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54 z OUTUBRO DE 2015
Plantas medicinais podem reduzir lesões locais
causadas pela picada da jararaca
Por volta de 30 mil pessoas sãopicadas por serpentes no Brasil acada ano, segundo dados do Mi-nistério da Saúde. As principais
vilãs dessa lista, responsáveis por quase80% dos casos, são as jararacas, cobrasdo gênero Bothrops , presentes em todasas regiões brasileiras. A recomendaçãomédica é expressa: quem é picado devereceber o soro antiofídico com urgência.“O soro tem ação sistêmica. Consegueminimizar os distúrbios de coagulação,a insuficiência renal e evitar a morte,mas, no caso das jararacas, não combatelesões locais sérias, como feridas e ne-croses, que podem levar à amputação
de pernas e braços”, afirma o biólogoCarlos Fernandes, do Laboratório de Bio-logia Molecular Estrutural (LBME) daUniversidade Estadual Paulista (Unesp)em Botucatu. Buscando alternativas, eledemonstrou que plantas usadas por co-munidades tradicionais e indígenas comns medicinais são ecazes para trataras lesões locais – os resultados mais re-centes foram publicados em julho narevista PLoS One. “Esperamos que umapomada, por exemplo, possa num futuropróximo complementar o efeito do soro.”
BIOLOGIA MOLECULARy
Aliadas dosoro antiofídico
Antes de demonstrar a ação dessasplantas, o grupo da Unesp precisou des- vendar um enigma sobre o veneno da jararaca. Nos anos 1980, estudos inter-nacionais indicaram que, no veneno da jararaca, as proteínas fosfolipases A2,comuns no veneno de muitas serpentes,apresentam modicações em sua estrutu-ra que potencializam seus efeitos locais.
Fernandes e colegas recorreram à cris-talograa, principal técnica usada paracompreender a estrutura tridimensionalde proteínas, e identicaram dois aminoá-cidos que ocupam posições diferentes nasfosfolipases alteradas. Eles mostraramainda que os dois tipos de fosfolipases
agem de maneira distinta sobre as célu-las musculares. Enquanto as tradicionaisprovocam o rompimento da célula, asmodicadas inicialmente causam danosmenores: elas perfuram a membrana ce-lular e geram um desequilíbrio no flu-xo de íons que leva a uma morte celularaparentemente mais lenta. Em conjunto,porém, as duas formas aceleram a for-mação e ampliam a extensão das feridas.“Inicialmente buscamos compreender aorganização espacial dos aminoácidos e,em seguida, descrever os mecanismos de
Francisco Bicudo
E D U A R D O C E S A R
danos às membranas das células”, conta opesquisador, que publicou as conclusõesem 2013 e 2014 no periódico Biochimicaet Biophysica Acta . “Eram informaçõesnecessárias para buscar um compostocapaz de completar a soroterapia”, diz.
EFEITO PROTETOR
Nessa procura, o grupo da Unesp testoumoléculas presentes em três espécies deplantas medicinais: o ácido aristolóqui-co (encontrado em uma planta da Mata Atlântica conhecida como jarrinha oupapo-de-peru), o ácido rosmarínico (daerva-baleeira, nativa da mesma mata) eo ácido cafeico (abundante nas folhas do
boldo-baiano ou assa-peixe, de origemafricana). Em laboratório, os pesquisa-dores analisaram o que ocorre com osmúsculos de camundongos em contatosó com o veneno da jararaca e após aadição de cada um dos compostos. “Naprimeira situação o músculo é danicadoe perde a capacidade de contrair. Já nasegunda, com qualquer dessas substân-cias, ele se mantém preservado”, explicaMarcos Fontes, coordenador do LBME.
O próximo passo é buscar parceriascom instituições com reconhecida com-
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