Educao, incluso e qualidade
Leandra B er Possa (Organizadora)
Leandra Ber Possa
(Organizadora)
EDUCAO, INCLUSO E QUALIDADE
Santa Maria, RS, Brasil. LABORATRIO DE PESQ. E DOC. - CE
2014
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E24 Educao, incluso e qualidade [recurso eletrnico] / Leandra Ber Possa (organizadora). Santa Maria, RS : UFSM, Centro de Educao,
2014. 1 e-book
ISBN: 978-856112843-2
1. Educao 2. Educao inclusiva. I. Possa,
Leandra Ber
CDU 37
376.1/.5
Ficha catalogrfica elaborada por Luzia de Lima SantAnna CRB-
10/728 Biblioteca Central da UFSM
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COMIT ORGANIZADOR
Marilene Gabriel Dalla Corte UFSM
Rosane Carneiro Sarturi UFSM
Leandra Ber Possa - UFSM
COMISSO CIENTFICA
Leandra Ber Possa - UFSM
Alana Claudia Mohr UFSM
Vantoir Roberto Brancher - IFF
Eliana Pereira de Menezes - UFSM
Valmr Scott Junior - UFSM
Vanise Mello Lorensi - SEDUC-RS
Fernanda Machado - IFF
Eliane Sperandei Lavarda SEDUC-RS
Thais Virgnea Borges Marchi SEDUC-RS
EDITORAO E CAPA
Evandro Bolzan (Pr-Conselho UFSM)
Gabriel Marchesan (Pr-Conselho UFSM)
Marilene Gabriel Dalla Corte (UFSM)
Marina Lara Silva dos Santos Teixeira (Bolsista OBEDUC/CAPES UFSM)
COMIT DE APOIO TCNICO
Francine Mendona da Silva (Pr-Conselho UFSM)
Ticiane de Arruda da Silva (Bolsista OBEDUC/CAPES UFSM)
SUMRIO
APRESENTAO ...................................................................................................... 7
REPRESENTAES ESCOLARES SOBRE A POLTICA DE INCLUSO ................................................................................................................ 14 Denise Ferreira da Rosa
CRIANAS COM DEFICINCIA EM SITUAO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: DEBATES SOBRE GESTO EDUCACIONAL E INCLUSO ................................................................................................................ 22 Carolina Terribile Teixeira Andria Jaqueline Devalle Rech Soraia Napoleo Freitas
ADAPTAES CURRICULARES COMO REGRA OU EXCEO? DISCUSSO ACERCA DA EXPERINCIA NO IF FARROUPILHA- CAMPUS SO BORJA ............................................................................................ 32 Clucia Honnef Ana Paula Del Aghenese Lutiele Machado Godois
AS CONTRIBUIES DO GESTOR ESCOLAR PARA IMPLEMENTAO DA EDUCAO INCLUSIVA NA EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA ......................................................................... 43 Lidiane Falco Martins Camila Koerich Burin
APRENDIZAGEM DA DOCNCIA DIANTE DA INCLUSO DO PBLICO ALVO DA EDUCAO ESPECIAL NO ENSINO SUPERIOR ................. 55 Karina Silva Molon de Souza Doris Pires Vargas Bolzan
UMA TRADE EM DISCUSSO: CONSTITUIES BRASILEIRAS, EDUCAO (SUPERIOR) E PROCESSO DE IN/EXCLUSO ................................ 63 Valmr Scott Junior Valdo Hermes de Lima Barcelos
PROJETO POLTICO PEDAGGICO: UM OLHAR SOBRE A ORGANIZAO DO AEE EM DUAS ESCOLAS DE DIFERENTES MUNICPIOS DA REGIO CENTRAL DO ESTADO DO RS ................................... 74 Fabiane Ramos Valquirea Martins Monteblanco
EFEITOS DE DOCUMENTOS INTERNACIONAIS NAS POLTICAS DE EDUCAO ESPECIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BRASIL, ARGENTINA E CHILE ............................................................................... 84 Maria Ins Naujorks Leandra Ber Possa
A EDUCAO PARA AS DIVERSIDADES: GESTO DAS DEMANDAS DO COTIDIANO ESCOLAR ..................................................................................... 95 Elize de Matos Souto Alana Claudia Mohr
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APRESENTAO
Desde 2013, o Programa de Ps-Graduao em Educao e Gesto
Educacional, da Universidade Federal de Santa Maria, em parceria com os grupos
de pesquisa iniciou um novo ciclo de eventos que passaram a ser organizados por
eixos temticos e, com isso, por grupos de trabalho que envolvem o campo da
educao e da gesto educacional.
Em 2014 esta organizao, testada anteriormente, ganhou novos contornos e
integrou os seguintes eventos: o II Seminrio Internacional de Polticas Pblicas da
Educao Bsica e Superior, o IV Seminrio Internacional de Gesto Educacional,
a VIII Semana Acadmica do Curso de Especializao em Gesto Educacional e a II
Semana Acadmica do Centro de Educao da Universidade Federal de Santa
Maria.
A experincia com os eixos temticos gerou o investimento em avaliar os
trabalhos submetidos para apresentao nos eventos e, com isso, empreender na
feitura de e-books que nascem do estudo em parceria. Entre eles, nasce este e-
book, fruto de um dos eixos dos eventos, intitulado Educao, Incluso e
Qualidade.
Foi na parceria dos grupos de pesquisa ligados ao Programa de Ps
Graduao em Educao e em Gesto Educacional da Universidade Federal de
Santa Maria e, mais especificamente, entre o Grupo de Pesquisa ELOS e o Grupo
de Estudo sobre Educao Especial e Incluso GEPE, que tornou-se possvel
qualificar a produo do eixo temtico Educao, Incluso e Qualidade.
Olhando para o trabalho do eixo Educao, Incluso e Qualidade, destacamos
as discusses produzidas pelos professores Alfredo Veiga-Neto, Maura Corcini
Lopes e Mrcia Lise Lunardi-Lazzarin, levando-nos a identificar a necessidade de
pensar outros modos e modelos tericos para enfrentar os problemas sociais e
educacionais do sculo XXI. Sem desprezar as teorias educacionais do sculo
XIX e XX insistiram em nos apresentar um panorama em que os modelos
anteriores no do mais conta de explicar o presente. No desenvolvimento da
temtica propuseram algumas discusses que podem ser tomadas por ns como
alertas. Alertaram para que faamos um esforo extra, em nossas prticas de
pesquisa sobre a escola, para que: a) possamos compreender as transformaes
no campo da educao escolar; b) tenhamos em mente que o conceito de qualidade
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tem sido utilizado como sinnimo de indicadores que servem de metro para o
financiamento e avaliao e que a mudana destes indicadores que mudam
constantemente de foco, como por exemplo: num momento no ensino, em outro
na aprendizagem; tendo colocado nfase na educao como esfera que sofre
diretamente os efeitos de prticas lgicas do capitalismo liberal e neoliberal; c)
possamos pensar que no festejo das diferenas, tomadas como diversidade de
indivduos que vo escola, temos dificuldade de pensar a gesto, pois investe-se
em gestar a diferena ao invs de gestar o ensino e a aprendizagem; d)
reconheamos elementos potencializadores nas polticas de incluso do Estado,
para que possamos produzir um alargamento do sentido da incluso, ou seja,
atribuir sentido a ela no como modelo que fortifica a excluso; d) possamos pensar
a incluso no como imperativo, mas como uma matriz de experincia em que
gesto signifique pensar a si e ao outro; em detrimento de posies que, no
presente so comuns, levando gestores e professores a tornarem-se um ente
nominal entre ser contra ou a favor da incluso; e) identificarmos porque estamos
subjetivados com a impresso de que h um lugar para todos e, com isso, pensar
que a incluso um indicador de uma arte de governar no presente que tem nome e
endereo (todos e cada um) e para tanto a necessidade de pensar de outras formas
nos apropriando de outros modos de pensar.
Os alertas deixados pelos referidos professores movimentaram o grupo e as
apresentaes de trabalhos do GT, bem como mobilizaram pesquisadores dos
Grupos de Pesquisa ELOS e GEPE a produzirem outros textos que tambm
compem este e-book. Assim, este livro est organizado em: "Trabalhos
Endereados" compostos por seis artigos aprovados pela Comisso Cientfica do
eixo e todos eles trazem uma analtica em torno das polticas pblicas e de gesto
educacional tendo como foco a escola e as prticas educativas; "Trabalhos dos
Grupos de Pesquisa e Reflexes" que contemplam textos cientficos derivados das
pesquisas dos grupos a partir do estudo efetivado pelo eixo temtico.
O trabalho intitulado Representaes escolares sobre a poltica de incluso,
de Denise Ferreira da Rosa, tensiona o modo em que se d a produo do
sujeito/aluno da incluso nos discursos da Gesto educacional. Tomando como
lcus de pesquisa uma escola da rede pblica, a pesquisadora tece com alguns
materiais a produo de uma materialidade analtica para olhar as representaes
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da escola sobre as polticas educacionais e, com isso, a experincia e discursos da
incluso na escola que colocam em operao a produo do aluno includo. Nas
concluses, a autora problematiza a gesto escolar e os modos de
homogeneizao acionados para identificar a escola como lugar que acolhe
todos os sujeitos com deficincia e ao mesmo tempo o pouco investimento na
gesto da aprendizagem.
O trabalho de Carolina Terribile Teixeira, Andria Jaqueline Devalle Rech e
Soraia Napoleo Freitas, intitulado Crianas com deficincia em situao de
acolhimento institucional: debates sobre gesto educacional e incluso, busca
interpretar o sentido da incluso para a Gesto Escolar num estudo bibliogrfico que
toma como referncia a institucionalizao da criana com deficincia. Apresenta a
articulao dos temas gesto educacional e incluso a partir de um estudo
bibliogrfico. Apresenta a trama de conceitos como gesto e incluso, acesso e
permanncia na escola, proposta pedaggica e funo social da escola. Identifica a
necessidade de as escolas investirem em profissionais qualificados e em
recursos materiais e estruturais tendo em vista a qualificao da mesma para a
incluso e para encontrar sadas para o atendimento educacional das pessoas
includas no contexto da prpria escola. Constitui-se um estudo bibliogrfico que
contribui para pensar e problematizar sobre as bases com as quais estamos
lidando com a incluso e gesto educacional num quadro de generalizao e
universalizao desta poltica.
Clucia Honnef, Ana Paula Del Aghenese e Lutiele Machado Godois
encaminham o artigo Adaptaes curriculares como regra ou exceo:
discusso acerca da experincia no IF Farroupilha Campus So Borja.
Comeam esclarecendo a relao errnea que se coloca para a Educao
Especial como sinnimo de educao inclusiva. Para as autoras estas duas se
atravessam, mas no so a mesma coisa. O texto retoma diversos tericos da
educao do sculo XX e com eles o texto caminha para apontar as
caractersticas dos sujeitos como elemento primordial das propostas de
aprendizagem escolar. Com isso, identificam que o campo pedaggico precisa
mobilizar atividades diversas que levem em considerao a diversidade de alunos
tendo em vista as polticas educacionais presentes. O texto aponta como caminho
metodolgico a anlise de narrativas de uma experincia de gesto curricular
em torno de adaptaes, que se do em funo da presena de alunos com
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deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades em um
instituto federal de educao, cincia e tecnologia no Rio Grande do Sul. As
autoras concluem indicando a importncia das condies de trabalho dos
professores e da relao destes com os professores da Educao Especial.
Apontam a gesto participativa e cooperativa dos saberes ligados as adaptaes
curriculares, como capazes de gerarem condies de aprendizagem dos alunos
com necessidades educacionais especiais.
O artigo intitulado As contribuies do gestor escolar para implementao
da educao inclusiva na educao profissional e tecnolgica, de Lidiane
Falco Martins e Camila Koerich Burin, discute a implementao da incluso em um
Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina. Para tanto,
descreve o papel da gesto educacional no processo de sensibilizao dos
profissionais tomando como referncia o estudo participativo da legislao e mais
especificamente da histria de pessoas com deficincia e como essa vem se
produzindo como sujeito ao longo dos processos sociais da humanidade.
Identificam, ao final do artigo, que a experincia promovida pela gesto educacional
criou estratgias na comunidade escolar e em seu entorno no sentido de articular
parcerias e poder, com isso, aproximar sujeitos com necessidades educacionais
especiais com seus direitos de acesso e permanncia na escola.
As autoras Karina Silva Molon de Souza e Doris Pires Vargas Bolzan nos
brindam com o artigo Aprendizagem da docncia diante da incluso do pblico
alvo da educao especial no ensino superior. Nesse, apresentam a relao
docente de professores universitrios com os alunos da cota b, pblico alvo da
Educao Especial, no ensino superior. Problematizam atravs do estudo do estado
da arte pesquisas que buscam identificar como os professores universitrios esto
se mobilizando ou no para o trabalho de mediao deste pblico na instituio de
ensino superior. Utilizam como conceito orientador da analise a resilincia tendo em
vista que este potencializa a capacidade dos indivduos para lidarem e superarem
obstculos, ou ainda, movimentarem-se diante de situaes adversas que enfrentam
como docentes. O texto inicial, mas traz uma contribuio importante para a
pesquisa da docncia universitria em tempos de incluso colocando a funo do
professor universitrio como mediador do processo de acesso e permanncia do
aluno cotista no ensino superior.
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O texto de Vlmor Scott Junior e Valdo Hermes de Lima Barcelos, intitulado
Uma trade em discusso: Constituies Brasileiras, educao (superior) e
processo de in/excluso, esclarecedor para situar as condies de
possibilidade de uma poca histrica em que surgem nas cartas constitucionais
brasileiras e o direito educao. Os autores empreendem uma analtica dos textos
constitucionais que se referem ao direito do cidado brasileiro educao superior,
tratando esse como um direito entre outros. Identificam que, somente na Carta
Constitucional de 1988, se assegura os direitos de todos educao superior e
que nela fica determinada a obrigao do Estado financiar e regular tal nvel de
ensino.
Os Trabalhos Endereados remetem diferentes analticas, no entanto, todos
eles tem como foco pensar as polticas de incluso associadas as prticas de gesto
educacional. O aparato poltico da mesma forma que regulamenta as prticas de
gesto educacional parece, tambm, nesses trabalhos, estar qualificando
indicadores de 'boas prticas educacionais', sendo, entre muitos, um deles a
incluso.
Nos trabalhos produzidos por Grupos de Pesquisa e reflexes, encontramos
textos cientficos de alguns pesquisadores do Programa de Ps-Graduao em
Educao e em Gesto Educacional da UFSM, tendo em vista a parceria,
especialmente, entre os grupos de pesquisa ELOS e GEPE. Nesses textos, discute-
se a educao e a gesto educacional articulando-as s polticas pblicas que
recebem por efeito a perspectiva inclusiva. Esse efeito que vem colocando em
operao modos de ser das prticas educacionais, num tempo em que novas
prticas recobrem outras e velhas prticas em educao, como estratgia para
gestar a presena de todos nos espaos educacionais institucionalizados. Ao olhar
para materiais oficiais e/ou produzidos no interior das instituies escolares
esses textos buscam colocar em suspeio as verdades naturalizadas o que se
representa sair da zona de conforto das publicaes que tem como objetivo
sacralizar modelos polticos tomados, no presente, como verdadeiros.
O primeiro texto dos trabalhos produzidos por Grupos de Pesquisa se intitula
Projeto Poltico Pedaggico: Um olhar sobre a organizao do AEE em duas
escolas de diferentes municpios da regio central do estado do RS, de
Fabiane Ramos e Valquirea Martins Monteblanco, tem por objetivo a anlise
comparativa dos projetos polticos-pedaggicos de duas escolas das redes
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municipais da Regio Central do estado do Rio Grande do Sul. Para anlise as
autoras elencaram duas categorias que so: a organizao do atendimento
educacional especializado e a interlocuo do AEE com o professor da sala de aula
comum. A partir dessas categorias, as autoras apresentam subcategorias que
envolvem a rea da educao especial nestas instituies e chegam a concluso
de que os projetos polticos-pedaggicos das duas escolas possuem itens que
divergem com o que prev a Poltica Nacional de Educao Especial na
Perspectiva da Educao Inclusiva. Apontam necessidade de haver uma reflexo
frente construo dos projetos escolares, pois estes precisam levar em
considerao a organizao do atendimento educacional especializado previsto
na poltica de incluso, o que poder unificar as aes que devem ser
desenvolvidas na escola.
O segundo texto, das autoras Leandra Ber Possa e Maria Ins Naujorks, o
resultado de um primeiro movimento de pesquisa em torno as polticas
internacionais de incluso tomando como referncia a analtica de polticas em
pases da Amrica Latina. O texto intitulado Efeitos de documentos internacionais
nas polticas de Educao Especial: um estudo comparativo entre Brasil,
Argentina e Chile, comea com uma imerso na Declarao Mundial Sobre
Educao Para Todos (1990) e da Declarao de Salamanca (1994) que completam
respectivamente 24 e 20 anos em 2014. Tomando esses documentos mundiais que
se constituram em referncias para que diferentes pases, dentre eles o Brasil, a
Argentina e o Chile, reconfigurassem suas polticas educacionais, lanam um olhar
para as polticas nacionais desses trs pases a prioridade lanada para a educao
de pessoas com deficincia, nos sistemas educacionais regulares. A partir desse
princpio que indica metas s polticas pblicas de educao nacionais
consideramos, comparativamente, documentos legais que o Brasil, a Argentina e o
Chile vm produzindo para atender a gesto deste princpio - a incluso - das
pessoas com deficincia nos seus sistemas educacionais. Como resultados, as
autoras discutem a consonncia das polticas implementadas nos pases
analisados com as recomendaes da UNESCO, j que esse organismo
internacional intermediou e assumiu como meta a implementao da educao
para todos e o princpio da incluso educacional/escolar, ratificadas nas
declaraes mundiais. Tambm, identificam certa similaridade na poltica de
educao especial desses pases tendo em vista os efeitos dos documentos
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internacionais. Por um lado essas polticas recaem na tnica de que a incluso
est para alm da escolaridade da pessoa com deficincia e, por outro, tem sua
centralidade na educao formal e escolarizada.
O terceiro texto de Elize de Matos Souto e Alana Claudia Mohr, A educao
para as diversidades: gesto das demandas do cotidiano escolar, consiste
em um estudo de caso etnogrfico de cunho qualitativo que buscou identificar as
demandas da gesto escolar de duas instituies com propostas distintas em Santa
Maria/RS, cujo cenrio marcado pela diversidade e desigualdade social. As
autoras identificam que a criminalidade, a prostituio, o uso de drogas, o abuso
sexual, a pobreza, entre outras difceis situaes que fazem parte do cotidiano dos
alunos, assim como integram a realidade dos professores, gestores e funcionrios
desta escola. Da anlise de dados as autoras chegaram ao levantamento das
seguintes dimenses: Desigualdade social versus diversidade como desafio a
prtica da educao inclusiva; comprometimento com o ensino; alternativas de
avaliao; escola com vis protetivo/assistencialista e currculo; esses elementos
que esto imbricados com a gesto escolar.
Apresentar os trabalhos deste e-book Educao, Incluso e Qualidade e
coordenar a Comisso Cientfica desse eixo, oferece a possibilidade de
aprendizagem compartilhada com muitos colegas pesquisadores que apresentam,
aqui, seus resultados de pesquisa. De certa forma, d-me, tambm, a autoridade,
por conhecer estes trabalhos e de indicar, a todos os interessados, a leitura
deles que acredito serem capaz de proporcionar a reflexo sobre as interfaces
das polticas pblicas e dos processos de gesto educacional.
Leandra Ber Possa Organizadora
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REPRESENTAES ESCOLARES SOBRE A POLTICA DE INCLUSO
Denise Ferreira da Rosa1
INTRODUO
Esse estudo visa realizar algumas aproximaes das discusses realizadas no
decorrer das disciplinas do curso de Especializao em Gesto Educacional/UFSM,
bem como das problematizaes que surgiram enquanto acadmica do Curso de
Educao Especial Licenciatura Plena Diurno/UFSM. Essas problematizaes
fundamentam o problema de pesquisa que vem sendo desenvolvido na disciplina de
Elaborao Defesa de Monografia: Quais sujeitos em processo de incluso escolar
esto sendo produzidos nos discursos dos gestores? Cabe ressaltar que esse
projeto encontra-se em fase inicial de desenvolvimento.
Durante a formao inicial no curso de Educao Especial, ao ter contato com
espao destinado ao estgio supervisionado, uma srie de representaes so
produzidas. Essas representaes fundamentam-se na queixa dos gestores da
escola, na queixa dos professores da sala regular, na queixa da educadora especial
para os casos de alunos que recebiam atendimento educacional especializado.
Estas queixas tambm aparecem no discurso dos familiares, por meio da entrevista
familiar (Anamnese)2, dos laudos/diagnsticos mdicos e pareceres anteriores.
Nesse sentido, logo no primeiro contato com a escola, j se produz um aluno com o
qual se realizar a prtica pedaggica, durante os trs meses de estgio. Para
pensar neste sujeito narrado recorro a compreenso que o sujeito uma inveno
discursiva, atravessada pelas relaes de poder/saber (FOUCAULT, 1995), busca-
se apoio nas obras de Michel Foucault para pensar como as queixas escolares,
entendidas como prticas discursivas, produzem representaes sobre os sujeitos
includos, que por sua vez, tero efeitos na constituio desses sujeitos.
Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo a partir das queixas dos
professores e gestores escolares sobre a incluso escolar, ocasionados pela
implementao das orientaes das polticas de Educao Inclusiva problematizar
1Acadmica do Curso de Gesto Educacional/CE/UFSM. Mestranda em Educao/PPGE/CE/UFSM. E-mail: . 2 Tem como finalidade a coleta de informaes sobre o desenvolvimento do aluno, a fim de tentar compreender seus processos e planejar os atendimentos.
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discursos produzidos no interior das escolas, que so produtores dos sujeitos ditos
includos.
Os dados para anlise, at aqui, foram coletados por meio de entrevistas
abertas com gestores de uma escola municipal da cidade e So Pedro do Sul/RS;
foram tambm apreciados diagnsticos e pareceres dos alunos, assim como
registrados em dirio de campo produzido durante as observaes realizadas na
escola, afim de que possam ser analisadas as representaes presentes nas
queixas escolares, expressas nos discursos produzidos por cada uma das partes
envolvidas no processo de incluso dos sujeitos pblico alvo da Educao Especial.
De acordo com o Decreto n 7.611/2011 em seu Art. 2
A educao especial deve garantir os servios de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarizao de estudantes com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao. (BRASIL, 2011)
Para melhor compreenso o que esta sendo proposto com esse trabalho no
primeiro momento apresenta-se como est sendo compreendida a incluso e no
segundo momento discute-se como essa compreenso est produzindo os sujeitos
includos.
INCLUSO COMO ESTRATGIA EDUCACIONAL DE GOVERNAMENTO DOS
SUJEITOS
Frente ao que foi apresentado anteriormente, inicialmente procura-se localizar
como est sendo compreendido o processo de incluso escolar, para num segundo
momento fazer anlise do discurso dos gestores a partir desse referencial.
Compreende-se o processo de incluso como um imperativo de Estado (LOPES,
2009) ou como uma estratgia educacional para que tal imperativo entre em
operao. Enquanto imperativo, conforme Lopes e Rech (2013) a incluso
[...] se materializa na atualidade como uma alternativa econmica vivel para que os processos de normao e de normalizao se efetivem, bem como para que outras formas de vida no previstas na modernidade por exemplo, mais empreendedoras, autossustentadas e autnomas se expandam no tecido social. Dessa forma, incluso como imperativo implica, pelo seu carter de abrangncia e de imposio a todos, que ningum possa deixar de cumpri-la, que nenhuma instituio ou rgo pblico possa dela declinar. (p. 2012, apud LOPES e FABRIS, 2013, p. 21)
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Nesse vis a incluso pensada como forma de minimizar as desigualdades
sociais, tnicas, polticas, religiosas, cognitivas, entre tantas outras que foram
produzidas pelos sujeitos com o passar dos tempos. Para que esse imperativo seja
respeitado o governo cria inmeras polticas para a conduo das condutas dos
sujeitos, constituindo o que em Foucault significa governamento, ou seja, aes
distribudas microscopicamente pelo tecido social (VEIGA-NETO, 2002, p. 21).
Como exemplos dessa forma de pensar a incluso escolar podemos citar a
Poltica Educacional e os Programas de Governo como o Programa de Implantao
de Salas de Recursos Multifuncionais e o Programa Escola Acessvel. O programa
de implantao de salas de recursos multifuncionais criado em 2005, foi institudo
pela Portaria Ministerial n 13/2007, no mbito do Plano de Desenvolvimento da
Educao PDE. Nesse programa so disponibilizadas salas Tipo I e Tipo II, as
salas Tipo I so compostas por equipamentos, mobilirios, recursos de
acessibilidade e materiais didtico/pedaggicos e as salas Tipo II, possuem ainda
recursos e equipamentos especficos para o atendimento de estudantes cegos. O
Programa Escola Acessvel disponibiliza recursos para aes de acessibilidade nas
escolas pblicas como construo de rampas, adaptaes nos banheiros, compra
de materiais didtico-pedaggicos para as salas de recursos, entre outras aes.
Ao se verificar a maneira que a incluso, mas principalmente a incluso
escolar, vem sendo compreendida pela escola pode-se compreender como a
mesma produz os sujeitos includos.
A PRODUO DOS SUJEITOS NA ESFERA ESCOLAR
Ao se olhar para a poltica pblica que apresentam uma proposta de educao
inclusiva no Brasil, considerando que est j vem sendo discutida desde a
Constituio Federal (BRASIL, 1988), percebe-se que tais polticas vm sendo
pensadas como uma estratgia educacional e social que coloca em operao os
ideais do Estado. Como se pode verificar na Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional n 9.394/96 (BRASIL, 1996), no Artigo 59, preconiza que os sistemas de
ensino devem assegurar aos alunos currculo, mtodos, recursos e organizao
especficos para atender s suas necessidades, alm de outros aspectos abordados
neste documento, pela primeira vez consta um captulo especfico da educao
especial.
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O Decreto n 3.298 (BRASIL, 1999), que regulamenta a Lei n 7.853/89, ao
dispor sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de
Deficincia, define a educao especial como uma modalidade transversal a todos
os nveis e modalidades de ensino. Atualmente encontra-se em vigor, desde 2008, a
Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva, a
mesma refora e garante que todas as crianas devem estudar em escola regular de
ensino. Ao se apresentar os ltimos documentos que tratam da incluso escolar
tem-se como objetivo mostrar como as prticas discursivas marcam a histria
desses sujeitos.
Com relao s prticas discursivas Foucault (1980) coloca que se referem a
[...] um conjunto de regras annimas, histricas, sempre determinadas no tempo e no espao, que definiram em uma poca dada, e para uma rea social, econmica, geogrfica ou lingustica dada, as condies de exerccio da funo enunciativa. (p. 136, apud KLEIN, 1998, p. 77)
Assim, compreende-se que a partir de prticas discursivas possvel
visualizarmos enunciaes que produzem por efeito representaes nas relaes
saber-poder sobre a clientela/ populao atendida pela Educao Especial na escola
inclusiva. No contexto deste estudo, olha-se para como os sujeitos tidos como
normais produzem aqueles tidos como anormais, e assim determinam o espao que
esses sujeitos devem ocupar, a forma como devem ser tratados, a modalidade de
ensino que devem frequentar, como devem se relacionar com os demais. Nesse
sentido, importante ressaltar que
[...] em toda sociedade a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade. [...] Sabe-se bem que no se tem o direito de dizer tudo, que no se pode falar de tudo em qualquer circunstncia, que qualquer um, enfim, no pode falar de qualquer coisa. (FOUCAULT, 1998a, p. 8-9, apud SOMMER, 2007, p. 59)
Dessa forma, possvel pensar que a rede discursiva tramada sobre os
sujeitos que devem estar includos pode ser visualizada na escola a partir das
queixas dos professores na produo de seus pareceres, assim como nas queixas
dos gestores escolares sobre as aes que devem ser desenvolvidas nas escolas
para a incluso. Tais queixas esto produzindo sujeitos, produzindo caractersticas
dos sujeitos que podem marc-los por toda a vida, a partir de representaes como
o aluno que no aprende; o aluno coitado; o terrvel que s perturba a aula; o
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aluno esforado, mas com dificuldade; o aluno desorganizado, o aluno que no
aprende porque no normal, dentre tantas outras que os mesmos passam
assumir como verdades.
CAMINHOS DA PESQUISA
Os dados coletados at o momento foram resultado de uma conversa com
gestores de uma escola, anlise do Projeto Poltico Pedaggico, apreciao dos
diagnsticos e pareceres dos alunos, observaes realizadas na escola. Partindo
tambm da observao dos alunos nos espaos escolares (sala de aula, sala de
recursos, recreio, etc.), afim de que possam ser visualizadas as representaes
presentes nos discursos produzidos por cada uma das partes envolvidas no
processo de incluso dos sujeitos pblico alvo da Educao Especial. Sendo esse
pblico definido de acordo com a Poltica de Educao Especial na Perspectiva de
Educao Inclusiva (BRASIL, 2008).
O campo de realizao da pesquisa uma escola municipal de educao
bsica da rede pblica de ensino localizada na Vila Maturino Bello, na cidade de So
Pedro do Sul/RS, nesse espao realiza-se o trabalho de Educadora Especial
acompanhando os alunos includos nas atividades na sala regular.
CONCLUSO
Ao concluir esse trabalho retoma-se os objetivos do mesmo de realizar
algumas aproximaes das discusses realizadas no decorrer das disciplinas com o
que vem sendo produzido na pesquisa realizada para elaborao da monografia. A
fim de situar o que est sendo proposto com essa pesquisa apresentou-se o que se
est compreendendo por incluso escolar, sendo essa compreenso de incluso
enquanto um imperativo de Estado que embasa as anlises que esto sendo
constitudas no decorrer da pesquisa. Assim como tambm apresentar alguns
exemplos de como o governo vem operacionalizando a incluso com relao a
Poltica e Programa e, por fim, as prticas que esto produzindo sujeitos includos e
quem so esses sujeitos aps a Poltica Nacional de Educao Especial na
Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL, 2008).
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O trabalho apresenta-se inicial, pois est em desenvolvimento. A escola que j
se desenvolve a pesquisa est localizada no municpio de So Pedro do Sul. At o
momento foi realizado observaes dos alunos, com isso iniciou-se a construo do
dirio de campo e primeiro contato com o Projeto Poltico Pedaggico da mesma.
Como nessa escola atuo como educadora especial, acompanhando trs alunos na
sala regular de ensino, ficando o Atendimento Educacional Especializado para a
outra educadora especial. Sendo assim, as observaes constam com muita
interao com a turma, aluno e professor. Dialoga-se com os professores regentes -
para conhecer melhor os alunos, tentar sanar suas dvidas, auxili-los nos
planejamentos, adaptaes dos materiais realizando um trabalho articulado para que
se possa, na medida do possvel, minimizar as dificuldades dos alunos assim como
a dos professores, como tambm com a gesto da escola (diretora, vice-diretora) e
educadora especial do AEE.
A referida escola define sua concepo de incluso segundo a coleo A
Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva do Ministrio da
Educao (BRASIL, 2010) e desde 2005 vem construindo a sua poltica de
incluso. Consta com uma educadora especial 20h e atualmente com outra 12h,
uma equipe escolar voltada para a mudana educacional em que se prioriza a
incluso (PPP, 2012). Desde o ano de 2005 a escola recebe recursos Federais para
equipar a sala de recursos, porm, apenas em 2010 foi contemplada com a Poltica
de Educao Inclusiva e passa atender como Atendimento Educacional
Especializado (AEE) na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) e recursos da
Escola Acessvel para manuteno da SRM, adaptaes arquitetnicas como
construo de rampas, adequaes no banheiro.
O AEE conforme o Decreto 7.611/2011 o conjunto de atividades, recursos de
acessibilidade e pedaggicos organizados institucionalmente, prestado de forma
complementar ou suplementar formao dos alunos no ensino regular (BRASIL,
2011). Os atendimentos na SRM so destinados aos alunos pblico-alvo da
educao especial, conforme est estabelecido na Poltica Nacional de Educao
Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL, 2008) principalmente no
contra turno, mas os casos em que os alunos dependem de transporte escolar ou
caractersticas individuais ocorrem no mesmo turno, sendo os horrios adequados
s necessidades individuais de cada aluno.
20
Embora os resultados encontram-se ainda em fase de amadurecimento, como
j colocado anteriormente, uma vez que o trabalho est em fase inicial de
desenvolvimento, percebe-se at o presente momento, com base no que foi
apresentado anteriormente, que a escola cumpre com o propsito de que o AEE
integre a proposta pedaggica da escola: que seja previsto a SRM, matrcula no
AEE, cronograma de atendimento, plano do AEE, professores para com formao
para o exerccio no AEE, outros profissionais da educao conforme previsto no Art.
10 da Resoluo CNE/CEB 4/2009. Como tambm evidencia-se pelas observaes
que apesar de todas as limitaes encontradas nessa instituio3 a gesto da escola
sempre esteve comprometida em proporcionar ao seu alunado um espao mais
completo e adequado possvel para que o processo de ensino-aprendizagem se
concretize.
REFERNCIAS
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3 Questo estrutural do ptio, nem sempre consegue atingir seu papel social e educacional, alunos no motivados aos estudos.
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdfhttp://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf
21
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22
CRIANAS COM DEFICINCIA EM SITUAO DE ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL: DEBATES SOBRE GESTO EDUCACIONAL E INCLUSO
Carolina Terribile Teixeira1
Andria Jaqueline Devalle Rech2
Soraia Napoleo Freitas3
INTRODUO
Esse artigo se prope a debater a respeito da articulao entre gesto
educacional e a incluso. Dessa forma, visa compreender como esse processo
acontece e como tem sido percebido na atualidade pelos pesquisadores. O sistema
de ensino nacional vem sofrendo adequaes nas ltimas dcadas influenciadas por
organismos internacionais e por movimentos pela educao. Inicialmente faz-se
necessria uma contextualizao a respeito dessas influncias.
Com essas mudanas a gesto da educao tambm precisou adequar-se e
vem cada vez mais exercendo caractersticas democrticas, com a participao da
comunidade. Com a Poltica de incluso, a gesto passou a trabalhar para sua
implementao, o que se tornou um desafio dirio.
Para fomentar a discusso que aborda tanto a gesto como o processo de
incluso e os seus entrelaamentos recorreu-se a autores como: Oliveira (2011),
Lck (2006), Paro (2008), Garcia (2009) e Campos (2009). Alm disso, dedicou-se
ateno as polticas pblicas que ao longo do tempo vem determinando o contexto
educacional.
Por isso, esse artigo resultado de uma pesquisa de tipo bibliogrfica, que
buscou utilizar como recurso a consulta em documentos bibliogrficos (CERVO;
BERVIAN; SILVA, 2007). A partir de estudos a respeito da gesto educacional e da
incluso de alunos com deficincia que vivem em situao de acolhimento
institucional que esta pesquisa foi realizada. Neste sentido, a mesma aconteceu
tendo como embasamento a leitura de artigos publicados em peridicos nacionais
que discutissem o tema e/ou tem uma abordagem prxima e que poderia ser
1 Acadmica do curso de Especializao em Gesto Educacional (UFSM). Mestranda em Educao Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: 2 Doutoranda em Educao (UFSM). E-mail: 3 Professora Dra. do Centro de Educao da UFSM. E-mail:
23
estabelecida uma relao para fomentar a discusso. Essa configurou uma temtica
relevante de ser pesquisada, pois ao estabelecer relaes entre os campos de
estudo, verificou-se que pesquisas com essa abordagem so escassas.
GESTO ESCOLAR E INCLUSO
A educao brasileira recebe influncias de organismos internacionais, e sofreu
grandes mudanas ao longo das ltimas dcadas por ter aderido aos princpios e
propostas, por exemplo, da Conferncia Mundial de Educao para Todos
(UNESCO, 1990) e a Declarao de Salamanca (UNESCO, 1994). Com base
nesses documentos foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
9.394/96 e tambm foi proposta a Poltica Nacional de Educao Especial na
Perspectiva da Educao Inclusiva que tem como objetivo,
[...] assegurar a incluso escolar de alunos com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participao, aprendizagem e continuidade nos nveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educao especial desde a educao infantil at a educao superior; oferta do atendimento educacional especializado; formao de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educao para a incluso; participao da famlia e da comunidade; acessibilidade arquitetnica, nos transportes, nos mobilirios, nas comunicaes e informao; e articulao intersetorial na implementao das polticas pblicas. (BRASIL, 2008, p. 14)
Para isso, conforme Garcia (2009) devem ser seguidas orientaes
educacionais que faam parte da proposta pedaggica da escola. Dessa forma, a
educao especial atende o seu pblico alvo de forma a complementar e
suplementar s suas necessidades, seguindo o que apontado pela Poltica
Nacional (BRASIL, 2008) que encontra-se em vigncia.
Todas essas aes tambm foram influenciadas por movimentos que levaram
a elaborao de documentos como a Declarao Universal dos Direitos Humanos
(ONU, 1948), Declarao dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU, 1975) e a
realizao da Conveno dos Direitos das Pessoas com Deficincia (BRASIL, 2007).
Tudo o que proposto e est firmado em Lei para a educao precisa ser
conhecido e discutido para ser efetivado com qualidade. Para isso, preciso que
haja uma gesto que compreenda as questes polticas envolvidas, alm das
necessidades do pblico a quem atende e que deve participar dessa gesto.
24
Uma elucidao a respeito disso realizada por Miranda (2009, p. 205),
A organizao e a gesto do sistema de ensino de um pas podem ser consideradas em trs grandes instncias: o sistema de ensino como tal, a escola e a sala de aula. As escolas situam-se entre as polticas educacionais, as diretrizes curriculares, as formas organizativas do sistema e as aes pedaggico-didticas na sala de aula. A escola , assim, o espao de realizao tanto dos objetivos do sistema de ensino, quanto dos objetivos de aprendizagem.
J Oliveira (2011, p. 326) chama ateno para a inteno vinculada s
reformas educacionais que aconteceram no Brasil, dizendo que,
As reformas educacionais dos anos de 1990, no Brasil, tiveram como grande foco a gesto, buscaram por meio da descentralizao administrativa, financeira e pedaggica promover a ampliao do acesso educao bsica no pas a partir de uma lgica racional, que tinha como paradigma os princpios da economia privada.
Percebe-se, com isso, o foco apenas no acesso, esquecendo a importncia de
fomentar a permanncia desses estudantes na escola, assim como a qualidade do
ensino e a valorizao do professor como profissional. Porm, preciso refletir a
respeito disso, porque o direito educao um exerccio de cidadania, a
formao de pessoas e no apenas o fato de atingir ndices estipulados. preciso
que sejam elaborados projetos que visualizem os educandos como sujeitos em
processo de aprendizagem, que compreendam suas necessidades, dem espao
para o exerccio da criatividade e para o desenvolvimento de suas habilidades.
Enfim, que pense e esteja de acordo com a comunidade em que est inserido.
Bordignon e Gracindo (2011, p. 149) destacam que, [...] pensar, pois, um
processo educacional e a ao das escolas significa definir um projeto de cidadania
e atribuir uma finalidade escola que seja congruente com aquele projeto.
Reafirma-se a necessidade de articulao entre gesto e comunidade escolar.
Assim, os autores afirmam tambm que,
A gesto democratizada da escola autnoma consiste na mediao das relaes intersubjetivas, compreendendo, antes e acima das rotinas administrativas: identificao de necessidades; negociao de propsitos; definio clara de objetivos e estratgias de ao; linhas de compromissos; coordenao e acompanhamento de decises pactuadas; mediao de conflitos, com aes voltadas para a transformao social. (Ibid., p. 164).
Outra questo levantada por Oliveira (2011) o vnculo entre educao e
desigualdade social o que leva a estratgias polticas com medidas assistencialistas
por parte do governo. Surge a preocupao com a instruo da populao de forma
25
que investir na educao tambm investir na evoluo do pas. Em relao a isso
Oliveira (2008, p. 66) coloca que,
A educao assim concebida como um instrumento econmico indispensvel ao desenvolvimento, ao progresso. Investir em educao equivale a investir em capital humano, j que o planejamento educacional considera o analfabetismo como responsvel pelo atraso, pelo subdesenvolvimento.
Bonetti (2011, p. 213) pontua que, [...] a escola sempre lembrada como uma
instituio encarregada da promoo da incluso ou da diminuio da excluso
social. O referido autor ressalta as mudanas das polticas sociais destinadas a
atender as minorias, como os pobres, pois se alteram conforme as caractersticas
exigidas pelo momento histrico vivenciado e pelas questes econmicas vigentes.
Essas polticas so uma forma de diminuir a desigualdade social que to grande
em nosso pas e abrangem no somente os pobres, como tambm as pessoas com
deficincia, entre outros que vivem a margem da sociedade.
Os debates que abordam as questes sobre a incluso e suas implicaes no
apenas na educao, mas na sociedade em geral, levam a problematizaes e a
articulam com questes sociais complexas.
Isso salientado por Veiga-Neto e Lopes (2007, p. 498),
[...] abre-se a oportunidade de problematizar vrias questes sociais, culturais, polticas e pedaggicas que, de outra maneira, permaneceriam sombra, ou seriam consideradas resolvidas ou, at mesmo, nem seriam vistas como problemticas [...]
Com isso, segundo Vieira (2011), a escola que estava esquecida passa a
ganhar espao nas polticas educacionais por seu carter de funo social e de
construo da cidadania. Caracteriza-se assim, a funo social da escola atravs de
intenes governamentais que visam capacitao da populao para o mercado
de trabalho. Dessa forma, abrange questes que envolvem a incluso de pessoas
com deficincia nas escolas e no mundo do trabalho.
Nesse sentido, Miranda (2009) afirma que aes recentes do governo visam
transformao e desenvolvimento do sistema de ensino de forma que o mesmo seja
inclusivo, esto embasadas em debates que destacam a ateno a diversidade e o
respeito s diferenas. Porm, Freitas (2009, p. 227) pontua que [...] no contexto
sociopoltico brasileiro, s a existncia de polticas pblicas no suficiente para a
implementao das aes.
26
Ao sistema de ensino compete, ento, formular polticas claras e decisivas em relao incluso, buscando aperfeioar os recursos da educao especial e da educao em geral para dotar as escolas de infraestrutura, equipamentos e recursos materiais e didtico-pedaggicos necessrios ao bom desenvolvimento das atividades escolares. (MIRANDA, 2009, p. 218)
Percebe-se que o que se tem realizado at o momento ainda insuficiente
para que haja a efetivao da educao inclusiva de qualidade. preciso pensar
nas condies existentes para colocar em prtica o que est disposto nas polticas
pblicas, principalmente no que diz respeito incluso e ao papel da gesto para a
efetivao delas, pois as escolas necessitam de profissionais qualificados alm de
recursos materiais e estruturais.
Schneider (2012, p. 93) alerta que as polticas pblicas tm muito de evoluir,
mas na implementao e no cumprimento das leis que ser aprimorada a incluso
das pessoas com deficincia em todos os mbitos sociais. Alm disso, existe a
necessidade de formao dos professores constante e voltada para a realidade em
que atuam para que possam atender a diversidade apresentada por seus alunos.
Para isso, imprescindvel que se conhea a comunidade escolar e que todos
trabalhem em prol da educao.
Isso vem a corroborar com o que diz Paro (2008, p. 1) a educao, entendida
como emancipao humana, precisa levar em conta a condio de sujeito tanto de
educandos quanto de educadores. necessrio que se saiba compreender ambas
as partes e as necessidades de cada um, o que os alunos precisam para aprender e
estar includos e o que os professores precisam para ensinar e incluir.
de suma importncia que os professores estejam preparados e que se
proporcione aos alunos experincias educacionais estimuladoras do processo de
aprendizagem. Sendo a gesto articuladora dos fatores envolvidos na educao,
deve buscar caminhos para planejar e agir com a participao de todos os sujeitos
envolvidos. Segundo Lck (2006, p. 49),
importante notar que a idia de gesto educacional, correspondendo a uma mudana de paradigma, desenvolve-se associada a outras idias globalizantes e dinmicas em educao, como, por exemplo, o destaque sua dimenso poltica e social, ao para a transformao, participao, prxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliao qualitativa, organizao do ensino em ciclos, etc., de influncia sobre todas as aes e aspectos da educao, inclusive as questes operativas, que ganham novas conotaes a partir delas.
Com isso, ressalta-se o que afirma Lck (2006), a respeito da gesto
educacional, esclarecendo que essa abrange tanto a gesto dos sistemas de ensino
27
quanto a gesto escolar. E tambm que tem como foco a interao social, o que
de grande valia para que haja uma gesto democrtica e participativa, voltada para
a comunidade. Em relao a isso Paro (2008, p. 6) destaca que,
Em termos organizacionais, os mecanismos autoritrios de mando e submisso devem dar lugar a processos e dispositivos que favoream a convivncia democrtica e a participao de todos nas tomadas de deciso. Nesse sentido que devem ser implementados os conselhos escolares, os grmios estudantis e outras formas que favoream a maior participao de todos os usurios e o relacionamento mais humano e mais democrtico de todos os envolvidos nas atividades escolares.
Sendo assim, para que acontea uma transformao do processo educacional
preciso que seus participantes sejam conscientes de sua responsabilidade pelo
desenvolvimento e resultado atingidos. Dessa forma, mostra-se que a realidade
educacional dinmica e complexa, e com a descentralizao possvel melhor
atender todas as aes necessrias para o seu desenvolvimento.
Sobre a incluso preciso ter conscincia de que uma garantia constitucional
e que a gesto educacional tem papel de proporcionar da melhor forma possvel
esse processo aos seus alunos. Uma gesto que trabalha para que a incluso de
fato acontea estar colaborando para o exerccio da cidadania, o que possibilita
refletir que,
Portanto, a incluso e a cidadania so temas que se complementam mutuamente. Os avanos que aquela proporciona so legitimados por esta, A educao, ento, pode ser a instncia em que os valores vigorosos criados pela cultura e pelo conhecimento do lugar no somente incluso de pessoas com deficincia, mas tambm ao exerccio da cidadania e da alteridade. (CAMPOS, 2009, p. 56)
Alm disso, necessrio salientar a importncia da participao dos diferentes
segmentos da educao na gesto. Percebe-se que ainda h muito que se trabalhar
com a comunidade em seu todo para a valorizao da educao e que s com o
trabalho, contribuio e empenho de todos que alcanaremos uma educao de
qualidade. Segundo Campos (2009, p. 52),
A incluso envolve um processo de reforma e de reestruturao das escolas como um todo, essa reformulao tem por objetivo assegurar que todos os alunos possam ter acesso vasta gama de oportunidades sociais e educacionais que a escola pode oferecer, impedindo assim a segregao e o isolamento.
Para que a incluso acontea necessrio que ela faa parte dos objetivos da
escola, pois no basta ser instituda por Lei, tem que fazer parte da prtica, estar
28
presente nas relaes sociais estabelecidas dentro do ambiente escolar e tambm
fora dele. A gesto, em sua prtica e organizao, precisa pensar na educao que
pretende proporcionar aos seus alunos. Libneo, Oliveira e Toschi (2005, p. 266)
ainda destacam que, [...], preciso refletir sobre o sentido da escola inclusiva e de
todas as diferenas que ela deve abarcar. Isso se confirma tambm de acordo com
o que alegado por Veiga-Neto e Lopes (2007, p. 498),
Vive-se um momento em que, na maioria dos acalorados debates sobre o assunto, sobram opinies e posicionamentos polticos, mas faltam clareza e objetividade sobre aquilo que dito. Isso assim no apenas porque a incluso um tema que s recentemente entrou na agenda das polticas pblicas, mas, tambm, porque, sob essa palavra, coloca-se em jogo um intrincado conjunto de variveis sociais e culturais que vo desde princpios e ideologias at interesses e disputas por significao.
O censo de responsabilidade e a necessidade de se colocar em prtica aquilo
que est previsto nas polticas pblicas so fatores relevantes para que o processo
de ensino tenha qualidade e para que a incluso possa ser uma realidade. Referente
a isso, Schneider (2012, p. 41), coloca que os projetos governamentais e civis so
fundamentais para a incluso, mas no podem ficar no papel, precisam ser
implementados.
Para que isso se efetive de forma democrtica necessrio o envolvimento de
toda a comunidade, pois, o sistema de ensino est relacionado a fatores polticos e
sociais. Dessa forma, a sociedade precisa apresentar um olhar de acolhida aos
indivduos. (Ibid., p. 42).
As relaes sociais esto em constante mudana, o movimento de incluso e
compreenso das diferenas tem contribudo para uma sociedade que procura olhar
para o outro e respeit-lo da forma como ele . Sobre isso, ainda necessrio
caminhar e refletir muito, mas os passos a caminho de uma sociedade inclusiva j
iniciaram.
CONSIDERAES FINAIS
Esse artigo se props a debater a respeito da articulao entre gesto
educacional e a incluso de forma que buscou autores que tratam desse panorama
da educao brasileira. Com o objetivo de compreender como esse processo
acontece e como tem sido percebido na atualidade pelos pesquisadores, chega-se a
concluso de que ainda h muito que ser feito e debatido. O processo de incluso
29
lento, as adaptaes ocorrem conforme as escolas tm possibilidade e o apoio que
recebem.
Percebe-se o papel fundamental exercido pela gesto nessa articulao. E,
alm disso, a grande influncia que abate as polticas pblicas brasileiras por
organismos internacionais. Precisamos agir e ter polticas pblicas que estejam em
acordo com a realidade brasileira, e que levem em considerao as especificidades
existentes.
Assim, destaca-se a necessidade de formao para professores, de maior
envolvimento e comprometimento da sociedade com a educao. importante que
se reflita a respeito da situao apresentada para que se siga lutando por melhorias
no sistema de ensino e para que se possa realizar um trabalho de melhor qualidade,
tornando a educao inclusiva um fato, uma realidade.
necessrio que se acompanhe os movimentos que influenciam a educao,
assim como, ter conhecimento a respeito dos fatores polticos e sociais que esto
relacionados ao sistema de ensino. Os debates que seguem nesse vis ainda sero
longos e aprofundados mobilizando e problematizando questes polticas,
pedaggicas e sociais.
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32
ADAPTAES CURRICULARES COMO REGRA OU EXCEO? DISCUSSO
ACERCA DA EXPERINCIA NO IF FARROUPILHA- CAMPUS SO BORJA
Clucia Honnef1
Ana Paula Del Aghenese2
Lutiele Machado Godois3
INTRODUO
A incluso de pessoas com deficincia em escolas comuns, mesmo estando
legitimada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9.394/96, hoje um
dos grandes desafios da educao nacional, pois preciso ir de encontro aos vrios
sculos que a excluso dessas pessoas preponderou. Assim, todo o contexto
escolar, bem como a sociedade, precisa educar seu olhar s pessoas com
deficincia, enxergar as possibilidades delas e no somente as dificuldades.
Um dos marcos da busca pelo reconhecimento das pessoas com deficincia
como cidads foi a Conferncia Mundial de Educao para Todos, realizada em
1990, em Jomtiem-Tailndia. Nela a ideia da universalizao da educao bsica
ganha fora e as polticas educacionais brasileiras passam a ser apoiadas em
discursos inclusivos.
Ento, h aproximadamente vinte e cinco anos o discurso acerca da incluso
de pessoas com deficincia em escolas comuns foram, iniciando na ltima dcada
do sculo XX, na qual alm da Conferncia mencionada, acontecem ainda outros
dois eventos que vo reforar a perspectiva da educao inclusiva, em que hoje a
Educao Especial est alicerada, conforme sua atual Poltica, de 2008.
Um dos eventos a Conferncia Mundial sobre Necessidades Educacionais
Especiais- acesso e qualidade, realizada em Salamanca, na Espanha, no ano de
1994. Este encontro reuniu mais de 300 participantes entre representantes de 92
pases e 25 organizaes internacionais. Teve por finalidade discutir a Educao
para Todos, examinando as mudanas polticas necessrias para desenvolver a
1 Graduada em Educao Especial e em Pedagogia. Professora de Educao Especial do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja (2012-2013). E-mail: 2 Acadmica do Curso de Matemtica- Licenciatura Plena, pelo do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja. E-mail: . 3 Acadmica do Curso de Matemtica- Licenciatura Plena, pelo do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja. E-mail:< [email protected]>.
mailto:[email protected]
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educao inclusiva, a capacitao das escolas para atender todas as crianas,
sobretudo, as que tm necessidades educativas especiais. Desta conferncia tem-
se a Declarao de Salamanca e Linhas de Ao sobre Necessidades Educativas
Especiais, um documento orientador s prticas inclusivas na escola, as quais
devem se [...] ajustar a todas as crianas, independentemente das suas condies
fsicas, sociais, lingusticas ou outras. (DECLARAO DE SALAMENCA, 1994. p.
6, grifos do documento)
importante destacar que Conforme a Declarao de Salamanca, as
necessidades educativas especiais no so restritas as crianas com deficincia, ou
as crianas pblico- alvo da Educao Especial segundo a Poltica Nacional de
Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (2008). A Declarao
aponta como crianas com necessidades educativas especiais todas aquelas
[...] com deficincia ou superdotados, crianas da rua ou crianas que trabalham, crianas de populaes remotas ou nmadas, crianas de minorias lingusticas, tnicas ou culturais e crianas de reas ou grupos desfavorecidos ou marginais. (DECLARAO DE SALAMENCA, 1994. p. 6)
A Educao Inclusiva, ento, no restrita ao pblico alvo da Educao
Especial, que so as pessoas com deficincia, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/ superdotao (BRASIL, 2008). Entende-se que
Educao Inclusiva exige das escolas a incumbncia por proporcionar situaes de
aprendizagem diversas, que consigam atingir e ser significativas a todos os seus
educandos, considerando suas singularidades.
Outro evento que acontece na dcada de noventa do sculo XX a Conveno
Interamericana para a Eliminao de todas as formas de Discriminao contra as
Pessoas Portadoras de Deficincia, a qual acontece na Guatemala em 1999. Ela
tem por objetivo, conforme documento do Ministrio da Educao organizado por
Gotti et al (2004, p.281), Prevenir e eliminar todas as formas de discriminao
contra as pessoas portadoras de deficincia proporcionar a sua plena integrao
sociedade.
Retomando as datas destas conferncias, possvel verificar que logo aps a
segunda, que acontece em 1994, em 1996 a perspectiva da educao inclusiva
aflora no Brasil e tambm na educao especial com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional (LDB) n 9.394/96 (BRASIL, 1996). Nesse documento, balizador
da educao nacional, encontra-se a educao especial como uma modalidade de
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educao escolar, oferecida preferencialmente, na rede regular de ensino, para
educando chamados com necessidades educacionais especiais. Hoje, com a
recente alterao da LDB, o pblico dessa modalidade educacional engloba as
pessoas com: deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e
altas/habilidades superdotao.
Dessa forma, h o acesso do pblico acima as escolas comuns e estas
precisam desenvolver o processo de aprendizagem de todos os alunos. Para
aqueles com alguma deficincia, muitas vezes, h a necessidade de adaptaes
curriculares para que se consiga mobilizar as possibilidades do educando. Para
realizar tais adaptaes o Ministrio da Educao- MEC- possui um material
intitulado Parmetros Curriculares Nacionais- Adaptaes Curriculares (BRASIL,
1998), no qual so apresentadas as adaptaes de pequeno ou grande porte.
O Instituto Federal Farroupilha - Campus So Borja, a partir do ingresso de
alunos com deficincia, buscou realizar tais adaptaes com fim de potencializar as
situaes de aprendizagem oferecidas a esses educandos. As adaptaes foram
mobilizadas pela Professora Temporria de Educao Especial, junto ao Ncleo de
Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE), com auxlio de acadmicos do
curso de Licenciatura em Matemtica da instituio.
Apresentar-se- aqui o trabalho realizado, com fim de discutir as inquietaes e
contribuies que o desenvolvimento das chamadas adaptaes curriculares
puderam trazer a alunos, professores e a instituio como um todo.
ADAPTAO CURRICULAR A ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS DECORRENTES DE DEFICINCIA
Hoje, com a questo da insero de alunos com deficincia nas escolas
comuns faz-se essencial a adaptao de materiais educativos para esses
educandos, sejam eles cegos, surdos, com baixa viso ou deficincia intelectual.
importante destacar que se formos verificar na histria da educao autores
como Pestalozzi, Rosseau, Claparede, Freinet, Montessori, Paulo Freire, Vygotsky4,
por exemplo, estes apontam que preciso valorizar e considerar a criana, seu
4 Ver obras sobre esses autores na Coleo Educadores, disponvel em .
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do?first=50&skip=0&ds_titulo=&co_autor=&no_autor=&co_categoria=133&pagina=1&select_action=Submit&co_midia=2&cohttp://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do?first=50&skip=0&ds_titulo=&co_autor=&no_autor=&co_categoria=133&pagina=1&select_action=Submit&co_midia=2&co
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espao, sua realidade, sua condio social e orgnica na promoo da
aprendizagem.
Tendo por base o que esses autores j apontavam a sculos atrs, e
observando como tem se configurado o ensino em nosso pas, surgem algumas
inquietaes como: oferecer uma atividade nica a todos os alunos, como
geralmente acontece nas instituies de ensino, leva todos a construo de
conhecimentos, a aprendizagem? Essa forma de conduo do ensino consegue
atingir e desenvolver a diversidade de formas de aprendizagem dos estudantes?
Com uma proposta de educao inclusiva, que visa educao de qualidade5 para
todos e considera a diversidade como potencializadora da aprendizagem, consegue-
se mobilizar, mediar a construo de conhecimento de todos os alunos, utilizando-se
da forma de ensino subscrita?
No se tem respostas estabelecidas para estas problematizaes, pois
acredita-se que preciso discutir com mais aprofundamento a educao inclusiva e
educao especial nessa perspectiva nas instituies de ensino. O que se tem
conhecimento hoje aponta para a predominncia da realizao de uma mesma
atividade por todos os alunos em uma sala de aula, isso acontece em muitas
instituies desde a educao infantil at as universidades. Com isso o que deveria
ser comum nas escolas, ou seja, proporcionar atividades diversas, que motivem a
aprendizagem de todos os alunos considerando suas caractersticas de
aprendizagem, muitas vezes no acontece. Assim, preciso as adaptaes
curriculares.
Geralmente nas instituies de ensino as adaptaes curriculares so vistas e
mencionadas como necessrias a partir do momento em que nesta se tem alunos
com necessidades educacionais especiais, principalmente devido a alguma
deficincia ou transtorno global do desenvolvimento6.
No entanto, tendo por base uma perspectiva inclusiva, considerando os
educandos, suas diversas formas e ritmos de aprendizagem, considerando a
possibilidade e importncia da flexibilizao curricular, as chamadas adaptaes
5Entende-se por educao de qualidade o alcance do objetivo maior das escolas, de qualquer instituio de ensino, ou seja, a aprendizagem dos alunos, conforme Libneo, Oliveira e Toschi (2005). 6 A partir das experincias e realidades educacionais que se conhece, pode-se dizer que os educandos com altas habilidades/superdotao, tambm pblico alvo da Educao Especial, so muitas vezes esquecidos, no identificados nas instituies. Por isso, geralmente, so pouco lembrados e mencionados ao se falar em adaptaes curriculares nas escolas.
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curriculares no deveriam ser comuns nas escolas e no somente mencionadas e
direcionadas a alunos pblico alvo da Educao Especial? Entende-se que sim, mas
geralmente no isso que acontece. Assim, preciso maior discusso acerca do
entendimento sobre adaptaes curriculares nas instituies de ensino.
Em muitas instituies, inclusive no IF Farroupilha na cidade de So Borja, as
adaptaes curriculares so entendidas como direcionadas a alunos pblico alvo da
Educao Especial, seguindo-se o documento Parmetros Curriculares Nacionais:
adaptaes curriculares, de 1998, elaborado pelo MEC. Esse material apresenta as
adaptaes curriculares divididas em dois nveis: as adaptaes significativas e as
no significativas. Senra et al (2008) divide em adaptaes em: adaptaes de
grande porte e de pequeno porte.
Carvalho (2010) coloca que as adaptaes curriculares significativas,
geralmente so recomendadas para severas dificuldades na aprendizagem, devem
ser decididas aps rigorosas observaes do aluno e inmeras discusses em
equipe.
J as adaptaes no significativas dizem respeito s aes dos professores,
as atividades elaboradas, a modificao na avaliao etc. Essas adaptaes podem
ser definidas [...] pelo duplo aspecto de serem modificaes menores do currculo
[...] e, ao mesmo tempo, de serem modificaes que esto mo do professor-tutor,
j que esto plenamente integradas a dinmica de sala de aula [...] (CARVALHO
2010, p. 117).
Para Senra et al (2008) as adaptaes curriculares de grande porte so as que
exigem um planejamento e observao coletiva, a fim de possibilitar atender
demanda diversificada dos alunos e a organizao e o funcionamento da escola.
As categorias de adaptaes de pequeno porte ou menos significativas so
caracterizadas por aes em mbito focal, voltadas principalmente as adaptaes
que podem ser realizadas pelos professores. Para elas Senra et al (2008) coloca
que os professores devem permitir que sua criatividade esteja sempre atuante, para
poderem criar formas alternativas de ensinar.
No IF Farroupilha-Campus So Borja se buscou desenvolver tais adaptaes.
Elas foram pensadas de acordo com as necessidades dos alunos com deficincia
intelectual, fsica e visual da instituio. Alm disso, tambm foram adaptados jogos
pedaggicos para educandos cegos de escolas onde os alunos do curso de
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Matemtica atuavam pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia-
PIBID.
Algumas das adaptaes realizadas no IF Farroupilha de So Borja foram de
grande porte, visto que mobilizam um trabalho poltico administrativo para a criao
de condies fsicas, ambientais e materiais para os alunos. Como tais adaptaes
podemos citar a adaptao de mobilirio, equipamentos e recursos ao aluno
cadeirante do curso de Cozinha, modalidade subsequente.
No que tange as adaptaes curriculares de grande porte, a adaptao de
objetivos diz respeito possibilidade de se alterar objetivos bsicos ou estabelecer
objetivos especficos do e no curso aos alunos com deficincia. Esse um processo
que constantemente pensado pelo NAPNE, principalmente, junto aos docentes
dos alunos com deficincia intelectual includos no Campus So Borja.
A adequao de pequeno porte dos objetivos se refere, segundo Senra et al
(2008), aos ajustes que os professores podem fazer nos objetivos de seu plano de
ensino, para poder adequ-los as condies e caractersticas dos alunos com
deficincia. Podem ser criados novos objetivos e/ou priorizados alguns objetivos em
detrimento de outros, considerando-se a anlise do conhecimento j apreendido
pelo aluno. No IFFARROUPILHA - Campus So Borja est uma prtica constante,
realizada principalmente com uma parceria entre os professores da classe comum e
a professora de Educao Especial.
As adaptaes de contedo esto intimamente ligadas com as adaptaes de
objetivos, pois [...] se um objetivo for suprimido o contedo tambm dever ser
eliminado. Do mesmo modo que, se novos objetivos forem determinados, os
contedos que a eles correspondem devero ser includos. (SENRA et. al, 2008, p.
63)
No IF Farroupilha- Campus So Borja as adaptaes de contedo de pequeno
porte tambm foram realizadas a partir de dilogos entre os professores das
disciplinas e a professora de Educao Especial, pois estes dois profissionais atuam
com o educando com deficincia e possuem conhecimentos distintos, mas com o
mesmo objetivo de proporcionar aprendizagem ao aluno. Assim, a partir do dilogo
entre esses profissionais define-se a priorizao de tipos, reas ou unidades de
contedos, a reformulao de sua sequncia, ou at a retirada de contedos
secundrios, de acordo com as adaptaes de objetivos propostas ao educando
com deficincia.
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Aps a adaptao de contedo tem-se a adaptao de mtodos de ensino e
organizao didtica de grande e pequeno porte. Na de grande porte se enquadram
orientaes como a organizao diferenciada da sala de aula, mobilirio especfico
ou iluminao diferenciada, tudo para garantir o atendimento s necessidades
educacionais especiais(NEE) os alunos.
J a adaptao de mtodos de ensino e organizao didtica de pequeno porte
faz referncia a necessidade de adaptar os materiais didticos s necessidades de
cada aluno, o que fundamental em uma escola inclusiva, visto que o ensino-
aprendizagem s ocorrer se todos os alunos tiverem acesso aos materiais didticos
e se a maneira de cada um aprender for respeitada. Frente a isso se disponibilizou
aos alunos com baixa viso o recurso da lupa, bem como orientou os professores a
ampliarem o material utilizado em aula e a adaptarem as atividades aos alunos com
deficincia mental usando imagens para que ele conseguisse melhor entender o que
solicitado e realizar o proposto.
A adaptao de jogos e materiais didticos se insere na adaptao de mtodos
de ensino e organizao didtica de pequeno porte. No NAPNE do campus So
Borja realiza-se este trabalho, tendo como protagonistas acadmicos do Curso de
Matemtica- Licenciatura Plena, estudantes estes bolsistas e voluntrios do NAPNE
e do Projeto de Extenso Potencializando a Leitura, Escrita e Matemtica. O
trabalho foi coordenado pela professora de Educao Especial da instituio, a qual
inicialmente desenvolveu encontros de estudo com os alunos. Nesses encontros
verificou-se aspectos a serem considerados na adaptao dos materiais, como alto-
relevo, contrastes de cores e texturas diferenciadas nas figuras para ajudar na
identificao de formas e o uso do Sistema Braille.
Alm desses aspectos, os acadmicos a partir de suas vivncias no PIBID e
nas monitorias realizadas na instituio com os alunos com deficincia e dificuldades
de aprendizagem, elencaram contedos que poderiam ser abordados nos materiais
a serem adaptados. Com isso, buscaram-se jogos que envolvesse tais assuntos e
pudessem ser adaptados.
Os recursos didticos adaptados at o momento foram: Rgua de Clculo:
adaptada para uso de aluno cego no PIBID, inserindo nela o Braille; Baralho das
Fraes e Mico das Fraes: adaptados usando alto-relevo, destinado a alunos
cegos, mas podendo ser usado pelos videntes tambm; Roleta Magntica: material
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que trabalha formao de palavras e o clculo, destinado principalmente a alunos
com deficincia mental e alunos surdos.
Esses materiais foram utilizados pelos acadmicos nas intervenes que
realizava-se no NAPNE e nas escolas com os alunos com deficincia e dificuldades
de aprendizagem. Segundo os professores dos alunos os jogos favoreceram o
desenvolvimento dos estudantes, melhorando principalmente sua percepo e
raciocnio lgico-matemtico.
Tem-se tambm a adaptao da avaliao. Essa constituiu-se atravs de todos
os momentos que permearam o trabalho pedaggico, sendo ela formativa,
possibilitando rever os objetivos, os contedos traados, analis-los e verificar a
necessidade da retomada de algum trabalho ou os avanos alcanados com as
atividades realizadas.
No campus So Borja, principalmente aos alunos com deficincia mental, as
avaliaes escritas seguem o material j adaptado para as aulas, bem como
tambm so realizadas avaliaes orais, que posteriormente so avaliadas em
conjunto entre o professor da classe comum e o professor de Educao Especial.
Os professores da classe comum, com auxlio da professora de Educao Especial
se necessrio, elaboram no final de cada semestre uma avaliao descritiva dos
alunos com deficincia. Essa tem por objetivo proporcionar um melhor
acompanhamento e realizar o registro detalhado dos objetivos elencados aos
alunos, o que lhe foi proporcionado para tal e seus alcances e dificuldades.
Por ltimo tem-se a categoria das adaptaes de temporalidade. Essa
categoria, dentro das adaptaes de grande porte, trata dos ajustes no perodo de
permanncia do aluno num determinado ano de escolaridade, respeitando sua faixa
etria, e trata tambm, do remanejo de algum aluno para outra srie, mesmo que
este no tenha concludo todo o planejamento proposto.
As adaptaes de temporalidade, no que tange a categoria de pequeno porte,
podem realizar-se quando o professor aumenta ou diminui o tempo previsto para o
trato de determinados objetivos e contedos e quando ele organiza o tempo das
atividades propostas considerando o ritmo de cada aluno.
No IFFarroupilha - Campus So Borja realizou-se adaptao de temporalidade
de pequeno porte, pois alguns professores, a partir de dilogos com a professora de
Educao Especial, disponibilizam tempo maior aos alunos com deficincia mental e
com baixa viso, por exemplo, para realizao das avaliaes.
40
A adaptao de temporalidade de grande porte foi realizada com os alunos
com deficincia mental, visto que em reunio entre NAPNE, Setor Pedaggico e
professores desses estudantes, se definiram as disciplinas que estes alunos
realizariam em cada semestre. Assim estes estudantes no realizam todas as
disciplinas de um semestre, pois devido ao comprometimento cognitivo o ensino a
estes educandos precisa ser melhor direcionado, sendo necessrio mediar
concretamente para que possa conseguir associar os conceitos e as prticas a eles
apresentadas em sala de aula, e por isso, o nmero de disciplinas diminudo por
semestre.
Ainda, com alunos com deficincia mental foram realizados momentos de
interveno especifica, proporcionados pela professora de Educao Especial e por
acadmicos do curso de Matemtica Licenciatura. Essas intervenes foram
desenvolvidas a fim de potencializar competncias e habilidades de leitura, escrita,
clculo e interpretao textual.
Nesses momentos foram utilizados como mediao da aprendizagem dos
alunos com deficincia alguns dos materiais adaptados, tais como: jogo da memria,
bingo e roleta magntica, os quais pelo carter ldico puderam proporcionar ao
aluno contentamento e o gosto em aprender. Dessa maneira, o jogo se tornou uma
ferramenta capaz de conciliar aprendizado e entretenimento, podendo ser utilizado
para minimizar diversas dificuldades.
As intervenes aconteceram semanalmente e trabalhou-se com dois
estudantes com deficincia mental matriculados em cursos tcnicos e um terceiro,
tambm com deficincia mental, matriculado em curso tcnico integrado ao ensino
mdio.
Tais encontros foram organizados individualmente, em que se desenvolveu as
habilidades acima descritas, necessrias para aprendizagem de contedos
especficos do curso de cada aluno. Tambm promoveu-se encontros com a
interao entre os trs estudantes, para que pudessem trocar experincias,
desenvolver-se social e cognitivamente. Os educandos foram conduzidos
realizao de tarefas, atividades, jogos didticos preparados previamente com as
devidas adaptaes, tendo em vista suas necessidades.
A partir do trabalho desenvolvido pode-se identificar a importncia dos
materiais concretos para o desenvolvimento da aprendizagem. O processo de
aprendizagem dos alunos com deficincia mental, relacionados a conceitos como
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adio, subtrao e outros, permitiram que se relacionassem cognitivamente com o
seu cotidiano, o que tambm produziu xito na aprendizagem de alguma disciplinas
a partir dos conceitos e aprendizagens desenvolvidos nas intervenes.
Verificou-se tambm a necessidade de rever constantemente os assuntos j
trabalhados nas intervenes, devido dificuldade de abstrao e fixao de
conhecimentos, caracterstico de pessoas com deficincia mental.
Com o trabalho desenvolvido pode-se identificar que, o uso de materiais
adaptados para auxiliar os alunos com deficincia em seu processo de
aprendizagem, precisam ser aprimorados, de forma que consiga abarcar todas as
necessidades desses discentes para que os mesmos tenham acesso as diversas
formas de ensino e aprendizagem possveis. Assim, tendo esses estudantes
condies adequadas para avanar na vida escolar, e podem conseguir utilizar e
aplicar os conhecimentos adquiridos em suas situaes do dia a dia.
CONSIDERAES FINAIS
Por fim, acredita-se que o processo das vrias adaptaes curriculares
realizadas no Campus So Borja aproximou este do que se almeja hoje como
educao inclusiva. A instituio oportunizou a realizao de discusses sobre os
alunos com necessidades educacionais especiais decorrentes de deficincia, trouxe
o olhar dos professores, servidores e da instituio como um todo a estes alunos e
proporcionou espaos de formao para todos.
Aos acadmicos do curso de Licenciatura em Matemtica, bolsistas e
voluntrios do NAPNE, a adaptao de materiais lhes oportunizou conhecer
aspectos a serem considerados quando do ensino de pessoas com deficincia, bem
como conhecimentos sobre elaborao dos jogos utilizando a LIBRAS, o Braille e
algumas regras a serem consideradas na identificao de letras e nmeros.
Os prprios acadmicos acreditam que o trabalho que realizam de grande
importncia para a instituio, para eles prprios, enquanto formao, mas
sobretudo aos alunos que necessitavam e utilizaram os materiais didticos
adaptados.
Na instituio, apresentado o leque de adaptaes curriculares realizadas,
percebeu-se a variedade de aes possveis para conseguir melhor promover a
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aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais decorrentes de
deficincia, e acredita-se, tambm dos demais alunos.
Promover essas adaptaes no uma tarefa simples, mas uma necessidade
que se impe em classes que foram, so e sempre sero heterogneas. Afinal,
ningum aprende da mesma maneira, no mesmo ritmo, com os mesmos interesses
e, desse modo, uma igualdade de oportunidades para a apropriao - do saber, do
saber fazer e do saber ser e conviver - precisa ser ofer
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