JOEL AVANCINI ROCHA FILHO
Efeitos da solução salina hipertônica na reperfusão hepática
em pacientes submetidos ao transplante do fígado
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de
Doutor em Ciências
Área de concentração: Anestesiologia
Orientador: Prof. Dr. Maurício Rocha e Silva
São Paulo
2005
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1. INTRODUÇÃO
O transplante do fígado ainda é a única modalidade terapêutica eficaz em pacientes
com insuficiência hepática terminal. A despeito de toda a evolução na tecnologia dos
transplantes, a cirurgia ainda está associada a elevado índice de complicações durante os
períodos intra e pós-operatórios, apresentando mortalidade operatória ao redor de 5%
com sobrevida em 1 ano de 85% (Ayoub e Ahmed, 2003).
Complicações cardiovasculares são comuns no transplante hepático e pelo menos
uma complicação cardíaca é observada em 70% destes pacientes, sendo responsável por
até 30% da mortalidade intra-operatória (Dec et al., 1995; Kang et al., 1989).
Apesar das taxas de mortalidade intra-operatória terem caído já na década de 80 de
19% para índices inferiores a 3,2% (Kang et al., 1989), o período intra-operatório ainda
apresenta como desafio o controle da síndrome pós-reperfusão hepática. A síndrome
apresenta incidência média de 30% (Aggarwal et al., 1987) e não mostrou sinais de
queda com a evolução dos transplantes (Millis et al., 1997).
A reperfusão hepática, ou seja, a restauração do fluxo sangüíneo hepático, é um
momento crítico do transplante de fígado e o período mais freqüente de instabilidade
hemodinâmica (Aggarwal et al., 1987; Dec et al., 1995; Estrin et al., 1989; Kang et al.,
1989) podendo causar dano isquêmico ao enxerto, ser responsável por óbito intra-
operatório ou mesmo complicações tardias (Ayoub e Ahmed, 2003).
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A fase de reperfusão se inicia com a revascularização hepática pós-restauração do
fluxo sangüíneo venoso portal e arterial hepático, e com o restabelecimento do retorno
venoso ao coração.
A resposta hemodinâmica é basicamente decorrente da súbita liberação na
circulação de sangue acidótico, hipercalêmico e rico em substâncias vasoativas e agentes
nóxios liberados tanto pelo enxerto no processo de isquemia e reperfusão hepática como
pelos acumulados na circulação esplâncnica estagnada durante o pinçamento de veia
porta (Blanot et al., 1995; Chemla et al., 1997).
Do ponto de vista hemodinâmico o período se caracteriza por queda da pressão
arterial e da resistência vascular sistêmica com aumento do índice cardíaco, que
geralmente persiste por uma ou duas horas (Aggarwal et al., 1987) e que pode requerer
suporte farmacológico hemodinâmico para manter a perfusão sanguínea adequada nesse
período (Acosta et al., 1999).
A síndrome pós-reperfusão é um fenômeno hemodinâmico agudo e transitório
caracterizado por colapso cardiovascular que sucede à reperfusão, ocorrendo diminuição
da pressão arterial, da resistência vascular sistêmica e da contratilidade miocárdica
acompanhado de aumento nas pressões de enchimento, da resistência vascular pulmonar
(manifestada por aumentos das pressões da artéria pulmonar média e ocluída) (Goode et
al., 1994) e de bradicardia acentuada (Aggarwal et al., 1993) podendo evoluir
abruptamente para parada cardíaca (Ayoub e Ahmed, 2003).
A síndrome pós-reperfusão ocorre em cerca de 30% dos transplantes hepáticos e o
padrão hemodinâmico foi inicialmente descrito e caracterizado por Aggarwal et al. como
queda da pressão arterial média acima de 30% dos valores pré-reperfusão, com duração
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maior que 1 minuto, nos primeiros 5 minutos da reperfusão (Aggarwal et al., 1987).
Outros grupos caracterizam a síndrome como queda da pressão arterial média a valores
inferiores a 60mmHg nos adultos e a 50mmHg nas crianças nos primeiros minutos da
reperfusão (Estrin et al., 1989).
O quadro hemodinâmico geralmente se resolve nos primeiros 5 minutos da
reperfusão, ocasionalmente persiste por mais de 30 minutos e freqüentemente requer
suporte farmacológico adrenérgico para manter a perfusão sistêmica neste período.
Em resumo, a síndrome pós-reperfusão é um fenômeno hemodinâmico de etiologia
multifatorial, ainda não totalmente compreendido, atribuído à liberação na circulação de
subprodutos do metabolismo pelo enxerto durante o processo de isquemia e reperfusão
hepática e pela restauração do fluxo sangüíneo esplâncnico. A magnitude das
repercussões hemodinâmicas parece ser diretamente proporcional à intensidade da lesão
de isquemia e reperfusão e ao grau de disfunção hepática do paciente.
Vários pesquisadores já demonstraram que o aumento do estresse oxidativo gerado
pela reperfusão hepática está associado às alterações hemodinâmicas características da
síndrome pós-reperfusão hepática (Bellamy et al., 1997; Blanot et al., 1995; Chemla et
al., 1997; Galley et al., 1995; Goode et al., 1994).
Níveis aumentados de mediadores inflamatórios, substâncias vasoativas e
inotrópicas negativas, detectados no plasma pós-reperfusão são responsabilizados pelas
as alterações hemodinâmicas que sucedem a revascularização hepática (Aggarwal et al.,
1987; Blanot et al., 1995; Chemla et al., 1997; Estrin et al., 1989). Porém existe
dificuldade no estudo da gênese deste fenômeno pela rapidez de sua dissipação, por
recirculação, ou por inativação dos mediadores responsáveis pela síndrome.
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Após o início da reperfusão hepática, uma série de eventos é desencadeada e
contribui para o processo de lesão local e à distância sendo a resposta inflamatória
exacerbada reconhecida como mecanismo central da lesão durante a reperfusão
(Jaeschke, 2003). A reperfusão ativa as células de Kupffer, principais fontes de produção
de radicais livres de oxigênio, promove extravasamento de leucócitos da circulação para
o interstício, aumento da liberação de citocinas pró-inflamatórias, ativação dos fatores
do complemento, edema de células endoteliais e vasoconstrição, que têm como
resultado final a falência microcirculatória (Jaeschke, 2003; Serracino-Inglott et al.,
2001).
A síndrome de isquemia e reperfusão hepática é responsável por alta morbi-
mortalidade do transplante de fígado (Kang, 2002), tanto pelos efeitos intra-hepáticos
como extra-hepáticos, sendo responsabilizada por complicações graves e não
funcionamento primário do enxerto em ate 10% dos pacientes (Serracino-Inglott et al.,
2001).
Os mecanismos responsáveis pelo não funcionamento precoce do enxerto não estão
esclarecidos porém é fundamental a manutenção da estabilidade hemodinâmica na
reperfusão, visando minimizar o dano isquêmico (Fukuzawa et al., 1994; Kniepeiss et
al., 2003).
O processo de isquemia e reperfusão está presente no transplante de órgãos, nas
cirurgias cardiovasculares, na terapia trombolítica e em estados de choque. Vários
estudos indicam que tanto a isquemia e reperfusão hepática como a ressuscitação do
choque hemorrágico podem ativar as células de Kupffer e aumentar a liberação de
citocinas (Alam et al., 1998; Jaeschke e Farhood, 1991; Poggetti et al., 1992) que,
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dependendo da intensidade da resposta inflamatória sistêmica gerada, pode evoluir com
falência de múltiplos órgãos e sistemas, responsável por índices de mortalidade em
terapia intensiva que variam de 30 a 100% em função do número de órgãos envolvidos
(Collard e Gelman, 2001). O mecanismo etiológico central da resposta inflamatória
sistêmica, que sucede a qualquer forma de choque, é a lesão de isquemia e reperfusão
esplâncnica (Mallick et al., 2004).
O fenômeno de isquemia e reperfusão com ativação das células de Kupffer,
aumento na liberação de citocinas e de radicais livres de oxigênio, observado no choque
hemorrágico após ressuscitação (Alam et al., 1998; Ayala et al., 1991; Liu et al., 1994),
é também responsável pela resposta inflamatória sistêmica que sucede a reperfusão
hepática no transplante do fígado (Jaeschke, 2003; Serracino-Inglott et al., 2001).
Dentre as soluções utilizadas no tratamento do choque hemorrágico, a solução
salina hipertônica (NaCl a 7,5%) em pequenos volumes (4mL/kg) mostrou-se eficaz na
redução das alterações hemodinâmicas observadas nessa situação (Velasco et al., 1980).
A solução salina hipertônica (SSH), usada na ressuscitação do choque hemorrágico,
considerada situação de isquemia e reperfusão generalizada, mostrou-se segura e eficaz
em restaurar a hemodinâmica macrovascular (pressão arterial e débito cardíaco)
(Kramer, 2003). Trabalhos recentes demonstram que a solução salina hipertônica
também apresenta propriedades anti-oxidantes, diminuindo a lesão microvascular
secundária a resposta inflamatória sistêmica, efeito protetor à lesão de isquemia e
reperfusão, indicando como vantagens de sua utilização a diminuição das complicações
renais, respiratórias e de coagulação pós-ressuscitação. (Kreimeier e Messmer, 2002;
Pascual et al., 2003; Shukla et al., 2004).
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Velasco et al., em 1980 publicaram o primeiro estudo descrevendo com detalhes os
efeitos hemodinâmicos favoráveis da solução salina hipertônica (NaCl a 7,5%, 4mL/kg)
no choque hemorrágico grave. A infusão de 4 mL/kg de peso corpóreo de solução salina
hipertônica em cães com choque hemorrágico promoveu aumento da pressão arterial
média, débito cardíaco, fluxo sangüíneo mesentérico e redução da resistência vascular
sistêmica persistente nas 6 horas do estudo. O impacto do estudo foi a diferença na
sobrevida dos animais, quando comparados o grupo que recebeu solução salina
hipertônica e o que recebeu solução salina isotônica. Em seis horas de experimento,
todos os cães que receberam solução salina hipertônica sobreviveram enquanto no grupo
controle todos haviam morrido (Velasco et al., 1980).
Os efeitos cardiorrespiratórios favoráveis da terapia hiperosmolar no choque
hemorrágico foram demonstrados e confirmados por estudos posteriores, assim como a
expansão volêmica transitória (Rocha e Silva et al., 1987; Velasco et al., 1980), a rápida
recuperação do débito, índices cardíacos e da pressão arterial média (Prough et al., 1991;
Rocha e Silva et al., 1987; Velasco et al., 1980), do déficit de base (Hannon et al., 1990;
Velasco et al., 1980), da disponibilidade de oxigênio (Hannon et al., 1990; Hannon et al.,
1989), vasodilatação pré-capilar (Nakayama et al., 1984; Rocha-e-Silva et al., 1986;
Shackford et al., 1988), hiperosmolaridade e hipernatremia (Rocha e Silva et al., 1987;
Shackford et al., 1987) e a melhora na função renal e nos níveis de lactato sérico
(Shackford et al., 1988; Sondeen et al., 1990).
O mecanismo dos efeitos circulatórios da solução salina hipertônica baseia-se na
mobilização instantânea de líquidos endógenos secundária ao gradiente osmótico
(Velasco et al., 1980). A restauração da fisiologia intravascular pela solução salina
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hipertônica é decorrente de um potente gradiente osmótico transcapilar que induz a
movimentação de fluido do interstício, das células endoteliais e das hemácias para o
espaço intravascular (Pascual et al., 2003). A mobilização de água do compartimento
intracelular para o compartimento intravascular promove duas vantagens: o volume
plasmático aumenta 3 a 4 vezes o volume infundido e, por normalizar o volume da
célula endotelial, o diâmetro luminal dos microvasos é retificado e conseqüentemente
aumenta o fluxo sangüíneo microcirculatório (Kreimeier e Messmer, 2002; Pascual et
al., 2003; Rocha e Silva, 1998). Estas vantagens se tornam particularmente atrativas
quando se deseja obter efeito cardiovascular instantâneo sem risco de sobrecarga hídrica
ou agravamento do distúrbio endotelial que as terapias convencionais promovem.
Além dos efeitos hemodinâmicos benéficos imediatos, evidências demonstram que
a solução salina hipertônica reduz o processo inflamatório sistêmico. O efeito protetor
contra o desenvolvimento de lesão pulmonar na ressuscitação do choque hemorrágico
foi confirmado por vários pesquisadores, bloqueando ativação neutrofílica, diminuindo o
seqüestro pulmonar de neutrófilos, o edema pulmonar e a lesão tecidual, fatores que
também se correlacionaram positivamente com a sobrevida, denotando significante
inibição da resposta inflamatória sistêmica (Angle et al., 2000; Shields et al., 2003; Sun
et al., 1999).
O potencial da solução salina hipertônica em atenuar os efeitos celulares da
isquemia e reperfusão quando administrada na ressuscitação do choque hipovolêmico,
diminuindo o seqüestro leucocitário microvascular, diminuindo a ativação neutrofílica
inflamatória, aumentando a proteção imunológica linfocitária, diminuindo a lesão
pulmonar, hepática e a morbimortalidade, sinaliza a sua utilização para outras situações
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onde se faça necessária proteção à resposta inflamatória sistêmica (Coimbra et al., 1996;
Corso et al., 1999; Pascual et al., 2003; Shukla et al., 2004; Yada-Langui et al., 2000).
O choque hemorrágico grave compromete a microcirculação e a função hepática
promovendo insuficiência hepática e falência de múltiplos órgãos e sistemas. A
ressuscitação com solução salina hipertônica quando comparada com Ringer Lactato
reduziu significativamente o edema do endotélio sinusoidal, o deficit perfusional
microvascular e melhorou a função hepática (Corso et al., 1998). Em modelos
experimentais de isquemia e reperfusão hepática (oclusão do pedículo hepático por 30
minutos) a solução salina hipertônica quando comparada com Ringer Lactato e com
salina isotônica atenuou a lesão hepática, sugerindo que seu potencial efeito
hepatoprotetor deva ser estendido à situações onde a lesão de isquemia e reperfusão
hepática estejam presentes (Oreopoulos et al., 2004; Ozguc et al., 2003).
O exato mecanismo pelo qual o choque hemorrágico leva à sepse, infecção e
falência de múltiplos órgãos ainda não está totalmente esclarecido, porém é amplamente
aceito que a resposta inflamatória sistêmica gerada pela isquemia e reperfusão de órgãos
mesentéricos é o centro do processo (Ceppa et al., 2003; Shukla et al., 2004). Estudos
avaliando a importância da isquemia e reperfusão mesentérica sobre a resposta
inflamatória sistêmica induzida pela ressuscitação do choque hemorrágico
demonstraram que duodenocolectomia ou ligadura do ducto linfático mesentérico
principal propiciaram significativo aumento da pressão arterial sistêmica, aumento do
ATP hepático, diminuição da lesão pulmonar e aumento da sobrevida em animais
submetidos ao choque hemorrágico (Adams et al., 2000; Chang, 1997; Shukla et al.,
2004). Estes estudos confirmam os achados de Lellehei, em 1957, que demonstrou em
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cães que a perfusão da artéria mesentérica superior durante o choque hipovolêmico
preveniu o desenvolvimento de choque irreversível, sugerindo o envolvimento intestinal
na irrversibilidade do processo (Lillehei, 1957).
Oi et al. (2000) demonstraram efeitos benéficos significantes da ressuscitação do
choque séptico com salina hipertônica sobre a perfusão esplâncnica, promovendo
aumento do fluxo sangüíneo portal, do débito cardíaco e do fluxo de mucosa intestinal
(Oi et al., 2000). Estudos recentes confirmaram a atenuação da lesão de isquemia e
reperfusão intestinal quando a solução salina hipertônica foi administrada na
ressuscitação do choque hemorrágico, diminuindo o estresse oxidativo sistêmico e o
comprometimento pulmonar secundário à resposta inflamatória sistêmica (Murao et al.,
2003; Powers et al., 2005; Shi et al., 2002).
A utilização da solução salina hipertônica demonstrou efeitos benéficos
cardiocirculatórios em estudos clínicos em cirurgia vascular (Auler et al., 1987; Christ et
al., 1997; Ragaller et al., 2000; Shackford et al., 1983) e em cirurgia cardíaca (Bueno et
al., 2004; Sirieix et al., 1999; Tollofsrud e Noddeland, 1998).
Rocha e Silva, em 1998 citou vários estudos prospectivos, randomizados e duplo-
cegos avaliando o uso da solução salina hipertônica no tratamento do choque,
totalizando 1500 pacientes, com tendência, de maior sobrevida naqueles que receberam
solução hipertônica (Rocha e Silva, 1998). A segurança e eficácia da solução salina
hipertônica (associada ou não a colóide) no choque traumático foi demonstrada por
estudos multicêntricos e randomizados. O USA Multicenter Trial, em 1991 mostrou
redução na mortalidade a favor do grupo de pacientes que receberam solução salina
hipertônica e que chegaram vivos ao hospital (Mattox et al., 1991). Wade et al., em 1997
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realizaram metanálise com oito ensaios clínicos comparando solução salina hipertônica
com solução salina isotônica no tratamento do trauma. Sete deles demonstraram maior
sobrevida dos pacientes que usaram solução hipertônica, sugerindo sobrevida favorável
para o grupo salina hipertônica no tratamento da hipotensão arterial traumática (Rocha-
e-Silva e Poli de Figueiredo, 2005; Wade et al., 1997).
Em resumo, com base em estudos de hemorragia e choque por trauma, os efeitos da
ressuscitação com solução salina hipertônica são: aumento imediato da pressão arterial e
do débito cardíaco com resistência vascular diminuída; aumento instantâneo do fluxo
sangüíneo nutricional e redução na lesão pós-isquêmica de reperfusão; recuperação da
função de órgãos como indicado pelo aumento do débito urinário e aumento da taxa de
sobrevida (Kramer, 2003; Kreimeier e Messmer, 2002).
Estudos clínicos confirmam a eficácia da solução salina hipertônica e nenhum
efeito adverso do uso clínico foi publicado (Kramer, 2003). Doses até 5 vezes maiores
que a convencional mostraram-se livres de efeitos colaterais ou tóxicos (Dubick et al.,
1993; Dubick e Wade, 1994). Vassar et al. investigando os riscos potenciais da
administração da solução salina hipertônica não encontraram, em 106 pacientes
estudados, nenhum caso de mielinólise pontina ou sinais clínicos de hiperosmolaridade e
demonstraram que a osmolaridade sérica diminui após 4 a 8 horas da infusão e que após
24 horas não existiram diferenças de osmolaridade entre os pacientes que receberam
solução salina hipertônica e o grupo controle (Vassar et al., 1990).
Com relação ao efeito da solução salina hipertônica na coagulação, Dubick et al.
não verificaram alteração nos tempos de pró-trombina e tromboplastina parcial ativada,
na agregação plaquetária e no tempo de sangramento (Dubick et al., 1993). Tan et al.
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estudando, in vitro, os efeitos da solução salina hipertônica a 7,5% sobre a
tromboelastografia concluíram que, quando utilizada em volumes inferiores a 7,5% da
volemia do paciente (4mL/kg = 6%), não esta associado a alterações
tromboelastográficas (Tan et al., 2002).
Dadas as semelhanças fisiopatológicas entre a ressuscitação no choque
hemorrágico, que representa uma síndrome sistêmica de isquemia e reperfusão global, e
a isquemia e reperfusão hepática no transplante do fígado, e considerando as
experiências clínicas prévias na utilização da solução salina hipertônica, conclui-se que
esta solução pode ser utilizada no transplante de fígado na fase de reperfusão.
Acrescenta-se a o fato de nenhum efeito adverso grave como alterações
neurológicas e de coagulação ter sido observado nas situações clínicas de administração
da solução salina hipertônica.
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2. OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da solução salina hipertônica
no comportamento hemodinâmico da fase de reperfusão hepática durante transplante
ortotópico do fígado.
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3. MÉTODOS
Este é um estudo prospectivo, longitudinal, não-cego, não-randomizado com dois
grupos de pacientes (15 pacientes em cada grupo).
A comissão de ética local (CAPPesq HCFMUSP) analisou e aprovou o projeto e o
termo de consentimento livre e esclarecido.
3.1 Casuística
Trinta pacientes adultos submetidos ao transplante de fígado, listados no programa
de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, foram incluídos neste estudo.
Os critérios de exclusão foram: hiponatremia crônica (Na < 135mmol/L),
insuficiência renal crônica (creatinina sérica maior de 2,0mg/dL), pacientes portadores
de polineuropatias, doença neurológica prévia, diabete melito insulino-dependente,
doença miocárdio isquêmica e miocardiopatias.
A gravidade da doença hepática pré-operatória foi avaliada pelo critério de MELD
(Model for End-Stage Liver Disease).
3.2. Grupos
Grupo 1, constituído por 15 pacientes que receberam infusão de solução salina
hipertônica a 7,5%, na dose de 4mL/kg de peso corpóreo via venosa central, na
velocidade de 20mL/min, iniciando-se na fase anepática, especificamente no começo da
anastomose da veia porta, e finalizando antes da reperfusão hepática.
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Grupo 2, ou controle, constituído por 15 pacientes que receberam infusão de
solução salina a 0,9%, na dose de 4mL/kg de peso corpóreo via endovenosa central, na
velocidade de 20mL/min, iniciando-se na fase anepática, especificamente no começo da
anastomose da veia porta, e finalizando antes da reperfusão hepática.
Após a aprovação do projeto pela Comissão de Ética local, os primeiros 15
pacientes foram alocados no Grupo 1 e os 15 subseqüentes no Grupo 2, seguindo a
ordem da lista de espera do Programa de Transplante Hepático do HCFMUSP na
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Os dois grupos (com exceção do tipo de solução salina administrada – hipertônica
ou fisiológica), receberam no intra-operatório a mesma reposição hidroeletrolítica e
outras medicações ou cuidados que todos os pacientes transplantados neste serviço.
3.3. Cirurgia
A cirurgia, para fins didáticos, é classicamente subdividida em três fases distintas.
A Fase 1, fase de dissecção, se inicia com a indução anestésica e finaliza com a exclusão
vascular hepática. A Fase 2, fase anepática, se inicia com a e retirada do órgão nativo e
termina com a reperfusão do novo fígado. A Fase 3, fase neo-hepática, se inicia com a
reperfusão hepática e finaliza no fechamento da parede abdominal.
O procedimento cirúrgico foi realizado com preservação da veia cava inferior do
receptor durante a hepatectomia total (técnica piggyback), ou com ressecção da veia
cava inferior retro-hepática do receptor (técnica convencional) sem bypass veno-venoso.
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Não foram utilizados neste estudo fígados com esteatose de graus moderado e
acentuado, fígado de doadores com história de parada cardíaca ou em uso de altas doses
de suporte hemodinâmico farmacológico.
Todos os fígados implantados foram preservados hipotermicamente com solução
de Belzer UW (Bristol-Myers Squibb, Princeton, NJ, EUA). Antes da reperfusão os
enxertos foram lavados pela veia porta com solução de Ringer Lactato (750mL a 4°C) e
seu efluxo foi desprezado pela anastomose da veia cava. A reperfusão ocorreu com o
restabelecimento do fluxo sangüíneo pela veia porta e a artéria hepática foi reconstruida
após a reperfusão.
3.4. Anestesia
A indução anestésica foi realizada após monitorização não-invasiva convencional
(eletrocardioscopia D2 e V5 com análise do segmento ST, oximetria de pulso e pressão
arterial não invasiva), exceto nos pacientes com edema cerebral ou em uso de drogas
vasoativas. Nos pacientes com edema cerebral secundário à hepatite fulminante, a
ventilação mecânica, monitorização hemodinâmica invasiva e monitorização da pressão
intracraniana foram iniciadas na unidade de terapia intensiva no período pré-operatório.
Após desnitrogenação pulmonar com oxigênio a 100%, a anestesia foi induzida
pela administração da seqüência rápida de fármacos associada à manobra de Sellick,
com propofol (1 a 2mg/kg), fentanil (2 a 5µg/kg) e relaxamento muscular obtido pela
injeção de succinilcolina na dose de 1,5mg/kg. Após intubação orotraqueal os pulmões
foram inicialmente ventilados de forma a manter normocapnia intra-operatória e a
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melhor relação PaO2/FiO2. A manutenção da anestesia foi realizada com isoflurano em
concentração menor de 1%, analgesia complementada com fentanil e relaxamento
muscular obtido pela infusão venosa contínua de atracúrio na dose de 7µg/kg/min,
exceto nos pacientes com hepatite fulminante, nos quais a hipertensão intracraniana
contra-indicou os agentes inalatórios. Após a indução anestésica, as duas artérias radiais
foram puncionadas com cateter 20G e, foram posicionados em veia central
preferencialmente em veia jugular interna direita, pela técnica de Seldinger, os cateteres
de tripla via 7Fr (Arrows, Reading, PA, EUA) e o cateter de artéria pulmonar 7Fr
(Baxter-Edwards, Irvine, CA, EUA).
A reposição volêmica foi orientada para proporcionar oferta de oxigênio maior que
650mL/min, com a infusão de Ringer Lactato, manutenção do hematócrito no intervalo
entre 25 e 30% e pressão de artéria pulmonar ocluída entre 10 e 15mmHg com o
objetivo de se trabalhar, durante todas as fases da cirugia, com índice cardíaco maior de
4,5 L.min-1.m-2, índice de resistência vascular sistêmica maior que 800 dyn.seg.cm-5.m-2
e saturação de oxigênio no sangue venoso misto maior que 70%.
3.5. Variáveis hemodinâmicas
As variáveis hemodinâmicas estudadas foram débito cardíaco por termodiluição,
resistência vascular sistêmica e pressões arterial média, venosa central e de artéria
pulmonar ocluída. Em três pacientes, com hipertensão intracraniana secundária a
insuficiência hepática aguda, foi realizada monitorização intraparenquimatosa da pressão
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intracraniana (Intraparenchymal Device, Codman, Raynham, MA, EUA). O ponto zero
de referência para medidas pressóricas foi o 4o espaço intercostal da linha axilar média.
As variáveis hemodinâmicas foram aferidas pelo cateter de artéria pulmonar
conectado ao monitor Vigilance (Baxter-Edwards, Irvine, CA, EUA) e as pressões
vasculares invasivas capturadas pelo sistema de monitorização CMS (Philips/Hewlett-
Packard, Palo Alto, CA, EUA).
A síndrome pós-reperfusão foi definida pela ocorrência de qualquer um dos três
critérios seguintes:
1- pressão arterial média igual ou inferior a 60 mmHg no 1o minuto após a
reperfusão.
2- pressão arterial média igual ou inferior a 60 mmHg no 5o minuto após a
reperfusão.
3- queda da pressão arterial média igual ou maior que 30% do valor pré-reperfusão
durante os primeiros 5 minutos da reperfusão.
Adrenalina, em doses fracionadas de 50 µg, foi padronizada para administração nas
síndromes pós-reperfusão associadas a freqüência cardíaca igual ou inferior a 40
batimentos por minuto, pressão ocluída de artéria pulmonar maior que 20mmHg ou a
queda do CO2 expiratório final.
A quantidade de fluido infundida (FI) foi computada ao final das fases 1 e 2 e a 3
horas da reperfusão hepática, e registrada em mL/kg de peso corpóreo por hora, segundo
a fórmula preconizada pelo nosso grupo para avaliação da reposição volêmica intra-
operatória; FI = (Ci + 3 x Co – Du) / peso/ hora.
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Onde:
FI= fluido infundido
Ci= fluido cristalóide em mililitros
Co= fluido colóide: plasma fresco congelado ou albumina a 5% em mililitros
Du = débito urinário.
A necessidade da administração de adrenalina em dose igual ou maior de 50 µg,
reposição volêmica, terapia eletrolítica e ácido-básica, assim como complicações na
reperfusão foram registrados na ficha de coleta de dados (Anexo A – Ficha de coleta de
dados).
3.6. Variáveis laboratoriais
Foram realizadas análises de sangue arterial colhido em seringa heparinizada de:
gases (oxigênio e gás carbônico), pH, bicarbonato, sódio, potássio e cloro. As análises
laboratoriais foram realizadas no analisador Rapidlab 860 (Bayer, Stamford, CT, EUA) na
própria sala de operação. O volume total de sangue coletado de cada paciente para
realizar as análises laboratoriais deste estudo foi estimado entre 10 e 15mL e o tempo
decorrido entre a coleta e a análise sanguínea não excedeu um minuto. A coagulação
sanguínea foi monitorizada e estudada pela tromboelastografia (TEG- Haemoscope,
Niles, IL, EUA) e pela contagem plaquetária ao final de cada fase da cirurgia.
19
3.7. Tempos
Variáveis hemodinâmicas e laboratoriais foram aferidas e registradas em seis
tempos distintos, os três primeiros antes da revascularização e os demais após a
revascularização hepática conforme o fluxograma seguinte:
Legenda:
T1 - imediatamente antes da fase anepática
T2 – 5 minutos após o início da fase anepática, antes do início da infusão salina
T3 - imediatamente após o término de infusão salina, ainda na fase anepática
Tr – 1 minuto após a reperfusão
T4 – 5 minutos após a reperfusão
T5 – 30 minutos após a reperfusão
IA – início da anestesia
FA – final da anestesia
Fase 1 – fase de dissecção, Fase 2 – fase anepática, Fase 3 – fase neo-hepática.
20
T1 - momento basal, momento antes da retirada do órgão nativo, quando todos os
possíveis déficits hidroeletrolíticos e metabólicos detectados são obrigatoriamente
corrigidos.
T2 - primeiro momento da fase anepática e representa o padrão hemodinâmico
secundário à exclusão hepática com diminuição do retorno venoso proporcionado pelo
obrigatório pinçamento de veia porta e eventual pinçamento de veia cava inferior.
Após a coleta de dados hemodinâmicos e laboratoriais é iniciada a infusão de
4mL/kg de solução salina hipertônica ou isotônica na velocidade de 20mL/min.
T3 - momento que precede à reperfusão hepática, representa o padrão
hemodinâmico do paciente após o término da infusão da solução salina.
Tr - primeiro minuto da revascularização hepática, momento em que o
comportamento da pressão arterial média é estudado isoladamente devido à
impossibilidade de realização de cálculos hemodinâmicos pela técnica de termodiluição.
T4 - quinto minuto após a reperfusão.
T5 - momento final do estudo, aos trinta minutos da reperfusão.
3.8. Análise estatística
Os dados do monitor Vigilance foram transferidos para a ficha de coleta de dados
(Anexo A – Ficha de coleta de dados) e para banco de dados eletrônico (Microsoft
Excel, Microsoft Corporation, EUA) sendo submetidos à análise estatística pelo
programa Epi Info 3.3.2 (Fev 2005, Division of Public Health Surveillance and
Informatics, Center for Diseases Control, National Institute of Health, EUA).
21
Os dados referentes à síndrome pós-reperfusão e administração intra-operatória de
adrenalina foram analisados pelo teste de Qui-quadrado (teste exato de Fisher), enquanto
as variáveis contínuas (PAM, IC, IRVS, PAPO, PVC, sódio, potássio, cloro, CO2,
NaHCO3, AST, ALT, FA, γGT, BT e creatinina) foram analisadas usando-se o teste t de
Student. Valores de p menores de 0,05 foram considerados estatisticamente
significativos.
22
4. RESULTADOS
Os grupos não mostraram diferença estatisticamente significativa quando
comparadas as seguintes variáveis: idade, sexo, índice de massa corpórea, etiologia da
doença hepática, gravidade da doença hepática, tempo de isquemia fria, tempo de
isquemia quente e técnica cirúrgica (Apêndice D).
A mortalidade intra-operatória foi zero. A mortalidade em 30 dias da cirurgia foi de
três pacientes em cada grupo.
4.1. Comportamento da pressão arterial média (Figura 1 e Tabela 1)
A primeira alteração importante da pressão arterial média ocorreu em T2, início da
fase anepática, representada pela queda da pressão arterial média (média geral de queda
de 18,89%), que ocorreu de forma similar em ambos os grupos em decorrência da
diminuição do retorno venoso pelo pinçamento de veia porta e instrumentação de veia
cava inferior.
Três pacientes do Grupo 1 (solução salina hipertônica) apresentaram queda da
pressão arterial média no primeiro minuto após a reperfusão (Tr) (17,9%, 13,3% e
3,5%), enquanto os demais apresentaram aumento da pressão arterial média após a
reperfusão do enxerto (média de aumento de 20,71%). Aos 5 minutos da reperfusão (T4)
somente quatro pacientes deste grupo apresentavam pressão arterial média menor do que
a observada antes da reperfusão. Nenhum paciente do grupo apresentou síndrome pós-
reperfusão, definida em Métodos.
23
Todos os pacientes do Grupo 2 (controle) apresentaram queda da pressão arterial no
primeiro minuto após a reperfusão (Tr) (média de queda de 17,1%). Cinco pacientes
apresentaram síndrome pós-reperfusão. Cinco apresentaram queda a valores iguais ou
inferiores a 60 mmHg durante o primeiro minuto; dois destes apresentaram queda da
pressão arterial maior de 30% do valor pré reperfusão (31,3% e 36,4%) neste período.
Aos 5 minutos da reperfusão 8 pacientes apresentaram pressão arterial média menor que
os valores pré-reperfusão.
No primeiro (Tr) e no quinto minuto (T4) após a reperfusão o Grupo salina
hipertônica apresentou pressão arterial média significativamente maior que o Grupo
controle (p< 0,001 e p= 0,046 respectivamente). Aos 30 minutos da reperfusão não
houve diferença entre os grupos (T5; p= 0,759).
A análise pressórica evolutiva da reperfusão foi calculada por meio da diferença
das pressões nos momentos estudados (Tr - T3, T4 - T3). A variação pressórica entre o
primeiro minuto pós-reperfusão (Tr) e o tempo pré-reperfusão (T3) demonstrou que,
após a reperfusão, o Grupo salina hipertônica teve um aumento significativo da pressão
arterial média, quando comparado ao Grupo controle (p< 0,001).
24
Figura 1 - Comportamento da pressão arterial média
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Tabela 1 - Comportamento da pressão arterial média (mmHg)
MOMENTO SSH CONTROLE P
PAM T1 80,27 ± 8,66 81,07 ± 5,47 0.764
PAM T2 66,33 ± 6,04 64,53 ± 7,68 0,482
PAM T3 74,60 ± 7,65 76,00 ± 6,30 0,589
PAM Tr 84,93 ± 12,33 62,87 ± 5,22 < 0,001
PAM T4 77,33 ± 4,58 73,87 ± 4,52 0,046
PAM T5 77,53 ± 6,63 76,93 ± 3,47 0,759
PAM (Tr – T3) 10,33 ± 13,12 (13,13) ± 8,41 < 0,001
PAM (T4 – T3) 2,73 ± 8,90 (2,13) ± 8,66 0,140
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
25
4.2. Síndrome de pós-reperfusão (Tabela 2)
A incidência global de síndrome pós-reperfusão, determinada por pressão arterial
média igual ou inferior a 60mmHg no primeiro minuto, ou aos 5 minutos da reperfusão,
ou queda igual ou maior de 30% do valor pré-reperfusão durante os primeiros 5 minutos
após a reperfusão, foi de 16,67% (5/30).
No Grupo 1 nenhum paciente apresentou síndrome pós-reperfusão por nenhum dos
critérios. Já no Grupo 2 a incidência de síndrome pós-reperfusão foi de 33,33% (5/15).
Cinco pacientes apresentaram síndrome pós-reperfusão pelo critério de pressão arterial
média igual ou menor de 60mmHg no primeiro minuto (5/15), nenhum pelo mesmo
critério aos cinco minutos, sendo que dois destes cinco pacientes apresentaram também
pelo critério de queda igual ou maior de 30% do valor pré-reperfusão.
O Grupo 1 apresentou maior estabilidade hemodinâmica imediatamente após a
reperfusão; esta estabilidade sustentou-se durante os primeiros 5 minutos da reperfusão.
Configurou-se assim diferença significativa na incidência de síndrome pós-reperfusão
entre os dois grupos (0/15 no Grupo 1 e 5/15 no Grupo 2: p= 0,021), conforme tabela 2.
26
Tabela 2 – Análise da síndrome pós-reperfusão (n˚ de pacientes)
SR (+) SR (-) TOTAL
SSH 0 15 15
CONTROLE 5 10 15
TOTAL 5 25 30
SR (+)= síndrome pós-reperfusão presente; SR (-)= síndrome pós-reperfusão ausente;
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle (SSH x Controle
X2 p= 0,021; Risco Relativo= 0,67, Intervalo de Confiança 95%= 0,47 – 0,95)
4.3. Administração de adrenalina (Tabela 3)
A incidência global da administração de adrenalina, indicada nas síndromes pós-
reperfusão associadas a freqüência cardíaca igual ou inferior a 40 batimentos por
minuto, pressão ocluída de artéria pulmonar maior de 20mmHg ou queda do CO2
expiratório final, foi de 10% (3/30).
No Grupo 1 nenhum paciente teve indicação da administração de adrenalina pelos
critérios definidos em Métodos. No Grupo 2 a incidência da administração de adrenalina
foi de 20% (3/15) (p= 0,112).
27
Tabela 3 - Análise da administração de adrenalina (n˚ de pacientes)
AD (+) AD (-) TOTAL
SSH 0 15 15
CONTROLE 3 12 15
TOTAL 3 27 30
AD (+)= pacientes que receberam adrenalina; AD (-)= pacientes que não receberam
adrenalina; SSH= Grupo solução salina; Controle= Grupo controle (SSH x Controle X2
p= 0,112; Risco Relativo= 0,80, Intervalo de Confiança - 95%= 0,62 – 1,03)
4.4. Comportamento do índice cardíaco (Figura 2 e Tabela 4)
A primeira alteração expressiva do índice cardíaco ocorreu de forma similar em
ambos os grupos no início da fase anepática, T2, queda de 43,60% no Grupo 1 e de
39,96% no Grupo 2, decorrente da diminuição do retorno venoso secundário ao
pinçamento de veia porta e instrumentação da veia cava inferior.
No tempo 3, antes da reperfusão, porém após a administração da solução teste, é o
primeiro momento em que os grupos se diferenciam: o Grupo salina hipertônica
apresentou índice cardíaco significativamente maior que o Grupo controle (p= 0,042). O
Grupo salina hipertônica apresentou neste momento aumento médio de 31,27% do
índice cardíaco comparado a 7,54% do Grupo controle. O estudo dos efeitos da solução
salina hipertônica na fase anepática, durante exclusão vascular hepática, portanto antes
28
da reperfusão hepática, também pode ser analisado pela diferença entre os valores de
índices cardíacos nos momentos T3 e T2 (T3 – T2). O Grupo salina hipertônica
apresentou aumento significativamente maior do índice cardíaco quando comparado ao
Grupo controle (p< 0,001).
No 5º minuto pós-reperfusão (T4) o Grupo controle apresentou índice cardíaco
significativamente maior que o Grupo salina hipertônica (p= 0,007). Quando este
momento é analisado frente ao momento pré-reperfusão (T3), observa-se aumento do
índice cardíaco em ambos os grupos, sendo o ocorrido no Grupo controle
significativamente maior. Este efeito é evidenciado quando se analisa a diferença entre
os tempos pré e pós-reperfusão (T4 – T3): Grupo 1 apresentou neste momento aumento
médio de 70,42% e Grupo controle de 125,91%, com variação significativamente maior
no Grupo controle (p< 0,001).
Aos 30 minutos da reperfusão (T5), o índice cardíaco diminuiu em ambos os
grupos em relação a T4, porém o Grupo controle manteve índice cardíaco
significativamente mais elevado que o Grupo salina hipertônica (p= 0,024).
Quando o índice cardíaco pós-reperfusão, nos tempos 4 e 5, foram analisados frente
a seus correspondentes basais T1 [(T4 - T1), (T5 - T1)], demonstrou-se que o Grupo
salina hipertônica manteve índices cardíacos em valores mais próximos dos basais (p=
0,019 e p= 0,021 respectivamente). A média de aumento do índice cardíaco do T4 em
relação ao T1 foi de 26,16% para o Grupo salina hipertônica e de 45,57% para o Grupo
controle e de T5 em relação a T1 foi de 7,75% para o Grupo 1 e de 24,80% para o Grupo
controle.
29
Figura 2 - Comportamento do índice cardíaco
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Tabela 4 - Comportamento do índice cardíaco (L.min-1.m-2)
MOMENTO SSH CONTROLE P
IC T1 5,16 ± 1,30 5,08 ± 0,81 0,843
IC T2 2,91 ± 0,84 3,05 ± 0,59 0,610
IC T3 3,82 ± 0,77 3,28 ± 0,62 0,042
IC T4 6,51 ± 0,81 7,41 ± 0,87 0,007
IC T5 5,56 ± 0,86 6,34 ± 0,93 0,024
IC (T3 – T2) 0,91 ± 0,36 0,23 ± 0,25 <0,001
IC (T4 – T3) 2,69 ± 0,88 4,13 ± 0,85 <0,001
IC (T4 – T1) 1,35 ± 1,10 2,33 ± 1,04 0,019
IC (T5 – T1) 0,40 ± 0,93 1,26 ± 1,00 0,021
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
30
4.5. Comportamento do índice de resistência vascular sistêmica (Figura 3 e
Tabela 5)
A primeira alteração expressiva do índice de resistência vascular sistêmica ocorreu
de forma similar em ambos os grupos no inicio da fase anepática, T2, com aumento de
57,09 % no Grupo 1 e de 39,72% no Grupo 2, decorrente da intensa vasoconstrição
secundária à diminuição do retorno venoso proporcionado pelo pinçamento de veia porta
e instrumentação da veia cava inferior.
No tempo 3, antes da reperfusão, porém após a administração da solução teste, o
Grupo salina hipertônica apresentou índice de resistência vascular sistêmica
significativamente menor que o Grupo controle (p= 0,019). O Grupo salina hipertônica
apresentou diminuição média de 18,83% do índice de resistência vascular sistêmica
frente a um aumento de 9,21% do Grupo controle. Este efeito pode ser analisado pela
diferença entre os valores de índices cardíacos nos momentos T3 e T2 (T3 – T2). O
Grupo salina hipertônica apresentou uma diminuição significativa do índice de
resistência vascular sistêmica quando comparado com o Grupo controle (p< 0,001).
No 5º minuto pós-reperfusão (T4) o grupo controle apresentou índice de resistência
vascular sistêmica significativamente menor que o Grupo salina hipertônica (p= 0,003).
Quando este momento é analisado com o momento pré-reperfusão (T3), observa-se
diminuição do índice de resistência vascular sistêmica em ambos os grupos, sendo a
diminuição ocorrida no Grupo controle significativamente maior. Efeito evidenciado
quando se analisa a diferença entre os tempos pré e pós-reperfusão (T4 – T3), Grupo 1
apresentou queda média de 44,52% e Grupo controle de 61,80%, com variação
significativamente maior no Grupo controle (p< 0,001).
31
Aos 30 minutos da reperfusão (T5), o índice de resistência vascular sistêmica
aumentou em ambos os grupos em relação a T4, porém o Grupo controle manteve o
índice de resistência vascular sistêmica significativamente mais baixo que o Grupo
salina hipertônica (p= 0,020).
Quando o índice de resistência vascular sistêmica pós-reperfusão, nos tempos 4 e 5,
são analisados frente aos correspondentes basais T1 [(T4 - T1), (T5 - T1)], evidencia-se
tendência de que o Grupo 1 mantenha índices de resistência vascular sistêmica em
valores mais próximos dos basais (p= 0,127 e p= 0,144 respectivamente). A média da
queda do índice de resistência vascular sistêmica do T4 em relação ao T1 foi de 29,26%
para o Grupo 1 e de 41,71% para o Grupo controle e de T5 em relação a T1 foi de
14,76% para o Grupo 1 e de 25,69% para o Grupo controle.
Figura 3 - Comportamento do índice de resistência vascular sistêmica
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
32
Tabela 5 - Comportamento do índice de resistência vascular sistêmica (dyn.s.cm-5.m-2)
MOMENTO SSH CONTROLE P
IRVS T1 1129,91 ± 341,00 1118,87 ± 200,49 0,915
IRVS T2 1774,97 ± 554,34 1563,24 ± 309,09 0,207
IRVS T3 1440,77 ± 316,00 1707,28 ± 270,23 0,019
IRVS T4 799,35 ± 131,51 652,14 ± 115,47 0,003
IRVS T5 963,10 ± 171,33 831,47 ± 113,84 0,020
IRVS (T3– T2) (334,20) ± 341,25 144,04 ± 193,02 <0,001
IRVS (T4 – T3) (641,42) ± 294,43 (1055,15) ± 254,84 <0,001
IRVS (T4 – T1) (330,56) ± 266,58 (466,73) ± 202,82 0,127
IRVS (T5 – T1) (166,81) ± 217,42 (287,40) ± 221,43 0,144
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
4.6. Comportamento das pressões de enchimento cardíaco (Figuras 4 e 5,
Tabela 6)
A primeira alteração expressiva das pressões de enchimento cardíaco, pressão
venosa central (PVC) e pressão de artéria pulmonar ocluída (PAPO), foi a queda, que
ocorreu de forma similar em ambos os grupos no início da fase anepática, T2. A PVC
apresentou queda média de 43,36% no Grupo 1 e de 42,33% no Grupo 2, e a PAPO
queda média de 50,24% no Grupo 1 e de 41,52% no Grupo 2, quedas pressóricas
decorrentes da diminuição do retorno venoso secundário ao pinçamento de veia porta e
instrumentação de veia cava inferior.
33
A análise das pressões de enchimento no momento T2, antes da infusão da solução
salina hipertônica, mostra que a PAPO apresentou valor estatisticamente menor no
Grupo 1 que no Grupo controle (p= 0,023). Trata-se de comportamento diferente da
PVC, que se mostrou igual entre os grupos neste momento (p= 0,730).
No tempo 3 (antes da reperfusão) as pressões de enchimento cardíaco aumentaram
em ambos os grupos. A análise isolada da PVC e da PAPO em T3 não mostrou diferença
entre os grupos (p= 0,222 e p= 0,733 respectivamente). A PVC neste momento, quando
comparada com o momento T2 (T3 – T2), apresentou aumento médio de 20,67% no
Grupo 1 e 14,86% no Grupo 2, não havendo diferença entre os grupos (p= 0,380). A
PAPO em T3, quando comparada com o momento T2 (T3 – T2), apresentou aumento
significativo de 41,67% no Grupo 1 e 24,68% no Grupo 2 (p= 0,008).
O momento pós-reperfusão (T4) em relação ao momento pré reperfusão (T3), foi
acompanhado de aumento significativo das pressões de enchimento cardíaco em ambos
os grupos.
A PVC apresentou neste momento níveis significativamente maiores no Grupo
controle (p= 0,030), o aumento médio da PVC no Grupo 1 foi de 60,07% e no Grupo
controle de 87,97%. Este efeito é evidenciado quando se analisa a diferença entre os
tempos pré e pós-reperfusão (T4 – T3), com variação significativamente maior no Grupo
controle (p< 0,014).
A PAPO apresentou também neste momento níveis significativamente maiores no
Grupo controle (p= 0,046). O aumento médio da PAPO no Grupo 1 foi de 57,55% e no
Grupo controle de 70,11%, efeito demonstrado quando se analisa a diferença entre os
34
tempos pré e pós-reperfusão (T4 – T3) com variação significativamente maior no Grupo
controle (p< 0,021).
Aos 30 minutos da reperfusão (T5), as pressões de enchimento cardíaco
diminuíram em ambos os grupos em relação a T4. Neste momento enquanto a PVC não
apresentou diferença entres os grupos (p= 0,450), a PAPO se apresentou
significativamente mais baixa no Grupo controle (p= 0,046).
Quando a PVC após a reperfusão, nos tempos 4 e 5, foi analisada frente aos
correspondentes basais T1 [(T4 - T1), (T5 - T1)], observou-se que o Grupo salina
hipertônica, quando comparado com o Grupo controle, manteve níveis em valores mais
próximos dos basais somente no T4 (p= 0,023 e p= 0,174 respectivamente). A variação
da PVC do T4 em relação ao T1 foi de + 9,40% para o Grupo salina hipertônica e de +
24,51% para o Grupo controle, e de T5 em relação a T1 foi de – 1,65% para o Grupo
salina hipertônica e de + 4,54% para o Grupo controle.
Quando a PAPO após a reperfusão, nos tempos 4 e 5, foi analisada frente a seus
correspondentes basais T1 [(T4 - T1), (T5 - T1)], observou-se que o Grupo 1 manteve
valores mais próximos dos basais (p= 0,016 e p= 0,017 respectivamente). A média de
aumento da PAPO do T4 em relação ao T1 foi de 11,06% para o Grupo salina
hipertônica e de 24,13% para o Grupo controle e de T5 em relação a T1 foi de zero para
o Grupo salina hipertônica e de 10,65% para o Grupo controle.
35
Figura 4 - Comportamento da pressão venosa central
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Figura 5 - Comportamento da pressão de artéria pulmonar ocluída
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
36
Tabela 6 – Comportamento das pressões de enchimento cardíaco (mmHg)
MOMENTO SSH CONTROLE P
PVC T1 12,13 ± 1,68 11,67 ± 0,82 0,343
PVC T2 6,87 ± 1,25 6,73 ± 0,80 0,730
PVC T3 8,20 ± 1,21 7,73 ± 0,80 0,222
PVC T4 13,27 ± 1,53 14,53 ± 1,51 0,030
PVC T5 11,93 ± 1,03 12,20 ± 0,86 0,450
PVC (T3 – T2) 1,33 ± 0,82 1,00 ± 1,20 0,380
PVC (T4 – T3) 5,07 ± 1,98 6,80 ± 1,66 0,014
PVC (T4 – T1) 1,13 ± 2,17 2,87 ± 1,77 0,023
PVC (T5 – T1) (0,20) ± 1,70 0,53 ± 1,13 0,174
PAPO T1 14,47 ± 1,30 13,80 ± 1,21 0,157
PAPO T2 7,20 ± 1,01 8,07 ± 0,96 0,023
PAPO T3 10,20 ± 1,26 10,07 ± 0,80 0,733
PAPO T4 16,07 ± 1,49 17,13 ± 1,30 0,046
PAPO T5 14,47 ± 1,13 15,27 ± 0,96 0,046
PAPO (T3 – T2) 3,00 ± 1,20 2,00 ± 0,66 0,008
PAPO (T4 – T3) 5,87 ± 1,51 7,07 ± 1,16 0,021
PAPO (T4 – T1) 1,60 ± 1,76 3,33 ± 1,91 0,016
PAPO (T5 – T1) 0,00 ± 1,65 1,47 ± 151 0,017
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
37
4.7. Infusão intra-operatória de líquidos (Figura 6)
A infusão intra-operatória de líquidos foi registrada em mililitros por kilograma de
peso corpóreo por hora segundo a fórmula (Ci + 3 x Co – Du) / peso/ hora, (onde, Ci=
fluido cristalóide em mililitros; Co= fluido colóide, plasma fresco congelado ou
albumina a 5% em mililitros; Du = débito urinário). A análise foi realizada em três
tempos, ao final da Fase 1, ao final da Fase 2 e na Fase 3, após 3 horas da reperfusão.
Na terceira hora da reperfusão hepática (Fase 3) os grupos se comportaram de
forma diferente. O Grupo 1 apresentou diminuição de 4,97% (de 13,47 para 12,80
mL/kg/h) na necessidade de infusão de líquidos enquanto o Grupo 2 apresentou aumento
de 17,20% (de 13,20 para 15,47 mL/kg/h) na infusão de líquidos, p< 0,001 (Tabela 7,
Figura 6).
Figura 6. Valores médios da infusão de líquidos
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
38
Tabela 7 - Velocidade e quantidade da infusão de líquidos (mL/kg/h)
MOMENTO SSH CONTROLE P
Fase 1 18,00 ± 3,80 16,53± 4,05 0,315
Fase 2 13,47 ± 1,92 13,20 ± 2,01 0,713
Fase 3 12,80 ± 1,47 15,47 ± 2,23 <0,001
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
4.8. Resultado laboratorial (Figura 7 e Tabelas 8, 9 e 10)
Todos os pacientes apresentaram aumento do sódio sérico até o segundo dia pós-
operatório em relação aos valores iniciais. Os pacientes do Grupo 1, após a infusão da
salina hipertônica, apresentaram dosagens de sódio sérico significativamente maiores
que os pacientes do Grupo 2 até o primeiro dia pós-operatório. O valor máximo de sódio
no Grupo 1 foi de 159,6 mEq/l e ocorreu imediatamente após o término da infusão da
solução em T3, e no Grupo controle foi de 152 mEq/l, também em T3.
Tabela 8 - Comportamento da natremia média (mEq/L)
SSH Controle P
Na inicial 137,76 ± 3,22 137,19 ± 2,13 0,570
Na após NaCl 152,66 ± 4,45 143,59 ± 3,92 <0,001
Na final 148,92 ± 3,60 142,76 ± 3,17 <0,001
1º PO 145,27 ± 5,38 139,80 ± 5,61 0,011
2º PO 141,21 ± 5,22 138,33 ± 6,31 0,19
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
39
Os pacientes do Grupo 1, após a infusão da solução salina hipertônica,
apresentaram dosagens de cloro sérico significativamente maiores que o Grupo 2
durante o período intra-operatório. O valor máximo de cloro sérico no Grupo 1 foi de
132 mEq/L e ocorreu imediatamente após o término da infusão em T3, enquanto no
Grupo controle foi de 125 mEq/L no final da cirurgia.
Tabela 9 - Comportamento da cloremia média (mEq/L)
SSH Controle P
Cl inicial 111,71 ± 2,93 109,80 ± 4,95 0,209
Cl após NaCl 124,03 ± 4,01 111,20 ± 3,80 <0,001
Cl final 119,41 ± 3,04 111,93 ± 6,26 <0,001
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Após a administração da solução salina hipertônica (T3) o Grupo 1 apresentou um
pH sangüíneo significativamente menor que o Grupo controle (p=0,039). No 5º minuto
pós-reperfusão (T4) e no 30º minuto pós-reperfusão (T5), não houve diferença
significativa no pH sangüíneo entre os grupos. Quando se analisa o comportamento do
pH sangüíneo após a reperfusão hepática, estudando a diferença nos tempos pré e pós-
reperfusão, o Grupo 1 apresentou variação em direção à normalidade do pH sangüíneo
estatisticamente significativa [(T5-T3) e (T5-T4)] quando comparado ao Grupo controle
(p=0,008 e p=0,042, respectivamente).
40
Figura 7 – Evolução do pH intra-operatório
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Tabela 10 – Comportamento do pH sangüíneo
SSH Controle P
pH T1 7,32 ± 0,08 7,35 ± 0,06 0,190
pH T2 7,30 ± 0,07 7,35 ± 0,05 0,050
pH T3 7,29 ± 0,05 7,34 ± 0,06 0,039
pH T4 7,23 ± 0,07 7,27 ± 0,08 0,247
pH T5 7,32 ± 0,05 7,31 ± 0,06 0,559
pH (T3- T2) (0,01) ± 0,06 (0,01) ± 0,05 0,943
pH (T4-T3) (0,06) ± 0,04 (0,07) ± 0,08 0,648
pH (T5-T3) 0,03 ± 0,05 (0,03) ± 0,06 0,008
pH (T5-T4) 0,08 ± 0,04 0,04 ± 0,07 0,042
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
41
Não houve diferença significativa entre os grupos nas dosagens intra-operatórias de
potássio, CO2 e NaHCO3, bem como nos níveis de AST, ALT, FA, γGT, BT e creatinina
até o quarto dia pós-operatório, conforme apresentado no Anexo B - Tabela 12 e no
Anexo C – Tabela 13, respectivamente.
4.9. Comportamento das pressões intracraniana (PIC) e de perfusão cerebral
(PPC)
Cinco pacientes do Grupo 1 tiveram indicação do transplante hepático por hepatite
fulminante (pacientes H1, H3, H4, H11 E H14). Quatro apresentavam encefalopatia
hepática grau IV. Em três destes foi realizada monitorização intraparenquimatosa da
pressão intracraniana (pacientes H1, H3 e H14). Dos quatro pacientes em encefalopatia
hepática grau IV do Grupo salina hipertônica, três recuperaram a consciência em uma
semana após o transplante.
A infusão de solução salina hipertônica nos três pacientes foi acompanhada de
diminuição da pressão intracraniana que se sustentou desde a sua administração aos
trinta minutos da reperfusão (Tabela 11). Em dois pacientes, a PIC diminuiu a valores
inferiores a 20mmHg imediatamente após a infusão da solução salina hipertônica e, na
reperfusão, todos apresentavam PIC menor ou igual a 20mmHg. A queda inicial após
administração da solução salina hipertônica em T3, em relação ao momento pré-infusão
da solução, T2, foi de 47,62%, 40,91% e 57,78% em cada paciente. Aos cinco minutos
da reperfusão hepática, T4, os níveis de pressão intracraniana sustentaram sua queda em
relação ao momento pré-infusão da solução, T2, em 57,14%, 22,73% e 57,78%
42
respectivamente. Aos trinta minutos da reperfusão hepática, T5, a pressão intracraniana
também apresentava valores menores que os detectados antes da infusão da solução
salina hipertônica, T2, com queda de 61,90%, 31,82% e 55,56% respectivamente
(Tabela 11).
Em um paciente em decorrência de picos freqüentes de hipertensão intracraniana
grave e refratária às medidas habituais (hiperventilação, manitol, céfalo-aclive) foi
administrada a dose de solução salina hipertônica de 2mL/kg de peso (metade da dose
do estudo), em T1 e a outra metade da dose (2mg/kg) no tempo padronizado, entre T2 e
T3 (Paciente H1, Figura 8, Tabela 11). O intervalo de tempo decorrido entre a
administração das duas doses foi inferior a 60 minutos, não sendo o paciente excluído do
estudo.
Após a infusão da solução salina hipertônica nenhum paciente apresentou aumentos
de pressão intracraniana que justificassem medidas terapêuticas adicionais para seu
controle (Tabela 11).
Tabela 11 – Comportamento da pressão intracraniana em cada paciente (mmHg)
Id. PIC T1 PIC T2 PIC T3 PIC T4 PIC T5 T3 - T2 T4 - T2 T5 - T2
H1 22 42 22 18 16 (47,62)% (57,14)% (61,90)%
H3 34 22 13 17 15 (40,91)% (22,73)% (31,82)%
H14 30 45 19 19 20 (57,78)% (57,78)% (55,56)%
Média 28,67 36,33 18 18 17 (48,77)% (45,90)% (49,76)%
D.P. 6,11 12,50 4,58 1,00 2,65 8,49 20,06 15,89
Id.= identidade do paciente; H= Grupo solução salina hipertônica
43
A análise conjugada da pressão intracraniana e da pressão arterial média permitiu o
estudo da evolução da pressão de perfusão cerebral (pressão de perfusão cerebral =
pressão arterial média – pressão intracraniana). As Figuras abaixo demonstram que a
infusão de solução salina hipertônica foi acompanhada de queda sustentada da pressão
intracraniana em todos os pacientes, ao mesmo tempo em que proporcionou estabilidade
cardiovascular na reperfusão hepática sem necessidade de suporte farmacológico alfa-
adrenérgico (Figuras 8, 9 e 10).
Figura 8 - Comportamento da pressão arterial média, intracraniana e de perfusão
cerebral do paciente H1
PAM = pressão arterial média; PIC = pressão intracraniana; PPC = pressão de perfusão
cerebral
44
Figura 9 - Comportamento da pressão arterial média, intracraniana e de perfusão
cerebral do paciente H3
PAM = pressão arterial média; PIC = pressão intracraniana; PPC = pressão de perfusão
cerebral
Figura 10 - Comportamento da pressão arterial média, intracraniana e de perfusão
cerebral do paciente H14
PAM = pressão arterial média; PIC = pressão intracraniana; PPC = pressão de perfusão
cerebral
45
5. DISCUSSÃO
5.1. Considerações gerais
Desde 1967, quando a primeira sobrevida pós-transplante em humanos foi descrita,
o transplante de fígado tornou-se um dos maiores desafios para os anestesiologistas,
particularmente o período da reperfusão hepática.
Medidas têm sido incorporadas e continuam a ser estudadas com o objetivo de se
diminuir as repercussões hemodinâmicas da reperfusão hepática. Vão elas da
intensificação dos cuidados pré-operatórios no doador de órgãos e do aprimoramento das
técnicas de preservação do órgão desde a retirada no doador ao tratamento intra-
operatório do paciente antes do implante, através de estratégias anestésicas e cirúrgicas
que estão em constante desenvolvimento (Henderson, 1999; Serracino-Inglott et al.,
2001).
As estratégias intra-operatórias visando controle clínico durante e após a reperfusão
estão baseadas na hipótese de que substâncias vasoativas e inotrópicas negativas
presentes no plasma neste período são responsáveis pelas alterações hemodinâmicas que
sucedem a revascularização hepática (Aggarwal et al., 1987; Chemla et al., 1997; Estrin
et al., 1989). A maior dificuldade no estudo da gênese do fenômeno e na identificação
destas substâncias decorre da rapidez de sua dissipação, seja por recirculação, seja por
inativação (Chemla et al., 1997; Millis et al., 1997).
46
Estratégias que diminuam tanto a produção, como a liberação sistêmica destes
metabólitos vasoativos, subprodutos do processo de isquemia e reperfusão, somam-se às
tentativas de bloqueio da ação destes metabólitos que atingem a circulação sistêmica.
Fukuzawa et al. (1994) demonstraram que quando se despreza os primeiros 500
mililitros de sangue da reperfusão obten-se maior estabilidade hemodinâmica pós-
reperfusão, melhor funcionamento imediato do enxerto e melhor sobrevida em seis
meses (Fukuzawa et al., 1994).
Millis et al. (1997) estudaram as repercussões hemodinâmicas da revascularização
hepática analisando duas técnicas de lavagem hepática pré-reperfusão (veia porta vs.
artéria hepática). Comparando quando se despreza ou não os primeiros 500 mL do
sangue da reperfusão, concluíram que a lavagem hepática pela veia porta pré-reperfusão
sem o desprezo do sangue inicial da revascularização se associou a menor incidência de
síndrome pós-reperfusão (7%) (Millis et al., 1997).
Kiniepeiss et al. (2003), estudando a influência da reperfusão retrograda pela veia
cava na síndrome pós-reperfusão, concluiram que, em decorrência da baixa incidência
de síndrome de reperfusão de seu grupo (3,6%), este é um método efetivo de lavagem
hepática do líquido perfusional, e que a baixa pressão de perfusão com sangue
pobremente oxigenado reduz a produção de radicais livres de oxigênio pelo enxerto
(Kniepeiss et al., 2003).
Entretanto, desde a primeira série de transplantes do fígado bem sucedida,
publicada por Starzl et al.(1968), técnicas visando diminuir a síndrome pós-reperfusão
não confirmaram estarem associadas à diminuição significativa da incidência e
intensidade do fenômeno hemodinâmico, nem sempre são possíveis de execução,
47
aumentam a complexidade técnica da cirurgia e não estão isentas de complicações
(Kniepeiss et al., 2003; Millis et al., 1997; Starzl et al., 1968).
Tem sido estudado opções de bloqueio de produção ou da ação sistêmica destes
metabólitos vasoativos, como uso intra-operatório de bloqueadores do óxido nítrico e
dos inibidores de proteases séricas. Estas alternativas, embora teoricamente atrativas,
ainda não se confirmaram protetores cardiovasculares à isquemia e reperfusão hepática
no transplante do fígado (Jaeschke, 2003; Koelzow et al., 2002; Molenaar et al., 2001).
No intra-operatório a profilaxia da síndrome pós-reperfusão ainda é a forma mais
efetiva de atenuar os efeitos hemodinâmicos da reperfusão e tem como base avaliação
hemodinâmica rigorosa associada ao controle metabólico e hidroeletrolítico nos períodos
que antecedem a reperfusão (Braunfeld, 2001; Millis et al., 1997; Steib et al., 2001).
O presente estudo posiciona a solução salina hipertônica como nova estratégia
profilática de proteção cardiocirculatória, uma nova opção de bloqueio de produção ou
da ação sistêmica dos subprodutos da isquemia e reperfusão hepática responsáveis pelas
alterações hemodinâmicas do transplante do fígado.
O estudo confirmou o perfil já definido das alterações cardiovasculares que
sucedem à reperfusão do enxerto no transplante ortotópico de fígado, constituído de
grande diminuição da resistência vascular sistêmica e aumento do débito cardíaco em
todos os pacientes, geralmente acompanhado de diminuição da pressão arterial sistêmica
e aumento das pressões de enchimento cardíacas (Figuras 1,2 e 3; Tabelas 1, 4 e 5).
Desde a primeira descrição por Aggarwal et al. em 1987, e subseqüentemente
reiterado por vários autores, os primeiros cinco minutos constituem o período crítico da
reperfusão, onde as alterações hemodinâmicas ocorrem com maior freqüência e
48
intensidade, razão pela qual a análise do perfil hemodinâmico, neste estudo, foi
orientada para este período (Aggarwal et al., 1987).
A síndrome pós-reperfusão foi avaliada pelos três critérios utilizados na literatura
para sua definição: diminuição da pressão arterial média a valores inferiores a 60 mmHg
no primeiro minuto, pelo mesmo critério no quinto ou pela queda da pressão arterial
média maior de 30% do valor pré-reperfusão nos primeiros 5 minutos da reperfusão
(Aggarwal et al., 1987; Estrin et al., 1989; Millis et al., 1997).
5.2. Análise hemodinâmica
Os primeiros efeitos hemodinâmicos da infusão da solução salina hipertônica foram
demonstrados no final da fase anepática, isto é, após o término de infusão, e se
caracterizaram por aumento do índice cardíaco de 31,27% comparado com 7,54% no
Grupo controle e diminuição da resistência vascular sistêmica de 18,83% comparado ao
aumento de 9,21% no Grupo controle (p< 0,001) (Figuras 2 e 3; Tabelas 4 e 5). Esta
melhora do padrão hemodinâmico no Grupo salina hipertônica nesta fase deve ser
atribuída ao seu efeito expansor volêmico, demonstrado pelo aumento significativo da
pressão de artéria pulmonar ocluída (p= 0,008) sem concomitante aumento na infusão de
outros líquidos.
A resposta hemodinâmica à infusão da solução salina hipertônica nesta fase da
cirurgia, em que o padrão hemodinâmico é secundário à diminuição do retorno venoso,
tem as mesmas características da resposta descrita por vários pesquisadores que
avaliaram os efeitos hemodinâmicos da solução salina hipertônica quando administrada
49
na terapia do choque hipovolêmico (Prough et al., 1991; Rocha e Silva et al., 1987;
Velasco et al., 1980).
Os efeitos circulatórios observados neste momento da cirurgia já foram bem
estudado e parecem decorrer da mobilização instantânea de líquidos endógenos
secundária ao gradiente osmótico (Velasco et al., 1980). A SSH, quando administrada na
terapia do choque hipovolêmico, primariamente por aumentar a pré-carga, promove
expansão volêmica transitória, rápida recuperação do débito cardíaco, pressão arterial
média e perfusão tecidual,. (Prough et al., 1991; Rocha e Silva et al., 1987; Velasco et
al., 1980).
Em resumo, a solução salina hipertônica proporcionou nesta fase melhora do índice
cardíaco à custa de expansão volêmica eficaz, transitória e com pequeno volume de
infusão, quadro hemodinâmico que só seria reprodutível sem sua administração pela
infusão de grandes volumes de líquidos, alternativa que já se demonstrou prejudicial ao
enxerto após a reperfusão hepática. (Ayoub e Ahmed, 2003; Hesse et al., 2000).
Na reperfusão, provavelmente por mecanismo diferente do responsável pelo
aumento do índice cardíaco registrado no final da fase anepática, os pacientes que
receberam solução salina hipertônica apresentaram maior estabilidade hemodinâmica,
significante até o 5º minuto após a reperfusão (Figuras 1, 2 e 3; Tabela 1 e 2).
Imediatamente após a reperfusão do enxerto foi o momento do estudo em que os
pacientes do Grupo salina hipertônica mais se distanciaram do controle. Neste momento
somente três pacientes do Grupo salina hipertônica apresentaram pressão arterial média
menor que o valor pré-reperfusão mas nenhum valor menor de 60 mmHg. A ausência de
síndrome pós-reperfusão e o aumento da pressão arterial média registrado nos outros
50
doze pacientes evidenciou que a resposta hemodinâmica imediata à reperfusão neste
grupo foi basicamente decorrente da restauração do retorno venoso na reperfusão do
enxerto, como se os efeitos hemodinâmicos que classicamente acompanham a
reperfusão estivessem de alguma forma bloqueados (Figuras 1, 2, 4 e 5; Tabelas 1 e 2).
Após a reperfusão, os grupos se comportaram diferentemente com relação ao índice
cardíaco e a resistência vascular sistêmica. O Grupo 1 apresentou menor aumento do
índice cardíaco e menor queda da resistência vascular sistêmica (p< 0,001 para ambas as
variáveis) (Tabelas 4 e 5). Este fato pode ser interpretado como maior estabilidade
cardiocirculatória proporcionada pela infusão da solução salina hipertônica,
provavelmente bloqueando ao nível da microcirculação os efeitos vasodilatadores
sistêmicos do efluxo de sangue inicial do enxerto. Especulamos que, neste momento da
cirurgia, a reperfusão, a proteção cardiocirculatória conferida pela solução salina
hipertônica decorra de sua propriedade modulatória sobre a resposta inflamatória
sistêmica.
Pesquisadores concordam que as soluções salinas hipertônicas usadas na
ressuscitação corrigem de forma mais eficiente os atributos hemodinâmicos que a
solução salina isotônica, provavelmente pela ação na microcirculação atenuando a
resposta inflamatória sistêmica.
Estudos com videomicroscopia in vivo, avanço técnico no estudo de tecidos vivos,
mostrou que a ressuscitação com solução salina hipertônica, quando comparada com
Ringer Lactato ou salina isotônica, significativamente atenua a interação entre
leucócitos, plaquetas e endotélio, restaura a patência capilar e o diâmetro arteriolar,
aumentando significativamente o fluxo microvascular (Mazzoni et al., 1990; Pascual et
51
al., 2003). Torres Filho et al. demonstraram que a contração rítmica e o relaxamento
microvascular após ressuscitação com salina hipertônica eram 80% maiores do que o
padrão observado na ressuscitação com Ringer Lactato, sugerindo mais um mecanismo
responsável pela melhora micro-hemodinâmica após administração da salina hipertônica
(Torres Filho et al., 2001).
Foram documentados efeitos da solução salina hipertônica em neutrófilos,
macrófagos e células endoteliais, evidenciando propriedades antioxidantes, assim como
sua repercussão na microcirculação. Estes efeitos provavelmente são responsáveis tanto
por seu efeito benéfico imediato como pela diminuição das taxas de morbimortaldade
descritas quando a solução salina hipertônica é empregada em diferentes formas de
inflamação localizada e sistêmica (Angle et al., 2000; Angle et al., 1998; Hartl et al.,
1997; Nolte et al., 1992; Pascual et al., 2003; Rizoli et al., 1999; Rizoli et al., 1999).
A análise evolutiva das pressões de enchimento cardíaco após a reperfusão, em
conjunto com as variáveis hemodinâmicas observadas nesta fase, permite inferir que
além da proteção microcirculatória periférica, a solução salina hipertônica proporciona
melhor função miocárdica, fato demonstrado pelo menor aumento da PVC e PAPO após
a reperfusão no Grupo 1 (Figuras 4 e 5; Tabela 6). Este efeito cardíaco tem
provavelmente a mesma gênese do efeito cardioprotetor já descrito com o uso da solução
salina hipertônica após hipofluxo miocárdico (Bertsch et al., 2001; Breil et al., 2003;
Krieter et al., 2002).
O comportamento do índice cardíaco, índice da resistência vascular sistêmica e
pressões de enchimento após a reperfusão no Grupo salina hipertônica explica o efeito
verificado sobre a pressão arterial e demonstra a proteção cardiocirculatória clínica e
52
estatisticamente significativa decorrente do uso da solução salina hipertônica nesta
situação.
Quando comparados os grupos quanto ao comportamento evolutivo do índice
cardíaco e da resistência vascular sistêmica durante a reperfusão hepática (T4 – T3),
podemos verificar que o Grupo salina hipertônica apresentou resposta hemodinâmica à
reperfusão significativamente menor que o Grupo controle. Isto demonstra que o Grupo
salina hipertônica foi submetido a menor estresse cardiovascular na reperfusão que o
Grupo controle.(Figuras 2 e 3; Tabelas 4 e 5)
Aos 30 minutos da reperfusão, os efeitos da solução salina hipertônica ainda
puderam ser demonstrados: o índice cardíaco e o índice da resistência vascular sistêmica
se mostraram diferentes entre os grupos (Figuras 2 e 3; Tabelas 4 e 5).
O fato do índice cardíaco e da resistência vascular sistêmica aos 30 minutos da
reperfusão não terem recuperado os seus níveis basais já foi descrito por vários
pesquisadores. Especula-se, que provavelmente se deva à presença de substâncias
vasodilatadoras ainda não identificadas, liberadas pelo enxerto ou pelo processo de
isquemia e reperfusão. Estes subprodutos do metabolismo, que continuam a ser liberados
ou que não são ainda facilmente depurados da circulação pelo novo fígado devem ser
responsáveis por este padrão cardiocirculatório hiperdinâmico. Provavelmente, a
transitoriedade dos efeitos da solução salina hipertônica, explique porque os grupos não
apresentaram diferenças significantes quando analisamos o comportamento do índice de
resistência vascular sistêmica aos 30 minutos da reperfusão frente aos seus momentos
iniciais.
53
Analisando o comportamento hemodinâmico dos grupos do momento inicial do
estudo, T1 ainda na Fase 1, ao último momento, T5 na Fase 3 constatamos que o Grupo
salina hipertônica manteve menor variação hemodinâmica ao longo do estudo, índice
cardíaco mais próximo do correspondente basal, podendo concluir que a solução salina
hipertônica promoveu proteção cardiocirculatória que se estendeu até os 30 minutos da
reperfusão (Figuras 2 e 3; Tabelas 4 e 5).
Como a hepatopatia está associada a déficit de depuração de substancias vasoativas
que é proporcional ao grau de disfunção hepática, e o distúrbio hemodinâmico pós-
reperfusão tende a ser mais grave e mais duradouro nos hepatopatas terminais,
especulamos, portanto, com base nos dados apresentados, que pacientes de maior
gravidade, isto é, aqueles com menor reserva hepática e hemodinâmica, com menor
tolerância à grandes variações hemodinâmicas intra-operatórias, talvez constituam um
dos subgrupos de hepatopatas que mais beneficiariam da administração da solução salina
hipertônica no transplante de fígado.
5.3. Análise da reposição volêmica
Na última fase da cirurgia os pacientes que receberam a solução salina hipertônica
apresentaram menor necessidade significante de infusão de líquidos (p< 0,001) (Figura
6).
Quando este dado é avaliado frente à evolução hemodinâmica desta fase (Fase 3),
pode-se especular que a menor necessidade hídrica para a manutenção de pressões de
enchimento cardíaco deva ser primariamente atribuída ao estado circulatório menos
vasodilatado [ IRVS (T5) Grupo 1= 963,10; Grupo 2= 831,47; p= 0,020] apresentado
54
pelo Grupo salina hipertônica, do que propriamente ao efeito expansor volêmico
inerente a esta solução ((Figuras 4, 5 e 6; Tabelas 5, 6 e 7).).
5.4. Análise laboratorial
A hipernatremia esteve associada à administração da solução salina hipertônica, o
valor máximo do sódio plasmático foi de 159,6 mEq/L que ocorreu imediatamente após
o término da infusão. Porém, ao final da cirurgia, todos os pacientes apresentavam
dosagens de sódio sérico próximos da normalidade (135 a 148 mEq/L) (Tabela 8).
A curta duração de hipernatremia moderada, ausência de hiponatremia preexistente
e exclusão de crianças podem ter contribuído para a ausência de efeitos indesejáveis
relacionados a hipernatremia (Rocha-e-Silva, 2003).
A administração da solução salina hipertônica foi acompanhada de hipercloremia
associada à agravamento da acidose metabólica do momento após a infusão até a
reperfusão hepática. A hipercloremia induzida pela administração de grandes volumes
de solução salina é reconhecida como um mecanismo responsável por acidose
metabólica (Ho et al., 2001; Prough e Bidani, 1999; Stephens e Mythen, 2003), porém é
questionável como mecanismo etiológico de acidose metabólica após a administração de
solução salina hipertônica na dose de 4mL/kg (Kreimeier e Messmer, 2002). A acidose
metabólica que sucedeu a administração da solução salina hipertônica neste estudo não
requereu terapia com bicarbonato de sódio e não se associou pior resposta
hemodinâmica e/ou metabólica dos pacientes do Grupo 1. Interessantemente, aos 30
minutos da reperfusão este grupo apresentou uma magnitude de recuperação do pH
sangüíneo em direção à normalidade maior que o Grupo controle (Figura 7), fato que,
55
associado ao melhor padrão hemodinâmico apresentado por este grupo à reperfusão
hepática quando comparado ao Grupo controle, reforça o raciocínio de que a solução
salina hipertônica foi capaz de atenuar os efeitos deletérios microcirculatórios que
sucedem a isquemia e reperfusão hepática no transplante do fígado.
5.5. Considerações finais
5.5.1. Pressão intracraniana e pressão de perfusão cerebral
Nos três pacientes em que a monitorização da pressão intracraniana, confirmou
hipertensão intracraniana, a solução salina hipertônica diminuiu de forma sustentada a
PIC, normalizou seu nível em dois pacientes, ao mesmo tempo em que proporcionou
estabilidade cardiocirculatória durante a reperfusão hepática, garantindo a este grupo de
pacientes maior pressão de perfusão cerebral durante toda a cirurgia. (Figuras 8, 9 e 10;
Tabela 11). Nenhum destes pacientes necessitou de medidas terapêuticas adicionais para
o controle da PIC ou de suporte farmacológico alfa adrenérgico durante a reperfusão
hepática.
A encefalopatia hepática na insuficiência hepática aguda implica em péssimo
prognóstico sendo a hipertensão intracraniana secundária ao edema cerebral a maior
causa de morte nestes pacientes (Lai e Murphy, 2004; Vaquero et al., 2003).
A solução salina hipertônica diminui de forma consistente a pressão intracraniana
no trauma craniencefálico (Qureshi et al., 2002; Rocha-e-Silva, 2003; Schwarz et al.,
2002; Vincent e Berre, 2005). A hipernatremia induzida pela solução salina hipertônica
produz significante redução na hipertensão intracraniana e aumento na pressão e
56
perfusão cerebral em pacientes com hipertensão intracraniana refratária secundária a
grave trauma craniencefálico (Khanna et al., 2000; Simma et al., 1998).
Estudos clínicos já demonstraram os efeitos benéficos da solução salina hipertônica
no choque hemorrágico em presença de hipertensão intracraniana e hipotensão arterial
(Prough et al., 1985; Wade et al., 1997; Walsh et al., 1991). Este quadro clínico é
semelhante ao encontrado na insuficiência hepática aguda grave, onde hipertensão
intracraniana coexiste com hipotensão arterial sistêmica (Lai e Murphy, 2004; O'Grady,
2005; Vaquero et al., 2003).
Vários mecanismos, provavelmente agindo simultaneamente, devem ser
responsáveis pela diminuição da pressão intracraniana e pelo aumento da pressão de
perfusão cerebral secundários a administração da solução salina hipertônica. Pela sua
ação osmótica foi demonstrado que a solução salina hipertônica diminui o conteúdo de
água cerebral em modelos experimentais de lesão cerebral e reduz com sucesso a
pressão intracraniana e a herniação tentorial em animais e pacientes com hipertensão
intracraniana refrataria (Qureshi e Suarez, 2000; Qureshi et al., 2002). Por diminuir o
edema endotelial e melhorar a reologia eritrocitária a hipernatremia tende a aumentar o
fluxo sangüíneo microvascular (Shackford et al., 1994). Por reduzir a resposta
inflamatória sistêmica, cuja intensidade se demonstrou diretamente proporcional a
gravidade da encefalopatia e da hipertensão intracraniana na hepatite fulminante
(Qureshi et al., 2002; Rolando et al., 1995; Rolando et al., 2000). Se a estes dados
associarmos os efeitos benéficos, já estabelecidos, de sua administração sobre a
hemodinâmica sistêmica em situações de isquemia e reperfusão talvez se possa presumir
57
que a solução salina hipertônica configure medida neuroprotetora de grande efetividade
no intra-operatório do transplante hepático para hepatite fulminante.
Devido à ausência de pacientes com sinais de hipertensão intracraniana no Grupo
controle e à urgência na compreensão dos efeitos da solução salina hipertônica sobre a
pressão de perfusão cerebral nos pacientes com hepatite fulminante submetidos ao
transplante do fígado, fez-se necessária a comparação dos pacientes do Grupo salina
hipertônica que apresentavam hipertensão intracraniana por hepatite fulminante com
Grupo controle histórico composto de sete pacientes em condições clínicas semelhantes
transplantados neste serviço de 1999 a 2004.
Neste estudo foram selecionados quatro momentos em que a interposição dos
tempos entre os grupos garantiu a concordância dos dados previamente coletados (T1=
final da fase de dissecção, T2= início da fase anepática, T3= final da fase anepática e
T4= no 5⁰ minuto após a reperfusão do enxerto).
O comportamento da pressão de perfusão cerebral, no Grupo controle histórico,
durante o transplante hepático foi de queda durante as fases de dissecção e reperfusão do
enxerto. Estudos semelhantes confirmam que estes são os tempos operatórios mais
freqüentemente associados à diminuição da pressão de perfusão cerebral e de risco à
isquemia cerebral (Detry et al., 1999; Keays et al., 1991; Lidofsky et al., 1992) (Figura
11).
Quando o comportamento da pressão de perfusão cerebral dos pacientes do Grupo
salina hipertônica, foi analisado frente ao controle histórico, observamos que a
administração da solução salina hipertônica promoveu efeito neuroprotetor, demonstrado
pelo aumento da pressão de perfusão cerebral, do momento da administração, na fase
58
anepática, até a reperfusão do enxerto (Figura 11). Este fato ficou evidenciado pela
queda da pressão intracraniana nestes pacientes, concomitante com melhora da pressão
arterial média, efeitos que foram mais pronunciados durante a reperfusão, período intra-
opertatório sabidamente relacionado com risco aumentado de isquemia cerebral.
Figura 11 – Comparação do comportamento da pressão de perfusão cerebral entre o
Grupo histórico e o Grupo solução salina hipertônica
A afirmativa que a hipernatremia e a hiperosmolaridade induzidas pela solução
salina hipertônica estão associadas a benefícios neurológicos (Rocha-e-Silva, 2003)
vem sendo confirmada pela sua recente inclusão em artigos e algoritmos de tratamento
pré-operatório de hipertensão intracraniana secundária a insuficiência hepática aguda
(Lai e Murphy, 2004; Murphy et al., 2004; O'Grady, 2005). Em pacientes com
insuficiência hepática aguda, sua administração na terapia intensiva promoveu redução
significativa da pressão intracraniana e da necessidade de suporte hemodinâmico
farmacológico (Murphy et al., 2004).
59
Desta forma a solução salina hipertônica vem se estabelecendo como estratégia
fundamental no pré-operatório de pacientes com hepatite fulminante, ampliando, em
teoria, o tempo viável de sucesso, seja da recuperação do fígado nativo, seja da
realização do transplante hepático.
No intra-operatório, de nosso conhecimento, este é o primeiro estudo em que são
descritos os efeitos hemodinâmicos cerebrais subseqüentes a administração da solução
salina hipertônica no transplante hepático para hepatite fulminante.
5.5.2. Mielinólise central pontina
O último paciente do Grupo solução salina hipertônica, JADJ (paciente H15), 51
anos, com diagnóstico de cirrose por VHC e carcinoma hepatocelular, apresentou no
oitavo dia de pós-operatório um quadro neurológico iniciado com convulsão e evoluiu
em duas semanas com sinais clínicos e de ressonância nuclear magnética de mielinólise
central pontina (MCP), seguido de sepse grave e piora da função hepática. Submetido a
biópsia hepática no 32o dia pós-transplante, evoluiu com quadro de hipotensão arterial,
tendo sido constatado óbito 3 horas após o procedimento (Apêndice C - Relatório de
Autópsia Definitiva).
Complicações neurológicas nos transplantes de órgãos sólidos e de medula óssea
ocorrem em 30 a 80% dos pacientes, e no transplante hepático em particular, ocorrem
em cerca de 30% dos pacientes; encefalopatia e convulsão sendo as mais freqüentes
seguidas da neurotoxicidade das drogas imunossupressoras, coma, hemorragia cerebral e
mielinólise central pontina (Pless et al 2002) (Buis et al., 2002).
60
Os sinais iniciais da mielinólise central pontina incluem disartria, disfagia (fibras
corticobulbares), paraparesia ou tetraparesia flácida que evolui para espástica (trato
corticoespinhal) podendo se associar a alteração do nível de consciência do tipo
mutismo acinético, em que o paciente está acordado porém não consegue se movimentar
(Lewis e Howdle, 2003). A característica patológica é a dissolução simétrica da bainha
de mielina dos axônios centrais da base da ponte (Ashrafian e Davey, 2001), localização
cerebral de maior sobreposição de tecido cinza e branco.
Desde a primeira descrição por Adams em 1959, a mielinólise central pontina ainda
é pouco compreendida (Adams et al., 1959). Porém, existe consenso que, qualquer que
seja a teoria da gênese da mielinólise central pontina osmótica, ela tem que englobar um
período de hiponatremia, principalmente do tipo crônica, seguido de reposição de sódio
como estímulo fundamental para a lesão da célula glial. Modelos experimentais com
cães, coelhos e ratos reproduziram com sucesso os achados clínicos e anátomo-
patológicos da mielinólise humana e confirmaram que: hiponatremia grave e sustentada
per se não produz mielinólise, hiponatremia grave com correção rápida dos níveis de
sódio produz mielinólise e que normonatremia, seguida da administração de solução
salina hipertônica, não produz mielinólise (Illowsky e Laureno, 1987; Kleinschmidt-
DeMasters e Norenberg, 1982; Laureno, 1983; Laureno e Karp, 1997; Norenberg et al.,
1982; Norenberg e Papendick, 1984; Verbalis e Gullans, 1993).
As células gliais, células vulneráveis na mielinólise central pontina, têm papel
significante de suporte na osmolaridade e no balanço eletrolítico dos neurônios que
envolvem. Durante a hiponatremia, o interstício cerebral fica hipo-osmótico e, para
61
prevenir o edema, a célula glial elimina ativamente íons osmoticamente ativos como a
taurina, mio-inositol , glutamina e eletrólitos, limitando assim o edema celular.
Durante a correção da hiponatremia, o interstício cerebral fica hipertônico em
relação a célula glial, forçando a saída de água da célula. A mais importante medida
adaptativa na restauração da osmolaridade e conseqüente manutenção do volume celular
é a importação de íons pela ativação da bomba Na+-K+-ATPase glial, à custa de alto
consumo energético. A célula glial tem como substrato primário a glicose e é
particularmente susceptível a lesão frente ao estresse metabólico. Se este processo for
muito rápido, o substrato energético para atividade da bomba Na+-K+-ATPase advém da
exclusão relativa (Magistretti et al., 1999) de todos os outros processos de demanda
energética celular, ficando o metabolismo da glicose direcionado exclusivamente para a
bomba Na+-K+-ATPase (James et al., 1999), obrigando a célula a utilizar a mesma via
que ativa à apoptose (canais de potássio). Deste modo, doentes desnutridos tendem a ter
menor estoque de glicose e parecem ser mais susceptíveis ao dano cerebral.
Com incidência de 3 por 1000 na população hospitalar geral (Wright et al., 1979)
dois grupos de pacientes são particularmente susceptíveis a mielinólise central pontina,
alcoólatras e transplantados de fígado (Ashrafian e Davey, 2001). Analise post mortem
indica prevalência maior de 30% de mielinólise central pontina nos transplantados
hepáticos (Singh et al., 1994).
A neurotoxicidade secundária às drogas imunossupressoras ocorre em cerca de
30% dos transplantes de fígado (de Groen et al., 1987), e também tem sido descrita em
transplantes renais, cardíacos e de medula óssea (Boque et al., 2003; Fryer et al., 1996).
62
A neurotoxicidade induzida pela ciclosporina é considerada expressão de
hiperexcitabilidade sináptica neuronal direta ou de lesão indireta pela liberação de
agentes vasoconstrictores (endotelina ou tromboxane), com conseqüente necrose
neuronal (Shbarou et al., 2000; Wong e Yamada, 2000). Fryer et al. (1996) em sua série
de 44 transplantes de fígado identificaram mielinólise central pontina e extrapontina
como característica da neurotoxicidade por ciclosporina em sete pacientes. Especula-se
que a mielinólise central pontina e a neurotoxicidade secundária à ciclosporina fazem
parte da mesma doença e que a conversão para tacrolimus (FK 506) não seria benéfica,
por estar associada ao mesmo espectro de complicações neurológicas (Eidelman et al.,
1991; Fryer et al., 1996; Menger e Jorg, 1999).
O quadro é grave, porém o prognóstico atual parece menos sombrio que o
encontrado em muitos textos, que sugerem ser o processo fatal na maior parte dos
pacientes. Menger et al. publicaram a evolução de 44 pacientes com mielinólise central
pontina, 32 sobreviveram, 21 com graus variados de comprometimento neurológico e 11
totalmente recuperados (Fryer et al., 1996; Menger e Jorg, 1999).
Neste estudo, o paciente teve diagnóstico pós-operatório de esclerose tuberosa por
lesões extraneurais (pele áspera, angiolipomatose renal e hepática) e pela história,
colhida com familiares, de convulsão prévia, informações que até o momento do
transplante tinham sido omitidas pelo paciente e familiares. A esclerose tuberosa
caracteriza-se por hamartomas e neoplasias benignas que afetam o SNC: hamartomas
corticais (túberes), hamartomas glioneurais subcorticais, nódulos gliais subependimários
e astrocitoma subependimário de células gigantes. Manifestações extraneurais incluem
angiofibromas cutâneos (‘adenoma sebáceo’), peau chagrin (pele áspera como lixa),
63
fibromas subungueais, rabdomiomas cardíacos, pólipos intestinais, cistos viscerais,
linfângio-leiomiomatose pulmonar e angiomiolipomas renais (DiMario, 2004; Franz,
2004).
Deve-se salientar que o paciente não apresentava hiponatremia crônica (Nainicial:
143mEq/L, Namáximo: 154,6mEq/L, Nafinal: 153mEq/L, Na1ºPO: 149mEq/L, Na2ºPO:
146mEq/l, valores de referência para o Na: 135 – 148mEq/L), situação fundamental na
gênese da lesão glial osmótica da MCP, o que torna pouco provável o papel da
administração da solução salina hipertônica na etiologia deste quadrooneurológico.
5.5.3 Evolução pós-operatória
Analisando os pacientes do estudo segundo a gravidade da doença hepática pré-
operatória conforme os critérios de MELD (Model for End-Stage Liver Disease)
podemos observar que o Grupo salina hipertônica apresentava no pré-operatório valor
médio de MELD maior que o Grupo controle (26,33 vs. 20,87, p= 0,417). Apesar de
ainda não totalmente esclarecida a relação entre MELD e sobrevida pós-transplante,
estudos recentes visando otimizar a alocação de órgãos para transplante demonstraram
que pacientes com valores de MELD maiores que 25, pacientes em suporte ventilatório
mecânico no pré-operatório e aqueles com diagnóstico de hepatite fulminante
apresentam pior sobrevida pós-transplante (Desai et al., 2004; Markmann et al., 2001;
Onaca et al., 2003; Saab et al., 2003). Categorizando-se os grupos em três subgrupos por
intervalos de MELD (<25, 25-35 e ≥35), subgrupos de gravidade progressiva,
observamos que 40% dos pacientes do Grupo solução salina hipertônica se encontravam
64
nos dois subgrupos de maior gravidade, contra 26,66% dos pacientes do Grupo controle
(Figura 12).
Cinco pacientes do Grupo salina hipertônica tinham diagnóstico de hepatite
fulminante (pacientes H1, H3, H4, H11 e H14), quatro destes apresentavam sinais de
hipertensão intracraniana (três com monitorização da pressão intracraniana), estavam em
suporte ventilatório mecânico e hemodinâmico farmacológico por mais de 24 horas
antes do transplante e tinham MELD maior que 35 (Figura 12). No Grupo controle, dois
pacientes (pacientes C5 e C11) tinham diagnóstico de hepatite fulminante, porém
nenhum apresentava sinais de hipertensão intracraniana ou necessitou de suporte
ventilatório ou hemodinâmico pré-operatório e apenas um destes pacientes apresentava
MELD maior de 35.
Figura 12 – Categorização dos grupos pelo MELD
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
65
Figura 13 –Sobrevida em 30 dias pós-transplante
SSH = Grupo solução salina hipertônica; Controle = Grupo controle
Se partimos do princípio que o distúrbio hemodinâmico pós-reperfusão tende a ser
mais grave e mais duradouro quanto maior o grau de falência hepática podemos
especular com base nos dados das figuras 12 e 13 que, pacientes de maior gravidade, isto
é, aqueles com menor reserva hepática e hemodinâmica, principalmente aqueles em
insuficiência hepática aguda, talvez constituam os subgrupos de hepatopatas que mais se
beneficiariam da administração da solução salina hipertônica no transplante de fígado, e
que o efeito benéfico pode se estender além do período de reperfusão do enxerto.
66
6. CONCLUSÕES
Nas condições do presente estudo, concluiu-se que a solução salina hipertônica
(NaCl a 7,5%) na dose de 4mL/kg de peso, administrada antes da reperfusão hepática no
transplante de fígado:
1- aboliu a síndrome pós-reperfusão,
2- atenuou as alterações hemodinâmicas secundárias a reperfusão hepática,
3- reduziu a necessidade de reposição volêmica.
67
7. Anexo A – Ficha de coleta de dados
68
8. Anexo B, Tabela 12 – Exames laboratoriais intra-operatórios
SSH CONTROLE P
K T1 4,26 ± 0,30 3,99 ± 0,69 0,168
K T2 4,31 ± 0,52 3,93 ± 0,57 0,068
K T3 4,28 ± 0,66 4,04 ± 0,82 0,382
K T4 4,35 ± 0,64 4,22 ± 0,72 0,600
K T5 4,30 ± 0,36 3,95 ± 0,59 0,057
K (T4 – T1) 0,09 ± 0,74 0,23 ± 0,56 0,560
K (T4 – T3) 0,07 ± 0,47 0,18 ± 0,74 0,632
pH T1 7,32 ± 0,08 7,35 ± 0,06 0,190
pH T2 7,30 ± 0,07 7,35 ± 0,05 0,050
pH T3 7,29 ± 0,05 7,34 ± 0,06 0,039
pH T4 7,23 ± 0,07 7,27 ± 0,08 0,247
pH T5 7,32 ± 0,05 7,31 ± 0,06 0,559
NaHCO3 T1 20,08 ± 4,48 21,74 ± 2,88 0,237
NaHCO3 T2 18,77 ± 3,95 20,39 ± 2,35 0,185
NaHCO3 T3 18,39 ± 2,21 19,86 ± 2,44 0,094
NaHCO3 T4 18,93 ± 2,68 19,31 ± 2,24 0,677
NaHCO3 T5 20,67 ± 1,89 20,22 ± 2,48 0,578
CO2 T1 38,33 ± 5,74 39,04 ± 3,29 0,679
CO2 T2 34,67 ± 4,70 35,16 ± 2,96 0,730
CO2 T3 36,76 ± 3,77 36,53 ± 4,32 0,872
CO2 T4 45,61 ± 5,51 45,50 ± 5,54 0,956
CO2 T5 38,85 ± 4,32 38,91 ± 3,52 0,971
CO2 (T4 - T1) 7,29 ± 6,13 6,46 ± 6,74 0,728
CO2 (T4 – T3) 8,85 ± 4,22 8,97 ± 6,94 0,952
69
9. Anexo C, Tabela 13 – Exames laboratoriais até o quarto dia de pós-operatório.
SSH CONTROLE P
ALT 1 1903,27 ± 2606,56 914,60 ± 894,21 0,176
ALT 2 1281,14 ± 1145,48 984,47 ± 932,68 0,450
ALT 3 1045,21 ± 920,37 767,53 ± 747,77 0,380
ALT 4 756,57 ± 670,78 550,80 ± 521,34 0,363
AST 1 2427,13 ± 2407,00 1342,20 ± 1250,38 0,133
AST 2 1113,21 ± 891,16 830,13 ± 712,67 0,352
AST 3 496,93 ± 436,84 390,47 ± 362,60 0,480
AST 4 256,14 ± 221,62 181,73 ± 143,26 0,290
γGT 1 104,79 ± 86,26 126,55 ± 109,38 0,583
γGT 2 138,07 ± 119,22 144,13 ± 111,19 0,888
γGT 3 245,79 ± 153,06 246,64 ± 149,76 0,988
γGT 4 448,00 ± 310,22 384,07 ± 242,52 0,549
FA 1 153,43 ± 194,80 83,00 ± 32,10 0,273
FA 2 107,43 ± 58,13 100,93 ± 38,13 0,730
FA 3 163,14 ± 114,75 126,36 ± 64,66 0,310
FA 4 209,07 ± 154,51 148,21 ± 71,85 0,193
BT 1 11,96 ± 12,92 6,17 ± 3,27 0,120
BT 2 9,41 ± 12,10 5,66 ± 4,65 0,290
BT 3 10,26 ± 11,74 5,43 ± 3,84 0,170
BT 4 10,17 ± 10,96 4,86 ± 3,87 0,090
Cr 1 1,52 ± 0,94 1,40 ± 0,74 0,702
Cr 2 1,94 ± 1,26 1,54 ± 0,83 0,315
Cr 3 2,75 ± 3,42 1,70 ± 0,69 0,257
Cr 4 2,54 ± 3,06 1,58 ± 0,65 0,246
70
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