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IMPLICAÇÕES DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA GERAÇÃO DE EMPREGOS EM
AREMBEPE – BA
Antonia dos Reis Salustiano Evangelista1 Sara Lima de Almeida2
Telma Maria Sousa dos Santos3
RESUMO
Arembepe está localizada na zona turística da Costa dos Coqueiros, e pertence ao município de Camaçari – BA. Arembepe representa um dos destinos mais procurados pelo turismo de massa, que busca como atrativo para o lazer a contemplação da natureza. Este trabalho tem como objetivo analisar como o turismo tem contribuído para a geração de emprego na localidade de Arembepe, a qual surgiu partir de uma vila de pescadores, nos anos 60 do século XX, e com o passar dos anos um grande número de veranistas foram atraídos para aquela localidade, onde mais tarde se tornaria o ponto de encontro de hippies de várias partes do mundo. A metodologia adotada baseou-se numa revisão bibliográfica abordando os principais conceitos e discussões acerca do tema proposto. Em seguida foi realizado um levantamento de informações sobre a localidade em fontes secundárias, como: (SEI, IBGE, Bahiatursa). Com o escopo de coletar dados em campo foram elaborados ainda questionários semiestruturados, os quais foram aplicados na fase do trabalho de campo, onde foram realizadas também conversa informal com os moradores, e por fim, a análise dos dados coletados, onde foram revisados e organizados em gráficos com a posterior elaboração do texto. Os resultados encontrados demonstraram algumas contradições como em relação à contribuição do turismo para a geração de emprego no local, pois uma parcela dos entrevistados afirmou que o turismo não contribui em nada para a geração de emprego, e que Arembepe é só uma passagem para as demais praias da costa dos coqueiros, e que a prefeitura é a principal causa desse problema, pois ela não investe adequadamente para a melhoria do local, enquanto outros sujeitos apresentaram opiniões otimistas com relação a geração de emprego e renda na localidade. Palavras-chave: Turismo. Desenvolvimento local. Geração de emprego. Arembepe. 1 INTRODUÇÃO
A atividade turística demanda uma grande quantidade de trabalhadores envolvidos em
diversos setores que visam atender o consumidor, ou seja, o turista. Dessa maneira, esta
atividade está geralmente associada com a geração de empregos e consequentemente ao
discurso do desenvolvimento local sustentável.
1 Universidade Estadual de Feira de Santana. Bacharelanda em Geografia. E-mail: [email protected] 2 Universidade Estadual de Feira de Santana. Bacharelanda em Geografia. E-mail: [email protected] 3 Universidade Estadual de Feira de Santana. Profª Drª do curso de Geografia. E - mail: [email protected]. orientadora
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O presente texto visa discutir alguns resultados decorrentes da pesquisa empírica
realizada na comunidade de Arembepe, que pertence ao município de Camaçari, o qual por
sua vez está inserido na Região Metropolitana de Salvador - RMS. Dessa maneira, buscou-se
compreender: qual a importância da atividade turística para a geração de emprego na
localidade de Arembepe - Ba?
Com o objetivo de responder a questão balizadora foi realizada uma investigação
empírica em Arembepe, a fim de analisar como turismo tem contribuído para a geração de
emprego na localidade. Associado a isto, buscou-se identificar os principais postos de
trabalho existentes na localidade para o setor turístico, assim como o perfil dos trabalhadores,
além da realização de um levantamento sobre as atividades econômicas desenvolvidas pelos
moradores antes do desenvolvimento do turismo em Arembepe.
A localidade de Arembepe por ser um centro turístico localizado no litoral norte
baiano, mais precisamente na Estrada do Coco, é um dos destinos mais procurados pelo
turismo de massa, isso se dá por conta das suas praias, e por pessoas que buscam um ideal
para contemplação da natureza. Dessa forma, Arembepe que surgiu a partir de uma vila de
pescadores, com o passar dos anos começou a atrair um grande número de veranistas, e na
década de 60 do século XX , tornou-se ponto de encontro de hippies de várias partes do
mundo. Esses acontecimentos geraram valorização da localidade, despertando interesse de
investidores externos e da própria região. Tudo isso, contribuiu para a modificação da
paisagem e a rotina da população local.
A movimentação em torno da atividade turista é mais expressiva durante o verão,
porém há também uma significativa presença de pessoas nos finais de semana durante quase
todo o ano. Com isso, houve a necessidade de equipar a cidade para receber os turistas, e
aumentar o número de trabalhadores para atendê-los. É nesse momento que parte da
população é inserida no setor turístico como mão-de-obra local; com funções geralmente de
baixa remuneração.
O trabalho empírico permitiu, com isso, o contato com a comunidade local, onde foi
possível fazer uma reflexão sobre o perfil da população que trabalha no setor do turismo. Foi
possível ainda, compreender as questões relativas à geração de empregos para essa população,
bem como saber o que os trabalhadores fazem para garantir a sua sobrevivência em períodos
de baixa estação.
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2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E MAPA DE LOCALIZAÇÃO
Arembepe pertence ao núcleo urbano de Camaçari – BA, o qual está inserido na Zona
Turística da Costa dos Coqueiros (Mapa 01) e localizada entre as praias de Interlagos
(0587214 E / 8585700 N) e Barra do Jacuípe (0595000 E / 8594876 N); é um ponto turístico
bastante conhecido da região, devido a Aldeia Hippie (Foto 1). A etimologia da palavra
Arembepe tem origem no idioma indígena tupi guarani e significa “aquilo que nos envolve”.
A vegetação original da região passou por diversas transformações por conta das
diferentes pressões exercidas pelas atividades econômicas em épocas diferentes. Essa
degradação, porém, sofreu intensificação a partir da década de 70, principalmente pelo
estímulo do plantio de pinus para o abastecimento das indústrias de celulose, tornando-se essa
atividade uma das grandes responsáveis pelo desmatamento na região. Segundo o
RADAMBRASIL (1983) apud Júnior (2010) a vegetação natural era formada principalmente
por vegetação de restingas, de brejos, de pântanos, mata atlântica ou floresta ombrófila e mata
ciliar. Com o crescimento do turismo, a vegetação nativa foi substituída por construções.Mapa
01 - Zona Turística Costa dos Coqueiros
.
Camaçari
Costa dos Coqueiros
Municípios limítrofes
Elaboração: Sara Lima. Fonte: SEI, 2011
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Foto 01 – Entrada da aldeia hippie em Arembepe
Fonte: UOL, 2014. Em relação ao clima Arembepe está inserida na zona intertropical, apresentando, de
acordo com Köppen, clima Tropical chuvoso de florestas, com ou sem estação seca (Af). O
domínio de baixas altitudes ao longo do Litoral Norte, que não ultrapassam 80m, favorece um
clima tropical quente e úmido na região, com médias térmicas elevadas e altos índices
pluviométricos bem distribuídos, mostrando pequenas variações sazonais. O Oceano
Atlântico exerce também uma importante ação sobre o clima, não só regularizando as
amplitudes térmicas, como também garantindo intensidade pluviométrica a partir da ação dos
ventos portadores de chuva que atuam na faixa litorânea.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o escopo de atingir os objetivos previamente elencados foram adotados alguns
procedimentos metodológicos, a saber: em um primeiro momento foi realizada uma revisão
bibliográfica, onde foram abordados os principais conceitos, e discussões acerca do tema
proposto. Ainda nessa etapa foi elaborado o mapa de localização da área de estudo. Em
seguida buscou – se informações sobre a localidade em fontes secundárias, através de fontes
oficiais, como por exemplo: SEI, IBGE, Bahiatursa, pesquisa no site da prefeitura e
instituição como o SEBRAE, este último com o objetivo de saber como é feita o banco de
dados para a geração de empregos. Esse procedimento foi feito através da internet e por
questionários dirigidos a comunidade, a partir do trabalho de campo.
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Em um segundo momento, foram elaborados os questionários semiestruturados, os
quais foram aplicados na fase do trabalho empírico. O terceiro momento correspondeu ao
trabalho de campo, onde foi realizada a observação direta, a partir de uma caminhada pela
comunidade para verificar a presença dos equipamentos públicos e de uso coletivo. Foram
realização ainda entrevistas junto à comunidade com a finalidade de saber os tipos de
emprego e renda que a atividade turística tem gerado em Arembepe. Outro aspecto importante
foi saber quais atividades eram desenvolvidas pela população antes do turismo naquela
localidade.
A Conversa informal junto aos moradores foi importante, pois, o diálogo revelou
aspectos interessantes sobre a vida comunitária e a sua relação com a atividade turística
desenvolvida na região. Para finalizar o trabalho empírico foi feito o registro fotográfico,
destacando a infraestrutura local construída para atender aos turistas.
Após o trabalho empírico, os dados coletados foram revisados e organizados e
tabulados em planilhas, e em seguida procedeu-se a elaboração de gráficos através do
programa EXCEL 2011. Essa etapa foi concluída com a finalização da elaboração do texto
utilizando-se todas as informações pertinentes coletadas durante trabalho empírico e a
confrontação desses dados com o referencial teórico- conceitual adotado.
4 O TURISMO E A SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO E CONSUMO DO ESPAÇO: O CASO DA COMUNIDADE DE AREMBEPE
O turismo em Arembepe constituiu como a principal atividade econômica
desenvolvida naquela localidade. Porém, antes que se faça uma abordagem dessa atividade
mercadológica, é necessário que se destaque inicialmente o conceito de turismo como sendo
uma “Prática social, que envolve o deslocamento de pessoas pelo território e que tem no
espaço geográfico seu principal objeto de estudo” (CRUZ, 2001, p.5). Ainda de acordo com
mesmo autor, este conceito apresenta como base a definição mais ampla elaborada pela
Organização Mundial do Turismo – OMT, que segundo esta organização o turismo significa: Mobilidade de deslocamento espacial, que envolve a utilização de algum meio de transporte e ao menos um pernoite no destino, esse deslocamento pode ser motivado por diversas razões, como lazer, negócios, congressos, saúde, e outros motivos, desde que não correspondam a formas remuneração direta (CRUZ, 2001, p.38).
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A apropriação do espaço é condição fundamental para a prática turística, uma vez que: A indústria do turismo produz espaços delimitados e espacialmente destinados a um determinado consumo - o consumo da natureza - através dos determinados “serviço” turísticos (RODRIGUES, 1999, p. 55).
Um aspecto interessante dessa atividade econômica, ainda segundo a autora, é que o
turismo também atribui valor a uma paisagem mesmo sem que ocorra uma intervenção, ou
seja, o consumo pode ser realizado através de uma simples contemplação de uma paisagem,
seja esta natural ou construída pelo homem, como exemplo os elementos históricos e
arquitetônicos. No entanto, vale ressaltar que paisagens também são construídas
intencionalmente. Sobre essa abordagem Silva (2004) destaca que a paisagem turística
representa: Cenários intencionalmente construídos no território, não apenas pela apropriação visual de panoramas, mas também pela reprodução de padrões de beleza e qualidade idealizada” (SILVA, 2004, 27- 28).
É importante destacar que esta apropriação da natureza, gera modificações
substanciais tanto na paisagem física, como também nas relações sociais. Sobre este aspecto
Rodrigues afirma que:
Os antigos pescadores das áreas litorâneas ou pantaneiras se transformam (ou são transformados) em barraqueiros para o turismo. Os antigos coletores/ caçadores (...) são também transformados / incorporados como caseiros, domésticos, trabalhadores dos hotéis e similares. (RODRIGUES, 1999, P.57).
Na comunidade de Arembepe a realidade não é diferente, pois, 50% dos moradores
entrevistados (gráfico 1) que desenvolvem atividades ligadas ao setor do turismo são nativos
da comunidade. Já os demais trabalhadores são originários da RMS (32%) e os outros (18%)
são nativos demais municípios do Estado da Bahia.
Com o desenvolvimento da atividade turística as relações sociais são, assim, alteradas
nos espaços “turistificados”, onde se percebe uma transformação no modo de vida dos
moradores, e em seu cotidiano. Os trabalhadores dos espaços turísticos também vendem a sua
força de trabalho, sendo então incorporados em uma lógica que supervaloriza o local,
enquanto único, paradisíaco. Já o turismo vai assumindo uma importância global, sobretudo
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pelo desenvolvimento técnico informacional, onde os lugares são conhecidos através da rede
mundial de computadores, facilitando assim o acesso aos produtos e serviços oferecidos
mundialmente.
Gráfico 1- Origem dos trabalhadores envolvidos na atividade turística em Arembepe.
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Em Arembepe os trabalhadores são incorporados na atividade turística a partir de
postos de trabalhos como: garçom, cozinheira, camareira entre outros como destaca o (gráfico
2).
Essas atividades geralmente absorvem estes trabalhadores durante a alta estação, ou
seja, no verão. Após este período vários trabalhadores são dispensados e passam a engrossar a
fila do desemprego e da informalidade.
O poder local, ou seja, a administração municipal é apontada pelos moradores e
comerciantes como um entrave ao desenvolvimento almejado, uma vez que, segundo
entrevistados “a prefeitura nada faz para gerar empregos, não existem cursos
profissionalizantes para a população jovem de Arembepe”. Contraditoriamente em outros
depoimentos alguns moradores afirmam que o poder local tem favorecido o desenvolvimento
do turismo, devido à requalificação urbana de praças e ruas da localidade.
50%
32%
18%
Arembepe
Cidades da Região Metropolitana
Outros municípios do Estado da Bahia
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Gráfico 2- Principais postos de trabalho gerados pelo turismo em Arembepe
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
A partir de conversas com a comunidade o setor que mais emprego em Arembepe é o
de serviços (gráfico 2) com destaque para restaurantes e bares , onde não se percebe uma
exigência quanto a formação profissional e também quanto ao grau de escolaridade. Assim,
quanto ao perfil desses trabalhadores pode-se destacar que apenas 5% dos entrevistados
possuíam ensino superior, enquanto os demais, ensino fundamental e ensino médio.
A partir da análise do (gráfico 3) percebe-se que a maioria (52%) dos trabalhadores
possuem apenas o ensino médio completo e isso de alguma maneira reflete na ocupação e
consequentemente na renda dessa mão-de-obra, como mostra o (gráfico 4) que trás as faixas
de renda da mão-de-obra ocupada com o turismo.
É importante destacar, ainda que, mesmo o emprego apresentando certa sazonalidade,
a renda alcançada pelos trabalhadores é significativa, pois, segundo entrevistados 62%
conseguem entre 1 e 3 salários mínimos (gráfico 4) no período de alta estação.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Principais postos de trabalho
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A partir da análise dos dados e da observação de outras localidades na Costa dos
Coqueiros, pode-se afirmar que é um desafio pensar o desenvolvimento local a partir da
lógica estabelecida, onde o crescimento econômico é extremamente desigual, a partir das
disparidades existentes entre os centros e sub-centros turísticos inseridos no litoral Norte.
Gráfico 3 - Grau de escolaridade dos trabalhadores da atividade turística em Arembepe.
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
A intervenção do poder público é altamente diferenciada dentro de um mesmo recorte
territorial, isso contribui para a supervalorização de algumas áreas, como por exemplo, Praia
do Forte (foto 3) , em detrimento de outras com a comunidade de Arembepe (foto 4).
A diferenciação na oferta de infraestrutura é apenas um dos reflexos dessa disparidade,
pois, mesmo com a requalificação de algumas praças na comunidade de Arembepe , percebe-
se que mesmo após a requalificação urbana, a infraestrutura oferecida é diferenciada em
relação a qualidade daquela verificada na Praia do Forte. Vale ressaltar que de acordo com a
14%9%
18%50%
4%
5%
Fundamental incompleto
Fundamental completo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Superio Completo
Superio Completo
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fala de alguns moradores, a manutenção e conservação dos equipamentos públicos em
Arembepe ocorrem de forma esporádica.
Gráfico 4- Renda Média dos Trabalhadores na Atividade Turística em Arembepe.
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
O trabalho empírico possibilitou ainda identificar que o público que frequenta
Arembepe é geralmente do próprio município de Camaçari e demais localidades da Região
Metropolitana, ou seja, um turista com pequeno poder aquisitivo e que, portanto, não exige
serviços mais sofisticados e com uma qualidade diferente dos oferecidos atualmente.
Foto 3- Praia do Forte Fonte: Sara Lima, 2014.
24%
62%
14%
Menos de 1 salário mínimo
De 1 a 3 salários mínimo
Não quis responder
De 3 a 5 salários mínimo
Acima de 5 salários mínimo
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Foto 4 – Praça de Arembepe
Fonte: Sara Lima, 2014
Diante do exposto Arembepe representa, sobretudo, um local de escala, pois, alguns
turistas, sobretudo àqueles oriundos de outras regiões, apenas passam e ficam algumas horas
por lá e em seguida se deslocam para outras localidades do Litoral Norte, como a Praia do
Forte e Guarajuba. Nesses locais há uma melhor oferta de serviços e também de
infraestrutura.
4.1 ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO EM AREMBEPE: A OFERTA DE SERVIÇOS
Para que um espaço seja considerado turístico, o mesmo necessita apresentar uma
série de atributos e dentre eles serviços e infraestrutura. Dessa maneira, os serviços são
considerados como conjuntos de edificações, instalações e serviços indispensáveis ao
desenvolvimento turístico: meios de hospedagem (hotéis, resorts, pousadas, campings),
agenciamento (agências e operadoras de viagens), rede de restaurantes, entretenimento entre
outros. A demanda por esses serviços pressupõe a necessidade de mão–de-obra. Com isso, o
turismo constitui em uma atividade capaz de gerar renda para uma determinada população,
considerando as especificidades locais, como grau de escolaridade e capacitação para o
emprego. Entretanto, os moradores nativos das localidades de alguma forma ou de outra são
absorvidos pela atividade turística, como ocorre em Arembepe, sobretudo em algumas
funções, como o trabalho na construção civil é realizado por moradores locais, enquanto
atividades que exigem mais qualificação são feitas por trabalhadores externos. Nessa
perspectiva Rodrigues (1999) destaca que:
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(...) os moradores nativos “alugam” suas casas em temporadas que mudam suas atividades e passam a ser, “guias turísticos”, ou trabalham em embarcações, ou como serventes de pedreiros nas edificações ou ainda na “prestação de serviços” nos hotéis ou como caseiros em casas de segunda residência. (RODRIGUES, 1999, p.59).
A discussão proposta pela autora está em consonância com a realidade de algumas
áreas turísticas no estado da Bahia, sobretudo, na costa litorânea, onde no período de alta
temporada, ou seja, no verão, vários moradores alugam suas residências, principalmente para
os turistas de menor poder aquisitivo. Outros moradores nativos também são explorados por
empresas que atuam no ramo do turismo, sendo que esses trabalhadores não possuem
garantias trabalhistas, e muitas vezes ainda não recebem uma remuneração justa. Acrescenta-
se a isto, a sazonalidade quanto à demanda de funcionários, o que torna a população altamente
dependente de uma atividade, e, portanto, vulnerável social e economicamente.
No entanto, a geração de emprego é uma tônica que perpassa pelos projetos de
desenvolvimento local. Porém, esse discurso significa mais uma questão ideológica do que
uma ação prática, pois, muitas localidades turísticas sofrem um verdadeiro processo de
aculturação e assistem aos seus recursos naturais sendo ora destruídos para dá lugar a
empreendimentos para atender a demanda turística; ora a “venda” da natureza como uma
mercadoria.
Outro discurso que está na ordem do dia é a necessidade do aumento da qualidade de
vida. Esta questão entra em confronto com a realidade em muitas regiões, onde existem o
aumento da violência, devido a ausência da segurança publica, sobretudo no combate do
tráfico de entorpecentes. Esse é um problema que afeta muitas regiões turísticas no Brasil,
sobretudo na costa litorânea, e em Arembepe a realidade não é diferente, onde, segundo
alguns entrevistados o tráfico de entorpecentes tem contribuído para afastar turistas da
localidade. A seguir será realizada uma breve discussão sobre o desenvolvimento local, porém
a partir da sua relação com a geração de emprego e renda nas localidades que apresentam o
turismo como principal atividade econômica. Dessa maneira, Arembepe será abordada como
um estudo de caso, onde é possível fazer uma reflexão sobre a questão do desenvolvimento
local associado com a atividade turística.
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Gráfico 5- Setores que mais absorvem mão–de–obra em Arembepe
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
4.2 DESENVOLVIMENTO LOCAL E SUA RELAÇÃO COM A GERAÇÃO DE RENDA NA LOCALIDADE DE AREMBEPE
O termo desenvolvimento local passou a fazer parte das agendas dos chamados países
subdesenvolvidos, sobretudo, a partir da década de 70 do século XX, com a realização das
conferências internacionais, como de Estocolmo na Suécia que tratavam da busca de soluções
para a questão desenvolvimento e a sua relação com o meio ambiente. No entanto, antes de
tratarmos sobre o que vem a ser o termo desenvolvimento local faz-se necessário
compreender o conceito de desenvolvimento, o qual Souza (1999) nos alerta que:
“Desenvolvimento não deve ser entendido, sublinhe-se, como sinônimo de desenvolvimento
econômico”. (SOUZA, 1999, p.18). E o autor acrescenta que : (...) o termo desenvolvimento, no essencial, e devidamente despido de sua carga ideológica conservadora (etnocêntrica e capitalistófila), deve designar um processo de superação de problemas sociais, em cujo âmbito uma
12%
10%
23%
23%
20%
12%
Hotel
Pousada
Restaurante
Bares
Comércio
Outros (Lojas, Construção civil,Pesca,artesanato)
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sociedade se torna, para seus membros, mais justa e legítima, o reducionismo embutido na ideia de “desenvolvimento econômico” precisa ser energicamente recusado (SOUZA, 1999 p.18).
A comunidade de Arembepe foi inserida no circuito do turismo na região do Litoral
Norte da Bahia em um contexto do discurso do desenvolvimento local e sustentável, ou seja,
o turista teria o privilégio de está em contato com a natureza edílica, que deveria manter-se
preservada para as gerações futuras. E com isso, a natureza passou a ser comercializada como
mercadoria. Nessa relação econômica, segundo o discurso ideológico, a comunidade seria
beneficiada com as melhorias do modelo econômico pautado na busca pelo equilíbrio entre o
crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável.
No entanto, a realidade é bem diferente. Primeiro vale ressaltar que a concepção de
desenvolvimento local em Arembepe não está materializada no espeço nem tão pouco nos
depoimentos dos trabalhadores, pois, não se pode afirmar efetivamente que a população
detenha: qualidade de vida, justiça social e distribuição de renda de forma equilibrada.
Segundo os moradores entrevistados, a comunidade está esquecida pelo poder público. Em
segundo lugar não há uma articulação entre a população local para gerenciar os recursos
naturais e as atividades relacionadas com o turismo, uma vez que esta é a principal fonte de
renda da localidade.
Desenvolvimento local pressupõe a existência da distribuição das benesses de forma
equitativa entre os sujeitos de uma determinada comunidade. Este conceito está relacionado
ao planejamento econômico, visando à melhoria na qualidade de vida de uma população.
Sobre essa abordagem Martins (2002) afirma que: (...) Enquanto estratégia de planejamento e de ação, o desenvolvimento local aparece em um contexto que se esgotam as concepções de desenvolvimento associadas à produção material (“acúmulo de riqueza”), pessoal (“ganhar a vida”) e ilimitado (“quanto mais melhor”), mas é sobretudo um produto da iniciativa compartilhada, da inovação e do empreendedorismo comunitário. (MARTINS, 2002 p.51).
Ao discutir este conceito, o autor destaca a importância do desenvolvimento local,
como instrumento capaz de contribuir com a geração de empregos. Todavia, o autor explicita
que o desenvolvimento local não constitui a única saída para a crise do desemprego, no
entanto esta concepção tem se destacado em muitos projetos que levam a denominação de
desenvolvimento local.
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O termo desenvolvimento local está sempre presente nos discursos oficiais e
empresariais como chamariz para atrair investimentos. Sobre a relação entre turismo e
desenvolvimento local a realidade é extremamente diferenciada no que diz respeito às
relações entre turismo e desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
JÚNIOR, J. P. J. Avaliação da Qualidade Recreacional das Praias do Município de Camaçari a parti de Parâmetros Geoambientais e de Infraestrutura. Disponível em: http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20102/jose_portugal_2010.pdf Acesso em : 31 de out. 2014.
MARTINS, S. R. Desenvolvimento Local: questões conceituais e metodológicas. Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 3,N.05, p. 51- 59, Set. 2002. Disponível em: http://www.ufpa.br/epdir/images/docs/paper74.pdf. Acesso em: 20 de nov. 2014.
RODRIGUES, A. B. Turismo e desenvolvimento local. 2. ed. Sâo Paulo: Hucitec, 2000. 207p.
RODRIGUES, A. M. A produção e o consumo do espaço para o turismo e a problemática ambiental. IN: CRUZ, Rita de Cássia Ariza; Carlos, Ana Fani Alessandri; Yázigi, Eduardo.(orgs.) Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1999.
Secretaria de Turismo. Disponível em: http://turismo.camacari.ba.gov.br/paraiso.php?cod_paraiso=1 Acesso em 31 de outubro de 2014.
SOUZA, M. L. Como Pode o Turismo Contribuir para o Desenvolvimento Local? IN: CRUZ, Rita de Cássia Ariza; Carlos, Ana Fani Alessandri; Yázigi, Eduardo. (orgs.) Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1999.
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