da Inglaterra e de todas essas terríveis emoções que
nunca tinha experimentado antes que ela viesse a este país. Esperar por outro navio?
Quando ela tinha outra opção?
Claro, ali estava ela outra vez dando as coisas por sentado. Grace poderia estar certa.
Boyd poderia rir dessa sugestão, de que ela queria render seu navio. A idéia realmente era
ridícula se se importasse pensar nisso. Mas se ele estivesse de acordo, ela poderia navegar
na manhã, ou mais tarde hoje. Se ele estivesse de acordo, não o veria por última vez
tampouco, quando tinha pensado essa manhã quando se dirigia aos moles. Esse era um
pensamento intimidante, entretanto, um excitante, também. Mas insistiria que ele não
navegasse com seu navio. Seria uma coisa inteligente para fazer. Não era que o
capitaneasse ele. Esse seria um acerto melhor, o "Oceanus" ao seu dispor e seu dono
abandonado bem longe na Inglaterra.
E só para assegurar-se de que Grace não pudesse acusá-la depois de querer ver Boyd
outra vez, passaria primeiro de visita pela bilheteria. Se pudesse conseguir uma passagem
em outro navio ao mais tardar para o dia seguinte mais ou menos, então se esqueceria de
envolver a Boyd Anderson.
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CAPÍTULO 26
- Isso está fora de consideração! - disse Boyd a Katey.
Estavam sentados na sala de sua irmã. James estava ali com um braço apoiado sobre
o suporte da chaminé e felizmente mantendo a boca fechada. Assim tensos estavam os
nervos de Boyd. Não acreditava que pudesse dirigir um dos comentários sarcásticos do
James, nesse momento.
Georgina também estava presente, estava sentada junto à Katey no sofá, e servia o
chá para os quatro. Ela só ergueu uma sobrancelha para ele por seu tom tão brusco.
Também ela, estava em sua maior parte tratando de manter-se fora da conversa depois de
que esta tomou tão surpreendente volta.
Boyd inclusive ainda não podia acreditar que Katey estivesse ali, muito menos o que
lhe pedira. Ele deu um salto quando despertaram em seu quarto com a nova de que tinha
uma visita e de quem se tratava.
Suas roupas estavam torcidas porque as havia posto muito rapidamente. Georgina
deu um passo adiante e, sem fazer um comentário, abotoou-lhe a camisa na ordem correta.
Ele apenas notou, incapaz para afastar a vista de Katey.
Não pela primeira vez, acreditou que nunca voltaria a vê-la outra vez. A última vez
se esfumou de Haverston ainda antes que ele despertasse pela manhã no dia de ontem, e
Roslynn lhe informou em que navio da Katey navegaria hoje. Nem pôde localizá-la depois
de que retornasse a Londres. Passou o resto do dia e a maior parte da noite freneticamente
tratando de encontrar seu novo hotel, mas sem sorte. Essa era a razão pela que ainda
permaneceu na cama tão tarde a essa hora da manhã.
Mas ela o encontrou. E foi diretamente ao ponto. Nenhum saudação cordial de sua
parte, nem sequer ainda depois de que passassem um dia tão agradável em Haverston, o
qual lhe deu um montão de esperanças de que pudessem deixar atrás aquele
desafortunado engano de Northampton. Claro que ela outra vez esticou essa segunda
tarde. Ela poderia não ficar insultante outra vez, mas a rigidez era um claro aviso de que
ele ainda não foi perdoado.
- Perguntou se havia algo no que poderia me ajudar - disse-lhe secamente, seus
olhos esmeralda se fixaram nele. - Acontece, que me encontro necessitando de um navio.
Estaria disposto a me render o teu?
- Rendê-lo? - começou ele a rir, mas se interrompeu de repente, soava como se se
estivesse sufocando. Terminou perguntando: - Por que?
- Pois bem, tenho uma longa viagem em minha agenda. Estou percorrendo o
mundo, já sabe. E preferiria muito mais só ter que ir onde eu gostaria sem ter que esperar
um navio programado para fazê-lo, e perdi meu navio esta manhã.
Um pouco de rubor apareceu em suas faces por ter que admitir que seu navio tinha
navegado sem ela. Estava acostumado a isso também, e a quando um pouco de cor
aumentava seu...
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- Não há outros navios que saiam hoje?
Ele cravou os olhos em seu cunhado incredulamente e pensou em cortar a língua ao
James por perguntar isso. Aqui havia uma excelente oportunidade, e James acabava de
arriscar-se a perdê-la por ele! Mas isso era injusto. James meramente seguia sua própria
pista. Em lugar de dizer, é óbvio, renda "o Oceanus enquanto o deseje", tinha perguntado a
ela por que queria fazê-lo.
" Despache-se!" Tinham lhe dado uma incrível oportunidade. "Não o estrague tudo
com perguntas lógicas".
- Aparentemente houve recentemente uma tormenta na região que danificou um
grande número de navios - disse Katey ao James.
- Está correta - acrescentou Boyd. - Um de nossos navios do Skylark" também
retornou avariado até o porto por essa tormenta. A maior parte do carregamento se
perdeu. Ainda está sendo reparado. Com tantos navios danificados parados no porto, está
tomando mais tempo do usual retorná-los ao mar.
Katey continuou.
- Já experimentei uma demora a semana passada por essa tormenta, ou teria
navegado antes de hoje. Mas agora... - Apertou os dentes antes de dizer. - Serão oito dias!
Oito dias mais me disseram, a menos que haja um cancelamento enquanto isso. Mas
também fui informada como seria improvável isso. Os estrangeiros que chegaram de
visita pela temporada estão ansiosos por retornar a suas casas antes de que chegue o clima
mais frio.
Não havia a menor dúvida de que estava frustrada pelo atraso. Era óbvio em sua
expressão e em seu tom. Assim é que ela tinha pensado nele e em sua oferta de ajudá-la em
qualquer forma que pudesse? Compreensível. Boyd decidiu entrar de cabeça. Este era um
benefício pelo qual estava agradecido, o qual nunca podia ter imaginado.
- Pode render o "Oceanus" - disse ele.
- Assim como assim?
- Sim.
Ela estava surpreendida. Georgina estava surpreendida. Nunca se poderia deduzir
pelo olhar do James o que sentia, mas ao menos estava escutando sem fazer comentários.
Realmente tinha esperado Katey uma discussão? Então ela cortou as velas cheias de Boyd.
- Não espero que isto seja um inconveniente para você. - Demarcou ela. - E quando
não capitaneia seu navio, não há razão para que venha também.
Boyd não ia ceder nisso. Quando lhe disse que isso estava fora de consideração,
havia-o dito a sério. E agora se cravavam os olhos um ao outro em uma breve batalha de
vontades que era mais longa e duradoura do que parecia, com a qual os outros dois
ocupantes da sala não estavam muito cômodos. Boyd podia vê-lo nos olhos da Katey,
queria insistir, mas ele sabia o que refletia sua própria expressão inflexível, assim ela
controlou sua língua.
James na verdade lhe deu uma mão, provavelmente sem tentá-lo, quando comentou:
- É uma situação incomum. Duvido se poderia enviar meu navio por uma viagem
prolongada já capitaneando eu ou não. Mas o ianque aqui sempre navega com seu navio.
Além disso, imaginou estaria terrivelmente angustiado permanecendo debaixo do teto se
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seu navio zarpasse sem ele, o que não fará por nada.
Fez isso soar como se ele estivesse brincando, mas Georgina e Boyd sabiam que não.
James mal tolerava a seus cunhados quando estes vinham de visita. Nada mais que uma
breve estadia e deviam preparar-se a escutar de tudo.
- De qualquer forma, não há nada o que discutir - declarou Boyd, resolvendo o
assunto. - Irei aonde vá meu navio.
Katey suspirou.
- Muito bem. Se deve fazê-lo, suponho que deve. No que respeita aos detalhes, só
tenho uma pequena comitiva. Minha criada e um condutor que já contratei. Pode
acomodar em seu navio uma carruagem? Ordenarei uma logo que chegue a França e
esperarei que viagem comigo.
- Pagará uma renda. Minha tripulação se acomodará com algo que queira
transportar com você.
Georgina olhou a Katey pensativa.
- Levará tempo mandar fazer uma carruagem. Está segura que quer passar muito
tempo na França, tão frio como está ficando?
- Realmente não planejei minha viagem ao redor do clima - admitiu Katey. - Mas sim
quero minha própria carruagem. Depender do aluguel de uma já se tornou aborrecido.
Mas não vou ficar na Inglaterra para mandar construir uma. Disseram-me que levaria três
semanas.
- Ou mais tempo. - Georgina riu muito. - A última que encomendei levou perto de
dois meses para construir-se.
- Só porque tentou convertê-lo em um dormitório, George - comentou James.
- Não o fiz! - disse Georgina indignada.
- Esses assentos especiais que desenhou certamente se sentiam como colchões -
replicou ele.
- Oh, basta! - Bufou ela ao mesmo tempo que dava a seu marido um matreiro
sorriso. - Que melhor lugar para somar comodidade adicional é onde se sentará durante
seus longos percursos. Essa carruagem foi desenhada para nossas viagens a Haverston,
como lembrará. - Depois seu olhar retornou a Katey. - Mas pensei em uma forma de
eliminar sua demora.
- Sim?
- Sim, acabam de entregar a minha cunhada Roslynn uma carruagem nova. Não me
surpreenderia em nada se ela lhe oferecesse isso a você.
- Não poderia aceitá-lo - disse Katey.
- Insistiria, sei que ela o faria - respondeu Georgina. - Acredite em mim, queixa-se
constantemente que não tem nada no que gastar seu dinheiro. Nem sequer necessita essa
carruagem, ainda assim a encomendou. E me fixei a outra noite em como alterada estava
pela maneira em que foi maltratada depois de ajudar ao Judy. - Georgina dedicou um
olhar arejado a Boyd por ter sido responsável por esse transtorno. - Apostaria que adoraria
lhe fazer esse pequeno favor.
- Realmente, não poderia aceitar. A família de Judith não me deve nada por minha
ajuda. - Katey olhou a Boyd da mesma forma que sua irmã o tinha olhado. - Você, por
Mallory 09
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outro lado...
- Sei - interrompeu-a ele. - Acredite em mim Katey, não poria meu navio a sua
disposição se não tivesse um poço muito grande do qual sair me arrastando.
- Bem, me deixe só averiguar a opinião do Roslynn - disse Georgina. - Se estiver
certa, a carruagem pode ser entregue-se ao "Oceanus" mais tarde hoje. Então poderá
zarpar a França quando chegar o momento e poderá viajar em um lugar quente a menos
que você goste do frio, é óbvio.
Katey sorriu abertamente.
- Não me incomoda o frio, mas realmente não tinha pensado sobre a quantidade de
dificuldades de me transportar em tais condições. Entretanto, insistiria em compensar ao
Roslynn pela carruagem se lhe agradar a idéia.
- Aonde quiser viajar esta bem por mim,Katey - acrescentou Boyd. - Mas a sugestão
da Georgina tem algum mérito. Provavelmente desfrutaria muito melhor ver os países
europeus na primavera e no verão. E há muitos destinos mais quentes entre os que
escolher pelos meses de inverno. Então poderíamos retornar aqui no próximo ano.
- Tem muita razão. Não há razão então para não ver os países com climas mais
temperados primeiro, de ida ao norte e logo retornar.
- Por quanto tempo planeja viajar, Katey? - perguntou James com curiosidade.
- O que leve ver o mundo.
Uma declaração muito notável, mas, maldição, soava muito bem aos ouvidos de
Boyd. Esta viagem poderia levar anos. E ele estaria em um sublime céu ou ela o levaria a
caminho da loucura.
CAPÍTULO 27
- Escavou uma grande fossa, não é assim?
Boyd acabava de retornar dos moles onde passara a maioria da tarde com seu
capitão, Tyrus Reynolds, pondo ao "Oceanus" em condição para navegar no dia seguinte.
O comentário, vindo do James, provavelmente foi realizado porque Boyd se via um
pouco pisoteado. Não tinha dúvidas disso. Tinham-lhe vindo à mente pensamentos
miseráveis, com um pingo de demência, enquanto seu céu sublime se esfumava, embora
fosse mais provável que este nunca tivesse existido para ele.
O problema era, que Katey Tyler não era absolutamente como as outras mulheres de
sua idade, por isso não sabia realmente quando aproximar-se dela. Em lugar de pensar em
assentar a cabeça e iniciar uma família própria, ela desejava revoar pelo mundo. Em lugar
de casar-se, dizia que já o estava, assim os homens mantinham sua distância longe dela.
Infernos! Já deveria estar casada na sua idade, mas não o estava e não parecia que o
matrimônio estivesse em seus planos futuros.
Se Boyd não estivesse tão distraído, nunca teria entrado em uma sala ocupada pelo
James e Anthony Malory. Não acreditava poder suportar nesse momento qualquer dos
comentários depreciativos de James, muito menos os que Anthony pudesse acrescentar.
Mallory 09
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Os dois irmãos podiam facilmente morder a garganta um do outro em suas batalhas
verbais e deleitar-se fazendo-o, a menos que um inimigo comum estivesse por aí. Então
uniam forças. Nicholas Éden, que se tinha casado com sua sobrinha favorita,
frequentemente era um de seus alvos. Como também os Anderson à exceção da Georgina.
Mas Boyd necessitava a alguém com quem falar de seu apuro. E nenhum de seus
irmãos estava atualmente na Inglaterra, assim é que não podia encher seus ouvidos com o
assunto. Tampouco era um assunto que comodamente poderia tratar com sua irmã. Mas
estes dois dos libertinos mais notórios de Londres em seus dias... pois bem, se alguém
poderia entendê-lo, eram eles. Provavelmente se tinham deitado com mais mulheres, e em
todas suas variedades das que a maioria de homens só poderiam sonhar.
Assim Boyd se deixou cair no sofá mais próximo e disse:
- E não se imaginam quão grande. Quase me voltou louco de luxúria nessa última
viagem com ela a bordo.
Anthony já tinha ouvido sobre "O acordo de renda" de Boyd com a Katey e disse
secamente.
- E agora se põe outra vez em um navio com ela? Inteligente movimento.
- Mas muito impulsivo para um ianque - acrescentou James.
- Que alternativa tenho? Não só o devo por esse engano que cometi em
Northampton. Desejo a ela.
- Isso, meu estimado menino, foi penosamente evidente - disse James. - Comporta-se
como um maldito idiota ao redor dela.
Boyd se sobressaltou, aumentando suas defesas.
- Acha que não me dou conta disso? Acha que não o refrearia se pudesse? É por isso
que cometi "esse" engano em primeiro lugar. Não podia confiar em meus instintos sobre
sua inocência naquele dia, quando tudo no que podia pensar era em me deitar com ela.
- Soa como um homem apaixonado, não é verdade? - disse Anthony a seu irmão.
- Não, luxurioso pareceria mais - disse James em desacordo.
- Ama ela? - continuou Anthony.
Boyd teve vontade de puxar o cabelo.
- Como infernos saberia? O intenso desejo que sinto por ela quando estou perto não
deixa campo para explorar qualquer outro sentimento.
- Então, quais são exatamente suas intenções? - Continuou Anthony com o cenho um
pouco franzido. - Não acredito que eu goste de escutar que ela foi machucada por ti, ou
por qualquer outro se vier ao caso. Ela é uma jovenzinha notável.
- Estou de acordo - disse James. - Há muito que admirar nela. Não há muitos que
teriam feito o que fez para resgatar a Judy. A maioria das pessoas, mulheres
especialmente, teriam ignorado a situação ou simplesmente teriam ido pedir ajuda, e logo
estavam as palavras de dois adultos contra a de uma menina, e sabe malditamente bem
que não teriam acreditado em uma menina.
- E eles estavam maltratando a meu bebê - disse Anthony, perdendo a calma outra
vez por isso. - Os mal nascidos nem sequer a tinham alimentado! Mas Katey Tyler viu uma
menina amarrada ao chão e não pediu ajuda a alguém mais. Tomou a Judy e a tirou dali
sem pensar duas vezes.
Mallory 09
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- Acredito que ao que meu irmão quer chegar é que, não permita que esta tua
luxúria queime à moça. Ela poderia dar a volta ao mundo, mas não me parece uma mulher
muito mundana, se entende a que me refiro.
Boyd suspirou.
- Ambos estão enganados. Estive pensando em assentar cabeça há momento,
inclusive me casar.
- Quando retornar a Connecticut espero - comentou rapidamente James.
Boyd bufou.
- Quando toda minha família passa mais tempo aqui? Não, pensava converter o
escritório da "Skylark" em Londres em uma base permanente.
James gemeu. Anthony riu muito. Boyd ignorou seu dramatismo e continuou:
- Assim é que poderia necessitar de alguns conselhos para ganhar a moça a meu
favor.
Anthony deu uma olhada a ele e logo ao James, então disse a Boyd.
- Está nos perguntando ?
Desta vez James riu entredentes e disse a seu irmão.
- Vamos, querido moço, A quem melhor pediria conselhos este moço? E ela não é
uma das nossas, onde teríamos razões que objetar porque não queremos a mais Andersons
na família. Ele até provavelmente chegasse a ser um bom marido. Warren o fez, e quem
em seu bom juízo haveria predito isso?
Anthony encolheu os ombros.
- Bem, se estiver preparado para o jogo, velho, eu suponho que posso contribuir. - E
dirigindo-se a Boyd disse: - Comecemos com os elementos básicos, está bem? Ela deu
alguma vez alguma indicação de que lhe agrada? Tudo o que vi é que ela corre em direção
oposta a você.
- Ela se ruboriza muito em minha presença - respondeu Boyd. - Costumava pensar
que isso era um bom sinal de sua parte, mas já não estou tão seguro disso.
Anthony riu.
- Essa não é indicação de nada. Poderia ser só que a faz sentir vergonha com essa
luxúria grosseira que lhe confessou.
- Feche a boca, cachorrinho, e dê uma mão ao moço - admoestou-o James.
- Mas é óbvio, não é assim? - Replicou Anthony. - Terá que recorrer à sedução.
- Exatamente o que estava pensando - concordou James.
- Isso soa clandestino - observou Boyd.
- Pois bem, está acostumado a uma aproximação franca com as mulheres, mas em
realidade acha que isso funcionaria com esta, quando já tem tantos pontos em seu
contrário? - disse-lhe Anthony.
- Precisa procurar esconder suas emoções, querido moço. Apanha-a com a guarda
baixa - acrescentou James.
Anthony reprovou a seu irmão com o olhar.
- É assim como atuou, velho. Pelo contrário eu, prefiro o encanto. Funciona todo o
tempo, sabe.
-Não acredito em bárbaras imposições nem nada disso - introduziu James.
Mallory 09
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- Agora quem não está sendo solícito? - disse Anthony sarcasticamente.
James suspirou.
- Muito certo. O costume, você sabe. - Depois disse a Boyd. - Sinto-o ianque.
Boyd sorriu aberta e ligeiramente.
- Estou acostumado.
- De novo aos detalhes então -disse James. - Uma vez que saiba que ela tem algum
tipo de sentimentos por você, além dos assassinos, então lentamente reduz suas barreiras,
e em seu caso certamente que deve ter um montão delas. Assim é que não te apure.
Lembra, sutileza.
- E contato visual - acrescentou Anthony. - É incrível o que pode obter com seus
olhos. São sua primeira linha de expressão, sabe. Dúzias de coisas podem ser ditas com um
olhar sensual que as palavras de outra maneira poderiam estragar.
- Mas fique seus olhos por cima do nível da água, se souber o que quero dizer - disse
James a seguir. - Uma mulher não gosta de o apanhar vendo os seios. Insulta-as por
alguma razão.
- Nunca entendi isso eu mesmo, mas ele tem bastante razão - concordou Anthony.
Boyd começava a perguntar-se se deveria estar tomando nota de todo isso, mas
então James disse:
- Vejamos uma demonstração, moço.
- Do que?
- Pelo que é capaz de expressar a uma mulher com um olhar. E lembra, faz o de
forma sutil.
Boyd se sentiu claramente incomodado com a sugestão, mas fez a prova e tombou a
ambos os Malory pela risada. Risada é o que lhes causava como se fosse a melhor das
brincadeiras. Ele começou a levantar-se para ir-se antes que seu forte temperamento o
golpeasse. Tinha-lhes pedido ajuda, mas deveria ter pensado melhor.
Mas James se acalmou primeiro e disse.
- Mostremos a ele como se faz, Tony.
- Ele não é meu tipo - respondeu Anthony. Mas conseguiu por isso um dos
inflexíveis olhares de seu irmão. - Oh, muito bem.
Anthony demorou um momento em tranquilizar-se, logo Boyd recebeu o impulso
completo do que as damas de Londres estavam acostumadas a receber quando ele as tinha
escolhido como objetivo. Fácil de ver o por que deste particular talento Malory era
legendário em matéria de sedução. Encanto nem sequer se aproximava de descrever um
olhar como esse.
Confiante agora de que não estavam zombando, Boyd estava preparado para
queixar-se.
- Para começar ele tem olhos notáveis. Não é estranho que funcione para ele.
- Assim é - ficou de acordo James. - Mas isso não quer dizer que o resto de nós
sejamos um caso perdido. Agora faça outra tentativa, moço, e desta vez, imagina que a
senhorita Tyler está em frente a você.
Isso era bastante fácil de fazer porque Katey nunca estava longe dos pensamentos de
Boyd. Assim trouxe sua imagem à superfície de sua mente, seus belos olhos esmeralda, as
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covinhas que sugeriam um sorriso que não estava realmente ali, sua pele que ao vê-la se
sentia quando a seda, seus carnudos e deliciosos lábios, a longa trança negra que ele queria
enroscar em seu cinto em lugar do dela, suas magníficas curvas...
- Bom Deus - disse James, rompendo a imagem da Katey na mente de Boyd. -
Esqueça de enfeitiçá-la até depois de que faça algo com respeito a essa luxúria. Poderia
malditamente bem afundar o navio em chama com olhares como esse.
Anthony riu muito.
- O que posso dizer? Alguns de nós a tem e outros não. - Estava dando ao James um
sorriso afetado quando o disse, com o qual obteve um bufido do Malory de cabelo
dourado. Mas logo Anthony sugeriu a Boyd: - Só pratica, ianque. Usa um espelho se o
necessitar. Vale a pena se o fizer corretamente. A batalha está ganha se puder conseguir à
moça ainda antes que a haja tocado.
- De retorno à estratégia global então - disse James pensativamente. - Se em
realidade está pensando em assentar, e o matrimônio é o que quer no fim de contas, deixe
ela saber que não é contra à idéia. Mas por todos os santos, seja sutil a respeito disso. Não
a faça presa de sua franqueza de Nova a Inglaterra. Lhe dê algum tempo para que veja que
há mais de ti que decisões impulsivas.
- Ela também é de Nova a Inglaterra - lembrou-lhes Boyd. - Não notaram quando vai
diretamente ao ponto?
James riu muito.
- Você se curvou bem, não é assim? Quando lhe perguntou por seu navio?
- Ouviu alguma vez uma coisa tão absurda? Inclusive não posso imaginar o que lhe
terá feito pensar em tal coisa como render um navio. Um bote pequeno, sim, é óbvio.
Exceto um navio de três mastros e equipado completamente com toda sua tripulação.
- Na realidade, acho isso como um lógico pensamento progressista - disse James. -
Você não o faria, vivendo toda sua vida em uma família naval. Para ti, os navios são um
negócio, um sustento, mas nem todo mundo os vê desse modo. Inclusive eu que sou dono
de um só por prazer.
- E por pirataria - interrompeu-o Boyd.
James ergueu uma sobrancelha dourada.
- Realmente não vamos voltar a isso, não é verdade?
Boyd se ruborizou um pouco.
- Não. Sinto muito.
James deixou passar.
- Ao que queria chegar era que, pago por minha tripulação, por todas as reparações,
por tudo o que tem que ver com meu navio, de meu bolso. Não levo cargas ou passageiros
para cobrir os custos. E aqui tem a uma jovem que tem os meios e deseja dar a volta ao
mundo. Já está acostumada a alugar veículos e pelo contrário progrediu ao seguinte passo
ao querer sua própria carruagem em lugar disso. Não estaria surpreso se pensasse em
comprar um navio próprio também; Só que não tem a paciência de esperar que lhe
construam um. Não é um artigo comum. É estranho encontrar um casco de navio em
venda quando se quer. Há disponíveis em abundância quando não está interessado, mas
não quando realmente quer um. Bem, sabem o que quero dizer.
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- Sua falta de paciência é bastante notável - acrescentou Anthony. - Ou ela não lhe
teria pedido alugar seu navio por uma simples espera de oito dias. Não é que ela tivesse
que estar em algum lugar logo.
- São oito dias extras mais à espera que já experimentou, tudo pelo navio que perdeu
esta manhã - lembrou-lhes Boyd.
- Exatamente. Me esqueci disso - disse Anthony. - Mas ainda assim, qual é sua
pressa? Disse-o ela?
- Não ia perguntar - disse Boyd.
- Você sabe - começou James. - Cheguei a pensar nisso, poderia lhe vender o navio
que comprei recentemente. Só o comprei por um capricho para a próxima vez que se meta
na cabeça de George visitar sua velha cidade natal, e isso não é provável que ocorra
novamente até o próximo verão. Veio bem para sair em perseguição de seu irmão e ajudá-
lo a salvar a seu novo sogro dessa prisão pirata no Caribe, mas agora tenho todo o inverno
para comissionar outro navio quando o necessitar outra vez.
- Não faça isso - protestou Boyd. - Nem o mencione a Katey. Esta é a única maneira
que tenho de me libertar desta culpabilidade. Para uma mulher a quem não quero perder
de vista outra vez, não pude ter pedido uma melhor bênção que navegar com ela ao redor
do mundo.
- A menos que ela continue lhe guardando rancor.
Boyd se deixou cair pesadamente no sofá.
- O "Oceanus" é minha oferenda de paz. Ela disse.
- Nunca se guie simplesmente pelo que uma mulher diga, ianque - disse Anthony,
logo riu dissimuladamente. - Especialmente a uma a que recentemente enfureceu.
- Isso não é nem remotamente engraçado - resmungou Boyd.
- Bem, veio ao caso -respondeu Anthony com indiferença. - Mas se eu fosse você,
pensaria em propor mais tempo, antes de que faça ao mar pondo seu navio ao seu dispor.
Não há ponto ainda mais difícil na sedução da jovenzinha, se ela te odiar até a medula.
CAPÍTULO 28
Quatro dias em alto mar e Katey não viu Boyd nenhuma só vez desde o dia que
navegaram pelo Tâmisa. E sua conversa da manhã antes de soltar amarras foi breve.
Simplesmente tinham discutido seu destino imediato, depois que comunicasse a ela que
devia enviar essa informação a seu escritório da "Skylark" antes de que zarpassem.
- Sugeriria o Caribe - havia- dito a ela. - É uma área com a que estou muito
familiarizado, desde que sempre foi uma das rotas de comércio da "Skylark". As águas são
cálidas, o clima sempre suave, as praias antigas. Ao menos em qualquer momento do ano
se sente como verão.
Não teve a intenção de ser desagradável simplesmente por ser desagradável,
entretanto agora este certamente foi o caso depois de que o homem a tinha ignorado por
quatro dias. Realmente não esperara essa reação por parte dele, nem quanto a exasperava.
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Possivelmente porque teve a intenção de ignorá-lo e ele não estava por ali para dar-se
conta!
Essa manhã lhe havia dito:
- Não quero passar outras longas semanas no mar, ao menos não tão logo. Também
preferiria ficar deste lado do mundo já que estamos aqui. Assim só navegaremos para o
sul, está bem?
- Para?
- Você é o marinheiro, com certeza sabe muito mais sobre o mundo do que eu sei.
Deu a entender que havia muitas opções das quais escolher. Ouçamos elas.
Ele nem sequer pensou em cinco segundos.
- O Mediterrâneo então? É uma grande extensão de água que compreende um
número de mares dentro dele. Oferece o acesso ao sul da Europa. Ao norte de deste mar
estão a Espanha, Itália, Grécia, até a costa sul da França, e um grande número de ilhas ao
redor delas, as quais ainda estarão realmente cálidas. De fato a área inteira oferece um
clima primaveril durante todo o ano. No lado sul do Mediterrâneo está a África, e ao
leste...
- África soa interessante.
- Sim, mas não é um território ao qual na realidade quererá viajar terra adentro.
- Por que não?
- Porque em sua maior parte é desértico. Além disso, podemos nos deter em uns
poucos de seus portos abertos uma vez que ultrapassemos a Costa Berbería1, para te dar
uma percepção do país. Pode decidir então se você gostaria de ver mais disso.
- A Costa da Berbería? - Ela alguma vez tinha ouvido o nome antes. - Por que não
podemos nos deter ali?
- Principalmente porque são bases piratas e...
- Espera um minuto. Piratas?
Ele fez uma pequena careta de dor, mas rapidamente a moderou com um
encolhimento de ombros e um tom despreocupado.
- Os piratas são um fato desafortunado da vida em muitas partes do mundo, mas
particularmente estão em atividade em águas mais quentes. Sem dúvida sabia isso antes
de que começasse esta viagem?
Ela simplesmente ficou olhando incredulamente. Não sabia nada disso, mas se tinha
ficado sem fala para dizê-lo no momento. Seu tutor ou não se deu conta destes "fatos" ou
ele não tinha pensado que era um assunto apropriado para uma menina.
Boyd tinha continuado lhe ensinando sobre a lição perdida de história seja se
gostasse de ouvi-la ou não.
- No Caribe, Ásia, no Mediterrâneo, só para nomear uns poucos, os piratas estiveram
entre nós por séculos. Mas o "Oceanus" está equipado para lutar com eles. É rápido e está
bem armado. As embarcações da "Skylark" tiveram muitos choques com piratas para fazer
obrigatório que todos nossos navios levem canhões agora. Assim é igualmente seguro
viajar de navio quando é por terra, ao menos em um navio da "Skylark". Mas pelo que
1 Berbéria ou Costa berberisca é o termo que os europeus utilizaram desde o século XVI até o XIX para se referirem às regiões
costeiras de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, ou seja, o atual Magreb, fora o Egito. O nome deriva dos berberes, então
chamados berberiscos.
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respeita à viagem terrestre, os salteadores de caminho são iguais de prevalecentes, sabe.
- Não, não sabia. De fato, não tinha idéia de tudo isto.
- Não o mencionei para pô-la nervosa - assegurou-lhe. - Realmente, pode-se dar a
volta ao mundo sem ver alguma vez um casco de navio pirata. E a "Skylark" tem algumas
rotas no Mediterrâneo, as quais incluem certos acordos de comércio. Assim os corsários
desses países, quem também tem acordos com seus próprios governos nos ignorarão em
sua maior parte. É só a Costa da Berbería a que pirateia quem nos veria como alvo
legítimo, mas como lhe disse, evitaremos seu território. Tyrus está muito familiarizado
com essas águas.
- É realmente seguro?
- Não lhe mentirei, Katey. Nada é cem por cento seguro. Mas não espero problemas
ou nunca teria sugerido a área. Os navios da "Skylark" fazem viagens regulares ali como os
comerciantes do mar, estiveram-no fazendo por milhares de anos. Mas no que respeita a
viajar terra adentro assumi que quando disse que lhe dava a volta ao mundo era para ver
tanto o mundo e suas muitas diferenças, culturas, e belezas quando fora possível em um
tempo razoável. Ver o mundo inteiro tomaria toda uma vida. Isso não é o que tinha em
mente não?
Ele se tinha visto tão horrorizado quando lhe ocorreu essa idéia, que ela mal pôde
conter a risada.
- Não, tem toda a razão - disse ela para tranquilizá-lo. - Um pouco do "sabor" de
cada região me bastará.
Com seu destino imediato convencionado, ela começou a encaminhar-se a sua
cabine. Ele a deteve.
- Katey, estou perdoado?
Um pouco de rigidez se introduziu em seu tom. Ela não pôde evitá-lo.
- Sua generosidade tem aberto uma brecha no silêncio. Estou lhe falando, não é
assim?
- Mas estou perdoado?
- Deixaste-me que renda seu navio para meu uso. Se isto fará que minha experiência
ao viajar pelo mundo seja mais agradável, fica por ver-se. me pergunte isso outra vez em
um mês.
- Katey...…
- Acredito que seria mais conveniente que mencionemos deste assunto outra vez.
Assim o direi uma última vez. Queria uma forma de arrumar as coisas. Dei-lhe uma
oportunidade de fazê-lo. Foi um grande gesto o que teve. Sou bem consciente disso. Mas
até agora me salvou meramente de sete dias em Londres. Penosos dias é certo, mas dias
nos quais teria tido liberdade de encontrar algum tipo de diversão para passar o tempo.
Isso não iguala as vinte e quatro horas de detenção...
- Isso não foi minha culpa!
- …ainda assim é indiretamente responsável, o mau trato, a frustração, a cólera... -
Ela seguiu como se ele não a tivesse interrompido-. Assim repito, me pergunte de novo em
um mês, depois de que tenha visto um pedacinho mais de mundo com sua ajuda.
Possivelmente era por isso que não o tinha visto outra vez depois de que
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navegaram. Foi um pouco rude em sua resposta. Um pouco? Não, demasiado. Ele bem
agora poderia estar lamentando sua magnânima oferta, e ela não o podia culpar se fosse
assim. É óbvio que sua generosidade era suficiente. Fazia muito mais do que ela podia ter
esperado. Não tinha considerado ela comprar seu próprio navio? Agora tinha um ao seu
dispor sem espera e sem o maior custo. Teve que pagar por um capitão e tripulação de
uma maneira ou outra.
Também agora tinha sua própria carruagem, graças a Roslynn Malory, e um luxo no
que a isso se refere. Tinha agora um condutor. John Tobby era um tipo robusto em seus
trinta anos. Assegurava ser um bom atirador, e bom com seus punhos também. E grandote
quando era, podia ser bastante intimidante se fosse necessário. O que podia ser necessário,
desde que esteve de acordo em atuar tanto como seu guarda pessoal como seu condutor.
Ela se tinha assegurado disso antes de contratá-lo. E contratá-lo foi muito fácil. Levá-lo
com ela a percorrer o mundo foi um incentivo, em vez de um impedimento. Não era a
única que queria ver mais do mundo.
Infelizmente, John não duraria durante toda a viagem. Ele nunca navegou antes, e
ele não era ao único que não viram desde o começo da viagem. O pobre homem estava
acossado por terríveis enjôos ainda antes de que alcançassem o Canal Inglês. O que tinha
Grace abatida. A criada estava desfrutando de um agradável flerte com John, o qual foi
interrompido abruptamente quando ele se encerrou a si mesmo entrincheirando-se em sua
cabine. Ela, também, agora se deu conta de que ele os poderia abandonar logo que
alcançassem um porto. Especialmente desde que ele já sabia que estavam a ponto de
percorrer o mundo.
Katey suspirou. ficou junto à amurada a sós, luneta na mão. Passaram sem
contratempos pelo estreito de Gibraltar, muito cedo na manhã. O capitão Reynolds lhe
tinha dado uma luneta no primeiro dia de navegação, disse-lhe que manteria o navio o
mais perto do litoral dos países pelos que passassem enquanto os bancos de areia o
permitissem assim ela podia vê-los. Faziam um bom trecho, o vento era muito cooperativo.
O clima também já estava marcadamente mais quente, o suficiente para que ela já não
precisasse ficar ali por horas, como o estava fazendo cada dia.
A luneta foi um gesto agradável, mas logo no primeiro dia de uso, já não a
entretinha. A paisagem começou a parecer toda igual, as costas rochosas, as praias, e os
lotes e montões de árvores. Esses ao menos foram interessantes ao longo da metade do
norte da França, a qual como a Inglaterra, estava cheia de cores outonais, mas tudo era
verde mais longe ao sul. Depois havia só povos pesqueiros para quebrar a monotonia,
ocasionais povos costeiros dos quais não podia conhecer muito através de uma luneta.
Não demorou muito em que o peculiar talento criativo da Katey surgisse e visse
coisas através da luneta que não estavam realmente ali. Viu a sala dos Millards outra vez.
Uma anciã, com rosto bondoso, estava sentada sobre o sofá com ela, a avó que não tinha
chegado a conhecer. Estava segurando a mão de Katey e lhe contando histórias da infância
de sua mãe. E sua tia Letitia estava no lado oposto, Sorrindo, rindo-se, uma mulher
completamente diferente da que Katey tinha conhecido. Esta se tinha desfeito em desculpa
por sua anterior desagradável acolhida, explicando que tinha pensado que lhe estavam
fazendo uma brincadeira cruel, que não tinha acreditado que Katey era em realidade quem
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dizia ser.
Esta reunião era tão diferentemente que trouxe as lágrimas aos olhos da Katey. Era
meramente sua imaginação, mas a encheu de tais sentimentos profundos, porque era o que
mais queria que ocorresse, que a única família que restava fosse realmente uma família
para ela, uma família carinhosa. E agora que isso não ia ocorrer, tinha chorado na noite até
ficar adormecida e não deixou os Millards entrar em seus sonhos outra vez.
Depois disso, teve Boyd aparecendo muito frequentemente do outro lado de sua
luneta. Inclusive lhe ocorreu uma perfeita e boa razão para sua ausência durante esses
primeiros quatro dias. Certamente não era um enjôo quando o que sofria seu condutor,
apesar que foi o primeiro que lhe ocorreu. Mas Boyd era proprietário de um navio. Ele não
navegaria com seu casco de navio se fosse propenso a essa enfermidade, ou o faria? Não,
ela o tinha submetido a um pouco tão simples quando seu desdém e isto o afetava tão
gravemente que durante a noite delirava por uma febre alta. E o médico de bordo, Philips,
acreditava que assim se chamava, não podia sentar-se com ele noite e dia, ela tinha
recebido instruções de compartilhar alguns desses deveres.
Compressas frite, tenros banhos de esponja. Ela se tomou liberdades que nunca lhe
ocorreriam tomar nem sequer em suas fantasias subidas de tom. É óbvio que ela estava ali
quando ele finalmente despertou, milagrosamente sem pele viscosa ou cabelo suarento,
perfeitamente saudável e olhando-a fixamente com esses aveludados olhos marrons.
Pôs uma mão em sua face. Ela não se afastou de seu alcance, mas sim inclinou sua
cabeça para sua carícia.
- Devo-lhe minha vida?
- Não... bom, talvez um pouco.
Ela sorriu abertamente. Teria feito o mesmo a ele, mas eram estranhas as vezes que o
tinha visto sorrir abertamente. Ele usualmente se mostrava tão intensamente sério com ela,
tão cheio de paixão que não era exatamente divertido. Assim não podia imaginá-lo
sorrindo. Mas não necessitava dele. Em sua fantasia, era suficiente saber que ele queria
fazê-lo.
- Então me deixe te expressar minha gratidão.
Conteve seu fôlego enquanto a atraía para ele para um doce beijo, mas seus lábios
não se tocaram ainda. Com ela inclinada para frente, era algo fácil para ele puxá-la por
cima dele, até o outro lado de sua cama. Agora estava arremessada a seu lado e ele se
inclinava para ela, e diabos, conseguiu fazê-lo sorrir abertamente, algo malicioso. E isso
estava bem. Ele ia beijá-la. Esperou-o ansiosamente. Já estava sentindo aquele
estremecimento outra vez que sempre a fazia sentir.
Foi poderoso quando ocorreu. Muito poderoso, como se estivesse realmente
ocorrendo. Antecipação. Isso era tudo o que esperava, porque nunca foi beijada de
verdade, assim é que não tinha nada em sua mente para repetir ou para lhe deixar saber
quando se deveria estar sentindo, simplesmente desejosas hipóteses de quando seria isso
se Boyd alguma vez a beijasse. Mas, ai dela, isto bastava para que seus sentidos se
agitassem...
- Unirá-se você a nós para o almoço, senhorita Tyler? Deveríamos discutir qual será
nosso primeiro porto, agora que alcançamos o Mediterrâneo.
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Usualmente podia despertar imediatamente de seus sonhos quando a realidade
chamava, mas não desta vez. Levou vários longos momentos e profundas pausas antes de
que se acalmasse o suficiente para olhar para Tyrus Reynolds, que veio para junto a ela na
amurada. Ela agora estava acostumada à voz ensurdecedora do capitão, o bastante para
não sobressaltá-la. Um homem de idade amadurecida com cabelo negro e olhos cinzas,
pestanas espessas e uma barba, em realidade um pouco mais baixo que ela.
- Nós?
- Sim. Boyd me pediu para lhe fazer o convite.
- Ele ainda está conosco? Começava a me perguntar isso
Sua resposta cortante trouxe um leve sorriso aberto a seus lábios.
- Ao meio dia então, em minha cabine?
- É claro.
Ele retornou à coberta do leme. Ela retornou a usar sua luneta. estava esperando
convites desse tipo muito em breve. Ela e os outros passageiros no "Oceanus" em travessia
tinham tomado suas comidas na cabine do capitão com ele. Era uma cortesia comum, já
que era a cabine maior no navio. Mas nesta viagem ainda não foi convidada até agora, o
que era muito estranho, agora que pensava nisso.
CAPÍTULO 29
A cabine era exatamente como Katey a lembrava, cômoda, atapetada, de assentos
felpudos, sem a rigidez dos novos. Era um alojamento desenhado para o trabalho, mas
também para o entretenimento. A mesa era suficientemente longa para se sentar dez.
Ocasionalmente o "Oceanus" transportava só a passageiros, com pouco carregamento.
Havia em uma esquina uma pequena seção para funções musicais com três cadeiras, uma
harpa, e um gabinete de vidro que continha um sortimento de instrumentos musicais. O
capitão mesmo tocava a harpa. Um de seus oficiais era hábil com a cítara. Em sua travessia
pelo atlântico, um dos passageiros teve uma esplêndida voz e se uniu a maioria dos serões,
provendo um excelente entretenimento.
Katey se tinha perguntado depois, por que Boyd não reclamava para si esta cabine.
Sendo dono do navio, ele sem dúvida poderia tê-la. É óbvio que ela não tinha idéia de
como era sua cabine. Poderia ser igualmente grande como esta pelo que ela sabia.
Sua cabine era de um tamanho decente e diferente esta vez. Muito pouco estalo
continuado nas coisas se fosse precavida, o qual antes não foi o caso. Havia suficiente
espaço para uma cama de tamanho natural, um armário guarda-roupa, uma escrivaninha,
uma mesa pequena com quatro cadeiras, e seus baús de roupas. Havia também um
armário cheio de livros com um sortimento de material de leitura que teve a sorte de
encontrar. Supôs que esse camarote era reservado para passageiros especiais, o que
supunha era uma apta descrição dela nesta viagem.
Ela entrou relaxada na cabine do Tyrus. O que terminou logo que pôs seus olhos em
Boyd, quem se sentava junto ao capitão. Ambos os homens levavam vestidas jaquetas, mas
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isso era a tudo o que se estendia seu modo formal de vestir.
Os homens americanos podiam vestir-se impecavelmente, mas não tendiam a
afeiçoar-se às gravatas com babados e punhos bordados como fazia a pequena aristocracia.
Com Boyd, entretanto, tinha o pressentimento de que pareceria magnífico para ela sem
importar o que usasse, simplesmente porque o achava muito bonito. Com esse cabelo
grosso com dourado, as sobrancelhas escuras até os olhos de cor marrom sombrios que
podiam ser tão expressivos que provocavam a seus sentidos a alturas desconhecidas, e, ai
dela, sua boca, o fino lábio superior, e o cheio e flexível inferior, lábios que a tinham
olhando-o com muita frequência naquela primeira viagem. Sua atração por ele foi
severamente contida logo depois do que ele fez, mas ainda estava ali e era muito forte.
Se ela não tivesse muitos planos em sua agenda, planos aos que não renunciaria, as
coisas poderiam ser diferentes. Se o matrimônio fosse uma parte desses planos, não lutaria
tanto contra o que esse homem poderia lhe fazer sentir. Poderia desfrutar de um ligeiro
flerte aqui e lá, para acrescentar um pouco de sabor a suas viagens, desde que ela não
tomasse nada disso seriamente. Mas não com Boyd Anderson. A princípio teve a suspeita
de que um flerte com ele poderia queimá-la. Não tinha dúvidas disso.
A tensão que sentia agora que outra vez estava em presença de Boyd, entretanto a
incomodou. Sentiu-se também ofendida de que ele mais ou menos esteve escondendo-se
dela. Deveria ter estado agradecida que ele estivesse mantendo as distâncias, mas era
realmente desmoralizante ser ignorada quando ela não o esperava.
Ambos os homens ficaram em pé a sua entrada. Tyrus retirou uma cadeira para que
ela tomasse assento. Um homem da tripulação estava ali lhes servindo e até ele estava semi
informalmente vestido com um colete. Serviu a ela com um guardanapo em um braço,
uma salada no outro, depois deixou a cabine para retornar à cozinha para o segundo prato.
Katey tomou seu garfo antes de olhar a Boyd outra vez. Seus olhos não a tinham
abandonado desde sua entrada, mas ao menos ele mantinha seu olhar suficientemente
impessoal para não envergonhá-la.
- Parece um pouco pálido - disse-lhe ela. - Esteve doente?
Podia ter mordido a língua. Essa condenada fantasia ainda estava em sua mente,
obviamente. Mas deveria ter divulgado sua preocupação?
- Não!
Ele o disse tão rápido e tão energicamente. Que ela ergueu uma sobrancelha ante
essa reação, mas percebeu que poderia estar igualmente tenso como estava ela, assim se
esforçou ao menos para tranquilizar a um dos dois.
- Em realidade, já não o noto - disse ela e assim era. - Há suficiente cor em suas faces
agora. Deve ter sido um estranho reflexo da luz.
Tyrus limpou a voz e introduziu um assunto neutro.
- Tomará vinho com o almoço, senhorita Tyler, ou esperará até o jantar antes de
participar?
- Estou convidada ao jantar desta noite?
- Certamente. Considere-a um convite aberto para toda a viagem.
Ela sorriu em acordo. Ele provavelmente acabava de lhe dar uma oportunidade para
"estirar as pernas", quando ouviu que se dizia, antes de fazer algumas reuniões sociais. E
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por isso os jantares com o capitão eram, a única possibilidade autêntica de socializar no
mar.
Outro homem da tripulação apareceu, embora este não fosse o encarregado da
cozinha. inclinou-se para sussurrar algo ao Tyrus, quem imediatamente ficou em pé.
- Necessitam-me lá em cima - disse ele a Katey. - Só me demorarei um momento.
O capitão se via envergonhado por ter que retirar-se. Boyd também o notou, e lhe
disse:
- Ela é uma mulher crescida, Tyrus. Não necessita de uma dama de companhia.
- É uma mulher solteira - demarcou Tyrus. - Diria que necessita de uma.
Boyd simplesmente encolheu os ombros, respondendo,
- Então por todos os meios, se apresse em retornar.
Discutiram isso, como se ela não estivesse sentada ali, isso era o suficientemente
embaraçoso para pôr rubor em suas faces, mas isso não foi o que a fez ruborizar. Agora
que estava a sós com Boyd, e a expressão em seus olhos já não era impessoal. No momento
em que a porta se fechou a costas do capitão, Boyd a estava olhando como se ela fosse o
prato seguinte.
- Detenha - deixou escapar ela.
- Deter o que?
- De me olhar dessa maneira. É altamente impro...
Boyd a interrompeu com algo que também escapou a ele.
- Case-se comigo, Katey. Tyrus legalmente tem poder para nos casar no mar.
Podemos compartilhar uma cama esta noite.
Ela tomou ar ante tal rudeza. E ele tinha que estar brincando. Não havia outra
desculpa para uma proposta de matrimônio, tão crua essa quando, tão impulsiva, até para
ele.
- Agora acrescenta um insulto à ferida?
Ele parecia que queria golpear a cabeça contra a mesa.
- Falo a sério. Tire-me de minha miséria.
Ela estava suficientemente zangada para dizer:
- Miséria é você.
Um longo momento passou enquanto ela o olhava encolerizadamente e ele
lentamente começou a ver-se arrependido enquanto começava a dar-se conta de quão
longe da zona proibida tinha pisado. A proposta foi suficientemente inapropriada
considerando tudo o que tinha passado, também ao mencionar compartilhar uma cama ao
mesmo tempo!
Finalmente ele suspirou:
- Sinto muito. Isso não estava planejado. Acredite-me, não quis...
- Aqui estamos - disse o capitão, ao retornar. - Não demorei muito.
Katey se ajeitou para sorrir ao homem. Teria gostado de escutar o resto da
explicação de Boyd, mas provavelmente era melhor que não o fizesse.
- Certamente não - disse ela ao capitão.
O segundo prato chegou pisando os calcanhares ao Tyrus. Enquanto lhes serviam,
ele mencionou alguns interessantes portos espanhóis que poderiam ser alcançados pela
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manhã ou no máximo, nessa tarde.
- Passaremos primeiro o porto da Málaga, possivelmente antes do anoitecer se o
vento se estabilizar. Cartagena e Valência podem ser alcançadas em prazo de uma semana.
- Se quer parar em um porto espanhol - interveio Boyd. - Recomendaria Barcelona
na região Catalunha. Nosso país esteve comercializando com eles por mais de quarenta
anos.
Os dois homens começaram a mencionar os méritos de cada cidade e algumas das
coisas que poderiam ver-se, incluindo evidência da ocupação romana há tantos séculos.
Estavam na metade do segundo prato quando outro tripulante entrou em sussurrar na
orelha do Tyrus outra vez.
O capitão cravou com mordacidade os olhos em Boyd, com desaprovação enquanto
ficava em pé novamente. Tyrus se via quando se queria dizer algo mordaz, mas em lugar
disso apertou os lábios, desculpou-se e saiu da cabine.
Katey não pôde deixar de notar que Boyd parecia completamente satisfeito com essa
partida abrupta, fazendo-a suspeitar que ambas dessas "emergências", das quais o capitão
teve que ocupar-se foram idealizadas… por Boyd. Com esse pensamento ficou em pé para
partir. Não queria escutar outra proposta escandalosa, se tudo se tratasse disto.
Embora se deteve ante a porta pensando que ele pôde ter ido procurá-la a sua cabine
se queria falar a sós com ela. Ele não tinha que recorrer a qualquer plano elaborado. Grace
nunca estava ali com ela. Bem, a maioria das vezes estava. Preferiam passar o tempo a
bordo do navio em companhia uma da outra em vez de sós. Mas ela usualmente a
passava a sós na amurada com sua luneta e os homens da tripulação a viam passar com
frequência, assim realmente ali tampouco estava sozinha.
Deixou de tentar encontrar uma razão para sair e simplesmente pôs sua mão na
maçaneta da porta e sentiu sua mão cobrindo a dela. Estava suficiente alarmada para
virar-se. Não podia ter cometido pior engano. Ele estava muito perto. Seus corpos na
verdade se estavam tocando. E logo suas bocas também o estavam.
Oh, Deus, ela sabia como seria. teve suficientes encenações dele beijando-a assim e o
tinha interrompido abruptamente porque foi muito emocionante, pensar nisso. Ainda
assim, tinha-o feito uma e outra vez. Não foi capaz de resistir. Mas isto era muito mais do
que possivelmente tivesse imaginado.
Boyd a atraiu para ele, colocando um braço em suas costas. Sua outra mão se moveu
por seu pescoço, seu polegar detendo-se debaixo de seu queixo para manter seus lábios no
ângulo que ele queria. Qualquer ângulo teria sido sublime para ela. Temeu que fosse
desmaiar se, tantas sensações caíssem sobre ela ao mesmo tempo. Seu coração nunca tinha
palpitado tão rapidamente ou tão forte que podiam escutá-lo seus ouvidos. Seu sangue
nunca tinha deslocado tão velozmente.
Seus próprios braços deslizaram ao redor dos ombros dele. No profundo de sua
mente se disse a si mesmo o fazia para evitar cair, certamente não porque queria abraçá-lo.
Ainda assim, realmente não havia possibilidade de cair quando ele agora a esmagava tão
perto dele. Seus seios formigaram com esse duro contato. Seu estômago formou
redemoinhos. E quando sua língua empurrou entre seus lábios, um calor pareceu inundá-
la dos pés a cabeça. Era seu sangue percorrendo-a, estava certa. Era o sabor dele que ela
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desejara ardentemente por tanto tempo. Algo que ele fizesse nesse mesmo momento teria
sido...
A porta se abriu golpeando-os. Separaram-se, mas não o suficientemente rápido
para que Tyrus não adivinhasse o que estiveram fazendo.
- Maldito seja, Boyd - começou ele a recriminar.
- Não agora! - interrompeu-o Boyd, furioso.
Não estava em condições para uma reprimenda. Nesse momento estava meio
inclinado apoiando-se na parede. E o tom que tinha usado aparentemente era um que o
capitão reconheceu como categórico, porque Tyrus não disse outra palavra, não com Katey
ainda ali.
Katey estava assombrada de estar ainda em pé, sem sequer mover-se. Seus pés a
urgiam a sair imediatamente dali, a vergonha a urgia até mais, mas resistiu com cada onça
de vontade que ficava. Não podia deixar que isto voltasse a ocorrer. O beijo de Boyd foi
muito poderoso. Tinha esgotado sua vontade, tinha-a emocionado desmedidamente. E
ocorreria de novo se ela não se assegurasse disso. Havia só uma maneira de fazê-lo.
- Menti - disse ela a Boyd, olhando-o aos olhos. - Sou muito boa nisso. Não lhe
mencionei já isso, que era algo no que me sobressaio? Faço-o todo o tempo. Pergunte a
minha criada, ela dirá. É um hábito desde menina, sabe.
- Mentiu no que?
- Sobre não estar casada. Realmente o estou.
CAPÍTULO 30
Anthony ria enquanto ele e James saíam juntos do Knighton´s. Ele estava
frequentando o estabelecimento esportivo por muitos anos. O dono tentava mantê-lo em
forma com pares de treinamento, mas a maioria deles encontravam emprego em outro
lugar depois de uma ronda ou duas com ele. Ele era renomado por ser invencível no
ringue, a menos que James estivesse por aí. Ele já tinha perdido a esperança de ter bons
adversários, até que seu irmão retornou a Londres e começou a acompanhá-lo ao
Knighton´s de novo algumas vezes por semana.
O único outro homem desejoso e capaz de dar ao Anthony um treinamento decente
era Warren Anderson, mas Warren estava poucas vezes em Londres. E a sobrinha do
Anthony, Amy desaprovava que seu marido ficasse ensanguentado no ringue
simplesmente por um pouco de exercício. Anthony tinha a intenção de dar uma
oportunidade ao mais jovem dos Anderson. Boyd dizia ser muito bom com os punhos.
Mas, também, Boyd estava poucas vezes na cidade.
Ao menos James estava ainda disposto a enfrentá-lo ocasionalmente, embora seus
encontros podiam ser brutais e James era usualmente o ganhador. Seus punhos eram como
uns malditos tijolos ensanguentados, depois de tudo. Mas não hoje.
- Não tente me dizer que você deixou que eu ganhasse esse round - disse Anthony,
rindo-se. - Tenho testemunhas!
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- Um golpe de sorte e vai estar cacarejando a respeito disso toda a semana, não é
certo?
- Uma semana? A metade do ano no mínimo.
James provavelmente teria arqueado sua sobrancelha direita por esse comentário, se
Anthony não tivesse gretado a pele em cima dela. Em lugar disso James meramente bufou
enquanto se encaminhava à carruagem do Anthony. Tinham chegado juntos ao
Knighton´s, assim é que James inclusive não podia livrar-se das farpas de Anthony.
- Virá comigo a casa para almoçar? - perguntou Anthony antes que ele virasse para
dar instruções a seu condutor.
- Não, pode me deixar em meu clube.
- Ah, é óbvio! - riu Anthony. - Provavelmente terá que tomar todo o resto da tarde
para lhe ajudar a esquecer que o pus fora de combate.
- Por só dois malditos segundos! - grunhiu James.
- O tempo é irrelevante. O importante é que aterrissou sobre seu traseiro!
- Feche a boca, cachorrinho, antes que eu a feche.
Anthony só sorriu abertamente. Não havia nada que ele desfrutasse mais que estar
um passo adiante de seus irmãos, sobretudo deste irmão. Nada poderia arruinar seu
humor hoje, certamente não o faria a azeda aparência do James. Ou isso pensou ele.
Mas um de seus lacaios apareceu de repente justo quando a carruagem se punha em
marcha. Seu condutor freou, ao escutar ao homem gritando para atrair sua atenção.
- Deveria voltar para casa agora, milorde - disse o lacaio enquanto detinha seu
cavalo junto à carruagem. - Lady Roslynn está um pouco aborrecida com você.
- O que poderia ter feito eu agora? - perguntou Anthony.
- Ela não o disse. Mas seu marcado sotaque escocês estava presente.
- Não significa isso usualmente que Roslynn está zangada por algo? - comentou
James, seu humor repentinamente parecia ter melhorado.
- Nem sempre - falou entre dentes Anthony. - Mas pode ser.
James era o único que ria agora.
- Acho que me unirei a você para o almoço depois de tudo, querido moço.
Certamente, encontro que estou de repente realmente faminto.
Anthony ignorou a seu irmão e disse a seu condutor que se apressasse para chegar a
casa. Ele não tinha absolutamente nenhuma ideia do que poderia ter contrariado sua
esposa.
Ela foi despedir-se na porta esta manhã com um beijo e a admoestação para que não
voltasse para casa com um nariz ensanguentado, já que sabia para onde se dirigia e com
quem.
Não demorou muito tempo para chegar à casa de cidade em Piccadilly. Anthony
entrou. Ele tinha a esperança de encontrar Roslynn em cima no seu quarto, onde James não
o poderia seguir, mas não teve tanta sorte. Ela estava na sala, diante da chaminé, batendo
ligeiramente seu pé. Seus braços estavam cruzados sobre seu peito. Um brilho bem
definido estava em seus olhos cor avelã. Não estava aborrecida. Estava definitivamente
zangada. Ele gemeu mentalmente.
- Escutarei uma explicação para isto, senhor, e a escutarei agora! Não posso acreditar
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que me guardasse este segredo.
- O que? - perguntou ele cuidadosamente.
Ela se aproximou dele e estampou de um golpe uma folha de papel no centro de seu
peito. Quase não conseguia apanhá-la antes que caísse ao piso. Ele nem sequer pôde dar
uma olhada à nota. Roslynn não temia lhe produzir bolhas nas orelhas.
- Por que não me disse isso, né? - Exigiu ela, com muito grito. - Pensou que não o
entenderia? Vem de família depois de tudo! Depois desse último comentário, ela dirigiu o
olhar para o James. Ele se tinha detido na soleira para apoiar-se contra o marco. Arqueou a
dourada sobrancelha direita a ela, apesar de que isso lhe devia ter ardido.
Disse ao Anthony:
- Lê a maldita nota. Morro por saber do que me está acusando ela.
- A você? Sou eu a quem esta gritando e preferiria ouvi-lo dela. - Ele pôs um braço
ao redor dos ombros de Roslynn e disse meigamente: - Querida, eu não guardo segredos
de você. Do que se trata tudo isto?
Ela encolheu os ombros fora de seu braço, cruzou de novo os dela sobre seu peito, e
o olhou.
Ao que James resmungou:
- Maldito inferno! - E caminhou ao interior do salão para arrancar a nota com força
da mão do Anthony.
- "Mantenha a sua bastarda em casa - leu James em voz alta. - Não a quero aqui
outra vez, para contrariar a minha mãe e trazer de volta memórias de uma filha que é
melhor deixar morta como assim está. Esta assinado Letitia".
Anthony não podia pensar em ninguém conhecido com esse nome.
- Quem?
James encolheu os ombros, não reconhecendo o nome tampouco. Mas Roslynn
obviamente sabia exatamente quem tinha enviado essa nota.
Ela disse zangada:
- Inclusive a trouxe para minha casa e não disse nada a respeito dela! - Então sua
fúria a venceu e ela saiu da sala.
CAPÍTULO 31
- Que é que estou passando por cima aqui? - disse Anthony com incredulidade a seu
irmão enquanto cravava os olhos na porta vazia que sua esposa acabava de atravessar. - A
quem supostamente trouxe para esta casa?
Algo devia ocorrer a James porque começou a rir.
- Eu acredito que ela pensa que Katey Tyler é sua filha. Isso é muito divertido.
- Com um demônio é - grunhiu Anthony. - De onde tirou essa idéia?
- Porque justamente recordei quem é Letitia - quando Anthony revirou os olhos,
James continuou: - Bom Deus, Não sabe que Katey foi ao Gloucestershire para visitar a
família que nunca conheceu? A família de sua mãe?
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- Sim, isso sabia.
- E?
- E o que? - disse Anthony frustrado. - Este não é o momento para que não vá direto
ao ponto.
James volteou seus olhos para o céu raso.
- Mas isso diz tudo, meu querido moço. Até escutei a Judy e ao Jack falando disso.
Por isso Katey foi especificamente ao Havers, porque sua família vive ali. Ninguém lhe
mencionou quem é sua família?
Anthony franziu o cenho.
- Agora que o penso, não, não posso lembrar que o fizessem. Entretanto, sim sei que
foi por isso que convidaram a Katey a passar um tempo em Haverston durante sua visita,
já que sua família vive nas cercanias. Mas não sei muito mais a respeito, e não fui
suficientemente curioso para perguntar porque assumi que sua família devia ser de
americanos que se estabeleceram na vizinhança. Até Roslynn pôde ter pensado que ela me
mencionou sobre os quais estamos falando, James?
- Os Millard.
Anthony se deixou cair em uma cadeira, seu rosto ficou branco. James, vendo sua
nova reação, já não estava divertido.
- Não se atreva a me dizer que tenho uma sobrinha da qual não sabia nada!
- Olhe quem fala! - Devolveu-lhe Anthony o disparo. - Não descobriu a existência do
Jeremy até os dezesseis anos de idade!
- Voltando para ponto - disse James entredentes, logo em um tom mais seco. - É
certo? Soa-lhe o sino agora?
As lembranças foram chegando ao Anthony com acréscimo. Velhos, de faz trinta
anos, prazerosos alguns e outros nem tanto. Era possível. Mais que possível. Poderia ser
tudo coincidência, e ainda assim, seu instinto lhe estava dizendo o contrário.
Fechou seus olhos e rebuscou uma imagem que ele quase tinha esquecido. A
imagem era ambígua, foi há muito tempo, mas os olhos eram como esmeraldas, o cabelo
negro, tão bonito com suas adoráveis covinhas e seus risonhos olhos. Adeline Millard. A
única mulher que em sua juventude o tinha tentado a casar-se. E Katey Tyler tinha esses
olhos, e esse cabelo, até essas covinhas. Oh, Deus!
- O sino está se tornando um pouco ensurdecedor, não é verdade? - disse James
ainda observando-o.
- Como se agora me tivesse batido uma perto de meu ouvido – replicou Anthony
com um pouquinho de temor.
- Espera. Acredito que preciso me sentar. - Fazendo isso, James sarcasticamente
acrescentou: - Muito bem, escutemos quando a surpreendente circunstância de ter a uma
filha já adulta e se esqueceu todos estes anos.
Anthony não lhe deu a típica réplica. Estava muito aniquilado e mais que um pouco
surpreso pelas lembranças de qual podia ter sido o resultado das circunstâncias, que ainda
inundavam em sua mente.
- Deus, não devia ter tido mais de vinte e um anos - disse a seu irmão. - Fui a casa
em Haverston para o Natal nesse ano. Agora que o penso, você também estava ali
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alterando os nervos ao Jason como sempre. Arrasamos Londres juntos.
James encolheu os ombros.
- Sempre o fizemos, até que fui para os mares. E esqueça de me fazer dormir com a
versão longa. Com a curta estará bem.
Anthony lhe dedicou um olhar de desgosto desta vez antes de continuar.
- Não lembro para que fui a Havers nesse dia, provavelmente a comprar algumas
bagatelas de último momento para os jovens. Adeline estava ali fazendo algumas compras
também. Tinha visto as garotas Millard aqui e lá através dos anos quando todos éramos
crianças, mas essa era a primeira vez que tinha visto Adeline já crescida.
James desconsideradamente ergueu essa familiar direita, resmungou ligeiramente,
mas ainda disse secamente:
- Golpeou-te no traseiro, não?
- Poderia-se dizer que sim. Definitivamente me interessei nela e me desfiz em
cumprimentos, se sabe o que quero dizer. Terminei ficando por aí logo depois dos dias de
festa, e em pouco tempo fiquei realmente impactado. Também ela. Até estava pensando...
maldição, não se atreva a rir, James, que até tinha pensado em assentar cabeça com ela,
assim tão agarrado estava. Se não tivesse pensado em matrimônio, nunca me teria deitado
com ela. Era nossa vizinha, depois de tudo.
- Caio na conta.
- Mas depois se foi a uma viagem pela Europa sem me dizer. Não tive aviso ou uma
pista de que tivesse estado planejando essa viagem. E sem nenhum adeus. Não me
importa admitir que fui esmagado. Escutei anos mais tarde que tinha casado com algum
barão na Europa e se estabelecera no estrangeiro, assim ela não ia retornar.
- Uma mentira que a família difundiu para manter os fofoqueiros a distância?
- Obviamente.
- Então me explique isto: por que simplesmente não o amarraram se souberam que
era o pai de sua criança? Essa é uma razão muito boa para casar-se. Jason teria exigido isso
se tivesse sido informado. Sabe como é ele. E você e ela aparentemente queriam casar-se.
Não chego a compreender.
Tampouco Anthony, exceto por...
- Eles nunca me abriram a porta de sua casa de par em par.
Pelo que James bufou ruidosamente.
- É um Malory. É um partido de primeira.
Anthony ergueu uma sobrancelha desta vez.
- Sua memória está falhando, velho? Você e eu tínhamos começado a causar
escândalos antes desse Natal, e Jason já havia comocionado a toneladas também quando
nomeou a seu bastardo como seu legítimo herdeiro. Talvez não o tenha notado, ou
simplesmente não se importou, o que foi bem o caso, mas já estávamos começando a ter o
desprezo dos mais dissimulados de Londres.
- Os Millards o desprezaram?
- Não era tão mau. Digamos que os pais do Adeline me toleravam, mas era óbvio
que teriam preferido que não estivesse cortejando a sua filha mais nova. Até tinha a
impressão que me levavam a corrente, que estavam seguros de que perderia interesse e
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que repensaria de retorno a Londres. Até puderam ter pensado que estava brincando com
o Adeline, mas porque era um Malory e também um vizinho, não me fecharam a porta.
Letitia, por outro lado, tinha muito patente a aversão que tinha por mim e nunca tentou
escondê-la.
- Assim agora se lembra?
- Muito claramente - disse Anthony com um suspiro. - Para pô-lo suavemente, ela
era uma cadela fria.
James sorriu abertamente.
- Chama a isso suave?
- Exatamente meu ponto, fria quando um glacial. Cada vez que visitava o Adeline,
tinha que lutar com os mordazes comentários de sua irmã. Era um autêntico rancor o que
tinha, como se pessoalmente a tivesse insultado.
- Fez isso?
- Claro que não. Estava na flor do primeiro amor, James. Era infelizmente muito
amável com todo mundo! Tinha pensado que era porque ela ainda não se casara, e era ao
menos seis anos mais velha que Adeline.
- Ah, perdeu o bote, não? Assim era meramente a amargura de uma solteirona
derramando-se no apaixonado por sua irmã mais nova?
- Como disse, isso era o que eu tinha pensado, porque ela não era irritante com
outros, só comigo. E tive ocasião para observá-la ao redor de outras pessoas. Podia ser
igualmente doce como Adeline. Bem, isso é um exagero. Ela não era tão doce, mas entende
ao que digo...
- Pois bem, nada disso importa, além de explicar por que jogou tão sujo com essa
nota que enviou. Assim qual é sua conclusão? É tua Katey?
Anthony fechou seus olhos outra vez com esse pensamento. Ainda estava tendo
problemas acreditando que poderia ter a uma filha já adulta.
- Tem a idade adequada para ser minha. Até uma leve semelhança com Adeline,
entretanto não o suficiente para havê-lo notado imediatamente. Mas também tem seus
olhos, seu cabelo, e até suas covinhas.
- Por que detecto um "mas" em seu tom?
- Nada disto é concludente. Tem que estar de acordo em que simplesmente poderia
ser coincidência.
James assentiu com a cabeça, mas acrescentou:
- Não é coincidência que Adeline seja a mãe da Katey.
- Não, isso também. Mas não sabemos a idade exata de Katey, não é verdade? Ela
teria que ter vinte e dois para que eu seja seu pai. E Katey disse à Judy que sua mãe fugiu
com o americano Tyler e que por isso foi repudiada pela família de sua mãe. Ainda assim,
quando ela conheceu a esse americano? Todo esse tempo esteve referindo-se comigo!
- Se Katey tiver vinte e dois, diria que há uma mentira nesta história em alguma
parte. Mas se não for assim, inferno, Adeline pôde ter retornado da Europa antes, pôde ter
conhecido ao americano, escapou precipitadamente com ele, ficou grávida no navio que os
levava a América, tudo sem que você percebesse, já que então tinha retornado a Londres. E
a mesma Katey diz que Tyler é seu pai. É só Letitia Millard quem diz que você o é.
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- Mas Letitia estaria em posição de saber, não é assim? - Assinalou Anthony. - E o
que Katey acredita que é verdade, é meramente o que Adeline lhe disse. Não é pouco
comum que uma mãe tendo um filho fora do matrimônio esconda esse fato vergonhoso à
criança. Molly é um exemplo de primeira. Recusou-se todos esses anos a permitir que
Jason diga a seu filho que ela é sua mãe.
- Detecto uma nota esperançosa ali?
Anthony se ruborizou ligeiramente. Algo da impressão tinha desaparecido, e não
podia negar esse temor e, sim, até de deleite estava tomando seu lugar. Se uma filha
inesperada tivesse que aparecer em sua soleira, não podia ter pedido uma mais agradável.
A garota era valente, tinha coragem, e ela já se havia feito querer por mesma em sua
família. Incrivelmente, percebeu que ele se orgulharia de reclamar a Katey Tyler como sua
filha.
A seu irmão, disse:
- Judy estaria emocionada. Tomou Katey como se fossem...
- Irmãs? - Interrompeu-o James com uma gargalhada. - Sinto muito, velho, mas não
se reclama a uma filha que não é sua só para emocionar a que é.
Anthony se afundou um pouco em seu assento com um suspiro.
- Sei. Isto me tomou realmente de surpresa, sabe? Ainda não posso pensar com
clareza.
- Quando o faz alguma vez?
Anthony ignorou o aguilhão para acrescentar.
- Se Adeline me houvesse dito isso, não? Digo, por que não o faria? Pôde ter ido a
mim em qualquer momento. Estava-me ficando em Haverston. Era muito acessível.
- Não vai ter suas respostas a menos que visite mesmo aos Millards. Dá-se conta
disso?
- Sim.
- E você provavelmente terá que obter deles os fatos à força. Não vão lhe dar as
boas-vindas.
- Dou-me conta disso, também.
- Bom, também tenha isto em mente. Isto pode ser um engano que inventou Letitia,
por alguma razão. Admite que ela não gostava, irracionalmente. Katey apareceu, lhe
dando o meio para uma pequena vingança.
- Vingança?
- Exatamente. Como se sentiria se aceitar a Katey, acreditando que é tua, para amá-
la, e logo depois de vários anos Letitia atira a bomba de que mentiu, que a jovenzinha não
é nada sua.
Anthony revirou seus olhos.
- Isso é um pouco inverossímil, mas entendo o ponto. Ainda não tenho nem idéia
por que Letitia me despreza, mas não somente tomarei sua palavra nisto. Oliver Millard
está morto, mas a mãe de Adeline ainda está viva. Irei diretamente a ela.
-Se o deixam entrar pela porta. Sabe, Katey nunca o disse, mas considerando como é
Letitia, arriscar-me-ia a supor que ela não teve uma visita cordial com estes seus parentes.
E tinha uma pressa dilaceradora para deixar a Inglaterra, tanto que estava disposta a
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deixar passar a ianque liberado da responsabilidade de sua culpabilidade alugando seu
navio. Mais provavelmente para deixar atrás dela essa reunião desagradável.
Anthony saiu disparado de seu assento ofegando. A menção de Boyd lhe lembrou
sua última conversa com ele. Oh, bom Deus, realmente não tinha aconselhado ao
Anderson que seduzisse sua própria filha, não é verdade?
James, adivinhando exatamente o que Anthony estava pensando pelo olhar
assassino que tinha posto, razoavelmente começou:
- Agora espera um minuto, Tony.
Não havia lugar para a razão na mente do Anthony logo depois disso. Interrompeu-
o.
- Se ele já a seduziu, vou ter que matá-lo.
- Falamos do irmão de George aqui - lembrou-lhe James.
- Não, falamos de minha filha.
- Uma filha da qual apenas acaba de se inteirar que é sua. Se é que é. Assim que o
moço a cobiça. Por que não o faria? Ela é uma jovenzinha bonita. Se consegue ter sorte,
tudo o que terá que fazer é casar-se com ela. Até você mesmo disse que seria um bom
marido, como lembrará.
- Não, você disse isso, não eu. E sabe malditamente bem que vou ter que matá-lo se
põe uma mão inapropriadamente nela.
James suspirou. Sabia isso. Tinha-lhe dado os argumentos que pôde meramente em
bem-estar de sua esposa, mas o fato era, que se Katey resultasse ser sua sobrinha, teria
razão para ajudar ao Anthony a matar ao ianque.
CAPÍTULO 32
- Sente-se melhor? - Tyrus pôs a cabeça pela porta para lhe perguntar.
- Deus, não.
Boyd não levantou sua cabeça do travesseiro para dizê-lo. Nem sequer abriu os
olhos. Qualquer tipo de movimento de tudo anormal apressava outra louca corrida para o
urinol. Seu enjôo não levava em conta que seu estômago já estava vazio.
- Quando foi a última vez que comeu?
- Antes de que deixássemos Cartagena.
Tyrus suspirou com compaixão já que isso foi quase há dois dias.
- Vai matar-se de fome durante esta viagem. Não posso acreditar que até tenha
sugerido o Mediterrâneo, onde vai querer tocar um porto cada certo tempo. Qual era o
ponto em que viesse você também, quando sabia que terminaria passando a maior parte
da viagem doente na cama?
Boyd sabia isso muito bem. Para arrumar as coisas com a Katey, ele ia ter que passar
uma e outra vez, quando tinha pensado pôr fim a este tipo de sofrimento tocando terra por
si mesmo. Não era que não estivesse acostumado a esta enfermidade. Estava lutando com
ela desde os quinze anos. Sorrir e suportar foi sua perspectiva usual. Mas justamente não
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teve em conta ter a bordo a uma mulher com a qual queria passar cada minuto.
- Necessito de ajuda, Tyrus, não de crítica.
- Quer que te consiga um dos remédios da Philips para te pôr fora de combate até
que toquemos porto outra vez?
Deveria. O doutor do "Oceanus" fará uma beberagem potente que o podia pôr a
dormir por umas boas dez horas seja que ele estivesse cansado ou não. O navio poderia ser
vítima de uma explosão de canhões e ele não saberia. E a bebida nem sequer sabia
asquerosa quando a maioria dos remédios tendiam a ser. Entretanto, ele não ia dormir
durante esta viagem ou, como Tyrus havia dito, bem podia ter ficado na Inglaterra. Esta
era sua oportunidade de conquistar Katey, e ele ia fazer o impossível para obtê-lo. Se
pudesse tirar seu traseiro da cama.
- Não quis dizer esse tipo de ajuda - disse Boyd. - Sou sincero com ela. Quero me
casar com ela. Mas cometi uma terrível falta tratando-a quando a um criminoso. Não posso
cortejá-la apropriadamente por causa disso. interpõe-se totalmente entre nós.
Tinha contado ao Tyrus sobre o incidente em Northampton. Estiveram navegando
juntos por mais de sete anos. Navegavam para algum porto logo depois de uma longa
viagem e já estavam livres de encontrar juntos a taverna mais próxima. Tyrus era
provavelmente o amigo mais próximo que Boyd tinha além de seus irmãos.
- Esquece sua confissão? - Lembrou-lhe Tyrus. - Que ela realmente está casada?
Boyd bufou.
- Perdeu justamente a parte em que se contradisse logo no dia seguinte. E se via
infelizmente culpado quando admitiu que nos mentiu.
- Qual mentira? Estou perdendo o fio.
- Não está casada, Tyrus. Enquanto ela estava na Inglaterra, disse a minha família
que não o estava, que só pretendeu estar assim para que os homens mantivessem as
distâncias com ela. Era um ardil que funcionou extraordinariamente bem no "Oceanus", se
o lembra.
- Lembro que ela o tinha tão amarrado que nós não podíamos falar com você,
ninguém podia, sem terminar com nossas cabeças destroçadas. Não me incomoda admitir
que tinha medo de que durante esta viagem passasse o mesmo.
- Há uma grande diferença entre acreditar que ela não está disponível e saber que
ela na verdade o está. Sei infelizmente bem que sua confissão do outro dia é certa.
- Quer dizer que é a que você mesmo quer acreditar - respondeu Tyrus ceticamente.
Havia um pouco disso, mas ele estava a par de suas táticas agora, simplesmente
porque eram muito óbvias. Deliberadamente da parte dela? Um ponto sutil, melhor
dizendo, não tão sutil que o que estava fazendo? Ou ela realmente pensava que ainda
podia tomá-lo por tolo, depois do beijo que compartilharam?
Deus, isso foi doce, finalmente saboreá-la, tocá-la, tê-la entre seus braços. Seu desejo
passara através do teto, mas ele tinha conseguido mantê-lo debaixo do controle para não
assustá-la. Não tinha a menor ideia de como o controlou, de tanto que a desejava.
Mas ela o havia comovido com seu comentário a respeito de estar casada,
imediatamente depois desse beijo. Definitivamente isso foi um jorro de água fria. Ele não
soube no que acreditar. E passara o resto do dia meditando sobre isso em sua cabine. E
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logo ela se aproximou na manhã seguinte na coberta.
- Tenho que fazer uma confissão - havia-lhe dito ela, com o olhar fixo em seus pés
em lugar de olhá-lo. - Menti.
Ele tinha tentado não grunhir.
- Esquecida? Fez essa confissão ontem à noite.
Ela ainda não o olhava.
- Essa é a mentira de que falo. Realmente, nunca estive casada.
- Então por que...?
- Não deveria me ter beijado - havia-lhe dito ela afetadamente. - Isso não é parte de
nosso acordo de renda.
E então entendeu, vagamente, o que tinha incitado a mentira. E uma vez mais, lhe
deu muito gosto não zangar-se com ela. Embora estivesse um pouquinho aborrecido,
também. Ela não podia continuar sacudindo suas cordas desse modo. Mas Katey não ficou
ali para discuti-lo. Com as faces rosadas de vergonha, saiu correndo.
A seu amigo disse:
- Ela mudou essa história três vezes desde que nos fizemos ao mar, assim não é
justamente otimismo de minha parte.
- Três? - disse Tyrus sufocado.
- Isso ainda sem contar as primeiras duas vezes anteriores a esta viagem. Assim se a
apanho em um apropriado estado de ânimo, um onde ela atualmente não tenha um
"marido" e a arrasto diante de você para que nos case, não faça perguntas. Simplesmente
faça-o.
- O que quer dizer com apropriado? - perguntou Tyrus desconfiado. - Dir-lhe-ei isso
agora mesmo, amigo, não casarei a ninguém que não esteja corretamente vestido.
Boyd na verdade riu.
- Não quis dizer diretamente me deitar com ela, entretanto, isso seria quase tão
apropriado como venho, não?
- Então o que quis dizer?
Boyd demorou um momento para ver se podia explicar quando saberia quando
seria o momento indicado. Não teve dificuldade reconhecendo-o em Cartagena.
Passaram dois dias nesse antigo porto marítimo, ali havia tanto para ver, e Boyd se
ofereceu para escoltar Katey e sua criada nas excursões através dos velhos foros romanos,
o pouco que tinha ficado do castelo na colina, e o anfiteatro romano onde os gladiadores
uma vez tinham provado suas habilidades e morreram, ou partiam pra brigar em outras
areias com o passar do extenso Império Romano. Não ficava muito dessas ruínas antigas
desde que construíram casinhas que estavam sendo confiscadas para construir sobre elas
novos edifícios, mas ficava suficiente para que Katey tomasse um pouco o sabor da área
que queria. Cartagena passara por muitas mãos durante os séculos, e a maior parte delas
deixaram suas marcas. Tudo pelo qual, tinha Katey em um encantado estado de ânimo. No
temor, borbulhante de excitação, na verdade estava tratando-o como um amigo em lugar
de seu pior inimigo.
Esquecida? Essa era provavelmente tudo o que era, a fácil camaradagem, até isso lhe
tinha permitido aproximar-se dela outra vez. E quando se aproximou muito, fez ela
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ruborizar. E quando se ruborizou, soube que a afetava tanto que tinha que sustentar "um
marido" como uma espada para fazê-lo retroceder. Ela fez exatamente isso novamente,
antes que deixassem Cartagena.
Disse a Tyrus.
- Já sabe que tem essa grande agenda para ver o mundo, e é uma esplêndida meta,
por isso, pôs na cabeça que o matrimônio não pode ser parte dessa agenda. E até sei que
ela não é imune a mim. Mais que nada, dá-me a impressão de que tem medo que sua
viagem se termine se me deixa entrar em seu coração.
- Exceto quem melhor para casar-se que um homem com um navio que a pode levar
em qualquer lugar que ela queira ir?
- Exatamente.
Tyrus riu abafadamente.
- Que péssima ironia, quer assentar cabeça em terra com uma mulher que quer
navegar ao redor do mundo.
- Sei.
- Ainda assim a quer?
- Absolutamente. E se isso significa não me retirar do mar, que assim seja.
- Ela sabe o que o mar lhe provoca? - perguntou Tyrus cuidadosamente.
- Não, nem tampouco saberá. Minha família não sabe. É o único que sabe.
- Saberá se conseguir se casar com ela antes de que termine esta viagem. Será fácil de
adivinhar se lhe vomita em cima na cama.
- Tyrus não é divertido. Mas assegurarei a ela que isso não terminará com sua
viagem ao redor do mundo.
- Não seja pesado, homem. Se ela amá-lo, terminará por seu bem. E logo o terá
sempre em sua cabeça, o arrependimento de que renunciou a suas metas por ti. A
amargura aparecerá, depois ressentimento, e depois...
Boyd se sentou.
- Quando se converteu em tão condenado juiz cheio de calamidades?
Tyrus encolheu os ombros.
- Simplesmente estava assinalando algumas possibilidades muito reais que
poderiam aparecer mais tarde.
- Bem, não o faça. Ela não sabe que eu estava preparado para abandonar o mar,
tampouco nunca precisará saber isso. Sabe que sempre naveguei com meu navio.
Suficiente. Arrumei-me isso para suportá-lo a metade de minha vida. Acredito que me
posso arrumar isso por alguns anos mais para que ela possa ter seu tour pelo mundo.
Como Boyd não fez uma corrida para o urinol com seu abrupto movimento, Tyrus
levantou uma sobrancelha.
- O enjôo o deixou um pouco cedo desta vez?
Deste sim parecia haver-se ido.
- No momento.
- Bom, ela perguntou por você ontem, em ambos, almoço e jantar. Ser evasivo em
minhas respostas não me faz sentir bem. Precisa idealizar uma razão para ela, do porquê
não se reúne a nós nas comidas se não quiser confessar a verdadeira razão.
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- Está brincando, não é? Que razão possível poderia haver para evitá-la quando ela
sabe que a quero? Inferno, quero passar cada minuto com ela. De fato, o que realmente
preciso é algum tempo a sós com ela, sem interrupções, onde possamos chegar a nos
conhecer melhor e para que não saia correndo cada vez que me aproximo um pouquinho
mais perto de suas emoções.
Tyrus riu abafadamente.
- É uma lástima que não possam naufragar juntos em alguma ilha deserta. Não
poderia ter mais privacidade que isso.
Boyd bufou.
- Não afundarei meu navio simplesmente para...
Nem sequer terminou. De fato, o que acaba de ocorrer lhe era extravagante e mais
que uma pequena estupidez, mas o fascinou, o que deve ter aparecido em sua expressão.
Tyrus, adivinhando seus pensamentos, exclamou:
- Simplesmente me dê um maldito minuto! Não vou afundar deste navio justamente
para que possa cortejar a sua dama!
- Não há nenhuma ilha deserta nesta área, não é verdade? - respondeu Boyd
pensativamente.
- Ouviu-me? Não vamos fazer naufragar o "Oceanus"!
CAPÍTULO 33
Katey despertou com uma amável, e balsâmica brisa acariciando suas faces.
Motivava-a a espreguiçar-se ostensivamente antes de que ainda abrisse os olhos, mas se
interrompeu abruptamente quando sentiu que sua camisola úmida se grudava a sua pele.
Umidade? Como se ela o tivesse molhado em um suor febril, ou o tivesse posto antes de
que estivesse completamente seca depois de lavá-la, nenhuma das
Confundida, abriu seus olhos para encontrar a Boyd inclinando-se sobre ela, uma
palmeira atrás dele, as folhagens movendo-se brandamente pela amável brisa. Um sonho
então? Bem, o mesmo podia desfrutá-lo se isso era tudo o que era!
Devolveu-lhe o sorriso. Ele parecia surpreso ante isso, mas só por um segundo.
Esperou que ele a beijasse. Deste não era um de seus sonhos onde ela podia controlar suas
ações e fazer que a beijasse. Tinha que tomar o que ela podia obter de um sonho tão
realista. Mas ele deve ter visto o desejo em seus olhos. Começou a inclinar-se mais perto
dela. Excitada pela antecipação tinha já a seu estômago revoando sensualmente. Sua boca
quase tocava a sua.
O grito de um pássaro a sobressaltou. Boyd lançou um olhar para o som atrás dela.
Virou sua cabeça para olhar na mesma direção. Ela não viu um pássaro. Embora
surpreendida, portanto verdor à beira de uma praia antiga, elevados pinheiros mesclados
com palmeiras de vários tamanhos, espalhados aqui e lá, árvores com flores..
Era irônico que ela pusesse deste sabor tropical em seu sonho. Simplesmente há
alguns dias Boyd lhe tinha perguntado quanto sabia ela do Mediterrâneo, e teve que
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admitir que nada de nada.
- Meu tutor, embora bastante brilhante, não tinha um rico material com o qual
trabalhar - havia-lhe dito ela. - No máximo tinha um velho mapa do mundo que inclusive
não era moderno. Iniciou minha curiosidade sobre o mundo, mas sem desenhos não pude
visualizar nada disso, pelo que sempre quis vê-lo por mim mesma.
E justamente no dia anterior Boyd sugeriu se tomassem um dia de descanso para
desfrutar de uma praia em uma das ilhas da área, só eles dois. Ele o fez soar inocente. E
teria sido uma coisa divertida de fazer! Até lhe havia dito que o pensasse, que não
respondesse imediatamente. Mas não havia nada no que pensar e lhe havia dito não. Não
era que não confiasse em suas paixões, começava a desconfiar nas dela. Mas isso não disse
a ele!
Fantasiava com este homem constantemente. Não tinha nenhuma dúvida sobre
quanto o desejava. Mas não havia nenhuma dúvida tampouco de que ele terminaria sua
viagem se cedesse. E a luxúria, que era o que o motivava, não era suficiente base para o
matrimônio. Seria um benefício agradável, mas o amor tinha que estar lá primeiro.
Mas a atmosfera tropical da Cartagena, a qual visitaram recentemente, assim
quando sua sugestão de uma excursão em uma praia, estavam ambos ainda frescos em sua
mente, e assim não a surpreendia nada que seu sonho estivesse cheio dos mesmos
trópicos.
Ela voltou a olhar a Boyd. Esta vez lhe sorria, um sorriso afetuoso, íntimo, como se
acabassem de compartilhar algo. O intenso momento sensual quando ele estava a ponto de
beijá-la não estava ali ainda. Este era um momento mais depravado, igualmente
agradável, mas não tão intenso. Permitia a intrusão de outras coisas, o som de um fogo
crepitando perto, o aroma de pescado.
Que estranho que isso se introduzira em seu sonho! Espera, cheirar coisas em um
sonho?
Katey ficou em pé tão rapidamente que tropeçou e afastando-se mais enquanto
olhava loucamente ao redor dela. Estava descalça, seus dedos afundados na amável areia.
Estava em sua camisola e estava úmida. Seu cabelo estava solto e flutuava ao redor dela, e
também estava úmido, como se tivesse nadado até a margem. Estava em uma praia vazia
sem um navio ancorado perto, nenhum navio se via no horizonte, nada mais que águas
azuis intermináveis até onde ela podia ver.
E Boyd estava ali descansando a seu lado na areia debaixo de várias palmeiras,
levando vestidas simplesmente suas calças e uma camisa com mangas longas branca
aberta pela metade no meio do peito. Apoiava-se sobre seu cotovelo enquanto olhava
preocupado a expressão dela.
Um pequeno fogo estava aceso perto dele, um peixe assando-se em um pau que
tinha confeccionado em cima dele. Era tão pacífico, um lugar idílio, ainda assim o horror
que encheu sua mente a deixou gelada de temor.
- Meu Deus, seu navio se afundou? - Perguntou-lhe ela sem fôlego. - Sobreviveu
alguém mais? Grace? Oh não, não!
Ele saltou imediatamente ficando em pé e a agarrou pelos ombros.
- Katey, pare! O navio está bem. Todo mundo a bordo está bem!
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Ela o olhou com os olhos muito abertos, esperando acreditar nele, mas como poderia
ela?
- Não tente me dizer que estou sonhando. Os sonhos não são reais como isto.
- Não, claro que não.
- Então como é que estamos aqui? E por que não posso lembrar quando cheguei
aqui?
- Porque caminhou adormecida até aqui. - Os olhos dela se estreitaram, mas antes
que ela pudesse bufar de incredulidade, ele acrescentou: - Alguma vez caminhou
adormecida?
- Fazer o que?
- Sair da cama, e passear por ali em sonhos.
- Não seja absurdo.
- Então talvez estivesse a caminho para me encontrar? Estava em camisola fora na
coberta, e esse foi meu primeiro pensamento de esperança.
- Não comece - advertiu-lhe ela.
Ele encolheu os ombros, mas ela podia distinguir que ele tentava não rir, e não deu
mais explicações.
- Bebeu muito durante o jantar então? Sei que eu mesmo bebi muito, mas também
notei que estava fazendo um bom trabalho em esvaziar aquela garrafa de vinho que estava
na mesa junto a você. Acho que Tyrus encomendou duas garrafas extras ontem à noite
porque terminávamos elas tão rapidamente.
Ele estava no jantar, para variar. Usualmente não foi. Mas na última noite tinha
estado presente, e uma animada conversa entre o capitão e ele a tinha perturbado bastante
para que ela tivesse inclinado a garrafa em seu copo mais do que deveria. Entretanto, não
lembrava tê-la terminado, tampouco ter se embebedado, ainda assim como saberia se
estava bêbada se nunca antes o estava!
- Não costumo tomar vinho no jantar - admitiu ela. - Mas não padeceria algum tipo
de efeito secundário se tivesse tomado muito? Lembro a meu papai gemendo
horrendamente uma manhã depois de beber muito na noite anterior.
- A cabeça não te dói?
- Não.
Pelo menos agora não. Mas não o disse em voz alta, já que o breve pânico que havia
sentido quando se jogou a seus pés minutos antes o atribuiu a que só se levantara muito
rápido. E já se foi.
Ele encolheu os ombros.
- Talvez simplesmente tenha uma alta tolerância ao álcool? Algumas pessoas a têm.
Podem beber barris dessas coisas e despertar sem sentirem-se diferentes de qualquer outro
dia.
- Se o fiz ou não, estou certa de que não fui para a cama bêbada. - Ela se desaprovou
a se mesma por soar tão estendida a respeito.
- Lembra-se de ter ido à cama então?
- Sim, é claro - respondeu ela, mas em realidade, não se lembrava.
Preparar-se para ir dormir era uma mera rotina de todas as noites. Com nada fora do
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normal que ocorresse para representá-lo em sua mente, quando se supunha que tinha que
lembrar? E agora mesmo estava tendo dificuldades para pensar claramente em algo.
- A coberta estava escura, Katey. Na verdade não podia vê-la claramente. Podia ter
estado ferida, podia ter estado procurando ajuda. Supus que podia estar em estado de
choque. Teve um acidente?
Ela moveu suas extremidades brevemente.
- Não, nada me dói. Sinto-me bem.
- Então provavelmente era minha segunda hipótese, sonambulismo.
Ela suspirou.
- Estou lhe dizendo que isso é algo que não faço.
- Como saberia se fizer suas caminhadas e logo volta para a cama, tudo sem
despertar ?
- Alguém me teria dito, me teria visto, se for algo que sou propensa a fazer.
- Não se nunca foi longe.
- Tem que haver uma melhor explicação que essa, Boyd - disse ela, um pouco
exasperada. - Até sugerir que caminho por...
- Espera. - Ele riu. - Agora posso me dar conta porque tem problemas para acreditar
nisto. Não, isso não foi o que fez. Mas apareceu no convés ontem à noite. Certamente não
imaginei isso. Tripulava a roda. Faço isso frequentemente, passando a noite no leme. E
sim, duvidei de meus olhos, estava tão assombrado de vê-la caminhando lentamente pela
coberta em camisola. Atei o leme, mas antes de chegar a você, caiu a um lado! Não havia
tempo de pedir auxílio. Estava aterrorizado de que se afogasse imediatamente se não me
submergisse atrás de você.
- Salvou-me? - Ela ficou sem fôlego, com os olhos abertos de assombro ante essa
realização.
Ele não respondeu a isso diretamente, mas disse simplesmente:
- Tinha acreditado que ao bater contra a água teria despertado, mas incrivelmente,
não o fez. Na verdade, se batesse contra a água o suficientemente forte, poderia desmaiar.
Vi acontecer isso antes. Mas qualquer que fosse o caso, meu pior medo não se fez
realidade.
- Qual?
- Que tivesse afundado imediatamente e não encontrá-la nas profundidades escuras.
Mas não foi assim. Entretanto, quando a alcancei, o navio estava já a uma boa distância.
Era bastante desconcertante, observá-lo navegar adiante sem nós.
Katey podia supô-lo. Não, não podia. Ainda estava passando um momento difícil
acreditando em tudo isto. Ele a levou para um pouco de sombra que havia debaixo de uma
palmeira.
-Sente-se. Tranquilize-se. É cedo pela manhã. Tyrus terá notado que faltamos.
Provavelmente nos encontrarão hoje antes do meio-dia.
Ela ainda estava muito desconcertada para tomar seu conselho. Que se
tranquilizasse? Estava brincando? Outro olhar ao redor deles lhe mostrou simplesmente
que tão solitária era essa parte da praia, sem um único sinal de vida. E ele estava total e
muito despreocupado por sua situação. Por todos os santos pareciam ter naufragado!
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Esse pensamento lhe fez lembrar imediatamente seu principal temor.
- O navio não teria chocado, não é? - perguntou ela ansiosamente. - Sem alguém
guiando e ninguém mais na coberta ainda para notar se se dirigia para encalhar?
Sorriu-lhe.
- Não, supunha-se que deviam me relevar ontem à noite. E se estava dirigindo
diretamente em curso afastando-se da ilha.
- Então nos estiveram procurando no meio da noite?
- Possivelmente. Langtry, quem deveu me relevar, poderia ter pensado que deixei a
coberta meros minutos antes de que ele chegasse, entretanto, ainda assim, quando disse,
não se terão dado conta que faltamos até esta manhã. Ou puderam ter dado a volta ontem
à noite. De uma ou outra maneira, não demorará. Tyrus conhece bem estas águas. Ele não
descansará até que haja tornado a traçar o curso do navio para nos encontrar.
- A menos que ele pense que nos afogamos - predisse ela, exausta emocionalmente.
- Ele terá sua luneta dirigida para as águas também.
- Ele me deu sua luneta.
Boyd estava tentando não sorrir outra vez, ela estava segura, então ele respondeu
ligeiramente:
- Não pensará realmente que essa é sua única luneta, não é assim, ou que não há
uma boa dúzia delas no navio?
Ela podia dizer que agora lhe estava levando a corrente. Não a incomodou. Em
realidade teve o efeito oposto quando assinalou que ela provavelmente estava sendo idiota
com seus medos. Não se afogaram. Ele os tinha levado a terra. Estariam de retorno no
navio antes que escurecesse. Nada pelo que preocupar-se.
Ela se sentou na areia outra vez. Tentou ser comedida a respeito, mas lhe custou
bastante trabalho fazê-lo em camisola. Ele se reuniu, sentando-se com as pernas cruzadas
junto a ela. Seus pés estavam tão nus quando os dela, embora notasse que seus sapatos
estavam secos perto do sol. Ao menos ele ainda tinha seus sapatos, embora deva ter sido
difícil, nadar com sapatos em...
- A propósito - disse ele pouco cerimoniosamente e com um leve sorriso torcido. -
Está casada hoje... ou não?
CAPÍTULO 34
- Está casada hoje, ou não?
Katey não respondeu imediatamente a Boyd e manteve seus olhos diretamente nas
ondas suaves ondulando-se para a borda. Não estava segura de tudo se queria responder.
Ele fez a pergunta como se fosse uma brincadeira, e assim era provavelmente como o via
ele agora. O que era culpa dela. Simplesmente devia ter mantido sua posição.
Ele tinha acreditado em sua mentira a respeito de estar casada aquela tarde na
cabine do capitão, depois que se beijaram. Até pareceu quando se a estivesse evitando por
causa disso, quando ele faltou ao jantar com ela nessa noite.
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Perversamente, a próxima vez que o viu, confessou, novamente, que não estava
realmente casada. Um grande engano, deste, especialmente quando terminou mudando de
tom uma vez mais antes que deixassem Cartagena. O homem às vezes a podia inquietar
mais da conta. Tinha afirmado que ele não podia pensar claramente em presença dela? Ela
parecia ter o mesmo problema nesses dias!
- me deixe dizer isso com outras palavras - disse ele durante o longo silêncio. - Por
que não se casou? Certamente tem a idade suficiente. De fato, se converterá em uma
solteirona antes do tempo.
Percorreu-o com o olhar, a tempo para vê-lo derramar areia de seu punho em cima
da mão dela, a qual já estava meio enterrada na areia, já que estava apoiada sobre esta. Seu
tolo comentário, e a areia, tinham-na em um irresistível estado de humor agradável.
- Uma solteirona, né?
- Absolutamente. Nesta luz brilhante, já posso ver algumas rugas. - Ela riu. Ele
sorriu abertamente. Mas logo ele acrescentou: - Então por que não está?
Ela encolheu os ombros.
- Quase o fiz. Antes de partir de casa, estava desesperada para que algo novo
ocorresse em minha vida. E fui procurando a cada solteiro em Gardener, três deles. Dois
eram suficientemente velhos para ser meu pai. O terceiro poderia ter sido meu avô de tão
ancião. Pode entender por que declinei.
- Não posso acreditar que só tivesse ofertas de homens velhos.
- Acredita-o. Gardener era um povoado moribundo. Todos os jovens se foram.
- Seus pais não lhe deram outras opções? Sem dúvida alguma não esperariam que
encontrasse um marido em meio de tão limitados prospectos?
- Meu pai morreu há muito tempo. Minha mãe frequentemente falava de uma
prolongada viagem a uma das grandes cidades ao longo da costa, talvez até Nova Iorque,
mas nunca chegamos a concretizar, e depois ela também morreu.
- Lamento-o.
- Também eu - respondeu Katey tenuemente, voltando seu olhar novamente para as
ondas próximas.
Ele deixou cair rapidamente dois punhados mais de areia sobre sua mão antes de
sua próxima pergunta, quando se tivesse que tomar coragem para perguntar.
- Assim planeja casar-se algum dia?
- Sim, talvez antes que termine minha viagem. Seria excitante casar-se com um
príncipe persa, não acha? Se for suficientemente afortunada em conhecer um, esse seria o
escolhido. Ou talvez terminarei em um harém. Escutei a respeito de tais coisas exóticas, e
meu matrimônio terá que ser extraordinário, ao menos muito excitante. Não me
estabeleceria por menos que isso já que minha vida antes desta viagem não foi mais que
aborrecida.
- Um harém? - disse ele sufocado. - Está brincando não é verdade?
Olhou-o às escondidas entrevendo um sorriso. Realmente se via horrorizado. Deu-
lhe vontade de dar uma palmada nas costas. Ela não tinha perdido sua habilidade.
- Claro que sim.
Ele derramou mais areia sobre sua mão antes que dissesse:
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- Não estaria interessada em ter um excitante romance com o proprietário de um
navio?
A imagem chegou muito velozmente a sua mente, deles dois deitados em uma cama,
com seus corpos entrelaçados, beijando-se apaixonadamente. Ela piscou afastando-a. Pelo
menos não tinha mencionado o matrimônio, pelo qual ela tinha pensado que ele poderia
estar preparando o terreno. Não queria sentar-se ali todo o dia sentindo-se zangada com
ele por acossá-la com algo que não ia ocorrer. O presente estado de ânimo era muito
cordial. Não queria que terminasse abruptamente.
Assim ela continuou no mesmo tom brincalhão.
- Suponho que poderia ser debaixo das circunstâncias corretas, quando durante uma
terrível tormenta no mar onde o navio poderia afundar-se, ou... bem, você entende a idéia.
- Tratarei e obterei por meio da persistência uma tormenta para você - disse ele.
Ela riu, encantada de que lhe seguisse o jogo. A vida era muito curta para a
seriedade que ele trazia para a mesa.
É óbvio, que sua alta paixão, a qual ele tinha mencionado mais de uma vez com
respeito a ela, sem dúvida explicava algo dessa seriedade. Mas dificilmente podia culpar
ao homem por sentir-se excessivamente atraído quando tinha o mesmo problema desde a
primeira vez que o tinha conhecido. Desejaria que ele pudesse controlá-lo um pouco
melhor, mas não era algo pelo qual pendurá-lo.
Sugerindo matrimônio, entretanto, só para solucionar seu problema, era absurdo.
Por isso valia a pena pendurá-lo. Só idéia! Nenhum romance complicado, nem um
pouquinho de corte de sua parte. Bom Deus, só compartilharam um beijo juntos, e isso foi
depois dele se declarar!... Esses beijos com os que ela tinha fantasiado não contavam.
Mas tratou de continuar no mesmo humor leve, e ficando com o olhar fixo na praia
com nada mais a sua vista que a folhagem exuberante, lhe disse:
- Quando ordenar essa tormenta, que tal se ordenar uma carruagem, também. Ou
crie acha estamos suficientemente perto de um povoado para caminhar?
- Não parece ter muita confiança em Tyrus - admoestou-a ele.
- Era somente um pensamento. Mas estamos em algum lado da costa espanhola,
não?
Ele negou com a cabeça.
- Não a menos que pense seriamente me colocar na água. Esta deve ser uma das
Ilhas Balear. Passamos por elas ontem à noite justo antes que aparecesse na coberta, assim
sei em que direção nadar para lá. Nem todas estão povoadas. Tal parece que esta não o
está, embora possa estar equivocado. A maioria das ilhas, até as mais povoadas, ainda
podem ter longos trechos de costa vazia.
Ele se inclinou a um lado para alimentar o pequeno fogo com algumas varinhas
mais de lenha, e voltear o pescado no pau. Não vendo nada mais além de uma pilha de
varinhas secas de lenha junto ao fogo, seus sapatos secando-se ao sol, e sua jaqueta atirada
sobre um arbusto próximo secando-se também, ela se perguntava quando tinha obtido o
peixe para o almoço.
- Como apanhou isso?
Ele riu abertamente.
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- Não vou fingir que sou um pescador excelente. Ficou apanhado naquele pequeno
charco de lá quando a maré desceu. Encontrei-o lutando no atoleiro no qual tinha ficado.
Ela viu a brecha na borda de que ele falava. Não havia muita areia ali. A terra e as
árvores tinham transpassado os limites muito perto da água, e a terra não era tão maleável
quando a areia, assim a fossa tinha que estar mais longe erodido pelas marés, mas bem
enchendo-o. Era um peixe de um bom tamanho, provavelmente o suficiente para o almoço
e o jantar. Ao menos não iriam morrer de fome enquanto esperavam para ser encontrados.
- E o fogo? - perguntou ela curiosamente.
Ele sorriu abertamente e tirou uma pequena lente de vidro de seu bolso para lhe
mostrar.
- Estive levando daqui para lá isto comigo faz anos, desde que observei a alguém
abrir pela força uma luneta para segurar a lente para o sol para iniciar um fogo. Encontrei
esta versão menor, uma parte suficientemente pequena para mal notá-lo em meu bolso.
Achei que poderia me servir algum dia, entretanto, ironicamente, quase me desfiz disto
este ano, já que nunca precisei usá-lo e frequentemente o perdia, de tão pequeno que é. Foi
algo bom que não o fizesse. Não acredito que teria gostado do peixe cru. Faminta?
- Ainda não - sorriu ela. - Poucas vezes o estou apenas acordada, e acabo de
despertar.
Em lugar de sorrir, ela pensou que em realidade ele escoiceou ligeiramente.
Estranho. Ou estava equivocada? Mas o sol se estava levantando bastante alto. Podia ser
porque já era meio-dia, e ela nunca dormia tão tarde.
Agora que pensava nisso, Como foi possível que pudesse levá-la até a margem sem
despertá-la? A água teria estado salpicando no rosto, seu braço teria estado
incomodamente apertado ao redor dela, arrastando-a. O sonho normal não pôde ter
sobrevivido a tanta atividade. Ou tinha bebido mais do que ela lembrava ontem à noite ou
ao golpear-se contra a água certamente a deixou inconsciente. Supôs que teve sorte de que
finalmente despertou de tudo.
De repente se deu conta que ele tinha arriscado sua vida para salvá-la. Ele não teria
podido manter a ambos a flutuar por muito tempo se não tivesse encontrado terra. E ela se
teria ido até o fundo, sem sequer saber que estava a ponto de morrer se ele não tivesse
saltado atrás dela. Devia-lhe...
- O que?
Ela se ruborizou. Provavelmente o estava olhando assombrada por um momento, o
suficiente para que ele o notasse.
- Nada - disse ela, olhando seu regaço, logo. - Vê chuva no horizonte?
Oh, Deus, realmente não tinha acabado de lhe fazer tão descarado convite, não? Mas
talvez ele não relacionaria sua pergunta com seu comentário a respeito de obter por meio
da persistência uma tormenta já que assim poderiam manter uma aventura amorosa. E um
olhar às escondidas lhe demonstrou que ele nem sequer olhava ao céu procurando nuvens.
Não havia necessidade. Não viram nenhuma só nuvem de qualquer tipo no céu azul e
ambos sabiam.
Entretanto, os olhos dele se abriram. Tinha entendido perfeitamente. E agora seria o
momento de lhe dizer que ela estava brincando, já seja se o estava fazendo ou não.
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Rapidamente, antes que fosse muito tarde. Mas nenhuma palavra lhe saiu enquanto o
observava. O sol brilhou em ondas douradas. Esse intenso olhar sensual entrou em seus
olhos.
Ele tombou sobre ela. Ela riu a gargalhadas enquanto caía de costas na areia, porque
tinha percebido seu sorriso brincalhão. Mas agora seu sorriso tinha desaparecido ao
mesmo tempo em que se colocava cuidadosamente sobre ela. A risada dela também
desapareceu. E ficou olhando fixamente para cima ao homem que tanto queria, ele tinha
ficado como um idiota muitas vezes por ela. Deus, podia dizer a mesma coisa dela. E
estava tão cansada de lutar contra isto.
CAPÍTULO 35
Sonhar com beijos não se parecia em nada a isto. Enquanto que alguns desses sonhos
na verdade haviam comocionado o pulso da Katey e causaram alguns rubores secretos,
nenhum deles se comparava à emoção de ter realmente a boca de Boyd na dela. Seu pulso
começou a bater com velocidade até antes de que seus lábios a tocassem, só pela
antecipação! E foi um beijo tão profundo, cintilante. Se ele não tivesse essa lente em seu
bolso, provavelmente poderiam ter iniciado um fogo simplesmente com as faíscas que
saltavam entre eles.
Nem tudo era paixão crua como se preocupava que tivesse havido por parte dele.
Perto. Certamente, muito perto. Mas ele também punha em jogo alguma agradável
habilidade que era inesperada. Considerando essa pólvora de paixão que ele sempre tinha
quando estava perto dela, e em seu último beijo tocar, esta era uma surpresa agradável.
Parecia como se estivesse tratando de hipnotizá-la e de apaziguar seus medos ao mesmo
tempo dessa maneira, de atraí-la com uma lenta sedução de seus sentidos, fazendo-a
querer que o beijasse por sua vez, e, ai dela, funcionava extremamente bem.
- Não desperte. Não se atreva. Acho que morreria se acordasse agora mesmo.
Era a voz dele, e ainda assim, deu-se conta de que ela poderia haver dito exatamente
a mesma coisa. Mas sua boca se moveu para sua face até chegar perto de sua orelha ao
dizer isso, pouco antes que sua língua baixasse e se afundasse dentro desta. Esteve perto
de gritar. Um calafrio se propagou rapidamente por todo seu corpo e tão poderosamente,
que ela sentiu um formigamento em todas as partes. Rodeou-lhe o pescoço com os braços.
Apertadamente. sentia-se como se tivesse que sustentar-se ou estaria perdida nesse
redemoinho de sensações que lhe estava provocando.
Lábios contra lábios outra vez, ele absorvia suavemente os dela e lhe provocava
cócegas com sua língua, não intencionalmente, mas sua pele já estava se pondo sensível
em todas as partes. Pressionou seus lábios mais firmemente contra os dele, para terminar
com as cócegas. Ele deve ter pensado que estava tratando de aumentar o ritmo quando ela
fez isso, porque a paixão que ele milagrosamente estava contendo, estava de repente
liberada. Seu beijo se tornou voraz, e a sugou diretamente dentro do mesmo vórtice úmido
e quente.
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Ter desatado sua paixão a esse grau era quase alarmante, mas meramente porque ela
não sabia que era capaz disso. Não lhe importava que fosse capaz, simplesmente não o
esperara. Entretanto de tanto ter sonhado que acontecia o mesmo, não deveria ter estado
surpreendida de todo. Tampouco poderia ter tido melhor lugar para que suas fantasias se
fizessem realidade. Uma amável ilha tropical com uma brisa balsâmica, perfumada do
oceano, com a temperatura justa para tirar as roupas o um ao outro. Que mais poderia
pedir ela? Bem, além de uma cama, mas as camas suaves estavam nos sonhos perfeitos.
Isto era real e muito mais preferível.
E privado. Não havia portas que se abrissem para interrompê-los. Esse pensamento
estava no profundo de sua mente. Aqui, só ela poderia interromper isto e ela não estava
para fazê-lo. Que estivesse em dívida com ele era somente uma desculpa. Tinha pensado
nisto frequentemente para seguir sem experimentá-lo. E não havia ninguém mais no
mundo inteiro com quem queria experimentá-lo.
Ele estava desabotoando os botões de sua camisola sem interromper seu beijo. Ela
inclusive não tinha notado que o dorso de sua mão roçou contra seu peito. Havia muitos
botões, é óbvio, porque não era realmente uma camisola o que ela tinha posto, mas sim um
fino robe que se abotoava do pescoço até os pés, uma que ela preferia porque era muito
mais suave para dormir que suas camisolas de noite.
Ele averiguaria isso logo. Poderia sua paixão passar por cima da paciência e rasgar a
bata para terminar o trabalho? Ela esperava que não, porque esta bata era tudo o que ela
tinha para vestir até que os resgatassem depois. Mas esse pensamento desapareceu
quando sua mão se introduziu pelo que já tinha aberto, lhe acariciando as coxas, para logo
interpor-se entre eles.
Oh, Deus, estava muito sensibilizada para isso! Só com o toque acidental contra seu
peito tinha endurecido seus mamilos um momento antes. Mas isto, seu dedo deslizando-se
sobre sua parte mais íntima era um maravilhoso prazer sensual! Ela se esfregou contra ele.
Não pôde evitá-lo, parecia não ter controle disso! Ele o fez novamente. Ela se moveu outra
vez, pressionando-se mais perto, ficando sem fôlego contra a boca dele. Acreditou sentir
que em seus lábios de formavam um sorriso contra os dela pouco antes que lhe
introduzisse um dedo.
Ela ofegou e isso a levou até o limite. Ocorreu tão rapidamente que explodiu dentro
dela, o êxtase mais incrível se propagou violentamente por suas costas, pulsando ao redor
de seu dedo, esgotando-a lentamente, deliciosamente. Estava quase perto do desmaio de
tão assombrada.
- O que foi isso? -disse ela sem fôlego.
- Simplesmente o começo - disse ele deixando cair uma chuva de beijos ternos em
seu rosto.
Ele ficou em pé para tirar a roupa. Não terminaram? A excitação formou
redemoinhos em seu ventre outra vez. Ela rapidamente terminou de desabotoar o robe,
mas o manteve posto. Seria uma manta bonita para eles na areia, pensou antes que ela
olhasse para cima e não teve mais pensamentos.
Boyd estava parado ali nu, acabava de arrojar suas calças ao chão. Seus olhos se
acenderam. Sempre tinha pensado que ele tinha uma formosa figura varonil, muito
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perfeita para seus olhos, mas isto era a magnificência pura. As linhas longas, magras
delineadas por músculo grosso. Seu peito era largo, salpicado ligeiramente por uma massa
de pêlo dourado que não chegava muito por debaixo de seus mamilos. Seus abdominais
pareciam tão fortes que não sabia se simplesmente dar ou tomar. Pensou que ela podia
estar em pé sobre seu estômago sem fazer uma amolgadura. Até suas coxas tinham
músculos grossos, firmes, não havia competência em pé com ele! E esses braços que a
abraçaram, quando fez para não quebrá-la? Seus ombros e seus braços eram tão
musculosos. Não era estranho que sempre levasse vestidas camisas de mangas soltas.
Qualquer estreiteza ali provavelmente o teria rompido com as costuras.
Tudo isso viu como um todo, mas o que estavam olhando seus olhos era seu
membro tão projetado que se sobressaía de sua entreperna, o pináculo de sua
masculinidade, e era temor o que definitivamente havia em sua voz quando lhe disse:
- Oh, meu Deus, esse é um apêndice assombroso.
Ele continuou absolutamente quieto ante aquela declaração. Não deveria havê-lo
mencionado? Havia-o comocionado muito? Não lhe importava. Tinha demasiada
curiosidade para não dizer algo, e, sim, ela se escandalizara. Não esperara nada disto
quando, especialmente depois de ter visto recentemente essas estátuas na Inglaterra, de
fato, várias delas. Cada uma tinha representada essa parte única do corpo humano
masculino tão diminutamente que apenas se notava. Que fraude! E em contraste, o de
Boyd era monstruoso, embora estranho, não a assustou.
Completamente fascinada com o olhar ainda fixo nele, lhe disse:
- Posso-o tocar?
Ele caiu de joelhos em frente dela com um gemido. Ela tomou isso como um sim.
Com uma só mão ao princípio, ela cobriu a comprimento para sentir a textura, suave como
a seda, quente, flexível, e ainda duro. Assombroso.
Ela o ouviu gemer outra vez e olhou para cima para ver seus olhos acesos nela.
- Isso dói?
- Não - disse ele engolindo a saliva.
- Bem, porque ainda não terminei.
Ela ignorou um gorgolejar em sua garganta. Com ambas as mãos agora ela apalpou
esse longo comprimento, formando um capitel com seus dedos, depois puxou suavemente
enquanto suas palmas deslizavam através da superfície aveludada. Fez isso outra e outra
vez. Cada vez que as pontas dos dedos o deixavam, o eixo se bamboleava e ricocheteava
por isso. Ricocheteou contra seu peito uma vez. Sentiu-se escaldada por isso. Mas não era
tão inquebrável quando tinha parecido a princípio. Incrivelmente duro, sim, mas ainda
assim maleável.
- Está me matando.
Ela levantou a cabeça e o olhou agudamente com um cenho franzido e acusador.
- Disse que não doía.
- Não é esse tipo de dor. Meu Deus, Katey, desejo-a tanto que vou explodir.
Sua expressão se suavizou enquanto lhe dizia.
- Então o que está esperando?
Ele se havia posto sério. Sua paixão tinha alcançado o ponto explosivo. Em um mero
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segundo ela estava de barriga para cima na areia outra vez e ele sem erro se sepultou em
seu interior. Ainda estava molhada por seu orgasmo, assim ele deslizou tão
profundamente quando precisasse ir sem deter-se por nada, incluindo sua virgindade.
Mas a dor dessa ruptura tinha terminado antes de que se desse conta daquela invasão.
Estava aflita. Agarrou-se a ele como se fosse a vida. Era a coisa mais primitiva que ela
alguma vez fez, explodindo em um ataque de tal prazer intenso outra vez, diante dele,
estava ainda arqueando de alegria ao máximo nesse segundo orgasmo quando ele
explodiu dentro dela.
Ele caiu na areia a seu lado, parecia completamente esgotado, mas restava bastante
força para levá-la a seu lado e, rodeou-a com um braço, para mantê-la ali. Sua face
pressionada contra seu peito, ela sorriu sonhadora, tão exausta, quando saciada, e havia
algo mais que estava sentindo. Era felicidade? Não se arrependia de nada. Tinha
desfrutado de sua incursão de fazer o amor imensamente. E estava excessivamente
satisfeita com o homem que a estava abraçando. Talvez fosse algo tão simples quando a
felicidade.
Com os olhos meio fechados, fazendo girar prazerosamente um dedo ao redor do
pêlo de seu peito debaixo de autoridade de sua mão, ela finalmente tomou nota de onde se
dirigiu seu olhar e seus olhos se abriram assustados. Esse magnífico apêndice seu se foi!
Ela se sentou.
- Aonde se foi?
Estava séria. Realmente não sabia. Abrindo seus olhos para ver do que o estava
acusando ela, Boyd romper em gargalhadas.
- Voltará, prometo-lhe - disse-lhe ele com um grande sorriso.
Mais tarde riria com ele de como tão pouco sabia sobre o corpo humano masculino.
Mas justo nesse instante, diante de seus olhos, ele na verdade cumpriu sua promessa.
CAPÍTULO 36
Katey riu enquanto saía correndo da água. Ela e Boyd estiveram brincando nela
como crianças, entretanto não havia nada de crianças nos muitos beijos que tinham
trocado enquanto as ondas os salpicavam. Mas esta era sua primeira experiência no mar,
ou em qualquer grande extensão de água, além da última noite quando Boyd a tinha
conduzido à ilha, coisa que ainda não lembrava.
Boyd se assombrou quando lhe contou:
- É uma coisa boa o que eu não estivesse completamente acordada quando caí do
navio, ou provavelmente teria entrado em pânico, já que não posso nadar.
- Como que não pode?
- Nunca tive ocasião de aprender, já que vivia terra adentro. É óbvio que ele
encontrava sua incapacidade para nadar incomum, com sua criação em um povoado
portuário. Ela já sabia que sua família e sua companhia naval estavam localizadas na costa
do Bridgeport, e escutou muito mais sobre seu porto de origem enquanto compartilhavam
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o peixe preparado para o almoço.
Inclusive lhe confessou:
- Quase visitei seu povoado um verão com meu pai. Um embarque que ele tinha
ordenado para sua loja desde o Bridgeport estava atrasado, e se dirigia lá para averiguar a
causa. Ele se ofereceu para me levar e íamos sair a manhã seguinte, mas então o vagão com
seu embarque foi registrado, assim não tivemos que ir. Estava realmente desiludida.
Era incrível que tivessem crescido assim perto um do outro, e mesmo assim, a
mundos de distância. Seu pai só uma vez tinha ordenado fornecimentos desde o
Bridgeport. Danbury, muito mais perto, era de onde ele tomava a maioria de
fornecimentos para sua loja. O que tivesse ocorrido se se tivessem conhecido muito antes?
Teriam se tornado amigos? Teriam se fixado ao menos o um ao outro? Provavelmente não.
Ele era pelo menos dez anos mais velho que ela, em inícios dos trinta. Enquanto suas
idades davam o mesmo agora, teriam se conhecido enquanto ela era ainda uma menina e
ele já um homem.
Mas realmente lhe assombra por não poder nadar e lhe perguntou:
- Não lhe dá medo estar na água?
Já tinham a água até a cintura quando esse assunto surgiu, ela não tinha pensado em
nenhum perigo quando entrou correndo com ele pela mão.
- Com você perto, claro que não. Já sabemos que nada muito bem pelos dois.
Estava brincando. Simplesmente não lhe tinha ocorrido ter medo do oceano. Mas
com a menção de seu heroísmo ele percorreu a costa com o olhar para logo pousar-se sobre
ela de uma maneira estranha, mas só por uns segundos. E então ele tentou lhe ensinar a
nadar. Que fracasso! Ela estava demasiado ocupada divertindo-se para pôr atenção à lição
de natação, e ele logo se deu por vencido.
Ela se deixou cair sobre a areia para deixar que o sol a secasse. Ele caiu de joelhos
junto a ela e sacudiu a água como um cão. Ela gritou quando a água de seu cabelo caiu
sobre ela como chuva.
- Fez isso de propósito!
- Notou-o? - Ele sorriu impenitentemente.
Ela sorriu abertamente, também. Era um homem tão diferente! Depravado,
brincalhão, provocante, cheio de sorrisos, alguns juvenis, alguns sexies. Gostava deste
Boyd. Talvez muito.
- Onde está sua camisola? - Perguntou ele, olhando além dela para seu pequeno
acampamento. - Por muito que ame o fato de que esteja inconscientemente ostentando seu
formoso corpo em frente a mim, não quero que se queime pelo sol.
Ela riu abafadamente.
- Ostentado? É o que tenho feito? Não tinha nada apropriado para nadar, não é
assim?
- Sei, nem sequer encharca, o que foi uma prazerosa surpresa, o encontrar que não
tinha posto "nada" debaixo de sua camisola.
- Para dormir? Por favor - protestou ela secamente. - Dormiria nua se não tivesse
uma criada que irrompe cedo e sem convite a maioria das manhãs para me despertar.
- Algo bom sobre o matrimônio é que as criadas deixam de fazer isso.
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Katey se esticou. Ele não ia arruinar esta idílica entrevista ficando sério com ela
outra vez, não é verdade?
- Tyrus legalmente pode casar a qualquer no mar?
- Tem feito isso.
- Que bom para ele, mas a menos que Grace queira levar seu flerte com nosso
capitão além disso, o que estou quase segura que não é assim, os serviços adicionais de
Tyrus não se necessitarão.
Ele cravou seus olhos nela. Ela se retorceu um pouco. Por que não podia desfrutar só
esta vez com ela e deixar as coisas assim?
Ela tentou brincar para retornar a sua anterior atitude brincalhona.
- Oh, referia-te para "mim"? - perguntou ela ligeiramente, mas ele não brincaria
sobre esse assunto.
- Katey...
- Não comece. Por favor. Foi muito divertido. Inclusive poderíamos fazê-lo
novamente em alguma ocasião sem o dramatismo inicial de cair fora de um navio. Mas
nada trocou. Já te hei dito as causas porque ainda não estou pronta para o matrimônio.
- Não pode se apegar ao mapa que desenhou para sua vida. Não depois de hoje, o
que foi um desvio muito grande.
- Não é assim. E se está falando de minha virgindade - bufou ela. - Pareço-me eu
acaso a uma jovenzinha de sociedade que se desmaiaria por sua perda?
- Parece a mulher mais irritante do mundo, a isso parece!
- Vá, obrigada. Tento-o!
Ela ficou em pé e foi à procura de seu robe. Discutir com ele quando não levava
nada posto não se sentia bem. Não deveriam discutir. Por que tinha que ser tão teimoso?
Ela supôs que a seguiria para conduzi-la a casa. Não o fez, e quando se voltou atrás
para vê-lo sentado exatamente onde o deixou, sentiu que sabia por que. Embora a
enfurecesse neste momento, suspeitava que isso tinha muito que ver com sua persistência.
Estava muito agitada para abotoar decentemente seus botões antes de retornar a lhe
acusar:
- Escondendo a evidência de que está mesmo furioso comigo, continua me
desejando? Há! É pior que um gato. Admite-o, está sempre à espreita!
Ele se levantou para lhe mostrar quão corretos eram seus pensamentos. Ela se
ruborizou em seu interior. Mas esse não foi o único efeito que seu desejo teve nela.
- Em realidade acha que isto tem algo que ver com alguém mais que você?
Escutar isso pôs o fechamento final. Lançou-se sobre ele, envolvendo os braços ao
redor de seu pescoço, e as pernas ao redor de seus quadris. Seu objetivo era preciso e ela
gemeu com muito prazer. Estava exatamente onde queria estar.
- Agora o desafio a que "discuta mais" comigo - disse ela antes de beijá-lo.
Somente teve que aferrar-se depois disso. Ele fez todo o resto. Entretanto, ela nunca
tinha feito algo tão agressivo em sua vida. Era culpa dele, ao acender a dessa maneira. Era
isto o que ele experimentava tão frequentemente, desejos tão poderosos que apenas se
podiam controlar? Obviamente tinha mais força de vontade que ela.
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CAPÍTULO 37
A tarde era passada se a posição do sol era alguma indicação. Nenhum deles se
sentia com vontade de discutir mais. Fazer amor tirou suas dentadas acaloradas emoções,
deixando uma terna frouxidão em seu lugar.
Ela não queria deixar sua discussão aberta, embora não estivesse segura de quando
lhe fazer entender que se estivesse pronta para dar o passo adoraria casar-se com ele, mas
agora não era o momento.
Sentaram-se um alado do outro na praia, tocando-os ombros, só olhando as ondas
vir. Ele segurou sua mão em seu regaço, brincando com seus dedos, o que também
satisfazia a necessidade dela de tocá-lo. Ainda não havia nenhum navio no horizonte. Se
não os encontrassem antes do pôr-do-sol, ficaria tão frio na praia como se fazia no navio
pelas tardes?
Poderiam dar-se calor mutuamente, mas ia ser incômodo sem alguma sorte de
refúgio.
- Acha que teremos sorte com outro peixe preparado para o jantar?
- Acredito que nos resgatarão antes disso, ou tem fome outra vez? Esteve bastante…
ativa hoje.
Ela sorriu abertamente ante a maneira delicada em que descrevia sua paixão.
- Só estava pensando nos "prós" e "contra". Se deveríamos dedicar um pouco de
tempo fazendo algum tipo de refúgio, antes que escureça. E talvez procurar alguma fruta,
em caso de que a maré só deixe água atrás esta noite. Certamente deve haver uma certa
quantidade, com toda esta vegetação.
- Não mostra muita fé em Tyrus.
- Pensou que nos encontraria ao meio-dia, mas já passa muito disso.
Ele lambeu um dedo e o segurou no alto para julgar a direção do vento, não é que
eles tivessem mais que uma brisa suave no momento.
- O vento poderia estar correndo em contra - admitiu ele. - Deveram ver-se
obrigados a tomar um curso indireto para virar para aqui. Terei que acender um fogo
maior se ainda estivermos aqui quando a noite chegar.
- E um refúgio?
Ele revirou os olhos.
- Está bem, vamos recolher algumas folhagens de palma, mas só perto da costa.
Precisamos ficar na praia para ser vistos por algum navio que passe.
Ele a ajudou a ficar em pé, mas em lugar de deixá-la ir para que pudessem começar
com a tarefa, deu-lhe um suave abraço.
- Deve ser a mulher mais irritante e teimosa que conheço, mas continua sendo a
única com a que quero passar o resto de minha vida, e isso é tudo o que tenho que dizer a
respeito disso.
Ele partiu dando meia volta, deixando-a ali em pé com a boca aberta enquanto o
seguia com o olhar. O homem lhe estava metendo na pele de uma maneira permanente, e
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não duvidava que esse fosse seu plano.
Ela partiu descendo pela praia em direção oposta. A areia estava um pouco mais
quente debaixo de seus pés nus, depois de que estivesse exposta ao sol todo o dia, mas as
palmeiras estavam dentro de uma área coberta de erva, para a qual ela se dirigiu
rapidamente. O grito de Boyd a fez voltar em sua direção. Ele fazia gestos com as mãos
para que se unisse a ele, assim pelo contrário partiu para esse lado.
- Terminaremos mais rápido se nos separarmos - disse ela enquanto o alcançava.
- Então não o terminaremos mais rápido. Mas bem preferiria sua companhia.
Essa afirmação foi difícil de discutir em seu suave estado de ânimo.
- Está bem, mas obterei todas as folhagens fáceis de alcançar.
- Acredito que encontraremos tudo o que necessitemos no chão.
Dez minutos mais tarde, com seus braços quase cheios, retomaram o caminho de
volta ao fogo do acampamento, o qual se reduziu a meras brasas depois de havê-lo
descuidado.
Imediatamente ele ficou a alimentá-lo outra vez. Ela se sentou a observá-lo.
- Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta sem avivar o fogo de uma discussão
novamente - disse ela cuidadosamente. - Estaria disposto a me esperar?
Acreditou que teria que explicar-se, mas aparentemente a mente dele não se afastava
à deriva de seus mesmos pensamentos.
- Isso implica que quer casar-se comigo eventualmente - respondeu ele também
cuidadosamente.
- Nunca disse que não queria.
- Sei, simplesmente que não agora. Mas não olha um panorama mais amplo. O
matrimônio não tem que deter sua viagem, em lugar disso dará a alguém com quem
compartilhá-lo, ao menos em meu caso. Realmente acha que pediria que dê fim a esta sua
meta? Possuo um navio, Katey. Levarei você aonde seja que queira ir.
Ele estava fazendo todas as concessões. Quase trouxe lágrimas a seus olhos, estava
repentinamente tão cheia de emoção. Mas ele passava por cima de um obstáculo que não
podia ser ignorado.
- O matrimônio significa crianças, e as crianças necessitam de estabilidade. Não
precisam ser arrastados ao redor do mundo em um navio. E não estou pronta para
prescindir de minhas viagens quando apenas as comecei, para iniciar uma família antes do
pensado.
- Minha cunhada Amy se as acerta muita bem para formar sua família a bordo do
navio de meu irmão. Navegam com a babá dos meninos e seu tutor.
- Isso é maravilhoso para ela, já que não lhe incomoda, mas eu só viajo de navio
porque é necessário fazê-lo para chegar aonde quero ir. Certamente eu não gosto do mar o
suficiente para convertê-lo em meu modo de vida como você. Muito vento, o ar é muito
salgado, e houve um número de vezes quando pensei que ia adoecer quando ocorreu a
meu condutor, o senhor Tobby, entretanto ao menos me passou rapidamente.
Ele tinha uma resposta imediata para isso, também.
- Estarei preparado para renunciar ao mar quando você o esteja. De fato, estava a
ponto de tomar a decisão de me estabelecer na Inglaterra deste ano, ao menos esse era meu
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pensamento antes de que entrasse em minha vida. E você tem família ali também.
- Não, não a tenho.
- Mas, acreditei que...
- Eu também. Mas não querem ter nada que ver comigo, e tal quando repudiaram a
minha mãe, agora eu os repúdio a eles.
- Sinto muito.
Ela encolheu os ombros.
- Já o superei.
Não era verdade, mas ela não queria falar disso, não mais do que queria falar de
matrimônio. E ainda assim o estavam discutindo de novo. E estava perdendo a batalha.
Estava lhe fazendo reconsiderar suas metas, e isso a assustava. Mas enquanto que ele tinha
algumas respostas agradáveis para o futuro, não tinha em conta estabelecer-se na
Inglaterra algum dia. Ele não tinha respostas para isso agora. Porque não havia uma. Se se
casassem agora, ficaria atada se já não o estava. Como não seria possível ao ser Boyd tão
luxurioso? Isso terminaria com sua viagem. Permanentemente.
Mas, oh, Deus, casar-se com ele, ter suas carícias todos os dias em vez de prescindir
delas depois de hoje, o que deveria fazer? Deu-se o gosto desse único dia de sorte, mas não
se atrevia a que acontecesse de novo. A menos que estivesse disposta a casar-se com ele.
Renunciar ao mundo por ele? Ainda quando ele nem sequer a amava? Ainda assim
suas emoções lhe gritavam que fizesse justamente isso, o que era uma boa indicação de
que tinha o mesmo problema. Simplesmente não podia pensar claramente quando estava
perto dele.
Estava a ponto de lhe dizer que o pensaria um pouco mais quando viu um navio no
horizonte.
CAPÍTULO 38
- Sai da praia, Katey, rápido. Não discuta, só faça isso!
Receber ordens de não discutir não lhe impediu de fazê-lo.
- Mas disse que devíamos ficar à vista para que Tyrus nos encontrasse!
- Esse não é o "Oceanus".
- Como pode distingui-lo a esta distância? -Seu tom ia aumentando, do deleite por
seu iminente resgate, à confusão, e logo ao começo do pânico.
-É um bergantim de dois mastros, o tipo preferido por piratas nesta área.
Não precisou dizer nenhuma outra palavra. Ela se perdeu entre os arbustos detrás
deles. Ele demorou um momento para se separar de um empurrão várias braçadas de areia
sobre seu fogo pequeno para que não soltasse muita fumaça. Também lançou as folhagens
da palmeira que tinham recolhido debaixo da palmeira mais próxima para que se visse
como se caídas desta. Depois agarrou seus sapatos e sua jaqueta para não deixar atrás
evidencia óbvia e se lançou na zona de arbustos atrás deles.
Ela se agachou, olhando às escondidas sobre o beira da parte mais alta da praia. O
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navio só parecia navegar lentamente pela ilha.
- Não nos viram. - Ela estava tratando de soar positiva, mas seu sussurro arruinou o
efeito.
- Isso é difícil de saber ainda.
- A não ser por que sequer olhariam nesta direção quando navegam para outro lado?
Ela apontou com seu polegar na direção que o bergantim percorria, que estava a
distância da ilha. Boyd lançou um olhar para baixo, começou a dizer algo, mas mudou de
idéia. E essa vacilação a preocupou mais que algo que ele poderia haver dito.
- O que? - demandou ela.
- Nada. Tem razão.
- Não, não a tenho - disse ela, sua voz soava muito aterrorizada agora. - Me diga, por
que não a tenho?
Ele suspirou.
- Os piratas da Berbería só lhe dão caça aos navios mercantes por carregamentos
fáceis em diversos lugares. Estão também no negócio de abastecer aos sultões turcos no
lado oriental deste mar com escravos. E mais, seus maiores navios são remados por
escravos. Encontrando a algumas pessoas em uma praia deserta, sem nenhum morador
perto, seriam raptos fáceis para eles, meramente requereria de uma breve parada enquanto
enviam em um barco uma pequena tripulação.
- Escravos? Sabe, estava só brincando a respeito de um harém. Mas bem não queria
me encontrar em um. Sério.
-Sei. - Ele tomou sua mão e a devorou para pô-la em pé. - Vamos. Preciso encontrar
algum lugar para escondê-la enquanto me encarrego disto.
- Enquanto você o que? - gritou ela.
Ela lançou um olhar para trás para ver do que ele falava. O navio de dois mastros
estava dando a volta com rumo à ilha.
- Talvez só deixaram esquecido algo de onde quer que venham e estão retornando.
- Deixe de se inquietar, Katey. Não vou deixar que nada lhe aconteça, prometo.
Isso soou tão reconfortante quando ele o quis dizer, mas não teve em conta sua vivaz
imaginação. O que deixasse de inquietar-se? Estava a ponto de mofar nesse momento.
- Do que terá que encarregar-se? Desembarcam, olham ao redor, não encontram
nada, vão.
- Isso seria ideal - esteve ele de acordo. - E com tanto que não saiam da praia, então
tudo estará bem. Mas se eles vierem terra adentro nos buscando... só digamos que prefiro
me encontrar com o problema de frente antes de que me encontre.
- Brigaria com eles? Com o que? - demandou ela. - Não tem uma arma.
Recolheu um ramo robusto enquanto a levava a rastros detrás dele. Na verdade se
parecia com uma clava dobrada.
- Agora sim.
Oh, claro, Ele ia enfrentar a piratas sedentos de sangue, armado só com uma vara?
Mas percebeu que não era fazer frente a algum pirata, o que a preocupava, mesmo se
tivesse uma arma melhor com a qual fazê-lo. Simplesmente não podia suportar pensar
que saísse ferido.
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- Só continuemos nos dirigindo para o outro lado da ilha - sugeriu ela.
Ele se deteve para agarrá-la pelos ombros.
- Um de nós tem que ficar perto dessa praia, e não vai ser você. Se Tyrus nos
alcançar e vir que os piratas ancoraram aqui sem sinal de nós, passará de longe para
continuar nos buscando em outro lugar. Assim se eles demorarem muito nos buscando,
vou encarregar-me do primeiro grupo de piratas e o seguinte se enviarem outro barco.
Esperançosamente não desperdiçarão mais que isso e seguirão adiante.
- Perseguiriam os piratas ao "Oceanus" se se apresentar antes que eles partam?
-Só se formos muito, muito estúpidos. Os navios da "Skylark" estão todos bem
armados para tais contingências. Não discutimos já este assunto?
Ela vagamente lembrou-se dele dizendo algo a esse respeito. Ele continuou levando-
a a rastros até que ficaram sem caminhos fáceis. Ela guardou para si mesmo todos os
pequenos "Ais" que queria chorar porque pisava com os pés nus sobre pinhas de ciprestes.
Pinheiros, e outras árvores e arbustos mais altos do que ela era, e as videiras tropicais
espalhadas entre tudo isso era agora um sólido tapete de verde aonde eles estavam em pé.
E não foi de estranhar que ninguém quisesse ficar nessa costa quando não havia terra
limpa em qualquer lugar para ser vistos.
- Vá para trás daqueles arbustos ali, agache-se no chão, e fique ali até que volte para
você. Se for capaz de esperar em silêncio, este é o momento para prová-lo - acrescentou ele
com uma piscadela.
Deixou-a imediatamente depois de dizer isso. Precisou de aproximadamente cinco
minutos para que por fim se sentisse perturbada com isso. Dar-lhe a entender que era uma
faladora foi bem grosseiro, e se queixou mentalmente por outros dez minutos, o que fez
que tirasse os piratas um pouco da mente. Teria feito isso intencionalmente? Ela o
duvidava.
Mas então uma ave local gritou perto, fazendo-a sobressaltar e procurar outros
sinais de fauna silvestre. O que em realidade viu foi que Boyd a deixou em um beco sem
saída. Sem uma faca ou outra ferramenta para atravessar a densa vegetação atrás dela, não
tinha onde correr se se necessitasse, exceto de retorno para a costa, onde provavelmente
ainda estariam desembarcando os piratas. passara tanto tempo? Boyd ia fazer algo idiota,
estava certa, far-se-ia capturar ou matar. E depois eles viriam em sua busca
Com esse pensamento alarmante, Katey parou e voltou para a costa, mas não foi
diretamente para onde estava seu acampamento. Logo que encontrou uma clareira no
caminho à esquerda, tomou e se afastou de maneira lenta.
Agradecidamente, não saiu para outro beco sem saída. A folhagem não era tão
frondosa mais perto da costa. Também recolheu todas as pedras que ela podia encontrar
com o passar do caminho, erguendo a prega de seu robe para formar uma bolsa aonde
amontoá-las. Não ira estar completamente indefesa.
Quando se afastou o suficiente da costa, avançou pouco a pouco e com dificuldade
de volta para a praia assim ao menos poderia ver o que o casco de navio pirata estava
fazendo. Talvez já se fora! Isso esperava.
Mas o navio estava ainda ali, jogou âncoras bastante perto. Mais perto e teriam
encalhado. E um bote apenas pequeno agora remava velozmente para a praia. Tinha lhes
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requerido todo deste tempo para desembarcar?
A praia não era uma linha reta, curvava-se ligeiramente, não o suficiente para
chamar-se curva ou uma baía, com seu acampamento no centro desse arco. Ela estava
suficientemente longe para não precisar erguer a cabeça muito mais para ver onde estava o
fogo sepultado do acampamento. Havia um bote pequeno parado ali, vazio, assim que o
que estava em caminho não era o primeiro? Então onde estavam os homens que tinham
vindo nele? Ninguém estava na praia nesse momento, estava completamente vazia além
desse bote pequeno. E onde estava Boyd?
O que ela deveria fazer era manter-se em movimento em direção oposta, mas o
medo que a invadiu era inteiramente por Boyd. Tinha que saber que ele estava bem. E até
que o visse com seus olhos, não ira a nenhum lado exceto em sua busca.
Agachando-se e mantendo um punho ao redor da bolsa improvisada de pedras
ainda atadas em
volumes na prega de seu robe, correu de arbusto em arbusto, mantendo-se escondida, mas
fazendo um rápido progresso de volta para seu acampamento. Quando estava na metade
do caminho, tropeçou acidentalmente com outro bote!
Este foi todo arrastado ao longo do caminho para a erva fora da areia e afastado com
um empurrão para baixo do arbusto atrás do qual se deteve agachada, ou nunca o teria
visto. Um ramo grande, quebrado, frondoso até descansava sobre este, como se tivessem
feito a tentativa de escondê-lo. Por quê? E quantos botes mais enviariam esses piratas?
Com este eram três. Poderiam ter realmente uma tripulação tão grande? Ou talvez só um
par de homens tripulavam cada bote. Isso tinha mais sentido. E Boyd poderia facilmente
manipular a dois homens de uma vez.
Alguns de seus medos a deixaram, embora não o suficiente para dar a volta. Mas
uma palavra apanhou seu olho logo quando estava a ponto de laçar-se ao seguinte
arbusto. Belamente pintado em inscrição branca na beira de uma das duas pranchas de
madeira no bote usadas como assento, havia uma só palavra. Curvando-se justo ao lado do
bote, não teve problemas em distingui-la. "Oceanus".
Ficou olhando, e olhando. Ia matá-lo. A implicação era entristecedora! Não, não ia
tocar esse pensamento. Não agora. Sentiu que um calor a invadia. Um calor feroz. Calcou-
o, aspirou profundamente. Mas ela ia matá-lo. Mais tarde. Se os piratas não o tivessem
feito já.
CAPÍTULO 39
Katey encontrou Boyd. Ele ainda estava vivo. Não estava segura se os piratas que
jaziam a seus pés ainda respiravam, mas Boyd parecia estar bem. O som dos homens
brigando teria levado na direção correta ainda se a paisagem no topo da praia não
estivesse suficientemente clara para lhe permitir ver a certa distância.
Ela contava três corpos caídos, outros três piratas mais estavam em pé. Seis deles
tinham estado no primeiro bote e vinham mais a caminho.
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Os piratas tinham armas. Ela podia ver as pistolas e as facas longas pendentes em
seus cinturões. Um deles quem ainda estava em pé segurava uma pistola em sua mão, mas
este a segurava como se fosse usá-la como uma maça em lugar de disparar com ela.
De repente compreendeu que tentavam dominar a Boyd sem feri-lo! Ele deveria
representar para eles um valor que poderiam vender depois, o que provavelmente era a
razão pela qual tinham vindo a terra. Ao que parecia, não se importavam se saíssem
feridos no processo.
Ofegante, absolutamente fascinada, Katey não podia afastar a vista de Boyd. Ele
estava lutando furiosamente contra um dos homens que ainda estava em pé, não com sua
arma improvisada, mas sim com seus punhos. Segurava o homem com uma mão e estava
golpeando seu rosto com a outra. Um segundo homem se aproximou muito e Boyd
simplesmente o afastou com um murro. Nem sequer parecia que ele ainda tivesse suado,
embora ela não estivesse suficientemente perto para dizê-lo. Mas tampouco parecia ofegar
pelo exercício!
O terceiro homem estava tirando o corpo de um dos piratas apontados em seu
caminho. Os três piratas não podiam aproximar-se suficiente a Boyd com os corpos de
seus companheiros apontados a seus pés. E ele não se estava movendo dessa posição que
lhe dava vantagem.
Um quarto pirata desceu agora. Os últimos dois homens deviam ter compreendido
que não estavam chegando a nenhuma parte com suas táticas cuidadosas. Eles ainda não
apontavam suas pistolas a Boyd, mas com um grito do homem a acusação, os dois
carregaram ao uníssono. Isso conseguiu derrubá-lo, e todos jaziam agora em terra.
Katey começou a mover-se mais perto. Mas nova atividade na praia captou sua
atenção pelo contrário. O outro bote tinha chegado! Seis homens mais estavam saltando
fora dele. Assim que eles viessem um pouco mais perto da praia, veriam o que estava
passando no outro lado da elevação... e se uniriam à rixa. Boyd não poderia dirigir seis
mais. Tinha que estar cansado. Mas mesmo que não o estivesse, este novo grupo tomaria
por surpresa enquanto ainda estava lutando em terra com os outros dois.
Ela não pôde suportar esse pensamento. Saindo à praia para atrair a atenção dos
recém chegados em sua direção, pretendeu mostrar que se surpreendia ao vê-los. Um
deles a viu e tocou com o cotovelo ao homem a seu lado. Ele também disse algo que fez a
todos voltar-se para olhá-la. Segundos depois, os seis estavam correndo para ela. Nem
sequer enviaram a um de seus homens para encontrar aos que tinham chegado primeiro.
Ao que parecia, era um achado mais interessante.
Ela deu um grito, um forte, que não era absolutamente fingido. Desejou que Boyd a
tivesse ouvido, ou a oportunidade que lhe deu revelando sua presença, simplesmente teria
sido muito tola. Não tinha nenhuma idéia de quanto tempo poderia manter-se sem ser
capturada, mas não queria ser usada como uma roupa de negociação para que eles
pudessem capturá-lo, também. Assim não podia ir muito longe ou Boyd não poderia
alcançá-la para ajudá-la. Ainda não podia permitir aos piratas alcançá-la, ou tudo teria
terminado.
Ela só se lembrou de suas pedras porque sua bolsa improvisada bateu contra seu
joelho quando saltou atrás fora da areia. Fez uma pausa para soltar a firme atadura que fez
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para fechá-la e a deixou quando uma bolsa aberta em que poderia colocar a mão.
Assegurando-se de que não ira encontrar se com algo atrás dela primeiro, voltou-se para
enfrentar aos piratas justamente para vê-los sobre a colina próxima. Muito perto. Se
decidissem atacar em grupo quando os outros dois fizeram com Boyd...
Atirou uma pedra. Detiveram-se e riram dela quando aterrissou vários pés diante
deles. Retrocedendo devagar, atirou outra pedra, mais longe desta vez. Riram outra vez
quando caiu além deles, não acertando ninguém. O que a fez pensar que atirar pedras
neles seria uma boa arma quando não sabia apontar? Tudo o que estava fazendo era
entretê-los! Mas um momento depois compreendeu que suas pedras eram uma arma
melhor do que tinha pensado, porque eles tinham feito o que tinha planejado exatamente,
manteve a atenção dos piratas o suficiente nela para que Boyd se fizesse encarregado.
Vendo-o correr agora atrás deles, sua grossa arma na mão, manteve aos piratas
distraídos com umas pedras mais. E Boyd começou imediatamente a brigar com eles sem
apenas uma pausa. Ele girou sua arma a um lado, e logo ao outro. Dois abaixo. Um deles
se moveu, não estava inconsciente. Um murro rápido a sua cara e não se moveu de novo.
Os outros quatro se voltaram com o barulho. Três carregaram contra Boyd
imediatamente. Ele esquivou-se de um e girou sua arma em um arco agarrando aos outros
dois em seguida. Não derrubou a nenhum deles, mas o que bateu primeiro gritou e pôs
uma mão em sua orelha machucada. Ele estava imobilizado temporalmente pela dor.
O último pirata não se moveu. Pelo contrário ele tirou uma grande pistola de seu
cinturão. Mas deu as costas a Katey. O que ele ia fazer com essa pistola ela não soube e não
quis averiguar, sobretudo quando ele poderia ter decidido que um escravo, ela, era
suficientemente bom e Boyd era muito problema para incomodar-se.
Sem sequer pensar, tomou a maior das pedras que guardara, deixando que as outras
escorregassem à terra para poder agarrar a maior com ambas as mãos, e, surgindo atrás do
pirata, golpeou-o na parte posterior de sua cabeça. Ele caiu a terra. Ela permaneceu
incrédula olhando como tinha conseguido nocauteá-lo.
Olhando atrás, viu que Boyd não tinha terminado ainda. Ele estava lutando a
murros com dois dos piratas. Devia tê-los desarmado na luta. Eles já não tinham suas
armas, e ele estava ganhando. Suas caras estavam sangrando, a dele não. O outro homem
ainda estava segurando sua orelha e estava gritando em algum idioma estrangeiro,
provavelmente amaldiçoando. Mas ele também estava tratando de tirar a arma de seu
cinturão, e parecia definitivamente bastante zangado para usá-la.
Katey paralisou com o medo. Era difícil ainda pensar, ela repentinamente se
assustou tanto por Boyd. Começou a lhe gritar com um aviso, mas compreendeu que ele
poderia não ouvi-la em seus esforços, e distraí-lo podia ser a pior coisa que poderia fazer,
quando os dois homens com os quais estava lutando eram tão musculosos como ele. Assim
ergueu a pesada pedra que ainda tinha em sua mão, mas lembrou a tempo sua lamentável
pontaria. Ficando sem opções, um relâmpago de luz, o sol contra metal, fez que olhasse
para baixo, e vislumbrou a pistola a seus pés que o pirata inconsciente tinha
soltado antes de cair a terra.
Não tinha certeza de que ao apontar nesse pirata zangado faria ele baixar ou descer
a arma que segurava na mão. Ele ainda não tinha disparado, mas isso se devia
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possivelmente porque não tinha um alvo direto de Boyd, com seus companheiros no
caminho. E ele não estava olhando-a e não notou que ela também estava armada. Nesse
momento, seu ouvido também poderia estar prejudicado assim ela não ia confiar em
gritar-lhe. Mas ele ouviria um disparo, estava segura, assim simplesmente fez isso,
disparou um tiro sem perigo.
Ela tinha definitivamente agora sua atenção, e a de todos outros. Quase caiu pela
explosão. Malditas pistolas antiquadas, muito longas e muito pesadas para ela. E soube,
assim como todos outros, que só tinha um disparo. Mas uma vez mais, sua ação permitiu a
Boyd minimizar o perigo. Ele fez uma pausa só um segundo por seu tiro. E desde que ela
estava enfrentando ao pirata zangado, Boyd lhe prestou um pouco de atenção, também,
indo reto pela pistola restante na mão do homem. Agora, com uma em sua própria mão ele
a bateu contra a outra orelha do homem. Então este caiu definitivamente. Boyd estrelou
então o barril contra outra cabeça e destroçou a cara do último homem.
Todos eles fora de ação! Ela compartilhou a emoção de Boyd pelo êxito. Realmente,
ele mal parecia cansado. Mas estava tão entusiasmada por sua vitória, que estava saltando
de cima abaixo com ele até que lembrou o bote ancorado nas cercanias.
- Enviarão eles mais? - perguntou-lhe quando ele se agachou, uma mão em cada
joelho, para descansar um momento.
Ele a olhou para dizer:
- Provavelmente. Assim recolhe todas as pistolas aqui enquanto eu amarro ao
primeiro grupo. Penso que dispararei a qualquer outro que se apareça.
Notou que ele não havia dito uma palavra sobre sua presença, que não ficou onde
lhe havia dito que o fizesse. Para impedi-lo de pensar que não tinha seguido suas
instruções, perguntou-lhe:
- Com o que vai atá-los?
- Eu já fiz algumas cordas enquanto esperava que chegasse o primeiro bote. Folhas
de palmeira, frescas ou secas, são bastante fortes se se dirigirem corretamente, e se unem
facilmente. Eu precisarei fazer mais entretanto. Não esperava que tantos piratas viessem a
terra.
- As trepadeiras não serviriam? - sugeriu ela. - Estão por todo o lugar.
- Muito escorregadias, e podem romper-se em suas junturas, assim não são tão
confiáveis. Além disso, preciso me assegurar que se qualquer deles acordar, não se tornem
em mais problemas. Assim não terei que matá-los. Eles poderiam ser culpados de
pirataria, mas não fazem diferença no esquema maior das coisas. Seu capitão os substituirá
e seguirá adiante com seu negócio como de costume.
Ele parecia aborrecido quando o disse, mas então se foi rapidamente para se ocupar
do assunto de amarrá-los. Ela olhou fixamente o lugar para o qual ele se dirigia, onde
deixou o primeiro grupo de corpos.
Ele teria que trabalhar rapidamente. Tinha doze homens para atar antes que
chegassem mais. Não, realmente, ela teria que ajudá-lo para que conseguisse fazê-lo
rapidamente. Assim ela recolheu as pistolas como ele havia dito, e correu quando melhor
pôde em cima dessas pinhas diminutas e agulhas para unir-se a Boyd. Ele já tinha três
homens atados e estava despojando as folhas de outro ramo da palmeira. Ela descarregou
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as pistolas em cima do montão que ele já tinha colecionado deste primeiro grupo e
começou ajudando-o a despojar as folhas. Ele era muito bom atando-os juntos. Bem, ele era
marinheiro. Seria isso. E ele estava dirigindo-se ao segundo grupo com seis cordas mais
improvisadas na mão.
Ela o seguiu. Ele não objetou. Mas quando começou a ajudá-lo a atar aos homens,
lhe disse que em lugar disso, mantivesse um olho sobre o navio. Figurou-se que ele não
confiaria em que ela fizesse um nó decente de uma corda feita com uma folha.
Mas ele só estava amarrando os pulsos a suas costas no momento, assim quase tinha
terminado quando ela se viu forçada a lhe dizer.
- Eles estão baixando outro bote pequeno à água.
Ela ouviu o suspiro de Boyd atrás dela. Agora na verdade sim tinha que estar
esgotado. Meu Deus, ele tinha brigado com doze piratas e ganhou! Concedido, eles
estiveram tentando capturá-lo sem lhe fazer nenhum dano real, mas ainda assim, foi seu
esforço o que os abatera, e ele o fez parecer tão fácil! Ela podia ter ajudado um pouco
distraindo-os, mas foi sua força muscular e habilidade o que tinha acabado com o perigo
rapidamente. Agora ele tinha que enfrentar mais vindo a terra.
Um olhar atrás lhe mostrou que ele não fez nenhuma pausa no que estava fazendo.
Nem se apressou para terminá-lo. Ele se tomou seu tempo para assegurar-se que as
ataduras se manteriam.
Olhando atrás para o navio, seus olhos se alongaram e ela ficou encantada de dizer:
-Eles podem ter mudado de idéia.
- O que quer dizer? - Ele ficou em pé para ver por si mesmo.
O bote pequeno que foi posto na água e cheio de homens não tinha zarpado a terra;
de fato, os homens nele estavam subindo rapidamente ao navio. Um momento mais tarde
Katey e Boyd viram por que. Outro navio tinha aparecido à vista.
CAPÍTULO 40
O "Oceanus" tinha aparecido à vista. Katey não pôde reconhecê-lo a tal distância,
mal podia dizer que tinha três mastros do ângulo que estava vindo para eles, mas Boyd
não teve problemas em fazê-lo. Com um resgate iminente e passado o perigo, o navio
pirata tinha fugido covardemente com pressa, ela se sentou na praia para esperar.
Boyd passou algum tempo fabricando mais cordas e as atando aos pés da maioria
dos piratas. Não queria que se soltassem muito cedo, explicou-lhe, mas tampouco queria
que nunca se soltassem.
- Se seu capitão não voltar por eles mais tarde, não deveriam ter problemas em
cortar as ataduras de uns aos outros com os dentes. Mas provavelmente volte antes que
escureça, especialmente porque já se deu conta que "O Oceanus" não irá caçá-lo.
- É muito amável com homens que queriam convertê-lo em escravo.
- Isso é o que pensa? Há um arsenal de braços para cá, suponho que poderia matá-
los.
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Só estava aborrecendo-a. Se ele tivesse tido intenção de fazê-lo, o teria feito antes de
atá-los.
Mas os piratas com os que ele estava sendo tão indulgente a assustaram realmente
hoje, pelo que resmungou.
- Não vejo a razão de não levá-los conosco e entregá-los às autoridades.
- Que autoridades seriam essas? - opôs-se ele, tentando não sorrir abertamente de
sua óbvia ignorância. - Nós não sabemos em que porto estes companheiros têm sua base, e
há muitos países diferentes às margens deste mar. Eles poderiam ser corsários com a
warrant de seu país para operar nesta área, em cujo caso essas autoridades simplesmente
ririam e lhes permitiriam ir-se com um tapinha na mão. E não estou brincando. Os piratas
da "Irmandade da Costa", que terminariam atrás das grades, normalmente não vêm tão ao
norte. Eles preferem navios mercantis fáceis que não estão armados, já que suas táticas são
abordar e dominar rapidamente, para logo recolher as recompensas facilmente.
Quando terminou com sua tarefa, sentou-se junto a ela na areia, seus ombros
tocando-se. Lembrando o que encontrou escondido entre os arbustos um pouco mais perto
da praia, afastou-se dele. Ele não se fixou nisso, pode ser que nem o tivesse notado, já que
estava olhando seu navio, que estava o suficientemente perto para recolher as velas e parar
sua marcha.
- Está pronta para partir? Podemos usar um destes botes para remar até o navio. –
Ele apontou os dois botes piratas na praia em frente deles.
- Por que um destes? Por que não o que usou para nos trazer até aqui?
Nesse momento ela o observou. Era essa uma vacilação? Não, ele teria que ter uma
consciência culpada para vacilar. Mas o silêncio cresceu espesso para cortá-lo.
Suas palavras cortaram como uma faca.
- Basta abandoná-lo aqui simplesmente, não é certo? O custo de fazer um negócio,
ou neste caso, o custo de uma sedução?
- Eu posso explicar - finalmente ele conseguiu dizer.
- Claro que pode. Mas vai ajudar em algo?
- Pelo tom de sua voz, provavelmente não - disse ele com um suspiro.
Ela ficou em pé e olhou abaixo para ele.
- Realmente acreditou que não me zangaria? Não, espera. O que acreditou é que
nunca averiguaria que esta pequena excursão foi arrumada por você. Isso o resume com
precisão?
Ele também ficou em pé, sua postura repentinamente defensiva por seu sarcasmo.
- Você não é a única que pode ser "criativa", assim nem sequer pense em se zangar
porque imitei-a, tudo para conseguir um tempo a sós com você com uma mentira.
- Se isso fosse tudo o que fez, então poderia ter razão. Poderia ser! - Ela acrescentou
agudamente. - Mas você fez muito, muito mais que isso, não é certo? Meu Deus, inclusive
me molhou! O que foi fazer, me afundar na água depois de nós chegarmos aqui só para
que parecesse que você nos trouxe para terra "nadando"?
- Não, uma onda caiu sobre o bote, assim não foi necessário. Embora provavelmente
tivesse feito exatamente isso!
Estavam gritando um com o outro nesse momento. Ela estava tão furiosa que tremia.
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Os detalhes que tinha arranjado! Estava cada vez mais incrédula com cada coisa que lhe
ocorria.
A lista se desdobraria e chegaria até o chão, de tão infelizmente longa.
- O peixe? - perguntou ela.
- Um presente da maré como disse.
- A lente que leva convenientemente em seu bolso?
- Uma "história" bastante boa em minha opinião - respondeu ele limpamente.
Ela arrepiou mais. Como se atrevia ele a zangar-se e ser sarcástico? Ou era esta sua
reação à culpa? E ele tinha muito para que fosse culpado.
- Os piratas? Também o arrumou, para que pudesse "me salvar" e bancar o herói?
- Teria sido uma idéia fantástica, não é certo? - respondeu ele com um olhar
pensativo fingido que simplesmente fez que se enfurecesse mais até. - Mas os piratas são
bastante difíceis de contratar nestes dias e provavelmente não são muito dignos de
confiança. Sinto muito, eles não eram parte do plano.
Ele não aprofundou esse ponto. Não assinalou que na verdade a tinha salvado.
Embora não teria feito nenhuma diferencia para ela nesse momento.
- É esta uma ilha deserta? - Ela estava agora caminhando na areia diante dele, muito
zangada para ficar quieta.
- Não, é uma das ilhas maiores na cadeia Balear, embora esta parte não esteja
habitada, pelo que não teria sido uma viagem fácil para alcançar um dos povoados.
Surpreender-se-ia de como grande pode ser uma ilha se estiver a pé.
- Claro, teria rechaçado a sugestão para averiguar se havia um assentamento ou
povoado próximo, se eu o tivesse feito - supôs ela.
- É óbvio.
- Seu navio estava escondido no outro lado desta ilha todo o tempo, não é certo?
Assim simplesmente não chegou bem a tempo. Provavelmente disse exatamente a Tyrus
quando nos recolher. Ela se mortificou com aquele pensamento: - Meu Deus, todos eles
sabem sobre isto, não é assim?
- Não - disse ele rapidamente, e sem irritação agora. - A maioria pensa que nós só
estamos realizando uma excursão durante o dia.
- Oh, com certeza, assim eu saí em uma excursão em minha roupa de dormir?! -
respondeu ela mordazmente.
Ao baixar o olhar para seu robe, ele empalideceu. Ela compreendeu que lhe tinha
escapado esse detalhe, ou não tinha pensado tão minuciosamente em sua minuciosa
"história".
Mas antes que ela comentasse isso, lhe disse:
- Ponha isto.
Foi uma coisa boa que ele o dissesse primeiro, porque então começou a despojar-se
de seu cinturão. Durante um segundo breve, o que eles fizeram na ilha, juntos, antes que
os piratas se apresentassem, encheu sua mente e quase a fez sufocar-se. Mas estava agora
mesmo demasiado zangada para permitir que essas lembranças lhe estorvassem, e ele
estava lhe dando meramente seu cinturão para que o usasse. Deu-lhe sua jaqueta, também.
- A fivela do cinturão é muito grande - resmungou ela depois de atar o cinturão ao
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redor de sua cintura. - É óbvio que pertence a um homem.
- Desliza a fivela para a parte de trás, a jaqueta a cobrirá. Assim, agora parece que
está usando um vestido em lugar das roupas de dormir, embora um fino. Mas
considerando o tempo quente, "fino" é o normal por aqui.
Realmente não se parecia com um vestido, mas contanto que não a olhassem muito
de perto, passaria. Salvo por aqueles que o ajudaram.
- Tyrus sabe, não é assim? - Ela abriu a boca, ruborizada com a confusão.
Boyd sacudiu a cabeça.
- Se te for de ajuda, tive que torcer seu braço e reclamar cada favor que me deve. Ele
não ia ajudar-me nisto. Não dirige muito bem os segredos. E tive que convencê-lo de que
nos casaria quando nós voltássemos para o navio, ou nunca teria estado de acordo.
- Isto não está acontecendo!
- Obviamente sim - respondeu Boyd com um suspiro.
Sua explicação não tinha ajudado absolutamente. Pior, tinha atiçado mais o fogo. E
agora ela se sentia mortificada pela confusão além disso.
- Eu não posso acreditar que eu aceitei essa ridícula história de sonambulismo
sequer por um minuto. Não, realmente, inclusive não posso acreditar que lhe tenha
ocorrido. Se for mentir, pelo menos o faça parecer razoável.
- Suponho que deveria ter tomado primeiro lições.
Ela abriu a boca.
Ele pareceu imediatamente contrito e disse rapidamente:
- Sinto muito.
- Não acredito que o faça. De fato, eu nunca acreditarei de novo em você. Você, senhor,
não é confiável! Permitiu que essa tua luxúria nuble seu julgamento muitas vezes. Mas
isto! Isto está além da redenção! E quando conseguiu me trazer aqui sem despertar? -Ela
respirou profundamente quando percebeu. - Drogou-me, não é certo? Com o que? Como?
-Não seja absurda. O doutor Philips ocasionalmente está acostumado fazer uns
efetivos pós para dormir quando o necessito, mas nem sequer me ocorreu usar isso. Não
lhe faria isso, Katey. Tem minha palavra.
- Então, como conseguiu isto?
- Não foi planejado. Pensei-o, certamente, depois de que sugeri que nós fôssemos a
terra juntos e se negou redondamente. Mas não havia maneira de levá-la a terra sem que
despertasse, assim que me dei por vencido até que você bebeu tanto vinho ontem à noite
que nem sequer lembra-se de sair tropeçando da cabine de Tyrus. Admite-o. Não o
lembra, não é certo?
Ela não o fez, mas ainda não lhe acreditou. As faces dele se puseram muito
vermelhas com a menção desse pó para dormir.
- Eu não o lembraria, não é assim, se tivesse deslizado esse pó em meu copo? -disse
ela agudamente.
- Maldição, teria sido muito mais fácil e muito menos nervoso para mim se o tivesse
feito, mas não o fiz!
- Mentiroso!
- Está escutando algo do que digo?
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- Merece tal cortesia?
- Pediu uma explicação. Descoberto "em fragrante" como estou, porque me
incomodaria agora mesmo com algo que não fosse verdade? Assim me escute
cuidadosamente agora. Não a droguei! Não enchi seu copo de vinho, tampouco, você o
fez. Nem sequer estava sentado ao seu lado. Toquei Tyrus com o cotovelo para pedir mais
vinho quando vi que você já tinha esvaziado a garrafa por sua conta. Não estava nada
bêbado, pelo que reconheci uma oportunidade dourada quando se apresentou. E você
bebeu um quarto de outra garrafa mais inclusive antes de partir para encontrar sua cama.
Sem mesmo se incomodar em dar boa noite. Estava assim tão bêbada.
Certamente ela não podia negá-lo, e lembrava-se de ter se servido de várias taças de
vinho, assim não o chamou imediatamente de mentiroso de novo e mofou pelo contrário.
- O que era tão terrivelmente incerto? Não o teria feito se tivesse pensado que eu ia
despertar?
- Era uma oportunidade que eu estava desejoso de ter. Se tivesse despertado, eu
saberia que levaria dias para que superasse sua irritação.
- Faça que sejam anos, não, séculos!
- Assim é que me alegrei muito de que não despertasse. Estava seguro que o faria
quando essa onda nos orvalhou, mas não o fez. Tudo o que fez foi encolher-se mais perto
de mim em meu regaço.
Ruborizou-se furiosamente, ouvindo isso. Não era responsável pelo que fez em seus
sonhos.
Para voltá-lo para pôr à defensiva ela disse:
- Se não está mentindo, por que se ruborizou tanto à menção desse pó para dormir?
- Não pela razão que você pensa.
Uma cor luminosa cobriu suas faces de novo. Sua sobrancelha se ergueu de modo
suspeito, sua curiosidade se despertou, também..
- Por que toma?
- Não importa - disse ele, parecendo mais envergonhado ainda.
- Por quê?
- Realmente não é importante.
- É para mim. Eu quero saber por que está parecendo e soando culpado.
- É porque sofro enjôo no mar. Aí está, está contente? Isso é algo que minha família
nem sequer sabe, Katey. É por isso que não capitaneio minha própria nave. Me afeta
durante uns bons quatro dias cada vez que minha nave zarpa. É por isso que não me verá
durante os próximos quatro dias quando nós navegarmos para fora daqui.
- Quatro dias? "Para sempre" eu gosto mais. Realmente pensa que acredito nisso? A
verdade, agora!
- Essa é a verdade. E é por isso que estava suficientemente desesperado para fazer
isto.
A palavra "desesperado" lhe fez pensar em sua luxúria. Tinha acreditado que ele
tinha arriscado sua vida saltando ao mar para salvá-la, que lhe devia isso. Se isso alguma
vez tivesse ocorrido, lhe teria instigado que fizesse amor hoje? Não sabia a resposta, e
estava muito zangada para deduzi-lo.
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- Tudo isto para que pudesse fazer amor comigo? – resfolegou ela, olhando-o
fixamente.
- Se só quisesse levá-la para a cama, não teria trazido você para terra. Estava em seu
quarto, Katey, e você estava ébria. Teria sido uma questão muito simples fazer amor ali.
Infernos, você até provavelmente não teria lembrado de manhã! Mas isso não é pelo que
desejava deste dia juntos. É porque passava mais tempo doente em minha cabine que
cortejando-a.
- Me cortejando? -Ela jogou saliva ao falar. - Você chama cortejar a dizer
bruscamente "case-se comigo"?
- Desde que é a única mulher com a qual quis me casar alguma vez e a única a quem
disse bruscamente isso alguma vez, suponho que também necessito de lições sobre
como cortejar.
- Eu estou começando a pensar que necessita de lições sobre a vida. Já vejo agora por
que Anthony Malory se referiu a você e seus irmãos como bárbaros.
- Ele e James fazem isso deliberadamente, para conseguir que nos incomodemos.
Ela resfolegou.
- Não brinque. Em seu caso, é completamente certo!
Ela definitivamente o afetou com isso. Com os lábios fechados, ele começou a
responder, então viu que sua tripulação estava a ponto de descer um bote à água. Ele
avisou-os que não o fizessem, partiu abaixo para a praia, e tirou o barco do "Oceanus" dos
arbustos.
Tendo o seguido, Katey o ouviu dizer:
- Veja, está feliz? Salvamos ao maldito bote.
Não estava contente. Era tão infeliz quanto pudesse ser. E durante o curto passeio
para o navio, tendo passado sua irritação, ela estava voltando para seus sentimentos
feridos. Boyd estava calado, também.
Mas antes que subissem a bordo, lhe disse:
- Realmente desejaria que o dia de hoje não tivesse acontecido?
Não lhe respondeu.
CAPÍTULO 41
Boyd tinha bebido muito vinho ontem à noite, durante o jantar que tinha
compartilhado com a Katey. Sóbrio, teria recuperado a razão e nunca teria levado a cabo
semelhante ardil. Mas executou sua idéia logo que lhe ocorreu. Não teve o tempo
suficiente para pensar melhor.
Olhando as costas rígidas de Katey diante de si no bote enquanto remava
aproximando-se do navio, repreendeu-se a si mesmo. A quem estava enganando? O
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desespero havia o trazido para isto, e o desespero teria que tirá-lo.
Mas não tinha planejado fazer amor com ela. Nunca sonhou que esse seria o
resultado de seu dia na praia com ela. Só quis um pouco de tempo no qual poderiam
chegar a conhecer-se melhor, sem sua criada perto como foi o caso em sua excursão a
Cartagena. E tinha necessitado que fosse em terra firme. Passar a maior parte do tempo em
sua cabine nesta viagem não o estava levando a nenhuma parte. E quando tinha roubado
alguns minutos com ela no navio, seu desejo o levou fazer ridículo.
Os irmãos Malory lhe deram bom conselho, mas ele não era como eles. Era um
marinheiro. Nunca estava num porto por muito tempo. Nunca teve tempo de ser sutil com
uma mulher, assim era algo que não tinha tentado antes. E seus sentimentos continuavam
se metendo no caminho com Katey. Querendo-a malditamente tanto, que nem sequer
tinha
podido ser ele mesmo com ela. Até o dia de hoje. Brevemente. Muito brevemente. Deveria
ter matado a esses malditos piratas por interromper o que foi o dia mais doce de sua vida.
O silêncio de Katey o estava matando. Ela não tinha respondido à sua pergunta, mas
isso era uma resposta em si mesma. É óbvio, agora ela desejava que o dia de hoje não
tivesse ocorrido. Mas antes que averiguasse quando fez os preparativos para que
estivessem sozinhos na praia, não tinha parecido ter remorsos. Mas ainda assim não se
casaria com ele. Mulher teimosa. Meu Deus, tinha-lhe perguntado se a esperaria! Agora,
teria sorte se ela não passasse o resto de viagem em sua cabine. Na verdade, teria sorte se
não abandonasse o "Oceanus" no porto seguinte. Alcançando o navio, ela subiu a escada
de mão, mas bem precipitadamente, assim se surpreendeu de que ainda estivesse ali
quando passou o corrimão atrás dela. Tyrus estava ali, também, mostrando-se
completamente envergonhado, o que provavelmente explicava por que ela não se fora.
Não o ia deixar livrar-se de sua cólera.
- Ali está, Capitão - gritou um tripulante do fortaleza. - Não a perdemos.
O tripulante não falava da Katey, é óbvio. Acabava de descer sua luneta, mas não
estava enfrentando o casco de navio pirata.
- De que navio fala? - perguntou Boyd a Tyrus.
- Do seu - disse Tyrus, apontando com a cabeça atrás dele. - Tomando o mesmo
curso pelo norte do mediterrâneo e revistando nos encontraram algumas horas atrás e
vieram a bordo. Seu navio nos seguia, mas o perdemos de vista quando demos a volta à
ilha.
Boyd se virou abruptamente para ver de quem falava Tyrus e ficou perfeitamente
imóvel. Apoiando-se contra a murada, ambos parecendo tão inescrutáveis como sempre,
estavam Anthony e James Malory. James não parecia diferente da última vez que tinha
abordado o "Oceanus" e roubado seu carregamento!… todos esses anos atrás quando se
divertiu vivendo a vida de um cavalheiro pirata no Caribe. Sua camisa branca estava
frouxamente metida em suas calças ajustadas, seu cabelo loiro ondulava no vento e um
brinco de ouro cintilava em sua orelha. Anthony não estava tão imaculado como sempre,
tampouco, com as mangas de sua camisa branca enroladas pelo calor. Boyd não podia
acreditá-lo. Nem sequer os tinha visto quando subiu a bordo. Não podia pensar em uma
só razão por que estariam ali. E então o fez, e empalideceu.
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- Georgina?
- Tem que ajustar contas com você, mas, além disso, está bem - disse James.
- Meus irmãos?
- Nem ideia - respondeu James. - Mas provavelmente estão como a última vez que os
viu.
A cor retornou a suas faces com seu alívio imediato, mas rapidamente o seguiu um
cenho franzido.
- Então o que está fazendo aqui?
Esta pergunta não foi dirigida a um deles em particular, mas Anthony respondeu:
- Devo recolher Katey e matá-lo.
Como falou sem nenhuma mudança em sua expressão, Boyd assumiu que Anthony
só estava sendo aborrecido como sempre.
Mas Katey agarrou seu comentário.
- Isso soa quando um plano esplêndido para mim em ambos os aspectos - disse aos
Mallory – Mas poderia querer esperar para matá-lo até que esteja de volta em terra firme.
Aqui no navio, sem dúvida ganhará sua simpatia com seu enjôo. Provavelmente se iniciará
em qualquer momento - acrescentou enquanto o navio se inundava na água. - É difícil
matar a um homem se ele vomitar tudo sobre você.
Boyd gemeu interiormente.
- Obrigada, Katey. Justo os dois que teria escolhido para que não soubessem disso.
- Faltava mais - respondeu-lhe com brutalidade. - E como estou falando com você no
momento, despedir-me-ei agora. Se alguma vez lhe vir outra vez, Boyd Anderson, por
favor simule que não me conhece. É tão bom em fingimentos quando eu, assim estou
segura de que pode dirigi-lo bem.
Ela se foi pisando forte rumo a sua cabine, com os quatro homens olhando sua
partida. James na verdade esperou que ela estivesse fora de vista antes de dobrar-se em
risada. Boyd se preparou duramente para uma grande quantidade de humor... a custa
dela. Não teve que esperar muito tempo.
- Sua família inteira está na navegação e não tem estômago para o mar - disse James
com outro ataque de risada. - Isto "não" tem preço. E garanto que sua família não sabe.
Suponho que nos deveríamos guardar isso - disse a seu irmão.
- Inferno o que o farei - respondeu Anthony. - Gritá-lo-ei dos telhados até que cada
membro da "Skylark" e sua família o ouçam.
- Isso supõe que ele continue respirando para que possa sofrer a vergonha - disse
James, ainda obviamente divertido. - Assim não vai matá-lo agora?
- Só um pouco.
Anthony estrelou seu punho contra o rosto de Boyd.
Boyd foi apanhado com a guarda totalmente baixa. Em realidade não o esperava.
Mas Anthony foi rápido. Provavelmente teria metido esse murro até se Boyd o tivesse
antecipado.
Levantando-se só da coberta, Boyd grunhiu:
- Por que estão aqui vocês dois?
- Isso já foi respondido - interveio James, apoiando-se contra o corrimão outra vez
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com seus braços cruzados.
James ficando a vontade para observar o entretenimento deveria ter posto em alerta
a Boyd, mas maldito se Anthony conectou outro golpe. Deste não derrubou a Boyd, mas
sua face explodiu de dor. Ele o ignorou e ergueu seus punhos. Não ia ser apanhado com
a guarda baixa uma terceira vez.
Até sorriu ligeiramente enquanto dizia ao Anthony:
- Sabe, esperei anos para isto, uma oportunidade para provar minhas habilidades
contra um professor, e sempre considerei que o foi.
- Devia tê-lo dito, ianque. Teria estado feliz de lhe dar o gosto.
- Mas eu gostaria de saber o porquê me concede meu desejo mais prezado. - E Boyd
acrescentou educadamente: - Se não se importar?
- Se Katey não estivesse furiosa com você, o que implica que não arrumou isso para
seduzi-la depois de tudo, não me estaria contendo - informou-lhe Anthony.
Boyd se esfregou a face brandamente.
- Chama a isto se conter?
Anthony ignorou essa pergunta.
- Já que não teve êxito, não tenho que matá-lo. Entretanto, preciso deixar bem claro
que seduzir minha filha vai ser removido de sua lista de opções. De fato, em...
- Sua o que?
Anthony não fez uma pausa nessa interrupção.
- O que a ela concerne, você não tem nenhuma opção. Teria que estar tão apaixonada
por você que literalmente adoecesse ela antes de que alguma vez considerasse colocar a
outro Anderson na família imediata. E dado que esse obviamente não é o caso, você,
querido menino, se manterá infelizmente longe dela.
Incrédulo, Boyd olhou ao James por respostas.
- Está delirando, correto?
- Receio que não, ianque.
- Mas é tão americana quando eu! Como pode ser sua filha?
- Como usualmente se faz, suponho - disse James secamente.
- Sabe o que quis dizer - respondeu Boyd, sua frustração acumulando-se.
James encolheu os ombros.
- É uma longa história. Basta dizer que é uma Malory. Que mal para você, não é
verdade?
Esse "que mal" tinha um montão de significados, e alguns deles chegaram a ele
imediatamente. Pela terceira vez, Boyd foi tomado despreparado e derrubado à coberta.
Mas esta vez se levantou balançando-se.
CAPÍTULO 42
- Quando vai contar a ela? -perguntou-lhe James com voz calma a seu irmão.
Eles estavam parados na amurada do navio do James, observando ao "Oceanus" na
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distância tratando de alcançá-los. Isso não ia acontecer a menos que ele o permitisse.
O "Maiden George", como ele tinha rebatizado a seu navio quando o comprou para
levar a Georgina a Connecticut há alguns meses, foi chamado assim por sua esposa, mas
também em memória do "Maiden Ann", o navio no qual ele tinha vivido durante muitos
anos. Este navio era mais rápido, mas só porque lhe tinha tirado todos seus canhões antes
que partissem para encontrar ao "Oceanus". Não podia fazer nada mais que correr se os
atacassem, mas se atacassem, podia correr infelizmente rápido.
Navegar desarmado fez com que a viagem fosse um pouco perigosa, considerando a
desenfreada atividade dos piratas no Mediterrâneo, mas a velocidade foi preferível com
um Anthony que virtualmente subia às paredes com a impaciência. E com uma boa razão.
Eles "instruíram" a Boyd em quando conseguir seduzir à garota. Assim "era" imperativo
encontrá-los a ele e a Katey antes que isso acontecesse.
James tinha permitido que o "Oceanus" os alcançasse uma vez, deliberadamente.
Mas isso se converteu em uma guerra de gritos que enfureceu ao Anthony, porque ele não
podia alcançar ao ianque para golpeá-lo um pouco mais. Katey, que agora estava a bordo
do "Maiden George", não subiu a coberta para escutá-los, o que era algo bom. As mulheres
tendiam a ficar todas consideradas quando eram testemunhas da cara golpeada de alguém
a quem elas conheciam, e a cara de Boyd encaixava definitivamente nessa categoria.
Possivelmente era o que Boyd esperara que acontecesse, já que lhes gritou que se
detivessem para poder falar com ela.
Katey não tinha visto sua condição quando tinha retornado à coberta do "Oceanus"
com seus criados e sua bagagem, pronta para trocar de navio, porque Boyd já foi levado a
seu camarote então, muito inconsciente.
- Bem? - instigou James a seu irmão.
- Preferiria esperar até que eu não parecesse mais um panda - resmungou Anthony.
James riu entre dentes.
- Só lhe pôs um olho negro, não os dois. Mas admitirei que ele deu boa conta de si
mesmo. O qual é surpreendente. Não acredito que lhe tenha esperado isso, verdade?
- Nunca estava com ele no ringue. Pelo que escutei, ele esperara um convite.
Desejaria que o tivesse mencionado antes de hoje. Teria preferido saber adiantado que esta
luta ia durar tanto tempo.
- Suponho que não deveria estar surpreso, ao chegar a pensar nisso - disse James. - O
cachorrinho passou mais tempo admirando minha habilidade de pugilista em Connecticut
que tentando me amassar com seus irmãos. Mas são bastante hábeis com seus punhos,
esses ianques. De fato, essa foi a terceira pior surra de minha vida.
- Eram cinco deles contra você. É perfeitamente compreensível, velho. Os Anderson
não são exatamente homens pequenos. E qual foi a surra número dois?
- Você e os mais velhos, é claro - lembrou James a Anthony. - Quando trouxe nossa
sobrinha para casa depois de levá-la furtivamente comigo naquele verão faz tanto tempo.
- Você "permitiu" que lhe golpeassem porque se sentia culpado, ou isso foi o que
admitiu finalmente. Quando foi a outra vez?
James riu entredentes.
- Uma vez tive a todos em uma taverna cheia de descarados saltando sobre mim no
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Caribe.
- Falou rude no momento equivocado, não é verdade?
- Então já lhe mencionei isso?
- Deve tê-lo feito, mas tive muitas surpresas ultimamente. É por isso que não o tinha
lembrado.
- Eles em realidade pensaram que estava morto. Eu estava tão golpeado nessa noite
que eles me lançaram da plataforma para esconder a evidência. Dessa maneira foi que
conheci o pai de Gabrielle e terminei lhe devendo minha vida, uma dívida que ele me
cobrou neste verão quando me pediu que patrocinasse a sua filha para a temporada. Ele e
seu primeiro assistente me tiraram da água.
Anthony sorriu.
- Agora lembro. Mencionou isso quando explicou por que tinha à filha de um pirata
debaixo de seu teto. Mas compreendeu que essas lutas eram pelo menos de três contra um,
e todas as permitiu. Nenhuma vez perdeu em uma luta um a um, não é verdade? Nem
sequer comigo.
- Tampouco você. Somos bastante inteligentes para terminar nossos encontros antes
que nos machuquemos muito mutuamente.
-É óbvio. Não queremos que nossas esposas se incomodem por isso.
- Então quando vai contar a ela?
James atirou esse dardo para agarrar Anthony fora de base depois de obter que sua
mente se limpasse, mas Anthony simplesmente lhe deu um olhar aborrecido e lhe avisou:
- Não me pressione. Isto não é exatamente um assunto que alguém trate todos os
dias. Não lhe vai gostar que lhe digam que o homem que pensava ser seu pai durante
todos estes anos em realidade não era.
- Ele ainda continua sendo o homem que a criou. Esta notícia não vai fazer que o
amor que ela sente por ele diminua.
- É óbvio que não, mas ela vai se surpreender sem importar o que lhe diga. Adeline e
seu marido mentiram a Katey. E ambos estão mortos, talvez nunca teria conhecido a
verdade. Os Millards não se incomodaram em dizer-lhe terminou Anthony com aversão.
James albergava essa mesma aversão.
- Letitia Millard admitiu que apenas deixou Katey entrar à porta. Infernos, ela não ia
deixar nos entrar absolutamente. Que mulher tão infelizmente penosa e discreta.
Ambos lembraram o dia no qual visitaram os Millards. Eles não passaram mais de
dez minutos nessa casa, e tiveram que entrar abruptamente quando a própria Letitia lhes
abriu a porta nesse dia. Ela tratou de fechar a porta em suas caras. E se negou
absolutamente a lhes permitir ver sua mãe.
Ela verificou o que havia dito nessa nota, que Katey era a bastarda do Anthony, mas
eles não iram acreditar em sua palavra. A mulher estava muito zangada. O rosto havia se
posto vermelho ante a mera visão do Anthony. E estava gritando que saíssem. Nem sequer
reconheceu ao James.
Mas a curiosidade do James não o manteve calado. Tinha lhe perguntado
diretamente:
- O que tem você contra minha família?
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Sua resposta foi:
- E quem é você?
- Um Malory, a quem você parece desprezar.
Ela simplesmente tinha resmungado e chamado a seus criados para jogá-los fora,
um esforço que acabou com o lacaio caindo abruptamente no chão e o mordomo correndo
em direção oposta.
Tiveram que passar a força ao lado da Letitia para poder chegar até onde estava sua
mãe lá em cima. Ela seguiu gritando que sua mãe não estava suficientemente bem para
atendê-los. Desgraçadamente, ela estava dizendo a verdade sobre isso.
O quarto cheirava a medicina, fumaça de velas, e enfermidade. Estava bloqueado;
inclusive as cortinas estavam firmemente fechadas. E a anciã na cama parecia estar
inconsciente em lugar de estar adormecida. Uma criada jovem estava sentada ao lado da
cama tecendo. Não parecia estar tão preocupada com a condição de Sophie, mas alguns
criados não se preocupavam com seus patrões, com um trabalho que era tão bom quanto o
seguinte.
Letitia os tinha seguido acima, é óbvio. Ainda furiosa com eles e sua impotência de
ser incapaz de acautelar sua intrusão, mas pelo menos deixou de gritar.
- Não a despertem. Ela ressentiu-se deste frio durante uma semana. Não está
suficientemente forte para suportá-lo.
Letitia sussurrou essa informação em um cochicho. Estava claro que ela adorava a
sua mãe, mas também era super protetora com ela. O que era compreensível. Em sua
mente, Sophie era tudo o que foi. Mas o amor poderia ser sufocante, também, e ser
encerrado nessa escuridão mal ventilada era ir muito longe nessa direção.
- O ar fresco poderia ser mais benéfico, não lhe parece? - comentou-lhe James.
Letitia não estava aberta às sugestões deles.
- O ar fresco é muito frio nesta época do ano.
- A luz não é - resmungou Sophie Millard da cama.
Letitia foi rápida em dizer uma choramingação defensiva:
- A escuridão te ajuda a dormir, mãe, e o dormir ajudará a que se sinta melhor.
- Já estou farta de dormir, e da fumaça dessas velas. Se for de dia, me dê um pouco
de luz – fez gestos à criada para que abrisse as cortinas. - Quero ver quem são meus
visitantes.
A anciã não soava quando se estivesse às portas da morte. Mas evidentemente
estava doente, sua voz soava rouca de tanto tossir. Mas eles não estavam ali para cansá-la.
Se Letitia fora confiável, nunca teriam subido as escadas. Mas a raiva da Letitia e a falta de
boas-vindas punham o que ela disse em textura de julgamento. E não lhes ia tomar muito
tempo conseguir a verificação que vieram buscar.
Anthony tinha chegado às mesmas conclusões e por isso foi diretamente ao ponto.
- Passaram muitos anos, Lady Sophie, mas possivelmente você lembra que eu estive
cortejando a Adeline antes que ela partisse da Inglaterra há vinte anos.
A anciã entreabriu os olhos para ele antes de dizer:
- Você tem um rosto muito memorável, Sir Anthony. "Muito" memorável. É isso o
que você estava fazendo?
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- Perdão?
- Cortejando a minha filha? O resto de minha família tinha a impressão de que suas
intenções não eram nem sequer um pouco honoráveis, que simplesmente estava
divertindo-se com ela.
Tinham se posto um pouco vermelhas as faces de Anthony. Mas já que foi um
cafajeste memorável, não estava em posição de responder ao insulto incluso embora a
acusação em seu caso estivesse longe da verdade.
Simplesmente disse:
- Esperava me casar com ela.
A própria impaciência do James o tinha estimulado então, sua curiosidade corria
desenfreada por uma vez. Anthony poderia ter sido relutante de carregar a uma mulher
doente com lembranças desagradáveis, mas James não. Ele estava a ponto de fazer a
pergunta por si mesmo, mas não foi necessário.
- Já vejo - havia dito Sophie, seu tom e sua expressão se tornaram tristes. - Então
possivelmente gostará de saber que ela deu a luz a seu filho.
- Eu já lhe disse isso, mãe - Letitia foi rápida em queixar-se. - Mas ele não me
acreditou.
Sophie tinha suspirado mas respondeu com desaprovação, provavelmente não pela
primeira vez:
- Sua atitude, Letty, dá lugar a dúvidas.
James quase sorriu abertamente, mas se refreou. Anthony que ao escutar a
confirmação e capaz de acreditar desta vez, que Katey era sua, estava de novo
consternado.
Mas pôde controlar suas emoções o suficiente para dizer:
- Obrigado, Lady Sophie. Espero que você melhore logo. Possivelmente podemos
discutir isto depois em grande detalhe.
- Assim o espero, Sir Anthony.
Eles permitiram que Letitia os empurrasse e os tirasse do quarto depois disso. E ela
lhes disse ao descer as escadas:
- Não retornem, essas lembranças só a fazem infeliz. Não necessita disso em sua
idade.
Eles não responderam. Tinham a resposta pela qual tinham vindo, mas Katey ainda
não era consciente dessa informação. Ela não tinha questionado o comentário do Anthony
de que tinham vindo procurá-la. Simplesmente subiu a bordo do "Maiden George" e tinha
permanecido encerrada no camarote que lhe tinham atribuído. Ainda não lhes tinha
perguntado a razão pela qual eles tinham vindo procurá-la. Parecia zangada e preocupada
com o Anderson e estava destrambelhando contra ele em privado. Mas provavelmente
lhes perguntaria antes de que o dia chegasse a seu fim.
James supôs que poderia esperar até então, para averiguar como seu irmão ia ocupar
se dessa pergunta, e como sua nova sobrinha responderia ante a resposta. Nem por um
momento ele poderia admitir que estava um pouco nervoso por sua reação. Assim podia
imaginar-se quando se estava sentindo Anthony.
Pode ser que seus dois pais fossem ingleses, mas Katey tinha nascido e se criado na
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América, depois de tudo E embora James se casasse com uma americana há oito anos, a
idéia dos costumes dos americanos ainda rondava em sua mente algumas vezes. Maldito
inferno, com muita frequência, em realidade. Assim talvez poderia ser que Katey não
quisesse ser parte da família Malory.
Era duro de acreditar, mas ainda assim era possível. Particularmente desde que
Boyd Anderson tinha a seus irmãos firmemente arraigados na família, e Katey
evidentemente ainda não tinha perdoado a Boyd por tratá-la como a uma delinquente. Ou
possivelmente ele tinha incorrido em sua ira por alguma outra razão? Isso não
surpreenderia ao James. O ianque era uma pessoa impetuosa, além de tudo.
CAPÍTULO 43
- Sente-se melhor? - Perguntou Grace, pondo sua cabeça pela porta.
- Não estive doente - disse Katey.
- Não, mas teve o humor "não me diga nenhuma palavra" o que fez desenvolver
anticorpos ultimamente - murmurou Grace. - Agora já reconheço os sinais.
A mesma Grace estava de um humor queixoso, realmente compreensível.
Antes quando Katey encontrou ao Grace no "Oceanus", Grace lhe gritou:
- Estava num piquenique! Não me podia dizer isso antes de sair? Tive que perseguir
o capitão durante uma hora antes que ele se incomodasse em explicar seu
desaparecimento.
- Empacota nossos baús, mudaremos de navio. - Foi tudo o que Katey havia dito.
- Quando?
- Agora, ou assim que o outro navio consiga aproximar-se suficientemente perto
para abordar.
- Mas por quê?
- Porque os Mallory vieram nos buscar.
- Mas por quê?
- Não sei, nem me importa. Eles inclusive poderiam estar falando de brincadeira.
Esses dois irmãos parecem ter esse hábito e fazê-lo parecer como se fosse a sério.
Realmente, talvez estivessem falando de brincadeira, já que eles também disseram que
estavam aqui para matar a Boyd, e não poderiam querer dizer isso.
- Assim não estamos fugindo?
- Nós estamos. Seja qual for a razão que os trouxe aqui, vou ater-me a seu
comentário sobre que nos andavam "procurando". Eles têm um navio e nem sequer me
importa aonde vai, embora minha hipótese seja que retorna a Inglaterra. Simplesmente
estou contente de deixar este navio.
- O que há sobre seu "acordo de renda"?
- Era só um acordo verbal, e além disso, realmente duvido que Boyd mencionasse
isso a estas alturas. Alugar o "Oceanus" era uma boa idéia e teria continuado sendo uma
boa idéia se seu dono não tivesse insistido em vir.
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- Mas...
- Nenhum mais porém. - Katey finalizou a discussão, ainda muito zangada para
longas explicações.
A desculpa do piquenique que deram à Grace tinha alimentado novamente a
irritação de Katey, já que apostaria a que Boyd não tinha pensado nem uma vez sobre seus
criados e como sua ausência se explicaria a eles. Ou ele realmente acreditou que eles não
notariam que não estava todo o dia no navio? Ou possivelmente acreditava que era uma
patroa irrefletida, imperiosa que somente dava ordens a seus criados sem levar tempo para
lhes explicar algo.
Tyrus tinha proposto a desculpa de um piquenique, que foi melhor que nenhuma
desculpa absolutamente, e certamente melhor que a verdade, pelo que ele foi privado. Mas
essa desculpa ainda lhe fez parecer como se Katey tivesse sido desconsiderada em não dar
um aviso anterior à Grace.
- Sinto que não me ocorresse lhe deixar uma nota - disse ela ao Grace nesse
momento quando se sentou em sua cama parecendo tão culpada como se sentia. - Foi uma
decisão de momento ir a terra. Boyd queria que visse a saída do sol da praia.
Mentia a sua donzela! Não pela primeira vez, claro, mas essa era uma mentira real,
não o tipo que ela fazia para entreter ao Grace.
- Fez isso? - perguntou Grace curiosamente enquanto ficou a desempacotar os baús
da Katey de novo.
- Não, mas nós o vimos do bote de remos no caminho. Foi encantador, refletindo-se
nas poucas nuvens próximas, e na água.
Katey se ruborizou imediatamente. Não estava acostumada a mentir realmente,
certamente não à Grace. Precisava deixar de elaborar mentiras e simplesmente mudar de
assunto!
- Parece que foi uma excursão divertida - disse Grace com uma choramingação. - O
que a danificou?
Katey gemeu interiormente.
- Quando esse homem não faz algo para me incomodar? Ele expôs o assunto do
matrimônio de novo, não desperdiçou a oportunidade.
Grace se voltou para ela com os olhos arregalados.
- De novo"? Quando foi a primeira vez?
- Isso foi, também, algo impulsivo. Como chovido do céu, sem sequer algo que
conduzisse a isso, simplesmente me pediu que me casasse com ele. Senti-me insultada.
Grace abriu a boca.
- Como pode se sentir insultada com um cumprimento assim?
Katey não ia dizer a sua donzela que Boyd tinha mencionado deitar-se com ela na
mesma frase.
- Foi sua aspereza - evadiu-se ela. - Por alguma razão ele não pensa que poderia
gostar de ser cortejada primeiro.
Grace riu entredentes disso e em seu tom superior de "Eu-se-mais-que-você" disse:
- Tinha o pressentimento de que estava aflita. Não sei por que o guardaste para você
mesma. Por que não faz com que ambos deixem de sentir-se miseráveis e se casa com o
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homem?
- Não estou aflita.
Grace resfolegou.
- Conheço-a, lembra? Esteve dando todos os sinais desde que se encontrou de novo
com Boyd Anderson. Está muito e verdadeiramente aflita, assim não tente negá-lo.
Katey sacudiu sua cabeça.
- Atraída, certamente. Como poderia não achá-lo bonito? Envaidecido,
possivelmente um pouco. Mas suas emoções são extremas e não estou tão segura que
quereria tratar com isso o resto de minha vida.
Essa era uma mentira maior ainda. Hoje se deu conta como era Boyd quando não
estava desejando-a. Tinha-lhe mostrado um lado completamente diferente seu, como se
fosse dois homens diferentes. E do depravado, brincalhão seria fácil apaixonar-se. Muito
fácil.
- Não planejava me casar até que terminasse esta viagem.
- O amor não se preocupa pelos planos, Katey. Nunca o faz. Só acontece.
- Discordo. Pode evitar-se, acabá-lo antes que comece. Podem se tomar medidas para
impedir que aconteça.
- Assim por isso nós saltamos de navio, como se diz? Não é só porque está de novo
furiosa com ele, está fugindo do amor?
Katey rilhou seus dentes.
- Não, eu já lhe disse isso. Os Mallory vieram aqui para me buscar, pelo menos isso é
o que disseram. E parecia um bom momento para tirar férias de Boyd Anderson. Umas
permanentes.
- Porque está furiosa com ele.
- Bem! Por que sim!
Voltou o tom de Grace de "Eu-sei-mais-que-você".
- Pondo distância entre você e ele não vai debilitar o que está sentindo.
Já que o que Katey sentia era raiva, esperou certamente que esse não fosse o caso.
Não gostaria de navegar todo o caminho de volta a Inglaterra sofrendo desta zanga. Mas
sabia que isso não era do que Grace estava falando.
-Eu não o amo - insistiu ela de novo. - Poderia ter estado florescendo em mim um
pouco, mas já está murchando. E não vê-lo nunca mais remediará qualquer sentimento
restante que tenha por ele.
"Por favor, permite que isso seja verdade", disse-se ela. Quanto a sua irritação,
poderia refreá-la, estava segura. Poderia demorar uns dias para arrumar-se, mas com a
causa fora de sua vizinhança imediata, seria muito mais fácil fazê-lo que se tivesse que ver
Boyd todos os dias.
- Ainda não acredito que tenha abandonado o navio simplesmente devido a uma
rixa com ele - comentou Grace.
- Não posso desfrutar desta viagem se constantemente estou em um estado de
aborrecimento.
- Bem, isso é bastante certo, suponho - acrescentou Grace. - Ele nos seguiu, sabe.
- O que?
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- Eles tiveram uma discussão a gritos de navio a navio quando o "Oceanus" navegou
junto a este navio.
- O que?!
Grace sacudiu a cabeça.
- Fui a coberta a escutar, mas esse senhor loiro me pediu que voltasse para minha
cabine, e, bem, não me sentia tão ousada para discutir com ele.
Katey olhou fixamente aos olhos arregalados de sua donzela por um momento, mas
logo quase sorriu abertamente por seu último comentário. Era absolutamente
compreensível que Grace não queria discutir com o James Malory. Nem Katey o faria.
Ela tentou parecer indiferente quando perguntou:
- Assim não ouviu o que eles se estavam gritando?
- Não, mas o que pensa? Pediu-lhe que se case com ele, mas eles estão fugindo com
você. Quer você de volta em seu navio sem dúvida nenhuma, para que possa terminar de
cortejá-la.
Katey revirou os olhos.
- Não estava me cortejando. Duvido que saiba como se faz.
Grace resfolegou.
- Tampouco você. Com certeza, não tem uma casa onde ele possa ir visitá-la, mas o
que pensa que foi tudo isso em Cartagena, quando passou o dia inteiro com você? E esse
piquenique? E querendo olhar o nascer do sol contigo?
Katey teria golpeado sua cabeça contra uma mesa se tivesse havido uma diante dela.
Duas de três das coisas que Grace simplesmente tinha mencionado eram mentiras, e a que
não era não contava, já que ela sabia muito bem que cada coisa que o homem fez era
devido a seu desejo físico por ela, não porque queria cortejá-la.
Mas Grace não tinha acabado. Só fez uma pausa suficientemente longa para tirar
uma caixa pequena de um dos baús de Katey.
- E isto? - perguntou Grace, enquanto dava a caixa a ela. - Encontrei-o em sua cabine
quando foi no piquenique. Poderia ter lhe entregue isso antes. Desde que ainda está sem
abrir, não o viu?
- Não. - Katey franziu o sobrecenho quando tomou o pequeno pacote e tirou o fino
envoltório de seda.
Quando abriu a pequena caixa de madeira, seus olhos se alongaram. Pendurado de
uma corrente de ouro estava um encantador pendente esculpido, delicadamente esculpido
e um aviso imediato de casa e de Boyd. Pôs a corrente em seu pescoço antes de examiná-lo
mais estreitamente.
Grace estava Sorrindo afetadamente agora.
- Bonito, mas claro não poderia ter lhe dado isso porque estava cortejando-a. Não é
importante agora. Seu navio já não está nos seguindo, ou se o está, ficou muito longe atrás.
Subi para verificar antes que viesse lhe dizer que os Mallory estão esperando para jantar
com você.
Katey pestanejou e saiu voando da cama, gritando:
- Por que não me disse isso?!
- Acabo de fazê-lo. E não há nenhuma necessidade de saltar em pânico. Assim que
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os faz esperar. É...
- Não, não os farei esperar. - Katey agarrou um dos vestidos que Grace
simplesmente tinha posto no armário. - Um irmão me assusta até a morte. E a ti. Não o
negue, acaba de dizê-lo. vê-se tão ameaçador todo o tempo! Ainda tenho que me sentir
relaxada em sua presença. O outro, o pai do Judith, bem, ele não é nada mais que
simpático. Não posso negar isso. Mas tenho este estranho sentimento sobre ele que quase
me faz sentir igualmente nervosa.
- Estranho como?
Katey não fez uma pausa trocando de roupa.
- É difícil descrevê-lo. É como se por causa de Judith, queria impressioná-lo. Viu-me
como a heroína de sua filha.
Grace riu.
- Não pode ser mais impressionante que essa vez.
- Já sei. Acredito que não quero empanar a imagem que tem de mim. Não deveria
me importar, mas por alguma razão me importa.
Grace fechou a parte de trás do vestido da Katey.
- Impressioná-lo e não defraudá-lo são a mesma coisa assim é compreensível que se
sinta assim sobre o pai de Judith. Você formou laços íntimos rapidamente com essa
menina. Não duvido que você e Judith continuem sendo amigas e permaneçam em
contato.
- Você pensa que isso é tudo?
- Por que mais se preocuparia sobre o que Sir Anthony Malory pensa de você?
CAPÍTULO 44
Foi um jantar desagradável. Katey não podia pensar em uma palavra mais adequada
para descrevê-lo. Ela estava desconfortável. Os dois Mallory estavam igualmente
desconfortáveis. E não ajudou o fato de que James quase a tinha insultado quando se fixou
no pendente que estava usando perto de seu coração, perguntando se era feito de marfim.
Sorriu-lhe e comentou:
- Não, chama-se talha em osso, esculturas que se fizeram popular recentemente na
Nova Inglaterra. É feito com osso de baleia.
Ele parecia horrorizado.
- Está usando baleia?
Ela se tinha enrijecido e disse:
- Acredito que é formoso. Precisou de muito sentimento e talento fazê-lo.
- Correto - corrigiu-se. - Muito formoso.
Por alguma razão, pareciam estar tão nervosos quando ela esta noite. Ou
possivelmente, estavam respondendo a seu estado de ânimo.
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A comida estava deliciosa. Os Mallory tentaram manter uma conversa normal, mas
estavam bastante tensos. E ela captou vários olhares entre os irmãos, como se se
estivessem comunicando sem palavras. Sua estranha conduta começou a preocupá-la.
Tinha pensado em lhes perguntar que estavam fazendo no Mediterrâneo. Agora estava
muito segura de não querer saber.
- Pura tolice de sua parte, levá-la através desse mar em particular - estava-lhe
dizendo James. - Há muito tempo quente no Caribe. Ali é onde Boyd deveria ter navegado.
- Não quis viajar tão longe ainda - respondeu Katey. - Ele o sugeriu. Eu o recusei.
- Então a falta é sua, querida minha. - James não duvidou em brigar com ela. - Você
tem que ter em conta o que está acontecendo na parte do mundo que pensa visitar. A
maioria dos piratas no Caribe se afastaram nos fins do último século. Os poucos que ainda
estão operando ali, são principalmente do tipo inoportuno que pedirá resgate a sua família
se a capturarem.
- O que diz meu irmão - disse Anthony, - é que os piratas são muito mais frequentes
no Mediterrâneo. Os governos que sofreram perdas devido a eles não estão
suficientemente aborrecidos para lhes declarar guerra. Farão isso no futuro, mas enquanto
isso, se esses piratas a capturarem, não pedirão resgate a sua família, simplesmente a
venderão como escrava. Uma diferença muito grande.
Katey não se ofendeu. Quando alguém que lhe importava brigava com ela, tendia a
sentir culpa, não zanga. Mas Katey não sentia nenhuma emoção agora. Pelo menos já não
estavam andando na ponta dos pés a seu redor com suas palavras, o que lhe permitiu que
simplesmente relaxasse um pouco.
- Estava segura de que nós estaríamos relativamente seguros se evitássemos à
"Irmandade da Costa" o que fizemos - disse-lhes Katey. - Fui informada mau? É por isso
que vocês vieram nos buscar? Sabem vocês algo sobre esta área que Boyd e seu capitão não
sabem?
- Meu irmão está sendo muito dramático - disse Anthony. - Provavelmente você
estava bem.
- Não tão bem - viu-se Katey obrigada a dizer. - Se tivéssemos ficado no navio,
estaríamos, sem dúvida nenhuma. Mas ao fazer essa excursão tão longe de qualquer
povoado nos deixou expostos. Alguns piratas se apresentaram hoje. Descobriram-nos na
praia e vieram nos capturar em terra. Boyd se encarregou dos dois botes que enviaram.
Vocês não notaram seu navio que fugia longe quando avistaram o "Oceanus"?
- Vimos o navio menor, mas quando vocês estavam no lado despovoado de uma ilha
habitada, assumimos que eram aldeãos meramente amistosos que se detiveram para ver se
queriam que os tirassem dali.
- Dois botes cheios, né? - disse James pensativamente. - Quantas pessoas em cada
um?
- Seis por cada bote. Boyd ainda não se encarregara do primeiro grupo quando o
segundo bote chegou.
- Tinha armas?
- Se quer chamar armas aos seus punhos. Com o esforço aparente de vendê-lo como
escravo, estavam fazendo o possível para não danificá-lo seriamente. Acreditaram que o
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poderiam vencer com suas mãos nuas. Acreditaram mal.
Ante isso James levantou uma sobrancelha dourada a seu irmão.
- Sente-se melhor, velho?
- Por que é bom com seus punhos? - Resmungou Anthony. - Ou por que depois de
amolgar doze rostos ele ainda era bom com seus punhos?
James terminou rindo-se entredentes.
- Bom ponto.
Anthony lhe disse com o cenho franzido:
- Você deve ter estado aterrorizada.
Katey pestanejou quando se deu conta de que não o estava em nenhum momento,
pelo menos não teve medo por ela. De fato...
- Estava angustiada, sim, mas a princípio por Boyd. Ele me escondeu no interior da
ilha, então se voltou a "fazer-se encarregado deles", quando disse. Estava muito nervosa
para ficar quieta. Quando voltei para a praia, vi o outro bote chegando a terra, mas Boyd
realmente não tinha terminado com o primeiro grupo, e ele não podia ver os recém
chegados. Ali foi quando fiquei aterrada. Tive medo que o novo grupo surpreendesse a
Boyd e o derrubassem. Assim eu saí para atrair sua atenção para mim, para lhe dar um
pouco mais de tempo para terminar com os dois com que ele ainda estava lutando.
- Não tentaram derrubá-la?
Seus lábios se torceram com desgosto.
- Provavelmente o teriam feito, mas estavam muito ocupados rindo-se de meu
esforço por lhes bater com as pedras que tinha recolhido. Nenhuma das pedras que atirei
aterrissou em qualquer parte perto deles. Era um esforço patético por lhes fazer danifico,
mas funcionou perfeitamente como uma distração, é o que digo a mim mesma.
Anthony se sentou novamente assombrado.
- Assim uma vez mais foi ao resgate.
Ela riu entre dentes.
- Certamente não. Somente dava tempo a Boyd para sair furtivamente por detrás e
deixar inconsciente a dois deles com sua maça antes de que soubessem que ele estava ali!
Você sabe, quando penso nisso, e posso dizer agora que o perigo terminou, foi uma real e
excitante aventura, a segunda que tive desde que comecei esta viagem. Igualmente me
ajeitei para nocautear a um dos piratas quando eles me voltaram suas costas para tratar
com a oportuna chegada de Boyd. E ele fez um rápido trabalho com os últimos três. Vocês
deveriam havê-lo visto. Foi magnífico, particularmente como mal sofreu um arranhão.
Os irmãos trocarem olhares antes que Anthony perguntasse cuidadosamente:
- Katey, você não desenvolveu sentimentos ternos para com Boyd Anderson, não é
certo?
- Não.
Disse-o muito rapidamente. Anthony não aprofundou mais. Simplesmente
acrescentou:
- Me alegro de ouvir isso, porque ele não está exatamente em bons termos conosco
agora.
James sorriu abertamente.
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- Quando o esteve esse bárbaro?
Anthony discordou.
- Você não estava aqui, velho, mas recentemente tive razões para estar agradecido
com o ianque.
James fingiu um olhar surpreendido.
- Nunca o teria acreditado.
- Foi certamente breve, asseguro-lhe, mas não obstante sincero.
- E já passou - disse James.
- Definitivamente. - Anthony esteve de acordo com um olhar azedo. - Mas terei que
lhe permitir aparentar como se ele se redimisse adequadamente hoje antes de que nós
chegássemos.
- Pode permiti-lo se acha que deve, mas eu não o farei - disse James a seu irmão,
depois olhando Katey, ele acrescentou: - Katey, minha querida, não cometa o engano de
ver meu incômodo cunhado como seu herói só porque ele se arrumou para nocautear a
doze descarados hoje. Com esses piratas que não queriam feri-lo, quando você disse, a
vantagem era completamente sua. Qualquer homem que tenha a menor habilidade com
seus punhos poderia fazer a mesma coisa.
- Oh, não cometeria o engano de pensar isso - disse ela com os lábios apertados. –
Certamente não.
Especialmente desde que eles nunca deveriam estar na ilha para começar, ou
encontrar-se com esses piratas, se Boyd não tivesse aproveitado sua oportunidade
dourada, quando ele o expôs, de estar ali. Mas ela não ia mencionar este ponto aos irmãos
Malory.
James, entretanto, percebeu seu tom e pensativamente comentou:
- Isso está bem, está atualmente incomodada com ele, não é certo?
- O que lhe deu essa idéia? - disse ela sarcasticamente.
James respondeu com uma careta.
- O comentário de "pretende que não me conhece" que você fez a ele teria bastado,
mas também pudemos ver que esteve mastigando sua cabeça na praia.
Ela gemeu interiormente, compreendendo que provavelmente tiveram lunetas
enfocadas na ilha. Mas este era um assunto que não ia discutir. Os Mallory, entretanto,
sentiam ao que parecia conhecê-la bem agora para se aprofundar no assunto.
Uma das sobrancelhas douradas do James se levantou.
- Gostaria de discuti-lo?
- Não.
- Não é nada que mereça um castigo? - Pressionou James em um tom mais
ameaçador. Ele inclusive esfregou seus nódulos contra sua face para que ela entendesse de
que raça de castigo estava falando.
- Não, não lhe faça mal!
- Não sonharia com isso, estimada moça - assegurou-lhe Anthony, embora com um
pouco de cor em suas faces.
James riu entre dentes. Katey não tinha idéia de por que. Não via nada divertido
neste assunto. Mas estes senhores ingleses pareciam ter um estranho senso de humor.
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Com o jantar já terminado e não sendo a conversa de seu agrado, Katey recusou a
sobremesa que lhe ofereceram.
- Deveria voltar para minha cabine - disse ela a seus acompanhantes. - Foi um longo
dia, cheio de eventos.
Anthony disse rapidamente:
- Não vá ainda Katey. Necessito de umas poucas palavras com você. - Olhou a seu
irmão. - Importar-se-ia?
James entendeu, mas começou a rir em resposta.
- Deixá-los? - Em outras palavras, ele não se moveria.
CAPÍTULO 45
Katey assentiu com a cabeça para assinalar que ficaria, mas rapidamente desejou não
havê-lo feito. Anthony não foi diretamente ao ponto do qual ele queria falar com ela. Ele
nem sequer ficou na mesa. Partiu para a escrivaninha do capitão, a escrivaninha do James,
já que ele mesmo capitaneava o "Maiden George", e se serviu de um gole de um bule que
havia ali. Ele, até o bebeu de um gole. depois caminhou ida e volta pelo piso entre a
escrivaninha e a mesa.
Seu nervosismo era evidente, fazendo que o dela crescesse dramaticamente. Estava a
ponto de parar-se e sair grosseiramente do quarto simplesmente com um grito de "boa
noite" quando Anthony a imobilizou com seus olhos. Que olhos tão belos tinha ele, do
mais puro azul cobalto, rasgados exoticamente o justo para ser notáveis, e fascinantes. Ela
não se moveu.
- Me conte sobre o "homem" que a criou, Katey - começou Anthony.
Ela piscou. Que forma tão estranha de referir-se a seu pai.
- Meu pai?
- Sim.
Oh, Bom Deus, Ele sozinho queria ouvir sua história familiar?
- O que gostaria de saber?
- Que tipo de homem foi ele?
- Amável, generoso, alegre, OH, e muito fofoqueiro. - Ela riu abafadamente. - É
óbvio que ele tinha que sê-lo. Mantinha a seus clientes divertidos.
- Foi próxima a ele?
Ela pensou a respeito disso por um momento, mas teve que admitir:
- Não realmente. Morreu quando eu tinha só dez anos, assim não tenho muitas
lembranças dele que se sobressaiam em minha mente. E poucas vezes estava em casa.
Passava todos os dias em sua loja. Atendia-a ele. Era uma loja pequena em um povoado
muito pequeno. E era o único lugar em Gardener para que os aldeãos se reunissem, assim
que ele o mantinha aberto até tarde cada dia. Se queria passar o tempo com ele além dos
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domingos, então tinha que ir à loja. A metade das vezes eu estava usualmente na cama
quando chegava a casa.
- Assim é que apenas o conheceu?
- Não diria isso. Conheci-o tanto como qualquer criança nessa idade conhece seus
pais. Amei-o, ele me amou. Ele sempre tinha um sorriso, ou um abraço, para mim. Mas era
muito mais próxima a minha mãe. Passava horas com ela todos os dias, ou ajudando-a em
sua horta, ou na cozinha, ou com as tarefas da casa que fazíamos juntas.
- Ela trabalhava na cozinha?
Soou como se ele tivesse tido que cuspir para dizer essas palavras, como se não
pudessem sair por si só. Que estranho. Que importância tinha onde trabalhou ela? Oh,
espera, ele era um Lorde. Para ele, só os criados trabalhavam nas cozinhas.
Ela riu abafadamente com olhos compreensivos.
- Ninguém tinha criados em Gardener, Sir Anthony. Embora minha família
facilmente
pudesse ter permitido isso, minha mãe quis que fôssemos como todos outros, e além disso,
desfrutava de suas tarefas e eu desfrutei em fazê-las com ela. Não é como se tivéssemos
qualquer outra coisa que fazer em grande medida para ocupar nosso tempo. deu-se por
vencida e contratou a Grace até que fui mais velha. Mas minha mãe assumiu o controle de
dirigir a loja depois da morte de meu pai, assim que seu tempo foi muito mais limitado
depois disso, e a maior das tarefas recaíra em mim, agora que penso nisso.
Anthony fez um som que facilmente pôde ser equiparado como de dor. Além disso,
partiu sem rodeios da cabine sem pedir permissão. E sua tez havia ficado pálida? Virou-se
muito rápido para estar segura. Katey tinha o cenho franzido quando James também se
levantou, e rapidamente seguiu a seu irmão.
Mas ele voltou o olhar atrás para ela e lhe ordenou:
- Fique aqui. - Fechou de repente a porta atrás dele.
Katey perguntou para si mesma. " Que diabos foi tudo isso?" Entretanto, não se
moveu, por muito que queria fazê-lo. Se qualquer outro lhe tivesse dado essa ordem, iria
resolutamente a sua cabine cheia de indignação nesse mesmo momento. Mas ao vir desse
homem em particular, bem, ela ficou ali. Ainda quando algo se deu contra a parede fora e
seu impulso imediato foi fazer averiguações, ficou ali.
Fora, James tinha imobilizado ao Anthony contra a parede em que o acabava de
arrojar.
- Não pense sequer em abandonar o navio - grunhiu James.
- Não ia saltar.
- Estou falando de Katey ali dentro e deixando-a despistada. Perdeu a cabeça, Tony?
Que diabos lhe passa?
- Ouviu-a? Bom Deus, cresceu fazendo trabalhos penosos e é minha culpa!
- Assim perdeu a cabeça. Foi a escolha de Adeline deixar a Inglaterra. Você não a pôs
no navio que a levou a América. E certamente não a reteve ali. Podia ter voltado para casa
em qualquer momento.
- Mas nunca se teria subido a esse navio em primeiro lugar se não tivesse estado
arrastando os pés para me declarar, tão infelizmente nervoso de que não me desse a
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resposta queria. Se tivesse estado mais segura de mim, teria vindo a mim e nos teríamos
casado. Então teria continuado vivendo no estilo ao que estava acostumada, e Katey, Deus,
Katey não se teria criado como uma criada!
- O que está sugerindo? O que ninguém exceto a classe social alta pode viver vidas
felizes? Não seja tão idiota, Tony, e um esnobe para cúmulo.
- Não - grunhiu-lhe Anthony em resposta, - mas estamos falando de minha filha.
Não deveria ter tido que viver assim. Deveria ter sido mimada como Judy e...
- Pare e pense nisso antes de que meu punho o ajude - interrompeu James. - Dá-se
conta que se qualquer coisa disso tivesse sido diferente, nunca teria conhecido e casado
com o Roslynn. Então não teria a outros dois filhos para ser comparados com esta
verdade? Judith e Jaime nunca teriam nascido, não é assim?
Anthony deixou cair para trás sua cabeça com um suspiro.
- Acho que reagi exageradamente.
- Acha? - bufou James.
- É só que... por que me quereria ela como pai a idade tão tardia? É uma jovem
mulher. Não há nada que lhe possa dar, que ela não se possa dar a si mesma.
- Sim, há-o. Uma família. Requerer-lhe-ia uma vida inteira produzir uma família do
tamanho que você vai lhe dar a ela devido a uma anomalia do destino.
CAPÍTULO 46
Os dois Malory se foram há muito tempo. Não era ilógico pensar que poderiam
haver-se esquecido dela. Assim não era irracional para Katey arriscar-se a desafiar a ordem
do James Malory. Além disso, foi um incrível dia cheio de acontecimentos. Correspondia
ter um bom sono, longo, se pudesse tirar-se da mente aquelas horas que passara com
Boyd antes que os piratas aparecessem.
Mas os dois homens em realidade não foram tão longe, como o descobriu enquanto
experimentava sair às escondidas sem ser vista. Viram-na, ambos giraram suas cabeças
quando a porta se abriu, assim ela inocentemente inquiriu:
- Está tudo bem?
- Certamente. Meramente contemplava a ideia de lançar a meu irmão pela amurada
- disse James secamente
Enquanto soltava a jaqueta de Anthony e fingia somente estar tirando o pó de suas
lapelas.
- E eu estava explicando a este idiota por que não deveria - respondeu Anthony
alegremente, e tomando fortemente pelos ombros a seu irmão, conduziu a Katey de volta à
cabine.
Suspirou ao mesmo tempo que tomava seu lugar outra vez na mesa. O que havia
nela no que Anthony podia estar tão interessado, que não podia esperar até amanhã? Só
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deveria ser grosseira e dizer que estava exausta. Não o estava. O dia foi muito vigorante.
Mas eles não sabiam disso. Talvez se ela fingisse um bocejo...
- Agora por onde íamos? - disse Anthony.
Ele não tomou seu lugar. Voltava a caminhar de ida e volta, e tampouco se mostrava
tão alegre agora.
Sem dúvida isso não era fingimento.
- Estava por "ir ao ponto" - apressou-o James.
James não retornou à mesa, tampouco. Estava lateralmente sentado sobre a beirada
sua escrivaninha, exatamente o suficiente para deixar uma perna comodamente
pendurado. Seus braços cruzados se mostravam muito ameaçadores, entretanto, Katey
afastou a vista dele. Anthony o ignorou completamente.
- Ah, sim, estava a ponto de perguntar se teve uma infância feliz, apesar de todo esse
trabalho pesado?
James gemeu.
Katey franziu o cenho.
- Que trabalho pesado? Se quer dizer minhas tarefas, nunca me incomodaram. Era
tempo que passava com minha mãe, e mais tarde, com Grace. Além disso, limpar nossa
casa, cultivando e cozinhando nossa comida, era simplesmente uma parte de minha vida.
Não havia ninguém mais para fazê-lo. Todo mundo em Gardener fazia por eles mesmos.
Sei que possivelmente ache isso muito entristecedor. Provém de um estilo de vida
diferente. Para nós, era simplesmente normal.
Anthony resmungou.
- Não fui desconsideradamente insultante, não é? Essa certamente não era...
- Não - reconfortou-o Katey. Nesse momento uma lembrança lhe chegou que causou
riso abafado. - É engraçado. Sua filha teve uma reação exatamente oposta a minhas tarefas
quando as mencionei em nossas conversas. Queixou-se que nunca conseguia ajudar em
nenhuma!
- Judy o fez?
- Certamente. Poderia lhe dar seu próprio jardim antes que se faça mais velha. As
crianças parecem gostar das coisas que crescem, pelo menos a mim sim.
- Mas se sujaria.
Katey sentiu que estava zombando dela com esse olhar horrorizado em seu rosto à
menção de sujeira. Sorriu abertamente.
- Sei, mas brincar na terra pode ser divertido. Cheira bem e se fazem bolos
maravilhosos do barro!
James revirou seus olhos. Anthony devolveu seu sorriso aberto e disse:
- Não posso me lembrar que alguma vez quis me sujar com terra, mas posso dizer
sem dúvida alguma que nosso irmão mais velho provavelmente estaria de acordo com
você.
- Ah, sim, o jardineiro. Desfrutei conhecê-lo e passear em seus jardins.
James virtualmente riu a gargalhadas pela forma em que ela se referiu ao Jason. Ela
percorreu com o olhar ao James e acrescentou:
- Sei, alguém já me disse que provavelmente não o deveria chamar assim. Mas ele é
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um jardineiro, sabe. Pode ser que só seja seu passatempo quando ele o chamou, mas nunca
vi tantas flores belas e em tantas variedades. Judy me advertiu que ficaria impressionada,
mas ver o trabalho do Jason em primeira mão verdadeiramente me assombrou.
Anthony limpou a voz para trazer sua atenção de volta a ele.
- Acho que nos afastamos um pouco do assunto.
Katey franziu o cenho.
- Por que tanta curiosidade sobre meu passado?
- Conheci sua mãe muito bem.
- Ah, é claro - sorriu Katey, começando a entender. - Ela viveu perto de Haverston
antes que conhecesse meu pai, e você cresceu ali, não é verdade?
- Certamente, embora, para falar a verdade, estava já crescido e meramente em casa
para as férias antes que realmente a conhecesse. Mas suponho que só quero saber se você e
ela tiveram uma vida normal na América.
- Normal para Gardener, sim.
- Isso tem algum significado?
Ela sorriu.
- Era uma aldeia muito pequena com gente velha sem indústria além de algumas
granjas nos limites. Fui a última menina nascida ali, e os outros poucos meninos que
ficaram não estavam nem perto de minha idade e logo se foram. Ninguém nunca se
mudou a ali jamais, além de pessoas procurando uma aldeia pitoresca, e tranquila para
retirar-se. - Ela riu abafadamente. - Definitivamente éramos tranquilos. Nada de
interessante acontecia nunca. Ninguém alguma vez se divertia. O ponto de juro de todos
os dias estava em alguém lendo em voz alta o periódico Danbury em nossa loja. O velho
Hodgkins montava à cidade duas vezes por semana para comprar uns exemplares só para
isso. Gardener era, sem dúvida alguma, o lugar mais aborrecido que possa imaginar.
- Bom Deus, então teve uma infância horrível?
- Não disse isso! Aborrecida justamente para uma criança. A meus pais não parecia
importar. Tinham coisas para manter-se ocupados. Eu mesma, chiava cada dia quando
meu tutor mandava a casa. Realmente, o fazia. Eu teria preferido mais ficar com ele e falar
do mundo!
- Por que não se mudaram seus pais a alguma parte mais animada ou ao menos a
um povoado próximo maior?
Ela encolheu os ombros.
- Ouvi-os falando disso uma vez. Atender uma loja era tudo o que meu pai sabia
fazer. Em Gardener, nunca lhe faltaram clientes com sua loja sendo a única no povoado.
Em Danbury, ou algum outro povoado maior, ele teria tido que competir com lojas já
estabelecidas, e com uma família em que pensar, acredito que lhe deu medo experimentar
isso. Depois que ele morreu, esperava que minha mãe se mudasse, mas ela saltou em um
pé para administrar a loja por si mesma. Na verdade desfrutava disso.
- Mas sua mãe tinha dinheiro, não é verdade? Não é o que recebeu em herança?
- Sim, e bastante, mas ela mesma se recusou a tocá-lo. Veio de seu pai quando ele
morreu, desprezava a sua família por repudiá-la. Nem sequer falava deles. Tampouco
sabia quantos Millards restavam até que vim a Inglaterra.
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- Repudiaram-na?
- Não soube disso naquele tempo em? Foi porque ela fugiu com um americano que
era comerciante, ou isso é o que deu a entender.
James interveio:
- É um excelente momento para que vá ao ponto, Tony antes que morra de velho.
Anthony disparou a seu irmão um olhar frio.
- Não foi convidado, assim porque não vai para a cama.
- Não posso, meu querido moço. É meu dormitório onde está arrastando seus pés. -
Anthony se ruborizou ligeiramente com esse aviso, mas James não tinha terminado. Katey,
- o que meu irmão...
James tinha terminado desta vez. Anthony saltou através do espaço entre eles e
golpeou ao James com a guarda baixa com força suficiente para que ambos caíssem do
outro lado da escrivaninha no chão.
Katey ficou de pé. Tão incrédula que exigiu:
- Estão loucos os dois?
A cabeça do James subiu primeiro enquanto ele dava um passo para trás.
- Claro que não. - Deu uma mão a seu irmão.
- Desculpa, Katey - disse Anthony enquanto retornava rodeando a escrivaninha,
passando uma mão por seu cabelo para endireitá-lo. - Infelizmente, isto não é nada fora
do normal em nossa família.
- Quer dizer entre nós, não é assim, meu querido moço? - acrescentou James com um
olhar mordaz. - Não encontrará os mais velhos golpeando-se entre eles, assim não a
assuste lhe dando a entender que todos os Mallory são como você e eu.
- Muito certo. - Anthony esteve de acordo com um olhar envergonhado. - James e eu
somos simplesmente mais ativos. Chama-o competição fraternal se quiser.
Ainda um pouco comovida pela explosão de atividade, Katey disse:
- Não tendo tido irmãos, receio que isso seja um pouco difícil de compreender.
- Perfeitamente compreensível. Possivelmente teria mais sentido saber que ambos
somos ávidos pugilistas. Exercício que para nós sempre consistiu em um bom encontro no
ringue várias vezes na semana.
- Ainda fazem isso?
- Ela não nos está dizendo que somos muito velhos para exercitar, não é verdade? -
disse James secamente.
Katey se ruborizou apesar do sorriso aberto que ofereceu a ela para lhe dar a
entender que ele só brincava.
Anthony suspirou na exasperação.
- Afastamo-nos do assunto outra vez. Assim me deixe ser brusco por um momento,
Katey. Na verdade nunca respondeu a minha pergunta a respeito de uma infância feliz, se
teve uma. É assim significativo? Não há lembranças dolorosas que preferiria não discutir?
Ela revirou seus olhos.
- Se houvesse, não o discutiria, verdade? O fato é que, minha infância não foi muito
memorável, mas tampouco foi miserável. Fui suficientemente feliz ao viver com meus pais
e depois, simplesmente com minha mãe depois que meu pai morreu. Quando tive a idade
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suficiente, podia deixar Gardener como todos os outros jovens fizeram logo que puderam,
mas ainda assim nunca me ocorreu fazer isso até que minha mãe morreu. A coisa mais
importante que eu não gostei de minha infância foi simplesmente o puro aborrecimento
desta da perspectiva de uma criança. Mas por isso é que decidi viajar por alguns anos para
ver o mundo, antes de considerar me casar e ter crianças. Esperava o entusiasmo que perdi
quando menina, e alguma aventura. Encontrei um pouco das duas. - Ela sorriu
abertamente.
- Desejou alguma vez ter uma família grande?
Ela quase assinalou que desejar sobre o passado era irrelevante, mas conteve sua
língua, principalmente porque sentiu o nervosismo dele pela pergunta. Ela achou isso
muito estranho, mas até o James parecia tenso agora, à espera de sua resposta. Que diabos
passava com estes dois esta noite?
Com vacilação ela disse:
- Estou começando a suspeitar que estão preparando o terreno para algo que
possivelmente não ache aceitável. Talvez como sugeriu seu irmão, é momento de que vá
ao ponto, Sir Anthony?
Ele suspirou e tomou assento em frente dela outra vez.
- Disse que conheci sua mãe, mas não só como um conhecido. Cortejava-a antes de
que deixasse a Inglaterra, e minhas intenções eram honoráveis. Queria me casar com ela.
Katey o olhou fixamente, tentando assimilar isso, mas simplesmente não tinha
sentido.
- Não entendo. É um homem de aparência excepcionalmente agradável. E
- Obrigado.
- ...para ser franca, meu pai não o era. Não era feio ou nada pelo estilo, mas entre
vocês dois, não posso imaginar a minha mãe escolhendo-o em vez de você, E ainda assim
me está dizendo que o fez? Fez algo que a pôs em seu contrário? Estamos falando de um
amor trágico?
- Não, não foi nada disso. A sua família não gostava de mim. Nem sequer estou
seguro do por que. Não era tão endemoniadamente libertino, como fui anos depois. Mas
Adeline não compartilhava seus sentimentos. Estava tão seguro de que sentia o mesmo
que eu. Meu engano consistiu em não lhe fazer saber antes que a queria por esposa.
Erroneamente assumi que o dava por sentado, que pensávamos igual e que nos
casaríamos. E logo ela se foi. Da noite para o dia. Não posso lhe dizer que comoção foi
para mim, passar a procurá-la para levar a em piquenique em nosso lugar favorito e ser
informado que deixou a Inglaterra. Disseram-me uma tolice sobre uma excursão pelo
mundo que tinha planejado, que nunca me tinha mencionado, e que estaria de retorno em
um ano ou algo assim.
- Assim alguma vez reatou sua corte quando ela retornou a Inglaterra?
- Nunca retornou, Katey.
Agora tinha o cenho franzido com extrema confusão.
- Mas ela fugiu com meu pai, assim está dizendo que sabia e se apaixonou por ele
antes de que a cortejasse? Que ele repentinamente apareceu outra vez e fugiu com ele sem
sequer lhe dar uma explicação?
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- Não, eu suponho que não o conheceu até depois de que deixou a Inglaterra,
possivelmente no navio a América, ou pouco depois de que desembarcou.
Katey percebeu de que essa era a opinião de um homem que tinha ficado em
segundo lugar na corrida pelo afeto de uma mulher. Não podia culpá-lo por querer pensar
assim. Até ela achava surpreendente, que sua mãe não tinha escolhido ao Anthony sobre
seu pai.
Ela disse docemente:
- Sinto muito dizer que está equivocado. Ela me disse...
- Katey, alguns pais inventariam uma boa mentira para esconder a amarga verdade.
Qualquer que fosse a razão, não queria que soubesse a verdadeira razão pela qual deixou a
Inglaterra. Eu mesmo não tinha idéia. Podia ter me dito isso, mas não o fez. Todos estes
anos, não soube que fugiu levando meu filho. Ainda não o teria sabido se sua tia Letitia
não me tivesse enviado uma suja nota a respeito disso depois que navegasse no "Oceanus".
Os olhos de Katey se arregalaram. Cobriu a boca com a mão, mas só para reprimir
um sorriso de surpresa. Se era tão sincero como parecia, nunca o perdoaria a si mesmo.
Mas ao menos a falácia não era dele, mas instigada por essa severa parenta dela.
- Conheci a Letitia - disse ela rapidamente. - Francamente, não acreditaria em uma só
palavra que ela me dissesse. Porque, até me chamou...
A cor se foi drasticamente das faces da Katey enquanto lentamente ficava em pé.
Seus olhos se cravaram no rosto do Anthony, e ela via agora muito mais em sua expressão,
temor, simpatia, compreensão e preocupação.
E embora ela não precisasse ouvi-lo agora, ele disse:
- Está correta. Não acreditei nela. Fui ouvir de sua avó. Não estava bem, assim é que
não a afligi muito para ouvir mais detalhes, mas me confirmou isso, Katey. É minha filha.
O único som que saiu de sua boca foi um som pequeno, doloroso, um chiado. E
antes que ficasse como uma idiota, saiu rapidamente da cabine.
- Demônios - grunhiu Anthony.
- Esperava gritos de deleite e um eufórico abraço de pai e filha? - perguntou James
secamente enquanto se movia para fechar a porta que Katey deixou aberta em seu escape.
- Este não é um bom momento para suas pérolas de sabedoria, James.
- Possivelmente não, mas muito pode dizer-se da brutalidade. Só deveria ter
cuspido e guardado para si mesmo tão agonizante evasão.
- Estava tratando de lhe soltar a notícia a amavelmente.
- Oh, fez isso, meu querido moço -disse James. - Com a delicadeza de um martelo
pesado.
CAPÍTULO 47
Para ter tudo o que ela sabia de si mesma e de sua vida quebrada como uma casca
de noz em sua mão, os fragmentos muitos pequenos para juntar os pedaços, a única opção
para descartá-la, não era simplesmente um pouco traumática para a Katey. Estava
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devastada. Não é por que fosse uma Malory. Ter a um quando pai não a fazia
automaticamente uma deles, ao menos em sua mente. Não tinha mais história com essa
família do que tinha com os Millards. Mas ao menos tinha sabido dos Millards.
E ali estava a fonte do trauma que não podia remexer. Era a mentira, a mentira de
sua mãe, o engano de sua mãe, que tinha mantido a verdade longe da Katey sua vida
inteira. Talvez Adeline tivesse a intenção de lhe dizer algum dia quem era seu verdadeiro
pai, possivelmente depois que ela se casasse e iniciasse sua família. Adeline realmente não
teria negado a seus netos o saber de onde vinham, não é verdade? Não teve a intenção de
morrer antes que pudesse fazer essa confissão. A vida não era tão previsível. Estúpida
peça de gelo...
Katey chorou amargamente pelo que Adeline tinha renunciado com uma só decisão
que mudou sua vida. por que o fez? Katey chorou amargamente pelo que sua mãe perdeu,
e consequentemente, o que Katey tinha perdido também, a vida com os Mallory. por que?
Katey pôs tanta esperança nos Millards, mas agora se alegrou de não ter crescido
perto deles. Não podia imaginar como teria sido, ter alguém como Letitia ao redor.
Cresceria para ser como ela? O pensamento a horrorizou. Mas ter crescido entre os
Mallory, deu-se conta, teria sido maravilhoso.
"Não posso imaginar como deve ser, não ter algo emocionante ocorrendo todo o
tempo, - havia-lhe dito Judith aquele dia na carruagem-. Com minha família, sempre há
algo interessante ocorrendo".
Quando a golpeou, foi como uma tonelada de tijolos. Judith Malory era sua irmã.
Meu Deus, tinha uma irmã! Não, tinha dois! Algumas de suas lágrimas eram de alegria.
Anthony veio a sua porta repetidas vezes ao dia seguinte para assegurar-se de que
estava bem. Não lhe abriu, mas do outro lado lhe assegurou:
- Estou bem, só necessito de algum tempo a sós para digerir tudo.
E voltar a unir as peças feitas em pedacinhos de sua vida se pudesse.
Mas inclusive James passara na noite com alguns golpes na porta e a brusca
advertência:
- Isto não é saudável, gatinha. Apresente-se ao jantar esta noite ou jogarei esta porta
abaixo.
Permaneceu encerrada em sua cabine, ignorando essa ordem. Mas ainda estava
muito inundada em seus pensamentos para realmente notar que ele não retornou para
derrubar a porta. E a única vez que abriu essa porta foi à Grace, brevemente, e para não
deixá-la entrar.
Não queria que sua criada se preocupasse assim disse secamente:
- Anthony Malory assegura ser meu verdadeiro pai. - Ao que ela abruptamente
acrescentou – Não quero falar disso ainda.
Grace com os olhos muito abertos, começou a responder, mas Katey lhe pôs um
dedo sobre seus lábios.
- Ainda não. É impressionante, sim, mas, por favor, Grace, necessito de alguns dias
de solidão para me adaptar.
Teimosa como sempre, Grace ao menos assinalou:
- Tem que comer.
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- Não, não necessito. Estou tão alterada, que só vomitaria.
- Tem que comer. Quer que pereça de preocupação por ti?
- Se não sair daqui dentro de uma semana, então pode preocupar-se. - Katey tinha
tentado soar engraçada, mas falhou, e fechou a porta a qualquer outro argumento.
Grace colocou bandejas de comida fora de sua porta de qualquer maneira. Katey as
deixou ali. Ela não estava exagerando. A confusão pela qual estava passando era física,
suficiente era que não ter dúvidas que seu estômago não toleraria algo tão comum como o
alimento. Mas não tinha fome. Se assim era, estava muito alterada para senti-lo.
Não permaneceu entrincheirada mais que um dia. Logo depois da segunda noite de
sono que não incluiu sacudidas inquietas, despertou com um pouco de paz mental, e a
emoção que torcia seu estômago por dentro se desvaneceu no momento. Não sabia se
alguma vez perdoaria a sua mãe pela mentira, mas esta nova família que mais ou menos
tinha herdado da noite para o dia podia encher as esperanças que os Millard falharam em
encher. Se é que não lhe tinham contado de sua relação com os Mallory só pelo gosto de
ser informada. Se na verdade quisessem que fosse parte de sua família.
Uniu-se com seus novos parentes no almoço nesse dia. Ambos os homens se
levantaram abruptamente quando ela entrou na cabine. Ambos pareciam extremamente
ansiosos, ainda preocupados por como tinha recebido as notícias.
Ela sorriu levemente enquanto tomava assento na mesa em frente do Anthony.
- Tranquilos, por favor. Foi simplesmente uma sacudida. Estou certa que para vocês,
também.
- Certamente, embora deva admitir que não me requereu bastante para estar
encantado.
- A mim também - respondeu ela timidamente. - Embora inclusive não sei se sua
família vai aceitar me, ou se preferiria manter isto entre nós.
- Bom Deus, isso foi o que pensou?
- Atirou o martelo, mas se esqueceu dos pregos, né, velho? - disse James com seu
estranho humor.
Anthony ignorou a seu irmão para dizer a ela:
- Vai ser bem-vinda com os braços abertos, nunca duvide disso, Katey. Por que,
Judith vai passar através do teto de entusiasmo quando souber. Cai-lhe excepcionalmente
bem, sabe.
Katey sorriu abertamente, não só do comentário, mas também de alívio. Eles a
queriam!
- O sentimento é mútuo - disse ela. - E penso que ser parte de sua família vai ser uma
experiência maravilhosa. Podia ter mantido em privado o conhecimento de quem era meu
pai, sem me dizer isso alguma vez. Alegra-me que não o fizesse. Obrigada por isso. Mas...
- Não se permitem mais "mas", gatinha - interrompeu James.
Essa era a terceira vez que lhe dava uma ordem desde que ela subiu a bordo do
"Maiden George". Havendo-se recuperado recentemente de uma sacudida emocional,
Katey se deu por ofendida desta vez. ia ser um pouco mais difícil aceitar que ele era um
parente.
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- Não esteja me dizendo que posso e não posso fazer, Tio James. Sou muito nova em
sua família para que tome essa liberdade ainda. Farei você saber quando pode fazê-lo.
Já que ela deixou ao homem grande momentaneamente sem fala, Anthony explodiu
com uma risada.
- Bravo, querida. Falou como um verdadeiro Malory.
Ela se ruborizou furiosamente.
- Sinto muito. - A desculpa era para o James. - Vai justamente demorar um pouco me
acostumar a tudo isso.
- Não se desculpe por dizer o que pensa - respondeu James. - E não me desculparei
por tentar proteger a meu irmão a meu estilo. Ele esteve em brasas desde que se inteirou
disto, assustado de que fosse muito tarde para trazê-la para o rebanho, que nos
rejeitaria sem mais explicações.
Seus olhos cintilaram.
- Está brincando? Sei que não respondi a esta pergunta a outra noite, mas sempre
quis ser parte de uma família grande. Estive procurando com tanta antecipação conhecer a
família de minha mãe e esperei ser bem-vinda por eles, mas minha tia Letitia virtualmente
me fechou a porta a meu pensamento.
- Desagradável velha, moça - disse Anthony com aversão. - Dizia que esse é seu
forte, fechar de um golpe a porta na cara das pessoas.
- Ou tentando-o - acrescentou James um pouco com ar satisfeito.
Katey continuou:
- Mas ainda se essas esperanças se realizassem, ainda ficava por ser estabelecido
quem era meu pai. Nunca poderia negar meu próprio...
Deteve-se para cravar os olhos em Anthony, e seus olhos se tornaram maiores
enquanto o impacto completo dessa declaração a golpeava. Ele não era simplesmente um
parente, ele era o parente mais próximo que ela poderia ter.
- Meu Deus, em realidade é meu pai.
Seu rosto começou a mudar enquanto seus olhos se enchiam com lágrimas de
felicidade. Ela ficou em pé. Ele também. Ambos rodearam a mesa de James para alcançar o
um ao outro. Lançou-se aos braços abertos do Anthony. Ele a esmagou com sua própria
emoção.
- Se não estivéssemos em um maldito navio, querida, diria, "Bem-vinda a casa".
Ainda sentado ao lado deles, sem sequer virar-se para presenciar está atrasada
reunião, James revirou seus olhos .
CAPÍTULO 48
Era assombroso quão benéfico podia ser algo tão simples como um abraço. O único
significativo que Katey tinha recebido de seu pai causou que seus medos, até seu
nervosismo, instantaneamente se esfumassem. Tinha-a deixado com tal sentido de bem-
estar. E emoção. Não podia agora esperar para retornar a Inglaterra para conhecer resto de
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sua nova família!
Seu pai e seu tio, entretanto, ainda pareciam preocupados com a comoção que tinha
experimentado. Também poderiam ter a suspeita de que agora estava borbulhante
interiormente e enganava-o por apreensão adicional. Assim continuaram tentando, a seu
estilo, tornar mais fácil para ela a transição.
- Poderia ajudar se escutasse como conheceu meu irmão a seu filho Jeremy.
Katey comia vorazmente do prato que foi posto diante dela. Aliviada de todas essas
emoções ansiosas que estava experimentando, rapidamente se deu conta de que estava
esfomeada! Assim precisou de um momento para assimilar a forma estranha em que seu
pai, referiu-se à primeira vez que seu irmão viu seu filho recém-nascido.
- Conheceu?
- Certamente, e se assombrará de como foram semelhantes as circunstâncias às
nossas. Você gostaria de lhe contar, James?
James assentiu com a cabeça.
- Bom, com a esperança de que isto não a aborrecerá até as lágrimas, querida, não
tinha idéia que Jeremy existia. Embora, entretanto, ele sabia de mim. Sua mãe tinha ficado
impressionada comigo, suponho, e me tinha fortalecido a proporções heróicas ante o
moço. Faz quase treze anos que nos encontramos um ao outro. Foi pura sorte, que
escolhesse a taverna em que ele estava trabalhando, para saciar minha sede.
- Assim foi que você reconheceu a ele?
- Bom, digamos que ele definitivamente teve minha atenção. Até aos doze, sua idade
nesse momento, era quase tão alto como eu! E se parecia tanto ao Tony, aqui estava o
estranho. Difícil de passar por alto.
- Não pude evitar notá-lo eu mesma quando os observei juntos - esteve de acordo
Katey.
- Pelo menos não se riu - disse James com um olho crítico em Anthony. - Ele pensa
que é hilariante. Como também meu filho, com respeito a isso.
Anthony ainda riu abafadamente de seu irmão.
- Se não se sentisse tão tocado a respeito, fá-lo-ia também - depois Anthony deu
contas a Katey. – É um velho traço cigano que corre em nossa família. Aparece de repente
aqui e lá, mas bem fortemente. Eu mesmo o tenho, e duas de nossas sobrinhas, Reggie e
Amy. E Jeremy trouxe uma dose grande disso ele mesmo.
Por uma vez James não trocou o apelido familiar da Regina pelo que ele preferia,
mas Katey não soube de sua peculiaridade com os nomes até mais tarde. No momento, ela
não pôde evitar perguntar:
- Ciganos?
- Essa é outra história, querida - disse James. - Vamos uma a uma para manter ao
mínimo a confusão, está bem?
- Por todos os meios. - Lhe sorriu abertamente.
- Assim ali estava eu, detido pela assombrosa semelhança deste menino com meu
irmão. Mas este encontro ocorreu no Caribe, e sabia que Tony nunca estava em nenhum
lugar perto dali, assim é que me desentendi do assunto quando meramente um caso de
forte coincidência. Mas o moço tampouco podia afastar a vista de mim. Sua mãe me havia
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descrito muito bem a ele, para que visse. E depois ele chegou até mim e me perguntou se
eu era James Malory.
- Nesse momento soube? - perguntou Katey.
- Não, mas isso me derrubou. E para entender por que foi assim, deveria mencionar
que não usava meu verdadeiro nome nessa parte do mundo. Não queria que minhas
atividades ali alguma vez fossem associadas com minha família, assim tomei o nome de
"Capitão Hawke" todo o tempo que naveguei nessas águas.
- Por que?
Anthony riu abafadamente.
- Essa é outra história que é melhor deixar para mais tarde.
Katey ergueu uma sobrancelha, intrigada, mas James devia ter estado de acordo com
seu irmão, porque continuou com sua primeira história.
- Quando não neguei o nome, o pequeno diabo me disse que eu era seu pai.
- Por que pressinto que não acreditou? - especulou Katey.
- Porque a essas alturas pensei que era do Tony.
- Não o fez? - Gritou Anthony. - Todos estes anos e alguma vez mencionou isso?
- Feche a boca, cachorrinho, e me deixe chegar ao final disto. Com o Jeremy sabendo
meu nome, tive que considerar que talvez não tinha nascido no Caribe, mas sim na
Inglaterra. E logo que esse pensamento apareceu, pô-lo ao alcance do território do Tony.
Assim embora não pensasse que Jeremy era meu, aceitei que ele provavelmente era um
Malory. Mas o menino não estava ali silenciosamente esperando que eu lhe abrisse os
braços. Estava-me dizendo tudo sobre sua mãe e a gloriosa semana que passara com ela e
ao que se dedicava, se te interessar. Ela era uma jovem de taverna. E na verdade a lembrei
depois de que me descreveu isso.
- Uma jovem entre milhares? - bufou Anthony ceticamente.
- Pois bem, levava três adagas, para que veja, uma em cada bota, e uma muito visível
em seu cinturão. Isso definitivamente lembro. Os clientes em sua taverna sabiam por
experiência que não estava disponível simplesmente para qualquer um. Ela tinha cortado
em rodelas a alguns deles para deixá-lo bem claro. E era uma coisinha linda, quando eu
lembro, por causa disso passei uma semana inteira com ela. Estava intrigado por sua
reputação com essas adagas quando soube dela. E, além disso, o pequeno diabo estava ali
belicosamente insistindo que eu era seu senhor, me desafiando que o chamasse de
mentiroso por sua atitude arrogante. Penso que isso foi mais que outra coisa o que me
convenceu. - James riu abafadamente.
- De tal pau tal lasca, né? - sorriu Anthony.
- Certamente.
Completamente fascinada com a história por agora, Katey perguntou:
- Mas como terminou ele no Caribe?
- Quando teve a idade suficiente e começou a fazer a sua mãe tantas perguntas a
respeito de mim, ela teve a noção que eu deveria conhecê-lo. Bastante valentia a dela, devo
dizer.
- Por que?
James ergueu uma sobrancelha dourada.
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- Confia em um americano para perguntar isso. Lhe diga você, Tony.
Anthony riu abafadamente.
- A esfera social, querida, um detalhe particular da aristocracia. Ele era um par do
reino. Uma jovem de taverna aparecendo em sua porta com um menino pela mão, bem,
isso simplesmente não se faz.
Katey estava a ponto de bufar, mas James retornou a sua história.
- Tinha-me mudado ao Caribe então, de qualquer maneira, e averiguado isso, ela
também se mudou ali com seu filho. Mas é uma área grande. E não sabia o nome com o
que eu andava por ali, assim não tinha esperança, realmente, de me encontrar. Morreu
pouco antes de que eu descobrisse ao Jeremy, tendo saltado muito ansiosamente em uma
das muitas rixas de bar que indevidamente ocorrem em tavernas briguentas como as que
ela trabalhou. O dono estava acostumado a que Jeremy lhe desse uma mão, ainda com sua
curta idade, e o conservou. Francamente, o menino podia ter sido comparado com um
bandidinho quando o encontrei... e certamente falava como um. Entretanto era de esperar,
depois de criar-se em tavernas.
- Não notei isso nele - disse Katey.
James sorriu abertamente.
- Ele tem feito um longo caminho. Claro, ele teve a mim e a meu segundo oficial
sempre atrás de seu traseiro por sua gramática, assim aprendeu rápido. Levei-o a mar
comigo por alguns anos, mas ficou muito perigoso, por isso comprei uma plantação nas
ilhas com a intenção de lhe dar um lar estável. Mas tive que saldar contas na Inglaterra, o
que nos levou de volta ali, e subsequentemente teve uma reunião com meus irmãos que
me trouxeram de volta a Inglaterra para sempre. Meramente tive a última viagem de volta
ao Caribe para fechar meus assuntos ali, e uma coisa condenadamente boa, já que conheci
minha esposa nessa viagem.
Com vacilação, Katey perguntou:
- Sua família aceitou ao Jeremy sem nenhum tipo de reparos?
- Minha querida menina, esse foi o ponto ao compartilhar essa história com você. É
óbvio que o fizeram, incondicionalmente. Descobrirá que os Mallory são muito, muito
fortes com os vínculos familiares. Alimentamos e protegemos o nosso.
- Sim, até amamos a nossa "ovelha negra" - acrescentou Anthony com um sorriso
afetado para seu irmão.
Mas James se apressou para replicar acaloradamente:
- Deixa-o ali, velho, antes de que...
Anthony o interrompeu revirando os olhos.
- Sim, sim, já sei, antes de que me ajude.
Katey, olhando um e ao outro em meio dos dois, teve que perguntar:
- Vocês dois se odeiam?
-Bom Deus, o que lhe deu essa idéia? - disseram os dois em uníssono.
Katey conteve a risada.
CAPIÍTULO 49
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Não pareceu levar nenhum tempo voltar para a Inglaterra. Muito antes do que
esperava Katey, James anunciou que chegariam ao porto nesse mesmo dia mais tarde. A
diferença de tempo que levou para chegar tão rápido não teve nada que ver com os fortes
ventos se deu conta. Foi o simples fato de que no "Oceanus" ela tinha previsto ver Boyd
todos os dias, e quando isso não aconteceu, o tempo se arrastara como o passo de um
caracol. E isso foi mais da metade da viagem!
Ela sabia agora o porquê. E estava incomodando-a que muitas de suas reações a ele
se tingiram de irritação porque tinha acreditado que deste estava ignorando-a. Mas suas
longas ausências não foram absolutamente intencionais.
O tempo passava voando na viagem de retorno devido à companhia que ela estava
compartilhando. Seu pai. Seu tio. Sua família.
Ela e Anthony passaram acordados quase cada hora. Tomaram lentos passeios
durante muito tempo, ao redor da coberta e falaram. Permaneciam juntos na coberta por
horas e falaram mais, mal notando que o tempo estava ficando mais frio durante o dia à
medida que deixaram as águas quentes do Mediterrâneo.
Os almoços e os jantares duraram três vezes mais que o que normalmente duravam
na cabine do James! Anthony tinha anos de história do Mallory para compartilhar com ela,
e ela se inteirou de tudo, algumas vezes surpreendida, assustada, divertida. Bom Deus, era
uma família fascinante.
Katey tomou sua vez de falar, e não sobre ela. Anthony conseguiu que falasse sobre
sua mãe cada vez mais, e cada vez que o fazia, parte de sua irritação contra sua mãe se ia
acabando, até que mal ficou nada.
- Assim Adeline estava contente nesse povoado? - perguntou-lhe ele uma tarde
durante o jantar.
Ela não tinha que pensar muito sobre isso antes de dizer:
- Nem uma vez a observei em um momento de melancolia, provavelmente porque
sempre estava muito ocupada para os momentos ociosos!
Katey estava tentando fazê-lo soar leve, mas estava muito envolvido para ser
divertido. Ele parecia ter grudado em sua mente que uma mulher de sua classe não
poderia descer na escala social e poder viver uma vida feliz. O que era absurdo. Um certo
estilo de vida não garantia felicidade.
James parecia ser da mesma opinião.
- Meu irmão é um esnobe - explicou.
- Demônios se o sou - respondeu Anthony.
- É-o malditamente bem, e um frívolo além disso! - Mas para a Katey, James
acrescentou: - Ele tem medo de que sua mãe tivesse o coração exaurido por ter que deixá-
lo, pela razão que fosse. E considerando que conheço de fato que deixou corações
exauridos por toda a Inglaterra durante seus anos de libertino, estava tendo o mesmo
pensamento.
Katey entendeu e lhes assegurou:
- Se ela tivesse tido o coração exaurido, superou-o quando eu era muito mais velha
para notá-lo. Mas agora que me fez pensar sobre isso, não é algo que eu realmente levasse
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em conta então, duvido que meus "pais" compartilhassem um grande amor do tipo que
vocês querem dizer. - Ela fez uma pausa, enquanto fazia uma careta de dor enfatizando a
palavra pais.
- Sinto muito, mas ele me criou. Eu não posso deixar de pensar nele como meu pai.
- Não seja tola, gatinha - disse Anthony. - Embora gostasse de ter sido quem a criou,
isso não o faz menos seu pai, também.
Ela sacudiu a cabeça.
- Bem, posso dizer com certeza que gostavam um do outro. Poderia ter sido somente
porque eles se fizeram grandes amigos, ou poderia ter sido mais, mas se levaram
maravilhosamente bem, nunca brigavam. Riam muito juntos, também. E compartilharam
as mesmas metas, enquanto me criavam e dirigiam a loja. Inclusive estavam planejando
aumentá-la com um salão para beber antes que ele morresse. Gardener não tinha uma
taverna.
Eles dois a olharam fixamente com tal horror dessas notícias, que ela riu.
- Bem, disse-lhes que era um povoado pequeno. E minha mãe deixou esses planos
quando meu pai morreu. Mas ela parecia crescer, enquanto dirigia a loja só depois disso.
Chorou sua perda, entretanto, durante um longo tempo, assim se o amou ou não desde o
começo, não sei, mas estou certa que ela chegou a amá-lo.
Aparentemente é o que Anthony precisava ouvir.
- Faz tranquilizar meu espírito, querida minha. Obrigado.
Outra vez, quando eles estavam sozinhos na coberta, ela confessou seu hábito de
fazer contos e o porquê teve esse hábito em primeiro lugar. Embora desde que começara
sua viagem, teve diversão mais que suficiente, fazendo com que a imaginação não fosse
mais necessária... uma esperança para a viagem que se fizera realidade.
Katey sentia que podia falar com Anthony sobre tudo... exceto de Boyd.
Definitivamente, não desejava falar sobre ele. E quando os Andersons eram mencionados,
agora que eram parte da família, ela dirigia a conversa a outros assuntos.
- Sua esposa sabe de mim? - perguntou Katey quando eles se aproximaram da
Inglaterra onde Anthony já lhe havia dito que pensava levá-la a sua casa com ele.
- Certamente. Mas ainda não dissemos nada à Judy. Decidimos esperar até que
estivesse presente para lhe dar essa prazenteira notícia. Teria sido impossível viver com ela
por outra lado. A jovenzinha não parece entender a palavra "paciência" quando está
entusiasmada.
- Roslynn não se importou?
- Estava um pouco aborrecida comigo ao princípio, mas só porque pensou
equivocadamente que eu sabia desde o começo que você era minha e o tinha mantido em
segredo com ela. Mas escutou atrás das portas o dia que o descobri, quando James e eu
estávamos discutindo-o, e estava de completo acordo em que fosse diretamente a sua avó
pela verdade de tudo isto. Assim não se preocupe, querida minha. Minha esposa é uma
mulher muito amorosa e estará em cima de ti como uma mamãe galinha.
Katey fez uma careta de alívio, mas ela se pegou a esse comentário sobre o Sophie.
- Assim conheceu minha avó? Minha tia não me permitiu vê-la quando estive ali.
- Deve ser um hábito seu, fazer uma barricada contra a porta - disse Anthony,
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tentando fazê-lo parecer suave, mas a memória lhe fez formar um cenho. - Receio que nós
tivemos que forçar nosso caminho para entrar. A informação que eu procurava era muito
importante para ser negada. Mas o que esperava Letitia me informando sobre você e
exigindo que se mantivesse fora dali? O tom de sua nota virtualmente era um encargo de
que eu já conhecia sobre você, quando poderia tê-lo feito? Que miserável e odiosa.
- Nenhuma necessidade de argumentar! - Katey riu. - Estou de acordo! Mas quanto a
seu encargo, bem, essa poderia ter sido minha falta por mencionar a ela que eu estava
ficando em Haverston. O que foi sugestão do Judith, sabe. Estava segura que isso
prepararia o caminho um pouco, já que "ira enfrentar os leões", o que foi como o
expressou. Está certo que só tem sete anos? Sua percepção e inteligência são absolutamente
assombrosas para uma menina dessa idade.
Anthony riu entredentes.
- Já sei o que quer dizer. Constantemente me assombra com algumas das coisas que
diz, que é pelo que sempre é um alívio vê-la e Jack juntas rindo-se bobamente como
garotas normais de sete anos. Mas já posso ver por que sua estratégia poderia haver-se
voltado contra você nesse dia. Sua tia sempre teve algo contra mim, ou possivelmente
contra minha família, nunca estive certo do porque, e ela manteve isso para se mesma. Eu
não tenho nenhuma pista de qual é seu problema.
- Espero que minha avó não seja como ela.
- Não, o mínimo. Não estava bem, ou eu a teria pressionado por mais informação.
Mas me prometeu que falaríamos de novo com mais detalhe quando ela estivesse melhor.
Eu mesmo a levarei para visitá-la. Estou certo que tem tanta curiosidade como eu, por
averiguar porque sua mãe escapou com você a América, em lugar de vir para mim.
Esses foram dias felizes que Katey passou com seu pai e tio, e agradecia cada
informação que compartilharam com ela sobre os Mallory, como bocado de cardeal, que
era muito! Mas quando ela se deitava na cama cada noite, sozinha, a única coisa que
enchia sua mente era Boyd.
Ela havia super reagido a sua manipulação. Que fez ele, exceto passar suas defesas?
E se alegrava que ele o tivesse feito. Inclusive lembrava seu último jantar com ele, antes
que se intoxicasse tanto, que ele tinha sugerido que passassem um dia em uma das praias
da ilha que passariam logo, e apesar de quão maravilhoso tinha parecido, tinha
recusado rapidamente, assustada, considerando como se sentia sobre Boyd, para passar
sozinha com ele algum tempo. teve razão de temer isso! Olhe o que tinha acontecido! Mas
não desfaria essas horas com ele, por nada no mundo.
Do momento em que ele tinha mencionado matrimônio e ela na mesma frase, estava
muito estremecida, o que a encheu de pânico. Porque soube que ele seria o fim de sua
viagem, que deixaria alegremente por ele. Cada uma das razões que lhe deu de porque
eles não deveriam casar-se era verdade, mas tinha sustentado-as mais para convencer-se a
si mesmo que a ele. Porque se cedia, sabia que o sentiria depois. Tinha muitas duvidas
para não esperar arrependimentos.
E enquanto ele estava trabalhando profundamente seu caminho em sua mente e
coração, tanto quando naquela primeira viagem com ele a Inglaterra, teve medo que ele
não sentisse o mesmo, que tudo fosse só luxúria de sua parte. Por outro lado o que dissera
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ele sempre a ela para fazê-la pensar de outra maneira? Não é que ela não tivesse
experimentado muito disso, também. Sua paixão por esse homem a assombrava. Mas
sentia muito mais que isso. E no mesmo dia depois que ele ficara atrás na esteira do
"Maiden George", já estava sentindo saudades.
CAPÍTULO 50
- Aqui estamos, só há um dia atrás deles, e não tivemos que jogar o canhão pela
amurada ao mar - disse Tyrus quando veio parar ao lado de Boyd na amurada.
Boyd não afastou a vista do mole cheio de Londres para olhar ao homem mais baixo.
O "Oceanus", como muitos outros navios ancorados no Tâmisa, teria que esperar seu turno
para chegar ao mole, o que levaria dias. Isso era porque um bote já estava baixando para
levar a ele e alguns da tripulação a terra agora. Não pela primeira vez, pensou que a
"Skylark" deveria comprar um mole privado fora da congestão da cidade.
Ele soube que Tyrus fez o comentário do canhão para lhe tirar um sorriso. Não
funcionou.
- Se pensasse que isso teria nos trazido mais rapidamente, provavelmente teria
ordenado atirar o canhão pela amurada. Eles chegaram aqui provavelmente há mais de
um dia. - Era um navio malditamente rápido o que Malory tinha. Mas não importava. -
Katey estará instalada na casa de seu pai, não vale a pena que inclusive tente vê-la.
- Isso vai detê-lo?
Isso sim tirou um sorriso a Boyd.
- Nem em sonhos. Mas você sabe como são os Mallory. Grunhi sobre eles muitas
vezes com você. Assim penso que necessito de um pouco de munição de minha parte na
forma de minha irmã. Pelo menos Georgie pode deixar ao James fora disto. Do Anthony
posso me ocupar, mas não dele e seu irmão juntos.
- Odeio mencionar, fanfarrão, mas sua oposição real vai ser a própria senhorita.
Avisei-o para não tirá-la furtivamente do navio, mas depois de havê-lo feito, você deveria
ter sido sincero sobre isso.
- Ia dizer-lhe antes que chegasse à ilha, mas os piratas se apresentaram primeiro.
Infernos, a noite que a tirei fora da nave nem sequer pensei que teria que fazer todo o
caminho antes que ela despertasse, mas quando o fiz, estava tão aliviado de não estar no
meio de uma briga muito longa com ela que relaxei e dormi um pouco também. Despertei
somente um pouco antes de que ela o fizesse, assim no apuro do momento inventei um
conto louco para lhe explicar nossa presença ali. Achei que o acharia divertido depois, já
que é tão boa nos contos que ela inventa. Inclusive poderia ter pensado que era romântico
de minha parte. -Tyrus resfolegou ao ouvi-lo assim. Boyd acrescentou: - Algumas
mulheres poderiam ter visto isso dessa maneira. Claro, pensei que já teria seu
consentimento para casar-se comigo por então, também.
- Disse-lhe isso?
- Céus não. Seu descobrimento da mutreta antes que o pudesse mencionar lhe tirou
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toda a diversão. Além disso, para então já não acreditava nada do que lhe dizia.
Assim que Katey deixou o "Oceanus" para ir ao "Maiden George", ele se tinha
arrependido de não haver feito uma confissão completa a Katey. Por isso se tinha posto tão
furioso com os Mallory uma vez que ficou em dia com eles, porque eles não lhe
permitiriam nem sequer vê-la para que pudesse lhe dizer isso. Ainda pensava que ela não
acreditaria. Estava muito zangada. Mas quis tentá-lo pelo menos antes que o enjôo o
incapacitasse.
Mas pela primeira vez, não enjoou assim que sua nave zarpou. A emoção extrema
que suportava era responsável por isso? Ou era a surra que Anthony lhe deu? Não,
duvidou por último. Navegou antes e depois de ter uma boa luta com algum de seus
irmãos, e algumas dores ou golpes não detiveram a náusea então.
Além disso, os golpes que Anthony lhe deu não eram nada que ele não pudesse
suportar. teve coisas piores de seus irmãos. Poderia ter estado inconsciente brevemente,
mas se tinha arrumado para bloquear os golpes que poderiam facilmente romper ossos.
Esperava algo pior do Anthony, assim tinha o pressentimento de que o homem mais
velho se reteve, e a razão era bastante óbvia. Anthony assumiu que tinha chegado ali a
tempo de deter "a sedução", assim lhe tinha administrado não mais que uma simples
advertência com seus punhos.
Mas sabiam agora? Era possível. Katey passara muito tempo com eles e poderia
havê-lo mencioná-lo. Boyd poderia ir direito a uma situação onde sua cabeça seria voada
por um pai zangado. Deus, por que Katey tinha que resultar ser uma Malory? Foi
suficientemente mau quando a família se sentiu agradecida com ela por resgatar a Judith.
Mas agora era um dos seus, e os Mallory iam por cima de tudo quando concernia à família.
- Não - disse Georgina redondamente a Boyd umas horas depois quando ele tinha
chegado a sua casa em Berkeley. - Tem sorte que não tomo um chicote contra ti. Não vou
protegê-lo do James, não desta vez.
O que não pressagiou bem para Boyd foi que essa era sua primeira reação a seu
comentário. Tudo o que fez era beijá-la saudando-a e lhe dizendo que poderia necessitar
de sua ajuda. Deveria ter tomado boa nota de sua surpresa com sua súbita presença em
seu salão, como se ela tivesse pensado que não se atreveria a mostrar sua cara por ali.
Com um suspiro, sentou-se ao lado dela no sofá.
- O que lhe disse seu marido?
- Que você pensou seduzir essa doce moça nessa viagem e eles a salvaram de suas
garras antes que pudesse fazê-lo. Mas então já sabia que essa era sua intenção quando eles
navegaram atrás de você. Deveria ter visto o Tony. Ele parecia um vulcão a ponto de fazer
erupção.
Boyd revirou seus olhos.
- Sim, já sei. Ele fez erupção sobre mim.
Um momento de preocupação fraternal encheu sua expressão.
- Fez mal a você?
- Não realmente.
- Está perdendo seu toque?
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Ele tinha que rir disso.
- Isso é duvidoso. Mas suponho que James não mencionou que a sedução foi sua
idéia e a do Anthony?
Ela apontou um dedo para ele.
- Não trate de usar essa tática comigo, Boyd Anderson. Não está passando na prova.
Ele riu entredentes.
- É verdade, você sabe. Pedi sua ajuda, e a sedução foi a primeira coisa que veio a
suas mentes, mas esse é seu forte, por isso é compreensível. Mas o fato é, que eu quis me
casar com a Katey antes de que navegássemos juntos. Infernos, eu quis me casar com ela
desde o primeiro dia que a conheci!
- Por que não me contou isto antes de partir? - perguntou ela.
- Porque eu queria tanto a Katey, que não estava pensando corretamente então.
Georgina lhe deu um olhar desaprovador, mas perguntou:
- E isso não vai levar você por bom caminho agora?
- Não.
Ela abriu a boca entendendo:
- Oh meu Deus, melhor deseja que James não o averigúe agora.
- Averiguar o que? - perguntou James da porta.
CAPÍTULO 51
Ante a repentina chegada do James, Georgina imediatamente ficou em pé e ficou
como uma barricada entre seu marido e seu irmão. Não era que isso impediria ao James
alcançar a Boyd se quisesse, pelo que Boyd ficou em pé e se preparou.
Mas James disse a sua esposa.
- Relaxe, minha vida. Não vou ensanguentá-lo em sua presença.
- Assim vou ter que permanecer grudada a seu lado até o próximo ano? - disse
Georgina com desgosto.
James ergueu uma só sobrancelha dourada.
- É tão mau, o que não sei?
Ela deu rodeios.
- Depende de como o olhe.
- E como seria isso? - perguntou James.
Ela começou a responder, depois deteve sua boca e tomou uma expressão teimosa.
James encolheu os ombros e casualmente entrou no quarto, tirando suas luvas e lançando-
as em uma mesa próxima. Mas a conduta do James Malory poderia ser enganosa. O
homem podia estar altamente furioso e ainda assim ver-se completamente sem emoção.
Ele se deteve diante de Boyd. Georgina não tentou abrir passagem entre eles. Tinha
sua palavra de que ele não ensanguentaria a Boyd. Embora nada se havia dito de não
romper ossos. Boyd não tomou uma postura defensiva, mas não relaxou sua guarda,
tampouco.
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- Ouçamo-lo - disse James sem expressão alguma.
- Estávamos simplesmente discutindo sobre Katey, o que provavelmente já
adivinhou. E talvez você pode responder melhor a isto. Estava disposta a abandonar meu
navio pelo seu para retornar aqui, mas esta agora tem uma pressa dilaceradora de partir
em sua viagem pelo mundo outra vez?
- Nada disso. Está encantada com sua nova família e está contente de ficar na
Inglaterra para nos conhecer. Ao menos pelo que dure o inverno.
- Sério?
James aparentemente não gostou como Boyd soou contente por essa informação.
- Que maldita diferença faz? - disse brusco.
- Porque isso me dá razão para acreditar que se casará comigo agora.
- Oh? E o que lhe faz pensar que o resto de nós o aceitaremos?
- James Malory - começou Georgina como advertência.
Mas Boyd explodiu em risada.
- É suficientemente mau que tenha que brigar com Katey com unhas e dentes, por
assim dizer, para fazer que admita que me ama, mas tenho que combater aos Mallory,
também?
- Tenho notícias para você, ianque. Nós não admitiremos que amamos você... nunca.
Boyd revirou seus olhos .
- Sabe o que quis dizer. Quero Katey como minha esposa. Acredito que o entendeu
antes que deixasse a Inglaterra com ela.
- Isso era antes que se convertesse em minha sobrinha. Agora que é, não a pode ter.
- Não é sua decisão, é decisão dela.
- Importar-se-ia fazer uma aposta sobre isso?
Boyd não perdeu sua calma, o assunto era muito importante.
- Sua única objeção para casar-se comigo é sua maldita excursão mundial. Ela supõe,
por alguma razão, que uma vez que se case e tenha filhos nunca poderá viajar outra vez.
Mas se estiver disposta a privar-se de sua viagem por um inverno inteiro, então
possivelmente esta reunião com uma família a que nunca conheceu mudou suas
prioridades, ou ao menos a fez valorizar mais à família.
- Pensa que isso faz uma diferença, não?
Boyd suspirou.
- James, perguntou-me se eu a esperaria. O que lhe diz isso?
- Diz-me que você e ela tiveram uma conversa bastante séria. Que mais teve você?
Boyd não respondeu. Georgina rapidamente abriu passagem entre eles e pegou as
faces de seu marido entre suas mãos. James não era estúpido. O silêncio de Boyd era a
resposta que ele não queria ouvir.
- Sabe que isso muda tudo - disse ela. - Assim foi conosco, com meus irmãos.
Deixaram-nos casar.
- Insistiram - interrompeu-a para corrigir.
Georgina franziu seus lábios.
- Não vá a isso – advertiu-a James.
Sorriu docemente a seu marido, apesar de seu semblante carrancudo. Boyd se
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arrumou para não rir deles. Realmente pensavam esses dois que ele e seus irmãos alguma
vez se deram conta? James os tinha forçado a mão quando fez eles saberem que sua irmã
doce e inocente tinha compartilhado sua cabine... e muito mais... com ele. E ele o fez
deliberadamente.
- E o que me diz da Amy e Warren? - Continuou Georgina. - Logo que você e seu
irmão os encontraram na cama juntos, mudaram suas oposições para com ele, não é
verdade? Teriam ido diretamente para o altar se Amy teimosamente não tivesse escavado
seus calcanhares e insistido que não o teria até que ele se declarasse.
- Expôs seu ponto, George - disse James com um olhar azedo que logo prendeu em
Boyd. - Vou assumir que não fez das suas com ela sem sua permissão?
- Isso não está nem perto de ser engraçado, Malory.
- Não era essa minha intenção. E já que sua indignação responde a isso, então, sim,
infelizmente, isto muda tudo. Mas não ache que convencerá Tony assim fácil. Está muito
suscetível agora mesmo por esta filha em particular. Anos perdidos, arrependimentos,
auto culpa apesar de quão suavemente ela esta encaixando em sua família, ainda tudo esta
pesando sobre seus ombros.
- Sim, mas vai estar do lado de Boyd na discussão, não é assim? - disse Georgina
com ar satisfeito.
Ergueu uma das douradas sobrancelhas do James.
- Não basta que não vá matá-lo?
CAPÍTULO 52
Katey olhou para fora da janela da carruagem. A mansão Millard aparecia adiante.
As árvores no caminho e ao redor da mansão estavam agora ermas, vazias de folhas, como
as vidas dentro dessa grande casa. Seu pai a estava levando ali. Roslynn desejara vir.
Judith, também, tinha querido vir, mas Anthony não os tinha permitido. Só havia dito que
Katey e ele tinham que fazer, mas Katey suspeitou que tivesse medo de que sua visita
ficasse desagradável e não desejava expô-las a isso. Depois de tudo, teriam que passar de
novo por cima de Letitia para ver sua avó.
Katey segurou a mão de Anthony na carruagem e repetiu a si mesma uma e outra
vez que esta outra família dela, os Millards, já não eram importantes para ela. Tinha a
família de seu pai agora, e eles lhe deram as boas-vindas sinceramente em suas vidas.
Desde o momento que tinha entrado em sua casa em Piccadilly e Judith veio correndo
abraçando-se a sua cintura com o abraço maior do que ela era capaz, Katey estava cheia de
paz.
- Eu sabia, eu sabia. - Judith tinha exclamado com borbulhante deleite. - Tinha que
haver uma razão para que eu gostasse tanto, e a havia!
- E quando soube? - perguntou Katey com um sorriso caloroso. - Acreditava que não
lhe iriam dizer isso.
Roslynn Malory apareceu e disse:
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- Tony enviou um mensageiro que nos informou que já voltavam. Senti que devia
prepará-la, é uma boa coisa que não lhes tenha tomado muito tempo chegar aqui! Bem-
vinda a casa, Katey.
Roslynn veio para abraçá-la, também. Katey tinha chorado. Nesse momento, ela
sentiu realmente que tinha um lar novamente. E Anthony entrou resmungando algo sobre
as mulheres e suas contraditórias lágrimas de felicidade.
Foi uma volta ao lar real. Os Mallory entraram e saíram durante todo esse dia e o
seguinte, todos eles asseguraram ao mais novo membro de sua família como estavam
alegres de tê-la. Não tinha nenhuma dúvida depois disso, nenhuma. E ontem à noite no
jantar familiar Roslynn tinha ajeitado para que Katey conhecesse um dos irmãos de Boyd
também, Warren, o outro irmão ao qual ela estava aparentada agora por casamento!
Que surpresa resultou ser Warren Anderson. Casado com sua prima Amy, a filha
mais jovem do Edward, Warren não se parecia em nada a Boyd. Mais velho, mais alto, ela
nunca teria suposto que ele era irmão de Boyd e Georgina se não o houvessem dito. Ela
não teria suposto tampouco que ele era parte desta família, por alguns dos comentários
depreciativos que escutou que os homens Malory lhe faziam.
- De volta, ianque? Que lástima.
Esse foi o comentário de James, mas Anthony foi rápido em unir-se a ele.
- Realmente deveria fazer viagens mais longas... e deveria deixar a Amy e os
meninos em casa. Eles poderiam sentir saudades um pouco, mas tenha a certeza que nós
não.
- Deixe-o - disse James a seu irmão. - É muito bruto para captar a indireta.
Eles pareciam tão sérios, Katey se surpreendeu o suficiente para perguntar à
Roslynn por ele quando a encontrou sozinha.
- Por que os Mallory ridicularizam aos Andersons?
- Não o fazemos - assegurou-lhe Roslynn rapidamente. - São só Tony e James. Esses
dois formam uma frente sólida contra a oposição, e, bem, os Andersons tentaram pendurar
ao James quando o conheceram primeiro. Eles também o deixaram sem sentido. E apesar
de saber que sua irmã o amava, tentaram mantê-los a ele e Georgina separados.
- Eu ouvi falar disso - admitiu Katey.
Roslynn riu entredentes.
- Bem, viu como é James, assim pode entender porque tinham reservas sobre confiar
a sua única irmã a ele. Mas embora pareça que o desprezem, não são sérios sobre isso
nestes dias, e Warren sabe.
Katey entendeu... um pouco. E já que Warren estava divertido e simplesmente riu
dos comentários, ele sabia obviamente que os homens Malory realmente não estavam
tentando insultá-lo.
Este era o irmão mais velho que Boyd lhe tinha mostrado como exemplo a ela, de
um homem que levava a sua esposa e família ao mar com ele. E Amy, vivaz, galharda,
borbulhante de felicidade como champanha, ao que parecia não se incomodava com esse
acerto absolutamente. Era a segunda mulher na família que tinha essa escura aparência
cigana de seu antepassado da mesma maneira que Anthony. Mas tinha outra coisa que era
muito estranha.
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Rindo-se sobre isso, Amy disse:
- Realmente não digo a sorte, simplesmente tenho alguns sentimentos muito fortes.
- Ela fez que nos apressássemos de volta a Inglaterra porque pressentiu que ia haver
um novo Malory na família - acrescentou Warren. - Como de costume, tinha razão.
- Achei que seria um novo bebê! - Amy riu entredentes. - Mas me alegro que seja
você, Katey. Você e eu vamos ser as melhores amigas, já verá - disse ela com confiança
absoluta, então se aproximou para sussurrar: - Esquece essa dor de coração, querida
minha. Você vai estar mais contente aqui do que possa imaginar. Já apostei sobre isso.
Katey não soube até depois de Amy e Warren foram embora, que Amy nunca tinha
perdido uma aposta em sua vida, e se ela quisesse que algo acontecesse, era só apostar
sobre isso e meramente acontecia! Jeremy disse tudo a Katey da estranha habilidade da
Amy e se queixou de como frequentemente Amy tinha usado essas apostas contra ele.
Katey sentiu que era tudo absurdo. Uma piada familiar, possivelmente, que ela ainda não
tinha ouvido o final da piada?
Mas o comentário de Amy sobre a dor de coração também estava muito perto da
verdade, como podia ela saber que Katey passara horas no pequeno balcão fora de seu
quarto depois que se retirou na primeira noite ali, olhando, esperando, desejando a
chegada de Boyd? E o fez de novo ontem à noite! Depois de dois dias de seu retorno a
Londres, estava começando a temer que ele não fosse retornar absolutamente a Inglaterra,
que as coisas que lhe havia dito zangada sobre nunca querer vê-lo de novo o convenceram
que perdesse o interesse nela.
Mas ninguém na família sabia de seus medos, assim Amy não podia sabê-lo! Katey
só lhes permitiu ver sua felicidade de estar ali e ser uma parte da família, porque essa
felicidade era muito real.
E então Anthony lhe informou no café dessa manhã que assim que eles chegaram,
ele tinha enviado um homem imediatamente ao Haverston para averiguar a condição de
saúde
de Sophie de seu doutor.
- Não quero me expor a que Letitia tente nos deter exigindo que sua avó ainda não
está bastante bem para uma visita. E o doutor me informou que ela está bem. Tão sã e
cordial quando uma mulher de sua idade pode estar. Assim se você gostar de nos
dirigirmos a Haverston hoje, eu já disse à Ross que empacotasse para uma longa visita.
Eles deixaram Londres antes do meio-dia, Anthony, Roslynn, Judy, e ela. Eles não
chegaram ao Haverston até quase a tarde, entretanto. Anthony sugeriu que esperassem até
a manhã para dirigir-se para os Millards, mas Katey não quis esperar. Não estava ainda
bastante escuro e queria ver sua avó logo para que pudesse desfrutar de uns dias em
Haverston sem esta reunião pendente sobre dela.
Ela tinha pensado que não necessitava nada mais para preencher a ferida aberta em
sua vida pela morte de sua mãe, porque agora tinha os Mallory. Mas a mesma ansiedade
que estava presente na última vez que se aproximou desta mansão estava de novo ali.
Esteve se enganando. Profundamente, em seu interior desejava que a família de sua mãe
fosse parte de sua vida.
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CAPÍTULO 53
- Estou certa de que estará encantado de saber que assim que a minha mãe se sentiu
melhor, deu-me uma severa reprimenda.
Aquelas foram as primeiras palavras que Letitia Millard disse quando abriu a porta
e estendeu seu braço com um cumprimento exagerado para introduzir ao Anthony e Katey
dentro. O exagero deixou claro que não era sua opção permiti-lhes entrar na casa.
Anthony tinha prometido que ele se comportaria da melhor maneira pela segurança
da Katey. Ela não estava muito segura do que isso significava, mas incluiu uma inclinação
cordial a Letitia e o comentário:
- Ajudaria saber que tenho parentes aos quais também preferiria fechar-lhes a porta?
- Simpatia, Malory? Guarde-se disse Letitia amargamente. - Você sabe exatamente
onde nós estamos parados.
- Não, você sabe, eu não. Mas, por isso estou aqui, não é assim? Para averiguar.
Letitia fez um som de aversão e partiu para o salão. Seguiram-na. E ali sentada
estava Sophie Millard, a única avó viva de Katey. Os olhos e expressão da Katey se
encheram de maravilha. Sophie não era tão velha quando ela esperara. Ela estava na
metade dos sessenta. Seu cabelo negro estava começando a ficar cinza. Seus olhos
esmeraldas ainda mantinham uma faísca viva. E Katey viu sua mãe tão claramente. Se
Adeline tivesse vivido até essa idade, assim é como teria ficado, Katey estava segura.
Um peso encheu seu peito e garganta, então começaram as lágrimas. Quis correr e
abraçar à Sophie, mas seus pés grudaram no chão. Sophie poderia ter tratado
educadamente ao Anthony e James quando a visitaram por volta de umas semanas, mas
eles eram da mesma classe social que ela. Katey temia que Sophie pudesse tratá-la igual a
Letitia.
Esquecido da emoção que estava asfixiando a Katey, Anthony parecia também
surpreso pela aparência de Sophie e disse:
- Senhora, está esplêndida, anos mais jovem que em seu leito de doente.
Sophie riu entre dentes.
- Que cumprimento tão estranho, mas não obstante o agradeço, Sir Anthony.
Ela não tinha ainda olhado a Katey, mas essa era a fala de Anthony. Muito
involuntariamente, ele frequentemente capturava a atenção das mulheres porque era
incrivelmente bonito, assim era compreensível que os olhos de Sophie foram a ele quando
entraram.
Sophie olhava a Katey agora e seus olhos se arregalaram. Não havia necessidade de
apresentações. Ambas se reconheceram imediatamente.
- Bom Deus.
Isso foi tudo o que Sophie disse. Os segundos passaram, uma eternidade na mente
da Katey. Não podia respirar. Ia fazer uma completa idiota dela mesma e desmaiar.
E então ouviu o que tinha rogado ouvir.
- Venha aqui, menina.
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Sophie estava lhe abrindo seus braços. Katey não necessitou outro estímulo. Voou
pelo salão, caindo sobre seus joelhos no chão diante do Sophie e pondo seus braços ao
redor da cintura de sua avó, sua face em seu peito. Era suficientemente alta para fazê-lo, e
suas lágrimas brotaram a sério agora enquanto sua avó a abraçava.
- Nada disso – falou-lhe Sophie brandamente. - Detenha essas lágrimas. Não pode
imaginar quanto desejei este momento, conhecê-la finalmente. Sente-se aqui e me permita
vê-la.
Katey se sentou no sofá com um sorriso envergonhado. Ela limpou um lado de sua
face com seus dedos; Sophie limpou o outro lado.
- Oh, olhe - disse Sophie com assombro. - Você tem seus olhos. Você tem nossas
covinhas.
Ambas sorriram abertamente, fazendo com que essas covinhas fossem mais
destacadas. Eles eram mais profundos nas faces do Sophie devido à pele mais solta de seus
anos avançados, mas era daqui onde Katey tinha herdado as suas.
Anthony se queixou quando tomou assento em frente delas.
- Desejaria ter visto a semelhança mais cedo. Quando conheci a Katey depois de sua
chegada a Londres, nenhum de nós tinha nem idéia.
- Uma mãe vê as coisas de maneira diferente, e uma avó também o faz - disse-lhe
Sophie. - E que vergonha para você, Sir. Quando implicou que retornaria por respostas,
deveria me ter dito que estaria trazendo minha neta com você.
- Essa não era uma garantia. Tinha que encontrá-la primeiro. Ela deixou a Inglaterra.
- Ah, nesse caso está perdoado.
Anthony levantou uma sobrancelha a Letitia antes de que dissesse ao Sophie:
- Está começando a parecer como se não lhe houvessem dito que Katey veio aqui
sozinha, e em lugar de ser bem-vinda, lhe mostrou a porta e lhe disse que nunca
retornasse?
- Não, Letty só admitiu sua rudeza com você e seu irmão.
Todos os olhos estavam agora em Letitia. A mulher não parecia envergonhada o
mínimo. De fato, sua expressão ficou mais teimosa quando em sua defesa assinalou:
- Você esteve deprimida desde que esse advogado que contratou na América enviou
a notícia da morte de Adeline. Três vezes esteve bastante doente para chamar o doutor
depois. Esta tristeza tem que terminar. Está matando-a! E "ela" - Letitia assinalou com um
dedo acusador a Katey - teria feito simplesmente piorar. Ela vai devolver lhe todos os
pesares e recriminações
- Pare Sophie. - Eu não sou quem tem remorsos. Não sou quem enviou longe
Adeline. E minha tristeza começou no dia que ela deixou a Inglaterra.
Antes que sua briga fosse pior, Katey interveio:
- por que partiu ela? Ela me disse que vocês a repudiaram, mas estou começando a
pensar que foi o contrário.
- Estou certa que tem razão - disse Sophie com um suspiro cordial. - O engano de
Adeline foi ir até sua irmã por conselho sobre o bebê em lugar de vir até mim. Com seis
anos de diferença em suas idades, elas não foram nunca muito próximas. E Adeline não
soube que Letty já nos convencera que Sir Anthony estava divertindo-se simplesmente
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com ela enquanto ele estava em Haverston para as festas.
- Eu me dava conta de que seu marido não pensava que eu era sério - disse Anthony.
- Que ele estava somente seguindo a corrente.
- De fato, todos nós pensamos que você se aborreceria logo e voltaria para Londres.
Que um bebê era ao contrário o resultado que parecia apoiar o argumento do Letty que
você era simplesmente um libertino, e ela foi diretamente a meu marido, Oliver, com as
notícias. O que se seguiu aconteceu tão rapidamente, tudo no mesmo dia, que nunca tive
uma oportunidade para assegurar à Adeline que apoiaria qualquer decisão que ela
tomasse. Nunca sonhei que essa decisão seria deixar a casa.
- Mas por que ela não veio até mim? - exigiu Anthony.
- Oh, ia fazê-lo. Nunca o duvide. Essa foi sua primeira resposta quando Oliver lhe
deu sua cruel solução, que a enviaria fora para ter o bebê em segredo, e depois a obrigaria
dá-lo de presente. Eles a curvaram com sua irritação quando protestou. Meu marido, e
Letitia sobre tudo, colocaram tanta culpa e vergonha em seus ombros, foi uma maravilha
que pudesse tomar qualquer decisão absolutamente esse dia. Quando disse que iria a você,
meu marido a prendeu com chave seu em quarto. Mas Letitia, com toda a animosidade
que tinha contra sua família, foi quem lhe avisou que você nunca se casaria com ela, que só
estava brincando com ela. Adeline deve ter acreditado nela.
- Isso não era verdade - insistiu Anthony.
- Não importa se o era ou não, se acreditou o suficiente para decidir a ação que
tomou pelo contrário.
- Mas eu queria me casar!
- Você o disse?
- Não, eu não lhe havia dito ainda. Estava trabalhando nisso. Quis cortejá-la
propriamente primeiro.
- E seduzi-la! - interpôs Letitia, fazendo ruborizar ao Anthony.
Sophie agitou sua cabeça tristemente.
- Duvido que tivesse importado a meu marido que suas intenções fossem
honoráveis. Letitia era a favorita do Oliver, e ela concentrou sua irritação contra sua
família
desde o primeiro dia que você veio a casa, o suficiente para que ele não considerasse uma
união ainda quando você o tivesse pedido. Ela trouxe à luz cada escândalo associado com
sua família que podia averiguar, que o marquês estava criando a um bastardo como seu
herdeiro, os duelos em que James estava envolvido por causa de mulheres, que você já
teve numerosos assuntos escandalosos desde que se mudou a Londres, demonstrando que
não foi procurar uma esposa, que você estava seguindo ali, pelo contrário, os passos
desenfreados de seu irmão James.
- Não havia necessidade para o James ou para mim de nos casar já que nossos dois
irmãos mais velhos tinham herdeiros masculinos - disse Anthony em sua defesa. -
Certamente não tinha nenhum plano de fazê-lo antes de conhecer Adeline. Apaixonar-me
por ela trocou isso. – Os olhos do Anthony se estreitaram de repente. - Por que se permitiu
que isso passasse igualmente? Se todos vocês pensavam o pior de mim, para começar, por
que simplesmente não me mostraram a porta?
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Sophie o admoestou:
- Você é um Malory. Realmente precisa perguntar isso? Oliver não quis insultar a
sua família. E, além disso, pensamos que você se aborreceria bastante logo e voltaria para
Londres.
- Adeline não deu nenhuma pista absolutamente de que qualquer de vocês tinha
maus sentimentos para com minha família. Por que isso?
- Porque ela não soube, não até esse dia que nós soubemos do bebê. Antes disso,
meu marido temia que ela terminasse insultando-o, era então tão jovem e impulsiva.
Assim somente foi advertida de que não lhe desse muito valor a sua atenção, que estava
sendo meramente amável. Enfatizou-lhe que não estava no mercado matrimonial. E
esperamos, e desejamos, que você simplesmente partisse.
Anthony passou uma mão agitadamente em seu cabelo.
- Bom Deus, deveria ter sabido que a protegeria a ela e nosso bebê dos cruéis planos
de seu pai. Ainda não entendo porque não se arriscou a vir até mim.
- Porque acreditou quando disseque você não se casaria com ela, e por que não teria
de acreditar em mim? - disse Letitia orgulhosamente. - Era a verdade como parecia, que
seu único interesse era colecionar conquistas. Estava devastada, claro, mas isso era o que
merecia por sucumbir descaradamente a sua sedução. E enquanto nossas reações podem
lhe parecer cruéis a você, sabe tão bem quando eu que as intenções não têm sentido se
ninguém mais que você mesmo as conhece. Não tinha feito nada em sua vida a esse ponto
que sugerisse que estava em um rápido caminho de se tornar um libertino, quando todos
nós estamos conscientes, teve mais que êxito ao sê-lo por muitos anos.
Inclusive Katey soube que seu pai não podia negá-lo, mas Sophie teve piedade dele.
- Isso eram meras hipóteses, Sir Anthony, mas estes são os únicos fatos que conta a
história. Meu marido e Letty constantemente estavam vigiando Adeline, várias vezes por
hora, para assegurar-se que ainda estava encerrada com chave seu em quarto. Um criado
foi despachado para vigiar Haverston e inclusive adiar sua visita nesse dia, se fosse
preciso. Adeline sabia isso. Assim mesmo que ela tivesse tido fé em você apesar do que
Letty lhe havia dito, obviamente acreditou que poderiam encontrá-la rapidamente se fosse
a Haverston. E lhe haviam dito que Oliver ia levá-la em um navio ao Continente na manhã
seguinte para afastá-la de você, e que não voltaria para casa até depois que seu bastardo
não fosse mais uma inconveniência a nossa família. Ele nunca soube como ela estava
desesperada por conservar a criança. Apesar de sua estreita vigilância sobre ela, escapou
pela sua janela. Nós nunca a vimos de novo. Tinha uma carta sua em que me dizia que se
casara e foi criar a sua criança na América. Nunca perdoei a meu marido por afastá-la de
nós.
- Você tampouco me perdoou - disse Letitia amargamente, com um tom ferido em
sua expressão.
- Claro que o fiz. Ambas eram minhas filhas. Não escolhi uma favorita como seu pai
fez. Foi suficientemente miserável já. Não precisava adicionar recriminações. Quantas
vezes lhe disse que o deixasse passar, soltar o passado e seguir com sua vida? Mas você
nunca deixou de odiar o mundo pela má mão que lhe deu. Mas o que vai deter se é que
toma decisões por mim. Não lhe ocorreu nem uma vez que a presença da Katey em nossas
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vidas poderia ajudar a sanar essas velhas feridas? Como pôde rejeitá-la sem me dizer isso
inclusive?
- Estava doente!
- Isso não muda as coisas, minha moça, e você sabe.
- Ela é uma Malory - grunhiu Letitia. - Eles nunca serão bem-vindos aqui!
- Ah, ao fim ao ponto - indicou Anthony, e sua expressão se tornou claramente
ameaçadora, como fez seu tom quando acrescentou: - Se importaria de permitir que os
Mallory soubessem por que somos tão detestados? Os escândalos não geram este tipo de
malícia pessoal.
CAPÍTULO 54
O silêncio no quarto era denso, cheio de irritação enquanto Anthony e Letitia se
olharam um ao outro fixamente. Sophie olhou-os incomodada. Ainda estava segurando
firmemente a mão da Katey em seu regaço, quase como que refreando que Katey se
reunisse à rixa.
- Vai dizer você, Letty, ou devo fazê-lo eu? -perguntou Sophie finalmente quando
não houve resposta de sua filha.
Letitia fechou sua boca mais firmemente, mostrando-se furiosa. Não queria dizer
nada, desejava guardar seu segredo. Obviamente Sophie discordava e tinha a última
palavra sobre isso.
Mas como se as emoções não fossem tensas, Sophie por acidente inquiriu:
- Quantos anos tinha, Letty, quando te apaixonou por ele?
- Quatorze - resmungou Letty.
- Muito jovem. Esse amor deveria ter murchado faz tempo. Ela nem sequer o viu
desenvolver -se. Mas surgiu e se fez mais forte.
Não estava claro de quem Sophie estava falando. A ela mesma, ao grande salão?
Seus olhos permaneciam tristemente em sua filha.
Anthony, observando a ambas, estalou:
- Você não pode estar sugerindo que ela estivesse apaixonada por mim!
Sophie o olhou e riu entredentes.
- Céus, não, você ainda era um menino então. Era a seu irmão Jason a quem jogou o
olhar e seu coração no primeiro momento que ela o viu.
Incrédulo, Anthony disse:
- O sério e sensato Jason? Foi o chefe de nossa família desde que tinha dezoito anos.
Ele nunca teve tempo para socializar, muito menos para pensar em romance.
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- Bem, então era realmente um tipo bonito. E Letty frequentava Haverston com a
esperança de que ele pudesse fazer uma de suas raras aparições no povoado e poderia lhe
dar uma oportunidade para falar com ele.
Os olhos do Anthony se arregalaram.
- Acho que estava com ele numa dessas vezes. Ela nos deteve para conversar.
Lembro que pensei que ela estava mostrando seu coração em seus olhos, mas Jason não o
notou.
Ao aviso de quão insignificante foi aos olhos de seu amor, Letitia grunhiu:
- Ele nunca o notou! A metade das vezes que lhe falei, tiveram que lembrá-lo quem
era eu!
- Você esperava mais? -mofou-se Anthony. - Inclusive ainda não estava fora do
salão de classes. Além disso, entre criar ao resto de nós e dirigir a propriedade, Jason tinha
sempre muito em sua mente.
- Penso que você entende mal, Sir Anthony - esclareceu Sophie em um tom
consolador que devolveu um grau de calma ao aposento. - Isto continuou durante anos,
inclusive depois de sua introdução à sociedade. Letty teve sua apresentação em Gloucester
quando ela tinha dezoito anos. Procurou que não fosse lá, mas Oliver insistiu. Durante
duas temporadas ignorou todas as ofertas. Tudo o que queria era vir para casa para poder
estar de novo perto do Jason, mesmo que só pudesse vê-lo umas poucas vezes por ano.
Depois de duas temporadas infrutíferas, Oliver deixou de insistir.
- Por que simplesmente não disse ao Jason o que sentia? - perguntou Anthony.
- Não pareceria agora, mas era bastante tímida. Além disso, uma dama nunca é tão
ousada. Você sabe que é assim tanto quando eu.
- Quando está danificando sua vida, possivelmente deveria sê-lo - respondeu
Anthony.
- Eu o ia fazer - admitiu Letitia em voz baixa. - Pedi a minha mãe que o convidasse
para jantar. Foi um engano. Tudo o que ele fez foi conversar sobre suas flores e colheitas
no que meu pai não tinha o menor interesse, e ele jurou depois que não voltaríamos a
convidá-lo de novo.
- Assumo que seus pais não souberam sobre este grande amor que você albergou? -
perguntou Anthony a Letitia.
- Claro que não. E nunca tive oportunidade para falar com ele a sós nessa tarde.
- Por que não se deu por vencida então? - perguntou Anthony cuidadosamente. -
Meu irmão não lhe deu ao que parece nenhum estímulo absolutamente, escassamente
inclusive sabia que você existia. Por que se aferrou à esperança de que mudaria?
- Por que o amava! Inclusive quando ouvimos falar de seu bastardo e que ele ia criá-
lo e fazê-lo seu herdeiro legal, continuei amando-o. Era uma indiscrição que obviamente
não significava nada para ele, desde que não se casou com a mãe do moço, quem quer que
seja que fosse ela. Então sua irmã morreu e ele terminou criando a sua filha também. Esse
ato foi algo tão formoso, mas os dois jovenzinhos foram pelas mãos. E ali foi quando ele
destroçou meu coração! - Grunhiu Letitia. - Em lugar de procurar uma esposa mais perto
de casa que seria uma mãe para eles, ele pediu um favor e pelo contrário trouxe Frances, a
filha de um conde, a casa. Eu sou a filha de um conde! Eu teria amado a esses meninos e
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teria sido a mãe perfeita para eles!
- Sim que ele cometeu um engano com o Frances - teve que admitir Anthony.
- Um engano? Assim é como o chama? Desprezava-o. Seu pai a forçou ao
matrimônio, mas não o honrou. Toda a vizinhança soube que união horrível era! Eles
viveram como estranhos todos esses anos até que ele provocou ainda outro escândalo em
sua família quando se divorciou.
O tom azedo de Letitia fez Anthony responder defensivamente.
- Tudo porque você não teve o bom senso para declarar seu caso e pelo menos fazer-
se um pouco mais memorável a meu irmão antes de que ele se enfrentasse com a
necessidade imediata de uma esposa.
- Como se atreve!
Ele levantou uma sobrancelha.
- Eu sou um Malory, lembra? Você já me julgou como escandaloso, assim maldita
seja, expor as coisas quando as vejo. Jason estava desesperado por uma esposa quando
nossa sobrinha começou a converter-se em uma malandra jovenzinha. Se você tivesse tido
a coragem para perseguir o que queria, em lugar de esperar para que acontecesse sem um
esforço real de sua parte, então ele poderia tê-la lembrado quando estava procurando uma
esposa que fosse uma mãe para os dois jovenzinhos.
- Você, senhor, viveu muito tempo na pior escória de Londres - respondeu-lhe
Letitia. - Você já não tem nenhuma noção do que uma verdadeira dama deve fazer.
Anthony estava obviamente contendo uma risada.
- Bem - disse ele de acordo. - Você tem razão e peço seu perdão. Conteve sua língua
e esperou o melhor, o que a manteve de entrar na mente do Jason quando ele devia
escolher a uma esposa. Assim que ele terminou tomando a pior opção possível, quando ele
poderia ter tido a você pelo contrário. Tem razão, Letitia. Sua elegante maneira de guardar
seus sentimentos em segredo era a melhor maneira.
Um vermelho brilhante tingiu suas faces, Letitia estava tão zangada.
- Você é desprezível!
- Espere, me permita terminar primeiro, e possivelmente você possa propor um
epíteto com o que não me tenha ultrajado ainda.
- Eu estou segura que não é possível.
- Touché! Mas como chamaria você a suas próprias ações, Letitia? Excelentes? Sem
recriminações? Você sabe, Jason não queria casar-se então. Não tinha tempo para uma
esposa. Mas ele fez o sacrifício por causa dos meninos, para lhes dar uma mãe. Como não a
escolheu para o papel, seu amor por ele se tornou ódio. E você pintou a sua família inteira
com o mesmo pincel, nos odiando a todos por associação, e se assegurou que seu pai
também o fizesse. Debaixo de circunstâncias normais, seu pai teria vindo, golpeando a
minha porta e teria exigido que eu fizesse o correto com sua filha, eu teria estado
encantado de fazê-lo. Mas se assegurou que isso não acontecesse. Eram ciúmes, Letitia?
Você não podia resistir que Adeline pudesse ganhar um Malory quando você não pôde?
Só lhe lançou adagas com seu olhar. Anthony agitou sua cabeça com aversão. Katey
que guardara silêncio quando escutava toda essa bílis derramando-se ao redor, finalmente
sentiu algo ela também. Foi sua mãe que passara através desse inferno, de haver lhe dito
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que poderia ter a seu menino, mas que não poderia conservá-lo. Katey não podia começar
a imaginar como deveria ter sido. E para que? Um amor não correspondido que tornou
Letitia tão azeda e amargurada que ela desejou que todos outros fossem tão miseráveis
quanto ela?
Katey olhou fixamente à mulher responsável, quem estendera sua dor de amor para
que todos o compartilhassem.
- Você se assegurou que minha mãe não poderia casar-se com o homem que ela
queria casar-se. Obrigou-a a fugir para longe, a outro país, que abandonasse sua casa
permanentemente só para que pudesse conservar a seu filho. Ela tinha que ser tão infeliz
quando você, Letitia? Era isso necessário? Era sua única irmã!
Letitia se enrijeceu ante esta nova acusação.
- Olhe-me! Tenho quarenta e seis anos. Nunca soube o que é o toque de um homem.
Nunca segurei a um bebê em meus braços. Jason Malory tomou cada porção de amor que
tinha na vida, sem deixar nada para que pudesse dar a outro homem. Mas não queria que
ela fosse infeliz. Nunca quis isso!
Letitia correu de repente para fora do aposento. Katey se deu conta das lágrimas nos
olhos de sua tia e sentiu uma pontada de remorso por causá-las. Sophie tinha seus
próprios olhos firmemente fechados, contendo a dor que ela sentia por sua filha.
Suavemente ela explicou:
- Se for de algum consolo, não gosta da maneira que é. Frequentemente dorme
chorando. Acredita que eu não sei.
- Eu o faria se nunca dissesse a meu irmão que ele era, sem o saber, a causa de todo
este pesar - disse Anthony.
- Mas ele não o era - assegurou-lhe Sophie. - Um homem não pode ser culpado de
algo que não é nem remotamente sua falta. Ele nunca soube. Para ele, Letty era
simplesmente uma vizinha que via passeando de vez em quando. Não tinha nenhuma
idéia dos profundos sentimentos que ela albergou por ele. Eu mesma não soube até depois
de alguns anos, quando finalmente ela me confessou isso tudo. Mas talvez você deveria
saber isto. Não era malícia de sua parte. Nem sequer era devido ao Jason. Sim, ela tinha
todos esses escândalos de sua família para usar quando munição para estabelecer seu caso,
mas era simplesmente você. Ela pensou honestamente que seria um marido infiel que ao
final faria ao Adeline infeliz.
- Ela não podia saber isso! - Protestou Anthony.
- Não, mas o caminho que você tomou já começou. Já provara o sabor do lado
sofisticado de Londres. No dizer de todos, estava seguindo os passos de seu irmão
selvagem. E ia a caminho de se tornar o mais notório libertino de Londres, por mais de
uma década tudo parecia demonstrar que ela teve razão. Enquanto você poderia ter estado
na agonia do primeiro amor e ter a melhor das intenções, quanto tempo teria durado isso,
Sir Anthony? Você pode dizer honestamente que teria sido um marido fiel nessa idade tão
jovem?
Anthony abriu sua boca, para logo fechá-la lentamente. Ele se sentou atrás
pensativamente por uns momentos, então finalmente levantou uma sobrancelha ao
Sophie.
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- Você mostrou seu ponto, senhora. Um bom. Enquanto eu amo a minha esposa,
Roslynn, com todo meu coração e nunca sonharia ser infiel a ela, como você diz, eu passei
mais de uma década tendo aventuras, assim eu estava bastante preparado para me
estabelecer no matrimônio com ela. Faz todos esses anos com o Adeline, quem o pode
dizer? Marido exemplar ou o pior marido imaginável? Não, honestamente não posso lhe
dizer o que teria sido.
Sophie sacudiu a cabeça e apertou a mão da Katey um pouco mais.
- Foi um evento desafortunado em nossas vidas. Mas esta menina encantadora veio
dele, e nós podemos agradecer isso.
Anthony sorriu a Katey.
- É óbvio que o fazemos. Sua mãe não veio a casa, mas Katey o fez e é finalmente um
membro de minha família. Obrigado por nos dar as respostas que nos faltavam. Eu
gostaria de ler essa carta que você tinha de Adeline, se não se importar?
- Receio que não possa agradá-lo nisso. Atirei-a fora. Era muito dolorosa e a relia
muito frequentemente. Culpou-me também, você vê. E embora eu mesma lhe enviei
inumeráveis cartas, rogando-lhe que viesse para casa e trouxesse sua nova família com ela,
nunca respondeu nenhuma delas. Assim só posso assumir que nunca me perdoou.
- Não assuma isso - disse Katey rapidamente. - De fato, que lhe fizesse saber que
estava bem e onde terminou fala por si mesmo. Não queria que você se preocupasse.
Quanto a não escrever de novo, não acredito que ela alguma vez lesse suas comunicações.
Jogava as cartas sem abrir no fogo. Só posso supor que não queria lembrar sua velha vida,
quando estava satisfeita com a nova.
Sophie abraçou a Katey por isso.
- Temos tanto de que falar, querida minha. Possivelmente você gostaria de ficar aqui
por algum tempo, assim podemos ter uma boa visita?
Katey teria gostado, mas Anthony declinou a oferta por ela.
- Estamos ficando em Haverston, assim pode vir a cavalo novamente amanhã. Mal
entrou em minha vida, assim meus instintos protetores estão correndo desenfreadamente.
– Ele sorriu para fazê-lo parecer mais suave, mas ele estava inequivocamente sério. O que
não se disse era que ele não queria que tivesse mais confrontações com a Letitia. - De
momento, preferiria mantê-la perto, ao alcance de minha mão, você entende.
CAPÍTULO 55
Era realmente tarde quando Anthony e Katey retornaram ao Haverston. Sophie
insistiu que ficassem para jantar, e Anthony não podia recusar outro convite dela.
Tampouco partiram imediatamente depois. Katey e Sophie tinham muito do que falar de
lembranças não dolorosas, e Letitia felizmente não se uniu a eles novamente para lhes
danificar o resto da noite.
Sentados na carruagem, seu braço ao redor de seus ombros em um modo paternal e
protetor, Anthony estava um pouco indeciso perguntando a sua filha:
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- Não está perturbada com o que averiguou hoje?
- Não, em realidade, estou aliviada. Tenho uma imaginação vívida. Esperava algo
muito pior.
- Enviarei ao Sophie um convite para que venha a Haverston amanhã a sós. Prefiro
não expor Letitia à Ross e Judy, mas penso que ambas desfrutariam em conhecer sua avó.
Por algumas das coisas que ela disse esta noite, tenho a sensação de que Letitia afugentou
a maior parte de suas visitas através dos anos, assim a velha dama poderia apreciar a
estimulação de uma pequena reunião assim como também estar rodeada de crianças outra
vez.
- Provavelmente tem razão. Mas espero não evitar a Letitia indefinidamente. De fato,
espero que ela se acostume a mim eventualmente e perca algo de sua mordacidade.
- É mais otimista que eu. - Ele riu abafadamente.
Tarde como era, alguém esperara por eles. As luzes na frente da casa estavam ainda
acesas. Provavelmente era Roslynn. Ela estava morrendo de curiosidade sobre o que
passara todos esses anos atrás e até fez um pouco de careta quando Anthony se recusou a
deixá-la ir para a visita. Pelo contrário, ele estava surpreso de encontrar ao James na ampla
entrada, apoiando-se contra o portal da sala, brandy na mão.
- Estava começando a pensar que passariam a noite nos Millards - comentou James.
Anthony sorriu abertamente.
- Não esperava vê-lo aqui, velho. Muito curioso para esperar que retornássemos a
Londres?
James mofou.
- Devo uma visita ao mais velho. Não o vi desde que retornei do Caribe, você sabe, e
depois naveguei novamente com você.
- Certamente - respondeu Anthony duvidosamente, já que ele sabia que Jason avisou
à família que iria a Londres de visita na semana seguinte.
Mas James não havia realmente terminado com sua explicação.
- E trago o ianque comigo.
Anthony ficou tenso.
- Boyd? Para que diabos fez isso?
Mas antes de que James pudesse responder, Katey ficou sem fôlego.
- Boyd aqui? Onde?
- Quando pareceu que vocês não retornariam esta noite, ele foi de repente para a
cama, resmungando algo a respeito de querer estar fresco e com clareza.
- Isso soa como uma boa idéia para mim também. - Katey na verdade correu as
escadas, gritando: - Boa noite aos dois!
Anthony franziu o cenho enquanto a observava partir. James começou a rir
abafadamente antes de dizer:
- Por que não estou surpreso?
Anthony fulminou a seu irmão com o olhar.
- Surpreso do que, de que ela nem sequer te saudasse antes de sair correndo? E como
se atreve a trazer esse desavergonhado...?
- Cale a boca, cachorrinho - respondeu James e de um tranco lhe pôs seu brandy na
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mão de Anthony. - Bebe isso. Vai necessitar dele quando ouvir o que tenho que lhe dizer,
ou não se deu conta de como lhe iluminou o rosto à mera menção de seu nome?
O coração da Katey corria a velocidade. Ele veio. Por ela. Não o duvidava, e não
duvidava tampouco que ele estava cheio de ansiedade, pensando ainda que teria que
liberar batalha para ganhar seu amor. Não ia deixar que passasse outro momento de
ansiedade.
Sabia em quais quartos estavam sua família, assim sabia quais estavam vazios e
disponíveis para Boyd. O primeiro que revistou era o correto... ao menos estava ocupado.
Teve que esperar que seus olhos se adaptassem à escuridão antes de estar segura. Não
estava suficientemente frio ainda para que a chaminé fosse acesa.
Fechou a porta suavemente atrás dela e respirou profundamente várias vezes. Só
estar no mesmo quarto com ele de novo a encheu de uma paz tranquilizadora. E não levou
muito para ver o suficientemente bem para aproximar-se da cama.
Estava deitado de barriga para cima, um braço na parte posterior de sua cabeça, seu
cabelo castanho dourado lhe cruzava uma sobrancelha. Seu peito estava nu, a manta só lhe
cobria a cintura. Katey se sentiu menos tranquila quando notou isso. Sua boca estava
ligeiramente aberta, mas ele não roncava. Ouviu só a profunda respiração, regular do
sono. Ele quis estar fresco e com a cabeça limpa antes de falar com ela na manhã. Ela não
podia esperar por muito tempo.
Desfez-se de seus sapatos e suas roupas, deixando-os amontoados junto à cama. Não
se estava sentindo de todo tranquila agora. Estava-se pondo bastante excitada e estava
surpreendida de ter podido fazer uma pausa suficiente para despir-se. Mas então se deitou
na cama junto a Boyd e se afundou contra seu flanco. Isso nem sequer o despertou, nem
mesmo quando ela tocou seu peito. Estava contente fazendo justamente isso por alguns
momentos, mas só por alguns. Ela se inclinou mais perto, soprou brandamente em sua
orelha para despertá-lo com cócegas… e soube imediatamente quando sortiu efeito e ele
percebeu que não estava sozinho.
Ele se virou para ela. Ela o beijou antes que ele pudesse dizer algo. Se por alguma
razão estava equivocada e ele ainda não a queria, ela não desejava sabê-lo. Mas seu corpo
ainda a queria. Ela teve que resistir ao impulso de rir de puro deleite de quão rapidamente
seu beijo se tornou quente e possessivo, logo se surpreendeu com que rapidez seu próprio
corpo respondeu.
- Lavanda, tem um aroma tão único, Katey - disse ele entre sonhos enquanto tocava
com sua mão a face dela, depois seu ombro. Mas logo ele gemeu quando sua mão se
moveu mais abaixo e percebeu que ela estava nua. - Deus, não desperte. Ou fui para o
ceu?
Havia lhe dito algo semelhante uma vez antes.
- Não está dormindo - respondeu ela. - Mas isto é definitivamente celestial, não é
certo?
Ele gemeu e a beijou outra vez. Pôs o máximo empenho para sair de baixo da manta
sem quebrantar esse beijo, mas logo ele estava estendido sobre ela, e suas pernas
instintivamente o envolveram para mantê-lo ali. Sua luxúria sempre foi um problema.
Tinha a sensação de que a sua própria também podia ser um. Desejava-o tanto, muito para
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esperar.
Aparentemente, ele necessitava mais.
- Não me pode dar isto e não se casar comigo.
- Sei. - Ela o beijou outra vez.
- Diz isso a sério?
- Falaremos mais tarde!
Ele sorriu baixo ante a impaciência dela.
- Pelo menos finalmente entende como é...
Agarrou seu cabelo e quase grunhiu,
- Se não me fizer amor agora mesmo...
Com esse olhar que sempre podia chamuscá-la, ele disse:
- Deus, amo-a tanto, Katey - enquanto deslizava profundamente dentro dela,
satisfazendo sua necessidade de suas entranhas de o ter ali, satisfazendo seu desejo
rapidamente depois disso, e satisfazendo seu coração desejoso com essas palavras
apaixonadas que tinham provindo do fundo dele.
Ele a segurou com delicadeza em seus braços depois, como se ela pudesse romper-
se.
- Disse-o a sério? - perguntou ele a ela cuidadosamente.
Passada sua paixão, ela só sentia ternura agora e estava transbordante dela. Virou-se
para tocar sua mão na face dele e olhá-lo diretamente nos olhos antes de dizer.
-Esta noite aprendi como pode ser horrível uma vida somente porque umas simples
palavras não se disseram nunca. Poderiam não ter mudado nada, ou poderiam ter
mudado tudo. Mas não vou cometer o mesmo engano. Aconteça o que acontecer, Boyd,
amo-o. Assim que a próxima vez que diga que estou casada, vai ser verdade.
- Não o lamentará, prometo-lhe. - Ele beijou cada dedo de sua mão. - Temos o resto
de nossas vidas para ver o mundo. Não é necessário vê-lo todo em um ano ou dois.
Quando nossos meninos forem maiores, até o desfrutarão. Terão experiências que perdeu
quando menina, serão capazes de ver o mundo com seus próprios olhos, e não só escutar
dele ou ler a respeito.
As lágrimas quase entraram em seus olhos, ela estava tão comovida de como queria
fazê-la feliz.
- Faria isso por mim? Ainda quando navegar lhe faz adoecer tanto? Mas já não é
necessário. Estava procurando emoção, coisas novas, aventura, mas tudo era só para
encher o vazio em minha vida, e compensar o aborrecimento de minha juventude. Já não
necessito disso, Boyd, agora que o tenho.
Amy avisou a ela "vai ser mais feliz aqui do que pensa" Katey não o duvidava agora.
Tinha a grande família que ela sempre desejara, e agora estava pronta para aumentá-la até
mais com o homem que amava. Esse era um pensamento emocionante. Essa ia ser a
aventura de sua vida.
Pela manhã Katey e Boyd desceram a escada juntos para compartilhar sua
maravilhosa notícia com sua família. A maior parte dos Mallory estavam reunidos na sala.
Anthony e James estavam ali com suas esposas desfrutando de alguns bolos matutinos.
Jacqueline e Judith tinham suas cabeças juntas sussurrando, ambas as capazes de caber na
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mesma poltrona. detiveram-se para ficar olhando com os olhos bem abertos quando viram
o casal entrar, com as mãos dadas, sorridentes.
Também Anthony os notou imediatamente e lentamente ficou em pé. Ele não
precisou perguntar o que estava ocorrendo depois de sua conversa com o James. E esperou
silenciosamente que o casal os alcançasse. Só Georgina e Roslynn pareciam preocupadas
pelo que ele poderia dizer ou poderia fazer. Aparentemente, não havia uma conclusão
tirada de antemão ainda.
Mas Anthony pôs as mãos nas faces da Katey e disse:
- Está "certa" que isto é o que quer? Ainda posso matá-lo em caso contrário, se não
for assim.
Boyd bufou, mas Katey deu a seu pai um formoso sorriso, uma vista completa de
suas covinhas, e respondeu:
- Me ame e ame a meu marido.
Anthony gemeu.
- Então assim é como vai ser, não é verdade?
James riu abafadamente atrás dele.
- Ela é uma Malory. Esperava menos?
FIM
Boyd e Katey