curiosidade
aprendizagem
eixo
área
foco
ensino
ciência
prática
descoberta
direção
direção
novo
professor
formação
formação
pe
da
go
gia
saber
linguagem
arte
educação
escola
fu
nd
am
en
to
s
fenômeno social
práxis
práxis
atenção
atençãoformal
informal
DIDÁTICA
tempo
mudança
transformação
procedimentos
va
lo
re
s
valores
pensamento
filosofia
arte
teorias
caminho
Sócrates
Comenius
Pestalozzi
Fröbel
Herbart
Decroly
Ne
il
Freire
Snyders
diálogo
diálogo
diálogo
liberdade
organização
formar
aprender
ritmo
contextualização
pro
ce
sso
pedagogo
pesquisador
aprendizagem
educação
pessoas
relação
ambiente
saber
saber
formação
livros
livrosperspectivasmetodologia
processo criativo
métodos
mapa
destino
ideias
re
aliza
r
fazer
decisão
conhecimento
teoria
sistemas
sistemas
sistemas
currículo
conteúdos
ensino
propostas
avaliação
unidade
unidade
objetivos
específicos
org
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çã
o
idealizar
idealizar
projetar
elementos
para quê
o que
destino
disciplinas
valores
especificidades
especificidades
abranger
aulas
alunos
professores
elaboração
referências
caminho
desígnio
desenvolvimento
desenvolvimento
importância
relevância
estrutura
estrutura
propostas
matéria
matéria
ensino
compreender
aspectos
aspectos
educação
aprender
aprender
transformar
transformar
criar
como
organização
coerência
experiências
desenvolvimento
produção
percepção da aprendizagem
DO ENSINO DA ARTE
objetivos
CÉSAR PEREIRA COLA
STELA MARIS SANMARTIN
Artes VisuaisLicenciatura
Universidade Federal do Espírito SantoSecretaria de Ensino a Distância
DIDÁTICA
DO ENSINO DA ARTE
CÉSAR PEREIRA COLA
STELA MARIS SANMARTIN
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Secretaria do Ensino a Distância
Vitória2016
Presidente da RepúblicaDilma Rousseff
Ministro da EducaçãoRenato Janine Ribeiro
Diretoria de Educação a Distância DED/CAPES/MECJean Marc Georges Mutzig
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
ReitorReinaldo Centoducatte
Secretária de Ensino a Distância – SEADMaria José Campos Rodrigues
Diretor Acadêmico – SEADJúlio Francelino Ferreira Filho
Coordenadora UAB da UFESTeresa Cristina Janes Carneiro
Coordenadora Adjunta UAB da UFESMaria José Campos Rodrigues
Diretor do Centro de Artes (CAR)Paulo Sérgio de Paula Vargas
Coordenadora do Curso de GraduaçãoLicenciatura em Artes Visuais – EAD/UFESMaria Gorete Dadalto Gonçalves
Revisora de ConteúdoMaria Regina Rodrigues
Revisora de LinguagemAndréa Antolini Grijó
Designer EducacionalVerônica Dadalto Gonçalves
Design GráficoLaboratório de Design Instrucional – SEAD
SEADAv. Fernando Ferrari, nº 514 CEP 29075-910, Goiabeiras Vitória – ES(27) 4009-2208
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GerênciaCoordenação:Letícia Pedruzzi FonsecaEquipe: Giulliano Kenzo Costa PereiraNina Ferrari
DiagramaçãoCoordenação:Geyza Dalmásio MunizEquipe:Gabriel Lança Morozeski
IlustraçãoCoordenação:Priscilla GaroneEquipe:Elisa Pittol
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
C683dCola, César Pereira, 1956-
Didática do ensino da arte / César Pereira Cola, Stela Maris Sanmartin. - Vitória, ES : Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2016.
77 p. : il. ; 30 cm
Inclui bibliografia.ISBN: 978-85-63765-52-9
1. Arte - Estudo e ensino. 2. Didática. I. Sanmartin, Stela Maris. II. Título.
CDU: 37.02:7
A reprodução de imagens nesta obra tem caráter pedagógico e científico, amparada pelos limites do direito de autor, de acordo com a lei nº 9.610/1998, art. 46, III (citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra). Toda reprodução foi realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.
Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir deste trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
1 9
INTRODUÇÃO 8
REFERÊNCIAS 74
APRESENTAÇÃO 4 PLANEJAMENTO4 52
FUNDAMENTOS
DIDÁTICA: PRÁXIS CONTEXTUALIZADA
ATORES DO ÂMBITO EDUCACIONAL
2 24
3 41
Educação1.1 9
Tipos ou níveis de planejamento4.1 54
De um currículo4.1.3 55
Planejamento de unidade4.2.2 57
Importância dos objetivos para a ação pedagógica4.3.1 62
Importância dos conteúdos em educação4.3.4 66
De um sistema educacional4.1.1 54
Planejamento didático ou de ensino4.2 56
Planejamento de aula4.2.3 60
Objetivos gerais4.3.2 64
Procedimentos, recursos e avaliação4.4 68
De uma escola4.1.2 54
Planejamento de curso4.2.1 57
Objetivos e conteúdos4.3 62
Objetivos específicos4.3.3 64
Conceito de procedimentos, recursos e
avaliação para a ação pedagógica
4.4.1 68
Professor3.1 41
Aluno3.2 45
Pedagogo3.3 47
Pesquisador3.4 50
Artista3.5 50
A sociedade e sua característica mutante2.1 24
Pedagogia1.2 12
Percurso histórico em educação: teorias e teóricos na área2.2 28
Didática1.3 20
SUMÁRIO
Apresentação | 4Didática
Desejamos, antes de tudo, bons estudos para todos nós: professores,
tutores, alunos. Este é um momento importante em nossas carrei-
ras, pois estamos envolvidos em curso de formação de professores
de Arte, na modalidade EAD, sendo responsáveis em preparar o ma-
terial de Didática que, esperamos, seja muito útil para profissionais
que atuarão na Educação. Faremos uma breve apresentação para
que possamos nos aproximar.
César Cola
Sobre meu percurso profissional, estudei primeiramente Adminis-
tração de Empresas na UFES. Abandonei o curso no segundo ano
para cursar Artes Plásticas – Bacharelado. Depois, cursei também a
Licenciatura em Artes Visuais, por encontrar-me envolvido e apai-
xonado pela Educação, lecionando na Escola Técnica Federal do ES,
na década de 1980. Fui admitido como professor da UFES em 1991,
onde ministro as disciplinas: Prática de Ensino de Arte, Arte e Edu-
cação e Didática para a graduação. Concluí Mestrado em Educação
na Universidade Federal do ES, onde hoje sou professor no Progra-
ma de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Educação, depois
de ter finalizado Doutorado na PUC/SP. Na Pós-graduação, ministro
Arte e Educação, Seminários sobre Estética, Desenho Infantil, Ex-
pressão Individual na Infância, Autobiografia, entre outros tópicos.
Minha vida sempre foi de muito estudo. Além de muita dedica-
ção, acho bom que tenhamos também prazer no que fazemos, mas
com grande dose de responsabilidade, já que nossa ação envolve
vida, formação de pessoas, conceitos que geralmente ultrapassam
os conteúdos disciplinares com os quais estamos lidando. Hoje, por
exemplo, vejo depoimentos de muitos professores ou outros profis-
sionais que escolheram sua carreira devido às aulas de professores
com os quais se identificaram.
A arte está presente em nossa vivência, na vivência de todos os
seres humanos: disso ninguém pode duvidar. Mas em determina-
dos casos específicos, tenho certeza de que ocupa um lugar especial,
uma dimensão mais ampla, mais significativa. E assim me observo
pensando sobre este fato: na vida de quais indivíduos a arte é mais
significativa, está substancialmente mais presente? Como reflexão,
vejo que na vida de artistas isso acontece, bem como dos publicitá-
rios, ilustradores, editores de livros, de jornal, de revista, pessoas que
lidam com mídia de um modo geral, dentre uma quantidade enor-
me de profissionais. Mas dentre todos esses, gostaria de acentuar
vocês, estudantes de arte, futuros professores que estarão (e muitos
já estão), falando de arte para um número enorme de pessoas. E no
APRESENTAÇÃO
Apresentação | 5Didática
tempero da profissão de professor de Arte é saber como a arte
acontece em sua vida, gostar das influências que ela traz, sen-
do assim, capaz de conduzir seu desejo singular a querer sa-
ber mais sobre a arte, falar mais sobre a arte.
Stela Maris Sanmartin
Diferente do Professor César, Artes Plásticas foi minha primeira
formação. Tentei, antes disso, entrar na faculdade de Música da
Universidade de São Paulo, para estudar piano, mas a prova de per-
cepção foi muito difícil para mim à época. Assim, depois de cursar
seis meses de cursinho, prestei vestibular para Arquitetura na Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie e Artes Plásticas na FAAP em São
Paulo. Como passei nos dois pude escolher a área em que, definiti-
vamente, atuo até hoje.
Minha primeira experiência profissional com o ensino de arte se
deu em 1989, na Secretaria do Menor, trabalho que retomo e analiso
em meu doutorado realizado na Faculdade de Educação da Universi-
dade de São Paulo, defendido em 2013. Ainda não havia me formado,
quando meu professor de Didática e Metodologia do Ensino me con-
vidou para atuar como arte-educadora no Programa Enturmando, na
área das Artes Plásticas, como era denominado à época. Foram dois
anos muito intensos de experimentações e sistematização do tra-
balho com arte, que nos levou a compreender que a livre expres-
são não dava conta de garantir aprendizagem em arte e aos poucos,
a partir de muita reflexão sobre a ação, chegamos ao trabalho com
projetos e ao ateliê de percurso.
trabalho que será desenvolvido por vocês, existe a questão a ser ave-
riguada: até que ponto a arte é importante para vocês, professores,
para que ela, na verdade, venha a ser significativa também para gran-
de parte de seus alunos? E a abrangência de tal significado está nas
mãos de pessoas que falam sobre a arte para crianças, adolescentes,
adultos. Enfim, se a arte não fizer sentido para professores de Arte,
também não fará sentido para alunos de Arte, salvo raras exceções.
Uso tais palavras para falar sobre mim mesmo, sobre o sentido
que a arte sempre teve em minha vida. Quando decidi lidar com
Educação, tinha a certeza de que na infância e na adolescência a
disciplina Arte deveria ser trabalhada, ensinada, compreendida,
planejada com muita dedicação, considerando que é importante na
vida de um modo geral (para todos) e também específico (para pes-
soas que são atraídas pela arte como admiradores ou como profis-
sionais). Mas, para que possa haver um desempenho otimizado do
professor, torna-se necessária a ajuda de cada um consigo mesmo,
perscrutando dentro de si mesmo encontros singulares com a arte,
determinado sentido individual em que a arte seja indispensável.
Como diagnóstico, proponho que vocês tenham um monólogo
constante e silencioso, questionando-se:
1) Eu gosto de pintura, escultura, desenho, fotografia, das artes
visuais?
2) Minha vida é melhor, mais feliz porque existe o cinema, a
dança, fotografia, a arte de um modo geral?
3) Eu tenho prazer em ver ao meu redor objetos interessantes
não só por serem utilitários, mas pela forma como me sedu-
zem pela cor, brilho, localização no ambiente? A semente, o
Apresentação | 6Didática
curso, oficinas nas mais diversas linguagens da arte ao público em
geral. Fiquei mais uma gestão atuando na esfera pública para então
dedicar-me exclusivamente à vida acadêmica.
Nessa trajetória cursei o Máster internacional de Criatividade
Aplicada Total na Universidade de Santiago de Compostela, o mes-
trado em Arte na Universidade de Campinas, quando realizei pes-
quisa sobre o processo criativo e por último, o doutorado em Edu-
cação na Universidade de São Paulo, quando pesquisei sobre os
princípios e didática da arte desenvolvida na Secretaria do Menor.
Minha chegada à UFES é recente, mas me sinto já integrada com
meus colegas professores nas ações de ensino, pesquisa e extensão,
possíveis de serem realizadas na universidade pública.
A proposta desta disciplina é introduzir o estudante de Licencia-
tura em Artes Visuais, modalidade EAD, na reflexão sobre o que pode
ser feito em termos de ensino de Arte na Educação. Assim sendo,
priorizaremos uma abordagem, de certa forma geral, sobre didática,
mas também sobre o ensinar e aprender arte, projetar sobre a atua-
ção do futuro professor de Arte, tomando o objeto Arte como cerne
de nossos estudos. Também conhecer alternativas, instrumentos,
teorias e procedimentos para retrabalharmos (pois não existem re-
ceitas prontas) a Arte na Educação a partir de um diálogo com vocês,
tendo como fundamento teorias e práticas sobre o ensino de arte.
Os conhecimentos que vocês possuem em estudos realizados
anteriormente serão agora muito significativos, pois, sem esses a
Didática fica vazia. Tais estudos referem-se às disciplinas realizadas
ao longo do curso e outros adquiridos em leituras, palestras e even-
tos frequentados. Buscaremos os conceitos que vocês já possuem
sobre a Arte, bem como temas e técnicas com as quais gostam de
Depois de viver um ano fora do país retornei à Secretaria e tive
a oportunidade de atuar como supervisora no Programa A turma
Faz Arte Esporte e Lazer na Rua, não mais dando aula, mas acom-
panhando os educadores desde o planejamento até a avaliação dos
resultados e do desenvolvimento das crianças.
Em 1994, na eminência da mudança de governo, a Secretária de
Estado formou Grupos de Trabalho e eu tive a oportunidade de co-
ordenar o de Arte-Educação com a missão de reconceituar os pro-
gramas, mas principalmente fundamentar porque a arte é impor-
tante na formação de crianças e jovens. A partir de uma pesquisa,
a equipe, que contava com técnicos nas áreas das Artes Plásticas,
Literatura, Dança, Teatro e Música, pode realizar um levantamento
de dados nas 31 unidades dos Programas de Complementação Esco-
lar e perceber que havia duas orientações para o trabalho com arte.
Uma das concepções, foi denominada pelo grupo, Arte como Meio,
pois os arte-educadores usavam materiais e técnicas artísticas para
trabalharem conteúdos de outras áreas do conhecimento. A outra
denominada Arte como Pesquisa, pois a arte era trabalhada em suas
especificidades, o que permitiu ao grupo sistematizar princípios
para o trabalho com arte, abrindo espaço para a arte contemporânea
no ensino de arte, para os processos criativos, para a arte na educa-
ção, por meio de uma didática comprometida com a arte, com sua
história, com as experiências do fazer e do pensar, da proximidade
com a obra na apreciação estética.
Ainda atuando na Secretaria, comecei a dar aula na graduação em
Artes Plásticas da FAAP e com a mudança de gestão, assumi a coorde-
nação da equipe técnica da Oficina Cultural Oswald de Andrade, da
Secretaria de Cultura do estado de São Paulo, que oferecia formações,
Apresentação | 7Didática
lidar e que acreditem ser significativos, pois ensinar pressupõe um
trabalho de autoria, de colocar em ação o que o professor entende
como significativo.
A dimensão instrumental da disciplina, no entanto, não deverá
ser relegada a segundo plano, pois muitos conceitos em Didática,
ainda que tradicionais, antigos, conservadores, são referenciais
para as práticas docentes.
Introdução | 8Didática
Em educação, como em todas as áreas, a reflexão e a ação são
companheiras inseparáveis. Não há dicotomia entre reflexão
e ação. A reflexão desvinculada da prática conduz a uma te-
orização vazia. Por sua vez, a ação que não é guiada pela re-
flexão leva a uma rotina desgastante e rígida. Por isso, o tra-
balho do professor, em especial aquele que pretende ser um
profissional consciente de sua tarefa, deve seguir o caminho
da reflexão-ação-reflexão. A unidade entre reflexão e ação
permitirá que o verdadeiro educador não confunda os meios
com os fins, nem se deixe escravizar pelas técnicas, que são
meros instrumentos. (HAYDT, 2006, p. 9).
Provavelmente, muitos de vocês já possuem conhecimentos pré-
vios sobre o assunto, alguns já atuando há décadas em escola, po-
rém, para outros, o objeto de estudo é novo. De qualquer forma, de-
sejamos que esta disciplina seja uma oportunidade de aprendizagem
significativa, de troca de ideias entre os diferentes grupos de alunos
dos polos e que saibamos compartilhar os conhecimentos que já pos-
suímos previamente e outros que serão adquiridos durante o curso.
Este material é composto por tópicos que são geralmente aborda-
dos num curso de Didática. Convém observar que partimos dos con-
ceitos Educação, Pedagogia e Didática, seguimos com uma reflexão
sobre os fundamentos apresentando algumas teorias, mas não dei-
xando de lado os atores do âmbito educacional: professores, alunos,
pedagogo, o pesquisador e o artista. Na segunda parte dedicaremos
especial atenção ao planejamento, pois tal procedimento será uma
constante na futura atuação de todos vocês como professores, pes-
quisadores ou quem sabe mesmo em outras atividades consideran-
do que sem projeção prévia do que se pensa em fazer, a prática pode
apresentar-se inconsequente, inconsistente, improvisada em um
sentido indesejável.
Portanto os capítulos um, dois e três discutem assuntos que per-
meiam a Didática, como atores neste cenário educativo, teóricos que
apresentam propostas significativas para a Educação, tópicos alusivos
à pedagogia, intervenientes sociais e individuais que nunca deverão
ser ignorados quando se trata de educar. Já os capítulos quatro, cinco
e seis incidem sobre questões de planejamento especificamente.
É importante que seja considerada a simbiose entre a reflexão e
a ação, pois estudos contemporâneos apontam sua indissociabili-
dade na perspectiva do modelo reflexão-ação-reflexão, conforme
preconiza Haydt:
INTRODUÇÃO
Capítulo 1 | 9Didática
Os conceitos Educação, Pedagogia e Didática marcam o início dos
nossos trabalhos, pois compreendemos a Didática como um dos ra-
mos da Pedagogia, que indica conhecimentos teóricos e práticos ne-
cessários para orientar a ação pedagógica em espaços formais e não
formais de educação. Dessa forma, passaremos a refletir sobre o con-
ceito Educação e definiremos em que circunstâncias essa acontece.
1.1. EDUCAÇÃO
A prática educativa é um fenômeno social e universal, uma ativida-
de necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades.
Não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o
processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiên-
cias culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a trans-
formá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políti-
cas da coletividade.
Etimologicamente, segundo Morandi (2009), educação carrega
uma forte tendência relacionada a cuidar, criar, geralmente de uma
criança, de provê-la de alimento, de condições para sobreviver por
si, bem como de adquirir determinado domínio de conceitos fun-
damentais para vida em sociedade (educatio) e de fazer sair, tirar de
uma pessoa o que existe de potencialidade inerente (educere). Na
mitologia há a Eduque, deusa que regia a educação.
Durkheim (1978) trata de uma ação exercida seja de uma pessoa
sobre outra, ou de um grupo sobre outro grupo. Considerando tais
fatores, podemos afirmar que a educação é algo externo, ou seja, en-
tendido como algo que se concede a alguém, que é aprendido.
Capítulo 1 | 10Didática
etc. Esse tipo de educação se dá por processos de aquisição de co-
nhecimentos, experiências, ideias, valores, práticas, que não estão
ligados a uma instituição, nem são intencionais e conscientes.
Já o espaço da escola, do sistema oficial de ensino público e/
ou privado, como também os espaços educativos que estão fora do
sistema escolar convencional como escolas de línguas, de música,
instituições como museus, centros culturais e outros educam inten-
cionalmente e possuem sistematização para organizar, orientar e es-
timular a aprendizagem dos alunos.
Libâneo (1991) denomina a educação assistemática como não in-
tencional e a educação sistemática como intencional. Assim se re-
porta o autor sobre o assunto:
Os estudos que tratam das diversas modalidades de educa-
ção costumam caracterizar as influências educativas como
não-intencionais e intencionais. A educação não intencional
refere-se às influências contexto social e do meio ambiente
sobre os indivíduos. Tais influências, também denominadas
de educação informal, correspondem aos processos e aquisi-
ção e conhecimentos, experiências, ideias, valores, práticas,
que não estão ligados especificamente a uma instituição e
nem são intencionais e conscientes. São situações e expe-
riências, por assim dizer, casuais, espontâneas, não organi-
zadas, embora influam na formação humana. É o caso, por
exemplo, das formas econômicas e políticas de organização
da sociedade, das relações humanas na família, no trabalho,
na comunidade, dos grupos de convivência humana, do cli-
ma sócio-cultural da sociedade.
Em sentido amplo, a educação compreende os processos forma-
tivos que ocorrem no meio social e em sentido estrito, a educação
ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalida-
des explícitas de aprendizagem, mediante uma ação consciente,
deliberada e planificada, sem separar-se daqueles processos forma-
tivos gerais. Mas a educação é uma prática social que deve pressu-
por duas grandes vertentes: permitir que o conhecimento já produ-
zido possa ser conhecido por outras gerações, da mesma forma que
se faz necessário potencializar o ser para a apropriação e criação de
novos conhecimentos.
Outra distinção significativa sobre e educação, é classificá-la
como sistemática ou assistemática (HAYDT, 2006). Assistematica-
mente, conhecimentos são adquiridos na vivência cotidiana, sem
determinadas regra para se ensinar. Estudos apontam que uma
maior complexidade de determinada sociedade exige a sistemati-
zação da educação, dada à vastidão do acervo cultural dessas so-
ciedades. Assim sendo, as sociedades pré-letradas lançariam mão
da educação assistemática, em que a educação acontece pela vi-
vência entre as pessoas, de forma que os mais jovens partem para
a experiência direta, aprendem e praticam as atividades dos adul-
tos por meio da observação e do fazer empírico (GARCIA, 1976). Ao
observarmos uma pessoa em determinado afazer (pintando, cozi-
nhando, utilizando o computador, lavando roupa, por exemplo),
podemos aprender pela observação, que pode ser considerado um
aprendizado assistemático.
A educação acontece numa grande variedade de instituições e
atividades humanas como família, escola, trabalho, igrejas, organi-
zações políticas e sindicais, nos meios de comunicação de massa
Capítulo 1 | 11Didática
participação efetiva dos indivíduos e grupos nas decisões que
permeiam a sociedade sem a educação intencional e sistema-
tizada provida pela educação escolar (LIBÂNEO, 1991, p. 17–18).
Intencional ou não intencional, convém ser considerado que as
duas vertentes se amalgamam, interpenetram, formando um fenô-
meno único, um verdadeiro organismo ou sistema. Todos os lócus so-
ciais, ambientais, econômicos, políticos se subordinam, promoven-
do um envolvimento enorme, que é responsável, antes de tudo, por
conceber, destruir, reconstruir, transformar toda a cultura de um povo
de um determinado lugar. Assim sendo, convém aos profissionais da
educação estar conscientes que suas ações sofrem e também promo-
vem influências em determinados conceitos, como: etnias, classes
sociais, inclusão e exclusão, gênero, diferenças pessoais, opção sexu-
al, preconceitos antigos e recentes, discriminação da faixa etária etc.
Quem atua ou virá a atuar na educação escolar deve ser bastante
consciente dessa vertente que pode ser chamada de ideológica que
a profissão carrega. Mesmo os profissionais que dizem: nada sei de
política, de preconceitos, trabalho apenas meus objetivos e conteú-
dos de maneira neutra, devem atentar que estão equivocados, pois
apenas desconhecem que estão a favor ou contra determinadas po-
sições, por exemplo, políticas e sociais. Isso não acontece apenas
hoje, ou em qualquer outro período de existência específico, ao
contrário, trata-se de relações que existem desde a pré-história da
humanidade até nossa contemporaneidade. Historicamente, temos
consciência de que períodos foram construídos, solidificados, bem
como destruídos, tendo como fator de construção, transformação
ou destruição a educação, seja ela sistemática ou assistemática.
A educação intencional refere-se a influências em que
há intenções e objetivos definidos conscientemente, como
é o caso de educação escolar e extra-escolar. Há uma inten-
cionalidade, uma consciência por parte do educador quanto
aos objetivos e tarefas que deve cumprir, seja ele o pai, o pro-
fessor ou os adultos em geral – estes, muitas vezes, invisíveis
atrás de um canal de televisão, do rádio, do cartaz de propa-
ganda, do computador etc. Há métodos, técnicas, lugares e
condições específicas prévias criadas deliberadamente para
suscitar idéias, conhecimentos, valores, atitudes, comporta-
mentos. São muitas as formas de educação intencional e, con-
forme o objetivo pretendido, variam os meios. Podemos falar
da educação não-formal quando se trata de atividade educa-
tiva estruturada fora do sistema escolar convencional (como
é o caso de movimentos sociais organizados, dos meios de
comunicação de massa etc) e da educação formal quando se
realiza nas escolas ou outras agências de instrução e educação
(igrejas, sindicatos, partidos, empresas) implicando ações de
ensino com objetivos pedagógicos explícitos, sistematização,
procedimentos didáticos. Cumpre acentuar, no entanto, que
educação propriamente escolar se destaca entre as demais
formas de educação intencional por ser suporte e requisito
delas. Com efeito, é a escolarização básica que possibilita aos
indivíduos aproveitar e interpretar, consciente e criticamen-
te, outras influências educativas. É impossível, na sociedade
atual, com os progressos dos conhecimentos científicos e
técnicos, e com o peso cada vez maior de outras influências
educativas (mormente os meios de comunicação de massa), a
Capítulo 1 | 12Didática
1.2. PEDAGOGIA
A pedagogia está relacionada às propostas educacionais, e é uma
ciência que sistematiza a educação de forma racional, intencional,
para propor ações concretas, efetivas, em determinada sociedade,
em determinada época. Tem como fundamentação as orientações
culturais, que estão implicadas nesta sociedade. Sendo assim, as-
pectos econômicos, sociais, políticos, históricos, artísticos, estéti-
cos, religiosos, entre outros, são a matéria prima das quais a peda-
gogia extrai elementos, conteúdos e objetivos para sua efetivação.
Valor é a questão central, o dado mais precioso para a pedagogia pro-
posta em qualquer meio social. Determinadas ações se fazem neces-
sárias em determinado contexto, e que indicarão o sentido e a dire-
ção pelos quais a pedagogia caminhará, seguirá seu curso. A história
está cheia de exemplos significativos que dizem respeito à função
da pedagogia em determinada época: seja para preservar costumes
ou evitando mudanças sociais, seja para impor novos modelos polí-
ticos, sociais, econômicos. De qualquer forma, a implicação maior é
a formação, instrução dos sujeitos, dos membros de uma sociedade.
O olhar da Pedagogia é como um panorama muito amplo, pois
abrange larga escala do que se pretende, dos objetivos perseguidos.
Considera um todo, contemplando, pensando ações que futuramen-
te envolverão uma quantidade significativa de indivíduos, implican-
do (provocando e sofrendo) consequências na família, no ambiente,
nas crenças religiosas, nas artes, na economia, na política etc. Tudo
ocorre de maneira premeditada, por meio da análise de situações que
implicarão em consequências previamente desejadas. Assim sendo,
pode-se pensar em termos de controle de práticas em diversas áreas.
Nessa perspectiva, Libâneo é claro quando trata da função do
professor em estar apto em transmitir conteúdos específicos da dis-
ciplina ao aluno, mas também trabalhar no sentido de levar o aluno
a desenvolver suas capacidades intelectuais a ponto de ser também
capaz de entender criticamente os problemas sociais pelos quais a
sociedade passa, para que possa contribuir na construção de uma
sociedade mais justa.
Outra dimensão que não deve ser esquecida em educação é o fa-
tor singular, individual do homem. Ou seja, devem ser consideradas
as potencialidades dos indivíduos, pois o mundo é uma representa-
ção que cada pessoa traz. Considerando hoje as grandes diferenças
apontadas entre os sujeitos (SCHOPENHAUER, s.d.; DELEUZE, 2007),
tais diferenças e potencialidades individuais necessitam estar cada
vez mais presentes na educação.
Em arte, sabemos o quanto é relevante a expressão individual,
considerando que existem muitos artistas denominados autodida-
tas, que não frequentaram escola. Alguns adquiriram materiais ar-
tísticos, partindo para uma prática pessoal que pode ser classificada
como assistemática, pois que é fruto de um aprendizado, de uma
disciplina criada pelo próprio indivíduo que elabora seu trabalho de
maneira singular, pessoal. Convém observar que tal autodidatismo
pode ser trabalhado, proposto, quando o objetivo é fazer arte, elabo-
rar determinado texto visual (pintura, desenho, escultura, instala-
ção etc), mas sabemos hoje que a disciplina Arte ultrapassa o fazer,
quando se constitui como pensamento, linguagem, propondo co-
nhecimento, análise crítica, contextualização histórica etc.
Capítulo 1 | 13Didática
valorização do aspecto humano, preocupação com a ação glo-
bal (incluindo os valores) com as crianças ou ainda restrição
à conotação técnica do termo. A história da pedagogia está até
hoje associada aos grandes educadores, como Montaigne e
Rousseau. Durkheim volta a dar à pedagogia uma função no-
bre, ligando-a à sociologia e atribuindo-lhe um estatuto de te-
oria: “Ela consiste em certa maneira de refletir sobre as coisas
da educação […] não em ações, mas em teorias. Essas teorias
são formas de conceber a educação, não formas de praticá-las
[…] A educação nada mais é do que a matéria da pedagogia[…]”
A abordagem sociológica vê as práticas educativas como fatos
não isolados, que, porém, contribuem para um sistema edu-
cativo de uma época e de um país.
Durkheim já afirmava que “entre a arte definida e a ciência
propriamente dita há espaço para uma atitude mental inter-
mediária. Em vez de agir sobre as coisas ou sobre as pessoas
de acordo com maneiras determinadas, reflete-se sobre os
modos de ação que são empregados, não para conhecê-los ou
explicá-los, mas para estimular seu valor, verificar se eles são
o que devem ser, se não é melhor modificá-los e como, até
mesmo substituí-los por novos procedimentos. Essas refle-
xões tomam a forma de teoria; são combinações de idéias, não
combinações de atos, e, por isso, se aproximam de ciência”.
A atividade de ensino é atualmente considerada um “agir pro-
fissional (Schön), uma configuração específica da ação e dos
modos de pensamento que a organizam. O trabalho reflexivo,
tema recorrente da profissionalização das ocupações ligadas
ao ensino, remete à ação de propor os saberes a aprender, mas
O socialismo proposto na União Soviética na primeira metade
do século XX impôs um modelo ideal de arte, que deveria ser a arte
oficial do país. A arte moderna e a arte abstrata foram proibidas, e
um modelo fundamentado no Neoclassicismo foi imposto, o que,
por consequência, gerou exílio ou autoexílio de muitos artistas
da época. A ditadura militar imposta no Brasil na década de 1960,
também moldou a pedagogia escolar, para que pudesse ter seus de-
sígnios alcançados, evitando que os militares perdessem controle
sobre a política nacional. Isso também ocorreu em outras épocas,
em outros países.
Etimologicamente, pedagogo, em grego: paidagôgo, é aquele
que conduz, cuida, se encarrega da criança. Pode-se dizer tratar de
uma pessoa que inspeciona o percurso de outra pessoa. Provavel-
mente daí provenham subáreas como supervisão, inspeção, coor-
denação, direção escolares, característicos de alguns pedagogos.
Como toda ciência, toda área de estudo, a Pedagogia pode ser defi-
nida de diferentes maneiras, mas de modo geral, são canalizadas
para um mesmo sentido. Vejamos os escritos de Morandi ao tratar
do significado de Pedagogia:
O estabelecimento do termo “pedagogia” e seu uso específico
é relativamente recente. A enciclopédia lhe dá lugar na “lógi-
ca da ciência do homem” como “arte de comunicar ou trans-
mitir os pensamentos”, e descreve que ela “trata da escolha
de estudos e da maneira de ensinar”; indiretamente, no ver-
bete educação, também considera pedagogia o sistema repre-
sentado pelos conhecimentos humanos. Frequentemente, o
pedagogo é designado como educador, por vários motivos:
Capítulo 1 | 14Didática
gações constantes no processo pedagógico de construção de uma
sociedade que possui determinados propósitos a alcançar.
Muitos estudiosos estão preocupados com esses processos, e po-
dem contribuir de forma consistente para estudos teóricos e práti-
cos na área. Libâneo nos apresenta estas ideias.
O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como
ação consciente, intencional e planejada no processo de for-
mação humana, através de objetivos e meios estabelecidos
por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo
de homem a formar, para qual sociedade, com que propósi-
to. Vincula-se, pois, as opções sociais e políticas referentes
ao papel da educação num determinado sistema de relações
sociais. A partir daí, a pedagogia pode dirigir e orientar a for-
mulação de objetivos e meios do processo educativo.
Podemos, agora, explicitar as relações entre educação esco-
lar, pedagogia e ensino: a educação escolar, manifestação pe-
culiar do processo educativo global; a pedagogia como deter-
minação do rumo desse processo em suas finalidades e meios
de ação, o ensino como campo específico da instrução e educa-
ção escolar. Podemos dizer que o processo de ensino-aprendi-
zagem é, fundamentalmente, um trabalho pedagógico no qual
se conjugam fatores externos e internos. De um lado, atuam na
formação humana como direção consciente e planejada, atra-
vés de objetivos/conteúdos/métodos e formas de organização
propostos pela escola e pelos professores; de outro, essa influ-
ência externa depende de fatores internos, tais como as condi-
ções físicas, psíquicas e sócio-culturais dos alunos.
também aos saberes específicos das atividades pedagógicas,
que têm sua própria lógica” (MORANDI, 2008, p. 34–35).
Convém estarmos atentos aos dois aspectos da pedagogia: o pen-
sar e o agir, ou seja, a ação e a reflexão, sempre relacionada ao pro-
cesso educativo, à lógica que sustenta determinada ação/reflexão
em educação, assim caracterizando uma atitude de observação da
efetivação do que se pensou, bem como diferentes opções de mo-
dificar tal projeto, quando em período de sua prática ou posterior
a essa fase. Talvez hoje haja um desvio de função, ou mesmo equí-
voco, quanto à atuação do pedagogo, pois em muitas instituições
são professores polivalentes na Educação Infantil ou anos iniciais
do Ensino Fundamental que assumem essa função.
Por outro lado, em vez de estar preocupado com a ação de deter-
minado professor em sua prática educativa, como é característica
de muitos pedagogos inspetores ou mesmo espiões da ação em sala,
preocupados em ouvir conversas de corredor para depois repreen-
derem diferentes profissionais na instituição, ou mesmo tentando
colocar em prática aquilo que radicalmente acredita ser uma prática
ideal de determinada disciplina, pedagogos poderiam envolver-se
com determinado sistema de ensino ou instituição, para promover
o enriquecimento de todo um pensar e fazer educação. Pensar na
preparação otimizada dos indivíduos para ações adequadas em de-
terminado ambiente social pode ser um excelente ponto de partida,
o que implica em estudos sociológicos, psicológicos, filosóficos por
parte do pedagogo.
Que tipo de indivíduo, de homem se pretende formar, o que se
espera deste indivíduo, o que se pode oferecer podem ser interro-
Capítulo 1 | 15Didática
tinuam em prática mesmo após o período na qual ela foi predomi-
nante. Pode-se considerar que hoje somos uma somatória de todos
os formatos propostos durante milênios. Num sentido benéfico,
muitas vezes são guardadas influências dessa ou daquela tendência
para construir uma nova perspectiva educacional, pedagógica.
A Tendência Pedagógica Idealista com suas respectivas pedagogias:
Tradicional, Nova, Tecnicista e a Tendência Histórico-Social ou Crí-
tico-Social dos Conteúdos são as vertentes que se pretende trabalhar
nesta disciplina para pensarmos como se traduzem nas aulas de Arte.
Pedagogia Tradicional
A Pedagogia Tradicional é uma abordagem na qual o centro do co-
nhecimento, o ponto de partida, é o professor, seus enormes dis-
cursos, propostas específicas de trabalho. Nesta tendência con-
teudista, é valorizada a memorização, e é também chamada de
educação bancária, pois em um banco, depositamos dinheiro,
para depois sacar a mesma quantia depositada (salvo quando há
rendimentos). Pois é dessa forma o procedimento tradicional que
se caracteriza com a expressão “transmissão de conhecimentos”.
O vínculo com o passado é reforçado, e há sempre muitos os mode-
los a serem seguidos. Existe uma referência e tal referência é per-
seguida, para que os objetivos sejam alcançados. A autoridade do
professor é reforçada, e está em suas mãos qualquer decisão, em re-
lação aos resultados a serem obtidos.
Se pensarmos em Arte, veremos que o Neoclassicismo foi um mo-
delo altamente tradicional: o aluno deveria seguir regras rígidas de
A pedagogia, sendo ciência da e para a educação, estuda
a educação, a instrução e o ensino. Para tanto, compõe-se de
ramos de estudo próprios, a Teoria da Educação, a Didática, a
Organização Escolar, e a História da Educação e da Pedagogia.
Ao mesmo tempo, busca em outras ciências os conhecimen-
tos teóricos e práticos que concorrem para o esclarecimen-
to do seu objeto, o fenômeno educativo. São elas a Filosofia
da Educação, Sociologia da Educação, Biologia da Educação,
Economia da Educação e outras. O conjunto desses estudos
permite aos futuros professores uma compreensão global do
fenômeno educativo, especialmente de suas manifestações
no âmbito escolar. Essa compreensão diz respeito a aspectos
sócio-políticos da escola na dinâmica das relações sociais,
dimensões filosóficas da educação (natureza, significados e
finalidades, em conexão com a totalidade da vida humana);
relações entre a prática escolar e a sociedade no sentido de
explicitar objetivos político-pedagógicos em condições his-
tóricas e sociais determinadas e as condições concretas do
ensino; o processo do desenvolvimento humano e o proces-
so da cognição; bases científicas para a seleção e organização
dos conteúdos dos métodos e formas de organização do ensi-
no; articulação entre e mediação escolar de objetivos/conte-
údo/métodos e os processos internos atinentes ao ensino e à
aprendizagem (LIBÂNEO, 1991, p. 24–25).
A pedagogia se configura em determinadas tendências, que são
características relacionadas a determinadas épocas históricas. No
entanto, sabemos que muitas tendências pedagógicas antigas con-
Capítulo 1 | 16Didática
de fora do país. O desenho de ornatos e o desenho geométri-
co eram considerados “linguagens” úteis para determinadas
profissões, e quando transformados em conteúdos de ensi-
no dava-se ênfase aos seus aspectos técnicos e científicos.
Os professores exigiam e avaliavam esse conhecimento dos
alunos empregando métodos que tinham por finalidade exer-
citar a vista, a mão, a inteligência, a imaginação (memória e
novas composições), o gosto e o senso moral. (…)
Além do Desenho, a partir dos anos 50 passam também
a fazer parte do currículo escolar as matérias como Música,
Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, que mantêm de algu-
ma forma o caráter e a metodologia do ensino do desenho ar-
tístico (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 23–27).
Pedagogia Nova
O centro do conhecimento na Pedagogia Nova passa do professor
para o aluno. O aluno deve ser o ponto de partida de todo conhe-
cimento, propondo liberdade na busca de seus interesses que lhe
sejam mais significativos. A criança, o aprendiz passou a ser um
ser com potencial, como caracterizado por Morandi, “como um ser
novo, com sua natureza de ser em devir em seu desenvolvimento,
destinado a um futuro” (2008, p. 57). Dewey, como expoente dessa
tendência, afirma que a quantidade de riqueza que pode advir do
interior do indivíduo. Propõe-se ao aluno estar capacitado a buscar
um conhecimento por si mesmo, introduzido, guiado aos interes-
ses singulares, subjetivos latentes em sua mente, em seu espírito.
composição, perspectiva, claro-escuro, muitas vezes utilizando a có-
pia como aprendizagem mais significativa. Segundo Fusari e Ferraz:
Nas aulas de Arte das escolas brasileiras, a tendência tradicio-
nal está presente desde o século XIX, quando predominava
uma teoria estética mimética, isto é, mais ligada às cópias do
“natural” e com a apresentação de “modelos” para os alunos
imitarem. Esta atitude estética implica na adoção de um pa-
drão de beleza que consiste sobretudo em produzir-se e em
oferecer-se à percepção, ao sentimento das pessoas, aqueles
produtos artísticos que se assemelham com as coisas, com os
seres, com os fenômenos de seu ambiente. Podem se apre-
sentar como “cópias” do ambiente circundante (produções
artísticas mais realistas) ou como gostariam que fosse (pro-
duções artísticas mais idealistas). (…)
No Brasil do século XIX, o ensino do desenho ocupa um
espaço equivalente ao do mundo em industrialização, o que
fica bem evidente no parecer feito por Rui Barbosa sobre o
ensino primário, em 1883, onde relacionava o desenho com
o progresso industrial. Aqui também o desenho adquire um
sentimento utilitário, direcionado ao preparo técnico de in-
divíduos para o trabalho, tanto nas fábricas quanto de servi-
ços artesanais. (…)
Nas primeiras décadas do século XX continua evidente,
junto às classes sociais mais baixas, a analogia entre o ensino
do desenho e o trabalho, como se observa nos programas de
desenho geométrico, perspectiva, exercícios de composição
para decoração, cópias de modelos que vinham geralmente
Capítulo 1 | 17Didática
Resumindo, na Pedagogia Nova, a aula de Arte traduz-se mais
por um proporcionar condições metodológicas para que o alu-
no possa “exprimir-se” subjetiva e individualmente. Conhecer
significa conhecer-se a si mesmo; o processo é fundamental, o
produto não interessa. Visto como ser criativo, o aluno recebe
todas as estimulações possíveis para expressar-se artistica-
mente. Esse “aprender fazendo” o capacitaria a atuar coopera-
tivamente na sociedade (FUSARI e FERRAZ, 1992, 36).
Pedagogia Tecnicista
De acordo com Fusari e Ferraz (1992), nas escolas brasileiras a Pe-
dagogia Tecnicista é introduzida entre 1960 e 1970 quando a edu-
cação é considerada insuficiente no preparo de profissionais, tanto
de ensino médio quanto de nível superior, para atender ao mundo
tecnológico em expansão.
Essa pedagogia objetiva maior eficiência da escola e desenvolvi-
mento das competências e habilidades dos alunos para o mercado
de trabalho. O destaque está na organização mecânica dos currícu-
los e programas de ensino e o professor passa a ser um “técnico” res-
ponsável pelo planejamento, que visa à mudança de comportamen-
to dos alunos para, ao finalizarem o curso, atenderem aos objetivos
do professor que está em sintonia com as demandas do mercado.
No início dos anos 70, concomitantemente ao enraizamento
da pedagogia tecnicista no Brasil, é assinada a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 5.692/71, que introduz a Educa-
Muito é falado em termos de sentimento, de desejo do aprendiz, e o
papel do professor como um orientador dos interesses de determi-
nado aluno ou grupo de alunos.
Essas influências ficam bem evidentes no texto de Dermeval
Saviani (1983, p. 12–13), ao mostrar-nos que a pedagogia nova
“deslocou o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sen-
timento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos
cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do pro-
fessor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina
para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo;
da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspira-
ção filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia
de inspiração experimental, baseada, nas contribuições da Bio-
logia e da Psicologia” (FUSARI E FERRAZ, 1992, 31).
Relacionando ao campo da Arte, observamos nítida influência
do movimento expressionista, em que devem ser utilizados os ma-
teriais com bastante liberdade, no intuito de se produzir trabalhos
inéditos, oriundos de um fazer e aprender por si. Essa vertente na
Arte gerou a livre expressão que, quando mal utilizada, sem um re-
torno ao trabalho do aluno, gera o laissez faire, expressão france-
sa que pode ser traduzida como “deixar fazer”, entendendo que o
aluno é deixado abandonado, para fazer o que bem entende, sem
um retorno do professor. Alguns adeptos radicais preconizam que
mostrar a arte adulta ou qualquer interferência crítica a partir do
que o aluno produz pode ser prejudicial à verdadeira expressão,
que vem de dentro do indivíduo.
Capítulo 1 | 18Didática
cimentos em arte e teórico-metodológicos para ensinar arte, além
de condições de trabalho, que disponibilizasse tempo para discutir,
trocar com seus pares, planejar e refletir sobre os resultados.
Dez anos depois da Educação Artística se tornar obrigatória
nas escolas de 1º e 2º graus, isto é, em 1981, ficaram eviden-
tes as dificuldades enfrentadas pelos professores, apontando
para a urgência de discussões e análises mais amplas e pro-
fundas a esse respeito. Esses problemas e a necessidade de
resolvê-los deram origem a movimentos de organização de
professores de Arte, como as associações de arte-educado-
res que se formaram em diferentes estados e regiões do país.
A primeira delas foi a Associação de Arte-Educadores do Es-
tado de São Paulo (Aesp), fundada em 1982, e logo seguida por
organizações em outros estados, culminando com a Federa-
ção Nacional dos Arte-Educadores do Brasil (Faeb), em 1987.
Consequentemente, questões referentes aos cursos de Arte,
da pré-escola à universidade, passaram a ser discutidas tam-
bém por essas entidades em congressos e encontros estadu-
ais, nacionais e internacionais.
Dentre os problemas apresentados no ensino artístico, após
a Lei 5.692/71, encontram-se aqueles referentes aos conheci-
mentos básicos de arte e métodos para apreendê-los durante as
aulas, sobretudo nas escolas públicas. O que se tem constatado
é uma prática diluída, pouco ou nada fundamentada, na qual
métodos e conteúdos de tendência tradicional ou escolanovis-
ta se misturam, sem grandes preocupações, com o que seria
melhor para o ensino de Arte (FUSARI e FERRAZ, 1992, 38–39).
ção Artística no currículo escolar de 1º e 2º graus. Os profes-
sores de Desenho, Música, Trabalhos Manuais, Canto Coral
e Artes Aplicadas, que vinham atuando segundo os conheci-
mentos específicos de suas linguagens, viram esses saberes
repentinamente transformados em “meras atividades artísti-
cas”. De sua implantação, observa-se que a Educação Artística
é tratada de modo indefinido, o que fica patente na redação de
um dos documentos explicativos da lei, ou seja, o Parecern°
540/77: “não é uma matéria, mas uma área bastante genero-
sa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências
e interesses”. Ainda no mesmo parecer fala-se na importância
do “processo” de trabalho e estimulação da livre expressão.
Contraditoriamente a essa diretriz um tanto escolanovista, os
professores de educação Artística, assim como os das demais
disciplinas, deveriam explicitar os planejamentos de suas au-
las com planos de curso onde objetivos, conteúdos, métodos e
avaliações deveriam estar bem claros e organizados.
Despreparados e inseguros, os professores de Arte pas-
sam a apoiar-se cada vez mais nos livros didáticos de Edu-
cação Artística, produzidos para o seu consumo pela “in-
dústria cultural” desde o final da década de 70” (FUSARI e
FERRAZ, 1992, p. 37–38).
Observa-se que os professores, com formação universitária defi-
ciente em licenciaturas de curta duração, polarizavam em ativida-
des artísticas mais direcionadas para os aspectos técnicos, constru-
tivos, uso de materiais, ou em um fazer espontaneísta, sem maiores
compromissos com o conhecimento de arte. Careciam de conhe-
Capítulo 1 | 19Didática
autonomia vivenciadas por grupos de alunos e seus profes-
sores acreditam na independência teórica e metodológica,
livres de amarras sociais. (…)
A compreensão do papel específico da escola nas mudan-
ças sociais facilita o aparecimento dessa nova tendência peda-
gógica histórico-crítica, ou crítico-social dos conteúdos, que
se pretende nem tão otimista como a dos “idealistas-liberais”,
nem tão pessimista como a dos “críticos-reprodutivistas”. (…)
Assim, a nova pedagogia, a histórico-crítica, deve mobili-
zar uma real valorização da escola e, como diz Dermeval Sa-
viani, não pode ser indiferente ao que se passa ao seu redor.
Para ele, essa pedagogia “estará empenhada em que a escola
funcione bem; portanto estará interessada em métodos de
ensino eficazes. Tais métodos se situarão para além dos méto-
dos tradicionais e novos, superando por incorporação as con-
tribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que
estimularão a atividade e a iniciativa dos alunos sem abrir
mão da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alu-
nos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o
diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em
conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem
e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a
sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e
graduação para efeitos de processo de transmissão/assimila-
ção dos conteúdos cognitivos”. (…)
José Carlos Libâneo também contribui para a elaboração
dessa pedagogia, ressaltando a natureza do trabalho docente
hoje, no qual “um saber, um saber ser e um saber fazer pe-
Pedagogia Histórico-Crítica ou Crítico-Social dos Conteúdos
Libâneo e Saviani podem ser citados como teóricos que possuem
um discurso interessante sobre a Pedagogia Histórico-Crítica ou
Crítico-Social dos Conteúdos.
Muitos educadores preocupados com os rumos da escola, sobre-
tudo pública, discutem como mobilizar novas propostas pedagógi-
cas. Alunos e professores, atentos aos processos sociais, acreditam
que a escola deva estar sintonizada o seu contexto, pois os desdobra-
mentos sociais é que determinarão as possíveis ações no ambiente
da educação escolar. O método problematiza a prática social, pois in-
teressa uma nova compreensão da sociedade por parte de todos com
o objetivo de interagir reciprocamente com a sociedade, buscando
novas maneiras de compreendê-la, bem como de transformá-la.
De acordo com o processo histórico seguem-se as pedagogias:
“libertadora”, “libertária” e “histórico-crítica” ou “crítico-so-
cial dos conteúdos”. (…)
A Pedagogia Libertadora proposta por Paulo Freire obje-
tiva a transformação da prática social das classes populares.
Seu principal intento é conduzir o povo para uma consciên-
cia mais clara dos fatos vividos e, para que isso ocorra, tra-
balham com a alfabetização de adultos. Na metodologia de
Paulo Freire, alunos e professores dialogam em condições de
igualdade, desafiados por situações-problemas que devem
compreender e solucionar. (…)
A Pedagogia Libertária, por sua vez, resume-se na impor-
tância dada a experiências de autogestão, não-diretividade e
Capítulo 1 | 20Didática
preconizam que o termo mais adequado seria Metodologia do Ensi-
no de Arte, considerando que didática diz respeito as teorias e prá-
ticas de ensino de qualquer conteúdo ou área. No presente curso,
o estudo considerará as duas possibilidades, levando-se em conta,
inclusive a denominação da disciplina.
Existem em sala de aula duas posições: a do professor e a do aluno.
Comumente, hoje muito se fala: quem aprende é o professor, quanto
mais se ensina, mais se aprende. No entanto, é também senso co-
mum concluir que os objetivos, conteúdos, a metodologia e demais
ações pedagógicas são propostas pelo professor. Se um professor se
diz ‘moderníssimo’ e não elabora planejamentos, em nome de um
livre-arbítrio do aprendiz, isso é também uma escolha didático-pe-
dagógica. Convém lembrar que didática implica antes de tudo em
seleção do que e do como fazer. Relembrando que, em acordo com
as tendências pedagógicas, para cada uma delas, existe uma didática
que é mais adequada para promover o ensino pelo qual se optou.
Assim sendo, Didática é um dos ramos da Pedagogia, ciência es-
treitamente relacionada à educação. A didática convoca uma série
de comportamentos que são selecionados para interagirem nessa
espécie de matriz chamada professor — conteúdo — aluno. O pro-
fessor Cordeiro (2009), citando o filósofo John Pasmore assim trata
dessa matriz:
Uma pessoa ensina quando transmite fatos, cultiva hábitos,
treina habilidades, desenvolve capacidades, ensina alguém a
nadar ou a apreciar música clássica, mostra como funciona
um foguete lunar, ou que, e por que, os planetas se movem
em volta do sol (Apud CORDEIRO, 2009, p. 23).
dagógico” devem “integrar os aspectos material/formal do
ensino e, ao mesmo tempo articulá-lo com os movimentos
concretos tendentes à transformação da sociedade” (FUSARI
e FERRAZ, 1992, 42–43).
1.3. DIDÁTICA
‘Eu ensino e vocês aprendem’, tal parece ser a compreensão da dinâ-
mica de ensinar e aprender. A maioria das pessoas assim entende a
relação de professor e aluno. E é tais assuntos que serão doravante
abordados: sala de aula, ensinar e aprender, não saber e saber, falar e
ouvir, perguntar, responder, transmitir, pensar, decorar, memorizar,
trocar, construir etc.
Inicialmente, cabe a definição da denominação do termo didá-
tica, que nomeia essa disciplina. Consultando dicionário, pode-se
encontrar: “1. A técnica de dirigir e orientar a aprendizagem; técnica
de ensino. 2. Estudo dessa técnica” (FERREIRA, 1998, p. 221). Da pa-
lavra deriva didata que é aquele que ensina ou escreve obras sobre
didática. Assim, estudar didática como vocês estão fazendo agora
significa passar por um processo de aprendizagem, com o objetivo
de adquirir conhecimentos para criar situações de aprendizagem.
Então, Didática pode ser considerada uma disciplina que indica co-
nhecimentos teóricos e práticos necessários, para orientar a ação
pedagógica, em espaços formais e não formais, de educação e no
nosso caso específico, orienta o ensino e a aprendizagem da Arte.
Alguns autores discordam do termo “Didática do ensino de…
(nome da disciplina)”, assim como Didática do Ensino de Arte, pois
Capítulo 1 | 21Didática
cognitivas e afetivas. O mundo da criança foi estudado com mais
profundidade, destacando as singularidades de cada pessoa, as di-
ferenças sociais e ambientais. Hoje, porém, muitos educadores
buscam alternativas, opções educacionais que escapem das teorias
psicológicas de teóricos como Freud, Piaget, Vygotsky, teorias que
trouxeram influências da psicologia para a educação. Tais teorias já
são bastante transformadas, modificadas ou mesmo contestadas,
mas ainda presentes em sala de aula. O livro de Houdé, por exemplo,
citado nas referências, apresenta severas razões para duvidarmos de
muitas afirmações de psicólogos cujos estudos são ainda dominan-
tes na educação. Didática seria então um campo repleto de influên-
cias de tudo que diz respeito a vivências do ser humano. Contem-
poraneamente, presenciamos a violência como aspecto marcante
na sociedade brasileira, fator que traz consequências para a escola.
Alguns procedimentos já são considerados sobre, de que forma tais
acontecimentos implicam em uma nova postura do professor, do
pedagogo e todos os profissionais que atuam na escola.
Sem ser esquecida a dimensão de sala de aula, da instituição es-
colar, que é um dos princípios desta disciplina (atuar em institui-
ção escolar), as bases teóricas devem estar relacionadas ao que se
pretende ensinar (Arte). Duas vertentes estão correlacionadas no
processo de ensino: a Didática e a Arte. Duas áreas que deverão ser
consideradas para que se consiga uma aprendizagem ideal: Didática
do Ensino de Arte. Objetivos, conteúdos, métodos, recursos serão
pensados e repensados sem perder a dimensão reflexão – ação – re-
flexão já que teoria e prática devem caminhar como que formando
um corpo único, em direção ao aprimoramento constante da cons-
trução de conhecimento.
Para esse mesmo autor, o ensino pode ser entendido como uma
relação triádica, isto é, que envolve três vértices e que pode ser ex-
pressa numa afirmação do tipo “x ensina algo a alguém” (o profes-
sor — o conteúdo do ensino — o aluno). No entanto, ao contrário do
que acontece em outros tipos de relação, esse aspecto triádico pode
ficar escondido no ensino, já que nem todos os elementos da rela-
ção precisam ser explicitados.
[…] quando pretendemos descrever e entender o ensino, te-
mos a tendência de ignorar o conteúdo ou o aluno e nos con-
centrar apenas no professor e nas atividades que ele realiza.
Passmore insiste que “os meios que permitem saber se al-
guém é bom professor não consistem em verificar se escre-
ve com clareza no quadro, se mantém a disciplina ou se sabe
usar o mais recente apoio visual, mas se os alunos aprendem
o que lhes tenta ensinar” (CORDEIRO, 2009, p. 23–24).
Em Didática existe a indicação de técnica subjacente orientando
muitos aspectos do fazer, de como fazer, como saber-fazer. No en-
tanto, tais técnicas deverão estar a favor da aprendizagem, pois é a
aprendizagem o cerne do que se busca alcançar no processo didático.
Podemos afirmar que a Didática buscava muitos elementos na
Filosofia antes do século XX. A educação no século XX esteve mui-
to arraigada em teorias da Psicologia, da Biologia e da Sociologia.
Assim, em séculos anteriores, a influência mais significativa na
educação era a Filosofia. Estudos sobre Biologia, Psicologia e Socio-
logia trouxeram contribuições alusivas ao desenvolvimento físico,
considerando-se também as grandes diferenças e particularidades
Capítulo 1 | 22Didática
idade. O conjunto de disciplinas ou áreas de estudo que com-
põem o currículo dessa escola é também bastante semelhante.
A duração das aulas é também similar, embora a jornada es-
colar diária ou semanal tenha alguma variação considerável,
tendo se consolidado nos países ditos mais desenvolvidos,
uma jornada entre seis e oito horas diárias de estudo. Também
há similaridades dos métodos de ensino, dos materiais didá-
ticos e das propostas pedagógicas mais prestigiadas em cada
momento, entre outros aspectos que podem ser considerados.
Ao mesmo tempo em que consolidava um modelo domi-
nante de escolarização, certos países e certas propostas pe-
dagógicas eram escolhidas, por parte dos especialistas en-
volvidos nos mecanismos de difusão desse modelo, como
sociedades de referência. Assim, as experiências pedagógicas
da Inglaterra, da França, dos Estados Unidos, da Suíça, da Bél-
gica ou da Alemanha iriam funcionar como situações exem-
plares a serem imitadas ou mesmo copiadas por todos os ou-
tros países (CORDEIRO, 2009, p. 17).
Mais adiante, o autor ressalta que o processo de recepção de tal
modelo funciona, guardando determinadas diferenças regionais,
levando-se em conta várias particularidades geográficas, culturais
etc. Se for pensado o espaço físico de uma sala de aula, pode ser
verificada a familiaridade em todos os lugares: existe um local do
professor, mesa, outras mesas para os alunos, um quadro para se es-
crever, cartazes, sala de reuniões, aparelhos de reprodução de ima-
gem (quando a situação financeira permite), ajudantes de limpeza,
secretários, coordenadores, direção, dentre outros.
O professor pode tornar seu desempenho mais significativo para
si e para os alunos, se estiver consciente dos processos de ensino, da
situação que está desempenhando, seja na hora de refletir, estudar,
planejar, seja no momento em que atua em sala de aula. É também
responsável pela qualidade e quantidade de informação que possui
sobre Didática, sobre a Arte, seja na vertente da teoria, história da
arte, da filosofia da arte ou dos processos de se fazer arte na escola
sem perder de vista a devida contextualização das questões que são
trazidas pelos alunos sobre o assunto que se está trabalhando.
Globalização, semelhança entre o sistema escolar de vários pa-
íses é presente nas teorias e discurso de muitos didatas. Cordeiro
entende que semelhanças se tornaram globais por conta das escolas
se destinarem às massas. Quando se fala em escola, algumas carac-
terísticas são bastante comuns em todo o mundo:
Esse conjunto de mecanismos, que passava (e ainda passa) pela
publicação de livros e revistas, organização de conferências e
encontros internacionais de educadores e administradores
públicos, intercâmbio e especialistas do mundo, acabou cons-
tituindo a imagem do que deveria ser pensado como os melho-
res meios de se entender a escolarização para o maior número
de pessoas em todos os países. Desse modo é que se podem en-
tender as profundas semelhanças entre os sistemas de ensino,
independente da melhor ou pior posição econômica ou políti-
ca do país considerado. Por exemplo, em todos os lugares acaba
se consolidando uma escola primária de quatro anos e depois
um ensino fundamental que abrange oito ou nove anos de es-
colaridade, destinados a crianças entre seis e catorze anos de
Capítulo 1 | 23Didática
Assim sendo, torna-se impossível pensar a atuação em sala de
aula de forma descontextualizada do local, da realidade dos alunos
que a frequentam, da situação econômica, do nível da violência
local, das crenças religiosas. Também é importante o acompanha-
mento das atividades escolares que o aluno recebe em casa.
Pedagogia implica, portanto em um estudo que busca o ideal na
formação humana, que demanda determinada reflexão para alcan-
çar tal objetivo, que vem ao encontro às necessidades, aspirações de
um contexto social. Assim a Didática estará apoiada na pedagogia
mais adequada para tal sociedade, considerando-se o desempenho
em sala de aula, por isso a Didática é uma parte da Pedagogia (Haydt,
2006). Cabe ao professor manter-se informado e atento para com-
preender as aspirações da comunidade, bem como detectar com
sensibilidade e sabedoria a condição mutante social e individual,
pois que o homem está constantemente em transformação.
Capítulo 2 | 24Didática
Neste capítulo pretendemos discutir um pouco mais sobre Didática e
sua possibilidade de construção/transformação e influência no cam-
po social. Na segunda parte serão abordadas teorias sobre educação,
seguindo um percurso histórico e de evolução do ensino e ideias no
que diz respeito às propostas pedagógicas. Como sistematização des-
sas transformações, filósofos, psicólogos, educadores serão citados
em articulação com as propostas alusivas aos seus ensinamentos.
2.1. A SOCIEDADE E SUA CARACTERÍSTICA MUTANTE
A concretização em sala de aula, considerando o processo de ensi-
nar e aprender, é uma situação que exige muito do professor, pois
esta prática pedagógica deve estar em sintonia com a realidade dos
alunos e ser coerente com o contexto social do qual fazem parte.
Geralmente o professor pode se sentir satisfeito ao sair de uma
determinada aula, avaliando que o desempenho tenha sido otimi-
zado, que tenha conseguido falar de forma interessante aos alunos,
mesmo que tenham ficado em silêncio, ou demonstrado de outra
forma seu contentamento com a aula. Mas pesquisas apontam que
os professores nunca estão completamente satisfeitos com seu tra-
balho em sala de aula. É um aspecto também comum ao cotidiano
de todos: os homens são irrequietos, procuram algo na vida e, quan-
do o encontram, passam a desejar outras coisas. Outras vezes, quan-
do conseguem algo que desejavam, sentem determinada frustração,
pois não era bem o que estavam pensando.
Uma aula implica em outra aula, e essa outra aula implicará em
todas as aulas do ano letivo (CORDEIRO, 2009). O ano letivo, depois
Capítulo 2 | 25Didática
• O tempo: Merleau-Ponty, Bergson, Husserl, apontam a com-
plexidade de o tempo ser compreendido de forma simples, as-
sim como o entendemos, mas, de qualquer forma, é consenso
os que comportamentos da Idade Média não eram os mesmos
do Renascimento; que o século XIX foi completamente di-
ferente do século XX; que hoje, no século XXI, vivemos uma
época na qual a informação é bastante complexa, levando-se
em conta, entre outras coisas, que as crianças podem acessar
facilmente qualquer assunto por meio do computador. Anos
atrás, era extremamente necessário o livro em sala de aula,
ou mesmo cópias de partes de livros e hoje, sentimos grande
satisfação dos alunos quando dizemos que podem encontrar
determinado texto na internet, no sítio www…
• Localização geográfica: a localização de determinada civili-
zação aponta para uma influência demasiadamente significa-
tiva no âmbito social. Clima regional implica em vestimenta
a ser utilizada, em comida a ser consumida. Pessoas que ha-
bitam regiões muito frias têm a tendência de ficar mais tem-
po em ambientes fechados, buscando aquecer-se do frio e nas
regiões quentes, acontece o contrário. Isto implicará em con-
sequências para a comunicação e, apesar de didática não se
referir somente à comunicação, sofrerá grandes impactos na
maneira de ser praticada socialmente.
• Condição econômica: iniciando pelo material a ser utilizado,
vemos que em algumas sociedades as condições físicas da es-
cola são extremamente carentes, em outras, materiais perma-
nentes podem ser renovados constantemente. Os indivíduos,
não se alimentando muito bem, terão um rendimento insatis-
de terminado, também não garante que os conteúdos serão signi-
ficativos na vida dos alunos ou para a sociedade. Assim, a didática,
a sala de aula, lida constantemente com ressignificação do que se
selecionará para ser ensinado, de que forma tal ensino será con-
duzido, a possibilidade ou não de retrabalhar o mesmo conteúdo.
A dimensão da globalidade da educação implica em destruir proce-
dimentos, transformando-os em outros procedimentos, o que ca-
racteriza uma mutabilidade constante.
A arte também tem tal pressuposto subjacente na sua forma de
se apresentar, de ser e de existir. É facilmente visível como os câno-
nes, os valores da arte foram modificados ao longo de toda a histó-
ria. No século XX, encontramos tendências artísticas que convive-
ram lado a lado, uma contemporaneidade que era difícil de admitir.
Vejamos: o Surrealismo, assim como representado por Salvador
Dali e um desenho clássico, com regras apoiadas em proporção de
perspectiva, em claro-escuro etc e Kandinsky, em época bastante
próxima, realiza uma pintura abstrata que escapa a tais modelos,
negando a representação de objetos do ambiente circundante, fun-
cionando por meio de manchas, combinações de cores e rabiscos
que estão afastados do modelo clássico em arte. Arte também refle-
te comportamentos, desejos, valores da sociedade e a sociedade é
que indicará possibilidades, demandas para a Educação. Ora, pos-
suindo a sociedade tal capacidade mutante, não existe como conse-
guir uma prática didática que não seja também sujeita à mudanças
em todos os seus aspectos.
Tentando enumerar alguns aspectos que causam a mutabili-
dade na sociedade e, consequentemente, na educação podem ser
apontados:
Capítulo 2 | 26Didática
será a música da qual estarão falando na escola, conteúdo que
poderia despertar maior interesse dos alunos na área. Mesmo
que o professor não utilize como conteúdo o tipo de música
que os alunos gostam e escutam, ela circulará entre esses, ao
falarem sobre tal assunto, trocarem novidades e escutarem-
nas durante o recreio.
Democracia significa governo eleito pelo povo, governo ou go-
vernantes que o povo deseja. Libâneo trata de uma educação para a
democracia. Sua concepção aponta para uma postura do professor
voltada para o atendimento das exigências intrínsecas ao econômi-
co, social, político de um determinado tempo e local.
Como já sabemos, os conteúdos e métodos da escola pública
devem corresponder às exigências econômicas, sociais e po-
líticas de cada época histórica, no que diz respeito à conquis-
ta de uma democracia efetiva para os grupos sociais majori-
tários da sociedade. Ao delimitar as tarefas da escola pública
democrática é necessário levarmos em conta as característi-
cas de sua clientela hoje, analisando criticamente a escola de
ontem e a escola de hoje, a quem serviu no passado e a quem
deve servir hoje.
A escola de décadas atrás serviu aos interesses das cama-
das dominantes da sociedade e para isso estabeleceu os seus
objetivos e conteúdos, métodos e sistema de organização de
ensino. Aos filhos dos ricos fornecia educação geral e forma-
ção intelectual, aos pobres, o ensino profissional visando o
trabalho manual. A escola para qual devemos lutar hoje visa
fatório, sendo difícil a predisposição à aprendizagem. Numa
sociedade economicamente estável, é possível uma educação
também estável. Onde impera grandes diferenças econômicas
entre as classes, será encontrada uma educação marcada por
essas (excelente educação para uns, educação precária para
outros). Professores poderão encontrar muitas dificuldades
por não disporem de condições de estudo em determinadas
regiões, considerando a condição econômica dessas.
• Política dominante: a classe política em domínio em deter-
minada sociedade pode influenciar no processo educacional,
por meio de ações que visam à perpetuação no poder. Pode,
também, pensar em igualdade social para todos, incentivan-
do e promovendo uma sociedade e educação fundamentadas
em justiça social. O modelo político vigente influencia os in-
divíduos, inclusive levando-os a buscar mudanças. Quando o
clima em uma sociedade é de conservação de poder, a escola
também será assim. Quando, pelo contrário, indicar desejo de
mudança, a escola será um dos locais estratégicos para tal re-
alização. É notável como, muitas vezes, movimentos estudan-
tis influenciam na ordem política de uma nação. A política
pode variar de nação para nação, bem como em uma mesma
nação, pois é um processo sempre em mudança.
• Valores sociais: valores implicam em relações afetivas, cog-
nitivas, necessárias, socialmente consolidadas em determi-
nado ambiente e tudo que possa contribuir para promover
tais relações. Os valores predominantes no âmbito social se-
rão, possivelmente, os mesmos encontrados na sala de aula.
Vejamos o exemplo da música: a música preferida dos alunos
Capítulo 2 | 27Didática
3) Assegurar o desenvolvimento das capacidades e habilidades
intelectuais, sobre a base dos conhecimentos científicos, que
formem o pensamento crítico e independente, permitam o
domínio de métodos e técnicas de trabalho intelectual, bem
como a aplicação prática dos conhecimentos na vida escolar
e na prática social.
O desenvolvimento de capacidades e habilidades cogniti-
vas é imprescindível para o domínio dos conhecimentos e es-
tes imprescindíveis para aquele. Por outro lado, a assimilação
ativa de conhecimentos e habilidades através do estudo inde-
pendente proporciona os meios para a aprendizagem perma-
nente, mesmo após concluída a formação escolar sistemática.
Isso quer dizer que o ensino não se reduz à transmissão de
conhecimentos na forma de transferência da cabeça do pro-
fessor para a do aluno e nem somente ao desenvolvimento e
exercitação das capacidades e habilidades. Ao invés de sepa-
rar essas duas coisas, trata-se de entender o ensino como um
processo no qual a transmissão pelo professor se combina
com a assimilação ativa pelos alunos, pois os conhecimentos
são a base material em torno dos quais de desenvolvem as ca-
pacidades e habilidades cognitivas.
4) Assegurar uma organização interna da escola em que os pro-
cessos de gestão e administração e os de participação de-
mocrática de todos os elementos envolvidos na vida escolar
estejam voltados para o atendimento da função básica da es-
cola, o ensino.
Os processos de gestão e administração da escola impli-
cam uma ação coordenada da direção, coordenação pedagó-
o desenvolvimento científico e cultural do povo, preparando
as crianças e os jovens para a vida, para o trabalho e para a ci-
dadania, através da educação geral, intelectual e profissional.
As tarefas da escola pública democrática são as seguintes:
1) Proporcionar a todas as crianças e jovens a escolarização básica
e gratuita de pelo menos oito anos, assegurando a todos as con-
dições dos conhecimentos sistematizados e a cada um o desen-
volvimento de suas capacidades física e intelectuais.
A democratização do ensino se sustenta nos princípios
de igualdade e da diversidade. Todos devem ter o direito do
acesso e permanência na escola e, ao mesmo tempo, o ensino
deve adequar-se às condições sociais de origem, às caracte-
rísticas sócio-culturais e individuais dos alunos, é de vida de
enfrentamento da realidade que as classes criam.
2) Assegurar a transmissão e assimilação dos conhecimentos e
habilidades que constituem as matérias de ensino.
A democratização do ensino supõe um sólido domínio
das matérias escolares, com especial destaque à leitura e à
escrita, com pré-formação do cidadão ativo e participante.
O ensino das matérias e o desenvolvimento das habilidades
intelectuais contribuem para estabelecer os vínculos entre
o indivíduo e a sociedade, e entre a sociedade e o indivíduo.
Amplia no indivíduo a compreensão de suas tarefas do mun-
do material e social e alarga os seus horizontes para perce-
ber-se como membro de uma coletividade mais ampla que é a
humanidade, para além da sua vivência individual e regional
nas comunidades rurais ou urbanas.
Capítulo 2 | 28Didática
nas cavernas por homens do período pré-histórico servirem como
recurso didático, pois setas são desenhadas sobre alguns animais
em áreas mortais. Algumas teorias preconizam tratar-se de uma
forma de ensinar onde atingir a caça. Na Antiguidade grega, porém,
consegue-se apontar com mais propriedade a formalização, o es-
tabelecimento de procedimentos que são classificados como tipo
passivo e receptivo, ou seja, memorizar algum conteúdo e devol-
vê-lo ao mestre como base do ensino, o que durou até o final do
século XIX. Os sofistas, que existiram na Grécia, antes e mesmo du-
rante a época de Sócrates, (séc. V a.C.) acreditavam nesse modelo de
educação prática, quando os objetivos da educação se destinavam
a ensinar a falar bem em público, formar cidadãos que defendiam
determinados valores éticos, utilizando de persuasão para sempre
vencer em uma argumentação, discussão, ainda que não tivessem
razão. Buscavam educar cidadãos e moldá-los de acordo com valo-
res considerados ideais.
Ao longo desse tópico, pode ser observado como a prática con-
temporânea ainda apresenta muitos pressupostos que possuem
suas origens em séculos anteriores, daí a importância de um olhar
mais cuidadoso em teorias da Pedagogia, da Didática advindas de
séculos anteriores.
Sócrates
Do legado de Platão e Sócrates (século V a.C.), é interessante obser-
var o princípio do diálogo, uma visão diferenciada, que desclassifica
as teorias dos sofistas (apesar de Sócrates ter sido sofista durante de-
gica e professores, cada um cumprindo suas responsabilida-
des no conjunto da ação escolar. Os processos de participação
democrática incluem não apenas o envolvimento coletivo na
tomada de decisões, como também os meios de articulação
da escola como órgãos da administração do sistema escolar e
com as famílias (LIBÂNEO, 1991, p. 44–45).
Outra questão a ser considerada é que, dependendo do autor, as
ideias sobre a Didática podem se apresentar de formas muito dife-
rentes. No presente texto, estudamos, entre outros, Libâneo e Cor-
deiro autores em que é possível detectar muitos aspectos conver-
gentes e divergentes. Podemos levar em conta, inclusive, que o livro
de um dos autores foi publicado em 1991 e outro em 2009.
Considerando o tema deste item, cabe ressaltar o caráter mutan-
te das ideias em educação. Qualquer livro hoje publicado amanhã
estará ultrapassado, ou seja, aquelas ideias eram adequadas em uma
época, em um determinado contexto.
2.2. PERCURSO HISTÓRICO EM EDUCAÇÃO:
TEORIAS E TEÓRICOS EM EDUCAÇÃO
Muitos pesquisadores, ao longo da história, pensaram a Educação,
a Pedagogia, a Didática, considerando a melhor forma de se efeti-
var a relação entre ensino e aprendizagem.
Processos e procedimentos educativos estão presentes na histó-
ria da humanidade e desde seus primórdios, já podem ser detecta-
dos seus indícios. Existe a possibilidade dos desenhos elaborados
Capítulo 2 | 29Didática
dos pensadores da época a terem seus pensamentos voltados para
os escritos teológicos. Tomás de Aquino (1225 – 1274) parece ter
despertado a humanidade do entorpecimento da fé que, de certa
forma, dominou a Idade Média, por meio de um discurso em que
pode ser notada a tentativa de explicar a existência de Deus pela
lógica racional. Sem desmerecer a fé em um ente superior, con-
seguiu um discurso híbrido entre razão e fé. Aquino, assim como
Abelardo e Alberto Magno, era um dos mestres da universidade,
termo que surge no período, quando os estudantes se juntavam
em torno de um mestre, cuja aula era ministrada em latim. Cer-
tos textos eram comentados pelos mestres e para que determinada
universidade funcionasse, era necessário um decreto papal. Com
suas reflexões, Tomás de Aquino contribui para o surgimento do
pensamento renascentista.
João Amos Comenius
Comenius (1592–1670) entendia e acreditava que o ser humano é
a obra mais perfeita criada por Deus e que o homem deve procu-
rar, acima de tudo, sua felicidade eterna. Apesar de concordar com
muitas das ideias medievais, devido a sua formação cristã, trouxe
importantes contribuições para a didática. Acreditava que os jovens
deveriam ser educados em conjunto, e para isso seria necessário
haver um lugar específico para seu encontro. Tal lugar seria a esco-
la. Segundo Haydt, Comenius escreveu o primeiro livro dedicado a
crianças, com aspecto bastante didático, intitulado O mundo das coi-
sas sensíveis ilustrado. Podemos observar o caráter inovador de suas
terminado período). Eles disseminam que o saber é conquistado por
duas pessoas pensando, falando, dialogando. Não acreditavam que
o saber era dado, mas concluído por cada indivíduo. O saber seria
uma revelação oriunda de um enorme interrogatório por meio de
uma inquirição, em que tal cumplicidade era mais apropriada à ci-
dade (polis), contrários à visão de um retorno à natureza, como acre-
ditado por uma quantidade enorme de filósofos, desde então até
nossos dias. No entanto, o enfoque principal das ideias platônicas
repousa sobre a política, já que esse considerava que os governantes
deveriam ser indivíduos pensantes e não guerreiros, como aconte-
cia em seu tempo. Sócrates falava sobre o discípulo saber que nada
sabia, para, então, partir para o processo denominado por ele mes-
mo de maiêutica. Ou seja, sabendo de seus erros, partia-se para uma
busca de compreender, por si mesmo, algumas noções de determi-
nado assunto, caminho trilhado pelo questionamento mencionado
anteriormente. Uma quantidade enorme de perguntas era efetuada,
levando o discípulo a respondê-las, aumentando sua complexidade.
Em seu tempo, Sócrates fazia enorme discurso em praça públi-
ca, falava com muita eloquência, e desta forma seus conhecimentos
eram transmitidos de forma verbal. Platão, discípulo de Sócrates, es-
creveu muitas coisas que o mestre falou, especialmente sob forma
de diálogos. Discursava sobre a consciência do erro, pois, conhecer o
erro é o melhor caminho para que se chegue a um aprendizado ideal.
Na Idade Média, a educação ficou muito relacionada à religião.
Agostinho, bispo católico (354 – 430), deixou muitos escritos te-
ológicos, influenciando essa época. Não é possível dizer que era
um educador, que pensava sobre a educação, mas seus escritos de
alguma forma são bastante perspicazes, conduzindo grande parte
Capítulo 2 | 30Didática
Heinrich Pestalozzi
Segundo Pestalozzi (1746 – 1827) o ambiente circundante é a princi-
pal causa de uma boa ou má formação do homem e a natureza era
a principal razão de sua existência. Buscá-la seria a melhor opção
para a formação desejada do ser humano. Aliás, Pestalozzi acredita-
va que todos nascem bons, mas o ambiente pode modificar o caráter
do homem, assim a educação seria a melhor opção para o aprimo-
ramento da humanidade e para a sociedade atingir o ideal em todos
os aspectos. Os homens poderiam/deveriam se conhecer e adquirir
conhecimentos que os tornariam criaturas harmoniosas, com suas
aptidões devidamente exploradas (HAYDT, 2006).
Assim como Comenius, Pestalozzi pregava uma educação de
massa, em busca de transformar a sociedade em uma sociedade jus-
ta. A reforma social era necessária e a educação seria o meio ideal
para conseguir tal intento.
Pestalozzi foi um dos primeiros adultos a observar que a criança
possuía um desenvolvimento, um mundo pessoal diferente do mun-
do do adulto, universo que precisava ser entendido e respeitado, ou
seja, que não podemos compreender a criança como um mini adulto,
a partir de características próprias da infância. Esse desenvolvimen-
to implicaria em etapas relacionadas com as capacidades motoras e
cognitivas e caberia ao adulto selecionar determinados procedimen-
tos em educação que favorecessem esse desenvolvimento.
Haydt assim descreve as características do método pestalozziano:
1) Apresentava o conhecimento começando pelos seus elementos
mais simples e concretos, de forma a estimular a compreensão.
ideias, considerado revolucionário para a época, quando também
propunha muitas inclusões nos estudos, como os fenômenos físi-
cos, o ensino de línguas etc. Comenius ao falar sobre jovens, incluía
também as mulheres, sendo pioneiro neste aspecto.
Publicou em 1632 uma obra intitulada Didática magna, na qual
pode ser encontrada grande parte do seu pensamento. Foi bastante
divulgada no continente europeu de então, considerada obra de re-
ferência na época. Segundo muitos autores (CORDEIRO, 2009, entre
outros) a Didática magna preconizava um ensino para todos, sendo
possível e desejável a adoção de um método único, auxiliando o tra-
balho do professor, universalizando o saber.
Propunha etapas na aprendizagem, em que o professor explicaria
inicialmente os princípios gerais, para posteriormente passar aos
detalhes. Depois do aluno ter compreendido o conteúdo de forma
geral, partiria então para detalhes do assunto. Comenius valoriza os
sentidos ao propor ver e tocar o objeto de estudo por demonstração
direta; sugere referir-se às causas ou origem do que se está estudan-
do e mostrar utilidade do que está sendo ensinado, enfatizando sua
aplicação diária (HAYDT, 2006).
É interessante compararmos as teorias de Comenius com o que se
observa hoje em sala de aula. Comenius apresenta, com bastante pro-
priedade, o pensamento científico lógico e racional, calcado na ob-
servação da natureza e na consideração dos fenômenos. Assim sendo,
pode ser estipulada uma familiaridade do pensamento de Comenius
como de outras figuras de sua época: Descartes, Galileu e Bacon.
Capítulo 2 | 31Didática
7) O objetivo do ensino não é a exposição dogmática e a memo-
rização mecânica, mas sim o desenvolvimento das capacida-
des intelectuais dos jovens.
8) A instrução escolar deve auxiliar o desenvolvimento orgânico
por meio da atividade, isto é, da ação tanto física quanto mental.
9) A aprendizagem escolar deve corresponder não apenas à aquisi-
ção de conhecimentos, mas principalmente ao desenvolvimento
ao desenvolvimento de habilidades e ao domínio de técnicas.
10) O método de instrução deve ter por base a observação ou per-
cepção sensorial (que Pestalozzi chamava de intuição) e co-
meçar pelos elementos mais simples.
11) O ensino deve seguir a ordem psicológica, ou seja, respeitar o
desenvolvimento infantil.
12) O professor deve dedicar a cada tópico do conteúdo o tempo
necessário para assegurar que o aluno o domine inteiramen-
te. (HAYDT, 2006, p. 18–19).
A autora destaca como os princípios de Pestalozzi são ainda atu-
ais, apesar de terem sido formulados no final do século XVIII e início
do século XIX. Pode ser notado, ainda, que determinados princípios
de Pestalozzi já se encontravam na Didática magna, de Comenius.
Assim sendo, é interessante a conclusão de que a evolução em Didá-
tica tem sempre uma herança de períodos anteriores.
Para Pestalozzi as crianças têm uma vontade e tendência natu-
ral para desenhar e uma aversão ao estudo das letras, afirmação que
reforça a necessidade da Arte na educação. Era contra os sermões,
conferências e lições de repetição (práticas muito comuns à épo-
ca). Defendia que para a criança interessava mais atividades práti-
2) Utilizava o processo de observação ou percepção pelos senti-
dos, denominado por ele de intuição.
3) Fixava o conhecimento por meio de uma série progressiva de
exercícios graduados, que se baseavam mais na observação
do que no mero estudo de palavras.
Portanto, a essência de seu método era a “lição de coisas”,
como era então chamado. Mas ele empregou a “lição de coisas”
de forma mais ampla, como base para o completo desenvolvi-
mento mental da criança, e não foi usada posteriormente, de
forma mais restrita, com o simples propósito de obter o conheci-
mento do objeto ou de apenas treinar capacidade de observação.
[…] o método de Pestalozzi trazia vários elementos ino-
vadores: o emprego do cálculo mental, o uso de técnicas si-
lábicas e fonéticas na linguagem, e o estudo da geografia e
das ciências feito em contato com o ambiente natural. Ou-
tro aspecto inovador do método pestalozziano foi o fato de
combinar as atividades intelectuais com o trabalho manual,
fazendo os dois caminharem juntos.
[…]
Os princípios educacionais formulados por Pestalozzi po-
dem ser assim resumidos:
4) A relação entre o mestre e o discípulo deve ter como base o
amor e o respeito mútuo.
5) O professor deve respeitar a individualidade do aluno.
6) A finalidade da instrução escolar deve basear-se no fim mais
elementar da educação, que é favorecer o desenvolvimento
físico, mental e moral do educando.
Capítulo 2 | 32Didática
Aspectos metodológicos:
• Usando seus 20 (vinte) jogos ou propostas, atividades com
blocos de madeira, argolas, palitos, esferas etc, as crianças de-
veriam manipular, elaborando composições.
• Os exercícios envolviam ladrilhos de mosaico, cartões para
bordar, recortes de papelões, entre outros e os trabalhos eram
elaborados sobre uma mesa com superfície quadriculada.
John Frederick Herbart
Herbart (1776–1841) denota em seus escritos uma preocupação im-
portante sobre o funcionamento da mente humana, e é considera-
do um dos primeiros estudiosos a investigar questões de psicologia
aliada à experimentação (psicologia experimental).
Segundo Cordeiro (2009), Herbart acreditava que o aluno deveria
adquirir uma determinada disciplina, para assim orientar-se e au-
tocontrolar-se, dominando sua vontade, com objetivo de tornar-se
senhor de seu caráter e de sua capacidade de juízo moral. As regras
do mundo adulto eram convocadas e é necessário que a criança seja
submissa a essa de forma intelectual, sábia e dessa postura moral,
juntaria ideias que formaria seu caráter. Após tais pressupostos, a
educação aconteceria com a criança seguindo os estímulos e o de-
senvolvimento dos interesses (sociais e singulares).
Herbart prega um determinado ciclo sucessivo, caracterizado
como conhecimento-ideias-caráter. Mas destacava o livre-arbítrio,
quando enfatizava que era o aluno quem deveria conseguir desen-
cas, trabalhos manuais. A observação direta e concreta das coisas no
ambiente e na natureza era um pressuposto constante em sua obra e
a escrita deveria acontecer junto com essa ação de observar formas.
Interessante ressaltar que Pestalozzi era eloquente ao falar sobre
o potencial espiritual intrínseco a cada pessoa (período romântico
de Goethe e Schiller) e exerceu grande influência sobre outros edu-
cadores mais novos, que eram seus discípulos ou seguidores de suas
teorias, dentre os quais podemos destacar Fröbel e Herbart.
Friedrich Fröbel
Fröbel (1782–1852) foi discípulo de Pestalozzi, com quem trabalhou
durante cinco anos. Suas teorias vão ao encontro da arte, conforme
pode ser lido nos tópicos descritos abaixo:
Pressupostos preconizados por Fröbel sobre a Arte na Educação:
• Fröbel criou seu método, conhecido como Jogos de Crianças
(Child’s Play), em 1840, na Alemanha.
• Dizia que “a natureza é como um enorme design elaborado
por uma força superior”, afirmação que causou grande impac-
to em sua época;
• A criança deve jogar, manipular com formas, por meio do dese-
nho ou de objetos tridimensionais e é um ser que investiga, apre-
cia, reconhece a harmonia natural das formas, cores, ritmos, da
natureza (plantas, figura humana, conchas, animais etc).
• Inclui também estudo visual de formas geométricas das cons-
truções arquitetônicas, aulas de canto e de dança.
Capítulo 2 | 33Didática
Refletindo sobre os passos propostos por Herbart no século XIX,
pode ser constatado como muitos professores ainda os utilizam em
sala de aula. Por isso, como afirmado anteriormente, convém relem-
brar a importância de conhecer os fundamentos históricos e teóricos
da Didática, pois o professor torna-se consciente de sua prática, detec-
tando influências de séculos anteriores, em sua ação contemporânea.
Émile-Auguste Chartier
Chartier (1868–1951) também é reconhecido pelo pseudônimo de
Alain, adotado por ele mesmo. Seu principal embate foi travado com
os defensores da Escola Nova (ou renovada), já que preconizava que
as grandes obras da humanidade, os grandes autores deveriam ser
trazidos para o ambiente escolar, sala de aula, pois o maior desejo
interior das crianças é tornarem-se adultos, fazerem parte do mun-
do do adulto. Dessa forma, combate com veemência as ideias pro-
gressistas dos teóricos que preconizavam na Escola Nova o princí-
pio de conservar a criança em uma espécie de redoma, em que essa
era concebida como autônoma, em um mundo infantil perfeito.
Chartier pensava em promover a igualdade social, mas rechaçando
a tendência escolanovista de acreditar nas aptidões naturais intrín-
secas ao ser humano, pois acreditava em exercícios de repetição
constante dos modelos mais significativos em educação, já que os
alunos possuíam uma hereditariedade natural.
O escolanovismo estabelecia uma ligação importante do ato de
brincar, dos brinquedos com a educação. Tal procedimento também
foi negado por Chartier, pois, contrário a tal ideia, entendia que era
volver um interesse importante pelas matérias em estudo. A tal pro-
cesso, Herbart chamou de ‘teoria do interesse’. As influências exter-
nas são de importância capital no que chama de combinações que
acontecem na mente do indivíduo, segundo Haydt (2006, p. 20), fica
claro que “a característica fundamental do ser humano é o seu poder
de assimilação. A teoria de Herbart gravita assim em torno da noção
de função assimiladora, que ele denominou de percepção”.
Semelhante a Pestalozzi, o autor propõe cinco passos formais
que definem seu método didático, altamente baseado na estrutu-
ração lógica dos conteúdos escolares para serem desenvolvidos ao
longo de uma aula.
Eis os cinco passos formais de Herbart, segundo Cordeiro:
1) Preparação: consiste numa recordação do que foi visto na aula
anterior, o que às vezes se faz mediante a correção dos exercí-
cios que haviam sido determinados para serem feitos em casa.
2) Apresentação: o professor expõe o conteúdo novo a ser
aprendido naquele dia.
3) Comparação ou assimilação: são procuradas e apontadas
diversas situações em que se podem aplicar os conhecimen-
tos recentemente apresentados. Trabalha-se aqui com os
exemplos.
4) Generalização: com base nos exemplos anteriores, chega-se
ao estabelecimento de padrões, de regularidades ou de leis
gerais que permitem a aplicação do conteúdo assimilado em
qualquer circunstância em que ele seja adequado.
5) Aplicação: é a fase dos exercícios, a serem desenvolvidos em
classe ou em casa (CORDEIRO, 2009, p. 167–168).
Capítulo 2 | 34Didática
de estudo. O espontaneísmo deve ser proporcionado à criança, no
sentido dela mesma desvendar seus interesses pessoais, tentando
vencer obstáculos que possam surgir no contexto da aprendizagem,
por isso declara-se contrário aos ideais de Herbart na educação.
As ideias propostas por Dewey incidem sobre a ação, por ser um
fator inerente ao pensamento humano. Entende que a ação precede o
ato mental, o conhecimento. Experiência e vida prática são dois ter-
mos comumente encontrados nas obras do autor e trabalho em grupo
e cooperação também devem servir de direcionamento e objetivo no
processo de aprendizagem. Dessa forma, a humanidade é essencial-
mente social, agindo, aprendendo de forma grupal. Coisas necessá-
rias e importantes que acontecem e estão presentes no cotidiano de-
vem também estar na educação, em que todo trabalho funciona com
mais propriedade se realizado em cooperação entre os alunos.
Sobre o autor, Cordeiro assim expressa:
Trata-se de uma pedagogia profundamente comprometida
com a prática social e com o oferecimento de oportunidades
iguais para os indivíduos, base para a construção e continui-
dade de uma sociedade democrática.
Em termos didáticos, as experiências de ensino funda-
mentadas nas proposições de Dewey procuraram romper
com a ordenação clássica dos conteúdos. Na medida em que
a educação deve partir dos interesses verdadeiros das crian-
ças, torna-se necessário romper ou pelo menos atenuar as
barreiras entre as disciplinas e propor o ensino por projetos
ou temas mais amplos, em que se propicie uma reconstrução
ativa da experiência.
nítida a separação entre mundo infantil e mundo do adulto. Seria
parte da natureza humana sair da condição de criança para a con-
dição de adulto, e a escola seria um local onde tal passagem deveria
ser considerada e trabalhada com competência pelos adultos.
A escola funcionaria como um local que forneceria modelos
de perfeição humana para as crianças seguirem, o que implica em
exaustão de reprodução de modelos e imitação das grandes obras
da humanidade. Por serem perfeitas, determinadas obras da hu-
manidade são modelos a serem seguidos e o professor deverá ser
um indivíduo bastante instruído, para que consiga dar conta deste
método, como um guia, uma espécie de monitor (CORDEIRO, 2009).
Como consequência, Chartier foi classificado por outros teóricos
como conservador, relacionado ao ensino tradicional.
John Dewey
Quando lecionou na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos,
Dewey (1859 –1952), doutor em Filosofia, propôs que o os Departa-
mentos de Filosofia, Psicologia e Pedagogia fossem reunidos em um
só. Tal proposta já indica sua erudição, bem como seu entendimento
da necessidade de intercâmbio entre diferentes áreas e saberes. Nos
Estados Unidos, Dewey é reconhecido como um grande educador, e
suas propostas são relevantes também em muitos outros países do
mundo. Experiência e atividade são as bases de suas teorias. A ex-
periência humana, vivida pela criança deve ser ressignificada, com-
preendendo e apregoando uma determinada liberdade, por meio
da qual a criança encontra seu verdadeiro interesse pelos objetos
Capítulo 2 | 35Didática
baseadas nos ensinamentos de Dewey e muitos intelectuais bra-
sileiros, que estudaram nos Estados Unidos, trouxeram tais ideias
inovadoras no século XX para o Brasil. Dentre esses, Cordeiro men-
ciona Anísio Teixeira, que implementou alguns de seus conceitos
na educação formal no Brasil.
Maria Montessori
Montessori (1870–1951) dedicou muito tempo de sua vida ao estu-
do de crianças com dificuldades de aprendizagem. Como grande
observadora, passou a criar uma série de teorias alusivas ao modo
como as crianças aprendem. Assim como muitos estudiosos em
Educação, adaptou suas teorias para as crianças sem dificuldades de
aprendizagem (em sua época chamadas normais).
A questão fundamental no pensamento de Montessori sobre
a criança é que ela possui um mundo muito diferente do mundo
do adulto. Propõe que todo o ambiente escolar deve ser adaptado à
criança, levando-se em conta suas especificidades e chega a preco-
nizar que o mobiliário deve ser também adaptado ao tamanho da
criança, ou seja, menor que o do adulto.
Como era médica, possuía, antes de tudo, uma preocupação im-
portante no que diz respeito aos cuidados com a higiene e a saúde
e tais hábitos deveriam ser aprendidos desde cedo pelas crianças.
A vida em sociedade também fazia parte de seus ensinamentos.
Suas propostas pedagógicas levam em consideração a vida em so-
ciedade, como condição fundamental para todos e cada um, como
membro de determinada comunidade.
O modo de estruturar o ensino, de acordo com Dewey, a
exemplo do proposto por Herbart, também corresponde a
cinco passos:
1) Atividade: o ponto de partida é sempre uma atividade espon-
tânea em que a criança seja envolvida, com base nos seus pró-
prios interesses. Nesse sentido, o papel do professor é o de
interferir no ambiente de ensino de tal maneira a propiciar a
emergência dessas atividades.
2) Problema: durante o desenvolvimento da atividade, surge
um obstáculo, uma dificuldade que a criança sozinha ou em
grupo não consegue resolver. Trata-se, nesse ponto, de for-
mular o problema como uma questão a ser investigada.
3) Dados: nessa etapa, a criança, preferencialmente em equipes, vai
em busca das informações que possam dar conta de ajudar a res-
ponder a questão proposta anteriormente. Cabe aqui, ao profes-
sor, auxiliar as crianças, sugerindo possíveis fontes dessas infor-
mações, sejam elas escritas, orais ou de qualquer outra espécie.
4) Hipótese: a partir do recolhimento dos dados, as crianças
chegarão à formulação de hipóteses que representam tenta-
tivas de resposta ao problema inicial.
5) Experimentação: por fim, o processo se completa com o tes-
te das hipóteses, o qual deve produzir uma resposta adequada
(CORDEIRO, 2009, p. 173–174).
As ideias de Dewey influenciaram o ensino de Arte e outras áreas
em todos os níveis, inclusive no Ensino Superior. Autores brasilei-
ros da área de Arte mencionam em suas publicações experiências
Capítulo 2 | 36Didática
c) Vitalidade: Considera a vida e seu pleno desenvolvimen-
to como um bem supremo. Assim sendo, concebe a infância
como uma etapa natural nesse processo de desenvolvimento e
lhe atribui um sentido próprio. A infância não é uma fase ne-
gativa que deve acabar logo, mas um período necessário, que
deve ser plenamente vivido.
d) Individualidade: A educação deve respeitar as diferenças in-
dividuais e a liberdade deve permitir o desenvolvimento da
personalidade e do caráter individual (HAYDT, 2006, p. 165).
Vários materiais pedagógicos foram criados pela estudiosa para
serem utilizados na escola. Os alunos, no início da aula, seriam dei-
xados à vontade para buscarem determinados jogos, brinquedos,
materiais que eram relacionados ao exercício para a vida cotidiana:
material sensorial, material de linguagem, material de matemática
e material de ciências. Eles implicavam em determinadas habilida-
des e as crianças faziam uma espécie de rodízio até terem lidado
com todos eles. Esses materiais estavam relacionados aos conceitos
também alusivos às dimensão, cor, quantidade, proporções, letras
etc. e deveriam estar presentes em sala de aula, onde os alunos pu-
dessem manipulá-los com liberdade de escolha.
Dentre os materiais propostos, existe um denominado material
dourado, relacionado com matemática, que orienta o aluno no domí-
nio do sistema decimal e de outras características da aritmética. Tal
material é o mais difundido, conhecido no mundo inteiro, utilizado
mesmo em instituições que não adotam o método montessoriano.
Assim como na proposta da Escola Nova, a criança empenha-se em
todas as atividades escolares. O professor, sempre presente, desem-
penha importante função de auxiliar as crianças em suas dúvidas, ne-
cessidades e outras questões alusivas ao processo de aprendizagem.
O método proposto por Montessori é difundido com mais frequ-
ência no Brasil na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Haydt assim enumera os princípios básicos funda-
mentais de Montessori:
a) Liberdade: Se a vida é desenvolvimento, a educação deve fa-
vorecer esse desenvolvimento, deixando a criança à vontade
para crescer e desenvolver-se. A liberdade é concebida como
condição de expansão da vida. Em decorrência desse princí-
pio, o sistema de ensino montessoriano começa por transfor-
mar o ambiente escolar, substituindo as carteiras fixas por me-
sinhas e cadeiras, abolindo os prêmios e castigos. Mas Maria
Montessori lembra que a liberdade não significa abandono,
nem laissez-faire, total. […] A liberdade é entendida como de-
senvolvimento das manifestações espontâneas da criança e,
nesse sentido, se identifica com atividade.
b) Atividade: A atividade é uma manifestação espontânea e deve
ser respeitada. Por atividade, Montessori entende, não apenas
a atividade física, mas também, e principalmente, a atividade
mental, reflexiva. O objetivo básico do processo didático mon-
tessoriano é educar para a atividade e para o trabalho, não para
a imobilidade, a passividade ou a obediência cega. A aprendi-
zagem é concebida, portanto, como um processo ativo.
Capítulo 2 | 37Didática
3) Expressão: por fim, os resultados de cada aprendizagem aca-
bam resultando em produtos desenvolvidos pelas crianças,
por diversos meios.
a) Expressão concreta: desenho livre, trabalhos manuais, por
exemplo.
b) Expressão abstrata: texto livre, linguagem matemática, lin-
guagem musical, etc.
Convém considerar que Decroly exerceu grande influência no
Brasil, assim como em toda a América Latina. Criticado como um
método que se aproxima do ensino tradicional, Decroly não negou
tal observação, mas considera-se que o que propunha era uma ten-
tativa de conciliar um ensino que valorizava a espontaneidade das
crianças, mas as conciliava com os conteúdos clássicos.
Freinet
Célestin Freinet (1896–1966) via na educação a possibilidade de trans-
formar a sociedade, um poderoso instrumento que poderia provocar
uma mudança social, assim como sobre o espírito comunitário e de
solidariedade. Freinet propõe procedimentos, técnicas que incluem
desenho livre, aulas-passeio, texto livre, imprensa escolar, corres-
pondência escolar. Tais técnicas seriam desenvolvidas visando ao
desenvolvimento dos conteúdos das disciplinas escolares.
Dentre os autores, é o que coloca mais enfatiza a vida social, a
vida comunitária, pois entende que o homem é essencialmente so-
cial, nascido para viver em comunidade. Todas as etapas na apren-
Decroly
Ovide Decroly (1871–1932) teve formação em medicina e era especia-
lizado em neurologia. Assim como Montessori, estudou primeira-
mente crianças consideradas anormais à época, para posteriormen-
te estender suas pesquisas para indivíduos ditos normais, fundando
sua escola em 1907. Seu enfoque também incidia sobre os interesses
do aluno, com fundamentos psicológicos e sociológicos, sempre in-
duzindo o aprendiz a autoavaliação.
Preconizava a existência de centros de interesse na educação que
seriam determinados pelos próprios alunos, e posteriormente se-
riam a base para gerar o currículo escolar.
Sobre Decroly, destaca Cordeiro (2009, p. 177):
Para Decroly, a criança apreende o mundo com base num tipo
de atenção que se dirige, primeiramente, para o conjunto das
coisas ou fenômenos, e não para os detalhes, tendo o seu mé-
todo recebido o nome de método global ou globalização.
No desenvolvimento dos centros de interesse, cada ativi-
dade deveria se desdobrar em três momentos sucessivos:
1) Observação: o ponto de partida das atividades deve ser consi-
derada como uma atitude permanente exercida pelas crianças.
2) Associação: com base nos resultados de observação, esta-
belecem-se comparações para verificar semelhanças e dife-
renças entre situações próximas ou distantes, no tempo ou
no espaço.
Capítulo 2 | 38Didática
Decidir sobre estudar ou não, é uma questão proposta para o alu-
no resolver, pois o fundamento, objetivo principal em Summerhill
é o de conceder a liberdade. O conhecimento é um complemento da
liberdade que é dada ao indivíduo e o indicador principal do ren-
dimento do ensino é a felicidade. A avaliação é compreendida pelo
grau de contentamento que o aluno conseguiu na escola. Os postos
de trabalho que se conseguiria futuramente, ou o dinheiro que se
ganharia não é objetivo proposto por Neill, como acontece em ou-
tras propostas educacionais.
Cordeiro assim escreve sobre a Summerhill School:
Embora criticada por muitos e periodicamente ameaçada de
ser fechada pelo governo britânico, Summerhill School conti-
nua sendo uma referência importante, e tanto os seus alunos
quanto aqueles que passaram por ela sempre emitem opini-
ões muito favoráveis sobre a formação ali proporcionada.
A escola continua funcionando até hoje, sob a direção da
filha de Neill. E continua inspirando muitas iniciativas se-
melhantes, até mesmo no Brasil, onde recentemente, em São
Paulo, inaugurou-se a escola Lumiar (CORDEIRO, 2009, p. 182).
Paulo Freire
Paulo Freire (1921–1997) é ligado ao movimento de renovação da
Igreja Católica, tendo sido inicialmente professor de Português. É o
educador brasileiro mais conhecido no exterior e no Brasil. A ques-
tão básica dos ensinamentos desse pernambucano é a divisão mais
dizagem deveriam priorizar a vida em sociedade. A avaliação, inclu-
sive, deveria ser feita em conjunto, contando com a participação de
todos os alunos e do professor. Freinet criou uma verdadeira rede de
escolas na França, e adeptos em muitos outros países, que seguem
seus pensamentos educacionais (CORDEIRO, 2009).
O pensamento de Freinet é muito elogiado, apoiado pelos profes-
sores devido ao fato de levar em conta a prática em sala de aula, por
meio de observações e aplicações práticas, fugindo de teorias que
muitas vezes não se adaptam à realidade vivida pelos alunos.
Neill
Alexander Sutherland Neill (1883–1973) idealizou a famosa escola de
Summerhill, na Inglaterra, instituição que serviu de exemplo para o
mundo inteiro durante o século XX. Seus princípios baseiam-se na li-
berdade dos alunos. O livre arbítrio deve ser concedido ao ser huma-
no desde cedo, deixando-o determinar, buscar seus interesses pesso-
as, de maneira não diretiva. Sua proposta chega a ser considerada por
muitos como radical. O aluno não é obrigado a frequentar as aulas, e
muitas decisões no âmbito escolar são decididas em assembleia, em
que as falas e votos de alunos e professores têm o mesmo peso.
Neill entendia a família e a sociedade como instituições muito re-
pressivas, capazes de oprimir o indivíduo de forma, às vezes, cruel.
Assim sendo, o aluno frequentava a escola em regime de internato,
só visitando a família durante as férias. A sociedade é compreendida
como grande repressora da liberdade do indivíduo, e a educação po-
deria ser a instância em que tal liberdade seria concedida sem limites.
Capítulo 2 | 39Didática
social e cultural vivida pelos educandos. A classe é transfor-
mada no chamado círculo de cultura, em que, por meio de de-
bates coordenados por um monitor, os educandos podem se
apropriar da sua cultura, elevar seu nível de compreensão da
realidade e, ao mesmo tempo, adquirir um poderoso instru-
mento intelectual e político representado pelo letramento.
O objetivo de todo esse trabalho é cooperar no processo de
conscientização e de libertação dos oprimidos, no sentido de
instauração de condições para a construção coletiva e autô-
noma de uma sociedade nova, em que não haja dominantes
nem dominados.
As idéias, propostas e realizações de Paulo Freire ganha-
ram adesão de inúmeros educadores engajados em processos
de transformação da sociedade contemporânea. Embora pen-
sados inicialmente em relação à educação de adultos, diversos
princípios freireanos acabaram sendo incorporados também
na educação de crianças e jovens, principalmente aqueles li-
gados ao respeito ao universo cultural, ao saber e à autonomia
dos educandos, bem como à necessidade de instauração de re-
lações pedagógicas não autoritárias (CORDEIRO, 2009, p. 183).
Snyders
George Snyders (1917) é um grande estudioso, tendo revisto profunda-
mente os conceitos, pressupostos, fundamentos tendências de todas
as vertentes educacionais do século XX. Retirou momentos signifi-
cativos tanto na Pedagogia Tradicional quanto na Pedagogia Nova e
justa da economia, de forma que todos tivessem acesso à alimenta-
ção, saúde, educação etc. Enfim, volta-se para os mais pobres, em
busca da solidariedade social.
No início dos anos 1960, inaugura um método de alfabetiza-
ção de adultos experimentado inicialmente em Recife, onde
se tornara professor da Universidade Federal de Pernambu-
co. Em 1962, em Angicos, Rio Grande do Norte, a pedido do
governo estadual, coordenou um grupo de jovens monitores
que conseguiu sucesso na alfabetização de 300 trabalhadores
rurais em 45 dias.
Essa experiência teve grande repercussão internacional
e atraiu a atenção do governo federal, o qual iniciou os pre-
parativos para uma grande campanha nacional de alfabetiza-
ção que pretendia praticamente erradicar o analfabetismo no
país no ano de 1964.
Com o golpe militar, o movimento foi interrompido. Freire
foi preso e depois exilado, tendo vivido 14 anos no Chile e, mais
tarde, algum tempo em outros países, tendo trabalhado em di-
versos programas de alfabetização na América Latina e na Áfri-
ca, bem como lecionado em universidades nos Estados Unidos.
Retornando ao Brasil depois da anistia, Paulo Freire re-
toma suas atividades junto ao meio universitário e político,
bem como junto aos movimentos populares de alfabetização.
Chegou a ser Secretário Municipal de Educação de São Paulo
entre 1989 e 1991.
Para Freire, a alfabetização é um processo de aquisição
de consciência e deve ter como ponto de partida a realidade
Capítulo 2 | 40Didática
considerou também as pedagogias não diretivas, como as propostas
por Neill e Rogers, considerando-as muito individualistas e elitistas.
Hoje, fala sobre o resgate do prazer de aprender, que o aluno deve
almejar ser feliz, estar satisfeito com os estudos, sendo assim possí-
vel realizar algo de interessante durante o processo de aprendizagem.
Nesse sentido, vai buscar de novo, na escola tradicional, a
idéia do valor das obras primas, dos grandes modelos cultu-
rais e das obras de arte, em particular, da música, como fontes
de prazer e alegria que podem alterar o homem, tanto indivi-
dual quanto coletivamente (CORDEIRO, 2009, p. 185).
Foi influenciado por Gramsci (pensador italiano) e, assim como
Paulo Freire, mostra em seus escritos uma grande preocupação com
interesses que venham ao encontro das expectativas das classes
mais humildes. Considera a educação muito relacionada com a bur-
guesia, e seu trabalho foi orientado no sentido de uma revolução
socialista (especialmente antes da crise do marxismo e do socialis-
mo na Europa).
Capítulo 3 | 41Didática
O termo atores, aqui utilizado, traz um sentido de atuação, indiví-
duos envolvidos que fazem o processo educacional acontecer na so-
ciedade, na instituição em que atuam, no meio onde vivem. Muitos
outros poderiam ser citados, como os pais dos alunos, os teóricos
em educação ou outras áreas, mas vamos suportar o recorte propos-
to, refletindo sobre quem são tais personagens e quais são os inter-
venientes de seu fazer na educação.
É significativo contemplar que tais profissionais atuam no sen-
tido de troca, de aprendizagem mútua, que não existiriam se não
fosse a existência de todos eles. Ou seja: professor não existe sem
aluno, aluno da Arte não existiria se artista não existisse, peda-
gogo não seria necessário se não existisse a escola, a relação do
professor com aluno.
3.1. PROFESSOR
Talvez remontando à origem antológica da civilização seja possível
traçar determinados perfis interessantes e, que de alguma forma, fa-
zem sentido ainda em nos dias atuais. Na pré-história, existe a ima-
gem do homem caçando enormes mamíferos para alimentar várias
pessoas. A caçada, talvez durasse algumas semanas, vários dias, e os
homens provavelmente estavam constantemente ausentes do gru-
po, vigiando o território de inimigos (outros homens), predadores,
garantindo o domínio do território, entre outros objetivos. As mu-
lheres poderiam estar mais à serviço de olhar as crianças ou outros
afazeres que dizem respeito à permanência no local de habitação
(apesar da característica nômade de tal período).
Capítulo 3 | 42Didática
A responsabilidade, as consequências advindas da didática, do
ato de ensinar devem ser constantemente repensadas, trabalhadas
pelo professor. Tecnicamente, cognitivamente, um professor sem
profundidade no conteúdo que ministra é inadmissível no âmbito
escolar, mas aquele que não transmite ao aprendiz o desejo de vida,
a curiosidade de saber e a felicidade de existir, tampouco contribui-
rá para a sociedade, para a vida.
Detetive, pesquisador, estudioso, curioso podem ser apontadas
como características de um professor, pois que se faz necessário
descobrir, detectar, procurar aprender o quê e o como fazer com
aquelas pessoas aprendam e gostem de aprender naquele lugar es-
pecífico: a escola. E não existem receitas a serem seguidas, como se
acreditava em séculos passados, parecendo também não ser possí-
vel um consenso sobre a melhor forma de ensinar.
Sala de aula, dessa forma, se apresenta como o lugar da dúvida, da
pergunta constante, conduzindo o professor a uma constante insa-
tisfação com o trabalho que realiza. Bem… é possível sair de uma aula
considerando ter desenvolvido um bom trabalho, contando com óti-
ma participação da turma, mas parece impossível manter tais níveis
de satisfação, pois como não somos máquinas, estamos sujeitos às
variações enormes de humor, boa vontade etc. Assim como o artis-
ta, que sabe que realiza uma obra importante, mas está sempre em
mudança, buscando uma forma mais significativa de expressão, pro-
curando investigar seu fazer, seu conhecimento sobre como fazer,
tendo certeza que seu trabalho será avaliado por quem dele usufrui,
sendo que tal retorno pode ser positivo ou negativo, é o professor.
Como vimos anteriormente, o conceito de Educação é amplo,
pois que envolve a formação de qualidades humanas físicas, mo-
Algumas dessas comunidades possuíam, por exemplo, uma agri-
cultura ainda em seus primórdios, razão pela qual historiadores
consideram que as mulheres teriam inventado (ou descoberto?) a
agricultura, as formas de preservação do fogo, as vestimentas, a me-
dicina e a educação. Existem mesmo fortes razões para defender a
hipótese de que educação se iniciou com a mulher, pois a ligação
com a criança é muito visceral, considerando a gravidez, a amamen-
tação, a leveza característica das mulheres, o espírito de dedicação
que é peculiar ao feminino. Mas não podemos desconsiderar que os
meninos também aprendiam a caçar com os seus pais, assim a figu-
ra masculina não está totalmente desvinculada da educação.
Especialmente em séries iniciais, a mulher ainda ocupa espaço
muito maior que o homem, assim como determinadas profissões
são ocupadas por homens. Mas o panorama está mudando muito
rapidamente graças ao movimento feminista do século XX e tam-
bém pela luta em reconhecer e posicionar a docência como uma
profissão que deve ser valorizada. Ser professor não é um talento
nato da mulher, mas uma área de atuação profissional para a qual
se necessita formação específica. Hoje, por exemplo, existem pro-
fessores atuando na Educação Infantil e nas séries iniciais, fenô-
meno ou característica rara tempos atrás, pelo menos nos muni-
cípios do estado do Espírito Santo, assim como as mulheres têm
ocupado profissões antes reservadas somente aos homens (como a
de policial, por exemplo).
Professor é uma profissão que se assemelha a qualquer outra,
mas que, no entanto, é responsável por todas as outras e ainda res-
ponsável pela formação geral do sujeito, o que abrange valores, as-
pectos psicológicos, sociais, afetivos entre outros.
Capítulo 3 | 43Didática
Se educar é levar a conhecer, poderíamos nos perguntar como
o homem constrói seu conhecimento, daí voltar-nos a capacida-
de que possuímos de atribuir significados as coisas, em outros
termos, nossa capacidade de simbolizar. Para tanto, não pode-
mos negar a importância do professor neste processo que, muito
mais do que transmitir informações, se preocupa em estabelecer
o diálogo, a troca e estimular que o aluno levante questões e pro-
cure respondê-las. Procura despertar a curiosidade e considerar o
aluno com suas possibilidades de pensar, de sentir, de perceber,
de intuir, na tentativa de maximizar o desenvolvimento de seu
potencial criativo individual e motivá-lo a ter uma ação transfor-
madora sobre a realidade, configurando-o de fato como sujeito
do conhecimento.
Libâneo, em outros termos, provavelmente considere esses mes-
mos aspectos em relação ao professor:
O trabalho docente, entendido como atividade pedagógica do
professor, busca os seguintes objetivos primordiais:
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro
possível dos conhecimentos científicos;
• Criar as condições e os meios para que os alunos desenvol-
vam capacidades e habilidades intelectuais de modo que do-
minem métodos de estudo e de trabalho intelectual visando a
sua autonomia no processo de aprendizagem e independên-
cia de pensamento;
• Orientar as tarefas de ensino para objetivos educativos de for-
mação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolherem
rais, intelectuais, estéticas e uma personalidade social que implica
numa concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir que se
traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios
de ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Percebe-
ram a responsabilidade de ser professor?
Se nosso foco estiver centrado na instrução, podemos nos con-
tentar com a formação intelectual, com as capacidades cognosciti-
vas diante do domínio de certo nível de informações sistematiza-
das. Mas será suficiente para a formação do sujeito?
Ao considerarmos a velocidade da produção de novos conheci-
mentos e o desenvolvimento das tecnologias que armazenam as in-
formações, não há mais a necessidade de guardarmos grandes quan-
tidades de informações em nossas memórias se facilmente podemos
acessá-las por meios, cada vez mais, disponíveis e acessíveis. Muito
mais importante é saber o que fazer com tais informações. Diante
dos desafios que a vida nos coloca, muitas vezes as respostas não es-
tão dadas e será necessário criar respostas, mas não se cria sem base,
sem conhecimento. Dessa forma é importante agir com imaginação
criadora sobre o que existe para propor o que ainda não existe.
O professor criativo no dia a dia de sala de aula pode ser sensível
aos problemas, vivenciar processos de ideação e ter atitudes cria-
tivas na construção de métodos que atendam às expectativas de
aprendizagem. Essa ação criadora pode gerar mudanças, a produção
de novos conhecimentos, sem o medo de correr riscos. O fazer pe-
dagógico criativo significa a aplicação prática no âmbito pessoal e
social, a aplicação do processo criativo, de habilidades e destrezas,
no domínio de estratégias e técnicas, no manejo de clima criativo e
dos hábitos de intervenção.
Capítulo 3 | 44Didática
do seu trabalho, do papel da escolarização no processo de de-
mocratização da sociedade, do caráter político-ideológico de
toda educação, bem como das qualidades orais da personali-
dade para a tarefa de educar. Para além, pois, dos requisitos
profissionais específicos é preciso uma formação teórica e
política que resulte em convicções profundas sobre a socie-
dade e as tarefas da educação. […]. No seu trabalho cotidiano
como profissional e como cidadão, o professor precisa per-
manentemente desenvolver a capacidade de avaliar os fatos,
os acontecimentos, os conteúdos da matéria de um modo
mais abrangente, mais globalizante. Trata-se de um exercí-
cio de pensamento constante para descobrir as relações so-
ciais reais que estão por detrás dos fatos, dos textos dos livros
didáticos, dos discursos, das formas de exercício de poder.
É preciso desenvolver o hábito de desconfiar das aparên-
cias, desconfiar da normalidade das coisas, porque os fatos,
os acontecimentos, a vida dia dia-a-dia estão carregados de
significados sociais que não são ‘normais’; neles estão impli-
cados interesses sociais diversos e muitas vezes antagônicos
dos grupos e classes sociais.
A didática, assim, oferece uma contribuição indispensá-
vel à formação dos professores, sintetizando no seu conteúdo
a contribuição dos conhecimentos de outras disciplinas que
convergem para o esclarecimento dos fatores condicionantes
do processo de instrução e ensino, intimamente vinculado
com a educação e, ao mesmo tempo, provendo os conheci-
mentos específicos necessários para o exercício das tarefas
docentes (LIBÂNEO, 1991, p. 74).
um caminho na vida, e terem atitudes e convicções que nor-
teiem suas opções diante dos problemas e situações da vida real.
Esses objetivos se ligam uns aos outros, pois o proces-
so de ensino é ao mesmo tempo um processo de educação.
A assimilação dos conhecimentos e o domínio de capacida-
des e habilidades somente ganham sentido se levam os alu-
nos a determinadas atitudes e convicções que orientem a sua
atividade na escola e na vida, que é o caráter educativo do en-
sino. A aquisição de conhecimentos e habilidades implica a
educação de traços da personalidade (como caráter, vontade,
sentimento); estes, por sua vez, influenciam na disposição
dos alunos para o estudo e para a aquisição dos conhecimen-
tos e desenvolvimento de capacidades (LIBÂNEO, 1991, p. 71).
No discurso acima, fica clara a função do professor em conduzir
o aluno a uma autonomia, tanto em relação aos métodos de apren-
dizagem, assim como a possuir um pensamento independente, tor-
nando-se capaz de determinar com segurança as melhores opções
de escolha para formação de sua personalidade. Assim se configura
o caráter educativo quando escola, ensino e conhecimento são in-
terligados com a vida pessoal do aprendiz. O autor explicita a rela-
ção próxima da didática com as questões sociais:
A dimensão educativa do ensino que, como dissemos, im-
plica que os resultados da assimilação de conhecimentos e
habilidades se transformem em princípios e modos de agir
frente à realidade, isto é, em convicções, requerem do pro-
fessor uma compreensão clara do significado social e político
Capítulo 3 | 45Didática
no município etc. É um objeto de estudo que não cabe em somente
um livro, ainda menos em um capítulo. O tema é vivo e deve ser
constantemente repensado, especialmente quando se é ou se pre-
tende ser professor.
3.2. ALUNO
Para muitos o aluno é aquele que sabe menos do que o professor na
área em que o professor atua. De alguma forma é difícil negar tal
afirmativa, mas é também inegável que em muitos outros assuntos,
outras áreas o aluno pode saber muito mais que seu mestre.
A escola tradicional parece ter esquecido tal fator, colocando o
aprendiz como uma folha totalmente em branco, na qual o profes-
sor pode escrever o que quiser. O tempo, a vida, mostraram que as
coisas não acontecem dessa maneira. O que é dito em sala de aula
pelo professor tem recepções variadas, dependendo de cada aluno,
levando-se em conta conhecimentos anteriores sobre o assunto, a
relação afetiva com o tema, a empatia com o comportamento do
professor, as nuances da personalidade do aprendiz, o momento
singular, pessoal em que o aluno vive no período, outros. Hoje exis-
tem também estudos aprofundados, e rigorosos sobre as diferentes
possibilidades de aprendizagem de cada indivíduo.
Muitos teóricos preconizam o aluno como o centro da apren-
dizagem, e vimos como tal fator foi dominante na Escola Nova.
No entanto, pode-se dizer que nem o aluno nem o professor são o
centro do processo ensino-aprendizagem, mas a aprendizagem em
si é o centro da didática. Hoje, podemos observar no desempenho
O ensino é idealizado pelo professor levando em consideração a
instituição, os alunos, o contexto da comunidade na qual está inse-
rida a escola, mas convém lembrar que é um trabalho isolado, men-
tal, realizado por um indivíduo no que diz respeito ao planejamento.
Assim sendo, o professor pode ser classificado como autônomo,
mas existe o momento de encontro na escola, a sala de aula. Assim,
é necessário ao professor estar integrado ao corpo docente, à escola
e à comunidade específica, e possuir também uma relação próxima
com a equipe pedagógica da instituição.
Segundo Cordeiro, contemporaneamente o professor está vincu-
lado a um modo muito sui generis, pessoal, singular, de realizar seu
trabalho, o que é, inclusive, assunto de estudo de muitos sociólo-
gos, historiadores e psicólogos. Tais estudos escapam ao modelo de
compreender o professor como caracterizado de comportamentos
comuns entre si, mas, pelo contrário, compreendem-no pelas nu-
ances particulares de cada indivíduo.
É visível o local estratégico que o professor ocupa frente às ques-
tões do estado, como formador de conceito. Assim sendo, existe por
parte do estado um desejo de controle no trabalho que desenvolvem.
Determinado discurso costuma ser desejado sobre como ser profes-
sor, de que maneira agir, levando-se em consideração o discurso
oficial político dominante. Mas conforme tratado anteriormente, o
professor necessita de manter-se consciente desses fenômenos, no
sentido de poder escolher as melhores opções para si, para os alu-
nos, para a sociedade.
Muitas outras questões podem ser levantadas, considerando-se
o tema professor. A formação continuada, os planos de carreira, por
exemplo, a baixa remuneração, os recursos materiais disponíveis
Capítulo 3 | 46Didática
No entanto, estudos recentes têm sugerido que tanto diante
das atividades ditas tradicionais quanto pelas atividades pro-
postas pelas didáticas mais renovadas, as atitudes e estratégias
dos alunos têm sido mais ou menos as mesmas. Diante das ta-
refas e trabalhos que lhe são sugeridos ou impostos, de acordo
com Phillippe Perrenoud, os alunos acabam adotando estraté-
gias que se combinam com base em cinco atitudes básicas:
1) Diante da impossibilidade de resistir ou de escapar das im-
posições, alguns alunos decidem ‘sofrer todos os tormentos’,
isto é, fazer o que foi determinado sem reclamar.
2) Outros decidem ‘desembaraçar-se rapidamente das tarefas’,
de modo a sobrar tempo para fazer outras atividades vistas
por eles como mais interessantes.
3) A alternativa a essa rapidez, é ‘realizar as atividades muito
lentamente’, procurando sempre ganhar tempo, o que permi-
te, em alguma medida, escapar da tarefa.
4) Uma solução mais complicada é a de ‘declarar incompetência
ou incompreensão’ das instruções para não realizar a ativida-
de, o que quase sempre resulta em mais instruções, muitas
vezes, mais facilidades para enfrentar o problema.
5) Por fim, há a estratégia mais arriscada, mas muitas vezes pre-
sente, que é a de ‘contestação aberta’.
Admitir a veracidade dessa descrição sugerida por Perre-
naud traz a vantagem de fazer o professor perceber que, por
mais que se procure embalar as tarefas da aprendizagem com
os rótulos mais atraentes ou preenchê-las com conteúdos
de muitos professores uma verdadeira simbiose entre escola tra-
dicional, ensino renovado, pedagogia crítico-social, concomitan-
temente, sempre almejando gerar aprendizagem significativa para
o aluno. O que conduz à compreensão de que o professor seleciona
para o aluno o que aprender, como aprender e como continuar tal
aprendizagem posteriormente.
Alunos possuem também um mundo que não cabe na escola, um
mundo rápido, carregado de modificações, desejos fugazes, espe-
cialmente na adolescência e juventude, em que não existem mui-
to intervalos para reflexão, como acontece na escola. Muitas vezes
professores procuram levar para a escola determinadas atitudes de
aprendizagem que tentam se encaixar neste modelo, o que pode
causar tédio ou mesmo atitudes irônicas ou debochadas dos alunos.
Mas, alunos parecem compreender muito bem que sala de aula é um
lugar de experimentação, onde encontram amigos, pessoas que pas-
sam a conviver em sua vida pessoal e a escola é reconhecida como
local que, de qualquer forma, determinará sua vida futura.
A compreensão de comportamentos dos alunos em relação à
aprendizagem escolar pode servir de base para um desempenho
consciente em sala de aula. Cordeiro, citando Perrenoud, assim
trata o assunto:
Um determinado tipo de crítica que se generalizou em rela-
ção ao chamado ensino tradicional diz respeito à acusação
que diz que nele os alunos acabam mantendo uma atenção e
disciplina mais simulada do que real e que desenvolvem um
grande arsenal de estratégias para se esquivarem das tarefas
indicadas pelo professor.
Capítulo 3 | 47Didática
tualmente, pode ter consequencias significativas sobre a sua
auto-estima, sobre os seus resultados posteriores, sobre o
prosseguimento dos seus estudos ou sobre a sua escolha da
carreira profissional (CORDEIRO, 2009, p. 85–87).
3.3. PEDAGOGO
Educação e escola precisam de teorias, estudos para se concluir a ma-
neira mais adequada de proporcionar o ensino e organizar situações
de aprendizagem. O pedagogo é um teórico, que estuda as formas
mais adequadas de realizar tal trabalho, tendo em vista a realidade do
local, a necessidade dos alunos, da comunidade. Conhecimentos hu-
manos devem ser considerados quando se concebe uma instituição,
quando se pensa a política de determinado território (seja municipal,
estadual, federal). Além dos conhecimentos humanos, os pedagogos
estão também relacionados com a política local, desempenhando im-
portante papel de pensadores sobre o que e como efetivar de maneira
mais adequada o ensino e a aprendizagem, buscando evitar interesses
de grupos constituídos na educação com objetivos de lucros financei-
ros individuais ou para financiamento de campanhas políticas.
Se o foco do professor é a aprendizagem, o aluno, os conteúdos,
pode-se dizer que tais aspectos estão em pauta nas atividades do pe-
dagogo, com a diferença de que esse tem a incumbência de pensar a
educação de forma mais ampla do que o professor. Por meio do aces-
so aos pais dos alunos, ao diretor da escola, ao secretário de educação
de forma mais intensa do que o professor, o pedagogo tem elemen-
tos que o permitem detectar os interesses, as necessidades da escola,
‘interessantes’ para os alunos, há uma dimensão do processo
que sempre será percebida por eles como tendo algum grau
de imposição ou de arbitrariedade. Eles continuam sendo
alunos e as relações que estabelecem com a escola, com a
aprendizagem e com os conteúdos escolares são muito varia-
das, não obedecendo a um padrão uniforme.
Acontece que, muitas vezes, os professores deduzem uma
espécie de hierarquia ou classificação dessas diferentes atitu-
des dos alunos diante das atividades escolares, diferencian-
do os ‘bons alunos’ – aqueles que tudo aceitam ou que fazem
tudo muito rápido – dos ‘maus alunos’ – os que contestam,
fazem tudo muito lentamente ou nunca entendem as instru-
ções. Com isso, não se chega a perceber que aceitar tudo que
o professor impõe ou fazer as atividades muito rapidamente
nem sempre é sinal seguro de envolvimento espontâneo com
a tarefa ou de compreensão mais profunda do que se está en-
sinando ou aprendendo. Já o aluno que contesta, ou que re-
tarda o início da atividade, ou que pede mais instruções pode,
eventualmente, oferecer pistas mais seguras ao professor so-
bre como se está desenvolvendo o seu trabalho e o ensino.
O estabelecimento dessas hierarquias e classificações aca-
ba, muitas vezes, por separar os alunos em ‘bons’, ‘fracos’ e
‘médios’. A atenção tende a se concentrar nos extremos da
escala, seja tomando os alunos ‘bons’ como exemplo de ex-
celência e parâmetros dos resultados que cada um dos in-
divíduos poderia obter, seja estigmatizando os ‘maus’ como
incapazes, preguiçosos, fadados ao fracasso. Os alunos vistos
como ‘médios’, tendem a receber pouca atenção, e isso even-
Capítulo 3 | 48Didática
Alguns podem dizer que a pedagogia está situada em algum local
entre a burocracia, o ensino e a didática. A literatura, no entanto,
deixa claro o papel de uma atitude mental e intermediária na educa-
ção. Vejamos o que registra Morandi:
A história da pedagogia está até hoje associada aos ‘grandes edu-
cadores’, como Montaigne e Rousseau. Durkheim volta a dar à
pedagogia uma função nobre, ligando-a à sociologia e atribuin-
do-lhe um estatuto de teoria. ‘Ela consiste em certa maneira de
refletir sobre as coisas da educação […] não em ações, mas em
teorias. Essas teorias são formas de conceber a educação, não
formas de praticá-las […] A educação nada mais é do que a maté-
ria da pedagogia…’ A abordagem sociológica vê as práticas edu-
cativas como fatos não isolados que, porém, contribuem para
um sistema educativo específico de uma época e de um país.
Durkheim já afirmava que ‘entre a arte definida e a ciência
propriamente dita há espaço para uma atitude mental inter-
mediária. Em vez de agir sobre as coisas ou sobre as pessoas,
de acordo com maneiras determinadas, reflete-se sobre os
modos de ação que são empregados, não para conhecê-los ou
para explicá-los, mas para estimar seu valor, verificar se eles
são o que devem ser, se não é melhor modificá-los e como,
até mesmo substituí-los por novos procedimentos. Essas re-
flexões tomam a forma de teorias; são combinações de idéias,
não combinações de atos, e, por isso, se aproximam da ciên-
cia’. A atividade de ensino é atualmente considerada um ‘agir
profissional’ (Schön), uma configuração específica da ação e
dos modos de pensamento que a organizam. O trabalho re-
ou de toda uma rede de ensino e assim propor opções de melhoria
no que diz respeito à implementação de um estado ideal de efetivar
a educação, levando-se em conta os objetivos que se deseja alcançar.
A formação em pedagogia apresenta um formato generalista,
polivalente, pois que nessa são abordados aspectos sobre o proces-
so de realização de pesquisa em educação e opções de se trabalhar
a educação em diferentes lócus (com meninos de rua, em prisões,
hospitais, asilos etc), além da escola. Os pedagogos possuem tam-
bém formação em muitas áreas, por meio das disciplinas de meto-
dologias de ensino (de Português, de Matemática, de Geografia, de
Arte, de História, outros) e poder pensar a educação como um todo.
Profissionalmente, muitos pedagogos exercem a função de ver-
dadeiros gestores educacionais, priorizando a vertente teórica alia-
da à prática institucional, outros se dirigem à Educação Infantil ou
Ensino Fundamental I, permanecendo como professores e lidando
diretamente com as crianças. Alguns permanecem na escola, onde
desempenham papel de supervisor, orientador, diretor, inspetor.
Muitos atuam como intermediários no diálogo do professor com
alunos que apresentam algum tipo de problema ou com os pais dos
alunos, geralmente tentando resolvê-lo.
Existe um diálogo muito significativo entre professor e pedagogo
nas instituições. Depoimentos e pesquisas diversas revelam que vá-
rios procedimentos podem promover um entendimento otimizado
entre esses profissionais. Mas muitas vezes, também, surgem de-
sentendimentos severos, especialmente quando o pedagogo tenta
interferir nas questões didáticas do professor em sala de aula, ou
mesmo sugerir conteúdos que o professor não aceita trabalhar na-
quele período ou com determinada turma.
Capítulo 3 | 49Didática
de homem a formar, para qual sociedade, com que propósi-
to. Vincula-se, pois, a opções sociais e políticas referentes ao
papel da educação num determinado sistema de relações so-
ciais. A partir da pedagogia pode dirigir e orientar a formula-
ção de objetivos e meios do processo educativo.
A pedagogia, sendo ciência, da e para a educação, estuda a
educação, a instrução e o ensino. Para tanto, compõe-se de ra-
mos de estudos próprios como a teoria da educação, a didática,
a organização escolar e a história da educação e da pedagogia.
Ao mesmo tempo, busca em outras ciências os conhecimen-
tos teóricos e práticos que concorrem para o esclarecimento de
seu objeto, o fenômeno educativo. São eles a Filosofia da Edu-
cação, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Biolo-
gia da Educação, Economia da Educação, outras.
O conjunto desses estudos permite aos futuros profes-
sores uma compreensão global do fenômeno educativo, es-
pecialmente de suas manifestações no âmbito escolar. Essa
compreensão diz respeito a aspectos sócio-políticos da esco-
la na dinâmica das relações sociais; dimensões filosóficas da
educação (natureza, significado e finalidades, em conexão
com a totalidade da vida humana), relações entre a prática
escolar e a sociedade no sentido de explicitar objetivos po-
lítico-pedagógicos em condições históricas e sociais deter-
minadas e as condições concretas de ensino; o processo de
desenvolvimento humano e o processo da cognição; bases
científicas para seleção e organização dos conteúdos, dos
métodos e formas de organização do ensino; articulação en-
tre a mediação escolar de objetivos/conteúdos/métodos e os
flexivo, tema recorrente da profissionalização das ocupações
ligadas ao ensino, remete à ação de propor os saberes a apren-
der, mas também aos saberes específicos da atividade pedagó-
gica, que têm sua própria lógica (MORANDI, 2008, p. 34–35).
O termo combinação de ideias, utilizado no texto acima, parece bas-
tante adequado no que diz respeito ao trabalho que o pedagogo desen-
volve na educação. No texto, indica-se a necessidade de refletir, con-
templando ações que hoje são desenvolvidas, mas que podem e devem
ser constantemente objeto de reflexão. Detectar ações futuras, para que
possa trabalhar novos saberes demandados em função das mudanças
sociais, econômicas, políticas, cognitivas, afetivas, dentre outras.
De certa forma, é notável que os autores possuam uma visão bas-
tante similar sobre o campo de conhecimento da pedagogia:
A pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a natu-
reza das finalidades da educação numa determinada sociedade,
bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos,
tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social. Uma vez
que a prática educativa é o processo pelo qual são assimilados
conhecimentos e experiências acumulados pela prática social da
humanidade, cabe à pedagogia assegurá-lo, orientando-o para fi-
nalidades sociais e políticas, criando um conjunto de condições
metodológicas e organizativas para viabilizá-lo.
O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como
ação consciente, intencional e planejada no processo de for-
mação humana, através de objetivos e meios estabelecidos
por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo
Capítulo 3 | 50Didática
ser constatado como a pesquisa está associada ao aprendizado em
qualquer área e é a base para a produção de novos conhecimentos.
O professor, para realizar seu planejamento, deve conhecer seu
público e a realidade do local onde atua deve ser conhecida e, para
tal, o professor utilizará procedimentos de pesquisa:
Como profissionais da Educação, torna-se significativo tomar
consciência da relevância dos conceitos que são formados no mu-
nicípio em que se atua. Dessa forma, fica constatada a necessida-
de de uma reflexão sobre a real necessidade da Arte no município.
Pelo menos, fica claro qual é o pensamento de habitantes da comu-
nidade local. O que pensam sobre a Arte, se existe alguma expres-
são artística ou artesanal significativa na região (COLA, 2009, p. 16).
Estudantes, ao lidar com estágio ou práticas de ensino, muitas
vezes necessitam de verdadeiras atitudes de pesquisa, seja no le-
vantamento bibliográfico para os estudos, para analisar os grupos
observados ou para colocar em prática determinadas experiências e
depois averiguar os resultados.
3.5. ARTISTA
Interessa-nos pensar sobre o artista, sobretudo, sobre o artista edu-
cador em sala de aula, pois sabemos que não é possível ensinar o
que não se conhece, o que não se vivenciou. Sobre a ideia dos pro-
cessos de criação em arte e a perspectiva histórica sobre a concep-
ção sobre o ser artista, podemos afirmar:
processos internos atinentes ao ensino e à aprendizagem
(LIBÂNEO, 1991, p. 24–25).
3.4. PESQUISADOR
Nesse tópico temos a pretensão de tratar da pesquisa, pois pesqui-
sar, pensar, refletir é um ato presente no cotidiano da escola e funda-
mental a criação de projetos e de propostas de ação didática em Arte.
Pesquisas realizadas na área de Educação e da Arte são de fun-
damental importância para alimentar as práticas docentes. Como
também os livros didáticos ou de Arte publicados são frutos de pes-
quisas realizadas por profissionais que a essas se dedicam.
Assim sendo, a Educação é um lugar por excelência próprio para pes-
quisas, assim como também as Artes, por se tratar de um campo de cria-
ção sempre em movimento, que implica em atualizações constantes.
Esse sentido da vivência enquanto experimentação poderia ser
entendido inicialmente como ações exploratórias, investigati-
vas, mas também de descobertas, de proposições, de solução
de problemas artísticos e estéticos, que em seu conjunto confi-
guram as experiências com a arte (SANMARTIN, 2013, p. 57–58).
A única maneira de um professor aprimorar seu desempenho é
por meio de reflexão, observação, leitura, escrita, diálogo, entrevistas,
ação em sala de aula seguida de avaliação, enfim, elementos comple-
tamente relacionados com a pesquisa. Basta observar a maneira como
o ensino é trabalhado hoje em dia (em todos os níveis de ensino), para
Capítulo 3 | 51Didática
cisam ser também compreendidas como atos criativos, que
mobilizam prática e reflexão. Considerando a distinção entre
um trabalho e o outro, artistas e professores podem apresen-
tar ao mundo novas maneiras de percebê-lo, tornar visível
ideias em formas artísticas ou mesmo em novos projetos de
vida e conhecimento (SANMARTIN, 2013, p. 39).
O trabalho do artista está presente em sala de aula, ocupando es-
paço total na educação em Arte. Tudo que sucede nas artes estará, em
certo momento, presente na Educação. Daí surge a necessidade de
o professor de Arte frequentar exposições de arte, seja em museus,
em galerias de arte etc. Muitas escolas fazem visitas com alunos em
espaços onde a arte está presente, pois ver, conhecer a Arte por meio
de reproduções é importante, necessário, mas a obra será melhor
compreendida, fruída, se for vista no local onde se encontra exposta.
Se consultados livros atuais sobre Arte na Educação, nota-se aná-
lise da fala ou entrevista com vários artistas. Assim sendo, o artista
também está presente na escola, representado pelo seu trabalho. O
professor de Arte é a mediação, o responsável em despertar no gru-
po a curiosidade em conhecer a produção dos artistas no município
em que a escola está localizada.
O saber necessário para dar aulas de arte conjuga experiên-
cias de criação nas linguagens da arte, portanto de caráter
criativo, artístico e estético combinadas a competências de
ordem pedagógica, em específico sobre a didática da arte, que
permite planejar, criar projetos para a ação educativa em arte
(SANMARTIN, 2013, 35).
Sobre os processos de criação na arte, Tavares (2012, p. 36–37)
explica que a história da criação artística, com o passar do
tempo, transforma a ideia do artista como um porta-voz da
divindade, com base na ideia de enthusiamós (possessão ou
inspiração divina) de Platão, à ação humana a partir do con-
ceito poieses ou techné (fazer, trabalho, atividade artesanal)
de Aristóteles, mas é na Renascença que as ideias de “sujeito
criador” ou “livre arbítrio” aparecem e permitem que o ho-
mem assuma a autoria do ato criativo e surja afinal a ideia do
ser artista (SANMARTIN, 2013, p. 31–32).
Enquanto potencial, a criatividade está presente em todos os ho-
mens, mas evidentemente não no mesmo grau e nas mesmas áreas,
pois esse singular aspecto do comportamento humano precisa ser
educado em profundidade e envolve perspectivas que devem ser
consideradas, como as características da pessoa criativa, as espe-
cificidades dos processos criativos, os produtos criativos ou inova-
dores, bem como as características do ambiente que favorecerão a
criatividade e seus processos.
Encontramos neste ponto a analogia possível entre o artista e o
professor, pois ambos vivenciam processos criativos e são criado-
res, resguardadas as diferentes intencionalidades e materialidades.
O que aproxima o fazer do artista com o fazer docente é o pro-
cesso criador implicado nas duas ações. Se o professor tem
experiências importantes e carregadas de sentido com arte
terá mais chance de que suas aulas despertem a vontade de
aprender de seus alunos. Assim, as ações dos professores pre-
Capítulo 4 | 52Didática
Se você não sabe o que almeja, se não se propõe determinado ob-
jetivo para alcançar, um lugar para chegar, não é necessário pensar
previamente, basta caminhar, agir instintivamente. Esse não é o
caso do professor que precisa desenhar um mapa e um roteiro para
alcançar seus objetivos.
Sobre tal aspecto, vejamos como metáfora o artigo de um diretor
de marketing, Sr. Vagner Aguilar:
A síndrome de Alice no País das Maravilhas
Um dos segredos do sucesso é ter um plano bem elaborado.
Vale lembrar a história de Alice no País das Maravilhas, que,
quando se viu perdida numa encruzilhada, perguntou para o co-
elho que estrada devia seguir. Ele então quis saber para onde ela
queria ir, e Alice disse que não sabia. A resposta natural dele foi:
“Então, qualquer caminho serve.”
Quando inicio uma conversa com donos e mantenedores de es-
cola, sempre começo perguntando a eles sobre a participação e as
expectativas em relação ao mercado, se concordam que o segmen-
to esteja saturado. Sempre ouço respostas subjetivas ou achismos.
Pergunto a eles aonde querem chegar neste ramo, quais as
novas metas e quanto querem desenvolver do negócio deles para
a sociedade e contribuir naquela cidade.
[…]
Todas essas questões podem parecer simples, mas no dia a dia,
ao ligar seu computador, você se esquece de seus objetivos, come-
ça a trabalhar em cima de seus problemas e tarefas e deixa de lado
seus principais objetivos […](AGUILAR, 2010, p. 48).
Capítulo 4 | 53Didática
De acordo com o professor Nélio Parra, planejar consiste em
prever e decidir sobre:
• que pretendemos realizar;
• o que vamos fazer;
• como vamos fazer;
• o que e como devemos analisar a situação, a fim de verificar
se o que pretendemos foi atingido (HAYDT, 2006, p. 94).
Fica assim clara a relação que existe entre as ideias de Parra, ci-
tado por Haydt, no que diz respeito a não ser deixado levar e sim o
processo de pensar, refletir, estipular metas, para que os caminhos a
serem buscados sejam definidos com precisão.
Por exemplo: aula de Arte para uma turma de quinto ano do En-
sino Fundamental. Foi dada liberdade total ao professor para elabo-
rar seu planejamento. Assim sendo, o professor pode iniciar suas
reflexões dessa forma: vou trabalhar exercícios práticos em Arte, ou
História da arte (duas opções diferentes). Qualquer que seja sua de-
cisão, podemos visualizar a ponta de um iceberg, debaixo do qual
será trazida toda uma avalanche de temas, objetivos, conteúdos,
procedimentos, recursos e critérios de avaliação a serem determi-
nados. Mas o início está justamente nesta definição do que deverá,
poderá ou escolherá fazer. Tal decisão é necessária para dar início ao
processo que poderá em seu curso trabalhar elementos que oscilam
entre a teoria e a prática de algo.
Muitos professores escolhem durante toda sua vida profissional
efetivar arte em sala de aula desenvolvendo exercícios de conheci-
mento orientados por um fazer trabalhos artísticos, como desenho,
Às vezes é mesmo uma delícia ser Alice, viver no País das Mara-
vilhas, e é sabido que todos podem viver esses momentos em deter-
minadas circunstâncias. Mas em um curso para formar professor,
não é esse o caso. Apesar de o texto não tratar da sala de aula, pode-
mos fazer a analogia com uma viagem e ver claramente que se não
sabemos para onde queremos ir, qualquer caminho serve. Assim
podemos entender que o planejamento nos permite determinar o
destino, os lugares a serem visitados, os tempos necessários para
cada lugar, os meios de transporte a serem utilizados e organizar as
ações que nos permitirão conhecer o território escolhido.
O planejamento é devir, é uma organização para ação futura e to-
dos os professores possuem ou deveriam possuir um planejamento
ao se dedicarem ao ensino. O planejamento será a relação que os pro-
fissionais detectam entre a realidade que existe para ser estruturada
em um planejamento. Sem vislumbrar um desejo real de alcançar
algo significativo e organizado, é impossível partir para a realização
de um trabalho competente em qualquer área. Determinadas condi-
ções são oferecidas, um contexto existe, em que muitas dificuldades
surgem, no entanto, as formas de ação sobre tais dificuldades podem
e devem ser previstas, no intuito de serem vencidas, alcançando um
desempenho que promova a aprendizagem dos alunos.
Haydt deixa clara a noção significativa da questão mental, que
é subjacente ao ato de pensar o ensino e a aprendizagem, sempre
relacionados a um plano. Nos mais variados momentos de nossa
existência, lançamos mão da realização de muitas coisas que pla-
nejamos anteriormente, sem nos dar conta desse momento prévio.
Alguns elementos são apresentados como inevitáveis, por mui-
tos autores, no que diz respeito ao assunto:
Capítulo 4 | 54Didática
regionais. Cada estado possui um sistema próprio de ensino e logi-
camente, cada município também terá sua proposta.
4.1.2. De uma escola
A unidade escolar é autônoma e implica em um trabalho em equi-
pe. Caso seja escola municipal, terá determinadas características
que atendem as orientações do município. Caso seja escola particu-
lar, estará vinculada a princípios do grupo que a mantém. Cada es-
cola será gerida pela equipe de profissionais, por meio de propostas
de atuação diferenciadas. Costuma-se entender que o planejamen-
to de determinada instituição seja participativo, ou seja, todos os
membros devem contribuir, buscando escutar os alunos e também
as famílias que fazem parte da comunidade escolar.
Haydt (2006) nos esclarece que cada escola tem determinadas
prioridades em seu plano de ação, mas de uma forma geral, as eta-
pas são as seguintes:
1) Sondagem e diagnóstico da realidade da escola:
1.1) características da comunidade;
1.2) características da clientela escolar;
1.3) levantamento dos recursos humanos e
materiais disponíveis;
1.4) avaliação da escola como um todo no ano anterior (eva-
são, repetência, percentagem da aprovação, qualidade do
ensino ministrado, dificuldades e problemas superados
e não superados).
pintura, gravura, vídeo, instalações e outros. Já alguns professores
caminham pela vertente da teoria, propondo leituras e resenhas de
textos, projeção de imagens de diferentes períodos da história da arte,
contextualizando-a nos dias atuais. Mas sabemos que muitos – e isso
poderia ocorrer com a maioria – lançam mão dos dois procedimen-
tos, acreditando que tão importante quanto viver processos criado-
res, também o é conhecer a produção sócio-histórica em arte, como
exercitar a leitura das obras de arte. Mas qualquer que seja a escolha
do professor, nunca deve ser desconsiderado que o planejamento é
fundamental para organizar os processos de ensino e aprendizagem.
Mesmo os trabalhos realizados na educação não escolar devem
considerar o planejamento, pois as ações educativas são intencio-
nais e devem ser sistematizadas.
O planejamento deve contemplar a realidade do local onde o pro-
fessor atuará, o público alvo, determinar objetivos, selecionar conteú-
dos e formas de fazer para verificar ao final do processo se os objetivos
foram alcançados. Mas… se não se conseguir um nível de satisfação
adequado, deve ser repensado e com flexibilidade replanejar as ações.
4.1. TIPOS OU NÍVEIS DE PLANEJAMENTO
4.1.1. De um sistema educacional
O termo sistema refere-se a determinada área de atuação da edu-
cação. Por exemplo, o sistema de educação das universidades fede-
rais no Brasil, considerando que entre as universidades haverá di-
ferenças em cada estado, ou seja, dependendo das peculiaridades
Capítulo 4 | 55Didática
2) Definição dos objetivos e prioridades da escola.
3) Proposição da organização geral da escola no que se refere a:
3.1) quadro curricular e carga horária dos diversos componen-
tes do currículo;
3.2) calendário escolar;
3.3) critérios de agrupamento de alunos;
3.4) definição do sistema de avaliação, contendo normas para
adaptação, recuperação, reposição de aulas, compensação
de ausência e promoção dos alunos.
4) Elaboração de plano de curso contendo as programações das
atividades curriculares.
5) Elaboração do sistema disciplinar da escola, com a participação
de todos os membros da escola, inclusive com o corpo discente.
6) Atribuição de funções a todos os participantes da equipe escolar:
direção, corpo docente, corpo discente, equipe pedagógica, equipe
administrativa, equipe de limpeza, outros. (HAYDT, 2006, p. 71–72)
4.1.3. De um currículo
Quando se trata de um currículo, pensa-se a escola de um modo ge-
ral, levando-se em consideração a relação entre os diferentes compo-
nentes que o formam. Deve ser traçado um eixo, determinando uma
espécie de objetivo geral a ser seguido por toda a instituição.
Sobre planejamento curricular, é possível concluir:
Uma tarefa multidisciplinar que tem por objeto a organiza-
ção de um sistema de relações lógicas e psicológicas dentro
de um ou vários campos de conhecimento, de tal modo que se
favoreça ao máximo o processo ensino-aprendizagem.
A previsão de todas as atividades que o educando realiza
sob a orientação da escola para atingir os fins da educação
(ENRICONE, 1990, p. 17).
Podemos observar a característica de abrangência do planejamen-
to de um currículo, pois esse envolve toda a instituição e todos são
comprometidos com o processo: direção, coordenação pedagógica
e corpo docente. Novas descobertas científicas, artísticas devem ser
elementos de seu enriquecimento, bem como discussão de assuntos
que sejam de interesse da comunidade tanto escolar, quanto do bair-
ro onde a escola está inserida, ou município ao qual pertence.
O que se espera são melhores resultados, para tanto, torna-se ne-
cessária uma característica de mobilidade no currículo, para incorpo-
rar as necessidades que se apresentam. Aspectos relacionados à dis-
ciplina também devem ser constantemente debatidos, pois esse é um
fator que diz respeito a todos os membros da escola, especialmente
nos dias de hoje, quando valores estão em constante reavaliação.
Na elaboração do currículo, as escolas devem seguir as diretrizes
gerais fixadas pelo Conselho Nacional de Educação, pois que estabe-
lece os componentes mínimos e obrigatórios (conhecidos como nú-
OBSERVAÇÃO
É interessante observar que a sondagem é o levantamento de dados e
fatos importantes de uma realidade, enquanto o diagnóstico é a análise
e interpretação objetiva dos dados coletados, permitindo que se chegue
a uma conclusão sobre as condições da realidade.
Capítulo 4 | 56Didática
no pode servir de instrumento importante no seu desempenho es-
colar, para outros, existe apenas no papel. Mas, geralmente, a equipe
escolar considera fundamental um planejamento bem elaborado,
para isso considera a participação dos pedagogos, bem como reali-
za reuniões com diversos profissionais no intuito de se repensar os
planejamentos didáticos da escola.
Outra implicação importante é a distribuição dos conteúdos ao
longo do curso, seja nas unidades didáticas ou nas aulas. Uma aula
prática de desenho, por exemplo, pode exigir tempo mais longo, de-
pendendo da familiaridade da turma com o material utilizado, ou
dos conteúdos que tenha estudado anteriormente. Deve-se conside-
rar sobre a melhor forma de utilização de materiais e outros recur-
sos. Em Arte, por exemplo, sabemos que crianças pequenas necessi-
tam de papéis maiores, para trabalhar o movimento do corpo como
um todo e não somente a mão e o braço, e isso pode ser também
necessidade de adultos e adolescentes, levando-se em conta o traba-
lho que é proposto. Sobre o acompanhamento dos processos, Haydt
aconselha que sejam previstas ou escolhidas as melhores opções de
conversar com o aluno sobre o trabalho executado, procedendo-se
então à fase de avaliação.
Vejamos como pode ser entendida a necessidade de se elaborar
um planejamento escrito:
Algumas vezes o professor não faz por escrito seu plano, isto
é, não anota as conclusões a que chegou. No entanto, ele pla-
neja mentalmente as etapas de sua atuação na sala de aula,
prevendo as suas atividades e a de seus alunos. Quando ele
não anota as suas previsões, pode correr o risco de se perder
cleo comum). Cabe ao Conselho Estadual de Educação estabelecer
determinados componentes que formarão a parte diversificada do
currículo. Da parte diversificada podem fazer parte outros compo-
nentes que não os estabelecidos e para tal, a escola pode propô-los
ao Conselho Estadual de Educação. Caso sejam aprovados, passam a
fazer parte da estrutura curricular da escola.
4.2. PLANEJAMENTO DIDÁTICO OU DE ENSINO
Conforme tratado anteriormente, a palavra didática, antes de tudo,
diz respeito ao que é desenvolvido em sala de aula. Se o assunto é
planejamento didático, fica claro que incidirá sobre aspectos que
serão trabalhados em sala de aula, ações que dizem respeito a pro-
fessor e aluno. Nesse sentido, trata-se do plano curricular em ope-
racionalização.
Quando se pensa em planejamento didático, torna-se necessário
identificar três tipos, que variam de acordo com a abrangência:
1) planejamento de curso,
2) planejamento de unidade,
3) planejamento de aula.
Levando em consideração a realidade do aluno, do município, do
estado, do país, das peculiaridades regionais, o professor é o prota-
gonista do plano didático, pois é o profissional que está em sala de
aula dia a dia com o aluno. Sabe do comportamento disciplinar da
turma, suas preferências, dificuldades e anseios. Para muitos, o pla-
Capítulo 4 | 57Didática
4) Estabelecer as atividades e procedimentos de ensino e apren-
dizagem adequados aos objetivos e conteúdos propostos.
5) Selecionar e indicar os recursos a serem utilizados.
6) Escolher e determinar as formas de avaliação mais coerentes
com os objetivos definidos e os conteúdos a serem desenvol-
vidos (2006, p. 101).
Nesses seis itens, a autora aborda: 1) sondagem; 2) objetivos ge-
rais e específicos; 3) conteúdos; 4) procedimentos ou metodologia; 5)
recursos materiais; 6) avaliação; que são os elementos constituintes
de um plano. É importante para os professores saber as diferenças
entre esses, bem como dominar a forma adequada de executá-los.
Cada professor tem uma forma de executar um planejamento, no
entanto, nesta disciplina será utilizado um formato mais técnico.
4.2.2. Planejamento de unidade
Unidades são subitens de um plano de curso elas são relacionadas
entre si, muitas vezes guardando uma complexidade que gradual-
mente aumenta. Cada unidade demanda várias ou algumas aulas,
dependendo do tema abordado e de como o professor resolveu de-
senvolvê-las. Um professor pode pensar um curso sobre História da
Arte Brasileira, dividindo-o em unidades, por exemplo:
Unidade 1 Barroco no BrasilUnidade 2 Neoclassicismo no BrasilUnidade 3 Final do século XIX – influências do Impressionismo no Brasil.Unidade 4 Modernismo no Brasil.
ao executar o que planejou, pois a memória pode falhar, fa-
zendo-o esquecer os procedimentos previstos. Por isso, é
aconselhável que se faça registro por escrito das conclusões
do planejamento didático.
A forma de registro vai depender de cada professor, mas o
que se recomenda é que ele faça as anotações de modo sim-
ples, claro e preciso (HAYDT, 2006, p. 99–100).
4.2.1. Planejamento de curso
Cursos podem existir de forma livre e seus planejamentos têm vá-
rias formas. Para o presente estudo, focaremos em cursos ministra-
dos na escola.
Um plano de curso abrange geralmente um ano letivo, mas pode
também ser semestral. Ele prevê os temas que serão desenvolvidos,
subdivididos em planejamento de unidades e planejamento de aulas.
Prevê uma turma, de um dos anos escolares. O plano curricular não
pode ser esquecido nesse momento, pois que nos planejamentos de
curso, o currículo encontra-se distribuído em diferentes graus, fai-
xas etárias. Os cursos são partes integrantes do currículo da escola.
Haydt trata da sistemática de um planejamento de curso:
1) Levantar dados sobre as condições dos alunos, fazendo uma
sondagem.
2) Propor objetivos gerais e definir os objetivos específicos a se-
rem atingidos durante o período letivo estipulado.
3) Indicar os conteúdos a serem desenvolvidos durante o curso.
Capítulo 4 | 58Didática
3) Integração: Nesta fase, os alunos farão uma síntese dos co-
nhecimentos trabalhados durante o desenvolvimento da uni-
dade. Para a realização dessa síntese, são sugeridas as seguin-
tes atividades: elaboração de relatórios orais ou escritos que
sintetizem os aspectos mais importantes da unidade; organi-
zação dos resumos e quadros sinóticos.
No que se refere a essa terceira etapa, diz a professora Ire-
ne Carvalho: completado o estudo de todas as subunidades,
deverá ser recomposta a unidade no seu todo. O melhor meio
para alcançar esse objetivo é levar os alunos a organizar um
quadro sinótico completo e abrangente, no qual figurem to-
dos os conhecimentos essenciais da unidade. De início, os
discentes terão de ser cuidadosamente orientados pelo pro-
fessor, diminuindo-se essa tutela à medida que eles vão do-
minando a técnica de condensar e organizar os pensamentos
(apud HAYDT, 2006, p. 101–102).
Tais etapas e ensinamentos teóricos são apresentados para que
se conheça o que a literatura diz a respeito do assunto e podem ser
úteis para o professor. Apesar de seu caráter objetivo, acredita-se
que cada professor buscará um caminho próprio para trabalhar sua
disciplina com os alunos, no entanto, sabemos que professores en-
contram diversas formas de lidar com o ensino, o contexto da sala
de aula quando as aulas acontecem. Surgem muitos intervenientes
imprevistos, como perguntas dos alunos, questões que são trazidas
para sala de aula, que interferem muito no processo, o que, inclu-
sive, estimula o professor a prolongar uma unidade, ou mesmo a
reduzi-la em função de tais fatores. Assuntos não previstos podem
Determinadas as unidades, resta distribuir o número de aulas
para cada unidade e tal distribuição vai depender do que o professor
possui em mente, como tem pensado em distribuir os conteúdos.
Não existe necessidade de um número de aulas serem proporcionais,
pois determinado assunto pode necessitar de um número maior ou
menor que outro. Por outro lado, o professor pode dar maior ênfase
em determinado período em função do interesse do grupo, de co-
nhecimentos e materiais que possua para ministrar as aulas. Pode,
inclusive, consultar os alunos sobre suas necessidades e interesses.
Claudino Piletti sugere determinadas etapas que podem auxiliar
o professor no momento de elaborar ou desenvolver as unidades:
1) Apresentação: Nesta fase, o professor vai procurar identifi-
car e estimular os interesses dos alunos, tentando aprovei-
tar seus conhecimentos anteriores e relacioná-los ao tema
da unidade. Dentre as atividades desta etapa podemos rela-
cionar: pré-teste para sondagem das experiências e conhe-
cimentos anteriores dos alunos; diálogo com a classe; aula
expositiva para introduzir o tema, comunicando aos alunos
os objetivos da unidade; apresentação de material ilustrativo
para introdução do assunto (cartazes, jornais, revistas, etc).
2) Desenvolvimento: Nesta fase, o professor organiza e apre-
senta situações de ensino-aprenizagem que estimulem a par-
ticipação ativa dos alunos, tendo em vista atingir os objetivos
específicos propostos (conhecimentos, habilidades e atitu-
des). Entre as atividades realizadas nesta etapa podemos in-
dicar: solução de problemas, projetos, estudos de textos, es-
tudo dirigido, pesquisa, experimentação, trabalho em grupo.
Capítulo 4 | 59Didática
b) O programa ou conteúdos para a série é inicialmente dividi-
do em unidades didáticas (como se fossem capítulos de um
livro), cada uma com seus respectivos tópicos. A primeira ver-
são é o levantamento geral de temas que podem ser trabalha-
dos. Uma segunda versão será necessária para adequar o pro-
grama ao nível de preparo dos alunos, às condições concretas
de desenvolvimento das aulas, aos objetivos gerais do ensino
da matéria, à continuidade do programa desenvolvido na série
anterior e, finalmente, ao tempo disponível.
c) Concluída a segunda versão, o professor terá um conjunto de
unidades didáticas para um ano ou semestre e o número de aulas
para cada uma. Fará então uma última checagem para verificar:
• se as unidades formam um todo homogêneo e lógico;
• se as unidades realmente contêm o conteúdo básico essen-
cial em relação às condições de aprendizagem dos alunos e à
exigência de consolidação da matéria assimilada;
• se o tempo provável de desenvolvimento de cada unidade é
realista […];
• se os tópicos de cada unidade realmente possibilitam o en-
tendimento da idéia central contida nessa unidade;
• se os tópicos de cada unidade podem ser transformados em
tarefas de estudos para os alunos e em objetivos de conheci-
mentos e habilidades. […]
Quanto mais cuidadosamente for formulado o conjunto
de unidades, mais facilmente o professor poderá extrair delas
os objetivos específicos, os métodos e procedimentos de en-
sino (LIBÂNEO, 1991, p. 233–234).
e devem ser desenvolvidos em função de tais intervenientes, ou-
tros, quem sabe, podem ser excluídos. Portanto, o planejamento é
flexível, mas a necessidade de alguma organização existe, para que
o professor não se sinta perdido, nem esqueça determinados objeti-
vos e conteúdos importantes.
Libâneo assim escreve sobre unidades didáticas:
Unidades didáticas são o conjunto de temas inter-relaciona-
dos que compõem o plano de ensino para uma série. Cada
unidade didática contém um tema central do programa, de-
talhado em tópicos.
Uma unidade didática tem como características: formar
um todo homogêneo de conteúdos em torno de uma idéia
central; ter uma relação significativa entre os tópicos a fim de
facilitar os estudos dos alunos; ter um caráter de relevância
social, no sentido de que os conteúdos se tornem ‘vivos’ na
experiência social concreta dos alunos.
O procedimento mais simples de organização do conjunto
das unidades didáticas do plano é o seguinte:
a) Tendo em mente sua concepção de educação e escola, seu po-
sicionamento sobre os objetivos sociais e pedagógicos do pro-
cesso de ensino e, ainda, seu posicionamento e conhecimento
em relação à disciplina que leciona, o professor começa a ela-
borar o programa oficial da matéria (recomendado pelo estado
ou município), o livro didático escolhido ou outros livros de
consulta [sobre Arte e o ensino de Arte, por exemplo.].
Capítulo 4 | 60Didática
Ao planejar uma aula, o professor:
• prevê os objetivos imediatos a serem alcançados (conheci-
mentos, habilidades, atitudes).
• especifica os itens e subitens do conteúdo que serão trabalha-
dos durante a aula;
• define os procedimentos de ensino e organiza as atividades
de aprendizagem de seus alunos (individuais e em grupo);
• indica os recursos (cartazes, mapas, jornais, livros, objetos
variados) que vão ser usados durante a aula para despertar o
interesse, facilitar a compreensão e estimular a participação
dos alunos;
• estabelece como será feita a avaliação das atividades.
Portanto, o planejamento é a sequência de tudo que vai
ser desenvolvido em um dia letivo. É a sistematização de to-
das as atividades que se desenvolvem no período de tempo
em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de
ensino-aprendizagem.
Além disso, o plano de aula deve ser adaptado às reais condi-
ções dos alunos: suas possibilidades, necessidades, interesses.
Ao elaborar o seu plano de aula, o professor deve levar em
conta as características dos alunos e partir dos conhecimen-
tos que eles já possuem. Por isso, é importante que o profes-
sor faça uma sondagem do que os alunos já sabem sobre os
conhecimentos a serem desenvolvidos.
Em geral, o plano de aula do professor assume a forma de
um diário ou semanário.
No item b acima, vemos a interessante relação que Libâneo faz entre
capítulo de livro e unidade de ensino. Assim sendo, e seguindo sua com-
paração, o livro inteiro seria um curso, as unidades, os capítulos do livro.
No item a, pode ser notado como as escolhas estão centradas no professor,
sua relação com a disciplina, e a escolha dos livros a serem trabalhados.
4.2.3. Planejamento de aula
É a menor parte do planejamento, se considerarmos o plano de curso,
plano de unidade e plano de aula como um só corpo. Entendemos
a aula como o momento mais significativo em tudo que diz respei-
to à escola, pois ao mesmo tempo em que é um local de ensinar, é
também um local de aprender. Todos aprendem, todos se alegram,
sofrem, ficam contentes e, às vezes, irados.
As aulas contêm surpresas inumeráveis, no que concerne ao con-
teúdo, assim como também no que diz respeito às empatias, antipa-
tias, momentos em que os alunos debocham do professor por moti-
vos pessoais; momentos em que o professor perde a paciência por ser
uma pessoa como qualquer outra, sujeita inclusive a cometer erros.
Mas convém averiguarmos o que a literatura específica apresenta so-
bre o planejamento de uma aula.
Nunca se deve perder a dimensão de que a aula está inserida em uma
unidade de um curso. Nesse sentido, escreve Haydt (2006, p. 102–103):
No planejamento de aula, o professor especifica e operaciona-
liza os procedimentos diários para a concretização dos planos
de curso e de unidade.
Capítulo 4 | 61Didática
Pode ser notada no texto a responsabilidade do professor, mas
cabe também, aos alunos, pois o trabalho em sala de aula é desen-
volvido conjuntamente. As aulas podem e devem também ser en-
tendidas pelo professor como um processo que se desenvolve em
um determinado momento, mas que está conectada às aulas que já
foram realizadas e às outras que serão realizadas futuramente.
O conceito de ampliação do nível de informação dos alunos não
deve ser negligenciado, tendo em vista que acontece em cada mo-
mento da aula. Outro fator considerado por Libâneo é o professor
procurar desenvolver no aluno boa vontade, gosto, interesse pela
disciplina, o que implica em estimular também diferentes métodos
em sala de aula. Assim a vida prática, o dia a dia dos alunos deve
estar também contemplado, para que todos os alunos assimilem a
matéria. Coletividade, ajuda mútua, respeito pelas diferenças tam-
bém devem ser trabalhados de forma associada aos objetivos e aos
conteúdos da disciplina (Libâneo, 1991).
A flexibilidade deve ser uma característica exercitada pelo pro-
fessor frente a situações imprevisíveis em sala de aula, como res-
salta Libâneo:
O trabalho docente, sendo uma atividade intencional e pla-
nejada, requer estruturação e organização, a fim de que se-
jam atingidos os objetivos do ensino. A indicação de etapas
do desenvolvimento da aula não significa que todas as aulas
devam seguir um esquema rígido. A opção por qual etapa ou
passo didático é mais adequado para iniciar a aula ou a con-
jugação de vários passos numa mesma aula ou conjunto de
aulas depende dos objetivos e conteúdos da matéria, das ca-
Plano de aula, assim, não é dissociado da aula em si. Sendo a base
de organização do processo, como confirma Libâneo:
Se considerarmos o processo de ensino como uma ação con-
junta do professor e dos alunos, na qual o professor estimula
e dirige atividades em função da aprendizagem dos alunos,
podemos dizer que a aula é a forma didática básica de orga-
nização do processo de ensino. Cada aula é uma situação di-
dática específica, na qual objetivos e conteúdos se combinam
com métodos e formas didáticas, visando fundamentalmente
propiciar a assimilação ativa de conhecimentos e habilidades
pelos alunos. Na aula se realiza, assim, a unidade entre ensi-
no e estudo, como que convergindo nela os elementos cons-
titutivos do processo didático.
De acordo com esse entendimento, o termo aula não se
aplica somente à aula expositiva, mas a todas as formas di-
dáticas organizadas e dirigidas direta ou indiretamente pelo
professor, tendo em vista realizar o ensino e a aprendizagem.
Em outras palavras, a aula é toda situação didática na qual se
põem objetivos, conhecimentos, problemas, desafios, com
fins instrutivos e formativos, que incitam as crianças e jo-
vens a aprender.
Consideremos que, na maior parte das vezes, não temos
uma aula, mas um conjunto de aulas, visto que os resultados
do processo de ensino não são obtidos instantaneamente, e
sim pelo trabalho contínuo do professor, estruturado no pla-
no de ensino e nos planos de aulas (LIBÂNEO, 1991, p. 178).
Capítulo 4 | 62Didática
a realidade do aluno, da sociedade, conhecimentos e formação do
professor, recursos disponíveis, espaço físico etc. Mais uma vez, o
professor é extremamente responsável na realização desse trabalho.
Objetivos significam projeção ideal de algo que acontecerá depois
de determinado trabalho (no presente caso, em educação). A relação do
método e dos conteúdos é muito próxima dos objetivos. Aliás, todos os
elementos componentes de um planejamento estão interligados.
Voltado para questões sociais, assim preconiza Libâneo sobre ob-
jetivos educacionais:
[…] a prática educativa é socialmente determinada, pois res-
ponde às exigências e expectativas dos grupos e classes so-
ciais existentes na sociedade, cujos propósitos são antagôni-
cos em relação ao tipo de homem a educar e às tarefas que
este deve desempenhar nas diversas esferas da vida prática.
Procuramos destacar, especialmente, que a prática educativa
atua no desenvolvimento individual e social dos indivíduos,
proporcionando-lhes os meios de apropriação dos conheci-
mentos e experiências acumuladas pelas gerações anteriores,
como requisito para a elaboração de conhecimentos vincula-
dos a interesses da população majoritária da sociedade.
Dessas considerações, podemos concluir que a prática
educacional se orienta, necessariamente, para alcançar deter-
minados objetivos, por meio de uma ação intencional e siste-
mática. Os objetivos educacionais expressam, portanto, pro-
pósitos definidos explícitos quanto ao desenvolvimento das
qualidades humanas que todos os indivíduos precisam adqui-
rir para se capacitarem para as lutas sociais de transformação
racterísticas do grupo de alunos, dos recursos didáticos dis-
poníveis, das informações obtidas na avaliação diagnóstica,
etc. Por causa disso, ao estudarmos os passos didáticos, é im-
portante assinalar que a estruturação da aula é um processo
que implica criatividade e flexibilidade do professor, isto é, a
perspicácia de saber o que fazer frente a situações didáticas
específicas, cujo rumo nem sempre é previsível.
Devemos entender, portanto, as etapas ou passos didáti-
cos como tarefas do processo de ensino relativamente cons-
tantes e comuns a todas as matérias, considerando-se que
não há entre elas uma sequência necessariamente fixa, e que
dentro de uma etapa se realizam simultaneamente outras (LI-
BÂNEO, 1991, p. 179).
4.3. OBJETIVOS E CONTEÚDOS
4.3.1. Importância dos objetivos para a ação pedagógica
Convém aqui lembrar o texto trabalhado no capítulo anterior, inti-
tulado ‘A síndrome de Alice no País das Maravilhas’. Se não existir
um determinado local para se chegar, qualquer opção é válida. Dessa
maneira o professor deve prever o que espera de seus alunos. Assim
sendo, a questão fundamental para a elaboração dos objetivos é uma
pergunta que, apesar de antiga, ainda faz sentido: ‘o que espero que
os alunos sejam capazes de saber, de saber fazer, ao final do curso,
da unidade, da aula?’ Mas buscar os conteúdos adequados implica
também em muitas coisas tratadas anteriormente, como: considerar
Capítulo 4 | 63Didática
compatibilizar os conteúdos com necessidades, aspirações,
expectativas da clientela escolar, bem como torná-las exe-
quíveis face às condições sócio-culturais e de aprendizagem
dos alunos.
[…]. Os objetivos educacionais são, pois, uma exigência
indispensável para o trabalho docente, requerendo um posi-
cionamento ativo do professor em sua explicitação, seja no
planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas (LI-
BÂNEO, 1991, p. 120–121).
A primeira consideração a ser feita é a importância dos objeti-
vos serem definidos pelos professores e serem bem estruturados.
Depois, convém estipular uma comparação entre diferentes auto-
res, refletindo em como todos eles concordam, no que diz respeito
ao bem comum da sociedade, tendo em vista a realidade social, as
expectativas e a possibilidade material da sociedade. Assim sendo,
apesar das prioridades e dos valores do professor, Libâneo também
entende que a sociedade tem prioridade, pois é aquela que indica os
objetivos a serem alcançados na educação. Mais uma vez, é focaliza-
da a necessidade de o professor estar bem informado sobre muitos
aspectos das questões que evolvem o local onde atua, pois determi-
nados fatores escapam, inclusive, aos objetivos científicos e artísti-
cos da disciplina que trabalha. Ou seja: as disciplinas do currículo
trazem informações de conteúdo alusivas às disciplinas (História,
Matemática, Artes, outras), mas também educam para a cidadania,
valores que ultrapassam a tais especificidades.
da sociedade. O caráter educativo da prática pedagógica está,
precisamente, em explicar fins e meios que orientem tarefas
da escola e do professor para aquela direção. Em resumo, po-
demos dizer que não há prática educativa sem objetivos.
Os objetivos educacionais têm, pelo menos, três referên-
cias para sua formulação:
• os valores e ideais proclamados na legislação educacional e
que expressam os propósitos das forças políticas dominantes
no sistema social;
• os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados
no decurso da prática social da humanidade;
• as necessidades e expectativas de formação cultural exigi-
das pela população majoritária da sociedade, decorrentes
das condições concretas de vida e de trabalho e das lutas de
democratização.
Essas três referências não podem ser tomadas isolada-
mente, pois estão interligadas e sujeitas a contradições. Por
exemplo, os conteúdos escolares estão em contradição não
somente com as possibilidades reais dos alunos em assimilá-
-los como também com as possibilidades reais dos alunos na
medida em que podem ser usados para disseminar a ideolo-
gia de grupos e classes minoritárias.
[…]. Assim, o professor precisa saber avaliar a pertinên-
cia dos objetivos e conteúdos propostos pelo sistema esco-
lar oficial, verificando em que medida atendem exigências
de democratização política e social; deve, também, saber
Capítulo 4 | 64Didática
básicos das matérias. Esse conhecimento é necessário não
apenas porque o trabalho está vinculado a diretrizes nacio-
nais, estaduais e municipais de ensino, mas também porque
precisam saber que concepções de homem e sociedade carac-
terizam os documentos oficiais, uma vez que expressam os
interesses dominantes dos que controlam os órgãos públicos.
Na sociedade de classes, como é a brasileira, os objetivos
da educação nacional nem sempre vão expressar os interesses
majoritários da população, mas, certamente, podem incorpo-
rar aspirações e expectativas decorrentes das reivindicações
populares. É preciso que o professor forme uma atitude críti-
ca em relação a esses objetivos, de forma a identificar os que
convergem para a efetiva democratização escolar e os que cer-
ceiam (LIBÂNEO, 1991, p. 123).
Assim sendo, pode ser notada na obra de Libâneo a defesa da so-
ciedade democrática, garantindo preferencialmente o atendimento
dos anseios, desejos e necessidades da maioria da população. Edu-
cação tem um papel fundamental nesse processo, e que o professor
também necessita estar consciente de tais objetivos, que podem ser
trabalhados em sala de aula.
4.3.3. Objetivos específicos
Muitos profissionais não levam em consideração se um objetivo é
geral ou específico, classificando-os apenas como objetivos. Assim
acontece, por exemplo, em um plano de aula, em que muitas vezes
4.3.2. Objetivos gerais
Objetivos podem se divididos em dois níveis: os objetivos gerais
e os objetivos específicos. Desenvolvimento da personalidade dos
alunos pode ser considerado objetivo geral, bem como exigências
que a realidade social possa indicar. De qualquer forma, objetivos
gerais serão indiciados nos objetivos específicos, devido a esses se-
rem relacionados com os objetivos gerais. Amplamente vislumbra-
dos, os objetivos gerais são convertidos em objetivos específicos,
estando presentes nas matérias de ensino e em diferentes graus de
ensino. Assim sendo, Libâneo entende que os objetivos gerais pos-
suem três níveis de complexidade, ou abrangência, do mais amplo
ao mais específico:
a) pelo sistema escolar, que expressa as finalidades educativas de
acordo com ideais e valores dominantes na sociedade;
b) pela escola, que estabelece princípios e diretrizes de orienta-
ção do trabalho escolar com base num plano pedagógico-didá-
tico que represente o consenso do corpo docente com relação
à filosofia da educação e à prática escolar;
c) pelo professor, que concretiza no seu ensino da matéria a sua
própria visão de educação e sociedade.
Ao considerar os objetivos gerais e suas implicações para
o trabalho docente em sala de aula, o professor deve conhe-
cer os objetivos estabelecidos no âmbito do sistema escolar
oficial, seja no que se refere a valores e ideais educativos, seja
quanto às prescrições de organização curricular e programas
Capítulo 4 | 65Didática
[…].
O professor deve vincular os objetivos específicos aos ob-
jetivos gerais, sem perder de vista a situação concreta (da es-
cola, da matéria, dos alunos) em que serão aplicados. Deve,
também, seguir as seguintes recomendações:
• especificar conhecimentos, habilidades, capacidades que se-
jam fundamentais para serem assimiladas e aplicadas em si-
tuações futuras, na escola e na vida prática;
• observar uma sequência lógica, de forma que os conteúdos
e habilidades estejam inter-relacionados, possibilitando aos
alunos uma compreensão de conjunto (isto é, formando uma
rede de relações na sua cabeça);
• expressar os objetivos com clareza, de modo que sejam com-
preensíveis aos alunos e permitam, assim, que estes introje-
tem os objetivos de ensino como objetivos seus;
• dosar o grau de dificuldades, de modo que expressem desa-
fios, problemas, questões estimulantes e também viáveis;
• sempre que possível, formular os objetivos como resultados
a atingir, facilitando o processo de avaliação diagnóstica e de
controle;
• como norma geral, indicar os resultados do trabalho dos alu-
nos (o que devem compreender, saber, memorizar, fazer, etc.)
(LIBÂNEO, 1991, p. 126–127).
vemos apenas o termo objetivo sendo utilizado. Mas de qualquer
forma, os dois níveis de objetivos estão correlacionados.
Deve-se considerar que os objetivos de uma aula são objetivos a se-
rem alcançados pelos alunos, ou seja, é importante observar que ain-
da que a aula agrade ao professor, ele deve assegurar-se de que os alu-
nos estejam atingindo os objetivos propostos. Esperar a avaliação no
final de uma unidade pode ser tarde, desse modo é interessante estar
atento no momento em que se explica algo aos alunos. É uma tarefa
complexa, mas acredito que cada professor possui uma forma pessoal
de prestar atenção no nível de interesse de um grupo como um todo.
Libâneo também esclarece alguns detalhes sobre os objetivos
específicos:
Os objetivos específicos particularizam a compreensão en-
tre escola e sociedade e especialmente do papel da matéria
de ensino. Eles expressam, pois, as expectativas do professor
sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo
de ensino. Têm sempre um caráter pedagógico, porque expli-
citam um rumo a ser imprimido ao trabalho escolar, em torno
de um programa de formação.
A cada matéria de ensino correspondem objetivos que
expressam resultados a obter: conhecimentos, habilidades e
hábitos, atitudes e convicções, através dos quais se busca o de-
senvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Há,
portanto, estreita relação entre os objetivos, os conteúdos e os
métodos. Na verdade, os objetivos contêm a explicitação peda-
gógica dos conteúdos, no sentido que os conteúdos são prepa-
rados pedagogicamente para serem ensinados e assimilados.
Capítulo 4 | 66Didática
social; valores, convicções, atitudes. São expressos nos pro-
gramas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e
de aula, nas aulas, nas atitudes e convicções do professor, nos
exercícios, nos métodos e formas de organização do ensino.
Podemos dizer que os conteúdos retratam a experiência
social da humanidade no que se refere a conhecimentos e
modos de ação, transformando-se em instrumentos pelos
quais os alunos assimilam, compreendem e enfrentam as
exigências teóricas e práticas da vida social. Constituem o
objeto de mediação escolar no processo de ensino, no senti-
do de que, a assimilação e compreensão dos conhecimentos
e modos de ação se convertem em ideias sobre as proprie-
dades e relações fundamentais da natureza e da sociedade,
formando convicções e critérios de orientação das opções
dos alunos frente às atividades teóricas e práticas postas
pela vida social.
[…].
Os conteúdos da cultura, da ciência, da técnica, da arte
e os modos de ação no mundo expressam os resultados da
atividade prática dos homens nas suas relações com o am-
biente natural e social. Nesse processo, os homens vão in-
vestigando o mundo da natureza e das relações sociais e
elaborando conhecimentos e experiências, formando o que
chamamos de saber científico. Nessas condições, o saber se
torna objeto de conhecimento cuja apropriação pelas várias
gerações, no ensino, constitui-se em base para a produção e
elaboração de novos saberes (LIBÂNEO, 1991, p. 129).
4.3.4. Importância dos conteúdos em educação
Costuma-se definir conteúdo como a matéria-prima a ser utilizada
na educação. O arcabouço teórico e prático de conhecimentos acu-
mulados pela humanidade é a base, a fonte em que o professor bus-
ca e seleciona conteúdos relacionados com sua área. Haydt aponta
que em séculos de conhecimento, mas pode-se também considerar
milênios de conhecimentos, sabedoria em diferentes áreas: ciência,
arte, religião, filosofia, entre outros.
O conteúdo faz uma ponte interessante com os objetivos, como
se fosse uma mão dupla. Conteúdos indicam que determinados ob-
jetivos serão alcançados, objetivos também indicam a necessidade
de trabalhar determinados conteúdos.
É uma relação importante, e o professor precisa constantemente
refletir sobre como tem funcionado a relação entre os diferentes com-
ponentes de um planejamento, seja de curso, de unidade ou de aula.
Cabe ao professor sempre acompanhar as diferentes concepções
de autores que publicam artigos, livros ou fazem palestras sobre o
assunto. Libâneo assim comenta sobre conteúdos:
Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, ha-
bilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atua-
ção social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo
em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua
prática de vida. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos,
processos, princípios, leis científicas, regras; habilidades
cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão
e aplicação, hábitos de estudo, de trabalho e de convivência
Capítulo 4 | 67Didática
em que os alunos vivem, satisfazendo suas necessidades e
expectativas. […].
3) Significação: Um conteúdo será significativo e interessante
para o aluno quando estiver relacionado às experiências por
ele vivenciadas. Por isso, o professor deve procurar relacio-
nar, sempre que possível, os novos conhecimentos a serem
adquiridos pelos alunos, com suas experiências e conheci-
mentos anteriores. […].
4) Adequação ao nível de desenvolvimento do aluno: O conteú-
do selecionado deve respeitar o grau de maturidade intelectual
do aluno e estar adequado ao nível de suas estruturas cognitivas.
5) Flexibilidade: O critério de flexibilidade estará sendo aten-
dido quando houver possibilidade de fazer alterações nos
conteúdos selecionados, suprimindo itens ou acrescentando
novos tópicos, a fim de ajustá-los ou adaptá-los às reais con-
dições, necessidades e interesses.
[…].
Além desses critérios mencionados, para selecionar o conte-
údo programático é preciso levar em conta o tempo disponível.
Outro aspecto que gostaríamos de lembrar é que deve ser
dada ao aluno a possibilidade de elaboração pessoal do con-
teúdo trabalhado. Isto quer dizer que o aluno deve operar in-
telectualmente o conteúdo aprendido, fazendo associações e
comparações, relacionando e integrando os novos elementos
aos já assimilados, pesquisando e organizando novas infor-
mações, selecionando alternativas e avaliando ideias. É assim
que o aluno estará construindo, ou melhor, dizendo, recons-
truindo o conhecimento (HAYDT, 2006, p. 130–131).
É por meio do conteúdo e das experiências de aprendizagem que
a escola organiza de forma sistematizada o conhecimento, e tam-
bém trabalha, na prática cotidiana de sala de aula, os valores tidos
como desejáveis na formação das novas gerações.
De acordo com Walter Garcia, conteúdo é ‘tudo aquilo que é pas-
sível de integrar um programa educativo com vista à formação das
novas gerações. Um conteúdo pode referir-se a conhecimentos, ati-
tudes, hábitos etc.’ Como podemos verificar, esse é um conceito am-
plo de conteúdo, que não se identifica apenas com a simples aquisi-
ção de informações. É por meio dos conteúdos que transmitimos e
assimilamos conhecimentos, mas é também por meio do conteúdo
que praticamos as operações cognitivas, desenvolvemos hábitos e
habilidades e trabalhamos as atitudes.
Por outro lado, Enricone e seus colaboradores afirmam que “os
conteúdos são vistos como um meio para concretização da apren-
dizagem. Envolvem basicamente: desenvolvimento de processos
mentais; tratamento das informações” (HAYDT, 2006, p. 126–127).
Haydt também indica critérios nos quais os professores devem
fundamentar-se:
1) Validade: Deve haver uma relação clara e nítida entre os objeti-
vos a serem atingidos com o ensino e os conteúdos trabalhados.
[…]. Em segundo lugar, os conteúdos são válidos como há uma
atualização dos conhecimentos do ponto de vista científico.
2) Utilidade: O critério de utilidade está presente quando há
possibilidade de aplicar o conhecimento adquirido em situa-
ções novas. Os conteúdos curriculares são considerados úteis
quando estão adequados às exigências e condições do meio
Capítulo 4 | 68Didática
O professor como o ator tem um roteiro a seguir, ensaia o que vai
falar e atua, mas o improviso é muito necessário. Existem artistas
professores de grande talento, determinados, que buscam muitos
conhecimentos, e criam métodos adequados para educar crianças,
adolescentes e adultos.
Mas talento não é o mais importante em docência, pois ensinar
implica muita dedicação, estudos, reflexão sobre o que e como tra-
balhar, mais do que um dom natural.
Procedimentos estão relacionados a um planejamento prévio.
Um curso pode ser todo ministrado em sala de aula somente com
quadro e cadernos. Mas em sala de aula haverá representações dra-
máticas sobre os assuntos, projeção de imagens, jogos de integra-
ção, seminários elaborados pelos alunos, como será apresentado
adiante. A aula pode ser também desenvolvida em uma galeria de
arte, uma fábrica, um shopping, um campo de futebol, por meio de
uma viagem ao campo ou a outros municípios ou estudos em bi-
bliotecas. Experiências diversas devem ser propiciadas aos alunos,
inclusive levando em consideração suas diferentes faixas etárias.
Procedimentos implicam em ações não somente por parte do
professor, mas também por parte do aluno. Autores defendem que
o aluno aprende com o professor, consigo mesmo e com os outros
alunos, e tal dimensão deve ser considerada pelo professor no mo-
mento de selecionar os procedimentos a serem desenvolvidos para
alcançar determinados objetivos, propostos no planejamento da
aula, da unidade, do curso.
Recursos relacionam-se a materiais a serem utilizados pelo pro-
fessor e pelos alunos. Como todos os outros itens, devem estar vin-
No sentido de organização, torna-se importante observar a sequ-
ência em nível de complexidade, evolução histórica do assunto ou
diferentes conexões entre os conteúdos. Podemos organizar crono-
logicamente os conteúdos da História da Arte, mas também podem
ser articuladas outras relações, como as diferentes representações
do homem ao longo da história. Quando se fala em aspectos estéti-
cos, por exemplo, em muitos casos não é necessária uma sequencia
temporal, pois podem ser estabelecidas familiaridades entre os câ-
nones renascentistas e os gregos da época de Fídias, bem como do
Neoclássico do século XIX com o Renascimento.
4.4. PROCEDIMENTOS, RECURSOS E AVALIAÇÃO
4.4.1. Conceito de procedimentos, recursos e
avaliação para a ação pedagógica
Procedimentos são também chamados de metodologia ou organiza-
ção das ações e correspondem às opções do como alcançar os objeti-
vos e trabalhar conteúdos em ação. Trata-se da melhor forma de agir,
opções de colocar o planejamento idealizado, teórico, em prática.
Esse momento é quando o professor não escapa de ser o que re-
almente é em termos de profissional da educação, pois nos proce-
dimentos cada professor tem uma forma pessoal de agir, quando
geralmente coloca em cena também seu temperamento, seu jeito de
lidar com uma turma frente às situações imprevistas, geralmente
agradáveis, mas nem sempre.
Capítulo 4 | 69Didática
Para selecionar procedimentos, recursos e avaliação também
há que se considerar a realidade em que a Arte está sendo traba-
lhada, quais são as vivências dos alunos, sua condição econômica,
aspectos sociais e expectativas de aprendizagem. Os alunos tam-
bém devem ser ouvidos nesses momentos: averiguar de que for-
ma gostariam de trabalhar determinados conteúdos, por meio, in-
clusive, da sugestão e da escolha dos materiais (recursos) com os
quais desejam trabalhar em Arte. É aconselhável que a escola tenha
materiais para fornecer aos alunos, e cada unidade de ensino deve
prever os procedimentos necessários para tal. A avaliação também
pode contar com a participação da turma, averiguando como eles
gostariam de ser avaliados e avaliação pode ocorrer durante o pro-
cesso da aula, ou mesmo ao final de determinada unidade (como
costuma acontecer).
A seleção de procedimentos, recursos e critérios para a avalia-
ção, vai ao encontro de que tipo de aprendizagem se deseja efetivar,
incidindo sobre a natureza do conteúdo e dos objetivos propostos.
A faixa etária dos alunos também não pode ser negligenciada, pois
teorias do desenvolvimento nos indicam as diferenças entre essas,
inclusive implicando em diferentes processos de aprendizagem
(HAYDT, 2006).
Quanto à natureza dos procedimentos torna-se interessante des-
tacar duas formas classificadas por Haydt (2006):
1) Procedimentos de ensino-aprendizagem individualizantes
Trata-se dos procedimentos mais difundidos na educação no Brasil
e também o mais tradicional. Citando vários outros autores, como
Nérici em seu livro “Metodologia de Ensino”, esse procedimento
culados aos objetivos, conteúdos, bem como ao planejamento como
um todo. Reproduções de desenhos e pinturas, reprodução em data
show são recursos, assim como a obra exposta no museu também é
um recurso que poderá ser utilizado para compreensão da obra do
artista. Ir ao museu é um procedimento, e as obras expostas são re-
cursos utilizados para conceituar a fruição estética, realizar análise
da obra etc. Comparar a fruição da arte reproduzida no papel com a
fruição da obra in loco (frente à obra mesmo) é um objetivo no qual
estão implicados dois recursos: reprodução de obra artística e obra
artística (no museu, na galeria, por exemplo).
Recurso, por sua vez, diz respeito a algo que vai ser utilizado para
desenvolver o procedimento (metodologia) proposto pelo professor.
A avaliação incide sobre a pergunta: o que os alunos aprenderam
do que foi ensinado? E isso diz respeito a averiguar se os objetivos
foram (ou estão sendo) alcançados.
Em Arte, avaliação tem sido uma ação bastante polêmica, es-
pecialmente no que diz respeito a trabalhos que envolvem o fazer,
como trabalhos em pintura, desenho, instalação, cerâmica e outras
técnicas. Determinados aspectos podem ser observados, especial-
mente no que diz respeito à utilização de técnicas, teorias, mas,
como a estética escapa ao pensamento lógico racional, só se conse-
gue um consenso, ou se escapa da aparente subjetividade do traba-
lho, quando se propõem objetivos específicos, quando a proposta é
apresentada com clareza para que o aluno consiga também avaliar
se alcançou ou não o que foi proposto como exercício. Quando se
trabalha com teorias como História da Arte, Didática do Ensino de
Arte, Filosofia da Arte, por exemplo, a avaliação se pauta nos conte-
údos para se aferir os resultados.
Capítulo 4 | 70Didática
no final de uma unidade. De qualquer forma, é sempre impor-
tante despertar os alunos para o assunto, aumentando seus
interesses, bem como conhecer o que sabem, o que não sabem
ou têm a falar sobre o conteúdo.
2) Procedimentos de ensino-aprendizagem socializantes
Envolve desenvolvimento e participação dos alunos em termos gru-
pais, buscando sempre alternativas de interação entre os indivídu-
os. Haydt destaca procedimentos alusivos a tal metodologia:
a) Uso de jogos: tem como princípio que jogo é uma atividade
que os seres humanos fazem com prazer, como prática arrai-
gada na sociedade e que pode também ser levada para a sala de
aula. Considera-se que desenvolve as capacidades criadoras
nas crianças, adolescentes e adultos, considerando-se o en-
volvimento que o jogo é capaz de promover no indivíduo em
relação a um grupo. Envolve prazer, emoção, iniciativa. Haydt
destaca que ‘integra as dimensões afetiva, motora e cogniti-
va da personalidade’, funcionando assim como fator de inte-
gração entre tais aspectos trabalhados em educação (motrici-
dade, cognição, afeição). As relações sociais estão presentes
quando os jogos são desenvolvidos, como já destacavam edu-
cadores antigos, como Comenius, Rousseau e Pestalozzi que
ressaltavam sua importância na educação.
b) Dramatização: o aluno tem a possibilidade de representar
diferentes papéis, seja através de improvisação ou mesmo de
forma planejada. Situações reais da vida podem ser trabalha-
das, propondo que os alunos elaborem em grupo pequenas
implica geralmente em exposição, apresentação oral de um tema
que é logicamente estruturado, assumindo duas posições didáticas:
a) aula expositiva dogmática (ou exposição dogmática), em que
a mensagem não pode ser contestada, devendo ser, inclusive,
repetida no momento da avaliação. O professor é dominante e
o aluno é passivo e receptivo. Quando se tem certeza que a tur-
ma tenha atingido um grau importante de atenção e concen-
tração, a aula expositiva pode ser muito rica, especialmente se
o professor tiver grande domínio sobre o assunto e contempla
em sua fala questões alusivas ao assunto que interessem aos
alunos. No entanto, cobrar posteriormente um retorno ipsis li-
teris por parte do aluno, pode configurar descontextualização
da presente realidade, pois torna-se necessário que os alunos
saibam contextualizar a fala dogmática;
b) aula expositiva aberta ou dialogada, em que a discussão e a
participação do aluno são incentivadas e a fala do professor
seve para desencadear tais discussões. Agora o professor se
coloca na posição de ouvinte dos alunos em relação ao tema
proposto, inclusive procurando responder dúvidas que pos-
sam surgir, também propondo perguntas a serem respondi-
das pelos alunos. Ainda segundo Haydt, a aula expositiva dia-
logada favorece a atividade reflexiva dos alunos, promovendo
também a participação desses na aula. Aponta as seguintes si-
tuações em que a aula dialogada pode ser utilizada com maior
sucesso quando se introduz um novo conteúdo, quando in-
voca conceitos básicos alusivos ao conteúdo, buscando assim
uma visão panorâmica do assunto; para sintetizar o assunto,
Capítulo 4 | 71Didática
d) Estudo de casos: é uma técnica em que determinada situa-
ção real é apresentada aos alunos, para que procedam a estu-
dos sobre essa. Podem fazer ligação do caso mencionado com
determinado conteúdo, propondo alternativas e soluções.
É uma forma de os alunos aplicarem os conhecimentos teóri-
cos a situações práticas. Os casos e situações podem ser reais
ou hipotéticos, segundo critério do professor ou do grupo.
Em geral, a situação é apresentada aos alunos por escrito,
em forma de descrição, narração, diálogo ou artigo jorna-
lístico. Pode também ser apresentada por meio de um filme
(HAYDT, 2006, p. 195).
Nessas situações geralmente se está buscando levar o aluno a re-
lacionar conteúdos teóricos com situações reais.
e) Estudo do meio: é desenvolvido no espaço extraescolar quan-
do se propõe ao aluno que proceda um levantamento de dados
em determinada região, geralmente a região onde a escola está
localizada ou onde o aluno habita. Para tanto, poderá lançar
mão de fotografias, entrevistas, filmagens, aplicação de ques-
tionários, gravações em áudio, consultas a documentos em
cartórios, museus, observação nos aspectos arquitetônicos,
costumes, culinária etc. Tal atividade desenvolve a capacida-
de de observação, contato social, permitindo ao aluno realizar
uma verdadeira pesquisa. Ao final, aluno deverá trazer suas
conclusões, dados e anotações realizadas para aula e deverá ob-
ter conclusões, conforme o tema proposto para a investigação.
dramatizações em sala de aula. Gilson Sarmento, educador
na área de Teatro trata da necessidade de serem trabalhadas
nas escolas pequenas dramatizações, sem a proposta de se-
rem apresentadas no final do semestre em forma de teatro.
Pequenas dramatizações, desempenhadas em sala de aula,
apenas com a turma, trazem resultados mais importantes
para os alunos do que apresentação de teatro, como costuma
ser visto nas escolas (desde a Educação Infantil até o Ensi-
no Médio). Além disso, é fator de aquisição de determinados
conhecimentos, para atingir objetivos, bem como promover
interação entre os alunos.
c) Trabalho em grupo: traz muitos elementos também contidos
na dramatização, mas nessa perspectiva, existe uma propos-
ta a ser trabalhada, no sentido de conteúdo de ensino. No sé-
culo XX, costumava-se utilizar a expressões como “dinâmica
de grupo”, interação grupal, trabalho em grupo, trabalho em
equipe, voltados para a questão do grupo social. Determinado
objetivo comum é sugerido pelo professor ou pelos alunos e,
com os alunos divididos em determinados grupos, procederão
as trocas de ideias, construindo determinado conhecimento,
por meio de investigação conjunta ou individualmente, para
compartilhar com o grupo as questões ou respostas encon-
tradas. Pode ser decidido em sala de aula não só a assunto a
ser trabalhado, bem como modos de executá-lo grupalmente.
Em seu livro “Didática Geral”, Haydt apresenta várias opções a
serem efetivadas em trabalhos de grupo, bem como recomen-
dações para a formação dos grupos. Trata-se de uma fonte de
consulta interessante para futuros professores.
Capítulo 4 | 72Didática
Sabe-se que, salvo várias exceções, a educação é dominada pela
avaliação tipo ‘bancária’, ou seja, o aluno deve falar sobre o que foi
dito em sala de aula, o que se encontra escrito nos livros adotados,
ou o que o professor acha que é mais correto. Tal avaliação é comu-
mente denominada de conteudista e quantitativa. Em certa medida,
ela pode ser adotada, mas também valores qualitativos em sala de
aula devem ser considerados.
Libâneo (1991) aponta características importantes sobre a avaliação:
• Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos: entende a
avaliação como é parte integrante do processo de aprendiza-
gem, e os conteúdos, objetivos e métodos devem estar presen-
tes nessa. Os objetivos, tendo sido explicados com clareza aos
alunos, auxiliam nesse processo.
• Possibilita a revisão do plano de ensino: o professor poderá
averiguar até que ponto seus objetivos estão sendo atingidos,
se os alunos estão satisfeitos. Novas decisões poderão ser to-
madas pelo professor após ter procedido a uma avaliação.
• Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades: Libâneo
acredita que o aluno, é ajudado a reconhecer sua posição
diante da turma inteira, sendo assim impelido a tomar de-
terminadas posições, que podem servir como uma base para
suas ‘atividades de ensino e aprendizagem’.
• Voltar-se para a atividade do aluno: deverá estar presente
durante o desenvolvimento das atividades do aluno e não so-
mente no final do bimestre.
A questão básica da avaliação é a averiguação se os alunos alcan-
çaram os objetivos propostos no planejamento. É um momento que
pode ser discutido com os alunos para pergunta-los de que forma
acreditam ser importante averiguar se assimilaram os conteúdos
trabalhados. Pode ser realizada no final de uma unidade ou mesmo
de um conteúdo, mas muitos professores estão constantemente
atentos durante todo o desenvolver dos estudos, buscando meios
de efetivar a avaliação durante o percurso das aulas. A avaliação pro-
cessual é realizada averiguando o interesse do aluno pela aula, bem
como a participação, seja por meio da atenção que demonstra em
relação aos conteúdos e às atividades, seja elaborando perguntas
pertinentes, assim como participando com respostas quando essas
são solicitadas. Quando muitos exercícios práticos são solicitados
em sala de aula, pode-se avaliar a frequência do aluno na escola.
Convém atentar para duas formas de avaliar: comparar o desem-
penho do aluno com o resto da turma ou compará-lo consigo mes-
mo. Levando-se em consideração a avaliação comparativa de aluno
para aluno (em relação ao grupo), torna-se mais fácil a aferição, pois
existem os primeiros, segundos e terceiros lugares. No entanto, ava-
liar o desempenho do aluno consigo mesmo, é uma proposta um
pouco mais complexa, pois ao professor será necessário conhecer o
nível em que o aluno se encontra quando iniciou o curso e o nível
que teria atingido ao finalizá-lo.
A tarefa de casa (extraclasse) também deve ser verificada: se o
aluno as cumpre constantemente, se as desenvolve de maneira
competente, se pode ser observado que ele mesmo a tenha realizado
ou se foi realizada por terceiros.
Capítulo 4 | 73Didática
A avaliação é para o professor e para o aluno uma indicação da
continuidade dos estudos. Se o aluno foi avaliado na média, é sinal
que pode ser promovido para outro ano (grau) de ensino. Para o pro-
fessor, se ocorreram muitas reprovações ou mesmo se as notas não
foram muito satisfatórias, é um indicativo de que algo não vai mui-
to bem em seu próprio desempenho, em seu planejamento. Se toda
a escola indica desempenho indesejável pelos alunos, algo deve ser
severamente mudado naquela instituição.
O vestibular parece também determinar na educação a tendência
na avaliação tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Mé-
dio, mas, por enquanto, Arte está livre desse perigo, pelo fato de não
ser ainda conteúdo de processo seletivo. Por isso, em muitas escolas
Arte é desprestigiada e tem sua carga severamente diminuída ou su-
primida, principalmente no Ensino Médio. Porém, órgãos de gover-
no já têm procedido a estudos para incluí-la no teste e certamente o
campo de trabalho será aumentado. Mas dessa maneira haverá um
ganho qualitativo na área? Ademais, é risível valorizar a Arte na es-
cola somente pelo fato de estar presente no vestibular.
• Ser objetiva: instrumentos e técnicas devem ser aplicados
nesse sentido. Não se trata de excluir as subjetividades de alu-
nos e professores, mas essas não podem ‘comprometer as exi-
gências objetivas, sociais e didáticas, inerentes ao processo de
ensinar’. Assim sendo, a exigência de objetividade deve estar
presente na avaliação.
• Ajuda na autopercepção do professor: é um momento no qual
o professor pode e deve refletir sobre seu trabalho, no sentido de
esclarecer se está sendo suficientemente claro para toda a tur-
ma; se está dando preferência a alguns e discriminando outros;
se tem conseguido motivar os alunos a valorizarem a disciplina.
• Reflete valores e expectativas do professor em relação aos
alunos: a avaliação escolar envolve a objetividade e subjetivi-
dade, tanto em relação ao professor quanto aos alunos.
Em Arte, existe ainda a tendência de o professor levar em con-
sideração suas preferências estéticas, tornando assim a avaliação
tendenciosa e seletiva. Por exemplo, determinado professor pode
preferir um desenho mais fotográfico, no qual se valoriza a perspec-
tiva correta, claro-escuro etc; outro pode preferir um desenho mais
expressivo, em que está colocada uma característica mais subjetiva,
uma expressão mais singular do aluno. Desse modo e tendo em vista
essa preferência, poderá atribuir nota mais alta ao aluno que produz
considerando o que entende ser mais adequado ser expresso em arte.
Nesse sentido o professor deve guiar-se pela diversidade e singu-
laridade das respostas e pelo que se pretende alcançar com a ativi-
dade proposta.
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