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A anti-notícia: o papel da imprensa em situações de conflito
MONTEIRO, Talissa de Angilis
UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda
Introdução:
A guerra na Síria, iniciada em 2011 durante a Primavera Árabe, já está em seu
terceiro ano e não mostra sinais de resolução. Definida pela ONU como uma das
maiores crises humanitárias do mundo, já deixou 190 mil mortos e cerca de dois
milhões e quinhentos refugiados, segundo o Alto Comissariado da ONU para
Direitos Humanos (ACNUDH). Suas consequências, entretanto, ultrapassam as
fronteiras do país, envolvendo diversos atores e suas políticas externas. Um dos
agravantes é que potências mundiais como Rússia e Estados Unidos assumem
posturas diferentes em relação ao conflito. No entanto, a guerra não acontece
apenas no campo de batalha, mas também no da informação. Nesse contexto, a
mídia se mostra com uma importante ferramenta na manutenção da opinião pública,
ajudando a definir os rumos da crise.
A questão deste estudo, que tem no caso da guerra síria seu leit-motiv, é a
objetividade na informação jornalística. Tomando como pressuposto básico a
discussão no âmbito das Ciências Sociais, também o jornalismo está sujeito às
controvérsias em torno da isenção nas notícias. Nas Ciências Sociais, a objetividade
é condição inerente a todo processo de conhecimento. O observador “deve por de
lado, sistematicamente, todas as prenoções antes de começar a estudar a realidade.
Estas prenoções seriam viseiras que o impediriam de ver o que realmente estaria se
passando”. No entanto, autores como Max Weber e Emile Durkheim, reconhecem a
impossibilidade prática desta postura. Assim parece ser, também, com a atividade
do repórter. Porém, mesmo sua ausência, em sociedades democráticas, pode
contribuir para a coexistência de amplo espectro de posições políticas e ideológicas,
além de permanente debate entre contrários.
Contudo, mesmo em democracias, nas situações de conflito, o nível de diversidade
reduz-se sensivelmente. A experiência tem demonstrado que a imprensa está,
quase sempre, mais comprometida com as posições adotadas por seus governos
nacionais do que com os fatos em si. Os exemplos são vários. Em seu livro “A
Próxima Vítima”, Phillip Knightley relata o caso da Primeira Guerra Mundial, onde os
correspondentes “escreviam jovialmente a respeito da vida nas trincheiras,
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mantinham um silêncio deliberado a respeito da carnificina e se deixavam absorver
pela máquina da propaganda”.
Dessa forma, entendemos ser necessário investigar a relações da imprensa com as
políticas de governo em situações de conflito e optamos pelo caso da guerra na
Síria, onde há profundas diferenças de abordagem dos fatos noticiados.
Objetivos:
Avaliar se, em situações de conflito, há uma interferência dos governos nacionais na
atividade formadora de opinião exercida pela imprensa. E se esta seria favorecida
pelos sentimentos nacionalistas vigentes entre os diferentes segmentos da
sociedade.
Metodologia:
Para desenvolver a pesquisa, a opção metodológica adotada é o estudo de caso: a
guerra civil na Síria. A fim de provar a hipótese, coletamos, durante o mês de julho
(2014), dados para a pesquisa. Primeiro, selecionamos os países mais envolvidos
na guerra da Síria. Devido aos mais variados motivos, cada um dos governos destes
países têm tido papel importante no desenrolar do conflito. São eles: Irã, Turquia,
Arábia Saudita, Rússia, Inglaterra e Estados Unidos.
Em seguida, para mostrar como a imprensa atua em situações de crises
internacionais, como a guerra, escolhemos um veículo de cada um dos países
citados. São eles Iran News, Anadou Agency, Arab News, Ria Novasti, BBC e New
York Times. A partir dessa seleção, acompanhamos os veículos, durante um mês,
coletando matérias relacionadas ao conflito. Fossem elas sobre as batalhas militares
ou sobre decisões internacionais.
Agora, estamos em fase de análise dos dados coletados, a fim de investigar como
atuam os veículos de cada país, e se estão alinhados com as políticas externas de
seus governos.
Resultados:
Os resultados ainda são preliminares e por estarmos em fase de análise dos dados
coletados, podemos mostrar apenas o resultado da coleta. Ao todo, foram coletadas
72 matérias de seis veículos diferentes, um de cada país escolhido na metodologia.
Todas as notícias são relacionadas a acontecimentos no campo de batalha ou
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diplomático. Publicações maiores como New York Times apresentam
muito mais conteúdo do que as menores como o Irã News, apesar da
localização.
Conclusões:
A pesquisa ainda não está concluída, porém, com a análise de dados em
andamento podemos perceber que, em face de situações como a guerra, a
imprensa de países envolvidos no conflito mantém uma homogeneidade no
seu discurso. Nessas publicações a diversidade de opiniões reduz-se
sensivelmente, além de parecer se alinharem com a posição que seus
próprios governos nacionais assumem. Há também uma expressiva diferença
entre a divulgação de um mesmo fato por imprensas de países que possuem
objetivos opostos.
Referências:
LOWY, Michael. Ideologias e Ciência Social. São Paulo,
Cortez, 1991. KNIGHTLEY, A Próxima Vítima. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1978. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto
Alegre, Artmed, 2005, 4ª Ed.
Agradecimentos:
Ao meu orientador, Reginaldo Heller e aos meus amigos sírios Adel
Bakkour e Muaaz Ataya, por me ajudarem a entender melhor esse conflito.
Palavras-Chave: Guerra síria; jornalismo de guerra; Síria; guerra; imprensa.
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