SALVADOR DOMINGO 19/1/2014B6 ECONOMIA
BOLSA FAMÍLIA NA BAHIA Evolução do bolsa família em número de beneficiários e valores transferidos
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
FAMILIAS
VALOR TOTAL (Em R$ bilhão)
519.268
838.9631.067.291
1.391.245 1.411.662 1.372.7631.581.639 1.662.069 1.752.993 1.808.346 1.800.055
0,0830,532 0,751 1,006 1,204 1,423 1,663
1,938 2,2612,702
3,257
Editoria de Arte A TARDE
ENTREVISTA Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL É O GRANDE DESAFIO PARA MELHORAR A RENDAPAULA JANAY ALVES
O próximo desafio do progra-ma Brasil Sem Miséria é pro-mover a formação profissio-nal para os beneficiários doprograma, segundo a minis-tra do Desenvolvimento So-cial e Combate à Fome, TerezaCampello.
Em entrevista, a ministradefende o Programa Nacionalde acesso ao Ensino Técnico eEmprego (Pronatec), comoum aliado. “Hoje nós temosdois desafios no Brasil: fazercom que as pessoas melho-rem de renda e garantir que,com isso, o Brasil tambémmelhore, porque o País pre-cisa de gente qualificada”.
Na Bahia, 42,7% da popula-ção recebem benefícios doprograma Bolsa Família. Onúmeros demonstram a de-sigualdade de renda do Es-tado. Qual a explicação paraque a Bahia tenha esse per-centual?
A Bahia não está em pri-
meiro lugar em concentra-ção de pessoas pobres pormotivos recentes. Há 200anos os problemas são osmesmos. O que tem de di-ferente? É que agora o Es-tado está olhando isso co-mo prioridade. É aqui, on-de está a população pobre,que o Estado tem que che-gar. Nós estamos usando oBolsa Família para fazercom que o Estado cheguena população.
Ao longo dos 10 anos de Bol-sa Família, o número de be-neficiários só aumenta. Issosignifica que esses benefi-ciários não conseguem ficarindependentes?
As nossas estatísticas mos-tram que a principal rendadessas pessoas é do traba-lho. Quando a gente olha oque mais alterou a renda dapopulação pobre, percebe-mos que foi o trabalho. Apopulação tem melhoradode renda não porque o Bol-sa Família tem aumentado,
A populaçãotem melhoradode renda nãoporque o BolsaFamília temaumentado, masporque a rendado trabalhodessas pessoasmelhorou
Marcello Casal Jr / ABr
mas porque a renda do tra-balho delas melhorou. Ho-je nós temos um bom pro-blema, que é ter emprego enão ter mão de obra qua-lificada. E como a gente re-solve esse problema, tiran-do o Bolsa Família das pes-soas? Não. Levando quali-ficação profissional e edu-cação. Se você retira o Bolsa
Família dessas pessoas, vo-cêpartedoprincípiodequea pessoa era pobre porquequeria. E não porque seusbisavós, avós e pais foramexcluídos do desenvolvi-mento econômico. Às ve-zes o que essa pessoa pre-cisa é mais do que isso, élevar para ela o que nuncafoi levado, que é a quali-
ficação profissional.
Os beneficiários conseguemir para o mercado de traba-lho depois de cursos técni-cos?
Estamos fazendo um esfor-ço para que os cursos ofer-tados sejam cursos neces-sários para aquela região.Os cursos necessários emSalvador, que é uma cidadede intenso comércio e pres-tação de serviços, são di-ferentes dos cursos neces-sários em Irecê. Exatamen-te para que as pessoassaiam qualificadas e con-sigam se colocar no mer-cado. Isso em geral estáacontecendo naturalmen-te. O problema em algunslocais tem sido o contrário.As pessoas estão fazendo ocurso e a construção civilvai lá e tira a pessoa nomeio do curso. Elas estãolargando o curso pela me-tade porque precisam.
O Pronatec está presente em
163 municípios baianos. ABahia tem mais de 400 mu-nicípios. Há possibilidadedo número de municípiosaumentar?
Há possibilidade, sim. Maso sistema não tem insta-lações em todos os muni-cípios e não tem como che-gar em todos. Começamoscom os locais de mais de250 mil habitantes e che-gamos, no ano passado, pa-ra municípios acima de 80mil habitantes. Agora es-tamos em locais que é pos-sível deslocar professores.E ainda há prefeituras queestão construindo alterna-tivas e organizando trans-porte para garantir que aspessoas possam fazer ocurso em cidades vizinhas.Esses arranjos permitemque nós levemos qualifica-ção profissional para a po-pulação que quer melhorarde vida e superar o precon-ceitodequemachaqueelesnão querem melhorar devida.
ASSISTÊNCIA Especialistas atribuem onúmero à baixa qualificação profissional
Bahia lidera oBolsa Famíliacom 6,5 mi debeneficiáriosPAULA JANAY ALVESE LUIZ TITO
A Bahia fechou 2013 com42,7% da sua população ca-dastrada no Bolsa Família. Asmaisde1,8milhãodefamíliasbaianas atendidas pelo pro-grama fazem do Estado o pri-meiro em número de bene-ficiários no Brasil. O segundolugar fica com São Paulo (1,3milhão de famílias).
Os números demonstramque quase metade da popu-lação do Estado (aproximada-mente 6,5 milhões) vive commenos de um salário mínimopor mês. Para ter direito aobenefício, as famílias devemter renda mensal por pessoade R$ 70 a R$ 140.
Especialistas ouvidos por ATARDE afirmam que esse per-centual expressivo da popu-lação sobrevivendo com umarenda mínima indica entra-ves que a economia baianaainda tem de enfrentar para ocompleto desenvolvimento.
Segundo o diretor de pes-quisas da Superintendênciade Estudos Econômicos da Ba-hia(SEI), ArmandoCastro,umEstado com um grande per-centual de pessoas que de-pendem da transferência derenda é um mercado com bai-xo potencial de consumo.
“Isso tem reflexo na nossaestrutura produtiva. Há pou-cas empresas produtoras debens finais (eletrodomésti-cos, por exemplo). O mercadoé mais voltado para bens in-termediários (que ainda se-rão utilizados para produziroutros bens)”, afirma Castro.
Na avaliação do economis-ta e professor da Universida-de Federal da Bahia, OswaldoGuerra, o principal problemaque os números do Bolsa Fa-mília demonstram é a falta demão de obra qualificada, par-ticularmente na região do se-miárido. Dos 417 municípiosdo Estado, 258 estão nesta re-gião.
“Pessoas que dependem deprogramas sociais geralmen-te têm um nível de qualifi-cação baixo. Isso significauma forte desvantagem com-petitiva. Fica difícil atrair em-preendimentos de porte quepossam mudar a realidadeeconômica da região”, afirma
Guerra.Para o economista Rodrigo
Oliveira, especialista em pro-gramas sociais, a falta de qua-lificação e a baixa infraestru-tura das regiões menos ricasda Bahia acabam favorecen-do a concentração de riquezasem outras áreas, como a Re-gião Metropolitana de Salva-dor. “É preciso criar políticaspara a capacitação de mão deobra nas regiões mais depri-midas do Estado para que ha-ja possibidade de empresasserem atraídas”, diz.
TransferênciaForam mais de R$ 3,2 bilhõesde reais transferidos na Bahiasomente em 2013. O valor porfamília é variável e dependeda quantidade de crianças,adolescentes e grávidas. Fa-mílias com cinco integrantes,por exemplo, podem receberaté R$ 306.
Alexandra Maria da Silva éum exemplo de beneficiária.Com um bebê de sete meses,ela recebe R$ 64 mensais. Parasobreviver, ainda lava roupa.Já o marido repara aparelhoseletrônicos. Atualmente, a fa-mília mora em um terrenoinvadidoemFeiradeSantana.“A nossa sorte é que não pa-gamos nem luz, nem água”,diz. O abastecimento da suacasa é irregular.
Luiz Tito / Ag. A TARDE
Fotos Luiz Tito / Ag. A TARDE
Alexandra Maria da Silva (com o filho) recebe R$ 64 mensais do programa federal
Programa criaoportunidadespara as futurasgerações
PAULA JANAY ALVES
A possibilidade de ascensãosocialparaquemrecebeoBol-sa Família será alcançada naspróximas gerações. Especia-listas ouvidos por A TARDEafirmam que os filhos das fa-mílias cadastradas no progra-ma vão conseguir emancipa-ção do benefício após entra-rem no mercado de traba-lho.
“Os impactos são geracio-nais. Os filhos dessas pessoas(beneficiários) passam a termelhor acesso à educação e ademandar mais serviços pú-blicos”, afirma o professor daUniversidade Federal da Ba-hia, Oswaldo Guerra.
Para o diretor de pesquisasda Superintendência de Estu-dos da Bahia (SEI), ArmandoCastro, os beneficiários doBolsa Família já estão trans-formando sua realidade so-cial. “O nível de extrema po-breza no Estado, antes do Bol-sa Família, estava em torno de23%. Nos 10 anos de trans-ferência de renda, este per-centualfoisereduzindoatéosatuais 7,4%”, afirma.
Transformações“O programa cria oportuni-dades para que a próxima ge-ração oriunda de famílias po-bres não seja alijada do pro-cesso produtivo e não repro-duza o ciclo de pobreza deseus pais”, completa Castro.
Segundo Oswaldo Guerra, amudanças imediatas estãonas economias dos municí-pios pobres que possuemgrande número de beneficiá-rios. “O Bolsa Família trans-forma a economia com o im-pacto que faz no varejo. Asempresas que fornecem mer-cadorias de bens não-durá-veis, como alimentos e rou-pas simples, começam a ver oNordeste com outros olhos”,diz Guerra.
Feira recebe R$ 6 milhões por mêspara atender a 46 mil famíliasLUIZ TITO
Quem vai para a ocupaçãoChico Pinto, localizada nobairro Aviário, pela BR 324,sentido Feira de Santana/ Sal-vador (a 109 Km da capital)percebe o contraste entre ariqueza e a pobreza.
A um quilômetro dali, vê-sediversas empresas, com suascarretas transportando ri-queza Brasil a fora. Na inva-são, barracos de lonas, ruasesburacadas, muita sujeira efamílias utilizando água e luzatravés de “gatos”.
O local é considerado um
dos mais pobres da cidade egrande parte dos moradoressão beneficiados com o BolsaFamília.
Daiane Conceição, 32 anos,tem quatro filhos, todos me-nores de idades. Mãe solteira,recebe R$ 282 do programa.“Preciso me virar nas faxinaspara sobreviver e criar mi-nhas crianças”, disse.
É no terreno cheio de papel,garrafas pets e ferro que donaEliete Magna Viana Reis, 48anos, quatro filhos, tira ocomplemento para garantir opagamento das contas do fi-nal do mês.
Ela é recicladora de lixo erecebe R$ 70 reais do BolsaFamília. “Meu filho! Minhasmãos estão calejadas. Faço fa-xinas, cato lixo e lavo roupasde ganho para poder conse-guir comer”.
O secretário de Desenvol-vimento Social de Feira deSantana, Ildes Ferreira, infor-mou que o Bolsa Família in-jeta mensalmente R$ 6 mi-lhões no município. “São 46mil famílias inscritas e o Con-junto George Américo con-centra esses números”.
Ferreira destacou o carátersocial do programa.
“Recebo R$ 70do BolsaFamília. Épouco, masfazer o quê? ”IZABEL DA CONCEIÇÃO, beneficiária