UNIVERSIDADE PAULISTACURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA
CAMPUS MARQUÊS
FONTES DE FINANCIAMENTO
Material produzido pelo Prof. Fábio ArtenFormatado pelo Prof. Rodrigo Marchesinwww.rodrigomarchesin.spaces.live.com
São Paulo2010
Agenda do Estudante
Esta agenda tem como objetivo auxiliar o aluno na construção dos alicerces para a
aprovação acadêmica na disciplina Fontes de Financiamento, através da organização e do
planejamento dos estudos durante o primeiro semestre letivo de 2010. Na agenda, estão
apresentadas as distintas fases das atividades previstas no Plano de Aulas, e os prazos de
entrega das Atividades Complementares – AC (ver Calendário e Anexo 1).
FASES DAS ATIVIDADES INÍCIO FIM
1 Apresentação da Disciplina; Direcionamento Metodológico* 02.02.10 05.03.10
2 Consolidação dos Conceitos Básicos da Disciplina; Entrega AC 08.03.10 09.04.10
3 Avaliação NP1; Resultados; Entrega AC 12.04.10 23.04.10
4 Consolidação dos Conceitos Avançados da Disciplina; Entrega AC 26.04.10 04.06.10
5 Avaliação NP2, Apresentação do PIM; Substitutivas 07.06.10 25.06.10
6 Resultados Finais; Encerramento do Semestre 28.06.10 01.07.10
* As turmas calouras tem o início das aulas previsto para 18/02/2010.
CALENDÁRIO 2010 – 1º SEMESTRE**
FEVEREIRO MARÇO ABRILD S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 37 8 9 10 11 12 13 7 8 9 10 11 12 13 4 5 6 7 8 9 10
14 15 16 17 18 19 20 14 15 16 17 18 19 20 11 12 13 14 15 16 1721 22 23 24 25 26 27 21 22 23 24 25 26 27 18 19 20 21 22 23 2428 28 29 30 31 25 26 27 28 29 30
02 Início das Aulas Veteranos16 Carnaval18 Início das Aulas Calouros
22 a 26 Atividades Complementares (AC1) 02 Paixão de Cristo21 Tiradentes14, 19 a 23 Atividades Complementares (AC2)
MAIO JUNHO JULHOD S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 1 2 3 4 5 1 2 32 3 4 5 6 7 8 6 7 8 9 10 11 12 4 5 6 7 8 9 109 10 11 12 13 14 15 13 14 15 16 17 18 19 11 12 13 14 15 16 17
16 17 18 19 20 21 22 20 21 22 23 24 25 26 18 19 20 21 22 23 2423 24 25 26 27 28 29 27 28 29 30 25 26 27 28 29 30 3130 3101 Dia do Trabalho03 a 07 Atividades Complementares (AC3)17 a 21 Atividades Complementares (AC4)
03 Corpus Christi 02 a 31 Férias
** A relação, com indicações de Atividades Complementares, encontra-se no Anexo 1 desta Apostila.
PLANO DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010
Fontes de Financiamento (FF)
TEMA CONTEÚDO*** LEITURA PRÉVIA ATIVIDADE
01 Capital de Giro (6)
Apostila – Cap. 2 (pág. 12 a 23)Apostila – Cap. 3 (pág. 24 a 32)Apostila – Cap. 4 (pág. 33 a 36)Apostila – Cap. 5 (pág. 37 a 47)Apostila – Cap. 6 (pág. 48 a 56)
Estudo de Caso
Exercícios
Exercícios
Exercícios
Exercícios
02 Operações de Desconto (2)Apostila – Cap. 7 (pág. 59 a 72)
Exercícios
03 Mercado Aberto (1)Apostila – Cap. 8 (pág. 73 a 78)
Exercícios
04 Operações Hot Money (2)Apostila – Cap. 9 (pág. 79 a 81)
Exercícios
05 Floating (1)Apostila – Cap. 10 (pág. 82 a 84)
Exercícios
06 Factoring (1)Apostila – Cap. 11(pág. 85 a 87)
Exercícios
07 Crédito Rotativo (1)Apostila – Cap. 12(pág. 88 a 90)
Exercícios
08 Vendor e Compror (1)Apostila – Cap. 13(pág. 91 a 92)
Exercícios
*** Os números entre parênteses indicam o número de aulas referentes àquele tema, porém a distribuição das aulas pode sofrer alterações para atendimento do Calendário Acadêmico.
ORIENTAÇÕES:
O Plano de Aulas tem por objetivo apresentar, detalhadamente, todas as
temáticas a serem trabalhadas ao longo da disciplina, de acordo com a
ementa prevista pela universidade. Desse modo, para cada etapa do
conteúdo programático e adequado desenvolvimento discente, é
importante que o estudante tome ciência da matéria a ser ministrada,
preparando-se antecipadamente, através da leitura preliminar do
capítulo programado para aquela data.
Para acompanhar os TEMAS e suas respectivas datas, o aluno deve utilizar
o Cronograma de Aulas, apresentado na página seguinte, atentando-se
para a identificação (legenda) de sua turma e dia da semana, no qual os
encontros (aulas) serão realizados.
CRONOGRAMA DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010****
DIA FEVEREIRO DIA MARÇO DIA ABRIL DIA MAIO DIA JUNHO
01 01 TEMA 2 TURMA AAPRES TURMA B 01 RECESSO sáb TRABALHO 01 TEMA 8 TURMA C
02 APRES TURMA C 02 TEMA 1 TURMA C 02 PAIXÃO dom 02 TEMA 8 TURMA DTEMA 8 TURMA E
03 03 TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E sáb 03 TEMA 6 TURMA A
TEMA 5 TURMA B 03 CORPUS CHRISTI
04 APRES TURMA G 04 TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G dom 04 TEMA 4 TURMA C 04 RECESSO
05 05 TEMA 1 TURMA H 05 TEMA 5 TURMA ATEMA 3 TURMA B 05 TEMA 6 TURMA D
TEMA 6 TURMA E sáb
sáb sáb 06 TEMA 2 TURMA C 06 TEMA 6 TURMA FTEMA 7 TURMA G dom
dom dom 07 TEMA 4 TURMA DTEMA 4 TURMA E 07 TEMA 6 TURMA H 07 PROVA 2 TURMA A
PROVA 2 TURMA B
08 APRES TURMA A 08 TEMA 3 TURMA ATEMA 1 TURMA B 08 TEMA 4 TURMA F
TEMA 5 TURMA G sáb 08 PROVA 2 TURMA C
09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 4 TURMA H dom 09 PROVA 2 TURMA DPROVA 2 TURMA E
10 10 TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E sáb 10 TEMA 7 TURMA A
TEMA 6 TURMA B 10 PROVA 2 TURMA FPROVA 2 TURMA G
11 TEMA 1 TURMA G 11 TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G dom 11 TEMA 5 TURMA C 11 PROVA 2 TURMA H
12 12 TEMA 2 TURMA H 12 PROVA 1 TURMA APROVA 1 TURMA B 12 TEMA 6 TURMA D
TEMA 6 TURMA E sáb
sáb sáb 13 PROVA 1 TURMA C 13 TEMA 7 TURMA FTEMA 7 TURMA G dom
dom dom 14 PROVA 1 TURMA DPROVA 1 TURMA E 14 TEMA 7 TURMA H 14
PIM15 RECESSO 15 TEMA 4 TURMA A
TEMA 2 TURMA B 15 PROVA 1 TURMA FPROVA 1 TURMA G sáb 15
16 CARNAVAL 16 TEMA 1 TURMA C 16 PROVA 1 TURMA H dom 16
17 CINZAS 17 TEMA 2 TURMA DTEMA 2 TURMA E sáb 17 TEMA 8 TURMA A
TEMA 6 TURMA B 17
18 TEMA 1 TURMA G 18 TEMA 2 TURMA FTEMA 4 TURMA G dom 18 TEMA 6 TURMA C 18
19 APRES TURMA H 19 TEMA 3 TURMA H 19 TEMA 5 TURMA ATEMA 4 TURMA B 19 TEMA 7 TURMA D
TEMA 7 TURMA E sáb
sáb sáb 20 TEMA 3 TURMA C 20 TEMA 7 TURMA FTEMA 8 TURMA G dom
dom dom 21 TIRADENTES 21 TEMA 7 TURMA H 21 SUB TURMA ASUB TURMA B
22 TEMA 1 TURMA A 22 TEMA 4 TURMA ATEMA 2 TURMA B 22 TEMA 5 TURMA F
TEMA 6 TURMA G sáb 22 SUB TURMA C
23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 5 TURMA H dom 23 SUB TURMA DSUB TURMA E
24 APRES TURMA DAPRES TURMA E 24 TEMA 3 TURMA D
TEMA 3 TURMA E sáb 24 TEMA 9 TURMA ATEMA 7 TURMA B 24 SUB TURMA F
SUB TURMA G
25 APRES TURMA FTEMA 2 TURMA G 25 TEMA 3 TURMA F
TEMA 4 TURMA G dom 25 TEMA 7 TURMA C 25 SUB TURMA H
26 TEMA 1 TURMA H 26 TEMA 3 TURMA H 26 TEMA 6 TURMA ATEMA 5 TURMA B 26 TEMA 8 TURMA D
TEMA 8 TURMA E sáb
sáb sáb 27 TEMA 4 TURMA C 27 TEMA 8 TURMA FTEMA 8 TURMA G dom
dom dom 28 TEMA 5 TURMA DTEMA 5 TURMA E 28 TEMA 8 TURMA H 28
RESULTADOS FINAIS29 TEMA 4 TURMA A
TEMA 3 TURMA B 29 TEMA 6 TURMA FTEMA 6 TURMA G sáb 29
30 TEMA 2 TURMA C 30 TEMA 6 TURMA H dom 30
31 TEMA 3 TURMA DTEMA 3 TURMA E 31 TEMA 10 TURMA A
TEMA 8 TURMA B 01 ENCERRAMENTO
**** Os campos preenchidos na cor verde correspondem às semanas de entrega das Atividades Complementares.
Legenda / Turmas:
MAT A = Paraíso / ACS D = Marquês / ECM F = Marquês / ECM
NOT B = Chácara / RMP C = Marquês / FF E = Anchieta / ECM G = Pinheiros / ECM H = Chácara / ECM
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Apresentação
Este material teórico está voltado para a administração de itens do circulante (curto
prazo). As seções foram divididas de forma que cubram seus aspectos mais importantes,
com ênfase no tratamento da realidade brasileira.
O estudo deste segmento é de grande importância para as Finanças Corporativas,
uma vez que determina reflexos visíveis no desempenho futuro das empresas. Na realidade,
todas as decisões financeiras que venham a ser tomadas por uma empresa requerem
cuidadosa atenção a seus elementos circulantes. São eles, em última análise, que produzem
capacidade de sustentação e crescimento dos negócios.
Este material está dividido em duas seções. A primeira, Capital de giro, aborda
segundo um nível conceitual, os vários aspectos e características do capital circulante e do
conceito de equilíbrio financeiro; a segunda seção, Fontes de Financiamento e aplicações a
curto prazo no Brasil, descreve, em um nível de detalhamento indispensável ao
administrador financeiro, as principais operações financeiras ativas e passivas a curto prazo
disponíveis no sistema financeiro nacional.
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Sumário
1 PROGRAMA DA DISCIPLINA 8
1.1 UNIDADE CURRICULAR 8
1.2 PERÍODO LETIVO 8
1.3 EMENTA 8
1.4 CARGA HORÁRIA TOTAL 8
1.5 OBJETIVOS 8
1.6 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 9
1.7 METODOLOGIA 9
1.8 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 10
1.9 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 11
PARTE I – CAPITAL DE GIRO 12
2 O CAPITAL DE GIRO 13
2.1 INTRODUÇÃO 13
2.2 VÁRIOS CONCEITOS 14
3 CAPITAL DE GIRO E INFLAÇÃO 25
4 INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO 34
5 FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO 38
5.1 COMPORTAMENTO DAS TAXAS DE JUROS A CURTO E A LONGO PRAZOS 38
5.2 DILEMA RISCO-RETORNO NA COMPOSIÇÃO DE FINANCIAMENTO 40
5.3 ABORDAGEM PARA O FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO 42
6 NECESSIDADES DE INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO 49
6.1 CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO (CCL) E NECESSIDADE DE INVESTIMENTO EM GIRO (NIG) 52
6.2 FINANCIAMENTO DO GIRO EM SITUAÇÃO DE EXPANSÃO DO VOLUME DE ATIVIDADES 56
PARTE II – FONTES DE FINANCIAMENTO 58
FONTES DE FINANCIAMENTO E APLICAÇÕES FINANCEIRAS A CURTO PRAZO NO BRASIL 59
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7 OPERAÇÕES DE DESCONTO 60
7.1 OPERAÇÕES DE DESCONTO 60
7.2 DESCONTO BANCÁRIO/COMERCIAL 61
7.3 INCLUSÃO DO IOF NAS OPERAÇÕES DE DESCONTO 66
7.4 RECIPROCIDADE BANCÁRIA 68
7.5 DESCONTO DE BORDERÔ DE DUPLICATAS 69
7.6 INFLUÊNCIA DO PRAZO SOBRE O CUSTO DO CRÉDITO 72
8 MERCADO ABERTO 74
8.1 MERCADO PRIMÁRIO E MERCADO SECUNDÁRIO 75
8.2 TAXA OVER DE JUROS – JUROS POR DIAS ÚTEIS 76
8.3 TAXA OVER EFETIVA ANUAL 78
9 MERCADO INTERFINANCEIRO E OPERAÇÕES HOT MONEY 80
9.1 PRIMEIRO DIA DO HOT MONEY 81
9.2 DEMAIS DIAS DO HOT MONEY – ALTERAÇÕES NAS TAXAS DO CDI 82
10 FLOATING EM OPERAÇÕES BANCÁRIAS 83
11 OPERAÇÕES DE FOMENTO COMERCIAL (FACTORING) 86
12 CRÉDITO ROTATIVO 89
13 LINHAS DE CRÉDITO: VENDOR E COMPROR 92
13.1 VENDOR 92
13.2 COMPROR 93
REFERÊNCIAS 94
BIBLIOGRÁFICAS 94
ANEXOS 95
ANEXO 1: ATIVIDADES COMPLEMENTARES 96
ANEXO 2: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DETALHADO 98
ANEXO 3: A IMPORTÂNCIA DA IGNORÂNCIA NA PESQUISA CIENTÍFICA 100
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1 Programa da Disciplina
1.1 Unidade Curricular
Fontes de Financiamento.
1.2 Período Letivo
3º Semestre.
1.3 Ementa
Capital de Giro. Operacionalização da Empresa. Necessidades de Captação. Fontes
de Financiamento. Custos das Fontes de Financiamento. Despesas Financeiras. Viabilidade
de Financiamento.
1.4 Carga Horária Total
60 horas.
1.5 Objetivos
Analisar e identificar a necessidade de financiamento para o capital de giro da
empresa. Verificar as despesas financeiras. Conhecer, analisar e identificar a melhor fonte
de financiamento a curto, médio e longo prazos.
3
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1.6 Conteúdo Programático1
1.6.1 Capital de Giro
Características
Investimentos e Financiamentos
Necessidades de Investimentos
1.6.2 Fontes de Financiamento
Aplicações de Curto Prazo no Brasil
Operações de Desconto
Mercado Aberto
Mercado Interfinanceiro (Hot Money)
Factoring
Crédito Rotativo
Vendor e Compror
1.7 Metodologia2
Para o desenvolvimento do conteúdo proposto, serão utilizadas as seguintes
técnicas:
Aulas expositivas dialogadas;
Estudos dirigidos;
Estudos de casos.
As atividades contidas no Cronograma de Aulas poderão ser alteradas conforme
necessidade ou mudança do Calendário Acadêmico do Curso.
1 O detalhamento do Conteúdo Programático encontra-se no Anexo 2 desta apostila.2 Ver Agenda do Estudante: Cronograma de Aulas.
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1.8 Critérios de Avaliação3
O processo de avaliação será contínuo, através de provas escritas, estudos dirigidos
(individuais e/ou em grupo) e participação ativa nas atividades desenvolvidas durante o
andamento da disciplina.
Todas as atividades previstas serão medidas, através de uma escala de 0 (zero)
ponto até 10,0 (dez) pontos, e terão pesos proporcionais ao seu grau de importância e
dificuldade, de acordo com o quadro a seguir:
Etapas de Avaliação Peso
Atividades Programadas 20%
Avaliação Bimestral 80%
As Atividades Programadas referem-se aos estudos de caso, interpretação e análise
de textos ou planilhas de cálculos. A Avaliação Bimestral é o instrumento final de
acompanhamento do(a) aluno(a) para classificação do nível de domínio da matéria
lecionada e será aplicada individualmente, sem consulta a qualquer fonte bibliográfica,
anotações ou outros meios classificados como material de apoio à aprendizagem.
O(A) aluno(a) será considerado(a) aprovado(a) se alcançar média semestral (MS)
igual ou superior a 5,0 (cinco) pontos no conjunto das habilidades que compõem a disciplina
cursada e obtiver freqüência mínima de 75% (setenta e cinco por cento). O(A) aluno(a) que
não comparecer à prova (NP1 ou NP2) na data marcada, deverá abrir pedido junto a
Secretaria Acadêmica, solicitando oportunidade para realizar Prova Substitutiva, conforme
orientação da Coordenação Geral e previsto no Manual do Aluno.
3 A Média Semestral (MS) é composta do somatório das notas NP1 e NP2 (peso 4) e PIM (peso 2), divididos por 10, de acordo com a fórmula abaixo e disposta no Manual de Informações Acadêmicas/UNIP 2010:
MS =(NP1 x 4) + (NP2 x 4) + (PIM x 2)
10
5
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1.9 Bibliografia Recomendada
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2007.
ASSAF NETO, Alexandre e SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital
de Giro. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. São Paulo: Atlas, 2001.
BERNI, Mauro Tadeu. Operação e Concessão de Crédito: Os Parâmetros para
Decisão de Crédito. São Paulo: Atlas, 1999.
6
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PARTE I
CAPITAL DE GIRO
Parte I – Capital de Giro
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2 O Capital de Giro
2.1 Introdução
A administração do capital de giro (circulante) envolve basicamente as decisões de
compra e venda tomadas pela empresa, assim como suas mais diversas atividades
operacionais e financeiras. Nessa abrangência, coloca-se de forma nítida que a
administração do capital de giro deve garantir a uma empresa a adequada consecução de
sua política de estocagem, compra de materiais, produção, venda de produtos e
mercadorias a prazo de recebimento.
A importância da administração do capital de giro para as empresas tem-se
acentuado bastante nos últimos tempos, em razão, principalmente, das elevadas taxas de
juros praticados no mercado, do acirramento da concorrência determinado pela abertura de
mercado e das políticas de expansão adotadas pelas empresas.
Como resultado da maior preocupação com a administração do capital de giro, as
técnicas de controle e gerenciamento dos valores circulantes foram aprimoradas, tornando
esse segmento de estudo mais especializado e, também, mais complexo.
Esta seção inicial analisa, de forma conceitual, as características básicas da
administração de capital de giro. Seu entendimento é de fundamental importância para a
administração de vários elementos circulantes, constituindo-se no arcabouço teórico
indispensável de todo o estudo.
Basicamente, a seção encontra-se dividida em quatro grandes partes. A primeira
parte descreve o significado das expressões capital de giro (ou capital circulante) e capital
de giro líquido. A segunda aborda o investimento no capital circulante, incluindo-se também
o montante necessário para a manutenção de seu valor diante de alterações nos níveis
gerais de preços. A terceira parte focaliza o financiamento do capital de giro, onde são
descritas as várias abordagens possíveis e seus reflexos em economias em desenvolvimento.
8
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A quarta parte desenvolve o conceito e cálculo da necessidade de investimento em giro e
seu confronto com o montante do capital circulante líquido.
2.2 Vários Conceitos
O conceito de capital de giro apresenta usualmente diferentes interpretações que
são aplicadas segundo os critérios e a natureza do estudo desenvolvido. Em virtude de
terem sido esboçadas, muitas vezes, metodologias alternativas de cálculo de acordo com as
definições consideradas, é fundamental que se descrevam os principais conceitos e formas
de remuneração do capital de giro, conforme usualmente considerados.
No entanto, qualquer que seja a definição adota, o conceito de capital de giro (ou
capital circulante) identifica os recursos que giram (circulam) várias vezes em determinado
período. Em outras palavras, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela empresa
em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, a qual assume diversas formas
ao longo de seu processo produtivo e de venda. Por exemplo, um capital alocado no
disponível pode ser aplicado inicialmente em estoque, assumindo posteriormente a venda
realizada ou a forma de realizável (crédito, se a venda for realizada a prazo) ou novamente
de disponível (se a venda for realizada a vista). Esse processo ininterrupto constitui-se, em
essência, no ciclo operacional (produção e venda) de uma empresa.
O nível e a importância do capital de giro variam, evidentemente, em função das
características de atuação de cada empresa, do desempenho da conjuntura econômica e da
relação risco (liquidez) e rentabilidade desejada.
2.2.1 Capital de Giro (CG) ou Capital Circulante (CC)
O capital de giro corresponde ao ativo circulante de uma empresa. Em sentido
amplo, o capital de giro representa o valor dos recursos demandados pela empresa para
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financiar seu ciclo operacional, o que engloba, conforme comentado, as necessidades
circulantes identificadas desde a aquisição de matérias-primas até a venda e o recebimento
dos produtos elaborados.
Utilizando-se da ilustração desenvolvida, a Figura 1 retrata o fluxo de capital de giro
de acordo com o ciclo de produção e venda (operacional) de uma empresa industrial.
Observa-se que os recursos (próprios ou de terceiros) aplicados no ativo circulante são
canalizados, numa etapa inicial do processo de produção e venda da empresa, para o
disponível, o qual irá alimentar todas as necessidades financeiras de suas operações.
Assim, numa primeira saída, os recursos são transferidos para a produção da
empresa, mediante aquisições de estoques de materiais e pagamentos de custos fabris.
Posteriormente, os produtos acabados são estocados à espera de serem vendidos e geram
novos dispêndios à empresa. Quando vendidos, os recursos obtidos retornam, alguns
imediatamente (se as vendas forem a vista) e outros em curto prazo (se as vendas forem a
prazo) ao disponível da empresa, dando início novamente ao ciclo operacional descrito.
RECURSOSDISPONÍVEL
ESTOQUE DEAPLICADOS NO AC MATERIAIS
REALIZÁVEL
VENDAS A VISTA
VENDAS A PRAZO
ESTOQUE DEPRODUTOS ACABADOS
PRODUÇÃO
Figura 1 – Fluxo do Ativo Circulante
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Esse processo ocorre de maneira ininterrupta na atividade operacional de uma
empresa, e toda vez que os recursos retornam ao disponível (pelas vendas realizadas) são
acrescidos dos lucros auferidos e dos montantes de dispêndios não desembolsáveis
(depreciação, por exemplo).
Conforme comentado, o ciclo descrito refere-se a uma etapa inicial das operações
de uma empresa. A finalidade de sua interpretação está voltada à melhor compreensão do
fluxo do ativo circulante, pois, em qualquer momento posterior, a empresa poderá
apresentar, simultaneamente, vários ciclos operacionais que se desenvolvem em diferentes
estágios. Dessa maneira, conclui-se que uma importante característica do capital de giro é
seu grau de volatilidade, que é explicado, conforme comentado, pela curta duração de seus
elementos e constante mutação dos itens circulantes com outros de natureza idêntica.
Por outro lado, comparando-se o capital de giro com o ativo fixo (permanente) de
uma empresa, podem ser observadas duas outras importantes características.
A primeira refere-se à baixa rentabilidade produzida pelos investimentos em itens
circulantes. Executando-se, em parte, as empresas em que a administração do capital de
giro consiste na essência de seus negócios (empresas comerciais, basicamente), para os
setores industriais os investimentos circulantes tendem a produzir a mais baixa
rentabilidade. Como é evidente, essa situação induz a minimizar, tanto quanto possível, as
aplicações em circulante, notadamente nos itens em que os recursos se apresentam mais
expostos à perda de poder aquisitivo.
A segunda característica refere-se à divisibilidade dos elementos circulantes, que se
apresenta bem superior à dos ativos fixos.
Esse aspecto permite que o aporte de recursos nos itens de curto prazo ocorra em
níveis variados e relativamente baixos, podendo-se, muitas vezes, alocar recursos no
momento do surgimento das necessidades financeiras.
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2.2.2 Capital de Giro Líquido (CGL) ou Capital Circulante Líquido (CCL)
É a interpretação mais usual. Representa, de maneira geral, o valor líquido das
aplicações (deduzidas das dívidas de curto prazo) processadas no ativo (capital) circulante
da empresa.
Segundo essa conceituação, a forma mais direta de obter-se o valor do capital de
giro líquido é mediante a simples diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante, ou
seja:
CGL (CCL) = ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE
Segundo um enfoque mais rigoroso, o capital circulante líquido representa
normalmente a parcela dos recursos de longo prazo (recursos permanentes) aplicada em
itens ativos de curto prazo (circulantes).
Na realidade, essa interpretação acurada do capital de giro líquido é processada de
“baixo para cima” no balanço, isto é, identificando-se os valores passivos de longo prazo
(próprios ou de terceiros) que estão financiando o ativo circulante da empresa.
Em outras palavras, o CCL representa a parcela do financiamento total de longo
prazo que excede as aplicações também de longo prazo. Algebricamente, o caçulo desse
valor pode ser obtido pela seguinte expressão:
CGL (CCL) = (PATRIMÔNIO LÍQUIDO + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO)
–
(ATIVO PERMANENTE + REALIZÁVEL A LONGO PRAZO)
O balanço por massas patrimoniais, ilustrado no Quadro 1, evidencia os conceitos
enunciados:
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Ativo Circulante 160.000
Passivo Circulante 120.000
Realizável a LP 20.000
Exigível a LP 80.000
Ativo Permanente 120.000
Patrimônio Líquido 100.000
Quadro 1 – Identificação do CGL (CCL)
Observa-se que o valor do capital circulante líquido apresenta, para qualquer das
identidades sugeridas, resultados idênticos, ou seja:
CCL = 160.000 – 120.000
CCL = R$ 40.000
ou:
CCL = (100.000 + 80.000) – (120.000 + 20.000)
CCL = 180.000 – 140.000
CCL = R$ 40.000
Do total de R$ 160.000 aplicados no ativo circulante, R$ 120.000 são oriundos de
créditos de curto prazo (passivo circulante), e os R$ 40.000 restantes (que representam o
CCL) estão identificados nos recursos permanentes da empresa (exigível a longo prazo e
patrimônio líquido) que estão financiando o giro. De forma inversa, dos R$ 180.000 de
fundos levantados a longo prazo, R$ 140.000 estão alocados em ativos também de longo
prazo (realizável a longo prazo e ativo permanente), enquanto os R$ R$ 40.000 excedentes
(CCL) foram destinados a financiar o ativo circulante. Essa posição induz, conforme
comentado, uma folga na liquidez da empresa, a qual se processa pela manutenção de certa
sobra de recursos passivos de longo prazo disponíveis para suprir eventuais ausências de
sincronização entre os elementos de um fluxo caixa.
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Na ilustração apresentada, considerou-se a existência de um capital circulante
líquido positivo. No entanto, de acordo com a conceituação exposta, o CCL poderá ser nulo
ou, até mesmo, negativo. Os quadros 2 e 3 identificam, respectivamente, essas
possibilidades.
Ativo Circulante 160.000
Passivo Circulante 160.000
Realizável a LP 20.000
Exigível a LP 80.000
Ativo Permanente 160.000
Patrimônio Líquido 100.000
Quadro 2 – Capital de Giro Nulo
Ativo Circulante 160.000
Passivo Circulante 170.000
Realizável a LP 20.000
Exigível a LP 80.000
Ativo Permanente 170.000
Patrimônio Líquido 100.000
Quadro 3 – Capital de Giro Negativo
Observa-se que quando o capital circulante líquido é negativo, os recursos passivos
permanentes da empresa não são suficientes para cobrir todas as suas necessidades de
investimentos de longo prazo, devendo, nessa situação, ser utilizados fundos provenientes
do passivo circulante (curto prazo). Dessa forma, um CCL negativo, conforme ilustrado no
Quadro 3, identifica a presença de dívidas de curto prazo financiando aplicações com prazos
de retornos maiores. Essa posição, evidentemente, determina um aperto na liquidez da
empresa, principalmente ao observar-se que parte de suas dívidas vencerá em prazos
inferiores aos retornos das aplicações desses recursos.
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A presença de um capital circulante líquido nulo, por sua vez, ocorre, conforme
demonstra o quadro 2, quando há total igualdade entre os prazos e os valores dos recursos
captados e aplicados pela empresa. Por essa composição justa de valores, a empresa, na
realidade, não trabalha com recursos de longo prazo financiando seus ativos circulantes. As
aplicações de curto prazo estão totalmente financiadas com fundos de mesma duração, e a
posição de liquidez não apresenta folga alguma.
Conforme será detalhado adiante, qualquer das posições de liquidez comentadas é
decidida muitas vezes (mas nem sempre) pela preferência entre risco (liquidez) e retorno
(lucratividade), e a opção deve recair evidentemente sobre a estrutura que melhor satisfaça
as necessidades e aos objetivos da empresa.
2.2.3 Capital de Giro Próprio (CGP)
Um indicador de capital de giro muitas vezes utilizado na prática é o denominado
capital de giro próprio. É comumente obtido pela seguinte expressão de cálculo:
Patrimônio Líquido $$$$
(-) Aplicações Permanentes
Ativo Permanente $$$$
Realizável a Longo Prazo $$$$
Capital de Giro Próprio $$$$
O valor assim obtido é interpretado como o volume de recursos próprios que a
empresa tem aplicado em seu ativo circulante.
Uma maneira mais simplificada e também bastante adotada pelo mercado é
calcular o capital de giro próprio pela simples diferença entre o patrimônio líquido e o ativo
permanente. Nesse caso, a medida revela o volume de capital próprio da empresa que está
financiando o ativo circulante e o realizável a longo prazo. Segundo médias geralmente 15
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divulgadas pelos analistas de mercado, o valor mínimo ideal dessa medida é zero, ou deve
atingir, pelo menos 5% das receitas auferidas pela empresa.
É importante acrescentar que essa medida não identifica rigorosamente os
recursos próprios da empresa em que estão financiando sua atividade. Dada a evidente
impossibilidade de “casarem-se” todas as operações de captação e aplicação de uma
empresa (o dinheiro não “carimbado”), o valor encontrado reflete mais adequadamente
recursos do passivo de longo prazo (próprios ou de terceiros) alocados em itens ativos não
permanentes, e não necessariamente do patrimônio líquido.
Um balanço por massas patrimoniais, conforme apresentado a seguir, ilustra
melhor a idéia:
Ativo Circulante 100
Passivo Circulante 50
Realizável a LP 40
Exigível a LP 70
Ativo Permanente 60
Patrimônio Líquido 80
Verifica-se no demonstrativo que o capital de giro próprio é de R$ 20 (patrimônio
líquido = R$ 80 – ativo permanente = R$ 60), o qual encontra-se financiando o ativo
circulante e o realizável a longo prazo, juntamente com as exigibilidades da empresa
(passivo circulante e exigível a longo prazo). Dizer-se que o patrimônio líquido de R$ 80
excede em R$ 20 as aplicações em ativo permanente, e que esta diferença (capital próprio)
vai financiar outros ativos é tirar conclusões limitadas. É desconhecido o destino dado, em
termos de aplicações ativas, às exigibilidades tanto a curto como a longo prazo da empresa.
Dessa maneira, apesar de já citada aceitação da medida, prefere-se trabalhar com o
conceito sugerido de capital de giro (ou circulante) líquido.
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2.2.4 Ciclos operacionais
As atividades operacionais de uma empresa envolvem, de forma seqüencial e
repetitiva, a produção de bens e serviços e, em conseqüência, a realização de vendas e
respectivos recebimentos. Nessas operações básicas procura a empresa obter determinado
volume de lucros, de forma a remunerar as expectativas de retorno de suas diversas fontes
de financiamento (credores e proprietários).
É diante desse processo natural e permanente que sobressai o ciclo operacional da
empresa, composto por todas as fases de suas atividades operacionais. O ciclo operacional
completo, para o caso de uma empresa industrial, inicia-se com a aquisição das matérias-
primas, passa pela armazenagem, produção e venda e desemboca no efetivo recebimento
das vendas realizadas. A Figura 2 ilustra, de forma linear, esse processo.
COM
PRA
(PED
IDO
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ARM
AZEN
AGEM
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ARM
AZEN
AGEM
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ÍCIO
DE)
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DA
COBR
ANÇA
ESPERA PMEMP PMF PMV PMC
CICLO OPERACIONAL
CICLO ECONÔMICO
PMPF CICLO DE CAIXA FINANCEIRO
Figura 2 – O Ciclo Operacional
Legenda:
PMEMP = prazo médio de estocagem das matérias-primas
PMF = prazo médio de fabricação
PMEPT/PMV = prazo médio de estocagem dos produtos terminados/prazo médio
de venda
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PMC = prazo médio de cobrança
PMPF = prazo médio de pagamento a fornecedores
Observe-se, na Figura 2, que cada uma das fases operacionais possui determinada
duração. Assim, a compra (pedido) de matérias-primas embute, além do prazo de espera de
recebimento, um prazo de armazenagem; a produção, o prazo de transformação das
matérias-primas em produtos terminados; a venda, o prazo de armazenagem dos produtos
terminados; e a cobrança, o prazo de recebimento das vendas realizadas a prazo. A Figura 2
ilustra também três tipos de ciclos identificados nas operações da empresa.
O ciclo operacional total é composto de todas as fases operacionais da empresa,
iniciando-se no momento do recebimento dos materiais a serem utilizados no processo de
produção e encerrando-se na cobrança das vendas realizadas. Ou seja:
Ciclo Operacional Total = PMEMP + PMF + PMV + PMC
O ciclo econômico engloba fundamentalmente toda a base de produção da
empresa, ou seja, estocagem de matérias-primas, fabricação e venda.
Ciclo Econômico = PMEMP + PMF + PMV
A primeira fase do ciclo operacional (PMEMP) pode ser financiada, em sua
totalidade ou em parte, mediante créditos de fornecedores. Assim, o ciclo financeiro (de
caixa) identifica as necessidades de recursos da empresa que ocorrem desde o momento do
pagamento aos fornecedores até o efetivo recebimento das vendas realizadas, ou seja:
Ciclo Financeiro = (PMEMP + PMF + PMV + PMC) – PMPF
As expressões de cálculo das durações de cada fase operacional são apresentadas
no Quadro 4. Esses indicadores são dinâmicos e permitem melhor avaliação do desempenho
operacional da empresa.
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Índice Fórmula O que identifica
PMEMPSALDO MÉDIO DE MATERIAIS
CONSUMO ANUAL x 360Prazo médio (em dia) em que os materiais permanecem estocados à espera de ingressarem no processo de produção.
PMFVALOR MÉDIO DOS
PRODUTOS EM ELABORAÇÃO CUSTO DE PRODUÇÃO ANUAL
x 360Prazo médio (em dias) que a empresa despende em fabricar o produto final.
PMV
VALOR MÉDIO DOS PRODUTOS ACABADOS CUSTO DOS PRODUTOS
VENDIDOS
x 360Prazo médio (em dias) que o produto acabado permanece estocado à espera de ser vendido, isto é, prazo médio de estocagem do produto acabado.
PMAT
(Prazo Médio de
Armazenagem
Total)
PMEMP + PMF + PMV
Prazo médio (em dias) em que os estoques totais (materiais, produtos em transformação e produtos acabados) permanecem armazenados à espera de serem consumidos, produzidos e vendidos.
Ou seja, o tempo médio total compreendido desde a compra dos materiais até a venda do produto acabado.
Na hipótese de não ser possível calcular os prazos para cada fase operacional dos estoques, utiliza-se esse índice como valor aproximado dos três primeiros apresentados.
PMAM
(Prazo Médio de
Armazenagem
de Mercadorias)
VALOR MÉDIO DOS ESTOQUES DE MERCADORIAS
CUSTO TOTAL DA MERCADORIA VENDIDA NO
ANO
x 360
Prazo médio (em dias), para empresas comerciais, em que as mercadorias permanecem armazenadas à espera de serem vendidas. De outra forma, é o prazo médio de venda de empresas comerciais.
PMCVALOR MÉDIO DAS
DUPLICATAS A RECEBER VENDAS ANUAIS A PRAZO
x 360Prazo médio (em dias) em que a empresa recebe as vendas realizadas a prazo.
PMPFVALOR MÉDIO DAS
DUPLICATAS A PAGAR COMPRAS ANUAIS A PRAZO
x 360Prazo médio (em dias) em que a empresa paga seus fornecedores.
Quadro 4 – Índices Operacionais
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3 Capital de Giro e Inflação
Basicamente, o volume de capital de giro adequado para determinado negócio é
função da política de produção e venda adotada, cabendo à administração da empresa
adequar-se a esses critérios para delimitar suas necessidades de aplicações a curto prazo. Os
itens seguintes abordarão, com mais detalhes, as formas de mensuração do capital de giro
necessário de uma empresa.
Nesse ponto, é interessante frisar que, após definido o investimento necessário em
capital de giro, se pode esperar, desde que não ocorram alterações nas operações de
produção e venda da empresa, uma estabilidade nessa participação. Ou seja, espera-se que,
após ter efetuado um aporte inicial de capital de giro, a empresa, utilizando-se somente das
receitas operacionais de um ciclo, possa financiar as necessidades financeiras do ciclo
seguinte, determinando-se um equilíbrio de seus recursos a curto prazo. Assim, a
manutenção do nível ideal de capital de giro para sustentar as operações de uma empresa
pode ser efetuada mediante transferências de receitas de um ciclo operacional para outro.
Uma vez formado (investido no negócio) o capital de giro inicial, as receitas obtidas
em determinado ciclo de produção podem ser utilizadas para financiar os gastos do ciclo
seguinte. Estabelece-se, assim um regime de equilíbrio, não sendo necessários novos
aportes de capital de giro, o qual se estabiliza em certo nível.
O equilíbrio do capital de giro, ainda, é mais factível em economias relativamente
estáveis, em que além da hipótese de manutenção dos níveis operacionais (produção e
venda) das empresas, não se verificam alterações nos vários preços específicos
determinadas pela ocorrência de variações nos níveis gerais de preços. Dentro de um
contexto com inflação, não obstante, mesmo que ocorra estabilidade na atividade nominal
da empresa, as variações desproporcionais nos preços dos fatores de produção
(característica típica de uma conjuntura em inflação) determinam, normalmente,
necessidades geometricamente crescentes de investimentos em capital de giro.
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É importante ressaltar que essas alterações desiguais nos preços dos fatores
costumam-se verificar em todas as economias, não se vinculando àquelas com taxas de
inflação mais elevadas. Economias mais desenvolvidas, que apresentam taxas de inflação
historicamente reduzidas, também convivem com evoluções desproporcionais em sua
estrutura de preços, distanciando-se diversos fatores relevantemente da taxa média de
variação dos preços gerais. Em verdade, a taxa de inflação é uma média dos vários
elementos que compõem uma cesta básica de bens e serviços, não sendo necessariamente
verdadeira para nenhum item específico, porém apresentando-se válida para a
amostragem.
Por exemplo, uma empresa pode ter simplisticamente definido que o volume de
seu capital de giro deve corresponder a um mês e meio de seu faturamento. Dessa forma,
se seu faturamento médio mensal atingir R$ 10.000.000, deverá ter, em média, investido
em seu ativo circulante o correspondente a R$ 15.000.000 para sustentar suas operações.
No entanto, pode ocorrer, e isso se verifica com certa freqüência, que os custos relativos à
sua produção se tenham, em grande parte, incrementado mais do que proporcionalmente
às taxas inflacionárias, não podendo ainda os preços de venda acompanhar pari passu essas
indexações. Como conseqüência, as necessidades circulantes, mesmo que o nível de
produção e venda não tenha se alterado, incrementam-se acima da proporção previamente
estabelecida. Em outras palavras, os recursos alocados aos itens ativos circulantes estarão
depreciando-se (perdendo seu valor real) em razão da necessidade de serem efetuados
dispêndios operacionais proporcionalmente mais elevados do que as receitas nominais
geradas. Como agravante, observa-se ainda o fato de as despesas operacionais surgirem
antes das receitas.
Em suma, o que se nota é que muitas vezes, para manter a mesma capacidade de
produção e venda, a empresa que atua em contextos inflacionários se vê obrigada a efetuar
aplicações financeiras adicionais em seu capital de giro.
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É como se as necessidades de investimentos em giro crescessem de forma
exponencial, não sendo acompanhadas, com a mesma intensidade, pela entrada de novos
recursos para financiamento.
Como ilustração adicional, considere-se a seguinte situação hipotética. Suponha-se
que uma empresa comercial tenha definido como ideal um volume mínimo de caixa de R$
150.000 e cem unidades de mercadorias (supondo-se que ela venda somente um tipo de
produto) em estoques. Simplificadamente, as vendas e as compras são totalmente
realizadas a vista e seu passivo é constituído exclusivamente de recursos próprios.
Ao final de determinado período, sua situação patrimonial apresenta-se da forma
seguinte:
Disponível = R$ 150.000
Estoques:
100 unidades x R$ 2.500 = R$ 250.000
Capital de Giro = R$ 400.000
Ativo Permanente = R$ 600.000 Patrimônio Líquido = R$ 1.000.000
Total de Ativo = $ 1.000.000 Total do Passivo + PL = R$ 1.000.000
Ao final do período seguinte, a empresa vende todos os seus estoques, repondo-os
integralmente logo a seguir. A inflação verificada no período atinge 10%. A empresa adota o
critério de fixação de seu preço de venda uma margem de 20% sobre o custo corrigido na
mercadoria. Assim, ao final do referido período, o valor unitário de venda de seus estoques
atinge R$ 3.300, ou seja:
Preço unitário de venda = R$ 2.500 x 1,10 x 1,20 = R$ 3.300
Admitindo-se a manutenção dessa política de preço de venda serão analisadas a
seguir três situações com o objetivo de melhor ilustrar as necessidades de capital de giro em
inflação.
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1ª Situação
Custos incrementam-se na mesma proporção da taxa de inflação:
Nessa situação (menos provável na prática), os resultados da empresa ao final do
período, supondo-se despesas operacionais incorridas ao final do período de R$ 10.000, são
os seguintes:
Vendas: 100 um. x R$ 3.300 R$ 330.000
CMV corrigido: 100 un. x R$ 2.500 x 1.10 (R$ 275.000)
Lucro Bruto R$ 55.000
Despesas Operacionais (R$ 10.000)
Lucro Operacional R$ 45.000
Perdas na capacidade de compra dos Ativos Monetários (disponível):10% x R$ 150.000 (R$ 15.000)
Lucro Antes do IR R$ 30.000
Imposto de Renda (40%) (R$ 12.000)
Lucro Líquido R$ 18.000
Para manter o poder aquisitivo de seu saldo mínimo de caixa (R$ 150.000 x 1.10 =
R$ 165.000) e o estoque mínimo de 100 unidades, a empresa deverá reter R$ 15.000 de
seus resultados, os quais correspondem exatamente às perdas de capacidade de compra
registradas em seu disponível.
Uma identificação mais nítida dessa perda é efetuada pelo critério mais analítico de
apuração de resultados pela correção integral, conforme foi demonstrado.
Mantendo-se a empresa no nível atual de atividade e supondo-se, ainda, uma
elevação nos custos em proporção idêntica à inflação considerada, o resultado líquido
obtido de R$ 18.000 poderá ser aplicado em qualquer outra finalidade fora do circulante.
Assim, supondo-se que o lucro tenha sido integralmente distribuído aos acionistas,
o capital de giro da empresa apresenta os seguintes valores ao final do período:
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Saldo inicial de caixa R$ 150.000
Receita de vendas R$ 330.000
Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.10) (R$ 275.000)
Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)
Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)
Distribuição do lucro líquido (R$ 18.000)
Disponível R$ 165.000
Estoques 100 un. x (R$ 2.500 x 1.10) R$ 275.000
Capital de giro R$ 440.000
Observe-se que o capital de giro, na hipótese considerada de a inflação atingir
equitativamente os vários elementos operacionais da empresa, manteve a capacidade de
sustentação da empresa, incrementando-se em taxa idêntica à inflação (10%). O resultado
líquido integralmente distribuído (R$ 18.000) não prejudicou, na situação considerada, o
nível mínimo de capital de giro. Na realidade, o lucro financeiro da empresa é
absolutamente igual ao lucro contábil (R$ 18.000) obtido, dada a hipótese de influência
proporcional da inflação nos resultados, e não considerando quanto à depreciação do ativo
permanente. Assim, ao efetuar-se a demonstração de entradas e saídas de caixa somente
das transações ocorridas no período considerado, chega-se a um resultado, antes da
distribuição dos dividendos, de R$ 18.000, o qual corresponde ao lucro contábil da empresa,
isto é:
Receita de vendas R$ 330.000
Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.10) (R$ 275.000)
Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)
Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)
Reinvestimento no capital de giro para manter seu poder de compra (R$ 15.000)
Resultado de caixa = lucro líquido R$ 18.000
A situação seguinte prevê majoração proporcionalmente maior nas despesas em
relação à taxa de inflação.
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2ª Situação
Os custos incrementam-se em taxas superiores à inflação:
Comportando-se os preços de qualquer dos itens operacionais (receitas, custos e
despesas) em ritmo diverso ao da taxa de inflação, a empresa necessariamente deverá
efetuar, internamente, ajustes em sua demonstração de resultados para mensurar suas
necessidades reais (de mesma capacidade de compra) de capital de giro.
Por exemplo, incrementando-se os custos de produção ou das despesas
operacionais em proporção superior à taxa inflacionária, sem se observar uma contrapartida
nas receitas, a empresa forçosamente deverá lançar mão de uma parcela maior de seus
resultados para reinvestimento em seu ativo circulante.
De acordo com a ilustração anterior, suponha-se que o CMV da empresa se eleve
em 15% o período (em vez de 10%, conforme a taxa de inflação considerada), com os
demais itens de resultados acompanhando perfeitamente a inflação verificada. Essa
situação, independentemente de qualquer variação na atividade física da empresa,
determina uma elevação nos investimentos em capital de giro em proporção superior aos
10% de inflação. Na realidade, essas aplicações financeiras, destinadas a repor a capacidade
real de compra do ativo circulante, devem ser processadas em intervalos curtos e regulares
de tempo.
Aplicando-se essa situação na ilustração desenvolvida anteriormente, o critério de
apuração de lucro determina conforme calculado, um resultado líquido (após o imposto de
renda) de R$ 18.000.
No entanto, não é difícil visualizar nessa situação bem simplificada que o
incremento mais que proporcional nos custos das mercadorias determina investimentos
adicionais nos estoques (e, em conseqüência, no capital de giro da empresa). Mantendo-se
o nível de caixa nos limites anteriores, o estoque exigirá um investimento de R$ 287.500
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(100 un. x R$ 2.500 x 1,15), que excede em R$ 12.500 o investimento necessário na situação
anterior (estoque = R$ 275.000, supondo-se sua valorização idêntica à inflação).
Dessa maneira, do resultado líquido de R$ 18.000, conforme calculado deverá ser
reduzida ainda a diferença de R$ 12.500 para reinvestimento no capital de giro, restando
somente R$ 5.500 para outras participações extra-circulantes. Em razão dessa retenção
adicional, a participação do ativo circulante em relação ao ativo se elevará, denotando-se
maior presença de recursos aplicados no capital de giro, conforme é ilustrado a seguir:
1ª Situação 2ª Situação
Disponível R$ 165.000 (15%) R$ 165.000 (14,8%)
Estoques100 un. x R$ 2.500 x 1,10
R$ 275.000 (25%)100 un. x R$ 2.500 x 1,15
R$ 287.500 (25,8%)
Capital de giro R$ 440.000 (40%) R$ 452.000 (40,7%)
Ativo permanenteR$ 600.000 x 1,10R$ 660.000 (60%)
R$ 600.000 x 1,10R$ 660.000 (59,3%)
Ativo total R$ 1.100.000 (100%) R$ 1.112.500 (100%)
(aqui houve distribuição de todo o lucro de R$ 18.000)
(aqui foram distribuídos somente R$ 5.500 do lucro de
R$ 18.000)
Ao persistir essa situação, o crescimento das necessidades de capital de giro será
cada vez mais elevado nos demais períodos, tornando-se em curto período insuficientes os
resultados operacionais para repor o valor real do capital de giro.
Nesse exemplo, a geração líquida de R$ 18.000 foi suficiente para alimentar esse
incremento de R$ 12.500, mas às vezes isso não ocorre.
Deve ficar claro a esta altura como um processo inflacionário pode aviltar o capital
de giro de uma empresa, demandando-se, para a manutenção da capacidade física de
produção e venda de uma empresa, aplicações adicionais crescentes e periódicas nos vários
itens circulantes.
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3ª Situação:
Os custos incrementam-se em taxas inferiores à inflação:
Ao contrário da situação anterior, se a taxa de inflação for superior ao aumento
verificado nos custos e despesas, e mantiver ainda a variação do preço de venda paralela à
inflação de 10% (conforme critério definido), a empresa poderá dispor de maior volume de
recursos disponíveis para outras aplicações.
Por exemplo, supondo-se que o custo das mercadorias eleve-se somente 5% no
período (em que a inflação atinge 10%) e acompanhando simplisticamente os demais
elementos da demonstração de resultados à taxa inflacionária verificada, o resultado líquido
legal da empresa ao final do período será igual aos R$ 18.000 calculados anteriormente. No
entanto, se atividade física da empresa se mantiver inalterada, os recursos de caixa ao final
do período excederão em R$ 12.500 o volume mínimo expresso em moeda de poder
aquisitivo do final do período (R$ 165.000), ou seja:
Saldo inicial de caixa R$ 150.000
Receita de vendas R$ 330.000
Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.05) (R$ 262.500)
Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)
Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)
Saldo de caixa antes de distribuições e aplicações R$ 195.500
Sabendo-se que R$ 165.000 representam o valor mínimo exigido de caixa pela
empresa, em moeda ao final do período, verifica-se um excedente de R$ 30.500 (R$ 195.000
– R$ 165.000). Distribuindo-se integralmente o lucro líquido do período de R$ 18.000,
conforme calculado restarão ainda R$ 12.500, em excesso, no caixa, que representam o
decréscimo nos investimentos necessários em estoques.
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O excedente de R$ 12.500 está disponível à empresa para aplicações extra-
circulantes, ou pode ser retido para financiar eventuais expansões em sua atividade
comercial ou políticas mais recessivas nos preços de venda dos produtos.
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4 Investimento em Capital de Giro
É sabido que o ativo circulante constitui-se, para diversos segmentos empresariais,
no grupo patrimonial menos rentável. Os investimentos em capital de giro, conforme
comentado, não geram diretamente unidades físicas de produção e venda, meta final do
processo empresarial de obtenção de lucros. A manutenção de determinado volume de
recursos aplicado ao capital de giro visa, fundamentalmente, à sustentação de atividade
operacional de uma empresa.
O capital de giro é constituído, em grande parte, por ativos monetários, ou seja, por
valores depreciáveis perante a inflação. Tipicamente, investimentos em disponível e créditos
realizáveis a curto prazo produzem, no mínimo, perdas por redução da capacidade de
compra à empresa, as quais são determinadas em função do tempo em que os recursos
ficam expostos à inflação.
Dessa maneira, o mais rentável para qualquer empresa seria manter em seus ativos
circulantes valores mínimos ou exatamente iguais as suas necessidades operacionais. Por
exemplo, os valores disponíveis poderiam ser sempre iguais aos desembolsos de caixa
efetuados em diferentes momentos.
Da mesma forma, o valor investido no realizável a curto prazo seria reflexo do
volume e prazo ideais de venda e crédito, e os estoques deveriam conter a quantidade
estritamente necessária para a consecução da meta de produção e venda estabelecida pela
empresa.
Ressalta-se que os baixos níveis de ativo circulante determinam, juntamente com o
aumento na rentabilidade, uma elevação nos riscos da empresa. Evidentemente, valores
mínimos de capital de giro, ou exatamente iguais à demanda por esses recursos, podem
levar a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de eventuais atrasos nos
recebimentos, ou a sacrificar seu processo normal de produção e venda, na eventualidade
de falta de estoques.
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Esse dilema risco-retorno é ilustrado, geralmente, com três posturas que uma
empresa pode assumir com relação a seus investimentos em ativo circulante: conservadora,
média e agressiva. A política conservadora levaria a empresa a diminuir seu risco mediante
aplicações em capital de giro maiores para um mesmo nível de produção e vendas. Assim,
seriam elevados os recursos aplicados em caixa para fazer frente a desembolsos não
previstos; em valores a receber, permitiria, com uma política de cobrança mais frouxa,
elevar as vendas; e em estoques, diminuiria o risco de eventuais atrasos no processo
produtivo ou a perda de vendas inesperadas e de maior volume, por falta de itens
estocados. As demais políticas poderiam ser adotadas (média e agressiva) prevêem
progressivas reduções nesses investimentos circulantes, o que determina elevação do risco
da empresa e também paralelo incremento em sua rentabilidade por adotar menos
participação relativa de itens menos rentáveis.
Exemplificando o raciocínio desenvolvido, considerem-se no Quadro 5 os três níveis
de aplicações em capital de giro. Note-se, para efeitos de melhor ilustrar o dilema risco-
retorno, que o ativo permanente assume um valor físico quaisquer que sejam os níveis de
participação do ativo circulante. O passivo da empresa, por sua vez, é estruturado de forma
proporcional ao total; das aplicações. Assim, o passivo circulante financia 20% do ativo total,
o exigível a longo prazo, 30% e o patrimônio líquido, 50%.
Supondo-se que o custo nominal de crédito de curto prazo seja 15% e o do exigível
a longo prazo de 20% a empresa apresentaria, para um lucro operacional bruto (antes dos
juros e do Imposto de Renda) de R$ 1.000.000, os seguintes resultados para cada um dos
níveis considerados (Quadro 6).
Baixo Médio Alto
Ativo circulanteAtivo permanenteTotalPassivo circulanteExigível a Longo PrazoPatrimônio Líquido
R$ 800.000R$ 1.200.000R$ 2.000.000
R$ 400.000R$ 600.000
R$ 1.000.000
R$ 1.100.000R$ 1.200.000R$ 2.300.000
R$ 460.000R$ 690.000
R$ 1.150.000
R$ 1.400.000R$ 1.200.000R$ 2.600.000
R$ 520.000R$ 780.000
R$ 1.300.000
Quadro 5 - Níveis de Investimento em Capital de Giro30
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Observe na ilustração numérica considerada que, quanto maior for a participação
do capital de giro sobre o total do ativo, menor será a rentabilidade da empresa.
Ao adotar uma postura de maior risco, com menores aplicações no capital de giro,
a empresa consegue auferir retorno maior do que se adotasse uma política tradicional,
definida pelos altos investimentos em circulantes.
Baixa Média Alta
Lucro Operacional Bruto R$ 1.000.000 R$ 1.000.000 R$ 1.000.000
Despesas Financeiras:
Passivo Circulante
Exigível a Longo Prazo
15% x 400.000 =
(60.000)
20% x 600.000 =
(120.000)
15% x 460.000 =
(69.000)
20% x 690.000 =
(138.000)
15% x 520.000 =
(78.000)
20% x 780.000 =
(156.000)
Lucro antes do IR R$ 820.000 R$ 793.000 R$ 766.000
Imposto de Renda (40%) (R$ 328.000) (R$ 317.200) (R$ 306.400)
Lucro Líquido R$ 492.000 R$ 475.800 R$ 459.600
ROE 49,2% 41,4% 35,4%
Quadro 6 – Níveis de Investimento em Capital de Giro
Dessa maneira, o dilema risco-retorno da administração de capital de giro pode ser
enfocado em função da participação dos investimentos circulantes em relação ao ativo
total.
A definição do volume adequado (ótimo) de capital de giro deverá, ao mesmo
tempo, obedecidas as particularidades operacionais da empresa e de seu ambiente,
maximizar seu risco.
No entanto, a fixação desse volume ótimo depende de uma série de expectativas
futuras, cujos valores, são muitas vezes, de quantificação incerta.31
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
No tratamento dispensado às várias situações de incerteza do capital de giro são
adotadas, atualmente, inúmeras técnicas de previsão, principalmente mediante o uso do
cálculo de probabilidades e modelos de simulação por computador. Por fugirem ao escopo
desta disciplina, esses instrumentos não serão abordados, de forma mais profunda.
32
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
5 Financiamento do Capital de Giro
5.1 Comportamento das Taxas de Juros a Curto e a Longo Prazos
O custo de um crédito a longo prazo é mais caro que o de curto prazo. Essa
desigualdade é explicada, basicamente, pelo risco envolvido na duração do empréstimo.
Evidentemente, um credor assume maior risco ao comprometer a devolução de seu capital
emprestado por cinco anos, por exemplo, em vez de três meses. As menores condições de
previsibilidade da capacidade de pagamento do devedor impõem um custo adicional ao
empréstimo. O tomador de recursos de longo prazo, por sua vez obriga-se também a
remunerar expectativas de flutuações nas taxas de juros por um tempo maior, as quais
assumem geralmente um comportamento crescente em razão da incerteza associada à
duração do empréstimo. Ou seja, quanto maior for o prazo de concessão de um
empréstimo, maior será seu custo em razão do risco que o credor assume em não obter um
retorno condizente com os padrões de juros da época.
É interessante observar, em várias operações financeiras a introdução de taxas
flexíveis (por exemplo, nas operações de repasse de recursos externos, as taxas de juros
definidas pela Libor, apresentam validade para somente um curto período de tempo) e
taxas de juros com cláusulas de repactuação (por exemplo, lançamento de debêntures). Na
realidade, esses aspectos de pós-fixação dos juros, aliados a uma política mais rigorosa de
exigências de garantias nas operações de créditos, visam, em última análise, minimizar o
risco da definição da taxa de juros a longo prazo.
Em economias emergentes, ainda, o comportamento dos juros a curto prazo e
longo prazo, conforme descrito inicialmente, pode, muitas vezes, ser mantido. O que altera
essa situação, entretanto, são os eventuais desequilíbrios estruturais mais agudos ou
critérios mais rigorosos de ajustes das condições de uma economia. Exemplificando, pode-
se dizer que, quando as taxas de juros de um mercado, tanto a curto como a longo prazo,
estiverem excessivamente altas, ou quando as disponibilidades de recursos monetários para
empréstimos forem minimizadas (com reflexos normalmente mais acentuados nas
33
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
operações de longo prazo), o custo do crédito a curto prazo poderá assumir níveis
superiores ao do longo prazo. É evidente, pelas razões expostas anteriormente, que essa
situação é tratada como um ciclo atípico e passageiro da economia, sendo improvável que
ela conviva, por prazos dilatados, com taxas de juros maiores nas operações de curta
duração.
Ao se analisar o custo recente do crédito no Brasil, por sua vez, nota-se,
principalmente nas décadas de 80 e 90, que os empréstimos de curto prazo foram em
grande parte, mais onerosos às empresas que os de longo prazo. Mesmo que as taxas de
juros a curto prazo tenham permanecido em níveis abaixo das de longo prazo, os encargos
adicionais costumeiramente definidos para as operações créditos circulantes determinam
em geral ônus maior à empresa que o custo mensurado nas captações de longo prazo.
De forma geral, podem-se enumerar as seguintes causas que determinaram o
desequilíbrio nos custos efetivos dos créditos a curto prazos, no Brasil, nessa época: a
escassez de poupança livre e conseqüentemente de fundos para empréstimos, o subsídio ao
crédito a longo prazo e a reciprocidade exigida pelos bancos em suas operações de curto
prazo.
A escassez de recursos para empréstimos deflagrada no país naqueles tempos
determinou, em diversas ocasiões, quantidade insuficiente de fundos de longo prazo em
relação às necessidades permanentes das empresas. Dentro desse panorama, o setor
empresarial passou, desde então, a se socorrer com as operações de curto prazo, elevando
sensivelmente a demanda por esses recursos e conseqüentemente, seu custo final.
Não obstante isso, a escassez de oferta de crédito de longo prazo não produziu
ampla e equivalente elevação em suas taxas em razão da política de subsídio adotada em
expressiva parte do mercado. É interessante notar, ainda, nítida tendência de segmentação
na oferta de crédito. Dados do mercado revelam que mais da metade do volume de crédito
a longo prazo no Brasil é administrado por instituições oficiais, ficando o dinheiro a curto
prazo sob o controle dos bancos privados. Cria-se, com isso, uma série de linhas de crédito a
34
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
longo prazo subsidiadas (ou praticadas a taxas inferiores às livremente operadas no
mercado), as quais se justificam como forma de fomentar o desenvolvimento regional e
setorial e promover a capitalização da empresa nacional.
Permanecendo o crédito a curto prazo circunscrito basicamente às instituições
financeiras privadas, e com expansão normalmente controlada pelas autoridades, elevou-se
significativamente o nível de reciprocidade exigida pelos bancos. Mesmo com taxas de juros
controladas (e, teoricamente, inferiores às taxas de longo prazo), o custo a curto prazo,
quando acrescido dessas exigências adicionais, assume valor mais significativo e, muitas
vezes, superior ao de longo prazo.
Em suma, pode-se concluir afirmando que o nível mais baixo do custo do crédito a
curto prazo, em relação ao de longo prazo, constitui mera expectativa normal. Situação
inversa pode ocorrer, mas denota, por suas características atípicas, fenômeno cíclico de
duração limitada.
5.2 Dilema Risco-Retorno na Composição de Financiamento
As características do dilema risco-retorno, conforme descritas na seção anterior,
também podem ser observadas na definição de uma política de financiamento do capital
giro.
Se o custo do crédito a curto prazo for mais barato, os resultados de uma empresa
poderão elevar-se mediante maior participação de seu passivo circulante em relação às
outras fontes de financiamento. Na ilustração desenvolvida anteriormente, e identificada a
partir do Quadro 5, observa-se uma participação percentual fixa das várias fontes de
financiamento da empresa.
Se optássemos, no exemplo anterior, por uma maior participação do passivo
circulante, em detrimento do exigível a longo prazo, os resultados líquidos finais elevar-se-
35
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
iam em função dos menores custos de curto prazo. Por exemplo, se o passivo circulante
passasse a representar 40%, no nível alto, do ativo total, (o exigível a longo prazo 10%, e o
patrimônio líquido inalterado em 50%), o lucro da empresa cresceria 3,4% e a rentabilidade
sobre o capital próprio, 35,4% (ver Quadro 6), seria elevada para 36,6%, ou seja:
Investimento alto em capital de giro
Lucro operacional R$ 1.000.000
Despesas financeiras:
Passivo circulante: 15% x R$ 1.040.000
Exigível a longo prazo: 20% x R$ 260.000
(R$ 156.000)
(R$ 52.000)
LAIR R$ 792.000
Imposto de Renda (40%) (R$ 316.800)
Lucro líquido R$ 475.200
Retorno sobre o patrimônio líquido
R$ 475.200 / R$ 1.300.00036,6%
Evolução do lucro líquido
(R$ 475.200 / R$ 459.600) – 13,4%
Dessa maneira, a perda de rentabilidade provocada por uma política tradicional nos
investimentos em capital de giro poderá ser minimizada com as alterações em sua estrutura
de financiamento. Não obstante isso, maior preferência por fundos de curto prazo (mais
baratos) na composição do passivo acarreta, paralelamente, a maior retorno, elevação do
risco da empresa.
Essa elevação do risco é determinada, fundamentalmente, pelas seguintes razões:
as taxas de juros a curto prazo são bem mais sensíveis às alterações conjunturais
do que as taxas de longo prazo. Na realidade, empresas com maior participação
de créditos de curto prazo apresentam maior risco pela natural falta de certeza
no conhecimento do comportamento futuro de seus custos. Enquanto um
empréstimo de longo prazo mantém o encargo de juros fixo por um período de
36
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
tempo maior, um empréstimo de curto prazo, a ser renovado periodicamente,
absorve com maior freqüência as oscilações (normalmente crescentes) nas taxas
de juros;
uma política de financiamento com maior ênfase no crédito de curto prazo
determina, igualmente, maior dependência da empresa às disponibilidades de
crédito no mercado. Eventuais dificuldades de repor os recursos de curto prazo,
mesmo que temporárias, poderão abalar a liquidez da empresa e gerar péssimas
conseqüências na relação com seus credores.
Na realidade, os aspectos considerados envolvem o dilema maior na administração
do capital de giro: risco x retorno. Utilizando-se mais de créditos de curto prazo, sempre que
seus custos forem inferiores aos de longo prazo, a empresa poderá obter melhores
resultados operacionais. No entanto, pelos motivos expostos, o risco da empresa se elevará.
5.3 Abordagem para o financiamento do capital de giro
No dilema risco-retorno abordado, as decisões relativas ao financiamento do
capital de giro assumem grande importância. Nesse processo, o passivo deve ser composto
de forma que se mantenha, da melhor maneira possível, o equilíbrio entre o risco e o
retorno.
Antes de descrever as principais abordagens de financiamento, é importante
entender o conceito de capital de giro mediante sua classificação em permanente (ou fixo) e
sazonal (ou variável).
A parte fixa do capital circulante é determinada pela atividade normal da empresa,
e seu montante definido pelo nível mínimo de necessidades de recursos demandados pelo
ciclo operacional em determinado período. Por exemplo: se a empresa vende R$ 600 mil
todo mês a prazo e costuma receber (em média) em 45 dias, manterá necessariamente um
investimento mínimo determinado por seus negócios igual a R$ 900 mil em valores a
37
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
receber; identicamente, o estoque mínimo necessário à manutenção das atividades normais
da empresa é um investimento fixo em capital de giro e assim por diante.
O capital de giro fixo constitui-se, em outras palavras, num investimento cíclico de
recursos em giro que se repete periodicamente, assumindo em conseqüência um caráter
permanente.
O capital de giro sazonal, por sua vez é determinado pelas variações temporárias
que ocorrem normalmente nos negócios de uma empresa. Por exemplo, maiores vendas em
determinados períodos do ano, ou grandes aquisições de estoques antes do período de
entressafra, produzem variações temporárias no ativo circulante; por isso, são denominados
sazonais ou variáveis. O comportamento do capital de giro permanente (cíclico) e sazonal
(variável) é representado graficamente na Figura 3.
Figura 3 – Capital de Giro Permanente e Sazonal
5.3.1 Abordagem pelo Equilíbrio Tradicional
De acordo com a abordagem representada na Figura 4, o ativo permanente e o
capital de giro permanente são financiados também por recursos de longo prazo (próprios
ou de terceiros). As necessidades sazonais de capital de giro, por sua vez, são cobertas por
exigibilidades de curto prazo. Por denotar uma forma de proteção pelo equilíbrio
38
Capital de giro sazonal (variável)
Capital de giro permanente (fixo)
Tempo
$
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(compensação) verificado entre os prazos de captação e aplicação de recursos, essa
abordagem é também conhecida como compensatória. Ou seja, ocorrendo oscilações no
capital de giro, essas necessidades temporárias deverão ser financiadas, à medida que
forem ocorrendo, por recursos de terceiros a curto prazo; e os investimentos de caráter
permanente serão cobertos por fundos de prazo compatível (longo prazo).
Um aspecto de risco dessa abordagem refere-se a uma possível retração (mesmo
que temporária) nas disponibilidades de empréstimos de curto prazo. Evidentemente,
ocorrendo alterações nas necessidades sazonais em níveis mais significativos, a empresa
poderá encontrar dificuldades de captar recursos circulantes no mercado, o que viria a
prejudicar sua liquidez. Mesmo que os obtenha, poderá ainda contratá-los a custos mais
elevados, o que onerará sua rentabilidade.
No entanto, ao adotar essa abordagem compensatória, a empresa não teria
recursos dispendiosos aplicados em itens sem nenhum retorno. Por exemplo, se financiasse
suas necessidades sazonais de fundo com captações de longo prazo, a empresa arcaria, em
alguns períodos com o custo desse dinheiro sem obter nenhum tipo de retorno.
Evidentemente, essa limitação poderia desaparecer mediante aplicações financeiras
temporárias no mercado, que devem render no mínimo o custo do dinheiro captado.
Figura 4 – Abordagem pelo Equilíbrio Tradicional
39
Ativo permanente
Capital de giro sazonal
Financiamento a longo prazo
Financiamento a curto prazo
$
Tempo
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
5.3.2 Abordagem de Risco Mínimo
Figura 5 – Abordagem de Risco Mínimo
Uma postura de minimização do risco pode ser adotada por uma abordagem
conservadora para financeiro do capital de giro, conforme é apresentada na Figura 5.
Nessa composição mais extrema e de pouca aplicação prática, a empresa encontra-
se totalmente financiada por recursos permanentes (longo prazo), inclusive em suas
necessidades sazonais de fundos. O capital de giro líquido, nessa situação é igual ao capital
de giro (ativo circulante) da empresa.
O risco é colocado em níveis mínimos em razão de a empresa não necessitar utilizar
sua capacidade de capitação de recursos a curto prazo, a qual seria acionada somente para
atender a necessidades financeiras inesperadas (imprevistas).
O custo dessa abordagem seria bem elevado, em razão da preferência por créditos
a longo prazo (normalmente mais onerosos que os de curto prazo) e da ociosidade desses
recursos em vários períodos.
Uma preferência por essa composição poderia ocorrer, não obstante isso, em
certos momentos da economia, em que prevalecem, atipicamente, conforme comentado,
40
Ativo permanente
Capital de girosazonal
Capital de giropermanente Financiamento a longo prazo
$
Tempo
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
maior custo ao crédito circulante e oportunidades de aplicações financeiras cujas
remunerações excedessem ao custo do capital. Nessas situações, a empresa minimizaria
seus custos de financiamento e auferiria, ao mesmo tempo, retornos compensadores nos
períodos em que seus recursos armazenados não apresentassem utilidade alguma.
5.3.3 Outras Abordagens de Financiamentos
Outras formas de composição do financiamento do capital de giro podem,
evidentemente, ser estabelecidas. As Figuras 6 e 7 ilustram duas possíveis abordagens, que
variam em função do nível de participação das fontes de financiamento.
A abordagem da Figura 6 ilustra uma empresa que financia todos os seus
investimentos permanentes (ativo permanente e capital de giro permanente) com recursos
a longo prazo, inclusive uma parte de suas necessidades financeiras sazonais, que é
demarcada pela linha tracejada.
Nessa situação, a empresa mantém seus créditos a curto prazo mais voltados para
o financiamento de suas necessidades sazonais mais extremas e mantém em outros
períodos recursos disponíveis para eventuais aplicações financeiras.
A abordagem descrita na Figura 7 revela maior participação de recursos de curto
prazo no financiamento do capital de giro, os quais cobrem todas as necessidades variáveis
e parte das necessidades permanentes.
Identicamente, a demarcação da parte permanente financiada por fundos
circulantes de terceiros é efetuada pela linha tracejada.
Comparativamente, essa abordagem apresenta maior risco que a anterior, pelo
maior esgotamento dos limites de crédito a curto prazo da empresa, e também menores
disponibilidades de aplicações financeiras.
41
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Figura 6 – Outras Abordagens de Financiamentos (A)
Figura 7 – Outras Abordagens de Financiamentos (B)
Outras composições poderiam naturalmente ser estabelecidas. No entanto, a
definição da melhor estrutura para a empresa é determinada, conforme se comentou, por
suas características operacionais e de seu ambiente, e pelo grau de aversão ao risco de seus
administradores.
42
Ativo permanente
Capital de girosazonal
Capital de giropermanente Financiamento a longo prazo
Financiamento a curto prazo
$
Tempo
Ativo permanente
Capital de girosazonal
Financiamento a longo prazo
Financiamento a curto prazo
$
Tempo
Capital de giropermanente
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Ao optar por maior participação de recursos de curto prazo, por serem mais
baratos, a empresa deverá estar ciente do risco que a composição trará e do nível de
flexibilidade em obter fundos adicionais no mercado toda vez que surgirem saídas
inesperadas do circulante. Uma posição mais conservadora poderá determinar menor risco
e afetar a rentabilidade da empresa.
43
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
6 Necessidades de Investimento em Capital de Giro
A necessidade de investimento em capital de giro, ou simplesmente em giro, reflete
o volume líquido e recursos demandados pelo ciclo operacional da empresa, determinado
em função de suas políticas de compra, venda e estocagem. É essencialmente uma
necessidade de capital de longo prazo, que deve lastrear financeiramente os investimentos
cíclicos – que se repetem periodicamente – em cada capital de giro.
Pela abordagem da estrutura de equilíbrio financeiro, ficou demonstrado que o
capital circulante líquido adequado deve cobrir as necessidades mínimas (permanentes) de
ativos circulantes de uma empresa, e as necessidades sazonais (curto prazo) de recursos são
supridas por passivos circulantes de maturidade equivalente. Nesse contexto exposto, o
investimento em giro a ser mantido deve se equiparar, no mínimo, ao montante do ativo
circulante caracterizado como permanente, e esses recursos, visando à manutenção do
equilíbrio financeiro da empresa, devem ser lastreados por fundos de longo prazo.
Utilizando-se de fundos de curto prazo para financiar suas necessidades cíclicas (ou
permanentes) de capital circulante, a empresa, para manter sua posição de liquidez, assume
maior dependência pela renovação desses passivos, elevando seu risco financeiro.
Ilustrativamente, admita uma empresa com a seguinte estrutura patrimonial:
Ativo Circulante
Caixa
Valores a Receber
Estoques
Ativo Permanente
R$ 20.000
R$ 2.000
R$ 10.000
R$ 8.000
R$ 30.000
Passivo Circulante
Exigível a Longo Prazo
Patrimônio Líquido
R$ 10.000
R$ 20.000
R$ 20.000
Total R$ 50.000 Total R$ 50.000
Os resultados apresentados revelam um capital circulante líquido de R$ 10.000,
que representa 50% do total de investimento, em ativo circulante. Em outras palavras, dos 44
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
R$ 40.000 de fontes permanentes de recursos (exigível a longo prazo e patrimônio líquido),
uma quarta parte foi direcionada para financiar o ativo circulante, constituindo-se no
denominado capital circulante líquido. Os R$ 30.000 restantes dos fundos de longo prazo
estão financiando o ativo permanente dito da empresa (prédios, máquinas, equipamentos
etc.)
Essas informações extraídas da empresa não revelam, contudo, se esse volume
apurado de capital circulante líquido é suficiente para financiar as necessidades cíclicas (de
natureza permanente) de capital de giro.
A empresa pode estar captando recursos de curto prazo no mercado, por exemplo,
para financiar seu investimento em estoque mínimo exigido por suas atividades
operacionais normais, assumindo rigorosa dependência financeira pela renovação desses
empréstimos. Financia, em outras palavras, necessidades permanentes em giro com fundos
passivos de curto prazo, elevando seu risco financeiro de suas atividades.
Pelo conceito tradicional apresentado do equilíbrio financeiro, a necessidade de
capital de giro líquido a ser mantido por uma empresa equivale a seu investimento de
caráter cíclico (permanente) no ativo circulante. Considere as seguintes informações
adicionais para determinado mês no exemplo ilustrativo em desenvolvimento:
Volume de vendas: R$ 40.000 / mês, sendo R$ 10.000 a prazo e o restante a
vista;
Prazo médio de cobrança: 18 dias;
Estoque mínimo para manter a empresa normalmente em operação: 15 dias de
vendas (a preço de custo);
Porcentagem do custo de produção em relação ao preço de venda: 40%;
Volume mínimo de caixa exigido pelas atividades da empresa: R$ 1.500. Esse
valor equivale a 10 dias de desembolsos de caixa previstos.
Pode ser apurado o seguinte montante de capital de sazonal e permanente:
45
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Ativo CirculantePermanent
e
(R$)
Sazonal
(R$)
Total
(R$)
Caixa
Valores a receber (R$ 10.000 x 18/30)
Estoques (40% x R$ 40.000) x 15/30
Total
1.500
6.000
8.000
15.500
500
4.000
__ -__
4.500
2.000
10.000
8.000
20.000
Pelos resultados apurados, observa-se que, do total de R$ 20.000 investidos em
capital circulante, R$ 15.500 são de natureza permanente e devem ser financiados com
recursos de idêntica maturidade.
Os recursos de longo prazo aplicados em giro (CCL = R$ 10.000) são suficientes para
financiar, em condições de equilíbrio financeiro, essa necessidade permanente de giro. A
empresa, embora apresente capital circulante líquido positivo, revela uma posição de maior
risco (desequilíbrio financeiro), financiando investimentos cíclicos (permanentes) de giro
com passivos de curto prazo.
A manutenção de sua saúde financeira, nessas condições passa a depender mais
fortemente da renovação de suas dívidas circulantes com os credores. A Figura 7 retrata
graficamente essa estrutura da empresa, visando melhor compreensão da situação de
desequilíbrio comentada.
Observe na Figura 8 que a empresa necessita de, no mínimo, R$ 5.500 de recursos
de longo prazo para estabelecer seu equilíbrio financeiro. Esse montante permite que os
prazos de transformação em caixa de seus ativos de ajuste aos desembolsos exigidos por
seus passivos.
Somente o cálculo do capital circulante líquido não é suficiente para uma avaliação
mais completa da posição financeira de uma empresa, sendo exigida também a
determinação da necessidade de investimento em giro.
46
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Ativo Circulante Sazonal 4.500
Passivo Circulante 10.000
Ativo Circulante Cíclico 15.500
Exigível a LP 20.000
Ativo Permanente 30.000
Patrimônio Líquido 20.000
Figura 8 – Financiamento de Investimentos Cíclicos por Passivos Circulantes
6.1 Capital Circulante Líquido (CCL) e Necessidade de Investimento
em Giro (NIG)
No desenvolvimento do exemplo ilustrativo, conclui-se que o total de
investimentos em giro é de R$ 20.000, dos quais uma parte (R$ 15.500) é representada por
ativos cíclicos (de natureza permanente) e outra (R$ 4.500) por ativos sazonais.
Os ativos de giro cíclico, conforme ainda descritos, são formados basicamente pelas
políticas de compra, venda e estocagem adotadas pela empresa na consecução de seus
negócios, sendo, por isso, admitidos como de caráter essencialmente operacional. Seus
valores apresentam uma relação direta e proporcional com o desempenho do ciclo
operacional.
O ativo de giro sazonal, por seu lado, pode eventualmente conter valores que não
sejam formados diretamente pelo ciclo operacional, como saldos de depósitos judiciais,
aplicações financeiras, etc., devendo ser destacado para efeito de apuração da necessidade
de investimento em giro (NIG) como não cíclico. São muitas vezes denominados de
financeiros ou erráticos.
47
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
Nessa identificação da necessidade de investimento em giro é importante destacar,
ainda, que parte do passivo circulante constitui-se também em fontes cíclicas de recursos.
Esses passivos, admitidos igualmente como operacionais, se renovam periodicamente,
tornando-se uma fonte permanente de recursos para financiamento do capital de giro.
Exemplos: montantes a pagar a fornecedores mantidos periodicamente pela empresa;
encargos sociais e impostos sobre vendas recolhidos em cada período; salários a pagar que
se renovam a cada período; etc.
Os demais passivos correntes não apresentam uma relação direta e proporcional
com o ciclo da empresa como os cíclicos, podendo também ser classificados como
financeiros (ou erráticos) e assim destacados do grupo do passivo circulante. Exemplos:
empréstimos e financiamentos, dividendos a pagar, imposto de renda a pagar, etc.
Admitindo-se simplisticamente que R$ 5.500 do passivo circulante da ilustração em
desenvolvimento sejam classificados como cíclicos, fontes operacionais periodicamente
renováveis de recursos, conclui-se que o equilíbrio financeiro da empresa se estabelece. A
empresa nessa situação passa a apresentar uma posição totalmente ajustada em termos de
maturidade entre seus ativos e passivos, financiando aplicações permanentes em giro e
bens fixos com montante exatamente igual de passivos da mesma natureza. Os ativos
sazonais são lastreados financeiramente, pelos valores considerados nos exemplo, com
exigibilidades também correntes.
Essa situação é descrita na Figura 9A. Observe nessa representação que o capital
circulante líquido da empresa alcança R$ 10.000, conforme calculado anteriormente. A
necessidade de investimento em giro, determinada pelos ativos e passivos de naturezas
cíclicas (permanentes), pela posição de equilíbrio apresentada, também atinge R$ 10.000
(ativos cíclicos – passivos cíclicos = R$ 15.500 – R$ 5.500), estando integralmente suprida
por fontes permanentes de recursos.
Ao se admitir, ao contrário, que somente R$ 3.000 do passivo circulante sejam de
natureza cíclica, e mantidas as demais condições da ilustração, identificam-se problemas na
48
Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento
estrutura de equilíbrio financeiro da empresa. A Figura 9B demonstra graficamente essa
situação de existência de CCL positivo, porém apontando desajustes na estrutura financeira.
O capital circulante líquido continua fixado em R$ 10.000, porém a necessidade de
investimento em giro (NIG) eleva-se para R$ 12.500 (NIG = R$ 15.500 – R$ 3.000).
Nessas condições, o volume do financiamento de longo prazo disponível já não se
mostra suficiente para cobrir todas as necessidades permanentes de recursos, exigindo a
participação de passivos sazonais para financiar ativos tipicamente de longo prazo.
Quanto maior se apresenta o montante do passivo cíclico, menor se calcula a
necessidade de investimento em giro de uma empresa.
Ao se supor na ilustração que o passivo de natureza cíclica atinja R$ 8.500, a NIG se
reduz para R$ 7.000 (R$ 15.500 – R$ 8.500), sendo coberta com folga pelo CCL existente,
medida pela diferença entre o CCL de R$ 10.000 e a NIG de R$ 7.000.
Em condições de equilíbrio, pode elevar seus investimentos em giro em até esse
montante sem necessidade de recorrer a créditos externos. A Figura 9C retrata essa
situação.
Ativo Circulante Sazonal 4.500
Passivo Circulante Sazonal 4.500
Ativo Circulante Cíclico 15.500
Passivo Circulante Cíclico 5.500
Ativo Permanente 30.000
Exigível a LP 20.000
Patrimônio Líquido 20.000
Figura 9A – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos
49
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Ativo Circulante Sazonal 4.500
Passivo Circulante Sazonal 7.000
Ativo Circulante Cíclico 15.500
Passivo Circulante Cíclico 3.000
Ativo Permanente 30.000
Exigível a LP 20.000
Patrimônio Líquido 20.000
Figura 9B – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos
Ativo Circulante Sazonal 4.500
Passivo Circulante Sazonal 1.500
Ativo Circulante Cíclico 15.500
Passivo Circulante Cíclico 8.500
Ativo Permanente 30.000
Exigível a LP 20.000
Patrimônio Líquido 20.000
Figura 9C – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos
Em contexto de equilíbrio financeiro, tem-se o mesmo montante para o CCL e o
NIG. Valores maiores de CCL em relação às necessidades de aplicações em devem ser
procurados, revelando maior segurança financeira para a empresa, principalmente diante
de retrações não previstas em seus negócios.
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Na situação inversa de maior necessidade de investimento em giro, tem-se uma
situação de desequilíbrio financeiro, em que os recursos passivos correntes encontram-se
financiando ativos de giro de giro cíclicos, exigindo uma preocupação constante com a
renovação desses passivos para se manter a liquidez da empresa.
6.2 Financiamento do Giro em Situação de Expansão do Volume de
Atividades
Em condições de expansão da atividade operacional da empresa, é fundamental
para a manutenção de seu equilíbrio financeiro a presença de um lastro financeiro
direcionado a suportar essas necessidades crescentes de recursos.
Efetivamente, toda empresa possui uma capacidade limitada, capaz de suportar
determinado nível de negócio. Ao exercer esse limite, surge naturalmente uma redução na
margem de segurança do capital de giro, tornando o equilíbrio financeiro bastante
vulnerável a eventuais oscilações dos negócios.
Toda expansão da atividade de uma empresa demanda normalmente maior volume
de investimento em giro, principalmente em duplicatas a receber e estoques. A NIG
calculada para esse ambiente é crescente, podendo ultrapassar inclusive o CCL da empresa.
Essa situação é denominada de overtrading, revelando-se a hipótese de o CCL existente não
ser suficiente para cobrir os investimentos adicionais necessários em giro.
Inúmeras situações podem evidenciar o overtrading. Por exemplo, uma empresa,
ao determinar forte expansão em seu nível de atividade com o intuito de reduzir sua
capacidade ociosa e promover uma economia de escala, corre o risco de apurar uma
necessidade de investimento em giro superior ao montante de CCL, evidenciando uma
situação de overtrading.
51
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Outros casos, podem também levar uma empresa a promover um crescimento sem
sustentação, como ambientes de aumentos consecutivos de preços, reduções no capital
circulante líquido, políticas de grandes investimentos em bens fixos, crescimentos
superdimensionados, etc. Nessas condições de crescimento da atividade sem o adequado
suporte financeiro para cobrir as necessidades adicionais de investimento em giro, a
empresa é levada geralmente a se financiar com créditos onerosos de curto prazo, tornando
seus negócios dependentes da manutenção de seus passivos.
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PARTE II
FONTES DE FINANCIAMENTO
Parte II – Fontes de Financiamento
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Fontes de Financiamento e Aplicações Financeiras a Curto Prazo no Brasil
As operações financeiras disponíveis para suprir as necessidades circulantes, ou
atender aos excessos monetários de caixa das empresas, conforme serão tratadas nesta
seção são desenvolvidas no mercado de crédito e no mercado monetário.
O mercado de crédito tem como objetivo suprir a demanda por recursos de curto
(e médio) prazo da economia, sendo constituído por todas as instituições financeiras
bancárias ou monetárias (bancos comerciais). Do ponto de vista empresarial de
atendimento de suas necessidades circulantes, as modalidades básicas de crédito desse
segmento concentram-se no desconto de notas promissórias (identificadas como títulos –
efeitos de comércio – representativos de uma dívida assumida perante a instituição
financeira) e de duplicatas (documento representativo de um crédito empresarial). Por
assumirem o mesmo tratamento do cálculo de seus custos, essas operações serão tratadas
como similares nesta seção.
Já no mercado monetário, onde são realizadas operações que envolvem títulos e
valores mobiliários de renda fixa, as empresas dispõem de condições para aplicar seus
eventuais excessos de liquidez com vista em auferir determinada remuneração financeira.
As principais operações desse segmento assim como os créditos de determinação do custo e
da rentabilidade produzidos nas negociações de compra e venda de títulos também são
desenvolvidos nesta seção.
Destaque, também, é atribuído à operação de fomento comercial (factoring), que
se constitui num suporte financeiro importante principalmente para as pequenas e médias
empresas.
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7 Operações de Desconto
7.1 Operações de Desconto
O desconto equivale a negociação de um título representativo de um crédito em
alguma data anterior a de seu vencimento. Ou seja, é uma forma de antecipar o
recebimento de um crédito mediante a cessão de seus direitos a um mutuante. Por
exemplo, se um credor de uma nota promissória, cujo vencimento se dará em alguma data
futura, necessitar do dinheiro antes, poderá negociá-la, isto é, receber a vista o valor de seu
crédito mediante o pagamento de alguma compensação financeira. Um empréstimo a curto
prazo, porém, conforme praticado normalmente pelos bancos comerciais, mediante a
emissão de uma nota promissória, geralmente também é considerado como desconto, dada
a existência de um crédito cujo vencimento ocorrerá em determinada data posterior a sua
negociação.
Pode-se compreender a remuneração devida pela antecipação do crédito mediante
critérios: os encargos financeiros são adicionados ao capital e pagos posteriormente ou são
deduzidos em sua liberação.
No primeiro caso, típico de operações passivas de prazos mais longos, tomador do
empréstimo recebe exatamente o valor do empréstimo solicitado, os juros devidos são
capitalizados (linear ou exponencialmente) e o montante assim gerado é pago na data
futura avançada. Mais especificamente, o que caracteriza essa modalidade de remuneração
de crédito é que os encargos financeiros não são pagos antecipadamente (no ato da
liberação do empréstimo); ao contrário, são devidos, juntamente com o principal, em
alguma data futura. Esse critério de remuneração é definido como postecipado e apresenta
pouca aplicação prática em operações de curto prazo.
A segunda modalidade de remuneração especifica justamente o inverso do
enunciado anterior; ou seja, os juros são deduzidos (e não acrescidos) do valor nominal do
crédito no momento de sua concessão (liberação). O valor do crédito negociado, nesse caso,
55
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já se constitui no próprio montante da operação, e os juros são pagos antecipadamente, ou
seja, antes do uso efetivo do capital empenhado. Dessa maneira, o valor liberado é
evidentemente inferior ao valor contratado do crédito; essa diferença, conforme observado
representa o custo da operação.
(Na realidade esse “pagamento antecipado” é ilusório. Existe, na verdade, um
recebimento menor, que corresponde ao capital tomado emprestado, e um encargo que
será pago no vencimento quando se liquidar a dívida total assumida.)
Essa forma descrita de remuneração de desconto, bastante adotada nas operações
de crédito (bancárias ou comerciais) de curto prazo é definida como desconto bancário ou
comercial.
Por exemplo, uma empresa, ao realizar uma operação de venda a prazo, emite um
comprovante da existência desse crédito, normalmente representado por uma duplicata, no
qual consta, entre outras informações, o valor a receber e a data de seu vencimento. Ao
necessitar desses recursos ainda não realizados financeiramente em qualquer época
anterior à do vencimento, poderá antecipar o recebimento do título descontando-o em
algum banco comercial. Evidentemente, o valor que a instituição liberará à empresa é
inferior ao do resgate, em função dos encargos financeiros.
O processo de desconto, assim como o das demais operações de curto e curtíssimo
prazo, geralmente é desenvolvido na prática segundo o critério de juros simples. No
entanto, sempre no cálculo do custo efetivo dessas operações será atribuída preferência ao
critério de juros compostos, principalmente, pela mensuração da taxa interna de retorno.
7.2 Desconto Bancário/Comercial
Podem ser adotadas duas metodologias de cálculo dos encargos antecipados de
uma operação de desconto: juros “por dentro” e juros “por fora”.
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O primeiro critério de desconto, apesar de praticamente inexistir em termos de
aplicação prática, representa rigorosamente o conceito de juros, sendo mensurado
racionalmente com base no capital efetivamente empenhado numa operação.
A operação de desconto “por fora” (desconto bancário/comercial), por sua vez, é
amplamente utilizada nas operações financeiras de curto prazo. Contrariamente ao crédito
anterior, a taxa de desconto incide sobre o montante da operação (valor a pagar), e não
sobre o capital liberado, determinando um custo efetivo maior.
O valor do desconto “por fora” é obtido pela multiplicação entre o valor nominal do
título (valor de resgate ou montante), a taxa de juro (desconto) adotada na operação e o
prazo de antecipação em que o título é descontado, isto é:
DF = N x d x nonde:
DF = valor (em R$) do desconto “por fora” (bancário ou comercial)
N = valor (em R$) nominal da operação (valor de resgate na data de vencimento)
d = taxa de desconto “por fora” aplicada na operação
n = prazo de antecipação.
Ilustrativamente, suponha uma operação de desconto bancário de R$ 100.000
realizada por uma empresa pelo prazo de três meses. A taxa de juros cobrada pela
instituição financeira é de 2,5% ao mês, e os valores dos encargos são descontados no ato
da operação.
Aplicando as duas metodologias de cálculo do desconto ao exemplo ilustrativo,
observa-se que o desconto racional (“por dentro”) envolve maior volume de recursos
liberados, destacando-se como o de menor custo. Nessa modalidade, de rara aplicação
prática, os encargos são calculados sobre o valor liberado da operação, e não sobre o seu
montante.
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Esquematicamente, pode-se representar a aplicação das duas modalidades de
desconto bancário da seguinte forma:
58
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a) Desconto Bancário/Comercial:
“por dentro” (racional):
R$ 100.000,00
Liberação do empréstimo Resgate do empréstimo
“por fora”:
R$ 92.500,00 R$ 100.000,00
Liberação do empréstimo Resgate do empréstimo
Pelo desconto bancário “por fora”, a empresa é creditada em somente R$
92.500,00 e os juros são descontados do capital e antecipadamente apurados pelo valor do
resgate empréstimo, isto é:
Valor do Desconto (DF) = R$ 100.000,00 x 0,025 x 3 = R$ 7.500,00
Essa característica de cálculo dos juros faz com que a taxa efetiva da operação seja
maior no desconto bancário “por fora”, a qual atinge 8,1% no trimestre (2,6% a.m.),
comparativamente aos 7,5% a.t. (2,4% a.m.) obtidos na modalidade “por dentro”, ou seja:
b) Custo efetivo:
Desconto “por fora”:
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Desconto “por dentro”:
Note que o custo efetivo da operação é calculado de maneira correta pelo capital
líquido liberado pelo credor, ou seja, relacionando-se os encargos financeiros com o capital
efetivamente empenhado no empréstimo.
Evidentemente, quanto maior se apresentar o prazo do desconto bancário “por
fora”, mais elevadas serão as taxas efetivas e menores os valores liberados ao tomador do
empréstimo. Por exemplo, se o prazo for estendido para quatro meses, o valor do desconto
“por fora” atingirá R$ 10.000 (DF = R$ 100.000 x 0,025 x 4), o capital liberado reduz-se para
R$ 90.000 (R$ 100.000 – R$ 10.000), e a taxa efetiva da operação eleva-se para 11% a.q.
(2,7% a.m.).
Em suma, por serem os encargos financeiros pagos antecipadamente e incidentes
sobre o montante, a taxa de juros efetiva obtida da modalidade de desconto bancário “por
fora” é sempre maior que aquela aparentemente contratada na operação. Representa, na
realidade, um juro sobre o montante (valor de resgate) do empréstimo, e seu valor é cada
vez mais elevado quanto maior for o prazo da operação.
O custo efetivo de uma operação de desconto bancário pode ser obtido, de forma
direta, por meio da seguinte fórmula:
i = d x n
1 – (d x n)
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Essa identidade facilita bastante a determinação da taxa de juros, a qual,
prescindido dos diversos valores da operação, produz diretamente o resultado efetivo com
base na taxa de desconto “por fora”.
Conforme se comentou, quanto maior for prazo (n) maior será a taxa de juros (i).
Aplicando a identidade no exemplo ilustrativo anterior, obtém-se, para uma taxa de
desconto (d) de 2,5% ao mês e um prazo (n) de três meses, o custo efetivo de 8,1% ao
trimestre, ou seja:
Que equivale, em termos de juros compostos, a 2,6% a.m.
Adicionalmente, considere o seguinte exemplo. Uma duplicata no valor de R$
40.000 é descontada, em determinado banco comercial, 132 dias antes de seu vencimento.
Admitindo que a taxa cobrada para o desconto “por fora” seja de 4% a.m., o custo
efetivo da operação, de acordo com a fórmula enunciada, eleva-se para 4,5% ao mês, ou
seja:
Equivalente ao mês:
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Os principais valores de operação, conforme usualmente apurados pelas
instituições financeiras, são os seguintes:
Valor de desconto (DF) = R$ 40.000 x (0,04/30) x 132 = R$ 7.040
Valor líquido creditado à empresa = R$ 40.000 – R$ 7.040 = R$ 32.960
Conseqüentemente, o custo efetivo da operação obtido racionalmente do valor
empenhado (valor líquido do crédito concebido pelo banco) atinge os 4,5% a.m.
demonstrados, isto é:
7.3 Inclusão do IOF nas operações de desconto
Além da cobrança de uma taxa de juros, as operações bancárias de desconto
geralmente incluem também encargos provenientes do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF), cujo pagamento é de responsabilidade do financiado.
Nesse caso, a instituição responsabiliza-se somente pelo seu recolhimento ao
erário público.
Dessa maneira, supondo-se que o IOF atinja, para uma operação de desconto
bancário, a alíquota de 0,0041% ao dia (0,123% ao mês), calculada antecipadamente sobre o
valor nominal do título, obtém-se, na ilustração anterior de desconto de uma duplicata de
R$ 40.000, com 132 dias de antecipação e juros de 4% a.m., os resultados seguintes:
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Valor nominal do título R$ 40.000,00
(-)R$ 7.040,00
(-)R$ 216,50
Valor líquido liberado R$ 32.743,50
Por assumir encargos maiores, o custo efetivo da operação, pelo critério mais
rigoroso de juros compostos, eleva-se para 4,7% a.m., isto é:
Calculando-se a equivalente composta mensal:
Incluindo o IOF na fórmula de cálculo da taxa efetiva de juros com base na taxa de
desconto “por fora”, obtém-se:
Uma vez mais, é ressaltado que a taxa efetiva de juros é calculada sobre o valor
realmente empenhado pelo credor (R$ 32.743,50), e não sobre o montante (valor nominal)
da dívida. Na realidade, o desconto “por fora” não representa a taxa de juros, em sua
expressão mais rigorosa; constitui uma metodologia de cálculos de encargos financeiros, a
qual produz custos efetivos sempre mais elevados que as taxas aparentemente
consideradas na operação.
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7.4 Reciprocidade bancária
Nas operações de empréstimos a curto prazo, os bancos costumam elevar a
rentabilidade de suas operações (e, conseqüentemente, o custo para o financiado)
mediante certas exigências de reciprocidade. Essa forma indireta de encargo é mais
fortemente adotada em períodos de prevalência de políticas monetárias mais restritivas,
quando o crédito assume um caráter mais seletivo. Evidentemente, a escassez de recursos
para aplicações a curto prazo leva normalmente as instituições a impor certas condições
financeiras às empresas solicitantes de crédito, o que vem ocasionando um incremento no
custo efetivo da operação.
Uma forma bastante usual de reciprocidade exigida pelos bancos é a retenção, em
conta corrente, de determinado percentual do crédito concedido, sob a forma de saldo
médio. Na realidade, esses valores não produzem rendimento algum para o financiado e
permanecem indisponíveis nas instituições normalmente pelo prazo de vigência da
operação de crédito, representando um adiantamento do resgate do título.
Utilizando a ilustração anterior, suponha que, no desconto de R$ 40.000 de uma
duplicata, 10% permanecem retidos na instituição bancária (a título de saldo médio), pelo
prazo de operação (132 dias). Nessa situação, os resultados serão os seguintes:
Valor nominal do título R$ 40.000,00
(-)R$ 7.040,00
(-) R$ 216,50
(-) saldo médio exigido: 10% 40.000 R$ 4.000,00
Valor líquido liberado R$ 28.743,50
O custo efetivo operação eleva-se, dessa forma, para 5,2% ao mês:
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Note que a reciprocidade exigida elevou custo de operação de 4,7% a.m., calculado
antes da formação do saldo médio exigido, para 5,2% a.m. Volumes maiores de
reciprocidade bancária determinam menores disponibilidades de recursos aos tomadores
de empréstimos e, conseqüentemente, maiores custos efetivos. O nível exigido de saldo
varia de uma instituição financeira para outra, assumindo percentuais mais elevados
principalmente em períodos de baixa liquidez financeira do mercado.
7.5 Desconto de Borderô de Duplicatas
Os créditos de apuração do custo efetivo de uma operação de crédito a curto
prazo, conforme desenvolvidos anteriormente, levam em consideração o processo de
desconto de um único título. No entanto, é comum uma empresa efetuar o desconto de
vários títulos, compondo o que se chama de borderô de duplicatas.
Suponha-se que uma empresa leve a um banco para desconto as seguintes
duplicatas:
Duplicata Valor Nominal (R$)Prazo de Desconto
(antecipação)
A 30.000 2 meses
B 25.000 2 meses
C 45.000 3 meses
D 10.000 4 meses
E 20.000 4 meses
F 20.000 5 meses
Total 150.000
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Diante desse borderô, admita-se que a instituição bancária tenha creditado na
conta da empresa a importância líquida de R$ 115.000.
Pelo enunciado da ilustração, obtêm-se, assim, as seguintes informações:
Valor total das duplicatas apresentadas para desconto (N) R$ 150.000
Valor líquido liberado ao financiado (C) R$ 115.000
Valor do desconto cobrado no ato pelo Banco
(D = R$ 150.000 – R$ 115.000)(R$ 35.000)
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Entrada de Recursos
Valor Líquido Liberado = 115.000
0 2 3 4 5
meses
Saída de Recursos(Resgate de Duplicatas)
30.00025.00055.000
45.000 10.00020.00030.000
20.000
A metodologia de cálculo do custo efetivo dessa operação é similar à apresentada
para o desconto que envolve um único título. A diferença básica refere-se à existência de
vários títulos com diferentes datas de vencimento e, por conseguinte, diferentes prazos de
antecipação.
Essa característica determina uma dificuldade adicional de determinação do prazo
representativo da operação (e conseqüente de seu custo efetivo), a qual pode ser
solucionada de acordo com os critérios expostos a seguir.
Um critério simples e bem difundido no mercado prevê inicialmente o cálculo do
período médio ponderado da carteira de duplicatas. Essa variável é obtida pelo somatório
do valor de cada título ponderado por seu respectivo prazo de desconto, ou seja:
onde:
n = prazo médio ponderado da carteira de duplicatas
Nj = Valor nominal de cada duplicata
nj = prazo de desconto (antecipação) de cada duplicata.
Substituindo-se os valores do exemplo ilustrativo, obtém-se:67
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Aplicando, a seguir, o cálculo do custo efetivo de juros com base no prazo médio da
operação, chega-se ao seguinte resultado:
Logo, a taxa equivalente mensal atinge:
i = (1,304)1/3,1 – 1 = 8,9% a.m.
Dessa forma, 8,9% a.m. representa a taxa efetiva de juros que iguala, para um
prazo médio ponderado de 3,1 meses (representativo de todas as duplicatas), a entrada
(valor liberado de R$ 115.000) com as várias saídas de caixa (valor nominal das duplicatas
em diferentes datas).
7.6 Influência do prazo sobre o custo do crédito
Um dos aspectos do desconto bancário que merece maior atenção é a influência
que o prazo de antecipação exerce sobre o custo efetivo acumulado do crédito.
Efetivamente, quanto maior for o prazo de desconto, maior também será seu custo. Essa
particularidade, conforme será desenvolvida a seguir, pode determinar preferência por
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parte das empresas por empréstimos de menor duração, mesmo com o risco de não se
conseguir renová-los com maior freqüência e à mesma taxa de desconto inicialmente
contratada.
Para melhor entendimento, suponha que um empréstimo de R$ 50.000 seja
concedido pelo prazo de quatro meses a uma taxa de desconto mensal de 3,5%. Nessa
situação, a empresa paga no ato um montante de juros (em verdade, é descontado do
principal liberado) de R$ 7.000 (DF = R$ 50.000 x 0,035 x 4), sendo creditada somente R$
43.000.
O custo efetivo mensal da operação atinge, em conseqüência, 3,8%, perfazendo um
total acumulado de 16,3% ao quadrimestre, ou 57,2% ao ano pelo regime de juros
compostos. Em outras palavras, se a operação financeira se repetir três vezes num ano
(renovar o empréstimo a cada quatro meses), o custo anual efetivo será de 57,2%.
Por outro lado, considere que a mesma operação tenha sido contratada pelo prazo
de dois meses. Dessa maneira, o desconto e o valor líquido liberado passam,
respectivamente, para R$ 3.500 (DF = R$ 50.000 x 0,035 x 2) e R$ 46.000. O custo efetivo,
identicamente, atinge 3,7% ao mês, acumulando 15,6% ao quadrimestre, ou 54,5% ao ano.
Em conclusão, o prazo de uma operação de desconto exerce significativa influência
sobre seu custo efetivo. Em princípio, é mais atraente para empresa financiada endivida-se,
mediante operações de desconto, por prazos mais curtos e procurar renovar seus
empréstimos o maior número de vezes no ano. No exemplo apresentado, demonstrou-se
ser mais barato o empréstimo por dois meses, mesmo tendo a obrigatoriedade de renová-lo
seis vezes durante o ano. Implementando essa decisão, o custo efetivo anual de reduz-se de
57,2% para 54,5%.
No entanto, conforme assinalado, a política de barateamento dos custos
financeiros mediante empréstimos de prazos menores traz dois importantes riscos à
atividade da empresa. O primeiro refere-se à possibilidade de a empresa não conseguir
renovar seus empréstimos várias vezes ao ano. Políticas de controle restritivo dos meios de
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pagamento estão sempre presentes em nosso ambiente econômico. Uma dificuldade de
acesso mais constante ao crédito pode levar a que uma empresa conviva com índices
insatisfatórios de liquidez, e gerar ainda, em situações mais extremas, sérios problemas
financeiros. Da mesma forma, a expectativa de uma queda nos custos pode ser ainda
anulada por variações que venham a ocorrer nas taxas de descontos do mercado.
Renovando com maior freqüência seus empréstimos, a empresa estará, evidentemente,
mais sujeita a absorver maiores juros, os quais poderão elevar de forma mais significativa
seus custos financeiros.
Em suma, na definição do prazo do empréstimo, sempre que este constitua uma
variável de controle da empresa, devem ser levados em consideração os riscos envolvidos
na operação de curto prazo, tanto no que se refere a seus custos como na oferta de
recursos no mercado.
70
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8 Mercado Aberto
Basicamente, as operações de mercado aberto funcionam como um instrumento
de política monetária no sentido de melhor regular o fluxo monetário de uma economia e
influenciar os níveis das taxas de juros a curto prazo.
De forma inicial, essas operações são fundamentadas pela compra e venda de
títulos de dívida pública no mercado, processadas pelo Banco Central na qualidade de
agente monetário do governo. O mecanismo de funcionamento deste instrumento de
política econômica é relativamente simples. Com o intuito, por exemplo, de uma expansão
no volume dos meios de pagamento disponíveis na economia, de forma a elevar a liquidez e
reduzir as taxas de juros, as autoridades monetárias intervêm no mercado, resgatando
(adquirindo) consideráveis volumes de títulos em poder dos agentes econômicas. De modo
contrário, ao desejar limitar a oferta monetária (reduzir a liquidez do mercado) e, ao mesmo
tempo, elevar as taxas de juros vigentes a curto prazo, a postura assumida é de emitir e
colocar em circulação novos títulos da dívida pública.
No âmbito da política monetária, a grande contribuição das operações de mercado
aberto centra-se em seu dinamismo e flexibilidade, podendo com isso produzir, de forma
mais eficiente e rápida, os resultados almejados. Isso se explica, principalmente, pelo
caráter de controle mais permanente da liquidez do sistema financeiro, em comparação
com outros instrumentos de política monetária (redesconto bancário, depósitos
compulsórios, controles diretos sobre o volume e o preço de crédito, etc.), os quais não se
adaptam às variações diárias que ocorrem normalmente nas reservas monetárias da
economia.
Assim, os principais objetivos que podem ser alcançados pelas operações de
mercado aberto são:
o controle diário do volume de oferta de moeda;
a manipulação das taxas de juros a curto prazo (não só em decorrência do
volume de oferta da moeda, como também das taxas pagas pelas autoridades
71
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monetárias em suas operações com os títulos do tesouro nacional negociados);
às instituições financeiras a realização de aplicações, a curto e a curtíssimo
prazo, de suas disponibilidades monetárias ociosas;
a criação de liquidez para os títulos públicos.
8.1 Mercado Primário e Mercado Secundário
As operações de mercado aberto, conforme foram comentadas processam-se
inicialmente pela colocação (ou resgate) de títulos da dívida pública, permitindo que as
autoridades monetárias executem a política de expansão ou retração dos meios de
pagamento da economia. As colocações desses títulos para os investidores, quando
realizadas pela primeira vez, constituem o denominado mercado primário. Em outras
palavras, o mercado primário é representado pela negociação direta (e primária) entre o
emitente dos títulos (governo federal) e seus adquirentes (instituições financeiras).
Diante dos objetivos retratados do mercado aberto, o mercado primário contribui
para realização dos dois primeiros, ou seja, o Banco Central, negociando diretamente com
os agentes econômicos esses ativos, no volume dos meios de pagamento e no custo do
crédito a curto prazo.
As colocações primárias dos títulos públicos costumam desenvolver-se por meio de
leilões periódicos, coordenados pelo Banco Central, nos quais estabelecidas a priori as
principais características da oferta, como quantidade de títulos colocados em negociação,
etc.
No denominado mercado secundário, verifica-se a transferência (ou renegociação)
para terceiros dos títulos adquiridos no mercado primário, no qual não ocorre a negociação
direta entre o órgão público emitente do título e os aplicadores.
Em realidade, o mercado secundário constitui a principal fonte de financiamento
das carteiras de aplicações formadas pelas instituições financeiras. Por exemplo, se uma
72
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instituição adquire um título público com resgate em 182 dias a uma taxa de desconto de
20%, procurará financiar essa posição com a revenda do título a uma taxa naturalmente
inferior à que obteve de desconto (deságio) em sua aplicação. Como o financiamento ocorre
naturalmente a prazos bem curtos (inferiores ao prazo de resgate do título negociado), a
instituição financeira, passado o tempo de colocação pactuado com o aplicador, deverá
recomprar o título à taxa de desconto contratada quando de sua colocação. Posteriormente
à recompra do título do aplicador (poupador que, ao mesmo tempo, obtém algum
rendimento em suas disponibilidades ociosas e financia também a carteira de aplicações da
instituição financeira), inicia-se novamente o processo de revenda do título, o qual se
repetirá até a data de vencimento (resgate) nele definida.
Deve-se acrescentar, ainda, que no mercado primário podem ser negociados títulos
da dívida pública originados dos estoques do Banco Central, e que essas operações são
praticadas pelas instituições financeiras legalmente credenciadas, denominadas dealers.
Esses dealers, na realidade, agem no mercado de títulos de curto prazo em nome do Banco
Central, adquirindo-os e repassando-os posteriormente ao mercado secundário.
8.2 Taxa Over de Juros – Juros por Dias Úteis
A denominada taxa over de juros apresenta-se comumente bastante sensível à
evolução da conjuntura do país, revelando freqüentes variações em seus percentuais.
Basicamente, são identificadas as seguintes importantes características nas taxas over:
a taxa de referência over no mercado é normalmente mensal, e os juros são
apropriados segundo o regime de juros simples para os dias previstos na
operação financeira;
os juros somente são considerados nos dias úteis. Mesmo que a taxa over esteja
definida para um mês, sua incidência ocorre unicamente em dias considerados
úteis (basicamente, dias de funcionamento do mercado financeiro).
Diversas taxas de curto prazo são expressas no mercado segundo critério de taxa
over, requerendo sua conversão em taxa efetiva para uma melhor decisão. Outras vezes,
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ainda, é apresentada determinada taxa over como equivalente a uma taxa efetiva,
sugerindo dois percentuais de juros na mesma operação financeira. Dessa maneira, é
importante conhecer-se a forma de conversão de uma taxa over em taxa efetiva, e vice-
versa.
8.2.1 Over – Efetiva
O cálculo da taxa efetiva é processado simplesmente pela divisão as taxa over
mensal por 30 (número de dias corridos do mês), seguida de sua respectiva capitalização
composta pelo número de dias úteis do período
Por exemplo, admita que um investidor esteja avaliando determinada aplicação
que paga 2,7% a.m. de taxa over. No período a que se refere essa taxa, são previstos 20 dias
úteis. O cálculo da taxa efetiva dessa operação desenvolve-se da seguinte forma:
Taxa por dia corrido = 2,7%/30 = 0,09% ao dia (corrido)
Por ser referenciada no regime linear, a descapitalização da taxa over segue a
proporcionalidade dos juros simples.
Capitalização pelos dias úteis:
Taxa Efetiva (i) = (1 + 0,0009)20 – 1 = 1,82% ao mês
Pode se concluir que a taxa over de 2,7% a.m., para um intervalo de 20 dias úteis, é
equivalente (produz os mesmos resultados financeiros) a uma taxa efetiva de juros de 1,82%
a.m.
8.2.2 Efetiva – Over
74
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Um procedimento inverso envolve a conversão de uma taxa efetiva de juros em
taxa over. Por exemplo, o rendimento mensal de 2,2% de um certificado de depósito
bancário (CDB) equivale, para um mês com 22 dias úteis, a um taxa over de 2,97% a.m., isto
é:
Descapitalização da Taxa Efetiva por dia útil:
por dia útil
Conversão em Taxa Over:
Taxa Over = 0,099% x 30 dias = 2,97% a.m.
8.3 Taxa Over Efetiva Anual
As taxas over descritas estão todas referenciadas em bases mensais. Essas taxas, a
partir de 1998, por determinação do Banco Central, passaram também a ser apuradas em
padrões efetivos anuais. O intuito da autoridade monetária com a medida é o de difundir no
mercado uma visão de longo prazo em suas operações.
O Banco Central fixou, para cada ano, 252 dias úteis. Por exemplo, ao publicar uma
taxa over efetiva anual de juros de 13,0%, a taxa por dia útil é apurada da seguinte forma:
a.du. (ao dia útil)
A taxa over nominal, calculada em bases mensais atinge:
75
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0,0485% x 30 dias = 1,455% a.m.o. (ao mês over)
Por outro lado, a taxa efetiva do mês é:
(1,000485)Du – 1
Admitindo que existam 22 dias úteis no mês, tem-se a taxa over mensal efetiva de:
(1,000485)22 – 1 = 1,072% a.m.o. (efetiva)
No exemplo ilustrativo tem-se as seguintes taxas:
Taxa over efetiva anual: 13,0% a.a.o. (ao ano over)
Taxa over nominal mensal: 1,455% a.m.o.
Taxa over efetiva mensal: 1,072% a.m.o.
Taxa over efetiva por dia útil: 0,0485% a.du.
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9 Mercado Interfinanceiro e Operações Hot Money
O Mercado Interfinanceiro é privativo de instituições financeiras que atuam, em
verdade, como intermediadoras de compradores e vendedores de dinheiro. As operações
realizadas nesse mercado são lastreadas em títulos de emissão privada. Normalmente, as
taxas negociadas no interfinanceiro não sofrem intervenções oficiais diretas, refletindo, de
forma mais isenta, as expectativas do mercado em relação ao comportamento das taxas de
juros da economia. Essas taxas são definidas diariamente em função dos negócios realizados
e tem ampla divulgação pela imprensa.
As operações do interfinanceiro são lastreadas pelo Certificado de Depósitos
Interfinanceiro (CDI) emitido pelas instituições que atuam nesse segmento do mercado
financeiro.
Basicamente, as operações do mercado interfinanceiro são realizadas por dia, e é
estabelecida a taxa over como padrão de juros do CDI. Mesmo que eventualmente ocorram
operações com prazos maiores, a taxa de juros é geralmente computada com base na
cotação diária do mercado.
São essas taxas de CDI over, ainda, que determinam a taxa de juros-base para
operações de empréstimos de curtíssimo prazo, conhecidas por hot money. Geralmente,
essas operações costumam cobrar a taxa média do dia de CDI over mais um spread, que
representa a remuneração da instituição financeira que promove a intermediação do
empréstimo.
Ilustrativamente, admita-se que uma instituição financeira esteja oferecendo uma
linha de crédito hot money, no valor de R$ 150.000, por cinco dias corridos. Sabe-se que
nesse período existem somente três dias úteis. Os juros definidos para a operação são de
3,6% a.m. (taxa média de CDI over no dia), mais um spread de 1,6% a.m. O mês de
referência da taxa over tem 21 dias úteis. A empresa, ainda, utiliza integralmente seu
crédito no primeiro dia da operação.
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A seguir, são processados diversos cálculos que envolvem pagamentos e custo
efetivo para cada um dos dias previstos para o hot money.
9.1 Primeiro Dia do Hot Money
Os encargos totais do empréstimo envolvem a taxa over mais o spread cobrado
pelo banco. Conforme se comentou, a taxa over é linear e válida somente para os dias úteis,
e é definida pela média do CDI over fixado em cada dia.
O spread, por outro lado, é um custo cobrado pela instituição financeira
intermediadora da operação, devendo ser incorporado (capitalizado) aos juros cobrados.
Admitindo-se uma formação de juros compostos para os encargos obtêm-se:
Spread = ao dia
CDI over = ao dia
Juro total do 1º dia = (1 + 0,00076) x (1 + 0,0012) – 1 = 0,196%
Saldo da dívida = R$ 150.000 x (1 + 0,00196) = R$ 150.294,00
Encargos totais = R$ 150,294 – R$ 150.000 = R$ 294,00
Mantendo-se constante a taxa de CDI over até o final da operação (cinco dia
corridos ou três úteis), o saldo devedor e os encargos atingem:
Saldo da dívida no 5º dia = R$ 150.000 x (1 + 0,00196)3 = R$ 150.883,70
Encargos totais = R$ 150.883,70 – R$ 150.000 = R$ 883,70
78
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Esses valores projetam, permanecendo inalterados os percentuais do CDI over até
o final da operação, uma taxa efetiva mensal de 4,2%, ou seja:
[i = (1,00196)21 – 1]
Alterando-se a taxa over nos demais dias do empréstimo, devem ser considerados
os novos percentuais no cálculo do custo, conforme demonstramos a seguir.
9.2 Demais Dias do Hot Money – Alterações nas Taxas do CDI
Alterando-se a taxa do CDI over, respectivamente para 3,9% e 3,7% no segundo e
no terceiro dia útil da operação, por exemplo, obtêm-se os seguintes resultados ao final (5º
dia):
Juro total acumulado =
= 0,603% por três dias úteis
Saldo da dívida no 5º dia = R$ 150.000 x (1,00603) = R$ 150.904,50
Custo efetivo do mês = (1 + 0,00603)7 – 1 = 4,3% a.m.
O custo efetivo foi calculado com base em uma taxa de 0,603% válida para os três
dias úteis da operação capitalizada por sete períodos (21 dias úteis/3).
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10 Floating em Operações Bancárias
Em operações de cobrança bancária, pode ocorrer de os recursos financeiros não
serem imediatamente creditados em conta corrente da empresa, permanecendo um ou
mais dias no banco. Essa situação, denominada de floating, promove evidentemente um
custo adicional à empresa, definido geralmente pela taxa diária de oportunidade do
dinheiro.
Por exemplo, uma carteira de duplicatas de R$ 200.000 colocada em cobrança num
banco, tendo sido creditado o dinheiro na conta do cliente somente dois dias úteis após o
respectivo recebimento, produz para uma taxa líquida de aplicação de 0,10% ao dia um
custo de R$ 400,20, ou seja:
R$ 200.000 x [(1,001)2 – 1] = R$ 400,20
Que equivale a um percentual acumulado de 0,2001% para os dois dias.
Também o mecanismo de floating é muitas vezes utilizado como forma de
reciprocidade exigida pelas instituições financeiras para a concessão de créditos. Nessa
situação, o custo efetivo da operação é acrescido com base no custo diário do dinheiro.
Para melhor esclarecer uma forma de floating, admita-se que a empresa esteja
avaliando uma operação de desconto bancário no valor de R$ 14.000, pelo prazo de 40 dias.
A taxa de desconto definida para a operação é de 5,8% a.m., mais IOF de 0,0041% a.d.
Adotando-se as fórmulas enunciadas no início desta seção, pode se operar o custo
efetivo mensal da operação:
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para 40 dias
Em bases mensais, o custo efetivo da operação atinge:
(1 + 0,086)30/40 – 1 = 6,4% a.m.
Esse é o custo efetivo do crédito bancário em levar em consideração nenhuma
forma de reciprocidade.
Ao se admitir, por exemplo, que o banco retenha por três dias o dinheiro da
cobrança dos títulos, o custo efetivo do tomador é onerado.
Em verdade, para cada dia de floating praticado pelo banco, a empresa assume um
custo pelo menos igual à taxa da oportunidade do mercado.
Na prática, o cálculo do custo de crédito com floating, é efetivado segundo uma
metodologia mais simplificada, da forma seguinte:
Custo com floating = (1 + 0,086)43/40 – 1 = 9,3% para 40 dias,
que equivale a 6,9% ao mês.
Um detalhamento de como o floating onera o custo efetivo de uma operação de
crédito bancário é desenvolvido a seguir:
Encargos financeiros do desconto
Juros: R$ 14.000 x (0,058/30) x 40 = R$ 1082,70
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IOF: R$ 14.000 x 0,0041% x 40 = R$ 23,00
R$ 1.105,70
Custo do floating
R$ 14.000 x [(1,086)3/40 – 1] = R$ 86,90
R$ 1.192,60
Valor líquido liberado: R$ 14.000 – R$ 1.105,70 = R$ 12.984,30
Custo efetivo (i) = R$ 1.192,60/R$ 12.894,30 = 9,3% por 40 dias,
equivalendo a 6,9% ao mês.
Alternativamente, o custo da operação pode ser determinado:
Sem floating
R$ 12.894,30
40 dias
14.000
Com floating
R$ 12.894,30
37 dias
14.000
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11 Operações de Fomento Comercial (Factoring)
O factoring constitui basicamente uma modalidade de assistência financeira a curto
prazo, cujos benefícios concentram-se potencialmente nas micro, pequenas e médias
empresas, notadamente por não apresentarem uma cobertura satisfatória na oferta de
recursos de giro pelo mercado. A importância deste segmento de empresas é relevante em
qualquer economia, principalmente naquelas subdesenvolvidas, por absorver um
contingente expressivo de mão-de-obra não qualificada.
O factoring, denominado no Brasil, como atividade de fomento comercial, destina-
se basicamente a negociar os créditos (valores a receber) de curto prazo das empresas
produtoras. Na realidade, essa atividade procura reequilibrar o fluxo monetário da empresa
carente de liquidez imediata, por meio da canalização dos valores aplicados em contas a
receber (realizável) para seu disponível.
Uma das mais importantes características de uma operação de factoring consiste
na transferência, juntamente com os valores a receber, dos riscos inerentes a esse ativo.
Dessa forma, além de reforçar a liquidez imediata de seus clientes, a casa de factoring
absorve o risco pelo recebimento desses valores realizáveis. Ao contrário de uma operação
de desconto bancário, conforme descrita anteriormente, a atividade de fomento comercial
não constitui uma operação de crédito. É considerada, efetivamente, uma transferência
(cessão) plena dos créditos do cliente para o factor, isto é, uma aquisição definitiva dos
valores a receber, inclusive do risco de pagamento desses ativos realizáveis. Uma
importante economia que pode advir dessa operação para a empresa produtora cliente
refere-se aos gastos inerentes à instalação e ao funcionamento de um departamento de
crédito e cobrança, os quais passam a ser de responsabilidade financeira da factoring.
Tradicionalmente, a empresa de fomento comercial somente opera com pessoas
jurídicas, ou seja, o título de crédito (normalmente duplicata) que vier a ser adquirido de
empresas clientes deverá originar-se de um saque contra outra pessoa jurídica. Assim, os
três agentes envolvidos numa operação de crédito dessa natureza, são:
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a empresa de fomento comercial – a casa Factoring;
o cliente da empresa de fomento comercial – vendedora do bem ou serviço;
a empresa compradora do bem ou serviço vendido por esse cliente.
Na definição da taxa de juros cobrada do usuário (cliente) de factoring pelo
adiantamento recebido embute-se, conforme comentado, um prêmio pelo risco assumido, o
qual tende a variar em função principalmente dos resultados das análises dos créditos
considerados.
As principais despesas que envolvem uma operação de factoring podem ser
descritas da seguinte forma:
Comissão de factoring: refere-se a um valor cobrado pela casa de factoring
visando cobrir suas despesas operacionais de análise, seleção e cobrança de
crédito. Normalmente, o pagamento dessa despesa é efetuado mediante uma
porcentagem fixa calculada sobre o valor nominal dos títulos negociados;
Juros por Antecipações: o valor deste encargo depende, basicamente, das taxas
de mercado e do risco atribuído à operação. Normalmente, os juros são pagos
antecipadamente e calculados de acordo com o critério de desconto bancário
(deságio) considerado;
Reserva e Caução: consiste na retenção do valor nominal dos títulos. A retenção
desse valor, o qual é liberado geralmente quando do recebimento dos créditos,
justifica-se como forma de garantia pela fidelidade dos títulos negociados.
Resumidamente, podem-se expor as vantagens de uma operação de factoring da
seguinte forma:
produz maior flexibilidade de financiamento, mormente se é necessário
expandir o volume de atividade da empresa;
dispensa a manutenção de saldos médios e outras formas de reciprocidade
exigidas pelas instituições bancárias;
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os serviços prestados nas vendas a prazo possibilitam reduzir ou,
eventualmente, eliminar as várias despesas demandadas na manutenção, por
uma empresa, de departamento de crédito e cobrança;
garantia do recebimento e conseqüente eliminação do risco.
Não obstante essas vantagens para a empresa, não se pode generalizar que uma
operação de factoring constitua sempre a opção de crédito mais atrativa para empresa.
Seus custos financeiros assumem tradicionalmente valores mais altos que os de mercado. É
necessário quantificar todas as vantagens da operação e associá-las a seus custos, obtendo
assim, os encargos líquidos do factoring. A decisão final será evidentemente originada da
comparação desses encargos com os custos efetivos do mercado de crédito, inclusive
reciprocidade.
Na realidade, cada operação precisa ser analisada pelas circunstâncias do momento
e condições estabelecidas. Em geral, as pequenas e médias empresas, pelas várias razões
expostas, costumam considerar o factoring como uma operação das mais atraentes.
Em suma, são as características da empresa, das condições de mercado e dos
custos e vantagens envolvidas que irão determinar o grau de atratividade da operação.
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12 Crédito Rotativo
A operação de Crédito Rotativo refere-se a uma conta tipo empréstimo (também
chamada de conta corrente garantida), aberta pelos bancos comerciais, visando ao
financiamento de necessidades de curto prazo (capital de giro) das empresas.
Com a entrega de duplicatas como garantia da operação, a instituição bancária
abre uma linha de crédito à empresa com base em um percentual do montante caucionado
(valor nominal das duplicatas em garantia). À medida que as duplicatas vão sendo
resgatadas pelos clientes (sacados), a empresa deverá ir substituindo-as por outras, a fim de
manter o limite e a rotatividade do crédito concedido. Os saques dos recursos de crédito são
efetuados de acordo com as necessidades de giro da empresa, sendo processados
normalmente mediante cheques.
As negociações do crédito rotativo são desenvolvidas de acordo com resolução do
Banco Central.
Os principais encargos dessa operação são:
Juros, calculados sobre o saldo a descoberto (devedor) e devidos periodicamente
(mês, trimestre, etc.). Na realidade, o valor dos juros é obtido, segundo o método
hamburguês da seguinte forma:
x Somatório do Saldo Devedorcorrigido no período considerado
onde i representa a taxa nominal anual de juros definida para operação.
Outras despesas incluídas nessa operação referem-se à Comissão de Abertura de
Crédito, cujo percentual é calculado sobre o limite aprovado de crédito, IOF e Tarifas de
Serviços Bancários cobrados segundo a legislação em vigor.
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Ilustrativamente, admita que tenham sido realizadas as seguintes movimentações
numa conta garantida com limite de R$ 300.000, contratada por dois anos e cobertura em
15-1.
Mês 1
Dia 15: saque de R$ 150.000 (data de abertura da conta)
Dia 20: saque de R$ 60.000
Mês 2
Dia 1º: saque de R$ 30.000
Dia 10: depósito de R$ 24.000
Dia 18: saque de R$ 21.000
Dia 22: saque de R$ 30.000
Os encargos financeiros cobrados na operação atingem 4% a.m., debitados ao final
de cada mês, e uma comissão de abertura de crédito de 2% cobrada no ato.
Os resultados das movimentações na conta são demonstrados a seguir:
Data Histórico Débito (D) /Crédito (C)
Saldo Devedor (R$)
Número de Dias
Número de Dias x Saldo
Devedor (R$)
15-1 Comissão 6.000 (D) 6.000 - -
15-1 Saque 150.000 (D) 156.000 5 780.000
20-1 Saque 60.000 (D) 216.000 11 2.376.000
30-1 Juros 4.208 (D) 220.208 - -
01-2 Saque 30.000 (D) 250.208 9 2.251.872
10-2 Depósito 24.000 (C) 226.208 8 1.809.664
18-2 Saque 21.000 (D) 247.208 4 988.832
22-2 Saque 30.000 (D) 277.208 8 2.217.664
28-2 Juros 9.691 (D) 286.899 - -
28-2 Total do Bimestre: 10.424.032
A comissão de abertura de crédito é calculada: R$ 300.000 x 2% = R$ 60.000.
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Para o mês 1, o total de juros atinge:
Juros = (0,04/30) x (R$ 780.000 + R$ 2.376.000) = R$ 4.208,00
Esse valor é debitado na conta do mutuário ao final do primeiro mês.
Para o mês 2, os juros somam:
Juros = (0,04/30) x (R$ 2.251.872 + R$ 1.809.664 + R$ 988.832 + R$ 2.217.664)
Juros = R$ 9.691
Para todo o bimestre os juros totalizam:
Juros = (0,04/30) x R$ 10.424.032
Juros = R$ 13.899.
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13 Linhas de Crédito: Vendor e Compror
13.1 Vendor
O vendor é uma modalidade de financiamento de vendas, que permite que
empresas vendedoras de bens e serviços levantem, junto a uma instituição financeira,
crédito para seus clientes. Através desse crédito, o vendedor recebe a vista pelas vendas
realizadas. O risco da operação recai, geralmente, sobre as empresas vendedoras, as quais
se responsabilizam perante o banco financiador, pelo adequado cumprimento do crédito
concedido.
Uma operação de vendor é formada por três participantes:
vendedor: empresa vendedora (comércio ou fabricante) que deseja receber a
vista pelas vendas realizadas. Utiliza a intermediação de um banco para financiar
seus clientes de produtos e serviços. Suas principais vantagens são: recebimento
das vendas a vista, reforço da liquidez financeira, redução dos custos de
administração de carteiras de valores a receber. Como emite nota fiscal pelo
valor a vista, consegue também uma redução dos tributos incidentes sobre
vendas.
comprador: empresas que adquire os bens e serviços para transformação ou
revenda em condições de pagamento a vista, através de créditos concedidos por
um banco. A compra é realizada a vista e o pagamento a prazo, acrescido de
encargos financeiros acertados com o banco. O vendor oferece ao comprador
melhores condições de negociar preços com o fornecedor, considerando que o
pagamento é a vista, e também obtenção de maiores prazos de pagamento.
banco: instituição financeira que se compromete a financiar a aquisição de bens
e serviços das empresas compradoras. O Banco pratica taxas e prazos
compatíveis a cada operação. Em geral, o financiamento é processado por meio
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da liberação de um limite de crédito, e efetuado em depósito da empresa
vendedora toda vez que realizar uma operação de venda.
13.2 Compror
O compror equivale a um limite de crédito concedido a uma empresa compradora,
visando financiar compras de bens de transformação, mercadorias e serviços.
Através dessa modalidade, o adquirente reúne condições de negociar melhores
condições de pagamentos a vista com os fornecedores, substituindo outras modalidades de
financiamento bancário.
Outro atrativo do crédito é que não há incidência de CPMF para o comprador, pois
os recursos são creditados pelo Banco diretamente na conta da empresa vendedora.
Para o fornecedor, as vantagens mais importantes são o recebimento a vista das
vendas, e a redução da carga tributária, pois a nota fiscal é emitida pelo preço a vista.
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Referências
Bibliográficas
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2007.
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ANEXOS
Anexos
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Anexo 1: Atividades Complementares
A1.1 Apresentação
As Atividades Complementares – AC são componentes curriculares obrigatórios dos
Projetos Pedagógicos dos Cursos Superiores de Tecnologia da UNIP, em consonância com as
respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. As AC possibilitam o reconhecimento, por
avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, incluindo a prática de
estudos e atividades independentes, transversais, opcionais e de caráter interdisciplinar,
especialmente nas relações com o mundo do trabalho, nas ações de extensão junto à
comunidade e no envolvimento inicial com a pesquisa acadêmica.
A1.2 Orientações
As indicações de AC estão distribuídas por categorias e em cada atividade proposta
constam os conceitos-chave da matéria correlata, as horas a serem validadas e os
respectivos prazos de entrega.
Os relatórios deverão ser, obrigatoriamente, de AUTORIA DO ALUNO e
MANUSCRITOS, com no mínimo 20 linhas e no máximo 2 páginas, e comprovantes em
anexo.
Estes comprovantes deverão ser, preferencialmente, os originais da atividade
realizada. Nos casos de artigos e/ou reportagens, uma cópia do mesmo deverá ser anexada.
Somente serão validadas, como cumprimento de horas de AC do semestre, as atividades
realizadas no próprio semestre.
Os alunos devem observar as datas previstas para entrega dos relatórios das AC.
Em hipótese alguma, serão aceitas atividades entregues fora do prazo!!
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A1.3 Indicações4/5
a) Atividade Complementar 1:
Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Caixa. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Gênero: Capítulo (25) de Livro.
Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças; Gestão de Caixa.
Validação (horas): Até 06 horas.
Data de Entrega: Até 23.03.2010
b) Atividade Complementar 2:
Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Valores a Receber. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Gênero: Capítulo (26) de Livro.
Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças.
Validação (horas): Até 06 horas.
Data de Entrega: Até 20.04.2010
c) Atividade Complementar 3:
Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Valores a Receber. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Gênero: Capítulo (27) de Livro.
Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças.
Validação (horas): Até 06 horas.
Data de Entrega: Até 04.05.2010
d) Atividade Complementar 4:
Descrição: Atividade Livre.
Gênero: Artigo Científico; Congresso; Feira; Palestra; Reportagem; Seminário.
Conceitos-Chave: Mercado; Finanças Corporativas.
Validação (horas): Até 10 horas.
Data de Entrega: Até 18.05.2010
4 Os alunos devem estar atentos às datas de entrega, conforme o dia da semana que têm aula da disciplina.5 As horas a serem atribuídas dependem do teor da matéria, podendo chegar às horas previstas.
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Anexo 2: Conteúdo Programático Detalhado
Unidade Curricular: Fontes de Financiamento
Período Letivo: 3º Semestre
Carga Horária: 60 horas
ObjetivosAnalisar e identificar a necessidade de financiamento para o capital de giro da empresa, verificando as despesas financeiras. Conhecer, analisar e identificar a melhor fonte de financiamento a curto, médio prazo e longo prazo.
EmentasLevantamento do valor capital de giro para operacionalizar a empresa e verificação da necessidade de captação de financiamento para compor o capital de giro. Identificar os custos das fontes de financiamento. Definir as despesas financeiras. Analise da viabilidade de financiamento para o capital de giro.
Conteúdo ProgramáticoAnálise do valor necessário para capital de giro de uma empresa;Verificação da necessidade de financiamento para compor o capital de giro;Identificação das fontes de financiamentos e respectivos custos financeiros; Prazos de financiamentos e respectivos custos; Hot Money;Conta garantida;Operações de factoringOperações de Vendor e Compror;
Bibliografia
Bibliografia Básica (títulos, periódicos, etc.)
Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano
Administração do Capital de Giro
NETO, Alexandre Assaf e SILVA, César
Augusto Tibúrcio3ª São Paulo Atlas 2002
Factoring no Brasil LEITE, Luiz Lemos São Paulo Atlas 2001
Bibliografia Complementar (títulos, periódicos, etc.)
Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano
Operação e Concessão de Crédito:
Os Parâmetros para a Decisão de Crédito
BERNI, Mauro Tadeu. São Paulo Atlas 1999
Finanças Corporativas e Valor
NETO, Alexandre Assaf 3ª São Paulo Atlas 2007
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Estratégias de EnsinoO curso contará com equilíbrio teórico – prático por meio de exposições e discussão de casos práticos, utilizando:
Aulas expositivas Aulas reflexivas com análise de casos Dinâmica de grupos Seminários Vídeos Debates
Será sempre indicada a bibliografia básica e específica necessária ao acompanhamento do curso e orientação do aluno na vida acadêmica e profissional.
A exposição será feita por meio de colocação dos pontos a serem discutidos de forma esquemática, seguida de apresentação por parte do professor. Para todas as exposições e para todos os pontos deverão ser utilizadas apresentações de casos práticos.
Estratégias de AvaliaçãoDuas provas teórico-práticas bimestrais e trabalhos individuais ou em grupo, mais o projeto PIM, sempre envolvendo os assuntos voltados à gestão das organizações, sendo que a média do semestre será constituída por 40% da nota da P1, 40% da nota da P2 e 20 % da nota do PIM.
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Anexo 3: A Importância da Ignorância na Pesquisa Científica6
Reencontrei recentemente uma velha amiga que não via há anos. Éramos alunos de
doutorado na mesma época, ambos estudando ciência mas em diferentes áreas. Ela deixou
a área e foi para faculdade de direito em Harvard e agora é advogada sênior de uma grande
organização ambiental. Num determinado momento a conversa pendeu para o porquê de
ela ter largado a academia. Para meu total espanto ela disse que saíra porque se cansou de
se sentir estúpida. Após alguns anos se sentindo estúpida todos os dias ela percebeu que
estava pronta para fazer outras coisas.
Para mim ela era uma das pessoas mais brilhantes que eu conheci, e a sua carreira
posterior prova esta constatação. O que ela disse me incomodou. Eu continuei pensando
naquilo, até que no dia seguinte caiu a ficha. A ciência me faz sentir idiota também. O que
acontece é que eu me acostumei com isso. Tanto me acostumei a isto que persigo
ativamente novas oportunidades de me sentir estúpido. Não sei o que eu faria sem este
sentimento, e até acho que é assim que deve ser. Deixe-me explicar.
Para a maioria de nós, uma das razões para gostarmos de ciências na escola era
que nós éramos bons nisto. Mas esta não pode ser a única razão – fascínio por entender o
mundo físico e uma necessidade emocional de descobrir novas coisas devem existir
também. Mas para a escola e a faculdade, a ciência consiste em fazer aulas, e ir bem nas
aulas significa dar as respostas certas nas provas. Se você souber as respostas você passa
bem e se sente esperto.
No doutorado, onde você tem um projeto de pesquisa, a coisa é bem diferente.
Para mim foi uma tarefa amedrontadora. Como eu poderia formular a pergunta que me
levaria a uma descoberta significativa; desenhar e interpretar um experimento para que as
conclusões fossem absolutamente convincentes; prever obstáculos e achar maneiras de
circundá-los, ou, caso falhasse nisso, resolvê-los quando aparecessem? Meu projeto de
doutorado era interdisciplinar e, por um tempo, sempre que tive um problema eu podia
6 Originalmente publicado no Journal of Cell Science e traduzido por Rafael Soares.97
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importunar alguém em meu departamento, que tinha especialistas em várias disciplinas de
meu interesse. Eu me lembro de um dia em que Henry Taube (que ganhou o prêmio Nobel
dois anos depois) me disse que não sabia como resolver um problema que eu estava tendo,
mesmo se tratando de sua área.
Percebi que eu era apenas um aluno de trinta anos e que Taube deveria, por baixo,
saber mil vezes mais do que eu. Se ele não tinha a resposta, então ninguém tinha.
Foi aí que entendi: ninguém sabe. Por isso mesmo que é um problema em
pesquisa. E sendo a MINHA pesquisa, era minha responsabilidade resolvê-lo. Ao encarar
este fato resolvi o problema em poucos dias. (E não era realmente muito difícil; apenas tive
que testar algumas poucas coisas.) A moral da história é que a área das coisas que eu não
sabia não era apenas vasta; era, na prática, infinita. Ao invés desta constatação ser
desencorajadora, ela era libertadora. Se a ignorância é infinita, a única atitude que nos
sobra é dar o melhor de nós.
Eu gostaria de dizer que os programas de pós-graduação geralmente fazem um
desserviço para a formação do estudante de duas formas. Primeiro, porque os estudantes
não percebem o quão difícil é fazer pesquisa. Mais difícil ainda pesquisa de grande
importância. É muito mais difícil que ir bem nas aulas, mesmo nas mais exigentes. O que
torna a pesquisa difícil é o mergulho no desconhecido. Nós simplesmente não sabemos o
que estamos fazendo. Até termos um resultado, nós nem ao menos estamos certos se
estamos fazendo as perguntas certas ou os experimentos adequados. Para atrapalhar, ainda
temos a competição por financiamento e visibilidade em revistas de prestígio. Mas fora isto,
fazer pesquisa relevante é intrinsecamente difícil, por isso qualquer mudança nos cursos,
departamentos ou instituições não vão diminuir esta dificuldade intrínseca.
Segundo, nós não ensinamos nossos alunos a serem ignorantes produtivos – ou
seja, se eu não me sinto estúpido, significa que eu não estou realmente me esforçando. Não
estou falando de ´ignorância relativa´, como quando os outros alunos na turma lêem as
lições, estudam, passam na prova, e você não. Também não estou falando de pessoas
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brilhantes que estejam em áreas que não aproveitam seus talentos. Ciência envolve
confronto com a ´ignorância absoluta'. Aquela que é um fato existencial inerente a nosso
esforço de adentrar no desconhecido. Exames de admissão e bancas de defesa atingem seus
objetivos quando forçam o aluno até começar a dar respostas erradas ou desistir e dizer,
´não sei´. O objetivo do exame não é avaliar se o aluno responde todas as perguntas. Se ele
responder, quem falhou no teste foi a banca. O objetivo real é identificar as fraquezas do
aluno, primeiro para ver onde ele deve se esforçar mais, e segundo para saber se o
conhecimento dele estaciona no nível alto o suficiente para tocar um projeto de pesquisa.
Estupidez produtiva significa ser ignorante por escolha. Focar em uma questão
importante nos coloca numa posição de ignorância. Uma coisa boa em ciência é que ela nos
permite tropeçar por aí, errar de vez em quando, e mesmo assim nos sentirmos bem,
contanto que aprendamos algo com isso tudo. Claro que isto é muito difícil para alunos que
estão acostumados a ter a resposta certa. Claro que um bom nível de confiança e equilíbrio
emocional ajudam, mas eu acho que educação científica deve fazer mais para atenuar esta
grande transição: de aprender as descobertas de outras pessoas para começar a fazer as
suas próprias. Quanto mais confortáveis estivermos sendo ignorantes, mais profundamente
poderemos penetrar no desconhecido para fazer grandes descobertas.
Referências7
SCHWARTZ, Martin. The importance of stupidity in scientific research. Virginia: Department
of Microbiology, UVA Health System, University of Virginia, 2008. Disponível em:
http://jcs.biologists.org/cgi/content/full/121/11/1771. Acesso em: 28/06/2009.
7 O texto traduzido encontra-se disponível no link: http://scienceblogs.com.br/rnam/2009/05/a_importancia_da_ignorancia_na.php
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