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ISABEL LUCAS e PATRÍCIA MARTINS
A colecção tem o tempo da vida de Pacheco Pereira.
Política, sindicalismo, história, literatura, ciência,
religião, cultura. Nada é rejeitado à partida naquele
que é um dos mais completos e originais espólios
sobre a História de Portugal nos últimos 200 anos.
Diz ela: “Alfredo mandas-me dizer que daquim a pouco jásabes falar francez.
Há vida no arquivo
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Que rabiada tenho eu depois estares a falar, uma liguaque eu não compriendo, nam para traz nem para a frente,podes depois estares, a falar mal de mim que eu não tecomprienda fazes muito bem a aprenderes de tudo, se euestivesse no teu lugar também faria o mesmo no caso quepodesse. Mandas-me perguntar se eu já sei Bordar muitoagora tenho nove lições, a professora está muito contentecomigo, diz que não sou das piores que tem menosenteligencia, vamos a outro assunto.”
Diz ele: Desculpa eu ter demorado um pouco nas minhasnotícias. Tencionava escrever-te na 2 feira á noite quandoviesse da lição mas os meus colegas de pensão foram-meesperar para me convidarem para irmos ao cinema, eudisse-lhes que tinha que fazer, e então eles ficaramaborrecidos, mas para não lhes fazer a desfeita lá resolviir também, foram dois filmes muito bons ‘O pão nosso decada dia’ e ‘As mil mentiras’, também já havia alguns diasque não ia ao cinema.”
Ela está em Setúbal e ele, pela altura desses escritos, está
em Lisboa. Namoram por carta e ao longo dos anos,
mesmo já casados, continuam a relacionar-se muito
através de correspondência. Ela trata-o sobretudo por meu
“querido amorzinho”, ele quase sempre por “minha
querida Lurdinhas”. O humor do momento e a fase da
relação determinam o modo mais ou menos carinhoso dos
nomes que atribuem um ao outro nas cartas que se
escrevem entre 1934 e 1943. “São mais de 600 cartas que
foram encontradas num armazém. Seriam lixo se eu não as
tivesse recolhido”, diz Pacheco Pereira, que sublinha o
interesse daquela correspondência mantida entre um casal
para perceber muito do quotidiano do país. Foi feita uma
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para perceber muito do quotidiano do país. Foi feita uma
selecção, preservados os nomes verdadeiros de pessoas que
poderiam ser ainda reconhecíveis, mantido o tom e os
erros de português e publicadas num volume a que foi dado
o título Amorzinho. Sai em simultâneo com outro livro,
Autocolantes do PPD. Os dois marcam o arranque de uma
nova colecção da Tinta-da-China feita a partir do espólio de
Pacheco Pereira e baptizada “Ephemera”, o nome do
blogue que disponibiliza parte do arquivo do historiador,
ex-deputado, comentador da SIC, colunista do PÚBLICO e
da Sábado.
A escolha de dois títulos tão diferentes para iniciar esta
colecção pretende alertar para a diversidade do espólio de
que ela se irá alimentar. “Há aqui de tudo, as coisas
institucionais e aquilo que normalmente os arquivos
institucionais não querem. Recolho tudo o que tenha que
ver com a vida dos portugueses nos últimos 200 anos,
principalmente na sua vertente política, sindical, cultural,
religiosa. Há, por exemplo, coisas interessantes sobre as
primeiras peregrinações a Fátima. Não era suposto que
cartas como estas estivessem nesta colecção. Estão porque,
à partida, não rejeito nada”, refere Pacheco Pereira sobre o
seu modo de gerir um espólio que se tornou tão vasto
quanto imprevisível nos conteúdos e que cresce como um
organismo vivo pela casa da Marmeleira, uma aldeia no
concelho de Rio Maior, para onde se mudou há cerca de 15
anos. Foi ali que encontrou um espaço “a preço
comportável” para guardar uma colecção que começou
desde que se lembra “de existir”: “O meu pai já tinha um
número considerável de livros e publicações. Eu continuei.”
Há aqui de tudo, as coisas institucionais e
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Actualmente, e numa linha recta imaginária, são cinco
quilómetros de prateleira para guardar cerca de 200 mil
livros e o correspondente às cerca de 13 mil pastas
divididas em 8800 categorias que compõem o arquivo do
blogue Ephemera. É o núcleo, a que se acrescenta a parte
museológica composta por objectos relacionados com a
actividade política e sindical: cartazes, guarda-chuvas,
pins, esferográficas, chapéus, panfletos, isqueiros. Há
ainda uma colecção de música e de filmes. “É um arquivo
privado que depende muito de ofertas. Há entrada
contínua de materiais. Todas as semanas a estante cresce
um metro e meio”, continua Pacheco Pereira, 66 anos,
sobre o que chama “a minha vida”, que já ultrapassou em
muito a casa inicial e se alargou a um armazém, uma antiga
garagem e a um edifício que já foi escola, posto de GNR e
Junta de Freguesia logo a seguir ao 25 de Abril. É o mais
recente acrescento ao que começa a ser um intrincado
aquilo que normalmente os arquivos
institucionais não querem
(http://imagens3.publico.pt/imagens.aspx/988743?tp=UH&db=IMAGENS)
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recente acrescento ao que começa a ser um intrincado
encadear de pátios e corredores, escadas e pequenos
jardins que ligam salas repletas de livros, jornais, dossiers,
caixas e caixotes numa ordem controlada onde se notam as
chegadas mais recentes. “Isto é uma máquina de
produção”, refere sobre o sistema que montou e lhe facilita
o trabalho que gere em absoluto. “Não entra aqui nada que
não passe por mim. Tenho uma gestão autoritária deste
espaço”, ri , referindo, no entanto. uma espécie de rede de
voluntários, cerca de 150 em todo o país, que recolhem
material que ele trata, digitaliza e arruma.
Passa pouco das três da tarde. O sino da igreja é uma
marca temporal permanente. O céu está carregado, mas
avistam-se quilómetros a partir da espécie de promontório
em que está assente a casa, num dos pontos mais altos da
aldeia. “É uma terra com tradição republicana”, comenta,
enquanto faz o percurso entre o coreto, no largo principal,
e a porta de entrada para o lugar onde escolheu viver desde
que deixou o Porto.
É 5 de Outubro, seria um feriado celebrado por ali, mas é
também o dia seguinte às eleições legislativas. Vai chegar
novo material. “Hoje estamos a recolher o que as sedes de
campanha estão a deitar fora”, e o tempo destas frases é o
que demora a chegar a um núcleo de casas brancas com
portas e janelas vermelhas onde Pacheco Pereira passa
grande parte do seu tempo. Na sala principal da casa,
forrada com os livros que quer por perto — entre eles,
raridades como uma edição original de Descartes —, estão,
sobre uma mesa junto ao sofá, as mais recentes entradas.
“É a colheita do último mês e meio”, conta, “um grande e
importante arquivo, clássico, tradicional, da
correspondência do Henrique Galvão quando esteve na
Venezuela, toda a fase preparatória do assalto ao Santa
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Venezuela, toda a fase preparatória do assalto ao SantaMaria”.
Debaixo, retira uma pasta. “São os papéis de um dos
fundadores da Pide, um militar salazarista, e foram-me
oferecidos pelo neto. Junto, veio documentação muito
interessante sobre o momento inicial da Pide, sobre as
relações entre a polícia portuguesa e a polícia italiana e
polaca. Não esperava encontrar isso aqui, tem a ver com a
tal imprevisibilidade”, comenta. Sobre a mesa está ainda
um envelope com materiais da última campanha eleitoral e
uma T-shirt. Abre-a, nela pode ler-se Mostra de Edições
Subversivas. “É de um evento anarquista.”
O espaço museológico inclui objectos que não têm lugar em arquivos e bibliotecas tradicionais Mealheiro de recolha de fundos para o Estado de Israel
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A colecção de Pacheco Pereira é conhecida. Sobre ela muito
tem sido escrito. Sabe-se da riqueza e diversidade do
arquivo, há muitos investigadores que o procuram para
documentar investigação — de Portugal, mas também do
resto da Europa, Estados Unidos ou Brasil —, há milhares
de visitas diárias e regulares ao Ephemera. É o lado mais
visível do espólio que surpreende pelo que se poderia
chamar “faceta coca-bichinhos” e que irá reflectir-se nos
próximos livros a publicar na Tinta-da-China. “Ninguém
faz este tipo de recolha, pelo menos em Portugal não fazem
e, na Europa, acho que só o British Museum. Há muita
coisa que se perde para sempre. Está aqui material que
sobrou das últimas manifestações. Se quiser fazer uma
história da crise e das reacções à crise, não é difícil
perceber que só há coisas aqui. Outro exemplo: calculo que
nas últimas autárquicas tenham sido produzidos no país
mais de cem mil espécies diferentes de artefactos. Isto
contabiliza os panfletos das freguesias, os outdoors, os
cartazes, os brindes. Consegui com os voluntários recolher
quase 35 mil. Quando há eleições, há uma procura, as
pessoas vêm ver o que estava nesses programas.”
A biblioteca de Pacheco Pereira é apontada como de
referência em relação à história recente do país. “Sim, é um
arquivo diferente, colecciona objectos, mas contém
arquivos específicos que mudaram a história de Portugal”,
nota. Exemplos? “O de Sá Carneiro, que é um arquivo
grande, com documentação fundamental que muda muitos
aspectos da história portuguesa. O Sá Carneiro não o
guardou no partido, escondeu-o em casa da Conceição
Monteiro [secretária particular de Francisco Sá Carneiro] e
tem tudo o que ele considerava relevante na sua vida
política desde antes do 25 de Abril. Por aí pode-se saber
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que houve uma tentativa para que o Spínola concorresse à
Presidência da República antes do 25 de Abril; pode-se ver
como eram as relações com os EUA; decisões importantes
da AD, as cunhas para os deputados. Dá uma dimensão
muito importante sobre a origem do PPD, com a primeira
carta que alguém mandou de Trancoso… Permite fazer um
retrato social da génese de um partido novo. O mesmo tipo
de materiais existe em relação a muitas organizações de
extrema-esquerda. Praticamente todos os partidos
portugueses têm aqui grandes arquivos. Muitos são
oferecidos, como o do MES e o de Sá Carneiro.” Compra
ocasionalmente, em Portugal e fora, sobretudo para
completar colecções existentes, como a da extrema-direita.
“Pode encontrar aqui tanto o pin da Wolkswagen original,
como documentação sobre os fascistas condenados à morte
que fugiram da Roménia para Espanha. E há muito
material clandestino nos seus próprios países, como jornais
nazis da Alemanha. Há também uma colecção maçónica.
Essas colecções, de um modo geral, são mantidas
integralmente. No caso desta colecção da extrema-direita,
havia centenas de títulos de periódicos. Foram
digitalizados e entraram no arquivo geral de periódicos.
Podem ser consulados no blogue por ordem alfabética.”
Garante que não se perde no que pode parecer uma
vertigem de informação quando tratada por uma única
pessoa. “Sei de cor onde está cada livro”, diz enquanto
atravessa um corredor estreito, preenchido de um lado e do
outro com lombadas até ao tecto. Passa pela sala de
ciências, com uma colecção de Química que iniciou quando
foi aluno de ciências, mais especificamente de Astrofísica.
Está lá, por exemplo, o primeiro estudo sobre
radioactividade, de Ernest Rutherford, de 1913. Folheia-o.
Chega-se a uma a mesa onde falta continuar a dividir
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Chega-se a uma a mesa onde falta continuar a dividir
documentação. Fecha-se a porta, percorre-se mais um
pátio. Outra sala. “Aqui estão 25 mil entradas”, diz numa
sala em penumbra, temperatura e humidade controladas
com a ajuda de um desumidificador. “Na organização do
arquivo, copio o modelo indicado no jornal O Jornal, pela
Maria João Múrias. Foi aí que vi pela primeira vez esta
forma de organização e é o exemplo dela que eu sigo.
Quando leio um artigo, marco uma palavra-chave, é metido
numa pasta e colocado aqui por ordem alfabética.”
Consegue ler-se “KJB”, “Eleições”, “Júdice”…
É um método que o próprio testa enquanto investigador e
consumidor das bases de dados que ele mesmo gere. A
gestão de todo o arquivo começou com fichas, substituiu-as
pela informática pela facilidade com que se estrutura a
informação. “A Pide usava um método arcaico de
investigação. Mandava um agente — mão-de-obra barata —
copiar 50 processos. Depois de copiados, havia uma nota
anexada. Mais nada. Eu, usando materiais da Pide,
tratando-os em computador, descobri imensas coisas que
eles poderiam ter descoberto se tratassem a informação. O
computador é um grande agregador e muito útil com a
utilização de bases de dados modernas, relacionais. Eu não
conseguia fazer a biografia do Cunhal se não fosse isso. Em
cada volume lido com milhares de dados diferentes, muitos
de fontes directas, uso intensivamente bases de dados que
construo há muitos anos. A partir de certa altura, deixo de
saber o que lá está, mas ao trabalhar com elas descubro o
que não sabia que estava.”
Terminou agora o quarto volume da biografia de Álvaro
Cunhal, que está a publicar com a Temas & Debates.
Deverá sair antes do Natal e refere-se aos oito anos entre a
fuga de Peniche até à queda de Salazar. “Termina em Paris
1 371!"
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fuga de Peniche até à queda de Salazar. “Termina em Paris
quando Jorge Sampaio sai de uma reunião com o Cunhal e
com outras pessoas. Sampaio não sabia onde estava. O PC
transportou-o em carros com janelas fechadas. Quando sai
do carro, compra o Le Monde e vê a notícia: Salazar tinha
caído da cadeira.” Pacheco Pereira faz a síntese. “É
interessante, porque o Cunhal nessa reunião já devia saber
da notícia. Depois é o momento dramático que se sabe, o
início do Marcelismo, que é uma diferença muito
substancial do ponto de vista histórico.”
No grosso desses anos, entre 1960 e 68, Cunhal está fora de
Portugal. “É um retrato do Cunhal como dirigente
comunista internacional.” Na construção do livro, conta
Pode encontrar aqui tanto o pin da
Wolkswagen original, como documentação
sobre os fascistas condenados à morte que
fugiram da Roménia para Espanha
(http://imagens5.publico.pt/imagens.aspx/988745?tp=UH&db=IMAGENS)
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comunista internacional.” Na construção do livro, conta
que as fontes foram um problema. “No PCP, permanecem
fechadas. É possível reconstituir os factos porque os outros
partidos comunistas com que ele tinha relações estão
abertos. A data de saída dele de Portugal é sempre omissa
nos papéis. Sabe-se que em Setembro está em Moscovo.
Pude datar porque escreve de Paris uma carta ao Partido
Comunista Francês queixando-se de que não tinha sido
recebido pelo Maurice Thorez [secretário-geral do PCF até
1964] e pelo Jacques Duclos [que organizou a resistência
do PCF ao nazismo durante a II Guerra Mundial]. É tudo
feito de fragmentos que estão nas bases de dados que vou
construindo à medida que os documentos vão entrando.
Isto é uma espécie de sistema Taylor, é uma cadeia de
produção.”
Parte do que começa a ser agora publicado vem desta
máquina. As cartas de amor que compõem o volume
Amorzinho tinham um valor por si mesmas, para entender
costumes, relações sociais e pessoais. Os autocolantes do
PSD pretendem ser uma obra de referência. “O objectivo é
usar alguns destes fundos que podem ser publicados em
livro e ser estudados pela sua qualidade gráfica, por serem
uma raridade ou mesmo únicos”, salienta Pacheco Pereira.
“É o primeiro catálogo de autocolantes que existe em
Portugal e a ideia era que fosse feito como um catálogo de
selos. Isso significa numerá-los, o que vai permitir aos
coleccionadores perceber o que falta. Permite estudar o
grafismo ou o significado político das palavras de ordem”,
adianta, referindo que o seu espólio deve conter cerca de
20 mil autocolantes diferentes.
Ainda este ano haverá um terceiro título: “Uma colecção de
fotografias estenopeicas feitas pelo António Campos Leal
que captam o efeito da luz a passar sobre os livros e foram
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pensadas para este Ano Internacional da Luz.” Para 2016,
planeia publicar um catálogo com a propaganda anti-
Frelimo nos últimos anos da guerra colonial. “Tem não só
cartazes como panfletos em várias línguas, inclusive
árabe”, salienta, numa pausa que pretende ser capaz de
traduzir as possibilidades deste arquivo.
Também no próximo ano, pode haver novidades em
relação ao arquivo de Vítor Crespo, o ex-presidente da
Assembleia da República e ex-ministro da Educação. Todo
o espólio, incluindo mobília, está na Marmeleira. Há ainda
a ideia de fazer uma história oral do mais recente edifício
que foi comprado por Pacheco Pereira para a biblioteca e
que acabou este ano de ser recuperado. Pode haver mais
correspondência amorosa. Há mais duas colecções por
tratar. E está previsto um volume que pode surpreender,
“uma série de fotografias tiradas por uma espécie de
mestre-de-cerimónias do S. Carlos, que recebia os artistas,
ia buscá-los ao avião, levava-os a visitar Lisboa e
fotografava-os. Há fotos desde o Stravinsky à Maria Callas,
de toda uma elite que visitou o S. Carlos nos anos 50 e 60.
Este volume combina o legado de outra pessoa, um
melómano, também fiel ao S. Carlos, que tomava notas
durante os espectáculos. ‘Dizia coisas como: houve uma
fífia da cantora não sei quantas no terceiro acorde; as
pessoas tossiram muito.’ Quando se juntam as duas coisas,
temos um livro muito interessante sobre o ambiente
musical nesses anos.”
A conversa acaba como começou, com Maria de Lurdes e
Alfredo. “Só a partir dali é possível partir para um retrato
muito abrangente do Portugal de Salazar. Basta querer
seguir as pistas.” É o coleccionador que fala. Poderia
começar uma colecção por aí, seguir para a política, os
movimentos clandestinos, Cunhal… Ter tudo outra vez. “Já
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movimentos clandestinos, Cunhal… Ter tudo outra vez. “Já
viu, teria ido para o lixo!”
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