UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES
IDADES DE ABATE
EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA
Brasília - DF
2017
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES
IDADES DE ABATE
EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA
Monografia apresentada como parte das exigências do curso de Graduação em Agronomia, para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.
Orientador: Prof. Dr. Clayton Quirino Mendes
Brasília-DF
2017
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES
IDADES DE ABATE
EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA
BANCA EXAMINADORA
....................................................................................
Prof. Dr. Clayton Quirino Mendes
Universidade de Brasília – UnB
Orientador
....................................................................................
Prof. Dr. Sérgio Lúcio Salomon Cabral Filho
Universidade de Brasília – UnB
Examinador interno
....................................................................................
MS, João Paulo Horta Vieira de Miranda
Zootecnista
Examinador externo
FICHA CATALOGRÁFICA
VIEIRA, EWERTON GUILHERME FONSECA
“CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES IDADES DE ABATE”. EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA. Orientação: Clayton Quirino Mendes, Brasília, 2017.
Monografia – Universidade de Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2017.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA VIEIRA, E.G.F. CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES IDADES DE ABATE. Brasília: Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2017, 30 f. Monografia. CESSÃO DE DIREITOS Nome do Autor: EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA
Título da Monografia de Conclusão de Curso: CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES IDADES DE ABATE Grau: 3o Ano: 2017.
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias
desta monografia de graduação e para emprestar ou vender tais cópias
somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva-se a
outros direitos de publicação e nenhuma parte desta monografia de
graduação pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.
_______________________________________________
EWERTON GUILHERME FONSECA VIEIRA (61) 982842767 e-mail: [email protected]
DEDICATÓRIA
A Deus, por ter me abençoado e guiado as pessoas que contribuíram
durante a jornada da graduação.
Aos meus pais, Fernando e Berenice, e minha irmã Karol, por sempre
estarem ao meu lado me amparando e me encorajando nos momentos mais
importantes da minha vida.
Aos meus familiares e amigos que sempre foram o pilar para minha vida e
estudos.
Ao professor Clayton Mendes “Cirilo”, pela orientação que tornou possível
esta monografia.
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém pensou sobre
aquilo que todo mundo vê.”
Arthur Schopenhauer
AGRADECIMENTOS
A Deus por ser o responsável por tudo que aconteceu em minha vida até
hoje, pelas pessoas e oportunidades que Ele colocou no meu caminho.
Aos meus pais, Fernando e Berenice, minha irmã Karol e minhas avós
Mariquita e Cleide por me ampararem e aconselhar me dando garra para prosseguir
nas horas difíceis. Obrigada por acreditarem no meu potencial. O apoio, amor e
carinho de vocês foram fundamentais para que eu concluísse mais uma etapa da
minha vida!
Aos meus familiares, especialmente a meu primo Patrick Martins, pelo
companheirismo e por me dar coragem para enfrentar diversas situações na minha
vida.
Ao meu orientador Clayton Mendes “Cirilo” pela amizade, companheirismo,
paciência e por todos os conhecimentos compartilhados para o meu crescimento
pessoal e profissional.
Aos meus amigos da Agronomia, em especial à turma do segundo semestre
de 2012, por estarem comigo durante toda essa jornada vivendo momentos
inesquecíveis, incentivando e compartilhando conhecimentos.
Aos meus amigos Diogo Alencar, Igor Farias, João Felix, Filipe Sales,
Vinicius Moura, Lucas Simas, Lissa Barros, Mateus Costa, Lucas Henrique, Ítalo
Costa, Gabriel Paz, Marcel Leal e Guilherme Brito, por sempre estarem ao meu lado
me apoiando e aconselhando em grandes momentos da minha vida.
Ao meu amigo Jorge Guenka pela amizade, incentivo, apoio, paciência e
por todos os conselhos que me deu nesses cinco anos de graduação.
Aos meus amigos do Segue-me por me mostrarem um caminho totalmente
belo e uma forma diferente de ver a vida compartilhando momentos de muito amor e
companheirismo.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS..........................................................................viii
RESUMO....................................................................................................................ix
ABSTRACT..................................................................................................................x
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................1
2. OBJETIVO GERAL.................................................................................................3
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................................3
3. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................4
3.1 PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL..............................................................4
3.2 PRODUÇÃO DE VITELO..................................................................................4
3.3 MERCADO DE VITELO NO BRASIL................................................................6
4. METODOLOGIA......................................................................................................7
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................12
6. CONCLUSÕES......................................................................................................16
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................17
.
viii
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
Tabela 1 – Parâmetros para confinamento de bezerros de origem leiteira com diferentes idades de abate........................................................................9
Tabela 2 – Proporção dos ingredientes e composição da dieta para confinamento de
de bezerros de origem leiteira para ganho de 1,2kg/dia.........................10
Tabela 3 – Componentes do custo de produção do bezerro.....................................11
Tabela 4 – Custo de produção do bezerro de origem leiteira com diferentes idades
de abate..................................................................................................12
Tabela 5 – Indicadores de desempenho econômico da produção de bezerros de
origem leiteira com diferentes idades de abate.........................................14
Gráfico 1 – Distribuição de nascimentos de bezerros previstos para 2017.................8
Gráfico 2 – Composição do custo de produção do bezerro de origem leiteira com diferentes idades de abate......................................................................13
ix
RESUMO
CUSTO DE PRODUÇÃO DE VITELO COM DIFERENTES IDADES DE ABATE
Ewerton Guilherme Fonseca Vieira1, Clayton Quirino Mendes1
1Facudade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília
A produção de vitelo é uma possibilidade para a geração de renda na propriedade
leiteira e para maior disponibilidade de proteína de origem animal para a população.
O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o custo de produção de
vitelos em uma propriedade localizada na cidade de Eloi Mendes, Sul do estado de
Minas Gerais. Para fins de análise de viabilidade econômica foram consideradas as
seguintes idades de abate: 06, 08, 10 ou 12 meses. O custo da arroba produzida foi
de R$ 151,61; R$ 127,25; R$ 116,15 e R$ 111,43 para as idades de abate de 06,
08, 10 e 12 meses, respectivamente. Na medida em que se eleva a idade de abate,
apesar do aumento no custo operacional total, observa-se que o custo da arroba
produzida é reduzido. Quando se analisa a composição percentual do custo de
produção do vitelo, observa-se que, independente da idade de abate, o maior
percentual é com o custo de produção do bezerro, seguido do custo com
alimentação. Avaliando o lucro operacional tem-se prejuízo anual de R$ 54.988,42 e
R$ 6.318,79 para os animais abatidos com idade de 06 ou 08 meses,
respectivamente. Este fato também é confirmado com os índices de lucratividade
negativos obtidos para abate nessas idades. Por outro lado, o lucro se torna positivo
para as demais idades de abate avaliadas, sendo obtido lucro líquido de R$ 101,46
e R$ 188,15 para cada animal abatido com 10 ou 12 meses, respectivamente. Foi
observado ainda lucratividade de 7,08% e 10,9% para a atividade quando os
animais atingem idade de abate de 10 ou 12 meses. Nas condições da propriedade
avaliada a produção de bezerros de origem leiteira para a produção de vitelo
abatidos aos 10 ou 12 meses de idade é economicamente viável e coloca-se como
fonte alternativa de renda.
Palavras-chave: bezerro, lucratividade, pecuária leiteira
x
ABSTRACT
PRODUCTION COST OF VITELO SLAUGHTERED WITH DIFFERENT AGES
Ewerton Guilherme Fonseca Vieira1, Clayton Quirino Mendes1
1School of Agronomy and Veterinary Medicine – University of Brasilia, DF.
The production of veal is a possibility for the generation of income in the dairy
property and for greater availability of protein of animal origin for the population. The
present study was carried out with the objective of evaluating the production cost of
calves in a dairy farm located in the city of Eloi Mendes, southern Minas Gerais
state. For the purposes of economic viability analysis different ages of slaughter
were considered: 06, 08, 10 or 12 months. Despite the increase in the total
operational cost, as the slaughtering age increases, the cost of the 14.69 kg (arroba)
produced is reduced. The cost of the 14.69 kg (arroba) produced was R$ 151.61; R
$ 127.25; R$ 116.15 and R$ 111.43 for the slaughter ages of 06, 08, 10 and 12
months, respectively. When analyzing the percentage composition of the production
cost of the calf, it is observed that, regardless of the slaughter age, the highest
percentage is with the calf production cost, followed by the feed cost. Evaluating the
operating profit has an annual loss of R $ 54,988.42 and R $ 6,318.79 for animals
slaughtered aged 06 or 08 months, respectively. This fact is also confirmed by the
negative profitability indexes obtained for slaughter at these ages. On the other
hand, the profit becomes positive for the other slaughter ages evaluated, with a net
profit of R $ 101.46 and R $ 188.15 for each animal slaughtered with 10 or 12
months, respectively. It was also observed profitability of 7.08% and 10.9% for the
activity when the animals reach the age of slaughter of 10 or 12 months. The
production of dairy calves for the production of veal slaughtered at 10 or 12 months
of age is economically viable and is as an alternative source of income for the
evaluated farm.
Keywords: calf, dairy farming, profitability
1
1. INTRODUÇÃO
Considerando o crescimento populacional e a necessidade de proteína de
origem animal para alimentar a população a produção de carne a partir do
aproveitamento de machos de origem leiteira vem se tornando uma tendência
mundial. De acordo com Alves & Lizieire (2001), nos países de pecuária leiteira
desenvolvida, a produção de vitelos cresce a cada ano, principalmente na Europa,
na busca por carnes de coloração mais clara, tenra e própria para o preparo de
pratos sofisticados.
A produção de vitelos tem origens antigas que remontam à antiga civilização
egípcia e romana (Zanchin, 2003). Atualmente, a utilização de machos leiteiros para
a produção de vitelos é bastante difundida e desenvolvida em alguns países da
Europa e em menor escala nos países da América do Norte (Signoretti e Resende,
2005).
De acordo com dados da American Veal Association (2014), cerca de 15%
da produção de vitelos são provenientes de fazendas familiares ou de agricultores
simples, como por exemplo a comunidade Amish. De acordo com os dados da
USDA (2014) no ano de 2013 foram abatidos 762 mil bezerros e, dessa forma,
pode-se considerar que a venda de bezerros leiteiros possui uma importância
econômica considerável para esses produtores.
No Brasil, o Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças Bovinas (Portaria
193/84), considera o vitelo como bovino (macho ou fêmea) abatido com até 12
meses, no entanto, existe uma variedade de tipos de vitelos produzidos, visto as
diferenças da idade ao abate, alimentação, instalação entre outras.
Tradicionalmente, os vitelos são classificados com definições próprias, baseadas no
peso, alimentação e idade. Nos países europeus, além dessas características, é
comum a classificação pela pontuação relativa à coloração da carne. De acordo
com Ribeiro et al. (2001), os sistemas normalmente utilizados incluem o vitelo de
carne branca, animal criado com dieta líquida e abatido com 3 a 5 meses de idade
pesando de 120 a 210 kg e o vitelo de carne rosa, animal desaleitado precocemente
criado com dieta sólida com elevada proporção de grãos e abatido aos 5-6 meses
com 225 a 250 kg PV.
A pecuária leiteira é de fundamental importância social para os brasileiros,
tendo em vista que a atividade participa na formação da renda de grande número de
2
produtores, além de ser responsável por elevada absorção de mão de obra rural,
propiciando a fixação do homem no campo (Campos, 2007).
Anualmente, nas principais bacias leiteiras do Brasil, milhares de bezerros
machos são sacrificados ao nascer, eliminando-se assim uma fonte de renda em
potencial. Os machos de raças mais apuradas são sacrificados logo após o
nascimento, pois, apesar de seu maior potencial para ganhar peso, não conseguem
se adaptar às condições rústicas de um sistema de criação mais extensivo (Alleoni
et al., 1980; Lucci, 1989).
No Brasil, pelo baixo valor agregado a tais animais, a forma como são
criados é bastante negligente quanto ao manejo sanitário e alimentar, assim levando
à crença que machos de origem leiteira apresentam baixo desempenho produtivo e
carcaças de baixa qualidade. Segundo informações da Ontário Veal Association
(2003), em propriedades onde se utiliza rebanhos puros ou com maior proporção de
genes de raça especializadas e a ordenha é feita sem necessidade de presença do
bezerro, esses animais também são sacrificados logo nos primeiros dias de vida ou
vendidos a valores totalmente baixos que não cobrem nem mesmo o custo do
sêmen. Essa situação de descartar os machos leiteiros recém-nascidos contrasta
com a realidade mundial que busca nesses animais uma saída para a produção de
carne de qualidade.
Segundo a Embrapa (2012) no ano de 2011 foram ordenhadas 23,5 milhões
de vacas no Brasil. Considerando-se que 50% das crias dessas vacas são machos,
com taxa de natalidade de 50% e taxa de sobrevivência de 90%, estima-se que
aproximadamente 5,3 milhões de bezerros de origem leiteira estariam disponíveis
para a produção de carne durante o ano.
Assumindo que esses 5,3 milhões de bezerros poderiam ser abatidos aos 10
meses de idade e pesando 10 arrobas, estima-se que poderia se produzir
anualmente 53 milhões de arrobas a partir de um programa de aproveitamento de
machos de origem leiteira. Considerando o preço da arroba de R$ 125,00, valor
mercado no estado de Goiás no mês de junho de 2017 (Scot Consultoria), o volume
de capital gerado chegaria a 6,62 bilhão de reais anualmente.
De acordo com Dias e Resende (2006) só no estado de São Paulo existe
potencial para produção de 170 mil bezerros machos por ano. Grande parte do
rebanho brasileiro é composta de animais mestiços, com potencial para produção
de vitelos. Nesse contexto, o aproveitamento do macho leiteiro apresenta-se
3
potencialmente como fator de agregação de renda para o produtor de leite,
sobretudo para médios e pequenos produtores.
Dado o volume, o abate dos bezerros de origem leiteira poderá também
contribuir para reduzir a ociosidade da indústria frigorífica e para colocar no
mercado interno e externo um produto de qualidade que atende às exigências de
um determinado segmento do público consumidor que demanda carne de alta
qualidade.
Embora no Brasil não exista o hábito de consumo de carne de vitelo de
coloração branca ou rósea, e, em face da quantidade de bezerros produzidos
anualmente, faz-se necessário a avaliação da viabilidade de se manter os bezerros
na propriedade e investir no seu crescimento para ser comercializado no mercado
de carnes, contribuindo, dessa forma, para a geração de renda na propriedade e
para maior disponibilidade de proteína de origem animal para a população.
2. OBJETIVO GERAL
O objetivo desse trabalho foi, a partir de um estudo de caso, avaliar o custo
de produção de carne de bezerros de origem leiteira abatidos com diferentes
idades.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1) Definir, a partir de estudos já realizados, os parâmetros ou premissas de
desempenho de bezerros leiteiros, tais como: idade inicial, idade final,
peso inicial, ganho de peso diário, peso final e consumo de matéria seca;
2) Analisar os dados da propriedade estudada para definir a quantidade
estimada de bezerros a serem produzidos no ano de 2017;
3) Levantar os dados na propriedade para definir o custo de produção do
bezerro do nascimento até 80 dias de idade;
4) Simular o desempenho e calcular o custo de produção do bezerro
abatido com 06, 08, 10 ou 12 meses de idade.
5) Calcular indicadores de desempenho econômico da produção do bezerro
abatido com 06, 08, 10 ou 12 meses de idade.
4
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL
O Brasil possui lugar de destaque no cenário mundial de produção de carne
bovina, com um rebanho efetivo de 212,34 milhões de cabeças em 2014 (IBGE,
2014), sendo o maior rebanho bovino comercial do mundo (Cruz et al., 2015), e um
dos maiores exportadores de carne. Em relação à produção de leite, o país possui o
terceiro maior rebanho leiteiro do mundo com aproximadamente 17 milhões de
vacas e o sexto lugar em produção mundial de leite com mais de 30 bilhões de
litros/ano, ficando atrás dos Estados Unidos, União Europeia, China, Rússia e Índia
(Anualpec, 2009).
A busca pela melhoria da eficiência da produção de carne tem mudado o
perfil da pecuária, pois, dependendo de diversos fatores, tem alcançado posições
diferentes no que diz respeito a uma intensificação total (Euclides Filho et al., 1996).
Em um país com déficit de proteína na alimentação humana, cuja população
está habituada com carne bovina, é necessário encontrar alternativas que
possibilitem o aumento da disponibilidade de carne a custos baixos, para grande
parte desta população, com reflexos inclusive no aumento na renda dos pecuaristas
de leite (Campos, 1994). Diante destes fatos, surge a necessidade de aumentar a
produção total de carne no país. Entretanto, a crescente demanda de carne bovina
no Brasil, aliada aos índices de produtividade pouco satisfatórios, requer mudanças
em determinados segmentos da pecuária bovina (Araújo et al. 1998).
3.2 PRODUÇÃO DE VITELOS
O vitelo pode ser caracterizado pelo sistema de alimentação exclusivamente
à base de leite e sucedâneos até o abate, para produção de carne branca ou de
alimentação com leite e, posteriormente, com concentrados e fenos, contendo
teores mínimos de ferro na dieta, para produção do vitelo róseo (Lucci, 1989).
A viabilização da criação de bezerros para a produção de carne nos plantéis
leiteiros especializados, principalmente os da raça Holandesa, tem sido ao longo da
história da pecuária leiteira brasileira um desafio sempre presente (Caldas, 2003).
Face às dificuldades impostas pelas elevadas exigências em nutrição, manejo e
5
sanidade e altos custos de produção, a maioria dos produtores opta pelo seu
descarte ao nascimento (Campos et al., 1996), sendo assim, desperdiçando uma
possível renda complementar à atividade.
Os sistemas de produção de vitelos foram desenvolvidos principalmente na
Europa, devido demanda de carnes especiais e disponibilidade de subprodutos
lácteos, como leite em p desengordurado e soro de leite (Pereira e Oliveira, 2000).
Em diversos países de pecuária evoluída, este segmento de mercado é bastante
explorado, com os bezerros provenientes de rebanhos da raça Holandesa
destinados à produção de vitelos (Boer, 1991; Groenevelt, 1991; Buhr, 1996).
Devido à grande disponibilidade de bezerros de origem leiteira é necessário
que se desenvolva tecnologias de produção diferenciadas que possam agregar
valor à criação desses animais. Além disso, a criação de bezerros de origem leiteira
apresenta pouca competitividade para a produção de carne nos sistemas
tradicionais e requerem criação intensiva ou semi-intensiva, o que eleva os custos
de produção do animal e inviabiliza sua venda no mercado bovino de ciclo longo
(Almeida Júnior et al., 2008).
Segundo Medina et al. (2002) no concernente à alimentação, o leite apesar
de ser o alimento ideal para qualquer mamífero em sua fase inicial de vida, torna-se
proibitivo porque seu fornecimento aos bezerros implica em subtração da principal
fonte de receita de uma propriedade leiteira.
O sistema de produção de animais precoces é um desafio, devido às
elevadas exigências nutricionais apresentadas, por causa da alta deposição de
músculos e do crescimento dos ossos (Lanna, 1997). Desse modo, é necessário
utilizar dietas com elevada densidade energética e proteica, para poder alcançar o
peso de carcaça ideal e a quantidade mínima de gordura de cobertura (Restle,
1997). A maior rentabilidade da atividade de criação do vitelo depende do
oferecimento de instalações e manejo nutricional adequados, preocupando-se com
as questões de bem-estar-animal, em especial nas regiões de clima tropical,
principalmente ao se tratar de raças leiteiras especializadas, originárias da Europa.
(Roma Junior, 2004).
Segundo Petit et al. (1991), os altos custos do leite ou de sucedâneos
lácteos para criação de bezerros têm levado à necessidade do desenvolvimento de
sistemas de produção de vitelos utilizando rações à base de grãos fornecidos ad
libitum ou fracionados.
6
3.3 MERCADO DO VITELO NO BRASIL
A pecuária leiteira brasileira apresenta plantel de cerca de 23,15 milhões de
vacas ordenhadas (IBGE, 2014), que de acordo com estimativas podem produzir,
pelo menos, 10 milhões de bezerros machos de origem leiteira em todo o país
(Neiva et al., 2015). Esses animais estariam disponíveis para a produção de carne
durante o ano. Os benefícios dessa utilização seriam uma fonte alternativa de renda
para o produtor e o fornecimento de carnes de qualidade para o consumidor. A
carne de bezerros é considerada de alta qualidade, sendo um produto saudável,
tendo como principais características o baixo teor de gordura e elevada maciez
(Aldai et al., 2012; Viera et al., 2005).
O Brasil não tem tradição na produção de carne de vitelo; inclusive, o termo
“vitelo” tem sido desprovido de identidade tanto para produtores quanto
consumidores e é genericamente usado para descrever diversos tipos de animais
abatidos jovens. Mesmo no Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças Bovinas
(Portaria 193/84), o vitelo é apenas descrito como o bovino (macho ou fêmea)
abatido com até 12 meses (Almeida Júnior et al., 2008).
A produção de vitelo no Brasil poderia favorecer maior giro de capital do
investimento, através do abate precoce dos animais, além de promover aumento de
área de pastagem disponível para as matrizes e otimização da produção forrageira,
através da redução do efetivo do rebanho (Ítalo et al., 2008).
Como no Brasil não há consumo expressivo de animais da categoria de
vitelos de carne branca, em função de pouca ou nenhuma demanda de mercado,
possivelmente em virtude de questões culturais, este fato acaba gerando uma
escassez de trabalhos relacionados às características da carne desses animais,
dificultando assim o estabelecimento de um padrão para tal produto (Araújo, 2010).
7
4. METODOLOGIA
Neste trabalho optou-se pela pesquisa exploratória de natureza quantitativa,
a partir do método do Estudo de Caso.
O estudo de caso, de acordo com Good e Hatt (1968, apud Godoy, 2006),
caracteriza-se como uma forma de pesquisa que foca no individual, responde por
investigações que pretendem compreender um caso particular, um objeto a ser
estudado; porém, sem ser isolado de seu contexto. Utiliza-se para isso de técnicas
de pesquisa como entrevistas, observação, uso de documentos e coleta de
narrativas.
Godoy (2006) alerta para as restrições do estudo de caso; estas derivam da
impossibilidade de generalização e replicação dos resultados. Nesse sentido, essa
modalidade de pesquisa é entendida como uma metodologia ou como a escolha de
um objeto de estudo definido pelo interesse em casos individuais. Visa à
investigação de um caso específico, bem delimitado, contextualizado em tempo e
lugar para que se possa realizar uma busca circunstanciada de informações.
A escolha do método de estudo de caso nesse estudo deu-se pelo interesse
em analisar de forma aplicada os custos de produção de bezerros de origem leiteira
em uma propriedade que, ao longo do tempo, vem investindo na atividade leiteira,
com ampliação do rebanho e, consequentemente, da quantidade de bezerros
nascidos a cada ano.
A propriedade estudada foi escolhida em razão de sua tecnologia adotada,
bem como a presença de controle zootécnico e gerencial, de modo a aproximar da
realidade encontrada na região, permitindo que os resultados encontrados tivessem
parâmetros comparativos.
Os dados utilizados foram coletados na Fazenda Pinhal, localizada no
município de Elói Mendes, situado na região sul do Estado de Minas Gerais. A
região se caracteriza por possuir elevadas altitudes, clima ameno e chuvoso, com
temperatura média anual de 19,6° C e precipitação média anual de 1.592,7 mm.
A Fazenda Pinhal possui 750 hectares, dos quais 200 ha são destinados à
produção leiteira, 216 ha são cultivados com café e 228 ha cultivados com milho. O
restante está ocupado por casas de funcionários, casa sede e reservas ambientais.
A história da produção leiteira na propriedade se inicia no ano de 1951, com
uma pequena quantidade de vacas e touros da raça Gir e um sistema de produção
8
pouco tecnificado, com ordenha manual e instalações inspiradas nos modelos
europeus. Desde o ano de 2006 a propriedade vem intensificando a produção
leiteira, sendo que no ano de 2008 entrou em funcionamento uma nova sala de
ordenha e; atualmente está em fase de ampliação do sistema de produção do tipo
“free stall”.
O rebanho é formado por 1.106 animais da raça Holandesa, sendo 638
matrizes das quais 560 em lactação e 78 secas; 154 novilhas e 314 fêmeas em
crescimento (212 em fase recria e 102 em amamentação). A produção de leite da
fazenda (16.000 litros/dia no mês de junho/17) é comercializada para a Fábrica da
Danone, localizada na cidade de Poços de Caldas (cerca de 160 km da
propriedade) e, por isso, mantém um rigoroso controle de qualidade do rebanho e
do leite.
Atualmente, os machos não são criados na propriedade, sendo vendidos
logo após o nascimento. Já as fêmeas, separados da mãe logo após o nascimento,
são criadas em bezerreiro com baias individuais até a desmama, a qual ocorre
quando atingem peso médio de 80 kg e idade média de 65 dias. Logo após a
desmama as bezerras são transferidas para lotes coletivos e recebem alimentação
específica para a fase de recria.
Com base no rebanho atual da propriedade, espera-se a para o ano de 2017
a ocorrência de 652 partos. Considerando que 50% dos animais nascidos sejam
machos e sabendo que a propriedade trabalha com 5% de mortalidade até a
desmama, espera-se que sejam desmamados ao longo do ano 310 bezerros
(Gráfico 1), total considerado para avaliação do custo de produção no presente
estudo.
Gráfico 1 – Distribuição de nascimentos de bezerros previstos para 2017
9
Após a realização de revisão de literatura e, com base nas práticas de
manejo da propriedade estudada, foram definidos os parâmetros para idade inicial,
peso inicial, ganho de peso médio diário e consumo de matéria seca, que,
automaticamente, definem o tempo de duração do confinamento e o peso final dos
animais (Tabela 1).
Tabela 1 – Parâmetros para confinamento de bezerros de origem leiteira com diferentes idades de abate
Parâmetro Idade de abate, meses
06 08 10 12
Idade inicial, dias 80 80 80 80
Idade final, dias 180 240 300 360
Confinamento, dias 100 160 220 280
Peso inicial, kg 80 80 80 80
Ganho peso, kg/dia 1,2 1,2 1,2 1,2
Peso final, kg 200 272 344 416
CMS, %PV 2,50 2,50 2,50 2,50
Consumo, kg MS/dia 3,5 4,4 5,3 6,2
Para fins de determinação do custo de produção do bezerro do nascimento
até 80 dias de vida, será tomado como base que o manejo dos machos será igual
ao das fêmeas. Até a desmama os bezerros serão mantidos em bezerreiro com
baias individuas recebendo leite de vaca (6 litros/dia) e ração à vontade. Após a
desmama, os animais serão mantidos em baias coletivas e receberão ração de
transição até completar 80 dias de vida para que haja pré-condicionamento e
adaptação às instalações e à dieta do confinamento. Ao completar 80 dias os
bezerros passarão a receber a dieta do confinamento até atingirem a idade de abate
pré-determinada, sendo pesados a cada 30 dias para adequação da oferta de ração
em função do peso corporal.
Tendo em vista que o sistema de produção de animais precoces é um
desafio, devido às elevadas exigências nutricionais apresentadas, por causa da alta
deposição de músculos e do crescimento dos ossos (Lanna, 1997) faz-se
necessário utilizar dietas com elevada densidade energética e proteica, para poder
alcançar o peso de carcaça ideal e a quantidade mínima de gordura de cobertura
(Restle, 1997).
10
Desta forma, durante o período de confinamento os animais serão
alimentados com dieta total contendo 20% de volumoso e 80% de concentrado,
conforme apresentado na Tabela 2. A dieta foi formulada com base nas exigências
para machos da raça holandesa para ganho de peso de 1,2 kg/dia de acordo com o
NRC (2000).
Tabela 2 – Proporção dos ingredientes e composição da dieta para confinamento de bezerros de origem leiteira para ganho de 1,2 kg/dia
Ingrediente % na matéria
natural
Custo do ingrediente,
R$/kg
Custo da dieta total,
R$/kg
Silagem de milho 42,38 0,086 0,04
Milho moído 44,21 0,22 0,10 Farelo de soja 11,41 1,10 0,12
Ureia 0,53 1,6 0,01
Núcleo mineral 1,47 2,7 0,04
Composição da dieta total, % MS
Matéria seca 34,7
Matéria Mineral 4,70
Proteína bruta 17,6
Extrato etéreo 3,36
Fibra em detergente neutro 22,4
Fibra em detergente ácido 10,7
Nutrientes digestíveis totais 77,6
Para a determinação do custo de produção do vitelo foram utilizados os
custos praticados na Fazenda Pinhal durante os meses de janeiro a maio de 2017.
Foram considerados como componentes dos custos de produção do vitelo o valor
gasto para produzir o bezerro do nascimento até 80 dias, o custo com alimentação
(ração total e distribuição) no período de confinamento e o custo com mão de obra
(Tabela 3).
Para determinar o valor do bezerro do nascimento até 80 dias foi
considerado o custo com alimentação (leite de vaca + ração concentrada),
medicamentos, mão de obra, energia elétrica e produtos de limpeza e de
desinfecção das instalações do nascimento até a desmama e o custo com
alimentação no período de transição (desmama até 80 dias).
11
Tabela 3 – Componentes do custo de produção do bezerro
Descrição Unidade Valor unitário (R$)
Bezerro desmamado animal 750,00
Bezerro – transição* animal 60,00
Ração total kg de MS 0,31
Distribuição da ração Hora máquina 100,00
Mão de obra Salário + encargos 2.600,00 *bezerro da desmama até completar 80 dias
Para realizar o fornecimento da ração no confinamento foi considerado que
será necessário o trabalho de um tratador com um conjunto trator + vagão forrageiro
durante meia hora/dia. Em relação à mão de obra, com base na experiência da
propriedade, foi considerada a necessidade de um funcionário para cuidar dos
bezerros do nascimento até a desmama e para ser responsável pelo manejo
durante os períodos de transição e de confinamento.
Em relação às instalações, tanto do bezerreiro quanto do confinamento, não
foram considerados custos de construção e depreciação, uma vez que a
propriedade já conta com área preparada para tal fim e não será necessário
nenhum tipo de investimento.
O custo operacional efetivo foi calculado pela soma das despesas com a produção
do bezerro do nascimento até 80 dias, alimentação dos animais (ração +
fornecimento) e mão de obra. Para o cálculo de outras despesas, foi estimado um
valor de 5% dos custos operacionais efetivos. O custo operacional total foi obtido
pela soma do custo operacional efetivo e das outras despesas.
A receita bruta foi calculada pela quantidade de arrobas produzidas pelo
preço pago pela arroba. A diferença entre a receita bruta e o custo operacional total
resultou no lucro operacional.
O índice de lucratividade foi obtido entre a razão do lucro operacional pela
receita bruta. A razão entre o custo operacional total pela produção média obtida
pelo produtor resultou no preço de equilíbrio por arroba, sendo este o preço mínimo
que o produtor deve vender o seu produto para não obter prejuízos. Já a produção
de equilíbrio é a razão entre o custo operacional total e o preço médio vendido pelo
produtor.
12
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O custo de produção do bezerro para as idades de abate de 06, 08 10 e 12
meses nas condições da propriedade estudada está apresentado na Tabela 4.
Tabela 4 – Custo de produção, em reais, do bezerro de origem leiteira com diferentes idades de abate
Descrição Idade de abate, meses
06 08 10 12
Bezerro desmamado 251.100,00 251.100,00 251.100,00 251.100,00
Ração total 33.635,00 67.654,40 112.052,60 166.829,60
Fornecimento da ração 5.0000,00 8.000,00 11.000,00 14.000,00
Mao de obra 8.666,67 13.866,67 19.066,67 24.266,67
Custo operacional efetivo 298.401,67 340.621,07 393.219,27 456.196,27
Outras despesas – 5% do COE 14.920,08 17.031,05 19.660,96 22.809,81
Custo operacional total 313.321,75 357.652,12 412.880,23 479.006,08
Custo/animal 1.010,72 1.153,72 1.331,87 1.545,18
Custo/@ produzida 151,61 127,25 116,15 111,43
Considerando o custo de produção do bezerro do nascimento até 80 dias de
vida de R$ 810,00 e a produção de 310 animais durante o ano, o custo total será de
251.100,00, independente da idade de abate. Os demais custos irão variar em
função da idade de abate de forma que quanto maior o tempo de permanência dos
animais na propriedade maiores serão os custos com alimentação (ração +
fornecimento) e mão de obra, sendo observada elevação do custo operacional total
de 14,15%; 15,44% e 16,00% para cada 02 meses de aumento na idade de abate.
Apesar do aumento no custo operacional total na medida em que se eleva a
idade de abate, observa-se redução no custo da arroba produzida, o que torna a
atividade de engorda dos bezerros de origem leiteira mais interessante com idade
de abate mais avançada. No presente estudo, o custo da arroba produzida foi de R$
151,61; R$ 127,25; R$ 116,15 e R$ 111,43 para as idades de abate de 06, 08, 10 e
12 meses, respectivamente.
Como no Brasil não existe demanda e pagamento diferenciado pelo animal
de origem leiteira abatido mais jovem, deve-se considerar para fins de
13
comercialização o preço da arroba do boi gordo praticado na região. Dessa forma,
tendo como referência o valor de R$ 125,00 pago pela arroba do boi na região do
Sul de Minas Gerais no mês de junho de 2017 conclui-se que a produção de
bezerros de origem leiteira é inviável para idade de abate de 06 ou 08 meses, sendo
observado lucro sobre a arroba comercializada para animais abatidos com 10 ou 12
meses de idade.
Quando se analisa a composição percentual do custo de produção do
bezerro, observa-se que, independente da idade de abate, o maior percentual é
com o custo de produção do bezerro, seguido do custo com alimentação (Gráfico 2).
Observa-se que com o aumento da idade de abate a participação percentual
do custo do bezerro reduz, ao passo que o custo com alimentação (ração +
fornecimento) aumenta. Este fato demonstra a importância destes dois principais
componentes no custo de produção total e reforça a necessidade de se otimizar o
custo de produção de bezerro na fase de cria e de buscar reduzir ao máximo o
custo com alimentação na fase de confinamento.
Gráfico 2 – Composição do custo de produção do bezerro de origem leiteira com diferentes idades de abate
Assim como na produção do bezerro, o produtor deve concentrar esforços
também no balanceamento da dieta, buscando fontes alternativas de alimentos que
possam diminuir o custo da alimentação, tanto concentrada quanto volumosa. As
14
quantidades e os alimentos selecionados para composição da ração necessária
para obtenção do ganho de peso desejado devem corresponder ao menor custo
diário possível, durante todo o período de confinamento de animais. Dentre as
formas de reduzir o custo com alimentação é produzir alguns ingredientes na
propriedade e utilizar ingredientes alternativos como polpa cítrica, caroço de
algodão, soja grão ou resíduos disponíveis na região, que possibilitem,
principalmente, substituir o milho grão e o farelo de soja.
Vale ressaltar, que nas condições deste estudo, tanto o volumoso (silagem
de milho) quanto o milho grão são produzidos na propriedade, o que é determinante
no custo da ração. Temo como base o valor da arroba do boi gordo como preço de
venda do vitelo, a aquisição destes ingredientes a preço de mercado certamente
tornariam economicamente inviável a manutenção dos bezerros na propriedade.
Na Tabela 5 encontram-se os valores de alguns indicadores de desempenho
econômico da atividade avaliada neste estudo. Avaliando o lucro operacional tem-se
prejuízo anual de R$ 54.988,42 e de R$ 6.318,79 para os animais abatidos com
idade de 06 ou 08 meses, respectivamente. Este fato também é confirmado com os
índices de lucratividade negativos obtidos para abate nessas idades. Por outro lado,
o lucro se torna positivo para as demais idades de abate avaliadas, sendo obtido
lucro líquido de R$ 101,46 e R$ 188,15 para cada animal abatido com 10 ou 12
meses, respectivamente. É observado ainda lucratividade de 7,08% e 10,9% para a
atividade quando os animais atingem idade de abate de 10 ou 12 meses.
Tabela 5 – Indicadores de desempenho econômico da produção de bezerros de origem leiteira com diferentes idades de abate
Descrição Idade de abate, meses
06 08 10 12
Receita bruta 258.333,33 351.333,33 444.333,33 537.333,33
Lucro operacional - 54.988,42 - 6.318,79 31.453,10 58.327,25
Índice de lucratividade, % - 21,3 - 1,80 7,08 10,9
Preço de equilíbrio 151,61 127,25 116,15 111,43
Produção de equilíbrio, @ 2.507 2.861 3.303 3.832
15
Considerando os dados apresentados acima e, que o produtor brasileiro
normalmente descarte o bezerro ou vende por preços irrisórios, como no caso da
Fazenda Pinhal, que o bezerro é vendido por R$ 15,00, pode-se concluir que é
economicamente interessante para o produtor manter os bezerros na propriedade e
abater a partir dos 10 meses de idade com peso corporal acima de 344 kg.
Tomando como base o custo da arroba produzida em cada idade de abate
avaliada, observa-se que o preço de equilíbrio reduz com o avanço na idade de
abate e, considerando o preço pago ao produtor pela arroba do boi atualmente, é
interessante a produção de carne de bezerros de origem leiteira a partir de 10
meses de idade.
Vale destacar que em épocas de arroba do boi valorizada, como ocorreu nos
anos de 2015 e 2016 em que o boi gordo foi comercializado até a R$ 145,00/@, a
rentabilidade da atividade se torna ainda mais interessante com animais abatidos
em idade mais avançada. A produção de vitelo se tornará atrativa para o produtor
de leite a partir do momento que houver interesse mercadológico e pagamento
diferenciado pela carne de vitelo.
Ao avaliar a produção de equilíbrio para as diferentes idades de abate tem-
se valores de 2.507; 2.861; 3.303 e 3.832 arrobas para 06, 08, 10 e 12 meses,
respectivamente. No entanto, ao calcular a produção total, em arrobas, são obtidos
valores de 2.067; 2.811; 3.555 e 4.299 arrobas para as idades de abate de 06, 08,
10 e 12 meses, respectivamente. Dessa forma, é possível relacionar a
vantajosidade da produção de bezerros de origem leiteira abatidos com 10 ou 12
meses de idade devido à quantidade total de arrobas produzidas, as quais
ultrapassam a produção de equilíbrio.
A análise dos dados mencionados acima leva a reflexão de que além dos
fatores relacionados com o custo de produção, como o valor do bezerro e a
alimentação, um terceiro fator extremamente relevante na rentabilidade da produção
de bezerros de origem leiteira é a produtividade total, ou seja, a quantidade de
arrobas produzidas ao final do ciclo. Nesse sentido, dois fatores são preponderantes
para o sucesso econômico da atividade: o desempenho individual dos animais e a
quantidade de animais confinados no ano, pois ambos influenciam diretamente na
produção total.
16
6. CONCLUSÕES
Nas condições da propriedade avaliada a produção de bezerros de origem
leiteira para a produção de vitelo abatidos aos 10 ou 12 meses de idade é
economicamente viável e coloca-se como fonte alternativa de renda.
A partir do cálculo do custo de produção do bezerro para as diferentes
idades de abate foi possível constatar que o ganho de peso mínimo para retorno
econômico é de 1,2 kg/animal/dia.
O custo do bezerro do nascimento até o momento do confinamento e a
alimentação são os dois principais componentes na determinação do custo de
produção do vitelo; portanto, são pontos de atenção no sistema de produção
avaliado.
17
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