Espaços Fotográficos
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O CONCRETO, A LUZ, O TEMPO
Silvia Giordani1
Aproximar-se de um local como o prédio do Instituto de Arquitetos do Brasil foi uma experiência singular para todos os artistas partici-
pantes do projeto Espaços Fotográficos. A surpresa do encontro com elementos arquitetônicos preservados da arquitetura colonial portu-
guesa, a expectativa em torno do processo de restauração em andamento, bem como a lembrança dos tempos da ditadura e o descon-
forto de imaginar o que havia acontecido naquele lugar foram sentimentos que permearam as experiências de um e de outro artista. Como
feixes luminosos que entram na objetiva, as sensações foram atravessando o pequeno espaço do Aleph2 e tomando forma em imagens.
Cinthia Sfoggia, Neusa Thomé e Mara Radé atentaram para as questões arquitetônicas. Cinthia apontou a importância da restaura-
ção e tombamento das edificações antigas e mostrou recortes do prédio em restauro junto com a própria caliça do local. Dentre tantos
espaços em processo de mudança, Neusa concentrou-se em uma parede de tijolos desnuda, que evoca camadas, textos, associações e
preocupações relacionadas ao trabalho dos arquitetos e à sua história pessoal, lhe fazendo imaginar esperanças e sonhos futuros. Mara
partiu da arquitetura, abstraindo-a para uma geometria labiríntica, onde escadas e portas fazem o papel de obstáculos e passagens.
Neca Sparta e Lívia Martins foram levadas a outra dimensão de tempo e espaço. Um ambiente dramaticamente silencioso, vazio e
precário de luz reportou Neca a solidão e atmosfera de encantamento de um atelier de artista congelado no tempo. Já Lívia foi levada à
sua infância em Rio Grande, em um prédio hipotético, restaurado pelo desenho, em uma referência ao passado ou talvez em uma pos-
sibilidade para o futuro.
A parede manchada foi vista por Clara Figueira como uma cicatriz do tempo, que guarda marcas de desgastes, corrosões, infiltra-
ções, descasques, fungos e teias. Como nas cavernas pré-históricas, é o suporte para a pintura. Mas, diferentemente daqueles primeiros
registros, estes não foram feitos pelo homem, mas pelo passar dos anos. As paredes das cavernas contavam a história dos homens da
época, assim como as paredes do IAB guardam registros do sofrimento de pessoas que lutavam por um país melhor.
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Sérgio Bohrer, Jorge Bragança e Neide da CPinto sentiram no ambiente a presença daqueles que por ali passaram. Sérgio, pelas
paredes com resquícios das agressões havidas naquele porão e por uma porta que já não impede a liberdade de ninguém. Jorge, pelas
janelas iluminadas, que contam a história passada através de seus fachos. Já para Neide, nem mesmo o sol de uma manhã de outono
entrando em frestas através da beleza do prédio poderia calar as vozes daquelas pessoas que ali sofreram sob os cruéis e criminosos
métodos utilizados na luta política em 64; seus diedros tridimensionalizam esta história, trazendo o passado para o momento capturado
no presente, em uma homenagem que procurou transformar o mal e a tristeza em claridade e felicidade.
Nos Espaços Fotográficos encontrados pelos artistas, há uma nova dimensão do concreto, moldado pelo olhar, recortado pelo en-
quadramento da câmera e devolvido em um novo formato para o seu local de origem. Traz, ainda, para o espectador, uma provocação e
estímulos para uma interpretação que poderá ser emocional, intelectual ou da ordem de sua imaginação.
1 Artista visual e fotógrafa pela ESPM/RS.
2 BORGES, Jorge Luis. O Aleph. São Paulo: Cia das Letras, 2008.
Trabalhos em Exposição
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Cinthia Sfoggia
“In Memoriam”, 2013
Impressão com pigmento mineral
sobre papel Enhanced Matte,
caliça e cerâmica serigrafada
260 x 110 cm
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Clara Figueira
Pintura Arqueológica, 2013
Impressão com pigmento mineral
sobre papel Somerset Velvet
72 x 110 cm
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Jorge Bragança
Travessia, 2013
Digital C-print sobre papel metálico
70 x 60 cm
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Lívia Martins
Hipótese, 2013
Digital C-print. Fotografia e desenho
65 x 110 cm
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Mara Radé
Labirinto, 2013
Impressão com pigmento mineral
sobre papel Somerset Velvet
44 x 60 cm
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Neca Sparta
Onde está a luz?, 2013
Impressão com pigmento mineral sobre
papel Somerset Velvet
75 x 110 cm
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Neide CPinto
Estudo de portas, janelas, paredes,
uma mulher sozinha e fantasmas
atormentados, 2013
Digital C-print. Fotografias e
diedros de projeção
35 x 70 x 70 cm
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Neusa Thomé
Arquitexturas, 2013
Impressão com pigmento mineral
sobre papel Somerset Velvet
165 x 110 cm
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Sérgio Bohrer
Perforto, 2013
Impressão com pigmento mineral
sobre papel Somerset Velvet
73 x 110 cm
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Currículos
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CINTHIA SFOGGIAArquiteta e Artista Visual pelo Instituto de Artes da UFRGS, Bacharelado em Cerâmica. Expõe desde 1990 em mostras coletivas, individuais e
salões dentro e fora do Brasil. Ganhou prêmios em Salões de Cerâmica no MARGS. Destaque do Juri no XVI Salão de Mini Cerâmica do RS e 2º lugar
no II Salão de Mini Cerâmica do RS. Foi jurada em várias exposições. Faz parte dos grupos GEF, Bando de Barro e Coletivo Sinapses. Ministra cursos
de cerâmica no seu atelier desde 1994.
CLARA FIGUEIRAPós Graduada em Poéticas Visuais - Pintura, Desenho e Instalação: Processos Híbridos e em Poéticas Visuais - Gravura, Fotografia e Imagem
Digital, ambos na FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. Menção Honrosa no Concurso Fotográfico Fenabb, Brasília, DF. Diversas exposições coletivas e
uma individual no Paço Municipal, em Porto Alegre.
JORGE BRAGANÇAArtista visual, natural de MG, radicado no RS. Curso de desenho, pintura, gravura, fotografia, e história da arte no Atelier Livre da Prefeitura de Por-
to Alegre. Pertence ao GEF e ao Coletivo Sinapses. Realizou exposições coletivas e possui obras em acervo no Museu Histórico do Butantan em SP.
LÍVIA MARTINSFotógrafa, pós-graduada em Artes Visuais - Cultura e Criação pelo SENAC-RS. Frequentou cursos de desenho, tridimensional, pintura e fotografia
no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, RS. Participou de exposições coletivas e concursos de fotografia.
MARA RADÉPós-Graduada em Poéticas Visuais - Gravura, Fotografia e Imagem Digital pela FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. Licenciada em Educação Artís-
tica - Habilitação: Desenho e Artes Plásticas pela ULBRA, Canoas, RS. Pertence ao GEF e ao Coletivo Sinapses e participou de diversas exposições
no Brasil e no exterior.
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NECA SPARTAPós-graduada em Poéticas Visuais - Gravura, Fotografia e Imagem Digital pela FEEVALE. Participação em diversas exposições no Brasil e no
exterior. Indicada ao I Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, Categoria Exposição Coletiva. Possui obras em acervo na Pinacoteca Barão de Santo
Ângelo, Instituto Artes, UFGRS, Porto Alegre, RS; Museu de Arte Contemporânea, MACRS, Porto Alegre, RS.
NEIDE CPINTOGraduada em Educação Artística pela Faculdade Palestrina/RS. Participação em exposições coletivas no Brasil e no exterior. Duas exposições
individuais em Porto Alegre e uma em Novo Hamburgo, com a série de fotografias “Encarnadas”. Possui uma obra em acervo no Museu Histórico do
Instituto Butantan, SP e 3 fotografias no AELLA-Cine e Foto Latinoamericana, Paris, FR.
NEUSA THOMÉArtista visual, estudou Semiótica da Imagem com Victor Burgin (Politecnic of Central London) e com Rosalind Coward (Reading University/Ingla-
terra). Frequenta cursos de Arte e Fotografia no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Diversas coletivas no Brasil e no exterior e individual na Sala
de Fotografia E. F. Scalco da Assembléia Legislativa, RS. Pertence ao GEF e ao Coletivo Sinapses.
SÉRGIO BOHRERFotógrafo e artista visual, fez vários cursos e oficinas de fotografia, cinema e vídeo. No Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre,
fez cursos de história da arte, desenho, pintura e gravura. Faz parte do GEF e do Coletivo Sinapses. Diversas exposições coletivas, com
fotografia e gravura.
SILVIA GIORDANIArtista visual e fotógrafa pela ESPM/RS. Participa do GEF , do Coletivo Sinapses e é professora de fotografia. Diversas exposições coletivas no
Brasil e no exterior. Prêmio Maria Conceição Menegassi no Salão de Arte do Atelier Livre e Prêmio Aquisição - 3º Lugar no Salão de Arte de Praia
Grande, SP. Possui obras em acervo na Galeria Nilton Zanotti da Secretaria de Cultura e Turismo de Praia Grande, SP.
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