COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira
Como ESCREVI meu primeiro LIVRO:
guia prático para novos autores
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meramente ilustrativo, sem apelação comercial.
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Introdução ........................................................................................... 4
Por que escrever um livro? ................................................................ 5
Organização é a palavra .................................................................... 9
A criação dos personagens .............................................................. 12
O reino do seu conto de fadas ........................................................ 15
Pesquisar é preciso ............................................................................ 18
Mais dicas para você ......................................................................... 21
COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira
No ano de 2014, publiquei oficialmente meu primeiro livro. Intitulado Ao
meu ídolo, com amor, a ficção tem romance, comédia, aventuras e tiros por
todos os lados. Não foi fácil chegar até aqui e, se você está lendo este
eBook, acredito que tenha um mínimo de interesse no mundo editorial.
Seja para escrever seu próprio livro, ou apenas por curiosidade, você vai
encontrar nessas páginas as respostas às perguntas que sempre me fizeram:
como é escrever um livro? Como se escreve um livro? Você escreve do
começo ao fim, do fim ao começo, do meio para frente ou para trás? Quais
as técnicas e os segredos de um bom livro?
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Os motivos que levam uma pessoa a passar horas do dia escrevendo um
livro podem variar, mas adianto que são muito pessoais. Alguns encaram
como uma terapia, outros como um sustento ou apenas por hobby mesmo.
Independentemente da razão, escrever um livro é uma grande forma de se
conhecer e de entender quem realmente somos e o que queremos de
nossas vidas.
No meu caso, escrevi um livro pelo simples prazer da escrita. Sempre li
muito e comecei a sentir a necessidade de me expressar quando tinha 14
anos. Na época, tentei escrever um livro sobre as aventuras da minha
família durante as viagens de férias. Era difícil explicar o que acontecia e o
que me impedia de seguir adiante com a história. Talvez tenha sido o fato
de eu mesma não acreditar que aqueles acontecimentos fossem
interessantes o suficiente para serem lidos ou por não achar muita graça.
Tem coisas que vivemos que parecem legais, mas quando contamos a
alguém, a história tem outro sentido e desperta outros sentimentos.
Tentei escrever esse livro duas ou três vezes, todas elas sem sair do
primeiro capítulo. O problema é que a necessidade de colocar minhas
ideias para fora continuava a me acompanhar. Foi então que comecei a
pesquisar sobre blogs. No ano de 2003, quem tinha um Blogger ganhava
muito mais crédito do que os que hospedavam seus sites no Weblog, por
exemplo. As assinaturas eram gratuitas, mas muito restritas. Lembro de ter
virado noites para me cadastrar no Blogger, que mais tarde se tornaria o tão
famoso Blogspot. Eram os sacrifícios que fazíamos, sem saber que os blogs
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se tornariam ferramentas tão poderosas e até mesmo fontes de renda para
muita gente.
É claro que o Diário de Adolescente, minha página na época, não durou
muitos anos. Para minha sorte, logo surgiram os Fotologs e eu continuei
a escrever, dessa vez descobrindo uma outra paixão: a fotografia. Os papos
continuavam os mesmos, as mesmas reclamações de quem tem 15 anos e
está vivendo os primeiros amores e os conflitos das amizades. O lado bom
da história é que eu continuava a escrever. E quanto mais eu o fazia, mais
eu queria alcançar. Não demorou muito e logo vieram as FanFics, ficções
escritas por fãs, que retratam a vida de seus ídolos de acordo com suas
ideias e seus sentimentos. Quem diria que esses textos, vistos por muitos
pais e mães como “coisa de adolescente”, seriam a porta de entrada para
a minha vida como escritora?
Ao todo, escrevi sete fanfics, sendo cinco finalizadas e publicadas no portal
Fanfic Addiction. Na mesma época, ingressei na universidade de
Jornalismo e lancei meu blog, o MarianaPereira.com, que foi o maior
exercício de paciência e perseverança da minha vida. Eu não podia deixar
aquelas pessoas que me acompanhavam nas mãos. Eu tinha que manter o
blog atualizado, já que os indicadores de novas visitas não paravam de
subir. Em pensar quem eu antigo blog não alcançava mais de 10 leitores
por dia, ver o MarianaPereira.com chegar a 200 visitantes diários era
espantoso e muito bom.
Veja, eu não forcei nada. Fui acompanhando as mudanças das redes
sociais, me aperfeiçoando aqui e ali, sempre buscando maneiras de
satisfazer uma vontade minha: escrever, escrever e escrever. Quando parei
e me dei conta de que minha paixão estava se tornando uma profissão, me
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senti realizada e muito feliz. E as coisas continuaram a caminhar cada vez
mais em direção ao mercado editorial.
Essa parte da história poucas pessoas sabem, mas vou contar nesse eBook
porque pode te ajudar. Muitas vezes, nosso destino está ali, bem diante
dos nossos olhos, mas nós não nos damos conta. Quando eu estava no
segundo ano do Ensino Médio, antes mesmo do mundo das FanFics
chegar à internet e explodir como uma das leituras mais procuradas pelos
jovens, eu inventava minhas histórias nas aulas de Matemática, Física e
Química. Usava os atores brasileiros Fernanda Lima e Bruno Garcia, que
na época protagonizavam a novela Bang Bang. Ao contrário das histórias
de hoje, eu não era uma personagem, apenas narrava os acontecimentos
que os dois viviam. Escrevia freneticamente, como se o mundo fosse
acabar. Tão logo finalizava uma página, entregava para minha colega de
classe, que lia e me dava o feedback. Depois da aula, corria para casa,
digitava aqueles capítulos enormes e distribuía para minhas amigas via
internet. Mal sabia eu que, por trás disso, existia um grupo que aguardava
ansiosamente por cada capítulo. Eu era roteirista da minha própria novela,
que se passava na minha cabeça e na de quem lesse meus textos. Minha
carreira já estava se formando, mas eu não tinha a menor ideia disso.
O momento em que Ao meu ídolo, com amor surgiu em minha mente foi
natural e aconteceu da noite para o dia. Não fiquei mais diante do
computador, como fazia aos 14 anos, na tentativa de criar uma boa
história. Quando dava na telha, pegava um pedaço de papel e uma caneta,
ou abria o editor de textos e escrevia por horas a fio. Juntei todos aqueles
anos de leituras, todos os sentimentos e os momentos que eu vivia e me
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deixei levar pelas palavras que, muitas vezes, eu me espantava por ter
escrito. A sensação era muito estranha e, ao mesmo tempo, prazerosa.
Encontrei na escrita uma Mariana que eu nem sabia que existia. Uma hora
estava rindo, na outra chorava feito criança, totalmente envolvida naquelas
vidas que só existiam dentro da minha própria cabeça. Descobri em mim
sentimentos adormecidos, que eu tinha suprimido por conta dos
acontecimentos que estava vivendo (meus pais se divorciavam na época e
não era da maneira mais amigável do mundo). Coloquei para fora raivas e
angústias, transformando-as em cenas tensas e perigosas, que hoje são
consideradas o clímax da minha história. Escrever um livro fez de mim
uma pessoa melhor, muito mais centrada e disciplinada, que consegue
levar um projeto do começo ao fim. Mas vale lembrar que esse processo
pode ser lento e até mesmo doloroso. Quando escrevemos, nos
conhecemos, ficamos frente a frente com nossas fraquezas. E isso não é
nada fácil.
Antes de mais nada, de digitar ou escrever suas primeiras palavras, pense
em você. Quem é você? Quem você quer ser? Por que você quer escrever?
São essas as respostas que vão te levar ao ponto final da sua história.
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Você resolveu escrever um livro, tem uma história bacana e quer que o
mundo a leia. A pergunta é: por onde começar? Nem sempre a resposta é
“pelo começo”, então se você estava com ela prontinha na ponta da língua,
desista. Você vai começar o seu livro organizando a sua vida e o seu
espaço. De nada adianta correr com o seu notebook por todos os cantos
da casa, isso não vai fazer com o que o seu produto fique pronto. Na
verdade, só vai atrasar o seu trabalho. O que você precisa é estipular metas
e manter o foco no seu objetivo.
Enquanto escrevia Ao meu ídolo, com
amor, mantive ao meu lado um caderno
que apelidei carinhosamente de
“caderninho de histórias” (foto). Ele
não estava ali por acaso. Era meu fiel
escudeiro, onde anotei os esboços do
primeiro ao último capítulo. Tudo
aquilo que eu lia e odiava, fazia questão
de tomar o cuidado de fazer diferente. Me sentia enganada quando lia um
livro e ele não fazia sentido. A história começava em Janeiro, o autor falava
que 10 meses haviam se passado e, quando eu passava para um novo
capítulo, estava em Agosto. Não eram 10, eram sete meses. Como o autor
não prestou atenção nesses detalhes? E foi aí que me tornei o que pode se
chamar de “a psicopata das datas e dos acontecimentos”. Se a minha
personagem respirava às cinco da manhã, eu anotava. Dias, horários,
cenários, tudo ali, rabiscado no meu caderno que só saiu do meu lado
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quando eu terminei de escrever meu primeiro livro. Isso me rendeu ótimas
resenhas, com comentários sobre a leitura fácil e o texto bem organizado.
As anotações também me situavam quando, por algum motivo, eu
precisava parar. Não adianta achar que você vai sentar numa noite e
escrever o livro inteiro em algumas horas. É um processo lento, que cansa
e exige muito dos autores. Embora muita gente ache absurdo, pensar
também esgota as energias de qualquer um. Como eu disse no capítulo
anterior, escrever foi um enorme exercício de paciência para mim, que não
conseguia levar nada adiante.
Embora eu estivesse inspirada e conseguisse escrever quatro ou cinco
capítulos de uma vez, eu precisava parar. Andar um pouco, respirar,
descansar os olhos da luz do monitor e, é claro, encher meu copinho de
Coca-Cola. Sempre trabalhei melhor durante a noite, então virava
madrugadas escrevendo. Chegava uma hora que o meu corpo pedia por
algumas horas de descanso. E essas pausas e sonecas jamais seriam
possíveis se eu não tivesse plena certeza do que tinha acabado de escrever
e de onde queria chegar naquele capítulo. Ter tudo anotado fez com que
eu tivesse mais liberdade e não precisasse ficar 100% do meu dia grudada
no computador. Isso sem mencionar a parte das pesquisas, que era o
momento que eu abria 30 abas no meu navegador. Se não anotasse
qualquer coisinha, perdia no meio do mundo de informações e não acharia
nunca mais. Fora as informações que eu coletava com profissionais da
área, fatos importantes e experiências deles que me ensinaram e ajudaram
a compor os personagens. Manter os arquivos e ideias em seus devidos
lugares me ajudou muito a escrever e organizar a história, sem deixar esses
detalhes de fora.
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Também tenho um pequeno problema de “qualquer ordem é ordem”.
Hoje eu posso escrever o primeiro capítulo, mas amanhã pode acontecer
alguma coisa que vai se encaixar perfeitamente no meio do livro. E aí?
Deixo passar e tento lembrar depois? Negativo. Cada hora escrevo um
pedaço e se não tiver tudo marcado e organizado, nunca vou conseguir
colocar os capítulos em ordem e o fim vai parar no começo do livro.
Organizar, organizar e organizar. Percebeu o quanto escrever já mudou
minha forma de viver? Além de me conhecer, aprendi a ter paciência e a
manter meus arquivos em ordem. E isso não se resume apenas ao
caderninho, viu? Também vale para o seu ambiente de trabalho, que
consiste na sua mesa e no seu computador. Escolha um local confortável,
uma cadeira boa e uma mesa que caiba tudo que você precisa. Como
ficamos muito tempo numa mesma posição, coloque almofadas nas
costas, apoios de braço, fique confortável. Também é importante deixar o
seu desktop organizado. Como os arquivos são muito frágeis e qualquer
problema no computador pode acabar com todo o trabalho, abri uma
pasta no Dropbox, uma conta no Evernote e mantenho um HD externo
e um pen drive atualizados. Qualquer vírgula que eu acrescente ou altere,
todos os arquivos são modificados. Eu sei que parece coisa de gente doida,
mas eu me sentiria pior ainda se perdesse as mais de 300 páginas do meu
livro. É melhor pecar pelo excesso do que pela falta de cuidados, certo?
Encontre a sua maneira de manter seus arquivos e seu espaço organizados.
Faça com calma, cuidado e tenha a certeza de que, quando você terminar
seu livro e tudo estiver em seu devido lugar, você vai agradecer por todo
o esforço investido nessa parte. E quer saber? A sensação de reler essas
anotações anos depois é a coisa mais deliciosa do mundo. Vale a pena!
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Quando contamos uma história, não existe nada mais importante do que
um bom personagem. Ele transforma um cenário feio em bonito, uma
história chata em engraçada e faz com que os leitores viagem pelos
caminhos que os autores quiserem. Tudo neles é crucial: nome,
personalidade, comportamento, família. Um bom personagem é aquele
que amarra uma situação sem deixar pontas soltas, sem confundir o leitor
e mantendo-o focado nos acontecimentos.
Tenho certeza que já aconteceu de você começar um livro e o personagem
ser tão chato, que você desistiu. Acertei? Digo isso sem medo porque já
aconteceu comigo também. Para o meu espanto, com uma das minhas
autoras favoritas. A protagonista da história era tão chata que não consegui
terminar de ler o primeiro capítulo. Muitas vezes nos enganamos e,
quando finalizamos o livro, achamos tudo lindo e incrível. Mas a chance
de um leitor seguir adiante numa história contada pelo personagem errado
é bem pequena. É a velha história da impressão: a primeira, é a que fica.
Quando decidi escrever meu livro, antes de qualquer coisa peguei um
caderno e uma caneta. Fechei os olhos e imaginei como seria o rosto de
cada um dos responsáveis por contar os acontecimentos que eu tinha
criado. Quem seria o chefe? Quem seria o galã? Quem seria a mocinha?
Claro que, com o passar do tempo e conforma a história vai
amadurecendo, as anotações também mudam. Até porque, já dizia um dos
maiores personagens da minha época, Alvo Dumbledore, criado pela
escritora britânica J.K. Rowling para Harry Potter, “naturalmente está
acontecendo dentro de sua cabeça, mas por que isso deveria significar que
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não é real?”. Logo, até mesmo as pessoas que vivem em nossas mentes
estão susceptíveis a mudanças.
Em Ao meu ídolo, com amor, a primeira personagem a ser construída foi a
Ana Maria, uma investigadora durona, com um passado difícil. Ela
carregava a dor de ter perdido os pais aos sete anos, fator que moldou
grande parte da sua personalidade. Por mais bondosa que Ana fosse, seu
coração não abria para nada além de seus amigos, sua profissão e seu
cachorro Bublé. Sem pensar duas vezes, anotei tudo o que eu queria sobre
ela, até mesmo o tipo de carro que ela dirigia.
Não posso dizer que usei todas as informações ou que elas jamais
mudaram, mas qualquer dúvida que eu tinha era rapidamente sanada com
as minhas anotações. Por melhor que seja a sua memória, em
determinados momentos ela vai falhar. Ao meu ídolo, com amor tem 17
personagens, sejam eles vivos, mortos ou que apareçam eventualmente. É
Anotações sobre a personagem de "Ao meu ídolo, com amor"
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quase impossível memorizar detalhes de cada um, bem como suas
histórias e em que momento eles começaram a participar do livro. Ter
tudo anotado e ao alcance das mãos facilitou meu trabalho e garantiu que
o livro tivesse sentido. Até porque, não tem nada que me incomode mais
do que começar a história com um personagem assim para, do nada, ele
ficar assado.
Outro fator que considero importante é o nome. Antes de escolher Ana
Maria, testei inúmeras opções e, por algum motivo, nenhuma delas deu
certo. Eu queria algo simples, fácil de lembrar e comum. Não adiantava
nada a história se passar no Brasil e a minha protagonista se chamar
Maggie, né? Alguma coisa não encaixaria e daria um ar estranho ao livro.
Depois de noites quebrando a cabeça, optei por Ana Maria. Qual não foi
minha surpresa quando, depois que o livro já tinha sido publicado, inverti
a ordem e descobri que formava o meu nome? Maria Ana, Mariana. Tinha
que ser esse mesmo. A escolha do sobrenome dela foi ainda mais pessoal,
já que Paviani vem da família da minha avó materna. Minha maneira de
homenagear parte das pessoas que tanto me ensinaram.
Não tenha pressa em formar a sua “equipe” e, se quiser mudar uma
característica ou outra, não espere. Ao criar personagens que te satisfaçam,
você automaticamente cria uma leitura confortável e fácil para os maiores
críticos da sua obra: os leitores. Se não estiver contente com o resultado,
mude. Estude as opções, estude minuciosamente a vida de cada um deles,
faça com que eles se encaixem na sua vida e que criem uma boa impressão
para você. Só depois apresente-os ao mundo. As chances de serem bem
recebidos pelo público só vai aumentar.
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Bom, já temos fatos importantes e local de trabalho organizados, seus
personagens já foram criados e você não vê a hora de começar. Agora é a
hora de decidir em qual cidade as suas ideias vão ganhar vida.
Criar um local te dá ainda mais autonomia para escrever sobre ele, afinal
você está no controle. Se quiser uma árvore que fale, então coloque uma
árvore que fale. No caso de uma ficção, tudo é possível e não temos
compromisso com a realidade (embora muitos leitores mais chatinhos
adorem criticar e dar palpite, esquecendo do verdadeiro fundamento de
uma ficção). Mas ainda assim, a coerência é importante e deve ser mantida.
Se optar por ter a tal árvore, não se esqueça de anotar se é só ela que fala,
se todas falam, se é só aquela espécie e todos os detalhes. Não queremos
que a floresta toda comece a falar do nada, certo?
Inventar um lugar, apesar de legal, demanda uma quantidade enorme de
detalhes que só você pode acrescentar. Cultura, leis, tudo depende da sua
imaginação. Cuidado para não abandona-los no meio do caminho e deixar
sua história sem nexo. Até mesmo J.K. Rowling manteve os pés no chão,
mesmo tendo criado um lugar tão fascinante quanto Hogwarts.
O problema maior, no entanto, é quando resolvemos usar uma cidade real,
como eu fiz. Ana Maria e sua turma moram e trabalham em São Paulo
que, apesar de não ser um lugar que eu conheça muito, é uma cidade onde
já vivi algumas experiências. Sei a língua que falam por lá, sei como é o
trânsito e já passei boas horas rodando pelas ruas inclinadas e cheias. Já
peguei metrô, ônibus e já visitei shoppings, teatros e cinemas. Embora
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meu conhecimento não se compare ao de um paulistano, minha
experiência como paulista me salva.
Voltando a falar sobre coerência, cuidado para não escolher uma cidade
brasileira e colocar todos os seus personagens com nomes e sobrenomes
estrangeiros. O contrário também é válido e colocar uma Conceição que
veio de uma família 100% americana, nascida e criada em Nova Iorque,
vai ficar estranho. Inventar ruas e parques também deixa a história um
pouco confusa. Se você ainda não teve essa experiência, eu te conto: é
muito legal ler um livro e visitar o lugar depois. Muito mesmo.
Em Ao meu ídolo, com amor o meu foco não era, nem de longe, turístico.
Grande parte da história se passa dentro de uma delegacia ou de um
apartamento. Evitei dar detalhes sobre a cidade justamente por não ter um
grande conhecimento sobre a vida na capital paulista. Achei que seria
melhor caprichar em coisas que eu realmente sabia ou tinha aprendido a
respeito, fosse em pesquisas ou entrevistas. Por exemplo, como sou
formada em Jornalismo e tenho experiência com Assessoria de Imprensa,
pude montar um capítulo inteiro da personagem Agatha divulgando fatos
sobre os protagonistas. Falar sobre o que sabemos e sobre lugares que
conhecemos é a nossa maior arma para prender o leitor.
Se ainda assim você quiser mandar seus personagens para um lugar que
você não conheça, estude muito. Em meu novo livro, ainda sem título e
sem data de lançamento, a história se passa em Portugal. E sabe quantas
vezes fui até lá? Nenhuma. Mas já recrutei um amigo que morou por seis
meses em Lisboa para me ajudar. Se estou com medo de escrever algo fora
da realidade? Com certeza. Por isso que já abri milhares de abas no meu
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navegador, li textos e dicas de turismo e estou contando com as
experiências dele para montar a história.
Agora, se o seu livro se passa em um ambiente fechado, como uma
delegacia ou um apartamento, não se esqueça de contar os detalhes aos
seus leitores. Dê a eles informações detalhadas, ajude-os a visualizar o
ambiente dos seus personagens. Conte a eles até mesmo a cor da moldura
do porta-retratos, se o corredor da sala até o quarto é longo ou se é
possível ir de um cômodo ao outro em poucas passadas. Não se esqueça
que os livros não tem figuras, precisamos imaginar cada centímetro e cada
detalhe. Quanto mais informações, mais rica será a imagem que o seu leitor
formará do seu local e mais interessado ele ficará na história.
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Bom, a essa altura você já deve ter percebido que eu falo muito em
pesquisa, não é? Eu sei que pareço um papagaio, mas essa é uma das
principais chaves de um bom livro. Quando pesquisamos, aprendemos e
quando escrevemos sobre o que sabemos, a mágica acontece. As palavras
saem mais fáceis, o texto flui, a leitura se torna prazerosa e você conquista
mais e mais leitores.
É claro que, quando falamos em pesquisa, automaticamente pensamos no
Google. E você não está errado se fez isso. Tem mais é que recorrer a essa
ferramenta incrível que temos, mas não se prenda somente a ele. Existem
inúmeras maneiras de aprender mais sobre o que estamos escrevendo.
Enquanto eu escrevia FanFics, usava a linguagem de comédia romântica,
que é o gênero que eu mais leio. Ao escrever Ao meu ídolo, com amor, que
envolve mistério e ação policial, eu precisava aprender como eles se
comportam e como falam. Recorri a livros, documentários e até mesmo
seriados, que me deram total suporte e me mostraram mais ou menos o
caminho a seguir. Claro que a narração foi toda minha, mas é muito mais
fácil quando você sabe o que se espera que a sua personagem grite quando
todos os policiais da equipe dela devem atirar. Sem contar a linguagem de
médico legista, que é confusa e bastante técnica. Se eu não tivesse
pesquisado e aprendido, não teria condições de escrever sobre o assunto
Também aproveitei que uma grande amiga se formou em Direito e tirei
minhas dúvidas com ela, que me deu dicas valiosas. Sem contar o pai de
uma outra amiga, que é policial e também me ajudou bastante. Mas não
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foi só isso que pesquisei. Bernardo Monteiro, outro personagem
importante de Ao meu ídolo, com amor, é ator e leva uma vida agitada, com
fãs caindo de postes em cima de seu carro. Observei durante meses a vida
do ator Taylor Lautner, acompanhei sua agenda e a ação de repórteres e
fotógrafos em cima dele. O que para uns parecia apenas uma “ação de fã
maluca”, para mim era aprendizado e material de trabalho.
Outra coisa que tem me ajudado a escrever o novo livro (aquele que ainda
não tem nome) é buscar imagens de roupas, joias e tudo que eu possa usar
para me inspirar. Até mesmo frases de efeito podem te ajudar a compor
capítulos de qualidade e cheios de emoção.
Pesquisar é tão importante quanto anotar e organizar seus arquivos. Ter
esse material e essa bagagem de conhecimento vai te ajudar não só com
esse livro, mas em seus futuros projetos. Não estipule um período de
pesquisa, busque novas informações o tempo todo. No meu caso,
enquanto escrevia Ao meu ídolo, com amor, lia os portais de notícias com
frequência e me mantinha informada dos acontecimentos ao redor do
mundo. Estudei sobre os protestos de 2013, acompanhei as coberturas de
TV e li matérias positivas e negativas.
Também podemos aproveitar para abordar temas que nos incomodem e
que sejam de utilidade pública. Em Ao meu ídolo, com amor, abordo um
pouco sobre o desrespeito com os policiais (tanto por parte do Governo
quanto por parte da população) e como devíamos lutar por uma segurança
de qualidade. Mas para falar sobre isso, eu precisava primeiro ter
conhecimento, não posso simplesmente jogar a informação de qualquer
jeito e achar que vai ficar tudo bem.
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Palavras tem força e, se nós temos o dom para usa-las, por que não tentar
alertar nossos leitores sobre o que acontecem por aí? Se conseguirmos
motivar uma ou duas pessoas a quererem um Brasil melhor, já estamos
fazendo a nossa parte e todo esse tempo de trabalho terá valido a pena.
Mas lembre-se: pesquisar não é copiar, ok? Um livro só é seu mesmo se
saiu da sua cabeça, não de relatos que você encontrou pela internet. Leia
bastante, aprenda, mas capriche na criatividade e na originalidade. Seus
leitores e o mundo da literatura agradecem.
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Separei os tópicos que considero mais importantes e que sempre
funcionam comigo na hora de escrever um livro. Mas é claro que eu não
poderia deixar de dar mais algumas dicas espertas para facilitar o seu
processo de criação.
▫ Mantenha a calma: volto a bater na tecla de que escrever um livro
requer paciência. Se você perceber que não está mais produzindo
como há alguns minutos, pare. Vá fazer alguma outra coisa, navegue
na internet em sites que não sejam relacionados ao seu livro. Brinque
com o seu animal de estimação, saia para uma caminhada, qualquer
coisa que te distraia e te faça esquecer um pouco do que estava
escrevendo. Essas pausas são, além de necessárias, saudáveis e vão
te ajudar a recuperar o fôlego.
▫ Crie um ambiente confortável: já citei esse fato acima, mas estar
num local fresco e bem iluminado também ajuda. Sou super
calorenta, então meu ar condicionado é meu melhor amigo nessas
horas. Também deixo minha caneca abastecida com Coca-Cola. Sei
que não é saudável, que eu devia beber água, que isso e aquilo, mas
enquanto estou criando, nada me motiva e me dá mais energia do
que uma Coca bem gelada. Você gosta de chocolate? Deixe um
pedacinho por perto. Mas não se esqueça de fazer suas refeições
diárias. Esses “petiscos” devem ser moderados e você precisa se
alimentar bem. Já dizia minha avó, saco vazio não para em pé.
COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira
▫ Música, maestro: quem nunca ouviu a mãe dizer que estudar com
música atrapalha a concentração? Pois eu te digo o contrário. Faça
uma seleção de músicas para cada tipo de cena que você for escrever.
Se for uma parte romântica, escolha as mais calmas, que falem de
amor. Para as mais agitadas, um rock ajuda bastante. Vai rolar uma
festa? Solta o pagodão. Use seus cantores e bandas favoritos a seu
favor e compartilhe isso com os seus leitores. Eles vão adorar saber
o que te inspirou na hora de escrever.
▫ Boca de siri: não saia por aí divulgando muito sobre o seu novo
trabalho. Você não quer correr o risco de alguém pegar sua ideia,
terminar de escrever antes de você e te chamar de plagiador depois.
Durante todo o processo de criação e produção, não espalhe por aí
o tema do seu livro. Isso cria um suspense legal para os seus amigos
e futuros leitores. O segredo também é a alma do negócio.
▫ Marketing é sempre marketing: um livro pode ser bom o quanto
for, sem uma boa divulgação, ele não vai a lugar algum. Comente
sobre ele nas redes sociais (lembre-se de não falar do tema, diga
apenas que está escrevendo), atice a curiosidade das pessoas.
Quando seu livro estiver pronto e você já tiver um título definido,
crie uma página sobre ele no Facebook e compartilhe com seus
contatos. Peça ajuda a eles para divulgar e, se preciso for, impulsione
uma publicação. Seu livro é um produto e você precisa leva-lo o mais
longe possível. Não tenha vergonha de dizer que pagou um anúncio
aqui ou ali. Grandes autores fazem, por que você não faria? Se for
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preciso, contrate alguém para te ajudar. Existem profissionais que
fazem trabalhos como freelancer e cobram precinhos camaradas.
▫ Conheça sua narração: parece meio estranho, mas nem sempre a
maneira que escolhemos para escrever é a que melhor nos
representa. Comecei Ao meu ídolo, com amor em terceira pessoa, sendo
uma narradora que vê a história de fora. Claro que não deu certo.
Eu não conseguia realmente sentir e passar o que a personagem
estava vivendo, o que fez com que o livro fosse frio e sem emoção.
Foi só depois de ter mais de 200 páginas prontas que eu percebi que
precisava mudar. Apaguei tudo e comecei do zero, dessa vez
escrevendo em primeira pessoa. Meu trabalho fluiu de forma leve e
tranquila, sem traumas e com muita emoção. Teste diferentes
narrativas e escolha a que mais combina com você.
▫ Sinta orgulho: escrever um livro não é fácil. Quando pegamos uma
obra pronta na livraria, achamos que é só sentar e digitar até os dedos
doerem, mas é muito mais do que isso. É pensar, criar, enfrentar os
nossos medos e, pior, nós mesmos. Tenha muito orgulho do seu
trabalho e não sinta vergonha de dizer que você é um escritor.
Valorize o seu esforço e não deixe de mostrar ao mundo sua nova
obra de arte. Você ralou para chegar até aqui, então aproveite o seu
mais do que merecido sucesso. E que esse seja apenas o primeiro de
muitos livros que você vai escrever!
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