Infância e Educação na obra de Freinet 1
Dra. Esméria Saveli 2
Ms. Maiza Taques Margraf Althaus 3
Ms. Maria Odete Tenreiro 4
“ Se você não voltar a ser como uma criança, não entrará no reino
encantado da pedagogia...Em vez de procurar esquecer a infância,
acostume-se a revivê-la; reviva-a com os alunos... “ Freinet, em
Pedagogia do Bom Senso, p.28.
O percurso histórico da vida de Freinet é o ponto de partida de nossa
reflexão. Resgataremos sua biografia através de vivências pessoais,
profissionais, apontando também para suas contribuições, fundamentos
pedagógicos e filosóficos que influenciaram a sua forma de configurar a
prática pedagógica escolar à partir dos princípios de uma pedagogia moderna
e popular. Freinet foi um professor do povo e suas propostas pedagógicas
1 Saveli, E, Althaus, M, Tenreiro, M. O. Infância e educação na obra de Freinet. In: Oliveira, M.S. (org). Fundamentos filosóficos da educação infantil. Maringá: EDUEM, 2005. p.109-118. 2 Professora do Departamento de Educação e do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Educação/UNICAMP/FE/Campinas- São Paulo; Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Alfabetização Leitura e Escrita (GEPALE); Desenvolve pesquisas que tematizam a leitura e a escrita na escola e formação de professores. 3 Professora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) -PR. Mestre em Educação pela UEPG. Participa da Linha de Pesquisa Educação e formação de professores, do Mestrado em Educação da UEPG. Desenvolve pesquisas que tematizam a formação de professores e a docência universitária. 4 Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa; Mestre em Educação pela UEPG; Membro do Grupo de Pesquisa Alfabetização, Leitura e Escrita (GEPALE); Desenvolve pesquisas que tematizam a educação infantil, avaliação e formação de professores.
gozam ainda de um amplo prestígio Em outras palavras: pretendemos, por
meio deste artigo, revelar a importância de um educador, que teve a ousadia
de inovar a educação do século XX, mesmo sem possuir grandes títulos
acadêmicos.
Celestin Freinet viveu de 1896–1966, e, ao longo desses setenta anos
revelou ser um homem simples e humilde, que defendia o direito da criança
viver sua vida como criança. Isto é, defendia o direito de respeitá-la como ser
humano.
Nasceu Freinet na pequena cidade de Gars, no sul da França, em 15
de outubro de 1896, no seio de uma família humilde de origem camponesa.
Essa sua origem é refletida em toda a sua obra.
Em 1913 é aprovado no exame de ingresso à Escola Normal de Nice.
Em 1915 obtém o título de professor primário. Nesse mesmo ano é convocado
para a Guerra como oficial de infantaria. Em 1916 é gravemente ferido em um
dos pulmões o que resulta no abandono do exército. Ao longo de quatro anos
começa um período de incerteza e de peregrinação.
No dia 1º de Janeiro de 1920, é nomeado professor adjunto da
pequena escola de Bar-sur-Loup uma região camponesa da França. É
designado para uma classe, chamada de preparatória, constituída por alunos
de 6(seis) a 8(oito) anos. No período de 1920 a 1925 desenvolve uma grande
atividade de formação participando de encontros sobre educação, através de
leituras, recebe influências de Rabelais, Montaigne, Pestalozzi, Rousseau,
Marx, entre outros. Viaja para Hamburgo para conhecer de perto as propostas
da pedagogia libertária. Participa do II Congresso da Liga Internacional para a
Educação Nova, em 1923. Visita a URSS e estuda as formulações da
Educação Soviética. Ao mesmo tempo, realiza um intenso trabalho de
tateamento experimental, sustentado pelas teorias que estuda.
Em função da debilitação de seus pulmões tem necessidade de
respirar ar fresco, isso o leva a sair com seus alunos e a realizar as chamadas
“aulas-passeio”. Introduz em suas classes atividades manuais e expressivas,
elimina o púlpito da sala de aula, propicia o trabalho escrito à partir das
palavras das crianças, nasce o texto livre. Introduz a tipografia para
desenvolver novas técnicas como: o livro de vida e a correspondência
interescolar.
No ano de 1925, Freinet filiou-se ao Partido Comunista Francês.
Em 1926 casa-se com Élise, também professora, que será sua
companheira durante toda a sua vida. É importante ressaltar que a atividade
de Freinet não se limita ao âmbito escolar, já que este educador desenvolveu
também importante atividade social e política e em decorrência disso sofreu
perseguições e foi preso em um campo de concentração alemão. Sua esposa
Élise lutou pela sua libertação. Libertado depois de um ano, Freinet aderiu ao
Movimento de Resistência Francesa. Criou o Instituto Cooperativo da Escola
Moderna (ICEM) que reunia mais de 20 mil participantes. Em 1956, Freinet
liderou a campanha nacional para conseguir 25 alunos por classe. Também
cria em 1957 a Federação Internacional de Movimentos da Escola Moderna
que congrega milhares de educadores de todos os continentes e tem encontro
bianuais em diversos países do mundo.
Em 8 de Outubro de 1966, morreu em Vence Celestin Freinet e foi
enterrado em Gars, sua cidade natal.
Diante da biografia apresentada, podemos afirmar que Freinet foi um
dos maiores educadores do século XX. Foi um educador inquieto cuja
contribuição pode ser considerada como ponto de partida para novas
perspectivas de inovação.
Freinet deixou-nos não somente uma visão bastante crítica de infância,
como veremos a seguir, mas também propostas de técnicas na prática
pedagógica escolar, que podem ser vivenciadas no cotidiano da escola.
A força da pedagogia Freinet se assenta na posição eclética e ativa
que ele assumiu para desenvolver sua teoria de ensino que se alimenta das
contribuições mais inovadoras, tanto no campo da psicologia como da
sociologia e da política, e se traduz em uma visão crítica de infância e em
indicações técnicas viáveis para a melhoria e renovação da escola e, em
particular, da escola do povo.
A visão de infância em Freinet está articulada com a sua concepção de
homem, sociedade e natureza.
Não faz muito tempo que a criança deixou de ser vista e entendida
como um adulto em miniatura, um ser incompleto, pela falta de idade ou
maturidade. Refletir sobre a infância implica levar em consideração a criança
como sujeito ativo, filiado a um determinado grupo social e familiar e, portanto,
um sujeito histórico, capaz de ser estudado e entendido por si só.
Podemos dizer que o conceito de infância é determinado
historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade,
instituindo diferentes classes sociais no interior das quais o papel da criança é
diferente.
A definição de criança está longe de ser simples. OLIVEIRA nos diz:
Crianças são aquelas ‘figurinhas’ curiosas e ativas, com direitos e
necessidades que precisam de um espaço diferente tanto do
ambiente familiar, onde são objeto do afeto de adultos (em geral,
adultos muito confusos), quanto do ambiente escolar tradicional,
freqüentemente orientados para a padronização de condutas e
ritmos e para as avaliações segundo parâmetros externos à
criança. (2002, p.45).
Baseado nos ensinamentos de Rousseau, Freinet em contato com a
natureza, buscou formar na criança o homem de amanhã.
Para Freinet, toda e qualquer experiência tateada é preferível a uma
experiência passiva. Afirmou que a criança tem uma necessidade permanente
de experimentar, tocar, mexer e explorar. No seu entender, o aluno não pode
ser visto apenas como um expectador do processo ensino-aprendizagem. Ele
considerava a criança o centro de sua própria educação, a criança, para ele,
não é um adulto isolado, mas faz parte de uma comunidade, assume e
participa da organização da vida da classe. Suas dificuldades e barreiras a
impulsionam a estabelecer e compreender as regras da vida.
A proposta pedagógica de Freinet revolucionou a dinâmica da sala de
aula onde a responsabilidade, a afetividade, a cooperação, a livre expressão
eram fatores fundamentais. Para Freinet, os trabalhos manuais eram tão
importantes quanto às atividades intelectuais.
Na Pedagogia Freinet é importante que o professor perceba que
muitas vezes a criança não se satisfaz com as explicações dos adultos, pois
deseja e necessita explorar os espaços, levantar suas hipóteses, encontrar
respostas e buscar alternativas para sua satisfação.
Para tanto, é fundamental facilitar experiências às crianças e orientá-
las em suas ações. Ações que correspondam com suas necessidades e
interesses. Não apenas levando-se em conta brinquedos e brincadeiras, mas,
sobretudo ações pela vida.
Freinet evidenciou ainda a importância de se colocar as crianças em
contato com outras crianças, ou no meio da natureza. Segundo o educador,
“lá existem tantas possibilidades de atividades que jamais a criança terá a
idéia de chupar no dedo. Ver uma criança chupando no dedo no meio do
jardim animado de flores, de pássaros e de gritos infantis, é coisa
inimaginável” (Freinet, 1973, p. 18).
Suas idéias apontaram para o fato de que a escola deve ser um
espaço privilegiado que valorize e oportunize as crianças experiências vivas e
significativas. Uma escola ativa, dinâmica, aberta ao encontro com a vida,
participante e integrada à família e a comunidade. Um espaço onde a criança
através do seu tatear possa alcançar degraus mais elevados que a levarão
mais alto e mais longe.
Percebe-se muitas vezes que o erro da escola está no momento em
que ela, de uma forma autoritária e arbitrária, deseja “depositar” nas crianças
todos os conhecimentos que julga conveniente e importante. Impedindo-a de
manipular, observar, visualizar, experimentar as suas próprias experiências.
Para Freinet, o ambiente escolar deve ter um clima de respeito e
liberdade, é neste espaço que a criança irá interagir, explorar e analisar, como
um sujeito ativo do processo. Assim, terá a oportunidade de acrescentar
elementos novos e distintos aos seus comportamentos e culturas, garantindo
a possibilidade de reconstruir sua própria cidadania.
Essa concepção de infância vai exigir um novo olhar sobre a prática
pedagógica é decorrente disso que são estabelecidos os princípios
norteadores das técnicas e da pedagogia Freinet.
As técnicas Freinet não se constituem em ortodoxias a serem levadas
ao pé da letra mas, ao contrário, o grande educador francês, em seus escritos,
instiga-nos a ficar atentos aos interesses e ritmos das crianças e, portanto, a
inventar estratégias e técnicas que possam estimular o desenvolvimento dos
alunos. Constituem-se em recursos ricos e coerentes de atividades que
estimulam um ensaio experimental, base do método natural que envolve todas
as técnicas como a livre expressão, a cooperação e a pesquisa do meio.
A base psicológica da proposta educativa de Freinet é o ensaio
experimental isso vale também para os professores. A idéia de ensaio
experimental considera que as aprendizagens se realizam a partir das
próprias experiências, da observação da realidade, da expressão das suas
vivências, da análise de um contexto no qual alunos e professores possam
formular e expressar suas experiências.
A pedagogia Freinet é resultado da confluência de duas vertentes
teóricas: por um lado, em função da sua militância político-sindical, de base
marxista, Freinet imprimiu em sua pedagogia um caráter social na busca da
construção de uma escola do povo, popular e moderna em contraposição à
escola capitalista que estava posta no mundo ocidental.
Por outro lado, adotou os princípios pedagógicos da Escola Nova,
movimento liderado pelo americano John Dewey, que estava em plena
efervecência quando Freinet inicia sua carreira de professor. Embora ele
tenha se mostrado crítico quanto ao caráter elitista desta corrente, seu espírito
eclético o manteve em contato com tal movimento. Esse jeito aberto e
generoso de entender a educação possibilitou-lhe desenvolver uma
Pedagogia. Sua proposta está aninhada nas contribuições mais inovadoras,
tanto no campo da psicologia, pedagogia, como da sociologia e da política de
seu tempo.
É importante ressaltar que a pedagogia Freinet está colocada sob a
égide da escola moderna e não da escola nova. O educador francês justificou
a opção pela expressão escola moderna porque, segundo ele, está mais
preocupado em modernizar, adaptar a escola tradicional às necessidades do
mundo moderno e não em buscar novidades. Para ele uma técnica da escola
tradicional pode perfeitamente integrar-se na escola moderna se permitir e
facilitar as formas de trabalho que o educado preconiza.
Ele explicou que modernizar o ensino não é apenas adquirir material
novo ou tentar fazer os alunos participarem mais da aula, ou resolver todos os
exercícios. Nem mesmo organizar cooperativas, editar um jornal ou praticar a
correspondência interescolar. Modernizar a escola é, sobretudo fazê-la
encontrar a vida, mobilizá-la, dar-lhe um objetivo que esteja coerente com as
exigências do presente e do futuro.
Dessa forma, na pedagogia Freinet encontram-se os componentes
essenciais da escola como instituição mediadora e os princípios da
aprendizagem significativa, a qual defende que para uma aprendizagem eficaz
é fundamental “partir daquilo que o aluno já sabe” princípio defendido por
Dewey. As técnicas são concebidas, por Freinet, como meio para realizar um
projeto compartilhado por professores e alunos e se constituem em
verdadeiros instrumentos de construção de conhecimento, uma vez que se
parte da experiência, da comunicação, do confronto de idéias e percepções e
da concepção de projetos negociados, individuais e coletivos.
Necessário se faz apresentar também os princípios desta Pedagogia,
que são os alicerces de toda a dinâmica vivenciada nas técnicas Freinet.
O primeiro princípio da pedagogia Freinet é a LIVRE EXPRESSÃO –
influência da Escola Nova- elemento presente em todas as suas técnicas.
Segundo o educador francês “ a livre expressão faz eclodir na classe um clima
privilegiado de liberdade e confiança. Naturalmente o texto livre alcança um
lugar preponderante, secundado pelo instrumento primordial do material
impresso. O texto impresso faz aparecer o Jornal Escolar e consegue sua
difusão através da correspondência interescolar.” (FREINET, 1976, p. 23).
Outro princípio fundante da pedagogia Freinet é a COOPERAÇÃO, que
não ficou apenas no âmbito da sala de aula, pois com a criação em 1927 da
Coopeativa de Ensino Laico (CEL), a pedagogia de Freinet expandiu-se em
nível profissional entre os professores até gerar um movimento de renovação
educacional que se constituiu em uma rede de troca de experiências entre
educadores para a reflexão sobre a vida cotidiana nas salas de aula e da
aplicação e experimentação de técnicas. Este movimento alcança a sua
maturidade com a constituição em 1951, do Instituto Cooperativo de Escola
Moderna (ICEM), que também terá repercussão com a criação, em 1957, da
Federação Internacional de Movimentos da Escola Moderna (FIMEM).
Decorrente destes dois princípios aparecem as Técnicas Freinet que
são entendidas como instrumentos que os professores se apóiam para
promover o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos alunos. Dentre as
diversas técnicas estão a aula passeio, o texto livre, os planos de trabalho, as
assembléias, a correspondência escolar, o livro de vida, a biblioteca de
trabalho, o jornal escolar.
Decorrente destes princípios que não derivam, em sua essência de
uma concepção teórica da educação, mas como resultado de um ensaio
experimental realizado ao longo dos anos pelo educador francês, há a criação
de técnicas de trabalho pedagógico que se contrapõem as aulas tradicionais.
Em outras palavras, a partir de sua própria prática Freinet começou a
questionar as aulas tradicionais centradas em regulamentos uniformes nas
disposições das carteiras em filas, na correção dos cadernos com tintas
vermelhas, nos programas escolares fixos, nos manuais didáticos, que
reduziam o aluno e o professor a meros receptores. Em contraposição a esta
situação propõe a expressão livre, a motivação do trabalho pelo jornal e pelo
intercâmbio escolar, a aula passeio, os planos de trabalhos individuais e
tantas outras formas do professor se apoiar para o desenvolvimento de sua
prática docente. Assim, Freinet constrói uma pedagogia, não cria um método
como caminho fechado, mas técnicas construídas lentamente com base na
experimentação, que fornecem à criança instrumentos para aprofundar o seu
conhecimento e desenvolver a sua ação. Dentre as técnicas preconizadas
por Freinet destacamos:
a) A Aula-Passeio
Em contraposição a uma pedagogia da abstração e do imobilismo,
Freinet propõe saídas ao ar livre.
As saídas ao ar livre alegremente e sem problemas prévios para as
crianças observarem a natureza transformam-se pouco a pouco em aulas-
passeio quando já havia a preocupação de se fazer um relato de todos os
acontecimentos que, ao longo do caminho, atraiam os olhares das crianças.
Freinet tinha a firme convicção de que a aula passeio “não era tempo perdido
pois todas as disciplinas escolares tiravam proveito disso” (1976, p. 24). Ele
costumava dizer que era como se fosse um “filme que se desenrolasse em
seqüências rápidas, onde a geografia, a história, a aritmética, as pequenas e
grandes ciências e, por vezes, a grande paixão humana, captadas em estudos
espontâneos, significavam a aurora de um domínio do mundo.” (idem, p.24).
Ao retornar à sala de aula o professor escrevia no quadro de giz o
ponto mais marcante das descobertas feitas ao longo do caminho. Esses
passeios possibilitavam a livre expressão da criança e a elaboração do texto
livre em que as crianças escreviam sobre as suas descobertas, medos,
anseios, angústias, experiências. Essa técnica de expressão livre possibilitava
aos alunos a análise, à partir de seus próprios mecanismos, da realidade em
que viviam.
b) O Texto-Livre
O texto-livre é o texto elaborado, espontaneamente, pela criança a
partir de suas idéias, impressões, sem tema e sem prazo pré-fixado. A criança
escreve o seu texto quando tem vontade de se expressar a qualquer hora e
em qualquer lugar. Freinet orienta que a criança poderá ”escrever o seu texto
espontâneo à noite, num canto da mesa; nos joelhos, ouvindo o avô recordar
histórias surpreendentes do passado; em cima da pasta, antes de entrar na
aula, e também, naturalmente, durante as horas de trabalho livre que usamos
na utilização do tempo” (Freinet,1976,p.21).
É importante entendermos o texto-livre como uma técnica nuclear que
traz consigo múltiplos valores, porque nasce do gosto e da necessidade de
expressão das crianças. Isso nos aponta para atentarmos para observar a
diferença entre redação escolar e texto-livre. Freinet explica que a escola
tradicional é tão tenaz, marcou definitivamente a maioria dos professores que
estes solicitam da criança a escrita de texto-livre como se fosse redação
imposta. Diz o educador: “pede-se às crianças que escrevam, a uma hora fixa,
um texto livre. Isto é, em vez de se lhes dar um tema de redação deixa-se-lhes
a escolha deste tema. Este exercício deveria chamar-se redação com tema
livre.” (idem, 1976, p.20) A elaboração desse texto requer uma organização da
aula em que seja possível despertar na criança o desejo de se expressar. É o
mesmo que afirmar que o texto-livre precisa ser motivado.
A motivação para a escrita do texto-livre está no fato de se criar um
ambiente pedagógico em que a criança sinta a necessidade de escrever, de
se exprimir. O papel do professor é criar uma cadeia de atividades para a
criança que venham mobilizá-la para se interessar em escrever para o jornal
escolar ou fazer parte do projeto de correspondência interescolar. São a partir
destes escritos que se desenrolam outras atividades como a imprensa escolar,
a leitura e a reescrita. Freinet salientou que o texto livre não deve ser uma
atividade marginal do trabalho escolar, devem tornar-se o ponto de partida e o
centro do trabalho pedagógico.
Os textos-livres podem ser lidos para a classe para que os colegas
opinem sobre os mesmos. Freinet assim orientou:
...as crianças trazem os textos que redigiram livremente em casa,
no regresso de uma visita, ou durante as horas do trabalho livre,
com ou sem a ajuda do professor. Lêem-os o melhor possível à
turma inteira. O professor ou um aluno escreve os títulos no
quadro; e faz-se uma votação para escolher o texto. (ibidem, 45).
Os textos escolhidos passarão por uma correção feita pelo conjunto da
classe. É importante que o professor não se contente apenas com a correção
de erros ortográficos. Observar o texto no seu conjunto aperfeiçoando o
domínio da língua escrita. A este tipo de atividade denominamos análise
lingüística ou reflexão sobre a língua. O aluno, autor do texto, participa da
discussão e interfere nas modificações do seu texto. A reescrita é feita sempre
com a sua anuência. Só quando o texto estiver atendendo as normas da
língua é que poderá ser indicado para a publicação ou enviado para outra
escola para leitura e troca de experiência entre classes.
c) O Livro de vida
É o registro dos acontecimentos mais marcantes da classe. Nele o
professor e/ou alunos inserem textos produzidos na classe como também
podem registrar um fato importante que ocorreu na turma ou fora dela como
um passeio, uma visita, atividade marcante vivida pelo aluno, pelo grupo de
alunos, pela família e pela comunidade. Este registro vai se constituindo ao
longo do ano como um diário da classe ilustrado com desenhos, fotografias,
relatos, depoimentos que passam a fazer parte da memória do grupo.
Como percebemos na leitura deste texto, a construção teórica de
Freinet envolve uma visão de homem, sociedade e natureza, inter-
relacionando com o cotidiano da prática pedagógica escolar.
Entendemos que Freinet foi um dos educadores que mais
contribuições tem oferecido aos professores que estão realmente
preocupados com a construção de uma escola ativa, dinâmica, historicamente
inserida em um contexto social e cultural. Suas idéias são discutidas e
vivenciadas nas diferentes esferas educativas: das práticas didáticas na
Educação Infantil ao Ensino Superior. Vale dizer ainda que em muitos países
Freinet buscou criar um movimento pedagógico de reconstrução da escola.
Sua Pedagogia iniciou no século XX e sua presença se ratifica no século XXI.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREINET, C. Ensaio de Psicologia Sensível 2. Lisboa: Editorial Presença,
LDA, 1978.
------, O texto livre . Lisboa/Portugal. Editora Dinalivros, 1976.
------, As técnicas Freinet da Escola Moderna. Lisboa/Portugal: Editora
Estampa, 1973.
FREINET, E. O Itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na
pedagogia Freinet. São Paulo: editora Francisco Alves, 1973.
JAUME, Carbonell. Pedagogias do século XX . Porto Alegre: Artmd,2003.
OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo:
Cortez, 2002.
ROTEIRO DE ESTUDO DIRIGIDO
Após leitura sistematizada do artigo acima, procure reunir-se em grupo para a
discussão e reflexão das seguintes questões:
a) Como vocês analisam as contribuições da Pedagogia Freinet ao cotidiano
vivenciado nas escolas atualmente? Quais suas possibilidades de
desenvolvimento nas escolas de educação infantil e/ou séries iniciais?
b) Neste artigo, destacamos a aula-passeio, o livro de vida e o texto livre
como técnicas Freinet. Pesquisem (bibliografia sugerida ao final do artigo)
outras técnicas Freinet que não foram exploradas aqui objetivando
investigar os seus procedimentos e suas propostas à prática pedagógica
escolar. Como vocês visualizam a organização de uma classe Freinet com
tais técnicas?
c) Pesquisem na Internet (endereços abaixo) artigos que relatem vivências
cotidianas em Escolas que adotam a Pedagogia Freinet. Leiam no mínimo
duas experiências. Discutam no grupo as leituras selecionadas dos
endereços eletrônicos à luz do referencial teórico apresentado no artigo de
autoria de Saveli, Althaus e Tenreiro (2005). Produzam uma apreciação
crítica sobre os relatos lidos.
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS ( para saber mais, consultem:)
http://www.abdeppfreinet.com.br/
http://revistaescola.abril.com.br (pesquisar por Freinet no site da Revista)
IMPORTANTE: após o desenvolvimento deste ESTUDO DIRIGIDO, cada
grupo poderá socializar aos demais as suas intervenções.
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