22 de novembro de 2010 a 5 de janeiro de 2011Terça a sábado, das 10h às 22hDomingo das 10h às 21 h
CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 1Avenida Almirante Barroso, 25 CentroRio de Janeiro – Cep 20031-003Tel: (21) 2544-4080 / 2544-7666
[email protected] / caixacultural
programa educativo
Tel: (21) 2544-4080
Entrada franca
Alexandre Vogler
Angelo Venosa
Anna Bella Geiger
Daniel Senise
Daisy Xavier
Luiz Alphonsus
Luiza Baldan
Opavivará
Paulo Vivacqua
Rosângela Rennó
Suzana Queiroga
Thiago Rocha Pitta
patrocínioprodução
l i v re p a ra to d o s o s p ú b l i co s
apresenta
Uma cidade é feita de cidades sobrepostas. Há muitos mapas invisíveis nos bairros e regiões de uma metrópole. Eles revelam as diversas camadas de tempo que aquela cidade viveu, costuradas pela memória individual ou coletiva dos moradores daquele lugar.
Para construir esta exposição, nosso ponto de partida foi o livro Cidades invisíveis, de Italo Calvino, em que o viajante Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan os lugares por onde passou. Depois de narrar cidades muito distintas – elas têm personalidade e nomes femininos e podem ser sonhadoras, destrutivas, tímidas, arrebatadoras –, o navegador italiano chega à conclusão de que esteve falando o tempo inteiro de Veneza, seu berço e ponto de partida.
Esta exposição quer dar à experiência urbana a dimensão que ela merece como semente do processo de criação artística. A cidade e a arte sempre caminharam juntas. A própria ideia de cidade – e de cada cidade, especificamente – foi pensada pelos artistas. Foi assim com a Florença Renascentista, cuja construção não pode ser dissociada dos grandes artistas e arquitetos do período; com o Império Turco Otomano, quando tapetes e gravuras sobrevoavam uma Istambul próspera e criativa mostrando-a como se estivesse sendo vista pelos olhos de Alá; com a São Paulo de 1922, redimensionada para todo o Brasil com a antropofagia de Oswald de Andrade; com o Rio Modernista dos anos 1950, traçado por arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy, mas também pelos artistas construtivos e pela bossa nova.
Para realizar estes Mapas invisíveis, convidamos 11 artistas e um coletivo que têm sua história profissional marcada pelo Rio de Janeiro. Eles se debruçaram sobre lugares da cidade que passaram por intensa transformação urbana, caso da Avenida Rio Branco, do Aterro do Flamengo, das comunidades da Maré e da Península, na Barra da Tijuca; que são encruzilhadas de grupos heterogêneos, como a região conhecida como Saara ou o bairro de Copacabana; ou que têm muitas camadas de histórias sobrepostas, caso de Madureira, Botafogo, a Região Portuária ou São Cristóvão, regiões que assumiram inúmeros papéis ao longo dos anos. Há ainda lugares marcados por iniciativas ou grupos sociais específicos, como a Floresta da Tijuca, sonho transformado em realidade por dom Pedro II, e Realengo, na Zona Oeste, onde reinam o imaginário e a simbologia dos militares.
Nosso desafio foi criar trabalhos que não anulassem a trajetória dos artistas e também não fossem uma mera ilustração das regiões da cidade. Com suportes e propósitos diversos e confrontados com a malha urbana que abriga todos os cariocas, eles mostram como o Rio de Janeiro foi desde sempre uma cidade-projeto, que teve na cultura um de seus principais motores.
De sua origem até hoje, os cariocas por adoção ou por nascimento têm na capacidade de reinvenção seu maior trunfo para todas as crises. “O Rio é uma cidade de cidades misturadas”, nos ensina Fernanda Abreu. Os Mapas invisíveis são um mergulho nesta “cidade submersa”, personagem de Paulinho da Viola e Chico Buarque em outras lindas canções.
Enfrentar este caldo fervente é encontrar às vezes bálsamo, às vezes purgante. Mas sempre alimento.
Daniela Name curadora
De uma cidade, não aproveitamos suas sete ou setenta maravilhas, mas as
respostas que dá às nossas perguntas.
Italo Calvino, Cidades invisíveis.
Cidade submersa
presidente da república
Luiz Inácio Lula da Silva
ministro de estado da fazenda
Guido Mantega
presidenta da caixa econômica federal
Maria Fernanda Ramos Coelho
som e vídeo
Terceriza Som Áudio Visual
iluminação
nonononononono
montagem
Jorge Pinheiro
cenografia
H. O Silva
administração
Antonio GoesLoane Malheiros
curadoria
Daniela Name
realização
Tisara Arte Produções
coordenação geral
Mauro Saraiva
produção executiva
Heloisa Vallone
projeto gráfico
Verbo Arte e Design Fernando Leite Julia Sampaio
O grupo Opavivará pesquisou
Madureira, na Zona Norte do Rio,
que representa uma das regiões mais ri-
cas culturalmente da cidade. Berço de
escolas de samba tradicionais – Portela
e Império Serrano –, também abrigou
antigos quilombolas e preservou a dan-
ça e o ritmo do jongo. O trabalho do
Opavivará consistiu em um ensaio foto -
gráfico no Mercadão de Madureira.
As imagens feitas no lugar serão impres-
sas em bolos confeitados e oferecidas
ao público na inauguração da exposição
e em dias específicos pré-agendados
pela produção.
Daniel Senise fez
seu mapa invisível a partir de
Botafogo, precisamen-
te a partir do Cemitério São
João Batista. Ele recolheu as
folhas que caíam das árvores
da área interna do cemitério
e realizou com elas um site
specific na galeria. Bairro dos
comerciantes endinheirados
no fim do século XIX e início
do século XX, Botafogo foi
ficando cada vez mais de-
gradado depois das reformas
que demoliram o Palácio do
Mourisco e abriram o túnel
para Copacabana. O cemi-
tério é um espelho para um
lugar de passagem, que virou
bairro-fantasma, mas hoje
passa por revitalização.
Anna Bella Geiger ficou
com a Região Portuária, ,
um dos berços do Rio como cidade.
Local: Zona Portuária com águas do
mar une uma imensa gravura de
cinco metros e um vídeo para falar
do porto como começo e recomeço,
como criação. A artista partiu do
texto bíblico em hebraico, que ain-
da não sintetiza a palavra “oceano”
e usa “águas do mar” para definir
águas salgadas. Mesclando ima-
gens de origens diversas, sobrepõe
visões reais e inventadas de regiões
de baía em várias partes do mun-
do – como a que mostra a de San
Francisco sendo invadida por discos
voadores.
Rosângela Rennó criou
seu mapa a partir da região conhe-
cida como Saara. A artista re-
alizou uma ação em que dividiu a
Avenida Senhor dos Passos em sete
áreas. Em cada uma delas, colocou
dois turíbulos feitos a partir de re-
sinas essenciais, formando assim
14 pontos, correspondentes aos
passos da Paixão de Cristo, pas-
sagem do Evangelho que dá nome
à rua. Rosângela voltou a unir ca-
tólicos, árabes, judeus, coreanos e
umbandistas da Saara através do
incenso, que em todas as culturas
tem a mesma função: fazer a liga-
ção entre o céu e a terra, religare,
princípio básico da religião. Uma
mesa com os mesmos incensos
está na Caixa.
Alexandre Vogler se debruçou so-
bre Realengo. O artista criou uma série
de aquarelas e uma maquete, que se referem
à memória militar deste importante bairro
da Zona Oeste carioca e se relacionam com
o modernismo e o futurismo. Antigo ponto
de parada para as viagens de dom Pedro I,
Rea lengo é um bairro marcado pela Escola do
Exército e por uma fábrica de pólvora. A Pra-
ça do Canhão é o principal ponto de referên-
cia do bairro, que tem sua memória coletiva
vinculada à iconografia bélica e do Exército.
Daisy Xavier mer gulha nas on-
das de Copacabana, apresentando
dois trabalhos para a exposição. Em uma
série de fotos, funde a ideia dessa imen-
sa rede heterogênea formada pelo bairro
com as redes trançadas pelos pescadores
da colônia do Posto 6. Apresenta ainda um
vídeo gravado da cestinha de sua bicicleta,
em que registrou o gigantesco paredão de
prédios da Avenida Atlântica de um ângulo
completamente inusitado, em um passeio
realizado ao longo de toda a orla, do Forte
de Copacabana até o Leme.
Thiago Rocha Pitta criou um trabalho sobre a Avenida Rio Branco. Antiga Avenida Central, que inaugurou o século XX
com a reforma urbana empreendida pelo prefeito Pereira Passos, expul-
sando do Centro para os morros cariocas a população mais pobre. Por
outro lado, foi um vetor de integração de toda a região, rasgando-a da
Praça Mauá até a Cinelândia. Rocha Pitta apresenta três aquarelas para
um projeto de jardim suspenso para a avenida. Babilônia carioca em seu
tempo, a Rio Branco ganha aqui uma aproximação lírica de sua história.
Angelo Venosa explorou
a Floresta da Tijuca. A
maior área verde urbana do mundo
não existia até que dom Pedro II,
preocupado com o abastecimento de
água do Rio, mandou que os escravos
a plantassem. Venosa tira partido do
plano mental envolvido na história
do lugar para criar uma obra que
precisa contar com a participação do
espectador. Ouve-se o som da flo-
resta misturado a uma narração de
poemas românticos alemães. A gra-
vação se relaciona com uma peça de
Venosa, para onde nosso olhar con-
verge. Aqui, a ideia é de imaterialida-
de, numa aparente contradição com
a exuberância tropical da mata.
Luiza Baldan ficou com a Barra da Tijuca. Bairro
planejado pelo arquiteto modernista Lúcio Costa, nunca teve seu
plano-piloto plenamente realizado, mas se expande cada dia mais
para as regiões de pântano que tomam conta da chamada Zona
Oeste. Luiza morou durante um mês em um apartamento na re-
gião de condomínios da Península, e desmitifica o bairro em um
vídeo editado em três telas distintas, em que grava uma ilha no
meio da lagoa que banha o grupo de prédios.
Suzana Queiroga esco-
lheu se confrontar com o universo
do Complexo da Maré,
reunião de 16 comunidades que
formam o maior grupo de fave-
las do Rio de Janeiro. Apresenta
dois trabalhos: um vídeo em que
transforma as subidas e descidas
das marés em espelho da pintura
e uma grande instalação feita em
parceria com crianças inscritas nas
aulas de arte do Projeto Redes, que
funciona na Maré. Estimuladas por
Suzana, elas traçaram seus mapas
dentro da comunidade. Esses ca-
minhos sobrepostos, desenhados
no ateliê da artista, formam uma
grande rede suspensa.
Paulo Vivacqua ficou
com São Cristóvão, ,
bairro que pulsa História. Foi
sede dos engenhos dos jesuí-
tas; abrigou dom João VI e sua
Corte na chegada ao Brasil; e
passou por sucessivas refor-
mas urbanas, como a cons-
trução da Linha Vermelha.
Vivacqua criou um trabalho
sonoro batizado de Mosaico,
em que inúmeros alto-falan-
tes fazem um mapa auditivo,
afetivo e histórico de lugares
como a Feira Nordestina de
São Cristóvão e a Quinta da
Boa Vista. Os sons de cada lu-
gar são mesclados com depoi-
mentos dos moradores sobre
São Cristóvão ontem e hoje.
Luiz Alphonsus apresenta um trabalho híbrido,
misto de fotografia e instalação, sobre o Aterro do Flamengo. Obra que fundou a era moderna do
urbanismo carioca, o Aterro nasceu sob o signo da po-
lêmica, especialmente por afastar o mar dos prédios
à beira da Glória e da Lapa (a Avenida Beira-Mar não
tem este nome à toa, afinal). Luiz Alphonsus inter-
rompeu a paisagem da região com uma imensa faixa
branca e fez uma foto da intervenção. Na galeria, a
faixa se prolonga para o espaço expositivo, gerando
uma estranheza no percurso dos visitantes.
Top Related