n .º 19
EVENTOS
Ciclo de Workshops “Conhecer o Decreto-Lei n.º 147/2008 de 29 de Julho”Realizou-se no passado dia 15 de Abril a se-gunda e última sessão de trabalho do Ciclo de workshops “Conhecer o Decreto-Lei n.º 147/2008 de 29 de Julho”. Esta sessão, reali-zada em parceria com a E.Value e com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal, contou com a presença de Josh Lipton, da Stratus Consulting, e Ricardo Sá, da AdP - Águas de Portugal e apre-sentou os métodos para a avaliação/reparação de danos ambientais no âmbito do Decreto-Lei referido e debater as actuais necessidades e desafios para as empresas.
Ciclo de Conferências “Implementar a Sustentabilidade”Integradas no Ciclo de Conferências “Imple-mentar a Sustentabilidade”, realizaram-se nos meses de Abril e Maio, duas conferências temáticas. A primeira, realizada em parceria com a Ecochoice e com o apoio da Somague, focou a temática da “Eficiência Energética em Edifícios”. A 6 de Maio decorreu a conferência “Desenvolvimento Social nas Organizações”, evento realizado em parceria com a Outcome e com o apoio da Fidelidade Mundial.
Publicação | BCSD Portugal | Junho 2009 | Trimestral | Distribuição gratuita | www.bcsdportugal.org
PRODUÇÃO DESCENTRALIZADA DE ENERGIA Portugal apresenta condições ímpares para a produção descentralizada de energia a partir de fontes renováveis. A entrada em vigor do diploma “Renováveis na Hora”, a par dos incentivos fiscais existentes para a instalação de equipamentos, veio finalmente estimular o investimento por parte dos cidadãos e empresas. Estamos assim a diminuir a dependência nacional de combustíveis fósseis, a equilibrar a balança comercial e a assegurar um futuro mais sustentável.
EDITORIALA produção descentralizada de energia constitui, possivelmente, a maior revolução dos sistemas de energia nos últimos anos. Acredita-se que a energia fotovoltaica venha a atingir o custo de paridade com a rede no futuro próximo, e que a energia micro-eólica, assim como os sistemas de micro-CHP (combined heat and power) sejam mais rentáveis.Sendo que o modelo clássico de produção e transmissão de energia se depara com um número cada vez maior de dificuldades operacionais e com custos crescentes, a produção descentralizada, recorrendo a fontes renováveis que permitem a redução dos níveis de CO2, responde a esses problemas e permite uma maior flexibilidade na eleição das fontes de produção de energia mais adequadas.Estas tecnologias põem em questão o modelo hierárquico e centralizado, obrigando a que as redes passem a funcionar num modelo descentralizado. Esta evolução traduzirá uma oportunidade para todos os actores do Sistema Energético Nacional. Portugal tem dado passos relevantes nesta matéria, existindo legislação adequada e protagonistas nos diferentes elementos da cadeia de valor. Grandes projectos nacionais, como o Veículo Eléc-trico, o projecto de redes inteligentes InovGrid, entre outros, constituem marcos relevantes que ajudarão a colocar o país numa posição de destaque.
Ana Maria Fernandes | CEO da EDP Renováveis | António Vidigal | Administrador da EDP
Ficha técnica | Edição Propriedade
BCSD Portugal | Av. de Berna, 11 - 8º | 1050-036 Lisboa | Portugal Tel.: (+351) 21 781 90 01 | Fax: (+351) 21 781 91 26E-mail: [email protected]. bcsdportugal.org
Tiragem: 500 exemplares
Coordenação: Luís RochartreSusana Azevedo
CASO
GALP - Áreas de serviço energeticamente eficientes
A Galp Energia tem procurado incorporar, no dia-a-dia do seu negócio, questões como a efi-ciência energética, reduções de emissões de CO2 e produção de energia a partir de fontes renováveis, desenvolvendo acções internas ao nível das suas infra-estruturas e processos, bem como junto dos seus clientes. Neste contexto, iniciou-se em 2008 um projecto nas áreas de serviço que visava a implementação de iniciativas ao nível da eficiência energética, produção descentralizada de energia a partir de fontes renováveis e monitorização do de-sempenho energético das áreas de serviço.Numa primeira fase, o projecto englobou um universo de 12 áreas de serviço, tendo como meta o alargamento do projecto à restante rede de retalho. Desta forma, seria desenvol-vido um conceito de área de serviço energicamente eficiente do ponto de vista dos seus consumos e, simultaneamente, produtora de energia. A implementação do projecto passou por uma análise do desempenho energético, espe-cialmente das lojas pelos seus elevados consumos, e em seguida, por intervenções ao nível dos equipamentos e promoção de alterações de comportamento dos colaboradores. Como resultado obtiveram-se reduções efectivas nos consumos de electricidade e uma melhoria significativa das condições de conforto das lojas. Das intervenções realizadas, destaca-se o aproveitamento da energia solar para o aquecimento de águas, a optimização da localização dos grupos de frio, a instalação de cortinas de ar na entrada da loja e a redução da potência de iluminação da loja.Outra das vertentes deste projecto, e talvez a mais visível aos olhos dos clientes, está ligada à produção descentralizada de energia eléctrica nas áreas de serviço. Aproveitando o elevado nível de exposição solar do nosso país e beneficiando do enquadramento legal DL 363/2007, de 2 de Novembro, o qual incentiva a instalação de sistemas de microgeração com recurso a tecnologias renováveis, foram instaladas, em cada uma das áreas de serviço, micro-centrais fotovoltaicas com uma potência instalada de 3,6kWp. A escolha da melhor solução, nomeadamente, tipo de módulos, inversor, entre outros equipamentos acessórios, constituiu um passo chave para os bons resultados alcançados.Por último, o desenvolvimento de um sistema integrado de gestão de energia, que monitoriza quer os consumos, quer a energia produzida, permite saber em tempo real qual o comportamento energético das áreas de serviço.O consumo energético evitado por via das medidas de eficiência energética implementadas, acrescido à energia produzida, no universo destas 12 áreas de serviço, é suficiente para tornar uma área de serviço auto-suficiente em termos energéticos. Trata-se de um projecto que, para além dos resultados obtidos enquanto empresa, vem, pelo seu poder demonstrativo junto dos clientes, reforçar o compromisso em contribuir para o alcance das metas europeias a atingir em 2020, nos domínios da eficiência energética, redução emissões de CO2 e maior utilização de energia renováveis.
ACTUALIDADESO BCSD Portugal realizou, no passado dia 17 de Junho, no Centro Cultural de Belém em Lisboa, a 9ª Conferência Anual, este ano subordinada ao tema “Alterações Climáticas – Hoje e Amanhã”. Como keynote speaker, contámos com a presença de um dos maiores especialistas do mundo em Estratégia Ambiental e Corporativa e autor do livro Green to Gold, Daniel Esty, professor de Política e Direi-to Ambiental e Director do Center for Business and the Environment da Universidade de Yale. Foram também promovidos dois grandes debates. O primeiro, moderado pelo Presidente do WBCSD, Björn Stigson, contou com a presença de um especialista em alterações climáticas, Simon Davies da KPMG Internacional, de Bruno Vanderborght, CEO da Holcim e António Mexia, CEO da EDP - Energias de Portugal. Estes promoveram uma reflexão sobre a agenda pós-Quioto e as expectativas destas organizações em relação à COP 15, a realizar em Dezembro próximo.O segundo debate, realizado durante a tarde, contou com um painel constituído por responsáveis de Estado, ONG e empresas nacio-nais, pretendendo trazer à discussão as grandes questões nacionais no âmbito da Energia e Clima e a resposta que cada um destes organismos irá dar face aos novos desafios que se avizinham. Pretendemos com esta conferência incentivar a discussão sobre estes temas e contribuir para um debate mais alargado nas empresas e na sociedade.
NEWS WBCSD
World Water Week 2009 – 16 a 22 de Agosto
Esta semana irá promover um fórum único para a troca de opiniões e experiências entre comunidades científicas, empresariais, polí-ticas e os cidadãos. Incide na nova forma positiva de pensar e agir através dos desafios relacionados com a água e a redução do seu impacte no mundo, em matérias de ambiente, saúde, economia e pobreza.
Redacção e Design Produção
Área de serviço, Galp
Acontecimentos
Young Managers Team 2009
O BCSD Portugal deu início ao projecto
Young Managers Team Portugal 2009. Este
ano as equipas têm o desafio acrescido de
criar bases para o arranque das áreas de
focalização, pólos fundamentais da activi-
dade futura do BCSD. O primeiro workshop
ocorreu em Sesimbra no início do mês de
Abril. Nesta sessão de três dias foram for-
madas quatro equipas: H2Ocean, Sardinha,
H2ON e Via Infinitum, que se debruçaram
sobre os temas dos “Ecossistemas”, “De-
senvolvimento”, “Energia e Clima” e o
“Papel das Empresas”, respectivamente.
Neste momento, e após a realização do 2º
workshop em Peniche no mês de Maio, as
equipas já apresentaram o planeamento e
irão dar início ao trabalho de pesquisa.
O que se entende por microgeração, e até que ponto pode revolucionar a forma como as pessoas e as empresas lidam com as questões energéticas?
A ideia consiste em levar o particular a
encarar a energia solar para produção de
electricidade como algo que se pode fazer
de forma descentralizada, em qualquer
casa, e a partir de uma fonte limpa e de
um recurso próprio e inesgotável. Quando
o cidadão começar a utilizar o que produz,
em vez de simplesmente o vender, como
acontece hoje em dia, iniciar-se-á um novo
paradigma da forma de “estar” no que res-
peita às questões da energia produzida por
fontes renováveis e da energia para ser
produzida e utilizada, de forma a que a di-
mensão da procura seja uma condicionante
do sistema e não uma mera consequência
do excesso garantido de oferta, que traduz
o paradigma em que vivemos.
Os regulamentos referentes à micro-geração e à eficiência energética dos edifícios têm contribuído para um maior aproveitamento das energias renováveis em Portugal?
A microgeração é ainda, no sentido de
uma grande contribuição, um passo mais
simbólico do que um contribuidor em
larga escala. Já a eficiência energética
em edifícios constitui, por sua vez, uma
contribuição a uma escala muito maior e
com elevada capacidade de crescimento.
Curiosamente vai corresponder a con-
sumos de energia fóssil evitados, pelo
que não vai aparecer de forma directa ou
inequívoca nas “estatísticas” de energia.
Pode dizer-se que os próximos 15 anos
poderiam assistir a um aumento de consu-
mo de energia convencional nos sectores
Residencial e Serviços, acima dos 10% do
total do consumo de energia final do país.
Este aumento resulta da vontade e pos-
sibilidade de se melhorar o conforto em
termos de climatização das casas em que
vivemos, antigas ou novas, especialmente
durante o Verão e Inverno. A regulamenta-
ção da eficiência energética nos edifícios
vem precisamente permitir uma redução,
ou até a eliminação do aumento, do con-
sumo de energia, proporcionando um nível
de conforto igual ou superior.
Quanto ao potencial solar do país, temos
ainda muito para caminhar. Basta ver que
o aproveitamento da energia solar para
aquecimento de água é ainda muito limi-
tado, quando comparado com outros pa-
íses do sul da Europa, como a Grécia e a
vizinha Espanha.
Até que ponto o crescimento da produção descentralizada de energia é fundamental para o cumprimento das metas do protocolo de Quioto?
O cumprimento das metas de Quioto não
pode estar apenas ligado à produção des-
centralizada de energia eléctrica fotovol-
taica. Todas as energias renováveis podem
e devem contribuir, de forma centralizada
ou descentralizada, não apenas para pro-
dução de electricidade. A solar térmica,
por exemplo (nos edifícios, na indústria,
etc.), tem muito potencial, assim como os
biocombustíveis. É interessante ver que
uma política que implique uma utilização
“profunda” dos recursos energéticos reno-
váveis de que dispomos permitirá cumprir
Quioto com maior facilidade, mas também
tirar partido disso, gerando valor e dinami-
zando a economia. Isto é, transformar uma
aparente adversidade numa verdadeira
vantagem estratégica e económica.
NOTÍCIAS
Novos Membros do BCSD Portugal
DESTAQUE
A produção descentralizada de energia ou microgeração, refere-
-se à possibilidade de o consumidor, particular ou empresa, poder
produzir a sua própria energia, recorrendo para tal a equipamentos
de pequena escala, como, por exemplo, painéis solares, micro-
turbinas, microeólicas ou mini-hídricas. A energia produzida pode
ser aproveitada para o aquecimento de águas sanitárias ou para
a produção de energia eléctrica, que pode ser vendida à rede de
distribuição nacional.
O nosso país apresenta condições bastante favoráveis ao aprovei-
tamento da maior parte das fontes de energia renovável existentes,
destacando-se a energia solar pelo facto de Portugal ser um dos
países da Europa com maior disponibilidade de radiação solar.
O número médio anual de horas de Sol varia, no território conti-
nental, entre as 2200 e as 3000 horas, enquanto que na Alemanha
este número se situa entre 1200 e 1700 horas. Infelizmente, esta
maior disponibilidade não se traduz num maior aproveitamento,
facto que se torna evidente quando comparamos os 2220 GWh
produzidos na Alemanha em 2006 com os 5 GWh de Portugal.
De forma a inverter esta tendência foi aprovado o Decreto-Lei
363/2007 que avança com o regime simplificado aplicável à pro-
dução descentralizada de energia, também designado por “Reno-
váveis na Hora” que entrou em vigor a 2 de Fevereiro de 2008.
Este diploma articula-se com o Sistema Nacional de Certificação
Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), na me-
dida em que as unidades de produção descentralizada de energia
contribuem positivamente para a eficiência energética dos edifícios
residenciais e de serviços. Articula-se igualmente com o Programa
Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), estando a produção
de electricidade a partir de fontes de energia renováveis entre as
medidas que apresentam resultados mais positivos.
Encontram-se igualmente definidos incentivos para o investimento
em equipamentos renováveis, que passam pela aplicação de uma
taxa intermédia de IVA (12%) e por benefícios fiscais, tornando
possível deduzir 30% do valor total do investimento no IRS (até
ao valor máximo de 777), ou amortizar o investimento em apenas
quatro anos para efeito de cálculo do IRC.
As empresas poderão ainda recorrer ao QREN (Quadro de Refe-
rência Estratégico Nacional) , o qual prevê o incentivo à instalação
de sistemas energéticos para consumo próprio, utilizando fontes
renováveis de energia.
Os novos clientes/produtores têm acesso a dois regimes remunera-
tórios para a electricidade produzida: um regime geral, onde o preço
de venda de energia à rede é igual ao preço de compra do kWh
definido pela ERSE (Entidade Reguladora do Sector Energético) e
um regime bonificado, onde o preço de referência é de 650/MWh,
sendo este valor fixo por um período de 5 anos, apenas para os
primeiros 10 MW de potência instalados a nível nacional.
O preço apresenta ainda uma variação consoante o tipo de energia
renovável utilizado, sendo aplicada uma percentagem de 100%
no solar, 70% na eólica e 30% na hídrica e cogeração a biomassa.
As mudanças em curso no sector eléctrico exigem um novo conceito
de rede de distribuição, integrando mecanismos de inteligência
que estabelecerão uma nova forma de gestão e controlo da rede,
em linha com o conceito de Smart Grids. A nível nacional, a mate-
rialização deste conceito teve o seu arranque com o lançamento
do projecto InovGrid, através do qual a EDP pretende dar resposta
a este desafio.
A produção descentralizada de energia possui ainda inúmeras
outras vantagens a nível ambiental, social e económico, entre as
quais se destacam:
> Redução das emissões de gases com efeito de estufa, uma vez
que esta energia é produzida a partir de fontes renováveis;
> Melhoria da balança comercial nacional, pois prevê-se uma
redução na importação de energia e no pagamento de direitos
de emissão de CO2;
> Desenvolvimento de uma indústria de serviços na área da
energia, calculando-se que sejam criados centenas de postos
de trabalho, nomeadamente nas áreas da instalação, manu-
tenção e certificação de equipamentos;
> Criação de fileiras industriais com elevado potencial de inova-
ção e de exportação, produzindo os diferentes equipamentos
necessários à produção descentralizada de energia.
A produção descentralizada de energia é ainda uma hipótese dos
cidadãos e empresas poderem contribuir para os objectivos da
política energética e ambiental nacional, através do alinhamento
da oferta e da procura de energia, aumentando a sua própria efici-
ência energética e iniciando o seu percurso de sensibilização para
questões mais amplas da sustentabilidade.
Produção descentralizada de energia
Potencial solar fotovoltaico nos países europeusAs cores mais quentes identificam os países com maior disponibilidade de radiação solar
Manuel Collares Pereira, Vice-presidente da Dreen
ENTREVISTA
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