EDITORIAL
Jonatas R. Alvares Gabriele Cornelli
ARTIGOSUrbanização e a Construção da Paisagem no Alto Império Romano: a Colônia de Augusta EmeritaAiran dos Santos Borges
O Poeta e a Cidade: Platão Enfrenta HomeroAlzira Silvestre dos Santos
A Paixão Política de Platão: sobre Cercas Filosóficas e sua PermeabilidadeGabriele Cornelli
O Desrespeito das Leis Sociais e a Ruína Humana no Hipólito de EurípidesHelena Vasconcelos
Os Tipos de Justiça na KallípolisJosé Wilson da Silva
Cidades Gregas do Ocidente e a Água: estudo comparativo entre os sistemas de captação e dispensa da água nas Poleis de Metaponto e PoseidoniaMaria Elizabeth MesquitaMaria BeatrizBorba Florenzano
Civitas In Civibus Est, Non In Parietibus (De Urbis Excidio 6,6). História e Tempo Eterno na ‘Arquitetura Cívica’ de Roma Antiga em De Civitate Dei de Santo AgostinhoPedro Paulo Alves dos Santos
O Esquema Decorativo da Sala do Trono do Rei Neoassírio Ashurnasirpal IIPhilippe Racy Takla
Diversões Públicas em Roma: da Fase Republicana à Fase ImperialPriscilla Adriane Ferreira Almeida
Lei, Retórica e Democracia – o Uso das Leis no Discurso ForensePriscilla Gontijo Leite
A Natureza do Discurso Verdadeiro a partir de uma Abordagem Convergente em Platão e IsócratesRobson Régis Silva Costa
O Cuidado de Si no EpicurismoThiago Rodrigo de Oliveira Costa
Sobre a Autodidaxía e a Autárkeia de EpicuroMiguel Spinelli
TRADUÇÃO
Performance e Inteligibilidade: traduzindo Íon, de PlatãoMarcus Mota
RESENHA
François Chamoux, A Civilização Grega. Lisboa, Portugal: Edição 70, 2003, 344 pp. ISBN: 972-44-1139-7Maria Carolina Alves dos Santos
2 jan.2009
issn 2179-4960
2 jan.2009
issn 2179-4960
2ja
n.20
09
R E V I S T A
ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT
ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT
C L Á S S I C A
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
desígnio 2
21
jan.2009
A PAIXÃO POLÍTICA DE PLATÃO: SOBRE CERCAS FILOSÓFICAS E SUA
PERMEABILIDADEGabriele Cornelli*
,
RESUMO: O presente artigo se propõe abordar a questão
da relação entre a filosofia e a política, partindo do debate
intelectual sobre ética e política do V-IV século em Atenas.
Debate, este, que acontece na esteira do surgimento de uma
nova individualidade, marcada pela descoberta da tragicidade
alma. Destaca-se no interior deste debate a redefinição de
uma postura filopolítica, em toda sua ambigüidade histórica
e idealidade ética. Aristófanes, Tucídides, Eurípides, Górgias e,
obviamente, o próprio Platão estão empenhados na definição da
possibilidade (ou menos) de encontro entre filosofia e cidade,
público e privado, justiça e interesses, indivíduo e comunidade.
A solução platônica para o problema revela complexidade e
articulação típicas de seu pensamento: o filósofo que se repara
da tempestade atrás de uma cerca acadêmica (Resp. 496d) é o
mesmo que, “para não parecer somente palavra a ele mesmo”
(VII Epist. 328c) zarpa em direção ao incerto projeto siracusano.
PALAVRAS-CHAVE: Platão, Filosofia política, República,
Ética antiga, História do Pensamento Ocidental.
PLATO’S POLITICAL PASSION: ON PHILOSOPHICAL WALLS
AND THEIR PERMEABILITY
ABSTRACT: This article proposes to address the relationship
between philosophy and politics through the 5th-4th Century’s
intellectual debate on ethics and politics in Athens. A debate
which takes place in the wake of the rise of a new individuality,
marked by the discovery of the tragicity of the soul. What stands
* Gabriele Cornelli é
professor (Adjunto I)
de Filosofia Antiga no
Departamento de Filosofia
da Universidade de Brasília,
Coordenador do Grupo
Archai: as origens do
pensamento ocidental e
Presidente da Sociedade
Brasileira de Platonistas.
INTRODUÇÃO
A idéia de deste ensaio surgiu-me a partir da re-leitura recente de uma tese clássica da Nicole
Loraux, em seu livro A invenção de Atenas (1981)
segundo a qual os escritores politeiai do V-IV século
(Isocrates, Tucidides, mas vale como veremos para
outros também) são obrigados a usar a arma da
palavra por se encontrarem de alguma forma
impossibilitados em seu desejo de ação.1
A palavra, portanto, expressa uma paixão
política. Mas uma paixão impossível.
Em busca desta paixão entre os livros que
estavam em minha mesa, há algum tempo dedicados
ao V-IV século em Atenas – Aristófanes, Tucídides,
Eurípides, Górgias e, obviamente, o próprio Platão
– percebi que um termo aparece com uma certa
freqüência e releva de alguma forma que todos
eles estão empenhados na definição desta paixão.
Trata-se do termo φιλοπόλις: um termo a meu ver reducionisticamente traduzido no interior do
léxico do patriotismo. Mas antes de pensar na
filopolítica, será preciso anotar algumas reflexões
sobre o contexto histórico em que esta literatura
é produzida.
1. Agradeço as contribuições
dos amigos e estimados
colegas Giovanni Casertano,
José Otávio N. Guimarães
e André L. Chevitarese,
por aceitarem discutir
comigo aspectos pontuais
deste ensaio. Obviamente,
a responsabilidade pelas
idéias aqui expressas é
exclusivamente minha. Uma
versão anterior do mesmo
foi apresentada inicialmente
no V Seminário Internacional
Archai: a cidade antiga
(2-6 de Junho de 2008),
em Brasília e uma versão
inglesa deste texto está no
prelo da publicação Cornelli,
G. & Lisi, F. (orgs). Plato
and the Ancient City. Sankt
Augustin/Berlin, Academia
Verlag, 2009.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt