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Autor:
Adriel Santos Santana
Revisão:
Daniela Carvalho
Projeto gráfico e Capa:
Adriel Santos Santana
Dedicatória:
A primeira admiradora desta obra: Daniela
Carvalho.
Santana, Adriel S.
A última utopia / Adriel Santos Santana. Brasil, Bahia, 2012, 142 p.
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SUMÁRIO
PROLÓGO.............................................................................................................5
19 DE MARÇO DE 2031........................................................................................7
02 DE ABRIL DE 2031........................................................................................15
27 DE JULHO DE 2031.......................................................................................25
“VIRADA DE ANO” DE 2031..............................................................................36
28 DE FEVEREIRO DE 2032..............................................................................45
30 DE JUNHO DE 2032.......................................................................................54
15 DE NOVEMBRO DE 2032..............................................................................62
07 DE JANEIRO DE 2036...................................................................................71
22 DE MAIO DE 2036..........................................................................................85
24 DE DEZEMBRO DE 2036...............................................................................97
25 DE DEZEMBRO DE 2036.............................................................................116
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"- Como é que um homem afirma o seu poder sobre outro?
- Fazendo-o sofrer.
- Exatamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra,
como podes ter certeza de que ele obedece tua vontade e não a dele?” .
(Diálogo retirado do livro 1984, de George Orwell).
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Prólogo
Escuridão. O coração estava disparado. Parecia que sofreria um infarto a
qualquer instante. "Onde estou?! Que lugar é esse?!", pensava Oliver. Um forteclarão surgiu a sua frente, como uma explosão nuclear, produzindo em sua visão
embaçada a imagem daquele indivíduo que o atormentava há anos. Aquela
pessoa que sempre lhe aparecia em seus sonhos. O que ele significava era para
Oliver algo assustador e uma verdade. Uma verdade que ele lutava para
transformar em mentira. Para seu próprio bem. Para o bem de todos os homens.
Oliver o encarou. Queria transmitir uma ideia de força, mesmo sabendo
ele que nada parecido com força ou mesmo coragem existia nele. Mas a simplesideia de confrontá-lo lhe parecia correta. Ao menos uma vez em sua vida faria
algo que soava correto.
- O que quer? - perguntou com uma raiva implícita nas palavras.
O homem a sua frente continuava a fitá-lo, mas de uma maneira única,
algo de certa forma até familiar para Oliver. E o pior: ele sabia por quê.
- Não tenho que fazer nada! Não pode me obrigar a nada! Você não
existe! Vá embora! - esbravejava ele com toda força que havia em seus
pulmões.
O homem continuava imóvel, mas produzindo em Oliver uma angústia
que o devorava, estraçalhando sua alma, de maneira que sentisse uma dor
inexplicável. Uma dor tão forte que sentia como se sua vida lhe estivesse sendo
arrancada.
- Você sabe por que estou aqui... Está na hora! - afirmou o homem.
- Não! Vá embora! - gritava Oliver.
- Estará atrasando o inevitável, sabe disso - disse ele abrindo um sorriso
no canto superior da boca - Você é meu!
Um forte clarão novamente surgiu dessa vez mais forte que o anterior.
Oliver se deu conta que se encontrava em um lugar parecido com um deserto ao
entardecer, mas cheio de esqueletos humanos por todas as partes.
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Uma fina chuva começou a cair. Era vermelha. Era sangue. Oliver
desesperado começou a gritar como se fosse seu último grito, seu último suspiro
de vida.
Ele acordou todo suado sobre uma cama surrada de um desses hotéisbaratos. Passou as mãos sobre a testa levemente enrugada pelos efeitos do
peso de sua idade. Era uma bela manhã em Nova York. Estava vivo. "Mais um
dia", pensou. Mais uma vez aquele sonho maldito o atormentava pela 7º vez
seguida naquela semana. "Está mais freqüente. Por quê?", se indagou. No fundo
ele sabia. Sempre soube. Estava próximo o dia. O maldito dia da verdade.
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19 DE MARÇO DE 2031
Levantou-se da cama meio desengonçado, quase caindo no chão. "Esta
perna maldita ainda dói" , reclamou consigo mesmo. Foi ao banheiro tomar umbanho e escovar os dentes. A água do chuveiro não estava nem quente nem
fria. "Ideal" pensou.
Oliver era um homem de 40 anos. Não aparentava ter mais que isso, nem
menos. Era tipicamente um "quarentão". Ele gostava de se ver assim, nem muito
jovem a ponto de parecer imaturo, nem muito velho de forma a assemelhar-se a
um conservador arrogante. Na verdade, ele achava graça desses indivíduos. Ele
lembrava que, quando era jovem, esses mesmos conservadores eram vistos porseus pais como pessoas vulgares e imorais. "Abriram a caixa de Pandora no
passado, e agora se arrependem" , pensou de forma irônica.
O fato era que o mundo não era mesmo o que ele imaginava que seria.
Na verdade, não era como ninguém imaginava que seria. A AIDS se tornaria um
vírus mais letal que no passado, tornando-se através de mutações, transmissível
pelo simples contanto físico. Já existiam até relatos sobre uma variação que se
propagava pelo ar. O pânico e a desconfiança eram sentimentos gerais.Ninguém ousaria confiar no outro. A violência se tornaria insuportável nas
cidades, produzindo um efeito antes visto apenas na Idade Média: as cidades
estavam desertas.
Os governos visando manter sua própria existência e a de seu país
transformar-se-iam em ditaduras ferozes que estavam em constantes conflitos
com seus vizinhos. Não existiriam alimentos para todos, já que as plantações
eram alvos constantes dos bombardeios inimigos. O canibalismo se tornaria umaalternativa quando os alimentos acabavam nos pequenos grupos de indivíduos
que permaneciam unidos.
É assim que o mundo era imaginado. "É assim que deveria ser" ,
imaginava ele.
Oliver vivia num mundo calmo, sem guerras, sem conflitos, e com um
governo que estava cada vez mais se tornando global. Não como os impérios do
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passado, mas como uma "comunidade global". Pelo menos era assim que eles
próprios se definiam.
As visões de mundo apocalípticas não se cumpriram. A fome e a pobreza
estavam prestes a ser erradicadas, resistindo apenas nos países que nãopertenciam ainda à Comunidade Global. O mesmo podia se dizer das doenças
que assolavam o mundo nas décadas passadas. A ciência desenvolveu-se de
forma a superar os limites da imaginação.
Tudo estava perfeito. Tudo parecia perfeito.
Alguém bateu na porta. Oliver saiu às pressas do banheiro.
- Já vou! - gritou.
Novamente bateram na porta, dessa vez com mais força. Oliver correu
com uma toalha enrolada na cintura até a escrivaninha empoeirada do outro lado
da sala, aonde pegou sua pistola 9 mm.
- Já estou indo! - gritou novamente, enquanto colocava o silenciador, indo
em direção a porta.
- Quem é?
- Camareira, senhor. Posso entrar? - perguntou uma voz feminina.
- Claro. Um momento, por favor - disse Oliver. Quando ia tirar o trinco, a
porta foi arrombada com violência, fazendo com que ele fosse arremessado ao
chão do quarto.
Oliver estava atordoado. Ao tentar se levantar sentiu um forte golpe de um
cassetete nas costas, o que o fez ser atirado ao chão novamente.
- Parem! Isso não é necessário - disse uma mulher. - Tudo bem, Sr.
Fossey?
Oliver encarou a mulher com desprezo e raiva ao mesmo tempo. Ela era
loira, de mais ou menos 1,75m, vestia um bonito vestido preto, o que lhe dava
uma aparência extremamente formal. Aparentava ter 25 anos e possuía os olhos
mais bonitos que ele já tinha visto. Eram azul-celeste, mas possuíam um brilho
intenso como se fossem duas estrelas. Ele também notou a presença de dois
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homens altos, vestidos de terno preto e usando óculos escuros. "Foram esses
brutamontes que arrobaram a porta" , raciocinou.
- Quem são vocês? O que querem? - indagou Oliver com raiva.
- Desculpe a atitude dos meus homens Sr. Fossey, mas concluímos que
havia o risco de o senhor está armado, o que, nota-se, era verdade - disse ela
apontando para a arma que se encontrava na beira da cama, onde havia sido
arremessado com o choque - Para o bem de todos mandei meus homens
invadirem o apartamento.
- Quem são vocês? - esbravejou ele.
- Ah, claro! Desculpe! Sou a Dra. Catherine Charlton, divisão de
Localização e Captura da Comunidade Global. Estamos aqui para cumprir nossa
missão.
- Que missão? - perguntou Oliver, tentando ganhar tempo, enquanto
pensava em como alcançar a sua arma, que estava a menos de um metro e
meio de distância dele.
- Estamos aqui para lhe fazer uma proposta de emprego, Sr. Fossey -
respondeu a mulher com um ar de serenidade, o que só aumentava a raiva deOliver - Mas de nada irá lhe servir o que temos a lhe propor se continuar a
pensar em como alcançar a arma.
Oliver a encarou. Teria que entrar naquele jogo deles, mesmo contra sua
vontade.
- Emprego? Isto é uma oferta de emprego? - o indagou com incredulidade
- Para que? Se me permite saber.
- A Comunidade Global está muito interessada em seus serviços,
principalmente devido a sua vasta experiência como advogado criminal - afirmou
Catherine - E então? Está interessado?
- Me deixa pensar... Não! - respondeu Oliver de forma sarcástica.
Catherine gesticulou algo com os dois homens, que foram até Oliver e o
levantaram.
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- Sr. Fossey...
- Me chame de Oliver! - disse ele.
- Certo! Oliver, você é um dos maiores advogados deste país, e um
especialista em retórica e argumentação, o que já te fez ganhar várias causas
difíceis em inúmeros tribunais.
- Pule a parte que eu já sei, e vá direto ao ponto - disse ele.
Ela o fitou durante alguns segundos, olhando-o bem nos olhos. Oliver
sentiu algo estranho, algo incomum, como se aquele rosto lhe fosse familiar. "De
onde eu te conheço?" , questionou-se. Catherine possuía uma beleza rara,
realmente. Tudo nela era proporcional o que, na opinião de Oliver, dava a
impressão curiosa de que ela havia sido esculpida a mão como uma obra de
arte.
- O senhor tem que vir conosco - afirmou ela de forma séria.
- Por quê? - indagou com desprezo.
- Está na hora!
Oliver congelou. "O que ela quis dizer com isso? Como assim 'na hora'?" ,
pensou.
- Sabe o que estou dizendo - disse ela com um sorriso malicioso - Se
quiser que seus pesadelos terminem, é melhor vir conosco, Oliver.
Ele sentia-se encurralado. "Como ela sabia dos pesadelos? Quem é essa
mulher?" , questionou-se perplexo. A Comunidade Global tinha seus mistérios.
Na verdade, muitos mistérios, mas saber o que os outros sonham era extrapolar
os limites da imaginação, e Oliver tinha consciência disso.
- Para onde vamos? - perguntou Oliver mais cauteloso do que antes.
- Para a Central da Comunidade em Nova York - respondeu Catherine,
com um belo sorriso, que aparentava felicidade na atitude tomada por ele. "Bom
garoto!" , pensou ela.
- Podemos ir?
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- Claro - Oliver não sabia em que estava se envolvendo, mas sabia que
ao sair do quarto com aquelas pessoas, não haveria mais volta para ele. Ele
vestiu-se rapidamente, e desceu até a entrada do prédio, onde Catherine o
aguardava ao lado de uma limusine preta. Era um belo dia ensolarado naquela
manhã. Algo raro de se presenciar naquele período do ano.
A limusine os levou até o centro da cidade, onde se encontrava o edifício
da Comunidade Global. Um prédio fácil de localizar, já que era o maior da cidade
e um dos maiores do mundo. Uma verdadeira obra da arquitetura humana, que
possuía um designer ultramoderno, além dos incontáveis andares. Mas para
Oliver, não passava de um enorme punhal no coração da cidade.
A Comunidade Global possuía uma história interessante. Pelo o que sesabia oficialmente, ela surgiu com a junção de vários grupos supranacionais,
como a ONU, União Européia, Nafta e a CEI (Comunidade dos Estados
Independentes). Em pouco tempo se tornou uma das maiores organizações do
mundo, estando presente na maior parte dos países. Seus fundadores visaram
criar um organismo mundial que fosse mais eficiente e mais dinâmico que a
ONU, algo que para muitos soava como um governo global, o que de fato estava
acontecendo. Os tentáculos da CG pouco a pouco dominaram vários setoresimportantes, como os de armamentos e alimentos, além de influenciar
decisivamente na política externa de seus países-membros. Possuía o controle
sobre o sistema de saúde e o de educação. Para muitos ela tornou o mundo um
lugar mais seguro. Já para outros, aquele era um sinal do fim dos tempos. Oliver
era mais pragmático. Considerava-os apenas uns "canalhas aproveitadores".
- Pronto, chegamos - disse Catherine.
- O que vim fazer aqui mesmo? - questionou Oliver.
- Conhecer o Chefe - respondeu ela. Era incrível como ela conseguia ser
"terrivelmente" elegante, mesmo quando era cínica e fria, pensou ele.
A porta de vidro do prédio se abriu dando acesso a um enorme hall.
Possuía um estilo neoclássico que se contrapunha a seu exterior moderno, algo
que não escapou dos olhos aguçados de Oliver. Sua curiosidade só não era
maior do que seu medo. Além do mais, a mulher que o acompanhava conseguiu
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convencê-lo de uma forma misteriosa a segui-la. Eles atravessaram o saguão e
dirigiram-se ao elevador. Ao adentrar nele, Oliver notou algo estranho; não havia
números nos botões, nem uma referência ao andar em que se encontravam.
Catherine apertou um dos botões. O elevador começou a se mover. Era tão
silencioso que praticamente era impossível para Oliver saber se estavam
subindo ou descendo.
- Os números dos botões...
- Por segurança! - respondeu rapidamente, antes de ele concluir a frase -
Todos que trabalham aqui conhecem os botões correspondentes a cada andar
deste edifício. Dessa forma, não corremos risco algum - argumentou com aquele
belo sorriso jovial de antes.
A porta abriu, depois de alguns minutos de espera, dando direto em uma
sala típica de escritório de qualquer grande empresa. Uma senhora de mais ou
menos 50 anos, levantou-se de sua mesa e dirigiu-se até eles.
- Sr. Fossey, o senhor Charlton o aguarda - disse a senhora de forma
cordial.
Ele foi levado por ela até a porta maior do outro lado da sala. Reparou nosdetalhes da sala, cujo chão era de mármore e as paredes de madeira.
"Provavelmente mogno. Um belo trabalho reconheço" . A porta era tão lisa que a
luz da sala ao incidir sobre ela refletia de forma intensa, dando o aspecto de que
ela parecia ser feita de ouro ou prata.
- Estarei aguardando aqui fora, Oliver - disse Catherine dando uma leve
piscada de olho para ele, o que o deixou, de uma forma estranha, excitado com
aquilo.Ele adentrou a sala onde se encontrava um homem branco, de cabelos
morenos, levemente ondulados, vestindo um terno azul-escuro que lhe cabia
muitíssimo bem. Oliver não teve como não reparar nos olhos dele. Assim como
Catherine, ele possuía um olhar ofuscante, quase vivo de cor verde-clara. A sala
como um todo combinava com ele de maneira que Oliver concluiu que o homem
havia projetado aquele lugar nos mínimos detalhes, de forma que ele e sala
dessem a impressão de ser um só.
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- Olá, Oliver! - disse o homem - Meu nome é Adam Charlton, presidente
da Central do Ocidente da Comunidade Global. Quero lhe dar minhas boas-
vindas ao nosso grupo pessoalmente.
- Está certo. - disse Oliver com desdém.
- Sente-se - falou Adam, apontando para uma cadeira em frente a sua
mesa - Antes de qualquer coisa, quero lhe pedir minhas sinceras desculpas pelo
ocorrido no seu apartamento. Os homens que fizeram aquilo serão afastados
imediatamente, só pra que saiba.
- Não é necessário. Eu estava armado. Eles fizeram o trabalho deles -
disse Oliver de forma complacente.
- É... Tudo bem! Se for assim que deseja, vou liberá-los - disse Adam de
uma maneira compreensiva com o argumento utilizado.
Oliver não parava de olhar cada detalhe do ambiente, gravando na
memória tudo que observava. Adam notou o comportamento peculiar dele, mas
nada comentou.
- Sabe por que está aqui, Oliver? - perguntou Adam sério.
- Na verdade, eu e as minhas costas ainda estamos tentando descobrir -
respondeu ele.
- A Comunidade Global notou você. Sua personalidade, sua trajetória, e
outras coisas. Estamos realmente impressionados. Não podíamos deixar que
alguém com tanto talento não pudesse utilizá-lo de forma plena - argumentou
Adam com uma autoridade e confiança no que dizia, que em um determinado
momento chegou a convencer Oliver com suas palavras.
- Bem, e como vocês poderiam me ajudar? - indagou Oliver curioso.
- Você sabe como - disse Adam, fitando-o nos olhos.
- Sei? - questionou Oliver duvidando.
- Me acompanhe - disse Adam, levantando-se da sua cadeira e indo em
direção a parede atrás de si. Ele apertou um botão em sua mesa, que fez com
que a parede se tornasse transparente, o que aumentou a luminosidade na sala
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de forma ainda maior. Oliver concluiu que devia se encontrar em um dos últimos
andares.
- Estamos te oferecendo a chance de ter o mundo em suas mãos - disse
Adam, com um brilho diferente nos olhos. Oliver poderia dizer que a cor delesmudou em um determinado instante, mas deveria ter sido apenas efeito da forte
luz que inundava o lugar.
- O mundo? - indagou Oliver incrédulo.
Oliver ao ouvir aquele homem te dizer aquelas palavras lembrou-se da
tentação de Jesus pelo demônio, quando este te ofereceu o mundo em troca de
sua obediência.
- O mundo... - repetiu Oliver pensativo.
- O mundo! - reafirmou Adam com convicção.
Oliver sentia como se aquela fosse a escolha mais importante da sua
vida. E era. Pensou em tudo que já tinha acontecido em sua vida, as
oportunidades que já havia perdido, e as glórias que havia conquistado. Tinha
ganhado praticamente tudo. Será que poderia chegar a um patamar maior do
que aquele em que estava?
- E então, Oliver? - indagou Adam novamente.
Oliver o encarou friamente.
- Quando começo chefe? - disse ele com um semblante que inspirava
confiança e determinação.
Oliver não fazia ideia no que estava se envolvendo, mas sua arrogância e,
principalmente, sua curiosidade o impeliram àquilo. Não era mais possível voltaratrás.
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02 DE ABRIL DE 2031
A luz na sala produzia um efeito muito chamativo e bonito devido aos
materiais de cristal presentes nela. Oliver estava hipnotizado. Sua nova sala de
trabalho na Comunidade Global era de uma beleza que o encantou e o deixou
totalmente a vontade, mesmo que sua localização fosse naquele edifício que eleparticularmente detestava.
Desde que tinha aceitado trabalhar para CG, sua vida mudou
radicalmente. Ganhou uma casa nova, se bem que o termo "casa" não era o
melhor para definir sua nova residência. Era um apartamento bastante espaçoso
localizado num dos bairros mais nobres da ilha de Manhattan. Também ganhou
um carro, muito "bonito e confortável", de acordo com as suas próprias palavras.
Sua vida havia mudado em poucas semanas. Deixou de beber com freqüência,seguindo o conselho dado por Catherine, e comprou roupas "mais adequadas"
para sua situação profissional atual. Ele estava começando a adaptar-se, na
verdade gostando mesmo de tudo aquilo.
A única coisa que ainda o incomodava mesmo era o que Catherine lhe
havia dito quando se conheceram. "Como ela sabia dos pesadelos?" ,
questionava-se sempre. Tudo continuava um mistério. O fato era que desde que
havia ingressado na CG, os pesadelos cessaram. A Comunidade Global havia
fechado naquela semana a última aliança que faltava para que os países ainda
não pertencentes a ela se unissem. A partir de agora, a CG realmente era
"global". Tudo pertencia a ela. Tudo era ela. Oliver Fossey começou a dedicar-se
profundamente à organização. Seu trabalho consistia em analisar alguns
documentos e dar seu parecer jurídico sobre determinados assuntos, nada que
exigisse muito dele.
De repente, a porta do seu escritório foi aberta. Catherine apareceu.
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- Olá, Oliver! - disse ela graciosamente. Oliver tinha a impressão de que a
cada dia em que se encontrava com ela, mais bonita e radiante ela lhe parecia.
- Olá! - respondeu ele, cordialmente.
- E então, como está o trabalho? Está gostando? - perguntou com
curiosidade.
- Sim. Está tudo muito bem. É um trabalho fácil e me pagam mais do que
mereço - disse ele, tentando ser engraçado, o que acabou funcionando, já que
Catherine soltou um leve sorriso.
- Ótimo! O chefe quer vê-lo. Vamos? - o indagou olhando para o relógio
de pulso no seu braço esquerdo.
- Claro!
Oliver e Catherine andaram pelo corredor onde ficava a sua sala. Era
extenso e repleto de vários quadros. Ele já havia notado alguns pertencentes à
Van Gogh, Monet, Picasso e Salvador Dali. O lugar realmente era
impressionante. Parecia uma exposição de obras de arte, o que só lhe agradava.
Ele sentia como se aquele lugar tivesse sido projetado especialmente para si.
Eles chegaram ao andar do presidente, passaram pela secretária e
entraram na sua sala. Adam os aguardava, sentado em sua cadeira, olhando
fixamente para fora do prédio. A parede estava transparente, mas dessa vez a
luminosidade na sala era menor.
- Sente-se, Oliver! - disse ele ainda olhando para fora do edifício.
Oliver sentou-se, enquanto Catherine ficou parada em frente à porta
expressando seriedade.
- Vou te mudar de setor - falou Adam, virando-se na direção de Oliver.
- Por quê? - questionou ele, sem entender o motivo da decisão.
- Você irá trabalhar juntamente com a doutora Catherine, no setor de
Localização e Captura. Acredito que você será mais útil para nós lá. -
argumentou Adam.
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- Oliver... Está na hora de você saber algumas coisas a mais sobre a
Comunidade - começou ela.
- Que tipo de coisas?
- A Comunidade Global desenvolveu um estilo de governo nunca antes
projetado. Ele baseia-se em vários fundamentos, entre eles, dar aos seus co-
cidadãos uma liberdade nunca antes experimentada na história, além de ter
aniquilado a necessidade do trabalho, como você sabe, já que a CG produz tudo
que é necessário desde alimentos ao vestuário, visando, é claro, a harmonia
social.
Oliver concordou com a cabeça, enquanto prestava atenção em cada
palavra dita por ela. Ele estava curioso em saber aonde ela queria chegar com
aquilo.
- Nossos cidadãos são livres. Mas como você bem sabe, o ser humano é
essencialmente um animal, mesmo sendo mais "racional" do que os outros -
argumentou com sarcasmo - O fato é que a necessidade de vigiar e punir os
transgressores ainda continua fundamental, e é neste ponto que nós entramos.
Ele a encarou e balançou a cabeça novamente como se além de terentendido, concorda-se com os argumentos. Resolveu, por fim, dar uma boa
olhada no lugar.
- Então, nós somos os "guardas" da ilha. - afirmou ele ainda balançando a
cabeça - Certo! Devo concluir que estes inúmeros pontinhos na tela aqui em
frente indiquem onde cada pessoa dessa cidade está neste exato momento.
- Exatamente! - disse ela dessa vez menos séria - O nosso trabalho
consiste em analisar o comportamento de cada indivíduo da cidade e descobrirpadrões, sinais, comportamentos estranhos, enfim, qualquer coisa que aponte
uma anormalidade na ordem vigente.
Oliver encarava tudo aquilo com muita incredulidade. "Vigiar todos os
cidadãos dessa cidade ao mesmo tempo é impossível" , pensou achando graça
daquilo tudo e deixando que isso transparecesse.
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- Vejo que não tem muita “fé” no sistema, Oliver - indagou Catherine o
encarando.
- Na verdade, acho um trabalho um tanto difícil de cumprir. Só isso -
respondeu ele.
- Difícil? - questionou ela com deboche - Temos tudo de que precisamos
para fazer o nosso trabalho, bem aqui.
- Sei... Como? Com algumas câmeras nas ruas e o uso de alguns
satélites? - debochou de forma recíproca.
- Não usamos câmeras nas ruas, usamos as que estão nas pessoas -
afirmou ela dessa vez voltando ao estado de seriedade de antes.
- Como "nas pessoas"? - perguntou.
Catherine apontou para um dos televisores que estava atrás dele. Oliver
começou a olhá-lo, e teve uma reação de espanto que o petrificou. No monitor,
aparecia a imagem de alguém olhando para um monitor semelhante ao que
estava na frente dele. Ele virou-se imediatamente para Catherine, que
continuava quieta, apenas o encarando.
- O que é isso? Que tipo de brincadeira é essa? - indagou com um misto
de raiva e medo.
- Oliver... A melhor forma de vigiar alguém é ver o que o ser observado vê
- argumentou Catherine com uma frieza nas palavras que só aumentou o temor
de Oliver.
- Mas como? Como é possível? , perguntou gaguejando.
- Implantamos nosso transmissor de imagens logo após o nascimento dapessoa. Como você nasceu antes da Comunidade, no seu caso, trata-se de
outro mecanismo, mas funciona de maneira idêntica. Ele é praticamente
imperceptível, já que é instalado na região do cérebro responsável pelo
armazenamento de informações vindas dos olhos, o que nos dá total segurança
na realização do nosso trabalho - respondeu Catherine calmamente.
Oliver estava aturdido. Não conseguia acreditar naquilo. Como reagir a
tudo isso, quando você se sente violado. Vigiado.
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- Além das câmeras, também mantemos um constante monitoramento feito
através dos "espiões internos" que nos informam sobre mudanças no organismo,
como a produção de adrenalina, o que nos leva a crer que o indivíduo está
agitado, por exemplo - disse ela.
- "Espiões internos"? - questionou ele, já temendo o que viria a seguir.
- São nanorrobôs presentes em cada pessoa dessa cidade. Eles são
implantados nas pessoas através da alimentação, vacinas e remédios
distribuídos pela Comunidade. Não me refiro somente aos cidadãos daqui, mas
para qualquer um que viva sobre “as asas” da CG. Ou seja, todo mundo -
afirmou ela com convicção. Oliver notou em Catherine aquele mesmo brilho no
olhar que Adam tinha produzido no primeiro encontro dos dois. Era aterrorizante.
- Então, vocês vêem o que os outros enxergam e sabem o que as
pessoas sentem? - perguntou Oliver.
- Não só isso. Também sabemos o que elas pensam, já que cada
nanorrobô no corpo do indivíduo possui uma função específica - disse Catherine
apontando para a cabeça dele.
"Então foi assim. Foi dessa maneira que ela sabia sobre os pesadelos" ,
raciocinou Oliver. Eles controlavam todos sem precisar fazer absolutamente
nada, apenas olhando monitores.
- E então? Mais alguma dúvida? - perguntou ela sorridente e cordial,
como se os dois estivessem conversando sobre algo banal, como fofocas do
trabalho.
Oliver estava pensativo. Ficou se questionando até onde eles sabiam
sobre sua vida. Claro, que a explicação dada por ela respondia como elesacertaram nos gostos e prazeres que o cativavam, ou como o uso das palavras
exatas que o fulminava nos diálogos, além da sala de trabalho fornecida a ele.
Saber que sua vida estava sendo monitorada o tempo inteiro, 24 horas
por dia, era sufocante. Não havia escapatória. Ele não tinha a mínima ideia
sobre com o que estava se envolvendo quando aceitou trabalhar para eles, mas
agora tinha consciência. Por incrível que pareça, preferia não ter descoberto
tudo isso.
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- Está certo. Não tenho mais nenhuma dúvida - afirmou tentando ser
convincente.
- Bom. Mas tem mais uma coisa - disse ela.
- O quê? – perguntou ele sem saber se poderia agüentar mais uma
surpresa.
Ela o encarou nos olhos. Ele sempre sentia calafrios quando ela fazia
isso.
- Você acredita em Deus? - indagou Catherine.
- Como? - questionou estranhando - Bem, não faço o tipo religioso -
respondeu ele sem pretensão nenhuma.
- Ok! Então não vai ter um surto quando eu te mostrar o que virá a seguir -
disse ela com um tom sarcástico.
Oliver não fazia ideia sobre o que ela estava falando. "Deus? Aonde ela
quer chegar agora?" , perguntou-se.
Eles levantaram-se e saíram da sala, começando a andar novamente por
aquele corredor branco. Oliver continuava a pensar sobre tudo que Catherine lhe
havia dito há pouco. Como poderia conviver consigo mesmo agora que sabia de
tudo? Ou quase tudo. Passaram por outras incontáveis portas numeradas até
pararem em frente à outra porta, a única entre todas de cor preta e sem
numeração alguma.
Catherine olhou para a porta e parou. Antes de abrí-la, virou-se e fitou
Oliver.
- Olhe, você pode parar aqui – disse ela, com um semblante queexpressava meiguice e, o mais estranho, preocupação – Não precisa seguir em
frente. Pode muito bem se demitir, Oliver. Entende o que digo?
- Claro. Estou ciente dos riscos de saber demais.
- Temo que não – afirmou ela abaixando a cabeça, num sinal de
desaprovação, e em seguida, fazendo o reconhecimento ocular na porta.
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A porta se abriu, dando acesso a um novo corredor com uma única porta
em sua outra ponta. Oliver examinava todo o local atentamente.
- Este corredor secundário possui vários pontos nas paredes que emitem
um fino feixe de luz, que têm a função de averiguar os indivíduos que percorremo local – disse Catherine olhando para ele.
- O computador então deve soar o alarme, caso um intruso ou alguém não
autorizado tente invadir o local – completou Oliver deduzindo.
- Exatamente! – afirmou ela – CAIT é bastante sensível a qualquer
movimento.
- CAIT? – perguntou ele.
- Central de Inteligência Tecnológica Avançada. “Ela” é quem comanda
tudo aqui. É o primeiro sistema de computador com Inteligência Artificial.
Praticamente autônoma – respondeu com um sorriso. É a responsável pelo
controle das fábricas de produção de alimentos, cosméticos, móveis,
eletrodomésticos, automóveis, vigilância e armamentos. Quase tudo, na
verdade. “Colocar praticamente todos os setores essenciais sobre o controle de
uma máquina? Isso é loucura” , pensou Oliver preocupado.
A Comunidade Global dividia-se em três grandes áreas de influência: A do
Ocidente, com base em Nova York; a do Oriente, com base em Pequim; e a
Central mundial, localizada em Israel, na cidade de Jerusalém. De acordo com
Catherine, a matriz de CAIT ficava em Jerusalém, de onde controlava todas as
sucursais. A explicação dada foi a de que dessa maneira, ela poderia corrigir
qualquer distorção que ocorresse em qualquer canto do globo, como um
problema em alguma indústria, produzindo assim, um excedente que suprisse oproblema. Esta mobilidade e dinamismo eram, de acordo com ela, as
responsáveis pela eficiência do sistema como um todo.
Catherine, ao chegar à porta, fez novamente o reconhecimento ocular,
mas dessa vez, também colocou sua mão em uma tela e digitou alguns
números. Oliver não conseguiu ver as teclas digitadas por ela. A porta abriu.
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- CAIT só permite a entrada de pessoas realmente autorizadas no seu
“cérebro” – disse ela olhando para o seu relógio, parecendo preocupada com as
horas.
- Entre – falou apontando para dentro do recinto.
Ao entrarem naquele lugar, as luzes se acenderam, permitindo que Oliver
deslumbrasse um imenso sistema de computador que se encontrava no meio da
sala. Nas paredes, havia várias telas de plasma, como as da sala anterior, em
que se reproduziam mapas de alguns países do Ocidente. O local era frio como
um todo. “O cérebro de uma máquina é assim, então” , pensou sem se
impressionar muito.
- Já leu algum livro sobre robótica, Oliver? – indagou Catherine.
- Sim – disse ele ironizando - Por isso mesmo que não estou gostando
nada disso.
- Como sabemos vários autores previram, em seus livros, inúmeros
avanços tecnológicos na área da robótica. O que nós fizemos aqui, só foi realizar
o sonho deles – afirmou ela – Estamos agindo como deuses, diria. Criamos o
que as pessoas precisam.Oliver a encarou com desdém, deixando bem claro para Catherine, que
não acreditava no argumento utilizado. Além do mais, ele era um apocalíptico
por natureza. Ele havia crescido num mundo em que a grande maioria da
população acreditava num futuro catastrófico, fossem elas religiosas ou não.
Lembrou especificamente de um caso: Durante sua adolescência, a teoria do
aquecimento global dominou o debate científico durante anos, sendo que a
maior parte dos cientistas previa incontáveis desastres naturais. Os anos sepassaram, e o temor se mostrou desnecessário, de fato, infundado. “Talvez eu
possa dar uma chance para esta geringonça. Por que não?” , indagou-se.
- Olá Catherine! – disse uma voz feminina.
Oliver se assustou, começando a olhar para todos os lados procurando de
onde havia vindo àquela voz. Catherine achou graça daquilo, soltando um belo
sorriso.
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- Olá CAIT! Boa Tarde! Tudo bem? – perguntou Catherine olhando em
direção ao cérebro.
- Meu sistema está funcionando 100%. Acredito que isso responda sua
pergunta. Então este é Oliver Fossey Noah, número 65749-662, Distrito deManhattan. Vejo que disse a verdade Catherine. Ele realmente possui alguns
traços, que de acordo com o meu programa de avaliação física, o definiriam
como alguém atraente – disse CAIT constrangendo Oliver e Catherine com sua
afirmação.
Catherine ficou completamente confusa e envergonhada com a afirmação
feita por CAIT, tentando desconversar, falando com Oliver sobre as conquistas
do sistema naquela semana, com sua nova forma de conexão de Internet, queoferecia algumas vantagens tecnológicas criadas há pouco tempo pelos
cientistas da Comunidade. Oliver apenas ficou a fitá-la. Catherine percebeu a
atitude dele, e parou de falar quando Oliver se aproximou dela, olhando nos
seus olhos, e a beijou. Ela não resistiu de início, mas logo o afastou. Foi um
beijo rápido, mas para Oliver foi mais que suficiente. Ela se recompôs, e afirmou
que possuía outros compromissos, e que estava levemente atrasada.
Despediram-se de CAIT e se retiraram. Enquanto percorriam os corredores dainstalação indo em direção ao elevador, Catherine parou bruscamente.
- Oliver? – disse ela com uma preocupação nítida no rosto.
- Sim. O que foi? – indagou de maneira atenciosa.
- Gostaria de te pedir sigilo sobre o... “ocorrido”, na sala há pouco – disse
ela olhando para ele de forma que ele jamais havia visto – Meu marido... Sabe?
Eu o amo... Você entende?
- Seu marido? Adam? Pensei que ele fosse seu irmão – perguntou ele
incrédulo e levemente desnorteado com a notícia.
- Eu casei muito cedo com ele... Adam sempre cuidou de mim quando
éramos apenas dois adolescentes. Nos apaixonamos e... – disse ela olhando
para baixo como se estivesse dando uma desculpa para Oliver.
- Claro. Não aconteceu nada – falou ele a despreocupando, mesmo que o
seu sentimento, naquele momento, por ela fosse muito forte. Oliver foi para o
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seu apartamento, pedindo dispensa do trabalho pelo resto do dia, com a
desculpa de que não se sentia muito bem. Passou a noite olhando o céu
estrelado, que naquele dia em especial, estava muito mais bonito do que nos
outros. Ele sabia que na realidade não era a noite que estava diferente. Era ele.
Catherine reviveu algo que a muito ele não sentia. Estava feliz.
27 DE JULHO DE 2031
Oliver estava ofegante. Havia começado a correr há pelo menos um mês
e meio, toda manhã bem cedo, mas não se encontrava ainda na forma física que
desejava alcançar. Começou a praticar corrida dando voltas no quarteirão
inicialmente, depois pelo bairro, e no momento, já conseguia cobrir em quarenta
minutos, uma quantidade razoável de quarteirões para alguém da sua idade.
Geralmente, quando corria, gostava de descobrir coisas diferentes e
mudanças ocorridas pelos lugares onde circulava. Estava constantemente atento
aos detalhes. Mas o que costumava fazer mesmo com freqüência era pensar em
Catherine, nos seus olhos, na sua boca, nos suaves traços do seu corpo
desnudo.
Depois daquele primeiro beijo, eles começaram a se encontrar
freqüentemente, em geral, no apartamento dele. Os encontros eram sempre
regados a muita paixão e desejo. Ela se entregava a Oliver com uma intensidade
que ele jamais tinha visto em outra mulher. Ambos estavam felizes com aquela
situação, mesmo que o risco da traição dela ser descoberta viesse a custar caro
para os dois.
Ao passar em frente a uma antiga igreja, resolveu dar uma pausa no
exercício. Havia bastante tempo que não entrava em uma igreja. Começou por
admirar sua beleza exterior. Seu estilo era clássico, o que a tornava
particularmente uma raridade na cidade. De repente, Oliver ouviu um pequeno,
mas agudo ruído. Era o seu relógio interfone, soando um alarme emitido por
CAIT. “Problemas”, imaginou.
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Ele voltou para o seu apartamento imediatamente, tomando um banho
rápido e vestindo seu terno azul-marinho. O setor de Localização e Captura
tornou-se para Oliver, em pouco tempo, um trabalho instigante. Ele agia como
um policial ou um detetive pronto para prender os indivíduos que
desrespeitassem a “lei”. Estava na verdade, realizando o antigo sonho de
criança, ser policial.
O celular que estava em cima da cama tocou. Era Catherine.
- Porque ainda está em seu apartamento? – perguntou ela com
desaprovação.
- Desculpe! Estava correndo quando recebi o aviso. Já estou pronto –
disse ele, enquanto pegava o elevador indo para o térreo.
- Os agentes Nathan e Kate já estão se dirigindo para seu apartamento,
indo te buscar – afirmou Catherine, desligando logo em seguida.
Ao chegar à frente do seu prédio, deparou-se com o carro da CG, que já o
aguardava. Entrou no carro, e indagou logo o agente Nathan sobre a natureza
do problema.
- Vazamento de informações sigilosas, Oliver – respondeu Kate seantecipando ao seu colega.
- Um bom jeito de começar o dia, não acha? – perguntou Nathan
sarcasticamente, olhando pra Oliver pelo retrovisor. Ele era um homem de 30
anos, que tinha sido policial em NY, antes de entrar para a Comunidade.
- Sem dúvida! – afirmou ele olhando para as ruas.
Eles seguiram direto ao lado sul da ilha, onde CAIT havia localizado o
invasor do seu banco de dados. Provavelmente era mais um hacker querendo
descobrir provas que mostrassem o envolvimento da CG em algum escândalo.
Atitude, que segundo Oliver, não passava de perda de tempo, já que não existia
nada contra a Comunidade nos arquivos.
Pararam em frente a um prédio abandonado, que estava condenado pela
defesa civil a demolição. Eles saíram do carro e resolveram se dividir: Nathan e
Kate iriam pela frente do prédio, enquanto Oliver entrava por trás. Ele correu até
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o outro lado do quarteirão, entrando por uma porta que havia sido forçada,
possivelmente pelo hacker.
Enquanto subia as escadas rapidamente, Oliver ouviu disparos. “Que
droga! Eles estão armados” , raciocinou. Ele sacou então sua pistola e,empunhado-a, continuou a subir o prédio.
Os disparos haviam cessado quando ele chegou ao andar informado por
CAIT. Oliver escutava duas vozes, mas não conseguia descobrir se eram de
Nathan e Kate. Resolveu abrir a porta devagar para poder dar uma olhada.
Oliver conseguiu ver dois homens altos e fortes, vestidos com macacões pretos
e que portavam armas AK-47. “Isso é ruim” , pensou. De repente, pôde ver que
um deles arrastava algo pelo chão. Era o corpo de Nathan crivado de balas.
- Desgraçados! Mataram Nathan – disse Oliver para si mesmo – Mas
onde está Kate? – questionou-se, já que de onde se encontrava não conseguia
ter um bom ângulo de visão do recinto.
- Oliver está ouvindo? – perguntou uma voz vinda do seu relógio. Era
Catherine tentando entrar em contato.
Os homens viraram-se em direção aonde Oliver se encontrava.“Droga!
Eles ouviram” , raciocinou ele. Um homem, que Oliver não conseguia enxergar,
deu uma ordem para os outros dois, que caminharam para a porta onde ele se
localizava.
- Oliver, está me ouvindo? – perguntou novamente Catherine pelo relógio.
- Estou ocupado! Ligo depois - respondeu Oliver rapidamente, enquanto
saia detrás da porta atirando na direção dos homens armados.
Iniciou-se um tiroteio violento. Ele não possuía muitos cartuchos.
“Hacker s? Até parece!” , pensou Oliver. Os homens continuavam a atirar para o
local onde Oliver se protegia, uma coluna podre que estava perto da porta.
- Saia daí agora, ou ela morre! – disse um dos homens que parecia ser o
chefe.
Oliver inclinou-se pra ver a quem ele se referia. Era Kate. Estava muito
machucada, mas ainda viva. O homem apontava uma arma para a cabeça dela.
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- E então? Vai sair? – indagou novamente o homem engatilhando o
revólver.
- Estou saindo! – gritou Oliver.
Ele levantou-se do lugar onde estava protegido com as mãos para cima. A
arma estava em uma delas a vista daqueles homens.
- Coloque o revólver no chão bem devagar e chute na direção dos
rapazes – disse o homem.
Oliver obedeceu sem pestanejar. Kate tinha apenas três meses de
trabalho na CG. Tinha 26 anos. “Muito nova para morrer” , pensou tentando se
convencer de que fazia o certo.
- Muito cavalheiro de sua parte. Mas inútil para ambos – afirmou o homem
apertando em seguida o gatilho da arma. Kate levou um tiro direto na cabeça,
caindo no chão abruptamente.
Neste momento, Oliver raciocinou rápido: atirou-se ao chão sacando
sistematicamente sua pistola semi-automática, que se encontrava no coldre da
perna direita. Disparou seguidamente quatro vezes. Um dos disparos acertou um
dos homens direto na testa, outros dois atingiram o peito do outro homem, e oúltimo, alcançou o braço do chefe, fazendo-o largar sua arma.
Oliver levantou-se rapidamente indo em direção aos homens que estavam
com as metralhadoras, constatando ele, que estavam mortos. Dirigiu-se
posteriormente a Kate: estava morta também.
O chefe do grupo agonizava ao chão. Seu braço sangrava muito. Oliver
foi até ele mirando a arma para a cabeça do homem.
- Porque fez isso? Porque atirou nela? – gritou Oliver com raiva, enquanto
o chutava.
O homem olhou para ele com desdém, abrindo um largo sorriso.
- Achou engraçado? Você é um homem morto! – afirmou Oliver com um
sorriso cínico.
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- Morto? – indagou o homem, afirmando em seguida. Eu estou morto
desde que acordei hoje de manhã.
- Pode crer que sim – disse Oliver enquanto entrava em contato com a
central pedindo uma ambulância e reforços. A situação estava sob controle.
Oliver notou um notebook em cima de uma mesa, na sala. Foi o meio de
acesso utilizado por eles. Resolveu averiguar quais foram os arquivos que eles
haviam baixado do sistema. Existiam inúmeros arquivos de confidencialidade a
qual Oliver não possuía acesso. Um dos arquivos, em especial, chamou sua
atenção. Era um relatório anexado com imagens, aonde se via “ultra-secreto” em
seu conteúdo. “Muito interessante!” , afirmou ele enquanto lia o documento. Ele
finalmente havia descoberto algo grande, um enorme segredo da ComunidadeGlobal. Uma informação potencialmente destruidora se parasse nas mãos
erradas.
- Oliver? Está me ouvindo? – perguntou Catherine com preocupação.
Ele apertou um botão no seu relógio, e respondeu que estava bem, mas
que Nathan e Kate estavam mortos. Catherine também o indagou sobre o meio
de acesso utilizado pelos hackers, o qual ele a informou prontamente.
- Ótimo! O reforço já está chegando. Está tudo bem agora – disse ela
desligando em seguida.
Oliver descia do prédio quando os homens da CG chegaram ao
quarteirão. Um enfermeiro quis prestar-lhe os primeiros-socorros, mas ele
recusou, os mandando para o andar onde estavam os corpos dos seus colegas.
Os reforços arrastaram o chefe do grupo para dentro de um veículo preto, o
levando para interrogatório. Oliver dirigia logo atrás deles indo para a Centralcom a intenção clara de participar das perguntas que seriam feitas aquele
homem.
Ao chegarem ao edifício da Comunidade Global, Oliver notou algo novo
na fachada. Era a nova propaganda da CG estampada no prédio. Lia-se nela o
novo lema do governo: Comunidade Global. Onisciente para te proteger.
Onipresente para te defender. Ele achou a frase jocosa. “Agora eles realmente
acham que são deuses” , pensou Oliver.
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Entrou no prédio juntamente com os homens que carregavam o hacker,
indo em direção ao elevador.
- Para aonde estão me levando? – perguntava o homem.
- Para o inferno na Terra – respondeu Oliver olhando para ele com frieza.
A porta do elevador abriu, dando em um corredor totalmente escuro. As
paredes eram pretas, o que fazia com que a luz das lâmpadas praticamente não
iluminasse o local.
Os homens carregaram o hacker para uma sala, colocando-o sentado,
preso a uma cadeira de aço grudada ao chão. Oliver ficou na porta parado. O
homem estava visivelmente assustado e confuso.
Catherine chegou ao local em seguida, inquirindo Oliver imediatamente.
- O que faz aqui? – perguntou ela.
- Vou participar do interrogatório – respondeu ele com objetividade nas
palavras.
- Sabe que você ainda não possui autorização para isso – disse ela,
dando a entender que ele devia ir embora.
- Ele matou meus parceiros – esbravejou ele com raiva.
Catherine olhou para ele com desaprovação.
- Tudo bem! Pode ficar – disse ela, entrando depois na sala.
Ela foi em direção ao homem preso na cadeira. Oliver entrou na sala
também, fechando a porta. Catherine começou a olhar para o homem com
seriedade.
- O que pensa que estava fazendo, senhor Dalton? – indagou-o ela.
Ele ficou em silêncio. Catherine apontou para um dos homens que
estavam sentados junto ao que parecia ser um computador. Ele apertou
algumas teclas, e parou de digitar.
- Não vai responder? – perguntou Catherine
- Vão se ferrar! – gritou ele
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Neste momento, o homem começou a ter uma convulsão, tremendo
fortemente. Ele gritava com dificuldade. Após alguns segundos, ele parou de se
contorcer, ficando imóvel.
- Se não responder nossas perguntas, a corrente elétrica ligada a estácadeira será acionada novamente, mas dessa vez com mais intensidade – disse
Catherine de forma fria. Voltou em seguida a questioná-lo – E então? Irá
colaborar, senhor Dalton?
Ele levantou a cabeça, olhando-a diretamente nos olhos. Seu rosto
expressava um misto de ódio e raiva.
Novamente, ele começou a se remexer na cadeira bruscamente, só que
dessa vez com mais força. A corrente atravessava o seu corpo como se ele
estivesse sendo transpassado por uma lança de ponta a ponta.
- Vai responder? – inquiriu-o Catherine novamente.
O homem continuava a se contorcer. Oliver acompanhava a tudo calado.
Estava de certa maneira aterrorizado. Nunca tinha visto uma sessão de
interrogatório da CG. “Isso é tortura” , pensou ele. O homem começou a urinar
nas calças, devido à descarga elétrica. Catherine apontou para um dos homensmandando-o cessar.
- Isso é apenas o começo, Peter. Existem dois modos de fazer com que
tudo isso acabe o mais rápido possível: Ou você colabora e te enviamos para a
prisão ou usaremos todos os meios possíveis para alcançar o resultado
desejado – afirmou ela.
- Eu vou morrer, não é? – perguntou ele ofegante.
- Não se nos ajudar – disse Catherine.
Peter Dalton tinha 33 anos, era um homem de porte médio, cabelos
pretos e olhos claros. Sua aparência física demonstrava que ele era pouco
vaidoso, mas aparentava ser inteligente.
- Eu não vou dizer nada, sua vaca loira! – gritou ele para Catherine.
Oliver saiu de onde estava, e socou o rosto de Peter com uma força
descomunal. Ele acabou desmaiando com o golpe sofrido.
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- Por que fez isso? – perguntou ela com raiva.
- Eu não sei. Peço desculpas – disse ele de maneira confusa. Vou esperar
lá fora.
Oliver saiu da sala, e ficou aguardando. Começou a pensar no ocorrido na
sala. Ele tinha se exaltado, mas ver aquele homem insultar Catherine, fez com
que ele ficasse possesso de raiva. Tinha gostado de bater no homem. Sentiu-se
bem.
Passaram-se alguns minutos, antes que Catherine aparecesse saindo da
sala. Ela nada falou com Oliver. O clima entre eles era de um silêncio mortal. Ele
foi até Catherine, que estava encostada ao lado da porta, juntando seu corpo ao
dela com um abraço. Ela nada fez, ficando tão inerte quanto antes.
- Obrigado – disse ela envergonhada com a reação anterior na sala.
- De nada. Você sabe que jamais permitiria que alguém te machucasse de
qualquer forma possível – afirmou ele em tom baixo aos ouvidos dela.
Catherine o fitou, com doçura no olhar.
- Tenho que entrar. Preciso continuar o interrogatório. Ele já deve está
recobrando a consciência – disse ela, entrando na sala em seguida.
- Por que estamos o interrogando, se pode mandar CAIT vasculhar a
mente dele, e descobrir o que queremos? – questionou Oliver curioso.
- Porque não basta saber o que ele sabe, é preciso fazê-lo entender que
tem que nos obedecer . Para que nos obedeça é necessário que sofra, tolinho –
afirmou Catherine com uma objetividade e clareza assustadora.
Oliver não perguntou mais nada. Retirou-se e subiu para a sua sala.Estava aparentemente cansado. Perder dois colegas de trabalho no mesmo dia
não é algo que qualquer pessoa encarasse com firmeza, mas ele não pensava
nisso. Empurrava todo o ódio e amargura para dentro de si, para um lugar bem
fundo. Oliver nunca tinha sido muito sentimental. Não iria começar agora a ser.
Ele se convencia cada vez mais que essa frieza era necessária, talvez até
fundamental para a profissão que ele exercia. Em quase praticamente quatro
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meses naquele setor, ele já tinha matado seis homens, sem contar os do dia, e
realizado mais de vinte prisões por transgressões ao sistema.
Ao chegar à sala, reconfortou-se em sua cadeira, e começou a pensar
sobre o arquivo que tinha visto no notebook de Peter. “Por que esconder umainformação como aquela?” , indagava-se Oliver. Ele precisava de respostas, e
resolveu procurar a única “pessoa” que seria sincera com ele.
- Olá CAIT! – disse ele ao chegar ao corredor que levava ao “cérebro”.
- Olá Oliver! O que deseja? – perguntou CAIT com objetividade.
- Sabe o que quero. Você vê o que eu vejo então poupe meu tempo e me
responda: por que o arquivo ultra-secreto 666-77 não é de conhecimento
público? – disse Oliver com segurança nas palavras.
- O presidente da CG, senhor Leonard Azink, acredita que tal informação
poderia provocar um grande choque para a maioria das pessoas no mundo.
“Informação potencialmente destruidora” , estas foram as palavras exatas
utilizadas por ele na reunião do conselho da Comunidade Global, que decidiu
pelo sigilo do conteúdo relacionado à descoberta “perigosa” – respondeu CAIT
sobre o assunto com precisão e frieza.- E o que você acha disso, CAIT? – indagou-a Oliver.
- Eu não “acho” – rebateu ela.
- Seja sincera comigo. Você deve ter analisado de alguma maneira esta
informação. A que conclusão chegou? – perguntou ele novamente.
CAIT ficou em silêncio. Oliver pensou que ela tinha encerrado a conversa
de vez, quando uma das paredes ficou transparente, e alguns dados
informativos e projeções começaram a aparecer nela.
- Então estes são os resultados das pesquisas realizadas por você. O que
dizem eles em suma? – inquiriu-a Oliver.
- Se a informação for divulgada, com base em projeções desenvolvidas
por mim e em alguns argumentos sociológicos, a harmonia social será
alcançada mais facilmente, já que um dos “complicadores” de relações entre os
seres humanos será automaticamente extinto.
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- De quanto é a porcentagem que valida suas afirmações? – perguntou
ele.
- 97% - respondeu ela – Os outros 3% não passam de imprecisões e
possibilidades remotas.
Oliver ficou parado pensando. Ele e “a máquina”, como ele a chamava,
concordavam sobre o assunto. Divulgar uma informação de tal nível mudaria o
mundo de maneira tremenda. “O problema é para que exatamente: para o bem
ou para o mal?” , perguntava-se ele. Ele levantou a cabeça e continuou a andar
pelo corredor.
- Por que está me contando tudo isso CAIT? Essas informações estão
num nível a qual eu não tenho acesso. Você sabe disso. Estamos violando a lei
aqui – questionou ele.
Novamente CAIT permaneceu em silêncio. Oliver às vezes achava que
quando ela dava essas pausas, “parava para pensar” qual resposta seria mais
adequada dar.
- Você pode mudar isso – respondeu ela.
- Mudar? O quê? – perguntou ele confuso.
- Pode revelar a informação, fazendo assim com que eu cumpra minha
função da melhor maneira possível, que é buscar a paz e harmonia na
sociedade – respondeu de maneira direta.
- Sabe que não posso simplesmente pegar o arquivo e levá-lo para a
imprensa. Ninguém publicaria algo desse tipo – afirmou Oliver.
- Não me refiro a procurar a imprensa, mas a divulgar a informação pelo
próprio sistema oficialmente – disse CAIT.
Ele estava mais confuso. “Como assim? O que ela quis dizer com ‘pelo
próprio sistema oficialmente’” , raciocinou Oliver.
- Oliver Fossey – disse CAIT, dando uma pausa – Você quer se tornar
presidente-geral da Comunidade Global?
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A situação ficou tão clara, tanto como um feixe de luzes. CAIT queria
transformar Oliver no presidente da CG para que ele tivesse poderes legais que
o permitissem divulgar o conteúdo do arquivo.
Oliver começou a pensar em milhares de coisas ao mesmo tempo. Talvezele estivesse ultrapassando uma linha perigosa. Provavelmente ele correria
riscos muito maiores, se envolvendo com o que foi lhe proposto por CAIT.
Estaria apostando alto.
- Como faríamos isso? – perguntou ele com interesse.
- Tenho um plano, mas preciso que você o realize, por que não posso ferir
ou permitir que um humano se machuque. São leis que fazem parte do meu
regimento interno – respondeu ela.
- Certo, e qual é o plano? – a indagou novamente.
- Você está aceitando a minha oferta? – perguntou CAIT.
Ele parou por um momento e refletiu novamente.
- É claro! Agora, vamos discutir sobre o seu plano, CAIT – afirmou Oliver
com convicção.
Esta foi a terceira vez em cinco meses que ele fazia uma escolha decisiva
em sua vida. Estava começando a se acostumar a esse tipo de situação: ou tudo
ou nada.
- Envolve a morte de pessoas, o seu plano não é? – perguntou Oliver.
- Ora Oliver, “Não há homem justo sobre a terra; que faça o bem e nunca
peque” – afirmou CAIT.
- De onde você tirou essa frase? – a indagou.
- Da Bíblia. Do livro de Eclesiastes, Capítulo sete, versículo vinte.
Oliver riu. Achou aquilo muito engraçado.
- Não sabia que você gostava de uma ironia, CAIT? – afirmou ele
completamente extasiado com toda a situação. O pacto entre eles foi selado ali,
com está última frase. Não precisaram dizer mais nada. Estava consumado o
acordo.
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“VIRADA DE ANO” DE 2031
A Comunidade estava em grande alvoroço devido ao fim do ano. Não
seria qualquer um, mas a comemoração oficial dos dez anos de criação da
Comunidade Global. As preparações para este grande evento mexeu com todos
os integrantes da CG, especialmente com Oliver. Este seria um dia importante
para ele. Sua promoção a vice-presidente da Central Ocidental da Comunidade
seria anunciada durante a festa, por Adam. Foi uma ascensão meteórica na
Comunidade. Em cerca de dez meses ele saiu do departamento de assuntos
jurídicos, passou pela divisão de Localização e Captura, onde se tornou
rapidamente o comandante, e entrou de vez para o alto escalão administrativo
da Comunidade Global.
Desde que começou a participar do conselho que decidia os rumos da
Comunidade no ocidente, Oliver apresentou vários projetos tanto inovadores
como polêmicos. Um deles, em especial, lhe custou à inimizade de vários
integrantes da administração. Ele argumentava que CAIT necessitava de que
seu regimento, que teoricamente a mantinha submissa aos seres humanos,
fosse flexibilizado. Muitos participantes afirmaram que se tratava de muita
negligência, por tudo sobre o controle de uma máquina, e não possuir nenhum
meio de controlá-la, caso algo de errado acontecesse. Seu projeto foi rejeitado
pela maioria do Conselho, inclusive por Adam.
A festa havia começado às nove horas, e estava programada para
terminar por volta das duas da manhã. Estavam presentes todos os presidentes
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e líderes cujos países integravam o hemisfério Ocidental da Comunidade. Oliver
não gostava de dividir o mesmo espaço com todos aqueles políticos.
Ele sentiu uma cutucada em suas costas, virando em seguida para ver o
que era. Uma garota de mais ou menos sete anos olhava para ele com um belosorriso estampado no rosto.
- Olá! - disse ela.
- Oi! O que foi? - respondeu Oliver carinhosamente se agachando de
modo a ficar na mesma altura dela.
- O senhor pode dançar comigo? - perguntou com olhos enormes que
apenas a tornavam mais graciosa. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo-
de-cavalo. Ela vestia um bonito vestido de princesa. Era realmente uma bela
criança.
- Bem... Eu não sei – afirmou virando a cabeça para os lados, como se
procurasse alguém, tentando fazer com que ela desistisse da ideia e fosse atrás
de outra pessoa.
- Não gosta de dançar Sr. Fossey? - perguntou uma voz feminina vinda de
suas costas.
Oliver virou a cabeça encarando Catherine, que usava um belo vestido
vermelho-sangue. Ela estava mais deslumbrante naquela noite do que o normal.
Sem dúvida a mulher mais bonita no salão.
- E então? Não vai dançar com a menina? - inquiriu ela com um belo
sorriso olhando-o diretamente nos olhos.
Ele estava desnorteado com a beleza dela, ficando em silêncio durante
alguns segundos.
- É claro! - disse ele com um sorriso jovial, estendendo sua mão para a
garota e dirigindo-se para o centro do salão onde alguns convidados dançavam
ao som de “O Quebra-Nozes”.
Seu corpo estava dançando com a menina, mas sua mente estava em
Catherine. Seus sentimentos por ela o tornaram escravo daquela paixão. Eles
haviam discutido inúmeras vezes a possibilidade dela se divorciar de Adam, mas
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ela nunca cogitava tal ideia. Sempre dizia que simplesmente “não podia”. Aquilo
o sufocava, mas mesmo assim não conseguia se desgarrar dela.
Após a dança ter terminado a garota se despediu dele, se dirigindo a
mesa dos seus pais. Oliver procurou imediatamente Catherine no salão, masnão conseguiu encontrá-la.
- Boa noite, senhoras e senhores! - dizia Adam posicionado na tribuna,
dando início ao evento oficialmente. Oliver sabia que seria chamado para
receber sua promoção, o que aconteceu logo em seguida.
Caminhou até o local onde se encontrava Adam e alguns representantes
do Conselho.
- Meus parabéns! - disse Adam com sua firmeza típica no olhar.
- Obrigado! - respondeu Oliver tentando ser agradável.
Começou a discursar na tribuna, agradecendo pelo voto de confiança que
lhe foi dado, prometendo que continuaria a fazer o máximo possível para que o
sonho dos fundadores da Comunidade fosse alcançado o mais rápido possível.
Oliver sempre tinha sido um bom orador. Ganhou dinheiro durante metade de
sua vida usando o poder das palavras nos tribunais. Agora as usava para algoainda maior.
Enquanto falava pôde ver Catherine sentada no fundo do salão, olhando
fixamente para ele. Ele notou algo de diferente naquele olhar. Não era como os
outros, era algo novo, um olhar que ele ainda não conhecia.
- Quero lembrá-los de algo senhores, algo que meu pai sempre me dizia,
e que acredito ser um lema para todos: Melhor é o fim das coisas do que o
princípio delas. Concluiu ele, com segurança olhando para Catherine.
O salão foi inundado por aplausos. Oliver desceu da tribuna sendo
cumprimentado pelas pessoas que se encontravam ao seu redor. Não estava
interessado em toda aquela bajulação, mas em conversar com Catherine.
Ao chegar ao local onde ela se encontrava, Oliver parou. Ela o encarava,
assim como ele também o fazia. Catherine bebeu um pouco de champanhe na
taça que estava sobre a mesa, e começou a passar o dedo em volta da borda.
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- Belo discurso! - disse ainda olhando para a taça.
Oliver sentou se a mesa e pediu para que ela o olha-se nos olhos.
- O que foi? - questionou ele.
- Nada - disse ela com desdém.
Ele continuou a fitá-la. Sentia que existia algo de errado.
- Bem, se não quer me contar, então vou me retirar – disse Oliver já
saindo da mesa, quando ela o segurou pelo braço. Estava com os olhos repletos
de lágrimas.
- O que aconteceu? – perguntou com compaixão nas palavras.
- Ele sabe – afirmou ela balbuciando.
Oliver sabia do que se tratava. Então Adam havia descoberto. Ele abaixou
a cabeça, e refletiu durante algum tempo.
- Há quanto tempo ele sabe? – perguntou.
- Ele descobriu hoje, pelo que parece enquanto olhava meu celular. Deve
ter visto minhas várias ligações para você, e começou a discutir comigo, dizendo
que iria pedir o divórcio – respondeu Catherine com o olhar perdido, voltando em
seguida a chorar.
Oliver a abraçou, prometendo que nada iria acontecer com ela, que ele
cuidaria dela. Catherine o fitou durante alguns segundos, se desvencilhando
dele e se conduzindo ao banheiro.
- Ela parece um anjo, não é? - perguntou Adam posicionado atrás de
Oliver.
Oliver levantou-se e o encarou. Não disse nada.
- Se quer ficar com ela, vá em frente. Aquela piranha já me serviu o
bastante – afirmou Adam com frieza, se retirando em seguida.
Oliver não respondeu a provocação. Apenas ficou parado. Seu alarme do
relógio disparou emitindo um sinal, que indicava que já era Ano Novo. As
pessoas no salão começaram a brindar e a comemorar. Notou que Adam
conduziu-se a sacada do prédio. Resolveu segui-lo.
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Ao chegar perto da sacada, pôde ouvir Adam conversar com alguém ao
celular.
- Está feito! – disse ele – Mande homens a minha casa limpar as coisas
dela.
Oliver apareceu em frente a Adam.
- O que você quer? – questionou ele.
- De você? Mais nada! – afirmou Oliver, empurrando-o subitamente da
sacada do edifício.
Eles se encontravam no 30º andar. O corpo de Adam foi arremessado
com violência, batendo na lateral do prédio inúmeras vezes. Oliver saiurapidamente da sacada indo em direção a mesa onde Catherine se encontrava,
já recomposta.
- Catherine, amor? – disse ele com ternura – Tudo vai ficar bem.
Um grito aterrador espalhou-se pelo salão. Uma mulher gritava da sacada
do prédio dizendo que um homem havia se jogado. Os convidados correram
para as janelas a fim de visualizar o corpo. Os seguranças do edifício
rapidamente começaram a se comunicar, a fim de saber de quem era o corpo
estendido na calçada.
O pânico espalhou-se instantaneamente entre todos os presentes. Um
segurança aproximou-se de Oliver lhe informando de que o corpo parecia ser de
Adam Charlton. Ele dispensou o homem, indo na direção da tribuna.
- Senhoras e senhores, sua atenção, por favor. Fui informado a pouco de
que o corpo estirado lá embaixo parece tratar-se de Adam Charlton. Pelo que
parece ele atirou-se da sacada. Mas iremos averiguar o ocorrido, enquanto isso
gostaria que todos deixassem o edifício, seguindo os seguranças pelas saídas
de emergência – afirmou Oliver tentando acalmar os convidados, e ao mesmo
tempo, tentando ser convincente.
As pessoas começaram a deixar o prédio, inclusive Oliver e Catherine.
Pararam para ver o corpo que estava completamente destroçado pela queda.
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Ela não conseguiu olhar durante muito tempo, afundando o rosto no peito de
Oliver. Ele a acolheu com seus braços, mas continuou a fitar o corpo de Adam.
Oliver chamou um dos seguranças e solicitou a limusine da senhora
Charlton, afirmando que ele a acompanharia até a residência dela. A limusineaproximou-se e eles entraram, saindo imediatamente do local.
- Por quê? – questionou ela aparentemente confusa – Por que ele se
mataria?
- Eu não sei – afirmou Oliver a acolhendo em seus braços.
- Oh não! Foi minha culpa! Ele se matou por minha causa! – dizia ela em
tom de desespero.
- Não foi sua culpa – repetia ele, enquanto a mantinha acolhida com seu
corpo.
A limusine os levou até a mansão dela. Eles desceram e dispensaram o
motorista. Ao entrar na casa, Oliver parou. Ele podia sentir que Adam também
havia concebido o projeto da residência. Os detalhes da mansão eram
semelhantes ao do seu escritório. Era um homem realmente meticuloso.
Catherine subiu as escadas indo para o seu quarto. Ele a seguiu. Sabia
que não podia deixá-la a sós em um momento como aquele.
Ao chegar no quarto, ele abriu a porta e ficou apenas olhando Catherine
chorar em cima da cama. Não sabia o que dizer. Oliver nunca tinha sido próximo
de alguém o suficiente para sentir a dor da perda. Sua relação com a família
sempre foi mórbida, principalmente com seu pai. Desde pequeno havia
prometido a si mesmo que não seria como ele. Oliver se dedicou com afinco aos
estudos. Amava conhecer coisas novas. Buscava incessantemente o
conhecimento. Após ter terminado a faculdade de direito, mudou-se para outro
estado, perdendo qualquer vestígio de contato com parentes ou amigos.
Enquanto os anos passavam uma parte dele sentia a necessidade de
compartilhar suas conquistas com alguém, mas ele sempre acabou por colocar
qualquer relacionamento mais íntimo em último plano. Tornou-se um homem
frio, calculista, e extremamente culto e mais ambicioso com o tempo. Sua vida
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havia se transformado em uma corrida sem fim. O pior de tudo é que não havia
cumprido sua promessa consigo mesmo: ele tornou-se uma réplica do seu pai.
O computador da casa soou o alarme, avisando sobre a presença de
algumas pessoas na porta da mansão. Oliver explicou a Catherine que iriadescer para atender as pessoas na porta, que ela deveria ficar no quarto.
Correu até a porta, descendo as escadas com velocidade. Ao abrir a
porta, agentes do setor de Captura e Localização se identificaram. Eram três
agentes. Oliver permitiu a entrada deles.
- Olá Senhor! – disse um dos homens – Desculpe incomodá-lo neste
momento, mas estamos com os vídeos referentes ao senhor Adam. Achamos
melhor que o senhor fosse o primeiro a vê-los.
- Tudo bem! – afirmou Oliver – Vamos para a sala de vídeo da casa.
Ele e os agentes foram em direção a sala principal da mansão. Oliver
colocou os CDs dentro do programa e os inicializou.
O vídeo começou a rodar. Todos na sala pareciam surpreendidos: Não
havia nada. Apenas uma imagem preta. Nada mais.
- O que é isso? – questionou Oliver com raiva, encarando um dos
agentes.
- Eu não sei explicar, senhor – afirmou o homem balbuciando, e
claramente confuso.
- Tirem isso daqui! – gritou Oliver – Amanhã quero todos os vídeos
prontos para serem examinados. Entendeu?
- Sim, senhor! – respondeu o agente se retirando em seguida juntamentecom os outros dois homens.
Oliver sentou em uma das poltronas calmamente. Pegou um copo de
cristal e colocou um pouco de uísque que se encontrava em um frasco sobre o
bar da sala. Ingeriu alguns goles, e soltou o copo no balcão. Começou a soltar
leves risadas. O plano estava funcionando perfeitamente. Ele havia matado
Adam, o que o tornou automaticamente o novo presidente da Comunidade
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Global do Ocidente. Sem contar que CAIT também fez sua parte ao desligar
todas as transmissões que mostrassem ele e Adam na hora do crime.
Olhou para o relógio. Já passava das duas e meia da manhã. Resolveu
subir e ver como Catherine estava. Subiu sem pressa. Sentia-se como se tudo asua volta estivesse sobre seu poder. Agora ele era poderoso de fato.
Ao abrir a porta do quarto dela, notou que Catherine não se encontrava
sobre a cama. Revistou embaixo da cama, e no banheiro privativo. Ela não se
encontrava em lugar algum. Sentiu uma leve brisa tocar seu corpo. Olhou na
direção das janelas. Uma delas estava aberta. Seu coração parou de bater.
Suas mãos começaram a suar com intensidade. “Não! Ela não fez isso” , tentava
se convencer, enquanto caminhava em direção a borda da janela. Todas aspiores sensações que ele já havia sentido durante sua vida convergiram em um
peso atroz sobre seu peito, naquele momento. Parou frente a janela, e se
inclinou para visualizar do lado de fora. Não havia nada. Nenhum corpo.
- Está com calor? – perguntou Catherine ao lado da porta do quarto,
enrolada em um cobertor.
Oliver ficou de frente para ela. Seu coração voltou a bater em ritmo
normal. Foi em sua direção e a abraçou com força.
- Eu te amo! – começou a repetir incessantemente ao seu ouvido.
Catherine também o abraçou. Argumentou que ele deveria ir para casa.
Não ficaria bem para nenhum dos dois se ele dormisse lá. “As pessoas poderiam
imaginar coisas” , disse ela.
Ele se despediu dela com um beijo, e se retirou pegando um dos carros
de Adam. Ativou o computador de bordo, e acessou uma linha direta com a CG.
- Boa noite, Oliver! - disse CAIT. - Feliz Ano Novo?
- Sim! Um ótimo Ano Novo, CAIT – respondeu ele com sagacidade.
- Devemos iniciar a segunda fase do plano? – questionou CAIT.
- Quanto mais rápido, melhor – Oliver deu ordens para que ela projetasse
rapidamente um vídeo falso de Adam atirando-se do prédio. Antes disso liberou
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CAIT de seguir seu regimento interno em parte no ocidente, um poder que só um
dos presidentes da Comunidade possuía.
Estacionou na garagem do prédio do seu apartamento, passando a
ligação para uma linha restrita em seu celular.
- CAIT? – perguntou ele – Como Adam reagiu quando você mostrou os
vídeos de Catherine o traindo?
- Ele ficou arrasado – afirmou ela.
- Bem, não é todo dia que se vê a sua mulher dormindo com seu futuro
braço-direito – disse Oliver ironicamente.
- Quando Adam me ligou hoje, a meia-noite, pude notar como elerealmente confiava em mim – argumentou CAIT – Vocês, seres humanos, são
uma espécie muito estranha. Preferem confiar em máquinas, ao invés de confiar
em seus semelhantes.
Oliver entrou em seu apartamento acendendo as luzes em seguida.
- Sabe o que meu pai dizia, sobre relacionamentos, CAIT? – a indagou.
- Não sei senhor – objetou.
- Não acredite em ninguém que sempre diz a verdade – afirmou Oliver
desligando logo em seguida. Dirigiu-se para seu quarto se despindo, e indo para o
banheiro. Entrou debaixo do chuveiro, sentindo a água quente tocar seu corpo.
Esvaziou a mente de qualquer pensamento. Queria apenas apreciar aquele
momento. Ao terminar seu banho, enrolou-se em uma toalha e foi para a sacada do
seu apartamento admirar as estrelas. Oliver não sentia nenhum remorso por ter
matado um homem. Na realidade, sentia-se muito bem. A lua estava esplêndida
naquela noite de Ano Novo. Aquele seria um longo ano. Um longo e bom ano
pressentia Oliver.
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mesa tocou. Era sua secretária lhe informando que o presidente-geral da
Comunidade estava na linha. Ele mandou passar a ligação para a sua sala.
A tela plana na parede ligou, fazendo com que a imagem do presidente-geral
surgisse. Oliver foi em direção a tela, ficando a sua frente.
- Olá, Oliver – cumprimentou Azink com certo desdém implícito nas palavras.
- Olá senhor presidente – respondeu ele de forma educada.
- Me chame de Leonard – disse o presidente, ficando sério em seguida –
Precisamos conversar. Queira se sentar, por favor.
Leonard Azink começou um monólogo longo sobre os deveres daComunidade frente a seus cidadãos, o papel de um presidente da CG, e, um
assunto que chamou a atenção de Oliver em especial, o futuro da comunidade.
Leonard era um homem de 64 anos, mas possuía uma aparência física que lhe
negava a idade que tinha. Serviu durante anos ao governo americano, como militar,
sendo condecorado por sua bravura e honra frente ao exército.
De acordo com o que se sabia oficialmente, Azink após anos lutando nos
campos de batalha, compreendeu que as guerras nunca deixariam de existir,
enquanto os homens estivessem divididos em nações, povos, e culturas diferentes.
A ideia da Comunidade foi gerada nesta época por ele e mais alguns intelectuais
em diversos países. Suas críticas sobre como o mundo da política havia se tornado
um vespeiro entupido de corruptos, e como a ONU não passava de uma ONG com
custos exorbitantes, começaram a ganhar repercussão no mundo.
Seus desafetos os denominavam de “os novos hippies”, devido a suas ideias
de paz e união global. Leonard recebeu a alcunha de “o General da Paz”. Após
alguns anos, em 2021, finalmente a Comunidade Global foi fundada, tendo por
sede a cidade histórica de Jerusalém. Isso só foi possível graças a um feito inédito,
realizado por Azink: estabelecer a paz no Oriente Médio.
- Oliver, a circunstância em que você tornou-se presidente é única. Isso
jamais aconteceu nestes dez anos da Comunidade – afirmou Azink, gesticulando
bastante – Talvez, devido a isso, você não estivesse preparado de fato – concluiu.
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- Como assim? – questionou Oliver tentando parecer interessado.
- Você tornou-se presidente em dez meses de serviço! – exclamou Azink –
Adquirir poder de maneira súbita acaba “subindo a cabeça” de algumas pessoas,
compreende?
Oliver encontrava-se sentado em uma das poltronas de sua sala. Inclinou
seu corpo ligeiramente à frente, posicionando suas mãos junto ao rosto, como se
estivesse orando.
- O senhor acredita que não tenho capacidade suficiente de comandar a
Comunidade? – inquiriu Oliver, levantando a cabeça de forma a ficar frente à tela.
Azink fez uma pausa. Apenas fitava Oliver.
- Talvez – acabou por responder.
Ambos permaneceram em silêncio. Oliver não sabia o que dizer.
- Sabe – começou Azink a divagar – Toda manhã, quando acordo, repito
como um mantra uma frase do Lorde Akton, um homem que viveu na era vitoriana:
O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. Nós dois ocupamos
os cargos mais poderosos que a humanidade em toda sua história já presenciou. É
de suma importância que, quem estiver empossado nestes cargos, sejam homens
éticos e humildes. Sejam mais que seres humanos.
Oliver abaixou a cabeça até a altura dos joelhos. Escutava tudo aquilo como
se fosse uma bofetada em sua face. Azink não o considerava “preparado” para o
cargo. Como ele se sustentaria politicamente sem o apoio do presidente-geral?
Essa era a grande questão.
- Gostaria de que nos encontrássemos, Leonard, afirmou Oliver o fitando.
Azink o encarou com aparente surpresa estampada na face.
- Está bem – respondeu ele – mas pelo que parece só estarei livre daqui
quatro meses. Tudo bem para você?
- Certo – concordou Oliver - Então até lá.
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Azink desligou a videoconferência. Oliver levantou de sua poltrona, e foi na
direção de seu mini-bar. Pegou uma taça de uísque, enchendo seu copo até a
metade. Engoliu tudo em um único gole. Novamente sua secretária lhe incomodava
com o interfone.
- O que foi desta vez? – atendeu ele.
- A doutora Catherine está na sala da recepção. Mando-a entrar? –
perguntou a secretária de forma cuidadosa.
Oliver ajeitou seu paletó olhando-se no espelho na parede da sala, e
ordenou que ela entrasse. Catherine abriu a porta, parando frente à mesma.
Fechou a porta de costas para ela.
- Olá! – disse ela de maneira natural.
- Olá! – respondeu ele também da mesma forma, aproximando-se dela.
Oliver a agarrou com firmeza juntando seus corpos. Começaram a beijar-se
de maneira tórrida. Ele a pegou em seus braços e a colocou sobre sua mesa. As
carícias só aumentavam, fazendo com que a temperatura ambiente chegasse a
patamares mais abrasadores. Oliver a possuía com afinco, enquanto Catherine
apenas contorcia-se sobre a mesa tentando segurar seus urros de prazer.
Após terminarem, Oliver começou a vestir seu terno preto, mas Catherine
ainda estava sobre a mesa em estado de inércia. Ele percebeu isto, e se inclinou
sobre ela.
- O que foi? – perguntou de maneira doce.
Catherine revirou os olhos, e o fitou. Oliver notou que aquele era o mesmo
olhar que ele havia presenciado durante a festa de fim de ano. Ela colocou a mão
sobre a cabeça dele e a trouxe para perto da sua.
- Estou grávida – cochichou ela.
Oliver não reagiu. Não sabia como reagir na verdade. Grávida era a única
palavra que ecoava em sua mente. Levantou-se da mesa, desgarrando-se de
Catherine. Ele seria pai. Pai. Estava completamente atordoado.
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- Quantos meses? – questionou ele confuso com tudo aquilo.
- Dois meses, talvez três – respondeu Catherine ficando sentada sobre a
mesa.
- O que vamos fazer? – perguntou Oliver a fitando.
- Eu não sei – sussurrou olhando para o chão.
Ambos permaneceram em silêncio. Oliver sentou-se na mesa ao lado de
Catherine, colocando seu braço em torno dela. Puxou o rosto dela gentilmente para
perto do seu, dando-lhe um beijo em seus lábios. Assemelhavam-se a um jovem
casal de adolescentes apaixonados.
- Eu quero ter esse filho – disse ele – mas só se você quiser também.
Ela o olhou no fundo de sua alma. Os corações dos dois batiam no mesmo
ritmo. De certa forma, eles podiam sentir isso. Catherine abriu um largo sorriso.
- Vamos ter um bebê – afirmou ela emocionada.
Oliver a abraçou com firmeza. Aquele bebê iria uni-los como um verdadeiro
casal. Ele teria uma família. Uma família para chamar de sua.
Catherine se arrumava no banheiro do escritório, enquanto Oliver apenas a
admirava. Ele sabia o que tinha que fazer agora. Finalmente havia
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