UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CARLOS MAGNO FACCION JUNIOR
BIBLIOTECA COMUNITÀRIA: UMA ALTERNATIVA A BIBLIOTECA PÚBLICA E A BIBLIOTECA
ESCOLAR.
Rio de Janeiro
2005
CARLOS MAGNO FACCION JUNIOR
1
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA: UMA ALTERNATIVA A BIBLIOTECA PÚBLICA E A BIBLIOTECA ESCOLAR.
Trabalho de conclusão de curso apresentada
ao Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal
Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para
a obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia.
Orientadora: Profª MS. Maura Escândola Tavares Quinhões
Rio de Janeiro
2005
CARLOS MAGNO FACCION JUNIOR
2
BIBLIOTECA COMUNITARIA: UM EQUIPAMENTO INFORMATO CULTURAL A SERVIÇO DA SOCIEDADE.
Trabalho de conclusão de curso apresentada
a Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal Estado do Rio de Janeiro, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em
Biblioteconomia.
Aprovado em de 2005
BANCA EXAMINADORA
Profª. MS Maura Escândola Tavares Quinhões – Orientadora
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Profª. MS Simone da Rocha Weitzel
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Prof. BS Maria Tereza Reis Mendes
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
3
Dedico esse trabalho a À Deus pelos dias vividos
À minha Familia, pela constante atenção ao meu desenvolvimento permitindo-
me retornar sempre a um porto seguro de amor e respeito.
Aos meus filhos que tornaram minha vida melhor de ser vivida.
Ao Prof Mario Luz que mostrou-me o caminho da Biblioteconomia
Aos professores que contribuiram não só para meu crescimento profissional
mais acima de tudo tornar-me um cidadão digno a ocupar sua cadeira na
sociedade.
4
AGRADECIMENTOS
As mulheres que viveram comigo suas vidas.
A cidade do Rio de Janeiro por tanto matéria de memória.
5
[EPÍGRAFRE]
“A comunidade é o espaço natural em que o homem concreto vive e respira.”
(Ferreira, 1968).
6
RESUMO
Aborda a questão da informação e memória em comunidades sem incentivo ao
acesso a leitura e ao livro, carentes de instituições de informação e cultura
enfocando suas relações de harmonia. Analisa a Biblioteca Comunitária e sua
relação com o usuário. Trata a questão da acessibilidade a partir de um estudo
focado na Biblioteca Comunitária, local de convergência de varias ramificações
sociais. Propõe alguns objetivos a serem alcançados pela Biblioteca Comunitária
descrevendo as realidades e conceitos das bibliotecas analisadas, tendo como base
o universo das necessidades informacionais das pessoas dessa comunidade.
Conclui que a Biblioteca Comunitária tem um papel relevante na sociedade sendo
uma instituição capaz de promover a inclusão informacional, social e cultural da
localidade onde ela esta inserida e assumir o papel de facilitadora entre o livro, a
leitura e seu público.
Palavras-chave: Biblioteca Comunitária, Comunidade.. Biblioteca Pública,
Organização e Administração de Bibliotecas Comunitárias.
7
ABSTRACT
It approaches the question of the information and memoria in communities without
incentive to the access the reading and the book, devoid of institutions of information
and culture focusing its relations of harmony. It analyzes the distanciamento of the
public of the library of the social spaces between the group that access has the
Libraries and the group that this does not have exactly access and the necessity of if
conquering this public space. It deals with the question the accessibility from a study
focado in the Comunitaria Library, place of convergencia of you vary social
ramifications considers, then, some objectives to be reached for the Comunitaria
Library describing the realities and concepts of some types of libraries, having as
base the universe of the informacionais necessities of the people of this community.
It concludes that the Comunitaria Library has an excellent paper in the society being
an institution capable to promote the inclusion informacional, social and cultural of
the locality where it this inserted one. When assuming the paper of facilitadora
between the book, the reading and its public.
Word-key: Comunitaria Library, Community. Public library, Organization and
Administration of Comunitarias Libraries.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................10
2 COMUNIDADE..................................................................................12
3 BIBLIOTECA COMUNITARIA...........................................................17
4 AS BIBLIOTECAS COMUNITARIAS: UM BREVE HISTORICO.......23
4.1 BIBLIOTECA COMUNITARIA PAULO FREIRE...............................24
4.2 BIBLIOTECA COMUNITARIA TOBIAS BARRETO..........................27
4.3 BIBLIOTECA COMUNITARIA ESPAÇO DA LEITURA.....................29
4.4 BIBLIOTECA COMUNITARIA CANTO DA LEITURA.......................32
5 CONCLUSÃO......................................................................................35
REFERÊNCIAS...........................................................................................38
APÊNDICE..................................................................................................41
ANEXOS.....................................................................................................42
9
1 INTRODUÇÃO
O tema escolhido para desenvolver o trabalho de conclusão do Curso de
Biblioteconomia foi Biblioteca Comunitária.
A justificativa deste trabalho está relacionada a dois fatos. O primeiro se
relaciona com o desejo de conhecer mais esse tipo de Biblioteca, anseio de um
grupo de habitantes de um determinado lugar. O interesse em conhecer e verificar
se atende a seus usuários. Verificar se a Biblioteca Comunitária pode substituir a
Biblioteca Publica e a biblioteca Escolar.
O objetivo foi fazer uma descrição geral de cinco Bibliotecas Comunitárias e
a atuação das mesmas em prol de seus usuários. As bibliotecas são: 1) Biblioteca
Leitura e Ação no bairro de Cerâmica em Nova Iguaçu; 2) Biblioteca Paulo Freire no
Centro de Duque de Caxias; 3) Biblioteca Tobias Barreto na Vila da Penha; 4)
Biblioteca Ler e Agir em Vargem Grande; 5) Bibliotecas Canto da Leitura no Horto e
em Vilar Carioca-Inhoaiba, as unidades foram selecionadas a partir da sugestão de
minha orientadora.
A metodologia utilizada para fundamentar o tema escolhido foi: revisão de
literatura, acessada em suportes como livros, periódicos documentos eletrônicos,
sobre Biblioteca Comunitária e entrevista com as pessoas que atuam nas bibliotecas
e para complementar fotografou-se as instituições. A entrevista explorou dados
como: ORIGEM, DESIGNAÇÃO, OBJETIVOS, ESPAÇO FÍSICO, ACERVO,
USUÁRIOS, SERVIÇOS E PRODUTOS, RECURSOS: MATERIAIS; FINANCEIROS
E HUMANOS e FUNCIONAMENTO. As questões da para a entrevista foram
formuladas a partir das referencias bibliográficas utilizadas.
10
Espera-se que este pequeno trabalho sirva apenas como gerador de um
serviço bibliotecário útil, capaz de ser respeitado, conhecido e apoiado. Um serviço
que ultrapasse a imagem da biblioteca como local só para os livros e se modifique
sempre, refletindo a vontade social.
11
2 COMUNIDADE
O termo comunidade refere-se a um agrupamento humano que desenvolve
sua vida em comum, tendo idéias e sentimentos partilhados por todos. Comunidade
vem do latim communitas, de cum mais unitas, quando muitos formam uma unidade.
Deriva do termo latino comunis, que significa “pertence a muitos” (Houaiss, 2001, p.
782). O vocábulo do português comunidade é usado em sentidos diversos. “A
comunidade, em geral, é definida como unidade constitutiva de uma sociedade mais
ampla. Mas as sociedades tribais podem ser consideradas protótipos de
comunidades, representam, muitas vezes, unidades auto-suficientes e soberanas”
(FERNANDES, 1973, p. 56). E ainda, comunidade é um grupo de pessoas
conscientemente organizadas onde se reconhece certo grau de interdependência,
como os elementos implícitos de sua interação social na prática da
interdependência, cooperação, colaboração, unificação e que vivem numa área
geograficamente determinada (rural ou urbana), unidas por interesses comuns e que
participam das condições gerais de vida (MIRADOR, 1975, p. 2698).
Segundo Fernandes (1973, p.13) as comunidades variam profundamente
quanto ao tamanho e organização, compreendendo tipos diferentes de estruturas
sociais, como, a aldeia e a grande cidade. Entre esses dois extremos observa-se
grande número de formas intermediárias. Essa amplitude conceitual somente se
justifica pelo fato de haver, pelo menos, duas qualidades comuns a todas elas: o
habitat definido e instituições sociais suficientemente desenvolvidas para satisfazer
as necessidades tradicionais da população. “O termo comunidade designa uma
12
forma de associação muito íntima, um grupo altamente integrado cujos membros se
encontram ligados uns ao outros por laços de simpatia” (FERNANDES, 1973, p. 57).
Nesse sentido, qualquer grupo pode constituir uma comunidade, como uma
seita religiosa, por exemplo: “A comunidade, em oposição à sociedade, é um grupo
local, altamente integrado, em que predominam contatos primários, sendo a cultura
tradicional e homogênea”.
Tönnies (FERNANDES, 1973, p. 60) introduziu o dualismo sociedade
(Gemeinschaff) e comunidade (Gessellschaff) no discurso cientifico contemporâneo,
em 1887. Ele caracteriza bem a oposição entre vontade natural e vontade racional.
Desenvolve a dicotomia das relações de união e sua motivação a que chamou,
comunidade a vontade natural ou essencial e sociedade a vontade racional ou de
arbítrio. E, “as estruturas de comunidade e sociedade se sucedem nesta ordem e
somente assim, a comunidade só pode transformar-se em sociedade. Esta precede
sempre a sociedade. Este processo nunca é reversível” (FREYER, 1942, p. 82). A
vontade racional distingue-se da vontade natural pelo fato de as pessoas suprirem
seus desejos naturais em busca de um objetivo, encontrando, desta forma,
motivação para formar uma sociedade. Vontade natural são as relações humanas
mais simples, de amizade, simpatia e agrado reciproco. Enquanto a vontade natural
acentua a estrutura, a vontade racional valoriza a função.
Segundo Tonnies (1942, p. 223) a relação do homem com a mulher situa-se
entre as relações elementares e importantes da formação da comunidade, tanto pela
atração sexual como pela necessidade de procriação. Uma relação do tipo natural
de caráter autoritário e igualitário. Natural por ser uma relação com motivação
primitiva, baseada no desejo sexual e totalitária porque se estabelece a partir da
autoridade do homem sobre a casa e toma um vies igualitário pela necessidade de
conduzir a casa e os filhos. Essa relação forma a estrutura da comunidade e, por
13
conseguinte a sociedade. Tonnies (1942, p. 224) descreve as relações sociais a
partir da família, a casa, os servos e outras famílias.
Se, entre as comunidades destaca-se a família a comunidade de sangue, a aldeia a
comunidade de vizinhança e a cidade a comunidade de colaboração, englobando
tanto as comunidades de espírito como as comunidades de lugar, já entre as
sociedades coloca-se a empresa, indústrias e comerciais, bem como outros grupos
constituídos por relações baseadas em interesses (TONNIES, 1942, p. 60).
Bauman (2003, p. 43), afirma que embora os meios de comunicação (rádio,
televisão, cinema, Internet), tenham estreitado as áreas de convivência existe,
sobretudo, uma distância a ser percorrida no cotidiano. Essas localidades mesmo
com seus horizontes de convivência dilatados através das mídias, ainda praticam
um mínimo irredutível de atividades básicas, seja o caminho percorrido de casa a
escola, à igreja ou a fabrica. O que mantém fixo os laços comunais. Neste sentido,
os bairros residenciais e os condomínios surgem como comunidades. Onde cada
vez mais auto-suficientes transformam-se em guetos e prevê que tudo que é externo
àquele gueto é perigoso, onde os outros são sempre uma ameaça e a segurança
toma o lugar da liberdade.
Pode-se utilizar alguns critérios para se definir comunidade, por exemplo: os
interesses dominantes que ligam um grupo de pessoas por algum objetivo comum
relevante; ser um grupo de pessoas conscientemente organizadas com certo grau de
interdependência; ter um espaço reconhecido como pertencente a um grupo.
(FERREIRA, 1968, p. 40).
O entendimento compartilhado é de onde nasce a comunidade natural que
para Bauman (2003, p. 17), não pode ser constituída artificialmente, por isso, não
pode ser contemplado e analisado, por que é algo que surge naturalmente. Como
por exemplo, os clubes esportivos e as sociedades religiosas. “Ela não pode ser
14
analisada nas suas relações, pois o entendimento compartilhado é como o ar que
respiramos, sendo evidente e natural não o notamos a não ser que esteja mal-
cheiroso. O entendimento mútuo não pode ser expresso, determinado e
compreendido... O acordo real não pode ser artificialmente produzido”. (Bauman,
2003, p. 17)
Bauman afirma que (2003, p. 19) a comunidade anterior à revolução industrial
estava protegida pela distância que a separava de outras comunidades. O tempo
que a informação levava para circular contribuía para a manutenção da comunidade.
É na sociedade da informação que as comunidades perdem a proteção do espaço
que as separa do mundo, devido à evolução dos transportes e circulação mais
rápida da informação por meio das novas tecnologias principalmente a Internet.
O dentro e fora da comunidade já não podem ser contido, ou seja, não é
possível preservar mais a comunidade das influências e relações com o mundo
externo. O entendimento natural envolvido pela produção artesanal feita no tempo
das coisas é substituído pela produção industrial cujo tempo é o da máquina.
(BAUMAN, 2003, p. 87).
Cada vez menos as relações sedimentadas sejam nacionais, regionais,
comunitárias, etc., se apresentam como estáveis o que dificulta uma auto-imagem
coerente (BAUMAN, 2003, p. 88).
Viver próximo, no mesmo bairro, rua, prédio, condomínio, não significa viver
em comunidade, por vezes, cerca-se eletronicamente de toda sorte de
equipamentos para evitar-se justamente o outro, ou, o intruso.
Nenhum agregado de seres humanos é sentido como comunidade a menos que seja
bem tecido de biografias compartilhadas ao longo de uma história duradoura e uma
expectativa ainda mais longa de interação freqüente e intensa. (BAUMAN, 2003, p.
48).
15
A comunidade só se estabelece quando os diversos indivíduos partilham do
mesmo propósito resguardando o grupo das diferenças inerentes a si.
E, depois de esclarecer sobre o termo comunidade, serão destacados alguns
conceitos sobre bibliotecas em geral, seguidas de uma breve análise sobre
Biblioteca Comunitária, destacando a importância dos mesmos no tocante ao acesso
ao livro, à leitura e à informação em geral. Dessa forma será delineado o
embasamento teórico para a pesquisa em questão. Após esclarecer o termo
comunidade, destacaremos o termo Biblioteca Comunitária delineando o
embasamento teórico para a pesquisa.
16
3 BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS
Na visão de Gil, Trautman e Gay (1973, p. 26), Biblioteca Comunitária é
aquela de caráter popular e livre que presta serviço aos habitantes de uma
localidade, distrito ou região. É sustentada com fundos governamentais ou da
própria comunidade.
A biblioteca comunitária surge do desejo de uma comunidade em querer uma
biblioteca próxima à sua casa (ALMEIDA, 1997, p. 87). Esta necessidade de obter
informação e lazer e não quer recorrer ao centro da cidade para, usufruir a biblioteca
pública ou procurar a biblioteca da escola para suprir suas necessidades
informacionais. Deve-se levar em consideração que quando se pensa na criação de
uma biblioteca alternativa a distância que o usuário tem de percorrer para ir a uma
biblioteca deve ser levada em consideração (ALMEIDA, 1997, p. 87). O que se
percebe é um verdadeiro isolamento das comunidades marginais dos centros
urbanos no que diz respeito ao acesso à Biblioteca.
As bibliotecas comunitárias são criadas como iniciativa de um indivíduo ou
mais ligados à uma comunidade que, no intuito de beneficiá-la, promove o acesso
ao livro, à leitura e a informação em geral de interesse para toda a população.
É nesse espaço compartilhado que nasce a biblioteca comunitária reflexo do
grupo que tem no seu espaço dela uma identidade. Vêm somar-se à igreja, à escola
e às associações. Neste sentido, a biblioteca comunitária melhor seria se fosse
chamada de biblioteca associativa ---- uma vez que seres sociais se organizam para
a realização de um interesse comum. Com a alcunha de biblioteca comunitária
pode-se dizer que o que se pretende é que ela seja comum a todos no seu uso e na
sua construção.
17
As bibliotecas comunitárias seguem a missão da biblioteca pública, que devem
promover o acesso aos registros do conhecimento, o estímulo à leitura e sua
interpretação através de atividades como a hora do conto, concurso de poesia e
literatura, e ainda, focar questões do cotidiano da comunidade como: saúde,
transporte, segurança, esportes, etc, (MILANESE, 1986, p. 69).
A biblioteca comunitária deve ser uma referência de acesso à informação em
todos os níveis e para todos os fins. E, como a exemplo da biblioteca pública, é
instrumento educativo e prioriza o suporte da informação ao invés da informação por
si (LOPEZ, 2003, p. 5). Assim sendo, a biblioteca comunitária comete o mesmo erro
da biblioteca pública, pois quando prioriza o suporte e não a informação, a biblioteca
só alcança o alfabetizado, mas não o analfabeto. Para isso é preciso valorizar a
informação em qualquer suporte e fazer uso de vídeos, fitas sonoras, exposições,
debates, palestras, etc. Deve ainda utilizar-se de voluntários envolvidos com a
capacidade de assimilação da informação na tentativa de assegurar o
desenvolvimento do conhecimento.
Stumpf (apud Almeida, 19997, p. 107) diz que bibliotecas públicas são mantidas pelo
governo e servem a uma população maior, como uma cidade ou estado. As
comunitárias podem ou não ser subordinadas ao governo, mas atendem a
populações menores como bairros e vilas. A esta denominação (biblioteca
comunitária) estabelece, também, um sentido de maior vínculo entre a biblioteca e
seu público, levando a crer que ela é parte integrante da comunidade (ALMEIDA,
1997, p. 99).
Segundo Almeida (1997, p. 92) as bibliotecas alternativas (dentre as quais a
biblioteca comunitária) devem fixar-se em três pontos: O público a ser atingido deve
ser aquele que constitui as classes populares; O objetivo de trabalho deve ser a
18
informação e, a comunidade deve efetivamente participar da definição de políticas e
objetivos.
A incorporação da informação pela Biblioteca Comunitária pode trazer consigo
as diversas informações utilitárias de interesse da comunidade.
A função informacional quando assumida, exige um vínculo maior, um
relacionamento mais próximo da comunidade, na medida em que as
informações oferecidas devem atender as necessidades e os interesses
daqueles que a utilizaram (ALMEIDA, 1997, p. 138).
Segundo Almeida (1997, p. 126) uma característica marcante das bibliotecas
comunitárias é a aproximação do público com o responsável pelos livros, pela
afinidade natural por morarem na mesma localidade.
E se a biblioteca comunitária promove palestras, cursos, exposições, eventos,
debates, etc., “propiciará atividades em grupo cujos resultados são tão ou mais
importantes que as pesquisas ou consultas individuais” (ALMEIDA, 1997, p. 100).
A respeito da formação dos acervos das bibliotecas comunitárias Almeida faz
uma crítica pertinente:
Freqüentemente é iniciado com campanhas de arrecadação de livros,
principalmente entre os membros da comunidade. Tais campanhas não
determinam critérios prévios, recolhendo livros e revistas aleatoriamente,
inchando o espaço da biblioteca com materiais pertinentes e com outros
totalmente inadequados sob o ângulo dos interesses da comunidade (1997
p. 118).
Na aquisição de suportes informacionais, a biblioteca comunitária observa sua
comunidade e constitui seu acervo a partir dos registros das manifestações
populares, artísticas ou não, como poesia, contos, filmagens de dramatização de
19
leitura de poesia e peças teatrais ou gravação de imagem e som das reuniões de
associações e documentos gerados pela comunidade e de interesse arquivistico.
Na Era do conhecimento ou Era da informação, a educação é considerada
como um instrumento essencial na conquista da cidadania. Mas para que a
educação seja um instrumento de cidadania deve assegurar o desenvolvimento dos
potenciais humanos para a autonomia moral e intelectual. E a biblioteca é uma
instituição que se faz necessária nesse processo (SUADEM, 2000, P. 55).
Segundo Freire (1998, p. 56) a situação brasileira em relação à educação
para a cidadania pode ser considerada deficitária. Primeiramente por que esse
direito ainda não é garantido a todos os brasileiros, e segundo, porque a educação
oferecida hoje pelo Estado, se aproxima mais da doutrinação do que da autonomia.
Assim, acredita-se que a Biblioteca Comunitária em seu processo de construção a
partir do resgate e preservação das experiências da comunidade torne-se um
espaço tanto de participação como de expressão local, visando transformar os
indivíduos em sujeitos autônomos (ALMEIDA, 1997, p. 50). “Desse modo a
comunidade vai-se reconhecer nas atividades culturais desenvolvidas pela biblioteca
nas práticas leitoras e em seu acervo” (FREIRE, 1998, p. 49).
Segundo Moraes (1983, p. 65) quando a biblioteca não é constituída para o
povo, pode ser popularizada, mas não é popular. Ela somente é popular quando é
do povo. As bibliotecas criadas pelo poder público são repartições publicas e
carregam todas as características que fizeram essas serem rejeitadas e
menosprezadas pela população. Essas repartições pretendem executar serviços à
população, mas se tornam estranhas a ela e conseqüentemente causam prejuízos
sociais, educacionais e culturais por essa faltam. A biblioteca comunitária vem como
alternativa a essas bibliotecas preenchendo tanto os espaços deixados pela
biblioteca pública tais como desenvolvimento cultural e lazer, como os espaços
20
deixados pela biblioteca escolar como auxilio à pesquisa e literatura. E por ser a
biblioteca comunitária criada e mantida pela própria comunidade nada tem o Estado
que ver com o tipo de acervo que possui e a ideologia de suas obras sendo a
população ao entorno a própria beneficiada e permitindo assim, a verdadeira
produção do conhecimento e do livre pensar (LOPEZ, 2003, P. 15).
A tentativa de fazer da biblioteca comunitária uma alternativa à biblioteca
escolar e à biblioteca pública não é original. Já em 1978 a Revista Brasileira de
Biblioteconomia e Documentação em artigo de Carminda Nogueira de Castro
Ferreira abordava a experiência americana no início do século XX que tentou
articular estas bibliotecas no que ficou conhecido como “biblioteca conjunta
comunitária”. No principio, o termo biblioteca comunitária designou “aquelas
bibliotecas que atuavam junto aos segmentos mais pobres das grandes cidades
principalmente em bairros periféricos”.
A biblioteca comunitária deve oferecer, caso não haja biblioteca pública ou os
serviços desta não cumpram com seus deveres, “acesso livre e ilimitado ao
conhecimento ao pensamento, a cultura e a informação” (MANIFESTO DA
UNESCO, 1995, p. 2).
A biblioteca comunitária vem criar elos entre a manifestação cultural, a
educação e a comunidade. Ela deve-se fiar no voluntariado e nas manifestações de
interesse da comunidade em atuar na construção do seu desenvolvimento ---- isso
certamente refletirá no desenvolvimento da comunidade. Preparar os trabalhadores
voluntários da biblioteca com técnicas biblioteconômicas garante ao indivíduo
instrumentos para enfrentar as exigências do mundo moderno e faz conhecida essa
instituição tão cara ao desenvolvimento humano.
O aprendizado do voluntário não se esgota no desenvolvimento dos aspectos
técnicos do trabalho em bibliotecas, mas desenvolve sua cultura, educação e
21
sociabilidade. Portanto, os voluntários da área de teatro, música, artes plásticas e
literatura, pertencentes à comunidade ou não, devem fazer parte do universo da
biblioteca comunitária. Para uma Biblioteca Comunitária funcionar não é preciso
registro no Conselho nem a contratação de um Bibliotecária com isso o acesso a
essa instituição é facilitado.
Após a exposição teórica concernente à Biblioteca Comunitária, cabe relatar
um breve histórico das instituições escolhidas.
22
4 AS BIBLIOTECAS COMUNITARIAS: UM BREVE HISTORICO
As Bibliotecas selecionadas para este estudo foram: 1) Biblioteca Leitura e
Ação no bairro de Cerâmica em Nova Iguaçu; 2) Biblioteca Paulo Freire no Centro
de Duque de Caxias; 3) Biblioteca Tobias Barreto na Vila da Penha; 4) Biblioteca Ler
e Agir em Vargem Grande; 5) Bibliotecas Canto da Leitura no Horto e em Vilar
Carioca-Inhoaiba as unidades foram selecionadas a partir da sugestão de minha
orientadora.
Assim, foram feitas cinco entrevistas junto aos responsáveis pelas Bibliotecas,
a saber: Marcelo da Biblioteca Comunitária Paulo Freire, Evando da Biblioteca
Comunitária Tobias Barreto, Luciane da Biblioteca Comunitária Espaço da Leitura e
Maria Nilda da Biblioteca Comunitária Canto da Leitura. As Bibliotecas estão
localizadas nos municípios do Rio e Grande Rio. O ingresso às instituições para
aplicação das entrevistas e o registro fotográfico foi permitido devido à elaboração
de uma Carta de apresentação entregue aos responsáveis (apêndices A e B).
Fizemos as entrevistas explorando alguns itens, a saber: IDENTIFICAÇÃO
DO RESPONSÁVEL; ORIGEM; DESIGNAÇÃO; OBJETIVO; ESPAÇO FISICO;
ACERVO; USUARIO; SERVIÇO E PRODUTO; RECURSO MATERIAL
FINANCEIRO E HUMANO.
23
4.1 COMUNITARIA PAULO FREIRE – DUQUE DE CAXIAS
A idéia de criar a biblioteca comunitária Paulo Freire surgiu quando um grupo
de amigos começou a se reunir periodicamente na casa do Pedagogo Marcelo
Sanuto em 1999 para a leitura de poesias e para discutir literatura.O nome foi uma
homenagem a Paulo Freire e suas trabalho. Quanto à utilização do termo
comunitária o idealizador o emprega acreditando ser justamente o termo que melhor
define a aproximação da biblioteca para junto da comunidade. A Biblioteca está
instalada em sua casa desde de que começou a funcionar e desde então vem
funcionando durante todos os dias da semana das 18:00 às 21:00h e nos fins de
semana de 09:00 às 18:00h. A biblioteca, no início, contava com 300 livros e hoje
são mais de 12.000, armazenados num espaço de 50m². O acervo é constituído de
doações que chegam freqüentemente. A biblioteca se localiza na Rua: Quintino
Bocaiúva, 119, casa nº 2. Duque de Caxias.
Os diversos profissionais envolvidos com a biblioteca entre eles um
Administrador, um Pedagogo, algumas Donas-de-Casa, dois Pedreiros e um
Mecânico.
Os objetivos traçados para a atuação da biblioteca são: buscar através da
difusão da informação que o cidadão se forme, se fortaleça e que possa obter
cultura e educação. A política de seleção prevê que haja critério de conteúdo e
critério físico, ou seja, que ele não esteja rasurado, rasgado ou defasado. Marcelo
afirmou que biblioteca não faz arrecadação de livros, os livros chegam de forma
espontânea, mas o espaço já está ficando saturado. Não há nenhum tipo de
tratamento com relação ao acervo.O salão de leitura não suporta muitos leitores e a
24
iluminação é deficiente. Mas apesar de todas essas ressalvas a biblioteca é uma
iniciativa de estudo em poesia e literatura.
Os usuários da biblioteca são formados principalmente por estudantes e
pessoas que estão se preparando para fazer concursos. A sugestão dos usuários é
que se faça divulgação nas escolas do entorno para dar acesso aos outros que
ainda não conhecem a biblioteca.
A biblioteca procura treinar e orientar os usuários na pesquisa bibliográfica
para consulta in loco ou para empréstimo. O idealizador acredita ser bom para o
desenvolvimento das atividades da biblioteca fazer uso do conhecimento
biblioteconômico, principalmente no que tange a referência e classificação.
As atividades que dão incentivo à leitura ficam restritas às possibilidades de
ação dos envolvidos com a biblioteca. Não há incentiva a leitura. A biblioteca não se
utiliza nenhum outro meio como TV, vídeo ou Teatro para oferecer acesso
à informação e tornar a leitura algo agradável.
A comunidade participa voluntariamente da organização e limpeza da
biblioteca. Essa atividade além de beneficiar a todos os usuários da biblioteca
aproxima as mulheres historicamente excluídas do acesso ao livro que, geralmente,
são quem mais se interessam por essa atividade voluntária que tornam-se assim
leitoras e usuárias da biblioteca.
A utilização da biblioteca como espaço para unir a comunidade como espaço
de discussão e organização social não tem sido praticado pela Paulo Freire, mas
tem aplicado seu interesse na prática Literária.
Percebeu-se que a maior preocupação da biblioteca é no auxílio à pesquisa
escolar, acentuando o caráter escolarizante da Biblioteca Comunitária. Não foi
relatada nenhuma atividade que a descrevesse como Centro de Informação ou
Centro de Cultura ou como depositaria do material escrito sobre a região.
25
A biblioteca não conta com nenhuma parceria para desenvolver seus projetos.
Não possui nenhum tipo de investimento externo sendo somente seu idealizador
quem participa das soluções financeiras para a biblioteca. Mesmo assim, a
pretensão é de expandir a iniciativa para outras ruas do Bairro.
26
4.2 COMUNITARIA TOBIAS BARRETO – VILA DA PENHA
A biblioteca começou em 1998 com 50 livros. O nome é uma homenagem a
Tobias Barreto possuidor da maior biblioteca particular de seu tempo. A biblioteca
está localizada na Rua Engenheiro Augusto Bernachi, 130, Vila da Penha. A
biblioteca funciona todos os dias da semana desde cedo até tarde da noite. O
acervo está acomodado na garagem da casa de seu idealizador num espaço de
18m², com um acervo de 40.000 livros. A biblioteca conta com diversos profissionais
associados, Bibliotecário, Pedreiro, Engenheiro, Policial, Médico, Professor. Todos
membros fundadores.
O objetivo da biblioteca é espalhar livros e bibliotecas e tem alcançado seus
objetivos uma vez que aplica uma política única de acesso aos livros, toda pessoa
pode requerer um livro e retê-lo pelo tempo que precisar. Não há registro de retirada
do livro nem data para devolução. Fica a critério do requerente apurar o tempo que
pretende ficar com o livro, podendo até não devolvê-lo. É realmente uma atitude
voltada à distribuição de livros que, a princípio entusiasma qualquer indivíduo, mas
que, num segundo momento, o conhecimento desenvolvido faz querer organizar,
seja para doar, seja para consultar in loco. A partir da Tobias Barreto oito bibliotecas
foram criadas inclusive uma em Moçambique.
Não há fundo que financia a biblioteca. Os livros são todos frutos de doações.
Os livros chegam com freqüência sem campanha de arrecadação. E a biblioteca não
se utiliza outro meio que não o livro para oferecer acesso à informação.
Os usuários são em geral estudantes cuja reclamação mais freqüente é sobre
o difícil acesso ao acervo. No entanto, os usuários podem contar com a ajuda do
idealizador para o auxilio à pesquisa. Chama-nos a atenção o abandono do
27
conhecimento biblioteconomico e maneira empírica e pessoal na lida com os livros.
A política de desenvolvimento da leitura na Tobias Barreto está intimamente ligada a
distribuição de livros e não está envolvida em desenvolver a questão da qualidade
da leitura.
A biblioteca não criou um ambiente de reunião de grupos organizados, não
tendo nenhum desenvolvimento organizacional da comunidade. No entanto, a
biblioteca tem encontrado parceiros valiosos como a Escola Pública do bairro.
Percebeu-se que a Tobias Barreto pretende atingir uma comunidade maior que
aquela circunscrita no entorno à biblioteca através do incentivo a criação de outras
Bibliotecas Comunitárias.
A biblioteca em parceria com alguns pesquisadores lançou um Dicionário
Bibliográfico sobre as pessoas mais tradicionais da Penha e A história da Penha.
Mas não se tem feito Centro de Informações e/ou Centro de Cultura. Como é
descrito por Almeida.
28
4.3 COMUNITARIA ESPAÇO DA LEITURA – NOVA IGUAÇU
A biblioteca foi inaugurada com a iniciativa da estudante de biblioteconomia
Luciene Soares moradora da comunidade da Cerâmica em Nova Iguaçu que sob a
orientação da bibliotecária e professora da Escola de Biblioteconomia da UNIRIO
Maura Tavares Quinhões, formaram a biblioteca. A idéia surgiu quando em agosto
de 2003 Luciene desenvolvia estagio curricular no Colégio de Aplicação da UERJ
percebeu que havia diferença de oportunidade entre os alunos do Colégio de
Aplicação e os moradores de sua rua. Conhecedora da importância da biblioteca no
desenvolvimento do estudo procurou implantar uma biblioteca com a ajuda da
Associação de Moradores, da Prof. Maura Quinhões e da ONG Leitura e Ação
fundada pelos moradores da comunidade para buscar recursos para a biblioteca. A
biblioteca foi instalada na sede da Associação de Moradores (ACOMAR). Ocupa o
espaço de 9m² com um acervo de 12.000 livros já processados. Fica localizada na
Rua Gisela Urin, 110, Bairro Cerâmica no Município de Nova Iguaçu. Funciona
durante a semana no horário de 8:00 as 17:00 hs.
O termo Comunitária trouxe consigo a idéia de uma biblioteca local mais
próxima das pessoas uma idéia oposta a sentida pelas pessoas sobre o que seja
Biblioteca Pública. A biblioteca atende quase sempre estudantes em busca de apoio
às atividades nas escolas. Pretende cumprir na comunidade as funções da biblioteca
pública e biblioteca escolar. A reclamação mais freqüente é quanto ao acervo, os
usuários pedem livros de consulta atualizados. O hábito da leitura é incentivado
através da contação de histórias. A Espaço da Leitura tem se tornado um auxiliar no
29
estudo escolar, mas não pode atender os usuários que não sejam alfabetizados por
não ter programas para os não-alfabetizados ou analfabetos funcionais.
A idealizadora nos afirma que a participação da comunidade junto a biblioteca
é grande, mas poderia ser maior se houvesse mais divulgação. Os voluntários têm
se apresentado em maior número a biblioteca porque uma outra ONG instalada no
Bairro oferece cursos gratuitos que a condição para frequentá-los é ser voluntário
nos projetos da comunidade. A biblioteca atrai pessoas de outros Bairros, mas ainda
não consegue ser um espaço de ordenação social. Ressalta-se que a diretoria da
ONG é toda formada por pessoas da comunidade.
A biblioteca tem um objetivo que é o de permitir que as pessoas da localidade
tenham acesso ao empréstimo de livros. E ela tem alcançado seus objetivos na
medida do possível, pois as pessoas têm podido ler tanto na biblioteca como nas
suas casas. Além disso, procura orientar os usuários na pesquisa e consulta do
material. Faz-se uso das técnicas biblioteconômicas como a catalogação a
classificação e de referência. A Espaço da Leitura não tem se apresentado como um
Centro de Informação e Centro de Cultura e Depositária da Memória local sendo o
acesso ao livro sua maior contribuição a comunidade.
A aquisição é toda constituída por doação e a biblioteca mantém uma política
para a aquisição e o descarte. Duplicatas, livros muito velhos ou impossibilitados de
uso são descartados. A seleção visa livros educativos didáticos e para-didáticos. O
espaço é pequeno e as doações estão sofrendo um critério cada vez mais rigoroso.
A partir da Associação de Moradores foi possível estruturar um espaço de
acomodação e leitura dos livros, a Associação ofereceu o lugar para a instalação e
doou móveis e material para escritório. A ONG Leitura e Ação administra a
biblioteca, estas são as duas parceiras da biblioteca. E os profissionais envolvidos
com a biblioteca vão desde Pedreiros, Motoristas e Donas de Casa até
30
Universitários e Professores. Mas também a comunidade está envolvida e faz a
biblioteca funcionar. Por tudo isso se acredita que a Espaço da Leitura pode servir
como exemplo para a sociedade do que se pode fazer a partir do conhecimento
biblioteconômico.
31
4.4 O PROJETO BIBLIOTECA COMUNITARIA CANTO DA LEITURA –
HORTO E VILAR CARIOCA
O projeto teve início em 2000 quando a economista Maria Nilda se interessou
pela comunidade de Rio das Pedras. A economista percebeu que não havia nenhum
tipo de biblioteca na região, nem escolar, nem pública. Juntou-se a amigos e
fundaram a ONG Ler e Agir e a biblioteca cujo nome escolhido a partir da idéia
lúdica de cantar a leitura. A idéia do projeto é a de instalar bibliotecas em regiões
carentes desta instituição com o auxílio da iniciativa privada. Então, buscaram
parceiros e amigos e a primeira biblioteca desenvolvida pela ONG. Foram
desenvolvidas desde então mais três bibliotecas. Todas têm o mesmo horário de
funcionamento, das 10:00 às 17:00 de Segunda-feira a Sexta-feira. O projeto prevê
que estejam acomodadas em espaços de aproximadamente 50m. Conta-se com o
apoio de diversos profissionais, como, dois Cientistas Sociais, um Educador, uma
Economista, duas Historiadoras, um Arquiteto e uma Comunicóloga.
Já havia uma movimentação na comunidade de Vilar Carioca com
arrecadação de livros e um curso pré-vestibular, foi aí que a biblioteca juntou-se a
essas atividades em 2001.
Os acervos foram adquiridos por doação e são constituídos assim: Horto
possui 3000 publicações, Vilar Carioca possui 2000 publicações. Todas levam o
nome de Canto da Leitura e ficam nos seguintes endereços: Vilar Carioca-Inhauma,
R: 100, Sem número. Horto, R: Pacheco Leão, n º 1818. O critério de aquisição é
simples, incorpora-se ao acervo todo livro em condição de uso. A iluminação e o
espaço para leitura são satisfatórios.
32
Os usuários são heterogêneos e a incidência maior é de estudantes. Eles
reclamam do horário de funcionamento e do acervo, pois gostariam que a biblioteca
funcionasse aos sábados e domingos e que houvesse gibis e jornais. Percebe-se
uma característica escolarizante voltada para o apoio a escola com acervo didático.
Os usuários contam com Oficinas e Rodas de Leitura que procuram criar a
interação entre eles para ler e debater. Aplica-se o conhecimento biblioteconômico e
inclusive as pessoas ligadas à biblioteca fizeram o Curso de Técnico em
Biblioteconomia na Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Verificou-se que em nenhuma das bibliotecas há voluntários trabalhando,
todos as pessoas são remuneradas, pois se acredita que não é possível fazer um
trabalho contínuo sem remuneração. Mas procura-se desenvolver a percepção de
que o bem público deve ser preservado e os usuários que participam mais
freqüentemente reconhecem aquele espaço como deles e preservam. A biblioteca
de Vilar e do Horto vem se tornando um ponto de encontro e de socialização cada
vez mais freqüente.
Os objetivos das bibliotecas são: estimular a leitura, disponibilizar o livro,
socializar o espaço interno e o livro e afirmar a identidade local a partir da
construção do acervo da memória local. Os objetivos têm sido alcançados, no
entanto, o processo é continuo e em longo prazo. As Oficinas da Biblioteca em Vilar
Carioca gerou um livro com textos produzidos nas oficinas. E a biblioteca tem se
esforçado para tornar-se um Centro de Informação e um Centro de Cultura, mas
ainda está no começo de suas atividades não tendo atividades sedimentadas e
periódicas. No Horto a ONG reuniu o relato dos moradores mais antigos da região e
fizeram um livro que preserva a memória local.
A Biblioteca de Vilar contou com uma verba de 50.000 reais no momento de
sua inauguração que a manteve durante um ano e formou toda a estrutura existente.
33
A biblioteca do Horto obtém financiamento através do clube dos amigos da
biblioteca. Sobre a administração das bibliotecas, a ONG pretende instala-las e
gerenciar a implantação do projeto até a comunidade poder assumir a administração
da biblioteca.
A seleção do acervo é feita a partir da análise da idealizadora fazendo uso de
conceitos elementais da aquisição de acervo. Ela afirma que não pretende ser
neutra na disseminação e na constituição do acervo e que existe um objetivo na
seleção do acervo, todo adquirido por meio de doações. As doações chegam por
meio das campanhas de arrecadação.
A ONG vê que ainda há perspectivas de crescimento para o projeto em outras
regiões do Rio.
As bibliotecas mostram-se prontas para continuar a se desenvolver e a
alcançar objetivos além daqueles traçados inicialmente.
34
5 CONCLUSÃO
Através da análise dos resultados espera-se apresentar uma pequena
contribuição sobre a questão da Biblioteca Comunitária no Rio de Janeiro, aos
estudantes de Biblioteconomia e pesquisadores que desejam se aprofundar sobre
esse assunto.
A pesquisa visa instituições específicas e seu público-alvo é a população dos
bairros periféricos ou das cidades satélites do Rio. Buscou-se alcançar o objetivo
desta pesquisa, por intermédio dos dados colhidos por meio de entrevista com os
responsáveis pelas Bibliotecas.
Verificou-se que o responsável pela biblioteca tem um relacionamento
próximo com os moradores, movimentos organizados, associações e entidades
existentes naquele espaço por ser ele mesmo um membro da comunidade.
Confirmou-se que as bibliotecas fazem às vezes de biblioteca escolar e biblioteca
pública, mas não como orienta a formação destas bibliotecas pelo conhecimento
biblioteconômico, e sim, por ser a única opção de acesso a livros naquela localidade.
Oferece acesso aos livros em um ambiente de estudo e consulta a partir de um
acervo organizado.
A justificativa foi demonstrada através da revisão de literatura sobre Biblioteca
Comunitária, no sentido de se obter uma visão mais ampla e profunda do que seja
Biblioteca Comunitária e como ela pode com poucos recursos e alguma organização
solucionar a falta das Bibliotecas convencionais como equipamento de formação e
cidadania. Foram consultadas publicações referentes à Biblioteca Comunitária e,
através da revisão bibliográfica pode-se perceber que Biblioteca Comunitária é ainda
um termo vasto e seu desenvolvimento representa um importante fator de
35
crescimento e desenvolvimento para a sociedade. A aplicação das entrevistas foi
uma forma de ligação da teoria arrolada com a prática realizada pelas Bibliotecas
Comunitárias. No entanto, é preciso ressaltar que a literatura que trata desse tema é
ainda escassa e incipiente, assim como, os debates, discussões e reflexões.
Os acervos de todas as bibliotecas pesquisados foram construídos a partir de
doações cuja oferta é consideravelmente grande. E esse é um dos motivos que leva
o idealizador da biblioteca comunitária Tobias Barreto a não ter um controle efetivo
da entrada e saída de livros da biblioteca cabendo ao usuário a devolução
espontânea do livro ou a retenção do livro sem nenhum constrangimento. As
Bibliotecas Comunitárias procuram ser também propagadoras de cultura oferecendo
mediante as possibilidades de seus responsáveis, formas de expressão artística
como a música, o cordel e a poesia. Quatro bibliotecas possuem espaço para leitura
na biblioteca, somente uma não possui área pra leitura.
A metodologia projetada foi alcançada, pois os métodos de levantamento de
informações satisfizeram o objetivo.
Percebeu-se que as comunidades estão separadas de suas bibliotecas não
tendo em sua comunidade voluntários que ocupem seus diversos cargos. A Espaço
da Leitura possui uma organização mais favorável ao entrosamento comunidade-
biblioteca, no entanto, vale ressaltar que a idealizadora é uma estudante de
Biblioteconomia. Já a Tobias Barreto possui diretoria e estatuto, mas ninguém além
de seu idealizador tem ocorrido em administrar a biblioteca. A Paulo Freire é
sustentada e administrada pelo idealizador e seus familiares. E, o Projeto Canto da
Leitura tem uma diretoria mista que inclui membros da ONG fundadora e membros
da comunidade. Somente a Espaço da Leitura permite que membros da comunidade
atuem efetivamente na administração da biblioteca nenhuma das outras apresentam
projetos onde membros da comunidade possam opinar e decidir qual o caminho que
36
a biblioteca deva seguir. A biblioteca comunitária ideal poderia se apresentar numa
concepção verdadeiramente cidadã baseada na participação nas decisões e
atenção às necessidades da comunidade. Ter origem e gerência da comunidade.
Segundo Milanese (1996, p. 43) exclui-se como exemplo a biblioteca pública devido
a suas características de natureza elitista, impositiva e distanciada da comunidade e
a escolar pela inexistência desta nas escolas públicas.
A importância desse trabalho se revela pelo fato de o Banco de Monografias
existentes na Biblioteca Central da UNIRIO não possuir trabalho semelhante.
Obteve-se com esta pesquisa, a análise de informações sobre modos, hábitos das
bibliotecas e suas relações com a comunidade.
Concluí-se que as bibliotecas da amostra não representam integralmente a
biblioteca comunitária que a literatura descreve. Uma característica todas tem em
comum, todas privilegiam o suporte à informação. É válido ressaltar algumas
sugestões para o aprimoramento das Bibliotecas Comunitárias: estas devem mostrar
a comunidade local o quanto a informação, a comunicação, a cultura e a educação
são importantes para o aprimoramento e a formação do ser cidadão.
37
6 REFERÊNCIAS
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alternativas. Londrina: UEL, 1997.
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documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das
seções de um documento escrito: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.
______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de
Janeiro, 2003.
______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de
Janeiro, 2003.
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Janeiro: Zahar, 2003.
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conceituais metodológicos e de aplicação. São Paulo: Editora Nacional/USP, 1973.
FERREIRA, Francisco de Paula. Teoria Social da Comunidade. São Paulo: Herder,
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complementam. São Paulo: Cortez, 1998.
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<http://dois.minas.ac.uk/Do15/data/Articles/juljuljuljuy:2003:v:4:i:15:p:1052.Html.> Acesso em:
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escolar: edição em língua portuguesa. [S.l.: s.n.]: 1999. Disponível em:
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Associação dos bibliotecários do Distrito Federal, 1983.
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TONNIES, Ferdinand. Principios de Sociologia. Trad. Vicente Llorens. Mexico,
D.F.: Fondo de Cultura Economica, 1942.
40
APENDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO ÀS BIBLIOTECAS COMUNITARIAS
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2005.
Ao responsável pela Biblioteca Comunitária
Venho por meio desta, solicitar autorização para visitar a Biblioteca. Estou no
9º período do Curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro, situada no Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH), Av. Pasteur,
458 – URCA – RJ. Sou morador da Rua Correa Dutra, 29, ap.504. Flamengo.
Pretendo desenvolver meu Trabalho de Conclusão de Curso a partir das
Bibliotecas Comunitárias. Pretendo aplicar uma entrevista com perguntas referentes
ao perfil da biblioteca e do usuário para auxiliar no desenvolvimento do problema
que pretendo desenvolver.
Desde já agradeço a colaboração,
________________________________
Carlos Magno Faccion Júnior
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APENDICE B – QUESTIONÁRIO.
I - ORIGEM1) Como e quando surgiu a Biblioteca?
II - DESIGNAÇÃO
2) Porque escolheu esse nome?
3) Oque você pensa a respeito do termo Comunitária?
4) Qual a diferença da Biblioteca Comunitária para a Biblioteca Pública ou a
Biblioteca Escolar?
III - OBJETIVOS
5) Quais os objetivos da biblioteca?
6) De que forma ela alcança os objetivos?
IV - ESPAÇO FÌSICO
7) Onde a biblioteca está funcionando?
8) Qual o tamanho da biblioteca?
V - ACERVO
9) Quais e quantos são os materiais do acervo ?
10) Como o acervo foi constituído?
11) Há uma seleção crítica na incorporação do acervo?
12)Existe liberdade no acesso ao acervo?
13) A biblioteca tem feito campanha de arrecadação de livros? Para que serve?
VI - USUÁRIO
14) Qual o perfil do usuário?
15)Quais são as reclamações mais freqüentes?
VII - SERVIÇOS E PRODUTOS
16) Quais os serviços prestados pela biblioteca?
17) A biblioteca tem desenvolvido o potencial social das bibliotecárias comunitária?
18)Desenvolve-se o hábito da leitura junto aos leitores?
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19) Existe uma conscientização por parte da biblioteca para uma maior participação
comunitária, para a preservação do bem público e do trabalho voluntário?
20) A biblioteca é um elo de integração da comunidade?
21) A biblioteca comunitária deve ter uma característica escolarizante
alfabetizadora?
22) A biblioteca atende a algum destes itens: ser um centro de informação, ser um
centro de cultura ou depositária do material escrito sobre a região.
23) A comunitária tem a preocupação com o resgate e preservação da história e
memória da comunidade?
VIII - RECURSOS: MATERIAIS, FINANCEIROS E HUMANOS.
24) Quais as parcerias da biblioteca?
25)Qual o orçamento da biblioteca?
26) Há perspectiva de crescimento?
27) A biblioteca se utiliza outros meios como a TV, o vídeo e a música para
transmitir a informação e transformar a leitura em algo transformador?
28) Quais são os profissionais envolvidos com a biblioteca?
29) Qual a participação da comunidade na administração da comunitária?
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