DIFERENÇAS DE ABORDAGENS.
A psicanálise tem como principal característica trazer ao consciente os conflitos internos de modo que se possa lidar com eles conscientemente, minimizando as atitudes autodestrutivas e o sofrimento do indivíduo, possibilitando ao ego estabelecer novos níveis de satisfação em todas suas áreas de funcionamento.
Na sessão psicanalítica, na maioria das vezes, o paciente permanece na sessão deitado
no divã, de costas para o analista. Esta conduta facilita a Ação Transferencial do
paciente em relação ao terapeuta, sendo um elemento crucial no processo de análise,
pois demonstra que o paciente continua a vivenciar no presente os fatos importantes de
seu passado que não são conscientemente acessíveis (DAVIDOFF, 2001; GREENSON;
1981).
CORDIOLI (1998) relatou que é necessária, por parte do paciente, uma boa dose de
engajamento para se efetuar as mudanças em sua vida, assim como disposição para
envolver-se em um tratamento de longa duração e que representa algum dispêndio de
dinheiro e tempo. A Psicanálise, utiliza-se de sessões semanais em horários
estabelecidos previamente, o número de sessões pode variar de três à cinco e o
tratamento pode durar muitos anos.
GREENSON (1981) descreveu que a terapia psicanalítica é uma terapia causal e que
tem como objetivo desfazer as causas da neurose apresentando algumas técnicas
utilizadas por psicanalistas de base Freudiana: 1) a Escuta que deve ser feita com a
máxima atenção e objetivando a obtenção de dados que serão usados na interpretação;
2) a Associação Livre, que consiste em relatos de sonhos e/ou fatos cotidianos
verbalizados pelo paciente aleatoriamente e analisados pelo psicólogo, e; 3) a
Interpretação, tornar consciente um significado, causa, fonte ou história de um
determinado fato inconsciente, indo além daquilo que é observável.
WITTIG (1981) descreveu que a análise dos sonhos é uma maneira de gerar idéias e
explorar os desejos do cliente, através de suas representações simbólicas .
As sessões de Psicoterapia Analítica seguem os mesmos princípios da Psicanálise e são
em geral semanais, sendo que o número de sessões variam de uma à três e o tratamento
pode durar meses ou anos. O paciente fica sentado em frente ao analista e sua motivação
e capacidade de estabelecer aliança terapêutica são fatores de extrema importância, além
de, preferencialmente, possuir alguma inteligência e tolerância a ansiedade sendo
orientado a falar livremente sobre seus sonhos, imagens, sentimentos e fantasias, sem
pré julgamentos sobre a importância ou significados, utilizado-se uma quantidade
menor de Associações Livres em relação à psicanálise, utilizando-se de palavras-chave,
possibilitando a intervenção em áreas circunscritas ou problemas delimitados, não
havendo desta forma o mesmo nível de transferência entre paciente e analista e a
regressão é bem menos intensa (MACHADO e VASCONCELOS, 1998; GOLDSTEIN,
1988 apud CORDIOLI, 1998; CORDIOLI, 1998).
FADIMAM e FRAGER (1976) relataram que a terapia Analítica é composta de dois
Estágios, cada um com duas partes: o primeiro chamado de analítico, que consiste em
estimular o paciente à uma confissão remetendo-o a uma retomada do material
inconsciente gerando uma dependência deste com o analista. O segundo estágio é
chamado sintético e contém duas partes: a educação e a transformação. O paciente passa
por um processo de “mini-individuação”, auto educando-se e assumindo a
responsabilidade por seu próprio desenvolvimento.
Já a Abordagem Centrada no Cliente tem como objetivo ajudar o cliente a
crescer nas próprias direções autodeterminadas, desenvolver auto-respeito e seus
potenciais, sendo que, o terapeuta detém uma postura de alguém que está preparado
para, junto com o cliente e a partir daquilo que ele traz, propor alternativas de ajuda,
informação, orientação, encaminhamento e aconselhamento, sem preocupar-se em
enquadrar os clientes em categorias, mas antes, facilitar seu processo de
desenvolvimento humano (SHIMIDT,1987; DAVIDOFF, 2001).
ROGERS (1987) considerou a psicoterapia um método importante de tratamento de um
grande número de problemas de adaptação que tornam o indivíduo menos útil e menos
eficiente como elemento do seu grupo social.
Segundo SANTOS (1982) a não-diretividade da Abordagem Centrada no Cliente é um
fator marcante assim como o fato do psicoterapeuta não dar conselhos, não interpretar e
não dar informações ou apoio. Ele reflete e vivência ao máximo os sentimentos do
cliente.
ROGERS e KINGET (1977) propuseram alguns atributos aos psicoterapeutas da
Abordagem Centrada no Cliente: a capacidade empática, a autenticidade e a
consideração positiva e incondicional do homem além de um grau elevado de
maturidade emocional e compreensão de si e, as condições do processo terapêutico por
parte do psicoterapeuta devem ser:
· O psicoterapeuta deve estar em um Acordo Interno, ou seja, ter uma postura de
congruência e transparência, durante a sessão;
· O psicoterapeuta deve experimentar uma compreensão empática do ponto de vista
interno do cliente, assim como um sentimento de aceitação positiva incondicional a
respeito do indivíduo;
FADIMAM e FRAGER (1976) destacaram a escuta, pois, através da fala e da forma
como o cliente verbaliza ao psicoterapeuta que tem acesso ao mundo interno do cliente.
ROGERS (1987) destacou que, para que o cliente obtenha sucesso na terapia, são
necessários alguns critérios:
· capacidade de enfrentar a vida, assim como o de exercer um certo controle sobre
elementos da situação;
· capacidade de exprimir as ansiedades de forma verbal ou por qualquer outro meio;
independência do controle familiar; não ter uma instabilidade muito excessiva
principalmente de natureza orgânica; idade e nível intelectual compatíveis.
DAVIDOFF (2001) relatou que o objetivo principal da Gestalt-terapia é recuperar as capacidades inatas do indivíduo de crescimento. Sendo que o Gestalt-
terapeuta encoraja o cliente a fazer uso de seus recursos interiores, obtendo controle
e tornando-se assim, mais ativo e responsável por suas próprias ações através de
exercícios de expressão e auto-conhecimento.
GINGER e GINGER (1995) relataram que a Gestalt-terapia se destina a pessoas que
sofrem de distúrbios psicossomáticos, problemas existenciais, ou para qualquer pessoa
ou organização que esteja “procurando desabrochar seu potencial latente, não só um
melhor-ser, mas um mais-ser, uma qualidade de vida melhor” (p. 15), apresentando-se
não como uma psicoterapia, mas como uma “arte de viver”, uma forma particular de
conceber as relações do ser vivo com o mundo (p.17).
BEISSER (1980) descreveu o Gestalt-terapeuta como alguém que rejeita o papel de
transformador encorajando o cliente a ser o que ele realmente é.
PERLS (1980) relatou alguns procedimentos à serem adotados na sessão:
1. permanecer no Agora e ficar atento se alguém sair deste contexto tanto no sentido
manifesto como no fantasioso;
2. não usar a palavra it (3ª pessoa neutra);
3. usar e encorajar a utilização de verbos no lugar de substantivos;
4. não falar de alguém que não esteja presente;
5. não forçar uma confissão e;
6. proporcionar apoio para que a pessoa encontre auxilio em si mesma.
7. Com relação aos sonhos, a Gestalt-terapia evita quaisquer tipos de interpretações,
permitindo que o próprio paciente atribua significados as imagens pertencentes ao
sonho reexperimentado-as no tempo presente, sejam elas humanas, animais ou vegetais
(ENRIGHT, 1980).
LEVITSKY e PERLS (1980) ressaltaram algumas premissas para a Gestalt-terapia,
entre elas, destacam-se o princípio do Eu e Tu; a Linguagem Neutra e Linguagem do Eu
e; o Uso contínuo de Conscientização. Destacaram também as seguintes técnicas
utilizadas em terapia: Jogos de Diálogo; Fazer Ronda; Negócio Inacabado; Eu tomo a
Responsabilidade; Eu tenho um Segredo; Inversões; Ritmo de Contato e Retraimento;
Ensaio; Exageração e; Posso Fornecer-lhe Uma Frase?.
A Terapia Comportamental é muitas vezes confundida com a aplicação clínica dos princípios elaborados por Skinner, porém ela foi definida como “a aplicação do conjunto dos conhecimentos psicológicos adquiridos
segundo os princípios da metodologia científica, à compreensão e solução de problemas
clínicos” e o analista do comportamento que se utiliza dela, baseia-se em um corpo de
conhecimentos já verificados empiricamente (NETO e ANDRADE, 1998 p. 199).
Segundo FADIMAM E FRAGER (1976), o analista do comportamento tem como
objetivo, fazer com que o paciente torne-se capaz de responder a diversas situações do
modo como ele gostaria, sem ter que modificar o conteúdo sentimental de sua
personalidade, obter compreensão explícita da problemática trazida pelo paciente, em
termos de comportamento, assim como, a definição das metas e o alcance destas através
de ensino, treino e recompensa de comportamentos que irão competir com e eliminar os
comportamentos não desejáveis do cliente. O cliente permanece na sessão de forma
livre, podendo expressar de forma espontânea seus comportamentos anteriormente não
expressos.
Os analistas do comportamento focalizam os sintomas e os fatores ambientais que não
contribuem para a resolução do problema. Averiguam a história de vida e ajudam os
pacientes na correção de comportamentos indesejáveis. Os objetivos variam de acordo
com o cliente e são definidos em conjunto, sendo estabelecidos os alvos de mudança,
sejam eles comportamentos, situações, sentimentos ou pensamentos. O primeiro passo é
a obtenção de dados através da chamada Análise Comportamental, cujo o objetivo é
conhecer a vida e as queixas do paciente buscando as causas do comportamento no
ambiente externo, caracterizando-se como essencial para a intervenção clínica
comportamental efetiva, especificando-a em três fatores: a) a ocasião em que a resposta
ocorre; b) a resposta propriamente dita e; c) as consequências que a reforçam. Após
estes passos, define-se quais foram os problemas detectados e os objetivos do
tratamento, sendo formulados de forma clara. Existem tarefas, que são realizadas com o
psicólogo ou no ambiente natural do paciente, havendo, em casos específicos, a
supervisão de um acompanhante que pode ser o psicoterapeuta ou uma pessoa habilitada
(DAVIDOFF, 2001; MEYER e SILVARES, 2000; NETO e ANDRADE, 1998).
DAVIDOFF (2001) destacou algumas técnicas utilizadas na Terapia Comportamental: a
Dessensibilização Sistemática, o Treino Assertivo, o Role-playing e; o Relaxamento.
CORDIOLI (1998) esclareceu a necessidade da motivação na adesão ao tratamento,
para que haja uma boa aliança de trabalho e realização de tarefas que devem ser
executadas pelo cliente como parte do processo.
Os Terapeutas Comportamentais estão dando uma importância cada vez maior aos
mecanismos cognitivos e sua relação com as emoções e o comportamento,
preocupando-se em desenvolver procedimentos para tratar os pensamentos
disfuncionais caracterizados por distorções cognitivas, pensamentos automáticos e
crenças disfuncionais adjacentes. Daí o termo “Terapia Cognitivo-comportamental”
utilizado no lugar de “Terapia Comportamental” mostrando esta tendência (AGRAS
1995 apud CORDIOLI 1998, p. 27).
BECK e cols. (1982) descreveram que uma diversidade de técnicas cognitivas e
comportamentais são empregadas na T. C. C., objetivando testar, no âmbito da
realidade, as falsas concepções do paciente acerca do mundo e suas suposições
inadaptativas. O paciente recebe inicialmente uma explicação sobre a base lógica da T.
C. C. e, em seguida, aprende a reconhecer, controlar e anotar seus pensamentos
disfuncionais ou situações perturbadoras no Registro Diário de Pensamentos
Disfuncionais (R.D.P.D.). O terapeuta ajuda o paciente a pensar e agir de forma mais
realista e adaptada no tocante à problemática psicológica, obtendo assim, uma redução
dos sintomas.
Segundo KANFER e GRIMM (1980 apud RANGÉ, 1998) e KANFER e SCHEFFT
(1988 apud RANGÉ, 1998), o processo terapêutico na T. C. C. tem sete fases com
metas definidas e específicas:
1) Obtenção de Informações, Definição de Papéis e Desenvolvimento de Confiança –
com o objetivo de estabelecer confiança e obter informações;
2) Gerar Expectativas e Compromisso com a Mudança – desenvolver a confiança do
paciente em suas próprias capacidades, fortalecendo suas expectativas de auto-eficácia;
3) Análise Comportamental – onde são levantadas hipóteses sobre as condições que
operam no controle de todos os aspectos da vida do paciente;
4) Programa de Tratamento – constitui-se um modelo provisório dos problemas do
paciente, objetivando a explicação do porquê do desenvolvimento das dificuldades;
5) Condução do Tratamento – declínio das expressões empáticas e aumento de
orientações;
6) Monitoração e Avaliação do Progresso – é oferecido ao paciente apoio e reforços
positivos das mudanças efetivando a Confrontação;
7) Generalização dos Resultados – o controle do psicoterapêuta é reduzido até que o
contato entre ele e o paciente torne-se supérfluo, com menos orientações e mais apoio.
O paciente sente-se seguro para enfrentar as dificuldades e a psicoterapia se encerra;
RANGÉ e SOUZA (1998) descreveram algumas técnicas cognitivas que podem ser
usadas tanto para a identificação e modificação dos pensamentos automáticos, como as
crenças centrais ou intermediárias:
· Questionamento Socrático é o questionamento das evidências que sustentam ou não a
lógica do pensamento;
· Continuum Cognitivo que implica em uma avaliação realizada pelo paciente sobre seus
desempenhos comparados com o de outros indivíduos;
· Descatastrofização – é a avaliação de uma conseqüência temida pelo indivíduo;
· Identificação de Distorções Cognitivas consiste em possibilitar ao paciente o
reconhecimento das distorções que mantém suas crenças e evidências contrárias a ela;
· Técnicas de Reatribuição são utilizadas para pacientes que se auto-atribuem de
responsabilidades irreais em relação aos resultados negativos, flexibilizando seus
julgamentos através da identificação de outros fatores que contribuem para o resultado
final;
· Técnica do Gráfico em de Forma de Torta é uma visualização dos pensamentos em
gráfico e;
· Técnica da Flecha Descendente, que consiste no questionamento sucessivo sobre o
significado de uma determinada cognição, alcançando o objetivo central.
A Terapia Cognitiva tem característica de ser breve, com duração aproximada
de dez à vinte sessões, sendo considerada indispensável uma boa relação terapêutica,
onde o terapeuta é ativo e o paciente um colaborador, sem contar que um bom
psicoterapeuta, deve ser dotado de uma capacidade de responder ao paciente numa
atmosfera de relacionamento humano cercado de interesse, aceitação e simpatia, onde o
paciente poderá experimentar um sentimento de afabilidade e gratidão, resultando em
uma sensação de segurança. Estas qualidades devem ser observadas no terapeuta antes
mesmo de ser um bom aplicador de técnicas específicas, abrindo espaço para todo e
qualquer sentimento do paciente discutido-o adequadamente durante as sessões
(RANGÉ e SOUZA ,1998; BECK e Cols., 1982).
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