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FACULDADE MERIDIONAL – IMED
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO
Priscila Luisa Schuster
Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí na cidade
de Não-Me-Toque/RS
Passo Fundo
2017
2
Priscila Luisa Schuster
Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí na cidade
de Não-Me-Toque/RS
Relatório do Processo Metodológico de Concepção do Projeto Arquitetônico e Urbanístico e Estudo Preliminar de Projeto apresentado na Escola de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Meridional – IMED, como requisito parcial para a aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, sob orientação do Professor(a) Mestre em Planejamento Urbano e Regional Linessa Busato.
Passo Fundo
2017
3
Priscila Luisa Schuster
Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí na cidade
de Não-Me-Toque/RS
Banca Examinadora
PROF. ME. LINESSA BUSATO
Orientador(a)
PROF. ME. AMANDA SCHÜLER BERTONI
Membro avaliador
PROF. DRA. GRACE TIBÉRIO CARDOSO
Membro avaliador
Passo Fundo
2017
4
AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, o qual me proporcionou saúde e paciência
nas horas difíceis para realizá-lo. Aos meus pais Luiz Carlos Schuster e Marisa Schuster, meu
irmão Victor Mateus Schuster que estiveram sempre do meu lado e me ensinaram a dar valor
e não desistir dos meus sonhos. Ao meu namorado Luan Pierre Pott pela compreensão das
horas dedicadas ao TCC, por ouvir minhas inseguranças e acalmar minhas ansiedades, e por
compartilhar cada avanço conquistado. A todos os meus colegas, em especial a Daniella
Santos, Bruna Lima e Eduardo Maccarini que dividem comigo a rotina da faculdade, os
trabalhos, as dúvidas, os lanches e os bons momentos vividos nesses 4 anos e meio de
graduação.
Aos meus amigos por entenderem a ausência em algumas atividades e por me
apoiarem acima de tudo. A minha querida orientadora Linessa Busato por compartilhar com
amor todo o seu conhecimento e transmitir toda a tranquilidade possível para que eu possa
enfrentar cada desafio. Agradeço a todos os professores e profissionais que contribuíram e
ainda o fazem para me tornar uma boa profissional e mais que isso, me tornar um ser humano
melhor a cada dia. Agradeço de coração a cada um de vocês.
5
RESUMO
O presente estudo propõe a construção de um parque urbano e centro de eventos para a
cidade de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul. O município sedia uma feira de renome
internacional do agronegócio (Expodireto Cotrijal) e possui sua economia fortemente atrelada
a agricultura de precisão, sendo que a maioria de suas empresas e indústrias trabalham com
o desenvolvimento de implementos agrícolas e buscam melhorias para o agricultor e
pecuarista. Por esse motivo, muitos eventos são realizados na cidade e atraem um público
significativo, no entanto não há um local adequado para essas atividades. Os cidadãos
também sentem falta de um parque que ofereça equipamentos para a comunidade no geral,
entre eles um anfiteatro. Com base nessas informações, realizou-se um estudo preliminar
para a concepção de um parque urbano e centro de eventos em Não-Me-Toque/RS, que tem
como objetivo principal atender as necessidades da população de forma funcional e atraente.
Palavras-chave: agricultura, centro de eventos, espaços abertos, parque urbano.
ABSTRACT
The present study proposes the construction of an urban park and event center for the city of
Não-Me-Toque, in Rio Grande do Sul. The municipality hosts an internationally renowned
agribusiness fair (Expodireto Cotrijal) and its economy is strongly linked precision agriculture,
and most of their companies and industries work with the development of agricultural
implements and seek improvements for the farmer and cattle rancher. For this reason, many
events are held in the city and attract a significant audience, however there is no suitable venue
for these activities. Citizens also miss a park that offers equipment for the community in
general, among them an amphitheater. Based on this information, a preliminary study was
carried out to design an urban park and event center in Não-Me-Toque / RS, whose main
objective is to meet the needs of the population in a functional and attractive way.
Keywords: agriculture, event center, open spaces, urban park.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Localização do lote em relação ao Parque da Expodireto......................................14
Figura 02 - Show danifica gramado do Estádio Municipal........................................................14
Figura 03 - Estacionamento utilizado para atividades..............................................................15
Figura 04 - Localização da cidade no Estado do Rio Grande do Sul........................................17
Figura 05 - Vista aérea da Expodireto Cotrijal..........................................................................19
Figura 06 - Reurbanização da orla do lago Paprocany na Polônia...........................................22
Figura 07 - Parque Olímpico Drapers Field na Inglaterra.........................................................22
Figura 08 - Diagrama de avaliação de espaços públicos.........................................................23
Figura 09 - Mapa da cidade com localização das praças e áreas verdes.................................24
Figura 10 - Praça central Dr. Otto Schmiedt............................................................................25
Figura 11 - Playground praça central.......................................................................................25
Figura 12 - Brinquedos praça Cohab.......................................................................................25
Figura 13 - Má conservação praça Cohab...............................................................................25
Figura 14 - Eixo verde 01.........................................................................................................25
Figura 15 - Eixo verde 02.........................................................................................................25
Figura 16 - Número de eventos segundo as regiões brasileiras...............................................26
Figura 17 - Centro de eventos no Ceará..................................................................................27
Figura 18 - Lã de vidro.............................................................................................................29
Figura 19 - Rolo de alcatifa......................................................................................................29
Figura 20 - Forma do auditória e a área ocupada pela plateia..................................................30
Figura 21 - Cortes esquemáticos da organização da plateia...................................................30
Figura 22 - Anfiteatro de Pompéia...........................................................................................31
Figura 23 - Vista interna do Coliseu.........................................................................................31
Figura 24 - Comparação distribuição do som..........................................................................31
Figura 25 - Comparação entre distribuição do som sem elemento horizontal e com elemento
horizontal adicionado (em vermelho) ......................................................................................32
Figura 26 - Guggenheim Bandshell, concha acústica ao ar livre de estrutura fixa....................33
Figura 27 - Localização do Parque Barigui em meio a área urbana.........................................33
Figura 28 - Implantação e acessos Parque Barigui..................................................................34
Figura 29 - Localização dos edifícios/equipamentos de acordo com a tabela acima...............35
Figura 30 - Secretaria do Meio Ambiente.................................................................................35
Figura 31 - Salão de Atos e restaurante...................................................................................35
Figura 32 - Zoneamento Centro de Eventos Renault...............................................................36
Figura 33 - Organograma e fluxograma Centro de Eventos Renault........................................37
Figura 34 - Malha retangular Centro de Eventos Renault........................................................37
7
Figura 35 - Fachada principal..................................................................................................38
Figura 36 - Madeira e vegetação.............................................................................................38
Figura 37 - Aberturas em fitas..................................................................................................38
Figura 38 - Ambiente interno...................................................................................................38
Figura 39 - Implantação e distribuição dos espaços................................................................39
Figura 40 - Setorização plantas baixas....................................................................................41
Figura 41 - Fluxograma por setores.........................................................................................41
Figura 42 - Edifício formado por retângulos.............................................................................42
Figura 43 - Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio..............................................42
Figura 44 - Vista aérea do complexo.......................................................................................43
Figura 45 - Vista da edificação e entorno de parreirais de uva.................................................43
Figura 46 - Croqui implantação e acessos...............................................................................43
Figura 47 - Zoneamento dos blocos por setores......................................................................45
Figura 48 - Organograma e fluxograma dos ambientes...........................................................45
Figura 49 - Relação de altura entre os blocos..........................................................................46
Figura 50 - Vista do edifício a partir do estacionamento...........................................................46
Figura 51 - Vista do edifício principal.......................................................................................46
Figura 52 - Ilustração esquemática.........................................................................................46
Figura 53 - Iluminação natural.................................................................................................47
Figura 54 - Salão principal.......................................................................................................47
Figura 55 - Contextualização Regional (País, Estado, Município e Terreno) ..........................49
Figura 56 - Mapa Nolli Cheios e Vazios...................................................................................50
Figura 57 - Mapa uso do solo...................................................................................................50
Figura 58 - Mapa altura das edificações..................................................................................51
Figura 59 - Mapa estrutura da rede viária do entorno...............................................................52
Figura 60 - Esquema do sistema de esgoto de acordo com a NBR 7229/93............................52
Figura 61 - Mapa estrutura da rede de energia........................................................................53
Figura 62 - Mapa vegetação existente no entorno...................................................................53
Figura 63 - Dimensões do terreno...........................................................................................54
Figura 64 - Topografia natural do terreno................................................................................54
Figura 65 - Relevo do terreno..................................................................................................54
Figura 66 - Ventos dominantes e orientação solar...................................................................55
Figura 67 - Vista 01 – RS 142..................................................................................................55
Figura 68 - Vista 02.................................................................................................................56
Figura 69 - Vista 03.................................................................................................................56
Figura 70 - Vista 04.................................................................................................................56
8
Figura 71 - Mapa zoneamento cidade de Não-Me-Toque........................................................57
Figura 72 - Modelo de calçada.................................................................................................59
Figura 73 - Módulo de referência.............................................................................................62
Figura 74 - Área de manobra de cadeiras de roda...................................................................62
Figura 75 - Vista superior dimensionamento de rampas..........................................................63
Figura 76 - Medidas mínimas sanitários..................................................................................63
Figura 77 - Medidas mínimas assento público, em metros......................................................64
Figura 78 - Exemplo de anteparos em arquibancadas.............................................................64
Figura 79 - Principais características agricultura de precisão..................................................66
Figura 80 - Relações projetuais...............................................................................................67
Figura 81 - Centro Pompideu, 1977.........................................................................................67
Figura 82 - Museu do Aço no México, 2007.............................................................................67
Figura 83 - Grorudparken, Noruega........................................................................................68
Figura 84 - Margens do Meurthe..............................................................................................68
Figura 85 - Passeio público.....................................................................................................69
Figura 86 - Ampliação da ciclovia............................................................................................69
Figura 87 - Croqui criação trevo de acesso ao lote..................................................................69
Figura 88 - Organograma setores centro de eventos...............................................................71
Figura 89 - Fluxograma ambientes centro de eventos.............................................................72
Figura 90 - Fluxograma espaços abertos................................................................................72
Figura 91 - Proposta de zoneamento 01..................................................................................73
Figura 92 - Proposta de zoneamento 02..................................................................................74
Figura 93 - Proposta de zoneamento 03..................................................................................75
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Informações edições da Expodireto Cotrijal........................................................20
Quadro 02 – Eventos e seminários realizados durante a Expodireto Cotrijal...........................20
Quadro 03 – Programa de Necessidades................................................................................34
Quadro 04 – Programa de Necessidades................................................................................40
Quadro 05 – Programa de Necessidades................................................................................44
Quadro 06 – Índices Urbanísticos...........................................................................................57
Quadro 07 – Larguras das vias e passeio público....................................................................58
Quadro 08 – Especificações para ciclovias.............................................................................58
Quadro 09 – Espécies arbóreas utilizadas em calçadas..........................................................60
Quadro 10 – Distanciamento das unidades arbóreas..............................................................60
Quadro 11 – Dimensionamento de rampas.............................................................................63
9
Quadro 12 – Programa de Necessidades................................................................................70
Quadro 13 – Análise da proposta de zoneamento 01..............................................................73
Quadro 14 – Análise da proposta de zoneamento 02..............................................................74
Quadro 15 – Análise da proposta de zoneamento 03..............................................................76
10
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO................................................................................................12
1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO.........................................................................................12
1.2 TEMA DO PROJETO........................................................................................................12
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO.............................................................13
CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................17
2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO.........................................................................................17
2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................................17
2.2.1 Breve história da cidade de Não-Me-Toque e da Expodireto Cotrijal.......................17
2.2.2 A importância dos parques e a diversificação de usos.............................................20
2.2.3 Importância dos centros de eventos e suas características.....................................26
2.2.4 Conforto acústico em grandes espaços.....................................................................28
2.2.5 Anfiteatros e conchas acústicas.................................................................................30
2.3 ESTUDOS DE CASO........................................................................................................33
2.3.1 Estudo de Caso 01: Parque Barigui............................................................................33
2.3.1.1 Implantação.................................................................................................................33
2.3.1.2 Programa de Necessidades........................................................................................34
2.3.1.3 Análise do Centro de Eventos Expo Renault Barigui...................................................36
2.3.1.4 Funcionalidade............................................................................................................36
2.3.1.5 Forma..........................................................................................................................37
2.3.1.6 Técnicas Construtivas e Materiais...............................................................................38
2.3.2 Estudo de Caso 02: Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio............…39
2.3.2.1 Implantação.................................................................................................................39
2.3.2.2 Programa de Necessidades........................................................................................40
2.3.2.3 Funcionalidade............................................................................................................40
2.3.2.4 Forma..........................................................................................................................41
2.3.2.5 Técnicas Construtivas e Materiais...............................................................................42
2.3.3 Estudo de Caso 03: Centro Cultural La Boisere.........................................................43
2.3.3.1 Implantação.................................................................................................................43
2.3.3.2 Programa de Necessidades........................................................................................44
2.3.3.3 Funcionalidade............................................................................................................44
2.3.3.4 Forma..........................................................................................................................45
2.3.3.5 Técnicas Construtivas e Materiais...............................................................................46
2.3.4 Conclusão.....................................................................................................................47
CAPÍTULO 3: DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO.............................................49
3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO.........................................................................................49
11
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL.................................................................................49
3.3 MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS EDIFICAÇÕES.......................................49
3.3.1 Mapa Nolli.....................................................................................................................49
3.3.2 Uso do Solo...................................................................................................................50
3.3.3 Mapa de Alturas............................................................................................................51
3.4 INFRAESTRUTURA URBANA..........................................................................................51
3.4.1 Rede Viária....................................................................................................................51
3.4.2 Rede de Água................................................................................................................52
3.4.3 Rede de Esgoto Cloacal e Pluvial................................................................................52
3.4.4 Rede de Energia...........................................................................................................53
3.4.5 Vegetações Existentes................................................................................................53
3.4.6 Mobilidade e Condições dos Passeios Públicos.......................................................54
3.5 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO.......................................................54
3.5.1 Dimensões do Terreno.................................................................................................54
3.5.2 Topografia.....................................................................................................................54
3.5.3 Ventos Dominantes e Orientação Solar......................................................................55
3.5.4 Projeção de Sombra e Vegetação Existente...............................................................55
3.5.5 Visuais do Terreno.......................................................................................................55
3.6 SÍNTESE DE LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS...............................................................56
3.6.1 Lei Nº 1018.....................................................................................................................58
3.6.2 Lei Nº 4483.....................................................................................................................59
3.6.3 Código de Obras...........................................................................................................60
3.6.4 NBR 9050.......................................................................................................................62
3.6.5 NBR 9077.......................................................................................................................64
CAPÍTULO 4: CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS.....................................................66
4.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO.........................................................................................66
4.2 CONCEITO DO PROJETO...............................................................................................66
4.3 DIRETRIZES DE ARQUITETURA....................................................................................67
4.4 DIRETRIZES URBANÍSTICAS.........................................................................................68
CAPÍTULO 5: PARTIDO GERAL...........................................................................................70
5.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO.........................................................................................70
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES..................................................................................70
5.3 ORGANOGRAMA/FLUXOGRAMA...................................................................................71
5.4 PROPOSTAS DE ZONEAMENTO....................................................................................73
CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO..................................................................................................77
CAPÍTULO 7: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................78
12
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO
O tema da monografia é centrado nas informações necessárias para o
desenvolvimento de um projeto de Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto
Jacuí na cidade de Não-Me-Toque/RS. Logo, seu objetivo geral é desenvolver um
Centro de Eventos e Parque Urbano para solucionar as deficiências da população
não-me-toquense. Enquanto seus objetivos específicos são:
- Considerar os aspectos existentes do local de implantação do projeto, bem como
seus fatores dominantes naturais e tirar pleno proveito disso;
- Projetar um parque urbano com variedade de usos recreativos e de lazer e que
atendam a todos os cidadãos;
- Conceber um Centro de Eventos com características arquitetônicas, urbanas e
sociais que possibilite a realização de eventos empresariais e festividades da
comunidade.
1.2 TEMA DO PROJETO
O tema de estudo trata da implantação de um centro de eventos aliado a um
parque com diversos equipamentos urbanos, localizado na borda Sul do município de
Não-Me-Toque/RS. A palavra -eventu- de origem latina traz em seu significado
“acontecimento”. Sendo assim, nas palavras de Vargas e Lisboa (2011) centro de
eventos permanente é o local concebido para a realização de diversas atividades
periódicas que necessitam de um local adequado para atender diferentes usos.
Destarte, o projeto desta edificação irá propor diferentes ambientes nos quais poderão
ser realizados shows de grande e pequena proporção, convenções empresariais,
feiras, exposições e outros.
Os espaços abertos constituem parte fundamental de uma cidade,
principalmente quando a mesma encontra-se em constante fase de desenvolvimento
e urbanização, como é o caso de Não-Me-Toque. As áreas verdes que formam esses
determinados lugares, bem como todas as atividades atreladas a esses, são fatores
determinantes para o bem-estar, saúde física e mental da população (LOBODA;
ANGELIS, 2005). Por isso a implantação de espaços abertos (áreas de contemplação,
13
lazer, caminhada, ciclovia e prática de esportes) juntamente com o centro de eventos
pode trazer mais qualidade de vida aos usuários e atrair pessoas de toda a região.
A compreensão e análise cuidadosa de cada ambiente, seja espaço aberto ou
não, será de grande auxílio para as decisões projetuais deste estudo, para que o
mesmo possa oferecer espaços funcionais, bonitos, agradáveis e acessíveis para
todos os cidadãos não-me-toquenses. Projetar novos lugares capazes de se
relacionarem com as características naturais existentes é um grande desafio dos
profissionais da arquitetura, mas que pode ser atingido com muito estudo e dedicação.
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO
O projeto a ser desenvolvido localiza-se na cidade de Não–Me–Toque, situada
na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul. O município possui
aproximadamente 17.094 habitantes (IBGE, 2016). É conhecida como Jardim do Alto
Jacuí e leva o título de Capital Nacional da Agricultura de Precisão, no qual este último
deve-se a agricultura de alta tecnologia que é desenvolvida e comercializada por
diversas empresas da cidade.
Desde o ano de 2000, no mês de março, a cidade é sede de uma das maiores
feiras do agronegócio da América Latina: a Expodireto Cotrijal. Evento esse que
acontece em uma área privada localizada frontalmente ao lote, noutro lado da rodovia,
(Figura 1), escolhido para a implantação do Parque Urbano e Centro de Eventos
Jardim do Alto Jacuí. A cada edição realizada, a feira ganha mais importância no
cenário mundial e movimenta a economia da região, alavancando os negócios das
empresas participantes da feira e atraindo novos empreendedores para os próximos
anos.
A implantação de um centro de eventos próximo a Expodireto permitiria que
inúmeras formalidades como Fórum da Soja, Fórum do Milho, Fórum do Leite, Troféu
Brasil Expodireto, Formatura Jovem Aprendiz e etc., que normalmente acontecem em
um pequeno auditório com capacidade para 300 pessoas (situado na entrada do
parque) poderiam ser realizadas com mais conforto e privacidade para atender a
grande demanda de praticantes/ouvintes.
14
Figura 1: Localização do lote em relação ao Parque da Expodireto
Fonte: Google Earth (2017), adaptado pela autora (2017).
Não-Me-Toque realiza diversas atividades no decorrer do ano, as quais
podemos citar o Congresso Sul Americano de Agricultura de Precisão e Máquinas
Precisas, Expo Show, Expo Não-Me-Toque e outros eventos patrocinados pelas
grandes empresas que atraem público de toda a região. Essas festividades, seja para
a comunidade ou para a esfera privada, não possuem um local adequado para
acontecer e dependem de um clima favorável. Normalmente são realizadas em
espaços improvisados, sem infraestrutura básica para atender a demanda de
visitantes, como o caso do show nacional Zezé Di Camargo e Luciano, ocorrido em
maio de 2017, que deixou o campo de futebol do estádio totalmente destruído, (Figura
2). Nessa ocasião, acontecia o Campeonato Municipal de Futebol Veterano que
precisou ser adiado para recuperar o gramado do local.
Figura 2: Show danifica gramado do Estádio Municipal
Fonte: JE Acontece (2017).
15
O município é também carente de um parque urbano que ofereça
equipamentos urbanos para pessoas de todas as idades. De acordo com Matos
(2010), a caracterização de um espaço público se dá pela facilidade de acesso e pelo
direito de uso de toda a população, diferentemente de um local privado. As cidades
estão em constante crescimento e transições, assim como as necessidades da
população urbana que cada vez mais procuram por locais capazes de oferecer
tranquilidade e libertação do mundo movimentado e caótico derivado dos processos
de urbanização.
Pode-se compreender o quão importante para a qualidade de vida dos
cidadãos se torna um ambiente que disponha de áreas verdes, atividades físicas,
áreas de lazer e contemplação. Atualmente, os cidadãos não-me-toquenses utilizam
de um estacionamento privado de uma empresa para realizarem algumas atividades
ao ar-livre com seus familiares (Figura 3). Embora a cidade possua algumas pequenas
praças pontuais, a maior delas localizada em uma área central, não há espaço
suficiente para a realização de todos os exercícios físicos que observamos que os
usuários gostariam de praticar (bicicleta, caminhada, skate, quadra poliesportiva ao ar
livre e outros).
Figura 3: Estacionamento utilizado para atividades
Fonte: Autora (2017).
16
O prefeito vigente de Não-Me-Toque Armando Carlos Roos, em conversa
informal, afirmou que um parque urbano e centro de eventos se faz necessário para
atender as necessidades da comunidade e todas as empresas do município que
precisam de um espaço propício para realizar suas solenidades. Diferentes espaços
que possam atender todas as faixas etárias com locais de diversão, esporte e lazer
tais como pista de skate, pista de atletismo, ciclovia, academia, playground, anfiteatro
com concha acústica, salas multifuncionais e um salão principal tornam-se
importantes para o desenvolvimento da cidade e ajudam na melhoria de qualidade de
vida dos usuários.
17
CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO
Nesta parte será apresentada a revisão de literatura sobre os assuntos
pertinentes a compreensão do tema escolhido para o projeto. Assim, são analisados
as seguintes temáticas: história da cidade de Não-Me-Toque e da Feira Internacional
do Agronegócio Expodireto Cotrijal, a importância dos parques e seus diferentes usos,
a importância dos centros de eventos e suas características e conforto acústico em
auditórios. Também será desenvolvido análise de três estudos de casos: o Parque
Barigui em Curitiba/PR, Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio/RJ e o
Centro de Eventos Puente Verde no Chile.
2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.2.1 Breve história da cidade de Não-Me-Toque e da Expodireto Cotrijal
A cidade de Não-Me-Toque está localizada no Planalto Médio do Rio Grande
do Sul (Figura 4), na microrregião do Alto Jacuí, e conta com uma área territorial de
aproximadamente 361,67 km² e 17.094 habitantes (IBGE, 2016). A colonização iniciou
com a chegada dos portugueses que instalaram suas fazendas para criação de gado
na região. Por volta de 1897 descendentes de alemães e italianos vem para as
imediações da localidade em busca de um pedaço de terra e cria-se então a Colônia
do Alto Jacuí. Com o desenvolvimento do povoado, os primeiros imigrantes
holandeses chegam no ano de 1949, e com eles a criação da Cooperativa Agrícola
de Gaulanda Ltda (CUNHA; 2011).
Figura 4: Localização da cidade no
Estado do Rio Grande do Sul
Fonte: Google Maps (2017).
18
A economia baseava-se principalmente na agricultura de subsistência, criação
de animais, extração de madeira, cultivo de batata e posterior fabricação de
implementos agrícolas. Só então, em 18 de dezembro de 1954, após muitas lutas
judiciais o município de Não-Me-Toque é emancipado. Atualmente, a cidade leva o
título de Jardim do Alto Jacuí e Capital Nacional da Agricultura de Precisão devido as
grandes empresas que buscam sempre estar à frente de novas tecnologias e
informações do mercado do agronegócio (PREFEITURA MUNICIPAL, 2014).
Existem diversas versões do surgimento do nome peculiar da cidade, no
entanto, vamos conhecer as duas explicações mais aceitas pela comunidade. A
primeira conta a existência de uma estância de criação de gado, a qual era sustento
da grande família do senhor Rodrigo Felix Martins. Com o passar dos anos a sede da
fazenda até então conhecida como “Fazenda São Benedito”, aumentou e passou
como herança para seu neto: Ernesto Pereira de Quadros. Existiam muitos
compradores interessados em adquirir a morada, mas apegado ao lugar onde cresceu
ao lado de sua família, Quadros respondia: “Não me toques naquela invernada, ela
não tem preço e não tem venda”. (CUNHA, 2011; ARQUIVO PREFEITURA
MUNICIPAL, 2014).
Já a segunda versão da história e mais conhecida por todos os cidadãos não-
me-toquenses está relacionada a árvore com espinhos. A planta de nome científico
dasyphyllium spinescens, popular “não-me-toque”, possui em si características físicas
como o tronco curto e os espinhos que variam de 3 a 5 cm de comprimento e recobrem
todo o caule. O arbusto era abundante em toda a região do Alto Jacuí e também era
conhecido como “sucará” ou “espinho de Santo Antônio” (CUNHA; 2011). Hoje a praça
central do município possui um exemplar da planta juntamente com suas
peculiaridades, para que cada cidadão possa compreender a história do nome de sua
cidade.
A Expodireto Cotrijal é uma feira de renome internacional, de caráter privado,
que acontece anualmente no mês de março (Figura 5). A mesma traz novas
tecnologias que estão a surgir no ramo do mercado agroindustrial. A primeira
exposição aconteceu no ano de 2000 quando a Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí
Ltda. (Cotrijal) decidiu criar uma feira de negócios e inovações que pudesse se tornar
referência no Sul do país. As edições posteriores foram ganhando cada vez mais
importância nos cenários nacional e internacional, sendo comparada, as feiras do
19
Show Rural Coopavel que acontece no Paraná e a Agrishow de São Paulo
(DECOP;2016).
Figura 5: Vista aérea da Expodireto Cotrijal
Fonte: Cotrijal (2016).
A Expodireto realizada no ano de 2003 superou todas as expectativas. O
volume de negócios ultrapassou a previsão inicial e bateu o recorde de R$ 200 milhões
e um total de visitantes de 122.850 pessoas. O nível de satisfação dos indivíduos
cresce com o passar do tempo, os mesmos afirmam que a manutenção, organização
e limpeza do parque de exposições é admirável e deve servir como parâmetro para a
realização de feiras nas demais cidades (DECOP & COTRIJAL;2016).
Neste ano, a exposição aconteceu de 06 a 10 de março e teve altos
investimentos devido a boa safra de grãos realizada pelos produtores rurais. O total
de negócios consolidados girou em torno de R$ 2 bilhões e o número de visitantes
atingiu seu recorde no quinto dia do evento chegando aos 240 mil. Em coletiva de
imprensa, o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica afirmou: “Encerramos a
Expodireto realizados. A feira de 2017 trouxe esperança e otimismo para a economia.
Este ano, o produtor veio decidido a fechar negócio. Temos o compromisso de fazer
uma feira igual ou melhor em 2018” (DECOP & COTRIJAL;2016).
Os dados contabilizados a cada edição mostram que esse evento impulsiona a
economia, não só de Não-Me-Toque, mas também estadual e nacional. O crescimento
de negócios fechados, o aumento de área expositiva, o avanço do número de
expositores e visitantes (Quadro 01) indica que a Expodireto Cotrijal é um referencial
fortíssimo para o desenvolvimento da cidade e da região (COTRIJAL, 2016). Assim, é
20
importante ressaltar que esse acontecimento pode se tornar mais forte, se aliado a
um lugar adequado para realizar os congressos e eventos simultâneos a feira (Quadro
02).
Quadro 01: Informações Edições da Expodireto Cotrijal
Expodireto Cotrijal
Expositores Área (Hectares)
Público Negócios
2000 114 32 ha 41.100 R$ 21 milhões
2003 230 78 ha 122.850 R$ 200 milhões
2006 294 84 ha 120.800 R$ 50 milhões
2009 326 84 ha 162.470 R$ 357.146 milhões
2012 468 84 ha 185.500 R$ 1.106.980 bilhão
2015 530 84 ha 230.100 R$ 2.182.196 bilhões
2016 554 84 ha 210.800 R$ 1.581.768 bilhões
2017 511 84 ha 240.600 R$ 2.120.205 bilhões
Fonte: Decop (2017).
Quadro 02: Eventos e seminários realizados durante a Expodireto Cotrijal
1. Fórum Estadual do Leite 2. Fórum da Agricultura Familiar
3. Seminário de Suinocultura 4. Troféu Brasil Expodireto
5. Acampamento da Juventude Cooperativista 6. Troféu Semente de Ouro
7. Fórum Nacional do Milho 8. Fórum do Jovem Cooperativista
9. Fórum Nacional da Soja 10. Fórum Florestal do Rio Grande do Sul
Fonte: Decop (2017).
2.2.2 A importância dos parques e a diversificação de usos
As áreas não edificadas são definidas como espaços livres, que podem ser
tanto público como privado. Sendo assim, os parques e praças urbanas que possuem
vegetação são considerados áreas verdes e desenvolvem importantes funções
ecológicas, paisagísticas, estéticas e recreativas, além de aumentar a qualidade de
vida das pessoas e contribuir para o equilíbrio ambiental do ecossistema em questão
(BUSATO, 2016; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017). Neste contexto, a
sistematização realizada por Guzzo (1999, apud LIMA et al, 1994) conceitua parque
urbano como uma área verde que ocupa um espaço maior que as praças e jardins e
públicos.
21
Ainda outra definição de áreas verdes, o qual também pode-se incluir os
parques urbanos, é dada por Morero et al (2007, p.20) que diz que
[...] as áreas verdes englobam locais onde predominam a vegetação arbórea, praças, jardins e parques, e sua distribuição deve servir a toda população, sem privilegiar qualquer classe social e atingir as necessidades reais e os anseios para o lazer, devendo ainda estar de acordo com sua estrutura e formação (como idade, educação e nível sócio-econômico).
As cidades brasileiras não são planejadas adequadamente quanto ao processo
de urbanização, o que influencia de modo negativo a qualidade da população. A
ausência de planejamento que considere os elementos naturais resulta no
empobrecimento da paisagem urbana, que consequentemente, acarreta diversos
problemas nos subsistemas dos municípios. É de extrema importância a atenção que
precisamos ter com o meio ambiente físico urbano quando o planejamos, pois o
mesmo está diretamente ligado com o bem estar dos habitantes (LOBODA; ANGELIS,
2005).
Outro fator positivo relacionado com áreas verdes é a redução dos impactos
vindos dos processos de urbanização que a vegetação de grande ou baixo porte pode
oferecer. As árvores possuem a capacidade de melhorar o ar atmosférico, segurando
a poeira e outras partículas invisíveis ao olho humano (gases tóxicos, bactérias e
microrganismos) e também auxiliam na contenção do gás carbônico (CO2) através do
processo da fotossíntese. O microclima da região em que o parque está inserido
apresenta significativas melhoras por causa das plantas, pois as mesmas restringem
a radiação solar e influenciam positivamente a temperatura e umidade do ar do
ambiente (MASCARÓ, 2005; GIACOMELI, 2013).
Os parques urbanos possuem um papel fundamental no contexto urbano, pois
de acordo com Sitte (1992, p. 167) “são essenciais para a saúde, mas não muito
menos importantes para a êxtase do espírito, que encontra repouso nessas paisagens
naturais espalhadas no meio da cidade. Sem recorrer à natureza, a natureza seria um
calabouço fétido”. Assim, entendemos que esses espaços públicos exercem variados
benefícios ao seu entorno e, ainda, melhoram a qualidade de vida de seus usuários
pois oferecem lazer, paisagismo e preservação ambiental (LOBODA; ANGELIS,
2005).
A diversificação de usos oferecida nos parques urbanos deve atender todas as
faixas etárias, não deve ter impedimentos e sim acolher todo o tipo de usuários. São
22
considerados próprios para a realização de atividades físicas ao ar livre, recreação,
contato com a natureza, educação ambiental, diminuir o estresse e o nível de
sedentarismo das pessoas (KAPLAN, 1995). Segundo Barton e Pretty (2010) cinco
minutos de caminhada em áreas verdes é tempo suficiente para melhorar a saúde
mental, influenciando o humor e autoestima dos cidadãos.
Nos dias atuais as pessoas passam seu maior tempo em suas residências,
trabalho ou escola e, quando podem, buscam por espaços de lazer para equilibrar seu
cotidiano e aliviar o estresse diário. Esses lugares devem proporcionar contato com a
natureza, práticas de esportes e atividades diversas ao ar livre. Os diversos exercícios
oferecidos em um parque urbano facilitam a socialização e aumentam o círculo de
amizades dos usuários, que acabam por trocar experiências e informações entre si.
Os seres humanos necessitam de ambientes não transformados pelos homens para
resgatar a saúde e o equilibro psicológico (MENDONÇA, 2012; MELO, 2013).
Os parques urbanos devem oferecer espaços de permanência, que são os
locais que estimulam ações e comportamentos imediatos bem como a assistência ou
a participação desses acontecimentos. Exemplificando: encontro com a natureza,
passeio, descansar, brincar e encontrar os amigos. Esses ambientes possuem
mobiliários próprios conforme a atividade que será oferecida (MATOS, 2010) e podem
inspirar a criação de equipamentos diferentes dos que estamos acostumados a ver,
móveis que estimulem a curiosidade e o desenvolvimento dos usuários (Figura 6 e 7).
Figura 6: Reurbanização da orla do lago
Paprocany na Polônia
Fonte: Archdaily (2014).
Figura 7: Parque Olímpico Drapers Field na
Inglaterra
Fonte: Archdaily (2014).
23
Para um espaço público ou parque urbano ser bem sucedido é preciso que ele
atenda a quatro características fundamentais (vide Figura 8):
1. Ser acessível: pessoas de todas as idades e condições físicas (dificuldades de
locomoção, utilizador de cadeira de rodas e outros) consigam chegar até o local
e deslocar-se nele sem impedimento.
2. Ser ativo: oferecer diferentes atividades e maneiras de as pessoas utilizarem
os ambientes.
3. Ser confortável: disponibilizar lugares para sentar com vistas privilegiadas e
outros singularidades que o tornem atrativo.
4. Ser sociável: lugar onde as pessoas possam encontrar amigos ou aumentar
seu círculo de amizades e promover a socialização entre diferentes culturas
(PLACEMAKING BRASIL, 2017).
Figura 8: Diagrama de avaliação de espaços públicos
Fonte: Placemaking Brasil (2017).
Os acessos e conexões que um parque estabelece com seu entorno também
devem ser analisados. Para um espaço público ser bem sucedido, os usuários devem
ter facilidade de chegar ou ir embora. Para um parque urbano, o ideal é que as
pessoas percorram de suas residências ou do centro da cidade uma distância máxima
24
de 5 quilômetros. A segurança do local acontece por permitir que as pessoas tenham
permeabilidade visual tanto para perto quanto para longe e que as ruas do entornam
ofereçam variedade de comércio em edificações ao nível dos olhos, com bastante
aberturas em suas fachadas, o que consequentemente atrai a população e torna os
espaços bem movimentados (BUSATO, 2016; PLACEMAKING, 2017).
A cidade de Não-Me-Toque possui áreas verdes demarcadas em todos os
bairros, mas a maioria na realidade, são apenas vazios urbanos. As duas principais
praças do município (Figura 9) são a praça central Dr. Otto Schmiedt, a qual oferta o
maior número de equipamentos urbanos e atividades (Figuras 10 e 11), e a pracinha
da Cohab (Figuras 12 e 13) que não se encontra em bom estado de conservação
(PREFEITURA MUNICIPAL, 2017). Nas Figuras 14 e 15 é possível observar os eixos
verdes que ligam os trajetos principais entre essas áreas e que auxiliam na redução
de resíduos na atmosfera e possuem uma função estética admirável (ARCHDAILY,
2012).
Figura 9: Mapa da cidade com localização das praças e áreas verdes
Fonte: Prefeitura Municipal (2017), adaptado pelo autora (2017).
25
Figura 10: Praça Central Dr. Otto Schmiedt
Fonte: Autora (2017).
Figura 12: Brinquedos praça Cohab
Fonte: Autora (2017).
Figura 11: Playground praça central
Fonte: Autora (2017).
Figura 13: Má conservação praça Cohab
Fonte: Autora (2017).
Figura 14: Eixo verde 01
Fonte: Autora (2017).
Figura 15: Eixo verde 02
Fonte: Autora (2017).
Contudo, podemos observar que embora todas as cidades ofereçam
determinadas áreas verdes para sua população, poucas tem um espaço organizado
e funcional, de modo que na maioria das vezes não passam de lugares simplesmente
espalhados pela malha urbana (LOBODA; ANGELIS, 2005). Assim, a afirmação de
Guiducci (1975, p.47) nos deixa um ponto importante de reflexão:
[...] construir sim, mas um mundo claro e humano, ser bons construtores. Construir com todos os instrumentos oferecidos pelo progresso da técnica e da indústria, porém lembrando que o homem necessita de ar, de sol, de verde, e de um espaço para seus movimentos.
26
2.2.3 Importância dos centros de eventos e suas características
De acordo com dados do Sebrae (2017), o Brasil tem um crescimento
aproximado de 14% ao ano no mercado de eventos. Esse aumento fomenta a
economia brasileira, pois auxilia na geração de empregos, turismo e renda. O estado
do Rio Grande do Sul encontra-se em terceiro lugar na realização de eventos (Figura
16), e a cidade de Não-Me-Toque contribui para esses números. O alto índice de
eventos sociais, culturais, encontros e seminários que a cidade realiza
periodicamente, seja através dos órgãos municipais ou financiados pelas grandes
empresas do município, atraem pessoas de toda a região e se faz então, necessário
um espaço adequado para a efetuação dessas atividades de modo que todos os
usuários possam sentir-se confortáveis e seguros (PREFEITURA MUNICIPAL, 2010).
Figura 16: Número de eventos segundo as regiões brasileiras
Fonte: ABEOC Brasil/Sebrae (2017), adaptado pela autora (2017).
A modalidade de turismo de eventos e as buscas espaciais específicas para
atender a população possuem relação direta com a infraestrutura urbana e os tipos
de edifícios relacionados com os eventos (PAIVA, 2013). Assim, os centros de eventos
podem possuir um caráter permanente ou ocasional de acordo com as palavras de
Vargas e Lisboa (2011, p. 152 e 153)
A realização de grandes eventos no espaço urbano já construído revela dois tipos principais de espaços: os permanentes e os ocasionais. Os permanentes referem-se a espaços que foram concebidos para uma atividade principal, de eventos, definindo em projeto as premissas de ocupação, dimensão e localização, ainda que esse espaço possa ser utilizado para outras atividades. Entre eles incluem-se pavilhões de exposições, centros de convenções, auditórios, salas de concerto, templos religiosos, salões de festas, ginásios, estádios, recintos para exposições, casas de
27
música, autódromos, sambódromos, hípicas, clubes associativos, recreativos e esportivos. (...). Os espaços ocasionais de eventos, (...), são espaços estratégicos, utilizados temporariamente, de acordo com os objetivos de determinado evento. Como exemplo, podemos citar os logradouros públicos,
tais como ruas, praças, viadutos e parques.
Há ainda três pontos fundamentais que constituem os eventos programados:
público alvo, tipo de apresentação e espaço de realização. Para que um centro de
eventos seja funcional, é necessário estabelecer uma inter-relação entre esses
elementos principais, de maneira a facilitar a identificação e controle de sua
interferência no espaço urbano. As atividades previamente programadas exigem
gestão e controle, bem como a definição de normas e procedimentos que envolvam o
poder público da cidade (VARGAS; LISBOA, 2011).
O Ministério do Turismo (2008) afirma que estes centros devem ofertar espaços
para a realização de eventos de qualquer gênero, através da implantação de novos
equipamentos e uso da tecnologia que ajudarão na realização dos mesmos com
viabilidade financeira. O local para a consumação das atividades precisa atender
alguns pontos, tais como qualidade dos serviços oferecidos, capacidade e
infraestrutura básica dos ambientes (GIACAGLIA, 2003).
O Centro de Eventos no Ceará (Figura 17) é um exemplo de local permanente
e traz diretrizes interessantes a serem notadas, que devem ser levadas em
consideração para que futuramente não afetem a comunidade próxima do local de
implantação. Diretrizes as quais podemos citar: eixos de expansão urbana que podem
acarretar em um processo de segregação espacial, qualificação ou degradação dos
espaços já existentes, valorização imobiliária, consideração das paisagens e
elementos naturais e predominância do pedestre sobre o automóvel. É preciso
atenção ao projetar espaços grandiosos como um centro de eventos, para que não
ocorra as situações acima, observadas na inserção deste edifício no Ceará (PAIVA,
2013).
Figura 17: Centro
de Eventos no
Ceará
Fonte: Vitruvius
(2014).
28
Ao fim desta análise, conclui-se que os centros de eventos existentes nas
cidades não limitam-se apenas para negócios e/ou turismo, e sim também, espaços
que proporcionam cultura, diversão e lazer para os cidadãos (MINISTÉRIO DO
TURISMO, 2008). A interação lugar-público deve acontecer de maneira a valorizar
ambos sem interferência nos ambientes já existentes. A busca incessante pelas
melhores decisões projetuais resultam em um espaço pertencente à população e ao
local de implantação, que trará inúmeros benefícios para seus usuários.
2.2.4 Conforto acústico em grandes espaços
Acústica é o ramo da Física que analisa e compreende o comportamento das
ondas sonoras e sua propagação em determinado ambiente. Para que ela aconteça,
são necessários três elementos: fonte sonora, receptor e um meio de propagação
(PINTO, 2012). O ruído pode ser definido como um som imprevisto formado por um
grande conjunto de frequências aproximadas ou ainda, um fenômeno físico vibratório
que não contém informações úteis para a realização das tarefas (CATAI et al, 2006;
ALVES, 2008).
Os ruídos oriundos do meio urbano podem causar desconfortos e transtornos
no interior das edificações, principalmente em ambientes de grande proporção onde
ocorrem eventos (auditórios). Os materiais corriqueiros utilizados nas construções
(blocos cerâmicos, concreto e outros) possuem características de isolamento
acústico, mas nem sempre são o suficiente para a aplicação em locais que necessitam
de mais atenuação do som (CATAI et al, 2006).
Os auditórios de múltiplo uso são áreas preeminentes dentro do contexto que
estão inseridos e merecem muito cuidado na hora de projetá-los. Por isso, esses
espaços devem atender questões técnicas, proporcionar conforto ambiental e acústico
ao seus usuários e apresentar qualidade estética. As decisões projetuais devem estar
fundamentadas em critérios de acústica e cenotécnica, partido arquitetônico,
geometria, volumetria, capacidade e distâncias. O cuidado com essas definições
resulta em um espaço funcional e agradável para todos os envolvidos na execução
de um evento (SOLER et al, 2005).
Com aporte no pensamento de Vianna e Ramos (2005) o conforto acústico
existe quando há o mínimo de esforço fisiológico em relação ao som, a luz, o calor e
29
à ventilação para a realização de uma atividade. As principais variáveis para atingir
um conforto acústico bom são: o entorno, a arquitetura, o clima e a
orientação/implantação da edificação. A capacidade de absorção de determinado
material acontece quando o mesmo consegue dissipar a energia que incide sobre ele.
Por isso, a escolha dos instrumentos que ajudarão a tornar o ambiente confortável
deve ser feita de acordo com o objetivo a ser atingido, que pode ser de corrigir, reduzir
ou eliminar o ruído (CATAI et al, 2006).
Materiais fibrosos e/ou porosos como as lãs minerais, lã de rocha, lã de vidro
(Figura 18), alcatifas (Figura 19), tecidos e materiais plásticos são caracterizados por
terem apenas parte do seu volume preenchido por material maciço, as outras partes
são cavidades preenchidas por ar. Quando as ondas sonoras encontram-se com
esses orifícios, as mesmas ficam sujeitas a movimentos oscilatórios devido às fricções
existentes nessas fibras, e são transformadas em energia térmica (PINTO, 2012).
Figura 18: Lã de vidro
Fonte: Nextgroup (2016).
Figura 19: Rolo de alcatifa
Fonte: Leroy Merlin (2017).
Todos os objetos e mobiliários que farão parte de um auditório devem ser
elaborados em função da acústica. A organização formal do espaço influencia na
dispersão do som, principalmente na maneira como a plateia é disposta (Figura 20 e
21). Normalmente, os ambientes que necessitam de um nível mais leve de ruídos não
possuem grandes aberturas em suas paredes. Isso ocorre para evitar que o barulho
externo atrapalhe as atividades que estão acontecendo. Por isso, normalmente os
projetistas optam por utilizar ar-condicionado para obter o conforto térmico do local. O
acompanhamento constante em obra, com medições acústicas apropriadas e a busca
por consultorias especializadas de profissionais específicos de cada área é
imprescindível para que o resultado final atenda todas as expectativas (SOLER et al,
2005).
30
Figura 20: Forma do auditório e a área ocupada pela plateia
Fonte: Architectural Acoustics: principles and design (1999).
Figura 21: Cortes esquemáticos de organização da plateia
Fonte: Architectural Acoustics: principles and design (1999), adaptado pela autora (2017).
2.2.5 Anfiteatros e conchas acústicas
O anfiteatro também é caracterizado como espaço público, visto que oferece a
população movimentos artísticos democráticos e servem como um forte atrativo
cultural para os usuários. Assim, pode-se dizer que anfiteatros são lugares
organizados de forma circular ou semicircular, que possuem o palco como parte
central rodeado por arquibancadas (ANDRADE, 2014). Os mesmos tem origem na
civilização Grega, onde a população reunia-se para assistir espetáculos religiosos em
homenagem ao Deus Dionísio. A estrutura era organizada nas encostas das colinas,
para aproveitar o declive natural e ter mais controle sobre a distribuição do som
(BENEVOLO, 2001).
Os teatros romanos surgem anos mais tarde e eram construídos sobre
estruturas de abóbadas e pilares de madeira, com centralidade em forma de elipse,
31
circundado pelo auditório (arquibancadas). Eram instalados no meio das cidades e
tinham capacidade para abrigar muitas pessoas. Neles os telespectadores assistiam
as lutas dos gladiadores, as quais poderiam ser apreciadas de qualquer ângulo. Como
exemplo de teatros romanos pode-se citar o Pompéia (75 a.C.) e o famoso Coliseu,
em Roma (80 d.C.), de acordo com as Figuras 22 e 23.
Figura 22: Anfiteatro de Pompéia
Fonte: Portal do Professor (2013).
Figura 23: Vista interna do Coliseu
Fonte: Viaje na História (2015).
No Brasil a inserção do teatro ocorreu através da manifestação religiosa, por
intermédio da catequização dos índios. Com o passar do tempo foram surgindo
diferentes apresentações e públicos, bem como tipologias adequadas as
necessidades e as características de cada espetáculo. Atualmente os anfiteatros
contemporâneos buscam inspiração e referências nos padrões das arenas greco-
romanas e tendem a reproduzir seus aspectos formais, transformando-os em
representações simbólicas dos mesmos (MARTINS, 2005; NEVES, 2009).
As conchas acústicas são elementos montados no palco, seja ele em um
edifício ou ao ar livre, com o objetivo de formar a unificação volumétrica entre palco e
plateia. Fazendo jus ao nome, uma concha acústica tem o formato de uma concha
côncava, com sua abertura voltada para o público. As faces laterais devem ser
oblíquas entre si e o teto deve ser inclinado em relação ao piso, conforme Figura 24
(RAMOS, 2008; MACEDO, 2015).
Figura 24:
Comparação
distribuição do som
Fonte: Antônio
Manuel Ávila Macedo
(2015).
32
A forma das conchas acústicas tem como principal objetivo que determinadas
propriedades acústicas evitem que o som refletido pela orquestra ou músicos se
dissipe pelo ar, e sim fazer com que o som seja distribuído de maneira uniforme em
direção a plateia. Por isso, é necessário cuidados acústicos e arquitetônicos na
concepção desse elemento que também faz parte do equipamento anfiteatro
(MACEDO, 2015).
As conchas acústicas dispostas ao ar livre necessitam de mais atenção para
obter uma boa funcionalidade, pois as mesmas não possuem fechamentos laterais
que auxiliam como barreiras para o som não escapar, como no caso de edifícios.
Além disso as mesmas devem ser projetadas para que tenham um bom desempenho
com intempéries (vento, raios solares, chuva), porque estarão diretamente expostas
a esses fatores, conforme pode ser observado na comparação das Figura 25 abaixo
(MACEDO, 2015).
Figura 25: Comparação entre distribuição do som sem elemento horizontal e com elemento
horizontal adicionado (em vermelho)
Fonte: Antônio Manuel Ávila Macedo (2015).
As conchas acústicas de estrutura fixa são construídas de maneira a ficarem
permanentemente em determinado local e podem ser estruturadas com materiais
como o betão armado, alvenaria ou aço. As dimensões da concha e do palco são
variáveis, mas devem ter espaço suficiente para acomodar todos os equipamentos
necessários para a realização dos espetáculos/shows. Um dos exemplos mais
conhecidos de concha acústica com estrutura fixa é a Guggenheim Bandshell em
Nova York (Figura 26), a qual possui 16 metros de altura e tem capacidade para 75
músicos. Os pilares curvos e delgados de betão auxiliam a suportar o restante da
concha, que utilizou do processo construtivo de mistura seca de areia e cimento
através de uma mangueira com ar comprimido (MACEDO, 2015).
33
Figura 26: Guggenheim Bandshell, concha acústica ao ar livre de estrutura fixa
Fonte: Antônio Manuel Ávila Macedo (2015).
2.3 ESTUDOS DE CASO
2.3.1 Estudo de Caso 01: Parque Barigui
O Parque Barigui foi fundado no ano de 1972 e está localizado próximo ao
centro da cidade de Curitiba no Paraná, precisamente entre a Av. Manoel Ribas e a
BR-277, acessos: BR-277 e Av. Cândido Hartmann nos bairros Bigorrilho, Mercês,
Santo Inácio e Cascatinha. Possui uma área de 1.400.000m² e foi projetado
originalmente por Roberto Burle Marx e mais tarde, modificado pelo arquiteto Lubomir
Ficinski. É um dos parque mais procurados do município, pois oferece diversas
atividades de lazer e envolve um grande lago de 230.000m², além de possuir muitas
áreas verdes.
2.3.1.1 Implantação
Figura 27: Localização do
Parque Barigui em meio a
área urbana
Fonte: Google Earth Pro (2017).
34
Figura 28: Implantação e acessos Parque Barigui
Fonte: Parques Urbanos no Brasil, adaptado pela autora (2017).
De acordo com as Figuras 27 e 28 observa-se que o Parque Barigui se adaptou
com o mínimo de intervenções possíveis ao local de implantação, respeitando os três
bosques já existentes, formados por espécies arbóreas nativas e, também
adequando-se a topografia natural do terreno. A quantidade de acessos ao parque
acontece pelo fato de o mesmo estar localizado na área urbana da cidade. O mesmo
se organiza com traços orgânicos, circundando o lago existente e oferecendo acessos
em toda sua dimensão.
2.3.1.2 Programa de Necessidades
O Parque Barigui possui um amplo programa de necessidades para atender
todos os tipos de usuários (Quadro 03, Figura 29, 30 e 31). Na área do parque localiza-
se a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, visto que o principal objetivo do mesmo
é a proteção de fundos de vale, o qual envolve evitar a poluição dos rios e o
assoreamento, proteger as matas ciliares e impedir ocupações irregulares às suas
margens.
Quadro 03: Programa de Necessidades
Ambientes Área aproximada
Ambientes Área aproximada
1. Salão de atos/restaurante 4.905m² 2.Pavilhão de exposições 7.104m²
3. Área de eventos iniciativa pública
6.540m² 4. Heliponto 361m²
5. Blocos de Sanitários 120m² 6. Portal -
7. Lanchonete 600m² 8. Churrasqueiras -
9. Trilha em leito natural - 10. Pista de patinação -
11. Portal de Santa Felicidade - 12. Museu do Automóvel 3.000m²
35
13. Academia de ginástica/lanchonete
221m² 14. Canchas esportivas 4.092m²
15. Pista de caminhada - 16. Área de recuperação mata ciliar
-
17. Secretaria Municipal do Meio Ambiente
200m² 18. Sede dos escoteiros 200m²
19. Rio Barigui - 20. Sede de manutenção 180m²
21. Equipamentos de ginástica - 22. Estacionamento -
23. Trilhas - 24. Ponte -
25. Bistrô 300m³
Fonte: Autora (2017).
Figura 29: Localização dos edifícios/equipamentos de acordo com tabela acima
Fonte: Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba (2017).
Figura 30: Secretaria Meio Ambiente
Fonte: Guia Geográfico (2017).
Figura 31: Salão de Atos e restaurante
Fonte: Amigos do Parque (2012).
36
2.3.1.3 Análise do Centro de Eventos Expo Renault Barigui
O Centro de Eventos Expo Renault situa-se dentro do Parque do Barigui, com
área construída de 7.500m². O edifício é sede para a realização de grandes eventos
como shows, exposições e convenções. O espaço foi projetado com conceito atual de
sustentabilidade ambiental e está totalmente integrado com o parque, demonstrando
respeito a natureza e à cidade. O Pavilhão é sede da Feira de Imóveis do Paraná e é
responsabilidade de dois grandes grupos empresariais de Curitiba. A análise
funcional, formal e de técnicas construtivas e materiais será realizada conforme a
organização da edificação.
2.3.1.4 Funcionalidade
O Centro de Eventos Expo Renault possui um programa de necessidades
simples e funcional. O mesmo possui um espaço público livre, sem colunas, de
5.000m² que fica na parte central e oferece diversas opções de layout. Os demais
espaços se organizam na borda dessa zona principal, facilitando seus usos de acordo
com a necessidade dos usuários. O acesso público, com área de embarque e
desembarque leva até um foyer. Os dois acessos de serviço acontecem no fundo do
edifício. A Figura 32 mostra o zoneamento por setores do prédio, bem como sua
organização em planta baixa e a Figura 33 mostra o organograma e a intensidade de
fluxos de pessoas para cada ambiente.
Figura 32: Zoneamento Centro de Eventos Renault
Fonte: Expo Renault Barigui, adaptado pela autora (2017).
37
Figura 33: Organograma e Fluxograma Centro de Eventos Renault
Fonte: da autora (2017).
2.3.1.5 Forma
A composição formal do Centro de Eventos Renault acontece de modo simples
e racional. O edifício basicamente é composto por retângulos de diferentes tamanhos,
os quais possuem uma face em comum. As duas extremidades do prédio se
prolongam através de um triângulo, o que transmite ideia de movimento ao bloco.
Observa-se também que a edificação se organiza através de uma malha retangular,
composta por dois conjuntos de retas paralelas que estabelecem módulos estruturais,
os quais facilitam a distribuição de modo proporcional de cada espaço (Figura 34).
Figura 34: Malha
Retangular Centro de
Eventos Renault
Fonte: Expo Renault Barigui, adaptado pela autora (2017).
38
2.3.1.6 Técnicas Construtivas e Materiais
A fachada principal da edificação conta com um brise metálico suspenso,
disposto de forma irregular, que auxilia na diminuição da insolação visto que a parede
posterior é inteira de vidro (Figura 35). A marquise de cor alaranjada é feita também
de material metálico e as faces que se prolongam para frente do edifício trazem
madeira e vegetação, proporcionando maior integração com o ambiente (Figura 36).
O prédio é composto por blocos de concreto e possui aberturas em fita nas suas
laterais, bem como algumas triangulações, que sobressaem do volume principal, em
vidro (Figura 37). Nota-se alguns detalhes salientes de cor verde nas demais
fachadas, feitos em ACM (Aluminum Composite Material). No lado interno a estrutura
de treliças metálicas é aparente, e além da abundante iluminação natural, o grande
ambiente conta com luminárias em trilhos dispostas em posições estratégicas (Figura
38).
Figura 35: Fachada principal
Fonte: Urbanização de Curitiba (2017).
Figura 36: Madeira e vegetação
Fonte: Maria Vitrine (2012).
Figura 37: Aberturas em fitas
Fonte: Urbanização de Curitiba (2017).
Figura 38: Ambiente interno
Fonte: Nakid Construção Civil (2017).
39
2.3.2 Estudo de Caso 02: Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio
O Centro Cultural de Eventos e Exposições localizado em Cabo Frio, no Rio de
Janeiro foi resultado de um concurso no qual arquitetos do Estúdio 41 (Dario Corrêa
Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Moura
Rosa Cordeiro) foram os vencedores. O projeto elaborado em 2014 está inserido em
um lote de 5.000m² com geometria irregular e fica as margens da região dos lagos. O
complexo foi concebido para ser de uso multifuncional, exposições e ainda atender o
público geral buscando a interação da comunidade local.
2.3.2.1 Implantação
O Centro Cultural de Eventos têm em sua arquitetura o privilégio de contemplar
uma paisagem natural exuberante no seu entorno. Foi com esse objetivo que o
escritório responsável elaborou um projeto em três blocos: estacionamento e serviços,
edifício e praça. Essa disposição compreende todas as atividades culturais ao nível
do solo, prioriza as visuais tanto do espaço construído como do natural, propicia
intensa relação entre interior e exterior e permite uma comunicação mais equilibrada
entre esses elementos. A Figura 39 mostra a disposição geral do complexo com a
localização específica de cada espaço.
Legenda: 1.Píer/2.Mirante/3.Praça de eventos/4.Embarque e desembarque/5.Carga e descarga/6.Acesso de veículos/7.Guarita e portaria/8.Saída de veículos/9.Estacionamento ônibus/10.Estacionamento 286 vagas/11.Edifício
Figura 39: Implantação e distribuição dos espaços
Fonte: Archdaily (2014), adaptado pela autora (2017).
40
2.3.2.2 Programa de Necessidades
O programa de necessidades foi organizado em um único volume que abriga
as principais atividades ao nível dos olhos. Prevendo um espaço multiuso e flexível, o
auditório e a sala de reuniões foram projetados para que, se necessário, se efetue o
recolhimento das paredes e aumente consideravelmente o espaço do ambiente. Para
coroar o programa elaborou-se a construção de um mirante público, onde localizam-
se também os reservatórios de água, e serve como marco vertical de referência na
paisagem local do Centro Cultural de Eventos. A extensão da praça sobre o lago
acontece através da concepção de um píer, o que amplia o uso do espaço público.
No Quadro 04 encontram-se todos os ambientes existentes no edifício.
Quadro 04: Programa de Necessidades
Geral Área aproximada
Auditório Área aproximada
Reuniões Área aproximada
Circulação 506m² Foyer 359m² Sala (108 lugares)
106m²
Sala técnica 14m² Plateia (500 lugares)
586m² Copa e apoio 20m²
Saguão 465m² Palco 65m²
Bilheteria 25m² Administração 46m² Praça de Alimentação
Área aproximada
Jardim 335m² Apoio técnico 18m² Alimentação 885m²
Eventos e exposições
2.686m² Chapelaria 20m² Lanchonete 18m²
Doca 122m² Copa e apoio 20m² Depósito 12m²
Triagem 61m² Depósito 24m² Lixo 7m²
Camarim 15m²
Restaurante Área aproximada
Área aproximada
Área aproximada
Alimentação 428m² Lixo 6,40m² Resfriados 11,35m²
Tratamento de utensílios
10m² Nutricionista e chefe de cozinha
8,20m² Estoque 11,15m²
Triagem 6,40m² Congelados 10,90m² Cocção 20,35m²
Gambuza/panelas 14m² Vegetais 14,70m² Carnes 15,95m²
Fonte: Autora (2017).
2.3.2.3 Funcionalidade
O Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio possui um amplo
programa de necessidades, mas nem por isso deixa de ser funcional. A planta baixa
de dois pavimentos é um grande retângulo que abriga todos os ambientes em formas
menores. A ideia de espaço multiuso com a opção de paredes reversíveis e as
41
grandes portas principais em guilhotinas para criar espaços maiores otimiza o volume
e o torna flexível, possibilitando a realização de inúmeras atividades em um mesmo
local. A permeabilidade visual, os espaços verdes e a forma como o estacionamento
foi posicionado, separando-o do movimento intenso de pedestres, também auxilia
para que esse complexo se torne funcional, seguro e amplo. A Figura 40 mostra a
setorização dos espaços de acordo com suas classificações e a Figura 41 o fluxo de
usuários de cada zona.
Figura 40: Setorização plantas baixas
Fonte: Archdaily (2014), adaptado pela autora (2017).
Figura 41: Fluxograma por setores
Fonte: Autora (2017).
2.3.2.4 Forma
A forma arquitetônica do Centro Cultural de Eventos Cabo Frio é regular. O
edifício é composto por dois grandes retângulos sobrepostos (Figura 42). A divisão
interna dos ambientes acontece também pelo uso da mesma figura geométrica, mas
42
com tamanhos variados. Nota-se que os espaços foram organizados através de uma
modulação pequena, que se repete nos dois blocos. Há uma composição de cheios e
vazios no prédio, tanto nas fachadas externas quanto nos cenários internos, o que
auxilia a quebrar a monotonia da construção.
Figura 42: Edifício formado por retângulos
Fonte: Archdaily (2014), adaptado pela autora (2017).
2.3.2.5 Técnicas Construtivas e Materiais
O pavilhão faz uso de uma estrutura mista, com dois sistemas principais: nas
alas laterais as vigas são constituídas em concreto armado e tornam-se parte das
fachadas. Já para a cobertura do edifício foram utilizadas treliças espaciais em
alumínio para facilitar a fabricação e a montagem no local. O uso desses dois sistemas
tem como objetivo diminuir o efeito corrosivo do sal nas peças estruturais. As
vedações laterais são basicamente portas de madeira e vidro e, visto que a
composição dos blocos precisava de espaços com grandes vãos, os mesmos
sustentam-se apenas por seis pilares. A Figura 43 mostra as fachadas do prédio e a
Figura 44 exibe um panorama geral de todo o complexo e o seu entorno.
Figura 43: Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio
Fonte: Galeria da Arquitetura (2014).
43
Figura 44: Vista aérea do complexo
Fonte: Galeria da Arquitetura (2014).
2.3.3 Estudo de Caso 03: Centro Cultural La Boisere
2.3.3.1 Implantação
O Centro Cultural La Boisere de 2013, do escritório de arquitetura De-So está
localizado na cidade de Mazan, na França. O mesmo possui uma área construída de
1.740m² e insere-se na paisagem verde de parreiras de Provença, dominado pelo
grande Monte Ventoux (Figura 45). O projeto organizado em dois blocos, feito de
madeira e palha se torna parte do entorno e impressiona com seus detalhes. Na Figura
46 é possível observar o modo como os edifícios estão inserido no terreno e os
principais acessos ao local.
Figura 45: Vista da edificação e entorno de
parreirais de uva
Fonte: Archdaily (2013).
Figura 46: Croqui implantação e acessos
Fonte: Archdaily (2013), adaptado pelo autora (2017).
44
2.3.3.2 Programa de Necessidades
O programa de necessidades está dividido em dois blocos que ficam um ao
lado do outro. O local oferece um teatro multifuncional com capacidade para mil
pessoas (que pode ser adaptado através de uma arquibancada dobrável para receber
shows, casamentos, conferências ou exposições) e salas associativas com ambientes
funcionais e simples, bem como toda a área de serviço, apoio e administrativo. As
circulações circundam os edifícios e são cobertas com pergolados de madeira
prolongados da cobertura. No Quadro 05 encontram-se os principais espaços
oferecidos pelo Centro Cultural.
Quadro 05: Programa de Necessidades
Ambiente Área aproximada
Salão principal 1.271m²
Foyer 152m²
Sala associativa multifuncional A 385m²
Sala associativa multifuncional B 195m²
Sanitários 52m²
Administrativo 41m²
Área de apoio e serviço 208m²
Estacionamento 110 vagas (possível expansão para 300 vagas)
Fonte: Autora (2017).
2.3.3.3 Funcionalidade
A divisão do programa de necessidades em dois blocos aconteceu para
minimizar o impacto sobre o ambiente no qual as edificações estão inseridas. Os
espaços foram distribuídos de maneira lógica, para facilitar o acesso dos usuários sem
qualquer tipo de impedimento. O bloco menor é o pavilhão de entrada para o conjunto,
onde ficam uma sala administrativa/bilheteria, foyer, sala associativa multifuncional A
e sanitários. Já no prédio maior estão inseridos o salão principal, sanitários, sala
associativa multifuncional B e toda a parte competente ao serviço e apoio da estrutura.
A Figura 47 mostra o zoneamento por setores dos edifícios e a Figura 48 a
comunicação e o fluxo de pessoas de cada local.
45
Figura 47: Zoneamento dos blocos por setores
Fonte: De-so Architecture (2017), adaptado pela autora (2017).
Figura 48: Organograma e fluxograma dos ambientes
Fonte: da autora (2017).
2.3.3.4 Forma
A forma arquitetônica empregada nos dois blocos tem como base um retângulo
inclinado. No edifício maior nota-se que as paredes possuem uma angulação que
remete as encostas do Monte Ventoux criando uma interessante silhueta. A face dos
fundos desse prédio possui uma inclinação de 12 metros que auxilia na proteção e
46
sombreamento do salão principal. A edificação menor é organizada de maneira mais
horizontal inspirado nos “retanques”, que são terraços de pedra existentes na região
francesa. A preocupação com o entorno e as características do local serviram de
inspiração para o projeto, tornando-o totalmente integrado com o espaço natural
existente. As Figuras 49 e 50 esclarecem a composição formal adotada pelos
arquitetos.
Figura 49: Relação de altura entre os blocos
Fonte: Archdaily (2013).
Figura 50: Vista do edifício a partir do
estacionamento
Fonte: Archdaily (2013).
2.3.3.5 Técnicas Construtivas e Materiais
A palavra “boiserie” significa trabalho de madeira, material este que, associado
com a palha, foram utilizados na construção desses edifícios (Figura 51). A estrutura
externa é revestida com um quadro metálico que posteriormente recebe as ripas em
madeira de cedro, e as paredes preenchidas com palha comprimida, matérias-primas
abundantes da região (Figura 52). As aberturas em vidro permitem a entrada de luz
solar e auxiliam na iluminação e ventilação natural dos espaços (Figura 53). O salão
principal espelha o exterior com as ripas em madeira, que são configuradas no mesmo
ritmo (Figura 54). O uso desses materiais proporcionam um ambiente acústico versátil
e agradável.
Figura 51: Vista do edifício principal
Fonte: Archdaily (2013).
Figura 52: Ilustração esquemática
Fonte: De-so Architecture (2017).
47
Figura 53: Iluminação natural
Fonte: De-so Architecture (2017).
Figura 54: Salão principal
Fonte: De-so Architecture (2017).
2.3.4 Conclusão
Após a análise de cada um dos estudos de caso acima é possível destacar
algumas características importantes, que podem auxiliar na concepção do projeto: o
Parque Barigui traz em sua extensa área uma enorme diversidade de usos, buscando
atender todos os tipos de usuários. O respeito com a natureza existente e adequação
do programa com a topografia natural fazem com que o complexo se difunda na
paisagem. O Centro de Eventos Expo Renault Barigui têm uma organização formal
simples e funcional, com o salão multifuncional (oferece várias opções de layout por
ser livre de colunas) ao centro e os demais ambientes organizados nas bordas. Porém,
observa-se alguns problemas com o conforto acústico do local, visto que o espaço é
amplo, longitudinal e apresenta treliças espaciais metálicas aparentes.
O Centro Cultural de Eventos e Exposições Cabo Frio compreende um único
bloco com todo o programa de necessidades e ainda oferece uma praça com vista
privilegiada para os lagos existentes. Os arquitetos conseguiram compreender as
potencialidades do lugar e buscar pontos positivos para tornar o programa único e
interessante, como por exemplo o píer e o mirante. Conceber uma arquitetura ao nível
dos olhos com certeza é um grande desafio que foi alcançado neste projeto, a
elaboração de cada espaço e a integração entre ambiente construído e ambiente
natural torna-o especial.
E por fim, o Centro Cultural La Boisere apresenta um programa de
necessidades simplificado, mas funcional e atrativo. A possibilidade de realizar
48
diversas atividades em um mesmo local, optando por recolher ou não a arquibancada
dobradiça, torna o conjunto atraente para a comunidade. A relação arquitetônica
formal e o uso de materiais locais mostra de maneira clara a preocupação dos
profissionais em conceber um projeto em harmonia com o local que o mesmo está
inserido. Assim, o estudo de cada uma dessas peculiaridades será de grande ajuda
para a elaboração do tema proposto para esse trabalho.
49
CAPÍTULO 3: DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO
3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO
Nesta parte será apresentado o diagnóstico da área de implantação, através
do qual se poderá compreender os condicionantes legais e físicos que irão influenciar
nas decisões arquitetônicas.
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL
O terreno de implantação do Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do
Alto Jacuí está localizado na cidade de Não-Me-Toque, região Noroeste do Rio
Grande do Sul (Figura 55). O mesmo situa-se na periferia do município, em área
pertencente a zona rural. Na testada frontal ao lote, que possui 20.476m², encontra-
se o acesso principal à Feira Expodireto Cotrijal. A RS 142 que liga a cidade de Não-
Me-Toque até Victor Graeff também passa defronte ao terreno em questão.
Figura 55: Contextualização Regional (País, Estado, Município e Terreno)
Fonte: Danna Ambientes Planejados (2016), Encontra RS (2017) e Google Maps (2017), modificado pela autora (2017).
3.3 MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS EDIFICAÇÕES
Quando verificados em conjunto, os mapas a seguir auxiliam na leitura de
características do território, como por exemplo, a utilização do local pelos seus
usuários/moradores, sua possível expansão entre outros.
3.3.1 Mapa Nolli: relação entre cheios e vazios considerando todo o entorno imediato
em um raio de 500m. No território do terreno de estudo observa-se a existência de
poucos imóveis e muitas zonas vazias, o que torna a área pouca densificada (Figura
56). É importante ressaltar que as quadras do lado direito do lote escolhido pertencem
a Expodireto Cotrijal e o caráter da maioria das edificações é temporário (somente
quando acontece a feira).
50
Figura 56: Mapa Nolli Cheios e Vazios
Fonte: Autora, 2017.
3.3.2 Uso do solo: demonstra as características de uso e ocupação do solo do
entorno imediato da área de intervenção, o qual é formado basicamente por 53% de
residências, 4% comércio industrial e 43% de uso institucional (Expodireto Cotrijal).
Figura 57: Mapa Uso do Solo
Fonte: Autora (2017).
51
3.3.3 Mapa de alturas: expressa as diferentes alturas das edificações, que no caso
limitam-se a 2 pavimentos, criando um gabarito horizontal baixo com área pouco
densa.
Figura 58: Mapa de Alturas das Edificações
Fonte: Autora (2017).
3.4 INFRAESTRUTURA URBANA
A infraestrutura urbana representa os suportes do funcionamento das cidades
que viabilizam o uso do solo urbano, tais como: rede viária, rede de abastecimento de
água, rede de esgoto cloacal e pluvial, rede de energia e rede de vegetações urbanas.
Sendo assim, as informações a seguir representam a situação atual da área de
implantação do projeto.
3.4.1 Rede Viária: as vias existentes situadas no entorno da área do projeto são
classificadas em: via local (cor amarelo) destinadas apenas ao acesso do lugar, vias
locais (cor rosa) de uso privado exclusivo da Expodireto Cotrijal sendo a maioria das
ruas somente para pedestres, rodovia (cor vermelho) que liga a cidade de Não-Me-
Toque até o município de Victor Graeff e será a principal via de acesso ao lote e a
estrada rural não pavimentada (cor verde), utilizada para o deslocamento dos
agricultores de uma lavoura para outra.
52
Figura 59: Mapa estrutura da rede viária do entorno
Fonte: Autora (2017).
3.4.2 Rede de Água: o levantamento detalhado da localização da rede de água da
cidade não foi possível, pois os órgãos competentes se mostraram incapazes de
divulgar informações. Assim, sabe-se da existência da infraestrutura de água potável
próximo a região do terreno e será necessário uma nova ligação de água para atender
o empreendimento.
3.4.3 Rede de Esgoto Cloacal e Pluvial: o município não possui rede de esgoto
cloacal, então o sistema utilizado nas edificações é a de fossa séptica e sumidouro
(Figura 60). As ruas principais do centro da cidade possuem um sistema de micro
drenagem do esgoto pluvial, porém a área de intervenção em que o lote está
implantado não apresenta nenhum método de coleta da água da chuva.
Figura 60: Esquema do sistema de esgoto de
acordo com NBR 7229/93
Fonte: Águia Indústria (2017).
53
3.4.4 Rede de Energia: no entorno do terreno encontram-se três redes de
transmissão de energia elétrica (Figura 61), sendo que uma destas localiza-se no
interior do lote e terá que ser agrupada com a rede que passa do lado oposto do lote.
A área urbana também conta com infraestrutura de iluminação pública no mesmo eixo
da rede elétrica.
Figura 61: Mapa estrutura da
rede de energia
Fonte: Autora (2017).
3.4.5 Vegetações Existentes: observa-se que na região do terreno de implantação
do projeto existem massas verdes de vegetação de tamanhos variados. A maior
mancha do mapa classifica-se como uma Área de Preservação Ambiental (APP), pois
entre ela passa um córrego de água (Figura 62).
Figura 62: Mapa vegetação existente
no entorno
Fonte: Autora (2017).
54
3.4.6 Mobilidade e condições dos passeios públicos: no entorno do terreno da
implantação do projeto não existem linhas de transporte público (ônibus), visto que há
poucos moradores na região. A ausência de passeios públicos e demais
equipamentos urbanos também é perceptível.
3.5 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO
3.5.1 Dimensões do Terreno: o terreno é formado por linhas inclinadas de dimensões
variadas, as quais correspondem: A= 84m; B= 247,58m; C= 227,50m; D= 48; E= 167m
e F=62,35m (Figura 63).
Figura 63: Dimensões do terreno
Fonte: Autora (2017).
3.5.2 Topografia: o lote possui um desnível de dez metros, mas que acontece de
maneira sutil, de forma a favorecer as decisões projetuais (Figuras 64 e 65).
Figura 64: Topografia natural do terreno
Fonte: Autora (2017).
Figura 65: Relevo do terreno
Fonte: Autora (2017).
55
3.5.3 Ventos Dominantes e Orientação Solar: os ventos dominantes surgem da
posição Nordeste (ventos de verão-vermelho) e Sudoeste (ventos de inverno-azul) e
a o orientação solar acontece da face Leste (sol nascente) para em direção a face
Oeste (sol poente), de acordo com a Figura 66.
Figura 66: Ventos dominantes e orientação Solar
Fonte: Autora (2017).
3.5.4 Projeção de Sombra e Vegetação Existente: no lote não há nenhum elemento
que possa projetar sombra significativa, assim como também não existe vegetação de
porte considerável, sendo que o mesmo é coberto por gramíneas.
3.5.5 Visuais do Terreno: as visuais do terreno mostram um entorno de paisagem
rural. Na testada principal defronte para a RS 142 é possível observar um pouco da
Expodireto Cotrijal. As Figuras 67, 68, 69 e 70 mostram a relação terreno x vizinhança.
Figura 67: Vista 01 – RS 142
Fonte: Autora (2017).
56
Figura 68: Vista 02
Fonte: Autora (2017).
Figura 69: Vista 03
Fonte: Autora (2017).
Figura 70: Vista 04
Fonte: Autora (2017).
3.6 SÍNTESE DE LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS
Para o estudo do Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí
serão utilizadas legislações municipais e normas técnicas pertinentes, tais como: Lei
Nº 1018 e a Lei Nº 4483, o Código de Obras do município de Não-Me-Toque, a NBR
9050 e a NBR 9077.
57
O terreno de implantação do projeto está localizado em área rural (Figura 71) e
por isso serão utilizados índices urbanísticos da zona urbana localizada mais próxima,
que no caso é a Área Industrial (Quadro 06). A distância do centro da cidade até o lote
é de aproximadamente 3 quilômetros.
Figura 71: Mapa Zoneamento Cidade de Não-Me-Toque
Fonte: Autora (2017).
Quadro 06: Índices Urbanísticos
Índices Urbanísticos Área Industrial II: Incentivado
TO 80%
IA 1,2
LM 1000m²
Recuos Frontal: 6m
Lateral e fundos: 3m
Vagas Estacionamento Uma a cada 100 m²
Fonte: Autora (2017).
As diretrizes e informações norteadoras para a concepção do projeto serão
buscadas nas seguintes leis municipais:
58
3.6.1 Lei Nº 1018: trata dos índices urbanísticos, parcelamento do solo e infraestrutura
urbana, de acordo com os itens cabíveis ao projeto abaixo:
- Seção I/Artigo 26: ao longo das rodovias, ferrovias, adutoras, oleodutos e linhas de
transmissão de energia elétrica de alta tensão, será obrigatória a faixa, digo, a reserva
de faixas não edificáveis dimensionadas por legislação específica.
A legislação específica é tratada pelo DNIT que diz que a faixa não edificável da RS
142 que liga o município de Não-Me-Toque ao município de Victor é de 20m a contar
do eixo da rodovia.
- Seção III/Artigo 34: a largura das vias de comunicação, sua divisão em faixas de
rolamento e passeio e demais especificações técnicas, deverão obedecer aos
seguintes padrões (Quadro 07):
Quadro 07: Largura das vias e passeio público
Fonte: Lei 1018 Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque (1987).
- Seção IV/Artigo 40: as ciclovias deverão obedecer as seguintes especificações
(Quadro 08):
Quadro 08: Especificações para ciclovias
Fonte: Lei 1018 Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque (1987).
59
3.6.2 Lei Nº 4483: dispõe de formalidades sobre o Passeio Seguro, conservação e
arborização das calçadas de toda a cidade, de acordo com itens de máxima
importância listados abaixo:
- Capítulo III/Artigo 5º: A construção, reforma e conservação das calçadas, bem como
a instalação de equipamentos e mobiliário urbano, arborização, sinalização, entre
outros permitidos por Lei, deverão seguir os seguintes princípios: acessibilidade,
segurança, continuidade e utilidade, desenho adequado estética e harmonia.
- Capítulo IV/Artigo 6º: As calçadas são compostas por: guias e sarjetas; faixa de
serviço; faixa livre; faixa de acesso e esquina. Exemplo de calçada modelo na Figura
72.
Figura 72: Modelo de calçada
Fonte: Lei nº 4483 Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque (2014).
- Capítulo VII/Seção II/Artigo 32: Os revestimentos de pisos empregados na
construção, reforma ou conservação das calçadas, deverão: Ter durabilidade mínima
de 5 (cinco) anos, possuir resistência à carga de veículos, nas faixas de acesso e no
rebaixamento das guias e ser permeáveis nas faixas de serviço e de acessos nos
locais permitidos.
- Capítulo VII/Seção VI/Artigo 41: Poderão ser ajardinadas as faixas de acesso das
calçadas das vias locais, denominadas calçadas verdes, desde que atendam às
seguintes disposições: a calçada deverá ter largura mínima de 2,00m (dois metros) e
as faixas ajardinadas não poderão interferir na faixa livre de circulação de pedestres,
que deverá ser contínua e com largura mínima de 1,00m (um metro);
60
- Capitulo VII/Seção VII/Artigo 44: A Arborização Urbana consiste em toda cobertura
vegetal de porte arbóreo existente nas cidades, e tem como objetivo despertar o
interesse dos habitantes para a beleza das vias públicas e contribuir para a qualidade
de vida dos cidadãos na diminuição dos efeitos estressantes do concreto, asfalto e
outros equipamentos urbanos. Todo o complexo arbóreo de uma cidade, quer seja
plantado ou natural, compõe em termos globais a sua área verde. As espécies
arbóreas que podem ser plantadas no passeio público devem estar de acordo com os
Quadros 09 e 10.
Quadro 09: Espécies arbóreas utilizadas em calçadas
Calçadas com rede elétrica Calçadas sem rede elétrica
Primavera ou Manacá Ipê Amarelo
Escova de Garrafa Ingá
Extremosa Guabiju
Pitangueira Chuva de Ouro
Tuia Cerejeira Japonesa
Chal-chal Aroeira Periquita
Araçá Chá de Bugre (Carvalinho)
Quaresmeira Jerivá
Murta Cerejeira
Bordo-japonês
Jasmim
Fonte: Lei nº 4483 Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque (2014).
Quadro 10: Distanciamento das unidades arbóreas
Testada Quantidade de unidades arbóreas
Até 10,00m 01
De 10,00m a 15,00m 02
Acima de 15,00m 01 a cada 5,00m
Fonte: Lei nº 4483 Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque (2014).
3.6.3 Código de Obras: traz disposições gerais sobre ambientes, medidas mínimas
e instalações gerais a serem observadas, tendo como principais especificações para
a elaboração do projeto os itens abaixo:
- Seção II/Subseção III/Paredes/Artigo 53: As paredes de alvenaria de tijolos dos
prédios deverão ser assentados sobre o respaldo dos alicerces, devidamente
61
impermeabilizados, e ter as seguintes espessuras mínimas: 0,20m (vinte centímetros)
para as paredes externas e 0,15m (quinze centímetros) para as paredes externas.
- Seção II/Subseção IX/Áreas de Iluminação e Ventilação/Artigo 61: As áreas
destinadas à iluminação e ventilação dos compartimentos das edificações deverão:
ter no mínimo 1,50m (um metro e cinquenta centímetros) de afastamento do vão de
iluminação e ventilação à face da parede que lhe fique oposta ou à divisa do lote,
medido sobra a perpendicular traçada em plano horizontal a partir da parede que lhe
fique oposta ou da divisa do lote, na menor distância do peitoril ou da soleira do
referido vão; permitir a inscrição de um círculo de diâmetro de 1,50m (um metro e
cinquenta centímetros).
- Seção II/Subseção X/Vãos de Iluminação e Ventilação/ Artigo 64: A soma das
superfícies dos vãos de iluminação e ventilação de um compartimento terá seu valor
mínimo definido pela fração da área do piso do compartimento, conforme o seguinte:
salas, dormitórios e locais de trabalho 1/5 (um quinto); cozinhas, copas, lavanderias,
vestiários e despensas: 1/7 (um sétimo) da área do piso; banheiros, escadas,
corredores com mais de 10m (dez metros) de comprimento, garagens e demais
compartimentos de utilização transitória 1/10 (um décimo) da área do piso;
- Seção II/Subseção XIII/Corredores/Artigo 76: Os corredores deverão ter pé direito
mínimo de 2,20m (dois metros e vinte centímetros); ter largura mínima de 1,00m (um
metro) quando servirem a uma economia; 1,20m (um metro e vinte centímetros)
quando servirem a mais de uma economia; 1,50m (um metro e cinquenta centímetros)
quando constituírem acesso a prédios comerciais ou de escritórios, e prédios com
mais de 4 (quatro) pavimentos.
- Seção II/Subseção XIX/Cozinhas, despensas, copas e lavanderias/Artigo 84: As
cozinhas, despensas, copas e lavanderias deverão ter pé direito mínimo de 2,40m
(dois metros e quarenta centímetros); ter área mínima útil de 6,00m² (seis metros
quadrados); permitir a inscrição de um círculo de, no mínimo 2,00m (dois metros) de
diâmetro; ter o piso revestido com material resistente, impermeável e não
escorregadio.
62
- Seção II/Subseção XX/Sanitários/Artigo 85: Os compartimentos sanitários deverão
ter pé direito mínimo de 2,40m (dois metros e quarenta centímetros); ter área mínima
útil de 3,00m (três metros); ter afastamento lateral mínimo entre dois aparelhos de
0,15m (quinze centímetros) ou entre um aparelho e a parede de 0,25m (vinte e cinco
centímetros); ter as as paredes revestidas até a altura mínima de 1,50m (um metro e
cinquenta centímetros) com material liso, resistente e impermeável.
As normas técnicas citadas anteriormente são:
3.6.4 NBR 9050: trata da acessibilidade a edificações, mobiliário e equipamentos
urbanos para que todos os usuários possam usufruir dos espaços e instrumentos
oferecidos com segurança, autonomia e sem qualquer tipo de impedimento. Os
parâmetros básicos abaixo (não anulam a observação da norma inteira) são de grande
importância para a concepção do projeto e devem ser respeitados:
- Módulo de referência: projeção de 0,80m por 1,20m no piso, ocupada por uma
pessoa utilizando cadeira de rodas motorizadas ou não (Figura 73).
Figura 73: Módulo de referência
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
- Área de manobra de cadeiras de roda sem deslocamento, conforme Figura 74.
Figura 74: Área de manobra de cadeiras de obra
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
- Rampas: são consideradas rampas às superfícies de piso com declividade igual ou
superior a 5%. A inclinação das rampas dever ser calculada pela seguinte equação:
63
i: h x 100/c onde i= inclinação expressa em porcentagem (%), h= altura do desnível e
c= comprimento da projeção horizontal (Figura 75 e Quadro 11).
Figura 75: Vista superior dimensionamento de rampas
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
Quadro 11: Dimensionamento de rampas
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
- Sanitários: as medidas mínimas são representadas de acordo com a Figura 76.
Figura 76: Medidas mínimas sanitários
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
64
- Assentos públicos: medidas mínimas de acordo com a Figura 77.
Figura 77: Medidas mínimas
assento público, em metros
Fonte: ABNT NBR 9050
(2015).
- Anteparos em arquibancadas: Os assentos para Pessoa com Mobilidade Reduzida
(PMR) e Pessoa Obesa (PO) devem estar localizados junto aos corredores e de
preferência nas fileiras contíguas às passagens transversais, sendo que os apoios
para braços no lado junto aos corredores devem ser do tipo basculantes ou removíveis
(Figura 78).
Figura 78: Exemplo de anteparos em arquibancadas
Fonte: ABNT NBR 9050 (2015).
3.6.5 NBR 9077: prevê saídas de emergência para as edificações a fim de que,
quando necessário, os usuários possam abandonar o edifício e o trabalho dos
bombeiros seja facilitado. Itens de grande importância a serem observados:
65
- Unidade de passagem: Largura mínima para a passagem de uma fila de pessoas,
fixada em 0,55 m.
- Dimensionamento das saídas de emergências: A largura das saídas deve ser
dimensionada em função do número de pessoas que por elas deva transitar,
observados os seguintes critérios:
a) os acessos são dimensionados em função dos pavimentos que servirem à
população;
b) A largura das saídas, isto é, dos acessos, escadas, descargas, e outros, é dada
pela seguinte fórmula: N= P/C onde N= número de unidades de passagem, P=
população e C= capacidade da unidade de passagem.
c) As larguras mínimas das saídas, em qualquer caso, devem ser 1,10 m,
correspondendo a duas unidades de passagem e 55 cm, para as ocupações em geral.
Sendo assim, as informações retiradas e analisadas com atenção dos itens
citados acima são de extrema importância para a realização de um estudo seguro e
funcional para todos os usuários.
66
CAPÍTULO 4: CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS
4.1 INTRODUÇÃO
Nesta parte será apresentado o conceito de projeto e suas principais diretrizes.
4.2 CONCEITO DO PROJETO
Após o estudo apresentado, o conceito que servirá como base para todas as
decisões projetuais é a agricultura e todo o seu contexto, bem como a relação do
homem com a natureza. A cidade de Não-Me-Toque conta, quase que em sua
totalidade, com indústrias que produzem implementos agrícolas e novas tecnologias
aliadas a maior produtividade da agricultura. Por isso, nada mais justo que buscar
inspirações e conhecimento dessa área para aplicá-las na concepção do Parque
Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí.
A busca incessante por inovações que facilitem o trabalho dos agricultores e
que aumentam a precisão e o rendimento das lavouras é o principal objetivo de quem
elabora novos equipamentos tecnológicos. Pensar no usuário (propondo maior
qualidade de vida, maior produtividade, facilidade, trabalho de forma precisa e segura)
e na relação que o mesmo é capaz de criar com o local de atividade e proporcionar
conhecimentos que diminuam a agressão ao meio ambiente é imprescindível. De
forma análoga, é possível conectar essas características ao projeto de diferentes
aspectos. Na Figura 79 podemos ver os principais pilares que constituem a agricultura
e a relação que o homem tem com o campo.
Figura 79: Principais características agricultura de precisão
Fonte: InCeres (2017), adaptado pelo autora (2017).
67
A Figura 80 traz as possíveis relações projetuais em que o conceito pode ser
aplicado, de forma a beneficiar todos os usuários, criar relações de pertencimento ao
lugar e tornar os ambientes atraentes e funcionais.
Figura 80: Relações projetuais
Fonte: Dacorum (2014), adaptado pelo autora (2017).
4.3 DIRETRIZES DE ARQUITETURA
A tecnologia encontrada na elaboração dos implementos agrícolas e na forma
arquitetônica das indústrias que fabricam os mesmos pode ser representada através
da arquitetura high-tech. A arquitetura high-tech teve início na década de 70 como o
mais expressivo movimento do modernismo tardio e trazia o conceito de edifício como
obra de arte, as quais pode-se citar as seguintes características: exposição do sistema
técnico (elétrico, hidráulico, climatização e circulação), uso intenso de cores vivas e
acabamentos metálicos, vedação com painel industrializado, uso do vidro e grandes
vãos. Sua principal proposta é oferecer aos usuários espaços capazes de receber
conotações afetivas jamais perturbados por elementos estruturais ou blocos de
circulação e serviço (Figuras 81 e 82).
Figura 81: Centro Pompidou, 1977
Fonte: Archdaily (2012).
Figura 82: Museu do Aço no México, 2007
Fonte: Coisas da Arquitetura (2013).
68
Então os materiais empregados para remeter as características citadas acima
serão: metal (sensação de leveza), vidro (transparência e relação com o lugar) e
concreto (sensação de peso), bem como o uso de cores vivas e grandes painéis. Em
relação as decisões projetuais paisagísticas, é possível priorizar as melhores visuais
que o terreno oferece além de criar de forma mais regular e racional (remete a
organização das lavouras) todos os espaços abertos (Figuras 83 e 84).
Figura 83: Grorudparken, Noruega
Fonte: Archdaily (2015).
Figura 84: Margens do Meurthe
Fonte: Archdaily (2013).
4.4 DIRETRIZES URBANÍSTICAS
A implantação do projeto trará diversos impactos positivos para o entorno e
para o município em sua totalidade, por isso algumas diretrizes urbanísticas são
elaboradas para melhorar a qualidade da região e sanar as necessidades dos
usuários. São elas:
- Criação de passeios públicos com equipamentos urbanos e arborização adequada
em todo o entorno do projeto de acordo com as especificidades observada na Lei
Municipal nº 4483 do Passeio Seguro, conforme exemplo da Figura 85;
- Pavimentação das ruas de terra existentes, com devida sinalização;
- Ampliação da ciclovia para que os usuários possam chegar com segurança até o
terreno utilizando esta modalidade de esporte e lazer (Figura 86);
- Criação de um acesso ao complexo, para oferecer maior segurança ao público e não
interromper o fluxo da RS 142 (Figura 87);
- Melhoria ou criação de infraestrutura urbana adequada para toda a região em que o
projeto abrange;
- Tornar a estética do entorno mais limpa e agradável através da transformação das
duas redes de energia elétrica existentes (uma em cada lado da RS 142) em uma só.
69
Figura 85: Passeio público
Fonte: Pinterest (2015).
Figura 86: Ampliação da ciclovia
Fonte: Google Earth Pro (2017), modificado pela autora (2017).
Figura 87: Croqui criação trevo de acesso ao lote
Fonte: Autora (2017).
70
CAPÍTULO 5: PARTIDO GERAL
5.1 INTRODUÇÃO
Nesta parte será apresentado o partido geral do projeto.
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES
Os ambientes do programa de necessidades foram elaborados de acordo com
as necessidades dos munícipes de Não-Me-Toque e com as características
analisadas nos estudos de caso apresentados anteriormente.
Quadro 12: Programa de Necessidades
Legenda:
Administrativo Apoio Técnico Comercial Público Serviço Espaços Abertos
Ambiente Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Recepção/Bilheteria 12 Balcão; cadeira; poltronas e móvel
para TV
Direção 12 Mesa; cadeiras e móvel
Sala de Reuniões 25 Mesa e cadeiras
Produção de Eventos 20 Mesa; cadeiras; computadores
Almoxarifado/DML 10 Prateleiras
Lavabo 2 Cuba e bacia sanitária
Sub Total do Setor 81
Camarins (2) 15 x 2 = 30 Bancada; espelho e poltronas
Sala Apoio Técnico 12 Estante; mesa e cadeira
Depósito Geral/DML 100 Prateleiras
Sub Total do Setor 142
Café 40 Mesas; cadeiras; balcão;
computador e móvel para TV
Cozinha 20 Bancadas; pia; fogão; micro-
ondas; geladeira e freezer
Depósito 15 Prateleiras
Lavabo 2 Cuba e vaso sanitário
Sub Total do Setor 77
Foyer (2) 200 Painéis e bancos
Espaço para Coffee Break 60 Balcão
Copa 15 Bancadas;pia;fogão e micro-ondas
Salão Principal (mil pessoas) 1.200 Poltronas; palco
Salas Multifuncionais A e B 50 x 2 = 100 Móveis diversos
71
Sanitários Masculino e Feminino
(2)
25 x 2 = 50 Cubas; vasos sanitários; mictórios;
espelhos e barras de apoio
Subsolo Estacionamento 1.000 Vagas estacionamento
Sub Total do Setor 2.625
Vestiário Masculino e Feminino 15 x 2 = 30 Chuveiros; cubas; bacias
sanitárias; bancos e espelhos
Sub Total do Setor 30
Estacionamento 3.000 Vegetação e sinalização
Anfiteatro (duas mil pessoas) 1.500 Arquibancada; pista e palco
Academia ao ar-livre 60 Equipamentos ginástica
Quadra poliesportiva 432 -
Quadra futebol
5/Quiosque/Banheiros
770 -
Playground 80 Brinquedos diversos
Ciclovia Variável Pavimentação e sinalização
Pista de caminhada Variável Pavimentação e sinalização
Cancha de bocha 100 -
Espaços de contemplação Variável Bancos; pergolados e vegetação
Sub Total do Setor 5.942
Área Total 8.897
Fonte: Autora (2017).
5.3 ORGANOGRAMA/FLUXOGRAMA
A integração entre todos os setores que compõe o centro de eventos acontece
através do bloco principal nomeado como Público. O acesso principal localizado neste
mesmo espaço permite o direcionamento para a parte comercial ou administrativa,
ambas situadas na parte frontal. A zona pública também conduz para os setores de
serviço e de apoio técnico, as quais encontram-se na parte de trás do edifício (Figura
88).
Figura 88: Organograma
setores centro de eventos
Fonte: Autora (2017).
72
No fluxograma do centro de eventos é possível perceber que a área com maior
intensidade de fluxo localiza-se no setor público (principalmente no salão principal e
no foyer), a de médio fluxo nas circulações que distribuem para os demais espaços e
os ambientes menores caracterizam-se com pouco fluxo de pessoas, conforme
observado na Figura 89. No fluxograma da zona aberta o número maior de pessoas é
percebido do estacionamento para lugares mais frequentados, como por exemplo o
anfiteatro, as quadras de esportes e o playground (Figura 90).
Figura 89: Fluxograma ambientes centro de eventos
Fonte: Autora (2017).
Figura 90: Fluxograma espaços abertos
Fonte: Autora (2017).
73
5.4 PROPOSTAS DE ZONEAMENTO
As propostas de zoneamento apresentadas a seguir (Figuras 91, 92 e 93) foram
realizadas com base nas características do local de implantação (ventos, raios
solares, topografia, visuais e organização do entorno) e estão em ordem de evolução
com diferenças pontuais de uma para outra. Abaixo de cada proposta há um quadro
de análise das particularidades de cada um (Quadros 13, 14 e 15).
Figura 91: Proposta de zoneamento 01
Fonte: Autora (2017).
Quadro 13: Análise da proposta de zoneamento 01
Critérios Avaliação
Funcionalidade Nesta proposta o bloco do centro de eventos possui dois anexos,
sendo o primeiro com os setores comercial e administrativo e o
segundo de serviço e apoio técnico. O anfiteatro está posicionado de
forma retilínea, a área para usuários com faixa etária mais avançada
(cancha de bocha e academia) situa-se próximo a RS 142 trazendo
muitos ruídos, a área esportiva (mais agitada) está no meio da borda
inferior do lote e próximo dela está o playground. O acesso principal
acontece pela testada Nordeste (criação do trevo de acesso) e o
acesso secundário é pela parte Noroeste do terreno. O
74
estacionamento acontece em toda a borda do local, ocupando uma
grande parte da área total.
Forma A forma do edifício do centro de eventos é regular, traçada através de
uma malha de 10m x 10m, sendo a parte pública o bloco principal e
mais robusto e os retângulos menores com menor altura.
Sistema Construtivo O sistema construtivo é estrutura metálica e fechamento em concreto
de forma invertida (estrutura voltada para fora e vedação direcionada
para o lado interno).
Conclusão O estudo deixa a desejar na questão da área de estacionamento, na
posição da área de esporte e na área da cancha de bocha e academia
(ruído vindo da rodovia), bem como a orientação do anfiteatro.
Fonte: autor (2017).
Figura 92: Proposta de zoneamento 02
Fonte: Autora (2017).
Quadro 14: Análise da proposta de zoneamento 02
Critérios Avaliação
Funcionalidade Na proposta dois o bloco do centro de eventos também possui dois
anexos, mas o primeiro possui uma extensão da zona pública e maior
área para o setor administrativo. O segundo bloco menor é composto
75
por área de serviço e apoio técnico. Já o anfiteatro está posicionado
de forma diagonal no sentido Norte-Sul, e há uma inversão entre a
área esportiva e a cancha de bocha e academia, de forma a beneficiar
os usuários. Os acessos continuam no mesmo local da proposta um.
Forma A forma do edifício do centro de eventos é regular, traçada através de
uma malha de 10m x 10m, sendo a parte pública o bloco principal, o
qual prolongou-se um pouco (parte em que ficaria o foyer) e os blocos
de menor tamanho e altura sofreram pequenas modificações em seu
formato.
Sistema Construtivo O sistema construtivo é estrutura metálica e fechamento em concreto
de forma invertida (estrutura voltada para fora e vedação direcionada
para o lado interno).
Conclusão O segundo estudo deixa a desejar na posição inadequada do
playground, o qual atrapalha o acesso ao anfiteatro e quebra a
originalidade de manter o espaço central vazio para a criação de áreas
de contemplação.
Fonte: autor (2017).
Figura 93: Proposta de zoneamento 03
Fonte: Autora (2017).
76
Quadro 15: Análise da proposta de zoneamento 03
Critérios Avaliação
Funcionalidade Na última proposta o bloco do centro de eventos também possui dois
anexos, e o primeiro possui uma extensão da zona pública e maior
área para o setor administrativo. O segundo bloco menor é composto
por área de serviço e apoio técnico. A principal diferença notada nesse
zoneamento é a existência de um subsolo com capacidade de 40%
das vagas de estacionamento necessárias (liberando a área frontal ao
edifício) e que abriga também o setor de serviço. A mudança que
ocorre nos espaços abertos é a localização do playground e a
diminuição de área do estacionamento, bem como a criação de um
segundo acesso para pedestres na testada principal.
Forma A forma do edifício do centro de eventos é regular, traçada através de
uma malha de 10m x 10m, sendo a parte pública o bloco principal,
blocos de menor tamanho que acomodam os demais setores e o
subsolo semienterrado.
Sistema Construtivo O sistema construtivo é estrutura metálica e fechamento em concreto
de forma invertida (estrutura voltada para fora e vedação direcionada
para o lado interno).
Conclusão A terceira proposta é escolhida pela organização dos equipamentos
urbanos de maneira funcional, permitindo que a centralidade do
terreno fique livre para posteriores áreas de contemplação, o edifício
do centro de eventos está localizado na testada Norte do lote, onde
faz bom uso da topografia e permite que os usuários tenham uma
visão geral do mesmo logo que enxergam o complexo. O anfiteatro
também faz uso da topografia natural do terreno, sendo aquela área a
parte com maior declive, facilitando a acomodação dos
telespectadores na arquibancada. A academia, a cancha de bocha e
o playground estão em um lugar adequado para seus usuários, bem
como as quadras esportivas e o quiosque. O estacionamento externo
ficou localizado na borda inferior e permite fácil acesso ao anfiteatro e
aos demais equipamentos localizados naquela região.
Fonte: autor (2017).
77
CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO
Após o estudo, análise e levantamento de todas as informações necessárias
para o desenvolvimento desse trabalho, é possível concluir que a implantação de um
Parque Urbano e Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí se torna necessário para
atender a demanda da população não-me-toquense, através da proposta de lugares
agradáveis, funcionais e qualificados. O centro de eventos auxilia na acomodação
adequada de todos os participantes de seminários e semelhantes desenvolvidas
durante a Feira Internacional Expodireto Cotrijal, bem como a realização de diversos
eventos organizados pelo município ou pelas grandes empresas existentes na cidade.
O parque urbano proporciona diferentes espaços abertos, que trazem cultura,
diversão, esporte e lazer para todos os habitantes, aumentando a qualidade de vida e
melhorando a saúde de quem usufrui desses ambientes. A relação do parque com o
centro de eventos acontece de maneira sútil, levando em consideração todos os
fatores positivos do terreno, como por exemplo a topografia, as visuais, os ventos e
insolação. Embora a localização do complexo aconteça em uma área periférica da
cidade, seus acessos permitem que os usuários tenham facilidade de se deslocar até
ele e podem fazer isso utilizando de mobilidades diferentes do veículo.
Dessa forma, o presente projeto teve como principal objetivo atender todos os
aspectos citados anteriormente, de maneira que a implantação do programa traga
inúmeros benefícios no desenvolvimento da localidade, e que o Parque Urbano e
Centro de Eventos Jardim do Alto Jacuí se torne um marco de referência não só para
a cidade mas para toda a região.
78
CAPÍTULO 7: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Urbanismo da Empresa YCON. 2005, 79 p.
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