BRUNA DE TOLEDO MARIA
EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS ENVOLVIDAS NO TRANSPORTE
TRANSEPITELIAL DE CÁLCIO NA PRÓSTATA DE RATOS EM
ENVELHECIMENTO
Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais
Fevereiro de 2020
BRUNA DE TOLEDO MARIA
EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS ENVOLVIDAS NO TRANSPORTE
TRANSEPITELIAL DE CÁLCIO NA PRÓSTATA DE RATOS EM
ENVELHECIMENTO
Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais
Fevereiro de 2020
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Biologia Celular do
Departamento de Morfologia – Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Ciências.
Área de concentração: Biologia Celular
Orientadora: Dra. Cleida Aparecida de
Oliveira.
A presente dissertação foi realizada no Laboratório de Biologia da Reprodução (LABRE) do
Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Minas Gerais, sob a orientação da Dr.ª Cleida Aparecida de Oliveira. O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001; Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
À minha maravilhosamente grande família, pelo carinho e
apoio.
Em especial, aos meus pais e avós, pelo amor
incondicional e pelos ensinamentos que levarei comigo por
toda a vida.
“Lança o barco contra o mar
venha o vento que houver.
E se virar, nada.
Pega a mala que couber
vira a estrada sem saber.
E se perder, calma.”
Rubel
RESUMO
O cálcio é um segundo mensageiro indispensável para o desempenho de inúmeras funções
celulares, incluindo proliferação, sobrevivência e morte celular. O seu transporte através dos
epitélios é realizado em três etapas e requer a participação de proteínas como o canal TRPV6,
que medeia sua entrada nas células; calbindina, ligante de Ca2+ que facilita sua difusão pelo
citoplasma e protege a célula contra sinais indesejados; e a bomba PMCA, que promove sua
extrusão. O envelhecimento é um processo complexo marcado pela ocorrência de
desregulações nas vias metabólicas celulares, incluindo um desbalanço na homeostase de Ca2+,
o que eleva o risco de desenvolvimento de desordens de grande importância clínica, tais como
câncer de próstata. Ainda assim, o conhecimento acerca da expressão de TRPV6, PMCA e
calbindina e em idade avançada e em lesões epiteliais da próstata é escasso. Portanto, objetivou-
se mapear essas proteínas envolvidas no transporte transepitelial de Ca2+ na próstata saudável
e alterada de ratos Wistar, os quais desenvolvem alterações histopatológicas benignas, pré-
malignas e malignas similares às observadas na próstata humana. Dois modelos experimentais
foram empregados: envelhecimento fisiológico e indução hormonal da carcinogênese por
Testosterona + Estradiol (T+E2). Tecidos-alvo de ratos jovens, assim como as próstatas ventral
e lateral de ratos de diferentes idades foram submetidos a Western blotting para detecção de
TRPV6 e PMCA. Adicionalmente, ensaios imunohistoquímicos foram conduzidos para
detecção de ambos os transportadores e calbindina nas próstatas ventral e lateral de ratos em
envelhecimento e tratados com T+E2. TRPV6 e PMCA foram expressos em níveis mais
elevados pelas próstatas ventral e lateral, em comparação aos demais lobos. As três proteínas-
alvo avaliadas tiveram seus níveis alterados em lesões epiteliais da próstata, sendo que
calbindina foi reduzida em lesões proliferativas de PIN e câncer. PMCA também foi reduzida
nessas duas lesões, além de metaplasia escamosa, PIA e atrofia, enquanto TRPV6 foi
superexpresso por uma subpopulação de células basais, as quais foram mais frequentes em
lesões como metaplasia escamosa, PIA e em alguns sítios de câncer. As alterações pontuais na
expressão dos transportadores de cálcio em lesões prostáticas frequentes no envelhecimento,
assim como a elevada expressão de TRPV6 por uma subpopulação de células basais presentes
nessas lesões, são indicativas de falha no controle da disponibilidade de Ca2+ intracelular,
revelando um possível mecanismo que contribui para o desenvolvimento de desordens
altamente prevalentes na próstata senil.
Palavras-chave: Próstata, Câncer de Próstata, Homeostase de Cálcio, TRPV6, Calbindina,
PMCA.
ABSTRACT
Calcium is a second messenger crucial for the execution of diverse cellular functions, including
cell proliferation, survival and death. Its transport across epithelia is performed in three steps
through the action of proteins as the TRPV6 channel, which mediates its influx in the cells;
calbindin, calcium binding protein that facilitates its diffusion through the cytoplasm and
protects the cell from unintended signals; and the PMCA pump, which promotes its extrusion.
Aging is a complex process marked by the occurrence of metabolic deregulations, including a
disruption in Ca2+ homeostasis that increases the risk for the development of clinically relevant
diseases, such as the prostate cancer. Nevertheless, the expression status of TRPV6, PMCA and
calbindin in advanced age and in epithelial lesions of the prostate remains to be unravelled.
Therefore, we aimed to map these proteins involved in calcium transepithelial transport in the
healthy and altered prostates of Wistar rats, which develop benign, premalignant and malignant
histopathological lesions similar to those of the human prostate. To this purpose, two
experimental models were applied in the present study: physiological aging and hormonal
induction of carcinogenesis by Testosterone + Estradiol (T+E2). Western blotting was
performed in target-tissues of young rats, as well as in the ventral and lateral prostates of rats
of different ages for the detection of TRPV6 and PMCA. Additionally, immunohistochemical
assays were conducted for the detection of both transporters and calbindin in the ventral and
lateral prostates of aging and T+E2-treated rats. TRPV6 and PMCA were expressed in higher
levels by the ventral and lateral prostates, when compared to the other prostate lobes. The three
target-proteins of this study had altered expression levels in epithelial lesions of the prostates,
with reduced calbindin detection in the proliferative lesions PIN and cancer. PMCA was
reduced in these two lesions as well, and also in squamous metaplasia, PIA and atrophy,
whereas TRPV6 was overexpressed by a subset of basal cells more frequently present in
squamous metaplasia, PIA and some sites of cancer. The punctually changed expression of
calcium transporters in prostatic lesions commonly found upon aging, as well as the increased
expression of TRPV6 by a subset of basal cells present in these lesions, are suggestive of a
failure in the control of intracellular calcium availability, and reveal a possible mechanism
contributing to the development of highly prevalent disorders in the senile prostate.
Keywords: Prostate, Postate Cancer, Calcium Homeostasis, TRPV6, Calbindin, PMCA.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação esquemática do complexo prostático de roedores (A) e
próstata humana (B).
14
Figura 2. Histologia e ultraestrutura do epitélio glandular da próstata.
16
Figura 3. Metaplasia escamosa da próstata de camundongo adulto em comparação ao
epitélio normal.
22
Figura 4. Representação esquemática das alterações histopatológicas observadas em
lesões de PIA e PIN.
24
Figura 5. Representação esquemática de diferentes arquiteturas acinares em HGPIN.
25
Figura 6. Representação esquemática da organização histopatológica de
adenocarcinoma prostático bem diferenciado.
28
Figura 7. Representação esquemática da absorção do íon cálcio nos epitélios
intestinal e renal.
30
Figura 8. Representação esquemática de canal TRPV5/6 observado do meio
extracelular.
31
Figura 9. Níveis de expressão dos canais de cálcio TRPV6 (A) e TRPV5 (B) em
diferentes órgãos de camundongos.
32
Figura 10. Representação da estrutura molecular da proteína ligante de cálcio
calbindina.
33
Figura 11. Representação esquemática da ATPase de Ca2+ de membrana plasmática,
em sua conformação ativa.
35
Figura 12. Prevalência estimada para diferentes cânceres em homens de todo o
mundo em 2018.
39
Figura 13. Nível de expressão de TRPV6 (A) e PMCA (B) no complexo prostático,
rim, duodeno e fígado de ratos Wistar.
51
Figura 14. Nível de expressão de TRPV6 (A) e PMCA (B) na próstata ventral e lateral
de ratos Wistar em diferentes idades.
52
Figura 15. Localização de TRPV6 no epitélio normal das próstatas ventral e lateral
de ratos Wistar em diferentes idades.
54
Figura 16. TRPV6 é mais expresso por células basais CK14-positivas em diferentes
lesões da próstata lateral de ratos Wistar.
56
Figura 17. Frequência de células basais intensamente marcadas para TRPV6 em
lesões da próstata lateral de ratos Wistar.
57
Figura 18. Localização de TRPV6 em adenocarcinoma bem diferenciado da próstata
de ratos Wistar.
59
Figura 19. Localização de PMCA no epitélio normal e alterado das próstatas ventral
e lateral de rato Wistar.
61
Figura 20. Localização de TRPV6, PMCA e calbindina em HGPIN de arquitetura
cribriforme da próstata ventral de ratos Wistar.
62
Figura 21. Localização de calbindina no epitélio normal e alterado das próstatas
ventral e lateral de ratos Wistar.
64
Figura 22. Localização de TRPV6, PMCA e calbindina em adenocarcinoma bem
diferenciado da próstata de ratos Wistar
65
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Protocolo de imunohistoquímica empregado para cada proteína-alvo e
anticorpos utilizados.
45
Tabela 2. Incidência de lesões epiteliais prostáticas na próstata de ratos Wistar aos
18 meses de idade.
55
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
AP Próstata anterior ou glândula de coagulação
ATP Adenosina trifosfato
BSA Albumina sérica bovina
Ca2+ Íon cálcio
CaBP Proteína ligante de cálcio
CaM Calmodulina
cb Célula basal
cb-TRPV6++ Células basais intensamente coradas para TRPV6
CK Citoqueratina
DHT Dihidrotestosterona
DP Próstata dorsal
E2 17β-estradiol
ERβ Receptor de Estrógeno tipo 2
H&E Hematoxilina e eosina
HPB Hiperplasia prostática benigna
IP3R Receptores 1,4,5-inositol-trifosfato
LP Próstata lateral
NCX Trocador de íons sódio e cálcio
PBS Tampão salina fosfato, pH 7,4
PIA Atrofia inflamatória proliferativa
PIN Neoplasia intraepitelial prostática
PMCA Ca2+-ATPase de membrana plasmática
PTH Hormônio da paratireoide ou paratormônio
qRT-PCR PCR quantitativo via transcriptase reversa
ROS Espécies reativas de oxigênio
RXR Receptor retinoide X
SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida
SEM Erro padrão da média
T+E2 Testosterona + estradiol
T Testosterona
TBS Tampão Tris, pH 7,4
TRP Receptores de potencial transitório
TRPV Receptores vaniloide de potencial transitório
UA Unidade arbitrária
VDR Receptor de vitamina D
VP Próstata ventral
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................... 13
1.1 Morfofisiologia da próstata.................................................................................... 13
1.1.1 Células luminais..................................................................................................... 14
1.1.2 Células basais......................................................................................................... 15
1.1.3 Células neuroendócrinas........................................................................................ 17
1.1.4 Estroma.................................................................................................................. 18
1.2 Regulação hormonal da próstata............................................................................ 18
1.3 Envelhecimento e desordens prostáticas................................................................ 20
1.3.1 Metaplasia escamosa.............................................................................................. 21
1.3.2 Hiperplasia............................................................................................................. 22
1.3.3 Prostatite e abcesso................................................................................................ 22
1.3.4 Atrofia.................................................................................................................... 23
1.3.5 Neoplasia intraepitelial prostática.......................................................................... 24
1.3.6 Adenocarcinoma.................................................................................................... 26
1.4 Transporte transepitelial de cálcio......................................................................... 28
1.4.1 Influxo de cálcio..................................................................................................... 30
1.4.2 Tamponamento de cálcio....................................................................................... 33
1.4.3 Efluxo de cálcio...................................................................................................... 34
1.5 Sinalização de cálcio e carcinogênese.................................................................... 36
2 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 38
3 OBJETIVOS......................................................................................................... 41
4 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 42
4.1 Animais.................................................................................................................. 42
4.2 Coleta e processamento de tecidos......................................................................... 43
4.3 Histopatologia........................................................................................................ 43
4.4 Imunohistoquímica................................................................................................. 44
4.5 Imunofluorescência................................................................................................ 46
4.6 Extração proteica.................................................................................................... 47
4.7 Western blotting..................................................................................................... 47
4.8 Índices quantitativos de imunomarcação............................................................... 48
4.9 Análises estatísticas................................................................................................ 49
5 RESULTADOS..................................................................................................... 50
5.1 Expressão de TRPV6 e PMCA em tecidos-alvo.................................................... 50
5.2 Imunolocalização de TRPV6 na próstata saudável e alterada............................... 52
5.3 Imunolocalização de PMCA na próstata saudável e alterada................................ 60
5.4 Imunolocalização de calbindina na próstata saudável e alterada........................... 63
6 DISCUSSÃO......................................................................................................... 66
7 CONCLUSÃO...................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 78
13
1 INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 Morfofisiologia da próstata
A próstata é uma glândula sexual anexa do sistema genital masculino, localizando-se no interior
da cavidade pélvica, imediatamente abaixo do colo da bexiga. Ela possui organização ducto-
alveolar, na qual um complexo sistema de ductos ramificados conduz as secreções produzidas
nos ácinos até o lúmen da porção proximal da uretra (Risbridger & Taylor, 2006).
Em roedores, a próstata possui organização multilobar, sendo dividida, de acordo com sua
localização em relação à uretra, em quatro pares de lobos, sendo eles a próstata ventral (VP),
próstata lateral (LP), próstata dorsal (DP) e próstata anterior (AP, anteriormente denominada
glândula de coagulação) (Figura 1) (Hayashi, et al., 1991; Risbridger & Taylor, 2006).
Essa disposição difere da observada para a próstata humana que é alobar, organizada em zonas
concêntricas, que assim como em roedores, são classificadas de acordo com sua localização em
relação à uretra em: zona de transição, zona central e zona periférica (Figura 1). Ainda, é
possível identificar uma quarta região anatômica, denominada zona anterior, a qual
diferentemente das demais, é composta por tecido fibromuscular, sendo, portanto, aglandular
(McNeal, 1988).
Em ambas as espécies, a regionalização da próstata distingue-se não apenas pela organização
anatômica, mas também pelo desenvolvimento de alterações histopatológicas. Dessa forma, a
zona de transição está disposta ao redor da uretra proximal sendo a região onde se observa, com
maior frequência, desenvolvimento de hiperplasia prostática benigna (HPB). Por esta razão, o
acometimento da próstata por HPB é comumente acompanhado por compressão da uretra e
desconforto durante a micção. A zona central, porção que circunda os ductos ejaculatórios, é
raramente acometida por desordens prostáticas. Por sua vez, a zona periférica, que corresponde
à maior parte do volume da próstata humana, envolve a uretra distal e as demais zonas
anatômicas, sendo o principal alvo de distúrbios inflamatórios e onde geralmente se origina o
adenocarcinoma prostático (Figura 1) (McNeal, 1988; Shappell, et al., 2004).
Acredita-se que os lobos prostáticos de ratos e camundongos sejam histopatologicamente
correspondentes às zonas prostáticas humanas, sendo a próstata anterior correspondente à zona
central e as próstatas lateral e dorsal, à zona periférica humana, sendo mais frequentemente
14
acometidas por alterações proliferativas, como o câncer (Figura 1) (Lee, et al., 2011). Não há
evidências de que a próstata ventral seja homóloga a qualquer das zonas prostáticas humanas,
porém esse lobo também é espontaneamente acometido por desordens prostáticas (Morais-
Santos, et al., 2015, 2018; Campolina-Silva, et al., 2018).
Figura 1. Representação esquemática do complexo prostático de roedores (A) e próstata humana (B). (A)
VP: próstata ventral, LP: próstata lateral, DP: próstata dorsal, AP: próstata anterior, SV: vesícula seminal.
Adaptado de (Sugimura, et al., 1986). (B) ZT: zona de transição, ZC: zona central, ZP: zona periférica, ZA:
zona anterior ou fibromuscular, PU: região glandular periuretral. Adaptado de De Marzo, et al., 2007.
A principal função da próstata é produzir, armazenar e secretar o líquido prostático, composto
por enzimas, lipídeos, íons e aminas, desempenhando assim papel de destaque na nutrição,
viabilidade e motilidade dos espermatozoides (Kumar & Majumder, 1995). Três tipos celulares
podem ser identificados no epitélio prostático: a) células luminais; b) células neuroendócrinas;
e c) células basais.
1.1.1 Células luminais
Células luminais, também chamadas células secretoras, possuem elevada atividade secretória,
sendo responsáveis pela síntese e secreção da maior parte dos componentes do líquido
prostático, incluindo grandes quantidades de citrato, assim como de leucina aminopeptidase e
fosfatase ácida. A abundante quantidade de citrato, um ânion orgânico, lançado no fluido
15
prostático cria condições eletroquímicas adequadas para que cátions como potássio (K+), cálcio
(Ca2+), magnésio (Mg2+) e zinco (Zn2+) sejam acumulados em níveis muito superiores aos
encontrados em outros fluidos biológicos (Huggins, et al., 1942; Kavanagh, 1985). Células
luminais secretam ainda diversas enzimas proteolíticas, como ativadores de plasminogênio e
antígeno específico da próstata (PSA), que são essenciais para a liquefação do sêmen coagulado
após a ejaculação, permitindo que os espermatozoides se movimentem livremente pelo trato
genital feminino (Kavanagh & Darby, 1982; Prins & Lindgren, 2015).
1.1.2 Células basais
Células basais prostáticas por sua vez, estão localizadas no compartimento basal do epitélio,
abaixo ou entre células secretoras e neuroendócrinas e intimamente associadas a estas por
desmossomos e interdigitações em suas membranas plasmáticas apical e lateral (Figura 2)
(Timms, et al., 1976). Células basais também são aderidas à membrana basal prostática através
de hemidesmossomos, nos quais espessos filamentos de queratina estão inseridos (Timms, et
al., 1976). Elas apresentam citoplasma escasso com projeções citoplasmáticas de tamanho e
forma variados, dispostas frequentemente paralelas à membrana basal ou perpendicularmente,
em direção ao lúmen, de forma que se acredita serem responsáveis por monitorar o fluido
prostático e promover a comunicação entre componentes epiteliais e estromais, participando
assim da manutenção da homeostase tecidual (Soeffing & Timms, 1995; Hayward, et al.,
1996a; Shum, et al., 2008). A abundância de células basais é uma característica variável entre
as espécies, de modo que é importante salientar a presença de uma camada virtualmente
contínua de células basais no epitélio prostático humano, sendo cerca de dez vezes mais
numerosas em comparação ao epitélio prostático de ratos (Figura 2) (Hayward, et al., 1996b;
El-Alfy, et al., 2000; Risbridger & Taylor, 2006).
16
Figura 2. Histologia e ultraestrutura do epitélio glandular da próstata. Cabeças de seta indicam células
basais, as quais são observadas em maior frequência no epitélio prostático humano (A) quando comparado ao
de rato (B); CL: células luminais; Es: componentes do estroma; Lu: lúmen. Hematoxilina-Eosina. Barra de
escala = 50 µm. Acervo próprio. (C) eletromicrografia do epitélio da próstata lateral de rato, onde uma célula
basal (CB), se encontra interposta entre duas células epiteliais luminais (CL). Nu: núcleo; Vs: vacúolos
secretórios de célula luminal; setas: membrana basal. Adaptado de Timms, et al., 1976.
Estas células não apresentam atividade secretora (Timms, et al., 1976), mas são consideradas
células diferenciadas ativas por alguns autores devido à expressão de enzimas esteroidogênicas,
incluindo altos níveis de aromatase, responsável pela síntese de 17β-estradiol (E2) a partir de
testosterona (T) (El-Alfy, et al., 2000; Laczkó, et al., 2005; Morais-Santos, et al., 2018). Por
outro lado, numerosas são as evidências de que células-tronco, assim como as células
17
progenitoras da próstata, também compõem a população de células basais, que são
independentes de andrógenos para a sua sobrevivência, possuem ciclo celular mais lento que o
de células luminais e são capazes de gerar diferentes tipos celulares in vitro e in vivo (Tsujimura,
et al., 2002; Burger, et al., 2005; Taylor & Risbridger, 2006; Wang, et al., 2014; Toivanen, et
al., 2016; Moad, et al., 2017).
Por serem candidatas ao desempenho de tantas e tão variadas funções, há uma necessidade de
se identificar as diferentes subpopulações de células basais, de modo a contribuir para um
melhor entendimento da fisiologia prostática. Nesse sentido, muitos pesquisadores procuram
encontrar padrões moleculares que auxiliem no reconhecimento de diferentes tipos de células
basais, principalmente de células-tronco prostáticas, utilizando técnicas mais avançadas, como
sorting de células ativado por fluorescência (FACS) acoplado ao sequenciamento de
transcriptoma (RNAseq), ou a convencional imunomarcação (Tsugimura, et al., 2002; Burger,
et al., 2005; Lawson, et al., 2007; Lee, et al., 2014; Liu, et al., 2016; Moad, et al., 2017).
Atualmente, sabe-se que as citoqueratinas de alto peso molecular (CK1, CK5, CK10, e CK14),
assim como o fator de transcrição p63, o regulador de apoptose Bcl2 e a integrina α6 (CD49f),
são moléculas enriquecidas ou expressas exclusivamente em células basais (De Marzo, et al.,
1998; Lee, et al., 2014; Liu, et al., 2016).
1.1.3 Células neuroendócrinas
Células neuroendócrinas são detentoras de características mistas neuronais e epiteliais,
encontradas dispersas no epitélio prostático humano e correspondendo a cerca de 1 a 2% das
células (Laczkó, et al., 2005). Em ratos, as células neuroendócrinas aparentam estar
concentradas em ductos periuretrais, sendo raramente observadas em porções glandulares
(Aumüller, et al., 2012). Seu papel na regulação hormonal da glândula é pouco conhecido,
apesar dos fortes indícios de sua atuação no crescimento, diferenciação e regulação dos
processos secretórios glandulares (Abrahamsson & di Sant'Agnese, 1993; Risbridger & Taylor,
2006). Sua identificação apenas é possível através da utilização de marcadores moleculares
neuroendócrinos, tais como cromatogranina A, sinaptofisina, serotonina e calcitonina (Laczkó,
et al., 2005; Prins & Lindgren, 2015).
18
1.1.4 Estroma
O estroma prostático difere grandemente entre humanos e roedores em termos de proporção e
distribuição de seus componentes. Se por um lado o estroma prostático de ratos é constituído
por tecido conjuntivo frouxo, com células musculares lisas dispostas ao redor de adenômeros e
ductos; por outro lado, em humanos, abundantes fibras musculares lisas compõem o denso
estroma fibromuscular da próstata. Ao contrário de roedores, cujo epitélio possui maior
evidência, o estroma é o compartimento tecidual mais abundante da próstata humana (Hayward,
et al., 1996c; Shappell, et al., 2004; Risbridger & Taylor, 2006).
Em ambas as espécies, observa-se a presença de nervos, vasos sanguíneos e linfáticos e células
de defesa, como leucócitos e mastócitos. Em conjunto, os componentes do estroma prostático
desempenham um importante papel modulador da secreção e diferenciação do epitélio, que
ocorre através de uma comunicação meticulosamente orquestrada entre os dois compartimentos
(Cunha, et al., 1987; Hayward, et al., 1996c; Berry, et al., 2011; Leach, et al., 2015).
1.2 Regulação hormonal da próstata
Sabe-se que o desenvolvimento e a manutenção da morfofisiologia prostática são regulados por
andrógenos, sendo a diidrotestosterona (DHT) o principal andrógeno atuante localmente
(Wright, et al., 1996). Ambos os hormônios, testosterona (T) e seu metabólito reduzido DHT,
atuam através da ligação aos receptores de andrógenos, tendo sido demonstrado, que estes
esteroides possuem capacidade de inibir o crescimento das células do estroma prostático e a
produção de seus componentes, além de estimular a atividade secretora do epitélio glandular.
Os níveis crescentes de andrógenos circulantes no organismo desde o nascimento até o início
da puberdade são os responsáveis pelo crescimento e maturação do órgão (Kumar & Majumder,
1995; Risbridger & Taylor, 2006). No entanto, o mecanismo de regulação da próstata é
complexo e envolve também outros esteroides e seus respectivos receptores nucleares, tais
como estrógenos e vitamina D.
Os estrógenos, popularmente conhecidos como hormônios sexuais femininos, desempenham
funções primordiais para a manutenção da homeostase tecidual em ambos os sexos. De modo
particular, eles participam ativamente da modulação de atividades celulares do seio urogenital
masculino desde o período intrauterino, quando o feto é exposto a altos níveis de estrógenos
19
provenientes do organismo materno, contribuindo para a organogênese prostática (Prins &
Korach, 2008). Sua atuação se dá através da ligação aos receptores de estrógenos de tipo 1 e 2
(ERα e ERβ, respectivamente) e se mantém ao longo de toda a vida, o que pode ser reforçado
pelo fato de que a próstata de humanos e roedores adultos apresenta ampla expressão de
aromatase, enzima responsável pela síntese de estradiol a partir de testosterona (Matzkin &
Soloway, 1992; Morais-Santos, et al., 2018). Além disso, camundongos knockout para o gene
Cyp19a1, o qual codifica a aromatase, apresentaram crescimento prostático exacerbado em
poucos dias após o nascimento, enfatizando a importância do balanço entre andrógenos e
estrógenos para o tecido normal (Risbridger, et al., 2003).
Quanto aos receptores de estrógenos, ERβ está presente em células epiteliais prostáticas e,
quando ativado, desencadeia respostas principalmente antiproliferativas e pró-diferenciação.
Por outro lado ERα é expresso por componentes celulares do estroma, e atua inibindo a
diferenciação epitelial e estimulando a proliferação estromal (Weihua, et al., 2002; Imamov, et
al., 2004; Guerini, et al., 2005; Prins & Korach, 2008; Dondi, et al., 2010; Mak, et al., 2010;
Colciago, et al., 2014).
A vitamina D, por sua vez, é um dos principais hormônios envolvidos na regulação da
homeostase de cálcio e fosfato, sendo indispensável para o desenvolvimento adequado do
organismo e manutenção da mineralização óssea (Hoenderop, et al., 2001). Ela atua através do
seu metabólito ativo, 1,25-dihidroxivitamina D3 (1,25(OH)2D3), também conhecido como
calcitriol, que se liga ao receptor de vitamina D (VDR). No presente trabalho, o termo vitamina
D será utilizado para designar o hormônio em qualquer de suas formas moleculares, enquanto
o termo calcitriol será empregado para referir-se apenas ao metabólito biologicamente ativo.
O complexo calcitriol-VDR se une ao receptor retinoide X (RXR), formando um heterodímero
que age em regiões específicas do DNA, conhecidas como elementos responsivos a vitamina
D, e modulando assim a transcrição de genes-alvo (Haussler, et al., 1998; Trump, et al., 2010).
O complexo calcitriol-VDR-RXR já foi encontrado acoplado a milhares de regiões no genoma
(Seuter, et al., 2014), e dentre elas estão as regiões promotoras de genes importantes para o
transporte de cálcio, tais como os do Receptor Vaniloide de Potencial Transitório 5 (TRPV5),
além de Calbindina (CALB1) (Hoenderop, et al., 2001).
Há evidências da expressão de VDR no epitélio prostático, assim como a atuação do complexo
calcitriol-VDR, como agente antiproliferativo, anti-inflamatório, pró-diferenciação, modulador
da atividade secretora celular do epitélio glandular e estimulador de sistemas antioxidantes da
20
próstata saudável (Peehl, et al., 1994; Leman, et al., 2003; Minelli, et al., 2009). Estes e outros
efeitos relacionados à ação de calcitriol-VDR mostraram-se importantes fatores redutores da
incidência e severidade de fenótipos do câncer de próstata (Johnson, et al., 1996; Christakos, et
al., 2013; Blomberg Jensen, 2014). É importante ressaltar que a próstata, assim como os demais
órgãos do sistema genital masculino, funciona sob influência de inúmeros estímulos
sinalizadores simultâneos e a ação conjunta de hormônios esteroides, em especial andrógenos,
estrógenos e vitamina D, leva a respostas celulares diferentes das observadas quando se estuda
a atuação hormonal individual (Leman, et al., 2003).
1.3 Envelhecimento e desordens prostáticas
Sabe-se que um importante desbalanço hormonal se instala paralelamente ao avançar da idade
configurando, de maneira especialmente importante para o sistema genital masculino,
diminuição drástica na síntese de andrógenos pelas células de Leydig testiculares e consequente
redução nos níveis circulantes de testosterona, com níveis inalterados ou aumentados de
estrógenos, provocando um desequilíbrio na relação andrógenos/estrógenos. Tal desbalanço
hormonal tem sido relatado na literatura como um grande contribuidor para o desenvolvimento
de alterações teciduais diversas, incluindo desordens inflamatórias e/ou proliferativas
(Banerjee, et al., 2001; Cunha, et al., 2001; Bianco, et al., 2002; Prins & Korach, 2008; Beattie,
et al., 2015; Morais-Santos, et al., 2018; Campolina-Silva, et al., 2020).
Simultaneamente à diminuição dos níveis circulantes de andrógenos, observa-se uma queda dos
níveis séricos de vitamina D em indivíduos humanos senis, assim como em ratos em idade
avançada (Passeri, et al., 2008; Campolina-Silva, et al., 2018). Cerca de 80% da vitamina D
atuante no organismo humano é proveniente da epiderme, onde a incidência de radiação
ultravioleta provoca a fotólise do seu precursor 7-dihidrocolesterol. O produto é posteriormente
metabolizado no fígado e rins para originar o calcitriol (Holick, 2004). Uma vez que o
envelhecimento é acompanhado de uma menor concentração de 7-dihidrocolesterol na
epiderme, tem-se que a síntese de calcitriol é afetada. Adicionalmente, a mucosa
gastrointestinal de indivíduos idosos apresenta uma menor capacidade absortiva, o que também
impacta na captação da vitamina D proveniente da dieta (Holick, 2004; Passeri, et al., 2008).
Estudos desenvolvidos por nosso grupo de pesquisa detectaram significativa redução da
expressão de ERβ e VDR, aliada a elevados níveis de ERα e aromatase, especificamente em
lesões prostáticas de caráter proliferativo em ratos idosos (Morais-Santos, et al., 2015, 2018;
21
Campolina-Silva, et al., 2018). Associados à alteração dos níveis hormonais, esses dados
indicam um relevante desbalanço local, no qual parece haver o favorecimento da atuação de
estrógenos via ERα, sendo que estímulos antiproliferativos, antiinflamatórios e pró-
diferenciação, promovidos pela ativação de ERβ e VDR estariam reduzidos em células
epiteliais prostáticas em idade avançada.
Apesar das diferenças anatômicas, a próstata de ratos e camundongos tem sido utilizada como
modelo experimental para o estudo da fisiologia prostática devido à similaridade no
desenvolvimento da glândula e ao fato de que roedores, em especial os ratos, desenvolvem
patologias prostáticas espontâneas, semelhantes às observadas na próstata humana (Pollard,
1973; Xie, et al., 2000; Shappell, et al., 2004). Nesse contexto, a próstata de ratos Wistar
revelou-se um excelente modelo de estudo para o desenvolvimento deste trabalho, tendo sido
amplamente investigada pelo nosso grupo de pesquisa quanto a pronunciada presença de
alterações histológicas em decorrência do processo de envelhecimento (Morais-Santos, et al.,
2015, 2018; Campolina-Silva, et al., 2018, 2020). Algumas das alterações observadas com
maior frequência no epitélio prostático senil de humanos e ratos são descritas a seguir.
1.3.1 Metaplasia escamosa
O epitélio metaplásico escamoso é caracterizado pela substituição das células epiteliais
colunares por múltiplas camadas de células epiteliais achatadas ou de morfologia escamosa em
decorrência da proliferação aberrante de células basais, dando origem a um epitélio estratificado
pavimentoso (Figura 3). É uma alteração proliferativa benigna, mais frequentemente detectada
na zona periférica da próstata humana ou em associação a BPH (Shappell, et al., 2004). Seu
aparecimento está associado a tratamentos antiandrogênicos para o câncer de próstata e à
exposição a estrógenos, de modo que a próstata em desenvolvimento apresenta extenso
acometimento por metaplasia escamosa, uma vez que está exposta a altos níveis estrogênicos
maternos durante o período gestacional (Risbridger, et al., 2001a; Shappell, et al., 2004; Prins
& Korach, 2008). A identificação de tal alteração deve ser realizada preferencialmente
utilizando-se métodos histológicos associados à identificação imunohistoquímica de
marcadores de células basais, tais como as citoqueratinas de alto peso molecular.
22
Figura 3. Metaplasia escamosa da próstata de camundongo adulto em comparação ao epitélio normal. (A)
O epitélio normal da próstata é pseudoestratificado, com esparsas células basais CK14-positivas (cabeças de
seta), de citoplasma escasso e núcleo achatado localizadas entre as células epiteliais luminais CK14-negativas
de núcleo maior e mais arredondado (setas). (B) Imunomarcação amarronzada mostra epitélio estratificado
composto por células basais CK14-positivas. Barra de escala = 50 µm; contra-coloração: Hematoxilina.
Adaptado de Ogura, et al., 2007.
1.3.2 Hiperplasia
A hiperplasia prostática é uma condição proliferativa não-neoplásica de células epiteliais,
fibroblastos e mioblastos de indivíduos em envelhecimento que, em humanos, acomete
principalmente a zona de transição, porção mais intimamente associada à uretra, o que pode
provocar sensação de desconforto durante a micção (McNeal, 1988; Begley, et al., 2008). A
maior celularidade observada nessa lesão leva à evaginação do epitélio prostático em direção
ao lúmen, sem que haja compressão de componentes estromais e interferência na aparência de
adenômeros adjacentes (Shappell, et al., 2004). Em humanos, a expansão de grandes porções
de tecidos glandulares prostáticos, frequentemente levando ao aparecimento de nódulos
macroscópicos, dá nome à desordem Hiperplasia Prostática Benigna, cuja prevalência aumenta
significativamente a partir dos 40 anos, atingindo cerca de 50% dos homens na sexta década de
vida (Young, et al., 2000).
1.3.3 Prostatite e abcesso
O estroma prostático apresenta maior secreção de mediadores inflamatórios com o
envelhecimento (Begley, et al., 2008). Consequentemente, há um maior acúmulo leucocitário
no tecido prostático humano e de roedores, sendo que ao atingir proporções de extensa
23
inflamação periacinar e/ou intraluminal, passa a ser reconhecido como prostatite (Nickel, et al.,
1999; Sfanos, et al., 2018; Campolina-Silva, et al., 2020). Respostas imunológicas decorrentes
da prostatite podem provocar a ruptura do epitélio glandular, caracterizando um abcesso
(Creasy, et al., 2012). A inflamação é uma condição muito comum na próstata adulta e pode
estar acompanhada ou não de sintomas, tendo sido correlacionada à proliferação de células
epiteliais prostáticas e ao risco de desenvolvimento de câncer (Sfanos, et al., 2018; Campolina-
Silva, et al., 2020).
1.3.4 Atrofia
Atrofia é o nome dado à alteração epitelial caracterizada por uma redução da altura do epitélio
colunar da próstata, o qual pode assumir padrão cúbico baixo ou pavimentoso. Áreas de atrofia
epitelial são mais frequentemente observadas na próstata ventral de ratos a partir dos 12 meses
de idade (Morais-Santos, et al., 2015), e em humanos a partir dos 70 anos (McNeal, 1988).
Dessa forma, a atrofia é considerada uma condição consequente do processo de
envelhecimento, possivelmente causada pela diminuição dos níveis teciduais de andrógenos
(McNeal, 1988). Alternativamente, podem ser detectadas glândulas atróficas na próstata de
indivíduos aos 40 anos de idade ou mais cedo, sendo, nestes casos, geralmente decorrente de
um processo inflamatório prévio (McNeal, 1988).
Em algumas situações, é possível identificar lesão hiperproliferativa, conhecida como atrofia
inflamatória proliferativa (PIA), a qual é caracterizada pela atrofia de células epiteliais
colunares associada a inflamação e hiperproliferação de células basais (Figura 4) (De Marzo,
et al., 2016). A PIA pode se desenvolver como uma lesão regenerativa em resposta a danos
celulares causados por insultos inflamatórios, de modo que focos de acúmulo leucocitário,
espessamento do estroma circundante, assim como enriquecimento de células basais são
frequentemente identificados em suas adjacências através de preparos histológicos e
imunohistoquímicos (De Marzo, et al., 2016; Puhr, et al., 2016; Campolina-Silva, et al., 2020).
A PIA é considerada uma lesão pré-maligna, uma vez que pode ser frequentemente observada
em transição direta com neoplasias intraepiteliais prostáticas de alto grau e lesões cancerosas
(De Marzo, et al., 2016; Packer & Maitland, 2016; Puhr, et al., 2016; Campolina-Silva, et al.,
2020). Além disso, as células epiteliais que compõem a PIA apresentam alterações moleculares,
como a maior expressão dos fator de transcrição Bcl-2 e enzima GSTP1, favorecendo a
24
manutenção de um estado antiapoptótico e pró-sobrevivência, respectivamente (De Marzo, et
al., 2016; Packer & Maitland, 2016; Puhr, et al., 2016).
Figura 4. Representação esquemática das alterações histopatológicas observadas em lesões de PIA e PIN.
Danos teciduais podem levar à atrofia inflamatória proliferativa (PIA), caracterizada por respostas focais de
caráter regenerativo e hiperproliferativo no epitélio. Células basais estão presentes em proporções
aumentadas, a altura do epitélio está reduzida e infiltrado inflamatório está geralmente presente nas
adjacências da lesão. PIA é postulada como precursora da neoplasia intraepitelial prostática (PIN), na qual a
proliferação exacerbada de células luminais leva à estratificação do epitélio e atipias nucleares. PIN também
pode estar acompanhada de inflamação. Adaptado de Packer & Maitland, 2016.
1.3.5 Neoplasia intraepitelial prostática
A neoplasia intraepitelial prostática (PIN), anteriormente denominada hiperplasia atípica, é
caracterizada pela proliferação de células epiteliais, de tal modo que a estrutura
pseudoestratificada normal é parcial ou totalmente substituída por uma organização
estratificada (Figura 4). As células frequentemente perdem sua polaridade, adotando diferentes
organizações de arquitetura acinar, cujas denominações fazem referência à forma como o
epitélio estratificado delimita o espaço luminal (Young, et al., 2000; Puhr, et al., 2016). Assim,
PIN podem apresentar arquitetura: a) ondulada; b) plana, na qual a borda apical é linear e
uniforme; c) micropapilar, com formação de estruturas similares a papilas; ou d) cribriforme,
caracterizado por crescimento semiobstrutivo, formando uma rede ou massa compacta de
células epiteliais, onde podem ser observadas pequenas “criptas” luminais (Figura 5) (Young,
25
et al., 2000; Puhr, et al., 2016). A membrana basal localizada sob o epitélio se mantém intacta
e a delimitação externa das unidades glandulares afetadas é geralmente uniforme. Dependendo
do grau de severidade, células atípicas de citoplasma amplo podem ser observadas, assim como
núcleos pleomórficos e hipercromáticos com nucléolos evidentes (Suwa, et al., 2001; Shappell,
et al., 2004; Creasy, et al., 2012).
Figura 5. Representação esquemática de diferentes arquiteturas acinares em HGPIN. Células luminais
prostáticas presentes na PIN perdem a polaridade epitelial normal e podem se organizar em padrões de
arquitetura ondulada, plana, micropapilar ou cribriforme. Tanto LGPIN quanto HGPIN podem apresentar os
quatro padrões de arquitetura, sendo que a diferença entre eles se dá pelo grau de atipia celular e extensão da
lesão. Adaptado de Young, et al., 2000.
A classificação de PIN é variável, tendo sido propostos inúmeros índices de estadiamento
dependendo das variáveis morfológicas e moleculares avaliadas (Park, et al., 2002; Shappell,
et al., 2004; Ittmann, et al., 2013). Park e colaboradores (2002), por exemplo, se utilizaram de
uma gama de modelos murinos transgênicos para estabelecer classificação de I a IV; enquanto
muitos patologistas recomendam o estadiamento entre alto (HGPIN) e baixo grau (LGPIN) para
a classificação da lesão em humanos e modelos animais (Shappell, et al., 2004). Devido à ampla
utilização e aceitação na literatura, as denominações HGPIN e LGPIN serão utilizadas no
presente trabalho para se referir a PIN de baixo e alto graus, respectivamente. Nesse sentido,
PIN são consideradas de baixo grau quando a lesão compromete apenas uma pequena porção
do ácino, de modo que o grau de atipia das células é baixo ou moderado. PIN de alto grau
geralmente apresentam três ou mais camadas de células atípicas exibindo frequentes núcleos
aumentados e núcleolos evidentes. Essa estratificação celular atípica se estende por grande parte
do ácino glandular afetado, podendo obstruir o espaço luminal total ou parcialmente,
independente da arquitetura acinar observada. Em humanos, HGPIN é considerada a principal
lesão precursora do câncer de próstata, devido à sua frequente documentação em associação a
26
adenocarcinoma invasivo e por apresentar alterações epigenéticas e genéticas características de
neoplasias, tais como níveis indetectáveis do fator de transcrição NKX3.1 e a fusão entre
porções dos genes adjacentes TMPRSS2 e ERG (Shappell, et al., 2004; De Marzo, et al., 2016;
Puhr, et al., 2016).
1.3.6 Adenocarcinoma
Através do processo contínuo de proliferação celular que se dá a partir da quarta década de vida,
a próstata sofre aumento gradual em seu volume, o que somado à secreção estromal de
mediadores inflamatórios, cria um microambiente adequado para a proliferação e para o
desenvolvimento de lesões pré-malignas como PIA e PIN (Risbridger & Taylor, 2006; Begley,
et al., 2008; De Marzo, et al., 2016). Consequentemente, a idade se torna um importante fator
de risco para o desenvolvimento de HPB e câncer, doenças prostáticas de maior relevância
clínica atualmente. Ambas são desordens proliferativas cujas incidências se apresentam
notavelmente superiores em indivíduos a partir dos 60 anos de idade, sendo que o câncer de
próstata atinge cerca de 75% da população mundial acima dos 65 anos (INCA, 2018).
Em humanos, o diagnóstico e estadiamento do câncer de próstata são realizados através da
combinação dos níveis de PSA sérico, presença e volume de tumor palpável ao exame de toque
retal e avaliação quanto ao comprometimento de órgãos vizinhos ou distantes. Adicionalmente,
é realizada a análise histopatológica de biópsia prostática de acordo com o estadiamento de
Gleason, no qual a pontuação do padrão histológico neoplásico predominante é somada à
pontuação do padrão neoplásico mais avançado, obtendo-se um score de 2 a 10, no qual 10
equivale ao carcinoma menos diferenciado e mais invasivo (Epstein, et al., 2016; SBOC, 2017).
Dentre as neoplasias prostáticas, aquelas advindas de células epiteliais glandulares
transformadas, os adenocarcinomas, são as mais comuns e apresentam padrões histológicos
variáveis. De modo geral, o adenocarcinoma é identificado a partir da observação de células
epiteliais atípicas, cuja razão núcleo/citoplasma está alterada pela presença de núcleos gigantes
e/ou altamente pleomórficos e nucléolos proeminentes, em um arranjo que descaracteriza a
arquitetura pseudoestratificada normal. Figuras de mitose podem estar presentes e o
crescimento de células epiteliais neoplásicas pode ser restrito aos adenômeros prostáticos,
levando a obstrução parcial ou total do lúmen glandular, de modo que a lesão é denominada
não invasiva. Por outro lado, pode haver formação de pequenas glândulas em que a polarização
27
celular é mantida, caracterizando o carcinoma bem diferenciado microacinar (Figura 6); ou
ainda, podem ser encontradas células malignas com morfologia similar à de células
mesenquimais, dispostas entre os componentes do estroma prostático, caracterizando câncer
invasivo pouco diferenciado (Young, et al., 2000). O adenocarcinoma prostático pode estar
acompanhado de espessamento do estroma periacinar e neoformação de vasos sanguíneos,
assim como de acúmulo leucocitário em graus variáveis, abcesso e até necrose (Young, et al.,
2000). É importante ressaltar que as lesões neoplásicas são consideravelmente diferentes
quando comparadas entre espécies, de forma que as diretrizes utilizadas para o diagnóstico e
estadiamento do câncer de próstata humano não devem ser aplicadas de forma literal para a
classificação de lesões em modelos animais (Shappell, et al., 2004).
Considera-se que a ausência de células basais seja a principal característica do adenocarcinoma
prostático (Figura 6) (Young, et al., 2000; Packer & Maitland, 2016). Esse fato incita
discussões sobre o papel das células basais para a carcinogênese prostática, sendo que alguns
autores acreditam que elas seriam as responsáveis pelo desenvolvimento do câncer, perdendo
o fenótipo que as caracteriza após a transformação (Bonkhoff, et al., 1994; Stoyanova, et al.,
2013; Kwon, et al., 2014). Apesar disso, são relatadas exceções, incluindo o adenocarcinoma
intraductal, que mantém uma camada de células basais intacta (Robinson, et al., 2012; Epstein,
et al., 2016), e raros casos de tumores CK5- e p63-positivos (Tan, et al., 2015; Le Magnen, et
al., 2018; Torres, et al., 2018). Em modelos murinos e em ratos, ambos os tipos celulares
prostáticos (luminal e basal) tem seu potencial carcinogênico comprovado, reforçando a
importância de se interpretar cuidadosamente os achados provenientes de modelos não-
humanos (Packer & Maitland, 2016).
28
Figura 6. Representação esquemática da organização histopatológica de adenocarcinoma prostático bem
diferenciado. O epitélio prostático humano normal (em marrom) é caracterizado por uma camada virtualmente
contínua de células basais (em vermelho). HGPIN, considerada lesão precursora do câncer de próstata,
apresenta padrões moleculares similares aos da neoplasia (células alteradas em azul). Grosso modo, a
progressão tumoral pode seguir dois caminhos: crescimento neoplásico confinado ao ácino glandular, com
retenção da camada de células basais (carcinoma intraductal); e/ou invasão do estroma adjacente por grupos
de células transformadas (carcinoma microacinar). Alternativamente, pode haver colonização reversa de
adenômeros benignos por carcinoma invasivo. Adaptado de Haffner, et al., 2016.
1.4 Transporte transepitelial de cálcio
O cálcio é o cátion mais abundante no organismo humano, sendo a maior parte, cerca de 99%,
estocado no tecido ósseo. O 1% restante é distribuído pelo organismo através da circulação,
sendo que aproximadamente 46% deste cálcio circulante é conjugado a proteínas como
albumina e globulinas, e cerca de 47% (menos de 1% do cálcio corporal), está presente em sua
forma livre ou ionizada, atuando como mensageiro intracelular e participando de inúmeros
processos orgânicos essenciais, desde a contração muscular até a coagulação sanguínea e
muitos outros (Friedman & Gesek, 1995; Ramasamy, 2006). Uma vez livre no citoplasma, o
íon cálcio desencadeia uma série de sinais, sendo, portanto, extremamente necessária a atuação
de inúmeras proteínas, moléculas e íons ligantes que regulam e mantém a concentração
intracelular basal de Ca2+ livre em torno de 0,1 µM. Dessa forma, pequenas alterações nos níveis
deste mensageiro no ambiente celular promovem rápidas respostas moleculares, culminando
em inúmeros possíveis processos metabólicos (Friedman & Gesek, 1995; Ramasamy, 2006).
29
O controle da disponibilidade de cálcio nos diferentes compartimentos orgânicos é complexo,
sendo regulado por hormônios chamados calciotrópicos, como o paratormônio (PTH) e a
vitamina D, que estimulam a captação do íon por enterócitos e a atividade osteoclástica,
provocando um maior remodelamento ósseo e aumentando os níveis circulantes de Ca2+ quando
necessário (Fleet, 2017). Adicionalmente, PTH é o principal responsável por manter a
reabsorção de cálcio nos túbulos renais, possibilitando que cerca de 98,5% do que foi filtrado
nos glomérulos retorne para a corrente sanguínea (Passeri, et al., 2008).
Tratando-se da sua captação através da dieta ou reabsorção renal, por exemplo, existem duas
vias possíveis para o transporte de cálcio entre compartimentos luminais e o espaço intersticial,
de onde ele pode atingir a corrente sanguínea:
a) a via paracelular, na qual o íon é difundido pelo espaço intercelular, atravessando
passivamente as zônulas de oclusão entre as células epiteliais;
b) e a via transcelular ou transepitelial, caracterizada pelo transporte de Ca2+ através do
interior das células, em direção à membrana basal.
Na via transcelular, o cálcio é transportado em três etapas que serão abordadas em maior detalhe
a seguir (Hoenderop, et al., 2005). De modo resumido, inicialmente, o influxo passivo de Ca2+
para o interior da célula ocorre através de canais seletivos localizados na membrana plasmática
apical ou luminal das células. Uma vez no citoplasma, os íons cálcio se ligam com alta afinidade
a proteínas ligantes de cálcio (CaBP), as quais atuam como tamponantes, evitando a
citotoxicidade causada pela presença do íon livre no ambiente intracelular. Simultaneamente,
as CaBP direcionam o cálcio para a membrana plasmática basolateral, onde estão presentes
bombas e trocadores que promovem a extrusão ativa do cálcio intracelular (Figura 7)
(Hoenderop, et al., 2005; Lytton, 2007).
30
Figura 7. Representação esquemática da absorção do íon cálcio nos epitélios intestinal e renal. Calcitriol
(1,25(OH)2D3), é capaz de estimular a transcrição de genes envolvidos no transporte transcelular de cálcio,
promovendo a síntese de TRPV5/6, calbindina, NCX1 e PMCA. TRPV5/6 localizados na membrana plasmática
apical promove o influxo passivo de Ca2+. Uma vez no citoplasma, Ca2+ é reversivelmente ligado a calbindina
e posteriormente lançado para o meio extracelular pelo trocador NCX1 ou pela bomba PMCA, ambos
localizados nas membranas plasmáticas basolaterais. Alternativamente, no transporte transcelular, o íon pode
atravessar passivamente as junções intercelulares para atingir a corrente sanguínea. Adaptado de Hoenderop,
et al., 2005.
1.4.1 Influxo de cálcio
O influxo de cálcio para o interior das células é mediado por diversos canais proteicos, e ocorre
sob estímulos variados em diferentes tipos celulares, incluindo a ligação de agonistas como
ATP e neurotransmissores a receptores específicos, estresse celular e alterações no gradiente
intracelular de Ca2+. A superfamília de Receptores de Potencial Transitório (TRP, Transient
Receptor Potential), composta por canais proteicos seletivos para cátions, possui ampla
participação no transporte de Ca2+, sendo os canais da subfamília Vaniloide (TRPV, Transient
Receptor Potential Vanilloid-Related), os principais responsáveis pela modulação do influxo
do íon cálcio para o meio intracelular (Den Dekker, et al., 2003; Hoenderop, et al., 2005).
A subfamília TRPV possui seis membros, sendo os canais epiteliais de cálcio TRPV5 e TRPV6
(anteriormente conhecidos como ECaC1 e ECaC2, ou CaT2 e CaT1, respectivamente),
31
extensivamente descritos na literatura como canais proteicos envolvidos na manutenção do
balanço corporal de Ca2+, agindo principalmente como facilitador de sua absorção e reabsorção
no intestino e rins, respectivamente (Hoenderop, et al., 2005). Estruturalmente, os canais
TRPV5/6 são compostos por tetrâmeros detentores de seis domínios transmembranares e uma
região hidrofóbica formadora do poro permeável ao íon cálcio (Figura 8) (Den Dekker, et al.,
2003).
Figura 8. Representação esquemática de canal TRPV5/6 observado do meio extracelular. O canal é formado
por quatro subunidades, os quais apresentam seis domínios transmembranares (1 a 6), um curto segmento
hidrofóbico (P), que compõe o poro, entre o quinto e o sexto domínio, e sítios regulatórios localizados em sua
porção citoplasmática (não visualizada na representação acima). Fonte: Den Dekker, et al., 2003.
Nijenhuis e colaboradores (2003) demonstraram através de análise por PCR quantitativo (qRT-
PCR), que a distribuição destes transportadores abrange uma grande variedade de tecidos
(Figura 9). Neste estudo, transcritos de Trpv6 foram predominantes em tecidos de
camundongo, sendo altamente expresso na próstata; enquanto transcritos de Trpv5 foram
detectados principalmente nos rins e tecido ósseo (Nijenhuis, et al., 2003). Assim, dentre esses
dois canais TRPV seletivos para o íon Ca2+, TRPV6 foi eleito como alvo de investigação no
presente trabalho.
32
Figura 9. Níveis de expressão dos canais de cálcio TRPV6 (A) e TRPV5 (B) em diferentes órgãos de
camundongos. Adaptado de Nijenhuis, et al., 2003.
Os níveis de expressão de cada canal TRPV varia entre os órgãos dependendo da espécie
analisada, sendo possível observar predominância de TRPV5 ou TRPV6 no mesmo tecido em
espécies diferentes (Na & Peng, 2014). Além disto, essas duas isoformas, que compartilham
cerca de 75% de homologia em suas sequências de aminoácidos, possuem capacidade de formar
homo e heterotetrâmeros nos tecidos em que ambos são expressos, de maneira que as
características físico-químicas do canal se aproximam às características de uma ou outra
isoforma, dependendo da quantidade de monômeros de TRPV5 ou TRPV6 presente (Den
Dekker, et al., 2003; Hoenderop, et al., 2005).
A atividade dos canais TRPV5 e TRPV6 é controlada por quatro mecanismos conhecidos (Den
Dekker, et al., 2003; Van der Graaf, et al., 2003; Hoenderop, et al., 2005), sendo eles:
a) inibição da atividade dos canais através da ligação de íons Mg2+ no poro, na situação
em que a concentração luminal de Ca2+ se encontra reduzida;
b) recuperação da inibição, que se dá pela substituição dos íons Mg2+ por Ca2+ quando o
gradiente de cálcio é retomado;
c) níveis hormonais e de cálcio proveniente da dieta, os quais determinam a quantidade de
canais expressos;
33
d) interação dos canais com moléculas citoplasmáticas, incluindo CaBP como as
calbindinas e enzimas dependentes de cálcio que podem inativar TRPV por mecanismo
de feedback negativo.
1.4.2 Tamponamento de cálcio
As CaBP pertencem à superfamília de proteínas EF hand, a qual possui mais de 200 membros.
Elas compõem um grupo muito amplo e diverso, sendo classificadas como sensores ou
tamponantes de Ca2+. Estas proteínas apresentam, como principais características, alta afinidade
e especificidade de ligação reversível a cátions divalentes através de sítios de ligação,
compostos por α hélices E e F intercaladas por uma alça rica em resíduos ácidos (Figura 10)
(Tsigelny, et al., 2000; Christakos, et al., 2018). CaBP, dentre as quais estão calmodulina,
parvalbumina, troponina C, calbindina e proteína S100G, participam de inúmeras funções
celulares através da modulação dos sinais desencadeados por cálcio, sendo que as duas últimas
destacam-se como principais componentes tamponantes da via transcelular de transporte de
cálcio (Hoenderop, et al., 2005; Islam, 2012). Calbindina (calb) e proteína S100G,
anteriormente denominadas calbindina-D28k e calbindina-D9k, respectivamente, são capazes de
se ligar a outros cátions, como Cd2+, Sr2+, Mn2+ e Zn2+ com menor afinidade, sendo que
enquanto calbindina possui quatro sítios ativos de ligação ao Ca2+ (Figura 10), S100G possui
apenas dois domínios de ligação ao íon (Li, et al., 1998; Christakos, et al., 2018).
Figura 10. Representação da estrutura molecular da proteína ligante de cálcio calbindina. (A) Os seis
domínios EF de calb estão indicados em: vermelho (EF1), laranja (EF2), amarelo (EF3), verde (EF4), azul
(EF5), e roxo (EF6) (Adaptado de Kojetin, et al., 2006). (B) Cada domínio EF apresenta estrutura molecular
que pode ser comparada a uma mão, onde o dedo indicador seria a hélice E e o polegar, a hélice F (Adaptado
de Christakos, et al., 2018).
34
A expressão de calbindina e S100G foi descrita em diversos tecidos de mamíferos e aves
(Darwish, et al., 1991; Dowd, et al., 1992; Inpanbutr & Taylor, 1992; Li, et al., 1998; Loffing,
et al., 2001; Oliveira, et al., 2012; Na & Peng, 2014). Acredita-se que nos intestino e rins,
tecidos onde ocorre absorção e reabsorção maciça de cálcio, respectivamente, a regulação da
expressão destes ligantes é feita principalmente via calcitriol (Li, et al., 1998), enquanto nos
demais tecidos, essa regulação também seria dependente de fatores locais específicos, como
estrógenos (Darwish & DeLuca, 1992; Criddle, et al., 1997), e andrógenos (Hoenderop, et al.,
2005). Além do tamponamento e direcionamento dos íons cálcio para a membrana basolateral,
calbindina também possui papel de sensor de Ca2+ (Kojetin, et al., 2006), regulador da atividade
da ATPase de Ca2+ de membrana plasmática (Reisner, et al., 1992) e, na ausência de Ca2+, dos
canais TRPV5/6 (Na & Peng, 2014).
1.4.3 Efluxo de cálcio
A extrusão do Ca2+ intracelular ocorre contra um alto gradiente eletroquímico, sendo necessária
a atuação de duas bombas presentes na membrana basolateral celular: trocador de sódio e cálcio
(NCX) e ATPase de cálcio de membrana plasmática (PMCA).
O trocador Na+/Ca2+ possui três isoformas identificadas em mamíferos e atua transportando de
três a quatro íons sódio para cada íon cálcio, sendo que o movimento do cálcio pode ser
bidirecional dependendo especialmente do gradiente eletroquímico (Hoenderop, et al., 2000;
Hoenderop, et al., 2005; Lytton, 2007). Carreadores NCX destacam-se principalmente em
células excitáveis, como neurônios e fibras miocárdicas, devido à sua alta capacidade de
transporte e baixa afinidade aos íons carreados, o que permite a expulsão eficaz de todo o cálcio
utilizado para o estímulo celular (Carafoli, 1991). Por outro lado, as mesmas características que
tornam NCX um excelente sistema de extrusão de cálcio ao final do ciclo funcional celular,
também levam a uma participação mínima dessa bomba na manutenção dos níveis basais de
Ca2+ na célula em repouso e em células não-excitáveis (Carafoli, 1991; Brandenburger, et al.,
2011; Bruce, 2013), sendo esta a razão pela qual ela não será abordada de maneira aprofundada
neste estudo.
Ao contrário de NCX, a PMCA possui menor capacidade de transporte e alta afinidade ao Ca2+,
sendo descrita como o principal mecanismo de manutenção da concentração basal de cálcio
35
livre no meio intracelular em diversos tecidos (Carafoli, 1991; Wilhelm, et al., 2008;
Brandenburger, et al., 2011; Bruce, 2013; Wolf & Wennemuth, 2014). PMCA oscila entre o
estado de repouso e o estado ativo, de forma que sua atividade é precisamente regulada pela
interação de seus domínios citoplasmáticos com adenosina trifosfato (ATP), complexo Ca2+-
calmodulina (Ca2+-CaM) e fosfolipídeos, ou pela mudança conformacional marcada pela
ligação da cauda C-terminal com o sítio catalítico, na ausência de Ca2+-CaM, o que inibe a
extrusão do íon cálcio (Figura 11) (Bruce, 2013).
Figura 11. Representação esquemática da ATPase de Ca2+ de membrana plasmática, em sua conformação
ativa. PMCA apresenta dez domínios transmembranares e quatro domínios citoplasmáticos, sendo eles: cauda
N-terminal, região de ligação a fosfolipídeos, região contendo sítios catalíticos e de ligação ao ATP, e C-
terminal regulador da atividade da bomba, contendo domínios de ligação à calmodulina. Adaptado de Bruce,
2013.
As PMCA são decodificadas por quatro genes que dão origem às isoformas PMCA1 a PMCA4,
e mais de 30 variantes por splicing alternativo, permitindo sua ampla distribuição no organismo
(Hoenderop, et al., 2000; Hoenderop, et al., 2005; Brandenburger, et al., 2011; Wolf &
Wennemuth, 2014). As isoformas PMCA1 e PMCA4 são consideradas constitutivas e podem
ser encontrados em todos os tipos teciduais, enquanto PMCA2 e PMCA3 estão restritas a
células excitáveis como neurônios e fibras musculares (Stauffer, et al., 1993). Acredita-se que
o grande número de variantes proteicas que podem ser geradas a partir de quatro sequências
gênicas torna possível uma distribuição capaz de satisfazer as necessidades individuais de cada
tecido ou tipo celular.
No sistema genital masculino, PMCA4 mostrou ser a isoforma predominante, desempenhando
papel crucial no desenvolvimento e capacitação espermática em roedores, por exemplo
36
(Brandenburger, et al., 2011). Em relação à próstata, Post e colaboradores (2008), relataram a
presença de PMCA1 e PMCA4 no estroma, enquanto apenas a isoforma 1 foi detectada no
compartimento apical de células epiteliais secretoras ao mapear a próstata anterior de ratos,
indicando que neste caso em particular, o transporte transcelular de cálcio ocorre a partir do
compartimento basal, em direção ao lúmen. O estudo demonstrou ainda que mediante
deprivação androgênica, a localização da ATPase é alterada em células secretoras, sugerindo
que a extrusão de cálcio através de PMCA pode ser modulada por andrógenos (Post, et al.,
2008). Por outro lado, uma investigação envolvendo linhagem celular de câncer endometrial
humano mostrou que a administração de E2 provocou uma maior transcrição dos genes que
codificam TRPV6 e PMCA1 (Yang, et al., 2011).
1.5 Sinalização de cálcio e carcinogênese
Os mecanismos de envelhecimento são distintos em diferentes organismos, tecidos e células.
Porém, evidências suportam a teoria de que o envelhecimento é potencializado pela ação de
radicais livres, particularmente por espécies reativas de oxigênio (ROS, Reactive Oxygen
Species), uma vez que os organismos sofrem uma redução gradual de suas capacidades
antioxidantes com o avançar da idade (Minelli, et al., 2009; Beattie, et al., 2015). As espécies
reativas de oxigênio são formadas nas células de forma endógena, principalmente a partir do
processo de respiração celular no interior das mitocôndrias (Minelli, et al., 2009; Yan, et al.,
2006). A partir da sua formação, essas moléculas altamente instáveis podem interagir com
componentes estruturais das células, oxidando-os e provocando a geração de mais espécies
reativas de oxigênio (Minelli, et al., 2009). Nesse cenário, os sistemas de controle da
disponibilidade de Ca2+ intracelular, incluindo os transportadores transcelulares PMCA e NCX
e receptores responsáveis pelo controle do armazenamento do íon no retículo endoplasmático,
tais como receptores 1,4,5-inositol-trifosfato (IP3R), são particularmente susceptíveis aos
efeitos de espécies reativas de oxigênio (Yan, et al., 2006; Holzmann, et al., 2015). Assim,
processos metabólicos normais dos organismos em envelhecimento culminam em maior
estresse oxidativo, geralmente acompanhado por aumento na concentração de Ca2+ intracelular
(Yan, et al., 2006; Minelli, et al., 2009; Holzmann, et al., 2015).
A homeostase de Ca2+ é essencial para o controle de processos celulares diversos, incluindo
uma ampla gama de funções relevantes para os processos de tumorigênese e progressão
37
tumoral, tais como o controle da transcrição gênica, diferenciação, proliferação, apoptose,
migração, adesão e angiogênese (Monteith, et al., 2007; Dubois, et al., 2014). A localização
subcelular, assim como o grau e aspectos temporais de alterações na concentração intracelular
basal de cálcio livre influenciam marcantemente nas vias de sinalização a serem reguladas,
ampliando ainda mais o espectro de possíveis efeitos resultantes (Berridge, et al., 2003). Além
disso, o íon cálcio em sua forma livre apresenta grande genotoxicidade, ou seja, falhas no
controle da sua disponibilidade no compartimento nuclear podem provocar instabilidade entre
moléculas de DNA e proteínas associadas a ele, representando alto risco para o surgimento de
mutações. Como consequência, esse ambiente instável pode favorecer o desenvolvimento de
lesões teciduais, gerando desordens benignas ou malignas (Monteith, et al., 2007).
Considerando a importância do controle rígido da disponibilidade de Ca2+ intracelular para o
desempenho adequado das funções celulares, torna-se necessário o estudo de suas proteínas
transportadoras, tais como TRPV6, calbindina e PMCA, as quais podem afetar e/ou serem
afetadas pelo processo de carcinogênese (Lee, et al., 2011).
38
2 JUSTIFICATIVA
A sinalização de Ca2+ intracelular é essencial para uma ampla gama de funções celulares,
incluindo regulação da proliferação e morte celulares, expressão gênica, invasão e diferenciação
celular. Tratando-se da fertilidade masculina, sabe-se que os fluidos secretados pela próstata e
vesículas seminais, os quais irão se unir aos espermatozoides durante a ejaculação para formar
o sêmen, apresentam o dobro da concentração sérica de cálcio, o que somado à alta quantidade
de citrato, promove condicionamento para a sobrevivência dos gametas no ambiente ácido do
trato genital feminino (Kavanagh, 1985; Blomberg Jensen, 2014). Um estudo do nosso grupo
de pesquisa mostrou que o receptor nuclear de vitamina D, VDR, se encontra amplamente
distribuído no complexo prostático de ratos, sendo mais expresso em animais senis, indicando
que o hormônio possui participação no controle dos processos glandulares durante o
envelhecimento (Campolina-Silva, et al., 2018). É estabelecido na literatura o importante papel
regulatório da vitamina D sobre o balanço de cálcio no organismo, tendo sido demonstrada a
atuação desse hormônio como modulador da expressão e atividade de proteínas como TRPV6,
calbindina e PMCA, confirmando o papel essencial destes transportadores na absorção e
reabsorção de cálcio mediada pelo metabólito ativo da vitamina D (Hoenderop, et al., 2005).
O processo de envelhecimento é acompanhado por alterações significativas nas vias de
sinalização celular, de modo que indivíduos idosos apresentam redução nas defesas
antioxidantes celulares, maior taxa de geração de estresse oxidativo, níveis mais altos de
citocinas inflamatórias, e, consequentemente, menor resistência aos danos decorrentes de
processos metabólicos normais (Minelli, et al., 2009; Vaz, et al., 2015). Adicionalmente, o
aumento na quantidade de espécies reativas de oxigênio, geralmente acompanhado por aumento
na concentração de Ca2+ intracelular livre, representa alto risco para o surgimento de mutações
gênicas e alterações estruturais e funcionais nas proteínas, o que favorece o desenvolvimento
de lesões malignas ou pré-malignas mais frequentemente observadas na senescência (Minelli,
et al., 2009; Holzmann, et al., 2015).
O câncer de próstata é a neoplasia mais prevalente entre os homens de todo o mundo e a segunda
mais incidente, apenas acometendo menos indivíduos que o câncer de pulmão, de acordo com
a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018; Figura 12). No Brasil, o cenário é invertido,
com o câncer de próstata em primeiro lugar quanto ao número de tumores diagnosticados em
2018, e os cânceres de traqueia, brônquios e pulmão em segunda posição (INCA, 2018).
39
Figura 12. Prevalência estimada para diferentes cânceres em homens de todo o mundo em 2018. CPNM:
câncer de pele não melanoma; LNH: linfoma não Hodgkin. Prevalência é demonstrada como número de casos
e como proporção da população mundial por 100.000 pessoas. Fonte: Global Cancer Observatory, WHO
(http://gco.iarc.fr).
Por ser alvo de desenvolvimento de um câncer tão incidente e que oferece grande impacto na
qualidade de vida do portador, a próstata tem recebido grande atenção no âmbito clínico. Sabe-
se que um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de tais acometimentos é o
processo de envelhecimento e que a participação do íon cálcio em muitas das vias de sinalização
celular envolvidas no processo de carcinogênese é indiscutível.
Tem sido demonstrada uma relevante alteração nos níveis de expressão e funcionalidade de
proteínas responsáveis pelo influxo e efluxo de cálcio durante a progressão tumorigênica,
resultando em menor taxa de apoptose e aumento nos processos proliferativos, de migração e
adesão celular (Wolf & Wennemuth, 2014; Déliot & Constantin, 2015). Correlação entre a
expressão do canal de cálcio TRPV6 e a presença de lesões malignas na próstata foi apontada
por diversos estudos, os quais sugerem elevação na transcrição de seu gene de maneira
correspondente ao grau de malignidade do adenocarcinoma prostático e baixos níveis ou
ausência de expressão nas regiões não acometidas (Peng, et al., 2001; Wissenbach, et al., 2001;
40
Zhuang, et al., 2002; Fixemer, et al., 2003; Nijenhuis, et al., 2003; Hoenderop, et al., 2005).
VanHouten e colaboradores (2010) também reportaram distúrbios no transporte transepitelial
de cálcio em câncer de mama, câncer não-cutâneo mais prevalente entre as mulheres no Brasil
e no mundo (INCA, 2018), tendo sido observada relação entre níveis de expressão de PMCA2,
alto grau de malignidade e mau prognóstico em relação à linhagem de células utilizada.
Adicionalmente, há evidências de que CaBP desempenham importante papel na inibição de
atividades pró-apoptóticas, incluindo a capacidade de calbindina de interagir com sinalizadores
de morte celular (Kojetin, et al., 2006). Essa atuação antiapoptótica é facilmente explicada pelo
fato de que CaBP controlam a flutuação da concentração de Ca2+ intracelular, facilitando seu
transporte e reduzindo o estresse oxidativo, uma vez que impedem o íon livre de desencadear
sinais para a morte celular (Jung, et al., 2011).
Considerando as evidências presentes na literatura de que, quando presente em concentrações
adequadas, o íon cálcio desempenha importante papel na homeostase da glândula prostática
através da atuação como mensageiro para a ativação ou inibição de inúmeras vias metabólicas
e sabendo que TRPV6, calbindina e PMCA, são essenciais para o controle da disponibilidade
de Ca2+ no ambiente intracelular, objetivou-se investigar, no presente estudo, o padrão de
expressão dessas proteínas na próstata de ratos. Maior foco foi dado às alterações epiteliais
benignas, pré-malignas e malignas, de forma que os resultados obtidos poderão fornecer
perspectivas em relação à influência do transporte transepitelial de cálcio sobre o
desenvolvimento das alterações histopatológicas frequentemente observadas na próstata de
indivíduos senescentes.
41
3 OBJETIVOS
O presente trabalho objetivou, de modo geral, a investigação acerca da expressão de proteínas
importantes para o transporte transepitelial de cálcio na próstata de ratos Wistar utilizando dois
modelos experimentais: a) o envelhecimento fisiológico; e b) a indução da carcinogênese pela
administração de testosterona + 17β-estradiol.
Os objetivos específicos incluíram:
• Investigar e mensurar os níveis de expressão do canal de influxo TRPV6 e da bomba de
extrusão de cálcio PMCA no complexo prostático em comparação a órgãos chave no
transporte desse íon através de Western blotting;
• Mensurar os níveis de expressão de TRPV6 e PMCA nas próstatas ventral e lateral ao
longo do envelhecimento através de Western blotting;
• Mapear a expressão celular e subcelular das proteínas TRPV6 e PMCA, assim como a
proteína ligante de cálcio calbindina, no epitélio das próstatas ventral e lateral ao longo
do envelhecimento através de imunohistoquímica;
• Investigar se há expressão diferenciada de TRPV6, calbindina e PMCA em sítios de
alterações histopatológicas prostáticas comuns na velhice e decorrentes da indução
hormonal através de imunohistoquímica.
42
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Animais
Ratos Wistar machos, obtidos do Centro de Bioterismo da Universidade Federal de Minas
Gerais, foram mantidos no biotério do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências
Biológicas da UFMG, em estantes climatizadas (umidade relativa de 50 ± 10%; temperatura de
22 ± 2ºC), com água e ração comercial peletizada à vontade (Nuvilab CR1, Quimtia Inc.), e
ciclo alternado de luz e escuro a cada 12 horas. Para o modelo de envelhecimento fisiológico,
os animais foram designados aos grupos de 3, 6, 12, 18 e 24 meses de idade, de forma a abranger
ratos jovens sexualmente maduros a senis. Adicionalmente, ratos Wistar de 12 meses de idade
foram utilizados para o modelo de carcinogênese induzida. Os procedimentos experimentais
foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFMG (CEUA, processos
30/2016 e 344/2018).
Para a indução hormonal de câncer de próstata com a combinação testosterona + estradiol
(T+E2), ratos Wistar machos de meia-idade (12 meses; n = 8) foram submetidos a implante
cirúrgico subcutâneo de tubos de silástica (#508-009; 1,98 mm diâmetro interno x 3,18 mm
diâmetro externo; Dow-Corning Corporation, Midland, EUA), como descrito anteriormente por
Bosland e colaboradores (1995). Após anestesiados por injeção de cetamina 60 mg/kg +
xilazina 8 mg/kg, cada animal do grupo tratado recebeu duas cápsulas de 2,0 cm preenchidas
com propionato de testosterona (#T-1875, Sigma, St. Louis, EUA), e uma de 1,0 cm, com 17-
β-estradiol-3-benzoato (#E-8515, Sigma, St. Louis, EUA) na região do flanco. Animais
controle (n = 5) foram implantados com o mesmo número de cápsulas vazias. Os animais foram
devidamente acompanhados durante a recuperação pós-cirúrgica e continuamente observados
quanto às condições gerais de saúde, incluindo peso corporal e alimentação. O tratamento teve
duração de 6 meses, com substituição das cápsulas após 3 meses, para assegurar os níveis de
liberação hormonal ao longo de todo o período (Bosland et al., 1995).
43
4.2 Coleta e processamento de tecidos
Os tecidos biológicos utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho foram
previamente processados e se encontram devidamente armazenados em blocos de parafina ou
em ultrafreezer no Laboratório de Biologia da Reprodução de acordo com metodologia a seguir.
Os ratos foram submetidos a eutanásia ao atingir as idades de interesse ou após terminado o
período de tratamento, de acordo com os grupos amostrais, por administração intraperitoneal
de heparina seguida de anestésico (combinação de cetamina 60 mg/kg + xilazina 8 mg/kg). Para
os estudos histopatológicos e imunohistoquímicos (n = 5), o sangue vascular foi removido por
perfusão transcardíaca utilizando-se solução salina, seguida do fixador formalina neutra
tamponada a 10%. Em seguida, a próstata foi retirada e dissecada, sendo os diferentes lobos
destinados a desidratação e inclusão em parafina. Apenas próstatas laterais de animais
submetidos a tratamento de T+E2 foram utilizadas no presente trabalho, uma vez que este é o
principal lobo de desenvolvimento de alterações proliferativas decorrentes do envelhecimento,
sendo histologicamente homóloga à zona periférica da próstata humana e mais susceptível à
indução de neoplasias (McNeal, et al., 1988; Ricke et al., 2008; Galheigo et al., 2016;
Campolina-Silva, et al., 2020). Rins, duodeno, epidídimos e pele também foram coletados e
processados para utilização como controles positivos dos ensaios imunohistoquímicos. Para os
ensaios de Western blotting, ratos de diferentes idades (n = 4) foram perfundidos somente com
solução salina e em seguida tiveram a próstata, rins, fragmentos do lobo hepático mediano e da
porção proximal do duodeno retirados e dissecados, sendo imediatamente congelados em
nitrogênio líquido e armazenados em freezer a -80ºC.
4.3 Histopatologia
As próstatas ventrais e laterais foram submetidas a coloração de rotina por hematoxilina e
eosina (H&E), para a análise histopatológica. Fragmentos de tecidos incluídos em parafina
foram seccionados em cortes de 4 µm de espessura em micrótomo Microm HM 335 E (Thermo
Fisher Scientific, Rockford, EUA), as secções de tecidos foram desparafinizadas em xilol e
reidratadas por submersão em etanol em concentrações gradualmente reduzidas, seguida de
água corrente. Posteriormente, os tecidos foram imersos em hematoxilina de Erlich, lavados em
água corrente e corados por eosina Y aquosa a 10%. Por fim, procedeu-se a desidratação em
série crescente de solução de etanol e diafanização em xilol para a montagem das lâminas e
44
análise ao microscópio de luz. As alterações histopatológicas encontradas foram classificadas
de acordo com Shappell, et al. (2004), e Creasy, et al. (2012).
4.4 Imunohistoquímica
Fragmentos da próstata incluídos em parafina foram seccionados e submetidos a
imunohistoquímica para detecção dos transportadores transepiteliais de cálcio TRPV6,
calbindina e PMCA. Adicionalmente, foram realizadas imunomarcações para o receptor de
vitamina D (VDR), estabelecido modulador da transcrição das proteínas-alvo deste estudo
(Hoenderop, et al., 2005); bem como para citoqueratina 14 (CK14), componente do
citoesqueleto de células basais prostáticas (Lee, et al., 2014).
Para isto, as secções foram desparafinizadas e reidratadas como descrito anteriormente, e
lavadas em tampão fosfato (PBS, pH 7,4), exceto para detecção de TRPV6 na próstata ventral,
quando foi utilizado tampão Tris (TBS, pH 7,4). Após bloqueio de peroxidase endógena,
recuperação antigênica foi realizada por aquecimento em tampão citrato (0,01M, pH 6,0),
utilizando-se micro-ondas em potência 70%. Os tecidos foram permeabilizados em metanol,
juntamente com o bloqueio de peroxidase ou, alternativamente em solução de Tween 20 a 0,2%
após a recuperação antigênica (Tabela 1). Depois, avidina e biotina endógenas foram
bloqueadas utilizando-se kit comercial (Vector Laboratories, Burlingame, EUA), e realizou-se
bloqueio de epítopos inespecíficos utilizando soro normal de cabra a 10%, diluído em tampão,
exceto para detecção de VDR, quando foi utilizado soro normal de coelho. Subsequentemente,
as secções foram incubadas em anticorpo primário diluído em tampão a aproximadamente 4ºC,
como descrito na Tabela 1.
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46
Os tecidos foram então lavados em tampão e incubados por 1 hora em anticorpo secundário
biotinilado diluído em TBS para detecção de TRPV6 na próstata ventral, e em PBS para os
demais ensaios (Tabela 1). Por fim, após lavagem, incubou-se os tecidos em complexo avidina-
biotina (Vectastain Elite ABC Kit, #PK-6100, Vector Laboratories, Burlingame, EUA) em
diluição 1:100. Realizou-se nova lavagem e revelação da imunomarcação através de imersão
em solução de tampão Tris HCl (0,05M e pH 7,4) contendo H2O2 (0,01% v/v) e
3,3’diaminobenzidina (0,2 mg/mL). Hematoxilina de Meyer foi utilizada como contra corante
e os cortes foram submetidos a desidratação em série crescente de solução de etanol e
diafanizados em xilol para montagem e análise ao microscópio de luz. Todos os fragmentos
teciduais de cada n amostral foram processados simultaneamente para a detecção de cada
proteína-alvo. Os ensaios foram realizados em duplicata, com presença de controles negativos
e positivos, os quais foram submetidos aos mesmos procedimentos descritos anteriormente,
com substituição do anticorpo primário por tampão no caso dos controles negativos. Para os
controles positivos, tecidos de animais entre 3 e 12 meses foram empregados, sendo o rim
utilizado para confirmação da especificidade dos anticorpos anti-TRPV6, calbindina e VDR;
epidídimo, para anti-TRPV6 e PMCA; e pele, para anti-CK14.
4.5 Imunofluorescência
Para confirmar a identidade das células epiteliais basais, foram realizados ensaios de
imunofluorescência para a colocalização do canal de cálcio TRPV6 com CK14. Secções de
próstata lateral de animais controle e submetidos ao tratamento com T+E2 foram preparadas
como descrito anteriormente (seção 3.3). Após recuperação antigênica em 6 ciclos de 5 minutos,
as secções foram permeabilizadas em solução de Triton X-100 (0,5% v/v) diluído em PBS e
bloqueadas com soro animal como descrito na seção anterior. Em seguida, foi realizada
incubação em solução contendo ambos os anticorpos primários (Tabela 1), nas diluições 1:25
e 1:3000 para TRPV6 e CK14, respectivamente. Após lavagens, procedeu-se a incubação em
solução contendo anticorpos secundários fluorescentes Cabra anti-coelho Alexa Fluor 488 (#A-
11008, Thermo Fisher Scientific, Rockford, EUA) e Cabra anti-camundongo Alexa Fluor 546
(#A-11003, Thermo Fisher Scientific, Rockford, EUA), diluídos 1:100 em PBS. Os ensaios
foram realizados em duplicata, com presença de controles negativos e os núcleos foram
observados pela marcação com 4,6-diamidino-2-phenylindole (DAPI; #D1306, Life
Technology, Carlsbad, EUA). As lâminas foram montadas e as secções foram analisadas em
47
microscópio Axio Imager Z2-ApoTome 2 Zeiss (Carl Zeiss, Göttingen, Alemanha), no Centro
de Microscopia da UFMG, o qual possui lasers e filtros específicos para detecção da
fluorescência para Alexa Fluor 488 nm (verde), Alexa Fluor 546 (laranja), ou DAPI (azul). As
imagens adquiridas foram sobrepostas através do software NIS Elements (Nikon Instruments,
Tokyo, Japão).
4.6 Extração proteica
Tecidos congelados e armazenados a -80ºC foram macerados em gelo seco, de modo que os
lobos prostáticos, assim como rins, duodeno e fígado de ratos de 3 meses de idade foram
pesados em pools contendo 100 mg de tecido. Adicionalmente, as próstatas ventrais e laterais
do modelo de envelhecimento fisiológico (3, 6, 12, 18 e 24 meses) foram pesadas
separadamente. Após homogeneizados em 300 µL de tampão de extração – composto por Ureia
(8 M), 10% de inibidores de protease (Protease Inhibitor Cocktail, Sigma Aldrich, St. Louis,
MO, EUA), Tris HCl (20 mM, pH 7,5) e EDTA (0,5 mM, pH 8,0) – as amostras foram
centrifugadas por 10 minutos a 14.000g em temperatura de 4ºC. Em seguida, a fração
sobrenadante foi novamente centrifugada e o novo sobrenadante, contendo o extrato total de
proteínas, foi reservado. Concentrações proteicas das amostras foram determinadas por
espectrofotometria em aparelho NanoDrop Lite (Thermo Scientific, Fremont, EUA) e, quando
necessário, foi adicionada água destilada estéril para que a concentração final não ultrapassasse
25 mg/mL (Bergfors, 2009). Os extratos proteicos foram então aliquotados e armazenados a -
80ºC.
4.7 Western blotting
Os níveis de expressão de transportadores transepiteliais de cálcio nas próstatas ventral e lateral
foram avaliados ao longo do envelhecimento, assim como em comparação aos demais lobos
prostáticos, rim, duodeno e fígado através da realização de ensaios de Western blotting em
extratos proteicos totais. Assim, concentrações proteicas das amostras de interesse foram
determinadas por espectrofotometria em aparelho NanoDrop Lite (Thermo Scientific, Fremont,
EUA), imediatamente antes da utilização. Em seguida, 50 µg de proteínas totais foram diluídas
em tampão de amostra – constituído por sódio dodecil-sulfato (1% p/v), Tris HCl (30 mM, pH
48
6,8), β-mercaptoetanol (10% v/v), glicerol (12% v/v) e azul de bromofenol (0,1% p/v) –, e
submetidas a desnaturação em banho sônico e aquecimento a 100ºC. Após realização de
eletroforese contínua em gel de poliacrilamida, contendo 10% e 8% de acrilamida para TRPV6
e PMCA, respectivamente, procedeu-se transferência das proteínas para membrana de
nitrocelulose. Realizou-se lavagem das membranas em Tween 20 a 0,05%, bloqueio em soro
normal de cabra a 10%, diluído em tampão PBS contendo albumina sérica bovina (BSA) a 1%,
e incubação em solução de anticorpo primário, diluído em PBS contendo BSA a 1%, overnight
a 4ºC, como indicado na Tabela 1. Terminada a incubação, a membrana foi imersa em solução
de anticorpo secundário biotinilado, diluído em BSA a 1%, e em complexo avidina-biotina
(Vectastain Elite ABC Kit #PK-4000, Vector Laboratories, Burlingame, EUA). As bandas
proteicas foram visualizadas através da reação do complexo amplificador avidina-biotina com
solução contendo 3,3’-diaminobenzidina (0,1% p/v), cloronaftol (0,05% p/v), metanol (9% v/v)
e H2O2 (0,04% v/v). Cada ensaio foi realizado em triplicata, utilizando-se expressão da proteína
estrutural β-actina como controle interno de cada membrana de nitrocelulose (Tabela 1).
4.8 Índices quantitativos de imunomarcação
Análise dos níveis totais de proteína expressos na próstata ventral de ratos em diferentes idades
foi realizada através de estudo densitométrico das bandas obtidas pelos ensaios de Western
blotting. Para isso, as membranas de nitrocelulose foram escaneadas e as bandas positivas para
cada proteína-alvo foram analisadas com o auxílio da ferramenta “géis” do software Image J
(NIH, EUA). Para cada banda positiva, correspondente a uma amostra aplicada em gel de
eletroforese, foi gerado um pico de densidade, cuja área foi quantificada. Determinou-se o valor
percentual de cada pico em relação à somatória dos picos do n amostral (Taylor, et al., 2013).
O valor percentual de cada banda foi então dividido pelo valor percentual da banda
correspondente para a proteína constitutiva β-actina. Assim, os níveis de expressão de cada
proteína avaliada foram graficamente representados como expressão relativa em unidade
arbitrária (UA).
A fim de determinar a significância de alterações detectadas nos ensaios imunohistoquímicos,
realizou-se análises quantitativas relativas à positividade de células epiteliais prostáticas. Dessa
forma, as lâminas utilizadas para realização de preparos imunohistoquímicos foram
digitalizadas utilizando scanner de lâminas automático Pannoramic MIDI II (3DHISTECH,
Budapeste, HU). Adenômeros de próstatas ventrais e laterais de diferentes idades, foram
49
capturados em aumento de 40x utilizando o software PannoramicViewer (3DHISTECH,
Budapeste, HU). Utilizando adaptação do protocolo descrito por Campolina-Silva e
colaboradores (2018), 4 imagens de adenômeros distais foram capturadas das próstatas ventral
e lateral de animais idosos, assim como da próstata lateral de animais tratados com a
combinação T+E2, nos quais observou-se a presença de alterações como atrofia, hiperplasia,
metaplasia escamosa, PIA e PIN. Células epiteliais positivas e negativas para TRPV6, assim
como células basais intensamente coradas para TRPV6 foram contadas em todas as imagens
adquiridas, a fim de se obter a porcentagem de tais fenótipos ao longo do envelhecimento
(Campolina-Silva, et al., 2018). Os valores obtidos também foram utilizados para a detecção
de possíveis diferenças entre células de lesões prostáticas em comparação ao epitélio normal
adjacente.
4.9 Análises estatísticas
Os dados numéricos obtidos a partir das análises quantitativas e semiquantitativas foram
submetidos a análises estatísticas utilizando o software GraphPad Prism 8 (GraphPad Software,
La Jolla, EUA), de acordo com sua distribuição de valores, a qual foi determinada pelo teste
Shapiro-Wilk. Os conjuntos que assumiram distribuição normal foram analisados pelo teste
paramétrico t-Student, quando foram necessárias análises entre dois grupos, ou pelo teste
ANOVA de um fator seguido do pós-teste Tukey para comparações múltiplas entre as médias
de três ou mais grupos. Caso contrário, os dados com distribuição não-paramétrica foram
analisados pelo teste Mann-Whitney, ou utilizando Kruskal-Wallis, seguido do pós-teste
Dunns, para dois ou mais grupos, respectivamente. Para análises de lesões prostáticas versus
epitélio inalterado, os dados foram submetidos a testes pareados. Resultados foram
apresentados graficamente como média ± erro padrão da média (SEM), de modo que as
diferenças foram consideradas significativas quando p ≤ 0,05.
50
5 RESULTADOS
5.1 Expressão de TRPV6 e PMCA em tecidos-alvo
Visando elucidar a participação do canal de influxo TRPV6 e da bomba de extrusão PMCA na
manutenção da homeostase de Ca2+ no complexo prostático de ratos Wistar, a expressão desses
transportadores foi determinada e seus níveis foram mensurados em extratos proteicos totais da
próstata de animais jovens sexualmente maduros (3 meses de idade). Extratos proteicos totais
dos rins, duodeno e fígado destes mesmos animais também foram avaliados.
A partir das amostras teciduais, ensaios de Western blotting para TRPV6 revelaram a presença
de banda principal de aproximadamente 83 kDa. Anticorpo primário anti-TRPV6 também
interagiu com banda proteica de aproximadamente 75 kDa nas amostras de rim e fígado.
PMCA, por sua vez, foi detectada em banda de aproximadamente 127 kDa.
Dentre os órgãos analisados, a maior expressão de TRPV6 foi observada no fígado (p ≤ 0,0043),
seguido dos lobos ventral e lateral da próstata (p ≤ 0,012). Os lobos prostáticos dorsal e anterior
tiveram os menores níveis de expressão, com imunorreação comparável à dos rins e duodeno.
Similarmente, PMCA também teve os maiores níveis de expressão no fígado (p ≤ 0,005),
seguido pelo rim (p ≤ 0,018), próstata ventral (p ≤ 0,002) e próstata lateral (p ≤ 0,015). Por
outro lado, a positividade para PMCA em amostras de próstata dorsal, próstata lateral e duodeno
foi indetectável nas condições experimentais aqui empregadas (Figura 13).
51
Figura 13. Nível de expressão de TRPV6 (A) e PMCA (B) no complexo prostático, rim, duodeno e fígado de
ratos Wistar. VP: próstata ventral; LP: próstata lateral; DP: próstata dorsal; AP: próstata anterior; R: rim;
Du: duodeno; F: fígado. Os resultados foram demonstrados em unidade arbitrária (UA) como média ± SEM
para a expressão de cada proteína-alvo normalizada pelo controle interno (β-actina). As figuras são
representativas de 3 ensaios independentes. Letras diferentes indicam diferença estatística entre os grupos (n
= 4; P ≤ 0,05).
Dentre o complexo prostático, as próstatas ventral e lateral foram elegidas para as investigações
descritas adiante. Dessa forma, ratos Wistar sexualmente maduros de 3 a 24 meses de idade
foram avaliados quanto à expressão prostática de TRPV6 e PMCA. Animais jovens de 3 meses
de idade apresentaram os maiores níveis de expressão de TRPV6 na próstata ventral em
comparação às demais idades (p ≤ 0,02). A imunomarcação para essa proteína não sofreu
variação nas próstatas ventrais de ratos entre 6 e 24 meses. Em contraste, próstatas laterais de
animais em idade mais avançada (24 meses) foram as que apresentaram maior expressão desse
canal de Ca2+ em comparação ao grupo de 3 meses (p = 0,039; Figura 14A).
Por outro lado, PMCA foi menos expressa nas próstatas ventrais de animais idosos em
comparação aos jovens, apresentando redução significativa a partir dos 18 meses de idade, em
relação ao grupo de 3 meses (p = 0,028). Similarmente, próstatas laterais de ratos aos 18 e 24
meses também apresentaram menor expressão da ATPase, quando comparadas às de animais
jovens (p ≤ 0,028), com maior positividade detectada aos 3 meses de idade (p ≤ 0,0036) (Figura
14B).
52
5.2 Imunolocalização de TRPV6 na próstata saudável e alterada
Uma vez que TRPV6 foi consideravelmente expresso pelas próstatas ventral e lateral de ratos
Wistar em todas as idades avaliadas, ensaios imunohistoquímicos foram realizados para
determinar sua localização no compartimento epitelial prostático. Destaca-se que células
neuroendócrinas não foram investigadas no presente trabalho, de modo que as células epiteliais
Figura 14. Nível de expressão de TRPV6 (A) e PMCA (B) na próstata ventral e lateral de ratos Wistar em
diferentes idades. Os resultados foram demonstrados em unidade arbitrária (UA) como média ± SEM para a
expressão de cada proteína-alvo, normalizada pelo controle interno (β-actina). Letras diferentes indicam
diferença estatística entre os grupos. * p ≤ 0,05. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes (n
= 3).
53
de morfologia colunar serão tratadas aqui como células luminais, enquanto células basais foram
assim denominadas mediante identificação pelo marcador molecular CK14.
TRPV6 foi observado distribuído pelo citoplasma de células luminais de ambos os lobos
prostáticos analisados (Figura 15A). Ocasionalmente, notou-se a presença de células luminais
negativas ou, raramente, outras com maior intensidade de imunorreação em relação às suas
vizinhas (Figura 15B,C). Células TRPV6-negativas corresponderam a 0,46 ± 0,86% das
células epiteliais de animais jovens (3 e 6 meses), na próstata ventral; e a 1,51 ± 1,17% na
próstata lateral, não havendo alteração significativa na porcentagem de células negativas ao
longo do envelhecimento (Figura 15E). As células luminais mais intensamente positivas para
TRPV6 não foram encontradas em frequência suficiente para a sua contabilização.
No presente estudo, as porções glandulares de ambos os lobos prostáticos avaliados
aparentaram maior intensidade de imunorreação para TRPV6, em comparação a regiões
proximais morfologicamente compatíveis com ductos prostáticos (Figura 15D). Ainda,
algumas células presentes no compartimento basal do epitélio prostático, as quais
frequentemente apresentaram delgados prolongamentos citoplasmáticos localizados entre ou
sob células epiteliais luminais, mostraram intensa positividade para TRPV6 (Figura 15F). Tais
células intensamente positivas tiveram sua identidade confirmada através de colocalização com
o marcador molecular de células basais (cb), CK14, sendo denominadas cb-TRPV6++ nesse
trabalho, para fins de simplificação. Além das cb-TRPV6++, registrou-se a presença de células
CK14+ com expressão de TRPV6 em intensidade similar à notada para células luminais (Figura
16D,E).
Em média, 10,49% de todas as células epiteliais prostáticas de ratos Wistar jovens (3 e 6 meses)
foram CK14-positivas (dados não mostrados). As cb-TRPV6++ foram encontradas ao longo de
todo o epitélio prostático de ambos os lobos, correspondendo, em animais jovens (3 e 6 meses),
a 0,51 ± 0,16% das células epiteliais na próstata ventral e a 0,16 ± 0,09%, na próstata lateral.
Análise quantitativa revelou porcentagem de cb-TRPV6++ estatisticamente similar
independentemente da idade, tendo sido observada uma elevada variação interamostral entre
animais senis (Figura 15F). Assim, nas próstatas ventrais de ratos aos 12 e 24 meses de idade,
a porcentagem mínima obtida para cb-TRPV6++ foi de 0%, atingindo até 3,79% ou 8,05%,
respectivamente. Por outro lado, grandes flutuações foram encontradas entre próstatas laterais
de ratos aos 12 e 18 meses, que apresentaram de 0% a 1,63% ou 1,35% de cb-TRPV6++ em seus
epitélios, respectivamente (Figura 15F).
54
Figura 15. Localização de TRPV6 no epitélio normal das próstatas ventral e lateral de ratos Wistar em
diferentes idades. (A) TRPV6 foi detectado no citoplasma de células epiteliais (inserto: controle negativo). (B)
Esporádicas células luminais foram negativas para TRPV6 (seta). (C) Rara célula luminal intensamente
marcada para TRPV6 (seta). (D) Ducto da VP com imunomarcação menos intensa para TRPV6 (D1), em
relação às regiões glandulares (D2). (E) Porcentagem de células epiteliais positivas e negativas para TRPV6
ao longo do envelhecimento. (F) Esporádicas células similares a basais tiveram intensa positividade para
TRPV6 (inserto), sendo a sua frequência em diferentes idades demonstrada graficamente. lu: lúmen; es:
componentes do estroma. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes (n = 5).
55
O processo de envelhecimento foi acompanhado pelo surgimento de alterações histopatológicas
pontuais em ambos os lobos prostáticos de ratos Wistar, sendo observadas hiperplasia e atrofia
em todos os animais a partir dos 12 meses de idade. LGPIN foi detectada em 90,9% dos ratos
aos 18 meses e HGPIN, em 63,6% desses animais, sendo que a arquitetura ondulada da lesão
foi predominante nas próstatas ventral e lateral, com a detecção de uma única HGPIN
cribriforme em rato de 24 meses. As lesões metaplasia escamosa e PIA foram observadas
exclusivamente na próstata lateral, com incidência de 27,3% e 36,4%, respectivamente. Por
fim, lesões compatíveis com câncer foram incidentes em 36,4% dos animais aos 18 meses de
idade. Com o objetivo de ampliar a incidência e severidade de tais lesões espontâneas,
empregou-se a indução hormonal da carcinogênese através de tratamento crônico com T+E2
(Tabela 2). O tratamento não interferiu na incidência de focos epiteliais de hiperplasia, atrofia,
LGPIN e metaplasia escamosa, mas aumentou significativamente a porcentagem de animais
que apresentaram lesões de PIA (91,7%), HGPIN (100%) e adenocarcinoma prostático (100%).
Os dados acima apresentados foram publicados em artigo científico (Campolina-Silva, et al.,
2020).
Tabela 2. Incidência de lesões epiteliais prostáticas na próstata de ratos Wistar aos 18 meses de idade
Lesão epitelial Controle T+E2 p valor
Hiperplasia 100% 100% > 0,999
Atrofia 100% 100% > 0,999
Metaplasia escamosa (apenas LP)
27,3% 41,7% 0,667
PIA (apenas LP)
36,4% 91,7% 0,009*
LGPIN 90,9% 100% 0,478
HGPIN 63,6% 100% 0,037*
Adenocarcinoma 36,4% 100% 0,001*
LP: próstata lateral. * p ≤ 0,05
TRPV6 foi homogeneamente distribuído pelo citoplasma de células luminais de todo o epitélio
glandular de ambos os lobos prostáticos, independentemente da presença de alterações
histopatológicas, sejam elas benignas, pré-malignas ou malignas. Todavia, enfatiza-se a
detecção de elevada positividade para TRPV6 em lesões caracterizadas por enriquecimento de
células basais, tais como metaplasia escamosa e PIA, uma vez que essas lesões também
apresentaram maior abundância de cb-TRPV6++ (Figura 16 e 17). Em ensaios de
imunofluorescência com a colocalização de TRPV6 e CK14, observou-se que metaplasias
escamosas e PIA apresentaram a maior parte das células CK14+ intensamente marcadas para
56
TRPV6, embora em algumas células basais, essa expressão mais elevada não esteve presente
(Figura 16D,E).
Figura 16. TRPV6 é mais expresso por células basais CK14-positivas em diferentes lesões da próstata lateral
de ratos Wistar. (A) Células basais frequentemente apresentaram intensa positividade para TRPV6 (cabeças-
de-seta). Metaplasia escamosa (B) e PIA (C), apresentam maior população de cb-TRPV6++, como mostrado
em secções sequenciais marcadas para CK14 (insertos). Observam-se células basais positivas, expressando
TRPV6 em níveis comparáveis aos de células luminais (1), assim como outras mais intensamente marcadas (2)
em LGPIN (D), e metaplasia escamosa (E). Merge: positividade para TRPV6 (verde), CK14 (vermelho) e DAPI
(azul claro) combinadas. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes. es: componentes do
estroma; En: epitélio normal lu: lúmen; vs: vaso sanguíneo; asterisco: infiltrado inflamatório; CL: célula
epitelial luminal.
Nesse sentido, as lesões de próstatas laterais de ratos Wistar a partir dos 12 meses, assim como
de ratos submetidos a tratamento com T+E2 foram quantitativamente avaliadas quanto à
abundância de cb-TRPV6++ (Figura 17). Observou-se que essa subpopulação de células basais
foi cerca de 2,88 vezes mais numerosa no epitélio inalterado de animais tratados, em relação
aos controle (3,05 ± 0,76% versus 1,06 ± 0,39%, respectivamente; p = 0,019. Figura 17).
As análises estatísticas pareadas mostraram maior frequência de cb-TRPV6++ em metaplasias
escamosas e PIA (p = 0,0001), revelando ainda ausência dessas células em atrofia epitelial (p
57
= 0,031). Não foram observadas diferenças estatísticas entre a quantidade de cb-TRPV6++
encontradas em hiperplasias e PIN, e seus respectivos epitélios inalterados adjacentes (Figura
17).
Figura 17. Frequência de células basais intensamente marcadas para TRPV6 em lesões da próstata lateral
de ratos Wistar. Tratamento crônico com T+E2 provocou aumento da porcentagem de cb-TRPV6++ nos
epitélios inalterados da LP, de modo que cada lesão prostática também foi comparada ao epitélio inalterado
adjacente. Ei: epitélio inalterado. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes. *p ≤ 0,05; **p ≤
0,005; ***p ≤ 0,0005; ****p < 0,0001.
Quanto às lesões malignas, houve detecção de adenocarcinoma prostático em 6 ratos dentre os
25 animais submetidos ao envelhecimento fisiológico e avaliados no presente trabalho,
incluindo um caso raro na próstata ventral de animal jovem de 6 meses de idade. Em
58
contrapartida, dentre os 8 animais submetidos a tratamento com T+E2, observou-se 100% de
prevalência de lesões malignas, com a sobrevivência de 7 ratos até os 18 meses de idade.
Os adenocarcinomas prostáticos foram identificados pela desorganização da arquitetura
pseudoestratificada normal da próstata, acompanhada da presença de células atípicas, figuras
de mitose, frequentes núcleos aberrantes e nucléolos proeminentes, visualizados em preparos
histológicos corados com H&E. As células epiteliais transformadas ocasionalmente formaram
pequenas estruturas glandulares, caracterizando adenocarcinomas microacinares ou bem
diferenciados. Esses microácinos foram observados dentro dos limites da glândula, sendo
nitidamente circundados por uma membrana basal intacta, ou se apresentaram como estruturas
invasivas com crescimento em direção ao estroma adjacente (Figura 18). Alternativamente,
foram observadas células atípicas de morfologia similar à de células mesenquimatosas,
infiltradas entre os componentes do estroma e caracterizando assim carcinoma invasivo pouco
diferenciado. Os adenocarcinomas prostáticos foram geralmente associados a espessamento do
estroma periacinar e presença de infiltrado inflamatório em suas adjacências. Apresentaram
também, frequentes células fracamente coradas para o receptor de vitamina D. Uma vez que o
presente trabalho objetivou a investigação de proteínas envolvidas no transporte de cálcio
através do tecido epitelial, lesões invasivas pouco diferenciadas não foram molecularmente
caracterizadas ou abordadas quanto à expressão dos transportadores-alvo.
Assim, regiões de adenocarcinoma bem diferenciado foram avaliadas quanto à presença de cb-
TRPV6++. Essas células basais intensamente positivas não foram encontradas em neoplasias de
8 dos 13 animais que apresentaram algum tipo de câncer (61,54%)(Figura 18A). Por outro
lado, 5 dos 13 ratos com focos de neoplasia (38,46%), todos pertencentes ao modelo de
envelhecimento fisiológico, apresentaram lesões malignas com presença de células basais
CK14+ e intensamente marcadas para TRPV6 (Figura 18B). As lesões neoplásicas aqui
descritas se apresentaram tanto como carcinomas bem diferenciados não-invasivos ou invasivos
e apresentaram, ainda, padrões de crescimento celular variando desde a organização
microacinar clássica e a formação de grandes massas tumorais compactas, até pequenos grupos
de células isoladamente localizados entre os componentes do estroma. Por essa razão, não foi
possível traçar critérios para a determinação da frequência de cb-TRPV6++ que pudessem ser
aplicados a todos os sítios de adenocarcinoma encontrados.
59
Figura 18. Localização de TRPV6 em adenocarcinoma bem diferenciado da próstata de ratos Wistar. (A)
Secção da LP de rato tratado com T+E2, mostrando a formação de dois microácinos (setas), os quais contém
células atípicas e expressão uniforme de TRPV6 (A.TRPV6). Não houve detecção de células basais (A.CK14).
(B) Adenocarcinoma bem diferenciado associado a volumoso infiltrado inflamatório (LP, 24 meses), no qual
observa-se crescimento epitelial e invasão de células neoplásicas no estroma adjacente (setas longas). Figuras
de mitose estão presentes (setas curtas) e há neoformação de vasos sanguíneos (vs). TRPV6 foi uniformemente
distribuído entre células luminais e intensamente expresso por algumas células basais (cabeças-de-seta;
B.CK14). A bomba de extrusão de Ca2+ PMCA e o fator de transcrição envolvido no controle da expressão de
transportadores transepiteliais de Ca2+ VDR, tiveram sua expressão reduzida em células neoplásicas (setas
brancas). lu: lúmen; En: epitélio normal; es: componentes do estroma. As figuras são representativas de 3
ensaios independentes.
60
5.3 Imunolocalização de PMCA na próstata saudável e alterada
Células epiteliais luminais e basais de ambos os lobos prostáticos de ratos Wistar expressaram
a bomba de extrusão de Ca2+ PMCA principalmente no domínio basolateral de suas membranas
plasmáticas, sendo detectada também positividade citoplasmática mais fraca (Figura 19A,B).
Particularmente na próstata lateral, em alguns casos, a imunorreatividade para essa ATPase
aparentou ser mais intensa em regiões mais distais do epitélio glandular, quando comparadas
às suas regiões de ductos proximais correspondentes (Figura 19A).
Tratando-se das alterações histopatológicas oriundas do processo de envelhecimento e
induzidas pelo tratamento crônico com T+E2, observou-se menor positividade para PMCA em
células epiteliais atróficas (Figura 19C). Lesões proliferativas, tais como, metaplasia
escamosa, PIA e PIN, também apresentaram menor expressão, quando comparadas ao epitélio
inalterado adjacente (Figura 19D,E e 20). Registrou-se a ocorrência de HGPIN de arquitetura
cribriforme na próstata ventral de um único rato de 24 meses de idade dentre todos os animais
avaliados. Nesse caso, a expressão de PMCA foi reduzida principalmente em regiões centrais
da lesão, sendo mantida em algumas células localizadas na periferia, incluindo células em
divisão (Figura 19). HGPIN cribriforme foi composto exclusivamente por células luminais e
apresentou expressão intermitente de receptor de vitamina D. PMCA também sofreu redução
em sua positividade em sítios de adenocarcinoma prostático, em comparação ao epitélio
inalterado adjacente (Figura 22).
61
Figura 19. Localização de PMCA no epitélio normal e alterado das próstatas ventral e lateral de ratos Wistar.
PMCA foi detectada principalmente nas membranas plasmáticas basolaterais de células epiteliais da LP (A) e
VP (B; inserto: controle negativo). (A) Algumas LP apresentaram intensidade de imunomarcação
aparentemente maior nas regiões glandulares mais distais, em relação ao epitélio proximal correspondente.
(C) Observou-se menor intensidade de imunomarcação para PMCA em atrofia simples, assim como drástica
redução em metaplasia escamosa (D) e PIA (E). lu: lúmen; En: epitélio normal; Ea: epitélio atrófico. As figuras
são representativas de 3 ensaios independentes.
62
Figura 20. Localização de TRPV6, PMCA e calbindina em HGPIN de arquitetura cribriforme da próstata
ventral de rato Wistar. HGPIN (VP, 24 meses), contendo células com frequentes nucléolos proeminentes (setas
pretas curtas); observa-se expressão inalterada de TRPV6 e reduzida expressão de PMCA, calb e VDR (1;
setas brancas), em relação ao epitélio normal adjacente (2). Esta lesão é caracterizada pela ausência de células
basais CK14-positivas. Regiões periféricas são positivas para calb e PMCA em níveis similares aos normais
(setas pretas longas). Uma célula em divisão positiva para PMCA pôde ser observada (seta preta longa). En:
epitélio normal; Ea: epitélio atrófico; lu: lúmen. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes.
63
5.4 Imunolocalização de calbindina na próstata saudável e alterada
Com o objetivo de elucidar a participação, na próstata, de proteínas envolvidas em cada uma
das etapas que constituem o transporte transepitelial de cálcio, calbindina foi selecionada como
componente adicional para investigação no presente trabalho. Ampla distribuição de calbindina
foi observada nos epitélios normais de ambos os lobos prostáticos avaliados, sendo a
imunorreação notada primariamente no citoplasma de células epiteliais luminais e basais
(Figura 21A,B). Não foram detectadas diferenças marcantes na positividade para calbindina
entre os adenômeros prostáticos distais e as regiões de ductos proximais correspondentes.
Por outro lado, dentre as lesões prostáticas benignas e pré-malignas encontradas na próstata de
ratos idosos e submetidos a tratamento com T+E2, calbindina se mostrou menos expressa
apenas em PIN, sendo observadas algumas células mais fracamente positivas para a ligante de
Ca2+ (Figura 21C) em HGPIN plano. No caso de HGPIN com arquitetura cribriforme, sua
expressão foi restrita a pequenas porções periféricas da lesão (Figura 20). Sítios de
adenocarcinoma prostático também apresentaram mais frequentemente células com fraca
positividade para essa ligante de cálcio, em contraste à intensa imunorreação notada em
epitélios inalterados adjacentes (Figura 22). Outras alterações histopatológicas benignas, tais
como atrofia, ou proliferativas, como hiperplasia, metaplasia escamosa e PIA, aparentaram não
ter níveis de expressão de calbindina alterados na maioria dos tecidos avaliados, quando
comparados ao epitélio inalterado adjacente (Figura 21D,E).
64
Figura 21. Localização de calbindina no epitélio normal e alterado das próstatas ventral e lateral de ratos
Wistar. Calb foi amplamente localizada no citoplasma de células epiteliais prostáticas da LP (A) e VP (B). A
expressão de calb não foi alterada em epitélios atróficos (Ea; C), metaplasia escamosa (D) ou PIA (E), em
relação ao epitélio normal (En). Inserto em B: controle negativo; lu: lúmen; es: componentes do estroma. As
figuras são representativas de 3 ensaios independentes
65
Figura 22. Localização de TRPV6, PMCA e calbindina em adenocarcinoma bem diferenciado da próstata
de ratos Wistar. Em coloração por H&E, imagem em menor aumento mostra microácinos (setas longas)
circundados por estroma espesso (#). Secções sequenciais demonstram imunomarcação para CK14, TRPV6,
PMCA e calb em um grupo de microácinos (1) contendo células atípicas (seta curta), assim como no epitélio
inalterado de adenômero adjacente (2). Enquanto os níveis de TRPV6 se mostraram aparentemente inalterados,
PMCA e calb (setas brancas) foram menos expressos por células neoplásicas. es: componentes do estroma; lu:
lúmen; En: epitélio normal; vs: vaso sanguíneo. As figuras são representativas de 3 ensaios independentes.
66
6 DISCUSSÃO
No presente trabalho, a expressão de TRPV6, PMCA e calbindina foi avaliada na próstata de
ratos jovens a senis e submetidos a indução hormonal da carcinogênese por T+E2. Este estudo
é pioneiro em investigar, de forma conjunta e sistemática, a expressão das principais proteínas
mediadoras do transporte transepitelial de Ca2+ na próstata saudável e alterada de ratos.
Os resultados obtidos mostram pela primeira vez, a expressão do canal de influxo de Ca2+
TRPV6 e da bomba de extrusão PMCA no complexo prostático de ratos Wistar, em comparação
a rins, duodeno e fígado, órgãos sabidamente responsivos a hormônios calciotrópicos, como
calcitriol, os quais estão envolvidos na regulação da disponibilidade de Ca2+ circulante (Holick,
2004; Hoenderop, et al. 2005). TRPV6 foi expresso nas próstatas ventral e lateral em níveis
superiores aos observados para os lobos dorsal e anterior, assim como para rins e duodeno,
corroborando estudos anteriores que reportaram altos níveis de seu mRNA na próstata de
camundongos, superando os de estômago, cérebro, rins, duodeno, entre outros tecidos
(Nijenhuis, et al., 2003). A expressão de TRPV6 detectada no fígado superou os níveis proteicos
dos demais órgãos analisados. A presença de transcritos de TRPV6 foi demonstrada
previamente em tecidos hepáticos humanos e murinos (Peng, et al., 2000; Su, et al., 2004;
Weber, et al., 2001; GeneCards, 2019). Contudo, não foram encontrados estudos demonstrando
seus níveis de expressão, seja por mRNA ou níveis proteicos, em comparação a outros órgãos.
TRPV6 foi detectado em todos os tecidos avaliados através de banda proteica principal de cerca
de 83 kDa, corroborando dados da literatura (Gao, et al., 2016). Extratos proteicos totais dos
rins e fígado também apresentaram banda adicional de aproximadamente 75 kDa, a qual foi
anteriormente reportada como sendo correspondente à forma não glicosilada do canal
(Skrypski, et al., 2015). Ainda não está claro qual é o papel desses glicosídeos para a função de
TRPV6 e poucos são os trabalhos que fazem menção à presença dessa variação, porém, tal
modificação pós-traducional parece estar relacionada a mecanismos intrínsecos de cada tecido,
uma vez que apenas rins e fígado de ratos Wistar jovens apresentaram suas duas formas. De
modo similar, células β pancreáticas de ratos também apresentaram TRPV6 em suas formas
glicosilada e não glicosilada (Skrypski, et al., 2015), assim como células humanas transfectadas
em ensaios in vitro (Hirnet, et al., 2003).
67
Em relação à expressão de PMCA, Western blotting revelou a presença de uma banda de
aproximadamente 127 kDa nos tecidos de rato Wistar. Essa ATPase pode ser sintetizada a partir
da transcrição de quatro genes diferentes, sendo cada um dos quatro transcritos passível de
splicing alternativo nos sítios A e/ou C, dando origem às isoformas z-w ou a-f, respectivamente
(Hoenderop, et al., 2005; Delgado-Coelho & Mas-Oliva, 2014). O anticorpo primário anti-
PMCA utilizado neste trabalho (clone 5F10), é capaz de reconhecer todas as suas isoformas.
Sendo assim, considerando apenas seu peso molecular (Filoteo, et al., 1997), é provável que a
proteína encontrada seja correspondente a uma das seguintes isoformas: PMCA1a (129,509
kDa), PMCA2az (127,328 kDa), PMCA3a (127,295 kDa), ou PMCA4a (128,919 kDa).
Contudo, enfatiza-se que PMCA2 e PMCA3 tem sido descritas principalmente em células
neuronais e fibras musculares, sendo PMCA1 e PMCA4 mais amplamente distribuídas pelos
demais tecidos do organismo (Stauffer, et al., 1993). Nesse cenário, PMCA1 foi altamente
expressa por células epiteliais da próstata anterior de ratos (Post, et al., 2008), enquanto PMCA4
aparenta desempenhar papel importante no trato genital masculino, tendo sido identificada nos
testículos, epidídimos, vesículas seminais e espermatozoides de roedores e bovinos (Okunade,
et al., 2004; Wilhelm, et al., 2008; Brandenburger, et al., 2011).
Análise quantitativa da expressão de PMCA em ratos Wistar jovens mostrou que o fígado
dispõe dos maiores níveis, seguido pelo rim, próstata e duodeno. Este achado está de acordo
com outros estudos conduzidos em tecidos de humanos e ratos, nos quais elevada expressão foi
verificada no fígado, superando a dos rins ou intestino (Stauffer, et al., 1993; Howard, et al.,
1994; Reinhardt, et al., 2000). No complexo prostático, PMCA foi detectada, em ordem
decrescente quanto aos seus níveis de expressão: VP > LP > DP = AP; sendo que as próstatas
dorsal e anterior, assim como duodeno, tiveram expressão em níveis indetectáveis nas
condições experimentais aplicadas. Os dados aqui apresentados são inéditos na literatura, uma
vez que não foram encontrados trabalhos dedicados à investigação de PMCA na próstata em
comparação a outros órgãos, e reforçam uma individualidade funcional de cada lobo prostático
que deve ser levada em consideração para um melhor entendimento da fisiopatologia da
glândula.
Dentre o complexo prostático, a próstata lateral foi elegida para as investigações
histopatológicas subsequentes, tendo em vista seus elevados níveis de expressão de TRPV6 e
PMCA e considerando que este é o principal lobo de desenvolvimento de alterações
proliferativas decorrentes do envelhecimento, sendo histologicamente homóloga à zona
periférica da próstata humana e mais susceptível à indução de displasias (McNeal, et al., 1988;
68
Shappell, et al., 2004; Ricke et al., 2008; Galheigo et al., 2016; Campolina-Silva, et al., 2020).
Adicionalmente, o lobo ventral foi estabelecido como alvo igualmente importante, dada a
proeminente expressão dos transportadores-alvo e devido ao fato de ser o maior e mais bem
descrito lobo prostático de roedores (Aumüller, 1979; Hayashi, et al., 1991; Shappell, et al.,
2004; Risbridger & Taylor, 2006; Morais-Santos, et al., 2015). Os resultados obtidos através
de imunohistoquímica das próstatas ventral e lateral evidenciaram uma distribuição diferencial
de TRPV6 e PMCA no epitélio prostático normal. Ambos os transportadores tiveram
imunomarcação aparentemente mais pronunciada em porções glandulares distais da LP,
independentemente da idade dos animais. Sabe-se que o parênquima prostático é composto por
um complexo sistema túbulo-alveolar ramificado a partir da uretra, sendo possível a
identificação morfofisiológica das regiões proximal, intermediária e distal (Risbridger &
Taylor, 2006). Ductos principais e secundários emergentes da uretra integram a região
proximal, destacando-se por seus epitélios colunares baixos (Hayashi, et al., 1991). Inúmeras
são as evidências de que as regiões proximais do epitélio prostático desempenham papéis
regulatórios da função do órgão, uma vez que abrigam a maior parte da população de células
neuroendócrinas (Abrahamsson & di Sant'Agnese, 1993; Risbridger & Taylor, 2006); tendo
sido identificadas também como o nicho principal de células-tronco multipotentes (Burger, et
al., 2005; Moad, et al., 2017). Em contrapartida, as regiões intermediárias e distais do epitélio
estão ativamente envolvidas na secreção do líquido prostático, sendo também as regiões com
maior taxa proliferativa em condições fisiológicas (De Marzo, et al., 1998). Essas
particularidades fenotípicas de células epiteliais ao longo do eixo proximal-distal podem
explicar a elevada expressão de TRPV6 e PMCA nos adenômeros glandulares da LP e apontam
para um transporte transepitelial de Ca2+ mais robusto nessas regiões. Uma vez que a VP
apresentou reduzida expressão proximal de TRPV6, com distribuição aparentemente
homogênea de PMCA ao longo de todo o epitélio, novas investigações se tornam necessárias
para determinar possíveis diferenças na composição iônica e no fluxo transepitelial de Ca2+
entre os lobos prostáticos de ratos.
Em relação ao epitélio glandular, os ensaios imunohistoquímicos para TRPV6 mostraram
moderada positividade para o canal no citoplasma de células luminais, sem uma clara
localização nas membranas plasmáticas, como se esperaria de uma proteína transmembrana,
responsável pela captação de Ca2+ extracelular. Tal distribuição citoplasmática de TRPV6 foi
previamente descrita em estudos envolvendo diferentes órgãos (Lee, et al., 2009 – útero e
placenta; Lehen’kyi, et al., 2007, 2011 – linhagem celular de câncer de próstata; Yang, et al.,
69
2011 – endométrio; Skrzypski, et al., 2015 – ilhotas pancreáticas). Regiões distintas de um
mesmo órgão também podem apresentar diferentes localizações subcelulares de TRPV6, o qual
foi observado no pólo apical do epitélio epididimário de rato, especificamente nos segmentos
inicial, corpo e cauda, contrastando com expressão citoplasmática na região da cabeça (Gao, et
al., 2016). Da mesma maneira, TRPV5 e TRPV6 foram localizados apicalmente apenas em
regiões do néfron envolvidas na reabsorção de cálcio, sendo fracamente expressos no
citoplasma de células da maior parte do parênquima renal de camundongos (Loffing, et al.,
2001; Nijenhuis, et al., 2003). Esses achados podem ser explicados pelo envolvimento de
TRPV6 em um processo chamado “entrada de cálcio operada por estoque” (SOCE, Store
Operated Calcium Entry), no qual TRPV6 se associa aos ionóforos ORAI1 e TRPC1 após
depleção dos estoques intracelulares de cálcio, sendo, então, translocado para a membrana
plasmática (Raphaël, et al., 2014). Assim é possível supor que em órgãos nos quais sua atuação
não seja contínua, TRPV6 poderia estar presente em pools citoplasmáticos, recrutados mediante
estímulos específicos para o reestabelecimento dos níveis basais de Ca2+ intracelular.
PMCA foi detectada principalmente na membrana plasmática basolateral de células epiteliais
prostáticas. Sabe-se que o epitélio prostático é constituído por células polarizadas, cujas
membranas plasmáticas dispõem dos domínios apical e basolateral, possibilitando a
compartimentalização de proteínas transmembrana específicas e permitindo o transporte
direcionado de substâncias secretadas. Dessa forma, a localização subcelular da bomba de
extrusão de cálcio sugere que o íon esteja sendo transportado para o espaço intercelular, em
direção à membrana basal, assim como ocorre nos túbulos renais e epidídimos, por exemplo
(Loffing, et al., 2001; Hoenderop, et al., 2005; Wilhelm, et al., 2008; Brandenburger, et al.,
2011). Entretanto, o canal TRPV6, que promove sua entrada nas células, não apresentou uma
clara localização no domínio apical, sendo ainda altamente expresso por uma subpopulação de
células basais prostáticas, aqui denominadas cb-TRPV6++. Considerando a elevada quantidade
de cálcio contida no fluido prostático (Huggins, et al., 1942; Kavanagh, 1985), deve-se admitir
que o íon seria transportado também para o lúmen e não, necessariamente, a partir dele. Um
ponto importante é que o elevado gradiente eletroquímico gerado pelas altas concentrações de
citrato secretadas no lúmen (Kavanagh, 1985), pode ser suficiente para que os cátions
localizados no espaço intercelular atravessem passivamente as junções de oclusão entre células
epiteliais colunares, atingindo assim o lúmen prostático. Assim, propõe-se que a expressão dos
transportadores TRPV6 e PMCA por células epiteliais prostáticas tenha como função principal
a manutenção dos níveis de Ca2+ no ambiente intracelular, modulando indiretamente as
70
atividades celulares estimuladas por esse segundo mensageiro, tais como proliferação,
diferenciação e morte, como descrito anteriormente em estudos envolvendo diversos tipos
celulares (Schwab, et al., 2002 – neurônios; Schwarz, et al., 2006 – células renais; Lehen’kyi,
et al., 2007 – células de câncer de próstata; Aung, et al., 2009 – células de câncer colorretal;
Raphaël, et al., 2014 – células de câncer de próstata; Li, et al., 2018 – cardiomiócitos). De fato,
esses dois transportadores são encontrados amplamente distribuídos pelo organismo e não
apenas em órgãos que medeiam o transporte de cálcio entre dois compartimentos biológicos,
como o trato gastrointestinal, rins e epidídimos, indicando que o transporte transepitelial de
cálcio pode ser apenas uma de suas inúmeras funções na próstata (Stauffer, et al., 1993; Peng,
et al., 2000; García, et al., 2002; Hirnet, et al., 2003; Nijenhuis, et al., 2003; Wilhelm, et al.,
2008; Brandenburger, et al., 2011; Yang, et al., 2011; Skrypski, et al., 2015; Gao, et al., 2016;
Li, et al., 2018).
De um modo geral, células basais prostáticas CK14+ mostraram-se positivas para os três
transportadores-alvo deste trabalho: TRPV6, PMCA e calbindina. Apesar disto, células basais
não têm sido relacionadas ao transporte transepitelial de cálcio. Corroborando os resultados
aqui expostos, Campolina-Silva e colaboradores (2018) reportaram maior expressão de VDR e
do receptor a ele associado, RXR, em células basais prostáticas em comparação às demais
células epiteliais, indicando sua capacidade de responder aos efeitos de calcitriol, dentre os
quais destaca-se a expressão de transportadores de cálcio (Blomberg Jensen, et al., 2014). Ainda
que sua atuação na regulação da fisiopatologia prostática seja pouco clara, células progenitoras
e tronco foram identificadas entre a população de células basais prostáticas (Tsujimura, et al.,
2002; Burger, et al., 2005; Taylor & Risbridger, 2006; Wang, et al., 2014; Toivanen, et al.,
2016; Moad, et al., 2017); as quais também têm sido indicadas como importantes mediadoras
do metabolismo de andrógenos e estrógenos (El-Alfy, et al., 2000; Takase, et al., 2006; Morais-
Santos, et al., 2018). Adicionados à literatura, os dados aqui demonstrados sugerem que células
basais estão mais ativamente envolvidas na captação de cálcio extracelular via TRPV6, seja
devido a uma demanda metabólica intrínseca ou pelo seu potencial de contactar fisicamente
outras células epiteliais através de suas longas projeções citoplasmáticas (Soeffing & Timms,
1995; Hayward, et al., 1996; Shum, et al., 2008), sendo portanto possíveis protagonistas para a
manutenção da homeostase de cálcio nos demais tipos celulares do epitélio prostático.
cb-TRPV6++ foram detectadas na próstata de ratos Wistar em todas as idades avaliadas. A
frequência dessas células não sofreu variações significativas ao longo do envelhecimento
quando o epitélio prostático total foi avaliado. Porém, ressalta-se a ocorrência de uma elevada
71
dispersão de dados entre animais senis pertencentes ao mesmo grupo experimental. Uma vez
que ratos idosos apresentam maior incidência de lesões prostáticas com desequilíbrio da razão
células luminais / células basais (Morais-Santos, et al., 2015, 2018; Campolina-Silva, et al.,
2020), tal flutuação amostral sugere que a ocorrência de alterações moleculares que levam à
superexpressão de TRPV6 em uma subpopulação de células basais pode ser um evento inicial
no desenvolvimento de alterações histopatológicas na prostata de ratos. Dados quantitativos
aqui demonstrados revelam uma maior abundância de cb-TRPV6++ em sítios de metaplasia
escamosa e PIA, enquanto essa subpopulação de células basais não foi detectada em atrofias
epiteliais. Lesões com enriquecimento de células basais são mais frequentes na próstata lateral
senil de ratos Wistar em comparação aos animais jovens e ao lobo ventral da próstata destes
animais idosos (Morais-Santos, et al., 2018; Campolina-Silva, et al., 2020), o que poderia
justificar a detecção de elevados níveis proteicos deste canal de cálcio por Western blotting na
LP aos 24 meses.
As proteínas-alvo deste estudo tiveram seus padrões de expressão avaliados em áreas de
alterações histopatológicas da próstata de ratos Wistar, utilizando-se o modelo experimental de
envelhecimento fisiológico e a indução hormonal da carcinogênese através de tratamento
crônico com T+E2. O mecanismo de ação da testosterona em associação ao estradiol para o
desenvolvimento de alterações pré-malignas e malignas ainda não foi completamente
determinado. Porém, há indícios de que, juntos, esses hormônios esteroides atuam no
organismo masculino de modo similar ao desbalanço hormonal que ocorre naturalmente com o
avançar da idade, no qual a ação de estrógenos é favorecida em detrimento dos andrógenos
(Cunha, et al., 2001). Interessantemente, no presente estudo, animais expostos a T+E2
apresentaram aumento significativo da frequência de cb-TRPV6++ no epitélio prostático
histologicamente inalterado, em relação ao grupo controle. A intensa expressão de TRPV6 por
uma subpopulação de células basais representou, ainda, uma maior expressão geral desse canal
nos epitélios metaplásicos escamosos e em PIA, lesões prostáticas classicamente reconhecidas
pela hiperproliferação de células basais (Risbridger, et al., 2001a; De Marzo, et al., 2016;
Packer & Maitland, 2016; Puhr, et al., 2016). Estudo recente de nosso grupo de pesquisa
mostrou elevada expressão de ERα nessas lesões, em comparação ao epitélio normal e uma
particularidade fenotípica entre células basais prostáticas, as quais frequentemente tiveram alta
positividade para aromatase, enzima responsável pela conversão de andrógenos em estrógenos,
seguindo padrão semelhante ao demonstrado para TRPV6 (Morais-Santos, et al., 2018).
72
A metaplasia escamosa da próstata adulta é uma alteração histopatológica que se desenvolve a
partir de uma maior ativação de ERα mediante aumento dos estímulos desencadeados por
estrógenos circulantes (Andersson & Tisell, 1982; Risbridger, et al., 2001b). Em contrapartida,
acredita-se que a PIA seja desenvolvida mediante estímulos inflamatórios exacerbados, os quais
elevam o estresse oxidativo local e provocam hiperativação das vias de sinalização pró-
sobrevivência e antiapoptóticas (De Marzo, et al., 2016; Packer & Maitland, 2016; Puhr, et al.,
2016). Nesse sentido, sabe-se que o influxo de Ca2+ mediado por TRPV6 é capaz de estimular
a proliferação e promover sobrevivência celular, mesmo em condições de baixa disponibilidade
do íon livre (Schwarz, et al., 2006; Lehen’kyi, et al., 2007; Raphaël, et al., 2014), tendo sido
reportada, por exemplo, associação direta entre estresse de retículo endoplasmático e a ativação
do promotor de TRPV6, levando à sua maior transcrição e, consequentemente, à inibição de
vias de apoptose em cardiomiócitos em isquemia (Li, et al., 2018). Os resultados deste trabalho
mostraram que a maior parte da população de células basais presente em metaplasias escamosas
e PIA dispõem de elevada expressão de TRPV6. Esses dados indicam que células basais
expostas a um microambiente hormonal favorável à proliferação, no caso da metaplasia, ou
desfavorável à sobrevivência, no caso da PIA, têm como característica em comum uma maior
síntese de estrógenos e ativação de ERα localmente (Morais-Santos, et al., 2018), e a
superexpressão de TRPV6, seja devido à proliferação da pequena porcentagem de cb-TRPV6++
já presentes no epitélio inalterado, ou ainda pela modulação de mecanismos epigenéticos.
Notavelmente, há evidências de que a administração de estrógenos pode estimular a transcrição
dos transportadores transepiteliais de cálcio, incluindo TRPV6, PMCA e calbindina, in vivo
(Van Abel, et al., 2002; Öz, et al., 2007).
Simultaneamente à expansão da população de células basais intensamente positivas para
TRPV6, observou-se também uma drástica redução da expressão de PMCA em lesões
prostáticas de metaplasia escamosa e PIA. Dado o elevado estresse oxidativo associado à PIA,
esses resultados corroboram achados de que a presença de espécies reativas de oxigênio é capaz
de provocar uma depleção nos transportadores PMCA e NCX presentes na membrana
plasmática de neurônios (Kip & Strehler, 2007). Além disso, acredita-se que uma menor
expressão de PMCA, associada ou não a maiores níveis de canais de cálcio como TRPV6,
oferece às células condições para a ativação de vias de proliferação dependentes de Ca2+
(Monteith, et al., 2007; Aung, et al., 2009). No presente trabalho, observou-se ainda uma
redução da localização de PMCA na membrana plasmática basolateral de células atróficas, em
comparação ao epitélio normal adjacente. Diferentemente da PIA, que ocorre pontualmente
73
apenas na LP, áreas de atrofia epitelial são frequentemente observadas na próstata de ratos
Wistar a partir dos 12 meses de idade, sendo mais incidentes na VP (Morais-Santos, et al., 2015;
Campolina-Silva, et al., 2020). Morfologicamente, essas lesões são caracterizadas por uma
redução da altura do epitélio colunar da próstata, o qual pode assumir, dependendo do grau de
atrofia, organização pavimentosa (McNeal, 1988). Recentemente, investigação conduzida por
nosso grupo de pesquisa registrou um aumento significativo da expressão dos fatores
citoprotetores ERK1/2, AKT e NF-kB em associação a aumento de caspase-8 em áreas de
atrofia epitelial da VP de ratos Wistar (Gonzaga, et al., 2017). Hipotetiza-se que um possível
aumento da concentração intracelular de cálcio em epitélios atróficos, devido ao
comprometimento do principal mecanismo de sua extrusão, sem que os níveis de TRPV6 e
calbindina fossem alterados, pode estar associado ao estímulo de sobrevivência nestas áreas
específicas, uma vez que a manutenção de elevados níveis intracelulares de Ca2+ pode atenuar
a propagação de sinais de morte (Bruce, 2013; Raphaël, et al., 2014; Déliot & Constantin,
2015).
Corroborando as evidências de que PMCA pode participar do controle do ciclo celular
(Monteith, et al., 2007; Aung, et al., 2009), também foi notada menor positividade para a
ATPase em regiões de PIN, as quais são descritas como lesões pré-malignas devido ao seu alto
potencial proliferativo e por abrigarem alterações moleculares implicadas no processo de
carcinogênese, tais como superexpressão de fatores de transcrição ETS e níveis reduzidos do
marcador de diferenciação NKX3.1 (Shappell, et al., 2004; De Marzo, et al., 2016; Packer &
Maitland, 2016; Puhr, et al., 2016). Calbindina também mostrou-se menos expressa em regiões
de PIN, indicando um comprometimento do tamponamento e efluxo de Ca2+ exatamente nos
sítios de origem do câncer. Esses dados suportam evidências da literatura de que assim como
PMCA, calbindina tem participação no processo de proliferação celular, tendo sido reportada
sua redução em queratinócitos durante o reparo tecidual (Jin, et al., 1997). Apesar de não terem
sido observadas variações evidentes na intensidade de imunomarcação para PMCA no epitélio
normal da próstata ao longo do envelhecimento, sua menor detecção em lesões de metaplasia
escamosa, PIA, atrofia e PIN pode justificar os baixos níveis de expressão dessa ATPase no
extrato tecidual total da VP e LP de animais idosos em ensaios de Western blotting.
Os receptores VDR e ERβ, ambos envolvidos na promoção de sinais antiproliferativos e pró-
diferenciação nos tecidos (Peehl, et al., 1994; Weihua, et al., 2002; Leman, et al., 2003;
Imamov, et al., 2004; Minelli, et al., 2009), foram similarmente reduzidos em focos de PIN do
epitélio prostático de ratos Wistar (Morais-Santos, et al., 2018; Campolina-Silva, et al., 2018).
74
Esses achados demonstram que a redução de sinais promovidos por calcitriol pode estar
causando uma redução na abundância desses transportadores de cálcio nessas regiões,
apontando ainda para uma possível atuação de estrógenos na síntese de PMCA e calbindina na
próstata, como previamente demonstrado (Van Abel, et al., 2002; Öz, et al., 2007; Blomberg
Jensen, et al., 2010).
Seguindo padrão de expressão similar ao observado para as lesões de PIN, adenocarcinomas
prostáticos bem diferenciados identificados na LP de ratos Wistar idosos ou submetidos a
tratamento com T+E2 apresentaram expressão aparentemente inalterada de TRPV6, associada
a redução de PMCA e calbindina. Em conjunto, esses dados reforçam o princípio de que as
células epiteliais presentes em lesões de PIN apresentam um perfil proteômico que as distingue
de células saudáveis e que se aproxima do fenótipo observado para células cancerosas. Os
resultados aqui demonstrados sugerem ainda que o epitélio prostático de ratos Wistar sofre uma
perturbação no controle da disponibilidade de Ca2+ intracelular a partir de fases iniciais da
carcinogênese, com alteração na expressão dos transportadores transepiteliais de cálcio já em
sítios de PIA e PIN. Tais alterações parecem ser mantidas durante o processo de transição entre
PIN e adenocarcinoma.
Os transportadores de cálcio investigados no presente estudo foram previamente associados à
fenótipos malignos de diversos tipos de câncer em humanos (Watanabe, et al., 1994; Peng, et
al., 2001; Pelc, et al., 2002; Monteith, et al., 2007; Lee, et al., 2008; Jung, et al., 2011; Lee, et
al., 2011; Meng, et al., 2011; Huang, et al., 2017; Jin, et al., 2019). Dentre os três
transportadores-alvo avaliados, apenas TRPV6 já havia sido demonstrado em câncer de próstata
humano, de modo que sua expressão foi significativamente elevada em relação à tecidos
normais ou de HPB, correlacionando-se com o estadiamento de Gleason (Peng, et al., 2001;
Wissenbach, et al., 2001; Zhuang, et al., 2002; Fixemer, et al., 2003). Além do câncer de
próstata, TRPV6 se mostrou superexpresso em outros cânceres, incluindo os de mama, tireoide,
ovário e colorretal (Lehen’kyi, et al., 2012; Nilius & Szallasi, 2014). Esses resultados não estão
em acordo com os dados aqui apresentados, nos quais as células de câncer permaneceram
aparentemente inalteradas quanto à sua positividade para TRPV6, em relação aos epitélios
inalterados da próstata de ratos Wistar. Além disso, reportou-se aqui a presença de células
basais intensamente marcadas para TRPV6 em alguns focos de adenocarcinoma prostático.
Sabe-se que a ausência de células basais é uma das principais características do câncer de
próstata, regra esta que possui algumas exceções, ainda que pouco frequentes (Robinson, et al.,
2012; Tan, et al., 2015; Epstein, et al., 2016; Le Magnen, et al., 2018; Torres, et al., 2018). O
75
papel das células basais prostáticas durante o desenvolvimento de lesões malignas ainda é
pouco claro, porém há um grande número de evidências que suportam a hipótese de que estas
são as células de origem do câncer (Bonkhoff, et al., 1994; Stoyanova, et al., 2013; Kwon, et
al., 2014; Packer & Maitland, 2016). Assim, o intrigante achado de algumas dessas células
localizadas em lesões neoplásicas e expressando intensamente TRPV6, canal de grande
relevância clínica em tumores humanos, pode contribuir para um melhor entendimento sobre a
carcinogênese prostática. Novas perspectivas alertam para a necessidade um estudo mais
aprofundado acerca dos mecanismos moleculares reguladores dos níveis de expressão de
TRPV6 especificamente em células basais e seus possíveis impactos na transformação celular
para fenótipos malignos.
Em relação à bomba de Ca2+ PMCA, registrou-se aqui significativa redução em sua positividade
em células de adenocarcinoma prostático, em comparação ao epitélio inalterado. A expressão
dessa ATPase por células de câncer varia grandemente dependendo da isoforma investigada e
do tecido tumoral de origem, tendo sido reportada maior detecção de PMCA1 e PMCA2 em
câncer de mama (Lee, et al., 2002, 2005; VanHouten, et al., 2010); e baixa detecção de PMCA1
em carcinoma oral de células escamosas e em fibroblastos da pele transformados (Reisner, et
al., 1997; Saito, et al., 2006). Ainda, os níveis de PMCA4 foram reduzidos em câncer colorretal,
quando comparados aos de tecidos benignos, sendo que a expressão da proteína foi
positivamente associada ao grau de diferenciação de células de câncer in vitro (Aung, et al.,
2009). Dentre as etapas que constituem o transporte transcelular de cálcio, a extrusão é a única
que ocorre contra um alto gradiente eletroquímico, sendo, portanto, desempenhada por bombas
ou trocadores através de transporte ativo (Hoenderop, et al., 2005). PMCA é uma proteína
composta por dez domínios transmembranares e quatro domínios (loops) citoplasmáticos,
sendo estes essenciais para a regulação da sua função (Bruce, 2013). A sua ativação depende
principalmente da ligação do complexo Ca2+-calmodulina ao seu domínio auto-inibitório e da
presença de ATP, que é desfosforilada pelo domínio catalítico. Além desses dois fatores
ativadores, PMCA também pode ter sua atividade potencializada pela ligação de fosfolipídeos
e pela fosforilação pelas quinases PKA e PKC em domínios específicos (Bruce, 2013).
Considerando que PMCA requer a atuação conjunta de tantos fatores estimulatórios para a sua
completa funcionalidade e ainda, que diferentes alterações genéticas e epigenéticas estão
presentes em cânceres de variadas origens, é possível compreender a heterogeneidade
observada entre diferentes tipos de neoplasias quanto à expressão desse transportador.
76
Calbindina sofreu reduções pontuais em células epiteliais do câncer de próstata de ratos Wistar.
Em contraste, elevada expressão foi descrita para essa proteína ligante de Ca2+ em células de
osteossarcoma (Huang, et al., 2017), além de meduloblastoma e tumores do endométrio e
pulmão, nos quais sua expressão pelas células neoplásicas foi correlacionada a piores
prognósticos (Watanabe, et al., 1994; Pelc, et al., 2002; Lee, et al., 2008; Jung, et al., 2011;
Meng, et al., 2011; Jin, et al., 2019). Alguns desses estudos reportaram ainda uma associação
entre expressão de calbindina e maior proliferação e resistência a apoptose (Jung, et al., 2011;
Huang, et al., 2017; Jin, et al., 2019), em oposição a achados de Jin e colaboradores (1997),
que observaram redução na expressão dessa proteína no epitélio da epiderme em proliferação.
Sabe-se que o envolvimento do íon cálcio em diferentes vias de sinalização celular é complexo,
sendo que os efeitos gerados por mudanças em sua concentração basal são, muitas vezes,
antagônicos (Monteith, et al., 2007). Os resultados obtidos através de imunomarcação para
transportadores transepiteliais de cálcio mostram que o adenocarcinoma prostático de ratos
Wistar idosos ou submetidos a tratamento com T+E2 é similar à lesão encontrada em humanos,
apresentando alterações moleculares que podem contribuir para um melhor entendimento sobre
a carcinogênese da glândula nas duas espécies. Porém, algumas divergências foram notadas,
reforçando a necessidade de cautela para a interpretação de resultados provenientes de modelos
animais.
Ainda que os métodos empregados neste estudo não sejam capazes de fornecer informações
que permitam afirmar quanto ao nível de funcionalidade das proteínas-alvo presentes, os
resultados fornecem indícios de que a variação da expressão de TRPV6, PMCA e calbindina,
especialmente em sítios de lesões teciduais, pode estar promovendo um desbalanço na
homeostase de cálcio na próstata de ratos e, possivelmente, favorecendo o desenvolvimento de
lesões malignas. A abordagem investigativa utilizada neste trabalho pode contribuir para um
melhor entendimento da fisiopatologia prostática, uma vez que esse trio de proteínas
desempenham papel crucial na manutenção da homeostase intracelular de Ca2+, sendo também
fundamentais na modulação de funções celulares, incluindo sinais para a proliferação,
sobrevivência e morte celulares, em vários tecidos (Carafoli, 1991; Reisner, et al., 1992;
Hoenderop, et al., 2005; Kojetin, et al., 2006; Post, et al., 2008; Brandenburger, et al., 2011;
Jung, et al., 2011; Bruce, 2013; Na & Peng, 2014; Wolf & Wennemuth, 2014).
77
7 CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou, pela primeira vez, expressão do canal de influxo de Ca2+ TRPV6
e da bomba de extrusão PMCA em todo o complexo prostático de ratos Wistar, em comparação
a outros órgãos. Os dados obtidos indicam que o transporte transepitelial de cálcio ocorre de
modo mais acentuado nas próstatas ventral e lateral, as quais apresentaram os maiores níveis
proteicos de TRPV6 e PMCA em relação aos demais lobos prostáticos. As proteínas promotoras
do transporte transepitelial de Ca2+ TRPV6, PMCA e calbindina tiveram seus padrões de
expressão alterados em diferentes áreas de lesões prostáticas de caráter predominantemente
proliferativo, como metaplasia escamosa, PIN e adenocarcinoma; ou antiapoptótico, como PIA
e atrofia. As variações observadas quanto aos padrões de expressão destas proteínas em pontos
específicos de alterações histológicas do epitélio prostático, sugerem que mudanças na
sinalização intracelular de cálcio, podem estar relacionadas ao desenvolvimento de lesões
prostáticas frequentemente encontradas na próstata senescente, consequentemente
influenciando na origem e desenvolvimento de patologias prostáticas. Além disto, a expressão
das proteínas-alvo deste trabalho por células basais, incluindo uma subpopulação intensamente
positiva para TRPV6, fornece perspectivas quanto a uma participação ativa dessas células no
transporte de cálcio através do epitélio prostático normal e durante a carcinogênese.
78
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