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Viagem a Andara oO livro invisível

Fonte dos que dormem Vicente Franz Cecim

E a primeira coisa que me disseste foi havias vindo ver o Livro Invisível.

Oniá,

sim, Tu havias finalmente vindo, Sim

E a primeira coisa que me disseste foi havias vindo ver o Livro Invisível.

- Oniá, eu disse. Como quem dizia Sim, Não, Talvez, Quem sabe

Mas Tu já havias escondido atrás das costas as tuas Asas, e assim que não pude

ver essas asas no Princípio de Tudo

E Saber que, sim: Sim

Eras Tu que finalmente terias enfim vindo

fosse aquele dia um como os outros: o Sol no alto, sua luz que nos oculta a vida,

que nos oculta de nós mesmos, que nos oculta a luz com que o solzinho de cada

coisa em si se ilumina, de dentro para fora.

Quando aquelas Asas enegrecendo o céu: o que era Aquilo, eu me perguntando

na escuridão de repente temendo que já fossem os meus olhos se apagando, se apagando

como um dia eu sei que indo para acontecer. O Acontecimento

Mas não eram ainda os olhos, estes que insistem em ver além de mim, aquém de

mim, o: O

Eram as tuas Asas

descendo

teu o: primeiro pequenino, depois crescendo, descendo em Andara.

Caísse sobre tudo a tua Presença: ó teu O sobre nós, imenso.

Mas Tu, tu, agora ali como eu humano pequeno como eu como são os homens

quando vistos de perto

Ali: sob a Árvore das Vozes, fosse mais essa vez em Andara

E quando eu descobri quem eras, ó nãoEusou, Ó semNome

fosses tu eras Tu,

Aquele que Lá escreve o nãoLivro para que aqui eu escreva os livros visíveis

Tua mão sobre a minha, Se inscre Vendo

Então, cantei estes Cantos

não para quem me ouve

Para Ti em Silêncio

Na Fonte dos que dormem

I

OS DIAS CONSAGRADOS

Cinzas do Caminho que se encontra

porque o dia que passa agora é um Sol negro nos Passos humanos, sobre nós,

eu

te acolho em minha Sombra

de Ternura para o Incêndio das Fontes que virão

E se dizes, dos meus passos: São meus passos

eu digo dos teus passos: São Teus passos

E assim,

indo,

aVe

que o Vento nos ventos: Destinos de areia

já não sabe se conduz ao Crepúsculo

ou se a Aurora já é a Penumbra que cintila em nossos Olhos,

porque outra vez Somos o que fomos

Eis:

a Asa

Invisível

murmurante no Horizonte

Pois agora Teumeu é o Corpo Entre Véus

oO Pas

so

que vindo,

não passará

na via Lenta

este é o caminho das

Grades,

e ouves no fundo da Terra portões de ferro voltando ao pÓ,

como tu

Mas Tu não cumprirás toda a Profecia

Afinal,

não chegaste pela rua da tua Infância? N

ão tropeçaste na porta da Sede e a Água te ergueu?

Não testemunhas o regresso das árvores em Sonhos

e

não passa Dentro de ti

a Outra via?

leve

Que

leva

à Leveza invisível

esboçando no Sem Rumo

quando passas, em Si se esconde a Árvore

dos Negros Corais

tu passeias sem Clamor

quem sabe: Até cantes

e o Caminho não é longo

não colheste nenhum fruto,

mas os Corais vão contigo

e teus Passos vão deixando Rumor de treva e água profunda, pois

te seguem, Negros, os Corais

ó Árvore dos Negros Corais

quando passas em Ti

se esconde

a Residência entre Clarões está nas cinzas Agarrado ao teu Tronco, como não lamentarias a queda dos Frutos? Perdido de Ti, como colherias a Semente no ar e a semearias nas noites da Fadiga?

Para isso: ouvir

Aquilo que chama na Sombra

Para aquilo, ver

Isso: o Anel de Luz

na noite que mais pede sacrifícios à Aurora dos Destinos

ao passo

mais fiel ao caminho para a casa tombada, Lá: onde a Curva

no horizonte

oferta a Esfera ao fechar dos Círculos

à água de murmúrios dos Teus Olhos

À Asa murmurante que não pousa

Celebração das noites fatigadas

há Desesperos circulares, Tu sabes desesperos

como o do animal no Escuro escuro

Girando

contido no Centro que seu giro gera

E a cada giro, Pura

emissão de intensidade busca as margens para Além das margens

E a cada giro, o Não

Escrita de grades: a palavra Dor não é a palavra Sim

Mais um giro, e eis: a Queda

Luz fenecendo

Oo

Centro que des

morona, des

falece em centro

E se esmorece

o Desespero, e se

se apaga: Se sob a pele Negra olhos se ocultam,

na harpa de grades a pausa é breve e não há Música

pois foi escrito no Bosque Sem Ternuras, em nossa Face: Que os olhos que uma vez se

fechem outra vez se abram,

e eles se abrem,

Cílio sem paz se

acende o Desespero

e Testemunha: as Grades permanecem Lá

E

se adormece para os Sonos dos Alívios? Sem

remédio Sem

remédio,

porque sonha Grades

ah, tudo oculta em sonhos a Catedral de cinzas

as Margens

o Círculo

e a chave perdida

Animal escuro,

te tornaste o próprio Centro escuro

Tece teus cílios de Hera sagrada

Cintila

nas noites Sonha

com a Alvura

Não sabes que Outro centroO

te Ilumina,

mais Escuro?

há Desesperos circulares, Tu sabes

Caminho dos corpos lentos

E o Céu? Se

pergunta a Terra,

enquanto desces ao encontro do Teu Centro

eis: a espreita do Suspeito de Si Mesmo

Eis a Penumbra da Água em silêncio

Na Fonte,

não são Longos os peixes que te incineram

Ainda uma vez um Sim de pedra

se ocultou

na Noite,

e enquanto tombas vais lembrando que Não És

Noite de nutrições profundas Para nutrir o Lodo, tu não escreves Tu és o Livro que se lança em todas as direções nas Regiões Escuras: Agora oO Círculo cintilante que te envolve E nos limites da Esfera, se te voltas para te ver Fonte que se jorra, vê: o Outro, Água que no Centro da Esfera ainda Lá és tu de novo, murmurando: Tu és o Livro, que se lança: Chama

na noite do Grão luminoso

Quando a Esfera cantou na Penumbra para a Dúvida

a Vida é o que

é

coisa que a si SeFaz

longe, em Ti

ouviste O Eco É

isso

e nada Mais

ó Árvore de Negros Corais e dos silêncios do Céu

S

ubmerso

em Si como um homem

esquecido pelas paisagen

S

E vagando

Como se um mundo Não existisse

Um mundo não

como um mundo Sim

E convivendo com Ausência e Sombra

Quase deitado na linha do Horizonte, e sem temer a Lâmina, e com os pés pisoteando

estrelas:

dança,

mas não é O Dançarino

a parte dos Dons

mas

Se

nutrires em Ti

a Metamorfose da Esfera,

ouve e Celebra o teu rumor de Hera

H

e

} quando o Silêncio horizontal se disser, te despindo, o Fulgor que És

e tudo em círculos vagando sobre a Esfera vier se Delatar a ti como

Máscara para esmagamentos > a horda escura e a História

e o ir e o ir e o ir dos frutos retornantes às sementes

mas não

o Vir

da Semente ao Fruto que nós chamamos Vida

e

quando na Clareira, Nu

testemunhares o desabrochar da Hera

#

Então

} haverá um dia seguinte

E nesse Dia

Manhã do Caminho sem caminhos,

despertando

abrirás a porta da tua casa

e verás

a Constelação Sem Centro

Porque o Centro tombou sem rumor toda a Noite para a Terra

Estás outra vez na rua onde passou por ti a Vertigem, a Tua Infância

E agora } o Centro

És Tu

Caminho longo

o

O

oO

Oo

OoO

II

COISAS ESCURAS PROCURANDO A LUZ

COM DEDOS FINOS HEIOS DE ERVAS

A colheita das paisagens

Para descer o céu à terra num antro mais cheio de murmúrios

aquilO

que morre nas flores

canta

um Rumor de luz

Eu escuto, na Residência da Semente Branca daqueles que tiveram o pé esquerdo

devorado por ovelhas

Eu nutro: os caminhos apagados

Eu nutro: a mais antiga, a Visão que veio ao encontro dos que vão

em busca

da espera de Si mesmos

Eu não sou a semente

de uma intensidade nua de espinhos, eu não sou

Eu não sou

Fonte das constelações

Sem semear ossos no fim da tarde

e vindo ao encontro dos teus olhos nos Caminhos das espreitas,

eu busco

o segredo luminoso

da

Tua

Água

Soprando as cinzas,

mais humano que o Limo

Este é o Passo de Sombras

Esta é a Noite em que o céu virá beber nosso rumor de terra

Aqui

Eu espero

Como uma Construção erguida para baixo

rio em Silêncio, e serpentes: A Palavra

interminável

mente

calada

mente de Aves Profundas

e um Carrilhão de Luz

soando na Penumbra dos Seus Olhos,

dAquilo que escurece

as manhãs de cinzas

as pedras dos dedos da Oração

quando o mais Alto se ergue

e depõe o Muro Branco das Idades

como Transparência

no deserto Inundado

dos Teus sonhos: Cílio

da Carne,

e Rumor de Bosque Escuro

Curva dos Lábios

que não dizem - Rio

lá, onde

a Água Escura de um Abismo

Aquele que teve os olhos Selados

já não aguarda a Aurora das Virtudes: o Guardião de Sombras

Aurora das virtudes

Quando a terra se abre aos nossos pés,

quando a terra se abriu aos nossos pés

e vindo a ausência da Ausente, veio a Ausência

do ausente

e A que devorávamos na Sombra estava atrasada, e vindo

a que esperávamos estava atrasada

Caminho lento

que a terra ainda não abrira aos nossos pés

ainda Tantas vezes O teu silêncio e a Pálpebra

que não quis nos ver

Tantas vezes o Conselho: Soluça sem espreitas

Tu me nutriste de Escombros,

como uma construção erguida para baixo

não era os passos

Vocação de Olhos mais Escuros

quando a mão se abriu

para tocar O céu

Não eram os Passos dos que vieram antes

Sim

Quando a Árvore sem tréguas descer do céu

como saber: Se um homem vem por degraus

no coração da nave submersa nos Seus Olhos,

antes

que a Inquietante fale as Palavras

mas não após o silêncio das Virtudes

indo

ao Encontro das lápides Flutuantes e das Águas

se erguendo para a Sede

e na penumbra oh na Penumbra

de um Encanto

e

da Esfera tombada no Caminho

por Onde ainda Passam os que passaram antes

Na penumbra oh na Penumbra,

enquanto espera a tempestade, a: Tempestade

nos

Repousos

dos

Teus

Passos

Lodo das espécies

As Catedrais de Luzes já foram semeadas

no Centeio Negro

e não te voltas para colher a Sombra

O

Que Ora está ausente

onde murmura Silêncio a Serpente

Agora aquele que aguardou a Alvura

despertou na névoa e sem olhos

Agora, Aquilo se lançou nas Águas e

sem guelras

Nenhum Cílio

desvia o Pó de um homem das Visões

do Florescer

ao Fenecer

da vida,

indo

tu serás o Escombro de Lágrimas

Canto Mais Impuro

O

cantando

Se um Oceano de pedras descesse

uma palavra Não te espera

Reino que Se curva

Quando a Mente, sem espinhos,

torturou Teu Sangue

veio a lágrima

e O orvalho te doou

O Lago

Na Solidão

se tinge o Lodo

Ainda é a carne a Submersa na pedra

que o teu Dom adormece

Estação das seivas

Não era a Infância ainda,

pois foi antes

Instante

sem tempo, O cancelado instante

de Ressurreições

do Pó

enteNoite

ente de murmúrios: uma semente,

apenas Uma bastaria, Escura

Se

no Silêncio de Seivas em que nasceste

o teu Luar acolhesse a serpente

Corpo nu da Demanda profunda

Tomba,

quando virá à Tona coberto de Cinzas

quando dará às Fontes suas mãos de Encantos em ruínas até

à Seca folha lágrima Raiz da Desfolhada não nascida

quando dirá ao outroO

nascendo do seu Lado Esquerdo com a ferrugem

das Catedrais partidas

- Busca

O ourO Escuro

para onde, para onde

Irá

indo,

indo

com sua imortalidade de lençóis de Alvura: O naufragado em terra,

caminhando sobre águas brancas que não vê

de despedidas de reencontros de Trevas murmurantes

Pedra de Queda como um fruto: o Fruto O

que alcança a outra margem: Oo

Fervor de Limo

Levanta vôo para baixo

Quando obterá a recusa da Envolvente?

e o Não lhe será um Dom

de Indiferença

que poupará, por Desprezo

que poupará, pelo silêncio

Respirando face a Face

Quando a Mãe se ergue na Alvorada,

quanta Espessura no sutil

quanta Presença no vazio

que contém

a mão dentro de Si, oculta de si mesma

Oco e Noite Esfera

da Espécie

Uma estrela desliza nos teus Olhos

buscando a Origem da Luz

na luz do Dia

De Rastros, animais imensos mais antigos

te dizem

que já foste e estás Aqui, escuro

Purificações da imagem maculada

nenhuma Ausência mais será sentida

aquela que Devora consolando

foi embora

Passo em sonho

A Construção de Carne está nas Trevas

e um Silêncio Branco

ressoa em toda parte: o

Ausente

permanece

o que deixam seus Ossos com sons de flauta

para a Música

e o Vento da Vida

Nós não somos um cortejo de Ruínas

nós não somos Nós

não somos os que vieram atrás do Manto

revestido de algas

celebrando o Encanto e o Musgo

que a Água dos Olhos não lava Nós

não permanecemos

indistintos

na Paisagem dos Crepúsculos Nós não

tememos

a nossa Fome das Auroras

nossa embriaguês de Vinho Pálido

enquanto passamos, e passamos,

exatamente

Agora

Ilusão das Sedes

agora, diante de ti está o Muro

que não existe

Construção mental

que esmaga

Mas teus cabelos, Antro de Musgo que te sonha, ainda sentem falta

das ramagens longas, das Ascensões

e da Floresta,

onde os teus Passos percorrendo insetos, mas te apoiando com Ternura nas Sementes,

te dizem:

que logo virá o Limo sobre a Pedra cravada nos teus Olhos

Pois continuas lá, e a Fonte e o Fruto,

ainda Lá,

Agora

não dizerSim

infinito é o que está Dentro in

terno?

Pois não magoas

esta Paisagem

Paraíso

que sem rancor acolhes sob os Cílios, ex

terna

na Pedra da Meditação

em que Te dormes

e te vê

um Horizonte todo em torno de Miragens,

sobre a Terra

Para abolir os lances de dados

unes com a Asa o Vento e a Árvore

e Agora dás adeus a ti, no Escuro

Há Água e Fogo e Terra e Ar

e a Música a Voz

que fala o que nenhum homem ainda Se disse

oO Eu

criou a Si

e ao seu redor a Esfera o Círculo a Vida

e a Multidão da Semente

Estás na Aurora do teu pensamento

oO d eu s

tem muitos eus

nossa habitada Constelação de Ser

seu Fruto e Cinzas

a Tua Criança Invisível

Mais simples que o sono da pedra

agora vem Aquele

que lança para Ti

tua mão cheia de ervas, e não há Eras entre dois

homens de limo

Agora,

te ouve em Teus Ouvidos te fala nos Teus Lábios E

já Sabias o que te diz

com gestos de aprendiz de Vinho e Sangue

Está te olhando dos Teus Olhos

Contempla:

é a Paisagem das Espécies

onde se faz a Colheita dos Dons

nenhum Espelho Nenhum espelho

O Semeado

Agora,

estás onde Só

tu Te Esperas

O que passou na Noite e não foi visto

Nada,

e Mais Além

Uma Esperança de Murmúrios

Residência Profunda

só tens a ti

e um Gesto se desfaz no Ar

Fala da Ponte

Onde a Palavra, oca, simula madeira

Para onde te voltes, não estás

E Ninguém

que seja Alguém espera, Se não existes

Dizer: Espelho de miragens

E Despertar dos Sentimentos de Ausência,

abandonar os pés:

já não se movam nem te mantenham em ti

E no entanto uma Ave canta

A Tarde já foi Manhã

e há Leitos com promessas de Ternuras

À noite, acolhe a Tua Penumbra

Tu lembras o Nome vago que não dizes

Teu Alento ergue o pó até Teus Olhos

Um animal antigo ainda é teu irmão

Há Luta preenchendo o intervalo dos seres

Um pensamento Deserto se nutre de areia

Há ondas de Lágrimas nos Oceanos, longe

Cinzas retornando ao Fogo, com branduras

Ossos de Flautas, ouves, se Incineram

E no entanto, uma Ave canta

e és aquático como: No Princípio Era o Verbo,

sobre as Águas

Silêncio Silêncio

Na Tarde houve uma Manhã

Só tens um Ti,

e um Gesto desfaz se no ar

Lua das idades

Sob o Cílio submerso

Onde um sol jamais ilumina

E no ar mais Elevado, vendo a Ave respirando o Pó

da Terra

Onde não houve o que Ver, do que passou na Noite

E depois das Lentidões e Cantos

E Antigo como um homem de Madeira na janela,

se abrindo

flutuante

aos Oceanos

E no fundo de Ti

Silêncio dos nomes

Indiferente e lento

mas como um movimento Adormecido

E no Deserto Verde

Diante de uma Casa de Penumbra

Quem saberia

O que dizer desta Paisagem onde um homem

semeado

Diante de uma casa em um deserto verde

espera

Indiferente e Lento

Mas com um movimento Adormecido

Antes da Aurora

E a Vida, num Sussurro, ainda não nasceu em parte alguma

para subir montanhas Murmurantes

Ali,

onde em cada corpo humano há um só homem

onde se reúnem para as Festas do Medo

passa uma Ave que nos vê: Espelhos ocultos em

espelhos

Cinzas

dos Campos de Silêncio

semeados

de

Vida Ausente cada um em si

E Odor

vindo do Círculo do Horizonte

guiar

os Passos a não dar,

pois estás Aí, Fantasma

da Amizade

Ponte

que sonha a Alucinação dos Gestos

Para alegrar uma esquina deserta

É Assim que tu habitas uma

Meditação

Peixes de Estrelas e Árvores e se apagando ao teu redor

no teu Rosto de Terra

Onde

Não todos choram juntos não

Todos riem juntos, e Não se sabe

até Saber:

que uma Lágrima é Meditação de Tudo

E o Riso: Meditação de Tudo

e Esses

são os Dons da Semente Una Oca

Escuta: O Eco,

aqui

O sermos

como Aves de Dois Cantos

enquanto, Lá,

O sorrindo chora O chorando ri

Enquanto passa uma Nau de Silêncio

Asa dos olhos

Quando um Lago

for lançado num Círculo

fora do tempo

por mãos vazias antes do gesto

Quem

estará na Margem

para receber, sem mãos,

as Doações do Centro adormecido

que Se amplia

despertado

em gratidões gratidões gratidões

em Cinzas Cinzas Cinzas

Quando descerem em Ti escuro e sol

A última

gota de água acaba de subir aos Céus e a Terra

não é mais

a Esfera de Miragens

Agora,

esses seres de Lágrimas banidos dos Teus Olhos

buscam Refúgio

na Tua Mão de Pó

E não és o Lago

O Uivo em Tua em Memória não é a Pedra que lançaste

voltando à tona

Um homem é Sua Curva só por ter nascido

Estás

entre a Aurora e o Crepúsculo

como uma Dádiva

que se oculta antes do Gesto

Deita no Centro do leito da Serpente

Se

confundires os perdões escuros com a Lentidão

da Tua Estrela,

estás perdido

Tudo é Caverna e ecoa

Consulta os Clamores da Vida

Se o Adormecido leva um Gesto aos lábios

não Falar

para não nascer do Seu Ouvido

em Rumor O

não dito, lentamente não

Ouvir

para não nascer no meu ouvido

em Ramagens A

não dita, lentamente não

para não assustar as Ramagens do Rumor

indo e vindo

entre nós

Asa no Ar

Exalado pelo Alento: por que veio o Homem de Vento

Inalado pelo Alento, para Onde voltará?

E a O Que Quem pergunta

aqui

na Breve Residência

onde é

Asa de Sombra

dO sido

e

dO não será

Um passo antes das Cinzas

Bastante silencioso

e Ausente

mas caminhando através de Onde em si há Ninguém

Um olhar mais fechado, para ser Amplo para acolher a

Constelação

que não cabe nos olhos

para não esquecer que é alguém

onde não há ninguém

E a Gotejante, ouçam: Está chamando, a cada um

pelo seu Nome

a Cada nenhum nome que não Diz

Ali,

onde a Fonte mais transforma Luz em Sombras

visto no Vazio

E então entendes:

que tudo que Passa se sonha um Eu,

e toda neblina quer Ser

E essa é a Origem

da Lágrima

Fonte dos que dormem

como se fosse uma centelha: } a Transparente

com som de Águas até o afogamento

e Asas cristalinas de Pudor

e O sangue

se desfazendo em lágrima a Gota

onde um relâmpago de patas mais selvagens

e a desabrochando: } a Constelação

suas figuras de Musgo suas serpentes de espinho

e O Jamais se acabar [ Suas Serpentes de Espinhos

de chegar

dAquele

que

Sempre passará

como o Cordão dO Tempo nos Teus Olhos }

III

Ó SERDESPANTO

C

- Tu és o grão do espanto. Escuta

o ter nascido

Ó ave do bico tranqüilo

teme o ninho que os homens,

entre naufrágios,

chamam

o lar,

a terra

O som das águas, ó Filho

O som das águas, ó Filho, estou ouvindo

Estou ouvindo a hera e a erva

e o teu espanto

quando refeito é, ó Filho

o milagre do tato

Estou ouvindo

Estamos juntos ouvindo a noite que mais gera

os espinhos de seda

e aquela que fabrica mais fantasmas

e no que fui, a seiva que não flui,

a que mais permanece

e a que não desespera em sua paixão pela pedra em nossa mão

Tu sabes o que não sabes, ó Filho, eu sei

Um sol mais negro vem nascendo em cada peito

para dar ao ouvido do homem

um canto mais escuro

a Voz a Música

A Voz

Existe a Noite sagrada

e nela Eu estou, no fundo dos céus que não existem

como uma criança em seu berço

velado

Velando.

Do fundo dos céus, do fundo da Noite sagrada que não é noite

Eu cintilo

a Luz

que envolve e anima a vida.

Eu sou a Origem. Eu estou Lá na origem de tudo.

Eu sou o Mantenedor, Eu sou o Destruidor. Por isso Eu também estou Aqui

vindo da Noite,

em plena luz

onde vocês estão

A Música,

se desprendendo das cinzas de Serdespanto. Ouçam a música

A Música

E primeiro eu vi: a senda é: Viver Sem Viver

E segundo eu vi: a senha é: Viver Sem Viver Viver

E depois eu vi: a senha é: tudo tem sentido

E depois eu vi: a senda é: nada tem sentido

Então eu vi: a senha é O

Eu em mim

vendo

E a senda é O

eu na vida

vivendo

A Música

cessa e regressa,

vindo das cinzas de Serdespanto

A Música, ouçam

Ó ânima que anima a vida desalmada da matéria, estou te vendo

Matéria e Mater, Mãe terra

- Mãe, eu chamava quando ainda ser de espanto,

mas leve imergia em sonhos, longe do peso da terra

A Música

Atravessar o que nos nega, chegar ao Sim

E é assim

que tu verás o que eu vi das cinzas: a madeira incendiada

e nela estava escrito, não: Tu, deixa toda a tua esperança

e sim:

um V que vela o caminho para o Eu grande

e um Z que zela no caminho do eu pequeno

pois é pelo Eu vendo

o eu na vida vivendo

que cessa a luta dos eus,

entre asas negras e brancas

e o Eu grande e o eu pequeno

se unem no Eu Um, Eum

que é ex-sou serei sido sendo

Sendo Lá sido Aqui por onde fluí, e não fui

Agora, dispersas as cinzas

sou sido ser o NãoSim ser sempre sendo

A voz

vem ainda uma vez das cinzas de Serdes- panto,

antes que se faça o silêncio de Andara na terra inteira e em todo o céu

antes que uma brisa leve, vinda do céu ou da terra, não se sabe,

se

somos só homenzinhos vivendo,

doe essas cinzas a um invisível e outro vento

A voz. E diz

A senha é e a senda é colher os ossos do osso Pai

E nessa voz um eco, sussurrante

que também quer me falar, me diz: Vicente, ó ser de espanto, em teu espanto

é

e sem mim

mas em mim

que tu sonhas Andara ir e vir, é minha a tua viagem

e ela só é

através da Origem e do Mantenedor e do Destruidor de ti

E dessa voz ainda uma vez o eco,

e sussurrante, a fonte de cinzas: Vicente, em meu Espanto

é

e sem mim

mas em mim

que tu sonhas Andara ir e vir, e a tua viagem

ela só é

através da Origem e do Mantenedor e do Destruidor em ti

no fundo da Noite sagrada,

Eu também sendo o Estrondo e o Espanto

e O espanto de mim

#

Bem-vindo à casa incendiada

Eu agradeço a vocês por existirem: meus ouvidos de madeiras sonoras

por existirem

e porque agora estou ouvindo as estrelas

e as cinzas

e as portas estão abertas para as chamas

e as luzes dos meus olhos sem infância

se parecem

a um amontoado de pedrinhas desbotadas

que me falam cinzas

e me dizem cinzas

e sussurram e desbotadas

murmuram

que o pior ainda não foi ter nascido das suspeitas

das montanhas

para as cinzas de outro ser

levado pelo vento

nas tempestades da carne

sob o céu e a árvore que doou a madeira

e doará seus frutos já sabemos

às descendências

e às chuvas

e às foices pouco brandas ah tão pouco branca é a veia aberta em nossos sonhos

onde um rio de areia passa em outro sono

Em nossos sonhos as palavras

suspiros dos homens

esperam

a música que um dia nascerá das heras

e já tendo escurecido em meus olhos de sonos

pendem estes jardins aflitos

as nossas cabeças

e agradecem aos olhos os seus silêncios

e por jamais sorrirem

para as águas das lágrimas

e perdoam à terra por ter nascido

e perdoam os caminhos rendas de ramos escuros

por haverem de nós se perdido

onde a água e as cinzas

já não bebem a alvura

a alvura

a alvura

a alvura

Bem-vindo à terra semeada

Oh Terra

Ah Mãe que não mente

e mata seu filho com um murmúrio ardente

Dado ao nada

depois de semeado

quem de mim relançará o dado

quem sem mim

semeará a semente?

Bem-vindo ao rumor das cinzas

Mas eis que a água chega

e já é tarde demais para viver tarde demais

As cinzas

vieram antes

e o fogo adormece apagado

E no entanto é preciso beber é preciso

a água das cinzas

E é um sonho ser um homem até os ossos

e suas canções do corpo

que nenhum ouvido ouve

que nenhuma boca canta

Ou só a boca de uma sombra cantará

Então que sejam assim as doações mais puras

E crepitantes sejam

os ossos se doando às cinzas

em que um dia irão se transformar

Ah crepitantes canções Ah sombras do corpo nu e nuas

Rendas tecida no escuro

por amor a um rumor de águas mais obscuras

Bem-vindo ao estranho mundo

Em algum lugar do estranho mundo

mãos se tocam em silêncio branco

Ah o encanto da carne

quando esquecida é a existência do deus

que causa a dor

Uma ave vai pousando em seu ninho,

traz nos olhos os espantos do dia que se acaba, se acaba

Mas a tarde nos serena, com a promessa

de que logo vai anoitecer

para novamente nos tornarmos sombras, nos tornarmos sombras,

nos tornarmos sombras

Devolvidos aos ninhos escuros, escuros, escuros

Ah como nos assusta caminhar sob um sol

A este lado da esfera

ainda não veio o tempo do repouso A terra geme,

a fatigada, fatigada

Os homens nos caminhos do crepúsculo da raça

perderam seus olhos

nos cílios pesados de bronzes antigos As estátuas com nódoas de vergonhas,

a vergonha, a vergonha

Nunca mais tu ouviste

o sino que chamava os gestos brandos do fundo

do templo

Ah a sina

do efêmero encarnada em tudo que se move

à nossa volta

Mas tu ouves num inseto de outono o Inseto

do outono

As folhas que se fecham sem desprezo

Num ramo que se parte e cai sozinho,

nenhuma força negativa pousou neste inverno

No estranho mundo, alguém está deixando

o pequeno porto

em seu leito de morte,

e isso nos faz mais lentos do que o cedro transformado em leito macio

porque de madrugada alguém, que será outro,

acaba de nascer na casa verde ao lado

Ah o ir e vir dos viajantes pelas estrelas, as estrelas,

as estrelas

Como tem poder um gesto

branco branco

quando vêm do fundo na noite os silêncios

em que nasce a flor a rubra da ternura

À noite a noite a noite

banhará as frontes que sonham serenas o sereno

Um cão se encosta ao dono

e ao seu odor humano

Ah como é lento este aprender a semelhança

entre a pata do animal e o gesto humano

Misteriosa, uma estrela agora desce sobre o bosque

dos destinos

A filha dos pântanos se agasalha em folhagens negras

O sol tem um ritmo de sangue,

anunciando um novo despertar do mundo

Ah como renasce este outro lado da terra, a dourada, para a luz

Um emblema de paixão te é dado a cada dia

E o vinho está servido nos sentidos

para ser bebido por aqueles que tiveram as suas mãos feridas, feridas,

as feridas

Claro e escuro é o mundo

Claro e escuro é o mundo

Ah o espanto daquele que desperta após um breve sono O anjo, em ossos

e sangue

Se adormeceu no fim da tarde

e abre os olhos na penumbra

que não sabe

se anuncia um anoitecer de pedra

ou ainda a areia as auroras da vida

Por algum tempo, permanece mudo

E não pode se dizer o que virá depois, se luz, se treva

Ah a garganta quando quer cantar uma canção de pura luz

Ah o irmão perdido Ah a voz que prefere calar

diante do crime do irmão

Em algum lugar do estranho mundo

mãos se tocam em silêncio branco,

olhos se olham em virtude azulada,

peles se roçam na intimidade dos amigos

Ah os ninhos que se constrói com o afagado

e o murmurado

Quem são aqueles dois que agora cruzam a ponte

entre suspiros e brumas,

ignorando o cão de ferro que late em seus calcanhares

Levando um peixe de ouro, o pescador de sonhos

Ei-lo que vai voltando para o recanto do estranho mundo onde ergueu sua casa

de palha e centelha convivendo em paz

Ah a ave distendendo as asas

no amanhecer do ninho, o ninho

para reiniciar a aventura da leveza

Como é leve esta pedra no caminho

Como é longo o culto à árvore

em que se enterram as raízes da família

e o choro da criança pela primeira vez

Não tires a tua mão da claridade

da minha mão cansada que repousa em ti,

para ocultar na sombra

Ah

não esperes o receio

para te abrigar em meu peito, diz a voz branda

e longe uiva a fera do adeus

Quem são aqueles que atravessam a ponte

sem temer o cão de ferro, a vida

E por que ainda está ausente o peixe

As planícies de escamas, ao longe, ao longe ao longe Mais uma estrela

caiu dos teus olhos

Ah os que caminham juntos sobre as águas

e a paciência do homem com a madeira

para fazer a casa e a cama

onde o recém-nascido acaba de chorar pela primeira vez

enquanto a vida também constrói para ele

uma ponte

e um latir de ferro em seu calcanhar

apontado para o céu,

enquanto o sangue verde lhe desce à cabeça

enquanto o olhar da mãe de lábios lívidos

Ah o nome que daremos a tudo isso

que nos envolve,

e que chamamos vida,

quando voltarem os tempos perdidos

ao regressarmos aos ninhos de verão,

dois a dois

atravessando a ponte,

pisando as marcas dos passos dados pelos anos puros

Aquela que tece a lã generosa

porque crê no balido do amigo,

ah

como a chamaremos depois que cessar nosso primeiro choro

e a Casa ao lado for a nossa casa?

Ah o encanto da carne

quando é esquecida a existência do deus

que causa a dor

Ah o encanto da dor

quando esquecida é a existência do deus

que causa a carne

Mãos se tocam em silêncio branco

em algum lugar do branco e estranho mundo

Silêncio do grão agora. Silêncio humano e vegetal

A voz humana

A voz do grão

O ter nascido, o renascido

o. O

IV

MÚSICA DO SANGUE DAS ESTRELAS

C

Para aquele que cai

O principal terror desceu cantando a montanha Máxima

até o Mínimo refúgio do ser

E depois veio o tempo

Flor das mais estranhas, que jamais saberia

o sabor da amizade

Mesmo que fosse um mérito

declarar ao mundo que ali ainda um anjo, ali

onde desceste um dia, espera

soluçando, negro e espiando a vida

A verdade não divina é que tingiram o vinho

do teu sangue

sem derramar uma gota no oceano

E o trabalho de purificar a renda negra do peito

foi para ti um corpo de criança

O que passou sem patas por aí?

Os que temiam as vinhas

não foram os mesmos que ofertavam com rigor à fraternidade das rochas

Passaram os dias de recusa

Nas trevas,

as pedras das trevas temendo um leite mais doce

Então, sempre um excesso de nuvens

O sol branco

nunca será essa coisa de homens semeados

em campos de prantos

e colhidos por ninguém

Ninguém para viver com lábios que não dizem: Luz

de murmurar na água dos ossos,

Luz de tudo isso que se ergue

e se inclina para ti

como a onda que traz os peixes da Vergonha

O principal terror desceu cantando a montanha Máxima

A parte dos dons

A submissão das espécies E tudo isso que jaz

sob esses hinos aos musgos

Depois, viriam aqueles que escutassem

as árvores murmuradas pelo vento

Em outras relvas, outros também já tiveram

a maçã da inocência

no lado esquerdo do peito

Eu,

palavra desconhecida dos homens que dormem,

não sou o dia claro sobre o túmulo de um rei

que sobrevive

entre o centeio negro

Ainda poderia dizer, sem os lábios que perdi

numa noite de sol,

tudo

o que esqueci, se aguardasse a pele nova

da serpente

Dizer: Quando o tronco da vida se retesa

e se abranda o arco,

para que não resseque,

devia ser beijado pela mão humana

Dizer: Também eram pequenos os animais buscando o ninho

do órfão silencioso,

e ninguém sabe o amanhã

Então, por um clarão da carne,

talvez o húmus iria sorrir o seu humor na pedra

A impaciência das sementes

O laço estava armado E o sol se pôs,

com um rumor escuro,

para que o animal conhecesse a armadilha,

para que a armadilha conhecesse o animal

Quantas vezes eu

esperei por ti, minha Sombra

e em mim nenhum passo foi dado que anunciasse a Tua chegada

Para que haja um espírito, as florestas cantam ventos

Existe uma árvore rara

dando seu fruto à vida

E ninguém sabe porque

os sóis brotam todo dia

Os grandes mestres

há Uma qualidade que os homens ignoram: viver é menos

Queda que a pedra da memória

e mais do que as serpentes reconhecem: O odor humano

Está

entre as estrelas morrendo nos seus sonhos

e a terra fria afagada contra o peito

antes de lançar um sol sobre as suas vítimas

Se isso se parece um pouco com as residências do mal

e com casas perdidas em si mesmas,

foram os Cálices da espécie que deram à vida a nutrição e os tumultos

Eu falo da invenção da sede

Porque o homem é o animal de areia que dá sentido às fontes do real

e quanto a noite cai,

bebemos a água escura do ventre das mulheres

Mas vejam: o escorpião instalou as suas ferragens

O céu tem suas lágrimas em silêncio

O caracol da voz,

quando sussurra os enigmas da chuva,

sabe:

Quase nunca é tempo

Quase nunca é tempo

para o perfume do sangue

Quase nunca é tempo

de permanecer humano

Esses rios têm espelhos partidos, e tudo o que foi submerso

é um caos perdido

Sete homens tristes

Agora nasce Aquele

que é um lago fundo onde lançamos cinzas

Agora volta,

para dizer a palavra nada

Agora senta pela primeira vez na pedra

e sonha com água

e inclina a fronte

Onde lançamos cinzas

É sempre e ainda esta a terra sob estrelas,

a fruta noturna

onde a luz das nossas faces iluminava faces mais antigas

E sempre e ainda este o sol

que nos reúne para os dias de irmãos,

quando mãos perdidas achavam as nossas mãos

O alado e o fervilhante,

o céu,

ainda dura após a lua dos olhos

Mas se um homem se turva na esperança,

como salgar a palavra dos aflitos?

Aqui ninguém mais nutre

a boca seca das hipóteses

Levantar uma pedra mais leve,

despertar todo o ninho da espécie

Tudo isso ainda seria a vida

para o ausente

indo pelos vales onde baliu a amizade extraviada

das coisas pelas coisas

Se voltasse em nós Aquilo que pela primeira vez sentou na pedra

e, para beber a água,

inclinou a fronte

para sonhar a inexistente fonte

Àquele que dorme sem sono

Os teus corpos, Um de Carne e Outro de Sombra,

envolve em óleos

pois são dois, e o segundo é mais real

É preciso ver num sonho

a paisagem das verdades

onde insetos vêm pousar em nossas mãos

Há palavras que os homens não dizem

Há águas tão amargas,

filho,

que se recusam a devolver às fontes

as antigas possibilidades musicais da espécie

Mas as luas da febre

estão passando

sobre os lugares onde a sombra humana ainda irá passar

Um longo caminho não é sinal de eternidade

Ninguém ainda foi ouvir o silêncio das estrelas

E não ter colhido o mel,

a um murmúrio de distância dos teus lábios,

salgou ainda mais as colméias eternas

É lenta a economia daqueles que aqui esquecem o sabor do sal

E há uns que temem a queda das unhas no inverno,

e há outros que pararam a vida

numa estação vazia

É preciso ir à paisagem das verdades: Insetos pousariam

em nossas mãos: Os ouvidos humanos

são cavernas escuras

Agora nascerão raízes,

quando esperavas asas

E quem sabe um dia virão frutos

para te dar ao leite coagulado,

suficiente é ter nascido

Suficiente é ser a sede, pois só por isso se obteve

a dádiva

dos lagos e da gota de veneno

e um oceano de lágrimas

para encher os olhos de ternura

O que tu sabes de ti?

Somente que já vai começando a desaceleração do vento

em teus cabelos

A menos que desças no caminho, para colher as imagens

que foram caindo da nossa memória,

estás perdido

A menos que subas, ao avistar uma montanha de homens

que foram virados do avesso, os ossos por fora,

a carne por dentro,

e te prostres em adoração ao pó,

em que esses homens se tornarão?

Chama o vento com o ar dos teus pulmões

por amor às cinzas

Estas perdido

Entre a festa para receber,

com festa humana,

e uma esperança de ferrugens

Sob os sons das estrelas,

uma esperança de ferrugens

é o que te fere a sombra

e estás perdido

A melhor coisa que fazes

e a pior, será parar a circulação contínua da máquina

Prova uma gota do nosso sangue,

e aceita, sorrindo,

que isso aconteceu,

que foram caindo da nossa memória

a polpa e a seiva, tingidas de vermelho

Um futuro de rodas que já não rodarão

para as colheitas do destino

Entrega o nosso trem ao delírio de uma floresta

virgem a cada dia

E a voz que te diz isso:

ao menos uma vez

teremos o ferro do nosso dispensável coração

Então, por que não semear de mãos vazias?

Caminho que os olhos não viram

Vento e passagem,

vento e passagem

Agora, jogar num poço

Agora, beber sem sede

Agora, dormir de novo

aninhado no peito do animal que semeia

a semente de areia

Os dias de nascer não são os dias de sorte

Na Casa dos homens as sombras vêm cedo,

mal nasce c

da dia

de fazer o bem e o mal

Estamos buscando a fonte

E ninguém pode ver a invisível, A

pensativa fronte

Fogo

apagado, enquanto ardemos no ser,

e vamos de ser em ser

sem poder dar nem receber

Se ouve essa voz na folhagem

Se entra com passos

caiados, e se vai por entre sombras nas paisagens da verdade

Vento e passagem,

vento e passagem

Agora, jogar num poço

Agora, beber sem sede

Agora, dormir de novo

Agora, descer sem olhos

rumo à água que salgou os oceanos e as lágrimas

Agora apagar

com dedos

de ervas

a chama de uma vela

e ver que escureceu mais uma estrela

Vento e passagem,

vento e passagem

Quais são os gestos para brilhar mais de uma noite?

Só há

sóis se pondo e luas pela metade?

Se isso já fosse a percorrida paisagem

Acima, embaixo

eis o caminho da ida

De puro amor pelas cinzas,

frutos entram pelos pés descalços

dando adeus ao lugar luminoso da partida

Para lavar o tecido em outras águas

O que veste o homem

para os dias do animal?

As rendas da carne,

elas vestem o homem para os dias do animal

As rendas do nascimento, as rendas da morte,

elas vestem o homem para os dias

e as noites do animal

pastando em campos que se erguem

para o céu, que acima é um outro véu,

que oculta o amor do pai

quando descobre a mãe terra, dilacerada nas sombras

que dão o frio e a luz

para que eu me veja humano

nos meus sonhos de animal

que se despe de ternura, quando se esconde a lua,

que se nutre de aflição

nos crepúsculos da raça

e arrependido deseja ser a pele da serpente

Tudo isso é o tempo fino

que flutua entre essas mãos

que desfiam

nossos panos, com que cubro a nudez da minha casinha de osso

Trabalho a que me dedico ouvindo os sons que não ouço

da catedral invisível que só posso visitar

nesses meus sonos sem sonhos

onde são iguais o filho, a renda e o pai calado do silêncio,

que vai queimando as estrelas

e se desfazendo em cinzas

para chover sobre mim,

aprendizado sereno

de dias que acabam assim

Chama sem nome ou fulgor de lama que os homens chamam:

O fruto do júbilo obscuro

Permissão para salgar o mármore

Porque se erguem da terra

e em toda a terra

ainda não se ouve o rumor negro da colheita,

é que esperam a tua sombra no crepúsculo

quando já passaste na manhã

a paciente,

a pedra

e a impaciente semente

Estás passando na amizade das coisas pelas coisas,

estás seguindo

e a luz é terrível

Paisagens

onde a infância doou seu fruto às Sombras

Serás azul

só na noite

em que partirem as tuas crinas

e o sol que semeamos ao redor da tua fronte,

com pensamentos de terra,

para dar ao ar

idéias

e os seus movimentos de nuvens

que às vezes formam a Lenta: A cabeça de um cavalo

Não há beijo

que console quem vê estrelas cadentes

Não há sede que apague esses fogos sobre nós

Aquilo

te deu mãos para cobrires teus olhos,

mas porque não são tuas mãos,

pára e colhe sem mágoa as lágrimas e a nossa água

Teus passos ainda são a fonte

Tu sempre estarás aqui,

pois em ti

se ergue o monte

Para que talhar nos lábios o espírito das ruínas?

As mãos são formas perdidas

e toda pedra torturada encontrada no caminho

já é a imagem de um deus

Para adormecer aquele que vela

Há montanhas em sonhos

tão antigas,

onde sonham

os grãos da areia que te sonha

O que sobrevive na hora

que apaga a última claridade?

De quem faz a Noite a vontade?

Dia ou homem,

uma túnica de rancor é o que eles vestem,

e as montanhas vêm rugir

Caladas

Se veio o Tempo,

é que é tempo de colher sob as estrelas

o centeio negro com mãos mais brancas, caiadas

Vinho do encontro

Por sua chegada com o acontecimento

dos repousos

Das regiões selvagens

Por sua chegada

Por sua vinda ao Encontro

daquele que na sombra treme de prazer

sua chegada de lodo

e sua chegada de fonte

que ali é

espera e guarda à residência

Dever de nutrir as sombras

uma construção em forma de círculo

Por que chamada a Casa da Vida?

Caminhos que dão voltas, onde não se encontra ninguém

Ninguém

que seja alguém A Companhia

Como empalideceu o grão, aqui,

agora que caiu

para crescer da terra,

órfão de uma estrela que se apaga na chama

de uma vela

Como teme

o rugido

da noite encerrada em si mesma o animal

que adormeceu

sem resolver o enigma

Uma construção em forma de círculo

onde homens-pássaros

com asas de pedras, impedidos de voar,

perseguidos pelo vento

e a ameaça das sementes,

ouvem no ninho das coisas nascidas de coisas nascidas

um voz que recita: Isto passará

Esse é

o grão da má sorte

uma construção em forma de círculo

Em forma de homem

abraçado a si mesmo,

como dois irmãos que se quisessem bem

Frágeis como a linha do horizonte

e o murmúrio das cinzas e das fontes

Fonte dos que choram

Não, não adianta temer O Que virá

um dia,

terrível e com prantos, a lua sangrando sobre nós,

pelos nomes das coisas perseguido

As coisas são pedras nas sombras,

a lua sangrando sobre nós

Não, não

Pois é o sacrifício,

a lua sangrando sobre nós

Aquele

que espera a voz da semente já não teve os olhos perfurados?

Como verá

a lua sangrado sobre nós?

Aquele

que esperava o leite do céu não teve suas mãos pregadas

com o Espinho?

Não dirá os nomes das pedras nas sombras

Não,

não

é o sol sangrando sobre nós,

se ainda é o sacrifício

Indo

ao encontro dos cardumes dos seres

Meu mais estranho som sai à porta e chama

do fundo do peito,

clama

para descer o abismo

Longo leito de areia para ti também lá

Tenho esses pés sempre perto das fontes,

que só dizem seus nomes jorrando Por isso, Não, não adianta temer O Que virá

um dia,

descendo das encostas

das fontes, que já nem se murmuram

Bosque sem paixões

quantas vezes ainda

o corpo de demônio

e o Outro corpo de vidro,

enquanto o ausente se transforma em cinzas

que um vento leva, leve

para a muralha do que não é,

cravado nos lábios

O nome do Nome

um dia passou coberto de eras,

sem haver vindo

Quando vier o tempo bom renascerá da semente O

Bosque sem paixões

O nome do fruto eu não digo

Tu não dizes O nome do fruto

O nome do fruto nenhum de nós dirá

Bosque sem paixões

enquanto isso sangra pelos pés

Mas eu tenho os meus pés sempre perto das fontes

para o bem dos meus pés,

para o mal da fontes

O Crime é: a água cristalina se tingindo

de vermelho

E o rumor que cala

sem dizer o nome da água das lágrimas, sem dizer o nome

das cores, não dirá

o nome da cor vermelha desse sangue

que marca os caminhos por onde pés te procuram, O caído, O tropeçado

A lua sangrando sobre ti

Bosque sem paixões,

meu mais estranho som

sai do fundo do peito,

lá no fundo eu espero encontrar o nome das palavras

O Centeio Negro não é o centeio branco

O Centeio Branco não é o centeio negro

A palavra Palavra

não grita o nome das palavras

cravado nos lábios

durante o sacrifício,

longo leito de arei para ti também lá

O centeio negro não é o Centeio Negro

O centeio branco não é o Centeio Branco

Lábios não se abrem para nós dizer o nome

da árvore, o nome

do homem, o nome

daquilo que um dia virá

sem achar o Caminho

da voz

que dirá o nome da Árvore, o nome

da Estrela, o nome

daquele que ainda não veio,

e está passando coberto de heras,

O Nome

do Bosque sem paixões

logo leto de arei para ti também lá

Não,

não adianta temer O Que virá

um dia

descendo das encostas

das fontes, que já nem se murmuram

Bosque sem paixões

terrível e com prantos, a lua sangrando sobre nós,

pelos nomes perseguido

Não é o sol sangrando sobre nós

Os nomes das coisas são pedras nas sombras,

a lua sangrando sobre nós

A lua é o sol

Um homem sorrindo é um Templo,

e os mortos

são os Belos Sagrados

Um homem chorando é um Templo

e ainda por cima da terra

flutua

o cemitério lunar :: A lua cheia de flores guarda

o teu lugar, o teu

lugar

Podes rugir nas noites, mas quem te ouvirá?

Ou, se preferires, uma residência com heras vai desmoronar

Onde és,

é o tigre e o homem

Aqui

não há tempo, nem o lugar lunar

À noite,

sempre rosnam os animais dos dias

Nos dias,

sempre rondam os animais das noites Não é tua a fome

daquele que come

as flores visionárias do ar?

Má sorte é ter nascido sem saber jogar com as sombras

Melhor será dormir abraçado

às garras de um deus

Pudesse um homem

Sentado à esquerda

observa

O

desgarrado

Os dias de temer agora estão ao teu lado

Como aquele que está ao teu lado,

como a tua sombra está ao teu lado,

como o teu corpo está ao teu lado

tentando achar uma saída na carne

Sobre o dia em que nasceste, lembra:

o céu foi um lago coagulado

Aos deuses do fogo

Para o encontro entre a mãe e o filho,

que continua

na noite escura,

a árvore do céu deu a lenha e as cinzas

Dádivas e alvura,

Dádivas e alvura

Rumor de ramos quebrados

Sim,

poderia ter sido

o que não foi

O silêncio

e o Grito

Sim, O animal da treva na água escura

que reflete embaixo o Alto, o Altíssimo

Quem assustou o céu a esse ponto

Poderia ter sido ainda mais

Um abismo

E o ter nascido assim

Não com um Rosto,

mas com um enigma com Olhos

Se te perguntas Como poderia ter sido

o Não sido,

O que te escuta?

O que te escutas?

Fontes por jorrar Pedras,

e pensativas frontes

Música com sombras

Porque te vestes de Sombra

é que eu te espero onde os dias morrem para sempre

Escuta É a voz humana

essa areia sufocada em tua garganta: isso, a areia

soprada por um vento,

é a coisa que os homens chamam a Voz humana

A Nossa voz,

ah

Dela, nada dizer Calar na bruma

Porque tu vestes de sombras

a criança que trazes pela mão,

torturada como um vício, branca como uma virtude triste

como uma flor presa em sua Raiz

Onde está o colar dos desesperos, ali

puseste os pulsos das manhãs nascentes Nenhum Anjo, nenhum Anjo

Estamos presos no Centro,

ou livres caindo no escuro

E eu não sei qual das duas portas, assim abertas, são mais terríveis são

mais belas

Se

só sei

que te espera

a que virá coberta pela Sombra

trazendo pela mão essa criança sem Face, sem rugas também

sem ter nascido

Se assim escurecesse em silêncio esta paisagem

onde pousamos ausentes para os olhos

dos cegos,

toda Serpente seria caridosa, todo encanto teria nervos azuis de pedras de fontes

de lamentos não-nascidos do fundo da garganta

nem a tua nem a da menor que tu, a tua criança

que devolves à claridade

com um gesto de amargura

e recuperas

para o negro dia dos meus olhos

com um gesto de ternura

Ela, a fonte em nossas frontes, pensativamente está pousada,

observa

Paisagem de deserto, e mão cheia de pó:

um sonho para olhos de vidros sonharem

com torturas

Ela: é a Paisagem: é o Lugar, e é o Pranto

do lugar onde os dias morrem

para sempre

Nenhum anjo, nenhum anjo

Não é a Voz humana, nem ao menos murmurando

Para obter do céu um animal sem asas

É quando tu vens com o Sangue que eu me dirijo à Fonte

com a lanterna

Em busca de uma pedra de esquecimento

Dando adeus

com mãos vazias à paisagem

Que nos persegue: Um animal de músculos nas montanhas

Que nos persegue: Um animal de lodo nos lagos do vício

Que nos persegue: Um animal sem alma

ainda maior que os sóis inchados dos poentes,

e ainda mais vasto que os desmoronamentos

do céu

que sempre vemos em nossos sonhos

Horizonte e olhar severo

Olha para dentro: o lapso

distante

Minérios e memória, e corpos ainda mais nus

que o Tempo e os nossos tempos decorridos

nos flagelam

Tudo nos ensina

a ser um ser menos doce

e mais temível

Cobertor feito de ervas

O animal do frio

dormiu três noites em meus ossos

A vida não é guardar as pedras do caminho

nos olhos

não deve ficar a paisagem ultrapassada

Os passos não sabem nada

A próxima será a última

e ninguém sabe onde está

Ouviram?

Silêncio

Silêncio

Esses cantos

sendo em Andara

o vento da voz

Música do sangue das estrelas

Nos cílios do tempo, as Sombras

das coisas aladas

repousam,

depositadas

Nossa Compaixão

não pode com a Água Salgada dos olhos,

não pode

com a areia da vida, não pode com ela, não pode

Um corpo no templo de um lago gelado

Ninguém beberá dessa água

Um instante de força passado

No fundo do lago pousa

o naufragado Nossa Compaixão não pode com ela,

não pode com ela

o

amor, não pode nada com a vida salgada,

um instante de força, depois esgotado

O homem de pó deixou a sua sombra na estrada

Contra o sol,

as estrelas dos olhos

não podem nada

Os frutos dos olhos, as luzes das cinzas geladas

O homem de pó deixou a sua sombra na estrada

Foi pelo silêncio dos frutos maduros

que o fim da amizade foi anunciado

Depois se apagaram, nos frutos maduros,

os olhos fechados

Na encruzilhada, da vida, da estrada

crianças

brincavam

Bosque com paixões,

onde as crianças brincavam,

nossa Compaixão não pode com ela,

não pode com a vida,

não pode com nada O que fazer, não há nada fazer

Através das distâncias geladas

e da carne gelada

e dos gestos gelados

no fundo do templo de um lago gelado

Ali, se esperas pelos não-nascidos, os Calados, os

não-suscitados

eles

não chegam na hora da ceia,

não chegam na noite, enjaulados No fundo

do templo

de um lago gelado,

a nossa Compaixão

não pode com a força que o céu

escuro derrama

na mão das montanhas derrama

O estranho subiu

O estranho

querendo as estrelas o estranho, mas o céu não desceu

ao encontro da terra a sua chama

Não é no fundo

do lago gelado

a terra

dos homens alados

A terra está cheia de homens no pó naufragados

Você pisa o pó, e é um crânio rachado

Do escuro,

do céu, quem viu o homem de pó deixando a sua sombra na estrada

Animais, procurando abrigo,

onde os homens de fogo foram pagados

A nossa Compaixão não pode nada

Bosque das paixões,

a nossa Compaixão não pode com a água salgada,

crescendo nos olhos

A Árvore da Compaixão, crescendo nos olhos, não pode nada, não pode nada

Não dá frutos a Árvore

da Compaixão não dá

frutos, não pode dar frutos, não pode com ela, não poderá nada

Para onde foram as crianças

no Bosque das paixões sonhadas

A tua Compaixão não pode nada A Minha

não pode,

não pode com ela, não pode nada

Não éramos mais do que pedras no fundo de um lago,

e a Compaixão não podia nada,

não mergulhava nada no silêncio cantado

das águas

A água dos olhos também não cantava

Contra a Pedra

e a Sombra daquele que foi pelas águas escuras banhado,

debaixo da pedra largado, afundado,

os silêncios dos teus olhos sobre um nome escrito não podem nada,

a água dos teus olhos não pode nada

O sal dos teus olhos, o Sal

Um sol

por cima de nós ainda é o brilho das coisas doadas,

mas sob o céu não se pode nada

contra a Água Salgada dos olhos,

não se pode nada

Bosque das paixões,

quem vai beber nas mãos a água dos olhos, salgada

Nossa Compaixão foi bebida

pela areia molhada

O homem de pó que deixou a sua sombra na estrada

Não podia fazer mesmo nada

por nós, não podia com ela, não

podia com nada

Apedrejados com os frutos, doendo

de tanto ver,

eis

os teus Olhos

na estrada

e a Compaixão não pode mesmo nada, não poderá com ela, não pode

com a água dos olhos

Crianças sempre partem, depois de sonhadas

As crianças não estão mais na encruzilhada

O Bosque das paixões ficou vazio Ninguém podia mesmo nada,

não poderia com ela, não poderia,

com a areia não poderia,

não poderia com a água salgada

dos Olhos

Os olhos não viram as crianças partirem

e deixarem a inocência

jogada

Animais vêm olhar a ali soluçada

O animal dos teus olhos

fareja

a inocência largada, foi abandonada, eis o embrulho

na estrada

que leva ao

Bosque das paixões,

e a Compaixão não podia mesmo nada

A Compaixão não podia enxugar e levar no colo

os nossos olhos molhados

de água estagnada

As crianças deixaram embrulhadas, em peles humanas, como roupas usadas,

a compaixão e a inocência na encruzilhada

Aquele

que achar o embrulho terá o direito à primeira gota sangrada

As crianças depois foram embora, depois

de sonhadas

Quem ficou no Bosque das Paixões

No Bosque das paixões não ficou ninguém, não ficará mesmo nada

A nossa Compaixão não pode nada

com a água salgada

Não pode com

o embrulho deixado na estrada,

onde a compaixão e a inocência

estão abraçadas

Em sacrifício, tens de oferecer teus silêncios a nada

Para merecer a Estrela Sangrada,

gotejando vermelha a Centelha, a Chorada

Os vinhos das palmas das mãos podem ser tirados

da água gelada,

mas ninguém beberá dessa água

Bosque das paixões,

dos risos das crianças sobraram os ecos

e as alucinações

A nossa Compaixão não pode mesmo nada

As luzes se apagam, e ela não

pode com elas, não pode com as luzes agora apagadas,

não pode mesmo nada

Sob sangue da Estrela Sagrada, as areias

das ruínas estão paradas

Dias sem velas, noites veladas

Também na noite a nossa Compaixão não pode nada

Num sonho

se viu, no fundo do mar, uma grande embarcação

dos homens afundada,

e as vozes cantavam: nossa Compaixão não pode mesmo nada,

não pode com a água salgada dos Olhos,

não pode com ela,

não pode nada

não pode nada

O que fazer Não há nada a fazer

Somente ser no ser

Mas se ainda uma gota

do sangue das estrelas for gotejada

na tua fronte, da fonte sagrada,

a sombra do homem de pó outra vez irá cintilar

no pó da estrada

Música e luz,

pela Luz dedilhada

V

FESTA DOS CABELOS TRANÇADOS

C

Aqueles círculos, aquelas quedas, como se não devêssemos chegar.

Sempre voltariam?

As águas de uma mais clara penumbra

Evitamos os rios

E tendo bebido novamente desta água amarga que bebes também agora comigo

enquanto me escutas, Andara então nos faria ver coisas.

Veja você Andara.

O que nós iríamos achar.

Uma casa em ruínas estaria aparecendo bem diante dos nossos olhos, aquela casa,

só ela, na floresta, como se tivesse que ser assim

- Parece longe, tu me dirias.

- Parece perto, eu te diria.

E no entanto nem longe nem perto, aquela casa estava ali.

Grande.

Diante de nós.

Era só o cansaço maior em um de nós fazendo vê-la longe, e menor no outro

fazendo vê-la perto.

Os ossos mais pesados em ti do que em mim.

Entraríamos.

E ali estava o primeiro adormecido. Ali estaria ele. Um menino.

Tentaríamos acordá-lo, mas viraria para o lado, continuaria a dormir.

Outros estavam ali também adormecidos. Homens, umas mulheres, os nãos e os

sins com que a vida nos faz

E veríamos também aves numas gaiolas, adormecidas.

E tropeçaríamos. No chão daquela casa, espalhados por toda parte, uns cães latiam

silenciosamente em sonhos, mas ainda tentavam morder.

Entenderíamos que seria preciso lutar para não sermos também tragados por

aquela noite que havia em tudo ali, enquanto era dia lá fora, e assim esqueceríamos

a festa, não iríamos mais

As vezes, se te narro isso com um tempo mais vivo, tu notas, é porque é mais real

quando fecho os meus olhos

Ouve:

Há uma mulher na casa que adormeceu em pé, encostada numa parede, e por uma

leve vibração do ar, quando passas, se desequilibra, cai para frente, e em sonho quer

se apoiar em ti, suas unhas cresceram durante o sono e rasgam a tua carne

Mas não a deixarias cair. E verias os olhos da mulher se abrirem um instante, sem

te ver, e a depositarias no chão suavemente.

Tu estás abrindo uma gaiola agora, posso te ver, tiras uma ave adormecida da

gaiola. Parece que vai acordar, pois bica a tua mão vazia. Procura alimento essa ave.

Jogarias a ave para o alto. Não voaria. Não cairia.

E então tu a pegas no ar e pões de novo na gaiola.

Mas depois de uns passos, estás de volta. Abres a gaiola. Se a ave um dia acordar

Aquilo era assim naquela casa.

Uma criança adormecida quer dizer algo. Ponho o ouvido em sua boca. Mas só

ouço um som de águas profundas.

Uma ave voa em sua gaiola como se estivesse sendo perseguida. Quer escapar.

Depois não se mexe mais. Teria sido devorada em sonhos?

Vê agora:

Dos adormecidos, todos, então começaria a vir o mesmo som de águas,

redemoinhos, que viera da criança.

Era a carne talando neles, agora só a carne estando todo o resto adormecido?

Se pudéssemos ouvir o que a carne tinha a nos dizer naquela casa

Ouviríamos:

Os sons de águas se transformavam em vozes nos adormecidos.

E nas gaiolas as aves adormecidas perguntariam: Por que a carne, de olhos

abertos, vira pó, e de olhos fecha dos é eterna em sonhos?

E as crianças, adormecidas, naquela casa, perguntariam: Por que a carne, de olhos

abertos, vira pó, e de olhos fechados é eterna em sonhos?

E os homens c mulheres, adormecidos: Por que a carne

E os cães, adormecidos, roendo seus ossos de sono: Por quê?

Depois, o silêncio voltava. As vozes paravam.

E então foi que começamos a ouvir, começaríamos a ouvir aquele canto.

Nele, tu verás, aqueles adormecidos iriam falar com a carne, dizer-lhe coisas,

fazer perguntas a ela.

Um dos adormecidos, abrindo os lábios, deixava ouvir, num murmúrio: Canção de

areia

E o canto estava começando:

Viver a cada dia o mais estranho ouro, eles cantavam

Eles cantariam: A concebida areia,

e a caminhante em volta da pedra, a areia

e o vento em volta da pedra

e na areia

e reunida areia, a carne

E a concebida da asa,

e na areia ainda

a reunida areia

Voltava o silêncio. Uma pausa. E o canto voltava:

Fomos aqueles que primeiro uivou para ti,

e na primeira noite, o que primeiro riu nos tempos

Fomos os nossos arrependidos ossos curvos

pois tu trituras amorosamente o que conténs,

e incontida

Silenciosos sob o silêncio da erva: sensíveis

à dor e à tua erva

Silenciosos até a altura dos ramos voltados

para a nascente, grande é a Face que te espia da

outra margem

Pois se das coisas temos um sol tombado, e a descida

sombra

e o canto aviltado da voz rouca,

e ainda os olhos da primeira vez

da primeira, ó inesquecível

e sem podermos ver

deitados sob o silêncio da erva, e sensíveis ao que fomos

Ao uivo aos ossos à face à erva

Novo silêncio. E o canto:

Pelos tempos e as geleiras,

animais fizeram a curva luminosa do teu dorso

Verão sobrenatural: não damos um passo

sem a tua companhia

Pelo espesso: dele a espessura se desprende

na forma dos cheiros selvagens que tanto

nos empalidecem à noite:

cada um de nós é um clarão visto à distância

Tu és o escândalo do deus que se desfez

do lado mudo dos seus gonzos. E se abres

a porta escura deste ombro,

fatigados pêlos campos

semeamos nossos ossos mais humanos

nos lugares onde tivemos lábios e ressecam da oração

O canto. Os adormecidos

Se estás deitada, é quando és a beleza

ainda que no corpo em movimento habite um músculo

de sedução

Se vem a morte,

é que estás te exercitando no cansaço

Caísse algo ali, mas estando de costas não verias

Se curva a árvore, água reduz

seu ritmo de música

a cada homem um outro pela mão

se as pernas o abandonam,

a escura lua que assombra

Pois voltas o rosto para uma parede

e a uma vida de ti está passando e vês

passar um inseto

saído do mais estranho sono, que é estar vivo

Existe um passo que não existe

Voltava o silêncio, toda a casa parecia adormecer, mas a boca de um dos

adormecidos fazia novamente aquele som de águas, e voltava o canto:

Pois tua é a sombra,

e o teu deserto percorrido diz:

a concebida da areia,

e na areia a reunida areia, a carne

O canto outra vez se elevando:

Tua lentidão me atravessa pelo corredor de mim,

os passos são antigos neste ouro

e ainda que se tenha um sol e um corrimão de apoio

para tudo

a ausente se esmerando

a sombra

Não passarias se um outro conspirasse

No nome que é a senha da imensa floração

ainda uma veia dá sentido ao único

Camadas após camadas, as invisíveis tintas te cobrindo,

não saberia um homem nunca qual seria: a nave a floração

desde que um pé arrastado pela luz

se quis ali nas águas, a árvore da tua seiva vindo

ao encontro dos mais jovens, à tona

Se devíamos estar vestidos para a fonte,

é que a transformação do ouro em ferros, nisso tudo,

é o que menos nos oprime a âncora da vida

O canto. Seus cantos. Aquilo seria assim naquela casa entre árvores. Este outro

agora:

Tua água estagnada está bebendo no escuro

um animal de bruma

Os ausentes deixaram seus cheiros

ali, uns ossos esperam só a febre para desmoronar

Aqui a pele é a residência, e nela habitam

uma alegria e sarças, o músico

Sua música: teus animais estão escoiceando

a música: paredes que se batem umas nas outras

O corpo é só um homem junto da sua pedra de ternura

Aqueles adormecidos falando com a carne. O canto:

Estás acumulando lentamente uma ferida na lâmina

real

do teu verão

Daqui podemos ver que o dia coagula

E aves como homens batem as asas, para se elevar

nosso anzol de nuvens

um rosto de pedra voltado para o céu

uma caminhada de monstros andando dentro

Desce a sombra da sentença sobre a mão que acena

adeus

Não passe o próximo minuto sem que soe

a voz da desfolhada

A lâmina é a oferta de um grito: pelos olhos,

quando é ainda mais bela a estação das febres,

pelos tempos, se foi a mais antiga raiz a que deu frutos

O canto: isso nos retém, isso nos retém, isso nos retém

Temos por ti a consideração de um vaso

onde está depositada a espécie

mas se abrindo, a terra mostra-se à floresta dos homens

que se estende

A pele, a gelada residência

E o corpo busca outras passagens clandestinas

para a região do fundo do peito,

seu clarão de incêndios,

flutuando num mar de cortiças, cedendo

aos silvos desta noite

Ritual de véus: o lodo

Pois sonhas em ti mesmo a tua visibilidade

se sonhas o limo

Uma ave novamente estaria esvoaçando em sua gaiola, talvez um outro sonho da

carne perseguida, e nós continuávamos ali ouvindo aquele canto, a carne dos

adormecidos falando com a carne

Pois se também és forma sólida da música: o sino,

e o homem é planta em sua estação de fruta

do alto das atenções simuladas, sem o artifício nulo

conspirando pelo talo do teu corpo

perdida está toda a colheita

Te toca a voz anunciando a quebradiça que se dobra,

imóvel junto a um muro está o muro

- Senha, então anunciaria uma voz entre os adormecidos. E os adormecidos todos

respondiam:

- A senha é não sonhar teu nome.

E o canto, prosseguindo:

Libélulas dos ossos, libélulas da cara quando à

meia-noite se estremece de ansiedade em sonhos

A revoada dos teus desejos me sobrepassa

em muito as costas voltadas para a casa

dos meus pais: o carrilhão de sombras

O canto: isso nos invade, quer nos habitar pelos ouvidos para sempre

Pois tua é a sombra e a Sombra

e na areia

a reunida areia, a carne

E a concebida asa,

e na areia ainda a reunida asa de areia

Iríamos também adormecer ouvindo aquele canto, aquelas vozes? Nunca mais

sairíamos daquela casa?

Saber o que a carne tinha a nos dizer, sim, isso nós queríamos. Mas viria vindo

então em nós, negro, um medo

Nunca mais sair daqui? O canto:

Não nos deixa esquecer a casa alta,

lá tempo repete: cascas,

ainda que nascidas pele leve e mesmo

se ergues no ar a nossa infância

E há ventos nos ramos, a areia do teu sono

Pois uma é a lei severa que se expressa: se

reverdecem se inclinando para a morte serão homens.

se escurecem e pontiagudos são espinhos

Mas a floresta genuína estranhará

Temos as aberturas do ser para observar dos olhos

os outros seres,

tanto melhor para a euforia da terra

Relva do destino suculento, vem a mim, lenta

antes da noite lenta

Não terminaria nunca aquele canto, não iria nunca acabar?

Em ti estou plantado pelos ossos até os sonhos,

temente às chuvas, e um estranho para os peixes,

aqueles adormecidos cantavam

Andara cantava para a carne naquela casa.

E antes de adormecermos para sempre, nos afastaríamos dali

Pois tua é a sombra

e na areia a reunida areia, a carne

ainda ouviríamos, longe.

Pois tua é a sombra

teríamos ouvido aquele canto se extinguindo ou eram apenas os nossos passos que

agora já nos levavam para mais longe?

VI

preHISTÓRIA DO SONO

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a Areia de que somos feitos

no escuro da semente

Homens e cinzas

homens e cinzas enveredaram cedo

Deserto, passos de centeio negro

Ali

horizonte e noite e alimento Uno

As estações por onde passam

A mais rítmica terra uiva longe Silêncio

entre clarões

E clamo

Os trigais sagrados

A relva das desordens

Ex-voz interminavelmente sempre retorna um êxtase

Retorna a vaga espécie em turnos pela terra

Teu canto e sonho e sons do olhar Clarão da voz

Nascente e ida de outros homens para a morte e bebo ainda de um trigal,

prazer e noite

Agora ex-água é a tua areia

e há dias ímpares a par das fontes, dizes

Retorna a vaga espécie em turnos

pela terra

rondando imagem e ruínas de um rival de luz

e o belo som não escutas mais, longe te sela

e perto negas o ouvido azul do tempo

Tarde da carne, então

Tempo e adeus E um grito à estrela

antes que à residência extraviada torne

Clarear esta paisagem

água e agonia

e anônimo atear

um mar ao ossário luminoso dos teus dias

Tempo e tribo

Tua era a janela de longa ascensão e abria-se A lua Sedução de profundezas

Escândalo de escama e lodo

E um mar ali

Troféu de sombra

Tempo e tribo,

e as tuas revelações tarde demais

Tais são os gestos

e música de limo, ela virá insone

à sala de torturas de um instante

Esfera Reta do Fim,

temos a carne para a fome de si mesma

e há cantos percorrendo a nu

a voz

Campos de som que não ignoram o eclipse próximo e as ruínas

Face de puras asas

Teu pé fronteira de um passo silencioso

Fora

excluindo-se,

toda a luz e um retorno de cinzas

Exílio e reino oculto, Paz Vegetal

E eis: as formações, cruéis em bando

Se ali

revoada e festa interditada,

febre lunar

Onde as ruínas consagradas? À noite

a forma cega de um altar de fogo

Renovemos neste instante pacíficos ante um mar mais doce o sangue

E as sedes

em torno, dentro

A voz

Esta se eleva entre duas árvores de murmúrio e sombra nua, una face de puras asas

Vegetais e margens

De pé teu animal em ti adormecido e a tua ida ao mar

que te incinera,

as cinzas nunca falham

Os ventos na memória têm desertos e o passo onde me nego antigo e uivo

e eco

e ao longe acenam adeus os vegetais e margens

negam em silêncio um número mortal as esgotadas

multidões

Colméia e culto,

caminhos negros

Espelho sem paisagens

Vem rever sem fôlego um rosto de desejos, olhos do imenso

azul em teus delírios

Sorte

é ter ainda a Árvore da Voz, a asa e um grito

A relva negra dos sons

Quem nega este deserto é a ruína da mais antiga

residência, A Aniquilada

As esmeraldas deste funeral

Este trabalho é luminoso quando passo flagrado em crime contra a terra,

em sonhos

Verão,

e à noite te virão os cantos, a relva

negra dos sons

em sonhos

nua, a tua planície entre aves

e o teu anoitecer de lã de homem ao mar

Tambor de húmus

Avançava o veículo todo santo as multidões tinham

vertigens de azul

Murmurando entre dois homens

que não sou

e dando gritos

ali me esconde meu documento íntimo de sombra

e o teu incêndio E o meu

E o fogo fátuo e a Fruta de estar vivo

Tremor da pele, dias de sina

Ilha é a terra,

o animal respira lento em sua caverna

Tambor de húmus e hipótese de cinzas e à quarta porta um sol de sal e um espelho

Tensa se ergue por sobre a residência entre clarões

a mais árida hera,

a ira

Centeio e luz

Eis a colheita e em ti nem ave há, e lá a fruta, fêmea de cinza

Te deixam as árvores, a fibra e a residência E vens

À noite,

segue em círculos a vida e a colméia Abelha

e vítima, os vícios do mal

Espera e canto

As estações

Trigal azul os dias

e os homens bebem um mar indo à deriva e invisível

escura hora passa em ti, Lugar de Véus

Centeio e luz, então

Só amanhecem o grão e a solidão

E na manhã, o teu chamado mais selvagem

Te anunciam eclipse e alimento

e a voz incinerada

e a incinerada asa entre clarões

e o limo e o vento e a ilha das desordens, pois és a erva real do verão

e dando adeus às sinas e à ruínas, uma vez mais está pronta a semente

Teu lodo e o que te esquece

As armas submersas Teu lodo e o que esquece e lá

revelações

Tempos de cinza afundam Os teus clarões

Plantas à sombra um rival de musgo,

a árvore dos dias

Se inclinam frutos

Teu peixe antigo sonha

a negra

e dartro luminoso te entreabrem a porta

e à noite os teus cardumes Vem morder um sonho

e o Selo, o labial

de uma promessa

Tua floresta de estrelas pende Astro maduro

Te busca o teu verão

A voz narrando histórias E ainda mais se inclinam para nós

memória e mar

Entre raízes

teu lodo sonhará

Navio da voz

Carne fantasma

Renasce a arma amada, teu mar renascerá

Ave, fantasma

Nas fronteiras da carne, Horizonte Velado

passas

À tona,

a variedade sempre única de um vôo e velas lentas

A carne tem golfos de luz que te incineram

aVe, fantasma

Fim de Fonte dos que dormem

A viagem a Andara não tem fim

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